psicologia e educação matemática: um olhar sobre as pesquisas
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PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: UM OLHAR SOBRE AS
PESQUISAS PRODUZIDAS NO BRASIL
Cirléia Pereira Barbosa - UFOP
Profa. Dra. Ana Cristina Ferreira - UFOP
INTRODUÇÃO
O que me inspirou à realização deste presente estudo foi o imenso gosto e
interesse pela Psicologia e as experiências adquiridas na Educação Matemática. Dois
importantes fatos contribuíram decisivamente para que isto fosse possível. O primeiro
refere-se à disciplina Psicologia da Educação cursada no início da graduação em
Licenciatura em Matemática da UFOP. O outro, diz respeito às experiências adquiridas
no NIEPEM (Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática)
da UFOP.
Mas afinal, o que é Psicologia da Educação Matemática? Qual a relação da
Psicologia com a Educação Matemática?
Segundo Falcão (2003), o grande marco do surgimento da Psicologia da
Educação Matemática aconteceu em 1976 com o grupo internacional Psychology of
Mathematics Education (PME), por ocasião do III International Congress on
Mathematics Education (ICME), realizado em Karlshure (Alemanha). É importante
lembrar que vários trabalhos desta linha de pesquisa já tinham sido publicados nesta
época, embora ainda não pertencessem categoricamente a este grupo. A Psicologia da
Educação Matemática surge de um esforço da Psicologia (ou de algumas de suas
‘psicologias’) no sentido de oferecer suportes para a teorização no âmbito da Educação
Matemática.
A PESQUISA
Nesta pesquisa bibliográfica, procuro fazer um breve levantamento das
pesquisas produzidas no Brasil sobre Psicologia e Educação Matemática. Para tanto,
realizei um balanço destas pesquisas, considerando artigos publicados, monografias,
dissertações e teses defendidas.
Entendemos, como Gonsalves (2001), que a pesquisa bibliográfica envolve a
identificação e análise de dados escritos, que podem ser livros, revistas, artigos,
trabalhos acadêmicos e outros. Este tipo de pesquisa mostra ao autor um bom número
de trabalhos produzidos sobre o tema da pesquisa. Portanto, é um tipo de pesquisa que
consiste no levantamento de materiais já escritos e publicados por outros autores.
O primeiro passo para a realização desta pesquisa foi consultar o banco de teses
do NIEPEM. Localizamos dez trabalhos na área de Educação Matemática com enfoque
na Psicologia. Destes, uma rica fonte de pesquisa foi a tese de doutorado de Fiorentini
(1994), na qual realiza um balanço das pesquisas brasileiras em Educação Matemática.
Esse autor cita 31 resumos de trabalhos referentes à Psicologia e Educação Matemática.
Encontramos ainda no NIEPEM o artigo de Falcão (2002) e o livro Psicologia e
Educação Matemática: uma introdução (FALCÃO, 2003).
Pesquisamos ainda: o Banco de Teses da CAPES e Anais de inúmeros encontros
de Educação Matemática realizados no Brasil. No primeiro, identificamos 20 resumos e,
nos Anais, 8 trabalhos sobre Psicologia e Educação Matemática.
Cada texto foi fichado considerando informações como: autor, título, tema de
pesquisa, ano de defesa e título acadêmico obtido (em casos de monografias de
especialização, dissertações e teses), além de outras informações mais específicas e
pertinentes a este trabalho, tais como: fundamentação teórica, questão de investigação,
metodologia adotada e principais resultados. Procuramos ler, sempre que possível, os
trabalhos na integra, porém, do Banco de dados da Capes e de alguns Anais só
acessamos os resumos.
A partir da leitura e análise dos 70 trabalhos levantados, foi possível identificar
10 categorias. Em cada uma, descrevemos o número de trabalhos, a questão de
investigação, instituição de origem, autor(es), metodologia adotada e principais
conclusões.
A PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO BRASIL
Dois marcos importantes da Psicologia da Educação Matemática no Brasil foram
a 19ª reunião Anual do grupo PME, tendo participado o programa de pós-graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (Recife) e, em 1996, a fundação do
2
grupo de trabalho Psicologia da Educação Matemática no âmbito da Associação de
Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPPEP).
Falcão (2003) cita alguns locais brasileiros onde se encontram psicólogos da
Educação Matemática. Para tanto, no âmbito da educação, psicólogos da Educação
Matemática mostram presença nas reuniões anuais da ANPED (Associação Nacional de
Pesquisa em Educação) e psicólogos da Faculdade de Educação da UNICAMP
vinculados ao PSIEM (Grupo de Pesquisa em Psicologia da Educação Matemática). Já
no âmbito da Psicologia propriamente dita, um grupo de pesquisa em Psicologia
Cognitiva da (UFPE) Universidade Federal de Pernambuco (Recife) contribui, no
campo da Psicologia da Educação Matemática, com a conceptualização em Matemática,
analisando as competências escolares e extra-escolares. Ainda neste âmbito, o
Departamento de Psicologia da UFRJ (Rio de Janeiro) em parceria com o Departamento
de Psicologia UFPE propõe discussões acerca da Psicologia do desenvolvimento e
Psicologia da Educação Matemática, referindo-se às estruturas aditivas e
multiplicativas, e finalmente, reuniões anuais do grupo ANPPEP (Associação Nacional
de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia); da SBP (Sociedade Brasileira de
Psicologia) e, recém criada, a Sociedade Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento
(SBPD).
Outra recente contribuição da Psicologia da Educação Matemática citada por
Falcão (2003), é o grupo de pesquisa em neuropsicologia da Rede Sarah de Hospitais
(Brasília), coordenado pela neuropsicóloga Lúcia Willadino Braga. Esta pesquisadora
mapea caminhos neuronais relacionados a determinadas atividades matemáticas, como a
atividade algébrica.
Para Falcão (2003), têm sido feitos esforços da Psicologia da Educação
Matemática no sentido de inclusão da afetividade nas competências escolares,
particularmente em Matemática. Segundo ele, vários trabalhos estão sendo feitos nesta
tendência da Educação Matemática relacionando emoções à experiência matemática
escolar. Alguns trabalhos são citados por Falcão (2003, p.43): afetividade e cognição
(BREEN, 2000; WEYL-KAILEY,1985), transferência e contratransferência no âmbito
da relação professor-aluno (CABRAL & BALDINO, 2002), auto-estima, auto-conceito,
padrões de interação e desempenho (HAZIN & DA ROCHA FALCÃO, 2001;
GINSBURG, 1989), atitudes e crenças em relação à Matemática (DE BRITO, 1996;
PEHKONEN, 2001), a relação entre traços de personalidade, estilos cognitivos e
3
atividades de resolução de problemas em Matemática (RÉGNIER, 1995; GINSBURG,
1989).
QUADRO GERAL DAS PESQUISAS PRODUZIDAS NO BRASIL
Tabela 1: distribuição das pesquisas, por instituição, do período de 1975 a 2003.
INSTITUIÇÃ
O
75-79 80-84 85-89 90-94 95-99 00-03 MON.
ESP.
DIS
.
TESE
S
TOTAL
UERJ 1 1 1
UNICAMP 1 1 1 5 5 3 10 13
PUC-SP 1 1 1
PUCCAMP 1 1 1
USP 2 2 1 3 2 5
PUC-RJ 2 1 3 3
UFPE 2 5 1 4 1 13 13
UFSCar 2 1 3 3
UFRS 1 1 1 3 3
UNESP-IGCE 2 2 2
PUC-RS 1 2 2 1 3
UFMS 1 1 1
UFC 1 1 1
FGV 1 1 1
UFBA 1 1 1
UnB 1 1 1 3 3
UFSC 1 1 1
UFPR 1 1 1
UFGO 1 1 1
UFRJ 1 1 1
UFSantaMaria 1 1 1
TOTAL 4 9 14 7 18 8 1 45 14 60
A tabela acima mostra a distribuição das 60 pesquisas sobre Psicologia e
Educação Matemática produzidas no Brasil ao longo de 1975 a 2003, relacionando a
instituição em que foram produzidos os trabalhos e o período em que foram defendidos.
4
Os dois estudos (FALCÃO, 2003) e Anais de encontros investigados não foram
representados nesta tabela por não se tratarem das classificações nela apresentadas.
Podemos observar que a maior produção acadêmica aconteceu no período de
1980 a 2000, chegando a 48 trabalhos. Cabe destacar que, bem antes desta época, vários
trabalhos na área de Educação e Educação Matemática com enfoque em Psicologia já
tinham sido escritos, porém não se classificavam nesta linha pesquisa. Podemos
observar ainda que no período de 2000 a 2003 foram encontrados apenas 8 trabalhos.
Os primeiros estudos tiveram início em 1975, um ano anterior ao surgimento do
grupo internacional (PME), por ocasião do (ICME), realizado em Karlshure
(Alemanha).
Podemos notar que os grupos de pesquisa em Psicologia e Educação Matemática
que mais de destacam são: UFPE (13 trabalhos), USP (5), UNICAMP (13), Rio de
Janeiro (5) e sul brasileiro (9).
Em relação à categoria dos trabalhos acadêmicos, há uma maior concentração de
dissertações de mestrado, com 75%. As teses de doutorado compõem 23,34% das
pesquisas analisadas, sendo que uma delas é uma tese de livre docência (BRITO, 1996).
A UFPE se destaca com o maior número de dissertações defendidas (13). Em seguida,
temos a UNICAMP com 3 trabalhos defendidos. A UNICAMP também se destaca com
10 teses de doutorado.
A tabela a seguir mostra a distribuição das pesquisas analisadas por categoria,
instituição, número de trabalhos e autor/ano.
Tabela 2: distribuição das pesquisas por categorias
CATEGORIA INSTITUIÇÃO N AUTORES
Atitudes UNICAMP;
PUC-Campinas;
Universidade
Paulista; UFRS;
UFMS; USP-SP;
10 Brito (1996); Gonçalez (2000); Mendes (s/d);
Mendes (s/d); Moron (s/d); Blumenthal (1983);
Domingues (1985); Gonçalves (1981); Ragazzi
(1976); Araújo (1999)
Metacognição UERJ;
UNICAMP;
UFRJ
3 Almeida (s/d); Ferreira (2003); Chahon (1999)
Cognição UNICAMP; Lima (1996); Pavanello (1995); Brenelli (1993);
5
PUC-SP; UFMG;
USP-SP; CUML-
SP; PUC-RJ;
UFPE; PUC-RS;
UERJ; UFRS;
UFC; FGV-RJ;
UFSCar; UFBA;
UnB; UFSC;
UFPR;
45
Esteves (s/d); Xavier (s/d); Zuffi (s/d); Pinto (s/d);
Abreu (1990); Acioly (1985); Aguiar (1980);
Campos (1975); Costa (1980); Estácio (1988);
Fagundes (1970); Faria (1979); Leão (1986); Lima
(1981); Lima (1985)Magalhães (1990); Magina
(1988); Mazulo (1990); Melo (1980); Mendes
(1989); Moralles (1986); Moro (1984); Rangel
(1987); Sabak (1980); Santos (1990); Silva
(1987); Souza (1981); Mendes (1991)Rodrigues
(1999); Martins (2001); Monteiro (1998); Bolda
(1987); Muniz (1992); Gonzalez (1998); Adriano
(1987); Vieira (1999), Taxa (1996); Taxa (2001);
Gomes (1998); Lima (1998); Brando (2000);
Tancredi (1990)
Desenvolvimen
to Conceitual
Educação em
Revista; Ed.
Autêntica
2 Falcão (2002); Falcão (2003)
Concepções PUC-Campinas;
UFSCar; IGCE-
UNESP; UFSanta
Maria
4 Rogovski (2003); Azevedo (1988); Imenes (1989);
Bathelt (1999)
Etnomatemática IGCE-UNESP 1 Buriasco (1989)
Psicanálise USP-SP 1 Cabral (1998)
Psicologia
Junguiana
UnB; USP-SP 2 Braz (1997); Saiani (1999)
Psicologia
Experimental
USP-SP 1 Prado (2001)
Interacionismo-
Contrutivismo
UFGO 1 Silva (1995)
Como podemos observar, 45 pesquisas referem-se à cognição, 10 à atitudes e 4
às concepções. Procuramos organizar as pesquisas em categorias, considerando
6
instituição, autor/ano, questão de investigação, metodologia e resultados. A seguir, cada
categoria considerada no quadro acima será brevemente descrita.
1. Atitudes
Dez dos trabalhos analisados compõem essa categoria, sendo a maioria (6)
oriunda da UNICAMP. Podemos observar tanto trabalhos recentes quanto mais antigos.
Esse tema vem sendo abordado por pesquisadores desde a década de 1970, quando
Ragazzi (1976) estudou a escala de atitudes tipo Likert em relação à Matemática
aplicada em alunos da 5ª série do Ensino Fundamental.
Cerca de 60% dos trabalhos tratam das atitudes dos alunos em relação à
Matemática. Duas delas analisaram também a atitude dos pais em relação à Matemática
e a atitude dos vestibulandos em relação à Matemática e a escolha profissional. Os
demais investigaram as atitudes dos professores (ex. DOMINGUES, 1985).
A maioria da pesquisas utilizou a escala de atitudes adaptada por Brito (1996).
Apenas uma pesquisa (DOMINGUES, 1985) utilizou a escala Likert. Um estudo
utilizou os resultados da prova de Matemática do vestibular (BLUMENTHAL, 1983) e
outro os testes de aptidão matemática e de raciocínio (GONÇALVES, 1981).
Os resultados indicam que o desempenho escolar dos alunos propicia o
desenvolvimento de atitudes negativas em relação à Matemática e os meninos
apresentam atitudes mais positivas que as meninas (BRITO, 1996 e MENDES, s/d); que
existem diferentes desempenhos para ambos sexos (BLUMENTHAL, 1983) e, que a
escolha profissional parece relacionar-se às atitudes em relação à Matemática
(BLUMENTHAL, 1983 e ARAÚJO, 1999). Para Gonçalez (2000), as atitudes não são
inatas e sim adquiridas ao longo do tempo. Considera ainda que os pais exercem pouca
influência na formação de atitudes em relação à Matemática em seus filhos.
2. Cognição
Denominamos cognição a categoria das pesquisas de Psicologia e Educação
Matemática referentes ao desenvolvimento de processos cognitivos, às teorias de
linguagem, particularmente a linguagem matemática. Localizamos 45 pesquisas, o que
corresponde a 64,28% dos trabalhos analisados, sendo 13 da UFPE e 8 da UNICAMP.
Desde a década de 70 encontramos pesquisas nessa área. Campus (1975)
estudou a gênese do conhecimento de fração na criança segundo a teoria piagetiana,
considerando a psicopedagogia do ensino e dos números fracionários. Embora existam
7
trabalhos brasileiros recentemente produzidos sobre esta categoria, a maioria deles
concentra-se nos anos 80 e 90. Souza (1981) estudou o perfil psicológico dos alunos da
2ª série do Ensino Fundamental com bom rendimento em Matemática. Outra pesquisa
destacada (ABREU, 1990) investigou os processos de construção do conhecimento
espacial da criança, observando suas primeiras noções topológicas no ambiente escolar.
Já Martins (2001), por meio de análise de vídeos produzidos, investigou a atividade de
uma professora de Matemática em sala de aula, envolvendo-a num processo de análise
de sua prática.
Considerando a metodologia adotada, encontramos que 9 utilizaram pré-teste e
pós-teste (ex., PAVANELLO, 1995; BRENELLI, 1993 e MENDES,1991), 5 realizaram
entrevistas e testes clínicos (ABREU, 1990; AGUIAR, 1980; FAGUNDES, 1997;
LIMA, 1981 e MAGALHÃES, 1990) e nas duas restantes, Moralles (1986) utilizou
apenas o pré-teste para analisar os processos de aprendizagem da relação biunívoca e
recíproca na conservação de quantidades descontínuas e Martins (2001) usou anotações
etnográficas e filmagem das aulas de uma professora de Matemática.
Alguns dos resultados são: o uso de jogos, como quilles e cilada, na
aprendizagem desenvolve a inteligência e propicia a construção de noções aritméticas
de soma e subtração (BRENELLI, 1993), o uso da linguagem computacional LOGO
propicia a construção e a utilização de noções topológicas (ABREU, 1990) e o
conhecimento de comerciantes independe de sua instrução escolar (LIMA, 1985).
3. Metacognição
Encontramos apenas 3 trabalhos (ALMEIDA, s/s; FERREIRA, 2003;
CHAHON, 1999) que utilizam a metacognição. Ferreira (2003), analisou as
contribuições de um grupo de trabalho colaborativo para o desenvolvimento profissional
de professores de Matemática, Chahon (1999) abordou a metacognição no conceito
inicial de fração, apresentando contribuições da Educação Matemática à Psicologia
Cognitiva. Almeida (s/d) investigou os processos de aquisição dos conhecimentos
metacognitivos a fim de conhecer o desempenho de estudantes. Nestas pesquisas
verificou-se a ampliação dos processos metacognitivos.
4. Desenvolvimento do campo Psicologia e Educação Matemática
Encontramos apenas 2 trabalhos, ambos do mesmo autor (FALCÃO, 2002;
FALCÃO, 2003). O primeiro discute a Psicologia e a Educação Matemática, apontando
8
contribuições desta área, principalmente nas questões referentes ao desenvolvimento,
aprendizagem e conceptualização. O outro procura apresentar, em linhas gerais, a
Psicologia e Educação Matemática, mostrando argumentos favoráveis de que este
domínio de reflexão e pesquisa tem um lugar específico na Educação Matemática.
5. Concepções
Os 4 trabalhos relacionados nesta categoria foram produzidos a partir de 1988 e
3 deles procuram investigar concepções de professores e alunos sobre a Matemática,
como Imenes (1989) que estudou o fracasso do ensino da Matemática, como os
professores compreendem e o que as pessoas sentem em relação à esta disciplina. Por
outro lado, Rogovski (2003) realizou uma pesquisa diferente ao identificar porque as
pessoas acima de 60 anos utilizam a Matemática e quais conhecimentos são mais
utilizados, analisando as concepções dessas pessoas.
Em 2 pesquisas analisadas foram utilizadas observações no dia-a-dia dos
sujeitos, como Imenes (1989). As outras 2 adotaram o uso de entrevistas gravadas
(Rogovski, 2003) e questionários (Azevedo, 1988).
Rogvski (2003) acredita que a concepção matemática dos idosos é conseqüência
de suas experiências de vida e escolares. Já Imenes (1989) considera que há uma certa
dificuldade dos professores em perceber novas idéias em relação à Matemática,
oriundas da concepção platônica desta disciplina e a postura autoritária do professor.
6. Etnomatemática
Encontramos apenas uma pesquisa (BURIASCO, 1989) que procurou investigar
o conhecimento prévio de Matemática em crianças antes da escolarização e no seu
ingresso na escola. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, quase etnográfica que
considera a etnomatemática como objeto participativo da Matemática de dentro da
escola.
7. Psicanálise
Também encontramos apenas uma pesquisa (CABRAL, 1998) – tese de
doutorado defendida na USP. Neste trabalho, a autora dá continuidade à pesquisa
realizada no mestrado sobre as dificuldades dos alunos em Cálculo Diferencial e
Integral. Baseando-se na psicanálise, Cabral (1998) estudou casos de alunos de uma
turma de Cálculo I. Para concluir, considera que as pesquisas encontradas estão
9
inseridas no campo construtivista e que os aspectos cognitivos são fundamentais ao
ensino e aprendizagem de Cálculo.
8. Psicologia Junguiana
Consideramos como Psicologia Junguiana 2 dissertações de mestrado (BRAZ,
1997 e SAIANI, 1999). A primeira pesquisa faz uma reflexão sobre a criatividade na
educação formal, por meio de observações em sala de aula, entrevista com professores e
análise de exercícios de Matemática resolvidos por alunos da 3ª série do Ensino
Fundamental. A segunda busca fundamentar, de acordo com a teoria junguiana, a
relação professor versus aluno, considerando aspectos do inconsciente.
9. Psicologia Experimental
Apenas uma pesquisa (Prado, 2001) foi categorizada como Psicologia
Experimental, por se tratar da análise de relações de estímulos e respostas, de acordo
com o aporte teórico da Gestalt. Realizada na USP, tem como objetivo analisar as
relações dos estímulos e respostas de crianças sobre o conceito de números. Através de
computadores foram feitos testes em crianças da pré-escola.
10. Interacionismo-Construtivismo
Embora tenham sido encontradas outras pesquisas (PAVANELLO, 1995 e
ABREU, 1990) que podem ser caracterizadas com interacionismo-construtivismo, por
adotarem como referencial teórico os estudos da Psicologia da aprendizagem de Piaget e
Vygotsky, apenas uma foi considerada a mais pertinente a esta categoria. Trata-se da
dissertação de mestrado (SILVA, 1995) realizada na UFGO que analisa o processo
ensino-aprendizagem das operações matemáticas com professores e alunos das séries
iniciais do Ensino Fundamental. O autor observou que os alunos não desenvolveram um
aprendizado lógico e compreensivo. Este estudo aborda aspectos da aprendizagem e não
aspectos cognitivos, apontados nas duas pesquisas citadas anteriormente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese, o que nos mostram as 70 pesquisas brasileiras produzidas nos
últimos anos sobre Psicologia e Educação Matemática? Quais são os principais estudos
realizados? O que têm em comum? Em que se diferenciam?
10
Segundo Falcão (2002), um dos ramos mais recentes da Psicologia é a
Psicologia da Educação Matemática. Esta nova área traz uma contribuição para a
Educação e tem como objeto de interesse a Matemática e, ao mesmo tempo, tem caráter
psicológico.
Em relação ao se têm produzido no Brasil sobre Psicologia e Educação
Matemática encontramos um grande polo localizado na Universidade Federal de
Pernambuco (Recife), que se destaca com diversas pesquisas sobre cognição (LEÃO,
1986; LIMA, 1981; LIMA, 1985; MAGALHÃES, 1990; MELO, 1980; MARTINS,
2001). Ainda sobre esse tema, localizamos pesquisas no sul do país (RANGEL, 1987;
GONZALEZ, 1998; VIEIRA, 1999; FAGUNDES, 1977; CAMPOS1975) e outras na
UNICAMP (LIMA, 1996; PAVANELLO, 1995; BRENELLI, 1993; MENDES, 1989;
GRANDO, 2000). A UNICAMP também se destaca com estudos sobre atitudes em
relação à Matemática (GONÇALVES, 1981; ARAÚJO, 1999; BRITO, 1996;
GONÇALEZ, 2000).
Vários estudos (LIMA, 1981; SILVA, 1987; ABREU, 1990; BOLDA, 1997)
sobre cognição apresentaram questões sobre o desenvolvimento de operações e de
conceitos matemáticos, particularmente em crianças. Vieira (1999) difere das demais ao
analisar as dificuldades dos processos de representação mental (RM) relacionados à
resolução de problemas matemáticos. Para tal, utilizou a intervenção pedagógica,
através de oficinas realizadas com professores das séries iniciais do Ensino
Fundamental.
Sobre atitudes encontramos em geral estudo de atitudes de alunos em relação à
Matemática, desempenho em Matemática, habilidades e escolha profissional e ao
gênero (GONÇALEZ, 2000; BRITO, 1996; ARAÚJO, 1999). Entretanto, Moron (s/d)
estudou atitudes em relação à Matemática na formação de professores, investigando se
professores da Educação Infantil com atitudes positivas em relação à Matemática têm
concepções sobre o ensino desta disciplina diferente dos professores com atitudes
negativas.
É possível notar, dentre os trabalhos analisados por esta pesquisa, o número
reduzido de estudos sobre Psicanálise, Psicologia-Junguiana, Interacionismo-
Construtivismo e Etnomatemática, presentes no Brasil. Estes temas mereceriam mais
atenção dos futuros pesquisadores, por serem pouco mencionados nesta linha de
pesquisa e tratarem de importantes questões da Educação Matemática, como os
trabalhos apontados neste estudo.
11
Podemos observar uma diversidade de estudos sobre cognição produzidos no
Brasil, sendo a maioria do Grupo de Pesquisa da UFPE. Por outro lado, não foi notada
na revisão bibliográfica, estudos sobre a construção do pensamento geométrico e
construção da inteligência lógico-matemática. Isso evidencia a necessidade de novos
estudos sobre cognição envolvendo estes aspectos aqui mencionados.
As futuras pesquisas em Psicologia e Educação Matemática poderiam dar
continuidade a este trabalho e procurar levantar mais estudos sobre esta tendência na
Educação Matemática. Acreditamos que muitas outras categorias irão surgir na medida
em que forem investigados os trabalhos produzidos. Outras pesquisas, não
necessariamente bibliográficas, também poderiam abordar temas ainda não discutidos
como os mencionados anteriormente.
Embora o número de estudos seja ainda reduzido, sua importância é inegável e
evidencia a necessidade de se expandirem os polos com a ampliação dos grupos de
estudo em diferentes regiões do país e com uma maior difusão de seus resultados.
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