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Instituto de Economia da UFRJ PUBLICAÇÕES: ESTUDOS EM COMÉRCIO EXTERIOR MONOGRAFIA_ FREDERICO FREYESLEBEN Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Comércio Exterior MBA/E ECEX-UFRJ

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Instituto de Economia da UFRJ

PUBLICAÇÕES: ESTUDOS EM COMÉRCIO EXTERIOR

MONOGRAFIA_FREDERICO FREYESLEBENCurso de Pós-GraduaçãoLato Sensu em Comércio ExteriorMBA/E ECEX-UFRJ

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4.OSPARAÍSOSFISCAISEACRISEFINANCEIRADE2008Autor:FredericoCoimbraFreyesleben

Orientadora:MariaFátimaBernardinelliArraesdeOliveira

DEZEMBRO,2015

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RESUMO

FREYESLEBEN, Frederico Coimbra. OS PARAÍSOS FISCAIS E A CRISEFINANCEIRADE2008.Riode Janeiro,2015.Monografia (Pós-graduaçãoemComércioExterior-ECEX)-InstitutodeEconomiadaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,RiodeJaneiro,2015.

Oobjetivodestapesquisafoianalisaracorrelaçãodousodosparaísosfiscaiscomacrisefinanceirade2008.Paratal,foirealizadacontextualizaçãodozeitgeistcomoqualacriseeosistemacapitalistamundialseencontrava,bem como os mecanismos utilizados pelo mercado financeiro quefavoreceram a formação e consequente estouro da bolha, examinando-seassim os impactos para o sistema financeiro como um todo e suacorrespondência com o uso dos paraísos fiscais, perpassando por suaconceituação, suas formas de utilização, a diferenciação dos conceitos deelisão e evasão de divisas, o sistema paralelo dedólar-cabo, e o futuro dosmesmosnosistemafinanceiromundial.

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SUMÁRIO

Introdução..............................................................................................................................881.CapitalismonoséculoXX...............................................................................................901.1.OFimdoPadrão-ouroeonovoarranjointernacional....................................94ACriseFinanceirade2008.............................................................................................1072.1.Aformaçãoeestourodabolhaimobiliáriaamericana.................................1073.OsParaísosFiscaiseaCriseFinanceirade2008...............................................1153.1.Oconceitodeparaísofiscal....................................................................................1153.2.Acorrelaçãoentreosparaísosfiscaiseacrisefinanceira..........................1164.ConsideraçõesFinais...................................................................................................119ReferênciasBibliográficas...............................................................................................122

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Introdução

“Crises econômicas são intrínsecas ao capitalismo”1. De Marx aSchumpeter, a razão pelo qual acontecem podem divergir,mas seu efeito écerto:prepararonovociclodecrescimentoatravésdareduçãodosníveisdepreços,paraqueosmesmospossamvoltarasubir.

Nahistória,nãofaltamexemplosdecomoascriseseconômicasmoldamasociedadeehumanidadeporconsequência.NoImpérioBizantino,NicéforoIIIBotaniates,sobaalegaçãodefinanciaroesforçodeguerracontraosturcos,desvalorizou o Bizante,moeda internacional da época, usada e reconhecidapor todo o mundo conhecido, que retinha o mesmo valor há mais de seisséculos.Aofazeristo,etersidoderrotadoembatalhapelosturcos,acaboupordeixarescapartambémaguerracontraosmesmos,porterperdido,acimadetudo, sua supremacia econômica. Desta forma, a real queda do ImpérioBizantino se deu pelo caos financeiro decorrente da desvalorização de suamoeda,atésuaagonia finalcomocercodeConstantinoplaporMehmet II,oConquistador.2

Já na década de 90, mais precisamente, no Natal de 1991, com oesfacelamento da URSS, diversas economias, outrora pertencentes ao blocosocialista, implementaram reformas para se integrarem ao fluxo financeirointernacional,abrindonovosmercadosaocapitalismoglobal.

Aomesmotempo,economiasfechadas,comooBrasil,seliberalizaram,pormeiodeprogramasdeprivatizaçãodeestataisdeficitárias,estabilizaçãodepreços(PlanoReal),estabelecimentodemetasdeinflação,ediçãodaLeideResponsabilidadeFiscal,dentreoutrasmedidas,comoformademodernizaçãoda máquina pública e visando a retomada dos investimentos por parte doempresariadoe,assim,docrescimentoeconômico.

Com a globalização, e o advento da internet, vê-se a formação dediversos centros de influência aglutinados por meio de processos deintegração regional comooMercosul,noConeSul; oNAFTA,naAméricadoNorte; o Bloco Europeu, na Europa Ocidental, entre outros, ante a antigabipolaridadeEUAXURSS.

1 BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A crise financeira global e depois: um novo capitalismo? São Paulo:

CEBRAP,2010.

2 Instituto Ludwig von Mises Brasil. Como funcionaria o padrão-ouro puro (parte 1). Disponível em: (http://www.mises.org.br/ArticlePrint.aspx?id=687).

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Omundo,destaforma,vê-semaisinterligadoeconectado.Contudo,estaestreitaconexãopolítico-econômica,traduz-setambémeminterdependência:Nessa década ocorreu o maior número de crises econômicas conhecidas,começandopeloMéxico(1994),Asiática(1997),Russa(1998)efinalmenteaArgentinaedaInternet(1999-2002),naviradadoséculo.

Este pequeno extrato histórico supracitado serve para demonstrarcomoascrisessãoatuaisesempreserão.Aindanadécadade90,épossívelverificar também a superação das crises financeiras, isto é, especulativas,sobrecriseseconômicas,quepossuemraízesestruturais,como,porexemplo,a Grande Depressão de 1929, eclodida pela superprodução de bens, queposteriormenteafetouomercadofinanceiro.

Acriseobjetodeestudoaquinestetrabalho,asubprimeoudehipotecasnorte-americana,nãoédiferente.Oestourodabolhadainternet,naviradadomilênio, e os ataques terroristas de 11 de setembro jogaram os EUA e omundo em uma severa recessão. Visando arrefecer os efeitos destadesaceleração,oBancoCentralAmericanopassouaempregarumapolíticadeestímulosàeconomia,atravésdaadoçãodeumataxadejurosreaispróximosà zero. Tais níveis de taxas de juros estimularam os investidores adirecionarem seus recursos a papéis mais arriscados, mas com retornomaiores.

Aliadoaessapolíticadejurosbaixos,ospaísesemergentesmiraramnomercadoimobiliárioamericanocomofontedeinvestimentorentáveleseguro,uma vez que as duas principais companhias de credito imobiliário, FannieMaeeFreddieMac,eramgarantidaspelogovernoamericano,criandoassimosistemadehipotecassubprimeestadunidense.3

Como o sistema foi engendrado demodo que a valorização constantedosimóveisabatesseosaldodevedorpelomutuário,bemcomoemumataxadejurosinicialbaixa,masvariável,oaumentodataxadejurosparaocombateainflaçãoresultaeminadimplênciageneralizadaenocrashlandingdabolhasubprimeenumarecessãoglobalantessóvistaem1929.

Comoestourodacrisefinanceirade2008,opapeldesempenhadopelosparaísos fiscaisemseusurgimento foicolocadoemquestão,principalmente,com relação às empresas offshore. O presente trabalho, desta forma, sepropõe a discutir os mecanismos utilizados pelo mercado financeiro que

3 Instituto Ludwig von Mises Brasil. Como ocorreu a crise financeira americana. Disponível em:(http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1696).

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favoreceramaespeculação,formaçãoemanutençãodabolha,bemcomooseuconsequente estouro, examinando-se assim os impactos para o mundo ecorrelacionando-os com o uso dos paraísos fiscais, perpassando por suadefinição,suasformasdeutilização,adiferenciaçãodosconceitosdeelisãoeevasão de divisas, o sistema paralelo de dólar-cabo, e o futuro deste nosistemafinanceiromundial.

O corpo do trabalho está estruturado em três capítulos, além daconclusão.Noprimeirocapítulo,parte-sedosfundamentosdosistema,comopredomínio do padrão-ouro clássico (com base na Libra Esterlina),perpassando pelo crash da Bolsa de Nova York, em 1929, a conquistaamericana da hegemonia global, pormeio doAcordodeBrettonWoods e opadrão ouro-dólar, bem como sua desvinculação unilateral em 1971,chegandoatéapré-crisede2008.

Nosegundocapítulo,foianalisadaaformaçãoeoconsequenteestouroda bolha imobiliária americana, identificando os mecanismos basilaresutilizados, além de, principalmente, verificar como a especulação financeirafoiresponsávelpelocrescimentodesmedidodamesma.

Porfim,noterceirocapítulo,serárealizadaacorrelaçãoentreacriseeousodosparaísosfiscais,bemcomosuadefiniçãoefuturonosistema.

1.CapitalismonoséculoXX

Para entendermos osmecanismos pelos quais a atual crise financeiraengendrou-se, é necessário perpassar por um elemento essencial para estaanálise: a confiança como fator primordial de funcionamento do mercadoglobal.

Durante todo o século XIX, a Inglaterra reinou absoluta comosuperpotênciaeconômico-financeiramundial,tendoLondrescomoseucentrofinanciadordocomérciointernacional.Devidoasuahegemonia,vigorava,noperíodo,ochamado“Padrãoouro”,ouoprimeirosistemadegerenciamentoeconômico internacional. Seu corolário, baseado no modelo de fluxo demoedas metálicas contido no livro “Political Discourses”, de David Hume(1752)4, dominou o cenário financeiro global, atémeados da década de 70,quandofoidecretadoseufim.

4HUME,D.PoliticalDiscourses(1752).Edimburgo.

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Segundo Eichengreen (2000)5, é de conhecimento geral que osinvestidoresbritânicosdaépocaviamospaísesquenãoutilizavamopadrão-ourocomomaisarriscados,emprestandoseusrecursosassimdeacordocomo risco (ou seja, maior o risco, maiores os juros cobrados pelo credor).Segundooautor,oprocessodeadoçãodopadrão-ourosedeuporumaspectoemespecial:

“Thus, the fact that Britain was then leading commercial and financialnationformuchofthe19thcenturyencouragedothercountriestolinkuptohermonetarystandard.Andthesenetworkeffectswerereinforcedwhentheworld'stwootherleadingindustrialeconomies,GermanyandtheUnitedStates,wentover to thegold standard in the1870s.Finally, the suspicion,however nebulous, that the gold standard had been an ingredient ofBritain'sindustrialsuccessencourageditsadoption.ThatBritainhadbeenthefirstcountrytogoontothegoldstandardandalsothefirstcountrytoindustrializeencouragedtheviewofthegoldstandardasaprogressiveandmodernmonetaryarrangement”.(EICHENGREEN,2000,p.20).

O interessantea serdestacadopelapassageméqueopadrão-ouro foinaturalmentesendoimplementadodevidoaofatodaInglaterraseraprincipalpotência econômica internacional, encorajando assim seus parceiroscomerciaisaadotaremomesmo.Em1870,comaadoçãodopadrãoporpartedosEstadosUnidoseAlemanha,querepresentavamasoutrasduasmaiorespotências industriais da época, tem-se estabelecido assim o mesmo,terminadoobimetalismo(modeloconcorrente),comatransformaçãodoourocomonormainternacional.

Podemos destacar ainda pela passagem supracitada que a adoção dopadrão-ouro,porpartedosdemaispaíses,tevecomobaseosucessobritânico,istoé,devidoaofatodaInglaterratersidoopaíspioneirodaindustrialização,berçodarevoluçãoindustrial,bemcomooprimeiroautilizaropadrão-ouro,que encorajou a visão do padrão-ouro como um moderno e avant-gardearranjomonetário,numaespéciedeprofeciaautorrealizável.

Podemos salientar assim a importância da confiança para o sistemafinanceiro global. Não foi por meio de tratados entre os principais paísescomponentesdosistemafinanceirointernacionaldaépocaqueopadrão-ourofirmou-se,massimpelaconfiançadepositadanamaiorpotênciahegemônicadosistemaemasseguraromesmo.

5EICHENGREEN,B,SUSSMAN,N.TheInternationalMonetarySysteminthe(very)LongRun.(2000).IMFWorkingPaperWP/00/43–InternationalMonetaryFundCopyright.

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Estaconfiançabaseava-seaindaemtrêsprincípiosbásicos,quesegundoEichengreen(1985p.3-4)6,são:

A interconvertibilidade da moeda doméstica e ouro a determinadaparidadeoficial fixa;a liberdadedos indivíduosdecomercializarouro;eporfim,emconjuntoderegraselencandoaquantidadededinheiroemcirculaçãonopaíscomrelaçãoaoestoquedeourodomesmo.

Respeitados estas regras basilares, o mecanismo de funcionamento édescritoporKrugman(1999)7:

“Suponha que o superávit em conta corrente da Inglaterra sejamaiorque o déficit de sua conta de capitalmenos reservas. Como as importaçõeslíquidas dos estrangeiros, provenientes da Inglaterra, não estão sendofinanciadas totalmente pelos empréstimos concedidos aos estrangeiros, oequilíbrio deve ser obtido por fluxos de reservas internacionais - isto é, deouro-queentramnaInglaterra.Essefluxodeouroreduzautomaticamenteaoferta de moeda estrangeira e aumentam a oferta de moeda da Inglaterra,baixando os preços estrangeiros e elevando os preços da Inglaterra. Oaumento dos preços ingleses e a queda dos preços estrangeiros - umaapreciação real da libra, dada a taxa de câmbio fixa - reduzem a demandaestrangeira por bens e serviços ingleses e ao mesmo tempo aumentam ademanda inglesa por bens e serviços estrangeiros. Esses deslocamentos dademandafuncionamnadireçãodareduçãodosuperávitemcontacorrentedaInglaterraedareduçãododéficitemcontacorrentedoestrangeiro.Porfim,osmovimentosdereservasparameambosospaísesatingemoequilíbriodobalanço de pagamento. O mesmo processo também funciona ao contrário,eliminando uma situação de superávit estrangeiro e déficit inglês”.(KRUGMAN,1999,p.546-547).

Destaforma,existiaumacompensaçãonaturalentrepaísesdeficitáriose países superavitários, onde no caso do país deficitário em sua balança depagamentos,omesmoequilibravaodéficitexportandoouro,acarretandoemuma diminuição da oferta monetária, o que ocasionava em diminuição dospreços internos e no consequente aumento da produtividade de seusprodutos. Jánopaís superavitário, coma importaçãodesteouro,oaumento

6EICHENGREEN,B.“Editor’sintroduction”.TheGoldStandardinTheoryandHistory.NewYorkeLondon;Methuen,1985,p.1-35.

7 KRUGMAN, P. R. & OSTEFELD, M. Economia Internacional: Teoria e Política. São Paulo: Markon

Books,1999.

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subsequentedaofertainternademoedaacarretavaemsubidadospreços,quediminuíaacompetitividadedosprodutosinternacionalmente.

Assim, o padrão-ouro mantinha o equilíbrio do sistema financeirointernacional,pormeiodaparidadecambialfixaeoconsequentecontroledabalançadepagamentodospaísesintegrantes.

Bayoumi and Eichengreen (1995)8 explicam ainda as razões para osucessoeestabilidadedopadrão:

“The stability of the gold standard (and of economic activitygenerally) in Great Britain, the country at the center of the internationalmonetary and financial system, buttressed stability in other countries towhichitsfinancesandeconomywerelinked.Internationalloansintimesofcrisis, whether organized by governments, central banks or privatefinanciers,preventedthecountriesatthecoreofthissystemfromhavingtoabandonconvertibility, therebydamaging their reputations, in response totemporaryshocks”.(EICHENGREEN,1995,p.165-188).

O interessante a ser salientado é que a Inglaterra, potência central eassim garantidora do sistema, em tempos de crise, seja por meio de açãogovernamental, dos bancos centrais ou financiadores privados, impedia queos países centrais integrantes do sistema abandonassem a convertibilidadeemouro,medianteempréstimosinternacionaisdeemergência.

Assim, por impedir que os países prejudicassem suas reputações emtempos de estresse financeiro, a Inglaterra não apenas garantia a confiançaem si própria como “Hegemon” do sistemamonetário, mas sim do sistemacomoumtodo,emumaperfeitasimbioseretroalimentadora.

Podemos aferir desta forma que a principal preocupação externa quedeveriateraInglaterrasedavaeracomrelaçãoàgarantiadequesuamoeda,a Libra,manteria sua conversibilidade com o ouro, ou seja, demodo que aLibrafossetãoboaquantoouro,sendoeste,desta forma,emdecorrênciadeseu valor intrínseco, a reserva de valor internacional, juntamente com aparidadefixadalibraemrelaçãoaomesmo.

8Bayoumi,TamimandBarryEichengreen(1995).“TheStabilityoftheGoldStandardandtheEvolutionofthe International Monetary System”. in Tamim Bayoumi, Barry Eichengreen and Mark Taylor (eds), ModernPerspectivesontheGoldStandard,Cambridge:CambridgeUniversityPress,pp.165-188.

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1.1.OFimdoPadrão-ouroeonovoarranjointernacional

Eichengreen (2000)9 argumenta que o ambiente que sustentava aoperação do padrão-ouro começou a deteriorar antes mesmo da PrimeiraGuerraMundial. Segundo o autor “The arms race of the first decade of the20th century and social movements of the Left (together with Fabian andother Socialist ideologies) led to increases in public spending and growingbudgetarystrains.Risingdiplomaticandmilitarytensionsmadecentralbankcooperationmoredifficult”.(EICHENGREEN,2000,p.23).

A corrida armamentista do começo do século XX, aliada à eclosão demovimentossociais, comoosdecunhosocialista, levaramaumaumentonogastopúblicoeassimapressõesorçamentárias,minandoasbasesdosistema.Além disso, as crescentes tensões militares e diplomáticas dificultavam acooperação entre os bancos centrais, debilitando justamente a questão daconfiançanosistemadopadrão-ouro.

O conflito armado entre as principais potências da época, de forma arearranjarabalançadepoder internacionalpormeiodequestionamentodaliderança inglesa, desarticulou fortemente as trocas entrepaíses, resultandoem abandonoda conversibilidade, demodo a financiar o esforço de guerra,impossívelcomosrequisitosinerentesaopadrão-ouro.

Serrano (2002)10 estabelece a seguinte cronologia para os padrõesmonetáriosinternacionais:

• Opadrãoouro-libra,de1819-191411;• AtentativaderetornoaessepadrãodofimdaPrimeiraGuerraatéos

anos1930;• Opadrãoouro-dólardopós-SegundaGuerraaté1971;• Operíododecriseaté1979;

9EICHENGREEN,B,SUSSMAN,N.TheInternationalMonetarySysteminthe(very)LongRun.(2000).IMFWorkingPaperWP/00/43–InternationalMonetaryFundCopyright.

10SERRANO,F.Doouro imóvelaodólar flexível -EconomiaeSociedade,Campinas,v.11,n.2 (19),p.

237-253,jul./dez.2002.

11Períododevigênciadochamadopadrão-ouroclássicoématériadediscussãoentrediversosautores,ondeargumentamqueaadoçãodefatodeumpadrãometálicoúnico, istoé,oouro,ocorreuapenasem1870,firmando França, Alemanha e demais países centrais formadores do sistema, abandonando a prata e assim obimetalismo.

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• Opadrãodólarflexívelde1980atéosdiasdehoje.(SERRANO,2002,p.241).

Defato,seconsideraindubitávela liderançaInglesaduranteopadrão-ouroclássico,istoé,apoiadonalibraesterlina.Conformevistoanteriormente,a adesão ao sistema se deu naturalmente e por escolha, demodo a que ospaíses componentes pudessem adequar-se ao padrão da principal potênciaeconômicainternacional.

A Inglaterra por sua vez, garantiu que a Libra fosse “as good as gold”,mantendosuaparidadefixaemrelaçãoaoouro,eemmomentosdecrise,emcooperação com os demais bancos centrais, auxiliando a economia emdificuldade,evitandoapropagaçãopelosistemaeassimaperdadeconfiançanopadrão.

Anecessidadedelastroemouro,queproduziaassimvalorintrínsecoàmoedainglesa,traziaestabilidadeaosistema,umavezqueadmitiacorreçõesde rota, devido à relação entre o desequilíbrio na balança de pagamentos einflação.

Destarte, percebe-se que o padrão monometálico inglês foi essencialpara o período de paz e crescimento econômico internacional, vindo a serconhecido como “Pax Britannica” (em alusão à expressão “Pax Romana”,interregno de tempo de paz e prosperidade vivido sob a tutela do ImpérioRomano,portodosospovosdominadosporeste).

Damesma forma,é inegávelqueasbasesqueestruturavamopadrão-ouro,jáàsvésperasdaPrimeiraGuerraMundial,estavamcorroídas.

Eichengreen (2000)12 exemplifica as limitações com relação ao arranjomonetáriodopadrão-ouro:

“Operating the gold standard entailed real resource costs. Gold had to beextractedfromtheground—evermoregoldastheworldeconomyexpanded.Ithadtobetransportedfromtheminestothemints,fromthefrontiertothefinancial centers. It had to beminted into coin. It had to be shipped fromcountry to country in settlement of the balance of payments”.(EICHENGREEN,2000,p.23).

Comosepodenotar,existia,evidentemente,anecessidadedeextraçãodoourodo subsolo, e cadavezmais, conformea economiamundial crescia.

12EICHENGREEN,B,SUSSMAN,N.TheInternationalMonetarySysteminthe(very)LongRun.(2000).IMFWorkingPaperWP/00/43–InternationalMonetaryFundCopyright.

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Umavezextraído,eraprecisolevá-loparacunhagem,edepoisparaoscentrosfinanceiros internacionais, e ainda, de acordo com o sistema de ajuste dabalança de pagamentos entre os países formadores do padrão-ouro, o ourodeveriasertransportadoentrepaísesintegrantesdessesistema.

Apesar das inovações tecnológicas, no próprio século XIX, com oestabelecimentodetítulosedepósitosbancáriosparaorecebimentodeouro,em retorno, entre países, o que diminuiu assim o custoso transporte domesmo, é claro que as fundações do sistema, conforme anteriormenteexplicado, eram desestabilizadas pelo iminente conflito entre os principaisatoresdosistemafinanceirointernacional.

Eichengreenexplicaaindasobreoperíodoentreguerraseatentativaderetornoaopadrão-ouropré-primeiraguerramundial:

“The interwar gold standard was thusmore fragile than its prewarpredecessor. Competing policy objectives diminished the credibility of thecommitment to exchange rate stability. Increased reliance on foreignexchange reserves magnified the deflationary consequences of a shock toconfidence.Itisnosurprise,then,thattheinterwarsystemwaslesssuccessfulthan its prewar predecessor at reconciling exchange rate stability withcapitalmobility”.(EICHENGREEN,2000,p.26).

Basicamente,adesestabilizaçãodacotaçãodasmoedasentreospaíses,as reparaçõesde guerradasnaçõesperdedoras às vencedoras comespecialdestaque a hiperinflação vivida pela Alemanha em decorrência destespagamentos, bem como o débito consequente da mesma, causavaestrangulamento no balanço de pagamentos europeu, aumentando adependênciado sistema financeiro internacional, especialmentedosEstadosUnidos.Aliadoaisto,aanimosidadeentreasnaçõesdificultavaacooperaçãoentre os bancos centrais, especialmente, em tempos de crise,minguando osesforçoseaconfiançanopadrão-ourocomobalizadorinternacional.

Serrano (2002)13 também demonstra as razões para o retorno aopadrão-ouropós-primeiraguerramundial,bemcomoseuinsucesso:

“(...) ao final da Primeira Guerra, vemos que o sistema já não funcionaadequadamente.Deumlado,oantigopaíscentral,aInglaterra,incorreemdéficitsnacontacorrente(perdeinclusiveosaldocomercialpositivocomaÍndia).Oretornoàconversibilidadeéfeitoàparidadeantiga,adespeitoda

13SERRANO,F.Doouro imóvelaodólar flexível -EconomiaeSociedade,Campinas,v.11,n.2 (19),p.237-253,jul./dez.2002.

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inflaçãoocorridaduranteaPrimeiraGuerraedamudançadeparidadedeváriosoutrospaíses.Esse retornoà velhaparidade foimuito criticadoporKeynes, mas, do ponto de vista dos interesses financeiros (como relembraHicks,1989),faziasentidoparamanteraideiadequealibradefatoera“asgoodasgold”.Comosesabe,esseretornoéumfracasso,dadasaperdadecompetitividadeinglesaeasmudançasnasituaçãointernacionaldevidoaosdéficitsexternosacumuladosnoperíododeguerra.Oouro,nasdécadasde1920 e 1930, continua a fluir inexoravelmente para os Estados Unidos”.(SERRANO,2002,p.242).

É importante salientar o papel engendrado pelos Estados Unidos. Aliderança no sistema financeiro internacional no pós-primeira guerramundial,apesardatentativaderetornoaopadrão-ouroclássico,éclaramenteexercida pelos Estados Unidos, potência envolvida, mas, não diretamenteafetada pela guerra. O montante devido pelos aliados, como Inglaterra eFrança,aomesmo,reforçavaanovaposiçãoconquistadapelosamericanos.

Serrano(2002)14analisaaindaque:

“A política econômica americana, no entanto, é operada de talforma que torna impossível que esse país cumpra o papel desempenhadopela Inglaterra no período anterior. Ao longo desse período, os EstadosUnidos obtêm saldos positivos tanto na conta corrente (na balançacomercial) quanto na conta de capitais, atraindo todo o ouro do mundo.Para piorar a situação, nos anos 1930, os EstadosUnidos aumentam suastarifas, sobem a taxa de juros e depois ainda desvalorizam o câmbio,lançandoomundonagrandedepressão”.(SERRANO,2002,p.242)

Os Estados Unidos não seguem a teoria neoclássica de ajustesautomáticosdebalançadepagamentosentrepaíses,obtendosaldospositivostanto na conta corrente (trocas comerciais) quanto na conta de capitais,violandoas“regrasdojogo”.

Contudo, esse crescimento desenfreado experimentado pelos EstadosUnidos,duranteoperíododeguerra,acarretaemumasuperproduçãodevidoà recuperação dos aliados europeus, que diminui assim a demanda pelosprodutosamericanoseculminanocrashdaBolsadeValoresdeNovaYorkena pior crise já sofrida pelomundo, até hoje, a GrandeDepressão de 1929.Desta forma, deve ser reforçado que foi uma crise que passou do setorindustrial, para o financeiro, aumentada e alimentada pela violaçãoanteriormentemencionadadas“regrasdojogo”.

14SERRANO,F.Doouro imóvelaodólar flexível -EconomiaeSociedade,Campinas,v.11,n.2 (19),p.237-253,jul./dez.2002.

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Winston Churchill15 afirmou que de fato houve apenas um grandeconflito mundial, com um interregno de tempo entre o mesmo. Sem umapotência hegemônica ou um sistema financeiro balizador internacional, sejapelastentativasderetornoaopadrão-ouroclássico(lastronalibraesterlina),sejapelaascensãodosEstadosUnidoseascontestaçõespormeiodeoutrospaíses,assimcomoasferidasaindaabertas,mergulhouomundonovamenteno conflito armado e na Segunda Guerra Mundial, ou na continuação daprimeira, envolvendo basicamente as mesmas nações centrais (EUA,Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Rússia, na Europa, e China e Japão noOriente).

Ao final da Segunda Guerra Mundial é cristalino para as principaispotências envolvidas no conflito da necessidade do equilíbrio das finançasinternacionais,pormeiodeumnovoarranjomonetárioglobal.

Marinho (2011)16 explora a nova ordemmundial pós-segunda guerramundial,comaconsolidaçãodaConferênciadeBrettonWoods(1944).Entreospontosabordados,osprincipais,segundooautorsãodois:

“1) Qual seria o padrãomonetário internacional, ou seja, o que sepoderiaaceitarcomodinheirooumeiodepagamentointernacionalecomoregular sua quantidade? A solução encontrada atendeu aos desejosamericanos,namedidaemqueestabeleceu-seoourocomoinstrumentodereserva internacional; como a quantidade existente desse metal erainsuficiente para reativar e expandir o comérciomundial, acordou-se quetoda moeda nacional podia adquirir status de meio de pagamentointernacionalsefosseconvertidaemouro.EsseprincípiodeconversibilidadenopósSegundaGuerraimplicavaquesóodólarpoderiaassumiressestatus"moeda" internacional" (os Estados Unidos detinham dois terços dasreservasmundiaisdeouro):estavacriadoopadrãoouro-dólar,que,apesardas suas peculiaridades era similar ao padrão ouro-libra instituído pelaInglaterraemmeadosdadécadade20”.“2)Comoconseguiroequilíbrionosintercâmbios internacionais? Também privilegiando o "Plano White",preconizou-se eliminar todas as restrições impostas ao comérciointernacional e sua forma de pagamento, repudiando todas as práticascambiaisdiscriminatórias.Noquetangeàestabilidadedostiposdecâmbio(expresso em ouro), esse não poderia afastar-se do preço de paridade emmais de 1%. Toda alteração superior deveria obedecer à exigência doequilíbriodabalançadepagamentoeexigiaaconsultapréviasefossemaisque10%.Umdospontos incorretosdessaconcepção foi criarobrigaçõese

15CHURCHILL,WinstonS.NeverGiveIn!:WinstonChurchill’sspeeches.Bloomsbury:Londres,2013.

16 MARINHO, Pedro Lopes. O Sistema Monetário Internacional: umainterpretaçãoapartirdoconceitodehegemoniamundial.Ilhéus:UESC,2011.

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condiçõesconcretasdeajusteparaospaísesdeficitáriosenãoparaospaísessuperavitários, sendo assim, os Estados Unidos ficavam completamentesalvos de prestar contas de sua política econômica”. (MARINHO,2011,p.08)

Podemos destacar como desdobramentos de Bretton Woods oestabelecimento do padrão-ouro dólar, marcando a hegemonia formal dosEstadosUnidosnosistemafinanceirointernacional,pelaadoçãodesuamoedacomomeiodetrocamundial.

Conformesalientadopeloautor,comainstauraçãodousodoourocomoinstrumentodereservadevalorinternacional,omesmoveioaoencontroaosinteressesamericanos,pordeterem2/3dasreservasglobaisdometal.Comoasreservasdeouro, conformeopadrão-ouroclássico,devemacompanharocrescimentodastrocasentrepaísesdeigualmaneira,apenasodólarpoderiatertalatribuição,devidoasuagrandequantidadedelastroconversível.

á com relação às taxas de câmbio internacionais, que no padrão-ouroclássicoeramfixascomrelaçãoàlibraeamesmaaoouro,determinou-sequea paridade com relação ao ouro não poderia afastar-se de 1%, e nos casosondepassassede10%,seriaexigidaconsultaprévia.Todasessasexigênciasvisavamrestringirpossíveispráticascambiaisprotecionistas,entreospaíses,eliberalizarocomérciointernacional.

Diferentementedoperíodoemqueosistemafinanceirofoicapitaneadopela Inglaterra, a hegemonia americana, apesar de que “de facto” já fosseexercidanopós-primeiraguerramundial,foifundamentadaviaacordoentreas potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial, e não via adesãovoluntária, conforme visto no período inglês. Ainda assim, manteve-se aconcepção original do sistema, isto é, o ouro como lastro do sistema depagamentos mundial, e desta forma, na atribuição de valor intrínseco amoeda,representandoassimesteúltimocomoaconfiançabasilardosistema.

Ainda em comparação com o padrão-ouro clássico, verifica-se que ahegemonia americana ratificou-se política e monetariamente por meio dacriaçãodeorganismosinternacionais,comooFundoMonetárioInternacional(FMI),oBancoMundial (BIRD),aOrganizaçãodasNaçõesUnidas(ONU)eoGATT(AcordoGeralsobreTarifaseComércio)aocontráriodoperíodoinglês,que calcava basicamente na atuação do Banco da Inglaterra e atuações

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pontuais conjuntas com demais Bancos Centrais dos principais paísesparticipantesdosistema,emépocasdecrise17.

Em decorrência de Bretton Woods ainda, com a vitória do planoamericano, cunhado de “Plano White” (em referência ao representanteamericanonaconferência),quedefendiabasicamenteumbancointernacionale todaaregulamentaçãodosistemafinanceiro internacionalaserelaboradapelo Federal Reserve (Banco Central Americano), em detrimento ao planobritânico, o “Plano Keynes” (que de igual modo, em referência aorepresentante britânico na conferência), que advogava por um arranjointernacionalcompartilhado,comacriaçãodeumbancocentralinternacionale commoedaprópria,nãovinculadaaumpaís específico.Essamoeda seriareferencialparatodososdemaispaíses,deformaareinstituiroantigoajusteentrepaíses superavitários e deficitários nopadrão-ouro clássico. Com isso,fica instaurado o FED como órgão responsável pela condução das finançasmundiais,edestemodo,osEstadosUnidoscomopaísgarantidordomesmo.

Esta nova ordem mundial, tendo o dólar como padrão monetáriointernacional, inaugura os chamados “30 anos dourados” do capitalismomundial, com crescimento econômico expressivo ao redor do globo,rentabilidadeeprodutividadeemascensão,ganhosreaisdesalários, créditoabundanteeganhossociais,pormeiodaintervençãoestatalbaseadanateoriakeynesiana, cunhada posteriormente de “Estado de bem-estar social”. Essateoria previa a implementação de salário mínimo, redução da jornada detrabalho, seguro-desemprego e seguro-social, além de aposentaria eassistênciamédicagratuita18.

Também é importante mencionar a relevância da teoria keynesianapara o crescimento experimentado no período do pós-segunda guerramundial19.

Contudo, não deve ser confundida intervenção estatal pontual complanificação econômica, ou estatização da economia. Keynes, além de

17MARINHO,PedroLopes.OSistemaMonetárioInternacional:umainterpretaçãoapartirdoconceitodehegemoniamundial.Ilhéus:UESC,2011,p.08.

18 KEYNES, John Maynard (1936). The General Theory of Employment, Interest and Money. Londres:Macmillan(reimpressoem2007).

19A teoria,doeconomista inglês JohnMaynardKeynes, temcomoponto fulcralopapeldoEstadonaeconomia,ondedeacordocomoautor,emsuaMagnumOpus,o livro“Teoriageraldoemprego,do juroedamoeda”, de1936, omesmodeve intervir na fase recessivados ciclos econômicos, estimulandoademandapormeiodeinvestimentos,paraamenizarosefeitosdamesmasobreasociedade.

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renomado estudioso do sistema capitalista, era um fervoroso defensor domesmo, onde em palavras próprias, a vitória da revolução vermelha(comunista)“mergulhariatodaapopulaçãonummardepobrezaedemorte”.(KEYNES,1936,p.130)20.

Keynesdesta formadefendea intervençãodoEstadoemdeterminadoperíodoeconômico,derecessãooudepressão,umavezqueosinvestimentostemporariamente não poderiam ser executados pela iniciativa privada, etambém,emdeterminadasáreasquenãointeressamaesta.

Keynes21 exprime com muita coerência sua opinião neste quesito,conformesegue:

“Amais importante Agenda do Estado não está relacionada às atividadesqueosindivíduosparticularmentejárealizam,masàsfunçõesqueestãoforadoâmbitoindividual,àquelasdecisõesqueninguémadotaseoEstadonãoofaz. Para o governo, o mais importante não é realizar coisas que osindivíduos jáestão fazendo,e fazê-lasumpoucomelhorouumpoucopior,masfazeraquelascoisasqueatualmentedeixamdeserfeitas”.(KEYNES,1984,p.123)

Deveseresclarecidoaindaquetalpensamento,apesardenovo,nãovaideencontroaoreceituárioliberal,teoriaquedefendeaseparaçãodasesferaspúblico (poder político) e privada (poder econômico), isto é, a liberdadeindividual, a intervençãomínima do Estado na economia e o livremercadocomo regulador das atividades dos indivíduos na sociedade, ondeerroneamenteéapontadaateoriakeynesianacomocontrapontoatal.

AdamSmith,maiorexpoentedoliberalismoclássico,emsuamaiorobra,intitulada “A Riqueza das Nações”22, defendia que caberia ao Estado trêsfunções: o estabelecimento emanutençãoda justiça; defesanacional; e porfim, as atividades importantes para a sociedade, mas que não seriamexecutadas pela iniciativa privada se deixadas a seu cargo, entre as quaispodemoscitar,porexemplo,asobrasdeinfraestrutura.

20 KEYNES, John Maynard (1936). The General Theory of Employment, Interest and Money. Londres:Macmillan(reimpressoem2007).

21KEYNES,JohnMaynard.Ofimdolaissez-faire.In:SZMRECSÁNYI,T.(Org.).JohnMaynardKeynes.SãoPaulo:Ática,1984.

22SMITH,Adam.An inquiry intothenatureandcausesof thewealthofNations.vol Ie II,EditorsR.H.CampellandA.S.Skinner,LibertyClassics,Indianapolis,1981.

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Destarte, verifica-se que Adam Smith admite intervenção estatal nasatividades que não possuíam interesse privado, mas que deveriam serestimuladasdetodomodoviainvestimentopúblico,devidoasuaimportânciaparaasociedadecomoumtodo.

Vis-à-vis ao cerneda teoria keynesiana, isto é, ao graude intervençãoestatal na economia, é possível assim concluir que ambas admitem graulimitadodeingerênciadoEstadosobreaatividadeeconômica,aocontráriodopensamento comum de interferência zero. Keynes nada mais que aplica asexceçõesdateorialiberalcomrelaçãoaopapeldoEstadoeaplicadeformaamitigar os efeitos dos ciclos econômicos, partindo do pressuposto daimpossibilidadedeaçãodosagentesprivadosemtaissituações.

Aplicaçõesreaisdoacimadispostopodemserverificadasnoprogramaimplementado pelo Presidente Americano Franklin Delano Roosevelt,batizadode“NewDeal”(1933-1937),quenadamaisfoiquearacionalizaçãodopensamentokeynesiano.Comointuitodereativaraeconomiaamericana,em profunda depressão, o governo dos Estados Unidos assumiu o papel dainiciativaprivada,promovendooconsumoatravésdegrandesobraspúblicas,comoestradas,hidrelétricas,ferroviaseetc,gerandoempregoseaumentandoo mercado consumidor, via déficit público, recuperando a economiaamericanaaníveispré-criseemapenasquatroanos.

Entre as principais críticas ao programa, estão a explosão dos gastospúblicos, a níveis até então nunca antes vistos, bem como a centralização,consideradaexcessiva,dediversasatribuiçõesdelegadasaosEstadosàUniãoFederal,pormeiodasdiversasagênciasgovernamentaiscriadas,comoaTVA(TennesseeValleyAuthority),AAA(AgriculturalAdjustmentAdministration),PWA (Public Works Administration), SEC (Securities and ExchangeCommission)eoutras.

Os gráficos abaixo demonstram como o “New Deal” não só foi bemsucedidonocurtoprazo,masnolongoprazotambém:

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Gráfico 01 – Emprego na indústriamanufatureira dos Estados Unidosentre1920e194023

Gráfico 02 – Crescimento bruto real do PIB americano entre 1930 e1937 (embilhõesdedólaresajustadosaosvaloresdoanobasede2009–aáreaacinzentadaindicaperíododedepressão/recessão)24.

23U.S.CensusBureau,StatisticalAbstracteU.S.CensusBureau,ChapterD-LaborForce(SeriesD-1-682),pagina17,coluna127.Disponívelem:(http://www2.census.gov/prod2/statcomp/documents/CT1970p1-05.pdf)

24 US. Bureau of Economic Analysis - The Federal Reserve Bank of St.Louis. Disponível em:(https://research.stlouisfed.org/fred2/series/GDPCA).

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Gráfico 03 – Crescimento do endividamento público americano comrelaçãoaoPIBentre1929e195025.

Conforme evidenciado nos gráficos anteriormente, percebe-se que areanimaçãodaeconomiaamericanaedeseusníveisdeempregossedeuviagasto governamental. Com relação ao gráfico (03) que demonstra aporcentagemdadívidapúblicaemrelaçãoaoPIBAmericano,verifica-sequenaadministraçãoHoover(1929-1933)háumaumentoexpressivonosgastos,paraaordemde40%doPIB,explodindoposteriormenteduranteogovernodeseusucessor,FranklinRoosevelt(1933-1945).

Ainda sob os auspícios da teoria keynesiana, após a Segunda GrandeGuerra, os EstadosUnidos capitaneiamumambicioso plano de recuperaçãoeconômica para Europa e Ásia. O Plano possuía como intuito, além derecuperar as economias destruídas pela guerra, modernizar as mesmas,remover barreiras comerciais e alfandegárias, e mais importante, conter oavançocomunistasobreoglobo.

OsEstadosUnidospassamassima se comportardemaneira similar àInglaterra à época do padrão-ouro clássico, impulsionando o crescimentoeconômico global por meio de déficits no balanço de pagamentos e peladesvalorizaçãodasdemaismoedasfrenteaodólar(tornandoosprodutosdosdemais paísesmais competitivos frente aos americanos), provendo assim aliquidezinternacionalnecessáriaparaonovoperíododepujançamundial.

Esta internacionalização do capital americano, que visava justamentefortalecer as economias aliadas contra a ameaça comunista ao redor doplaneta,acabaporcriarumfenômenoparadoxalparaosEstadosUnidos:aomesmo tempo em que combatia a União Soviética, de ideologiadiametralmente oposta à americana, capitalista, criava espaço entre seuspróprios aliados para contestação de sua hegemonia, com a ascensão nosistemainternacionaldepaísescomoAlemanhaeJapão.

Adécadade70marcaoesgotamentodomodelokeynesiano,bemcomodiversosepisódiosdeobjeçãoà liderançaamericanamundial.Anecessidadeconstante de prover liquidez internacional por parte dos Estados Unidosconverge no chamado “Dilema de Triffin”, que basicamente demonstra aincongruência da manutenção do lastro do sistema internacional, ou em

25 Bureau of the Census, Historical Statistics of the United States: Colonial Times to 1970 (1976).Disponívelem:(www2.census.gov/prod2/statcomp/documents/CT1970p1.zip).

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outras palavras, da confiança, em uma moeda de determinado país, com amesmabaseadanoouro26.

O problema do sistema de Bretton Woods poderia ser resumido àparidade fixadamoedaamericana juntoaoouro, justamenteseuparadigmabasilar. Como o ritmo de crescimento dos mercados e do comérciointernacionaléinfinitamentemaiorqueacapacidadedesuprimentodeouroaos mesmos, o mesmo se dava por meio do dólar, através do déficitEstadunidensecomomundo.Noentanto,aoincorreremdéficitssucessivos,aconfiançanomesmoeradiminuída.Contudo, secorrigida, era impossíveldeigualmodoofinanciamentodocrescimentoeconômicoglobal,colocandoemxequeosistema.

Aliadoaestaceleuma,acrisedopetróleodadécadade1970,emvirtudedos conflitos da guerra do Yom-Kippur (1973) e da Revolução Iraniana(1979),jogamomundoemumlongoperíododerecessão,minguando,ojáemcrise, modelo de Estado provedor keynesiano. A ascensão de parceiroscomerciais dos Estados Unidos, como Japão e Alemanha, e a incapacidadeamericanadefazerfrenteaosgastossociaisdo“WelfareState”,asuamáquinapública inchada e ineficiente, o marasmo econômico então experimentado,juntos, enfraquecem o modelo político-econômico consolidado pelo mesmoperanteosdemaispaíses.

O recrudescimento do conflito e assim o envolvimento americano noVietnãéagotafinalparaadecretaçãodofimdopadrão-ourodólar.Osaliadoseuropeuseasiáticos,nãosórecuperados,mascompetitivosfrenteaosEstadosUnidos,questionamsuapresençamilitarostensivaaoredordomundo,oque,aliadoànecessidadede gastosmilitares cadavezmaiorespelos americanos(videInglaterraasvésperasdaprimeira-guerramundial), levamàdescrençanodólarcomomoedadereservadevalorinternacional,conformejáteorizadonoDilemadeTriffin.

OgráficoabaixodemonstraotamanhodaevoluçãodosgastosmilitaresamericanosdecorrentesdoconflitonoVietnã:

26SERRANO,F.Doouro imóvelaodólar flexível -EconomiaeSociedade,Campinas,v.11,n.2 (19),p.237-253,jul./dez.2002.

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Gráfico04–EvoluçãoeestimativadoorçamentodoDepartamentodeDefesaAmericanoentre1948e2019–

Nota-sequeduranteaintensificaçãodoscombatesnoVietnãnadécadade1970,ocorreosegundopicodegastosmilitaresdesdeaguerradaCoreia,nadécadade195027.

Juntados todos os fatores anteriormente mencionados, é decretadounilateralmentepelopresidenteamericano,RichardNixon,em1971,ofimdopadrão-ouro dólar, ficando o sistema financeiro internacional ancorado naposiçãodeliderançaamericananomundo,quemesmodiscutida,nãopossuíaprecedente na esfera capitalista, e, emúltima instância, baseava-se no valormeramente fiduciário de suamoeda, perdendo a conversibilidade emmetalpreciosodevalorintrínseco.

EstenovoarranjomonetáriopermitiuaosEstadosUnidosgastaremsemqualquer tipo de contrapartida, o que, aliado à mudança de paradigmapolítico-econômico internacional, construiu as bases da crise financeira de2008.

27 SERAFINO, Nina M. Washington DC: Congressional Research Service,maiode2006.Disponívelem:(http://www.fas.org/sgp/crs/natsec/IB94040.pdf).

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ACriseFinanceirade2008

2.1.Aformaçãoeestourodabolhaimobiliáriaamericana

Édesumaimportânciacontextualizaroambientenoqualacrisefinanceirade2008veioase formar,paramelhorentendimentoeanálisedofenômeno.

Voltandoumpouconotempo,comaeleição,nosEstadosUnidos,deRonaldReagan,enaInglaterra,deMargaretThatcher,nadécadade1980,inaugura-se o novo axioma político-econômicomundial, o neoliberalismo.Ateoria neoliberal nada mais é que a releitura dos preceitos do liberalismoclássico,aplicadosàconjunturaqueosistemainternacionalexperimentava.

Desta forma, os sinais de fadiga apresentados pela teoriakeynesiana, que já não condizia com a crescente internacionalização dasempresasenovosadventos tecnológicos,decorrentesdaTerceiraRevoluçãoIndustrial, ou a Revolução Técnico-Científica, é se mostram o início dodesmantelamentodoWelfareState,quehaviavigoradopormaisde30anos.

Na Inglaterra sob Thatcher, são adotadas medidas duras dedesconstrução do Estado keynesiano, com o corte de subsídios, tarifas deimportação, quotas e reservas de mercado para as empresas nacionais,abrindo a economia, bem como a privatização de empresas estataisdeficitárias, o corte de empregos no funcionalismo público, o corte deprogramas sociais e assistencialistas e a quebra do poder dos sindicatos,visando modernizar e reinserir a economia britânica no circuito financeirointernacional.

Do outro lado do Atlântico Norte, os Estados Unidos sob ogovernodeReaganimplementamplanodereavivamentoeconômicobatizadode"Reaganomics",comcortedegastosgovernamentais,de impostos,emaisimportante,apartirdadesregulamentaçãoeconômica,ouseja,aaplicaçãodoideário neoliberal em voga, sempre objetivando a ideia de livre-mercado econduçãodaatividadeeconômicapelainiciativaprivada.

Esta crescente desregulamentação por parte do governoamericano,aliadoaocolapsodaUniãoSoviéticaeconsequentefimdaguerra-fria, à globalização e ao sistema capitalista comopredominante organizaçãoeconômicamundial, aumentam exponencialmente o comércio internacional,

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as transações financeiras e omovimento de capital entre países, fenômenoconhecidocomo“financeirização”28.

OconceitodefinanceirizaçãofoiobjetodeestudojánoséculoXIX,onde Marx teorizava sobre a desvinculação entre o capital financeiro e aeconomiareal,istoé,defatoprodutiva.Marxalertavaparaofatodo“capitalfictício” crescer exponencialmente, enquanto o PIB, de forma muito maisvagarosa. Essa diferença crescente entre ambos, ao mesmo tempo em queinflavaocrescimentonoperíododealta,aoatingiroápicedavalorizaçãodosativos, tornavaarecessãodecorrentemuitomaissevera,sendoprevistoporMarx que o sistema capitalista, em última instância, se aniquilaria devido ataiscontradiçõesinternas,numaespéciedeautofagia29.

Esta supremacia das finanças, e de igual modo, da especulação nasbolsasdevaloresemdetrimentoaativosprodutivos,marcamoperíodoquevai da década de 80 até os dias de hoje. Na década de 90, ainda, emdecorrência destemovimento de globalização e dinamização do comércio edas transações financeiras, são experimentadas diversas crises cambiais aoredor do planeta, entre elas: a doMéxico, em 1994; a Asiática, em 1997; aRussa,em1998;eaBrasileiraeArgentina,em1999.

Oavançotecnológico,jáanteriormentediscutido,vivenciadonadécadade90,levatambémaumaeuforiacomrelaçãoàsaçõesdeempresasligadasainternet comercial, designadas no pregão com o sufixo “.com”. As taxas dejurosbaixasajudamaformaçãodeumabolha,cominvestidoresaprocuraderentabilidades maiores, e o mercado acionário sendo visto como porta deentrada natural. A crescente financeirização da economia americana,empreendidaporRonaldReagan, em1980, é traduzida em créditobarato econstante,inflandoassimnaturalmenteomercadoacionáriodas“ponto.com”.

Brochier30 em seu artigo “A Financeirização do Consumo e a CriseFinanceiranosEstadosUnidos:ofimdopadrãodecrescimentopuxadopeloconsumo?”elencaosfenômenosdecorrentesdafinanceirizaçãonaeconomiaamericana,quesegundoaautorasão:

28 LAPYDA, Ilan. A “financeirização” no capitalismo contemporâneo: Uma discussão das teorias deFrançoisChesnaiseDavidHarvey.SãoPaulo:USP,2011,p.31.

29PEREIRA,ViníciusVieira.Capitalismoecrise:umacríticamarxistaà teoriadosistema-mundo.RiodeJaneiro:SEP,2011.

30 BROCHIER, Lídia. A Financeirização do Consumo e a Crise Financeira nos Estados Unidos: o fim dopadrãodecrescimentopuxadopeloconsumo?.AssociaçãoKeynesianaBrasileira,2012.

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“Desregulamentação do setor financeiro e a proliferação deinovações financeiras; o endividamento crescente das famílias; odesenvolvimentodomodelobancário‘originarparadistribuir’(originatetodistribute); a emergência dos investidores institucionais como jogadorescentrais nomercado financeiro; a expansão (e retração) dosmercados deativos; a busca pela maximização do valor do acionista; as mudanças nagovernança corporativa de setores não financeiros; e, por fim, o aumentodas rendas nos investimentos financeiros e no setor financeiro”.(BROCHIER,2012,p.03)

É patente, desta forma, o papel da desregulamentação promovida nogoverno Reagan, tanto no período de crescimento quanto no de retraçãoeconômica, até os dias atuais, na maximização do poder financeirointernacional.

Naviradadomilênio,devidoaoaumentoprogressivodataxabásicadejurosnorte-americana,abolhadainternetestoura,levandoaBolsaEletrônicaNasdaq (que reúne diversas empresas dos setores de informática,telecomunicações e alta-tecnologia) à maior baixa em toda sua história.Aliados a este cenário, em2001, os atentados terroristas àsTorresGêmeas,em Nova Iorque, jogam a economia americana em um longo período derecessãoeconômica.

Para melhor entendimento do tamanho atingido pelas cotações dasempresas“.com”,naNasdaq,ográficoabaixodemonstracomclarezaoápiceederrocadadasempresasdeinternetnosanos2000:

Gráfico04–Evoluçãodapontuaçãoatingidapelo índiceNasdaqentre1994e2005–Nota-seopicoem2000,de5000pontosdoíndiceS&PGlobal

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1200, que coincide com o estouro logo após da bolha da internet, e aderrocada subsequente, amplificada ainda pelos ataques terroristas de200131.

Podemoselencarassimosprincipais fatoresparaa formaçãodabolhaimobiliáriaamericana:i)oestourodabolhadainternet,aliadoaosatentadosterroristade2001,que jogamaeconomiaemprofundarecessãoeconômica;ii) desregulamentação da economia Estadunidense, culminando nafinanceirização da mesma, segundo o novo ideário político-econômicointernacional (neoliberalismo); iii) e, por fim, o términodaparidadedólar-ouro, que deixa de impor contrapartidas com relação ao endividamentoamericano, estabelecendoa confiançanãonovalor intrínsecodoouroe suaparidade fixa com o dólar, mas apenas na política monetária/fiscal do“Hegemon”dosistemainternacional.

Brochier32 aponta ainda uma série de fatores que valem sermencionados.Ajádiscutidadesregulamentaçãodaeconomiaamericanaéumimportante fenômenopara formaçãodabolha imobiliária,maisdiretamentenosentidode:

“(...) É a partir daí que os bancos americanos, livres das restriçõesreguladoras,adquiremacapacidadederealizarempréstimosemcondiçõesmais favoráveis,deacelerara inovaçãofinanceiraedeampliaragamadeprovedoresde fundos.Oquetemimplicaçõesdiretassobreoconsumo,sejapormeiodocréditoaoconsumidortradicional,sejapormeiodavalorizaçãoimobiliáriaqueserealiza fortementenosanos2000.Alémdisso,osbancospassaramadirecionarestrategicamenteseusempréstimosparaasfamíliasemvezdeparaasfirmas”(BROCHIER,2012,p.06).

Aautoracorrelacionaclaramenteosdoispontos(desregulamentaçãoemercadoimobiliário)comovetoresdecrescimentoeampliaçãodabolhaqueestavaaseformar,bemcomoseupoderdeexpansãoparaaeconomiacomoum todo. Estes novos veículos financeiros, voltados para o mercadoimobiliário,sãoessenciais,pois:

(...)“potencializamaseparaçãoentreosgastosearendapermitidapeloendividamento crescente. Tais inovações expandem a base de empréstimosdosbancos,ospassivosemprestadosostornammenosdependentesdabase

31 EconStats TM. S&P Global 1200 Daily Index History. Disponível em:(http://www.econstats.com/eqty/eq_d_mi_5.htm).

32 BROCHIER, Lídia. A Financeirização do Consumo e a Crise Financeira nos Estados Unidos: o fim dopadrãodecrescimentopuxadopeloconsumo?.AssociaçãoKeynesianaBrasileira,2012.

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de depósito tradicional, estimulando a agressividade da capacidade deempréstimo”(BROCHIER,2012,p.06).

Em outras palavras, estes veículos de investimentos estruturados, ouStructured Investment Vehicles (SIV), como eram chamados, aumentam aalavancagempraticadapelosbancos,assimcomooriscodaoperação.

Deve ser realizado aqui um parêntese com relação ao conceito dealavancagem. Qualquer instituição, seja empresa ou banco, ao se valer decapitaisdeterceirosparaauferirlucro,nolongoprazo,podeserconsideradacomo alavancada. Um exemplo prático, conhecido por todos, é comumenteefetuadopelosprópriosbancos.Aocaptaremdinheirodeseuscorrentistaseemprestarem a terceiros, embolsando o spread (diferença de jurosremunerada ao correntista e pago pelo devedor ao banco), os bancos, pornatureza própria de funcionamento, trabalham alavancados. Outra formamuitousualutilizadapelosbancos,paraomesmofim,éaemissãodepapéisdelongoprazo,demodoacaptaremrecursosalémdosdepósitos.

Jáasempresassealavancamdemaneiraparecida,pormeiodeemissãode papéis como debêntures, bonds e outros títulos conhecidos como“commercial papers”, ou quando tomam empréstimos bancários parafinanciamentodesuasatividades.

Oproblemaverificadocomaalavancagemnacriseimobiliáriade2008foi a proporção adotada com a qual foi engendrada. Os acordos deBasiléia,que regem os parâmetros para manutenção da estabilidade monetária efinanceira internacional, recomendam que as instituições bancárias nãoemprestemmaisdenovevezesoquetêmemcaixa.Jáosbancosamericanosque quebraram com a eclosão da crise praticavam uma alavancagem daordemde1para4033.

Verifica-sedestaformaqueopadrãodeformaçãodabolhaimobiliária,isto é, crescente endividamento por parte dos consumidores, via inovaçõesdecorrentes da financeirização da economia americana, que em virtude daenorme liquidez experimentada, impulsionava aindamais os gastos futuros,retroalimentando a apreciação de valor das propriedades no mercadoimobiliário.

33 DOWBOR, Ladislau. A crise financeira sem mistérios - Convergência dos dramas econômicos, sociais e ambientais. Brasília, DF, 2009.

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AaltaliquidezvividapelosEUAemseumercadofinanceiro,àépoca,sedevia a dois fatores: i) à melhora da situação econômica dos paísesemergentes, que, uma vez suplantadas as crises da dívida da década de 90,passaram a direcionar seus recursos aos Estados Unidos e seu mercadoimobiliário,graçasàposiçãoamericana,conformediscutidoanteriormente,delíder econômico-financeiro internacional; ii) e, de igual forma, ao fato doestourodabolhadas “ponto.com”,naviradadomilênio, aliadoàpolíticadoBanco Central Americano (FED) de juros baixos como estímulo à economiapós-atentados terroristas de 11 de setembro. Tais fatores levaram aosinvestidores a buscarem outras fontes de lucros, com riscos e consequenteretornos maiores, sendo o mercado imobiliário em ascensão uma opçãonatural.

Tamanha liquidez levao setorbancário a aplicar taxasde jurosmuitobaixasde formaa tornar ashipotecas aindamais atraentes, comoobjetivo,segundoBrochier34,de:“(...)reduziropagamentodejurosnosmesesiniciais,os bancos colocavam taxas de juros mais baixas no início do contrato deempréstimo,asquaiseramreajustadasparaníveismaisaltosposteriormente”

Comopodeservisto,essaestratégiaresultouem:

“(...) um aumento geral das hipotecas com taxas reajustáveis –adjustable-ratemortgages(ARM)–àcustadashipotecas tradicionaiscomtaxas fixas – fixed - rate mortgages (FRM) – chegando a dois terços dasemissões de novas hipotecas em 2006. O objetivo das inovações eraminimizar o pagamento mensal inicial, disseminando hipotecas ‘exóticas’,empréstimos híbridos e empréstimos ‘interest only’ caracterizados pelaamortizaçãonegativa”(BROCHIER,2012,p.07).

Éimportantedestacaresteengendramentopeloqualosetorbancáriosevaleuparaatraçãodepotenciaisinvestidores.Talmecanismo,combinadocoma valorização constante das propriedades, amortizava o pagamento dashipotecas pelos devedores, o que permitia taxas de juros mais baratas, deinício,eorefinanciamentodosaldodevedorrestante.

Visando aumentar ainda mais os ganhos auferidos no mercadoimobiliário, os bancos e instituições financeiras passaram a abrir crédito aindivíduos que normalmente não seriam qualificadas para tal. No artigo “Acrisefinanceirasemmistérios-Convergênciadosdramaseconômicos,sociais

34 BROCHIER, Lídia. A Financeirização do Consumo e a Crise Financeira nos Estados Unidos: o fim dopadrãodecrescimentopuxadopeloconsumo?.AssociaçãoKeynesianaBrasileira,2012.

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eambientais”35,doeconomistaeprofessorLadislauDowbor,omesmodispõesobrecomofoiconcebidoeprojetadoosistemadehipotecassubprime:

“Abriu-se crédito para compra de imóveis por parte de pessoasqualificadaspelosprofissionaisdomercadodeNinjas(NoIncome,NoJobs,noSavings). (...) Empurra-se uma casa de 300 mil dólares para uma pessoa,digamos assim, pouco capitalizada. Não tem problema, diz o corretor: ascasas estão se valorizando, em um ano a sua casa valerá 380 mil, o querepresenta um ganho seu de 80mil, que o senhor poderá usar para saldaruma parte dos atrasados e refinanciar o resto. O corretor repassa estecontrato–simpaticamentequalificadode“sub-prime”,poisnãoétotalmentede primeira linha, é apenas sub-primeira linha – para um banco, e os doisrachamaperspectivasuculentados80mildólaresqueserãoganhosepagossob formadereembolsoe juros.Obanco,aoverovolumede“subprime”nasua carteira, decide repassar uma parte do que internamente qualifica de“junk” (aproximadamente lixo), para quem irá “securitizar” a operação, ouseja, assegurar certas garantias em caso de inadimplência total, em trocaevidentementedeumataxa.Maisumpequenoganhosobreosfuturos80mil,que evidentemente ainda são hipotéticos. Hipotéticosmas prováveis, pois amassa de crédito jogada nomercado imobiliário dinamiza as compras, e atendênciaéospreçossubirem”.(DOWBOR,2009,p.02)

É importante ressaltar, conforme apontado por Dowbor no trechosupracitado, o papel da securitização destas dívidas pelas instituiçõesfinanceiras.Asecuritizaçãodedívidasnadamaisédoqueoagrupamentodepassivos financeiros, como no caso em questão, de dívidas referentes aempréstimos imobiliários, em títulos estandardizados para negociação nomercado financeiro. Desta forma, os bancos não só, de certa forma, seresguardavamdeumaeventualinadimplênciaemmassa,comotambémpelalivre transação de tais títulos, alastravam por todo mercado financeirointernacionalashipotecasbaseadasnosempréstimossubprime.

Aliadoa isto,a jáanteriormentecitada liquidez internacional, tambémmencionadaporDowbor,direcionadaaomercadoamericano,dinamizavaascotações dos imóveis no mercado imobiliário e transformava lucroshipotéticosemreais.

Brochier36 explica ainda contundentemente o porquê de tamanhodirecionamentoaomercadoimobiliárioamericano,pormeiodassecurities:

35 DOWBOR, Ladislau. A crise financeira sem mistérios - Convergência dos dramas econômicos,sociaiseambientais.Brasília,DF,2009.

36 BROCHIER, Lídia. A Financeirização do Consumo e a Crise Financeira nos Estados Unidos: o fim dopadrãodecrescimentopuxadopeloconsumo?.AssociaçãoKeynesianaBrasileira,2012.

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“As securities baseadas emhipotecas passarama atrair umgrandenúmerode investidoresporcausadorendimentoelevadoemumambientede baixas taxas de juros. Em 2002, aproximadamente 80% das novasemissões de hipotecas feitas durante os últimos cinco anos eramsecuritizadas.Issocontribuiuconsideravelmenteparaque,nosanos2000,osproprietários aumentassem sua capacidade de gastar” (BROCHIER,2012,p.08).

A securitização desta forma, segundo a autora, foi essencial de igualforma para o aumento da sensação de poder de compra por parte dosconsumidores, impulsionando os gastos e o crescimento da economia comoumtod

Outropapel importante foidesempenhadopelasagênciasderatingoudeavaliaçãoderisco.SegundoBrochier:

“Tambéméessencialressaltarqueasagênciasdeavaliação(rating)tiveram um papel fundamental para que as hipotecas subprime pudessemterseuusodisseminado.Alémdisso,amudançanaavaliaçãodohistóricodoconsumidor (tomador de empréstimo) – em vez de se analisar a renda dotomadordeempréstimo,passou-seaanalisaroníveldeinadimplênciacombase em um credit score que era atribuído ao tipo de tomador - tambémpossibilitou a expansão do crédito com base no setor imobiliário”.(BROCHIER,2012,p.08).

Concebe-se assim o mercado americano de hipotecas subprime. Comagências avaliadoras diluindo o risco envolvido em tais operações, asecuritização de papéis alastrando estes empréstimos por todo mercadofinanceiro internacional, crédito farto, taxas de juros baixas, empréstimos aindivíduos de alto risco, falta de regulamentação interna (promovida porReagan) e internacional (dólar como moeda de troca mundial), criam achamada“perfectstorm”.

Aliado aos supracitados fatores, ressalte-se o fato de que as duasmaioresempresasprivadasdecréditoimobiliário,FannieMaeeFreddieMac,eramgarantidaspeloGovernoAmericano,tornando-seasmaiorescaptadorasderecursos,tantointernamente,quantonomercadointernacional,tornavamosganhosfictíciosemreais,conformemencionadoporDowbor37.

37 Instituto Ludwig von Mises Brasil. Freddie + Fannie = Fascismo. Disponível em:(http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=125).

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Contudo, o sistema subprime começa a dar sinais de saturação já, em2006, comaquedanovalordos imóveis.Paracontera inflaçãocrescente,oFED eleva as taxas de juros emuma tentativa de conter o consumo, quede2004 a 2006 vai de patamares de 1,25% para 5,25%38 ao ano, causandoinadimplência generalizada, devido aos já mencionados empréstimoshipotecárioscomtaxasdejurosvariáveis,queacompanhamassimoaumentoimpostopeloFED.Daíemdiante,aeconomiaamericanaentraemumaespiraldescendente,comoosimóveissendoretomadospelosbancos,gerandoaindamaisdesvalorizaçãopelaofertaexcessivadosmesmosnomercado,culminadonarecessãoeconômicade2008.

Assiste-se ao estouro da bolha imobiliária, e com a securitização,espalha-sepelomundoarecessãocomeçadanosEstadosUnidos.Masqualopapeldesempenhadopelosparaísosfiscaisnacrisede2008?

3.OsParaísosFiscaiseaCriseFinanceirade2008

3.1. Oconceitodeparaísofiscal

A Secretaria da Receita Federal do Brasil, por meio da InstruçãoNormativa nº1.037/2010, relaciona países ou dependências com tributaçãofavorecida e regimes fiscais privilegiados, onde são definidosconceitualmente,noArt.1ºdamesmanorma,osparaísosfiscaiscomo:

Art.1º.(...)“paísesoudependênciasquenãotributamarendaouqueatributamàalíquotainferiora20%(vinteporcento)ou,ainda,cujalegislaçãointernanãopermitaacessoainformaçõesrelativasàcomposiçãosocietáriadepessoasjurídicasouàsuatitularidade”.

Existem, ainda segundo a Instrução Normativa, 64 países que seenquadramnestaclassificaçãoatualmente.

Adefiniçãoéclaraeconceituaosprincipaisaspectossobreosparaísosfiscais: tributação baixa ou nenhuma sobre a renda, facilitando assim aaplicação de capitais por estrangeiros; e, legislação interna que impeça oconhecimento da titularidade das contas ou composição societário, que emoutraspalavras,implicaemsigilobancárioabsoluto.

38Jones,C.I.TheGlobalFinancialCrisisof2007-20??.ASupplementtofMacroeconomcis(W.W.Norton,2008).Marçode2009.

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Tais características,podemosconcluir apenasdo conceitodeparaísosfiscais, dificultam por si só a regulamentação do sistema financeirointernacional, uma vez que vão de encontro às normas do direitointernacionalparacoibiçãodeevasãodedivisaselavagemdedinheiro.

Deveserempreendidaaquiadiferençaentreelisãoeevasãodedivisas.Aevasão fiscalbusca, ilicitamente,evitaropagamentode tributos,pormeiode informações distorcidas ou pela falta das mesmas. É comum o uso delaranjas - pessoas que efetuam em seu nome, por ordem de outrem,transaçõesfinanceirasemqueéocultadaarealidentidadedobeneficiário,oudeempresasfictícias,queexistemsomentenopapel.Écomumtambémousodo dólar cabo, que são as operações financeiras realizadas, através de, porexemplo,agentesvulgarmentedenominados“doleiros”,semaautorizaçãodoBancoCentraldoBrasil-Bacen,foradosmecanismosoficiaisdecontrole39.

Jáaelisãofiscaltemporobjetivovaler-sedemétodoslegais,atravésdoplanejamentotributárioparaseevitarageraçãodofatogeradordoimposto,não incorrendo assim emobrigação tributária perante o Fisco. Para tal, sãoutilizadostantobrechaslegais,comoanãodisposiçãoclaranalei,bemcomoapróprialei,emsi,normalmentepermissiva40.

Contudo, não é de se espantar que os mesmos paraísos fiscais sãousadosparaambasoperações.

3.2. Acorrelaçãoentreosparaísosfiscaiseacrisefinanceira

O professor Dowbor, no jámencionado artigo “A crise financeira semmistérios - Convergência dos dramas econômicos, sociais e ambientais”,discorre sobre a facilidade com que os mecanismos e o uso dos paraísosfiscaisdesfrutamnomercado financeiro. Muitoantesda crise financeirade2008, Dowbor parte do exemplo da multinacional Enron, para demonstrarcomosãoengendradostaismecanismos:

“Há poucos anos estourou o desastre da Enron, uma dasmaiores emaisconceituadasmultinacionaisamericanas.Foiumacrisefinanceiraeumdosprincipaismecanismosdegeração fraudulentaderecursos fictícios, foium charme de simplicidade. Manda-se um laranja qualquer abrir umaempresa laranja num paraíso fiscal como Belize. Esta empresa reconhecepor documento uma dívida de, por exemplo, 100milhões de dólares. Esta

39LOPESDELIMA,BrunoLeonardo.PlanejamentoTributário:Sualicitudeelimites.Brasília:IESB,2006.

40LOPESDELIMA,BrunoLeonardo.PlanejamentoTributário:Sualicitudeelimites.Brasília:IESB,2006.

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dívidaentranacontabilidadedaEnroncomo“ativo”,emelhoraa imagemfinanceirada empresa.Os balançospublicados ficammais positivos, o queelevaaconfiançadoscompradoresdeações.Asaçõessobem,oquevalorizaaempresa,quepassaavaleroscemmilhõessuplementaresquediziater.Osexecutivos da Enron acharam o processo muito interessante. O setor deprodução (que produzia efetivamente coisas úteis) foi colocado no seudevidolugar,eosmagosdafinançaselançaramnofilãoqueapresentavaavantagem de ser menos trabalhoso e mais lucrativo. No momento dafalência, a Enron tinha 1600 empresas fictícias na sua contabilidade. Aempresa de auditoria Arthur Andersen não percebeu. As empresas deavaliaçãoderisconãoperceberam.Aprimeira tinhaaEnroncomoclientede consultoria. As segundas são pagas pelas empresas que avaliam”.(DOWBOR,2009,p.01)

Épossívelverificar,nesteexemploreal,todososmecanismosutilizadosnormalmenteemparaísos fiscais,devidoasua legislaçãopermissiva.Usodelaranjas para que, em nome de terceiro, sejam abertas empresas fictícias; eque, emseguida, apartirde reconhecimentodedívidas comeste terceiro,oúltimo apresente valorização de suas ações e consequentemente ativosperante seus investidores. Percebe-se desta forma um misto de elisão eevasão fiscal,masnãonosentido literaldasoperações,devidoao fatodesevalerem dos mesmos mecanismos, como laranjas, empresas fictícias, eplanejamento financeiro, mas com a finalidade de inflar os balançoscorporativos artificialmente, e não no não pagamento de tributospropriamentedito.

Épossívelassimaindafazer,dapassagemdeDowbor,umparalelocoma crise de 2008, onde da mesma forma em que as agências de risco não“perceberam”omontantedederivativossubprimesecuritizados,tambémnão“perceberam”as1.600empresasdepapelnacontabilidadedeEnron.

Istonoslevaaoargumentocentralqueadigressãoempreendidanestepresente trabalho pretende realizar. Desde a desvinculação do dólar de suacontrapartidaemouro,em1971,àdesregulamentaçãofinanceirapromovidanoGovernoReaganemdiante,assiste-seaexplosãodeparaísosfiscaiseseupoderdemaximizaçãode lucros,noápicedacurvadecrescimentodevalordosativos,bemcomodeigualmaneiraemsuaqueda.Adesvinculaçãoentreocapitalprodutivoeespeculativocrescedemaneiradesenfreada,assimcomosua capacidade destrutiva, ou da possibilidade do chamado “catastrophicmeltdown”.

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O vínculo claro relativo à crise financeira de 2008 é explicado porDowbor41:

“O uso de paraísos fiscais está igualmente bem mapeado: “Asecuritização envolve juntar hipotecas em um instrumento de objetivosespeciais(special-purposevehicle,SPV),queésimplesmenteumacorporaçãoregistradanoqueénormalmenteumparaísooff-shore”.Esteeoutroscanaiseram utilizados, segundo o Fundo (FMI), “paramanter os ativos sup-primefora da contabilidade (keep off their books) e para evitar as respectivasexigênciasdecapital”.Aexpressão“keepofftheirbooks”noséfamiliarmenteconhecidacomocaixadois”.(DOWBOR,2009,p.05)

Conformeexplicitadopeloprofessor,osderivativosdashipotecassubprime eram securitizados em instrumentos de objetivos especiais ou(Special-Purpose Vehicle - SPV), que nada mais eram empresas fictíciasregistradas em paraísos fiscais, de forma a manter fora dos balanços estesativosclassificadoscomo“lixo”.

Aquestãorecai,segundoaindaDowbor:

“Nestadiscrepânciaentre finançasglobais e regulaçãonacional, jogamumpapelcomplementarimportanteosparaísosfiscais,cercade70“nações”,ilhasdafantasiaondefrequentementeexistemmaisempresasregistradasdoque habitantes, e onde não se pagam impostos nem exigem relatórios deatividades. Estes paraísos exercem hoje o papel que no século XVIIIdesempenhavam algumas ilhas do Caribe que constituíam abrigospermanentes de piratas, onde os produtos da ilegalidade podiam serestocados, trocados e comercializados. Mudou apenas o tipo de produto,encobrindonãosócaixadois,comoevasãofiscal,tráfegodearmaselavagemdedinheiro.Nãohaveráummínimodeordem financeiramundial enquantosubsistiremestesoff-shoresdeilegalidade”.(DOWBOR,2009,p.06)

De fato, anãoaderênciaàsnormasdedireito internacionalparatransparência de transações financeiras, aliado ao sigilo bancário absoluto,fazemdosparaísosfiscaisoveículoperfeitoparaaespeculaçãoeinstabilidadefinanceira. Tamanho montante concentrado nestes territórios, semregulamentação ou taxação, fazem comque este “excedente” de capital sejaempregadonão em atividades produtivas,mas emmercados diversos como

41DOWBOR,Ladislau.Acrisefinanceirasemmistérios-Convergênciadosdramaseconômicos,sociaiseambientais.Brasília,DF,2009.

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imobiliário, antiguidades e obras de arte, acionário e etc, criando assim apróximabolhaaestourar.

Crises econômicas são intrínsecas ao capitalismo. É necessária areduçãodosníveisdepreçospraticadosparaqueosmesmospossamvoltarasubir, e assim dinamizar as trocas e consumo na economia. Contudo, acrescente financeirização da economia vemdesestabilizando os períodos decrescimentoequedadepreços,alémdedirecionarosrecursosasetoresquenãogeramempregosesãoconcentradoresderenda42.

Estima-se que apenas as Ilhas Cayman, classificado pela InstruçãoNormativanº1.037/2010daSRFBcomoparaíso fiscal, abriguemaisdeUS$1,7trilhão,depositadosem250bancos,paraoanode201143.Paraseterumaideia,paraomesmoano,oPIBbrasileiro(somade todososbenseserviçosfinaisproduzidosnopaís)atingiuovalordeUS$2,267trilhões,alémdequeestemesmomontantepagariaadívidagrega3,5vezes44.

4.ConsideraçõesFinais

Com o estouro da crise dos subprime americana, a expressãoregulamentação foi gritada por todo o mundo, e ressonou com os líderesmundiais, uma vez que milhões de pessoas tiveram sua renda perdida oudiminuída,diretaouindiretamente,comacrisefinanceira.

Medidas taxativasouaomenospropostasdemedidas, contudo, foramemvão.FoidiscutidoopapeldoEstadoNacionalesuasfronteirasatéentãointransponíveis,agora invadidaspelaglobalização financeira.Foidiscutidoopapel do contribuinte, uma vez que seu dinheiro foi utilizado para salvarempresas“toobigtofall”.Foidiscutidoopapeldosparaísosfiscais,umavezque os Estados agora necessitavam urgentemente da repatriação destesrecursos, em razão da queda abrupta de arrecadação devido à crise e àrecessãoeconômicaespalhadaaoredordoglobo.Foidiscutidooparadigma,em vigor, o neoliberalismo, e sua desregulamentação e subsequentefinanceirização da economia. Foi discutido o cerne do ideário norte-

42DOWBOR,Ladislau.Acrisefinanceirasemmistérios-Convergênciadosdramaseconômicos,sociaiseambientais.Brasília,DF,2009.

43 Dinheiro depositado nas Ilhas Cayman pagaria 3,5 vezes a dívida da Grécia. Disponível em:(http://economia.ig.com.br/criseeconomica/dinheiro-depositado-nas-ilhas-cayman-pagaria-35-vezes-a-divida-da-grecia/n1597246284347.html).

44ADVFNBrasil.IndicadoresEconômicos,PIB.Disponívelem:(http://br.advfn.com/indicadores/pib).

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americano, o livre mercado e iniciativa privada, quando da estatização debancos pelo governo americano, como forma de impedir a disseminação docaosepâniconosistema.Foidiscutidaaalavancagemdesmedidaapresentadapelos principais bancos do sistema, e consequentemente os Acordos deBasiléia e sua eficácia. Foram discutidas as engenharias financeiraspromovidas porWall Street, e sua busca por lucro pelo lucro. Tudo isso, emuitos outros temas, foram debatidos, no âmbito do G-2045, FMI, BancoMundial e em muitos outros grupos, acordos ou instituições, contudo, semresultadospráticos.

Para Dowbor, as soluções são simples e quase óbvias. E de fato são.Restaavontadedacomunidadeinternacionalparamudança.Governançaéapalavrachave.OpapeldoEstado,principalmentenoâmbitonorte-americano,deve ser rediscutido,umavezqueomesmo foiusadopara salvaro sistemaque advoga contra o papel do mesmo na economia. O Brasil, contudo, foipouco afetado, no que diz respeito ao seu setor bancário com a crisefinanceirade2008,devidoàbaixaaplicaçãoderecursosdosistemafinanceironacionalnosistemaglobaleemdecorrênciadesuaaltaregulamentação.Masaquecustoistosedeve?Aocustodetaxasdejurosreaisestratosféricas,ondeestasdefatoprejudicamaeconomiarealequemquerinvestirematividadesprodutivasquegeramemprego.Odilemasedánaponderaçãodaaplicaçãodemarcosregulatóriosparaosistema.

Masumacoisaé certa.Apróximacriseeconômicachegará,nãosendouma questão de se, mas quando. Muito se especula sobre os impactos dodesaquecimentodaeconomiachinesaparaomundo,bemcomoodefaultdeseu mercado imobiliário. O Japão, que passou por crise em seu mercadoimobiliárionadécadade90,nãoserecuperouatéosdiasdehojedoestourodesuabolha,apresentandoanoapósanodeflaçãodepreçosnaeconomia.

De qualquer modo, restam sempre lições a serem aprendidas. OsAcordosdeBasiléia,mesmocomoAcordodeBasiléiaIII,firmadologoapósoestourodacrise,éinócuocomaexistênciapersistentedeinúmerosparaísosfiscaisaoredordomundo,bemcomoafaltaderegulamentaçãoaindapatentedomercado financeiro internacional. Nenhumamedida concreta foi tomadanosentidodegovernançaentreosprincipaispaísesdosistema.

45 Segundo o Banco Central do Brasil, o G-20 ou “Grupo dos 20” “é um fórum informal que promove debate aberto e construtivo entre países industrializados e emergentes sobre assuntos-chave relacionados à estabilidade econômica global.

Criadoemrespostaàscrisesfinanceirasdofinaldosanos90,o

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Com a decisão unilateral do fim do padrão ouro-dólar pelos EUA em1971,oqueomundoprecisatalvez,seja,deumnovoBrettonWoods.

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