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Psicologia do desenvolvimento – Síntese

• Conceito de desenvolvimentoO desenvolvimento é um conceito que se refere ao conjunto de transformações do ser humano ao

longo de toda a sua vida. É um processo complexo que se inicia no momento da concepção e termina com a morte, e em que estão envolvidos múltiplos factores: biológicos, cognitivos, motores, morais, emocionais, afectivos, sociais…

O desenvolvimento acontece porque o ser humano é um sistema aberto, está em constante interacção dinâmica com o meio ambiente. Hoje considera-se errada a oposição estanque entre o biológico e o social pois a dinâmica entre o organismo e o meio é uma realidade – o indivíduo é uma unidade biopsicosocial (as capacidades biológicas precisam de um meio onde se possam realizar; a estrutura psicológica dá-lhes significado). O desenvolvimento é uma adaptação progressiva do ser humano ao meio natural e social e é integrativo porque as aquisições anteriores são incorporadas nos estádios seguintes. O sujeito tem um papel activo no seu próprio desenvolvimento.

• Piaget e o desenvolvimento

Piaget estudou o desenvolvimento cognitivo da criança e, segundo este autor, a inteligência constrói-se progressivamente ao longo do tempo, por estádios ou etapas constantes e sequenciais.

Defende uma posição construtivista/interaccionista: as estruturas do pensamento são produto de uma construção contínua do sujeito que age e interage com o meio, tendo um papel activo no seu próprio desenvolvimento cognitivo.

Partindo dos reflexos do bebé, herdados geneticamente, a criança vai construindo progressivamente estruturas mentais até atingir o pensamento formal. Assim, a inteligência é perspectivada como uma adaptação do indivíduo e das suas estruturas cognitivas ao meio. Esta adaptação assegura o equilíbrio entre o indivíduo e o meio através de dois mecanismos: assimilação e acomodação. É através da acomodação que o sujeito incorpora os elementos do meio nas estruturas mentais já existentes. Por sua vez, as estruturas mentais modificam-se em função das situações novas/novos dados que provêm do meio – acomodação.

Neste contexto surge-nos também a equilibração, mecanismo regulador da assimilação e acomodação que permite a adaptação do indivíduo ao meio, permitindo uma progressão no sentido de um pensamento cada vez mais complexo.

• Factores de desenvolvimento

1. Hereditariedade, maturação interna – a hereditariedade e maturação interna dos sistemas nervoso e endócrino, bem como o crescimento orgânico têm um papel importante no processo de desenvolvimento. Ainda que a maturação dependa fundamentalmente de factores genéticos, a estimulação do meio pode acelerar/retardar o processo de maturação;

2. Experiência física – a acção exercida sobre os objectos desenvolve a motricidade a criança propiciando o seu desenvolvimento intelectual;

3. Transmissão social – integrada na sociedade, a criança interage com o meio físico e social. Um meio mais estimulante favorecerá o seu desenvolvimento equilibrado. Contudo, o efeito de transmissão social, da educação, só tem resultado se houver uma assimilação activa do sujeito;

4. Equilibração – mecanismo regulador da assimilação e acomodação que permite a adaptação do indivíduo ao meio, permitindo uma progressão no sentido de um pensamento cada vez mais complexo.

Estádios de desenvolvimento 1. Estruturas com características próprias;2. Ordem de sucessão constante (embora

possam existir diferenças cronológicas);3. Evolução integrativa – as novas aquisições

são integradas na estrutura anterior.Estádio sensório-motor(dos 0 aos 18/24 meses)

1. Inteligência prática que se aplica à resolução de problemas concretos e que põe em jogo as percepções e o movimento – daí a designação

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de sensório-motor.2. Dos reflexos inatos à construção da imagem

mental, anterior à linguagem;3. Coordenação de meios e fins;4. Permanência do Objecto (8-12 meses) – a

criança procura um objecto escondido porque tem a noção de que o objecto continua a existir mesmo quando não o vê;

5. Invenção de novos meios para resolver problemas, imagem mental (se ouve falar em pijama, avó, etc.) e formação de símbolos (18-24 meses);

Estádio pré-operatório(dos 2 aos 7 anos)

Subestádio do pensamento pré-conceptual (2-4 anos)1. Função simbólica – a criança passa a poder

representar objectos ou acções por símbolos. Pode representar mentalmente objectos ou acções não presentes no campo perceptivo – imagem mental. Na linguagem as palavras representam pessoas, situações, etc. No jogo simbólico, faz-de-conta, a criança representa um conjunto de acções e os objectos são o que lhe apetecer (um pau é um cavalo ou um avião, ralha à boneca que se portou muito mal). No desenho desenha uma roda e diz que é um carro.

2. Egocentrismo – a criança (autocentrada) pensa que o mundo foi criado só para si e não compreende outras perspectivas;

Pensamento mágico:3. Animismo – atribuição de emoções e

pensamentos a objectos inanimados;4. Realismo – a realidade é construída pela

criança sem objectividade (se sonhou que o lobo está no corredor, pode ter medo de sair do quarto);

5. Finalismo – Dado o egocentrismo da criança as coisas têm como finalidade a própria criança (o monte é um declive para ela poder correr);

6. Artificialismo – explicação de fenómenos naturais como se fossem produzidos pelos seres humanos (o Sol foi acesso por um fósforo gigante).

Subestádio do pensamento intuitivo (4-7 anos)1. Baseado na percepção dos dados sensoriais.

A criança responde à questão que lhe é colocada com base na aparência.

Estádio das operações concretas(dos 7 aos 11/12 anos)

1. Reversibilidade mental;2. Pensamento lógico, acção sobre o real;3. Operações mentais: contar, medir;4. Conservação da matéria sólida, líquida, peso,

volume;5. Conceitos de tempo, espaço e velocidade.

Estádio das operações formais(dos 11/12 aos 15/16 anos)

1. Pensamento abstracto;2. Operações formais, acção sobre o possível (já

opera sem o suporte concreto);3. Raciocínios hipotético-dedutivos;4. Definição de conceitos e de valores;5. Egocentrismo cognitivo, que leva o

adolescente a considerar que através do seu pensamento pode resolver todos os problemas e que as suas ideias são as melhores.

• Adolescência

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Pode definir-se adolescência como o período em que se inicia a puberdade (cerca dos 11/13 anos) e vai até à idade adulta. É um processo dinâmico de passagem entre a infância e a idade adulta, isto é, em que o sujeito constrói a sua identidade e autonomia, desenvolve projectos de vida e se insere na sociedade. A adolescência caracteriza-se por um conjunto de transformações: fisiológicas, intelectuais, afectivas e sociomorais.1. Transformações fisiológicas – é um período em que ocorre um rápido crescimento orgânico,

resultante do funcionamento das glândulas sexuais. Desenvolve-se todo um conjunto de características sexuais secundárias que distinguem o rapaz e a rapariga;

2. Transformações intelectuais – graças ao pensamento formal, à capacidade de reflexão e abstracção, o adolescente pensa a partir de hipóteses (raciocínio hipotético-dedutivo), desenvolve novas capacidades de avaliação dos outros e de si próprio (egocentrismo intelectual – o adolescente sente-se o centro e as suas teorias sobre o mundo aparecem como as únicas correctas).

3. Transformações sociomorais – o jovem vai interessar-se por problemas éticos e ideológicos, discutindo valores e princípios.

4. Transformações afectivas – as relações preferenciais alteram-se, com o grupo de pares a ter uma grande importância no processo de procura de identidade. A construção da autonomia leva o adolescente a alterar a relação com os pais e adultos que lhe serviram de modelos durante a infância. Na procura de autonomia e na construção da identidade, reorganiza a imagem de si próprio, explorando e assumindo novos papéis.

• Construção da identidadeA formação da identidade, é, segundo Erikson, a tarefa fundamental da adolescência. É neste

período que se constrói de forma própria e pessoal de estar no mundo, sendo diferentes as formas de procura de identidade – busca do papel sexual, da profissão, de realizações pessoais.

Este processo de autonomia passa pela substituição dos modelos parentais pelo dos grupos de pares (agora centro das relações sociais procurando aí identificação positiva e respostas para as suas dúvidas e incertezas). Este processo de identificação/diferenciação é vivenciado de forma contraditória através de atitudes de conformismo (face aos pares) e/ou rebeldia (face à família).

• MoratóriaÉ um período de pausa, de experimentação de vários papéis sociais. Nesta fase de experimentação

em que o jovem procura os papéis de adulto que melhor se adequam a si próprio sem os assumir definitivamente.

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Freud e o desenvolvimento

O desenvolvimento da personalidade é explicado por Freud pela evolução da forma como a pessoa procura obter prazer – a sexualidade –, que na infância (sexualidade infantil) é sobretudo auto-erótica (dirigida a si mesma), e só a partir da adolescência passa a ser essencialmente voltada para os outros. Esta evolução permite definir estádios de desenvolvimento psicossexual, que se caracterizam por mudanças da zona erógena e por conflitos entre a busca de prazer a realidade que o limita, que vão condicionar a criação de estruturas do aparelho psíquico (instâncias) e a relação dinâmica entre elas.

Freud propôs duas tópicas (teorias sobre a constituição do aparelho psíquico):

• 1ª Tópica: Inconsciente, Subconsciente e Consciente;

• 2ª Tópica: Superego (Supereu - normas sociais interiorizadas), Id (Infra-eu – fonte de pulsões) e Ego (Eu – mediador entre as pressões do Superego e do Id.)

1ª Tópica

Inconsciente Pulsões, desejos, sentimentos, recordações recalcadas cujo acesso ao consciente é impedido pela censura.

Subconsciente Zona do psiquismo entre o consciente e o inconsciente constituída por conteúdos que podem ser trazidos à consciência.

Consciente Zona do psiquismo que corresponde aos pensamentos, sentimentos a que o sujeito tem acesso directo através da introspecção.

2ª Tópica

Id Instância totalmente inconsciente do aparelho psíquico cujos conteúdos principais são as pulsões (sexual e agressiva) e os desejos reprimidos; rege-se pelo princípio de prazer e pelo processo primário (procura imediata e sem reservas da satisfação e do prazer).

Ego Instância fundamentalmente consciente que se forma a partir do Id. Regulador e gestor das forças contraditórias entre Id (pulsões inconscientes) e Superego (exigências do meio).

Superego Instância do aparelho psíquico cujos conteúdos representam as normas, regras e interditos sociais, culturais e morais interiorizados.

EstádiosEstádio oral (até 1 ano)

A zona erógena é a boca (prazer em mamar, pôr objectos na boca…); com o desmame surge o conflito entre o que deseja e a realidade.O Id (pulsões inatas) existe desde o nascimento. Começa a formar-se o Ego pela consciência das sensações corporais.

Estádio anal(1-3 anos)

A zona erógena é a região anal (prazer em controlar a retenção e expulsão das fezes); sentimentos ambivalentes – conflito – o controlo fecal induz dor e não só prazer e há um desejo de ceder e, em simultâneo, de se opor às pressões sociais para a higiene.

Estádio Fálico(3-5 anos)

A zona erógena é a região genital; a sexualidade deixa de ser exclusivamente auto-erótica e dirige-se aos pais, concretizada no Complexo de Édipo (atracção pelo progenitor do sexo oposto e agressividade perante o progenitor do mesmo sexo, visto como rival). Este conflito é ultrapassado quando a criança se identifica com o progenitor do mesmo sexo. As proibições e normas impostos no Complexo de Édipo são interiorizadas, dando origem à formação do Superego.

Estádio de Latência(6-11 anos)

Há uma diminuição da expressão da sexualidade, mas a problemática do Complexo de Édipo permanece oculta, sem se manifestar. É neste estádio que ocorre a amnésia infantil: a criança reprime no inconsciente as experiências que a perturbaram no estádio fálico. É uma forma de defesa. A criança concentra a sua energia nas aprendizagens escolares e sociais.

Estádio genital(a partir da adolescência)

A sexualidade passa a ser dirigida aos outros e à consumação do acto sexual. A problemática do Complexo de Édipo, latente na fase anterior, é reavivada e vai ser definitivamente resolvida pelo luto das imagens idealizadas dos pais.Mecanismos de defesa: Ascetismo (negação do prazer, controlo das pulsões sexuais através de disciplina e isolamento) e Racionalização (o jovem procurar

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esconder os aspectos emocionais do processo adolescente, interessando-se por actividades do pensamento onde coloca toda a sua energia).

Erikson e o desenvolvimento• Para Erikson Freud não teve em conta as interacções entre o indivíduo e o meio na sua concepção

de desenvolvimento.Erikson propõe que o desenvolvimento ocorre ao longo de toda a vida e é influenciado pelas características dos contextos sociais em que o indivíduo está inserido. Na sociedade, existem oito tarefas( 8 estádios psicossociais) com as quais as pessoas têm de lidar em todos os estádios do seu desenvolvimento. No entanto, em cada estádio, há um predomínio de uma tarefa, que assume a forma de um conflito ou crise (psicossocial) entre duas dimensões (uma positiva e uma negativa), induzido pela interacção entre as exigências da sociedade e as características do indivíduo. Neste momento de crise o indivíduo cresce psicologicamente e a forma como resolveu os diversos conflitos vai afectar a forma como lida com eles no presente e no futuro.

EstádiosConfiança vs.Desconfiança(até aos 18 meses)

Este estádio é marcado pela relação eu o bebé estabelece com a mãe: se é compensadora, a criança sente-se segura manifestando uma atitude de confiança face ao mundo, se não é satisfatória desenvolve sentimentos que conduzem ao medo/desconfiança em relação aos outros.

Autonomia vs.Dúvida e Vergonha(18 meses-3 anos)

Se é encorajada a criança explora o mundo autonomamente; se é muito controlada pelos outros, sente dúvida (precisa da sua aprovação) e vergonha.

Iniciativa vs. Culpa(3-6 anos)

A criança obtém prazer da realização de actividades por iniciativa própria; se é muito punida, sente-se culpada por agir de acordo com os seus desejos.

Indústria vs.Inferioridade(6-12 anos)

Na escola, a criança desenvolve aprendizagens (escolares, sociais…), que podem fazê-la sentir que é competente ou que é menos capaz que os colegas.

Identidade vs. Difusão/Confusão(12-18/20 anos)

O adolescente procura saber quem é (construção da identidade) em que quer tornar-se; pode também ficar confuso face a tantas possibilidades, sem saber o que quer, como agir, que pessoa é (confusão de identidade e de papéis).

Intimidade vs.Isolamento (18/20-30 e tal anos)

O jovem adulto pode estabelecer relações de proximidade e partilha com pessoas íntimas ou pode distanciar-se e fechar-se.

Generatividade vs. Estagnação(30 e tal – 60 e tal)

O conflito centra-se na expansão das potencialidades de adulto e na sua transmissão aos outros; pode tornar-se inactivo, por exemplo, se acha que não consegue ou que não tem nada de interessante para transmitir.

Integridade vs. Desespero(mais de 65 anos)

As pessoas fazem um balanço da sua vida: positivo ou negativo (consideram que a desperdiçaram e vêem com desespero que o fim está próximo.

A família tem um papel decisivo no processo de socialização, isto é, no processo de integração do indivíduo na sociedade. É neste grupo que a criança aprende os comportamentos, valores, normas e atitudes vigentes numa dada sociedade. A família tem, portanto, um papel fundamental como agente de socialização, ao dotar a criança de todo um conjunto de conhecimentos e comportamentos que lhe permitirão dar respostas adequadas às situações sociais.

A relação mãe-bebé tem um papel muito importante no processo de socialização. É esta díade mãe-bebé que vai permitir que a criança adapte o seu comportamento ao meio envolvente e aos outros: “esta relação tem uma função adaptativa, quer favorecendo a sobrevivência da espécie, quer proporcionando segurança emocional”.

É através da interacção mãe-bebé que a criança aprende a atribuir significados aos comportamentos dos outros e às situações. As características desta relação precoce entre a mãe e o bebé, vão ter uma grande influência no desenvolvimento futuro da criança: na sua personalidade, auto-estima, confiança em si própria, na forma como se relacionará com os outros e o modo como encarará as situações. Freud e Erikson consideraram muito importante esta relação no processo de desenvolvimento humano. Estudos etológicos revelaram que a necessidade de contacto corporal e proximidade física são mais importantes que a necessidade de alimentação. Esta necessidade de agarrar, de estar junto à mãe denomina-se de contacto do conforto.

Segundo Bowlby, a necessidade de vinculação (apego, attachement), isto é, a necessidade de estabelecimento de contacto e de laços emocionais entre o bebé e a mãe e outras pessoas próximas é um fenómeno biologicamente determinado.

A carência afectiva materna tem repercussões que acarretam perturbações físicas, afectivas ou mentais durante esse período ou na vida futura, como o hospitalismo por exemplo.

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