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PROVA ESCRITA DE DIREITO E PROCESSO ADMINISTRATIVO Via Profissional 7º CURSO DE FORMAÇÃO PARA JUÍZES DOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS AVISO DE ABERTURA: AVISO N.º 20808/2019, PUBLICADO NO DIÁRIO DA REPÚBLICA, 2.ª SÉRIE, N.º 251/2019, DE 31 DE DEZEMBRO DE 2019 DATA: 15 DE FEVEREIRO DE 2020 1.ª CHAMADA HORA: 15H ( DE ACORDO COM O DISPOSTO NO ARTIGO 12.º DO REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS, O TEMPO DE DURAÇÃO DA PROVA INICIA-SE DECORRIDOS 15 MINUTOS APÓS A HORA DESIGNADA ) DURAÇÃO DA PROVA: 4 HORAS

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  • PROVA ESCRITA

    DE

    DIREITO E PROCESSO ADMINISTRATIVO

    Via Profissional

    7º CURSO DE FORMAÇÃO PARA JUÍZES DOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS

    AVISO DE ABERTURA: AVISO N.º 20808/2019, PUBLICADO NO

    DIÁRIO DA REPÚBLICA, 2.ª SÉRIE, N.º 251/2019, DE 31 DE

    DEZEMBRO DE 2019

    DATA: 15 DE FEVEREIRO DE 2020

    1.ª CHAMADA

    HORA: 15H (DE ACORDO COM O DISPOSTO NO ARTIGO 12.º DO

    REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS, O TEMPO

    DE DURAÇÃO DA PROVA INICIA-SE DECORRIDOS 15 MINUTOS APÓS A HORA

    DESIGNADA)

    DURAÇÃO DA PROVA: 4 HORAS

  • PROVA ESCRITA DE

    DIREITO E PROCESSO ADMINISTRATIVO

    Via Profissional – 1.ª Chamada – 15 de fevereiro de 2020

    1 – A presente prova disponibiliza o seguinte conjunto de peças, contidas em

    autos de um processo judicial (intervenientes processuais, moradas e restantes elementos de facto fictícios):

    I - Petição inicial apresentada pelo Autor acompanhada de um documento;

    II - Contestação apresentada pela Entidade Demandada acompanhada de quatro documentos.

    2 – Em Anexo ao enunciado transcreve-se o artigo 49.º do Decreto-Lei n.º

    220/2006, de 3 de novembro, na redação dada pelo Decreto-Lei n.º 64/2012, de 15 de março e pela Lei n.º 34/2016, de 24 de agosto

    3 – Assuma que: 3.1. – foi junta à Petição Inicial a procuração e o documento

    comprovativo da concessão de apoio judiciário; 3.2 - foi junto à Contestação o despacho de designação de licenciado em

    direito com funções de apoio jurídico e documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça;

    3.3. - o Autor não apresentou réplica e, tendo sido notificado da apensação do Processo Administrativo, nada disse;

    3.4. - o Ministério Público não apresentou pronúncia nos termos do artigo 85.º do CPTA;

    3.5. - não foi proferido despacho pré-saneador ou de saneamento; 3.6. - foi dispensada a audiência prévia.

    4 – Pretende-se que, mediante o conjunto das peças e elementos disponibilizados, e com base nos elementos de facto conhecidos, redija um Despacho Saneador, nos termos do disposto no artigo 88.º, n.º 1, alíneas a) e b), do CPTA.

    5 – Para efeitos da decisão a elaborar deve pressupor-se que não existem no

    processo administrativo outros documentos com relevo (para além daqueles que são indicados e foram juntos às peças processuais apresentadas).

    6 – Quando a indicação de factos implicar a transcrição do teor de um

    documento poderá ser omitida a transcrição de parte do texto substituindo-se a parte omitida por reticências (exemplo quanto à transcrição deste ponto 6.: «Quando a indicação […] a parte omitida por reticências»).

  • 7 – Apesar de a prova consistir na elaboração de um Despacho Saneador nos termos do disposto no artigo 88.º, n.º 1, alíneas a) e b), do CPTA, não poderá conter qualquer assinatura, ainda que fictícia, pelo que, no final da peça, as/os candidatas/os só deverão escrever as palavras seguintes:

    “Data” “Assinatura”. 8 – Cotação: 20 valores - Relatório – 0,5 valor - Saneamento – 6 valores - Fundamentação de Facto – 2 valores

    - Fundamentação de Direito - 11 valores - Dispositivo – 0,5 valor

    9 – A atribuição da cotação máxima nesta prova pressupõe um tratamento

    completo das várias questões suscitadas, que deverá ser coerente e corretamente fundamentado e com indicação dos preceitos legais aplicáveis.

    10 – Na apreciação da prova relevarão, nomeadamente, a pertinência do

    conteúdo, a qualidade da informação transmitida em relação à questão colocada, a organização da exposição, a capacidade de argumentação e de síntese e o domínio da língua portuguesa.

    11 – As/os candidatas/os que na realização da prova não pretendam utilizar a

    grafia do "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa" (aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 e ratificado pelo Decreto do Presidente da República n.º 43/91, ambos de 23 de agosto), deverão declará-lo expressamente no quadro "Observações" da folha de rosto que lhes será entregue, escrevendo "Considero que o Acordo Ortográfico aprovado pela Resolução da Assembleia da República n.º 26/91, não está em vigor com carácter de obrigatoriedade", sendo a prova corrigida nesse pressuposto.

    12 – Os erros ortográficos serão valorados negativamente: 0,25 cada um, até

    um máximo de 3 valores, para o total da prova (Ponto 6.3.1 do Aviso n.º 20808/2019,

    publicado no Diário da República, 2ª série, n.º 251, de 31 de dezembro).

    13 – A incorreção linguística (sintaxe e pontuação) do texto redigido pelo/a candidato/a será penalizada com uma redução da nota atribuída até um máximo de 3 valores, para o total da prova (Ponto 6.3.3 do Aviso n.º 20808/2019, publicado no Diário da República, 2ª série, n.º 251, de 31 de dezembro).

  • 14 – As folhas em que a prova é redigida não podem conter qualquer elemento identificativo da/o candidata/o (a identificação constará apenas do destacável da folha de rosto), sob pena de anulação da prova.

  • Ex.mo Senhor

    Juiz de Direito do

    Tribunal Administrativo de Círculo de Monte Alto

    ANTÓNIO BENTO CLARO, residente na Rua Cidade da Praia, n.º 8, 1.º

    esquerdo, 1150-200 Monte Alto, vem intentar

    AÇÃO ADMINISTRATIVA

    Contra

    O INSTITUTO DO TRABALHO, I.P., com sede na Rua dos Trabalhadores, 121,

    em Lisboa,

    Nos termos e com os fundamentos seguintes:

    1.º

    A presente ação administrativa tem por objeto o ato administrativo revogatório,

    proferido em 16 de abril de 2019, pela Diretora do Centro de Emprego de Vale Profundo,

    pelo qual foi “anulada” a inscrição do Autor no Centro de Emprego (documento n.º 1).

    2.º

    O Autor era, desde maio de 2018, beneficiário da prestação de desemprego, na

    modalidade de subsídio de desemprego, com inscrição no Centro de Emprego de Vale

    Profundo.

    3.º

    O Autor estava inscrito no Centro de Emprego como procurando emprego para as

    seguintes profissões: “Motorista de veículos pesados de mercadorias, rececionista exceto de

    hotel, técnico de secretariado, empregado de escritório em geral”.

    PETIÇÃO INICIAL

  • 4.º

    Em 19 de abril de 2019, o Autor foi notificado de que por ato administrativo da

    Diretora do Centro de Emprego de Vale Profundo, de 16 de abril de 2019, tinha sido

    “anulada” a sua inscrição no Centro de Emprego, pelo seguinte motivo “recusa de trabalho

    socialmente necessário”.

    5.º

    A decisão de anulação da inscrição do Autor no Centro de Emprego foi comunicada

    à Segurança Social.

    6.º

    Nos termos do disposto no artigo 153.º do Código do Procedimento Administrativo

    a fundamentação de um ato administrativo deve ser expressa e não presumida, indicar os

    motivos de facto e de direito e ser clara, suficiente e congruente.

    7.º

    Do ato impugnado apenas se retira, como resulta do documento n.º 1 junto, que a

    anulação se “fundamenta na recusa de trabalho socialmente necessário”, sem que daqui se

    recolham as circunstâncias em que tal recusa tenha ocorrido, ainda que por remissão para

    informação eventualmente constante do procedimento administrativo – que não existe,

    sublinha-se, bastando para tal conclusão a simples apreciação daquela notificação.

    8.º

    Pelo que o ato administrativo objeto da presente ação padece de falta de

    fundamentação.

    9.º

    O Autor sempre cumpriu as suas obrigações decorrentes do Regime Jurídico de

    Proteção no Desemprego.

    10.º

    Nomeadamente comparecendo a entrevistas de emprego, por indicação do Centro

    de Emprego de Vale Profundo.

  • 11.º

    A última entrevista a que foi, por indicação do Centro de Emprego, foi na Santa

    Casa da Misericórdia de Vale Profundo, em 4 de abril de 2019.

    12.º

    Para um emprego na área da contabilidade que exigia conhecimentos e experiência

    em “Excel”.

    13.º

    Nesta entrevista o Autor declarou não ter experiência de contabilidade nem

    conhecimentos de Excel.

    14.º

    A entrevistadora comunicou-lhe que não tinha as qualificações necessárias para a

    função pretendida, porque o que a Santa Casa da Misericórdia pretendia era um operador

    informático para lançar documentos em “Excel”.

    15.º

    Assim, como é manifesto, o Autor não recusou qualquer proposta de emprego, em

    resultado da entrevista marcada pelo Centro de Emprego.

    16.º

    Circunstância que coloca em crise a validade do ato administrativo impugnado por

    violação do artigo 49.º/1/ b) do Decreto-Lei n.º 220/2006, na redação aplicável, que exige

    uma situação de recusa que não se verificou.

    17.º

    O ato é ainda inválido por ter determinado a revogação de um ato constitutivo de

    direitos violando os condicionalismos aplicáveis à revogação, previstos no artigo 167.º do

    Código do Procedimento Administrativo.

    18.º

    Acresce que a decisão de anulação da inscrição do Autor no Centro de Emprego

    violou os princípios que informam o relacionamento da Administração com os particulares,

  • nomeadamente da boa-fé e da proporcionalidade também plasmados na Constituição da

    República Portuguesa.

    Nestes termos e nos melhores de Direito deve a ação ser julgada procedente e, em

    consequência, o ato administrativo impugnado ser declarado nulo ou anulado.

    Valor da causa: indeterminável.

    Junta: um documento, procuração e documento comprovativo da concessão de

    apoio judiciário na modalidade de dispensa do pagamento de taxa de justiça e demais

    encargos com o processo.

    O advogado,

  • Documento n.º 1

    CENTRO DE EMPREGO DE VALE PROFUNDO

    N.º de Utente

    345754

    António Bento Claro

    Rua Cidade da Praia, n.º 8 1.º Esq.

    1150 – 200 Monte Alto

    Nossa Referência Data

    DAF/234 18.abril.2019

    Assunto: Notificação de decisão – Anulação da inscrição

    Ao abrigo do disposto no artigo 114.º do Código do Procedimento Administrativo e da alínea

    b) do n.º 1 e n.º 5 do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º 220/2006, na redação atual, notifica-se V. Ex.ª de

    que, por despacho da Senhora Diretora do Centro de Emprego de Vale Profundo, de 16 de abril de

    2019, foi anulada a sua inscrição neste Centro de Emprego pelo seguinte motivo: recusa de trabalho

    socialmente necessário.

    Mais se informa que os motivos apresentados por V. Ex.ª não foram considerados

    relevantes para justificar o incumprimento pelo seguinte: falta de justificação legal para a recusa de

    ocupação.

    A decisão de anulação da inscrição foi comunicada à Segurança Social.

    Com os melhores cumprimentos,

    A Assistente,

    Maria Contente

    Rua de Cima, n.º 45 * Vale Profundo * Telefone 354234000 * Fax 354234456 * Email:[email protected]

  • Ex.mo Senhor Juiz de Direito do

    Tribunal Administrativo de Círculo de Monte Alto

    O Instituto do Trabalho, IP vem apresentar a sua contestação à ação contra si

    movida por António Bento Claro, o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

    EXCEÇÃO

    1.º

    Nos termos do artigo 57.º do CPTA, são obrigatoriamente demandados os

    contrainteressados a quem a impugnação possa diretamente prejudicar ou que tenham

    interesse na impugnação do ato.

    2.º

    Como o Autor admite, o ato impugnado foi praticado pela Diretora do Centro de

    Emprego de Vale Profundo, Dr.ª Paula Sousa, pelo que esta deveria ter sido demandada

    como contrainteressada.

    3.º

    A falta de indicação dos contrainteressados constitui preterição de litisconsórcio

    necessário passivo, exceção dilatória cuja verificação determina a absolvição da instância.

    4.º

    Por outro lado, como estabelece o n.º 1 do artigo 20.º do CPTA os processos

    respeitantes à prática de atos administrativos de entidades de âmbito local são intentados

    no tribunal da área da sede desta entidade.

    5.º

    Nestes termos, considerando que o ato administrativo impugnado foi praticado

    pela Diretora do Centro de Emprego de Vale Profundo e que esta é uma unidade orgânica

    local da entidade demandada, a presente ação deveria ter sido intentada não no Tribunal

    CONTESTAÇÃO

  • Administrativo de Círculo de Monte Alto mas sim no Tribunal Administrativo de Círculo de

    Vale Profundo.

    6.º

    Verifica-se assim a exceção dilatória de incompetência territorial a qual determina

    a absolvição da instância.

    7.º

    Acresce que sendo a atuação em causa de conteúdo estritamente vinculado e

    estando a Administração obrigada a anular a inscrição do Autor por se verificar o

    correspondente pressuposto legal, o ato administrativo é inimpugnável.

    8.º

    A inimpugnabilidade do ato é uma exceção dilatória insuprível cuja verificação

    também obsta ao prosseguimento dos autos.

    IMPUGNAÇÃO

    9.º

    Aceita-se a factualidade alegada pelo Autor nos artigos 2.º a 5.º e 11.º da petição

    inicial.

    10.º

    Impugna-se, por não corresponder à verdade, a restante matéria de facto alegada.

    Senão vejamos.

    11º

    O Autor foi, por indicação do Centro de Emprego de Vale Profundo, em 4 de abril

    de 2019, a uma entrevista na Santa Casa da Misericórdia de Vale Profundo.

    12º

    Na sequência daquela entrevista, pela Santa Casa da Misericórdia de Vale

    Profundo foi enviado ao Centro de Emprego comunicação na qual se referia que o Autor

    disse não ter qualquer experiência ao nível contabilidade e não saber utilizar o Excel e que

    o que sabia fazer bem era ser motorista (documento n.º 1).

  • 13º

    Face a esta informação, em 8 de abril, foi enviado ao Autor ofício pelo qual foi

    notificado de que, nos termos do n.º1 do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º 220/2006, haveria

    lugar à anulação da sua inscrição no Centro de Emprego se, no prazo de 10 dias úteis a

    contar da data daquele ofício, não desse entrada no Centro de Emprego, resposta por

    escrito, da qual constassem elementos que pudessem obstar à referida anulação

    (documento n.º 2).

    14º

    Nesse ofício o Autor foi ainda informado de que o fundamento para a anulação

    era a recusa de ocupação e de que a anulação da inscrição seria comunicada à

    Segurança Social (documento n.º 2)

    15º

    O Autor pronunciou-se em 11 de abril nos seguintes termos: “Relativamente à

    carta recebida para a anulação da inscrição no Centro de Emprego datada de 8 de abril

    venho reforçar que não houve recusa de trabalho na Santa Casa da Misericórdia para a

    função de contabilidade. Já estive empregado numa empresa de contabilidade, na qual a

    minha função era arquivar papéis. Por isso venho aqui reforçar que não tenho qualquer

    experiência em contabilidade nem em Excel logo não tinha os requisitos para a ocupação,

    como me foi dito na Santa Casa da Misericórdia. Em anexo vai a declaração a provar as

    funções acima referidas.” (Documento n.º 3).

    16º

    Em 12 de abril de 2019, foi elaborada pela Dr.ª Maria Oliveira informação com o

    seguinte teor: “A fim de ocupar um posto de trabalho na Santa Casa, como Escriturário,

    convocámos o utente 345754 – António Claro, que, aquando da entrevista na Santa Casa,

    disse que “não tem qualquer experiência de contabilidade e não sabe utilizar o Excel. (…)

    referiu que o que sabia fazer bem era ser motorista” (ver mail da Santa Casa apenso à

    presente etapa). Ora, o Sr. António Claro foi convocado por este Sector para aquela oferta

    de ocupação, tendo em conta que se inscreveu (para além de outras profissões) como

    Técnico de Secretariado e Empregado de Escritório e ter feito um estágio numa empresa

    de contabilidade durante 9 meses. Muito embora o utente não tenha grande experiência na

    área (conforme declaração da empresa que anexa à exposição), parece não se ter

    mostrado disponível para aprender a profissão. Face ao exposto, parecendo-nos recusa

    de ocupação, propomos a anulação da sua inscrição neste Centro de Emprego e a

  • consequente informação à Segurança Social, ao abrigo da alínea b), do n.º1, do artigo 49.º

    do Decreto-Lei n.º 220/2006.” (Documento n.º 4).

    17º

    Na sequência desta informação foi elaborada outra com o seguinte teor:

    ”Concordo com o parecer da técnica. Face ao exposto, parece-nos que houve recusa de

    ocupação, e não está devidamente justificada, pelo que, nos moldes da alínea b), do n.º1,

    do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º 220/2006, propomos à Senhora Diretora a anulação da

    sua inscrição neste Centro de Emprego e a consequente informação à Segurança Social”

    (Documento n.º 4);

    18º

    Em 16 de abril de 2019 a Diretora do Centro de Emprego proferiu despacho com

    o seguinte teor: “Concordo sendo anulada a inscrição, por recusa de trabalho socialmente

    necessário, nos termos da al. b) do n.º1 e 5 do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º220/06, pelos

    motivos e fundamentos legais mencionados nas informações.” (Documento n.º 4)

    19º

    Desta factualidade resulta evidente que o ato impugnado não padece de nenhuma

    das causas de invalidade que o Autor lhe imputa.

    Senão vejamos,

    20º

    Como resulta do despacho da Diretora e das informações para as quais remete a

    fundamentação do ato impugnado é clara, suficiente e congruente.

    21º

    Não obstante o esforço do Autor em demonstrar o contrário, o pressuposto legal

    de recusa de trabalho socialmente necessário está verificado, uma vez que este tinha

    experiência em trabalho de escritório, candidatou-se a emprego naquela área e não

    demonstrou interesse e disponibilidade em aprender uma das tarefas inerentes aquela

    função.

    22.º

    Com efeito, tendo-se candidatado a emprego na área de escritório em geral e

    tendo manifestado desinteresse no desempenho destas funções tal não pode deixar de ser

  • qualificado como recusa de trabalho, nos termos e com os efeitos previstos na alínea b) do

    n.º 1 do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º 220/2006.

    23.º

    Por outro lado, não são aplicáveis à situação em litígio os condicionalismos

    previstos no artigo 167.º do CPA uma vez que não se trata de um ato revogatório.

    24.º

    Invoca ainda o Autor que foram violados os princípios que informam o

    relacionamento da Administração com os particulares, nomeadamente o da boa-fé e da

    proporcionalidade, o que manifestamente não se verificou uma vez que a demandada se

    relacionou com o Autor segundo as regras da boa-fé nada tendo feito para abalar a

    confiança do Autor.

    25.º

    Acresce que a decisão adotada é equilibrada e necessária à defesa dos

    interesses públicos em presença.

    Nestes termos e nos melhores de Direito, requer-se, face ao exposto, o seguinte:

    a) que sejam julgadas procedentes as exceções dilatórias suscitadas e que, em

    consequência, a entidade demandada seja absolvida da instância;

    se assim não se entender,

    b) que seja a ação julgada totalmente improcedente e que, em consequência, se

    decida manter integralmente o ato impugnado proferido em 16 de abril de 2019, pela

    Diretora do Centro de Emprego de Vale Profundo, pelo qual foi anulada a inscrição do

    Autor no Centro de Emprego.

    Valor da causa: indeterminável

    Junta: despacho de designação de licenciado em direito com funções de apoio

    juridico, DUC, quatro documentos que integram o processo administrativo e o processo

    administrativo .

    O licenciado em direito com funções de apoio jurídico,

  • DOC. 1

    De: Patrícia Santos Miguel [mailto: [email protected]]

    Enviada: quinta-feira, 4 de abril de 2019 18.30

    Para: Maria Manuel Santos Oliveira

    CC:

    Assunto: Entrevista - trabalho socialmente relevante -

    Bom dia Dra. Maria Oliveira,

    Conforme combinado venho informar que o candidato encaminhado António

    Bento Claro não foi admitido porque me disse na entrevista realizada hoje

    que não tem qualquer experiência de contabilidade e não sabe utilizar o

    Excel. O candidato referiu que o que sabe fazer bem é ser motorista.

    Considerando que é fundamental para nós que os candidatos tenham

    conhecimentos sólidos e experiência de Excel de forma a poderem iniciar

    funções de imediato solicito a indicação de outros candidatos que reúnam

    estas condições (operador informático para lançar documentos em Excel).

    Mais informo que dei conhecimento ao candidato das razões da sua não

    admissão.

    Com os melhores cumprimentos,

    Patrícia Miguel

  • DOC. 2

    CENTRO DE EMPREGO DE VALE PROFUNDO

    N.º de Utente

    345754

    António Bento Claro

    Rua Cidade da Praia, n.º 8 1.º Esq.

    1150 – 200 Monte Alto

    Nossa Referência Data

    DAF/147 8.abril.2019

    Assunto: Notificação de decisão

    Nos termos do n.º 1 do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º 220/2016, na redação atual, fica V.

    Ex.ª notificado de que haverá lugar à anulação da sua inscrição neste Centro de Emprego se, no

    prazo de 10 dias úteis a contar da data da receção deste ofício, não der entrada neste Centro de

    Emprego resposta por escrito da qual constem elementos que possam obstar à referida anulação,

    juntando meios de prova se for caso disso.

    Os fundamentos para a anulação são os seguintes: recusa de ocupação.

    Na falta de resposta o despacho de anulação considera-se efetuado no primeiro dia útil

    seguinte ao do termo do prazo acima referido.

    Mais se informa que a anulação da inscrição será comunicada à Segurança Social.

    Com os melhores cumprimentos,

    A Assistente,

    Maria Contente

    Rua de Cima, n.º 45 * Vale Profundo * Telefone 354234000 * Fax 354234456 * Email:[email protected]

  • DOC. 3 (fls.1/2)

    Ex.ma Senhora

    Diretora do Centro de Emprego de Vale Profundo

    Relativamente à carta recebida para a anulação da inscrição no Centro de Emprego datada de 8

    de abril venho reforçar que não houve recusa de trabalho na Santa Casa da Misericórdia para a

    função de contabilidade. Já estive empregado numa empresa de contabilidade, na qual a minha

    função era arquivar papéis. Por isso venho aqui reforçar que não tenho qualquer experiência em

    contabilidade nem em Excel logo não tinha os requisitos para a ocupação, como me foi dito na

    Santa Casa da Misericórdia. Em anexo vai a declaração a provar as funções acima referidas.

    Monte Alto, 11 de abril de 2109

    António Bento Claro

    Utente n.º 345754

  • DOC. 3 (fls.2/2)

    DECLARAÇÃO

    Rui Lourenço, sócio gerente da sociedade RL Contabilidade, Sociedade

    Unipessoal Lda., com sede na Rua de Baixo, n.º 67, em Vale Profundo,

    declara para os devidos efeitos que o Sr. António Bento Claro morador na

    Rua Cidade da Praia, n.º 8 1.º Esq. 1150 – 200 Monte Alto, prestou serviços

    para esta empresa de 04/07/2017 a 30/03/2018, com a categoria

    profissional de Estagiário de 1.º Ano, consistindo as suas funções no auxílio

    aos Técnicos de Contas e Técnicos de Contabilidade da Empresa. Tais

    tarefas consistiam no arquivo de documentos, pedidos de extratos de conta

    via mail e via fax e ainda alguns pequenos serviços externos de

    recebimento de contas de clientes e pagamento de contas a fornecedores.

    Vale Profundo, 10 de abril de 2019

    (Luís Lourenço)

  • DOC. 4

    RELATÓRIO DETALHADO DA DISTRIBUIÇÃO SCG0057/2019/45637

    ASSUNTO: EXPOSIÇÃO

    OBSERVAÇÕES

    ANTECEDENTES

    Registos Associados

    ETAPAS

    Descrição Detalhe

    Distribuição: SCG0057/2019/45637

    Etapa n.º 1

    Estado: Enviada

    Interveniente: Maria MS Oliveira

    Executante: Maria MS Oliveira

    Data da leitura: 12.04.2019 15:54:05

    Data de envio: 12.04.2019 16:37:58

    Divulgada: Sim

    Assinada: Sim

    Despacho/Informação A fim de ocupar um posto de trabalho na Santa Casa,

    como Escriturário, convocámos o utente 345754 –

    António Claro, que, aquando da entrevista na Santa

    Casa, disse “não tem qualquer experiência de

    contabilidade e não sabe utilizar o Excel. (…)

    referiu que o que sabia fazer bem era ser motorista”

    (ver mail da Santa Casa apenso à presente etapa).

    Ora, o Sr. António Claro foi convocado por este

    Sector para aquela oferta de ocupação, tendo em conta

    que se inscreveu (para além de outras profissões)

    como Técnico de Secretariado e Empregado de

    Escritório e ter feito um estágio numa empresa de

    contabilidade durante 9 meses. Muito embora o utente

    não tenha grande experiência na área (conforme

    declaração da empresa que anexa à exposição), parece

    não se ter mostrado disponível para aprender a

    profissão. Face ao exposto, parecendo-nos recusa de

    ocupação, propomos a anulação da sua inscrição neste

    Centro de Emprego e a consequente informação à

    Segurança Social, ao abrigo da alínea b), do n.º1, do

    artigo 49.º do Decreto-Lei n.º220/2006

    Distribuição: SCG0057/2019/45637

    Etapa n.º 2

    Estado: Enviada

    Interveniente: António LM Fava

    Executante: António LM Fava

    Data da leitura: 15.04.2019 17:53:10

    Data de envio: 15.04.2019 17:55:10

    Divulgada: Sim

    Assinada: Sim

  • Despacho/Informação Concordo com o parecer da técnica. Face ao exposto,

    parece-nos que houve recusa de ocupação, e não está

    devidamente justificada, pelo que, nos moldes da

    alínea b), do n.º1, do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º

    220/2006, propomos à Senhora Diretora a anulação da

    sua inscrição neste Centro de Emprego e a consequente

    informação à Segurança Social

    Distribuição: SCG0057/2019/45637

    Etapa n.º 3

    Estado: Enviada

    Interveniente: Paula SR Sousa

    Executante: Paula SR Sousa

    Data da leitura: 16.04.2019 11:32:36

    Data de envio: 16.04.2019 17:44:49

    Divulgada: Sim

    Assinada: Sim

    Despacho/Informação Concordo sendo anulada a inscrição, por recusa de

    trabalho socialmente necessário, nos termos da al. b)

    do n.º1 e 5 do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º220/06,

    pelos motivos e fundamentos legais mencionados nas

    informações.

    Informe-se o utente e a Segurança Social

    Distribuição: SCG0057/2019/45637

    Etapa n.º 4

    Estado: Enviada

    Interveniente: Maria Contente

    Executante: Maria Contente

    Data da leitura: 18.04.2019 15:39:11

    Data de envio: 18.04.2019 15:39:26

    Divulgada: Sim

    Assinada: Sim

    Despacho/Informação Tomámos conhecimento. Enviado ofício ao utente e

    verbete à Segurança Social

  • ANEXO

    Artigo 49.º do Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de novembro, na redação dada pelo Decreto-Lei n.º

    64/2012, de 15 de março e pela Lei n.º 34/2016, de 24 de agosto (Regime jurídico de proteção social

    da eventualidade de desemprego dos trabalhadores por conta de outrem)

    «Artigo 49.º

    Anulação da inscrição no centro de emprego

    1 — Determinam a anulação da inscrição no centro de emprego as seguintes atuações

    injustificadas:

    a) Recusa de emprego conveniente;

    b) Recusa de trabalho socialmente necessário;

    c) Recusa de formação profissional;

    d) Recusa do PPE;

    e) Recusa de outras medidas ativas de emprego em vigor, não previstas nas alíneas

    anteriores;

    f) Segundo incumprimento do dever de procurar ativamente emprego pelos seus próprios

    meios e efetuar a sua demonstração perante o centro de emprego;

    g) Segundo incumprimento das obrigações e ações previstas no plano pessoal de emprego,

    com exceção das situações referidas no n.º 4 do presente artigo;

    h) Falta de comparência a convocatória do centro de emprego;

    i) Falta de comparência nas entidades para onde foi encaminhado pelo centro de emprego;

    j) (Revogada.)

    2 — Para efeitos da alínea d) do número anterior, considera-se como recusa do PPE a não

    aceitação ou sua não assinatura injustificada.

    3 — Nos casos previstos nas alíneas f), g) e h) do n.º 1, a anulação da inscrição só tem lugar

    nas situações em que o beneficiário já tenha sido advertido por escrito nos termos do artigo anterior.

    4 — Determinam, ainda, a anulação da inscrição no centro de emprego a desistência

    injustificada ou exclusão justificada de trabalho socialmente necessário e formação profissional e a

    recusa ou desistência injustificada ou a exclusão justificada de medidas ativas de emprego previstas

    no PPE.

    5 — A decisão de anulação de inscrição do beneficiário nos termos dos números anteriores é

    proferida no prazo de 30 dias consecutivos a contar da data do conhecimento do facto que determine

    a anulação.

  • 6 — A reinscrição no centro de emprego por parte dos beneficiários cuja inscrição foi anulada

    por atuação injustificada, nos termos previstos nos números anteriores, só pode verificar-se

    decorridos 90 dias consecutivos contados da data da decisão de anulação.»