o olhar do construcionismo social sobre a violÊncia contra ... · o olhar do construcionismo...

12
1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X O OLHAR DO CONSTRUCIONISMO SOCIAL SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NAS PRÁTICAS DISCURSIVAS DA PSICOLOGIA Angelo Willian de Lima Catarim 1 Jacy Correa Curado 2 Resumo: As desigualdades de gênero, que são fundamentadas principalmente nas diferenças sexuais, são produções discursivas que resultam em processos de dominação. Assim, é possível identificar que esse processo produz desigualdades no exercício do poder, principalmente sobre o próprio corpo. No entanto, as desigualdades de gênero produzem relações de dominação e sujeição, que são contrapostas por meio da resistência. O Construcionismo Social seria uma perspectiva que nos possibilita questionar tais acontecimentos, pois visa desnaturalizar processos construídos socialmente. Neste sentido, essa pesquisa tem como objetivo problematizar as práticas discursivas que a Psicologia tem produzido sobre a violência contra a mulher, principalmente as em uso por profissionais da psicologia que trabalham nos serviços públicos de atendimento a mulheres em situação de violência e as presentes em documentos de domínio público. Para isso, será feito um mapeamento dos discursos que as Psicologias têm produzido sobre essa temática, identificando quais têm sido as práticas discursivas que embasam as atuações dessas(es) profissionais. As produções do Construcionismo Social nos servirão para analisar os sentidos que esse fenômeno tem recebido, de forma a questionar como ele vem sendo produzido pela Psicologia. Esperamos que tal reflexão possibilite encontrar pontos de fragilidade e de potência na atuação da Psicologia diante desse fenômeno. Palavras-chave: Construcionismo Social. Violência contra as Mulheres. Psicologia UMA VISÃO PANORÂMICA SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES Algumas definições de órgãos nacionais e internacionais buscam fazer uma conceituação da violência contra as mulheres. Esses documentos são importantes pois marcam algumas conquistas provenientes das lutas das mulheres e de movimentos feministas. Como exemplo, temos a definição presente na Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra as mulheres, “Convenção de Belém do Pará” (Organização dos Estados Americanos, OEA, 1994), segundo a qual entendemos como “violência contra as mulheres qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada” (OEA, 1994). De acordo com esse mesmo documento, “a violência contra as mulheres abrange a violência física, sexual e psicológica” (OEA, 1994). 1 Psicólogo, Mestrando do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Grande Dourados UFGD -, bolsista pelo mesmo programa. Este trabalho foi escrito para uma apresentação oral no Grupo de Trabalho A Produção histórica sociocultural da violência de gênero, realizado no Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 e 13º Mundo de Mulheres, que ocorreram nos dias 30/07 a 04/08 de 2017 em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Endereço eletrônico: [email protected] 2 Psicóloga Social, professora titular dos cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia pela Universidade Federal da Grande Dourados UFGD e Pós-doutoranda em Psicologia Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro UERJ. Endereço eletrônico: [email protected].

Upload: dangdan

Post on 24-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O OLHAR DO CONSTRUCIONISMO SOCIAL SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A

MULHER NAS PRÁTICAS DISCURSIVAS DA PSICOLOGIA

Angelo Willian de Lima Catarim1

Jacy Correa Curado2

Resumo: As desigualdades de gênero, que são fundamentadas principalmente nas diferenças

sexuais, são produções discursivas que resultam em processos de dominação. Assim, é possível

identificar que esse processo produz desigualdades no exercício do poder, principalmente sobre o

próprio corpo. No entanto, as desigualdades de gênero produzem relações de dominação e sujeição,

que são contrapostas por meio da resistência. O Construcionismo Social seria uma perspectiva que

nos possibilita questionar tais acontecimentos, pois visa desnaturalizar processos construídos

socialmente. Neste sentido, essa pesquisa tem como objetivo problematizar as práticas discursivas

que a Psicologia tem produzido sobre a violência contra a mulher, principalmente as em uso por

profissionais da psicologia que trabalham nos serviços públicos de atendimento a mulheres em

situação de violência e as presentes em documentos de domínio público. Para isso, será feito um

mapeamento dos discursos que as Psicologias têm produzido sobre essa temática, identificando

quais têm sido as práticas discursivas que embasam as atuações dessas(es) profissionais. As

produções do Construcionismo Social nos servirão para analisar os sentidos que esse fenômeno tem

recebido, de forma a questionar como ele vem sendo produzido pela Psicologia. Esperamos que tal

reflexão possibilite encontrar pontos de fragilidade e de potência na atuação da Psicologia diante

desse fenômeno.

Palavras-chave: Construcionismo Social. Violência contra as Mulheres. Psicologia

UMA VISÃO PANORÂMICA SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Algumas definições de órgãos nacionais e internacionais buscam fazer uma conceituação da

violência contra as mulheres. Esses documentos são importantes pois marcam algumas conquistas

provenientes das lutas das mulheres e de movimentos feministas. Como exemplo, temos a definição

presente na Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra as

mulheres, “Convenção de Belém do Pará” (Organização dos Estados Americanos, OEA, 1994),

segundo a qual entendemos como “violência contra as mulheres qualquer ato ou conduta baseada no

gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera

pública como na esfera privada” (OEA, 1994). De acordo com esse mesmo documento, “a violência

contra as mulheres abrange a violência física, sexual e psicológica” (OEA, 1994).

1 Psicólogo, Mestrando do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD -,

bolsista pelo mesmo programa. Este trabalho foi escrito para uma apresentação oral no Grupo de Trabalho A Produção

histórica sociocultural da violência de gênero, realizado no Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 e 13º Mundo

de Mulheres, que ocorreram nos dias 30/07 a 04/08 de 2017 em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Endereço

eletrônico: [email protected] 2 Psicóloga Social, professora titular dos cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia pela Universidade Federal

da Grande Dourados – UFGD e Pós-doutoranda em Psicologia Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro –

UERJ. Endereço eletrônico: [email protected].

2

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Outro documento muito importante para a compreensão da violência contra as mulheres é a

Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir e prevenir a violência contra

as mulheres. A referida lei tem como norteadores os termos da “Convenção sobre a Eliminação de

Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres” e da “Convenção de Belém do Pará” e

define a violência doméstica e familiar contra as mulheres como “qualquer ação ou omissão baseada

no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou

patrimonial” (BRASIL, 2006).

Embora tenhamos essas definições que versam de maneira mais abrangente a respeito da

violência contra as mulheres, nos questionamos como a Psicologia vem produzindo sentidos a

respeito dessa problemática. É nessa direção que buscamos produzir este trabalho.

LINGUAGEM EM AÇÃO: AS CONTRIBUIÇÕES DO CONSTRUCIONISMO SOCIAL PARA

COMPREENDER A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

A partir de uma postura construcionista, sabemos que, ao revestir um determinado fenômeno

com a linguagem, produzimos os acontecimentos e os sujeitos envolvidos nele. Sua construção se

dará, portanto, a partir das condições de existência e de linguagem que circundam e que produzem

os viventes que falam de tal acontecimento (CORRADI-WEBSTER, 2014; GERGEN, 2010).

Afirmar o estatuto social do conhecimento e da linguagem é afirmar que suas existências são

dinâmicas e diferentes em tempos e espaços distintos e que a linguagem não é tão transparente

quanto nos parece. Ainda mais do que isso, a linguagem é uma ferramenta e um modo de exercício

de poder. Entendemos que diferentes usos da linguagem produzem efeitos distintos. Para descrever

isso, Spink (2010) utiliza o conceito de Práticas discursivas, que engloba a noção de Repertórios

Linguísticos. Estes, por sua vez são os termos, expressões e compreensões em comum que

possuímos dos fenômenos. Seu uso demarca quais são as possibilidades para construção de

sentidos. A linguagem é, então, um campo de embate em que seus agentes podem ocupar lugares de

dominação e de (r)existência.

Por esse motivo, o que nos interessa é como as narrativas construídas recebem o estatuto de

verdade por meio de processos sociais. Desta forma, ao conhecer os diferentes discursos, abrimos

possibilidades de diálogos e questionamentos que produzem outras maneiras de existência

(CORRADI-WEBSTER, 2014). Entendemos, então, que os acontecimentos não são realidades

essenciais, mas são produtos das interações e relações de poder que produzem diferentes

subjetividades com diferentes finalidades.

3

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Nessa forma de pesquisa, é necessário que nos atentemos para a distinção entre discurso e

práticas discursivas. De acordo com Spink (2010), o termo discurso se refere a um “uso

institucionalizado da linguagem e de sistemas de sinais de tipo linguístico” (p. 27), instituindo

campos de saber e de poder. Por outro lado, as práticas discursivas ou linguagem em ação dizem

respeito às “maneiras pelas quais as pessoas, por meio da linguagem, produzem sentidos e

posicionam-se em relações sociais cotidianas” (p. 27). Enquanto o discurso produz blocos de

linguagem que têm a solidez e consistência como características e objetivos principais, a produção

de sentidos se identifica com possíveis fissuras nesse iceberg que, embora possam não desmontá-lo

completamente, acaba produzindo novos contornos, rachaduras, fissuras, enfim, novos sentidos.

Tomando essa noção de práticas discursivas, esse tipo de estudo pode ser visto em Documentos de

Domínio Público (DDP), como afirma Spink (2014) e como podemos ver em Bernardes e Menegon

(2007).

Como exemplo da importância da linguagem e da forma como ela é utilizada, podemos

tomar dois documentos públicos citados anteriormente, o da Convenção de Belém do Pará e o texto

da Lei Maria da Penha (LMP). É possível identificar no primeiro texto a categorização de três

diferentes tipos de violência contra as mulheres, que são a violência física, sexual e psicológica. Já a

LMP categoriza mais duas formas de violência contra as mulheres, que são a violência patrimonial

e a violência moral. Como diria Corradi-Webster (2014), nenhum desses textos é mais verdadeiro

que o outro, mas devemos levar em consideração o contexto de produção de cada um e,

principalmente, que eles produzem efeitos diferentes. Ao reconhecer outras maneiras de violência

contra as mulheres, o texto da LMP modifica a compreensão e a construção desse fenômeno em

pelo menos dois aspectos: reconhece mais âmbitos de punição para os agressores e também que

existem outros espaços de direito das mulheres. Dessa forma, o fenômeno passa a ter outros

contornos e a ser entendido de outra maneira, produzindo efeitos nas relações sociais e,

consequentemente, novas realidades.

NOSSO MODO DE INVESTIGAÇÃO

Para esta pesquisa, realizamos uma busca de textos da Psicologia que falassem a respeito da

violência contra as mulheres, o que nos permitiu identificar algumas maneiras como essa ciência

vem trabalhando este tema. A busca foi feita seguindo os seguintes passos: no site da BVS-Psi

utilizamos os descritores “Psicologia”, “Violência” e “Mulher”. Essas palavras foram utilizadas

4

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

juntas com a seleção dos anos de publicação, que foram delimitados em 6 anos (de 2011 a 20173).

Nesse primeiro momento, obtivemos 29 artigos. Num momento seguinte, selecionamos apenas os

artigos que estavam publicados em português, dos quais foram selecionados 25 artigos.

A partir da primeira leitura dos títulos, resumos e palavras-chave, selecionamos apenas

aqueles que tratavam especificamente de violência contra as mulheres. Dessa forma, os trabalhos

que tratassem de outras formas de violência não foram utilizados. Isso nos resultou um total de 17

artigos a serem lidos e analisados na íntegra. Consideramos que, a partir desse procedimento, foi

possível fazer uma seleção de trabalhos que mais se encaixassem nos objetivos desta pesquisa.

Embora consideremos importante um mapeamento das publicações, levando em

consideração as autorias, instituições de filiação e suas respectivas regiões e as revistas que

publicaram, tal análise pode ser melhor elaborada em outro momento para não prejudicarmos sua

validade, importância e aprofundamento. Por isso, nos ocupamos de analisar os textos completos

para compreender os sentidos que o termo “violência contra as mulheres” receberam nessas

publicações.

COMPREENSÕES SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES E A CONSTRUÇÃO DE

UM CAMPO DE SABER: POSSÍVEIS ANÁLISES

O primeiro momento da análise das concepções de violência contra as mulheres foi

elaborado tendo como objeto de estudo aquilo que chamamos aqui de palavras de evidência dos

textos. Consideramos como palavras de evidência os termos que compõem os títulos, os resumos e

as palavras-chave. Entendemos que os termos presentes nesses momentos dos textos sinalizam a

possibilidade de produção de sentidos ou a reprodução discursiva de certos elementos. Num

segundo momento, passamos para uma análise mais detida sobre o conteúdo integral dos trabalhos,

onde buscamos entender as construções teórico-práticas da Psicologia a respeito da violência contra

as mulheres.

Análise das “palavras de evidência”

Chamamos aqui de “palavras de evidência” os títulos, resumos e palavras-chave. Nos

permitimos usar essa nomenclatura por, pelo menos, dois motivos: 1) elas aparecem com relativo

destaque no corpo dos textos tanto por seus formatos como por suas posições; 2) suas posições

indicam o início, o fim ou a síntese de algum assunto.

3 Essa pesquisa foi feita em março de 2017.

5

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Para a análise dos títulos, resumos e palavras-chave fizemos a leitura de cada uma dessas

seções e procuramos pelos termos “violência” e “mulher/es” e seus correlatos. A busca por esses

termos foi aberta para palavras que tivessem alguma relação com a violência, o que nos permitiu

encontrar palavras como “crime”, “matar”, “assédio” e “homicídios”.

Nas análises dos títulos, observamos que 4 artigos não utilizaram termos relativos à

violência. Dos outros 13 trabalhos, 2 apresentaram o termo violência sem relacioná-lo diretamente a

outra terminologia; 4 artigos apresentaram termos correlatos, sendo: “assédio moral”; “homicídios

conjugais”; “matou por amor”; e “crime e parceria amorosa violenta”; por fim, os outro 8 artigos

apresentaram o termo violência sempre relacionado diretamente com outro termo de caracterização

da violência, como seguem: “violência doméstica”; “violência de gênero”; “violência intrafamiliar”;

“violência contra as mulheres” – que aparece 4 vezes; e “violência sexual”.

A relação recorrente de “violência” com outros termos pode indicar que as violências

estudadas nesses artigos são caracterizadas por certos determinantes que as diferenciam umas das

outras. Em alguns trabalhos, percebemos que houve a preocupação de evidenciar que o estudo era a

respeito das violências que as mulheres sofrem, diferenciando dos estudos que usaram termos

como: “violência conjugal” e “violência intrafamiliar”. Consideramos importante fazer essa

diferenciação por alguns motivos. Primeiramente, porque o termo “violência conjugal”, embora

faça referência ao tipo de relacionamento em que a violência ocorre, não evidencia que a maior

parte dos casos de violência nesse âmbito tem as mulheres como maiores vítimas e com os maiores

prejuízos (BORGES, LODETTI e GIRARDI, 2014). De certa forma, essa terminologia evita a

estigmatização “mulheres/vítimas” e “homens/agressores”, situando a violência de gênero contra as

mulheres como processo relacional. No entanto, ela também deixa as desigualdades de poder menos

evidentes, supondo uma hipotética igualdade no exercício da violência tanto para homens quanto

para mulheres

O termo “violência intrafamiliar” também produz um processo parecido. Quando o

utilizamos para falar a respeito das violências sofridas pelas mulheres, diminuímos os efeitos das

relações de poder nas relações intrafamiliares que geralmente faz com que as mulheres sofram as

violências. Outro fator importante é que a violência intrafamiliar pode ocorrer envolvendo várias

pessoas, como filhos, filhas, pais, mães, avôs, avós, tios, tias, etc., o que também demanda

terminologias diferentes com implicações distintas. Portanto, de certa maneira, quando a

terminologia “violência intrafamiliar” é utilizada para tratar das violências sofridas pelas mulheres,

ela desloca o foco das relações de poder em questão. Assim, embora seu emprego seja útil para

6

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

denotar a complexidade das violências que ocorrem no âmbito intrafamiliar, quando diz respeito à

violência contra as mulheres ele pode acarretar um ocultamento das problemáticas relacionadas à

violência de gênero.

As análises dos resumos e das palavras-chave foram feitas juntas. No que diz respeito à

violência, os termos que mais apareceram nos resumos e palavras-chave foram: “violência contra

a/as mulher/es”, num total de 13 vezes e “violência”, num total de 7 vezes. Os termos “crimes

passionais”, “violência doméstica”, “violência intrafamiliar” e “violência sexual” apareceram 3

vezes cada. Já o termo “mulher/es” apareceu relacionado com vários descritivos, como: “agredida”,

“em situação de violência”, “que sofrem violência doméstica” e “vítimas”. Contando essas variantes

descritivas, o termo “mulher/es” aparece 10 vezes. Em seguida, o termo “gênero” apareceu 8 vezes

sozinho, mas também apareceu com outros termos relacionados como: “identidade de”,

“diferenciais de” e “papéis de”. Ao todo, o termo “gênero” apareceu 11 vezes se contados com os

termos relacionados.

Esses números nos permitiram algumas compreensões. O maior uso do termo “violência

contra as mulheres” em relação a termos como “violência intrafamiliar”, “violência conjugal”,

“violência doméstica” entre outros, mostra a necessidade de identificar a direção da violência.

Quando utilizamos o termo “violência” associado a outros descritores, como “intrafamiliar” ou

“conjugal”, não ressaltamos as diferenças de poder inscritas nas relações conjugais, familiares e

domésticas. Ao utilizarmos o descritor “mulher/es” acabamos destacando contra quem é a violência

e abrimos a possibilidade de tratar esse assunto para além das barreiras domésticas e familiares. Isso

permite compreender a violência contra as mulheres como um processo que extrapola o ambiente

privado.

Quando nos atentamos para os termos relacionados a “mulher/es” identificamos que

“gênero” ganhou destaque. Disso, podemos entender que o termo gênero aparece tantas vezes por

conta de sua relação estreita com o feminismo e sua história de utilização nas lutas feministas de

enfrentamento à violência contra as mulheres. Na grande parte das vezes, esse termo fazia

referência à categoria “mulheres”. Isso demonstra que há uma certa compreensão na Psicologia que

concorda com a construção social dos gêneros. Essas características podem nos sinalizar quais têm

sido as formas de investigação que a Psicologia tem produzido dentro dessa temática.

A(S) PSICOLOGIA(S) E A (RE)PRODUÇÃO DE SENTIDOS PARA AS MULHERES QUE

SOFREM OU SOFRERAM VIOLÊNCIA

7

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Neste momento, nos ocupamos de uma análise mais detida das temáticas dos trabalhos

coletados a partir de uma leitura dos textos na íntegra. Para nortear nossa análise, fizemos alguns

questionamentos enquanto líamos cada texto: qual lugar a mulher ocupa nesses textos ou como elas

são descritas? Quais são as formas de abordar essa problemática? Quais propostas de intervenção

eles apresentam? Quais instrumentos a Psicologia pode oferecer para contribuir com essa temática?

Nossas análises resultaram em dois temas diferentes: os lugares das mulheres e alguns

deslocamentos; e o o conceito de gênero e sua utilização na compreensão do processo de violência

contra as mulheres.

Os lugares das mulheres e alguns deslocamentos

Para começar a discussão da análise, vamos apresentar algumas posições que as mulheres

ocupam dentro dos textos analisados segundo a nossa óptica. O lugar mais comum que encontramos

para falar das mulheres é o que as identifica com a posição de quem sofreu a violência. Outro ponto

importante, é que essa posição está sempre em relação com o homem agressor. Na maioria dos

casos, os estudos são de mulheres que foram violentadas por seus parceiros ou ex-parceiros. Talvez

daí possamos compreender a razão de vários trabalhos tratarem de relações conjugais, violência

intrafamiliar e violência doméstica. Disso, podemos entender que, na maior parte dos estudos, a

mulher é representada na posição de quem sofre ou sofreu a violência dentro de uma relação afetiva

e que essa violência foi perpetrada, na maioria das vezes, por seu parceiro ou ex-parceiro.

No entanto, existem alguns trabalhos que, embora apresentem essa possibilidade de leitura,

trazem alternativas para a compreensão das posições das mulheres. Ainda que elas sejam

representadas como quem sofreu a violência – o que de fato acontece –, tais artigos trabalham com

formas de enfrentamento da violência contra as mulheres a partir de experiências específicas. O

mais interessante desses trabalhos, é que suas narrativas extrapolam as práticas clínicas tradicionais

da Psicologia, abrindo um campo de atuação que engloba as condições históricas e sociais de

formação dos discursos sobre os gêneros (FERNANDES, GAIA & ASSIS, 2014, MEINHARDT &

MAIA, 2015).

Um dos trabalhos que apresenta formas que potencializam as possibilidades das mulheres é

o de Fernandes, Gaia e Assis (2012). Nele, os autores falam sobre as estratégias de enfrentamento

da violência de gênero contra as mulheres de Ji-Paraná. Como resultado, compreenderam que essas

mulheres se utilizam de estratégias diversas para lidarem com essa problemática.

8

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O trabalho de Meinhardt e Maia (2015) também nos mostra a importância do trabalho

psicológico que extrapole as condições tradicionais de atendimento. Por meio da proposta de uma

oficina, as autoras conseguiram sensibilizar profissionais a respeito da compreensão e identificação

da violência contra as mulheres, de modo que pudessem disponibilizar uma escuta e trabalhos mais

atentos às questões de gênero.

Assim, se nos voltarmos para a compreensão construcionista a respeito da diferenciação

entre discurso e práticas discursivas, talvez poderíamos identificar tais textos naquilo que Spink

(2010) afirma ser uma prática discursiva. Ao considerar que esses textos apresentam formas

diferentes de compreender a posição das mulheres, e apresentar atuações que extrapolam as práticas

clínicas tradicionais, eles também abrem a possibilidade de leituras mais potentes no que diz

respeito a intervenções com esse público. Além disso, traz ao palco do processo da violência a

potência dessas mulheres, mostrando deslocamentos do estigma mulher/vítima e que podem

produzir diferentes sentidos e compreensões de si mesmas e de suas relações com o mundo.

A categoria gênero e sua utilização na compreensão do processo de violência contra as mulheres

De acordo com nossa leitura, a violência contra as mulheres foi entendida como sendo uma

problemática diretamente relacionada às questões de gênero em pelo menos 13 dos 17 trabalhos.

Para chegarmos a essa percepção, nos atentamos para entender quais eram as formas de

compreender esse acontecimento e quais os elementos que faziam parte de sua explicação.

Consideramos que os trabalhos que abordavam a violência contra as mulheres a partir de uma

perspectiva gênero deveriam levar em consideração pelo menos dois fatores: a construção social

dos gêneros e suas implicações nas formas de poder, privilégios e opressão.

Dos trabalhos que não abordavam a violência contra as mulheres a partir dessa

compreensão, foi possível observar uma característica comum a quase todos. Quando o termo

“gênero” era usado, ele servia apenas para fazer referência às diferenças sexuais anatômicas. Diante

disso, pensamos que seria necessário apresentar algumas considerações a respeito dos efeitos dessas

concepções.

Primeiramente, ao tratar de gênero como se este fosse um dado, temos uma ocultação dos

seus processos de construção social e das relações de poder atreladas a eles. Por esse motivo, o

termo gênero acabava perdendo seu potencial político. Outra consequência é que, ao

desconsiderarmos a maneiras como os gêneros são construídos e os resultados dessas construções,

acabamos deixando de lado as redes de poder que legitimam determinadas práticas violentas contra

9

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

as mulheres. Ou seja, quando não se discute as relações de poder implicadas na construção social

dos gêneros, acabamos desconsiderando o questionamento de certas práticas que perpetuam essas

violências.

A segunda característica está diretamente ligada à primeira. Ao deixar de lado os aspectos de

construção social e de poder relativos aos gêneros, esse termo não se diferencia do termo “sexo” –

usado para designar as diferenças sexuais anatômicas – e acaba se tornando apenas uma variável.

Nesse sentido, foi possível observar que o gênero era descrito como uma variável relacionada à

possibilidade de sofrer violência. Como característica dessa compreensão, alguns trabalhos

apresentavam dados em que podíamos ver como as mulheres sofriam mais com a violência

doméstica, intrafamiliar e/ou de gênero do que homens. Ao lermos tais trabalhos conseguimos

entender a importância desses números, pois eles também servem para justificar determinadas

intervenções nas mais diversas áreas. No entanto, também entendemos que essa distinção entre os

sexos não aborda a complexidade das discussões a respeito da construção social dos gêneros.

Assim, caberia apenas analisar como essa “variável” se associa com outras, como o ciúme, a idade,

o tempo de relacionamento. Especificamente nesse caso, é importante assinalar o seguinte: o ciúme

não é entendido como uma construção social que se fundamenta na forma como produzimos nossos

relacionamentos afetivos e nem na concepção de amor romântico que construímos socialmente, mas

um afeto quase natural e praticamente universal.

Outra abordagem que podemos fazer a respeito desse tipo de trabalho é que o gênero, ao ser

entendido como um dado ou uma variável, recebe um estatuto de fixado, invariável. A variável do

estudo é algo que pode ser observada separadamente ou que podemos isolar seus efeitos sobre o

objeto de nossas observações. Dessa maneira, desconsidera-se a historicidade de sua construção e

oculta-se também a violência presente na própria construção dos gêneros. Ao construirmos

discursos que produzem determinadas formas normativas de existência baseadas nas diferenças

sexuais que percebemos nos sujeitos, produzimos também formas de acesso ou negação a posições

de poder. Essas construções podem, portanto, produzir eixos de opressão que se reproduzem como

se fossem elementos naturais, observáveis separadamente dos processos sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção deste trabalho nos possibilitou fazer análises que contribuem para uma

compreensão da violência contra as mulheres a partir de uma perspectiva de gênero. Considerando a

10

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

importância da linguagem e dos das construções sociais dos gêneros, buscamos entender como a(s)

Psicologia(s) tem entendido a violência contra as mulheres.

Nosso estudo permitiu produzir duas análises a respeito dos 18 artigos estudados. Uma

primeira análise do que chamamos de palavras de evidência e outra análise dos artigos na íntegra.

Como resultados da análise das palavras de evidência, entendemos que o uso da terminologia

violência contra as mulheres ressalta processos de construção dos gêneros e produtores de

violências que podem ser ocultados por termos como violência intrafamiliar e violência conjugal.

Não consideramos que o uso desses termos seja errado, pois eles também apontam processos

específicos.

No que diz respeito à análise dos textos completos, construímos duas categorias diferentes.

A primeira diz respeito aos lugares que as mulheres ocupavam nesses estudos. Percebemos que

alguns trabalhos possibilitaram a produção de sentidos na atuação com mulheres que sofreram

violência, abrindo possibilidades de compreensão e intervenção dentro da Psicologia. A segunda

categoria diz respeito ao uso da categoria gênero para a compreensão da violência contra as

mulheres. Nossas análises mostram que boa parte dos trabalhos utilizam essa terminologia

considerando os processos de construção social e as relações de poder envolvidas. No entanto,

outros trabalhos fazem uso dessa terminologia desconsiderando a importância desses processos para

a compreensão da violência contra as mulheres.

Referências

ANTEZANA, A. P. Intervenção com homens que praticam violência contra seus cônjuges:

reformulações teórico-conceituais para uma proposta de intervenção construtivista-narrativista

com perspectiva de gênero. Nova Perspectiva Sistêmica, Rio de Janeiro, n. 42, p. 9-27, 2002.

ANTUNES, B. M., CARLOTTO, M. S., STREY, M. N. Mulher e trabalho: visibilizando o tecido e

a trama que engendram o assédio moral. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 18, n.3, p. 420-

445, 2012.

BERNARDES, J. S., MENEGON, V. S. M. Documentos de domínio público como produtos e

autores sociais. PSICO, v. 38, n. 1, p. 11-15, 2007

BORGES, L. M., LODETTI, M. B., GIRARDI, J. F. Homicídios conjugais: o que dizem os

processos criminais. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 32(79), supl. 2, p. 197-208, 2014.

BORGES, R. C. V. Gênero e sexualidade – conhecendo a história para transformar o mundo.

Revista de Psicologia da UNESP, v. 11, n. 1, p. 86-92, 2012.

11

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica

e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção

sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção

Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação

dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo

Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm, acesso em 04/07/2017.

CARDOSO, F. S., BRITO, L. M. T. Possíveis impasses da Lei Maria da Penha à convivência

parental. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 529-546, 2015.

CORDEIRO, E. S., COHEN, R. H. P. Crime ou parceria amorosa violenta: interlocuções entre

psicanálise aplicada e direito. Opção lacaniana online nova série, ano 3, n. 7, 2012.

CORRADI-WEBSTER, C. M. Ferramentas teórico-conceituais do discurso construcionista. In.:

GUANAES-LORENZI, C. et al. (orgs.). Construcionismo Social: discurso, prática e produção de

conhecimento. Rio de Janeiro: Instituto Noos, 2014.

FARINHA, M. G., SOUZA, T. M. C. Plantão psicológico na Delegacia da Mulher: experiência de

atendimento sócio-clínico. Revista da SPAGESP, São Paulo, v. 17, n. 1, 2016.

FERNANDES, G. B., GAIA, V. O., ASSIS, C. Estratégias de enfrentamento da violência de

gênero em mulheres de Ji-Paraná (RO). Mudanças – Psicologia da Saúde, v. 22, n. 2, p. 1-14, 2014.

GERGEN, K. Construcionismo Social: um convite ao diálogo. Rio de Janeiro: Instituto Noos, 2010.

HERMEL, J. S., DREHMER, L. B. R. Repercussões da violência intrafamiliar: um estudo com

mulheres em acompanhamento psicológico. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 31, n. 74, p. 437-

446, 2013.

MEINHARDT, Y. M., MAIA, G. F. Não é uma rede que flui – Da invisibilidade às possibilidades

de novos modos de cuidar: a violência contra as mulheres na saúde mental. Barbarói, Santa Cruz

do Sul, Edição Especial, n. 44, p. 120-135, 2015.

OLIVEIRA, E. C. S., ARAÚJO, M. F. O Teatro Fórum como dispositivo de discussão da violência

contra as mulheres. Estud. Psicol, Campinas, v. 31, n. 2, p. 257-267, 2014.

OLIVEIRA, L. R. F., BRESSAN, C. A percepção do sujeito que matou por amor. Mudanças –

Psicologia da Saúde, v. 22, n. 1, p. 21-30, 2014.

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA). Convenção Interamericana para

Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, "Convenção de Belém do Pará", 1994.

Disponível em http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/a-61.htm. Acesso em 04/07/2017.

PORTO, M., BUCHER-MALUSCHKE, J. S. N. F. Violência, mulheres e atendimento psicológico

na Amazônia e no Distrito Federal. Psicol. Estud., v. 17, n. 2, p. 297-306, 2012.

SCARPATI, A. S., ROSA, E. M., GUERRA, V. M. Representações sociais da violência sexual na

produção científica nacional, Psicologia Argumento, Curitiba, v. 32, n. 77, p. 9-18, 2014.

12

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

SILVA, D. B., OLIVEIRA, E. C. S. Gênero no contexto da saúde: um relato de experiência com

agentes comunitárias de saúde. Revista de Psicologia da UNESP, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 37-43,

2012.

SOUZA, T. M. C., SOUSA, Y. L. R. Políticas públicas e violência contra a mulher: a realidade do

sudoeste goiano. Revista da SPAGESP, São Paulo, v. 16, n. 2, p. 59-74, 2015.

SPINK, M. J. Linguagem e produção de sentidos no cotidiano. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de

pesquisas sociais, 2010.

SPINK, P., RIBEIRO, M. A. T., CONEJO, S. P., SOUZA, E. Documentos de domínio público e a

produção de informações. In. SPINK, M. J., BRIGAGÃO, J. I. M., NASCIMENTO, V. L. V.,

CORDEIRO, M. P.(orgs). A produção de informação na pesquisa social: compartilhando

ferramentas. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2014, p. 207-228.

TIMM. F. B., PEREIRA, O. P., GONTIJO, D. C. Psicologia, violência contra mulheres e

feminismo: em defesa de uma clínica política. Psicologia Política, v. 11, n. 22, p. 247-259, 2011.

The construction of the discourses about violence against women: a social constructionism

sight

Astract: Gender inequalities are discursive productions that are mainly based on sexual differences

and result in domination processes. Therefore, it is possible to identify that this process produces

inequalities in the exercise of power, especially on one’s own body. However, gender inequalities

produces relations of domination and subjugation that are contested by resistance. Social

Constructionism is a perspective that enables us to question such events because it aims to denature

socially constructed processes. By this way, this research has as objective to problematize

discursive practices that Psychology has produced about the violence against woman, mainly those

that are used by professionals of Psychology who work in the public services attending women in

situation of violence and those present in documents of public domain. For this purpose, we will

map the discourses that Psychologies have produced about this theme identifying which have been

the discursive practices that underpin the procedure of these professionals. The productions of

Social Constructionism will serve us to analyze the senses that this phenomenon has received such

in a way to question how it has been produced by Psychology. We hope that this reflection enables

us to find fragility points and capacities in the procedure of Psychology before this phenomenon.

Keywords: Social Constructionism. Violence against women. Psychology.