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PROVA ESCRITA DE DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL (Artigo 16º nº 3, da Lei nº 2/2008, de 14 de Janeiro) 1ª Chamada – 29 de Março de 2008 DURAÇÃO DA PROVA – 04 horas (o tempo de duração da prova conta-se decorridos trinta minutos após a entrega do enunciado aos candidatos). A presente prova disponibiliza o seguinte conjunto de peças, contidas em autos de um processo judicial : 1º - Uma Petição Inicial, apresentada pela Autora da Acção (que se tem por recebida na secretaria do tribunal em Março de 2007); 2º - Cinco Documentos, apresentados pela Autora com a Petição Inicial (referidos meramente por extracto); 3º - Duas Contestações, apresentadas, cada uma, por cada um dos dois Réus demandados na Acção; 4º - Duas Réplicas, apresentadas pela Autora; 5º - Despacho Saneador, contendo ainda a Selecção da Matéria de Facto matéria assente e base instrutória –, tudo elaborado pelo Juiz do processo; 7º - Um Requerimento, apresentado pela Autora da Acção; 8º - Duas Respostas, apresentadas, respectivamente, por cada um dos dois Réus, em contraditório do precedente Requerimento; 9º - Despacho a decidir a matéria de facto, elaborado pelo Juiz do processo depois de encerrada a discussão da matéria de facto. Pretende-se que, mediante o conjunto das peças disponibilizadas, e com base nos dados conhecidos, seja redigida a Decisão Final adequada, atenta a fase da instância em que o processo judicial se mostra encontrar .

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PROVA ESCRITA

DE DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL

(Artigo 16º nº 3, da Lei nº 2/2008, de 14 de Janeiro)

1ª Chamada – 29 de Março de 2008

DURAÇÃO DA PROVA – 04 horas (o tempo de duração da prova conta-se decorridos trinta minutos após a entrega do enunciado aos candidatos). A presente prova disponibiliza o seguinte conjunto de peças, contidas em autos de um processo judicial:

1º - Uma Petição Inicial, apresentada pela Autora da Acção (que se tem

por recebida na secretaria do tribunal em Março de 2007); 2º - Cinco Documentos, apresentados pela Autora com a Petição Inicial

(referidos meramente por extracto); 3º - Duas Contestações, apresentadas, cada uma, por cada um dos dois

Réus demandados na Acção; 4º - Duas Réplicas, apresentadas pela Autora; 5º - Despacho Saneador, contendo ainda a Selecção da Matéria de

Facto – matéria assente e base instrutória –, tudo elaborado pelo Juiz do processo;

7º - Um Requerimento, apresentado pela Autora da Acção; 8º - Duas Respostas, apresentadas, respectivamente, por cada um dos

dois Réus, em contraditório do precedente Requerimento; 9º - Despacho a decidir a matéria de facto, elaborado pelo Juiz do

processo depois de encerrada a discussão da matéria de facto.

Pretende-se que, mediante o conjunto das peças disponibilizadas, e com base nos dados conhecidos, seja redigida a Decisão Final adequada, atenta a fase da instância em que o processo judicial se mostra encontrar.

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Petição Inicial

(recebida na secretaria do tribunal em Março de 2007) Meritíssimo Juiz de Direito

A Autora : AA, solteira, residente na Rua da Juventude, 12,

vem instaurar contra os Réus : 1º BB, residente na Rua do Eça, lote 11, 2º B, e 2º BANCO CC, com sede em Corroios,

acção declarativa com processo ordinário, nos termos e com os fundamentos seguintes :

I A AUTORA E O RÉU BB OUTORGARAM EM 20 DE OUTUBRO DE 1997 UM CONTRATO-PROMESSA DE COMPRA E VENDA RELATIVO À FRACÇÃO “Y” DO PRÉDIO URBANO SITO NA RUA DO CAMILO, LOTE 13, RÉS-DO-CHÃO, NO LUGAR DA ENCOSTA, FREGUESIA DO ESTORIL, CONCELHO DE CASCAIS, DESCRITO NA CONSERVATÓRIA DO REGISTO PREDIAL (documento nº 1).

II O PREÇO ACORDADO FOI DE 4.400.000$00 (QUATRO MILHÕES E

QUATROCENTOS MIL ESCUDOS).

III A TÍTULO DE SINAL E ANTECIPAÇÃO DO PAGAMENTO DO PREÇO ENTREGOU A AUTORA AO RÉU BB NO DIA DA OUTORGA DO CONTRATO-PROMESSA DE COMPRA E VENDA, A QUANTIA DE 200.000$00 (DUZENTOS MIL ESCUDOS).

IV DE ACORDO COM O CLAUSULADO NO CONTRATO-PROMESSA A AUTORA

EFECTUOU, A 24 DE OUTUBRO SEGUINTE, UM REFORÇO DE SINAL NO MONTANTE DE 800.000$00 (OITOCENTOS MIL ESCUDOS) (documento nº 2).

V ENTREGOU A AUTORA AO RÉU BB, ATÉ AO DIA 24 DE OUTUBRO DE 1997,

A QUANTIA DE 1.000.000$00 (UM MILHÃO DE ESCUDOS) A TÍTULO DE SINAL E ANTECIPAÇÃO DO PAGAMENTO DO PREÇO.

VI O REMANESCENTE DO PREÇO – NO VALOR DE 3.400.000$00 (TRÊS

MILHÕES E QUATROCENTOS MIL ESCUDOS) – SERIA PAGO NO ACTO DA ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA.

VII

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O PRÉDIO FOI PROMETIDO VENDER LIVRE DE QUAISQUER ÓNUS, ENCARGOS OU RESPONSABILIDADES.

VIII FICOU CONVENCIONADO QUE O PRAZO E A DATA PARA A REALIZAÇÃO DO

CONTRATO DEFINITIVO FICARIAM SUBORDINADOS AO TEMPO QUE FOSSE NECESSÁRIO PARA APROVAÇÃO DO EMPRÉSTIMO PETICIONADO PELA AUTORA JUNTO DA INSTITUIÇÃO DE CRÉDITO, O BANCO CC, E À DATA QUE FOSSE IMPOSTA POR ESTA INSTITUIÇÃO (cláusula 2ª do contrato-promessa).

IX CONTRA A ENTREGA DO REFORÇO DE SINAL, NO VALOR DE 800.000$00, A

AUTORA RECEBEU DO RÉU BB AS CHAVES DA ALUDIDA FRACÇÃO CONSUMANDO-SE A TRADITIO DA COISA.

X A AUTORA DETÉM DESDE AQUELA DATA A POSSE DA FRACÇÃO,

HABITANDO-A HÁ CERCA DE NOVE / DEZ ANOS.

XI O PROCESSO DE FINANCIAMENTO FICOU ULTIMADO EM JULHO DE 1999 E A

ESCRITURA PÚBLICA TERIA LUGAR NA AGÊNCIA DO BANCO CC DO SEIXAL EM 26 DE JULHO DE 1999, PELAS 11 HORAS E 30 MINUTOS.

XII O EMPRÉSTIMO FICARIA GARANTIDO ATRAVÉS DE HIPOTECA E DE FIANÇA.

XIII A AUTORA INDICOU, E FORAM ACEITES PELA INSTITUIÇÃO DE CRÉDITO,

OS SEUS PAIS COMO SEUS FIADORES.

XIV O RÉU BB REQUEREU O REGISTO PROVISÓRIO, E POR NATUREZA, DA

FRACÇÃO EM NOME DA AUTORA E A HIPOTECA A FAVOR DO BANCO CC (documento nº 3)

XV O RÉU BB, QUE ACOMPANHOU TODO O PROCESSO DE FINANCIAMENTO, FOI DIRECTAMENTE INFORMADO DA DATA DA ESCRITURA DE COMPRA E VENDA, E DA NECESSIDADE DE RELACIONAR A DOCUMENTAÇÃO RELATIVA AO PRÉDIO E DE A ENTREGAR NO NOTÁRIO DO SEIXAL.

XVI PORÉM, CONSTATOU-SE QUE DA DOCUMENTAÇÃO ENTREGUE FALTAVA A

LICENÇA DE HABITAÇÃO DA FRACÇÃO, TENDO O RÉU BB ENTREGUE, EM SUA SUBSTITUIÇÃO, NO CARTÓRIO NOTARIAL, APENAS O AUTO DE VISTORIA QUE SE JUNTA (documento nº 4).

XVII O MENCIONADO DOCUMENTO, PORQUE NÃO SUBSTITUI A LICENÇA DE

HABITAÇÃO, FOI RECUSADO PELO NOTÁRIO, E A ESCRITURA DE COMPRA E VENDA FOI ADIADA, ATÉ QUE O RÉU BB OBTIVESSE JUNTO DA CÂMARA MUNICIPAL A LICENÇA DE HABITAÇÃO.

XVIII SÓ QUE A AUTORA AGUARDOU, EM VÃO, CERCA DE SEIS ANOS (DE 1999

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ATÉ 2005) PELA LICENÇA DE HABITAÇÃO, POR UM CONTACTO OU POR UMA EXPLICAÇÃO DO RÉU BB ACERCA DE TAMANHO ATRASO VERIFICADO.

XIX TAMBÉM NÃO PODIA TOMAR ELA PRÓPRIA A INICIATIVA DE O PROCURAR

PORQUE NÃO SABIA QUAL O SEU PARADEIRO, POIS SUMIRA-SE DE TUDO E DE TODOS.

XX APÓS ALGUMAS DÉMARCHES A AUTORA VEIO A TOMAR CONHECIMENTO,

POR INTERPOSTA PESSOA, DE QUE O RÉU BB RESIDIA OU TINHA UM ESTABELECIMENTO FABRIL NA RUA DO EÇA, LOTE 11, 2º B.

XXI PARA A ÚNICA MORADA POSSÍVEL DE O CONTACTAR A AUTORA

NOTIFICOU-O JUDICIALMENTE PARA, NO DIA 28 DE FEVEREIRO DE 2005, COMPARECER NO CARTÓRIO NOTARIAL DE SINTRA, PELAS 11 HORAS, A FIM DE OUTORGAR A ESCRITURA DE COMPRA E VENDA, DEVENDO APRESENTAR, NO REFERIDO CARTÓRIO, TODA A DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA A ESSE ACTO, SOB PENA DE QUE, FALTANDO À ESCRITURA, SE RECORRERIA À VIA JUDICIAL PARA REPARAÇÃO DO DIREITO VIOLADO (documento nº 5).

XXII O RÉU BB NÃO FOI JUDICIALMENTE NOTIFICADO PARA A ESCRITURA, CONFORME SE ALCANÇA PELA CERTIDÃO NEGATIVA QUE SE JUNTA (documento nº 5).

XXIII O RÉU BB, COMO PROPRIETÁRIO E PROMITENTE VENDEDOR, TEM O

ENCARGO DE JUNTAR A DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA À ESCRITURA DE COMPRA E VENDA QUE SE PROPÔS REALIZAR.

XXIV COMO PROPRIETÁRIO, É A ÚNICA PESSOA QUE ESTÁ LEGITIMADA A REGULARIZAR JUNTO DA CÂMARA MUNICIPAL QUALQUER OBSTÁCULO QUE IMPEÇA A EMISSÃO DA LICENÇA DE HABITAÇÃO, BEM COMO A SUA REQUISIÇÃO.

XXV O RÉU BB PORQUE CONHECIA DO SEU ATRASO, POR NUNCA TER APRESENTADO QUALQUER DESCULPA OU JUSTIFICAÇÃO PARA A DEMORA DA REALIZAÇÃO DA ESCRITURA E POR SE TER AUSENTADO PARA PARTE DESCONHECIDA, IMPEDIU VOLUNTARIAMENTE A SUA INTERPELAÇÃO PARA CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ASSUMIDAS CONTRATUALMENTE, DEVENDO, PELAS RAZÕES VERTIDAS, CONSIDERAR-SE VALIDAMENTE INTERPELADO NOS TERMOS DO ARTIGO 805º, Nº 2, ALÍNEA C), DO CÓDIGO CIVIL.

XXVI A ACTUAÇÃO E O COMPORTAMENTO OMISSIVO DO RÉU BB, POR

IMPEDIREM A CONCRETIZAÇÃO DO CONTRATO DEFINITIVO, E POR NÃO TEREM OBSTADO A QUE FOSSE PENHORADA A FRACÇÃO PROMETIDA VENDER, NO PROCESSO EXECUTIVO Nº 1201/64, QUE CORRE SEUS TERMOS NESTE TRIBUNAL, OFENDE OS PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ CONTRATUAL (documento nº 3).

XXVII A FALTA DE LICENÇA DE HABITAÇÃO IMPEDIU, EM 1999, A

CONCRETIZAÇÃO DO CONTRATO DEFINITIVO, E A SUA FALTA É IMPUTÁVEL AO

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RÉU BB.

XXVIII AO INVIABILIZAR UMA VEZ MAIS A REALIZAÇÃO DA ESCRITURA DE COMPRA E VENDA, COLOCOU-SE O RÉU BB EM MORA, E O SEU COMPORTAMENTO É ATESTATIVO DA SUA RECUSA EM CUMPRIR O QUE FÔRA ACORDADO COM A AUTORA.

XXIX O QUE, CONFERE À AUTORA O DIREITO DE RESOLVER O CONTRATO, E

AINDA O DE EXIGIR SER INDEMNIZADA, COM BASE NO AUMENTO DO VALOR COISA OBJECTO DO CONTRATO PROMETIDO À DATA DO INCUMPRIMENTO, COM DEDUÇÃO DO PREÇO CONVENCIONADO, E A RESTITUIÇÃO DO SINAL ENTREGUE.

XXX A FRACÇÃO PROMETIDA VENDER, À DATA DO INCUMPRIMENTO, NO ANO DE

2005, SERIA AVALIADA EM MONTANTE NUNCA INFERIOR A € 67.500,00.

XXXI SE DEDUZIRMOS O PREÇO CONVENCIONADO NO CONTRATO-PROMESSA (€

21.947,11), A INDEMNIZAÇÃO CALCULADA CIFRAR-SE-Á EM € 45.552,89 (QUARENTA E CINCO MIL QUINHENTOS E CINQUENTA E DOIS EUROS E OITENTA E NOVE CÊNTIMOS).

XXXII À INDEMNIZAÇÃO APURADA ACRESCE O SINAL ENTREGUE NO VALOR DE €

4.987,98.

XXXIII DEVE, POIS, O RÉU BB SER CONDENADO NA RESOLUÇÃO DO CONTRATO

PROMESSA FIRMADO COM A AUTORA, E A INDEMNIZÁ-LA NA QUANTIA DE € 50.540,87 (CINQUENTA MIL QUINHENTOS E QUARENTA EUROS E OITENTA E SETE CÊNTIMOS).

XXXIV POR ESTAR A CORRER UMA ACCÃO EXECUTIVA CONTRA O RÉU BB, COM

PENHORA DA FRACCÃO PROMETIDA VENDER (documento nº 3), E DE TER A AUTORA RECLAMADO O SEU CRÉDITO, A DEMANDA DO OUTRO RÉU É FEITA AO ABRIGO DO ESTATUÍDO NO ARTIGO 869º Nº 5, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

NESTES TERMOS, NOS MELHORES DE DIREITOS E COM O MUI DOUTO SUPRIMENTO DE V. EXA., DEVE A PRESENTE ACÇÃO SER JULGADA PROCEDENTE POR PROVADA E EM CONSEQUÊNCIA:

• DECLARAR-SE RESOLVIDO O CONTRATO-PROMESSA POR

INCUMPRIMENTO DEFINITIVO IMPUTÁVEL AO RÉU BB; • CONDENAR-SE O RÉU BB NO PAGAMENTO DE INDEMNIZAÇÃO À

AUTORA, NO VALOR DE € 50.540,87 (CINQUENTA MIL QUINHENTOS E QUARENTA EUROS E OITENTA E SETE CÊNTIMOS);

• NAS CUSTAS DA ACÇÃO E DEMAIS ENCARGOS LEGAIS.

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PARA TANTO, REQUER A V. EXA. SE DIGNE ORDENAR A CITAÇÃO DOS RÉUS PARA CONTESTAREM, QUERENDO, NO PRAZO LEGAL SEGUINDO-SE OS ULTERIORES TERMOS ATÉ FINAL.

VALOR: € 50.540,87 (CINQUENTA MIL QUINHENTOS E QUARENTA EUROS E

OITENTA E SETE CÊNTIMOS).

O Advogado

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Documento nº 1

(extracto)

Contrato de Promessa de Compra e Venda

Entre o Exmo. Senhor: - BB, divorciado, (…), morador no rés-do-chão do prédio da Rua do Camilo, lote 13, lugar da Encosta, freguesia do Estoril e concelho de Cascais, como promitente-vendedor;

e a Exma. Senhora:

- AA, solteira, (…), moradora no Casal dos Namorados, em Lisboa, como promitente-compradora, para si ou entidade a indicar, foi ajustado e reciprocamente aceite o contrato de promessa de compra e venda, respeitante ao apartamento de duas assoalhadas, rés-do-chão, fracção “Y”, do prédio urbano, designado por lote 13, sito na Rua do Camilo, Encosta, freguesia do Estoril, concelho de Cascais.

1º O preço é de 4.400.000$00 (quatro milhões e quatrocentos mil escudos).

2º O pagamento será feito da seguinte maneira: Neste acto a quantia de 200.000$00 (duzentos mil escudos), como sinal e princípio de pagamento, do qual o promitente-vendedor confere a competente quitação. Mais um pagamento de 800.000$00 (oitocentos mil escudos), até ao dia 24 de Outubro de 1997. Sendo o restante de 3.400.000$00 (três milhões e quatrocentos mil escudos), inteiramente liquidados com um empréstimo que a promitente-compradora irá solicitar ao Banco CC, para o qual lhe será concedido o prazo necessário, conforme data imposta pela referida Instituição de Crédito para a realização da escritura definitiva.

3º O promitente-vendedor compromete-se a devolver a importância já recebida, em singelo, de 1.000.000$00 (um milhão de escudos), à promitente-

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compradora, caso o Banco CC não conceda o empréstimo solicitado pela referida promitente-compradora.

4º O promitente-vendedor permite que a promitente-compradora possa habitar o andar ainda antes da escritura definitiva, caso a mesma se torne demasiado demorada, assim como a promitente-compradora concede o prazo julgado necessário para mudança de habitação ao promitente-vendedor, dependente também do curso de tempo do empréstimo solicitado à Instituição de Crédito, conforme acordo estabelecido já previamente por ambas as partes, muito embora considerando sempre um prazo de 120 dias a partir da data deste contrato.

5º O apartamento é vendido livre de quaisquer ónus, encargos ou responsabilidades

6º São de conta da promitente-compradora as despesas de escritura e registos.

(…)

20 de Outubro de 1997

O promitente vendedor A promitente compradora (assinatura) (assinatura)

Reconhecimento presencial de assinaturas

Reconheço as assinaturas de AA e de BB, feitas pelos próprios na minha presença, cujas identidades verifiquei pelos B.I. (…), os quais me exibiram fotocópia da escritura pela qual verifiquei que para o referido prédio da Rua do Camilo, lote 13, lugar da Encosta, freguesia do Estoril e concelho de Cascais, foi concedida a licença de habitação nº (…). Cartório Notarial, a 20 de Outubro de 1997 (assinatura do notário) (certificação do cartório)

(…)

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Documento nº 2

(extracto)

RECIBO DE REFORÇO DE SINAL Em aditamento ao contrato de promessa de compra e venda, celebrado em 20 de Outubro de 1997, respeitante ao apartamento de duas assoalhadas, rés-do-chão, do prédio urbano, designado por lote 13, sito na Rua do Camilo, Encosta, freguesia do Estoril, concelho de Cascais, declaro que recebi da promitente-compradora AA, a título de reforço de sinal, a importância de 800.000$00 (oitocentos mil escudos), pelo que fica apenas por liquidar a quantia de 3.400.000$00 (três milhões e quatrocentos mil escudos).

O promitente-vendedor BB Em 24 de Outubro de 1997

(assinatura)

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Documento nº 3

(extractos)

Conservatória do Registo Predial de Cascais Freguesia do Estoril

Descrições

PREDIO URBANO – Encosta – Rua do Camilo – lote nº 13 – cave, rés-do-chão e primeiro andar. Em propriedade horizontal. Fracções: X – Y – Z.

Inscrições Rés-do-Chão – Fracção Y

(I)

Inscrição de 11.05.93 – Aquisição a favor de BB, divorciado – por compra. (II)

(caducada) Inscrição 1ª de 21.07.99 (Provisória por natureza) – Aquisição a favor de AA, solteira – por compra.

(III) (caducada)

Inscrição 2ª de 21.07.99 (Provisória por natureza) – Hipoteca Voluntária a favor do Banco CC – garantia de empréstimo (…).

(IV) Inscrição de 12.12.2006 – Penhora a favor do Banco CC – Execução nº 1201/64 – Exequente: Banco CC – Executado: BB, divorciado, (…).

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Documento nº 4

(extracto)

Auto de Vistoria

Aos dezanove de Julho de mil novecentos e noventa e nove, neste lugar de Encosta, freguesia do Estoril, a requerimento de BB, residente na Rua do Eça, lote 11, 2º B (requerimento registado na Secretaria Municipal sob o número […] de Julho de 1999) compareceram os peritos Exmos. Srs: - Arquitecto Municipal (…) - Técnico-adjunto de Construção Civil Especial (…) - Técnico Sanitário (…). E vieram para procederem à vistoria para efeito de utilização de uma fracção, o rés-do-chão, fracção “Y”, situado no prédio urbano da Rua do Camilo, lote 13, Estoril, concelho de Cascais, composto de um piso (um fogo), destinando-se a habitação e que foi construído com a licença nº (…). Os peritos, depois de efectuada a vistoria, deram o seguinte parecer: O fogo (fracção “Y”, rés-do-chão) cumpre o Regulamento Geral das Edificações Urbanas e reúne condições de habitabilidade. Para constar se lavrou o presente auto que vai ser assinado.

19 de Julho de 1999

O Arquitecto Municipal (assinatura)

O Técnico-adjunto de Construção Civil Especial (assinatura)

O Técnico Sanitário (assinatura)

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Documento nº 5

(Requerimento de notificação judicial avulsa entrado em tribunal a 7 de Fevereiro de 2005)

Meritíssimo Juiz de Direito

AA, solteira, residente na Rua da Juventude, 12,

vem requerer, nos termos do disposto no art. 261º, do Código de Processo Civil, a Notificação Judicial Avulsa de

BB, residente na Rua do Eça, lote 11, 2º B,

para o seguinte :

1º O ora requerido, no dia 20 de Outubro de 1997, por contrato-promessa de

compra e venda, prometeu vender à ora requerente, o prédio urbano sito na Rua do Camilo, lote 13, rés-do-chão (fracção “Y”), lugar da Encosta, freguesia do Estoril, concelho de Cascais, descrito na Conservatória do Registo Predial.

2º Nos termos da cláusula segunda do contrato-promessa de compra e venda, a

escritura deveria realizar-se assim que a requerente obtivesse o financiamento para a compra, o que ocorreu no ano de 1999.

3º Confirmado o financiamento, a requerente marcou o dia, hora e local para a

realização da escritura pública de compra e venda e disso deu conhecimento ao requerido.

4º Foi, também, informado de que deveria instruir o Notário com toda a

documentação necessária à escritura, nomeadamente com a licença de habitação do imóvel.

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O requerido assim o fez mas no que respeita à licença de habitação apenas juntou, em sua substituição, um documento camarário que atestava as condições de habitabilidade do imóvel (um auto de vistoria).

6º Tal documento, por não ser uma licença, foi recusado pelo Notário

frustrando-se assim a feitura daquela escritura.

7º Perante este impedimento o requerido comprometeu-se a obter junto da

Câmara Municipal de Cascais a licença de habitação por forma a viabilizar o negócio firmado com a requerente.

8º Decorridos seis anos, o requerido ainda não informou a requerente de que

já dispunha da competente licença de habitação.

9º A requerente não pode aguardar mais pela realização da escritura de

compra e venda razão pela qual notifica o requerido para a sua realização, sendo certo de que recorrerá aos meios judiciais se o requerido não comparecer para outorgar a escritura, a que se obrigou por contrato,

Nestes termos requer a V. Exa. se digne mandar notificar o requerido, para no dia 28 de Fevereiro de 2005, comparecer no Cartório Notarial de Sintra, pelas 11 horas, a fim de outorgar a escritura de compra e venda, devendo apresentar no referido Cartório toda a documentação necessária para instruir a dita escritura de compra e venda até ao dia 22 de Fevereiro de 2005.

Mais requer a V. Exa. se digne mandar notificar o requerido, de que, faltando à escritura de que se pede a notificação, a ora requerente interporá acção judicial para reparação do direito violado. Para o efeito de realizar a presente notificação avulsa, a requerente designa o solicitador de execução (…).

O Advogado

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Despacho judicial

Notifique-se o requerido, como se pede. 7 de Fevereiro de 2005 (assinatura do juiz de direito)

(…)

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CERTIDÃO NEGATIVA (extracto)

(…) Certifica-se que não foi possível proceder à notificação judicial avulsa

de BB por não ter sido encontrado na morada indicada e nem aí haver quem pudesse prestar qualquer informação útil sobre o seu paradeiro.

(…)

O Solicitador de Execução Em 8 de Fevereiro de 2005 (assinatura e certificação)

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Contestação

( I ) Meritíssimo Juiz de Direito

O Réu : BANCO CC,

vem contestar a acção declarativa que lhe move a Autora : AA,

nos termos e com os fundamentos seguintes :

Desde já se impugna todo o alegado nos artigos I a XXXIII por se tratar de matéria que o Réu desconhece e não tem obrigação de conhecer.

Contudo, E SEM PRESCINDIR, Sempre se dirá,

O contrato-promessa cujo incumprimento a Autora alega foi celebrado entre a mesma e o Réu BB, não lhe tendo sido atribuída eficácia real.

3º Pelo que, se trata de um contrato do qua1 emergem obrigações unicamente para

as partes, não sendo oponível a terceiros, ou seja não tem eficácia erga omnes.

4º Razão pela qual, as consequências do seu eventual incumprimento não deverão

atingir o Réu contestante.

5º Nomeadamente, no que diz respeito a condenação do Réu BB no pagamento de

uma indemnização, uma vez que poderão vir a ser levantadas algumas questões em sede de reclamação e graduação de créditos, na Execução que a ora Réu Banco CC

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instaurou e tem pendente neste tribunal, contra o Réu BB, e que corre termos sob o nº 1201/64 (artigo XXVI da petição inicial).

6º Por outro lado, a vir a ser o Réu BB condenado no pagamento de uma indemnização, nunca poderá ser pelo valor ora peticionado pela Autora.

7º O critério atendível para efeitos do cálculo da indemnização deverá ser o do artigo 442º nº 2, do Código Civil.

8º Pelo que, dever-se-á ter em linha de atenção, designadamente, o valor da coisa determinado objectivamente, à data do não cumprimento da promessa.

9º Ora, no entendimento da Autora, a data do não cumprimento terá sido no ano de

2005.

10º Contudo, parece que a data do não cumprimento da promessa, ou seja, a não

realização da respectiva escritura de compra e venda terá sido em 26 de Julho de 1999, dia em que esteve marcada a escritura de compra e venda, não se tendo a mesma realizado por facto imputável ao Réu BB.

11º Assim, de acordo com o disposto no artigo 805º nº 1, do Código Civil, e não

805º nº 2, alínea c), do Código Civil, como alega a Autora, o Réu BB considerou-se interpelado extrajudicialmente para o cumprimento do contrato-promessa realizado com a Autora desde o momento em que teve conhecimento da data da escritura, ou seja, antes de 26 de Julho de 1999, não tendo entregue naquela data no Cartório a licença de habitação da fracção prometida vender, elemento essencial para a realização da respectiva escritura de compra e venda.

12º O incumprimento ocorreu, por isso, em 26 de Julho de 1999.

13º

No entanto, caso se venha a considerar que o Réu BB não foi interpelado extrajudicialmente antes de 26 de Julho de 1999,

E,

14º

Como alega a Autora, desde então e até hoje, “sumiu-se de tudo e de todos”, “ausentou-se para parte desconhecida, impediu voluntariamente a sua interpelação

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para cumprimento das obrigações assumidas contratualmente”, aguardando a Autora por um “contacto ou por uma explicação do Réu acerca de tamanho atraso verificado”,

15º Nunca se poderá concluir que, tendo o Réu impedido a sua interpelação, se considere como interpelado só em 2005, passados seis anos!

16º Não sendo relevante o facto de ter sido nessa data que a credora / promitente

compradora tenha recorrido ao instituto da Notificação Judicial Avulsa e esta ter sido infrutífera.

17º Pois, na realidade o Réu sempre se furtou à interpelação.

E, além disso,

18º Não é razoável, nem é essa a intenção da lei, que se considere como data em que

normalmente teria sido interpelado, uma data posterior em seis anos, em relação ao momento inicial em que o Réu deveria ter cumprido com a obrigação (1999-2005).

19º Ou seja, em 26 de Julho de 1999, a escritura de compra e venda da fracção foi

adiada até que o Réu promitente-vendedor entregasse a licença de habitação em falta.

20º Ora, é razoável que se aguarde por dois a três meses para que a referida licença

seja entregue e realizada a escritura de compra e venda, mas nunca por seis anos!

21º Pelo que, parece que a data a ser considerada para efeitos da determinação do

valor da coisa / fracção não poderá ser outra que não o ano de 1999, e não o ano de 2005 como alega a Autora.

E,

22º O imóvel em questão em 1999 não valeria certamente € 67.500,00 (13.532.535$00)!

23º Tendo o Réu contestante, em 1993, avaliado o mesmo, para efeitos de concessão de empréstimos, em 2.500.000$00.

24º Pelo que, a indemnização calculada e peticionada pela Autora é manifestamente desproporcionada,

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25º Outro raciocínio não é passíve1 de ser efectuado, pois, a concluir-se de outro

modo, seria “premiar” o promitente-comprador / credor pela sua inércia durante anos (desde 1997 a 2005) em promover todas as diligências necessárias para ver os seus créditos ressarcidos e o seu direito satisfeito.

Termos em que deverão ser julgados improcedentes os pedidos formulados pela Autora.

O Advogado

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Contestação

( II ) Meritíssimo Juiz de Direito

O Réu : BB, divorciado, residente na Rua do Eça, lote 11, 2º B

vem contestar a acção declarativa que lhe move a Autora : AA, melhor identificada na petição inicial,

nos termos e com os fundamentos seguintes :

1º O Réu aceita, por serem verdadeiros, os factos vertidos nos artigos primeiro a décimo e décimo quarto da douta petição inicial.

Mas,

2º Impugna todos os restantes factos invocados pela Autora, quer por não

corresponderem à verdade, quer por não serem factos pessoais do Réu, que este ignora sem ter a obrigação de conhecer (art. 490º nº 3, do CPC).

Na verdade,

Ao contrário do que articula a Autora (nºs 18 a 29 da p.i.) o Réu não se “sumiu de tudo e de todos”,

Visto que,

4º Desde que deixou de habitar o andar objecto da promessa, para o ceder à

Autora, o Réu passou a residir na morada indicada por esta na p.i., ou seja, na Rua do Eça, lote 11, 2º B.

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Aí organizando toda a sua vida familiar e social, ininterruptamente desde então até ao presente.

6º Mudança de residência que Autora conhece, desde que ocorreu.

Tanto assim que,

7º A Autora sempre contactou com Réu, e requereu a notificação judicial avulsa

do Réu, e a citação deste para a presente acção, sempre para a mesma morada, sita na Rua do Eça, lote 11, 2º B (como se vê dos autos).

8º E tinha a Autora o contacto, incluindo morada e telefone, de João Pequeno,

residente na Praceta do Pessoa, 19, cunhado do Réu, que interveio na mediação e em toda a negociação com a Autora, em representação do Réu, até à assinatura do contrato promessa.

9º E, efectivamente, a Autora contactou com o referido João Pequeno, para aquele

efeito, inúmeras vezes. Porém,

10º

A partir da data em que a Autora conseguiu convencer o Réu a ceder-lhe o uso da casa dos autos, nunca mais ela contactou, nem com o Réu, nem com o seu cunhado.

11º Nem, designadamente, para efeitos de marcação da data e local da escritura

prometida. Aliás,

12º

Era do interesse do Réu realizar a escritura de compra e venda prometida, no mais breve espaço de tempo após a promessa, por precisar da correspondente receita para a aquisição de habitação própria.

O certo é que,

13º

O Réu não praticou nenhum acto, consciente ou inconsciente, destinado a impedir a sua interpelação para o cumprimento das obrigações assumidas, nem sequer foi sua intenção impedir tal interpelação.

Assim,

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14º O Réu não foi, nem judicial nem extrajudicialmente, interpelado para cumprir, e

por isso não está em mora.

15º Só perante a falta injustificada do Réu poderia a Autora interpelar aquele para

cumprir, dentro de certo prazo sob pena de incumprimento definitivo, o que não sucedeu.

16º

É assim pura invenção da Autora tudo quanto articula nos nºs 11 a 21 da p.i. (com excepção do nº 14), não tendo sequer o Réu tido conhecimento de que a escritura prometida alguma vez esteve agendada, nem quanto ao local nem quanto à data, e muito menos que o notário tivesse recusado realizar a escritura apesar da exibição do Auto de Vistoria, junto pela Autora.

Por isso, e ao contrário do que afirma a Autora não pode o Réu considerar-se interpelado, pois não teve culpa na frustração da notificação.

O certo é que,

17º

Após a promessa, o Réu mandou elaborar e juntou ao processo camarário as telas finais para efeitos de licenciamento.

18º E requereu Auto de Vistoria à fracção dos autos.

19º

A qua1 foi realizada em 19 de Julho de 1999.

20º Tendo através desse Auto sido certificado que a fracção dos autos “cumpre o

Regulamento Geral das Edificações Urbanas, e reúne condições de habitabilidade” (conforme tudo se vê do Auto de Vistoria junto pela Autora como documento nº 4), documento bastante para ser realizada a escritura.

Assim, não tem a Autora direito a resolução do contrato nem a qualquer

indemnização. Termos em que, Deve a presente acção ser julgada improcedente, por não provada, e em

consequência ser o Réu absolvido dos pedidos, com custas pela Autora.

O Advogado

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Réplica

( I ) Meritíssimo Juiz de Direito

A Autora : AA,

notificada da contestação do Réu : BANCO CC,

vem em resposta às excepções deduzidas apresentar a sua Réplica nos termos e com os fundamentos seguintes :

I EXCEPCIONA O RÉU NO SENTIDO DE QUE:

- AO CONTRATO PROMESSA DOS AUTOS NÃO FOI ATRIBUÍDA EFICÁCIA REAL;

- PELO QUE SE TRATA DE UM CONTRATO DO QUAL EMERGEM OBRIGAÇÕES UNICAMENTE PARA AS PARTES, NÃO SENDO OPONÍVEL A TERCEIROS;

- QUE A INDEMNIZAÇÃO RECLAMADA PELA AUTORA NUNCA PODERÁ SER PELO VALOR PETICIONADO;

- E, QUE A DATA DO INCUMPRIMENTO OCORREU EM 1999 E NÃO EM 2005.

II

ORA, ENTENDE A AUTORA, QUE AS QUESTÕES INICIAIS SÃO MARGINAIS, POIS O SEU DIREITO Á RESOLUÇÃO DO CONTRATO CELEBRADO COM O RÉU BB RADICA NO INCUMPRIMENTO DEFINITIVO DO CONTRATO, IMPUTÁVEL A ESTE ÚLTIMO.

III O PEDIDO DA AUTORA NÃO OFENDE A SANÇÃO CONFIGURADA NA LEI PARA O CASO DE INCUMPRIMENTO DEFINITIVO DO CONTRATO PROMESSA DE COMPRA E VENDA, QUANDO IMPUTÁVEL AO PROMITENTE VENDEDOR.

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IV E, A INDEMNIZAÇÃO QUE LHE VIER A SER CONFERIDA ASSEGURA-

LHE O DIREITO DE LANÇAR DA GARANTIA ESPECIAL DO “DIREITO DE RETENÇÃO”, PARA SE FAZER PAGAR PREFERENCIALMENTE SOBRE QUALQUER OUTRO CREDOR, MESMO HIPOTECÁRIO.

V OPÕE-SE, TAMBÉM, À DATA INCUMPRIMENTO CONSIDERADA PELA AUTORA.

VI NO ENTENDER DA AUTORA, NÃO PODE A LÓGICA DO RÉU TRIUNFAR, PORQUE EM 1999 O OBSTÁCULO Á REALIZAÇÃO DA ESCRITURA DEVEU-SE APENAS AO FACTO DE QUE NÃO EXISTIA LICENÇA DE HABITAÇÃO, DOCUMENTO QUE OBSTA À REALIZAÇÃO DA ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA, MAS QUE É INSUFICIENTE PARA FUNDAMENTAR JUDICIALMENTE A RESOLUÇÃO DO CONTRATO.

VII NOS TERMOS DO DISPOSTO NO ARTIGO 808º, DO CÓDIGO CIVIL, O CREDOR, INDEPENDENTEMENTE DA PERDA DO INTERESSE NA PRESTAÇÃO, NÃO PODE RESOLVER DE IMEDIATO O CONTRATO PELO SIMPLES FACTO DA MORA DO DEVEDOR.

VIII DEVE, POR ISSO, INTERPELÁ-LO PARA CUMPRIR, SOB PENA DE CONSIDERAR IMPOSSÍVEL O CUMPRIMENTO.

IX FOI O QUE A AUTORA PRETENDEU FAZER QUANDO TENTOU

NOTIFICAR JUDICIALMENTE, EM 2005, O RÉU BB PARA, NA DATA ALI DESIGNADA, COMPARECER NO CARTÓRIO NOTARIAL DE SINTRA, PARA A ESCRITURA.

X A NOTIFICAÇÃO JUDICIAL FRUSTROU-SE, POR FACTO DA

RESPONSABILIDADE DO RÉU BB, MAS O EFEITO PRETENDIDO FICOU ASSEGURADO.

XI ASSIM, NOS TERMOS DAS DISPOSIÇÕES CONJUGADAS DOS ARTIGOS

808º E 805º, DO CÓDIGO CIVIL, O RÉU BB COLOCOU-SE DEFINITIVAMENTE NUMA SITUACÃO DE INCUMPRIMENTO, EM FEVEREIRO DE 2005.

XII ENTRETANTO, AS AVALIAÇÕES DOS IMÓVEIS EFECTUADAS PELAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS (artigo 23º da contestação) VALEM O QUE VALEM

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– APENAS VISAM A GARANTIA DO MONTANTE DO CRÉDITO E DESPESAS JUDICIAIS …

XIII TRATA-SE DE UMA AVALIAÇÃO LEVADA A CABO EM 1993.

XIV

POR ESTARMOS NUMA ECONOMIA DE MERCADO, ESSA AVALIAÇÃO NÃO IMPEDIU QUE O RÉU BB PROMETESSE VENDER – EM 1997 – A FRACÇÃO À AUTORA POR 4.400.000$00.

TERMOS EM QUE DEVEM SER JULGADAS IMPROCEDENTES E NÃO PROVADAS AS EXCEPÇÕES ALEGADAS CONCLUINDO-SE COMO NA PETIÇÃO INICIAL. O Advogado

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Réplica

( II ) Meritíssimo Juiz de Direito

A Autora : AA,

notificada da contestação do Réu : BB,

vem em resposta às excepções deduzidas apresentar a sua Réplica nos termos e com os fundamentos seguintes :

I EXCEPCIONA O RÉU COMO FACTO IMPEDITIVO DO DIREITO DA

AUTORA QUE NÃO FOI VALIDAMENTE INTERPELADO PARA A MORADA DA SUA HABITAÇÃO.

PORÉM, O DOCUMENTO JUNTO COM A PETIÇÃO (documento nº 5) ATESTA PRECISAMENTE O OPOSTO, PELO QUE ESCUSADO SERÁ TECER MAIS CONSIDERAÇÕES ACERCA DESTE ASSUNTO.

II EXCEPCIONA, TAMBÉM, QUE IGNORA QUAIS OS MOTIVOS QUE

LEVARAM O NOTÁRIO A RECUSAR CELEBRAR A ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA COM BASE NO documento nº 4, JUNTO COM A P.I.

III ORA, O DOCUMENTO EM CAUSA, TRATA-SE APENAS DE UM AUTO

DE VISTORIA, QUE NÃO SUBSTITUI A LICENÇA DE HABITAÇÃO.

IV ESSE AUTO DE VISTORIA DESTINA-SE A CERTIFICAR QUE A

FRACÇÃO REÚNE AS CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE.

V COM BASE NO AUTO DE VISTORIA EMITIRÁ A CÂMARA MUNICIPAL

A LICENÇA DE HABITAÇÃO.

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VI DAÍ O SENHOR NOTÁRIO SE TER RECUSADO A OUTORGAR A

ESCRITURA COM BASE NAQUELE DOCUMENTO.

TERMOS EM QUE DEVEM AS EXCEPÇÕES IMPROCEDER, CONCLUINDO-SE COMO NA PETIÇÃO INICIAL. O Advogado

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Despacho Saneador e

Selecção da Matéria de Facto

A) Despacho Saneador

O Tribunal é competente em razão da matéria, da nacionalidade, da hierarquia e do território.

O processo mostra-se isento de nulidades que o invalidem e é o próprio. A petição inicial não é inepta.

As partes têm personalidade e capacidade judiciárias. E estão regularmente representadas. São legítimas.

Não existem outras excepções dilatórias ou nulidades processuais ou questões prévias que obstem ao conhecimento do mérito e de que cumpra conhecer.

Dado que os elementos constantes dos autos não nos permitem, em consciência

e com segurança, decidir do mérito da causa, de seguida, proceder-se-á à elaboração da Matéria Assente e da Base Instrutória, nos termos do art. 511º, n.º 1, do Código de Processo Civil.

B) Matéria Assente Está provado que:

a) A Autora e o Réu BB outorgaram em 20 de Outubro de 1997 um acordo escrito, que denominaram de “contrato-promessa de compra e venda” relativo à fracção “Y” do prédio urbano sito na Rua do Camilo, lote 13, rés-do-chão, no lugar da Encosta, freguesia do Estoril, concelho de Cascais, descrito na Conservatória do Registo Predial (documento nº 1).

b) O preço acordado foi de 4.400.000$00 (quatro milhões e quatrocentos mil

escudos).

c) A título de sinal e antecipação do pagamento do preço, a Autora entregou ao

Réu BB, no dia da outorga do aludido acordo, a quantia de 200.000$00 (duzentos mil escudos).

d) De acordo com o clausulado no contrato-promessa, a Autora efectuou, em 24 de

Outubro seguinte, um reforço de sinal no montante de 800.000$00 (oitocentos mil

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escudos) (documento nº 2).

e) Entregou a Autora ao Réu BB, até ao dia 24 de Outubro de 1997, a quantia de 1.000.000$00 (um milhão de escudos) a título de sinal e antecipação do pagamento do preço.

f) O remanescente do preço, no valor de 3.400.000$00 (três milhões e quatrocentos

mil escudos), seria pago no acto da escritura pública de compra e venda.

g) O prédio foi prometido vender livre de quaisquer ónus, encargos ou

responsabilidades.

h) Ficou convencionado que o prazo e a data para a realização do contrato

definitivo, ficariam subordinados ao tempo que fosse necessário para aprovação do empréstimo peticionado pela Autora, junto da Instituição de Crédito, o BANCO CC, e à data que fosse imposta por esta Instituição (cláusula 2ª do contrato-promessa).

i) O Réu BB requereu o registo provisório da fracção em nome da Autora e da

hipoteca a favor do BANCO CC (documento nº 3).

j) A Autora notificou judicialmente o Réu BB, na Rua do Eça, lote 11, 2º B, para

comparecer no Cartório Notarial de Sintra, no dia 28 de Fevereiro de 2005, pelas 11,00 horas, a fim de outorgar a escritura de compra e venda, devendo apresentar no referido Cartório toda a documentação necessária a esse acto, sob pena de, faltando à escritura, se recorrer à via judicial para reparação do direito violado (documento nº 5).

l) O réu BB não foi judicialmente notificado para a escritura, conforme se alcança pela certidão negativa que se junta (documento nº 5).

C) Base Instrutória

Está provado que (…)? 1º

Contra a entrega do reforço de sinal de 800.000$00 (alínea d)), a Autora recebeu do Réu BB as chaves da fracção?

2º A Autora habita a fracção há cerca de nove / dez anos?

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3º O processo de financiamento ficou ultimado em Julho de 1999, e a escritura

pública teria lugar na Agência do Banco CC do Seixal, em 26 de Julho pelas 11 horas e 30 minutos?

4º O empréstimo ficaria garantido através de hipoteca e de fiança?

5º A Autora indicou e foram aceites pela Instituição de Crédito os seus pais como

fiadores?

6º O Réu BB acompanhou todo o processo de financiamento?

7º O Réu BB foi informado da data da escritura de compra e venda, e da

necessidade de relacionar a documentação relativa ao prédio, e de a entregar no Notário do Seixal?

8º Da documentação entregue faltava a licença de habitação da fracção?

9º Tendo o Réu BB entregue, em sua substituição, no Cartório Notarial, apenas o

Auto de Vistoria (documento nº 4)?

10º O mencionado documento foi recusado pelo Notário, e a escritura de compra e

venda foi adiada, até que o Réu BB obtivesse junto da Câmara Municipal a licença de habitação?

11º A Autora aguardou, em vão, cerca de seis anos pela licença de habitação, por

um contacto ou por uma explicação do Réu BB?

12º A Autora não sabia do paradeiro do Réu BB?

13º

O Réu BB sumira-se de tudo e de todos?

14º A Autora veio a tomar conhecimento, por interposta pessoa, de que o Réu BB residia ou tinha um estabelecimento na Rua do Eça, lote 11, 2º B?

15º

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A fracção prometia vender, no ano de 2005, tinha o valor não inferior a € 67.500,00?

16º A fracção prometida vender foi penhorada no processo executivo nº 1201/64,

que corre termos neste mesmo tribunal?

17º O imóvel em 1999 não valia mais do que € 67.500,00 (13.532.535$00)?

18º O Réu Banco CC, em 1993, avaliou o imóvel, para efeitos de concessão de empréstimo, em 2.500.000$00?

19º Desde que o Réu BB deixou de habitar o andar objecto da promessa para o ceder à Autora, passou a residir na Rua do Eça, lote 11, 2º B?

20º Aí organizando toda a sua vida familiar e social desde então até ao presente?

21º Mudança de residência que a Autora conhece desde que ocorreu?

22º A Autora tinha o contacto de João Pequeno, residente na Praceta do Pessoa, 19, cunhado do Réu BB, que interveio na mediação e em toda a negociação com a Autora, em representação do Réu, até à assinatura do contrato-promessa?

23º A Autora contactou com o João Pequeno, para aquele efeito, várias vezes?

24º A partir da data em que a Autora conseguiu convencer o Réu BB a ceder-lhe o

uso da casa dos autos, nunca mais a Autora contactou, nem com o Réu, nem com o seu cunhado?

25º Após a promessa, o Réu BB mandou elaborar e juntou ao processo camarário

as telas finais para efeitos de licenciamento?

26º E requereu Auto de Vistoria?

27º

Que foi realizada em 19 de Julho de 1999? O Juiz de Direito

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Requerimento da Autora

Meritíssimo Juiz de Direito

A Autora : AA,

na acção declarativa de condenação com processo comum ordinário que move contra

Os Réus : 1º BB, e 2º BANCO CC,

vem requerer, nos termos do nº 2 do artigo 273º, do Código de Processo Civil, a ampliação do pedido primitivo, nos seguintes termos :

I ALEGOU A AUTORA, NO SEU ARTICULADO, QUE HAVIA

CELEBRADO O CONTRATO-PROMESSA JUNTO AOS AUTOS (documento nº1), COM TRADIÇÃO DA FRACÇÃO PROMETIDA VENDER.

II QUE O INCUMPRIMENTO DO RÉU BB LHE CONFERIA O DIREITO DE

RESOLVER O CONTRATO CELEBRADO, E COM AS CONSEQUÊNCIAS ALI VERTIDAS.

III PORÉM, E APESAR DE SE TER JUSTIFICADO QUE O CHAMAMENTO

DO RÉU BANCO CC ERA FEITA AO ABRIGO DO ARTIGO 869º Nº 5 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, DADO QUE ESTÁ A DECORRER A ACÇÃO EXECUTIVA COM O Nº 1201/64, NÃO FOI FORMULADO PEDIDO DE RECONHECIMENTO DO DIREITO DE RETENÇÃO DA AUTORA SOBRE A FRACÇÃO E ATÉ INTEGRAL PAGAMENTO.

IV PORQUE NÃO HÁ ALTERAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR E A AMPLIAÇÃO DO PEDIDO, ORA REQUERIDA, É UMA CONSEQUÊNCIA

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LÓGICA DO PEDIDO PRIMITIVO E DESTINA-SE RECONHECER O CRÉDITO DA AUTORA NA EXECUÇÃO MOVIDA CONTRA O RÉU BB,

V E COM O MUI DOUTO SUPRIMENTO DE V. EXA., DEVE O PRESENTE REQUERIMENTO SER ADMITIDO, E JULGADO PROCEDENTE, E POR SER O DESENVOLVIMENTO DO PEDIDO PRIMITIVO, SER O MESMO AMPLIADO POR FORMA A RECONHECER-SE NA AUTORA O DIREITO DE RETENÇÃO SOBRE A FRACÇÃO E ATÉ INTEGRAL PAGAMENTO.

POR EFEITO DA AMPLIAÇÃO, ORA REQUERIDA, PASSARÁ O PEDIDO A DISPOR DA SEGUINTE REDACÇÃO:

NESTES TERMOS, NOS MELHORES DE DIREITO E COM O MUI DOUTO SUPRIMENTO DE V. EXA., DEVE A PRESENTE ACCÃO SER JULGADA PROCEDENTE, POR PROVADA, E EM CONSEQUÊNCIA:

- DECLARAR-SE RESOLVIDO O CONTRATO-PROMESSA POR

INCUMPRIMENTO DEFINITIVO IMPUTÁVEL AO RÉU BB; - CONDENAR-SE O RÉU BB NO PAGAMENTO DE INDEMNIZACÃO À

AUTORA, NO VALOR DE € 50.540,87; - RECONHECER-SE NA AUTORA O DIREITO DE RETENCÃO SOBRE A

FRACCÃO E ATÉ INTEGRAL PAGAMENTO; - NAS CUSTAS DA ACÇÃO E DEMAIS ENCARGOS LEGAIS.

PARA TANTO, REQUER A V. EXA. SE DIGNE ORDENAR A CITAÇÃO

DOS RÉUS PARA CONTESTAREM, QUERENDO, NO PRAZO LEGAL SEGUINDO-SE OS UL TERIORES TERMOS ATÉ FINAL. O Advogado

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Resposta ao

Requerimento da Autora ( I )

Meritíssimo Juiz de Direito

O Réu : BB,

notificado do requerimento de ampliação do pedido da Autora : AA,

vem responder o seguinte :

O pedido agora formulado pela Autora não constitui o desenvolvimento ou a consequência lógica dos pedidos primitivos, conforme prescreve o nº 2 do art. 273º do Código de Processo Civil.

2º Na verdade, a Autora ao invocar o direito de retenção sobre o imóvel, não

amplia o pedido, antes formula um novo pedido, que podia e devia ter sido formulado com a petição inicial, não estando aquele contido, ou sequer implícito, nos pedidos inicialmente formulados.

3º Caso assim não se entenda, o que não se concede, o Réu dá como reproduzido o

alegado na sua contestação.

Termos em que: Deve ser indeferida a ampliação do pedido, ou, caso assim não se entenda, Deve a presente acção ser julgada improcedente por não provada e, em consequência, ser o Réu absolvido dos pedidos, com custas pela Autora.

O Advogado

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Resposta ao

Requerimento da Autora ( II )

Meritíssimo Juiz de Direito

O Réu : BANCO CC,

notificado do requerimento da Autora : AA,

Vem expor e requerer o seguinte :

A Autora vem requerer a ampliação do pedido por si formulado, alegando ser um desenvolvimento e uma consequência do pedido primitivo.

2º “A ampliação há-de ser o desenvolvimento ou a consequência do pedido

primitivo, ou seja, há-de estar contida virtualmente no pedido inicial” – in Alberto dos Reis, COMENTÁRIO AO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, III, pág. 193.

3º Ora, efectivamente, a Autora, conforme demonstra na P.I., pretende: “- Declarar-se resolvido o contrato promessa, por incumprimento definitivo imputável ao Réu BB; - Condenar-se o Réu BB no pagamento de indemnização à Autora, no valor de € 50.540,87; - Nas custas da acção e demais encargos legais.”

4º Quanto ao pedido de declaração de resolução do contrato promessa, trata-se de

um pedido totalmente autónomo do direito de retenção. 5º

Em caso algum se poderá entender o direito de retenção como uma consequência ou um desenvolvimento da declaração de resolução de um contrato.

6º Quanto muito poderia ser um desenvolvimento e uma consequência da resolução

do contrato por incumprimento, o pedido de uma indemnização, como foi aliás a pretensão da Autora.

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Pelo que, dever-se-á afastar, por completo, a "hipotética relação" do direito de retenção com a resolução do contrato promessa.

8º Por outro lado, a ampliação que ora se pretende também não pode ser

considerada um desenvolvimento ou uma consequência do pedido de condenação no pagamento de indemnização no valor de € 50.540,87.

9º O desenvolvimento de um pedido de indemnização seria, quando muito, o

aumento do valor da mesma, tendo em conta, designadamente, o desenrolar do tempo e o arrastar da situação de incumprimento e dano.

E,

10º A consequência da “condenação do réu no pagamento de indemnização” seria,

quando muito, a execução coerciva para pagamento daquela indemnização e a consequente afectação do património do devedor através da penhora dos seus bens.

11º Ora, nunca poderia ser o reconhecimento de um eventual direito de retenção!

12º Com efeito, a própria natureza dos pedidos é totalmente diferente e o resultado

dos mesmos também. 13º

A condenação no pagamento de uma indemnização constitui um direito meramente obrigacional e confere ao credor o direito de ser pago através do património do devedor, que é a sua garantia.

14º Relativamente ao reconhecimento do direito de retenção, o mesmo constitui um

direito / garantia real, que confere ao credor preferência ou prioridade no pagamento pelo valor de determinados bens pertencentes ao devedor.

15º Pelas razões supra expostas, parece que o que a Autora pretende não é ampliar o

pedido primitivo, mas sim formular um pedido totalmente novo e manifestamente autónomo dos pedidos primitivos.

Termos em que deverá ser recusada a ampliação do pedido formulada pela autora.

O Advogado

Page 37: PROVA ESCRITA DE DIREITO CIVIL E COMERCIAL … · contrato-promessa de compra e venda relativo À fracÇÃo “y” do ... xxx a fracÇÃo prometida vender, À data do incumprimento,

Despacho judicial que decide

a matéria de facto

Nos presentes autos de acção declarativa de condenação, com processo

ordinário, em que é Autora AA e Réus BB e Banco CC, fixa-se a matéria de facto provada com fundamento na base instrutória, e para além da já considerada provada, nos seguintes termos:

Provada a matéria constante dos parágrafos 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 14º, 18º, 19º, 20º, 22º, 23º, 25º, 26º e 27º da base instrutória. Não provada a matéria constante dos parágrafos 12º, 13º e 24º da base instrutória. Parágrafo 11º da base instrutória – Provado apenas que a Autora aguardou durante cerca de seis anos pela licença de habitação. Parágrafo 15º da base instrutória – Provado apenas que, em 2005, a fracção prometida vender tinha o valor de € 65.541,00. Parágrafo 16º da base instrutória – Não se responde a este ponto da matéria de facto, atento o disposto no art. 646º, nº 4, do Código de Processo Civil. Parágrafo 17º da base instrutória – Provado apenas que, em 1999, a fracção prometida vender tinha o valor de € 45.789,00 (9.179.870$00). Parágrafo 21º da base instrutória – Provado apenas que a Autora tomou conhecimento da nova morada do Réu. Fundamenta-se a decisão na convicção resultante do depoimento das

testemunhas Maria do Céu e Maria dos Anjos, amigas e vizinhas da autora, que comprovaram que a mesma passou a residir na fracção dos autos e diligenciou para que se realizasse a escritura, João Pequeno, cunhado do primeiro Réu, que intermediou o negócio dos autos e acompanhou toda a situação, Ana Filipa e Ana Carina, vizinhas do primeiro Réu, que confirmaram que o mesmo reside, desde 1997, na morada referida no processo, e Manuel do Pisco, funcionário do Banco CC, que efectuou as sucessivas avaliações ao imóvel, que é objecto dos autos, que as afirmou, e confirmou, em audiência de julgamento. Mais se fundamenta a decisão nos documentos juntos aos autos, na sua análise global e pormenorizada. O Juiz de Direito