psicologia humanista no brasil

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Psicologia Humanista no Brasil Gomes, W. B., Holanda, A. F., & Gauer, G.(2004). Museu Virtual da Psicologia no Brasil Porto Alegre: MuseuPSI Psicologia Humanista no Brasil¹ Uma versão modificada deste texto foi publicada com os títulos: Gomes, W. B., Holanda, A. F., & Gauer, G. (2004). Primórdios da Psicologia Humanista no Brasil; e História das Abordagens Humanistas em Psicologia no Brasil. Em Marina Massimi (Org.), História da Psicologia no Brasil do Século XX (pp. 87-103; 105-129). São Paulo: EPU. William Barbosa Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Adriano Furtado Holanda Universidade de Brasília (UnB) Gustavo Gauer Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Autores e Endereços William Barbosa Gomes é professor de epistemologia e história da psicologia nos cursos de graduação e pós-graduação do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seu envolvimento com as idéias humanistas teve origem nas aulas de Lúcio Flávio Campos e Maria Auxiliadora Moura, na Universidade Católica de Pernambuco, onde obteve o título de psicólogo, em janeiro de 1972. Em São Paulo, estudou Psicoterapia Centrada na Pessoa com Miguel de la Puente, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, entre 1975 e 1977. Nos Estados Unidos obteve o título de mestre com a dissertação The Communicational- Relational System in Two Forms of Family Group Composition, sob orientação de Goff Barrett-Lennard, um ex-orientando e importante colaborador de Carl Rogers na Southern Illinois University - Carbondale, em 1980. Na mesma universidade, sob orientação dos MuseuPsi http://www.ufrgs.br/museupsi/brasilpsio.htm 1 de 35 12/05/2015 07:35

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  • Psicologia Humanista no Brasil

    Gomes, W. B., Holanda, A. F., & Gauer, G.(2004).

    Museu Virtual da Psicologia no Brasil

    Porto Alegre: MuseuPSI

    Psicologia Humanista no Brasil

    Uma verso modificada deste texto foi publicada com os ttulos:Gomes, W. B., Holanda, A. F., & Gauer, G. (2004). Primrdios da

    Psicologia Humanista no Brasil; e Histria das AbordagensHumanistas em Psicologia no Brasil. Em Marina Massimi (Org.),

    Histria da Psicologia no Brasil do Sculo XX (pp. 87-103;105-129). So Paulo: EPU.

    William Barbosa GomesUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Adriano Furtado HolandaUniversidade de Braslia (UnB)

    Gustavo GauerUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

    Autores e Endereos

    William Barbosa Gomes professor de epistemologia e histria dapsicologia nos cursos de graduao e ps-graduao do Instituto dePsicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seuenvolvimento com as idias humanistas teve origem nas aulas deLcio Flvio Campos e Maria Auxiliadora Moura, na UniversidadeCatlica de Pernambuco, onde obteve o ttulo de psiclogo, emjaneiro de 1972. Em So Paulo, estudou Psicoterapia Centrada naPessoa com Miguel de la Puente, na Pontifcia UniversidadeCatlica de Campinas, entre 1975 e 1977. Nos Estados Unidosobteve o ttulo de mestre com a dissertao The Communicational-Relational System in Two Forms of Family Group Composition, soborientao de Goff Barrett-Lennard, um ex-orientando e importantecolaborador de Carl Rogers na Southern Illinois University -Carbondale, em 1980. Na mesma universidade, sob orientao dos

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  • filsofos Emil Spees e Richard Lanigan, obteve o ttulo de doutor,em 1983, com a tese: Experiential Psychotherapy and SemioticPhenomenology: A Methodological Consideration of EugeneGendlin's Theory and Application of Focusing. Gomes bolsista deProdutividade em Pesquisa do CNPq. Seus interesses incluem temasrelacionados fenomenologia e histria da psicologia.Endereo: Instituto de Psicologia - UFRGS. Rua Ramiro Barcelos,2600, 90035-003 Porto Alegre - RS. E-mail: [email protected].

    Adriano Furtado Holanda, psiclogo e recm doutor em psicologia,exercendo no momento atividades de professor substituto naUniversidade de Braslia. Holanda obteve o ttulo de mestre, em1993, pela Universidade de Braslia, com a dissertao Carl Rogers eMartin Buber: Abordagem Centrada na Pessoa e Filosofia Dialgicaem Questo, sob orientao de Jorge Ribeiro Ponciano, e com bolsado CNPq. A dissertao foi publicada com o mesmo ttulo pelaLemos Editorial. O ttulo de doutor foi obtido na PontifciaUniversidade Catlica de Campinas, em 2002, com a tese O Resgateda Fenomenologia de Husserl e a Pesquisa em Psicologia, soborientao de Mauro Martins Amatuzzi e com bolsa da CAPES.Holanda um ativo colaborador de entidades cientficas eprofissionais.Endereo: SHIS QL / Conjunto 06 / Casa 17 / Lago Sul - 71640.065Braslia-DF.E-mail: [email protected]

    Gustavo Gauer psiclogo e mestre pela Universidade Federal doRio Grande do Sul, estando no momento matriculado no curso dedoutorado em psicologia, na mesma universidade. Gauer trabalhasob orientao de William B. Gomes deste a graduao, quando foibolsista de iniciao cientfica do CNPq. A dissertao de mestrado,concluda em 2001, com bolsa do CNPq, foi um estudohistoriogrfico sobre a Psicologia na Universidade Federal do RioGrande do Sul: Ensino e Pesquisa Aps a Reforma Universitria. Natese de doutorado Gauer, que bolsista da CAPES, est tratando dotema Memria Autobiogrfica: Reflexividade e Coeso naExpresso da Experincia Consciente. Recentemente, Gauer foicontemplado com uma bolsa de doutorado sanduche da CAPES,para Duke University, EUA.Endereo: Instituto de Psicologia - UFRGS. Rua Ramiro Barcelos,2600, 90035-003 Porto Alegre - RS. E-mail:[email protected]

    A psicologia estabeleceu-se como disciplina independente elegendocomo objeto de estudo a experincia consciente. Para tanto,substituiu a introspeco especulativa pela introspeco cientfica,um mtodo desenvolvido para o estudar o contedo da experinciaimediata. A psicologia da conscincia, como proposta por WilhelmWundt (1832-1920) e seu discpulo Edward B. Titchener(1867-1927), no obteve o sucesso esperado, desaparecendo nasprimeiras dcadas do sculo XX. A teoria dos contedos daconscincia foi sucedida pelo funcionalismo, que procurou integrar

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  • tcnicas introspectivas com tcnicas extrospectivas. No entanto, adifuso da psicanlise e do behaviorismo deslocou o interesse,respectivamente, para o inconsciente e para a observao direta docomportamento. Na perspectiva psicanaltica, a conscincia seriaabordada indiretamente atravs das exploraes do inconsciente. Naperspectiva behaviorista, o estudo da conscincia no se mostravafactvel ou relevante para a Psicologia (Gomes, 1983).

    Na dcada de 1930, duas tendncias comearam a emergir naPsicologia internacional. De um lado, a explorao cientfica daexperincia consciente reaparecia por influncia da PsicologiaGestltica. Como exemplos podem ser citados: a teoria deaprendizagem de Clark Hull (1884-1952), que introduzia o conceitode varivel interveniente ou intraorgansmica na seqncia estmulo-resposta; a teoria cognitiva de campo ou behaviorismo intencionalde Edward C. Tolman (1886-1959), que introduzia o conceito demapas cognitivos; e a teoria neurofisiolgica de Karl S. Lashley(1890-1958), para quem a linguagem representava as funesintegrativas do crtex cerebral, alcanando o seu mais altodesenvolvimento nos processos do pensamento humano. Essestericos so hoje considerados como precursores do movimentocognitivo, um movimento que ganhou fora nas ltimas duasdcadas do sculo XX (Kristensen, Almeida & Gomes, 2001).

    De outro lado, o aparecimento dos estudos da personalidade, comoum esforo integrativo diante da disperso e fragmentao daspesquisas em processos bsicos, recuperou a centralidade daexperincia consciente para a Psicologia. A tendncia foirepresentada pelos trabalhos de Eduard Spranger (1882-1963) eWilliam Stern (1871-1938) na Alemanha; e de Gordon Allport(1897-1967), Abraham Maslow (1908-1970), Rollo May(1909-1994), Charlotte Bhler (1893-1974), e Carl Rogers(1902-1987) nos EUA. Esses autores, de diferentes maneiras, mascom vrios pontos convergentes, defendiam uma psicologiacompreensiva capaz de considerar o ser humano em suasingularidade e totalidade. A repercusso destas idias nos EUA deuorigem a uma nova orientao no campo psicolgico que se tornouconhecida como Terceira Fora ou Psicologia Humanista. Em suma,os esforos dos experimentalistas na retomada das questescognitivas, e dos compreensivistas na retomada das questesfenomenais e vivenciais trouxeram de volta o lugar da conscinciana pesquisa e na prtica psicolgica.

    Em um estudo histrico sobre as psicologias fenomenolgicas,existenciais e humanistas, Misiak e Sexton (1973) reconheceram adificuldade para definir a Psicologia Humanista de modo conclusivoe satisfatrio. Em primeiro lugar, pela ausncia de uma teoriahumanista de Psicologia, e em segundo lugar pela prpria histria dohumanismo. O pensador catlico Alceu Amoroso Lima (1893-1983),ao apresentar o existencialismo para os leitores brasileiros em 1951,distinguiu trs variedades de humanismo: marxista, existencialista, epersonalista. No humanismo marxista, de inspirao hegeliana, ohomem objeto, produto da evoluo da matria e da histria dasociedade. O humanismo existencialista, de orientao sartreana, um protesto contra o marxista: o homem um projeto, vive sem

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  • saber de onde vem e para onde vai. No dependendo de Deus e nemda sociedade, soberano e livre, em escolhas e situaes (angstia,nusea, etc.). O humanismo cristo, ou personalista, preferido porLima, tomaria o homem como sujeito, pice da criao de Deus ecentro do universo, e infinito em possibilidades (Lima, 1951). Numaperspectiva histrica e sem preferncias filosficas ou religiosas, otermo humanismo pode ser associado a cinco grandes momentos dasidias psicolgicas, podendo ser denominados de humanismoclssico, humanismo romntico, humanismo individual, humanismosocial, e humanismo crtico.

    O humanismo ideal ou clssico foi um movimento ou uma correntede pensamento associada ao incio da idade moderna e ao fim dodogmatismo medieval. Caracterizou-se pela defesa daindividualidade, da singularidade, e da expressividade irrestrita. Ohumanismo clssico estimulou a busca por liberdade eindependncia, despertou a curiosidade por novos conhecimentos, esistematizou mtodos de pesquisa para a confirmao da verdade.Ele esteve na gnese das transformaes polticas e econmicas quemudaram a face do mundo europeu. Seu correlato poltico e socialfoi o liberalismo.

    O humanismo romntico foi um movimento filosfico, jurdico,poltico, econmico e artstico que se caracterizou pela defesa daexpresso plena dos sentimentos, pela afirmao irrestrita daliberdade, e pela defesa da individualidade. Neste humanismo, opensamento humano no era entendido nem como produto danatureza nem da razo. Era entendido como elaborao livre epotica da imaginao, movido por determinaes irracionais. Para ohumanismo romntico, o primado da intuio e do sentimento est frente da razo e da anlise. Neste sentido, o irracional atrai maisque o racional, o imprevisvel mais que o previsvel, o multiformemais que o uniforme, o trgico mais que o cmico, o oculto mais queo presente, o implcito mais que o explcito, o sublime mais que obelo, e o interno mais que o externo. Nesta concepo, amentalidade era uma injuno de foras histricas. O movimentoalcanou seu auge entre os anos de 1780 e 1830, e seu correlatopoltico foi a revoluo francesa.

    O humanismo individual recupera valores como independncia,hedonismo, dissidncia, tolerncia, permissividade, eauto-expresso. Esses valores aparecem claramente na teoria deMaslow (1968), ao defender o valor da pessoa no pela suaproduo mas pelo seu potencial. Emergem ainda na teoria deRogers (1961/1970) ao defender a confiana irrestrita na pessoa; etambm na orao da Gestalt (Royce & Mos, 1981), ao recomendarque cada um cuide de sua vida e no da vida do outro e que cada umviva para sua expectativa e no para a expectativa do outro. A regraestava na ao movida pelo "aqui e agora". O humanismo individualalcanou seu auge na dcada de 1960, acarretando mudanas sociaise polticas no sentido da liberdade e da igualdade. Nas escolas, asmudanas reduziram a autoridade dos professores e incrementaram aliberdade de expresso e da convivncia social. Na psicologia, omovimento deu grande acolhida a propostas de terapias de grupoque subvertiam valores tradicionais - a boa educao se deixa em

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  • casa - e liberavam a expresso e o toque corporal. Na poltica, ohumanismo individual defendeu a democracia e deu voz s minorias.Na economia, o humanismo individual, embora implcito nosmovimentos da contra-cultura, uma conseqncia dos ciclos deprosperidade capitalista.

    O humanismo social caracteriza-se pela revolta contra as injustias,as desigualdades, e as diferenas de classes. Apresenta-se na lutacontra a alienao dos processos dominadores das foraseconmicas e histricas, e centraliza sua interveno na tomada deconscincia dos diferentes modos e possibilidades de insero econquista social. Os correlatos polticos deste humanismo foram asrevolues populares de inspirao marxista. Na Psicologia, omovimento se fez presente pela intensa crtica e participaopoltica, assim como pela proposio de uma psicologia scio-histrica. A grande fora deste movimento ocorreu na dcada de1960 em contraposio ao expansionismo do capitalismo. Naeconomia, o humanismo social levou estagnao dos meios deproduo nos pases nos quais chegou ao poder atravs de atosrevolucionrios.

    O humanismo crtico a negao de todos os humanismos e de suasformulaes fantasiosas e utpicas. uma redefinio da relao dohomem consigo mesmo e do homem com o mundo. Essa novarelao est presente no conceito do ato de existir em Heidegger, nabusca da pura conscincia em Sartre, ou no reconhecimento dainextrincvel relao com o mundo, em Merleau-Ponty. Ohumanismo crtico compartilha com os demais humanismos aexaltao do indivduo como criador de seus prprios valores esentidos, mas tende a se concentrar em aspectos tcnicos da filosofiae do mtodo cientfico. Neste sentido, oferece uma reformulaoontolgica da natureza ou condio humana, procurando explicar apossibilidade de qualquer experincia consciente atravs dasestruturas fundamentais da prpria experincia consciente. ,portanto, uma abordagem fundamentalmente tcnica emetodolgica, isto , um mtodo para pensar.

    Um correlato do humanismo crtico foi o movimento estruturalista eps-estruturalista, liderado por pensadores franceses.As diferentes faces do movimento humanista dificultam qualquerproposio de definio de humanismo e muito mais de psicologiahumanista. Shaffer (1978) resumiu as principais convergncias dapsicologia humanista em cinco pontos:

    1) tomam como ponto de partida a experincia consciente,alinhando-se com a fenomenologia e o existencialismo;

    2) abordam o ser humano em sua totalidade e integridade;

    3) entendem a condio humana como limitada pela imbricaoeu-corpo/outro/mundo, mas nem por isso destituda de liberdade eautonomia;

    4) trabalham com uma metodologia anti-reducionista; e

    5) assumem uma tica fundamentada na abertura para a experincia,

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  • na possibilidade de escolha, e na exeqibilidade da redefinio dosentido de vida.

    O humanismo no uma teoria, no um mtodo, no umafilosofia, e nem uma psicologia. um movimento implcito nahistoricidade das idias que aflora com maior ou menor intensidadede tempos em tempos. Enquanto mensagem, alcana uma variedadede grupos, dos mais diferentes modos, em funo de um estado deopresso individual e social. Enquanto fora de mobilizao, podeestar na base da busca individual por mudana de sentido de vida,ou na mobilizao de grandes massas por justia e reformas sociais.Os humanismos tm em comum a nfase no valor daindividualidade. O humanismo individual, mais claramenteidentificado com o que se reconhece como psicologia humanista,tem como meta a promoo de revolues individuais, isto , orompimento com um estilo de vida e com uma maneira de pensar.Em contraste, o humanismo social, mais claramente identificadocom uma psicologia scio-histrica, anti-individualista e enfatiza aunio de foras em grandes movimentos solidrios na promoo demudanas sociais. Ambos os humanismos esto comprometidos coma melhoria da qualidade de vida.

    No Brasil, uma introduo histrica ao humanismo, no casopropriamente identificado como matrizes romnticas eps-romnticas, encontra-se no conhecido livro de Lus CludioFigueiredo (1989) Matrizes do Pensamento Psicolgico. O texto deFigueiredo, pela clareza didtica e pela perspiccia epistemolgica,supera de longe similares internacionais. , sem dvida, uma boamaneira de introduzir o tema, em seus aspectos conceituais,metodolgicos e histricos. Teorias associadas ao humanismo, comofenomenologia e existencialismo, aparecem sob a denominao depsicologias compreensivas por estarem interessadas no estudo daexpressividade e da comunicao. Tecnicamente, so teoriaspreocupadas com os problemas de interpretao.

    O presente registro histrico limita-se ao reconhecimento dapresena de tendncias humanistas na Psicologia praticada no Brasil.Enquanto registro provisrio e parcial, posto que a preocupaocom a memria e as ligaes histricas de nossas idias e aes ainda uma prtica recente. Para este estudo, foi possvel localizarnotas avulsas sobre personagens, eventos, publicaes e sociedadesidentificadas com o humanismo na Psicologia. Neste sentido, oestudo limita-se ao registro das cinco teorias mais claramenteassociadas ao termo psicologia humanista no Brasil: Existencialismo,Fenomenologia, Abordagem Centrada na Pessoa, Gestalt-terapia eLogoterapia. As psicologias humanistas tiveram uma importanteparticipao na difuso de vrias modalidades de grupoterapias,como os grupos de sensibilizao e o psicodrama. Registre-se queessas atividades foram introduzidas no Brasil, na segunda metadedos anos 1960, por Pierre Weil, que chegou estudar psicodrama comJ. L. Moreno, na Itlia (Weil, 1967). No entanto, o foco destaexposio o registro da chegada das grandes teorias humanistas noBrasil, no se detendo em desdobramentos como o trabalho degrupos, ou aplicaes em educao. A ordem da exposio obedece

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  • ao vetor terico que serviu de atrao para o estudo das teoriashumanistas.

    Neste sentido, a primazia cabe Abordagem Centrada na Pessoaque parece ter sido a primeira a ser difundida entre psiclogos,introduzindo o existencialismo e a fenomenologia. Na verdade, oexistencialismo j era estudado no Brasil, desde os anos de 1910,pelo filsofo Farias Brito; e a fenomenologia desde os anos de 1940,pelo mdico psiclogo Nilton Campos. Por outro lado, houvepsiclogos que chegaram proposio de uma abordagemfenomenolgica para a psicologia fundamentando-se diretamente emfontes europias, como foi o caso de Monique Augras (1981). Aseqncia dos tpicos a serem apresentados a seguinte:Existencialismo, Fenomenologia, Fenomenologia Existencial,Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), Fenomenologia ePsicologia, Gestalt-terapia, e Logoterapia.

    Existencialismo

    No Brasil, a discusso filosfica que rompeu a entrada do sculo XXestava em torno de trs tendncias: espiritualismo, positivismo ematerialistasmo. Neste contexto, um filsofo ir se diferenciar e sedistinguir como o grande divisor de guas da filosofia no Brasil.Trata-se do cearense Raimundo de Farias Brito (1862-1917). Eleformou-se em Direito no Recife, onde recebeu a influncia de TobiasBarreto de Menezes (1839-1889). Trabalhou em Fortaleza e Belm,terminando sua carreira como catedrtico de Lgica no ColgioPedro II, no Rio de Janeiro. Em alguns trabalhos pioneiros sobre ahistria da filosofia no Brasil (Franca, 1929; Machado, 1976;Rabello, 1941), Farias Brito foi considerado o principal filsofobrasileiro do incio do sculo XX.

    Mas qual era a filosofia de Farias Brito? A est a surpresa. SegundoGuimares (1979), Farias Brito assentou as bases para a recepo dopensamento existencialista no Brasil. Em uma anlise da obra deFarias Brito, Penna (1992) identificou influncias de Henri Bergson(1859-1941), Johann Gottlieb Fichte (1762-18140), e da Escola deWrzburgo, que ficou conhecida por defender, ao contrrio deWundt, a ocorrncia de pensamentos sem imagens. Crtico domaterialismo, do evolucionismo, do mecanicismo, do marxismo e dopositivismo (Machado, 1968), Farias Brito defendia uma espcie demonismo espiritualista, que o Padre Leonel Frana (1896-1948)chamou de "panpsiquismo pantesta" (Franca, 1929), com influnciado filsofo Espinosa (Baruch Spinoza, 1632-1677). Em seu pioneiroestudo histrico da filosofia no Brasil, Frana classificou Farias Brito parte daquelas que ele identificava como as trs tendnciasprincipais do pensamento brasileiro: espiritualismo, positivismo ematerialismo.

    A obra de Farias Brito foi por ele mesmo dividida em duas fases(no necessariamente sucessivas): uma primeira de preocupaocom a "finalidade do mundo" e uma segunda, de interesse pelos"dados gerais da filosofia do esprito". So exemplos desta ltimafase obras como A Base Fsica do Esprito, de 1912, e O mundointerior, de 1914, a ltima obra do autor. No estudo dos dados da

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  • filosofia do esprito, Farias Brito reserva psicologia um papelproeminente na reflexo filosfica. Ele de fato pretendia que afilosofia fosse fundamentada na psicologia (Rabello, 1941) .Segundo Farias Brito, a metafsica confunde-se com a psicologia, namedida em que a realidade em si, objeto da metafsica, resume-se vida interior (esprito), enquanto que o mundo exterior (mecnico) pura aparncia. Mecanismo e conscincia so princpios irredutveisum ao outro. Assim, a psicologia deve ocupar-se dos fenmenossubjetivos da conscincia, atravs do mtodo introspectivo (Franca,1929). Essa introspeco pode ser direta, voltada aos fenmenosimediatos da conscincia, ou indireta, para as manifestaesexteriores da conscincia e para os movimentos de outrosindivduos.

    Segundo Machado (1968), a ligao de Farias Brito com oexistencialismo refletir-se-ia na tendncia a recorrer s "fontessubjetivas como base da elaborao filosfica (...), que assumiriaforma extremada no existencialismo francs e na filosofia existencialalem" (p.276). O sentido da filosofia de Farias Brito assimresumido por Machado:Em Farias Brito a filosofia se interioriza. Os temas humanos, amorte, a vida, o mundo moral, as circunstncias existenciais, oconhecimento, conscincia e mundo e os grandes temas do esprito edo mundo interior (...) so os temas que prope Farias Brito (p. 276).

    A aproximao de Farias Brito foi por esta preocupao com asfontes subjetivas da experincia. Penna (1992) aponta ainda outrosindcios de uma aproximao de Farias Brito com a filosofiaexistencial, como a preocupao com a problemtica da morte.

    O perodo em que Farias Brito atuou precedeu as reformas do ensinosuperior do governo Vargas, que criariam as primeiras universidadesbrasileiras, nas quais as Faculdades de Filosofia cumpririam umpapel formidvel. As Faculdades de Filosofia no apenascentralizariam a administrao universitria, como viriam a ser osprincipais centros formadores de profissionais e professores parainmeras reas do conhecimento. Essa influncia formadora severificaria sobremaneira no campo da psicologia. Mais que isso, asFaculdades de Filosofia concentrariam, do incio dos anos 1930 at anova reforma universitria, de 1968, a maior parte do conhecimentocientfico e filosfico produzido e veiculado no Brasil. Assim, era dese esperar que idias que prosperassem naquelas instituiesexercem grande influncia em todas as reas do conhecimento,sobretudo no campo das cincias humanas. O existencialismo e afenomenologia esto entre esses movimentos que, uma vezintroduzidos nas Faculdades de Filosofia, difundiram-se, alcanandoa psicologia.

    O caso do Rio Grande do Sul um exemplo da importncia dasfaculdades de filosofia na difuso das idias existencialistas, e foiabordado por Ernani Maria Fiori, um dos principais professores daFaculdade de Filosofia. Por volta dos anos 1950, o existencialismoinfluenciou a primeira gerao de professores da Faculdade deFilosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),atravs da obra de Gabriel Marcel (1889-1973), sendo que o prprio

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  • filsofo francs chegou a visitar Porto Alegre (Fiori, 1987).

    Juntamente com Jean-Paul Sartre (1905-1980), Marcel representavao existencialismo francs. Em contraste com Sartre, Marcel eraconsiderado um existencialista cristo, embora ele prprio negasse ortulo (Ferrater Mora, 1986). Nessa mesma poca, a fenomenologiatambm exerceria influncia, atravs de Maurice Merleau-Ponty(1908-1961). H quem diga que o interesse por Heideggerprevaleceu no Brasil, pelas dificuldades dos pensadores deinfluncia catlica conviveram com o atesmo de Sartre (Paim,1967). Sartre esteve no Rio de Janeiro em 1961, onde proferiu umasrie de conferncias. Segundo Fiori (1987), o pensamento deMartin Heidegger (1889-1976) passou a ser veiculadoprincipalmente por dois professores pertencentes ao que eleidentifica como uma segunda gerao de professores, que foramalunos da prpria Faculdade de Filosofia: Gerd Bornheim e ErnildoStein.

    Gerd Bornheim (1929-2002) estudou nas universidades de Sorbonneem Paris, Oxford na Inglaterra, e Freiburg na Alemanha. Foi um dosdivulgadores de Jean-Paul Sartre no Brasil (Bornheim, 1970, 1972),mas se considerava mais identificado com as teorias de Heidegger,Hegel (1770-1831) e Marx (1818-1883). Foi professor na UFRGS,Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e na UniversidadeEstadual do Rio de Janeiro (UERJ). O primeiro livro de ErnildoStein, publicado em 1966, e intitulado Introduo ao Pensamento deMartin Heidegger, foi seguido em 1967 pela sua tese de livre-docncia, Compreenso e Finitude: Estrutura e Movimento daInterrogao Heideggeriana. Desde ento, Stein publicou pelo menosmais cinco livros e numerosos artigos influenciados ou dedicados aomtodo fenomenolgico e reflexo sobre o problema da verdadeem Heidegger. Paralelamente, Stein dedicou-se a temticas prximasdo existencialismo, como no livro Melancolia, de 1976. Ernildo Stein ainda tradutor de diversas obras de Heidegger para o portugus.Stein lecionou na UFRGS at aposentar-se em 1996, quando iniciouatividades na PUCRS.

    Por fim, cabe deixar esclarecida a diferena dos termos existncia eexistencialismo. Foi o filsofo dinamarqus Sren Kierkegaard(1813-1855) quem usou pela primeira vez o termo existncia nosentido de subjetividade, assinalando a experincia da interioridadeindividual enquanto algo vlido e concreto. Heidegger pretendeu serantes de tudo o filsofo do ser, tentando resolver o problemaontolgico do ser na ex-sistncia, o ser-fora-de-si (o que parece noter conseguido), e Jaspers se considerou como um filsofo daexistncia. O termo existencialismo identifica filsofos como GabrielMarcel, Jean-Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty, Simone deBeauvoir (1908-1986), Paul Tillich (1886-1965), e Martin Buber(1878-1965).

    Fenomenologia

    Assinala-se o incio do movimento fenomenolgico com apublicao do livro Investigaes Lgicas, de Edmund Husserl(1859-1938). Nesse livro, Husserl criticava o psicologismo, apontado

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  • por ele como a substituio da lgica pela empiria psicolgica.Husserl opunha-se pretenso de uma psicologia positiva eexperimental, baseada em uma epistemologia fisiolgica,apresentar-se como fundamento para a filosofia. Diante daimprocedncia do psicologismo, a fenomenologia surgia como ummtodo descritivo e reflexivo para estudo da experincia consciente.Tecnicamente, o mtodo enunciava um modo de apresentar aexperincia consciente como uma evidncia para a investigao.Aps Husserl, o desenvolvimento da fenomenologia desdobrou-seem pelo menos quatro ramos distintos (Embree, 1997):

    1) fenomenologia realista com nfase na procura de essnciasuniversais nos mais variados objetos, por exemplo, os estudos deMax Scheler (1874-1928) sobre tica;

    2) fenomenologia constitutiva com a nfase nos aspectos tcnicos domtodo, em particular, as questes concernentes suspenso dassuposies apriorsticas, por exemplo, Aron Gurwitsch (1900-1973),ao estudar a percepo sem se preocupar com qualquer influncia deestimulao;

    3) fenomenologia existencial conforme as diferentes concepes deMartin Heidegger, Jean-Paul Sartre, e Maurice Merleau-Ponty; e

    4) fenomenologia hermenutica, representada pelos trabalhos sobreinterpretao de Hans-Georg Gadamer (1900-2002) e Paul Ricoeur(n. 1913). Esses quatro ramos articulam-se, na atualidade, dediferentes modos, principalmente quando o interesse a aplicaodo mtodo a ontologias regionais.

    Em sua histria exaustiva do movimento fenomenolgico,Spiegelberg (1982) reconheceu a impossibilidade de apresent-lo emuma definio consensual e unvoca. A fenomenologia tomoudiferentes caminhos para atender necessidades das mais diferentesreas de conhecimento. Neste sentido, sempre uma surpresalocalizar onde esto alojados os estudos e as pesquisasfenomenolgicas em uma universidade. Elas podem estar emdepartamentos to dspares como geografia, matemtica, arquitetura,enfermagem, direito ou teologia. No entanto, possvel dizer que ospesquisadores fenomenolgicos concordam ao menos com um ououtro dos seguintes pontos (Embree, 1997):

    1) que a cognio, enquanto conscincia da coisa em si, pode serabordada do modo claro e distinto, de acordo com as especificidadesde sua natureza;

    2) que a cognio, enquanto conscincia da coisa em si, pode seconstituir de objetos naturais, culturais e ideais, e que estes objetospodem ser evidenciados e conhecidos;

    3) que a pesquisa eminentemente dialogal;

    4) que a abordagem central do mtodo a descrio do fenmeno,enquanto ato anterior determinao de causas, propsitos oufundamentos;

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  • 5) que a autenticidade da descrio depende da habilidade dopesquisador em suspender ou colocar entre parnteses seuspreconceitos (este aspecto polmico, no sendo aceito por todos).

    O movimento fenomenolgico ope-se aceitao ingnua ouno-crtica de pensamentos especulativos e de sistemas tericosfundamentados em premissas hipotticas. Ele tambm conhecidopor sua oposio ao objetivismo e ao positivismo. Contudo, deve-sedeixar claro que a fenomenologia no se ope ao desenvolvimentoda cincia natural ou da tecnologia. Ao contrrio, ela na verdadeuma forma sofisticada e refinada para trabalhar com a evidncia edesta forma contribuir para o aperfeioamento tcnico e tico dacincia, da filosofia, e da existncia.

    As idias fenomenolgicas se expandiram rapidamente, apesar dasdificuldades pessoais de Husserl com comunicao e relaesinterpessoais. A primeira rea de influncia da fenomenologia, aindanas no incio do sculo XX, foi a psiquiatria, representada nostrabalhos de Ludwing Binswanger (1881-1966) e mesmo nafenomenologia independente de Karl Jaspers (1883-1969). A seguir,a influncia da fenomenologia alcanava, na dcada de 1920, aeducao, a msica, a teologia e o simbolismo. Na dcada de 1930, afenomenologia chegava arquitetura, literatura, e ao teatro; nadcada de 1940, foi a vez da antropologia, do cinema, das pesquisasde gnero, e da poltica. Nas dcadas de 1950 e 1960, afenomenologia dominou o cenrio filosfico francs. Na dcada de1970, a fenomenologia transformou-se em mtodo emprico depesquisa em psicologia com os estudos do grupo da Universidade deDuquesne, em Pittsburgh, no estado da Pensilvnia - EUA. Nasltimas dcadas do sculo XX, a fenomenologia passou a serestudada na medicina e na enfermagem (Embree, 1997; Spiegelberg,1982).

    O primeiro nome ligado introduo da fenomenologia no Brasil Nilton Campos (1898-1963), que tambm foi o primeiro profissionala dedicar-se em tempo integral psicologia (Cabral, 1964). Mdicovoltado neurologia e psiquiatria, formado em 1924, Camposcomeou a trabalhar em 1925 com Waclaw Radecki (1887-1953) noLaboratrio de Psicologia da Colnia de Psicopatas do Engenho deDentro. Em 1934, Nilton Campos tornou-se diretor do Instituto dePsicologia do Servio de doenas mentais, que daria origem aoInstituto de Psicologia da Universidade do Brasil. A tese dedoutoramento de Campos, preparada em 1945 e defendida em 1948,versava sobre O Mtodo Fenomenolgico na Psicologia. Umaanlise do trabalho de Campos foi apresentada por Penna (1992),em sua Histria da Psicologia no Rio de Janeiro. Penna foi sensvel obastante para registrar o esforo de Campos ao procurar darencaminhamento emprico ao mtodo fenomenolgico,estabelecendo comparaes com a instrospeco psicolgica.

    Campos pressentiu a potencialidade do mtodo fenomenolgico paraa pesquisa psicolgica, e a proximidade com certos aspectos dateoria da Gestalt. No entanto, percebeu corretamente que a pesquisada Gestalt no utilizava o mtodo fenomenolgico e que, para

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  • coloc-lo a servio da psicologia, teria que modific-lo. Essamodificao, prenunciada por Campos, acabou acontecendo com ogrupo da Universidade de Duquesne, mais intensamente na dcadade 1970, como veremos adiante. Campos estava, na verdade, frente do seu tempo.

    Na psiquiatria, E. Portella Nunes defendeu em 1963, na Faculdadede Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tese delivre-docncia intitulada Fundamentos da Psicoterapia. Em sua tese,Portella Nunes citava Heidegger e Binswanger. No entanto,publicaes usando o termo fenomenologia no ttulo somenteaparecero na dcada de 1980. Pelo menos o que consta nalistagem de publicaes, teses e dissertaes, preparada porForghieri (1993a) para uma edio dos Cadernos da Anpepp,intitulada Mapeamento da Pesquisa em Psicologia no Brasil. Antesde passarmos para o movimento das pesquisas fenomenolgicas nadcada de 1980 no Brasil, interessante voltar nossa ateno paraas relaes entre fenomenologia e existencialismo.

    Fenomenologia Existencial

    A combinao dos termos existncia e fenomenologia est associada filosofia de Heidegger, pois foi ele que utilizou a fenomenologia deHusserl como mtodo para estudar as questes de existnciaapontadas por Kierkegaard, tais como ansiedade, angstia, medo, emorte. Existencialismo e fenomenologia, embora conceitosdiferentes, so integrados quando o assunto psicoterapia. Comotem sido dito, o existencialismo uma filosofia preocupada com asquestes da expresso autntica da subjetividade. Em contraste, afenomenologia uma filosofia e um mtodo preocupado com ascondies tcnicas para a reflexo rigorosa.

    Nos EUA, o principal introdutor do pensamento fenomenolgicoexistencial foi Rollo May (1909-1994), com o livro Existence: ANew Dimension in Psychiatry and Psychology (May, Angel &Ellenberg, 1958). Trata-se de uma obra de 446 pginas, dividida emtrs partes, com textos originais dos organizadores e com textostraduzidos de psiquiatras europeus com orientao fenomenolgico-existencial. Na primeira parte, May escreveu sobre as origens domovimento existencial e de suas contribuies para a psicoterapia; eEllenberg trouxe uma introduo clnica para a psiquiatriafenomenolgica. Na segunda parte foram includas tradues detextos de Eugne Minkowski (1885-1972) sobre esquizofreniadepressiva; de Erwin Straus (1891-1975) sobre alucinaes; e deViktor von Gebsattel (1883-1975) sobre o mundo do compulsivo. Naterceira parte estavam as tradues dos textos de Binswanger sobreanlise existencial. Em outra publicao, May (1960/1975) contoucom a colaborao de Abraham Maslow (1908-1970), Carl Rogers(1902-1987), e Gordon Allport (1897-1967) para apresentar apsicologia existencial.

    No Brasil, tanto o existencialismo quanto a fenomenologiamereceram a ateno do psiclogo e historiador Antonio GomesPenna, ao menos em trs publicaes. Em um artigo sobre psicologia

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  • existencial, Penna (1985) explicita a distino entre psicologiafenomenolgica e psicologia existencial, embora assegure a ambas aadjetivao "humanista". Segundo Penna, a psicologiafenomenolgica analisa a intencionalidade atravs de descriesrigorosas e sucessivos processos de reduo e variaes imaginrias,enquanto que a existencial aproxima-se da existncia concretaintegrando sujeito e objeto no conceito de Dasein. Em outro artigo,Penna (1986) destaca os avanos de Merleau-Ponty no campo dafenomenologia da linguagem, em relao formulao inicial deHusserl.

    Mais recentemente, Penna (2001) lanou um livro de introduo psicologia fenomenolgica, parte de uma srie de textosintrodutrios voltados a cursos de graduao em psicologia.

    A convergncia entre existencialistas e fenomenlogos, no campo dapsicoterapia, apareceu claramente no livro Phenomenological,Existential, and Humanistic Psychologies de Misiak e Sexton (1973).Trata-se do primeiro texto norte-americano a tratar o tema comcritrios de anlise terica e de anlise histrica, do ponto de vistada psicologia. Os autores trataram indistintamente existencialistas efenomenlogos, quando o assunto foi psicoterapia Em contraste, asinfluncias da fenomenologia na psicologia e na psiquiatria foramexaminadas por Spiegelberg (1972) com o objetivo de indicar de quemodo psicoterapeutas se apropriaram ou desenvolveram tcnicasfenomenolgicas.

    Com efeito, em psicoterapia a convergncia entre pensadoresfenomenolgicos e existencialistas acentuada. Valle e King (1978)na introduo do livro Existencial Alternatives to Psychotherapytrataram conjuntamente de conceitos existenciais efenomenolgicos. Valle e Halling (1989) preferiram unir os doisconceitos no ttulo do livro Existential-PhenomenologicalPerspectives in Psychology.

    Recentemente, o Journal of Phenomenological Psychology dedicouum nmero histria da fenomenologia. O nmero trazia doisartigos, um intitulava-se The Early History of PhenomenologicalResearch in Amrica (Halling & Nill, 1995) e o outro, A BriefHistory of Existential-Phenomenological Psychiatry andPsychotherapy (Cloonan, 1995). Na comparao dos dois ttulos setem uma sntese clara das relaes entre os dois movimentos e domodo como so tradicionalmente tratados em psicologia. Quando sereferindo pesquisa, fala-se em mtodo fenomenolgico. Quando sereferindo psicoterapia, fala-se em existencialismo ou emfenomenologia existencial. A fenomenologia serve de base reflexivapara a anlise da existncia (ver Holanda, 1997). Por fim, h aindauma tendncia prtica de um existencialismo descomprometidocom qualquer esforo de sistemtica reflexiva ou pesquisapsicolgica, exemplificada por uma variedade de proposta devivncias, muito a gosto de certos setores da psicologia no Brasil.

    Vrios autores brasileiros, identificados com as teoriaspsicoterpicas a serem discutidas adiante, circulam entre temasexistenciais e compreenso fenomenolgica. Amatuzzi neste

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  • sentido uma boa ilustrao, como mostra a seqncia de ttulos deseus textos: A Abordagem Fenomenolgica no AtendimentoPsicoterpico (Amatuzzi, 1999), Psicoterapia como HermenuticaExistencial (Amatuzzi, 1991), e Atitude de Boa Vontade e aAbordagem Centrada na Pessoa (Amatuzzi, Cury, Graetz, Belatini,Andrade e Seber, 2002).

    Textos sobre psicoterapias fenomenolgico-existenciais tm sidopublicados regularmente pelo Jornal Brasileiro de Psiquiatria e pelarevista Informao Psiquitrica, da UERJ, que circulou nas dcadasde 1980 e 1990. Com esses esclarecimentos, podemos apreciar adifuso, no Brasil, da psicologia humanista que, enquantomovimento, colocou em pauta a discusso dos temas existenciais edo mtodo fenomenolgico.

    Abordagem Centrada na Pessoa

    A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), inicialmente conhecidacomo Psicoterapia Centrada no Cliente ou AconselhamentoNo-Diretivo, tem um papel de destaque na histria da psicologia.Abriu o trabalho psicoteraputico aos psiclogos, antes umaatividade exclusivamente mdica, e introduziu a pesquisa rigorosa equantitativa ao estudo da efetividade psicoteraputica (Rogers,1961/1970).

    Tambm incentivou o uso de mtodos qualitativos em pesquisapsicolgica (Rogers, 1970/1972). A ACP teve incio com o trabalhode Carl Rogers nos EUA, na dcada de 1940. A teoria caracteriza-sepela crena nas potencialidades de desenvolvimento e crescimentopsicolgico em condies comunicativo-relacionais realistas,sensveis, e compreensivas. Em suas origens, ela recebeu influnciasdo funcionalismo americano, do gestaltismo, das teorias do self, dapsicanlise, da terapia relacional de Otto Rank, dos psiquiatrasculturalistas, e do existencialismo. De la Puente (1970) distinguiutrs fases na trajetria do pensamento rogeriano: a fase tcnicabaseada em regras de atendimento no-diretivo, tais como respostasreiterativas e reflexos de sentimentos (Rogers, 1942/1973); a fasedas atitudes teraputicas baseadas na autenticidade, aceitaocalorosa e compreenso emptica (Rogers, 1951/1974); e a fase dainvestigao do processo teraputico, ocorrendo neste perodo aaproximao do existencialismo (Rogers, 1961/1970). Certamente,uma quarta fase pode ser acrescida, referindo-se transformao dateoria em abordagem, quando o pensamento rogeriano volta-se paraum amplo espectro de questes, incluindo educao (Rogers,1969/1971), grupos (Rogers, 1970/1972), casamento e alternativas(Rogers, 1972/1974), e temas mais gerais (Rogers & Rosenberg,1977).

    Uma primeira aproximao da teoria de Rogers com afenomenologia poderia se dar atravs do termo campo fenomenal,que apareceu no captulo escrito por Rogers (1959) para a srie,Psychology: A Study of a Science, editada por Sigmund Koch(1917-1996), em 1959. No entanto, o conceito de campo fenomenal

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  • utilizado por Rogers devia-se influncia dos autores americanosArthur Combs (1912-1999) e Donald Snygg (1904-1967). Para essesautores, o campo fenomenal era o ambiente percebido, incluindoneste ambiente o percebedor, enquanto determinante decomportamento. Sendo assim, o campo fenomenal era a estruturabsica para a predio e controle do comportamento. Combs foialuno de Rogers, introduzindo ao professor as idias que haviadesenvolvido juntamente com Snygg (Snygg & Combs, 1949). Aaproximao de Rogers da fenomenologia e do existencialismo veiocom a influncia de Eugene Gendlin (Gomes, 1983).

    O impacto das pesquisas de Rogers na psicologia norte-americanafez com que suas idias se espalhassem pela Europa e pela AmricaLatina. No Brasil, a influncia rogeriana se fez sentir j na dcada de1940, com o trabalho de Mariana Alvim (1909-2001). Em 1945 elaconheceu Carl Rogers pessoalmente, em visita a Chicago no intuitode instruir-se na tcnica de entrevista no-diretiva. No ano seguinte,Alvim esteve no Rio de Janeiro, onde trabalhou com Emlio Mira yLpez (1896-1964) no Instituto de Seleo e Orientao Profissionalda Fundao Getlio Vargas (ISOP) desde a criao do Instituto, atmudar-se para Braslia em 1960. Dois anos depois, foi convidadapelo reitor Darcy Ribeiro (1922-1997) para coordenar os servios deseleo de pessoal para a Universidade de Braslia. Alvim tambmlecionou em Salvador, sendo professora de Maria ConstanaVillas-Boas Bowen (1933-1993), que depois veio a ser colaboradorade Carl Rogers em La Jolla, Califrnia.

    Em 1951, a Abordagem recebia no Rio de Janeiro a colaborao deRuth Nobre Scheeffer (n. 1923), que havia retornado do seumestrado no Teachers College da Universidade de Colmbia.Scheeffer teve um papel importante na divulgao doaconselhamento no-diretivo atravs dos seus livrosAconselhamento Psicolgico (1964) e Teorias de Aconselhamento(1976). Nesta dcada, os alunos do recm-criado Curso dePsicologia da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, emseus estgios, j praticavam o aconselhamento psicolgico deorientao rogeriana, introduzido por Pe. Antonious Benko (Fres-Carneiro & Lo Bianco, 2003).

    No Rio Grande do Sul, ainda na dcada de 1950, a teoria de CarlRogers era estudada pelo Irmo Lassalista Henrique Justo . Ointeresse de Justo pelo aconselhamento psicolgico se deu em razoda oposio dos psiquiatras gachos ao exerccio da psicanlise porpsiclogos. Na poca, o atendimento psicoteraputico por psiclogosera considerado como trabalho de segunda linha. O contato de Justocom a teoria de Rogers foi atravs de um livro escrito pelo padrefranciscano Roberto Zavalloni (1956) e traduzido do italiano para oportugus pela Editora Vozes. Zavalloni havia sido aluno de Rogersem Chicago. Justo encantou-se com a possibilidade de trabalhar comuma psicoterapia desenvolvida por um psiclogo e foi buscar aformao na Association Mdico-Psychologique de Paris, comAndr de Peretti, Daniel Hameline, Marie-Joelle Dardelin e outros,havendo os trs primeiros psicoterapeutas estudado com Rogers, nosEstados Unidos. Justo tornou-se uma das mais importanteslideranas no desenvolvimento da pesquisa e da prtica da ACP no

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  • Brasil. Ele ainda coordena um curso de especializao em ACP noCentro Universitrio La Salle em Canoas - RS.

    Na dcada de 1960, com a criao dos cursos de graduao empsicologia, as teorias humanistas ganhavam espao nos currculos e aACP era estudada nos cursos do Rio de Janeiro, de So Paulo, dePernambuco e do Rio Grande do Sul. Em Pernambuco, a teoria deRogers foi lecionada com competncia e elegncia por Lcio FlvioCampos (1923-1988) e Maria Auxiliadora Moura (1931-1986) , naUniversidade Catlica. Campos iniciou sua carreira profissionalcomo padre jesuta, com formao em filosofia, com os jesutas deSo Leopoldo - RS, e em teologia na Fordham University em NovaYork. No Recife, fundou em 1961, na Universidade Catlica dePernambuco, o primeiro curso de graduao em psicologia nonordeste Brasileiro, e um dos primeiros cursos do Brasil. Em seguidafoi para St Louis - Missouri, EUA para estudar psicologia naWashington University, desenvolvendo estudos em psicopatologia,tcnicas projetivas, e aconselhamento psicolgico. Retornando aoRecife, assumiu a coordenao do curso de psicologia, entre 1965 e1967.

    Logo depois, ele renunciou a sua condio de padre jesuta, vindo acasar com Diva Campos. O professor Campos introduziu a teoria deaconselhamento psicolgico de Carl Rogers no curso de psicologiada Universidade Catlica e o trabalho com grupos teraputicos.Maria Auxiliadora Moura e Maria Ayres formaram-se na primeiraturma, dedicando-se tambm ao ensino e a prtica da ACP. MariaAuxiliadora foi coordenadora do curso de psicologia daUniversidade Catlica. Maria Ayres hoje uma referncia histricano desenvolvimento da ACP no Brasil.

    Em So Paulo, Oswaldo de Barros Santos (1918-1998) vinhadesenvolvendo trabalho em orientao e seleo de pessoalinteressando-se pelo aconselhamento no-diretivo. Como professor,lecionou em vrias universidades paulistas, de algum mododifundindo as idias de Rogers. Ele instituiu em 1969, juntamentecom sua assistente Rachel Rosenberg, o Servio de AconselhamentoPsicolgico da USP (SAP-USP), uma das primeiras instituies aintegrar oficialmente a Abordagem Centrada na Pessoa como opode prtica na formao de psiclogos e a oferecer aconselhamentopsicolgico no atendimento populao (Rosenberg, 1987a).Nascida na Blgica, Rachel Lea Rosenberg (1931-1987) fez omestrado e o doutorado na USP. Alm de trabalhar como assistentede Oswaldo de Barros Santos no SAP-USP, o qual ela mesma viria adirigir, participou da criao do Centro de Desenvolvimento daPessoa do Instituto Sedes Sapientiae.

    No final da dcada de 1960 e incio da dcada de 1970, as versesnorte-americanas da psicanlise que circulavam no Brasil eramcriticadas por apresentar uma compreenso determinista emecanicista da natureza humana. As interpretaes psicanalticaseram acusadas de ser muito abrangentes e generalistas. Por outrolado, o behaviorismo ainda ensaiava sua proposta para tratamentopsicolgico, baseado em teorias de aprendizagem. Tal quadrofavorecia o desenvolvimento do pensamento humanista, que recebia

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  • muita ateno por parte de profissionais e estudantes de psicologia.No entanto, a presena da ACP no Congresso Interamericanorealizado no Anhembi, na cidade de So Paulo, foi pequena. Asidias de Rogers apareceram em trabalhos apresentados porreligiosos, com exceo de um workshop sobre aconselhamentopsicolgico que, embora fosse parte do Congresso, ocorreu na USP,sob coordenao de Rachel Rosenberg. Em 1976, um outro grandeevento ocorreu em So Paulo, desta vez sobre Psicologia Clnica,sendo inexpressiva a apresentao de trabalhos sobre a ACP. Alis,neste Congresso, a grande novidade foi a Analise Transacional,trazidas na poca por Odette Loureno Van Kolck e seu maridoTheodorus Van Kolck.

    Em contraste, na mesma dcada de 1970 a ACP seria intensamenteestudada na academia. Por esta poca, Miguel de la Puenteregressava ao Brasil de seu doutorado na Universit de Strasbourg,na Frana, trazendo em sua bagagem a verso em livro de sua tesede doutorado, Carl Rogers: De la Psychothrapie a l'Enseignement.O texto de Puente (1970) era um exame profundo da teoria deRogers, apontando pela primeira vez as distintas etapas dodesenvolvimento da teoria (tcnicas, atitudes, e experiencing). Asmesmas etapas eram simultaneamente indicadas em um livro sobreas novas direes da Terapia Centrada no Cliente, publicado nosEUA (Hart & Tomlinson, 1970). No Brasil, De la Puente tornou-seprofessor da Universidade Estadual de Campinas, onde continuousuas pesquisas sobre a ACP no Programa de Ps-Graduao emEducao.

    No seria exagero afirmar que a ACP, na dcada de 1970,despertava nos seus estudiosos grande entusiasmo pela pesquisaemprica.

    Com efeito, esse foi o grande momento da abordagem na academiabrasileira. Havia uma expectativa de se estar diante de uma grandeescola do pensamento psicolgico. Em 1972 foram defendidas duasimportantes teses por duas mulheres que ocuparam posio dedestaque na psicologia humanista. Elas foram Rachel L. Rosenbergcom a tese Um Estudo de Percepo de Condies Psicoterpicasem Grupos de Aconselhamento Psicolgico, e Yolanda CintroForghieri com a tese Tcnicas Psicoteraputicas e AconselhamentoTeraputico Rogeriano. Em seguida, vieram da PUCSP as tesesAnlise Lgico-Formal da Teoria de Aprendizagem de Carl Rogers,defendida por A. A. Mahoney em 1976, e Fundamentosfenomenolgico-existenciais da comunicao professor-aluno nateoria da educao de Carl Rogers, defendida por Lucila SchwantesArouca em 1977. Na PUCRJ, no mesmo ano, era defendida a teseRazes Filosficas do Pensamento de Carl Rogers por Rosa MariaNiederauer Tavares Cavalcanti. Do Rio Grande do Sul chegava olivro Carl Rogers, teoria da personalidade, aprendizagem centradano aluno do Irmo Henrique Justo (1973). provvel que apublicao de Justo tenha sido o primeiro livro sobre Rogers escritopor um autor brasileiro. Na Pontifcia Universidade Catlica deCampinas, o Programa de Ps-Graduao em Psicologia Clnicacriou uma rea de concentrao em Aconselhamento Psicolgicosob a orientao de Miguel de la Puente. De la Puente lanou, nesta

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  • dcada mais dois importantes trabalhos, um sobre a psicologia socialde Rogers (De la Puente, 1973) e outro sobre a educao centradano estudante (De la Puente, 1978).

    As tradues das obras de Rogers surgiam por esta poca. Primeiroapareceu uma traduo de Tornar-se Pessoa, publicada em Portugal(Rogers, 1961/1970). Seguiram-se Liberdade para Aprender(Rogers, 1969/1971), Tornar-se Pessoa, verso brasileira (Rogers,1961/1973), e Grupos de Encontro (Rogers, 1970/1974). As obrasPsicoterapia e Consulta Psicolgica de 1942 e Terapia Centrada noPaciente de 1951, chegaram ao Brasil primeiro em verso dePortugal, em 1973 e 1974, respectivamente. Um livro que foi muitoutilizado na segunda metade da dcada de 1970 foi Psicoterapia eRelaes Humanas de Rogers e Kinget, em dois volumes. O primeirovoltado aos aspectos tericos, trazendo uma verso do texto ATheory of Therapy, Personality and Interpersonal Relationships, asDeveloped in the Client'Centered Framework aquele que havia sidopreparado a pedido de Sigmund Koch em 1959. Neste texto foramdefinidas as premissas bsicas da teoria (Rogers, 1959). O segundovolume trazia exemplos e estudos de casos clnicos. O livro foipublicado originalmente em francs em 1965, sendo traduzido para oportugus em 1975, neste interim foi muito usada a verso emespanhol. Desta forma, o texto mais importante,enquanto teorizaosistemtica, do pensamento rogeriano chegou ao Brasil traduzido deuma verso francesa. Na verdade, o rogerianismo era muitoestudado na Frana, na dcada de 1960.

    Em meados de 1970, Eduardo Bandeira visitou Carl Rogers noCenter for Studies of the Person, em La Jolla, Califrnia - EUA e devolta ao Brasil trouxe material informativo e ilustrativo da prticateraputica da ACP. Com esse material, Bandeira percorreu o pas,dando incio preparao da visita de Rogers, que ocorreu nosmeses de janeiro e fevereiro de 1977, nas cidades do Recife, SoPaulo e Rio de Janeiro. O ponto culminante da visita foi a realizaode um evento vivencial na Aldeia de Arcozelo, na serra fluminense.Intitulado de Primeiro Encontro Centrado na Pessoa, o eventoocorreu entre os dias 4 e 18 de fevereiro. Estavam inscritos 200participantes das mais diferentes profisses: advogados, engenheiros,enfermeiros, mdicos, psiclogos, administradores, educadores,atores, diretores de cinema, jornalistas, e estudantes. O eventodespertou grande ateno do pblico e da mdia. O Encontro viveu ano-diretividade em sua forma radical. No havia nem programanem pauta, e a comunidade foi planejando e realizando asatividades, debatendo exaustivamente cada questo. Rogers veio aoBrasil acompanhado de membros de sua equipe. Foram eles JohnWood, Maureen Miller, e o casal Maria e Jack Bowen. MariaBowen, uma baiana, ex-aluna de Mariana Alvim, trabalhava comRogers em La Jolla; John Wood casou-se depois com uma brasileirae permaneceu no Brasil, residindo em uma fazenda no interior deSo Paulo; Maureen Miller trazia para o encontro as novidades daGestalt Therapy, e ainda retornaria diversas vezes ao Brasil. A fortenfase vivencial do Encontro propagou-se nos Encontros seguintes.Rogers voltou ao Brasil em 1978 para um evento semelhante,retornando ainda em 1985 para um encontro com estudiosos daACP.

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  • A nfase vivencial tambm dominou as atividades dos inmeroscentros de estudos que foram criados em vrias cidades do Brasil.Aps o primeiro Encontro de Arcozelo, Rachel Rosenberg tornou-seefetivamente a principal representante do rogerianismo no Brasil,sendo co-autora com Rogers no livro A Pessoa como Centro (Rogers& Rosenberg, 1977). Neste perodo, Rosenberg procurou manter aarticulao entre ACP e pesquisa. Um exemplo marcante foi oevento intitulado "Vivncia Acadmica: O enfoque centrado napessoa" realizado na USP, em maio de 1986. O evento contou com aparticipao, entre outros, de Oswaldo de Barros Santos (USP),Oswaldo Frota-Pessoa (USP), Mauro Amatuzzi (USP), Henriette T.Penha Morato (USP), Jaime Roy Doxsey (Universidade Federal doEsprito Santo), John Wood (Psiclogo americano residente em SoPaulo), Virgnia Moreira Leito (Universidade Estadual do Cear),Vera Engler Cury (Pontifcia Universidade Catlica de Campinas -Puccamp), e William Barbosa Gomes (Universidade Federal do RioGrande do Sul - UFRGS). Os trabalhos apresentados forampublicados em uma edio chamada Cadernos USP 2 (Rosenberg,1987b). O evento organizado por Rosenberg foi sobre a vivncia,mas no uma vivncia no sentido teraputico e sim uma vivnciaacadmica com trabalhos previamente preparados e formalmenteapresentados. De resto, Rosenberg escolheu comentaristas para cadaexposio apresentada, tendo em vista a mobilizao do debatecrtico. Uma boa sntese do pensamento da ACP na dcada de 1980encontra-se no livro, Aconselhamento Psicolgico, organizado porRosenberg (1987a) tratando dos seguintes assuntos: nota histricasobre o Servio de Aconselhamento Psicolgico do Instituto dePsicologia da USP (R. Rosenberg), diferenas entre aconselhamento,orientao e psicoterapia (M. L. Schmidt), aspectos tericos da ACP(H. Morato), relao teraputica (M. P. Jordo), formao doconselheiro (I. de Camargo), pesquisa (R. Rosenberg) e, umanovidade, planto psicolgico (M. Mahfoud). Os colaboradores deRosenberg estavam, de alguma forma, vinculados ao Servio deAconselhamento da USP. Tambm na dcada de 1980, a comunidaderogeriana latino-americana articulou-se para a organizao deeventos profissionais, a partir do I Frum Internacional, ocorrido emOaxtepec, Mxico, em 1983.

    Na perspectiva da nova gerao (Tassinari & Portela, 1995), houveum declnio nas atividades da ACP aps as mortes de Rogers e deRosenberg em 1987, reativando-se na dcada de 1990. Com efeito,os autores fizeram um levantamento das publicaes na ACP noBrasil e destacaram a liderana de Virgnia Moreira (ver Moreira,1993), atualmente professora da Universidade de Fortaleza, e deMauro Martins Amatuzzi, professor do Programa de Ps-Graduaoda Puccamp. Outra informao interessante de Tassinari e Portela(1995) a comparao do nmero de dissertaes (mestrado) e teses(doutorado) entre 1970 a 1994. Na dcada de 1970 foram seisdissertaes e trs teses; na dcada de 1980 foram sete dissertaese seis teses; e nos quatro primeiros anos da dcada de 1990 foramconcludas duas dissertaes e quatro teses. Neste perodo foramorganizados centros de estudos e de formao em vrias cidadesbrasileiras, e os encontros profissionais ocorreram com certaregularidade.

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  • A ACP influenciou muito o trabalho pedaggico, exercendo fortecrtica s avaliaes externas dos alunos atravs de provas. Nessaproposta, o professor seria um facilitador pedaggico diante dasdemandas dos estudantes. A tcnica de aprendizagem de inspiraorogeriana foi revista em um nmero especial do peridico Education,organizado por Cassel, ainda nos idos de 1974. As implicaes domtodo foram analisadas em seus aspectos positivos, quais fossempromover maior compromisso do estudante e lev-lo a decidir sobresuas prioridades e interesses; e nos aspectos negativos, como operigo de disperso e da falta geral de controle ou de autocontrole, orisco da demanda ser maior do que as possibilidades do facilitador, ea dificuldade da conciliao de diferentes interesses e temposindividuais de aprendizagem. Pesquisas sobre a aprendizagemcentrada no estudante tm sido realizadas por Justo (1988). Quantoaos grupos, um autor que representa essa prtica na ACP AfonsoH. Lisboa da Fonseca, tendo publicado o livro Grupo, Fugacidade,Ritmo e Forma. O autor vem desenvolvendo intensa atividade narealizao de vivncias e encontro de grupos, no nordeste brasileiro.

    Na dcada de 1990, o pensamento rogeriano foi representado porduas publicaes importantes. A primeira, foi uma obra coletiva deJohn K. Wood, M. L. Assumpo, M. A. Tassinari, M. Japur, M.Serra, e R. W. Rosenthal (1994) tratando de aspectos gerais econtemporneos da ACP. A segunda, foi tambm uma obra coletivadedicada ao planto psicolgico (Mahfoud, 1999). Na primeirapublicao, a ACP definida como um jeito de ser, isto , umarelao positiva e confiante diante da vida, uma preocupaoconstrutiva e autocrtica com a eficcia e realizao dos objetivosindividuais, grupais e comunitrios (solidariedade), e umaexpressividade individual caracterizada pela autonomia,flexibilidade, tolerncia e crtica. Mahfoud e colaboradores retornamao tema do "Planto Psicolgico" que apareceu pela primeira em1987, na ltima obra organizada por Rachel Rosenberg. O plantopsicolgico uma forma inovadora de aconselhamento psicolgicoem instituies, oferecido em perodo de tempo previamentedeterminado e ininterrupto. A grande originalidade do planto colocar o atendimento disponvel para pessoas que estoatravessando momentos difceis ou que simplesmente queremconversar com um terapeuta. O acesso ao terapeuta simples e fcil,ao alcance de qualquer membro da instituio onde est sendooferecido. No incio do sculo XXI, Henrique Justo (2002) apareceucom mais uma obra, intitulada Abordagem Centrada na Pessoa:Consensos e Dissensos. uma anlise aberta, sria e crtica da teoriae prtica da ACP nos ltimos 50 anos.

    Fenomenologia e Psicologia

    As relaes entre fenomenologia e psicologia ganharam impulso nosEUA na dcada de 1970, sob a liderana de Amedeo Giorgi, naDuquesne University. O livro que marcou a aplicao dafenomenologia enquanto mtodo para a pesquisa empricapsicolgica foi Psicologia como Cincia Humana: Uma AbordagemFenomenolgica, publicado por Giorgi em 1970. Neste livro, Giorgi

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  • criticou radicalmente o uso do modelo de cincia natural empsicologia, e mostrou a viabilidade de uma pesquisa empricapsicolgica numa perspectiva de cincias humanas

    O trabalho de Giorgi foi, contudo, precedido pela pesquisa de doisoutros psiclogos, ambos relacionados a Carl Rogers. Um deles foiAdrian L. van Kaan (1959) que defendeu a tese A Experincia deSer Realmente Compreendido. Ele foi o fundador de um programade psicologia dedicado fenomenologia em Duquesne, que veio a setornar o centro de referncia para a formao em pesquisafenomenolgica. O outro foi Eugene Gendlin (1962), que com a teseExperiencing and the Creation of Meaning modificaria os rumos daPsicoterapia Centrada na Pessoa, tornando-a uma abordagemexistencial. O trabalho de Gendlin ganhou fora prpria e ficouconhecido como Psicoterapia Experiencial. Segundo Spiegelberg(1972), Gendlin formulou o modelo de psicoterapia que mais seaproximou da fenomenologia.

    Na dcada de 1970, Giorgi e seus colegas da Duquesne Universityeditaram a clebre coleo Duquesne Studies in PhenomenologicalPsychology, em trs volumes (Giorgi et al, 1971, 1975, 1979), comdiferentes exemplos de pesquisas fenomenolgicas em variadostemas. O mtodo fenomenolgico serviu, inclusive, para realizaode experimentos em memria (Colaizzi, 1971). As novidades dasaplicaes do mtodo fenomenolgico de Duquesne chegaram aoBrasil no final da dcada de 1970. Primeiro, na traduo do livro deGiorgi (1970) por sua ex-orientanda Riva S. Schwartzman em 1978.Schwartzman estudou com Giorgi em Duquesne e atualmentededica-se ao trabalho clnico em Belo Horizonte, em umaabordagem fenomenolgico-existencial (Schwartzman, 1986). Outraobra representativa foi a traduo do livro de Ernest Keen(1975/1979) Introduo Psicologia Fenomenolgica, pelapsicloga carioca, Heliana Barros de Conde Rodrigues, professorada Universidade Estadual do Rio de Janeiro. impossvel concluir aleitura do livro de Keen sem tentar exercitar a maneirafenomenolgica de refletir. O texto, muito criativo e de leituraagradvel, continua sendo uma boa introduo prtica dafenomenologia como mtodo para pensar.

    A dcada de 1980 iniciou com o primoroso O Ser da Compreenso:Fenomenologia da Situao de Psicodiagnstico, de Monique Augras(1981). Augras uma psicloga francesa graduada pela UniversitParis IV, em 1958. Transferindo-se para o Brasil, passou a lecionarno Instituto de Seleo e Orientao Profissional (ISOP) daFundao Getlio Vargas em 1961. Em 1970, foi convidada aintegrar o corpo docente do Instituto de Psicologia da PontifciaUniversidade Catlica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Em ambas asinstituies, Augras envolveu-se em atividades de pesquisa eorientao de trabalhos de concluso de curso. Em O Ser daCompreenso Augras est preocupada com o que denominou decrise da psicologia clnica e do ensino de psicodiagnstico. Oprimeiro captulo tem o sugestivo ttulo de Por que no afenomenologia? (p. 7). Os demais captulos introduzem temasclssicos da fenomenologia: a situao, o tempo, o espao, o outro, afala, e a obra, neste ltimo referindo-se "obra implcita, de um

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  • fazer contnuo que nada mais do que o prprio processo de vida"(p. 88). O livro de Augras teve ampla circulao e aceitao noscursos de graduao em psicologia. Note-se que Augras chega psicologia fenomenolgica por influncia europia, baseando-se,entre outros, em Jaspers, Heidegger, Binswanger, e Minkowski.

    O segundo livro que especificou o campo para o estudo dafenomenologia nos cursos de psicologia foi Fenomenologia ePsicologia, organizado por Forghieri (1984). Neste livro, filsofos epsiclogos falam sobre um novo paradigma para a pesquisa e aclnica psicolgica. Tambm por esta poca comea a aparecer osvrios livros que contam com a participao do professor JoelMartins , um dos nomes mais representativos das relaes entrepsicologia e fenomenologia no Brasil. Em 1983, Martins e Bicudolanaram os Estudos sobre Existencialismo, Fenomenologia eEducao, destacando-se a conjuno dos temas existencialismo,fenomenologia e abordagem centrada na pessoa, sendo este ltimo oenfoque do captulo dedicado educao.

    A partir da, a pesquisa fenomenolgica passa a aparecer emdissertaes, teses, artigos e livros. Entre os trabalhos destacam-se:Cegueira: Do fato para o fenmeno (Meira, 1983); Descriofenomenolgica da experincia da crise existencial ou angstia(Tpia, 1984); Obesidade: Um enfoque fenomenolgico-existencial(M. Gomes, 1986); Atendimento a pais no processo depsicodiagnstico infantil: Uma abordagem fenomenolgica(Ancona-Lopez 1987); e Percepo de sentimentos de alunosdurante a freqncia disciplina enfermagem psiquitrica (Teixeira,1989). No final da dcada de 1980, Dichtchekenian organizou a obrade cunho fenomenolgico-existencial intitulada Vida e Morte:Ensaios Fenomenolgicos, reunindo trabalhos do Centro de EstudosFenomenolgicos de So Paulo, uma organizao ligada a JoelMartins. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)destacaram os trabalhos de Amatuzzi (1989) sobre o Resgate da FalaAutntica e de Frana (1989), Psicologia Fenomenolgica: Uma dasManeiras de Fazer.

    No Rio Grande do Sul, a pesquisa fenomenolgica aplicada educao e psicologia teve incio com o retorno dos EUA de VniaMaria Moreira Rasche e William Barbosa Gomes, nos primeirosanos da dcada de 1980, ambos professores da UFRGS. Porinfluncia de Rasche, Amedeo Giorgi lecionou na UFRGS, porcurtos perodos, em 1985 e 1986, retornando ainda em 1988, quandotambm lecionou na PUCSP, como professor visitante (Bicudo,1990; Gomes, 1998). A influncia do mtodo fenomenolgicoocorreu, inicialmente, nos cursos de mestrado e doutorado daFaculdade de Educao da UFRGS, sob a orientao de Rasche.Com a criao do Programa do curso de mestrado em Psicologia,tambm na UFRGS, Gomes pde dar continuidade a suas pesquisasutilizando o mtodo fenomenolgico. Foram pesquisas que tiveramincio ainda nos EUA sob a orientao de Richard Lanigan (1972) naSouthern Illinois University - Carbondale. Com a transferncia deRasche para a Universidade de Michigan, o trabalho com o mtodofenomenolgico concentrou-se, grandemente, no Programa dePs-Graduao em Psicologia. Na dcada de 1980, Gomes publicou

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  • regularmente sobre fenomenologia, divulgando o mtodo (Gomes,1984, 1985, 1987) e realizando pesquisa emprica, entre as quaisdestacaram-se os estudos sobre efetividade em Psicoterapia (Gauer,Souza, Dal Molin & Gomes, 1997; Gomes, 1992; Gomes, Reck &Ganzo, 1988).

    No incio da dcada de 1990, Forghieri (1993a,) realizou umlevantamento da produo cientfica brasileira em livros, teses,dissertaes, artigos relacionados direta ou indiretamente fenomenologia. O levantamento foi solicitado pela AssociaoNacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Psicologia (Anpepp). Osestudos encontrados apresentaram dois aspectos em comum: adescrio da vivncia do prprio pesquisador, e a descrio dosprocedimentos fenomenolgicos de pesquisa. As principais reas deabrangncia foram a psicologia da educao e a psicologia clnica,com pouca presena de temticas do desenvolvimento humano. Osproblemas investigados comumente diziam respeito a situaesexistenciais, como o envelhecimento, a toxicomania, a maternidadee diferentes doenas fsicas e psquicas. De acordo com Forghieri,diversos desses trabalhos lidavam com os sensos de sofrimento ebem-estar, o que confirmava a tendncia da conjuno entre mtodofenomenolgico e temas existenciais. Outra contribuio deForghieri (1993b), no mesmo perodo, foi PsicologiaFenomenolgica, um texto bsico e didtico, muito usado em cursosde graduao. As relaes entre psicologia e fenomenologia foramexploradas com clareza, nos aspectos conceituais e aplicados. Osautores citados por Forghieri como fundamentais ao seu enfoquefenomenolgico da personalidade foram Husserl, Merleau-Ponty,Heidegger e Buber, com referncias complementares a Binswanger,Sartre, Frankl e Medard Boss (1903-1990).

    No final dos anos 1980 e incio dos anos 1990, o interesse pelomtodo fenomenolgico cresceu juntamente com popularizao dosmtodos qualitativos de pesquisa. Na verdade, o mtodofenomenolgico passou a ser estudado em conjunto com outrosmtodos qualitativos. Um exemplo, foi a criao, na cidade de SoPaulo, em 1989, da Sociedade de Estudos e Pesquisa Qualitativossob a coordenao de Joel Martins, Vitria Helena Cunha Espsito eVirginia Aparecida Viggiani Bicudo, um grupo com tradio depesquisa em fenomenologia.

    Do mesmo modo, a expanso da ps-graduao stricto sensu empsicologia estimulou a organizao de grupos de pesquisa quemantm uma produo regular em fenomenologia. Como exemplopodem ser citadas as publicaes sob a orientao de Mauro MartinsAmatuzzi na Pontifcia Universidade Catlica de Campinas(Amauzzi, 1996; Amatuzzi, Solymos, And, Bruscagin, Costabile,1991); de Marlia Ancona-Lopez na Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo (Ancona-Lopez, 1997); de Maria Alves deToledo Bruns na Universidade de So Paulo - Ribeiro Preto (Bruns,2001) e de William Barbosa Gomes na Universidade Federal do RioGrande do Sul (Gomes, 1998). Recentemente, Bruns e Holanda(2001) reuniram textos metodolgicos e relatos de pesquisaemprica, abrindo novas possibilidades para o trabalho comfenomenologia. A coletnea incluiu estudos sobre Brentano

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  • (1838-1917), Husserl, e Heidegger, e relatos de mtodos recentes deinspirao fenomenolgica, como a verso do sentido proposta porAmatuzzi ou a combinao com a semitica proposta por Lanigan.Por ltimo, cabe lembrar que o trabalho metodolgico e empricocom critrios fenomenolgicos discreto e disperso entreuniversidades ou entre departamentos de diferentes disciplinas.

    Gestalt-Terapia

    Gestalt-Terapia foi definida por James S. Simkin para o clssico livrode Corsini (1979), Current Psychotherapies, como uma intervenopsicolgica no interpretativa, a-histrica, e existencial. O trabalhodo terapeuta concentra-se em orientar a ateno daquele que estem atendimento para o "aqui e agora", na relao interpessoalfrente-a-frente sem recorrer a anlises transferenciais ou contra-transferenciais. O foco do tratamento concentra-se na atualidade doprocesso teraputico e na deciso existencial da escolha, enquantocompromisso e responsabilidade pessoal.

    A Gestalt-Terapia foi fundada pelo neuropsiquiatra Friedrich (Fritz)Salomon Perls (1893-1970) e exposta, pela primeira vez, no livroGestalt Therapy publicado em 1951 em colaborao com RalphHefferline e Paul Goodman, traduzido para o portugus em 1997(Perls, Hefferline & Goodman, 1997). O livro traz o aporte tericoda abordagem, acrescido de exerccios prticos descritos ecomentados. Aps o falecimento de Perls, sua esposa e colaboradoraLaura Posner Perls (1905-1990) foi reconhecida comoco-fundadora, assumindo a liderana do movimento. O uso do termoGestalt resultado da admirao de Perls pelos fundadores daPsicologia Gestalt que ele conheceu, ainda na juventude, naUniversidade de Frankfurt - Alemanha. Na formulao de suasidias sobre a terapia, Perls foi influenciado por sua esposa LauraPerls, pela teoria organsmica de Kurt Goldstein (1878-1965), pelosestudos sobre holismo e evoluo do proeminente polticosul-africanao Jan Christiaan Smuts (1870-1950), pelas idias emenergia vital de Wilhelm Reich (1897-1957), pelas preocupaescom a constituio do sentido do crtico literrio britnico I(vor)A(mostrong) Richards (1893-1979), e pela teoria semntica dopolons Alfred Korzybski (1879-1950). As proposies de Perlsforam bem recebidas pelo movimento humanista dos anos 1960,encontrando boa acolhida junto aos movimentos de contracultura eaos movimentos libertrios que viam o crescimento individualvinculado perspectiva de independncia pessoal e construo deum mundo melhor (Kogan, 1976).

    A Gestalt-Terapia (Frazo, 1995) conhecida no Brasil desde adcada de 1960, por influncia da teoria de Rogers, do Psicodrama,e da pedagogia de Summerhill (Inglaterra). H registros deterapeutas que j estavam trabalhando no referencial da Gestalt-Terapia em Curitiba e no Rio de Janeiro na dcada de 1960. Adifuso do pensamento da Gestalt no Brasil intensificou-se no inciodos anos 1970, atravs de grupos de estudo, com destaque para o

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  • grupo de Thrse Tellegen, Jean Clark Juliano, Walter da RosaRibeiro e Tessy Hantzschel. Costuma-se destacar (Frazo, 1995;Prestelo, 2001) que um dos pontos de atrao ao gestaltismo nosidos de 1970 foi a compatibilidade ideolgica com a resistncia aoregime militar. Alm disso, a abordagem reservava espao para acriatividade e para a afirmao de estilos pessoais, ensejando aexpresso verbal e no-verbal. Do ponto de vista teraputico, aGestalt-Terapia apresentava-se como um mtodo eficaz, comresultados teraputicos em curto prazo. Aliados ao intenso trabalhocom grupos, esses fatores colaboraram para que essa abordagemfosse vista como uma alternativa de interveno de alta viabilidade,quando comparada com o modelo tradicional da psicoterapiaindividual de longo prazo.

    O primeiro trabalho em Gestalt-Terapia escrito no Brasil foi o artigoElementos de Psicoterapia Guestltica (ipsis verbis) de TrseTellegen, publicado em 1972, no Boletim de Psicologia de SoPaulo. Tllgen, holandesa de nascimento, conheceu a Gestalt-Terapia em Londres, fazendo formao no Gestalt Training Centerem San Diego, CA - EUA, com Erving e Miriam Polters. Ela foiautora tambm da primeira dissertao de mestrado, defendida naUSP em 1982, e intitulada Reflexes sobre o Trabalho com Gruposna Abordagem Gestltica em Psicoterapia e Educao; e foi autorado primeiro livro escrito e editado no Brasil, Gestalt e Grupos: UmaPerspectiva Sistmica, publicado em 1984 (Holanda & Karwowski,2003). Naquele livro, Tellegen (1984) retrata o seu prprio percursocom a psicologia da Gestalt e o trabalho com grupos, trata dodesenvolvimento histrico da Gestalt-Terapia e de suas influncias, eapresenta reflexes conceituais sobre a viso de grupos comosistemas e o trabalho do terapeuta nos grupos. O livro conclui com orelato de uma experincia de grupo.

    O primeiro programa de formao em Gestalt-Terapia foi oferecidoem Braslia em 1977, por Walter Ribeiro. Neste mesmo anocomearam a aparecer as primeiras tradues dos livros de Perls,Isto Gestalt e Gestalt-Terapia Explicada. Dois anos depois foitraduzido Escarafunchando Fritz. Com o crescimento do nmero deinteressados, comearam a ser organizados, na dcada de 1980, osencontros de Gestalt terapeutas, sendo o primeiro no Rio de Janeio,em 1986. Em 1985 foi publicado o livro Gestalt-Terapia: Refazendoum Caminho, por Jorge Ponciano Ribeiro, da Universidade deBraslia. A obra de Ribeiro constitui-se em referncia obrigatriapara os terapeutas da abordagem gestltica no Brasil. Em 1988apareceu a traduo de outro livro de Perls A Abordagem GestlticaTestemunha Ocular da Terapia. Na dcada de 1990 os eventospassaram a ser denominados de Encontro Nacional de Gestalt-terapia, e culminanaram, recentemente, com a criao daAssociao Brasileira de Gestalt-Terapia e Abordagem Gestalt(Holanda & Karwowski, 2003).

    Alguns autores (Frazo, 1995; Holanda & Karwowski, 2003)reconheceram que, no Brasil, a proposta da Gestalt-Terapiaencontrou dificuldades para superar o preconceito segundo o qual setrata de uma atuao a-terica, baseada na aplicao indiscriminadade tcnicas. Aparentemente, esse estigma prevaleceu durante vrios

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  • anos em funo de um dos primeiros livros dedicados Gestalt-Terapia lanados no Brasil, "Tornar-se presente", de John Stevens(1971/1976). Essa obra, embora criticada pelos adeptos daabordagem por consistir numa mera coleo de tcnicas para seremaplicadas, havia se popularizado como referncia em Gestalt-Terapiano contexto psicolgico do pas. De fato, o livro de Stevens descrevealgumas sries de exerccios de conscientizao para seremexecutados individualmente ou em grupos, pares e casais. Asconsideraes tericas resumem-se a duas pginas nas quais o autordescreve trs tipos de conscincia que perfazem a experincia:conscincia do mundo exterior, do mundo interior e da atividade defantasia. O foco no momento presente, como foco de toda aexistncia, o faz afirmar que passado e futuro resumem-se fantasia.Ciornai (1998), em um artigo sobre a prtica e a formao daGestalt-Terapia no Brasil, enfatizou o interesse pelo estudo dosfundamentos epistemolgicos da abordagem. Tais fundamentosencontram-se, segundo a autora, na fenomenologia de Husserl eHeidegger, no existencialismo, e na filosofia oriental. Outro aspectodiferencial da abordagem no Brasil a abertura do espectroaplicativo para integrar grupos, famlias, e comunidades. Umexemplo da fora do interesse no trabalho de grupo por terapeutasgestlticos o livro Gestalt Terapia: O Processo Grupal, publicadoem 1975, por Jorge Ponciano Ribeiro.

    Holanda e Karwowski (2003) analisaram a produo acadmicanacional relacionada abordagem gestltica, na forma de teses edissertaes defendidas em diversas reas do conhecimento,conforme catalogao da Universidade de So Paulo (USP). Osautores encontraram 35 trabalhos, defendidos entre 1982 e 2002. Ostrabalhos concentraram-se na USP, na Universidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ) e na Universidade de Braslia (UnB), e eramdedicados s reas da psicologia clnica e da educao. Os autoresidentificaram no crescimento da produo acadmica dedicada sabordagens gestlticas uma preocupao, por parte dos seuspraticantes e estudiosos, em obter titulao e desenvolver umareflexo sobre a prtica gestltica e seus fundamentos tericos eepistemolgicos. A produo de conhecimento sobre as abordagensgestlticas no contexto acadmico tambm foi vista como umasuperao de certas imagens errneas que o pblico desenvolveuacerca dessa tendncia. A primeira tese de doutorado em Gestalt-Terapia foi defendida em 1992 na USP por Ana Maria Loffredo,intitulada De Cotovelos Apoiados no Para-Peito da Palavra: DoCenrio Clnico, Qual o Horizonte?

    Logoterapia

    A Logoterapia uma escola de tratamento psicolgico fundada pelopsiquiatra Viktor Emil Frankl (1905-1997), um professor demedicina da Universidade de Viena. A abordagem se caracteriza pelaexplorao da experincia imediata, baseada na motivao humanapara a liberdade e para o encontro do sentido de vida. Frankldesenvolveu suas idias como uma forma de suplementar as teoriasde Freud e de Adler, tendo como resultado a criao de uma terceiraescola teraputica em Viena. Suas idias decorrem de sua

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  • experincia como prisioneiro em campo de concentrao daAlemanha nazista, transformadas em livro em 1946, com o ttuloPsicoterapia e sentido de vida. A traduo para o portugusapareceu em 1973. A fenomenologia ocupar um lugar importanteno pensamento de Frankl por influncia da leitura dos textos de MaxScheler.

    A prtica em Logoterapia teve incio no Brasil no comeo dos anosde 1980. Antes, ela era apenas uma referncia entre outras em aulasde cursos de psicologia ou mesmo em aulas de cultura religiosa. Em1984, Frankl veio ao Brasil para presidir o I Encontro Latino-Americano Humanstico Existencial, realizado na PUCRS, em PortoAlegre, a convite de Izar Aparecida de Moraes Xausa, na pocaprofessora do Instituto de Psicologia na PUCRS. O evento contoucom grande participao de psiclogos e psiquiatras interessados nasrelaes entre psicologia e espiritualidade. No evento, foi organizadaa Sociedade Brasileira de Logoterapia (SOBRAL) tendo comoprimeiro presidente Jorge Castell Sarriera, psiclogo e professor daPUCRS. Neste mesmo ano, Xausa concluiu sua dissertao deMestrado na PUCRS, intitulada Logoterapia: uma terapiahumanstica e espiritual. Xausa publicou, em 1986, o primeiro livrosobre Logoterapia no Brasil, que recebeu o ttulo de A Psicologia doSentido de vida. O primeiro curso de especializao em Logoterapiafoi oferecido pelo Instituto de Psicologia da PUCRS, comcoordenao de Xausa. Participaram como professores do curso,entre outros, os logoterapeutas: Ricardo Joaquim Sardi - professor daUniversidade de Cuyo em Medonza; Martha Iglesias - Buenos Aires,Argentina; P. Herrera - do Mxico; e Elisabeth Lukas - professora daUniversidade Ludwig Maximilian de Munique, Alemanha. Lukas considerada como sucessora de Frankl e conhecida no Brasil peloseu livro Logoterapia: A fora desafiadora do esprito (Lukas, 1989).Atualmente, existem cursos sobre Logoterapia oferecidos pelaSOBRAL. H tambm uma literatura brasileira sobre assunto, comdestaque para o trabalho de Jos Carlos Vitor Gomes (1988),professor na Puccamp, intitulada A Prtica daPsicoterapiaExistencial: Logoterapia. O livro traz a listagem da obrade Frankl e das tradues para o portugus. A difuso daLogoterapia no Brasil foi pequena. So poucos os cursos degraduao que oferecem atividades nesta linha teraputica. Tambm pequena a presena de textos sobre o assunto em peridicosnacionais.

    Concluses

    As teorias apresentadas neste captulo seguiram percursosdiferenciados tanto nas relaes entre elas quanto na aproximaode pensadores da fenomenologia e do existencialismo. Na verdade,existem diferenas internas entre os representantes de cadatendncia, o que natural e esperado. Mesmo assim, importanteinsistir nos pontos de convergncia como recurso para o trabalhocom aspectos bsicos e necessrios compreenso da variedadeterica em psicologia.

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  • A ACP apresentou aos cursos de psicologia, ainda na dcada de1950 como a grande inovao em aconselhamento psicolgico. Elasubstitua o antigo conselho de orientao explcita para o conselhoindireto, na verdade uma orientao explcita para a autoexploraode si mesmo por parte de quem procurava ajuda. A ACP parece terexercido um papel importante na difuso da Gestalt-Terapia, desdeque h uma grande proximidade entre muitos profissionais das duastendncias. Neste sentido, a vinda de Maureen Miller como membroda equipe de Rogers, em 1977, e os subseqentes retornos paraatividades em Gestalt-Terapia, podem ter facilitado a aproximao.Os profissionais mais identificados com a fenomenologia costumamseguir uma orientao psicoterpica baseada em autores comoHeidegger, Binswanger, Medard-Boss, Minkowski e mesmo Sartre.H tambm profissionais mais identificados com o trabalho deMerleau-Ponty, principalmente aqueles mais diretamente envolvidoscom pesquisa emprica.

    H um reconhecimento na literatura da ACP e da Gestalt-Terapia,indicada acima, que o movimento humanista praticamente uniu-seao movimento da contra-cultura, entre 1965 a 1980. Porconseguinte, o pensamento humanista passou a ser contra o mtodo,contra o intelectual, e contra o racional. Foi o perodo no qual aschamadas vivncias eram propostas como um convite para novasexperincias conscientes, mas que raramente chegavam etapareflexiva da conscincia da experincia. Em substituio pesquisa,tinha-se a ironia, ou a lamentao anacrnica em relao contemporaneidade. Essa prtica ainda perdura em alguns setores aponto de confundir o discurso humanista com o discursotele-evangelista. No entanto, notou-se nos ltimos anos, em gruposrestritos, uma maior preocupao com a formao intelectual, aproduo acadmica, e descries mais acuradas e tcnicas daprtica profissional. bom lembrar que a antitcnica tambm ummanejo e o estabelecimento de uma estrutura com poder paradeterminar. Mesmo assim, h ainda um grande espao a serrecuperado em termos de credibilidade, seriedade e tica.

    Boa parte dos seguidores da psicologia humanista derivou paratendncias tidas como alternativas. Um exemplo destes movimentosalternativos a psicologia transpessoal que se interessa por prticasmeditativas, xtases, intensificao de experincias sensoriais, eafins (Valle & Halling, 1989). O objetivo abrir e ampliar a relaodo individual com algo maior, com foras que ultrapassem aexperincia consciente. Do mesmo modo, foi a psicologia humanistaque se mostrou mais receptiva a conceitos oriundos da psicologiaoriental, como por exemplo, Zen, Ioga e Sufismo (Fadiman &Frager, 1979). Entre estudantes de psicologia verifica-se grandeinteresse por prticas alternativas e muitos deles matriculam-se emdisciplinas de fenomenologia, com o intuito de se instrurem para talfim. Obviamente, eles se decepcionam ao longo do caminho, pois afenomenologia o estudo sistemtico da intuio em busca dodilogo com o preconceito, o lgico, o inusitado, e o novo.Ressalte-se tendncia recente de confundir fenomenologia comfenomenalismo em propostas que retornam ao corolrio dossentimentos no como caminho para uma descoberta e exame de si,mas como um ncleo para decises irrefletidas.

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  • Por fim, importante reconhecer que muitos dos ensinamentos dasprimeiras teorias identificadas como humanistas foram incorporados prtica psicolgica geral. So exemplos os conceitos de empatia ede relacionamento interpessoal, de grande importncia ao trabalhodo psiclogo em qualquer contexto. Por outro lado, uma das maisimportantes contribuies do humanismo foi o conceito de aberturapara a experincia. Tal conceito constitui-se em viso abrangente eintegrada, capaz de dilogo entre diferentes teorias, sem contudoperder a noo de justia ao objeto em estudo (tica), nem a noode rigor na abordagem do objeto (mtodo). Neste sentido, aperspectiva humanista transforma-se em uma abordagemcompreensiva orientada para o estudo de aspectos expressivos einterpretativos da condio humana, enquanto existnciacorporificada e contextualizada (scio-histrica e ecolgica). Seriamuito positivo que os conceitos bsicos da fenomenologiaexistencial, principalmente no que se refere a hermenutica, fossemcuidadosamente estudados nos cursos de graduao. Por fim, cabelembrar, que o estudo da conscincia assumiu posio central napsicologia contempornea, reunindo esforos de filsofos,psiclogos e neurocientistas. Por outro lado, o cognitivismo umatendncia central na psicologia, sendo adotado por boa parte desegmentos behavioristas.

    Referncias

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