propostas da engenharia gaÚcha para o rs superar a...

12
PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A CRISE, PROMOVER O DESENVOLVIMENTO E ERRADICAR A MISÉRIA OUTUBRO 2018

Upload: others

Post on 12-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A

CRISE, PROMOVER O DESENVOLVIMENTO E ERRADICAR A MISÉRIA

OUTUBRO 2018

Page 2: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

2

PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A CRISE,

PROMOVER O DESENVOLVIMENTO E ERRADICAR A MISÉRIA

I) INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 3

II) A FUNÇÃO PRECÍPUA DO ESTADO E O MAIOR DESAFIO ATUAL DE SEUS GOVERNANTES............................ 3

III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS........................................................................................... 4

III-a) A ampliação da Receita ........................................................................................................................ 4

III-b) A eliminação dos gastos injustos ou inúteis ......................................................................................... 5

III-c) O crescimento econômico .................................................................................................................... 6

IV) DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .............................................................................................................. 7

V) CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS E OBRAS DE ENGENHARIA ............................................................................ 7

VI) EDUCAÇÃO .................................................................................................................................................. 8

VII) INOVAÇÃO E TECNOLOGIA ......................................................................................................................... 9

VIII) MEIO AMBIENTE ..................................................................................................................................... 10

IX) AÇÕES SETORIAIS ...................................................................................................................................... 10

IX-a) Infraestrutura e Logística ................................................................................................................... 10

IX-b) Saneamento ....................................................................................................................................... 11

IX-c) Agricultura e Pecuária ........................................................................................................................ 11

X) INTERAÇÃO DA SERGS COM O GOVERNO .................................................................................................. 12

Page 3: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

3

PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A CRISE, PROMOVER

O DESENVOLVIMENTO E ERRADICAR A MISÉRIA

I) INTRODUÇÃO

Este documento é uma contribuição da Engenharia, preparada pela Sociedade de Engenharia do Rio Grande

do Sul-SERGS, atendendo ao disposto na sua missão:

“Contribuir para o aprimoramento da engenharia; pugnar para que esta seja percebida como essencial

ao desenvolvimento e à erradicação da miséria; mostrar que deve ser utilizada na plenitude e sem

entraves burocráticos; exigir que seja tratada com justiça, e defender que as suas ações sejam exercidas

com dignidade, eficiência, competitividade, modernização tecnológica e em benefício do bem comum.”

Para o Governo cumprir suas funções necessita poder utilizar a Engenharia na sua plenitude, e essas

sugestões buscam indicar o que ele deve fazer para ter esse poder.

II) A FUNÇÃO PRECÍPUA DO ESTADO E O MAIOR DESAFIO ATUAL DE SEUS GOVERNANTES

Um Estado só é civilizado quando, mediante o desenvolvimento econômico advindo do esforço e da

iniciativa das empresas, consegue extinguir a miséria propiciando os bens indispensáveis a uma vida

digna a cada pessoa que disponibilize sua capacidade e respeite o direto das outras.

Todas as ações do Governo exigem recursos, sem os quais as carências não são supridas, e as promessas

viram descrença e desesperança da sociedade.

É sabido que nas últimas décadas o RS tem gerado quase continuamente déficit nas contas públicas, o que

tem impedido os governos de atenderem os anseios mínimos da população e inibido o crescimento

econômico.

Assim, a prioridade do próximo governo deve ser a viabilização dos recursos indispensáveis ao cumprimento

das suas obrigações, para o que é essencial a inarredável determinação de:

Arrecadar com moderação e respeito à capacidade contributiva; combater a sonegação e a corrupção; não

destinar recursos a privilégios indevidos; eliminar o empreguismo, as aposentadorias precoces e as

injustiças salariais; extirpar os gastos com desperdícios, organismos inúteis e má gestão, e escolher as

corretas prioridades na aplicação das receitas, levando em conta que a educação é o maior fator

civilizatório, sob todos os aspectos, pelo que deve ser a principal prioridade.

De tão fundamental, essa deliberação do governo está quase repetida nas condições que referiremos no item

IV como indispensáveis ao desenvolvimento. Sendo ela impopular, é preciso fazer a sociedade perceber que

mesmo impopulares, decisões para conter despesas injustas e desnecessárias devem ser apoiadas, ainda que

a extinção de privilégios implantados ao longo de décadas não tenha o apoio das maiorias.

Page 4: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

4

O maior desafio atual é demonstrar aos Deputados que mesmo desagradando a muitos, eliminar essas

mazelas e injustiças é fundamental para atender o bem comum e os anseios da própria sociedade, que são o

objetivo principal dos seus mandatos.

III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS

Tanta é a penúria financeira atual do Estado que o Governo deve atuar simultaneamente na ampliação da

receita, sem aumentar os impostos, na eliminação dos gastos injustos e inúteis e no crescimento econômico.

III-a) A ampliação da Receita

O sistema tributário que assegura a arrecadação dos Estados brasileiros está, basicamente, definido na

Constituição Federal, e há espaço limitado para iniciativas estaduais relevantes que pretendam aumentar a

receita. Além disso, há uma correta, lógica e forte repulsa da sociedade brasileira contra qualquer aumento

de imposto, dada a já exorbitante carga tributária a ela imposta, que a torna mais pobre e inibe o crescimento

econômico.

Por outro lado, as inovações tecnológicas que permitiram a implantação da nota fiscal eletrônica e a

ampliação da cobrança dos impostos mediante substitutos tributários, iniciadas no quadriênio 2003/2006 e

com crescente utilização nos quadriênios seguintes, propiciaram uma grande redução da evasão fiscal,

contribuindo para o fabuloso aumento da arrecadação do Estado, que em 8 anos (2007/2014) teve um

crescimento real de 40%, sem acréscimos das alíquotas. Mas esses dois fatores de redução da evasão fiscal

praticamente já atingiram o seu cume.

Naturalmente, esse acréscimo da receita também teve a influência das boas safras agrícolas que não

sofreram os efeitos das estiagens ocorridas no período 2003/2006, e do crescimento econômico do País, mas

estes não são fatores que possam responder por esse fabuloso aumento real, haja visto que as receitas do

Estado nos três quadriênios ocorridos de 1995 a 2006 se mantiveram no mesmo nível.

Elencamos algumas medidas de governo que têm alguma relevância para aumentar a receita disponível:

1- Extinguir, privatizar ou federalizar empresas e órgãos supérfluos, desnecessários ou geradores de

prejuízo, como a CRM, a CEEE e a SULGAS, inclusive para se poder firmar o acordo mencionado a

seguir;

2- Assinar o acordo com a União, conforme previsto na lei que o autoriza, que permite pagar no futuro

as prestações mensais de 6 anos da dívida do Estado com o Governo Federal;

3- Aprovar a manutenção, pelo período do próximo quadriênio, das atuais alíquotas do ICMS para

enfrentar esse período de grandes dificuldades e consolidação das reformas saneadoras das contas

públicas;

4- Promover uma revisão geral dos benefícios e subsídios fiscais, deixando somente aqueles que, de

fato, devam permanecer para não se perder empresas do RS;

5- Combater permanentemente a sonegação fiscal;

6- Estabelecer uma grande parceria com o Tribunal de Justiça para viabilizar o recebimento das

cobranças judiciais das empresas condenadas que ainda tenham patrimônio;

7- Aprovar alguma lei de parcelamento de débitos fiscais, com redução das multas, para viabilizar a

atividade plena de empresas que, sem serem sonegadoras, ficaram inadimplentes por impossibilidade

de honrar suas obrigações em decorrência da grave crise econômica, e

Page 5: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

5

8- Incentivar a compensação entre dívida ativa e precatórios, viabilizada neste ano pelo atual Governo.

Mas precisamos ter sempre presente que o fator mais importante para aumentar a receita é o crescimento

econômico do Estado, tema que será abordado adiante.

III-b) A eliminação dos gastos injustos ou inúteis

Para se ter a ideia exata da inexorabilidade de se adotar medidas profundas na redução dos gastos, atente-

se que, mesmo com o referido gigantesco aumento da receita ocorrida nos dois quadriênios (2007/2010 e

2011/2014), a previsão de déficit orçamentário para o quadriênio seguinte, 20015/2018, calculado no início

do atual governo, era de quase vinte e cinco bilhões de reais, e isto prevendo apenas pequenas aplicações

em investimentos e sem nenhuma nova lei aumentando salário. O incremento estrondoso da receita em

40%, não foi suficiente para sequer cobrir o aumento dos gastos futuros gerados naqueles dois quadriênios,

particularmente no último deles.

São necessárias medidas duras e impopulares que só serão aprovadas pela Assembleia se houver a

colaboração das mentes mais esclarecidas da sociedade para mostrar aos gaúchos que elas são

imprescindíveis e objetivam exclusivamente o bem comum, que está acima dos interesses de apenas parcelas

da sociedade ou de pleitos de corporações, por mais lídimos que sejam.

Os dispêndios com a folha do funcionalismo, sobretudo devido à insensatez da previdência, que absorvem

perto de 80% da Receita Corrente Líquida – RLC, se calculada corretamente, merecem a maior atenção, não

apenas porque absorvem 3/4 das receitas do Estado, como porque nela residem grandes distorções e

despercebidas injustiças.

Foi enorme a insensatez praticada no período 2011/2014, contaminando mortalmente o período

2015/2018, sobretudo ao conceder, no seu final, vários aumentos robustos para parcelas do funcionalismo,

que seriam aplicados semestralmente até o final de 2018. A despesa com pessoal, que em 2010 foi de R$

13.432.000,00, passou, em 2017, para R$ 27.093.000,00, um aumento de 101,7%, enquanto a inflação pelo

IPCA foi de 55%. E isto sem ter sido concedido qualquer aumento novo nos 4 anos do atual governo e ainda

sem considerar os últimos aumentos concedidos no final de 2014 a serem aplicados no final de 2018.

São tão imensas as injustiças e disparidades na remuneração do funcionalismo, que deveriam causar

indignação em todos. Uma professora ganha a metade do que é ilegalmente pago como auxílio moradia para

os titulares do sistema judiciário. Um engenheiro, com curso não menos exigente e importante do que o de

Direito, tem salário inicial na ordem de R$ 5.000,00 enquanto uma pessoa formada em Direito é admitida,

nas carreiras jurídicas, com salário inicial de R$ 25.000,00, cerca de 5 vezes maior. As correções dessas

injustiças não serão fáceis nem se poderá fazê-las sem um correto período de transição.

Todavia, o problema mais grave, sem cuja solução não se acabará com o crônico déficit fiscal do Estado, é a

Previdência. Em 2017, o valor total da folha de pagamento dos funcionários ativos foi de 10,4 bilhões de reais

enquanto o da folha dos aposentados e pensionistas foi de 14,5 bilhões, 40% a mais do que o dos ativos. No

corrente ano essa insensata desproporção já será maior, e vai continuar subindo aceleradamente a cada ano,

se nada for feito.

Pelo princípio clássico do financiamento da previdência pelo Regime de Repartição, adotado em quase todo

o mundo, e, em tese, também no Brasil, os trabalhadores ativos pagam os benefícios dos inativos, na

esperança de que, quando estiverem inativos, os que então estiverem ativos paguem os seus benefícios.

Page 6: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

6

Tomado ao pé da letra isso significaria que cada funcionário do Estado do RS na ativa deveria entregar todo

seu provento para os aposentados, e ainda ficar devendo 40% do que iria receber.

Uma singela análise mostra que o problema de injustiça e insensatez da Previdência é generalizado em todo

o País e não se sustenta por muito tempo.

A sua solução depende de reforma Constitucional, que só a União pode fazer, e que será realizada de alguma

forma porque a União também não suportará a manutenção dos atuais absurdos.

Mas há algumas ações que devem e podem ser executadas para a redução dos gastos, inclusive da folha de

pagamento, mesmo antes da Reforma da Previdência nacional.

A reforma da Previdência tem, pois, de ser enfrentada com racionalidade e determinação, respeitando o

direito adquirido, a fim de corrigir algumas das injustiças e o RS poder voltar a manter as despesas com a

folha do pessoal dentro dos limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que não pode ser

descumprida em um Estado Democrático de Direito. O Estado não vai desaposentar ou suprimir o direito de

ninguém, mas deveria:

1- Acompanhar ativamente a Reforma da Previdência da União, inclusive arregimentando todas as

forças políticas que conseguir para viabilizar a sua aprovação;

2- corrigir as distorções de aposentadorias especiais de certas categorias, que fizeram, por exemplo,

com que haja 494 coronéis da Brigada Militar aposentados para cerca de 30 na ativa;

3- tornar atrativo, para aqueles que são indispensáveis e já podem se aposentar, continuar trabalhando

voluntariamente, incentivando-os por compensações;

4- revisar os quadros de carreira do funcionalismo, prevendo uma longa transição para a correção das

injustiças, inclusive para evitar, pela exigência do piso no quadro de professores, a possível geração

futura de um precatório gigantesco;

5- sobrestar, temporariamente, aumentos salariais do funcionalismo, sobretudo dos quadros mais bem

remunerados;

6- estabelecer que quando faltar recursos para o pagamento da folha os atrasos ocorram de forma

idêntica para os funcionários de todos os poderes;

7- proibir novas contratações de pessoal, a não ser para reposições incontornáveis de setores

específicos;

8- conter o número de secretarias;

9- eliminar grande parte dos CC’s;

10- implementar um projeto eficaz de aprimoramento da gestão pública, e

11- implantar programa de racionalização e redução das despesas administrativas.

III-c) O crescimento econômico

Na verdade, o desenvolvimento econômico é o único caminho efetivo para um aumento sustentável da

arrecadação, ao mesmo tempo que é também o único para a erradicação da pobreza absoluta, e é nele que

os governantes devem concentrar suas maiores energias.

Uma reflexão mais profunda sobre o que deve ser feito para alcançá-lo é o tema do item seguinte.

Page 7: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

7

IV) DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

O elemento básico do desenvolvimento econômico é a empresa, composta do empreendedor e seus outros

trabalhadores, utilizando o lucro obtido com o mais absoluto respeito à lei e fruto da sua capacidade e

dedicação para aprimorar-se e expandir suas atividades.

As empresas são a fonte predominante de geração dos postos de trabalho, esse bem que é o maior fator de

dignidade humana. Além do mais, só com a disponibilidade dos bens que elas produzem, essenciais à

dignidade das pessoas, é que se pode erradicar a miséria e gerar os impostos que permitem ao Governo

atuar. Incentivá-las é, pois, a forma mais eficaz do governo poder cumprir suas mais nobres funções.

Mesmo com toda essa obviedade, há uma forte corrente de pensamento mundo afora que, ao contrário,

considera o empresário a causa das injustiças e da miséria. Essa ideia estapafúrdia, que é a causa maior das

crises sociais do mundo, predomina naqueles que se autodenominam ideologicamente de esquerda, que se

consideram portadores do bem, defensores dos pobres e seus protetores contra os geradores de riqueza,

que são o mal que deve ser sempre combatido.

Como, ao revés, a atividade empresarial é o caminho para o crescimento econômico e a única possibilidade

de se atender às justas demandas da sociedade é indispensável que o governo contribua para desmistificar

essa absurda narrativa, inclusive para facilitar o cumprimento rigoroso de três seguintes princípios essenciais

ao desenvolvimento, e portanto, ao êxito da sua gestão:

1- Atrair, incentivar, respeitar e tratar com dignidade as empresas cumpridoras da lei, constituídas por

empregados e empregadores que promovem o desenvolvimento, produzem os bens que tiram as

pessoas da miséria, e geram a arrecadação e o posto de trabalho essencial à dignidade humana;

2- Eliminar exigências inúteis, burocracia, superposição de normas e fiscalizações contraditórias,

insegurança jurídica, presença desnecessária e intervenção ruinosa do governo, que além do

desperdício dificultam ou impedem a existência das empresas;

3- Cuidar do equilíbrio fiscal e não gastar as receitas sem obedecer a judiciosas prioridades, nem

malbaratá-las com injustiças, empreguismo, aposentadorias precoces, vantagens e incentivos

indevidos, obras suntuárias, órgãos inúteis, corrupção e prejuízos por má gestão, práticas que, no

fundo, são o que gerou a insolvência do RS e a chaga da pobreza absoluta.

Como se vê, o cumprimento desses princípios trata apenas de correção de injustiças e a sua rigorosa

aplicação, juntamente com a escolha correta das prioridades dos gastos públicos, colocando a educação em

efetiva primazia, é que poderão dar aos governos condições de fazer o Rio Grande voltar a ser orgulho

nacional, livre das críticas de Estado insolvente que depende de favores da União para sobreviver.

V) CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS E OBRAS DE ENGENHARIA

O trágico quadro de corrupção envolvendo os governantes do País alimenta-se primordialmente na

contratação dos bens, serviços e obras para o setor público. Nessas contratações montam-se mecanismos

corruptores através do descumprimento da Lei 8666 (Lei de Licitações), que quando promulgada em 1993

deveria ser cumprida por todos os níveis e esferas de governo.

Page 8: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

8

Não tivessem os governantes induzido ou tolerado a desobediência à Lei 8666, inclusive retirando legalmente

a Petrobras da obrigação de obedecê-la, e feito o mesmo para as obras da Copa mediante a aprovação de

espúria legislação denominada Regime Diferenciado de Contratação – RDC, não estaríamos vivenciando esse

escárnio da corrupção desnudada pela Lava-Jato, embasada em contratos de obras firmados sem projeto

decente, com superfaturamentos e direcionados aos amigos do rei.

Para licitar uma obra, a Lei 8666 obriga a existência prévia de um projeto qualificado com orçamento correto,

de conhecimento da sociedade, a fixação de valor máximo para aceitação das propostas, além de um limite

de 25% para todos os acréscimos contratuais.

Bastaria o cumprimento dessas três condições para impossibilitar prejuízos ao erário, mesmo por cartéis de

empreiteiros que se reunissem para evitar propostas com níveis de preços inexequíveis, que a Lei 8666

manda desclassificar.

A sociedade precisa estar alerta para iniciativas como a atual discussão no Congresso Nacional de Projeto de

Lei autorizando o uso do RDC por todos os órgãos, que descumpre os princípios instituídos na Constituição e

na Lei 8666 que estabelecem a defesa do interesse público, a transparência, o respeito à isonomia e a severa

penalização de contratados e contratantes pelos descumprimentos das suas obrigações.

É fundamental preservar os objetivos moralizadores da Lei 8666 e seus 25 anos de jurisprudência. Mas é

conveniente promover sua atualização para sanar interpretações equivocadas de certos itens, suprimir

modificações ruinosas que sofreu, suprir lacunas deixadas pelos vetos na sua sanção e reforçar a proibição

de se descumprir alguns dispositivos, mas sem mutilar os seus princípios altamente protetores do interesse

público e impedidores de corrupção como as ocorridas na Lava-Jato.

O Governo do Estado deveria criar um grupo de conhecedores da matéria para analisar e complementar os

estudos que a SERGS, juntamente com as outras entidades ligadas à Engenharia, já realizaram e aprovaram

para essa atualização, cujo objetivo principal é reforçar e adequar comandos nela já existentes que são

frequentemente desobedecidos, entre os quais, ressalte-se, a desclassificação de propostas com preços

inexequíveis. Essa interação é muito proveitosa para o debate nacional onde esse tema deve ser aprovado.

Mas essas lacunas e modificações ruinosas não autorizam o Estado a descumprir as determinações da Lei

8666, entre as quais as seguintes, cujas inobservâncias são a causa da quase totalidade dos atrasos das obras:

1- Só licitar obras com projeto e orçamento qualificado, firmado por responsável técnico;

2- Não utilizar leilão ou pregão nas licitações de obras e projetos de engenharia;

3- Respeitar o prazo máximo de 30 dias para pagamento, a contar da data do adimplemento;

4- Assegurar o reajustamento dos preços para manter os valores efetivos da proposta;

5- Efetuar atualização e compensações financeiras por eventuais atrasos de pagamento;

6- Não alterar as cláusulas econômico-financeiras do contrato sem concordância do contratado;

7- Fornecer licenças ambientais e jazidas em tempo hábil;

8- Desclassificar propostas com preços inexequíveis.

VI) EDUCAÇÃO

O Rio Grande do Sul possuía 1,1 milhão de alunos frequentando as escolas estaduais em 2009, e no ano letivo

de 2018 foram 900 mil matriculas. Neste período, foram fechadas mais de 6 mil turmas, sendo que 239

Page 9: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

9

escolas encerraram as suas atividades. Em 2007, a população de crianças entre seis e 14 anos, que

corresponde ao Ensino Fundamental, era de 1,5 milhão e passou a 1,2 milhão em dez anos, uma queda de

19%. Para tratar adequadamente este problema, é necessário ampliar a política de readequação da rede

escolar pública do Rio Grande do Sul, de acordo com o número da demanda por matrículas, objetivando

melhorar a alocação de recursos financeiros e humanos e a eficiência do investimento na Educação.

O orçamento da Secretaria Estadual de Educação em 2018 foi de R$ 9 bilhões. No entanto, em torno de R$ 8

bilhões vão diretamente para pagar o salário de 66 mil professores ativos e 96 mil inativos, além de 19 mil

funcionários ativos e 8 mil inativos. Sem um choque de gestão, com a devida reforma da legislação que atente

para a realidade orçamentária da Secretaria de Educação, persistirão os problemas de recrutamento de

quadros qualificados, evasão e baixa autoestima dos professores e de funcionários, no final, a má qualidade

da educação.

O século XXI é o da revolução tecnológica, digital e científica. Novos conceitos, práticas e metodologias

permeiam a vida moderna e influenciam a economia, o trabalho, o jeito de pensar e de viver. Neste ambiente

de 4ª revolução industrial, os desafios que serão feitos aos alunos exigem um cidadão com um novo perfil

para enfrentar o disruptivo mercado de trabalho do século XXI, e os métodos de Ensino devem ser adequados

às novas necessidades e interesses dos jovens, tornando-se mais atrativo e aderindo às novas tecnologias da

informação.

A construção de uma educação que atenda essas expectativas em relação ao aluno do século XXI, portanto,

é o que deve motivar pais, gestores educacionais e, principalmente, os professores, cada vez mais

importantes na construção do conjunto do conhecimento e dos valores civilizatórios estabelecidos na lei que

comporão as crenças na mente do aluno e que irão determinar o seu comportamento e o seu futuro.

Nada, portanto, mais importante, fundamental e indispensável do que a formação continuada dos

professores, que deve ser priorizada, tendo em vista esta nova realidade.

A construção de uma educação de qualidade é um processo coletivo e compartilhado entre estados e

municípios. Neste sentido, a municipalização do Ensino Fundamental é uma política que se constrói em

regime de colaboração e só terá efetividade se o carro-chefe for o compromisso com uma educação de

qualidade para todos.

A Educação Infantil é do município e o Ensino Médio é do Estado. O Ensino Fundamental, do 1º ao 9º ano, é,

na realidade, compartilhado entre os dois entes.

Em alguns casos, a municipalização vai ser o melhor caminho. Talvez, em outros, o uso compartilhado de

escolas pode ser a melhor alternativa. Amplos debates nesta área devem ser promovidos, buscando a melhor

alternativa para alavancar a Educação do Estado.

VII) INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

1- Promover a atualização da Lei Estadual de Inovação (Lei 13.196 de 13.07.2009), privilegiando a

retenção de talentos e capital humano essencial para as atividades portadoras de futuro, de alto

valor agregado, através da atração e desenvolvimento de empreendimentos de alta tecnologia que

gerem empregos de renda diferenciada;

Page 10: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

10

2- Atualizar o Fundopem e o Programa Pró-Inovação ampliando a base de empresas médias e pequenas

que promovem esforços significativos em Pesquisa e Desenvolvimento em troca de incentivos fiscais

proporcionais;

3- Ampliar o apoio aos programas Polos Tecnológicos, RS Incubadoras e Programa Gaúcho de Parques

Tecnológicos, procurando novas fontes de captação de recursos financeiros;

4- Promover programas específicos para o empreendedorismo e as empresas nascentes de base

tecnológica, principalmente nas escolas de ensino fundamental e médio, na área de educação

voltada para a Ciência, Tecnologia e Inovação.

VIII) MEIO AMBIENTE

1- Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE: Utilizar essa ferramenta com o objetivo de viabilizar o

desenvolvimento sustentável a partir da compatibilização do desenvolvimento socioeconômico com

a proteção ambiental, estabelecendo alternativas de uso e gestão que oportunizem as vantagens

competitivas do nosso território e não as torne improdutivas ou de difícil utilização para novas

iniciativas empresariais. Também utilizar este instrumento para promover a aceleração dos

licenciamentos ambientais dos empreendimentos que vierem a se instalar em nosso estado.

2- Garantir a manutenção de prazos reduzidos para análise e concessão de licenças ambientais, a fim

de evitar a perda de novos investimentos para outros estados.

IX) AÇÕES SETORIAIS

IX-a) Infraestrutura e Logística

1- Utilizar o recente estudo financiado pelo Banco Mundial denominado Plano Estadual de Logística e

Transportes – PELT-RS como orientador das futuras obras a serem realizadas ou incentivadas nos

diferentes modais de transportes rodoviário, ferroviário, hidroviário, aeroviário e dutoviário em

nosso estado.

2- Em virtude da reconhecida escassez de recursos públicos, e até que o Estado volte a tê-los, quando

saneados os gastos injustos e inúteis, deve-se realizar Concessões e/ou Parcerias Público Privadas

(PPPs) para suprir as necessidades de investimentos nas referidas obras de infraestrutura de

transportes com a finalidade de aumentar a capacidade de tráfego das nossas vias de transporte e

diminuir os elevados custos de logística envolvidos no escoamento da produção gaúcha.

3- É importante para as empresas gaúchas de engenharia que na definição das concessões de obras

rodoviárias sejam adotados trechos com as menores extensões compatíveis com a economicidade,

a fim de que se permita a participação de empresas de médio porte, principalmente as sediadas no

Rio Grande do Sul.

4- Aprovar lei que permita ao DAER utilizar 70% da arrecadação com multas de trânsito em sinalização

e conservação de rodovias, conforme PROA 170435.0004026-1, em tramitação.

5- Interceder junto ao Governo Federal na busca de soluções semelhantes para as obras federais que

fazem parte da malha viária do Rio Grande do Sul.

6- Manter a EGR com gestão técnica e enxuta, como forma de suprir, pelo pedágio, os recursos

indispensáveis para a conservação e ampliação de parte da malha rodoviária de médio VDM, até que

Page 11: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

11

o Estado, saneado dos gastos inúteis e injustos, tenha condições de alocar os recursos necessários

para essa conservação.

7- Incentivar a criação de polos industriais junto às hidrovias para possibilitar uma maior utilização do

modal de transporte hidroviário, reduzindo os custos de transporte e de logística de nossa produção

agrícola e industrial.

IX-b) Saneamento

1- Aumentar os índices de tratamento de esgotamento sanitário das cidades de nosso estado

promovendo a utilização de PPPs semelhantes à que a CORSAN estará lançando na Região

Metropolitana de Porto Alegre.

2- Incentivar o aumento de aterros sanitários para recebimento dos resíduos sólidos das nossas cidades

e a busca de novas soluções tecnológicas para o seu tratamento e transformação em novas formas

de energia.

3- Dar sequência aos estudos realizados pela Metroplan para a execução das obras de prevenção contra

cheias na Região Metropolitana de Porto Alegre e buscar a implantação das mesmas.

IX-c) Agricultura e Pecuária

Para o desenvolvimento do setor de Agricultura e Pecuária do Estado, é de suma importância que seja dado

prosseguimento em relevantes projetos e ações da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (SEAPI):

1- Agro+RS: programa de modernização, com implantação de um novo modelo de inspeção sanitária,

permitindo a contratação de empresas credenciadas para a cedência de médicos veterinários com

vistas a suprir a falta de fiscais;

2- Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte –

SUSAF: regulamentado por decreto, que permite convênio com as prefeituras para que as

agroindústrias com inspeção municipal possam vender seus produtos fora do território restrito do

município;

3- Marco Legal das Florestas Plantadas: regulamentado pela Lei nº 145/2016 que garante interação

entre a SEAPI e a Secretaria do Desenvolvimento Sustentável, em parceria com entidades privadas,

e que tem como objetivo proporcionar segurança jurídica a quem se dedica ao setor;

4- Sistema Integrado de Gestão de Agrotóxicos – SIGA: facilita e aprimora as ações de fiscalização do

comércio de agrotóxicos no RS.

5- Efetivar e ampliar com grande ênfase os programas de irrigação, sobretudo na metade sul, onde há

períodos de grande deficiência hídrica.

6- Além das importantes ações listadas acima, é imprescindível que o Governo do Estado dê

continuidade na implementação de outros projetos que vêm sendo desenvolvidos pela SEAPI na

área de Agricultura e Irrigação, tais como: a simplificação no processo de obtenção de licenças para

armazenagem de água para sistemas de irrigação, realizado em conjunto com a Secretaria do

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema); políticas permanentes de Estado, com interação

entre secretarias e entidades privadas, visando a melhoria da fertilidade dos solos e da

produtividade agrícola (Programa Estadual de Conservação do Solo e da Água); além da retomada

de importantes obras que estavam paralisadas como as barragens do Arroio Jaguari e do Arroio

Taquarembó.

Page 12: PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A …sociedadedeengenhariars.com.br/wp-content/uploads... · objetivo principal dos seus mandatos. III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS

12

X) INTERAÇÃO DA SERGS COM O GOVERNO

Finalmente, a Sociedade de Engenharia do RS solicita que seja estabelecido um canal direto de intercâmbio

permanente com o Governo do Estado, através do qual ela possa, ao longo do seu mandato, contribuir com

sugestão de ação que promova a utilização correta da Engenharia na plenitude, em cada setor onde sua

presença seja necessária.

Nesse sentido, reivindicamos a participação formal da SERGS nos Conselhos e outros organismos auxiliares

da administração estadual nos quais ela possa contribuir com sua experiência e seu conhecimento, em

consonância com seu lema: A Engenharia a serviço do bem comum.

Porto Alegre, 18 de outubro de 2018.

Luis Roberto Ponte

Presidente da Sociedade de Engenharia do RS