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os jornais, apocalípticos e integrados — tomando emprestados os termos do filósofo Umberto Eco para definir os que condenam a cultura de massa e os que a absolvem — disputam os espaços nas páginas de economia. Os primeiros, mais requisitados pela mídia, são analistas, especialistas e professores, sobretudo pessimistas — todos com suas preferências políticas — que propagam crises econômicas sem fim, como se tudo estivesse errado na condução política da Economia brasileira. Inflação alta, juros altos, alta intervenção do Estado na economia abastecem as críticas. De outro lado, um Ministério da Fazenda, os tais integrados acima chamados, que plantam um otimismo exacerbado, como se qualquer número ruim fosse apenas reflexo de uma desaceleração da economia mundial. Mas, então, surgem as projeções, pessimistas e otimistas, que passam longe da realidade, na maioria das vezes. E isso leva a casos emblemáticos e distorções, como exemplo: o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1,5% no segundo trimestre desse ano em relação ao período anterior, enquanto o mais otimista dos analistas (pessimistas) projetava 1%, a média geral era 0,8% e alguns mais pessimistas ainda esperavam retração. Os jornais trataram de dar ampla cobertura à “saudável surpresa” e entrevistaram os mesmos pessimistas, que continuaram vendo lados negativos; disseram que era um crescimento insustentável, que já era hora de mudar a equipe econômica, e que os números do trimestre posterior fatalmente trariam retração. Ou seja, no meio disso tudo, números desmentem os dois lados: a economia vai devagar, mas evolui melhor do que as projeções. Não está tão ruim quanto alardeiam os apocalípticos nem tão bom como acreditam os integrados. Nessa conjuntura, investidores e empresários confiam cada vez menos nessas projeções, que de uma forma geral, tratam a economia como um todo. No entanto, a Public First Class entrevistou especialistas no mercado de luxo, que tem mais contato com as conduções econômicas, para saber como esse nicho reage nesse contexto turbulento. Public - Caderno de Luxo N 24 25 26 27 Matéria Luxo Marcas.pmd 16/09/2013, 18:04 26

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os jornais, apocalípticos e integrados — tomando emprestados os termos do filósofoUmberto Eco para definir os que condenam a cultura de massa e os que a absolvem —disputam os espaços nas páginas de economia. Os primeiros, mais requisitados pelamídia, são analistas, especialistas e professores, sobretudo pessimistas — todos comsuas preferências políticas — que propagam crises econômicas sem fim, como se tudoestivesse errado na condução política da Economia brasileira. Inflação alta, juros altos,alta intervenção do Estado na economia abastecem as críticas.

De outro lado, um Ministério da Fazenda, os tais integrados acima chamados, que plantamum otimismo exacerbado, como se qualquer número ruim fosse apenas reflexo de umadesaceleração da economia mundial.

Mas, então, surgem as projeções, pessimistas e otimistas, que passam longe da realidade,na maioria das vezes. E isso leva a casos emblemáticos e distorções, como exemplo: oPIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1,5% no segundo trimestre desse ano emrelação ao período anterior, enquanto o mais otimista dos analistas (pessimistas) projetava1%, a média geral era 0,8% e alguns mais pessimistas ainda esperavam retração. Osjornais trataram de dar ampla cobertura à “saudável surpresa” e entrevistaram os mesmospessimistas, que continuaram vendo lados negativos; disseram que era um crescimentoinsustentável, que já era hora de mudar a equipe econômica, e que os números dotrimestre posterior fatalmente trariam retração.

Ou seja, no meio disso tudo, números desmentem os dois lados: a economia vai devagar,mas evolui melhor do que as projeções. Não está tão ruim quanto alardeiam osapocalípticos nem tão bom como acreditam os integrados.

Nessa conjuntura, investidores e empresários confiam cada vez menos nessas projeções,que de uma forma geral, tratam a economia como um todo. No entanto, a Public FirstClass entrevistou especialistas no mercado de luxo, que tem mais contato com asconduções econômicas, para saber como esse nicho reage nesse contexto turbulento.

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Guilherme Kossman, gestor Institucional e de soluçõesestratégicas da MCF Consultoria, esclarece que emborao mercado de Luxo também seja afetado em momentosde recessão ou desaceleração, isso acontece de maneiramenos abrupta. E destaca: “No Brasil, o que vemos éuma redução no crescimento, mas ele continua aexistir”. E parece que a um número substancial, já quea consultoria espera algo em torno de 16% decrescimento para o mercado de luxo nesse ano, o queéuma taxa muito expressiva, segundo o gestor.

O presidente da consultoria The Royal Group, BrunoPamplona, também prevê um futuro promissor. E arazão para o otimismo é que, segundo ele, diferentedo que muita gente pensa, “o mercado de luxo não éregido pela economia. E cada vez mais brasileiros estãoacessando os produtos de luxo, isto é uma realidade”,conclui Bruno.

Apesar desse maior acesso, de acordo com Guilherme,o consumidor do luxo também reduz suas comprasquando a economia desaquece. “Mas ele faz isso demaneira mais suave. Não há quedas bruscas, mas umaredução no consumo. Mesmo assim, o mercadocontinua crescendo”, frisa.

E as marcas internacionais sabem disso.Tanto que mesmo com os entraves típicosdo mercado brasileiro, elas aindadesembarcam aqui. Bruno enumeraalguns: “Custo Brasil, burocracias dedesembaraço, logística de transportes, altacarga tributária e o desconhecimento dobrasileiro da grande maioria das marcasde luxo”.

Mas será que isso pode afastar investidoresdesse ramo? Guilherme responde: “Nãodiria que afasta, porque o mercado do luxono Brasil é atraente pelos números decrescimento que tem apresentado. Mas éum fator complicador, especialmente paraas empresas de menor porte”.

Voltando aos números, parece que omercado de luxo continua voando em céude brigadeiro, já que são esperadoscrescimentos expressivos também para ospróximos anos.

Para 2014, a MCF prevê um patamarpróximo ao desse ano, com 15%. Já a TheRoyal Group trabalha com os números de12% em 2013 e 10% de crescimento noprimeiro semestre de 2014. Para um futuropróximo, o luxo continua inabalável.

“...o mercado do luxo no Brasil é atraente pelos númerosde crescimento que tem apresentado.”

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