propostas da engenharia gaÚcha para o rs superar a...
TRANSCRIPT
PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A
CRISE, PROMOVER O DESENVOLVIMENTO E ERRADICAR A MISÉRIA
OUTUBRO 2018
2
PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A CRISE,
PROMOVER O DESENVOLVIMENTO E ERRADICAR A MISÉRIA
I) INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 3
II) A FUNÇÃO PRECÍPUA DO ESTADO E O MAIOR DESAFIO ATUAL DE SEUS GOVERNANTES............................ 3
III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS........................................................................................... 4
III-a) A ampliação da Receita ........................................................................................................................ 4
III-b) A eliminação dos gastos injustos ou inúteis ......................................................................................... 5
III-c) O crescimento econômico .................................................................................................................... 6
IV) DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .............................................................................................................. 7
V) CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS E OBRAS DE ENGENHARIA ............................................................................ 7
VI) EDUCAÇÃO .................................................................................................................................................. 8
VII) INOVAÇÃO E TECNOLOGIA ......................................................................................................................... 9
VIII) MEIO AMBIENTE ..................................................................................................................................... 10
IX) AÇÕES SETORIAIS ...................................................................................................................................... 10
IX-a) Infraestrutura e Logística ................................................................................................................... 10
IX-b) Saneamento ....................................................................................................................................... 11
IX-c) Agricultura e Pecuária ........................................................................................................................ 11
X) INTERAÇÃO DA SERGS COM O GOVERNO .................................................................................................. 12
3
PROPOSTAS DA ENGENHARIA GAÚCHA PARA O RS SUPERAR A CRISE, PROMOVER
O DESENVOLVIMENTO E ERRADICAR A MISÉRIA
I) INTRODUÇÃO
Este documento é uma contribuição da Engenharia, preparada pela Sociedade de Engenharia do Rio Grande
do Sul-SERGS, atendendo ao disposto na sua missão:
“Contribuir para o aprimoramento da engenharia; pugnar para que esta seja percebida como essencial
ao desenvolvimento e à erradicação da miséria; mostrar que deve ser utilizada na plenitude e sem
entraves burocráticos; exigir que seja tratada com justiça, e defender que as suas ações sejam exercidas
com dignidade, eficiência, competitividade, modernização tecnológica e em benefício do bem comum.”
Para o Governo cumprir suas funções necessita poder utilizar a Engenharia na sua plenitude, e essas
sugestões buscam indicar o que ele deve fazer para ter esse poder.
II) A FUNÇÃO PRECÍPUA DO ESTADO E O MAIOR DESAFIO ATUAL DE SEUS GOVERNANTES
Um Estado só é civilizado quando, mediante o desenvolvimento econômico advindo do esforço e da
iniciativa das empresas, consegue extinguir a miséria propiciando os bens indispensáveis a uma vida
digna a cada pessoa que disponibilize sua capacidade e respeite o direto das outras.
Todas as ações do Governo exigem recursos, sem os quais as carências não são supridas, e as promessas
viram descrença e desesperança da sociedade.
É sabido que nas últimas décadas o RS tem gerado quase continuamente déficit nas contas públicas, o que
tem impedido os governos de atenderem os anseios mínimos da população e inibido o crescimento
econômico.
Assim, a prioridade do próximo governo deve ser a viabilização dos recursos indispensáveis ao cumprimento
das suas obrigações, para o que é essencial a inarredável determinação de:
Arrecadar com moderação e respeito à capacidade contributiva; combater a sonegação e a corrupção; não
destinar recursos a privilégios indevidos; eliminar o empreguismo, as aposentadorias precoces e as
injustiças salariais; extirpar os gastos com desperdícios, organismos inúteis e má gestão, e escolher as
corretas prioridades na aplicação das receitas, levando em conta que a educação é o maior fator
civilizatório, sob todos os aspectos, pelo que deve ser a principal prioridade.
De tão fundamental, essa deliberação do governo está quase repetida nas condições que referiremos no item
IV como indispensáveis ao desenvolvimento. Sendo ela impopular, é preciso fazer a sociedade perceber que
mesmo impopulares, decisões para conter despesas injustas e desnecessárias devem ser apoiadas, ainda que
a extinção de privilégios implantados ao longo de décadas não tenha o apoio das maiorias.
4
O maior desafio atual é demonstrar aos Deputados que mesmo desagradando a muitos, eliminar essas
mazelas e injustiças é fundamental para atender o bem comum e os anseios da própria sociedade, que são o
objetivo principal dos seus mandatos.
III) A VIABILIZAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS
Tanta é a penúria financeira atual do Estado que o Governo deve atuar simultaneamente na ampliação da
receita, sem aumentar os impostos, na eliminação dos gastos injustos e inúteis e no crescimento econômico.
III-a) A ampliação da Receita
O sistema tributário que assegura a arrecadação dos Estados brasileiros está, basicamente, definido na
Constituição Federal, e há espaço limitado para iniciativas estaduais relevantes que pretendam aumentar a
receita. Além disso, há uma correta, lógica e forte repulsa da sociedade brasileira contra qualquer aumento
de imposto, dada a já exorbitante carga tributária a ela imposta, que a torna mais pobre e inibe o crescimento
econômico.
Por outro lado, as inovações tecnológicas que permitiram a implantação da nota fiscal eletrônica e a
ampliação da cobrança dos impostos mediante substitutos tributários, iniciadas no quadriênio 2003/2006 e
com crescente utilização nos quadriênios seguintes, propiciaram uma grande redução da evasão fiscal,
contribuindo para o fabuloso aumento da arrecadação do Estado, que em 8 anos (2007/2014) teve um
crescimento real de 40%, sem acréscimos das alíquotas. Mas esses dois fatores de redução da evasão fiscal
praticamente já atingiram o seu cume.
Naturalmente, esse acréscimo da receita também teve a influência das boas safras agrícolas que não
sofreram os efeitos das estiagens ocorridas no período 2003/2006, e do crescimento econômico do País, mas
estes não são fatores que possam responder por esse fabuloso aumento real, haja visto que as receitas do
Estado nos três quadriênios ocorridos de 1995 a 2006 se mantiveram no mesmo nível.
Elencamos algumas medidas de governo que têm alguma relevância para aumentar a receita disponível:
1- Extinguir, privatizar ou federalizar empresas e órgãos supérfluos, desnecessários ou geradores de
prejuízo, como a CRM, a CEEE e a SULGAS, inclusive para se poder firmar o acordo mencionado a
seguir;
2- Assinar o acordo com a União, conforme previsto na lei que o autoriza, que permite pagar no futuro
as prestações mensais de 6 anos da dívida do Estado com o Governo Federal;
3- Aprovar a manutenção, pelo período do próximo quadriênio, das atuais alíquotas do ICMS para
enfrentar esse período de grandes dificuldades e consolidação das reformas saneadoras das contas
públicas;
4- Promover uma revisão geral dos benefícios e subsídios fiscais, deixando somente aqueles que, de
fato, devam permanecer para não se perder empresas do RS;
5- Combater permanentemente a sonegação fiscal;
6- Estabelecer uma grande parceria com o Tribunal de Justiça para viabilizar o recebimento das
cobranças judiciais das empresas condenadas que ainda tenham patrimônio;
7- Aprovar alguma lei de parcelamento de débitos fiscais, com redução das multas, para viabilizar a
atividade plena de empresas que, sem serem sonegadoras, ficaram inadimplentes por impossibilidade
de honrar suas obrigações em decorrência da grave crise econômica, e
5
8- Incentivar a compensação entre dívida ativa e precatórios, viabilizada neste ano pelo atual Governo.
Mas precisamos ter sempre presente que o fator mais importante para aumentar a receita é o crescimento
econômico do Estado, tema que será abordado adiante.
III-b) A eliminação dos gastos injustos ou inúteis
Para se ter a ideia exata da inexorabilidade de se adotar medidas profundas na redução dos gastos, atente-
se que, mesmo com o referido gigantesco aumento da receita ocorrida nos dois quadriênios (2007/2010 e
2011/2014), a previsão de déficit orçamentário para o quadriênio seguinte, 20015/2018, calculado no início
do atual governo, era de quase vinte e cinco bilhões de reais, e isto prevendo apenas pequenas aplicações
em investimentos e sem nenhuma nova lei aumentando salário. O incremento estrondoso da receita em
40%, não foi suficiente para sequer cobrir o aumento dos gastos futuros gerados naqueles dois quadriênios,
particularmente no último deles.
São necessárias medidas duras e impopulares que só serão aprovadas pela Assembleia se houver a
colaboração das mentes mais esclarecidas da sociedade para mostrar aos gaúchos que elas são
imprescindíveis e objetivam exclusivamente o bem comum, que está acima dos interesses de apenas parcelas
da sociedade ou de pleitos de corporações, por mais lídimos que sejam.
Os dispêndios com a folha do funcionalismo, sobretudo devido à insensatez da previdência, que absorvem
perto de 80% da Receita Corrente Líquida – RLC, se calculada corretamente, merecem a maior atenção, não
apenas porque absorvem 3/4 das receitas do Estado, como porque nela residem grandes distorções e
despercebidas injustiças.
Foi enorme a insensatez praticada no período 2011/2014, contaminando mortalmente o período
2015/2018, sobretudo ao conceder, no seu final, vários aumentos robustos para parcelas do funcionalismo,
que seriam aplicados semestralmente até o final de 2018. A despesa com pessoal, que em 2010 foi de R$
13.432.000,00, passou, em 2017, para R$ 27.093.000,00, um aumento de 101,7%, enquanto a inflação pelo
IPCA foi de 55%. E isto sem ter sido concedido qualquer aumento novo nos 4 anos do atual governo e ainda
sem considerar os últimos aumentos concedidos no final de 2014 a serem aplicados no final de 2018.
São tão imensas as injustiças e disparidades na remuneração do funcionalismo, que deveriam causar
indignação em todos. Uma professora ganha a metade do que é ilegalmente pago como auxílio moradia para
os titulares do sistema judiciário. Um engenheiro, com curso não menos exigente e importante do que o de
Direito, tem salário inicial na ordem de R$ 5.000,00 enquanto uma pessoa formada em Direito é admitida,
nas carreiras jurídicas, com salário inicial de R$ 25.000,00, cerca de 5 vezes maior. As correções dessas
injustiças não serão fáceis nem se poderá fazê-las sem um correto período de transição.
Todavia, o problema mais grave, sem cuja solução não se acabará com o crônico déficit fiscal do Estado, é a
Previdência. Em 2017, o valor total da folha de pagamento dos funcionários ativos foi de 10,4 bilhões de reais
enquanto o da folha dos aposentados e pensionistas foi de 14,5 bilhões, 40% a mais do que o dos ativos. No
corrente ano essa insensata desproporção já será maior, e vai continuar subindo aceleradamente a cada ano,
se nada for feito.
Pelo princípio clássico do financiamento da previdência pelo Regime de Repartição, adotado em quase todo
o mundo, e, em tese, também no Brasil, os trabalhadores ativos pagam os benefícios dos inativos, na
esperança de que, quando estiverem inativos, os que então estiverem ativos paguem os seus benefícios.
6
Tomado ao pé da letra isso significaria que cada funcionário do Estado do RS na ativa deveria entregar todo
seu provento para os aposentados, e ainda ficar devendo 40% do que iria receber.
Uma singela análise mostra que o problema de injustiça e insensatez da Previdência é generalizado em todo
o País e não se sustenta por muito tempo.
A sua solução depende de reforma Constitucional, que só a União pode fazer, e que será realizada de alguma
forma porque a União também não suportará a manutenção dos atuais absurdos.
Mas há algumas ações que devem e podem ser executadas para a redução dos gastos, inclusive da folha de
pagamento, mesmo antes da Reforma da Previdência nacional.
A reforma da Previdência tem, pois, de ser enfrentada com racionalidade e determinação, respeitando o
direito adquirido, a fim de corrigir algumas das injustiças e o RS poder voltar a manter as despesas com a
folha do pessoal dentro dos limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que não pode ser
descumprida em um Estado Democrático de Direito. O Estado não vai desaposentar ou suprimir o direito de
ninguém, mas deveria:
1- Acompanhar ativamente a Reforma da Previdência da União, inclusive arregimentando todas as
forças políticas que conseguir para viabilizar a sua aprovação;
2- corrigir as distorções de aposentadorias especiais de certas categorias, que fizeram, por exemplo,
com que haja 494 coronéis da Brigada Militar aposentados para cerca de 30 na ativa;
3- tornar atrativo, para aqueles que são indispensáveis e já podem se aposentar, continuar trabalhando
voluntariamente, incentivando-os por compensações;
4- revisar os quadros de carreira do funcionalismo, prevendo uma longa transição para a correção das
injustiças, inclusive para evitar, pela exigência do piso no quadro de professores, a possível geração
futura de um precatório gigantesco;
5- sobrestar, temporariamente, aumentos salariais do funcionalismo, sobretudo dos quadros mais bem
remunerados;
6- estabelecer que quando faltar recursos para o pagamento da folha os atrasos ocorram de forma
idêntica para os funcionários de todos os poderes;
7- proibir novas contratações de pessoal, a não ser para reposições incontornáveis de setores
específicos;
8- conter o número de secretarias;
9- eliminar grande parte dos CC’s;
10- implementar um projeto eficaz de aprimoramento da gestão pública, e
11- implantar programa de racionalização e redução das despesas administrativas.
III-c) O crescimento econômico
Na verdade, o desenvolvimento econômico é o único caminho efetivo para um aumento sustentável da
arrecadação, ao mesmo tempo que é também o único para a erradicação da pobreza absoluta, e é nele que
os governantes devem concentrar suas maiores energias.
Uma reflexão mais profunda sobre o que deve ser feito para alcançá-lo é o tema do item seguinte.
7
IV) DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
O elemento básico do desenvolvimento econômico é a empresa, composta do empreendedor e seus outros
trabalhadores, utilizando o lucro obtido com o mais absoluto respeito à lei e fruto da sua capacidade e
dedicação para aprimorar-se e expandir suas atividades.
As empresas são a fonte predominante de geração dos postos de trabalho, esse bem que é o maior fator de
dignidade humana. Além do mais, só com a disponibilidade dos bens que elas produzem, essenciais à
dignidade das pessoas, é que se pode erradicar a miséria e gerar os impostos que permitem ao Governo
atuar. Incentivá-las é, pois, a forma mais eficaz do governo poder cumprir suas mais nobres funções.
Mesmo com toda essa obviedade, há uma forte corrente de pensamento mundo afora que, ao contrário,
considera o empresário a causa das injustiças e da miséria. Essa ideia estapafúrdia, que é a causa maior das
crises sociais do mundo, predomina naqueles que se autodenominam ideologicamente de esquerda, que se
consideram portadores do bem, defensores dos pobres e seus protetores contra os geradores de riqueza,
que são o mal que deve ser sempre combatido.
Como, ao revés, a atividade empresarial é o caminho para o crescimento econômico e a única possibilidade
de se atender às justas demandas da sociedade é indispensável que o governo contribua para desmistificar
essa absurda narrativa, inclusive para facilitar o cumprimento rigoroso de três seguintes princípios essenciais
ao desenvolvimento, e portanto, ao êxito da sua gestão:
1- Atrair, incentivar, respeitar e tratar com dignidade as empresas cumpridoras da lei, constituídas por
empregados e empregadores que promovem o desenvolvimento, produzem os bens que tiram as
pessoas da miséria, e geram a arrecadação e o posto de trabalho essencial à dignidade humana;
2- Eliminar exigências inúteis, burocracia, superposição de normas e fiscalizações contraditórias,
insegurança jurídica, presença desnecessária e intervenção ruinosa do governo, que além do
desperdício dificultam ou impedem a existência das empresas;
3- Cuidar do equilíbrio fiscal e não gastar as receitas sem obedecer a judiciosas prioridades, nem
malbaratá-las com injustiças, empreguismo, aposentadorias precoces, vantagens e incentivos
indevidos, obras suntuárias, órgãos inúteis, corrupção e prejuízos por má gestão, práticas que, no
fundo, são o que gerou a insolvência do RS e a chaga da pobreza absoluta.
Como se vê, o cumprimento desses princípios trata apenas de correção de injustiças e a sua rigorosa
aplicação, juntamente com a escolha correta das prioridades dos gastos públicos, colocando a educação em
efetiva primazia, é que poderão dar aos governos condições de fazer o Rio Grande voltar a ser orgulho
nacional, livre das críticas de Estado insolvente que depende de favores da União para sobreviver.
V) CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS E OBRAS DE ENGENHARIA
O trágico quadro de corrupção envolvendo os governantes do País alimenta-se primordialmente na
contratação dos bens, serviços e obras para o setor público. Nessas contratações montam-se mecanismos
corruptores através do descumprimento da Lei 8666 (Lei de Licitações), que quando promulgada em 1993
deveria ser cumprida por todos os níveis e esferas de governo.
8
Não tivessem os governantes induzido ou tolerado a desobediência à Lei 8666, inclusive retirando legalmente
a Petrobras da obrigação de obedecê-la, e feito o mesmo para as obras da Copa mediante a aprovação de
espúria legislação denominada Regime Diferenciado de Contratação – RDC, não estaríamos vivenciando esse
escárnio da corrupção desnudada pela Lava-Jato, embasada em contratos de obras firmados sem projeto
decente, com superfaturamentos e direcionados aos amigos do rei.
Para licitar uma obra, a Lei 8666 obriga a existência prévia de um projeto qualificado com orçamento correto,
de conhecimento da sociedade, a fixação de valor máximo para aceitação das propostas, além de um limite
de 25% para todos os acréscimos contratuais.
Bastaria o cumprimento dessas três condições para impossibilitar prejuízos ao erário, mesmo por cartéis de
empreiteiros que se reunissem para evitar propostas com níveis de preços inexequíveis, que a Lei 8666
manda desclassificar.
A sociedade precisa estar alerta para iniciativas como a atual discussão no Congresso Nacional de Projeto de
Lei autorizando o uso do RDC por todos os órgãos, que descumpre os princípios instituídos na Constituição e
na Lei 8666 que estabelecem a defesa do interesse público, a transparência, o respeito à isonomia e a severa
penalização de contratados e contratantes pelos descumprimentos das suas obrigações.
É fundamental preservar os objetivos moralizadores da Lei 8666 e seus 25 anos de jurisprudência. Mas é
conveniente promover sua atualização para sanar interpretações equivocadas de certos itens, suprimir
modificações ruinosas que sofreu, suprir lacunas deixadas pelos vetos na sua sanção e reforçar a proibição
de se descumprir alguns dispositivos, mas sem mutilar os seus princípios altamente protetores do interesse
público e impedidores de corrupção como as ocorridas na Lava-Jato.
O Governo do Estado deveria criar um grupo de conhecedores da matéria para analisar e complementar os
estudos que a SERGS, juntamente com as outras entidades ligadas à Engenharia, já realizaram e aprovaram
para essa atualização, cujo objetivo principal é reforçar e adequar comandos nela já existentes que são
frequentemente desobedecidos, entre os quais, ressalte-se, a desclassificação de propostas com preços
inexequíveis. Essa interação é muito proveitosa para o debate nacional onde esse tema deve ser aprovado.
Mas essas lacunas e modificações ruinosas não autorizam o Estado a descumprir as determinações da Lei
8666, entre as quais as seguintes, cujas inobservâncias são a causa da quase totalidade dos atrasos das obras:
1- Só licitar obras com projeto e orçamento qualificado, firmado por responsável técnico;
2- Não utilizar leilão ou pregão nas licitações de obras e projetos de engenharia;
3- Respeitar o prazo máximo de 30 dias para pagamento, a contar da data do adimplemento;
4- Assegurar o reajustamento dos preços para manter os valores efetivos da proposta;
5- Efetuar atualização e compensações financeiras por eventuais atrasos de pagamento;
6- Não alterar as cláusulas econômico-financeiras do contrato sem concordância do contratado;
7- Fornecer licenças ambientais e jazidas em tempo hábil;
8- Desclassificar propostas com preços inexequíveis.
VI) EDUCAÇÃO
O Rio Grande do Sul possuía 1,1 milhão de alunos frequentando as escolas estaduais em 2009, e no ano letivo
de 2018 foram 900 mil matriculas. Neste período, foram fechadas mais de 6 mil turmas, sendo que 239
9
escolas encerraram as suas atividades. Em 2007, a população de crianças entre seis e 14 anos, que
corresponde ao Ensino Fundamental, era de 1,5 milhão e passou a 1,2 milhão em dez anos, uma queda de
19%. Para tratar adequadamente este problema, é necessário ampliar a política de readequação da rede
escolar pública do Rio Grande do Sul, de acordo com o número da demanda por matrículas, objetivando
melhorar a alocação de recursos financeiros e humanos e a eficiência do investimento na Educação.
O orçamento da Secretaria Estadual de Educação em 2018 foi de R$ 9 bilhões. No entanto, em torno de R$ 8
bilhões vão diretamente para pagar o salário de 66 mil professores ativos e 96 mil inativos, além de 19 mil
funcionários ativos e 8 mil inativos. Sem um choque de gestão, com a devida reforma da legislação que atente
para a realidade orçamentária da Secretaria de Educação, persistirão os problemas de recrutamento de
quadros qualificados, evasão e baixa autoestima dos professores e de funcionários, no final, a má qualidade
da educação.
O século XXI é o da revolução tecnológica, digital e científica. Novos conceitos, práticas e metodologias
permeiam a vida moderna e influenciam a economia, o trabalho, o jeito de pensar e de viver. Neste ambiente
de 4ª revolução industrial, os desafios que serão feitos aos alunos exigem um cidadão com um novo perfil
para enfrentar o disruptivo mercado de trabalho do século XXI, e os métodos de Ensino devem ser adequados
às novas necessidades e interesses dos jovens, tornando-se mais atrativo e aderindo às novas tecnologias da
informação.
A construção de uma educação que atenda essas expectativas em relação ao aluno do século XXI, portanto,
é o que deve motivar pais, gestores educacionais e, principalmente, os professores, cada vez mais
importantes na construção do conjunto do conhecimento e dos valores civilizatórios estabelecidos na lei que
comporão as crenças na mente do aluno e que irão determinar o seu comportamento e o seu futuro.
Nada, portanto, mais importante, fundamental e indispensável do que a formação continuada dos
professores, que deve ser priorizada, tendo em vista esta nova realidade.
A construção de uma educação de qualidade é um processo coletivo e compartilhado entre estados e
municípios. Neste sentido, a municipalização do Ensino Fundamental é uma política que se constrói em
regime de colaboração e só terá efetividade se o carro-chefe for o compromisso com uma educação de
qualidade para todos.
A Educação Infantil é do município e o Ensino Médio é do Estado. O Ensino Fundamental, do 1º ao 9º ano, é,
na realidade, compartilhado entre os dois entes.
Em alguns casos, a municipalização vai ser o melhor caminho. Talvez, em outros, o uso compartilhado de
escolas pode ser a melhor alternativa. Amplos debates nesta área devem ser promovidos, buscando a melhor
alternativa para alavancar a Educação do Estado.
VII) INOVAÇÃO E TECNOLOGIA
1- Promover a atualização da Lei Estadual de Inovação (Lei 13.196 de 13.07.2009), privilegiando a
retenção de talentos e capital humano essencial para as atividades portadoras de futuro, de alto
valor agregado, através da atração e desenvolvimento de empreendimentos de alta tecnologia que
gerem empregos de renda diferenciada;
10
2- Atualizar o Fundopem e o Programa Pró-Inovação ampliando a base de empresas médias e pequenas
que promovem esforços significativos em Pesquisa e Desenvolvimento em troca de incentivos fiscais
proporcionais;
3- Ampliar o apoio aos programas Polos Tecnológicos, RS Incubadoras e Programa Gaúcho de Parques
Tecnológicos, procurando novas fontes de captação de recursos financeiros;
4- Promover programas específicos para o empreendedorismo e as empresas nascentes de base
tecnológica, principalmente nas escolas de ensino fundamental e médio, na área de educação
voltada para a Ciência, Tecnologia e Inovação.
VIII) MEIO AMBIENTE
1- Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE: Utilizar essa ferramenta com o objetivo de viabilizar o
desenvolvimento sustentável a partir da compatibilização do desenvolvimento socioeconômico com
a proteção ambiental, estabelecendo alternativas de uso e gestão que oportunizem as vantagens
competitivas do nosso território e não as torne improdutivas ou de difícil utilização para novas
iniciativas empresariais. Também utilizar este instrumento para promover a aceleração dos
licenciamentos ambientais dos empreendimentos que vierem a se instalar em nosso estado.
2- Garantir a manutenção de prazos reduzidos para análise e concessão de licenças ambientais, a fim
de evitar a perda de novos investimentos para outros estados.
IX) AÇÕES SETORIAIS
IX-a) Infraestrutura e Logística
1- Utilizar o recente estudo financiado pelo Banco Mundial denominado Plano Estadual de Logística e
Transportes – PELT-RS como orientador das futuras obras a serem realizadas ou incentivadas nos
diferentes modais de transportes rodoviário, ferroviário, hidroviário, aeroviário e dutoviário em
nosso estado.
2- Em virtude da reconhecida escassez de recursos públicos, e até que o Estado volte a tê-los, quando
saneados os gastos injustos e inúteis, deve-se realizar Concessões e/ou Parcerias Público Privadas
(PPPs) para suprir as necessidades de investimentos nas referidas obras de infraestrutura de
transportes com a finalidade de aumentar a capacidade de tráfego das nossas vias de transporte e
diminuir os elevados custos de logística envolvidos no escoamento da produção gaúcha.
3- É importante para as empresas gaúchas de engenharia que na definição das concessões de obras
rodoviárias sejam adotados trechos com as menores extensões compatíveis com a economicidade,
a fim de que se permita a participação de empresas de médio porte, principalmente as sediadas no
Rio Grande do Sul.
4- Aprovar lei que permita ao DAER utilizar 70% da arrecadação com multas de trânsito em sinalização
e conservação de rodovias, conforme PROA 170435.0004026-1, em tramitação.
5- Interceder junto ao Governo Federal na busca de soluções semelhantes para as obras federais que
fazem parte da malha viária do Rio Grande do Sul.
6- Manter a EGR com gestão técnica e enxuta, como forma de suprir, pelo pedágio, os recursos
indispensáveis para a conservação e ampliação de parte da malha rodoviária de médio VDM, até que
11
o Estado, saneado dos gastos inúteis e injustos, tenha condições de alocar os recursos necessários
para essa conservação.
7- Incentivar a criação de polos industriais junto às hidrovias para possibilitar uma maior utilização do
modal de transporte hidroviário, reduzindo os custos de transporte e de logística de nossa produção
agrícola e industrial.
IX-b) Saneamento
1- Aumentar os índices de tratamento de esgotamento sanitário das cidades de nosso estado
promovendo a utilização de PPPs semelhantes à que a CORSAN estará lançando na Região
Metropolitana de Porto Alegre.
2- Incentivar o aumento de aterros sanitários para recebimento dos resíduos sólidos das nossas cidades
e a busca de novas soluções tecnológicas para o seu tratamento e transformação em novas formas
de energia.
3- Dar sequência aos estudos realizados pela Metroplan para a execução das obras de prevenção contra
cheias na Região Metropolitana de Porto Alegre e buscar a implantação das mesmas.
IX-c) Agricultura e Pecuária
Para o desenvolvimento do setor de Agricultura e Pecuária do Estado, é de suma importância que seja dado
prosseguimento em relevantes projetos e ações da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (SEAPI):
1- Agro+RS: programa de modernização, com implantação de um novo modelo de inspeção sanitária,
permitindo a contratação de empresas credenciadas para a cedência de médicos veterinários com
vistas a suprir a falta de fiscais;
2- Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte –
SUSAF: regulamentado por decreto, que permite convênio com as prefeituras para que as
agroindústrias com inspeção municipal possam vender seus produtos fora do território restrito do
município;
3- Marco Legal das Florestas Plantadas: regulamentado pela Lei nº 145/2016 que garante interação
entre a SEAPI e a Secretaria do Desenvolvimento Sustentável, em parceria com entidades privadas,
e que tem como objetivo proporcionar segurança jurídica a quem se dedica ao setor;
4- Sistema Integrado de Gestão de Agrotóxicos – SIGA: facilita e aprimora as ações de fiscalização do
comércio de agrotóxicos no RS.
5- Efetivar e ampliar com grande ênfase os programas de irrigação, sobretudo na metade sul, onde há
períodos de grande deficiência hídrica.
6- Além das importantes ações listadas acima, é imprescindível que o Governo do Estado dê
continuidade na implementação de outros projetos que vêm sendo desenvolvidos pela SEAPI na
área de Agricultura e Irrigação, tais como: a simplificação no processo de obtenção de licenças para
armazenagem de água para sistemas de irrigação, realizado em conjunto com a Secretaria do
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema); políticas permanentes de Estado, com interação
entre secretarias e entidades privadas, visando a melhoria da fertilidade dos solos e da
produtividade agrícola (Programa Estadual de Conservação do Solo e da Água); além da retomada
de importantes obras que estavam paralisadas como as barragens do Arroio Jaguari e do Arroio
Taquarembó.
12
X) INTERAÇÃO DA SERGS COM O GOVERNO
Finalmente, a Sociedade de Engenharia do RS solicita que seja estabelecido um canal direto de intercâmbio
permanente com o Governo do Estado, através do qual ela possa, ao longo do seu mandato, contribuir com
sugestão de ação que promova a utilização correta da Engenharia na plenitude, em cada setor onde sua
presença seja necessária.
Nesse sentido, reivindicamos a participação formal da SERGS nos Conselhos e outros organismos auxiliares
da administração estadual nos quais ela possa contribuir com sua experiência e seu conhecimento, em
consonância com seu lema: A Engenharia a serviço do bem comum.
Porto Alegre, 18 de outubro de 2018.
Luis Roberto Ponte
Presidente da Sociedade de Engenharia do RS