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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES PROPOSTA PARA O SERVIÇO EDUCATIVO DO MUSEU MUNICIPAL DO MONTIJO O livro infantil como estratégia de divulgação da Casa Mora Maria Julieta da Silva Almeida Dissertação Mestrado em Educação Artística Dissertação orientada pela Prof.ª Doutora Margarida Calado 2016

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES

PROPOSTA PARA O SERVIÇO EDUCATIVO DO

MUSEU MUNICIPAL DO MONTIJO

O livro infantil como estratégia de divulgação da Casa Mora

Maria Julieta da Silva Almeida

Dissertação

Mestrado em Educação Artística

Dissertação orientada pela Prof.ª Doutora Margarida Calado

2016

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DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu Maria Julieta da Silva Almeida, declaro que a presente dissertação de mestrado intitulada “Proposta para o

Serviço Educativo do Museu Municipal do Montijo. O livro infantil como estratégia de divulgação da Casa

Mora”, é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O conteúdo é original e todas as fontes

consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal como

todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho segundo as normas académicas.

O Candidato

Lisboa, 29 de Dezembro de 2016.

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I

RESUMO

O estudo do património e da educação patrimonial revelam que estes são bastante

importantes para o equilíbrio psíquico, o bem-estar e o progresso do ser humano, tal como

o livro constitui uma ferramenta útil na criação de sentido, na apreciação estética e na

salvaguarda do património. A proposta editorial “A casa do Sr. Domingos”, presente nesta

dissertação, visa transmitir aos mais novos a história e o passado da Casa Mora, onde está

sedeado o Museu Municipal do Montijo (Portugal), um património carenciado de

investigação e de estratégias de valorização.

Para que tal proposta seja realizada, é necessário estudar a relevância que os testemunhos do

passado têm na era moderna, em vários níveis, desde o significado e o conceito de

património, à sua ligação com a identidade e com a herança dos indivíduos. É preciso

também entender o comportamento contemporâneo das comunidades face ao património,

saber que estratégias foram e podem ser utilizadas para que a educação patrimonial seja eficaz

e ter uma noção clara sobre a importância que estas podem ter na vida dos cidadãos.

Como a proposta do livro “A casa do Sr. Domingos” está destinada a um público-alvo

específico, crianças dos 7 aos 12 anos de idade, é relevante conhecer este tipo de público,

tendo em conta o seu desenvolvimento cognitivo e os seus principais interesses. Antes disso,

é também necessário estudar a importância do livro infantil na vida das crianças e de que

forma este pode contribuir para o seu progresso e para a abertura de novas consciências.

Devido ao facto da Casa Mora ter tão pouca informação ao dispor dos munícipes e dos

visitantes em geral, acreditamos que incluir um estudo sobre da mesma nesta dissertação será

bastante enriquecedor, tanto para este trabalho, como para a história local.

Foram feitas várias visitas ao património investigado e, tendo em conta a carência de

informação, apenas foi possível compilar diversos testemunhos e comparar a arquitetura do

edifício do Museu Municipal do Montijo (Casa Mora), com a das restantes construções locais

da mesma época.

Palavras-Chave:

Património; Educação Patrimonial; Livro Infantil; Casa Mora; Montijo

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II

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III

ABSTRACT

The study of heritage and of the heritage education are an important issue. This has effect

on the psychic balance and progress of the human being. For instance, a book is a useful tool

for the understanding, creation and evaluation of heritage safeguarding.

The proposal of the book "A casa do Sr. Domingos" aims to transmit the youngest the

history of Casa Mora, where is located the Municipal Museum of Montijo (Portugal) due to

the lack of research and evaluation strategies for this place.

For this proposal to be realized, it is necessary to study the relevance that the past testimonies

have in the modern era, at various levels, from the meaning and concept of heritage, its

connection with an identity and with an inheritance of individuals.

It is also necessary to understand the contemporary behaviour of communities in relation to

heritage. This knowledge can be used to an effective heritage education, and to have a clear

idea of an interest that can change the lives of citizens.

The proposal of these book, "A casa do Sr. Domingos", is oriented for a specific target

audience: children from 7 to 12 years old. It is important to know the type of audience and

to consider their cognitive development and their interests. Before that, it is also necessary

to study the importance of children books in their lives and how they can contribute to their

progress and to the opening of new awareness.

Since Casa Mora has so little information available to municipalities and visitors in general,

we believe that including a study of it in this essay will be very enriching, both for this work

and for local history. Several visits were made to this place and, due to the lack of

information, it was only possible to compile several testimonies and compare the architecture

of the Montijo’s Municipal Museum (Casa Mora) building with other local buildings of the

same period.

Keywords:

Heritage; Heritage Education; Children Book; Casa Mora; Montijo

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IV

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V

AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente, e em primeiro lugar, à minha orientadora, a Professora Doutora

Margarida Calado, por toda a partilha de conhecimento, pela disponibilidade imediata e pela

extrema atenção com que esclareceu cada dúvida, tendo sempre paciência para todas as

minhas ausências, todos os receios e todas as incertezas.

Agradeço à minha família, por todo o apoio incondicional e incentivo durante esta

investigação, por terem acreditado sempre em mim e por todas as noites que também

passaram em claro, seguindo todos os progressos desta dissertação.

Um especial agradecimento também a todos os meus amigos que me acompanharam nesta

etapa, por todas as palavras de incentivo e pela atenção com que me ajudaram.

Agradeço à Câmara Municipal do Montijo, aos serviços do Museu Municipal e do Arquivo

Municipal, pela disponibilidade e atenção com que me auxiliaram em todos os momentos

necessários. Guardo um especial agradecimento para a Dra. Fernanda Pinho, para os

arquitetos Paulo Lima e Rogério Dias, e para Joaquim Baldrico, por todas as conversas que

me elucidaram e contribuíram em muito para esta investigação.

Agradeço a todos os que, de uma forma ou de outra, se cruzaram no meu caminho ao longo

desta pesquisa, inspirando-me com os seus conhecimentos e simpatia.

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VI

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VII

ÍNDICE

Introdução …………..........……………………………………….………………….…1

I. O património e o contributo da educação patrimonial para a valorização e

preservação dos testemunhos do passado…………………….…..…………………...6

1. A consciencialização da existência do património…………....……….......……...6

1.1. O património enquanto identidade…………………………………...10

1.2. O património enquanto herança……………………………………..13

2. O reconhecimento dos bens patrimoniais e a importância da sua salvaguarda….18

3. A educação patrimonial e as principais iniciativas………………………………20

II. O edifício do Museu Municipal do Montijo e os seus antigos proprietários. Um

património a preservar..………………………………………………………………..29

1. As motivações que levaram à escolha deste edifício……………………………29

2. As diversas estratégias de valorização do edifício e a alternativa do livro

informativo………………………………………………………………....……30

3. O passado e o presente da Casa Mora. De habitação oitocentista a Museu

Municipal do Montijo……………………………………………………………31

3.1. O Montijo do século XIX……………………………………………34

3.2. Os detalhes do quotidiano montijense do século XIX……….……….37

3.3. As manifestações arquitetónicas da viragem do século XIX: as

semelhanças entre a Casa Mora e as restantes construções regionais da

época….…………………………………………………………...……..38

3.4. A burguesia endinheirada oitocentista………………………………..40

4. Domingos Tavares: um homem influente…………………………………..….41

5. Um percurso pela Casa Mora…………………………………………………..48

5.1. As fachadas…………………………………………………………..48

5.2. O jardim……………………………………………………………..53

5.3. O interior……………………………………………………………59

III. O livro informativo como estratégia de divulgação do património. Proposta

editorial sobre a Casa Mora para crianças………………...………………………….74

1. A importância do livro informativo na infância………………………………..74

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VIII

2. O público-alvo e a sua capacidade de processamento de informação…………..78

3. As estratégias a adotar para uma melhor apreciação do livro……………………80

4. A ilustração enquanto mediadora entre o livro e o leitor……………………….82

5. “A casa do Sr. Domingos”. Uma proposta editorial para a divulgação da Casa

Mora, Museu Municipal do Montijo……..……………………………………..…86

Conclusão…………………………………………………………………………...….96

Bibliografia…….…...……………………………………………………………....... 100

a) Bibliografia geral………………………………………………………….....100

b) Bibliografia específica……………………………………………………… 111

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IX

ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1. Retrato de Domingo Tavares. Imagem de GRAÇA, L. – Montijo: Imagens da

Tradição Concelhia, 2001…………………………………………………………..….…43

Fig. 2, fig. 3. e fig. 4. Primeira edição monárquica de cédulas municipais. Imagens do Museu

do Papel Moeda – Fundação Dr. António Cupertino de Miranda em BALDRICO, J. – As

Cédulas emitidas pela Câmara Municipal de Aldegallega. 1891-1922,

2013……………………………………………………….…………………………….44

Fig. 5, fig. 6 e fig. 7., fig. 8 e fig. 9. Segunda edição de cédulas. Imagens de autor em

BALDRICO, J. – As Cédulas emitidas pela Câmara Municipal de Aldegallega. 1891-1922,

2013……………………………………………………………..………………………45

Fig. 10. Fachada principal da Casa Mora. Fotografia da autora……………………………51

Fig. 11. Fachada Norte da Casa Mora. Fotografia da autora………………………………53

Fig. 12. Zona do anfiteatro. Fotografia da autora……………………...…………………54

Fig. 13. Zona de recolhimento com o candeeiro central. Fotografia da autora…………….55

Fig. 14. Zona do poço encimado por um moinho americano. Fotografia da autora………55

Fig. 15. Zona de catering com caramanchão. Fotografia da autora………………………...56

Fig. 16. Pormenor dos embrechados e dos azulejos da fonte. Fotografia da autora…..…...57

Fig. 17. Marco de légua. Fotografia da autora…………………………………………….57

Fig. 18. Pormenor do arco de influência gótica. Fotografia da autora…………………….58

Fig. 18. Pormenor dos cachorros. Fotografia da autora…………………………………..59

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X

Fig. 19. Planta do rés-do-chão, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do

Montijo………………………………………………………………………………….60

Fig. 20. Pormenor do fecho do arco da entrada e do trabalho de estuques do teto com as

iniciais “D.T.” Fotografia da autora………………………………………………………61

Fig. 21. Espaço da galeria, antigas salas de armazenamento. Fotografia da autora…………62

Fig. 22. Pormenor da alegoria em estuque do teto do antigo escritório da Casa Mora.

Fotografia da autora……………………………………………………………………...63

Fig. 23. Planta do piso nobre, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do

Montijo………………………………………………………………………………….63

Fig. 24. Sala Azul. Fotografia da autora…………………………………………………..65

Fig. 25. Pormenor do trabalho de estuques da Sala Cor-de-rosa. Fotografia da autora……66

Fig. 26. Pormenor do trabalho de estuques do Quarto de Vestir. Fotografia da autora……66

Fig. 27. Atual recheio do Oratório. Fotografia da autora……...………………………….67

Fig. 28. Pormenor do trabalho de estuques do teto do Oratório. Fotografia da

autora………………………………………………………...………………………….67

Fig. 29. Pormenor dos frescos e dos estuques do teto da Casa de Banho. Fotografia da

autora……………………………………………………………………………………68

Fig. 30. Pormenor de um dos frescos da Sala de Jantar, alusivo a Sintra. Fotografia da

autora……………………………………………………………………………………69

Fig. 31 Pormenor dos estuques e dos frescos do teto da Sala de Jantar. Fotografia da

autora……………………………………………………………………………………69

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XI

Fig. 32. Cozinha. Fotografia da autora…………………………………………………..70

Fig. 33. Pormenor dos frescos do Quarto de Hóspedes. Fotografia da autora…………..72

Fig. 34. Pormenor dos estuques do teto do Quarto de Hóspedes. Fotografia da autora…..72

Fig. 35. Planta da mansarda, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do

Montijo………………………………………………………………………………….72

Fig. 36. Capa do livro “El Madrid de los Austrias contado a los niños”, de Maria Molina e

Pilarín de Luna. Edições Miguel Sanchez, 2006…………………………………………..93

Fig. 37. Capa do livro “Lisboa”, de David Pintor, 2013. Imagem retirada do catálogo online

da editora Kalandraka……………………………………………………………………94

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XII

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1

INTRODUÇÃO.

A presente dissertação de Mestrado em Educação Artística tem como principais

objetivos, o estudo sobre a importância do património, da educação patrimonial, a

investigação sobre o edifício da Casa Mora, uma antiga casa nobre datada de 1875 e

situada no centro da malha urbana da cidade do Montijo, e a apresentação de uma

proposta de divulgação deste património, junto de crianças dos 7 aos 12 anos. Este

edifício constitui hoje parte do núcleo museológico da localidade, sendo a sede do Museu

Municipal, contudo, sente-se uma ligeira falta de iniciativas que visem proteger, valorizar

e dar conhecer este património à comunidade envolvente.

A carência de recursos humanos no Serviço Educativo do Museu Municipal do

Montijo não permite o planeamento de atividades de forma regular para diferentes

públicos-alvo, e muito menos a sua execução. Outro fator que dificulta a criação de

qualquer tipo de investigação e divulgação sobre este imóvel é a ausência de informação

sobre o mesmo, visto que a carência de documentação cria barreiras à aproximação de

estudiosos.

Estas limitações levaram-nos a crer que seria bastante útil a concretização de uma

investigação geral sobre a Casa Mora, de modo a que fosse possível o enriquecimento da

documentação regional sobre a mesma. É possível realizar um estudo sólido sobre o

edifício, contemplando-o e registando as suas principais caraterísticas arquitetónicas e

decorativas, com base na história da arquitetura regional e nas principais influências e

gostos da época em que foi construído.

Contudo, esta dissertação não iria ao encontro da Educação Artística se não fossem

pensadas e propostas estratégias de divulgação do imóvel. Visto que é bastante proveitoso

o desenvolvimento de iniciativas de educação artística e patrimonial, e em especial em

torno de patrimónios pouco estudados e contemplados pelas comunidades a que

pertencem, nesta dissertação apresentaremos um pequeno projeto editorial, destinado a

crianças dos 7 aos 12 anos, que visa aproximar a antiga habitação oitocentista aos mais

pequenos. Intitulado de “A casa do Sr. Domingos”, o livro lúdico-didático que iremos

propor mais à frente terá a estrutura de conto ficcional, remetendo para o clássico tema

da «viagem no tempo», sem que nenhuma informação histórica seja deturpada.

Acreditamos que seja esta uma das melhores estratégias para cativar a atenção dos mais

novos, aliando a aprendizagem ao mundo da imaginação, proporcionando momentos

únicos, enquanto se estabelece uma ligação à Casa Mora.

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2

Como o tema desta dissertação passa sobretudo pelas questões do património e da

educação artístico-patrimonial, iniciaremos este trabalho com um primeiro capítulo

destinado ao estudo da consciencialização sobre a existência do património. Será neste

capítulo que iremos abordar a importância que o património tem na vida do ser humano,

principalmente no que diz respeito ao seu sentido de pertença, de identidade, ao seu

progressivo desenvolvimento e até ao seu equilíbrio psíquico e ao seu bem-estar. Com

base em alguns autores, iremos esclarecer a temática do passado de um sítio, dizendo que

este constitui tudo o que antes se passou naquele mesmo lugar, tudo o que se lê sobre ele

e tudo o que se imagina também. Neste campo, a Casa Mora é palco de memórias de

vivências anteriores às que se vão construindo no dia-a-dia dos serviços municipais, e é

essa «essência» que tentamos resgatar com este trabalho.

Continuando o percurso pelo primeiro capítulo, iremos refletir sobre o conceito de

património, analisar diferentes tipologias, desde o material, ao imaterial, e iremos

debruçar-nos sobre a destruição e a ruína, percebendo que fatores contribuem para que tal

aconteça e em que medida as novas atividades turísticas e culturais dinamizam e

preservam o património histórico-artístico das comunidades. Será abordado de seguida o

conceito de identidade e de herança, onde iremos, muito rapidamente, tentar compreender

a importância de estarmos rodeados de testemunhos do passado e como tal pode favorecer

o nosso quotidiano.

Nos dias que correm, há cada vez mais fragmentação. Os indivíduos andam numa

azáfama constante e muitas vezes não param para refletir sobre diversas questões, sendo

uma das quais a pressa com que observam o património, captando-o apenas através de

uma máquina fotográfica ou de um telemóvel, ou, muitas vezes, nem lhe prestando

atenção. Na continuidade do primeiro capítulo, iremos também debruçarmo-nos sobre a

era contemporânea e analisaremos o comportamento da sociedade face ao passado que

compete contra inúmeros pontos de dispersão.

Com a modernidade, surgiram novas aberturas de consciência e novas iniciativas que

têm como objetivo manter vivo o «espírito dos lugares» e torná-los em polos turísticos

interessantes. No Capítulo I, iremos dar a conhecer algumas dessas atividades que estão

consequentemente ligadas à temática do turismo cultural e à educação patrimonial. São

exemplos a prática do estudo e divulgação da História da Arte, da recriação histórica e

dos roteiros temáticos. Contudo, visto que estas atividades são sustentadas pela

componente pedagógica, mesmo que direcionadas para um público mais velho, iremos

refletir sobre a definição de educação patrimonial, qual a sua importância no

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3

desenvolvimento do ser humano e de que maneira esta pode ajudá-lo a construir a sua

identidade, o seu sentido crítico, a sua sensibilidade estética e a sua consciencialização

quanto à salvaguarda do património.

Seguindo para o Capítulo II, iremos dar a conhecer a Casa Mora aos leitores desta

dissertação, começando por justificar, mais uma vez, a escolha deste edifício como objeto

de estudo para a proposta editorial, e apresentá-lo-emos, enquadrando-o na sua época de

construção. Para que tal aconteça, iremos aproximarmo-nos do Montijo do século XIX,

explorando as atividades económicas que delinearam o traçado urbano, analisando o

quotidiano das gentes da terra e as principais caraterísticas arquitetónicas presentes nas

construções da localidade, para que haja suporte de comparação entre a arquitetura do

imóvel em estudo e as restantes habitações oitocentistas da cidade.

Sendo uma antiga casa nobre, a Casa Mora teve em tempos um proprietário

responsável pela sua existência. De nome Domingos Tavares, este homem foi um grande

proprietário rural na região e Presidente da Câmara Municipal da localidade durante mais

de 20 anos. É sobre a sua história que também nos vamos debruçar, para que se entenda

em que contexto surgiu a casa e por que motivo chegou aos dias de hoje com a atual

designação de «Mora».

Terminada toda a fase de contexto, iremos colocar em destaque, ainda no Capítulo

II, a envolvência espacial da casa, descrevendo as suas fachadas, em termos

arquitetónicos e decorativos; o jardim, tendo em conta a ambiência e os elementos

expostos; e o seu interior, em termos de decoração, de sistema organizacional das plantas

dos diferentes pisos, aludindo para a vida quotidiana do século XIX.

Para finalizar, o terceiro capítulo irá conter em si a proposta editorial “A casa do Sr.

Domingos”, mas para que esta iniciativa contasse com uma boa estratégia de execução,

seria necessária uma introdução teórica acerca dos benefícios da utilização do livro na

infância e conhecer o público-alvo. Assim sendo, no capítulo III, para além de ser

destacado o potencial do livro junto das crianças, irá ser analisado o desenvolvimento

cognitivo dos indivíduos de 7 a 12 anos, os seus principais interesses, bem como as

principais estratégias para tornar um livro o mais prazeroso possível aos olhos destes

pequenos leitores.

Por último, mas não menos importante, será descrito o projeto do livro, onde estarão

delineadas as principais ideias e suas justificações. Começaremos por colocar em

destaque os motivos que nos levaram a adotar o livro como intermediário entre o

património em estudo e a proposta para a sua divulgação, exploraremos as várias

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4

alternativas de narrativa, de linguagem gráfica e de interatividade, para que este livro

perdure na memória dos seus leitores e não caia na monotonia de uma leitura por

obrigação. Por esta dissertação ser teórica, visto que grande parte do seu volume consiste

em estudos, este trabalho não terá incluído um apêndice com o aspeto final da proposta.

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6

I. O PATRIMÓNIO E O CONTRIBUTO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

PARA A VALORIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DOS TESTEMUNHOS DO

PASSADO.

1. A consciencialização da existência do património.

Nos dias que correm, surgem cada vez mais estudos sobre a noção de património,

como por exemplo, dissertações de mestrado, teses e monografias, devido ao crescimento

da consciencialização em torno da importância do estudo desta temática. Tal como afirma

Jorge Amado Mendes, “as questões relacionadas com o património estão na moda e toda

a gente, hoje, invoca o património para justificar um número diversificado de ações ou de

atuações.”1

Ana Martins2 afirma que o interesse pelo património e a consciência da sua existência

parecem estar associados à resistência face à mudança que reside nos indivíduos. Segundo

a autora, essa atitude aparenta ser um dos principais efeitos das constantes transformações

aceleradas da sociedade contemporânea. Quanto mais rápidas e generalizadas são essas

transformações, mais se manifesta a necessidade de enraizamento e de aproximação ao

passado. Através dessa necessidade, os indivíduos tendem a retirar elementos que lhes

permitam situar-se no mundo contemporâneo, a partir da relação com os lugares

históricos, monumentos e ruínas, transmitindo-lhes assim a sensação de segurança e de

familiarização com o meio a que pertencem.

O mesmo salienta Jorge Pais da Silva, referindo que “o equilíbrio psíquico do ser

humano exige no dia-a-dia da sua existência de trabalho e de lazer, de alegria e de dor,

referências históricas, balizas que assinalam as raízes donde provém. (…).”3

Concordamos com Pais da Silva, pois “a atmosfera definida pelo passado (…) confere ao

habitante local o sentimento de segurança das coisas estáveis, dos objetos conhecidos, do

ar de família.”4

1 MENDES, J. – Estudos do Património: Museus e Educação”, p. 11. 2 Em “A protecção do património Arqueológico: proteger o quê, como e porquê. Reflexões a partir do

direito do património cultural e do ambiente”, p. 4. 3 SILVA, J. Pais da – Pretérito Presente. Para uma teoria da preservação do Património Histórico-Artístico,

p. 28. 4 Idem, ibidem.

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Na realidade, o cenário histórico auxilia na resistência do ser humano ao isolamento,

pois funciona como articulação entre as diferentes gerações sociais, conferindo-lhes

hipóteses de continuidade. A cada geração cabe o compromisso de transmitir, nas

melhores condições possíveis, o espólio histórico-artístico herdado e construído

coletivamente ao longo de séculos, por vezes de forma bastante penosa.

Tal como Pais da Silva, também nós acreditamos que o Homem que desconhece o seu

passado se sente desamparado, desequilibrado e incompleto. A memória coletiva deve ser

entendida como uma peça fundamental do progresso humano, visto que ao olharmos para

o passado, enriquecemos o futuro5. Nesta matéria, Virgolino Jorge6 completa-nos este

raciocínio, referindo que o Homem necessita de memórias e de interiorizar o passado.

Como ser cultural e coletivo que é, o ser humano não conseguirá evoluir sem referências

passadas e sem o sentimento de tradição e de costume.

Para Vítor Oliveira Jorge7, o passado de determinado sítio é múltiplo, é o que cada

um de nós retira da experiência de diálogo com ele, do que leu sobre ele, ou do que

conseguiu percecionar através da imaginação. Já Guilherme d’ Oliveira Martins refere-se

ao passado como uma «aura» que identifica determinado espaço. Segundo Martins, “as

casas, os lugares, as regiões, os povos, as nações têm um espírito, sempre feito de

diferenças e de interdependência. Temos, por isso, de entender o «espírito dos lugares» e

de transformar essa compreensão num modo de nos enriquecermos culturalmente a partir

do diálogo entre o que recebemos dos nossos antepassados, (…).”8

De acordo com a teoria de Guilherme Martins, e no caso específico do património que

nos propusemos a investigar, podemos afirmar que todo ele está revestido pelo «espírito»

de um passado de vivências familiares e sociais. Temos consciência da ocorrência de

alguns deles, devido a documentação que o comprova, mas tantos outros se escaparam,

deixando apenas como testemunhas as paredes da Casa Mora. Este facto transforma o

imóvel num lugar «mágico», visto que a nossa perceção e a nossa imaginação guiam-nos

até à época de construção e de ocupação do imóvel e levam-nos a tentar compreendê-lo

e estimá-lo.

É claro que nem em todos os sítios se atribui o mesmo valor a determinados elementos

do passado. Queremos com isto dizer que o que uma comunidade considera património,

5 PIRES, J. – Produção Audiovisual. Um processo de desenvolvimento da capacidade de expressão e

comunicação visual em educação patrimonial, p. 31. 6 Em “Património: memória e identidade”, p. 800. 7 Em “Encenações do passado: coreografia de sítios arqueológicos”, p. 74. 8 MARTINS, G. – Portugal: memória, património e cidadania, p. 24.

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outra pode não o reconhecer como tal, fazendo com que este conceito não tenha um valor

único e definitivo.

De acordo com Jorge Amado Mendes9, o património acompanhou o contexto

histórico, social ou cultural da época em que foi perspetivado, acabando por variar ao

longo dos tempos. Assim, aquilo que em determinada altura era estimado de forma

especial por uma população, noutras épocas e noutras comunidades, pode ser

secundarizado ou até mesmo destruído. Deste modo, o património apresenta-se como uma

construção de cada geração.

De acordo com Vítor Oliveira Jorge10, esta ideia de património só existe, porque nós,

enquanto humanos, o inventámos e reinventámos continuamente, colocando-o sob a

necessidade urgente de salvaguarda. A sua definição tem sido alterada ao longo dos

tempos pelos indivíduos, mas tem vindo a ser considerado sobretudo como expressão e

sobretudo como testemunho dos valores dos nossos antepassados11.

Segundo José Bravo12, património é tudo aquilo que sentimos como tal, podendo

incluir qualquer tipo de herança que nos tivesse sido deixada, sendo esse o motivo da

alteração do conceito ao longo dos tempos. Com base nesta afirmação, levanta-se outra

questão: tudo aquilo que uma pessoa sente como património, outra poderá não sentir, ou

seja, um monumento/objeto patrimonial poderá estar a salvo na consciência de uma

pessoa, enquanto pode nunca vir a estar, nas mãos de outra.

Este pensamento leva-nos a outros caminhos, pois, assim sendo, poderão ser também

considerados património os simples documentos e objetos pessoais que tenham sido

estimados e guardados durante gerações, no seio familiar, se forem sentidos como tal

pelos seus tutores. É aqui que somos confrontados com dois tipos distintos de

interveniência por parte do indivíduo: ou esses documentos/objetos continuarão a ser

zelados e ampliados em número, ao longo do tempo, ou irão perder-se definitivamente.

Vítor Jorge13 afirma que o património tanto pode ser uma forma de opressão, como

de libertação, enquanto instrumento de criatividade, apenas nos compete a nós escolher e

9 Em “Estudos do Património: Museus e Educação”, p. 263. 10 Em “Encenações do passado: (…)”, p. 66. 11 MARTINS, G. – Portugal: memória, património e cidadania, p. 28. 12 Em “Um instrumento da Gestão de Património. Inventariação do Património Cultural, uma abordagem

teórica e prática no concelho de Cascais”, p. 13. 13 Em “Património, neurose contemporânea? Alguns apontamentos sobre o papel da memória coletiva na

Idade da Fragmentação”, p. 21.

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distinguir o que serve para conservar, em que memórias queremos ancorar a nossa

identidade e o que iremos às gerações vindouras.

Nesta matéria, e de acordo com Pais da Silva, “nem tudo o que é antigo no domínio

do património histórico-artístico merece ser conservado (…).”14 O autor refere que o

caminho não deve ser tomado pela sobrevalorização exclusiva dos objetos do passado,

pois temos que adotar uma posição de exigência connosco próprios e com o que vai

surgindo. Acreditamos que, ao adotarmos este tipo de atitude, permitimos que o presente

em construção substitua passados que talvez já não façam sentido para nós. Por sua vez,

tudo aquilo que construímos no presente, também tem todo o direito em ser

salvaguardado, a fim de chegar ao futuro próximo.

Assim sendo, o respeito que deve envolver os nossos testemunhos ancestrais, passa

indiscutivelmente por tudo o que nós deixamos também de nosso às gerações seguintes.

Como salienta, mais uma vez, Pais da Silva, “a vida não pode parar”15, e também nós

iremos ser testemunho do passado, num futuro que se avizinha.

Segundo o referido autor, a vida contemporânea está cheia de exigências que podem

e devem ser satisfeitas. Pais da Silva revela-nos que “muitas destruições são aceitáveis

sem que com isso fique de modo algum prejudicado o progresso material das populações,

a indispensável modernização da vida, ou a satisfação das necessidades sociais da

comunidade.”16 É claro que para que este equilíbrio entre a preservação do passado e a

resposta à contemporaneidade possa acontecer, é necessário que cada cidadão,

empenhado no esforço da salvaguarda do património, tenha lucidez suficiente para decidir

o que deverá ser ou não deixado.

Acreditamos que cada indivíduo, e em particular aquele que poderá estar relacionado

com o sistema governativo das comunidades, ou com a área da educação – ao nível da

arte e da história –, deve ter consigo qualidades de ponderação, de sensibilidade e de

discernimento. Tem de ser um cidadão com iniciativa, com experiência visual e com um

forte sentido de serviço à comunidade17. Dando um exemplo dessa ponderação, podemos

destacar o restauro e a conservação de património edificado, cujas funções originais já se

tivessem perdido, pois, é quase sempre menos dispendioso adaptar a novas funções

14 SILVA, J. Pais da – Pretérito Presente. (…), p. 24. 15 Idem, ibidem, p. 25. 16 Idem, ibidem, p. 31. 17 Idem, ibidem, p. 26.

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imóveis antigos com um certo interesse histórico-artístico, do que construir um edifício

novo para o mesmo efeito18.

Sobre este assunto, Vítor Jorge contesta, dizendo que a modernidade se manifesta na

vontade de construir algo novo, o que implica a destruição do antigo ou a sua integração

no moderno, apenas para que haja pequenas referências históricas. Este autor termina a

sua ideia, dizendo que aparentemente existe uma negação do tempo “(…) de corte com o

passado, através não da conservação e colocação da realidade em redoma, mas da

destruição, da vontade de fazer tábua rasa e de imitar o demiurgo ou Criador,

recomeçando (…) a História, o futuro todo (…).”19

Segundo Jorge, há que fazer do património, não uma “herança pesada, mas um valor

dinâmico, incorporado e vivenciado coletivamente e voltado para a nossa felicidade e

para a requalificação do nosso quotidiano”20, de modo a que as pessoas se sintam

genuinamente interessadas em conhecer, preservar e acarinhar o que lhes foi deixado.

Posto isto, cremos que, desde que haja respeito e consideração, cada um de nós tem a

liberdade de poder escolher aquilo com que se identifica. Um pouco ao encontro do que

nos diz José Bravo, cada um de nós tem o direito de sentir, sem obrigações, aquilo que é

para si o património, visto que esta ideologia aparenta estar ligada à apreciação estética,

ou seja, à estesia provocada por determinado local ou objeto, sempre diferente em cada

pessoa.

No fundo, e de acordo com o que já referimos, o património reflete tudo aquilo que

faz com que cada comunidade seja única e facilmente distinta das restantes, tratando-se

da sua identidade. Para Maria Pinto, o património “é expressão de uma comunidade, da

sua cultura, (…), sendo por isso um fator identitário”21.

1.1. O património enquanto identidade.

O conceito de identidade refere-se às diferentes características que nos tornam

ímpares e nos diferenciam uns dos outros em vários níveis. Podemos começar por falar

da noção de identidade individual, ou seja, o «eu», aquilo que define cada um de nós

18 Idem, ibidem, p. 29. 19 JORGE, Vítor – Património, neurose contemporânea? (…), p. 23. 20 Idem, ibidem. 21 PINTO, M. – Educação histórica e patrimonial: conceções de alunos e professores sobre o passado em

espaços do presente, p. 10.

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enquanto pessoa, e este facto determina consequentemente a existência de um «outro»,

um «eu» alheio ao nosso. Porém, estas duas dimensões podem relacionar-se entre si, pois,

quando o «eu» é conjugado com vários «outros», estabelece-se a identidade coletiva, ou

seja, a noção de «nós», que acaba por ser também distinta de outras identidades coletivas,

«eles»22.

Posto isto, conseguimos entender que não só existe unicidade em cada um de nós,

como também a encontramos em cada grupo, e a junção de diversas comunidades

estabelece, por fim, a identidade nacional, aquela que é comum a toda uma nação, sendo

pertença de todos. Conseguimos então perceber que as identidades são múltiplas, podem

começar pelo nosso ADN, mas passam inevitavelmente pela história de cada um de nós,

enquanto indivíduos, e pela história de cada grupo, enquanto comunidade.

Segundo Maria Pinto23 e Maria Horta24, este fio condutor de memória define o

desenvolvimento do sujeito no tempo e distingue-o de outros sujeitos, tendo em linha de

conta a sua interação com o meio envolvente, pois um indivíduo constrói a sua própria

identidade quando aprende a fazer parte de um grupo.

Devido a tantas divergências contidas no mundo da identidade, tem que existir

obrigatoriamente uma capacidade de “aceitação do outro, do diferente, permitindo

compreender a dinâmica e a complexidade das relações sociais no respetivo contexto.”25

É aqui que nos permitimos conhecer e darmo-nos a conhecer aos nossos opostos,

respeitando-nos mutuamente, com a certeza de que não existem culturas mais importantes

do que outras.

Tal como nos diz Guilherme d’ Oliveira Martins, “as identidades só ganham pleno

sentido quando [estão] abertas e disponíveis para dar e receber, e para assegurarem um

permanente diálogo entre a tradição e a modernidade.”26 Martins reforça esta sua última

afirmação, constatando que a nossa sociedade é por norma conflitual, por isso “importa

promover a igual consideração e o respeito como valores fundamentais da sociedade

aberta.”27

Com o passar do tempo, a singularidade inerente a cada indivíduo e a cada grupo

acaba por ir sofrendo mudanças na sua estrutura. A nível pessoal, podemos dizer que, aos

22 Idem, ibidem, p. 9. 23 Em Idem, ibidem. 24 Em “Guia básico da educação patrimonial”, p. 5. 25 PINTO, M. - Educação histórica e patrimonial: (…), p. 10. 26 MARTINS, G. – Portugal: memória, património e cidadania, p. 23. 27 Idem, ibidem, p. 25.

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poucos, tanto a nossa mentalidade, como a nossa personalidade evoluem e determinam

as nossas escolhas e todo um percurso com variadas experiências de vida que serão

sempre diferentes de «eu» para «eu». A um nível mais global, o fio condutor de memória

coletiva acaba por se modificar também, pois, há sempre tradições que se perdem ou

reinventam, e até mesmo, monumentos identitários de determinadas populações que

cedem o seu lugar a outros, ou se reconstroem sob novos ideais, consoante as vicissitudes

encontradas nas diferentes épocas e as respetivas alterações do gosto.

No domínio desta questão, deparamo-nos com Vítor Serrão28 que nos diz que é natural

que haja destruição, pois, como tudo o que é finito nesta vida, as construções e as obras

de arte também envelhecem e definham, a menos que haja um programa de restauro,

vontade política e medidas cautelares que atrasem esse processo. Para o autor, existem

imensos fatores que auxiliam a ruína e o abandono do património. A perda das funções

de origem dos espaços e a desvalorização da marca estilística, as guerras e as invasões

estrangeiras, as catástrofes naturais e os incêndios, a má gestão dos bens e as fracas

campanhas de restauro, a inconsciência das tutelas e a ambição do ser humano, o

vandalismo sistemático, a desmemória de muitas comunidades e a falta de instrumentos

legais de prevenção de preservação e de salvaguarda são alguns deles. Jorge Pais da

Silva29 salienta também os principais fatores da degradação do património, entre os quais

se encontram a ignorância, o alheamento e a cobiça do Homem, os interesses unicamente

comerciais e a falta de formação generalizada dos valores culturais, o peso da burocracia

e o comodismo que se instalou nas pessoas.

O património renova-se e enriquece-se, mas essas mudanças não precisam de ser

inevitavelmente marcadas por ondas de destruição ou por abandono sem critério30.

Atualmente, e para além da tomada de consciência acerca da existência do passado e da

constante procura em se estabelecer uma ligação com ele, afirma-se ainda uma clara

tendência para o desrespeito por esse legado.

No nosso dia-a-dia, podemos deparar-nos com situações de puro desconhecimento da

nossa história e com a própria vandalização ou destruição propositada dos testemunhos

do passado. Aparentemente, esta falta de respeito surge em maior número por parte dos

jovens que praticam atos maldosos de vandalismo em obras expostas ou em património

edificado, sem terem consciência de que é errado danificar algo que é pertença de todos.

28 Em “Portugal em ruínas. Uma história cripto-artística do património construído”, pp. 11-13. 29 Em “Pais da – Pretérito Presente. (…)”, pp. 26-27. 30 SERRÃO, V. - Portugal em ruínas. (…), p. 30.

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Margarida Calado esclarece esta questão em algumas das suas obras31, onde refere a

importância do ensino da História da Arte como arma principal no combate contra este

paradigma.

São muitos os casos de patrimónios histórico-artísticos que se encontram sob ameaça

de roubo, de descuido, de esquecimento, de abandono e de ruína. É, portanto, verdade e

lugar-comum dizer-se que o património suscita cuidados e impõe medidas cautelares.

Para além do estudo, é imperativo que haja divulgação.

A ruína assume agora conotações de culpa, abandonando a ideologia melancólica que

o Romantismo lhe atribuiu. Hoje, ao olharmos para uma ruína, já não perspetivamos a

ideia de fim/viragem de um ciclo da História, constatamos antes que “pouco ou nada se

fez para evitar a desonra e a indignidade.”32

A sociedade contemporânea aparenta estar tão distraída que acaba por não se

aperceber do que se passa à sua volta, sendo os destroços que atualmente podemos

encontrar, um pouco por todo o nosso país, testemunhas de abandono e de desmemória.

Cada um de nós tem a responsabilidade de colaborar com a defesa do património, e tal

como nos diz Pais da Silva, “ninguém tem o direito de se sentir dispensado ou de querer

delegar essa tarefa em outrem (…).”33

1.2. O património enquanto herança.

Para Maria Pinto34, a palavra “património” esteve desde sempre conectada aos valores

de pertença, pessoal ou universal, associados às ideias de herança paterna e de bens de

família, acabando por nos definir através de determinadas posses. Com o passar do tempo,

este conceito acabou por integrar também os bens culturais, ligando diversas dimensões

e dando prioridade a tudo o que fosse edificado, pois é essa tipologia que se impõe de

forma mais imediata. Assim, o património representa tudo aquilo que nos é intimamente

significativo, tanto a nível familiar, como nacional.

É considerado património todo o resultado de uma seleção que tem como objetivo

colocar em destaque determinados elementos, móveis ou imóveis, na categoria de objeto

31 Por exemplo: “Porque ensinar História da Arte” e “Educação artística e respeito pelo património

histórico”. 32 SERRÃO, V. - Portugal em ruínas. (…), p. 37. 33 SILVA, J. Pais da – Pretérito Presente. (…), p. 28. 34 Em “Educação histórica e patrimonial: (…)”, p. 9.

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patrimonial, ou de um acontecimento marcante, pertencente à narrativa da história de um

povo, de modo a que as gerações vindouras observem os seus antepassados através dos

testemunhos que lhes foram deixados35.

Ao longo do tempo, esta prática foi obedecendo a diferentes critérios e a um conjunto

de regras, tendo em conta a noção do que era, ou não, considerado património aos olhos

dos eruditos das diferentes épocas. Podemos dizer que a ideia de património continua a

alterar-se em conformidade com as diferenças culturais, políticas, sociais e económicas

que separam as épocas e as comunidades36.

Segundo Margarida Calado37, e de acordo com o ponto de vista legislativo, as

primeiras iniciativas de reconhecimento das heranças do nosso passado português

surgiram em alvará com data de 30 de Agosto de 1721, durante o reinado de D. João V.

Nessa altura, eram considerados património os edifícios; as estátuas e os mármores; as

medalhas e as moedas; e os cipos e as lâminas com figuras ou inscrições esculpidas.

Estabeleceu-se desde logo um espaço cronológico – desde os Fenícios, até ao reinado do

rei D. Sebastião –, cujo património nele integrado seria alvo de proteção por parte das

autarquias locais. A responsabilidade financeira na conservação destes valores históricos

fazia-se por parte da Academia de História, e recorria-se a penas significativas aos que,

de algum modo, destruíssem as peças referidas.

Alexandre Herculano escreveu alguns artigos para o jornal “O Panorama”38, onde

destacou de forma clara a importância da salvaguarda do património, sensibilizando a

opinião pública nacional para a conservação dos monumentos e denunciando o

vandalismo, que já se fazia sentir em pleno século XIX. Muito perto do fim da monarquia,

foi estabelecido um consenso sobre o conceito de monumento e iniciaram-se os trabalhos

de inventariação e de levantamento científico sobre edifícios e objetos com valor

arqueológico, histórico e artístico, no qual colaboraram as Câmaras Municipais.

Durante a Primeira República, passou a considerar-se importante o papel da educação

enquanto depuradora dos conceitos de obra de arte e de objeto arqueológico, de modo a

que começasse a circular “o melhor empenho em despertar e manter no espírito dos alunos

(…) o respeito por todos os monumentos, e pela própria paisagem nacional, e (…)

procurar dar aos outros o conhecimento conveniente da origem e valor histórico de tais

35 PIRES, J. – Educação patrimonial e produção audiovisual, p. 251. 36 BRAVO, J. – Um instrumento da Gestão de Património. (…), p. 18. 37 Em “Portugal detentor da segunda mais antiga legislação da Europa sobre Património”, pp. 1-3. 38 Nos números 69 e 70, de 1838, e nos números 93 e 94, de 1839. Em BRAVO, J. – Um instrumento da

Gestão de Património. (…), p. 24.

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monumentos, de maneira a firmar nos educandos o caráter cívico e patriótico, ao mesmo

tempo que se lhes desenvolve o gosto e amor pela arte”39.

Já durante o Estado Novo, foram revistos os mecanismos de classificação dos

monumentos nacionais, bem como o próprio conceito, e foi imposta a primeira disposição

legal moderna que regulamentava a prática de escavações arqueológicas. Em 1972, foi

aprovada a “Convenção para a Protecção do património Mundial, Cultural e Natural”, da

Unesco, onde já se constatava que o património estava em constante ameaça de

destruição, não apenas pelas causas naturais, “mas também pela evolução da vida social

e económica que as agrava através de fenómenos de alteração ou de destruição ainda mais

importantes.”40 Porém, apenas com a chegada da Revolução de Abril, é que o conceito

tradicional de património se alargou na sua totalidade. Foi nessa altura que se abriram

portas a novos entendimentos e se tornou possível a aposta significativa em associações

de defesa do património cultural e na educação patrimonial.

Durante algum tempo, eram considerados herança apenas os bens materiais,

descurando-se a importância da preservação das práticas imateriais, transmitidas de

geração em geração e de mestres para aprendizes. Atualmente, o património estende-se

em diversas tipologias, entre as quais, a forma imaterial, que já foi incluída nas

preocupações quanto à salvaguarda do nosso legado.

De acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, de

2003, da UNESCO, as formas incorpóreas de herança cultural passam pelas “práticas,

representações, expressões, conhecimentos e competências – bem como os instrumentos,

objetos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades,

grupos e, eventualmente, indivíduos reconhecem como fazendo parte do seu património

cultural.”41

É uma tipologia de património que se encontra em constante recriação por parte das

comunidades e grupos, em função do seu meio envolvente, conferindo-lhes um sentido

de identidade e de continuidade. Podemos considerar ainda como património imaterial,

todas as tradições e expressões orais; as artes do espetáculo; as práticas sociais; rituais; e

atos festivos, bem como os conhecimentos e as técnicas artesanais tradicionais42.

39 A partir de uma circular distribuída por João de Barros, em 1915. Excerto citado em BRAVO, J. – Um

instrumento da Gestão de Património. (…), p. 25. 40 UNESCO – Convenção para a Protecção do património Mundial, Cultural e Natural, 1972, p. 1. 41 UNESCO – Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. Artigo 2º, ponto 1. 42 Idem, ibidem. Artigo 2.º, ponto 2.

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Já o património material, aquele que sempre se reconheceu por ser físico e sobretudo

edificado, passa pelos monumentos. Segundo Jorge Amado Mendes43, a palavra

“monumento” deriva do latim monumentum, termo que por sua vez provém de monere,

que significa recordar, o que por si só já nos remete para a questão da memória. Mendes

refere ainda que ao se edificar um monumento, o que se pretende é perpetuar aquilo que

ele próprio testemunha, como por exemplo uma homenagem a determinados

acontecimentos ou personalidades.

Esta teoria é reforçada por Françoise Choay44, que afirma que pode ser considerado

monumento todo o artefacto edificado por uma comunidade para que esta se recorde a si

mesma, ou seja, reveja os seus acontecimentos, sacrifícios ou crenças. É este tipo de

património que tranquiliza e apazigua o medo do esquecimento e da aniquilação,

assegurando determinadas memórias, tais como as origens dos indivíduos. Atualmente, o

património edificado é muito vasto. Chega-se a incluir tanto os edifícios isolados, como

os grandes conjuntos construídos, tais como os bairros ou cidades inteiras45.

Na “Convenção para a Protecção do património Mundial, Cultural e Natural”, de

1972, a Unesco considerou como património cultural os monumentos, destacando-se por

serem obras arquitetónicas de escultura ou de pintura, por serem elementos ou estruturas

de caráter arqueológico e por serem elementos com valor universal do ponto de vista

histórico, artístico ou científico. Nesta convenção, a Unesco destacou também os

conjuntos, classificando-os como grupos de construções, isolados ou reunidos, de valor

excecional em virtude do ponto de vista arquitetónico, histórico, ou científico. Foram

também considerados património todos os possíveis locais de interesse, chamados de

obras do Homem, conjugados, ou não, com a natureza e com os locais arqueológicos de

importância histórica, estética, etnológica ou antropológica46.

É através da observação dos monumentos que nos apercebemos da quantidade infinita

de história que determinada povoação possui, pois, não só ficamos a conhecer alguns dos

variados estilos arquitetónicos que perduraram em diferentes épocas, como imaginamos

aquele lugar no seu tempo, tal como as diversas dificuldades passadas para o consolidar.

Assim, promovemos a sensibilidade quanto à proteção dessa herança e estimulamos a

apreciação estética.

43 Em “Estudos do Património: Museus e Educação”, p. 15. 44 Em “Alegoria do Património”, p. 71. 45 Idem, ibidem, p. 69. 46 UNESCO – Convenção para a Protecção do património Mundial, Cultural e Natural, 1972, Artigo 1.º.

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Quando falamos de património edificado, temos obrigatoriamente que incluir o meio

que o envolve. Queremos com isto dizer que até o espaço natural em torno das

edificações, por exemplo, pode ser considerado de herança. A Unesco chega a defini-lo

como “monumentos naturais”47, incluindo as formações físicas e biológicas, geológicas

e fisiográficas; as zonas estritamente delimitadas que constituem habitat de espécies

animais e vegetais ameaçadas; e os locais de interesse naturais ou zonas naturais

estritamente delimitadas, com valor universal excecional do ponto de vista da ciência, ou

da beleza natural48.

Ainda no âmbito do tema do património natural, Ana Duarte49 salienta que a relação

dos jovens com a natureza é fundamental. A autora diz-nos ainda que é igualmente

imprescindível a realização de visitas guiadas a áreas a proteger e a elaboração de fichas-

guias, de roteiros turístico-culturais e de brochuras que tenham como objetivo a

divulgação do património natural.

Segundo José Bravo50, o património pode ser dividido em diferentes categorias, tais

como: património rural e urbano; património científico, tecnológico, industrial e

ferroviário; património empresarial e operário; património do gás, da eletricidade e da

água; património mineiro, florestal e natural; e património literário, artístico e

museológico. Como podemos reparar, o conceito alargou-se a um extremo tal que se

tornou vulgar a questão da sustentabilidade da salvaguarda dos lugares onde está inserido,

sendo este o resultado da tomada de consciência quanto aos direitos e deveres da

comunidade perante o espaço que ocupa.

Atualmente, as populações também fazem parte dos processos de gestão e de

educação patrimonial, contribuindo e desenvolvendo ideias para a preservação dos seus

legados, pois há cada vez mais estudos, iniciativas e ações que se refletem nesta temática

do património, como afirmamos de início. Porém, como conseguimos despertar nos

indivíduos tal consciência? Acreditamos que a educação patrimonial desempenha um

papel fundamental de forma muito clara.

47 UNESCO – Convenção para a protecção do Património Mundial, Cultural e Natural. Artigo 2.º. 48 Idem, ibidem. 49 Em “Educação Patrimonial: guia para professores, educadores e monitores de museus e tempos livres”,

p. 14. 50 Em “Um instrumento da Gestão de Património. (…)”, p. 18.

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18

2. O reconhecimento dos bens patrimoniais e a importância da sua salvaguarda.

Começámos este capítulo com o tema da consciencialização quando à existência do

património e percebemos que o ser humano precisa de referências históricas para

conseguir evoluir, reinventar-se e integrar-se. Neste contexto, constatámos que

salvaguardar o passado é, antes de mais, enriquecer o futuro, pois as referências que nos

foram deixadas pelos nossos antepassados permitem-nos situar a nossa existência no

tempo presente.

Com a preservação do património, tornamo-nos pessoas integradas no meio a que

pertencemos, portadores de um sentido de segurança e de pertença. Ter noção do passado

faz com que o nosso conhecimento fique mais rico e podemos assim entender, ou

imaginar, por exemplo, como seria a vida, a mentalidade e o gosto do Homem nas

diferentes épocas da sua história, quais as dificuldades por que este passou e que saberes

e tradições foram transmitidos de geração em geração.

É possível que algumas pessoas não entendam estes valores identitários, tão

importantes para o ser humano. Acreditamos que a constante na azáfama em que vivemos

no nosso dia-a-dia seja a razão inerente a esse facto, pois faz-nos sentir o forte desejo de

abrigarmo-nos no passado, mas não nos permite contemplá-lo.

É certo que olhar o passado não nos transporta para acontecimentos exclusivamente

felizes. No domínio da realidade pessoal e interpessoal, todos temos certamente

recordação de situações menos boas da nossa história, seja porque não nos orgulhamos

de certos eventos, ou, porque os mesmos foram considerados como extremamente difíceis

de ultrapassar. Porém, se tais acontecimentos pudessem ser eliminados da nossa história,

o fio condutor de memória iria levar-nos a um presente completamente diferente daquele

que conhecemos.

Tal situação também se revela na realidade nacional. Há património que pode estar

em risco, ou até mesmo já nem existir, porque os indivíduos pretendiam não se recordar

de determinados eventos da história da sua nação. Como exemplo desta tentativa de

apagar o passado, temos as alterações de topónimos de ruas, ou de pontes, cuja anterior

designação estava ligada à ditadura salazarista. É do conhecimento geral da nação que a

atual Ponte 25 de Abril se denominava de Ponte Salazar, antes da Revolução de Abril.

Este exemplo relata uma situação de mudança, não de destruição permanente de

património, mas é um indicativo de tentativa de esquecimento do passado, por este ter

sido talvez demasiado penoso aos olhos dos indivíduos. Na matéria da danificação,

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Virgolino Jorge51 diz-nos que são destruídos constantemente fragmentos da história da

humanidade, mas em muitos dos casos, estes elementos são eliminados sob critérios de

singularidade, pois a vida quotidiana das comunidades seria impossível e paralisante se

estivessem repletas de excessivas memórias, acumuladas ao longo de gerações.

O património não é só importante para o desenvolvimento do ser humano, enquanto

ser cultural, mas também é relevante para o crescimento económico das populações. Os

projetos de salvaguarda, de reanimação do património e de educação patrimonial podem

gerar novos postos de trabalho em diferentes setores, tais como o do restauro e o das

novas publicações de divulgação, que podem levar à abertura de novos museus, à guarda

e à manutenção de peças e às visitas orientadas. A proteção do património e a sua

conservação podem gerar também um maior desenvolvimento do turismo interno e

internacional, o crescimento das indústrias de hotelaria, de restauração e de transportes

coletivos e a valorização do artesanato e do comércio local.

Estas questões relacionadas com a vertente económica do património têm vindo a ser

estudadas por pessoas do meio e têm sido equacionadas, a fim de serem exploradas as

suas potencialidades quanto ao desenvolvimento local. A salvaguarda do património

passou a ser uma área que não só determina o conhecimento e a valorização dos valores

histórico-artísticos e culturais das populações, como também passou a assegurar o

desenvolvimento económico ligado ao turismo cultural52, aparecendo novas soluções que

gerem novas atividades.

O turismo cultural tem como principais alicerces os próprios museus e a visita de

diferentes públicos a todo o tipo de património construído. A prática do turismo cultural

induz a dinamização das instituições museológicas, hoteleiras, as transportadoras e a

gastronomia, criando empregos e desenvolvendo a economia local.

Tal como Margarida Calado, também nós acreditamos que “um conhecimento

razoável da arte nacional pode auxiliar o desenvolvimento do turismo (…) e contribuir

também para o desenvolvimento das economias locais”53. Cremos que a iniciativa que irá

ser apresentada nesta dissertação, ligada à tentativa de divulgação do edifício do Museu

Municipal do Montijo, a Casa Mora, poderá produzir um efeito de maior procura e de

estima por parte da comunidade, atraindo cada vez mais visitantes.

51 Em “Património: memória e identidade”, p. 799. 52 MENDES, J. – Estudos do Património: Museus e Educação, p. 16. 53 CALADO, M. – Porque ensinar História da Arte, p. 61.

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3. A educação patrimonial e as principais iniciativas.

Para que os projetos de valorização e de salvaguarda do património aconteçam, é

necessário que sejam estudados primeiramente os valores históricos, artísticos e culturais

das diferentes regiões, edificações, objetos patrimoniais ou tradições, para que tais

conhecimentos possam ser transmitidos. O conhecimento da história e do património

locais é um importante ponto de partida para compreender e respeitar os restantes

patrimónios, pois todo aquele indivíduo que estima o seu legado poderá aprender mais

rapidamente a respeitar o dos outros. A educação patrimonial visa promover esse

reconhecimento e essa valorização dos bens patrimoniais, de modo a que as populações

fiquem cientes dos espaços que as rodeiam e sintam por eles afinidade.

Trabalhar a educação patrimonial é desenvolver a educação artística, visto que a arte

poderá obter a categoria de património histórico54. De geração em geração, o Homem foi

deixando sinais, apropriava-se dos lugares e materializava as suas alegrias, as suas dores,

as vitórias, as derrotas e as crenças. Estas obras de arte constituem parte do grande grupo

a que chamamos de património.

A educação artística, aliada à educação patrimonial, poderá fornecer ferramentas à

comunidade que lhe permitam olhar de forma mais atenta para aquilo que a rodeia no seu

quotidiano e acreditamos que essa estabilidade é necessária para o equilíbrio do ser

humano, como já tivemos oportunidade de constatar. Na sociedade contemporânea, onde

há diversas atrações ligadas diretamente ao consumismo e à tamanha variedade de

produtos interativos, torna-se pouco comum prestarmos atenção aos objetos imóveis, ou

às edificações com que nos cruzamos.

Tendo como exemplo a malha urbana das cidades, constatamos que são espaços com

uma grande concentração de património histórico-artístico, porém, as informações visuais

– tais como os anúncios, as montras das lojas, o grande número de transportes públicos e

turísticos, entre outros –, aparentam estar em permanente competição pela nossa atenção,

e torna-se difícil focarmo-nos unicamente nos elementos patrimoniais, apreciando-os.

Devido à intensidade com que se vive no ambiente citadino, muitas vezes o nosso

entendimento desse espaço é simplesmente confuso, extremamente carregado de

informação. A educação visual ajuda os indivíduos a organizarem tudo aquilo que é visto,

54 RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na Educação Patrimonial. Projeto editorial sobre

património histórico-artístico de Lisboa, p. 6.

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de modo a que o mundo da arte e do património possa desenvolver-se em conjunto com

o grande mundo da audiência, do espetáculo, do consumismo e do excesso.

Tal como nos diz o escultor Rui Chafes, “vivemos numa época sem estética. Não

temos falta de imagens, bem pelo contrário, sofremos a excessiva e invasora proliferação

de imagens.”55 Para Chafes, a quantidade insana de imagens que invadem o nosso

quotidiano e competem pela nossa atenção deixa-nos completamente intoxicados com

uma estética sedutora, que pode ser encontrada na televisão, na publicidade, nos posters

e nos videoclips.

Segundo o autor, somos constantemente assaltados pela vulgaridade, pelos clichés e

pelo vazio, a partir do qual nada se cria. A arte exprime a necessidade do Homem se sentir

em equilíbrio e em harmonia consigo mesmo, e, portanto, é “essencial continuar a

transportar a chama, a preservá-la, a salvá-la cuidadosamente, a passá-la a alguém que

há-de vir, a mantê-la acesa.”56

Para apreciar o património, também é necessário que o indivíduo tenha vontade de o

fazer, que tenha curiosidade de saber mais, dependendo daquilo que consegue

percecionar. Nos dias que correm, qualquer lugar designado de polo turístico tem como

principal característica a sucessiva enchente de pessoas, o que por si só já dificulta a

concentração na apreciação do património. Cada indivíduo costuma trazer consigo uma

máquina fotográfica, ou um tablet, com o objetivo de registar o momento e o espaço.

Uma vez feito esse registo, o comum é seguir-se imediatamente em frente, em busca de

outro momento e de outro espaço merecedores de serem captados57. Desta forma,

experienciar o património, hoje em dia, tornou-se uma sucessão de eventos momentâneos,

onde os indivíduos não chegam sequer a ter tempo para usufruir do passado, muito menos

para o entender ou apreciar.

A sociedade em que vivemos carateriza-se por ser fragmentada. Aqui, a fragmentação

não se estende apenas às coordenadas da existência humana – espaço e tempo –, mas

também atinge o próprio núcleo das vivências, e, portanto, as identidades. Vivemos

tempos de inquietude, de insatisfação, de aceleração e de incompletude, inerentes ao

consumismo como sistema global58.

55 CHAFES, R. – Entre o Céu e a Terra, p. 57. 56 Idem, ibidem, p. 47. 57 RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na Educação Patrimonial. (…), p. 10. 58 JORGE, Vítor – Património, neurose contemporânea? (…), p. 15.

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Para além dos ritmos quotidianos e sazonais, existe também um «artefacto» que

impede o acesso do indivíduo à sua individualidade/identidade sem que este seja

interrompido: o telemóvel. Este aparelho fratura permanentemente a continuação de

qualquer atividade. O silêncio e o recolhimento, necessários ao autoconhecimento do ser

humano, tornou-se escasso, e leva consigo o tempo necessário para entender o «espírito

dos lugares», de que nos fala Guilherme d’ Oliveira Martins.

O indivíduo vive em constante fracturação, com necessidade de se preencher através

dos outros, não percebendo que assim contribui para a intensificação do seu próprio mal-

estar. Temos tendência em comunicar com os outros de modo a adiar a comunicação

connosco próprios, tentando disfarçar a sensação de vazio. Este fator contribui para que

o ser humano corra de experiência em experiência, de espetáculo em espetáculo, e até, de

pessoa em pessoa, num movimento de fluidez tal que se esquece da sua identidade e de

refletir sobre o passado. É esta a prática que deriva dos media e dos ritmos artificiais que

se impõem na vida contemporânea quotidiana. Obtida uma satisfação, procuramos de

imediato outra, e este paradigma tem consequentemente impactos na maneira como

olhamos o património, que muitas das vezes fica esquecido.

Trata-se da prática do «vale tudo», e a maioria das pessoas desconhece ser vítima

deste sistema, pois apresenta-se sem tempo nem recuo crítico para poder pensar sobre o

assunto. O trabalho da educação patrimonial visa levar crianças e adultos a um processo

de conhecimento, de apropriação e de valorização da sua herança cultural, capacitando-

os para o melhor usufruto dos seus bens, e abrindo-lhes as consciências, para que os

testemunhos do passado sejam transmitidos às gerações seguintes59.

Hoje em dia, se não houver um esforço para que haja materiais, como os livros, os

documentários, ou os guias, eficazes na transmissão de conhecimentos e na estimulação

do interesse, corre-se o risco de que cada vez mais sejam apagadas memórias da história

da humanidade, apesar de algumas delas não nos trazerem orgulho. A educação artística

e patrimonial tem como objetivo levar essa informação de uma forma clara e acessível a

todos os tipos de público, para que se sintam sensibilizados pela salvaguarda dos valores

patrimoniais. É um instrumento de alfabetização cultural que ajuda o indivíduo a fazer

uma leitura mais eficaz do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo

sociocultural e histórico-temporal desse lugar a que pertence.

59 PIRES, J. – Produção Audiovisual. (…), p. 45.

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Segundo Ana Duarte60, a educação patrimonial é aprender a saber ver, ou seja, a

contemplar e percecionar. Faz, sobretudo, parte do processo de apreciação estética e essa

adquire-se e desenvolve-se consoante critérios base que educam o olhar. A autora diz-nos

que é através da procura, da pesquisa e da vontade de descoberta que se criam raízes cada

vez mais fortes com o património.

A educação patrimonial, parceira incondicional da educação artística, é realmente

necessária e não deve sustentar-se apenas na investigação e na consciencialização, mas

deve incluir também a criação61. Ao se interessar e investigar, o indivíduo conhecerá o

património estudado, preservando-o, mas é ao criar estratégias de divulgação dessa

herança que surge a íntima relação com ela, convocando também a comunidade

envolvente.

Exemplo disso é a investigação sobre determinados edifícios históricos e a criação de

atividades em torno deles, para que sejam dados a conhecer ao público e sejam

consequentemente mais valorizados. Esta dissertação pretende ser modelo dessa prática,

pois ao estudarmos a história e as características formais do edifício da Casa Mora, com

o propósito de criarmos um livro lúdico-pedagógico sobre a mesma, estabeleceram-se

laços com o património investigado.

A metodologia pedagógica da educação patrimonial pode ser aplicada a qualquer

evidência material ou imaterial. Pode ser dirigida a um objeto; a um conjunto de bens; a

um monumento; a um centro histórico, de caráter urbano ou rural; a todo um lugar

histórico ou arqueológico; e a uma paisagem natural, área protegida ou a um parque. As

manifestações populares, como os rituais; o folclore; os processos de produção industrial

ou artesanal; as tecnologias; os saberes populares; e qualquer outra expressão resultante

da relação entre os indivíduos e o seu meio, também podem ser alvo de programas

pedagógicos de salvaguarda.

A salvaguarda do património pode ser composta por atividades simples, suscetíveis

de serem realizadas em ambiente educacional, tais como o registo fotográfico,

audiovisual ou documental. Pais da Silva realça esta questão dizendo que “a primeira

linha de defesa ativa do património histórico-artístico situa-se nos bancos das escolas de

todos os níveis, do escalão pré-primário até ao superior. (…) [A] iniciação da juventude

60 Em “Educação Patrimonial: (…)”, p. 67. 61 PIRES, J. – Educação patrimonial e produção audiovisual, p. 253.

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no conhecimento dos valores histórico-artísticos do país constitui também auxílio

indispensável no sistema geral de proteção e revitalização dos seus valores: (…).”62

Depois de uma breve investigação sobre métodos de educação patrimonial, podemos

referir algumas das estratégias pedagógicas, para todas as idades, que estabelecem laços

com o passado. Ninguém defende o que não conhece, ou que pretende que seja

desconhecido63, e é estudando, inventariando e conhecendo que aprendemos a interpretar

e a estimar o que vemos no nosso dia-a-dia. Já o pedagogo Joaquim de Vasconcelos

defendeu esta ideia, tendo indicado o ensino da História da Arte como ferramenta

principal da educação patrimonial, na sua publicação “O Ensino da História da Arte nos

Lyceus e as Excursões Escolares”, de 1908.

Se imaginarmos que todas as crianças e jovens, principalmente aqueles que vivem

sem referências históricas, pudessem ter acesso ao estudo – mesmo que pouco

aprofundado –, da nossa História da Arte, fazendo-se acompanhar por breves visitas de

estudo aos locais histórico-artísticos mais próximos das suas escolas, rapidamente

verificávamos que esta prática iria ser uma mais-valia para que esses alunos adquirissem

consciência sobre o que os rodeia, tornando-se improvável a existência de desinteresse,

ou de desconsideração e vandalismo futuros por parte desses indivíduos. Esta disciplina,

se estivesse integrada no programa curricular, poderia ajudar as crianças e os jovens, não

só a entenderem a história global da nação, mas também a olharem o património artístico

com uma visão mais generalizada. Assim, os espaços e as obras consideradas de menores

estariam incluídas nos programas de valorização e seria justificada igualmente a sua

preservação64.

Observando uma fração da situação atual do nosso país, constatamos que há

iniciativas que mantêm vivas as memórias materiais e incorpóreas da nação. São projetos

que se destacam por contribuírem para o desenvolvimento de comunidades mais

conscientes quanto à importância da preservação do património. Temos como exemplo o

conceito de história viva, ferramenta lúdico-didática para divulgação do património em

contexto escolar, museológico, autárquico e turístico, destacando-se por dar vida a certos

acontecimentos do passado através de recriações dos mesmos65.

62 SILVA, J. Pais da – Pretérito Presente. (…), pp. 38-39. 63 SERRÃO, V. - Portugal em ruínas. (…), p. 31. 64 SERRÃO, V. – A História de Arte em Portugal e a consciência do estudo e salvaguarda do património

histórico-cultural, p. 4. 65 COELHO, R. – História Viva: a recriação histórica como veículo de divulgação do património histórico

e artístico nacional. (1986-2009). Conceitos e práticas, p. 5.

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Olhando atentamente para esta estratégia, podemos aperceber-nos de que contribuem

para aproximar as comunidades à memória de determinada época e ao passado de

determinado lugar, recorrendo à expressão dramática, sem, no entanto, se tratar de teatro.

Se estivermos atentos ao mundo da televisão, podemos observar que em alguns casos

recorre-se a uma prática idêntica, sendo recriados determinados momentos da história,

com base em investigações minuciosas, tornando-a mais acessível e compreensível aos

olhos do espetador.

Segundo Vítor Jorge66, a recriação viva de cenas do passado, com trajes e ambientes

de época, em que as pessoas imitam o que julgam ter sido a vida em determinados tempos,

tem como objetivo ser uma atividade lúdico-didática. Este tipo de encenações pode ser

feita em cenários formais de teatro, ou ao ar livre, identificando-se desta vez com a

modalidade da performance. Pode ainda desenrolar-se no contexto de sítios ou de

percursos arqueológicos, numa tentativa de animar o local, partindo do princípio que a

simples visita, embora acompanhada por um guia, não seja suficiente para transmitir à

comunidade o que se pensa ter acontecido ali.

Esta é uma prática que se tornou muito apelativa ultimamente, visto que as localidades

procuram atrair cada vez mais visitantes. Criam-se constantemente novas comemorações

e tradições, eventos que colocam as ditas terras ou cidades no mapa turístico, tornando-

as produto de consumo.

Há aqui uma conotação de festa, um dos fenómenos mais antigos da humanidade,

ligados aos rituais de festejo de determinadas marcas histórico-temporais67. Trata-se de

um exemplo de como viver o património histórico e artístico, e destaca-se através dos

mais recentes eventos autárquicos anuais, como as feiras de época, acompanhadas de

atividades participativas.

Muitos de nós acreditamos que este tipo de eventos não passam de formas superficiais

de comemorar e relembrar determinados acontecimentos do passado de determinada

região, e também há quem os veja apenas como simples veículos para o desenvolvimento

económico local, no entanto, é possível que estas feiras de época suscitem o interesse de

quem nelas participa em descobrir a história, a sociedade e as artes do passado.

Cremos que esta atitude referida é «meio caminho andado» para a consciencialização

da salvaguarda do património e para a criação de laços com a história. No fundo, é

66 Em “Encenações do passado: (…)”, p. 63. 67 Idem, ibidem.

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também isto que a educação patrimonial pretende: fazer nascer desde cedo, e de forma

genuína, o desejo de investigação e consideração pelo património.

As encenações do passado permitem a elaboração de memórias, de narrativas e de

passatempos onde a comunidade é convidada a participar. Porém, se estas recriações se

basearem na deturpação dos factos, envolvem sempre aspetos de improvisação, de

imperfeição, de tentativa-erro, que passam bem em ambiente lúdico, mas seriam

intoleráveis cientificamente68. Ana Duarte69 diz-nos que a história não pode ser, em

momento algum, ficcionada ou alterada.

Outra prática que se desenvolveu no nosso país, e já com raízes bem fundas, é a

criação de roteiros temáticos que visam propor ao público um percurso específico, onde

se enquadrem os principais monumentos pertencentes a cada temática. São demasiados

os exemplos deste tipo de atividade de norte a sul do nosso país, e alguns deles estão

ligados a associações de defesa do património, tal como a “Spira”.

A “Spira” foi fundada por Catarina Valença Gonçalves, no dia Mundial da Criança

do ano de 2007, na sequência da conceção da primeira rota de turismo cultural em

Portugal, a “Rota do Fresco”, de 1998. Com sede no Alentejo, em Vila Nova de Baronia,

Alvito, a “Spira” tornou-se especialista na criação, execução e produção de projetos de

revitalização patrimonial70.

Este projeto conta com diversos parceiros e com alguns roteiros, entre os quais se

inserem a própria “Rota do Fresco” e a “Rota Tons de Mármore”. Focando-nos apenas

nestes dois roteiros, podemos perceber que o primeiro propõe a descoberta das pinturas

murais, relacionadas com o desenvolvimento do território, e agrega vários municípios:

Alvito; Cuba; Vidigueira; Viana do Alentejo; Portel; Évora; Borba; Vila Viçosa;

Alandroal; Serpa; Moura; Castro Verde; Aljustrel; e Beja. Relacionada com esta rota,

estão ainda ateliers de pintura a fresco, onde os participantes poderão experienciar e

desvendar os segredos e técnicas das obras de arte que tiveram oportunidade de

observar71.

Já a “Rota Tons de Mármore”, como o nome indica, está ligada diretamente ao mundo

do mármore alentejano, nas localidades de Alandroal; Borba; Estremoz; Sousel; e Vila

Viçosa. O objetivo é estabelecer um percurso onde irão ser visitadas algumas pedreiras;

68 Idem, ibidem, p. 64. 69 Em “Educação Patrimonial: (…)”, p. 62. 70 Mais informações disponíveis em: <URL: http://www.spira.pt/nos/identidade/1>. 71 Mais informações disponíveis em: <URL: http://www.rotadofresco.com/>.

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galerias de exploração subterrânea; fábricas, equipamentos; e software, onde serão

desvendados aos participantes os processos da transposição desta matéria-prima para a

cantaria, para os trabalhos de escultura e para a dimensão artística dos monumentos da

região72.

Outro exemplo destes roteiros temáticos é a “Rota do Românico”, realizada em terras

dos vales do Sousa, do Douro e do Tâmega, e concebido de modo a sensibilizar os

cidadãos para a apreciação e salvaguarda do património histórico, artístico, cultural e

paisagístico locais, através de elementos de integração, educação e formação. Entre

atividades lúdicas e pedagógicas em contexto educativo, cultural e social, este projeto

reforça o interesse da comunidade pelo seu património de origem românica, promovendo

o orgulho pelo passado e contribuindo para o desenvolvimento de novos saberes e

competências.

Em cada ano letivo, a “Rota do Românico” lança um programa pedagógico que visa

complementar o currículo escolar. Este projeto estabelece ligações entre os alunos e o

património local, dando-lhes a conhecer o estilo românico, a sociedade e a cultura da

época medieval no Tâmega e Sousa, passando pela abordagem à paisagem natural e aos

saberes tradicionais.

É através do contacto direto com os monumentos que os alunos poderão refletir sobre

a sua história e a sua arte. A programação dos Serviços Educativos da “Rota do

Românico” integra um conjunto de atividades para os diferentes níveis de ensino, desde

o pré-escolar ao universitário, e conta ainda com jogos pedagógicos que poderão ser

dinamizados em contexto de sala de aula ou durante a visita às edificações.

No sítio oficial desta iniciativa na internet73, para além de estarem disponibilizadas a

maior parte das informações sobre a região, podemos encontrar também documentação

variada e dividida por temas e em diferentes formatos, como artigos; monografias;

revistas; vídeos; documentários; músicas; e sons relacionados com os locais e com a

época. Encontramos ainda um glossário de conceitos, uma bibliografia auxiliar e uma

plataforma de visitas virtuais às construções pertencentes ao percurso.

A pensar nos mais pequenos, a “Rota do Românico” criou um “Canal Juvenil”74,

destinado à aquisição de conhecimentos sobre a Idade Média de uma forma global, apesar

da maior parte da informação ser referente ao caso específico do norte do país. Este canal

72 Mais informações disponíveis em: <URL: http://www.rotatonsdemarmore.com/>. 73 Disponível em: <URL: http://www.rotadoromanico.com/>. 74 Disponível em: <URL: http://www.rotadoromanico.com/canaljuvenil>.

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contém ilustrações, fotografias, vídeos e visitas virtuais aos monumentos pertencentes ao

percurso, bem como um glossário de conceitos e jogos, que fazem com que a

aprendizagem da história se torne em algo bastante agradável aos olhos dos mais

pequenos, estimulando o interesse.

Concluímos este capítulo dizendo que é necessário colaborar e participar em

iniciativas de educação patrimonial para que nos sintamos seguros no nosso meio. É

extremamente importante que esses valores sejam transmitidos às gerações futuras e só

conseguiremos alcançar esse objetivo se começarmos por educar os nossos pequenos e

graúdos em ambiente familiar, para que todos, um dia, possamos olhar para as nossas

heranças de igual forma: com reconhecimento, orgulho e estima.

Contudo, tem que haver uma certa compreensão e flexibilidade em aceitar que há

passados que têm que ceder o seu lugar ao presente, de modo a que este seja construído

em conformidade com as necessidades e interesses da população.

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II. O EDIFÍCIO DO MUSEU MUNICIPAL DO MONTIJO E OS SEUS ANTIGOS

PROPRIETÁRIOS. UM PATRIMÓNIO A PRESERVAR.

1. As motivações que levaram à escolha deste edifício.

No Montijo, existem construções de outros tempos que nos permitem criar uma

ligação com a memória coletiva do povo e com os seus costumes e os seus gostos, nas

diferentes épocas. Ao estudarmos o núcleo da cidade, conseguimos estabelecer um

paralelismo entre a história da povoação e as edificações que foram surgindo com o passar

dos séculos. Essa prática permite-nos entender como era a vida nas diversas etapas

cronológicas e que dificuldades tiveram de ser ultrapassadas, permitindo-nos criar um fio

condutor de memória que nos ajuda a compreender todo o desenvolvimento ocorrido na

cidade, desde os tempos mais remotos.

A história reflete-se nas tradições, nos costumes e nos saberes populares que

chegaram até ao nosso presente, nas caraterísticas arquitetónicas e decorativas dos

edifícios e até na individualidade do traçado urbano. Revela-se perante os documentos

encontrados, os estudos elaborados e o olhar contemplativo de quem se dedica a

estabelecer laços com o património montijense. Contudo, a «essência» do lugar nem

sempre chega a todos, por isso a educação patrimonial tem um papel fulcral na abertura

de novas consciências e na salvaguarda do património, estabelecendo um sentido de

pertença nos indivíduos que ainda não conhecem a identidade do meio em que se inserem.

Na cidade do Montijo, encontramos história em cada recanto e existem estudos que

recaem sobre alguns edifícios específicos, porém, nem todos têm sido base para uma

pesquisa aprofundada, devido à falta de documentação a seu respeito. Sem uma

investigação fundamentada, não é possível criar uma relação com esse património,

deixando de haver consciencialização quanto à sua salvaguarda.

O imóvel a que nos propusemos a estudar para esta dissertação é conhecido entre as

gentes da terra por Casa Mora, uma antiga habitação oitocentista, e é exemplo deste

paradigma. A carência informativa em relação ao passado histórico do edifício não

permite a ocorrência de estudos aprofundados, nem o surgimento de publicações

centralizadas no assunto, sentindo-se um certo distanciamento e uma ligeira falta de

procura em conhecer o espaço e em estabelecer ligações afetivas com ele. Acreditamos

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que este trabalho de investigação e a proposta de criação de um livro educativo sobre esta

casa possa torná-la mais próxima da comunidade.

2. As diversas estratégias de valorização do edifício e a alternativa do livro

informativo

Em termos de Serviço Educativo municipal, existe uma série de atividades que

abrangem todo o património da cidade do Montijo, contudo, de uma maneira geral, há

mais incidência nas visitas orientadas pelos edifícios funcionais da localidade, tais como

os moinhos de vento e de maré. Existe também a falta de recursos humanos e de

investimento que permitam o desenvolvimento e execução de atividades mais elaboradas

e direcionadas para diversos tipos de património e de arte.

No decorrer da criação desta dissertação, foi elaborada uma breve investigação sobre

as iniciativas criadas, ou em processo de criação, pela Câmara Municipal do Montijo, em

torno do património e da história montijenses, onde se destacaram, de entre outros

exemplos, os roteiros temáticos. Dentro desta área, podemos encontrar uma pequena

publicação intitulada de “Roteiro Casa Mora”, sem data, onde são descritos os diferentes

compartimentos do imóvel, as suas antigas funções e alguns dos aspetos da decoração

interna. Porém, esta publicação não parece ser suficiente para criar empatia por parte da

comunidade.

Para que tal aconteça, é necessário conhecer a história da Casa Mora, enquadrá-la e

imaginá-la na sua época, saber quem foram os seus proprietários, quais os acontecimentos

marcantes passados no seu interior, e estabelecer o fio condutor entre o passado e o

presente da construção, pois não se protege, nem sequer se tem interesse, pelo que não se

conhece. A procura por todo este conhecimento deve ter início na chamada de atenção

para o imóvel e existem diferentes formas de o conseguir.

Uma das alternativas de valorizar o imóvel passa pelo seu restauro e

reaproveitamento, dando-lhe funções públicas que façam com que a população tenha que

interagir com o lugar. Fala-se, por exemplo, da implementação de um Museu Municipal

no local, facto que a Autarquia já concretizou. Todavia, a Casa Mora apresenta condições

muito precárias no que toca à receção de um museu, principalmente nos pisos superiores.

Não existem condições para albergar os equipamentos de controlo de temperatura, de

humidade, de luminosidade ou de segurança. Os suportes expositivos iriam interferir com

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a leitura e com a «essência» da casa e a sua acústica é constantemente afetada pela

sonoridade da via pública. A luz natural é demasiado forte, especialmente durante o

Verão, obrigando os responsáveis a fecharem as portadas interiores para preservar o

imóvel, evitando o sobreaquecimento das salas.

Visto que o recheio original da habitação já se perdeu, uma outra ideia exequível seria

o preenchimento da casa com peças de mobiliário adequado à época da sua construção,

de maneira a que esta não perdesse autenticidade, porém, cremos que o conceito de Casa-

museu, apesar de interessante, não se enquadra na ideia de Museu Municipal, pois este

tem como objetivo a exposição e valorização do património do concelho onde se insere.

Se a origem das peças a colocar na Casa Mora fosse alheia ao concelho do Montijo, as

informações concretas sobre o passado do lugar perder-se-iam, havendo incidência

apenas na história do design e na vivência habitacional no século XIX.

Assim sendo, e tendo em conta as alternativas enumeradas e as dificuldades referentes

à falta de recursos humanos, parece-nos realmente sensato apostar na criação de um

projeto educativo orientado para o livro pedagógico e informativo. Acreditamos que o

caráter independente de um livro facilitaria os serviços em vários aspetos. O livro sempre

foi exímio na partilha de conhecimento entre indivíduos, na interação interpessoal e na

aprendizagem mútua, e não necessita obrigatoriamente da presença de responsáveis por

parte dos serviços camarários para poder ser acedido e trabalhado.

Os exemplares poderiam ser distribuídos pelas escolas, como complemento das

matérias dadas, ou como atividade extracurricular, ou ser editado e adquirido no Posto de

Turismo ou até nas livrarias, de modo a que possa ser usufruído por todos os que o

desejarem. Para além de garantir momentos lúdico-didáticos, já não tão comuns nos dias

de hoje, o livro poderá aproximar a população, e em especial o público-alvo escolhido, à

Casa Mora, estando perante ela, ou encontrando-se no conforto das suas próprias

habitações. Contudo, iremos debruçar-nos a fundo sobre esta proposta apenas no capítulo

seguinte.

3. O passado e o presente da Casa Mora. De habitação oitocentista a Museu

Municipal do Montijo.

Ao percorremos as ruas da cidade do Montijo, encontramos alguns edifícios

habitacionais que nos conduzem para uma época de grande desenvolvimento local,

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devido ao crescimento industrial e económico da região. Este facto acabou por se refletir

na evolução significativa da malha urbana, em grande parte, impulsionada por uma nova

classe social, composta por proprietários rurais e industriais, e pelas suas habitações.

De uma maneira geral, os imóveis habitacionais dos finais do século XIX que hoje

podemos contemplar, retratam o poderio dos seus primeiros proprietários, tanto ao nível

económico como social, apresentando fachadas com linguagens decorativas que traduzem

um certo gosto eclético, muito comum no Portugal oitocentista. Foi dentro deste contexto

do passado histórico que se ergueu, no centro urbano do Montijo, uma das construções

de maior importância patrimonial da região, a Casa Mora.

Datado de 1875, e passados cerca de 110 anos após o término da sua construção, o

edifício passou definitivamente para a posse da Autarquia e procedeu-se de imediato ao

seu restauro, a cargo da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra75.

Em conjunto com essa intervenção, adequaram-se os seus compartimentos internos às

funções que o imóvel iria assumir: o alojamento da Biblioteca Municipal Manuel Giraldes

da Silva e a respetiva equipa técnica. Porém, é desde 1993 que a Casa Mora apresenta-se

como sede dos núcleos museológicos da região, devido à deslocação da Biblioteca para a

antiga Casa dos Magistrados e à necessidade de implementar na cidade um Museu

Municipal.

Na altura, estava exposto no edifício um número considerável de peças, onde uma das

coleções era composta por objetos pessoais do músico e compositor Jorge Peixinho

(1940-1995), natural do Montijo, mas as vicissitudes que os anos seguintes trouxeram,

como por exemplo, alterações de posse autárquica e mudanças na estrutura das equipas

de administração, levaram a que a gestão e a continuidade do Museu tivessem de ser

interrompidas, ficando a maior parte das peças em depósito. Agora, a Casa Mora alberga

apenas, no seu piso térreo, adaptado para o efeito, algumas exposições temáticas e

temporárias, assim como as instalações do Posto de Turismo.

Na entrada principal do edifício, podemos encontrar algumas peças de natureza

histórica, arqueológica e ornamental e, no piso superior, existem obras de arte decorativa

do âmbito religioso, bem como mobiliário com diversas origens. Estas peças e tantos

outros artefactos arqueológicos que se encontram em depósito na mansarda da casa, são

exemplos do seu atual recheio. Já no jardim, para além de estarem expostas peças com

algum interesse histórico, podemos ainda observar os elementos naturais e os de

75 FERNANDES, P. A. [et al.] – Património artístico-cultural do Montijo, p. 218, nota 414.

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abastecimento e/ou de decoração pertencentes à época da primeira ocupação do edifício.

Este jardim, antigamente privado, apenas para usufruto dos habitantes da casa, está agora

adaptado para acolher diversos tipos de atividades de âmbito cultural e/ou de lazer.

É este o presente histórico da propriedade que nos propomos a estudar, contudo, no

seu passado e durante aproximadamente um século, a sua única função baseou-se na

instalação de uma família de grande influência económica, social e política na região, os

Tavares Mora. Como esta dissertação tem o objetivo de apresentar um livro baseado neste

património em particular, é necessário fazer alusão ao espaço e integrá-lo devidamente

na sua época. Para tal acontecer, acreditamos que seja necessária esta introdução histórica

que se segue, de modo a criar um fio condutor entre a memória coletiva da localidade e a

contextualização da construção e do aspeto do edifício, envolvendo-o por completo no

lugar e na época em que foi construído. Cremos que é importante estabelecer uma certa

familiarização entre os leitores desta investigação e o património alvo de estudo, assim,

ao descrevê-lo e contextualizá-lo nas páginas seguintes, é possível criar um contacto

direto com os conteúdos que irão ser trabalhados no livro educativo. Por último, visto que

não existem publicações que abordem minuciosamente o edifício da Casa Mora, julgamos

que complementar esta dissertação com a investigação elaborada em torno do imóvel irá

contribuir para enriquecer a bibliografia existente sobre o mesmo.

Posto isto, iremos deslocar-nos até ao Montijo do século XIX para conhecer de forma

generalizada o lugar e os aspetos mais importantes da terra onde se ergueu a Casa Mora.

Iremos começar por perceber como seria a malha urbana da localidade e destacaremos as

principais caraterísticas do ambiente local, durante a segunda metade do século

oitocentista. É também proveitoso sabermos quais os aspetos arquitetónicos da época, por

isso abordaremos as principais tendências construtivas e decorativas no tempo em que a

Casa Mora foi construída, para conseguirmos compreender e enquadrar o aspeto geral do

edifício.

Não seria favorável destacar este património sem investigar os impulsionadores da

obra, por isso, iremos colocar em relevo a personalidade que fez erguer este imóvel, de

seu nome Domingos Tavares. Natural da localidade e proprietário de imensas herdades

que se estendiam até Alcácer do Sal, Tavares teve também uma forte ligação à política

local, assumindo dois cargos autárquicos de extrema responsabilidade – o de Vereador e,

posteriormente, o de Presidente da Câmara Municipal – durante mais de vinte anos.

Neste subcapítulo, para além de salientarmos alguns episódios da vida do homem que

mandou construir a Casa Mora e que muito honrou a sua terra, iremos contemplar a sua

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antiga residência pessoal, convertida na atual sede do Museu Municipal do Montijo. Para

tal, analisaremos algumas das suas caraterísticas arquitetónicas e decorativas, e

descreveremos os seus compartimentos internos em termos de organização do espaço,

aludindo ao quotidiano habitacional dos finais do século XIX.

3.1. O Montijo do século XIX.

Em termos temporais, a Casa Mora ergueu-se numa época de grande desenvolvimento

local e regional, completando o enquadramento urbanístico já existente no núcleo do

Montijo. Porém, não é de longa data que a cidade se designa desta maneira, pois foi

apenas em 1930 que obteve este topónimo, homenageando uma antiga povoação

ribeirinha, localizada onde hoje se encontra a Base Aérea N.º 6, da Força Aérea

Portuguesa. No século XIX, o Montijo era ainda uma vila em expansão à beira do rio Tejo

e possuía a sua antiga denominação, conforme a nomenclatura oficial da época: “Aldea

Gallega do Ribatejo”76.

Hoje em dia, torna-se difícil imaginar como seria antes a malha urbana da localidade

onde se implantou a Casa Mora, pois ao longo do tempo, esta tornou-se cada vez mais

complexa, impulsionada pelas exigências das condições agrícolas, da criação de suínos,

do desenvolvimento industrial e do crescimento demográfico. As grandes atividades que

se praticaram na vila, tais como a agricultura, a pesca, a salicultura, a moagem e a

suinicultura, tiveram um papel de grande importância e representaram uma mais-valia a

nível económico e social, quer para a população em si, quer para toda a zona circundante,

por isso mesmo, a organização da vila estava determinada por espaços destinados a estes

labores.

76 PIMENTEL, A. – A Extremadura Portugueza, p. 107. Conta-se que esta designação estava ligada à lenda

de Alda, uma locanda galega que se instalou na vila e desenvolveu o seu negócio junto ao cais. Diz-se que,

desde então, a vila ficou conhecida por “Aldagallega”, ou “Alde a gallega”. No entanto, o referido topónimo

pode significar “fraca fertilização” ou “mau cultivo das terras”, pois os antigos povos chamavam de

“gallego” a tudo o que tinha pouca qualidade ou ao que estivesse mal tratado. O complemento “do Ribatejo”

identificava o concelho a que a localidade pertencia. Sobre o assunto, veja-se: Pe. CARDOSO, L. –

Diccionario Geografico ou Noticia Historica (…), p. 207; LEAL, A. – Portugal Antigo e Moderno (…),

vol. I, p. 85; RANA, J. S. – Cousas da Nossa Terra: Breves Notícias da Villa de Aldeia Gallega do Riba-

Tejo, pp. 79-93; e TAPADINHAS, J. C. – Aldeia Galega no tempo dos Descobrimentos, pp. 31-34 e pp.

49-62.

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No século XIX, o traçado urbano e o sistema de organização das edificações estavam

moldados sobretudo por herdades e por estruturas comerciais adjacentes, como por

exemplo, as adegas, os lagares e o mercado. Nas propriedades, dava-se a grande produção

de vinhas e de produtos hortícolas, como a batata e as leguminosas; nos moinhos,

testemunhava-se a moagem do cereal; e, nas salinas, realizava-se a extração do sal. Todos

estes produtos eram bastante comercializados na região, daí a extrema importância que

as áreas laborais destinadas à sua produção tiveram na formação do rendilhado urbano da

vila77.

Devido à sua situação geográfica e a estas e outras atividades económicas, Aldeia

Galega sempre foi uma localidade privilegiada em termos de passagem de mercadores e,

consequentemente, de desenvolvimento demográfico. Grande parte dos produtos

mencionados era transportada em carroças até ao mercado, onde era adquirida por

negociantes vindos de Lisboa ou até mesmo de zonas mais distantes do país. Outra parte

da produção era carregada em faluas e levada até à capital, onde depois era distribuída

rapidamente.

Esta proximidade com o rio desde sempre proporcionou ao povo de Aldeia Galega do

Ribatejo, não só uma deslocação até Lisboa, ou até outras zonas ribeirinhas próximas, de

forma mais acessível, mas também contribuiu para que toda a economia em torno da pesca

se desenvolvesse. Esta forte relação entre a vila e o Tejo permitiu de igual modo a criação

de labores ligados à zona ribeirinha, como a apanha de ostra, realizada sobretudo por

mulheres, que perdurou apenas até meados dos anos 30 do passado século. Foram estas

atividades relacionadas com o rio que contribuíram para que, desde o século XVI, a vila

e a sua população se concentrassem aos poucos em torno dos limites terrenos.

Uma outra indústria bastante importante para a organização urbana da vila, e com

origens muito remotas, era a transformação da carne de porco, que passava pela criação,

engorda e chacina dos suínos, cujos registos apontam para um possível início de atividade

no século XVI78. No século XIX, o número de chacinarias no centro urbano era já

relativamente considerável, fazendo com que a população convivesse diariamente com as

mesmas e com o rasto que os animais deixavam79.

77 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: as primeiras décadas do século XX, p. 18. 78 Há referências da existência da “Rua dos Mata Porcos”, em 1588, destinada à chacina dos suínos. Em

CORREIA, F. – Toponímia do Concelho do Montijo. (…), p. 125. 79 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 18.

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Mais tarde, e a par da inauguração de um troço de caminhos-de-ferro, que fazia a

ligação entre o Pinhal Novo e Aldeia Galega, o centro urbano da vila viu-se obrigado a

sofrer uma reestruturação devido às novas indústrias que se instalaram junto aos locais de

maior dinamismo ferroviário e ribeirinho, de modo a facilitar o transporte das matérias-

primas para diferentes polos comerciais da região. Falamos do surgimento de estruturas

de apoio à instalação dos trabalhadores, bem como às atividades corticeiras, dos fornos

de cal, de produção de tijolo, de telha, de “guano de peixe”80 e de óleos.

Posto isto, o desenho urbano mostrou-se instintivo e genuíno, apresentando-se através

da forma orgânica, ou seja, sem obedecer a esquematizações de qualquer tipo e

acompanhando o núcleo da vila já existente. Contudo, não só o traçado urbano se expôs

desta referida maneira, mas também as fachadas dos edifícios assumiram características

peculiares ao gosto da época e de cada proprietário em particular. No fundo, falamos de

um esquema comum a todo o espaço urbano português, apesar de este ter tido mais

destaque no litoral, onde é evidente o aproveitamento dos contornos das zonas

ribeirinhas81.

O conjunto da Casa Mora surgiu numa altura em que era comum as moradias fazerem-

se acompanhar por extensas propriedades, dando oportunidade de labor aos trabalhadores

da terra. Segundo Fernanda Pinho e Rogério Dias82, a Casa Mora estava outrora rodeada

por quintas, orientadas sobretudo para Norte. Com a edificação de novas estruturas e

habitações, esta e outras herdades e/ou quintas que se encontravam junto às imediações

das linhas férreas e no centro do núcleo urbano extinguiram-se, iniciando-se assim a

expansão urbana da vila83.

Note-se que o crescimento da localidade foi demasiado significativo e contínuo, por

isso, o seu anterior topónimo já não se ajustava ao conceito de modernidade, tendo sido

alterado em 1930. Apesar do atual nome ter origens ancestrais que remontam para o

passado histórico da região, a vila acabou por se ver liberta da imagem de ruralidade e

por poder abraçar a novidade e a expansão urbana e demográfica que as atividades

económicas proporcionaram84.

80 Designação que se dava ao adubo obtido através da redução a pó de peixe seco. Em PEREIRA, N. T. [et

al.] – Glossário, p. 100. 81 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 26. 82 Em visitas informais ao edifício. 83 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 19. 84 Idem, ibidem, p. 20.

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3.2. Os detalhes do quotidiano montijense do século XIX.

Se recuássemos no tempo e visitássemos a Casa Mora do século XIX, verificávamos

que o ambiente envolvente, os sons, os cheiros e os costumes da localidade eram muito

diferentes dos da atualidade. Segundo Alberto Pimentel85, naquele tempo, a vila era ainda

pequena, mas já possuía ruas largas e planas, com aspeto alegre, claro e atraente, enquanto

José Rana86 nos diz que, em 1850, a vila apresentava um aspeto pouco edificante, sem

progressos desde o século XVIII, pavimentos deteriorados, ruas sujas e muito poucas

condições de higiene. Contudo, já existiam algumas escolas oficiais, tais como a Escola

Conde de Ferreira87, e já tinham surgido alguns jornais locais, como o “Jornal de

Aldegallega do Ribatejo”, de 1886, “A Comarca”, de 1888, e “O Aldegallense”, de 1895.

Junto ao Tejo, havia uma azáfama constante, pois os pescadores, os carregadores e os

descarregadores de mercadorias, animavam toda a zona do cais. Contudo, o rio não estava

somente ligado ao trabalho. Sempre que lhe fosse permitido, o povo de Aldeia Galega do

Ribatejo banhava-se junto à chamada Ponte dos Vapores88, destinada ao embarque e

desembarque de passageiros das travessias entre a vila e a capital.

A prosperidade oitocentista nem sempre foi contínua. Podemos indicar um período

em que foi registada uma forte recessão, pois o caminho-de-ferro que unia o Barreiro ao

sul do país, cuja construção se iniciou em 1855, deixou a vila desviada das rotas habituais

de passagem de mercadores e de visitantes. No entanto, e apesar da dificuldade que

passava, o povo praticava anualmente um número considerável de festas – tais como as

do Espírito Santo; as do Menino Jesus; as de S. João; e as de S. Pedro89 – e de círios à

Senhora da Atalaia, constando que, em 1607, já existiam cerca de vinte e três90.

85 Em “A Extremadura Portugueza”, p. 109. 86 Em “Cousas da Nossa Terra: (…)”, pp. 22-23. 87 O Conde Joaquim Ferreira dos Santos destinou parte do seu legado à construção de 120 escolas em

localidades que fossem cabeça de concelho em todo o país. Após a sua morte, a 24 de Março de 1866,

Aldeia Galega foi das primeiras localidades a dar utilização aos 1,200$000 réis que lhe pertenciam para

erguer uma escola. Em PIMENTEL, A. – A Extremadura Portugueza, p. 110. Sobre o Conde de Ferreira,

consultar “Percursos de um Brasileiro do Porto. O Conde de Ferreira”, de Jorge Fernandes Alves. 88 Informação disponível em: <URL: http://ruki-luki.blogspot.pt/2012/12/aspectos-da-vida-em-aldegalega-

do_12.html>. 89 Em PIMENTEL, A. – A Extremadura Portugueza, p. 111; e em RANA, J. S. – Cousas da Nossa Terra:

Breves Notícias da Villa de Aldeia Gallega do Riba-Tejo, pp. 24-26. 90 Sobre este tema, veja-se: PIMENTEL, A. – A Extremadura Portuguesa, pp. 114-118; Pe. CARDOSO, L.

– Diccionario Geografico ou Noticia Historica (…), pp. 210-211; RANA, J. S. – Cousas da Nossa Terra:

Breves Notícias da Villa de Aldeia Gallega do Riba-Tejo, pp. 49-59; e CALADO, M. e REGATÃO, J. –

Artes Plásticas no Montijo. Passado e Presente, pp. 54-57.

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Era o tempo de se ouvir os sons das carroças que passavam, o martelar dos ferreiros

e as vozes do comércio que se ia instalando nas principais artérias de Aldeia Galega,

sendo um dos pregões mais aguardados, o do vendedor de água potável. Como não havia

luz elétrica, a vila estava sempre pouco iluminada, e a falta de esgotos, levava a que os

dejetos tivessem de ser recolhidos em carroças municipais91.

3.3 As manifestações arquitetónicas da viragem do século XIX: as semelhanças

entre a Casa Mora e as restantes construções regionais da época.

Ao contemplarmos a Casa Mora, percebemos que, em termos estilísticos, existe um

conjunto de caraterísticas que só podemos compreender quando as enquadramos na sua

época. O nosso passado histórico, e em particular as últimas décadas do século XIX,

caracterizaram-se pela ideia de “fim dos estilos”92, visto que, na altura, eram conjugados

vários modelos numa só construção, sempre retirados de referências arquitetónicas e

decorativas anteriores. Esta prática estava associada ao período dos revivalismos e

definia-se por gosto eclético, surgindo em Portugal, nomeadamente fora das grandes

cidades, mais tardiamente do que em relação à restante Europa, confirmando o efeito

retrógrado que as crises económico-sociais acarretaram.

A origem da escolha deste estilo peculiar acompanhou o sentimento de nostalgia que

contagiou o século XIX. Era usual, na altura, engrandecer-se o passado de forma mítica

e sobrevalorizada, o que despontou a reutilização de elementos arquitetónicos anteriores.

Era sob este fascínio de exaltação do passado que as fachadas se desenhavam com uma

carga simbólica bastante evidente, aludindo para diferentes momentos arquitetónicos da

história e conjugando diversas influências.

No caso particular do Montijo, a vontade de apostar no revivalismo nem sempre foi

devidamente controlada, sendo percetível a falta de suporte conceptual num só

historicismo em concreto. É fácil de notar que alguns elementos presentes nas fachadas

dos edifícios dos finais o século XIX têm origem clássica, gótica e até mesmo maneirista

ou barroca, e, quando conjugados, torna-se ligeiramente difícil aceder a uma leitura eficaz

dos alçados e dos interiores das construções.

91 Informação disponível em: <URL: http://ruki-luki.blogspot.pt/2012/12/aspectos-da-vida-em-aldegalega-

do_12.html>. 92 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 26.

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Ao analisarmos uma fachada oitocentista, constatamos que esta não nos permite

enquadrar todo o seu conjunto num movimento estilístico em particular, pois há uma série

de evidências formais e morfológicas, cuja combinação não se inclui diretamente num

determinado momento da história da arquitetura. Justifica-se esta afirmação, fazendo

alusão à relevância que o gosto particular e os conhecimentos artísticos de cada

proprietário tinham na execução dos projetos, levando muitas vezes à extrema fusão de

elementos historicistas.

No fundo, existe também uma diferença temporal significativa entre o nascimento

europeu do fenómeno revivalista e o aparecimento dos primeiros edifícios ecléticos da

localidade93. Por esta razão, será mais sensato acrescentar a palavra “tardio”, quando o

tema for o Ecletismo, neste caso, presente no Montijo. Quanto à Casa Mora, percebemos

que as suas influências arquitetónicas remetem-nos de facto para esse Ecletismo tardio,

sobretudo, porque este despontou enquanto reflexo do desenvolvimento económico,

assumindo uma carga simbólica que transmitia a imagem de enriquecimento e poderio,

evidência que se confirma com base no requinte presente no imóvel. Há, no entanto, em

todo o conjunto, uma série de caraterísticas que são comuns ao enquadramento

arquitetónico eclético local.

Para além de algumas influências clássicas, como os arcos de volta perfeita, ou

góticas, como os arcos quebrados, um dos elementos decorativos de maior frequência era

a platibanda. Esta funcionava como uma moldura que ocultava parte do telhado,

prolongava a altura do imóvel e transmitia uma aparência palaciana e imponente. Podia

apresentar diversas tipologias, desde a alusão ao entablamento clássico até à recuperação

dos valores românicos, ou surgir sobre a forma de cercadura de balaustres ou de

rendilhado robusto94.

Em paralelo com esta prática, produzia-se faiança para decorar os extremos dos

edifícios, sendo os exemplos de maior destaque as formas naturais, ou o recurso a

balaustradas, fogaréus ou jarrões. Estes pequenos elementos decorativos eram utilizados

em larga escala nos edifícios da vila, mas a ideia de requinte e de grandeza completava-

se com a exploração das potencialidades decorativas e expressivas do ferro. Este material

era utilizado para efeitos de proteção das janelas e das sacadas e poderia apresentar

diversos motivos ornamentais, tornando as composições dos alçados mais elegantes.

93 COELHO, H. P. – Caracterização tipográfica, construtiva e formal dos edifícios, p. 33. 94 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 27.

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3.4. A burguesia endinheirada oitocentista.

Como o crescimento industrial da região foi gradual e dele surgiram as vantagens

económicas que as novas explorações acarretavam, a vila conheceu em maior número

uma nova classe social privilegiada e empenhada em levar por diante alguns dos negócios

anteriormente mencionados: a “burguesia comercial endinheirada”95. Estes proprietários

contribuíram para que se erguessem algumas moradias no núcleo da malha urbana com

fachadas que transpareciam o seu poder socioeconómico às gentes da época,

acompanhados, ou não, por estruturas de apoio às suas atividades comerciais.

De uma maneira geral, estes imóveis ergueram-se espontaneamente, sem que existisse

uma base rigorosa inerente, moldando-se no território de forma genuína, e apresentando-

se de acordo com a vontade e com o gosto pessoal dos intervenientes. Contudo, a falta de

informação documental não nos permite saber, por exemplo, quais as intenções dos

proprietários, tendo em conta o emprego de determinados elementos arquitetónicos e

decorativos nos seus edifícios, e muito menos nos indicam quem foram os artistas

encarregues a esses processos96.

Toda a dinâmica presente na arquitetura doméstica da localidade evidencia um

especial cuidado no tratamento das fachadas, visto serem estas as principais transmissoras

da imagem de bom gosto dos proprietários, por isso, teriam de ser requintadas e

imponentes. A Casa Mora, erguida segundo a alçada de Domingos Tavares, grande

proprietário rural da região, foi um dos exemplos deste paradigma97.

A designação com que este património montijense é conhecido regionalmente,

remete-nos para a época de enlace matrimonial entre a filha legítima do seu primeiro

proprietário, Maria Antónia Tavares, e um membro da família Mora98. A partir desse

momento, a casa passou a ser o local de residência de toda esta nova linhagem99, levando

até aos nossos dias a memória do sobrenome da família. Todavia, interessa-nos saber

quem foi o homem que impulsionou a construção do edifício.

95 FRANÇA, J. – A Arte em Portugal no Século XIX, p. 349. 96 COELHO, H. P. – Caracterização tipográfica, construtiva e formal dos edifícios, p. 93. 97 Exemplos de outras construções em Idem, ibidem. 98 Manuel Justiniano Mora, nascido em Abrantes, no dia 26 de Abril de 1845. Formou-se em 1871 na Escola

Médico-Cirúrgica de Lisboa e faleceu no dia 28 de Novembro de 1900, em Aldeia Galega do Ribatejo. Em

FERNANDES, P. A. [et al.] – Património artístico-cultural do Montijo, p. 218, nota 412. 99 A casa foi habitada, já no século XX, por Álvaro Tavares Mora (1882-1962), personalidade ligada à

política e à advocacia. Em CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 133. Segundo os testemunhos locais, as

últimas residentes foram duas irmãs, extremamente devotas e solitárias, conhecidas por «irmãs Mora».

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4. Domingos Tavares: um homem influente.

No dia 22 de Fevereiro de 1828, nasceu um menino em Aldeia Galega do Ribatejo,

filho do casal João Tavares de Basto e Maria do Carmo. Como era costume na época, o

batismo da criança foi celebrado semanas depois, a 16 de Março, na Igreja do Divino

Espírito Santo da vila. Tendo-lhe sido colocado o nome de Domingos Tavares, o pequeno

teve como madrinha a Nossa Senhora da Purificação e como padrinho o seu tio paterno

Frei Domingos Tavares Basto, representado por José Rodrigues, também natural de

Aldeia Galega100.

Após os seus 22 anos de idade, no dia 12 de Dezembro de 1850, Domingos Tavares

casou-se com Margarida Inácia dos Anjos, filha de Dionísio dos Anjos e de Maria

Angélica, também naturais e residentes da vila. A cerimónia foi celebrada na igreja da

terra e assistida por algumas pessoas ilustres da época101, conforme o registo do

casamento assinado pelo Prior José da Roza Figueira102, o que por si só denuncia o poder

social das famílias envolvidas na mesma. Como fruto desta união, nasceu Maria Antónia,

no dia 27 de Janeiro de 1854.

Em Janeiro de 1862, Domingos Tavares iniciou a sua vida política, tendo sido eleito

Vereador da Câmara de Aldeia Galega, durante o executivo de António Virgolino dos

Santos e Oliveira, ocupando este cargo apenas até ao último dia do ano seguinte. Quatro

anos mais tarde, voltou a exercer esta mesma função, já durante a presidência de

Francisco Duarte Laranja, tendo-se seguido a este último António da Silva Sustância, em

1868103.

Foi durante esta vereação, no dia 23 de Janeiro de 1868, que a população assistiu à

implementação definitiva da Comarca de Aldeia Galega, depois desta se ter deslocado

para a Vila da Moita104. Por volta de 1876, Tavares assume novamente uma função

autárquica, na presidência de Fernando dos Santos Calado, e permaneceu como Vereador

até ao final do ano seguinte. Por fim, aos 49 anos, atinge o cargo de Presidente da Câmara

100 BALDRICO, J. – Domingos Tavares, p. 6. 101 Os irmãos Laranja. Na época, Francisco Duarte Laranja exercia o cargo de Vereador da Câmara

Municipal de Aldeia Galega do Ribatejo. 102 Conservatória do Registo Civil do Montijo – Casamentos. 1848-1860, p. 17. Disponível em: <URL:

http://digitarq.adstb.arquivos.pt/viewer?id=1208379>. 103 LUCAS, I. – Subsídios para a História do Concelho de Montijo. Cronologia Geral. 1997, p. 39. 104 BALDRICO, J. – Domingos Tavares, p. 6. Sobre o tema da Comarca em Aldeia Galega do Ribatejo,

veja-se o catálogo da exposição temporária comemorativa do aniversário do edifício dos Paços do Concelho

em “130 Anos de um edifício: de tribunal a Paços do Concelho”, de 2009.

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Municipal de Aldeia Galega, começando o seu primeiro mandato no dia 2 de Janeiro de

1878, sendo reeleito consecutivamente até 1892.

No dia 25 de Maio de 1879, ainda na sequência do retorno da Comarca à vila e devido

à necessidade da existência de um edifício que tivesse como função a instalação do

Tribunal Judicial, o então Presidente Domingos Tavares inaugurou um novo imóvel, de

estilo neoclássico, situado na zona ribeirinha, que tinha como função albergar não só o

Tribunal e a Cadeia, mas também a Administração do Concelho e a Repartição da

Fazenda105. Sobre este dia, podemos encontrar documentados alguns acontecimentos

interessantes e entre muitas outras informações, conseguimos ter acesso, por exemplo, à

lista de convidados para a abertura do Tribunal, bem como ao decorrer de todo o processo

de inauguração106.

Para além de este evento ser de extrema importância para a presidência de Domingos

Tavares, daí termos-lhe feito alusão, a sua documentação é uma mais-valia para o acesso

à história de Aldeia Galega do Ribatejo. Através dos relatos efetuados, é-nos permitido

percecionar como seria viver um acontecimento destes, no século XIX, deixando-nos

mais próximos da história e da memória coletiva da localidade. Há ainda referências a

uma refeição fornecida pela Casa Ferrari, de Lisboa, concretizada na residência do

Presidente, onde estão descritos os brindes propostos, bem como a ementa servida107.

Porém, tendo em conta este trabalho de investigação, o mais interessante é avaliar os

detalhes da residência de Tavares, descritos nas colunas do “Diário Illustrado” do dia 27

de Maio de 1879: “(…) é um palacio aquella casa, palacio em que se revela o apuramento

do gosto do sr. Tavares. A sala em que foi servido o lunch pode dizer-se sumptuosa. O

tecto, de cujo centro pende um magnífico lustre de crystal, é recamado de florões

dourados; as paredes, almofadadas de azul, são guarnecidas de espelhos. (…)”. Com essas

informações, podemos ter alguns vislumbres de como seria o aspeto da Casa Mora após

o término da sua construção.

105 Idem, ibidem. 106 RANA, J. S. – Cousas da Nossa Terra: (…), pp. 75-76; e “Diário Illustrado”, Lisboa, n.º 2178, 27 de

Maio de 1879, p. 3. 107 “Diário Illustrado”, Lisboa, n.º 2178, 27 de Maio de 1879, p. 3.

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Fig. 1. Retrato de Domingo Tavares. Desenho a lápis,

executado em Paris, por Torres, em 1878. Encontra-se

emoldurado e colocado na entrada na Casa Mora, edifício

que mandou erigir108.

Domingos Tavares revelou ser um Presidente digno e interessado pelo bem-estar da

população109. Foi igualmente durante o seu executivo, concretamente no ano de 1881, que

foram emitidas as primeiras cédulas municipais de Aldeia Galega do Ribatejo, quando o

país atravessava uma forte crise económica e havia uma extrema necessidade de acorrer

ao dinheiro metálico de baixo valor.

Desde 1891, e ao longo de 31 anos, Portugal conheceu duas crises económico-

financeiras. Foi nesta fase da história nacional que o Estado se viu forçado a proceder à

emissão de dinheiro de emergência para compensar as vicissitudes que as dificuldades

financeiras trouxeram. Neste contexto, surgiram as cédulas, caracterizadas por papel-

moeda, que substituíam o monetário metálico, visto que o custo dos materiais em que as

moedas eram cunhadas tinha aumentado. Durante o reinado de D. Carlos I, no ano de

1891, procedeu-se à impressão da primeira emissão de cédulas110.

O referido aumento dos preços dos metais, tal como a dificuldade para os obter, levou

a que o Governo autorizasse as Autarquias a emitirem cédulas próprias, de modo a

108 Imagem de GRAÇA, L. – Montijo: Imagens da Tradição Concelhia, 2001 109 “O Aldegallense”, n.º 56, II Ano, 27 de Setembro de 1896, p. 1. 110 BALDRICO, J. – As Cédulas emitidas pela Câmara Municipal de Aldegallega. 1891-1922, p. 14.

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facilitar as transações diárias, nos limites dos concelhos. Assim sendo, no caso do Montijo

de antigamente, as primeiras cédulas foram lançadas no mercado, no executivo de

Domingos Tavares, composto por Francisco da Silva, João Bento Maria, José António

Belo e João Rodrigues Oliveira. Nas três figuras que se seguem, estão destacados os

primeiros exemplares das cédulas municipais de Aldeia Galega, impressas unicamente a

preto e detentoras de selo branco111.

Fig. 2, fig. 3. e fig. 4. Primeira edição monárquica

de cédulas municipais. Mancha de 84x51mm.

Imagens do Museu do Papel Moeda – Fundação

Dr. António Cupertino de Miranda112.

Posta em circulação a primeira emissão de cédulas monetárias municipais, o

executivo de Domingos Tavares procedeu a uma segunda edição monárquica de valores,

desta vez, ainda mais distintos, impressas com diferentes cores, referentes a cada valor

monetário. Apresentavam as mesmas características da versão anterior, porém, foi-lhes

acrescentado um cuidado superior no ponto de vista gráfico, tornando esta edição a “(…)

mais bonita de todas aquelas que foram impressas pela Câmara Municipal de Aldeia

Gallega.”113

111 Idem, ibidem, p. 17. 112 Imagem em Idem, ibidem. 113 Idem, ibidem, p. 19.

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Fig. 5, fig. 6, fig. 7., fig. 8. e fig. 9. Segunda edição

de cédulas. Mancha de 93x63mm114.

Presume-se que as cédulas emitidas pelo executivo presidido por Domingos Tavares

tivessem sido colocadas fora de circulação, pois o Estado deixou de permitir a livre

circulação de cédulas em paralelo com as suas, devido às ilegalidades que surgiram em

todo o país. Para além disso, os exemplares que hoje podemos observar encontram-se

geralmente em bom estado de conservação, dando alusão para a pouca utilização que

tiveram no seu passado115.

Fechando mais um episódio da vida de Tavares, iremos deslocarmo-nos para o ano

de 1893, onde, no dia 27 de Março, e ao fim de 42 anos de vida em comum, faleceu a sua

114 Imagem de autor em Idem, ibidem, p. 18. 115 Idem, ibidem, p. 22.

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companheira, Margarida Inácia dos Anjos. Nessa altura, e apesar de Tavares já não ser

Presidente da Autarquia, visto que o seu último mandato tinha terminado um ano antes,

o executivo de então não deixou de manifestar o seu pesar na ata da sessão do dia 1 de

Abril, desse mesmo ano, pois a vereação reconhecia que o anterior Presidente tinha

contribuído em muito para os melhoramentos da vila116. Após esta infelicidade,

Domingos Tavares passou a viver com uma outra senhora, de nome Severina Ferreira

Velhinho, da qual teve ainda dois filhos gémeos, Domingos Tavares Basto e João Tavares

Basto117.

Sabe-se que esta personalidade teve muita influência política, mas a sua importância

regional não se cingia aos cargos políticos que exercia. Domingos Tavares tinha muitas

propriedades rurais em torno do concelho de Aldeia Galega e há conhecimento de que

chegavam até Alcácer do Sal118. Contudo, a sua carreira política não tinha ainda

terminado. Após uma breve pausa das suas funções como Presidente da vila, Tavares

volta à sua lida de autarca no dia 7 de Janeiro de 1896, porém, nesse mesmo ano viu-se

obrigado a abandonar a Câmara devido a uma enfermidade, voltando meses depois,

apenas quando se sentiu recuperado119.

Quando Francisco dos Santos, Presidente substituto, anunciou ao restante executivo

o retorno de Domingos Tavares, a vereação ficou muito satisfeita com a notícia, e mandou

inclusive “(…) celebrar por essa ocasião na Igreja Parochial um Te-Deum em

demonstração de regozijo pelo prompto restabelecimento de tão prestimoso cidadão.”120

Esta citação descreve o respeito e a consideração que depositavam na pessoa de Tavares.

Não foi apenas Aldeia Galega que se entusiasmou com o regresso desta figura à terra

que o viu nascer e presidir, mas também a vila de Samouco se alegrou com o evento, pois

a maior parte dessa população e a respetiva banda filarmónica deslocaram-se até à

residência particular do estimado Presidente e apresentaram as suas mais sinceras

simpatias pela recuperação. Sucedeu-se o mesmo com a Sociedade Agrícola 1.º

d’Outubro, que chegou a mandou rezar um Te-Deum na Igreja de Nossa Senhora da

116 BALDRICO, J. – Domingos Tavares, p. 7. 117 Idem, ibidem. 118 Referência à Herdade de São Bento, em Alcácer do Sal, em Idem, ibidem. 119 Não se conhece concretamente de que enfermidade sofreu, mas sabe-se que ficou sem visão durante um

período de tempo, tendo recuperado após os tratamentos médicos a que foi sujeito, provavelmente na cidade

de Lisboa. Em Idem, ibidem. 120 Mandato da vereação do dia 16 de Novembro de 1896, citado em Idem, ibidem.

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Atalaia. Entre algumas homenagens, pode ler-se, no número 65 do periódico “O

Aldegallense”, o seguinte:

“A recepção com que o exmo sr. Domingos Tavares era esperado, deve ter mostrado ao

distincto aldegallense que os seus serviços são reconhecidos e que o seu nome é por isso,

justamente estimado e respeitado. / (…) E em boa verdade: o sr. Tavares (…) tem sempre

trabalhado em favor da sua terra e em beneficio dos seus conterrâneos. Não esquecendo nem

por momentos o bem estar collectivo d’aquelles com quem convive, o seu fito constante é

fazer bem sem reparar nos meios de que tem de lançar mão para conseguir esse fim. / Na

politica o seu ideal é conquistar melhoramentos para a sua terra querida; na lavoura dar o

exemplo do uso dos mais modernos progressos; na vida particular, prestar a quantos com ele

convivem todas as manifestações do seu valimento que é inexcedível. / Devido a isso,

ninguém ainda adquiriu maior preponderância no seu meio.”121

Assim, Domingos Tavares regressou às suas funções e foi mais uma vez

sucessivamente reeleito, ocupando o cargo da presidência até ao dia 15 de Junho de 1905,

falecendo uma semana depois, com 77 anos de idade, vítima de congestão pulmonar122.

Foi velado pela sua família e por pessoas suas amigas, sob o estandarte da Autarquia que

presidiu durante 23 anos, tendo sido o Presidente que mais tempo se manteve no

executivo, em Aldeia Galega do Ribatejo. O funeral realizou-se no dia 23 de Junho, pelas

21h, tendo sido acompanhado pelo Prior da Freguesia João Pereira Vicente Ramos, pelo

Padre Theodoro de Sousa Rego e por um enorme cortejo, composto por pessoas de

diferentes classes sociais e de diversas localidades circundantes123. Os seus restos mortais

foram depositados no jazigo da família, no cemitério da mesma localidade, depois de ter

sido realizada a missa de corpo presente124.

Em sua homenagem, o jornal “O Domingo”, na edição do dia 25 de Junho de 1905,

referiu-se à pessoa de Tavares como um político de grande prestígio, sempre disposto a

prestar serviços de melhoramento da terra que administrou com distinção, durante anos a

fio. Por entre muitas outras palavras de reconhecimento, que demostram o apreço do povo

por esta personalidade, podemos ler a seguinte frase: “(…) [e]ra o tudo nesta villa, e sem

elle nada se fazia fosse o que fosse. (…)”125.

121 Citação do periódico “O Aldegallense”, número 65, em Idem, ibidem. 122 Idem, ibidem. 123 Idem, ibidem, p. 11. 124 Idem, ibidem. 125 “O Domingo”, edição de 25 de Junho de 1905, cit. por Idem, ibidem.

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5. Um percurso pela Casa Mora.

Acabámos de conhecer uma das personalidades da história de Aldeia Galega do

Ribatejo, atual Montijo, que mais contribuiu para os avanços da localidade e da região

circundante, mostrando ter sido um homem, um proprietário e um Presidente dignos,

segundo a documentação existente. Para além de extensas propriedades dispersas pelo

concelho, Domingos Tavares estabeleceu a sua morada no centro da então vila de Aldeia

Galega, cujas obras de construção se concluíram no ano de 1875.

Ao longo do tempo, o imóvel foi sofrendo alterações, acompanhando os avanços da

comodidade, tendo sido adaptado para acolher as novas exigências do quotidiano

familiar. Porém, a Casa Mora, como viria a ser conhecida até aos nossos dias, manteve

sempre o seu carisma, conservando-se a maior parte dos pormenores decorativos, que,

segundo Fernanda Pinho, teriam sido trabalhados muito provavelmente pelos melhores

artistas da região à luz da época.

A falta de documentação acessível sobre este edifício não nos permite tirar

conclusões plausíveis acerca do mesmo. Queremos com isto dizer que há uma série de

dificuldades no que toca ao esclarecimento de várias interrogações, como por exemplo:

quais foram as razões do aspeto arquitetónico do edifício; quais os motivos que levaram

à aplicação de determinadas características decorativas; e quem foram os artistas e os

construtores envolvidos no projeto. Assim sendo, a habitação podia ter sido concebida

segundo a visão pessoal dos proprietários, ou de algum arquiteto ou artista em particular.

Visto que o imóvel foi anteriormente contextualizado, é igualmente importante

procedermos à sua descrição. Começaremos por colocar primeiramente em destaque todo

o exterior da casa e só depois conheceremos o seu interior, onde serão abordados os

sistemas de organização e de decoração das salas, bem como cada uma das suas anteriores

funções, aludindo para o quotidiano oitocentista.

5.1. As fachadas.

De uma maneira geral, quando observamos o aspeto do edifício, apercebemo-nos de

que este foi erguido sob um gosto erudito e eclético126, no entanto, destacam-se a

126 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.

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simplicidade, a harmonia e a sobriedade, principalmente no que diz respeito ao traçado

arquitetónico e à sua simetria. Por ser consideravelmente mais alta e por se denotar uma

certa monumentalidade na sua fachada, a Casa Mora distingue-se das envolventes de

forma muito clara. Contribui para este efeito o revestimento da frontaria, virada para Sul,

em pedra calcária, mais concretamente sob a forma de painéis de cantaria, facto que lhe

concede uma aproximação às influências neoclássicas127. Este aspeto classicista demostra

imponência e reflete a importância e o poderio do proprietário aos níveis social e

económico.

Apesar de deter um carácter clássico, o coroamento da fachada não tem frontão, mas

sim uma platibanda totalmente composta por balaustres, limitada inferiormente por um

friso do tipo cimalha. Esta balaustrada cobre parcialmente o telhado de duas águas,

transmite um aspeto palaciano e divide-se em três secções que se estendem ao longo da

fachada, separando a composição central das restantes. As divisórias apresentam-se sob

a forma de pilastras que intensificam a simetria e o rigor com que todos os vãos estão

enquadrados. O desenho desses vãos e dos respetivos emolduramentos é extremamente

equilibrado, estando todos os traçados alinhados e enquadrados entre si, embora haja uma

exceção: a entrada principal, cujas dimensões são superiores, tanto em termos de altura,

como de largura, quando comparada com as restantes.

De madeira maciça, pintada de verde-escuro, a porta principal tem puxadores em

ferro, apoiados entre cabeças de leões128, e ainda uma fechadura, igualmente em ferro,

trabalhada sob a forma de elementos naturais. O vão está totalmente emoldurado e o lintel

tem o formato de arco de volta perfeita, abrigando sob ele a bandeira, onde se pode

encontrar, pintada a branco, a data do término de construção do imóvel. Com um olhar

atento sobre o arco, encontramos ainda uma pedra de fecho no seu ponto mais alto,

formada por uma máscara estilizada.

Ainda sobre o conjunto central do piso inferior, encontramos duas janelas, uma de

cada lado do portal de entrada, com vãos emoldurados e lintéis em forma de arco abatido,

rematados com pedras de fecho em cantaria. Para proteção de cada janela, encontra-se

um gradeado trabalhado em ferro, onde é evidente um padrão que lhe preenche uma terça

parte. Quanto às extremidades do piso inferior, podemos observar que ambas contêm uma

127 COELHO, H. P. – Caracterização tipográfica, construtiva e formal dos edifícios, p. 57. 128 A observação de puxadores de edifícios da mesma época remete-nos para a ideia de que esta estilização

foi muito comum nos finais do século XIX. O prédio situado nos números 35 a 43 da Rua Ivens, no centro

da cidade de Lisboa é outro exemplo disso.

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entrada secundária, cujos lintéis voltam a insinuar-se sob o formato de arco abatido. À

semelhança do que acontece com a porta de entrada, estas últimas apresentam-se

revestidas de um verde-escuro e contêm fechaduras e puxadores em ferro sob a forma de

máscaras.

Na fachada principal da Casa Mora, evidenciamos uma caraterística própria das casas

nobres: a soberania do andar superior, tendo este último uma maior decoração,

principalmente ao nível das ferragens. Focando-nos agora neste piso, podemos de forma

rápida apercebermo-nos da presença de três varandas: uma ao centro, de maiores

dimensões, com três vãos, e outras duas mais pequenas, nas extremidades do edifício,

com apenas um vão em cada. Os lintéis destes cinco vãos detêm o formato de arco abatido

e as pedras de fecho em cantaria são trabalhadas em relevo, sendo a do centro a mais

pormenorizada.

Todas as varandas têm um gradeamento elegantemente trabalhado em ferro como

proteção, sendo o da sacada central abaulado, e os das sacadas laterais, simplesmente

retos. O efeito visual presente entre estes três gradeamentos pintados a branco dá-nos a

sensação de que todos eles estão articulados, como se de uma única grade se tratasse129.

Para além desta decoração em ferro, existem, sob as varandas, dez mísulas em formato

de modilhão, sendo as duas mais ao centro, aquelas que apresentam um maior trabalho

escultórico. Abordando particularmente estes últimos dois apoios, podemos destacar as

suas principais características: uma orientação diagonal e apresentação de volutas

cobertas por folhas de acanto, remetendo para as influências clássicas130. Os restantes

modilhões são mais simples e encontram-se sobre a orientação vertical, representando

apenas volutas.

Quando prestamos atenção ao telhado, apercebemo-nos de que existe um pormenor

bastante peculiar: um lanternim. Nos finais do século XIX, Aldeia Galega ainda não

possuía as construções que hoje podemos encontrar junto às imediações da Casa Mora,

visto que antigamente todo o espaço envolvente era composto por quintas, por isso, o

local de edificação da residência particular de Domingos Tavares era extremamente

privilegiado, oferecendo aos residentes uma vista encantadora sobre o rio Tejo e sobre

toda a paisagem.

129 FERNANDES, P. A. [et al.] – Património artístico-cultural do Montijo, p. 218, nota 413. 130 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.

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Tratando-se de um detalhe curioso que não permite olhares desinteressados, o

lanternim funcionava, e ainda funciona, como um pequeno miradouro131. Apresenta um

formato hexagonal e vidros coloridos (amarelo e verde), encimados por arcos quebrados,

de influência gótica, que complementam a armação em maneira. No seu interior,

encontram-se pequenos assentos, pertencentes à própria estrutura, que nos intensifica a

ideia de que este elemento tinha a função de mirante para fruição das paisagens.

Fig. 10. Fachada principal da Casa Mora. Fotografia da autora.

Quanto aos alçados laterais, podemos dizer que são mais simples e planos, tendo o

da esquerda, virado para Oeste, apenas duas janelas ao nível do piso superior, com lintéis

em arco quebrado, e três outras janelas retangulares muito simples ao nível do sótão. Já a

fachada à esquerda, orientada para Este, possui unicamente uma pequena janela

retangular à altura da mansarda, estando ambos os alçados laterais atualmente pintados a

bege claro.

A fachada posicionada a Norte é composta por dois pisos e, tal como acontece com

a fachada principal, o andar superior mostra-se mais pormenorizado que o inferior.

Atualmente pintada também em tons de bege, a fachada das traseiras é coroada por uma

platibanda com um rendilhado robusto em vez de balaustres, mais uma das influências

ecléticas a que fizemos referência anteriormente. Esta platibanda já não apresenta

secções, visto que a fachada que a acompanha não é dividida em diferentes conjuntos

131 COELHO, H. P. – Caracterização tipográfica, construtiva e formal dos edifícios, p. 57.

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necessitados de enquadramento, tratando-se apenas de uma composição geral.

Observando ainda a platibanda, notamos que existem duas peças em faiança que coroam

os seus terminais, tendo acontecido exatamente o mesmo na balaustrada da fachada

principal, porém, as estatuetas antigamente existentes, encontram-se hoje

desaparecidas132.

Dando início à análise do piso inferior das traseiras, podemos contar com três portas

e duas janelas, de caráter bem mais simples e retilíneo, com vãos igualmente

emoldurados. Uma dessas portas situa-se numa posição perpendicular em relação ao

alçado e dá acesso a um compartimento existente sob a escadaria que liga o jardim ao

primeiro andar. As janelas, com o formato retangular, estão protegidas por uma grade

robusta em ferro, dando a ideia de que se trata de uma inspiração arquitetónica muito

antiga. A escadaria possuiu um trabalho de ferragens como proteção, pintadas de branco

que se prolonga por todo o comprimento da sacada do primeiro andar, tratando-se de um

só conjunto.

Abordando agora o piso superior, na varanda reta que preenche todo o alçado Norte

até ao seu extremo direito, abrem-se quatro vãos, que se encontram, mais uma vez,

emoldurados e apresentam-se sobre a forma de arco quebrado. À semelhança do que

acontece com as sacadas da fachada principal, esta varanda também se encontra

sustentada por cachorros, mas desta vez, bem mais simples e retilíneos. Para finalizar,

podemos ainda vislumbrar uma chaminé do tipo alentejano no extremo esquerdo do

telhado, quando visto pelas traseiras, pertencente à cozinha.

É bastante curioso o facto de serem utilizadas influências góticas apenas nas traseiras,

no mirante e nos alçados laterais. Talvez o motivo esteja ligado ao facto de tal

historicismo não ser considerado tão nobre a fim de o exporem na fachada principal, visto

que esta é a mais imponente do edifício, devido ao seu traçado neoclássico.

132 Supostamente, cada estatueta encimava uma seção da platibanda de balaustres, tratando-se de quatro

peças no total, cujo paradeiro é desconhecido. Em C.M.M. – Roteiro Casa Mora.

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Fig. 11. Fachada Norte da Casa Mora. Fotografia da autora.

5.2. O jardim.

Noutros tempos, o jardim da casa era totalmente privado, fazendo parte de todo o

conjunto da propriedade. Era um espaço destinado ao lazer dos habitantes do edifício e

de acesso aos empregados para as suas tarefas diárias. Nele, podemos encontrar ainda os

elementos naturais dessa época, tal como as palmeiras que, ao longo do século XIX, eram

sinónimo de grande prestígio, quer em ambiente rural como urbano133.

Segundo Fernanda Pinho e Rogério Dias, arquiteto responsável pela projeção do

jardim, este era muralhado a toda a volta e possuía apenas um portão lateral de entrada,

mas não se sabe ao certo se sempre teve estas características, ou se as obteve após a

extinção das quintas em torno da casa. Nos dias de hoje, o mesmo jardim, apesar de

público, encontra-se gradeado em ferro, continuando a ser bastante recolhedor, embora

se mostre disponível para olhares curiosos.

A atual configuração do jardim é bastante interessante e alegórica. Foi projetada

durante os planeamentos da Autarquia para implantar a sede do Museu Municipal no

edifício da Casa Mora, aproveitando a vegetação e os restantes espaços decorativos ou de

abastecimento da casa já existentes, como por exemplo, o poço e o fontanário. O objetivo

principal da forma do jardim é estabelecer uma certa proximidade e um contato direto

com a rua, sem que esta interfira nos espaços interiores. Assim sendo, o muro foi

133 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.

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aproveitado, mas cortado até pouco acima da altura do chão, e o gradeamento, com um

simples trabalhado em ondas, alusivo à proximidade da cidade ao rio Tejo, permite a

proteção do jardim, não o distanciando do visitante.

Segundo o arquiteto Rogério Dias, o desenho do calcetamento de todo o jardim

assemelha-se a uma mulher grávida, associado ao conceito de germinação de ideias e de

cultura, estando esta intrinsecamente ligada à qualidade de Museu que o edifício adjacente

teria. Para o arquiteto, existem dois espaços diferentes, estando o primeiro ligado à

gestação, ou seja à elaboração de atividades de cariz museológico e cultural, de onde se

desenvolvem novas consciências, e o segundo, significativamente mais pequeno,

tratando-se de uma zona de descanso, de apaziguamento e de recolhimento, para que se

dê azo ao surgimento de novas ideias.

Rogério Dias diz-nos que a barriga da mulher encontra-se representada pela calçada

principal, onde se situa o anfiteatro do jardim, e a sua cabeça, revela-se num espaço

igualmente redondo, mas mais pequeno e recatado, ladeado por elementos naturais de

diferentes espécies e por bancos de jardim. Segundo o arquiteto, a própria ideia de cérebro

é reforçada pelo candeeiro central de aspeto antigo – facto que nos aproxima ao passado

histórico do local – que alude para um certo aclaramento de consciências, pois é este o

único componente que ilumina o pequeno recinto, caraterizado como um lugar de

tranquilidade, de introspeção e de intelectualidade.

Já o anfiteatro, mostra-se como um espaço bastante mais abrangente e envolvente,

circundando toda a área da entrada do jardim e recebendo-nos sem aprisionamentos. A

toda a volta deste largo, encontra-se uma série de escadarias de dois a três degraus, altos

e largos, que devem ser entendidos como lugares sentados.

Fig. 12. Zona do anfiteatro.

Fotografia da autora.

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Fig. 13. Zona de recolhimento

com o candeeiro central.

Fotografia da autora.

Contudo, não só destes elementos vive o cenário central do jardim. Encontra-se

mesmo em frente ao portão de entrada, e na continuidade do palco do anfiteatro, uma

fonte, que surgiu do aproveitamento do equipamento antigo que já se encontrava no local.

Segundo Rogério Dias, esta fonte foi projetada com a intenção de ser «mágica», contendo

diversas intensidades de jatos de água, acompanhados por jogos de luz e por um sistema

de som, porém, atualmente, encontra-se desativada.

Fig. 14. Zona do poço encimado por um moinho

americano. Fotografia da autora.

Bem junto à referida fonte, está plantado um poço antigo, pertença da propriedade de

Domingos Tavares, que servia naturalmente de abastecimento da casa e auxiliava nos

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trabalhos diários, e um moinho do tipo americano, pintado com as cores do município,

amarelo e verde. Acompanhando estes últimos elementos, e já mais próximo da zona de

recolhimento, encontra-se uma pequena área que, segundo o arquiteto Dias, poderia

tratar-se em tempos de uma estufa. Agora constituída por uma bancada retangular com

uma entrada lateral que permite aceder ao seu núcleo, esta composição encontra-se

reaproveitada sob um caramanchão em ferro pintado de amarelo, parcialmente coberto

por plantas trepadeiras, de maneira a proporcionar sombra e frescura, na eventualidade

de existir um serviço de catering durante uma atividade.

Fig. 15. Zona de catering com caramanchão. Fotografia da autora.

No centro do jardim, mais propriamente na área de divisão entre o anfiteatro e a zona

de repouso, destaca-se um elemento com um certo volume, pertencente ao tempo em que

a Casa Mora era habitada. De formato retangular e de orientação vertical, com decoração

em embrechados compostos por conchas, fragmentos de cerâmica, azulejos Bordalo

Pinheiro134 e pedra calcária, o fontanário, ainda funcional, não passa despercebido para

quem entra neste jardim, tornando-se muitas vezes na atração principal de quem quer

saciar a sede ou refrescar-se num dia de intenso calor. O seu tanque exibe cantos

arredondados, é caiado no seu interior e ladeado por bancos com traçados curvilíneos e

dinâmicos. Por último, e junto desta referida composição, estão dispostos dois marcos de

134 Encontramos uma pequena descrição deste fontanário na dissertação de Mestrado em Estudos do

Património, de Liliana Santos: “Estratégias para o aproveitamento e valorização do património de Montijo”,

volume I, onde se afirma na página 138, que os azulejos empregues na fonte do jardim são hispano-árabes,

com o qual discordamos.

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légua em calcário, muito provavelmente datados do século XVIII135 e provenientes da

antiga Estrada Real, colocados bem ao centro de uma das áreas de relvado.

Fig. 16. e fig. 17. À esquerda, um pormenor dos embrechados e dos azulejos da fonte, e à direita, um

marco de légua. Fotografias da autora.

Terminada a enumeração de elementos dispostos pelo jardim, podemos

debruçarmo-nos sobre as zonas de apoio necessárias para os trabalhadores responsáveis

pela sua manutenção. Junto à casa, está construído um anexo muito simples que funciona

como sanitário público e arrecadação, mas o que o torna curioso é o facto de existir uma

característica que o permite aproximar-se do traçado arquitetónico da própria casa.

Apenas com um simples coroamento em arco quebrado, este núcleo vai ao encontro das

influências góticas presentes nas portas do primeiro andar do alçado norte do edifício,

dando à nova estrutura um sentido de pertença àquele lugar e revelando gosto pós-

moderno.

135 FERNANDES, P. A. [et al.] – Património artístico-cultural do Montijo, p. 24; e SANTOS, L. C –

Estratégias para o aproveitamento e valorização do Património de Montijo, vol. I, p. 140.

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Fig. 18. Pormenor do arco de

influência gótica. Fotografia da

autora.

Todavia, esta área não é o único apoio que podemos observar no jardim. Junto à

fachada da antiga habitação, existe um espaço de repouso, facilmente identificado como

uma esplanada de auxílio à cafetaria, que se iria situar aparentemente numa antiga zona

de cocheira, tal como indicou o arquiteto Rogério Dias. Porém, esse projeto acabou por

nunca se concretizar, acabando por se instalar, nesse local, o Posto de Turismo do

município.

Depois de feita a abordagem geral aos elementos que compõem o jardim, podemos

destacar a calçada portuguesa que emoldura todas as zonas mencionadas, bem como os

relvados e os canteiros. A área de maior calcetamento, junto ao anfiteatro, apresenta

padrões bastante interessantes. Segundo Rogério Dias, alguns dos elementos que os

formam caraterizam-se por ondas, denunciando a proximidade com o rio, que desde

sempre fez parte da identidade e da história da terra, como já constatámos. Já outros

motivos decorativos, para o arquiteto, estão relacionados com a figura humana, como os

semicírculos que formam um pentágono, aproximando-se da composição do conhecido

desenho do “Homem Vitruviano”, e apelando para o sentido de perfeição, neste caso, face

à estesia provocada pela cultura, contribuindo para o desenvolvimento de um novo olhar

e de uma outra consciencialização.

Por trás da fonte e junto à esplanada, existe uma parede que denuncia a continuação

da propriedade em questão, estando ainda evidentes vários cachorros e ainda alguns

umbrais em pedra que denunciam a antiga presença de portas e janelas naquele mesmo

alçado. No entanto, não há registos que nos elucidem sobre as verdadeiras funções

daquele espaço, havendo apenas teorias de que talvez se pudesse tratar de cavalariças.

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Fig. 18. Pormenor dos cachorros.

Fotografia da autora.

Mediante este estudo, e ao desfrutarmos deste jardim, acabamos inerentemente por

refletir sobre os diferentes significados empregues em cada detalhe e iniciamos o processo

de imaginar como seria aquele lugar e o quotidiano da família Tavares Mora, bem como

de todas as pessoas que ali passaram e trabalharam, nos finais do século XIX. É esta

procura de respostas que se torna uma mais-valia para despertar a curiosidade e o interesse

por um património que à partida parece estar carenciado de estudo.

5.3. O interior.

Analisado o espaço exterior do atual Museu Municipal do Montijo, iremos de

imediato debruçar-nos sobre o interior desta antiga habitação. Como já tivemos

oportunidade de constatar através da descrição das fachadas, o edifício tem três pisos,

sendo o do rés-do-chão aquele que apresenta mais alterações, pois é nele que se albergam

o Posto de Turismo e as salas de exposição, departamentos com maior necessidade de

equipamento moderno.

A partir da entrada principal, seguiremos um trajeto correspondente à rotação dos

ponteiros do relógio, abordando cada sala tendo em conta as suas principais características

decorativas e as suas anteriores funções. Assim, para além de descrevermos o edifício,

conseguiremos também remeter o leitor desta dissertação para o passado histórico da Casa

Mora, fazendo-o imaginar como seria viver antigamente neste património oitocentista.

Na continuidade do presente texto, intitularemos cada compartimento – de acordo

com a publicação camarária “Roteiro Casa Mora” –, e iremos numerá-los nas plantas que

acompanharão o texto, para que seja mais acessível encontrar o posicionamento das

divisões no espaço habitacional.

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Fig. 19. Planta do rés-do-chão, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do Montijo.

Começando pelo rés-do-chão, deparamo-nos primeiramente com a entrada da casa

(1), onde nos recebe um chão lajeado composto por uma decoração em xadrez preto e

branco. Nas paredes laterais, estão expostos dois estandartes de duas épocas diferentes136,

e as portas, nelas contidas, apresentam vãos e umbrais emoldurados em madeira, são

coroadas por bandeiras, e os seus lintéis têm o formato de arco de volta perfeita.

Na continuidade destas paredes, existem sancas, junto ao teto, encimadas por faixas

de folhas de acanto, salientando-se, de seguida, o excecional trabalho de estuque137 em

relevo pintado de verde e branco, que preenche o teto. Podemos igualmente observar um

arco de volta perfeita que antecede a escadaria principal da casa, seguindo-se as iniciais

“DT”, trabalhadas a estuque, alusivas ao nome do primeiro proprietário.

136 Brasões Do Montijo, sendo um deles do tempo da vila, e o outro, referente à atualidade. 137 Argamassa de revestimento. Existem vários tipos de estuque, podendo servir para revestir paredes

internas ou forros, ou para vedar. As decorações em estuque podem ser executadas à mão livre, ou com

recurso a formas ou moldes. Após o terramoto de 1755, os tetos em estuque tornam-se comuns em Portugal.

Vários materiais podem ser empregues na composição do estuque, desde pó de mármore, a gesso, ou a cal,

podendo ainda adquirir um pigmento colorido durante a sua feitura. Em ROZISKY, C. [et al.] – A Arte

Decorativa de Estuques de Interiores em Pelotas. De 1870 a 1931, pp. 136-137.

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Fig. 20. Pormenor do fecho do arco da entrada e do

trabalho de estuques do teto com as iniciais “D.T.”

Fotografia da autora.

As escadas têm dois lances, sendo o primeiro de pedra e o segundo, de madeira, e

estão acompanhados por uma elegante grade de proteção em ferro e por um friso em

estuque marmorizado138 com tons de verde. Sob o segundo lance, estão expostas algumas

peças em pedra, como por exemplo, Brasões de antigas famílias, provenientes de outros

edifícios, e um marco de légua. Por fim, todos os arcos presentes no hall possuem chaves

em relevo que os rematam nos seus pontos mais altos, tal como acontece na fachada.

Seguindo a direção dos ponteiros do relógio, deparamo-nos com quatro divisões

contínuas, onde hoje se situam as Salas de Exposição (2). Este espaço ainda contém os

sistemas de descargas de forças, e destina-se ao acolhimento de exposições temporárias.

Estas salas estavam reservadas ao armazenamento de produtos de apoio à cozinha,

tratando-se de uma normalidade em residências deste género139. Porém, tendo em conta

as dimensões e a quantidade de divisões, pensa-se que algumas das atividades financeiras

da família – possivelmente ligadas à propriedade que envolvia a casa – pudessem estar

relacionadas com aqueles espaços.

138 Um dos tipos de estuque utilizados no revestimento de paredes, complementando a decoração. Imita a

pedra mármore, tornando os espaços mais imponentes. Em Idem, ibidem. 139 C.M.M. – Roteiro Casa Mora.

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Fig. 21. Espaço de galeria, antigas salas de

armazenamento. Fotografia da autora.

Na continuidade deste percurso, e já na direção Norte, iremos deparar-nos com o

Posto de Turismo (3). Não há estudos concretos que revelem quais as anteriores funções

deste compartimento, podendo tratar-se de uma zona de cocheira, ou apenas de mais uma

sala de armazenamento, pois, pela observação da planta, percebemos que existia uma

passagem entre esta referida área e a atual galeria de exposições.

Voltando à entrada, encontramos à direita a Receção (4), ocupando o antigo escritório

da casa, onde eram recebidos os empregados e outras pessoas alheias ao ambiente

familiar, assim, o espaço privado nunca estaria conjugado com o de maior movimentação

diária. A decoração deste espaço é muito simples, contendo apenas estuques no teto.

Pensa-se que os motivos decorativos representam as atividades financeiras de Domingos

Tavares. O capacete com asas e o caduceu com as serpentes são referências a Mercúrio,

deus dos comerciantes, portanto é muito provável que esta representação se trate de uma

alegoria às atividades agrícolas do proprietário.

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Fig. 22. Pormenor da alegoria em estuque do teto do

antigo escritório da Casa Mora. Fotografia da autora.

Fig. 23. Planta do piso nobre, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do Montijo.

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Seguindo para o piso superior, começamos por comentar que os dez diferentes

compartimentos estão distribuídos com muita minucia em termos funcionais, pois os

espaços complementam-se entre si. É a partir do corredor, com um certo carácter

labiríntico, que se tem acesso às diferentes salas, estando o início deste atual percurso

estabelecido no salão nobre, primeira divisão com que nos deparamos assim que a

escadaria termina.

Com orientação voltada para a avenida, este compartimento estava unicamente

destinado à receção de convidados, e denomina-se agora de Sala Azul (5), devido à cor

predominante empregue na sua decoração. Esta divisão apresenta uma ornamentação

muito rica, principalmente no que diz respeito aos estuques revestidos com tons de azul,

branco e dourado. Neles podemos encontrar diversos motivos decorativos de inspiração

clássica140, tais como as folhas de acanto e os bouquets de flores, e alguns padrões que

preenchem as superfícies. As paredes estão decoradas com uma pintura bastante

caraterística, assemelhando-se a um tecido azul de seda adamascado, com jogos de luz-

sombra, e em torno destes frescos existem molduras em estuque pintado de dourado.

O recurso aos espelhos como elementos decorativos é bastante interessante. Estão

colocados estrategicamente sob os arcos de volta perfeita que encimam as passagens entre

o salão e as divisões a si adjacentes, proporcionando uma sensação de profundidade e de

amplitude de espaço, pois os reflexos dos estuques iludem para a continuidade da

decoração. A Sala Azul possui ainda três janelas com portadas interiores, onde os seus

vãos se apresentam emoldurados e pintados de bege e os lintéis assumem a forma de arco

de volta perfeita. Os espaços vazios entre estas últimas composições e a sanca, trabalhada

com folhas de acanto, estão enquadrados relevos em estuque, elegantemente revestidos

de branco e dourado.

140 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.

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Fig. 24. Sala Azul. Fotografia da

autora.

Continuando pelo sentido dos ponteiros do relógio, entramos na Sala Cor-de-rosa (6),

quarto principal da antiga habitação141, onde constatamos que há uma ligeira simplicidade

em relação à divisão anterior, especialmente em termos de frescos, pois neste último

compartimento não há pinturas murais. À exceção da cozinha, este é o único espaço da

casa onde aparentemente a presença de frescos foi negada, e como tal efeito causa uma

certa perplexidade. Segundo Paulo Lima142, não se pode descartar a hipótese das paredes

terem sido antes forradas a tecido, pois essa era uma prática comum na época. Contudo,

o trabalho de estuques mantém-se bastante meticuloso, estando presentes os bouquets de

flores, as folhas de acanto, os padrões, os emolduramentos, e as máscaras estilizadas.

O nome desta sala faz alusão à pigmentação das suas decorações, sendo o tom

dominante o cor-de-rosa. Este compartimento abre para a fachada principal do edifício

duas janelas de sacada e, tal como acontece com a divisão anterior, os vãos internos estão

emoldurados e os lintéis denunciam o formato de arco de volta perfeita. À semelhança da

Sala Azul, esta assoalhada também possuiu espelhos sob os arcos sobrepostos aos acessos

para o corredor e para a divisão adjacente, que era um quarto auxiliar de vestir143,

indiciando o aparato com que uma família deste estatuto vivia nos finais do século XIX.

141 C.M.M. – Roteiro Casa Mora. 142 Em visita informal ao edifício. 143 C.M.M. – Roteiro Casa Mora.

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Fig. 25. Pormenor do trabalho de estuques

da Sala Cor-de-rosa. Fotografia da autora.

De tamanho inferior aos das salas abordadas anteriormente, o Quarto de Vestir (7)

apresenta uma coloração em tons de verde, principalmente no teto, onde os estuques são

novamente evidentes. Os motivos decorativos presentes nos relevos são dominantemente

padrões emoldurados e pintados de branco, sobrepondo-se ao verde da pintura sólida que

reveste o teto. Sob a sanca, encontram-se frescos que dão alusão às anteriores junções da

divisão, estando representados tecidos em renda e arranjos florais.

Fig. 26. Pormenor do trabalho de

estuques do Quarto de Vestir. Fotografia

da autora.

O compartimento seguinte distingue-se por ter um caráter religioso, tratando-se de

um Oratório (8), aparentemente destinado às tradições religiosas da família Tavares,

porém, há indícios da existência de símbolos maçónicos enquadrados na sua decoração144.

144 Entre a decoração, existem alguns símbolos que podem estar relacionados com a Maçonaria, tais como

o «delta luminoso», alusivo aos três ideais (igualdade, fraternidade e liberdade) e às três virtudes (beleza,

sabedoria e força). Informações recolhidas no documentário “Viagem pela Maçonaria”, disponível em:

<URL: http://www.maconariaportugal.com/maconaria-em-portugal>. Porém, não há documentos

concretos que afirmem a ligação dos proprietários à Maçonaria.

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A decoração do Oratório é bastante peculiar, constituída por frescos junto à sanca, de

onde sobressaem estrelas douradas de seis pontas, entre outros elementos, e os estuques

do teto são constituídos por um padrão que evoca a abóbada celeste, estando

representadas novamente as estrelas e um conjunto de oito querubins que envolvem o

trabalho de relevo central, de onde se ressalta uma pirâmide com um olho. Como

exemplos de recheio deste pequeno espaço, podemos mencionar as obras de arte sacra e

de arte decorativa, tais como um cruxifixo e dois castiçais, bem como uma Bíblia Sagrada

datada do século XVIII, sendo estes elementos, segundo Paulo Lima, provenientes da

Ermida de Santo António, localizada a uns escassos metros da Casa Mora, visto que as

semelhanças entre estes objetos e os que se encontravam naquele local são bastante

evidentes.

Fig. 27. e fig. 28. Atual recheio do Oratório e pormenor do trabalho

de estuque do teto. Fotografia da autora.

Continuando o percurso, deparamo-nos com a Casa de Banho (9) da casa, resultante

da adaptação de um antigo quarto145, visto que as famílias abastadas do século XIX não

conheciam ainda o conceito de casa de banho da maneira como passou a ser entendido a

partir do século XX, mas já detinham nas suas habitações, segundo Rogério Dias, um

quarto destinado aos hábitos de higiene. De decoração relativamente simples, esta divisão

não deixa de conter frescos coloridos, junto à sanca, com aparência alusiva à Arte Nova,

de onde se sobressaem pequenas borboletas. O teto apresenta um trabalho de estuque

muito simples, composto por um centro preenchido com folhas de acanto.

145 C.M.M. – Roteiro Casa Mora.

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Fig. 29. Pormenor dos frescos e dos estuques do teto da Casa de

Banho. Fotografia da autora.

Seguindo o corredor na direção Norte, encontramos uma sala completamente

ornamentada, tanto em termos de frescos como de estuques. Denominada de Sala de

Jantar (10), devido às suas funções comprovadas pela proximidade à cozinha e pelos

motivos decorativos, este espaço apresenta uma magistralidade única. Nas suas paredes,

ostenta-se um conjunto de sete medalhões ovais em estilo rocaille, onde se encontram

representadas paisagens românticas e cenas campestres de caráter figurativo e aspeto

estrangeirado146, identificando-se como nacional apenas a que se refere à serra de Sintra

e ao Palácio da Pena.

A falta de documentação referente a este edifício não nos permite saber quais as

intenções dos proprietários, ou dos artistas envolvidos no projeto, em pintar tais cenários,

mas existem várias teorias que nos podem remeter tanto para a representação de alegorias

referentes às propriedades de Domingos Tavares – apesar de não haver indícios de que se

estendessem até Sintra –, como para a ideia de crescimento pessoal e aperfeiçoamento do

ser, que, segundo Rogério Dias, está representado através da montanha e do caminho que

se tem que percorrer até ao topo. Estes medalhões ovalados complementam-se por

pequenas molduras, onde se denotam pinturas com temas associados às peças de caça e

às naturezas mortas. Os espaços vazios estão também decorados a fresco com padrões

elegantes em tons de verde.

146 SANTOS, L. C – Estratégias para o aproveitamento e valorização do Património de Montijo, vol. I, p.

139; e C. M. M. – Roteiro Casa Mora.

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Fig. 30. Pormenor de um dos frescos da Sala de Jantar, alusivo a

Sintra. Fotografia da autora.

O teto da Sala de Jantar é o mais rico de toda a casa, pois para além do revestimento

a estuque, possui também medalhões com pinturas referentes às peças de caça. Todo o

conjunto de relevos associa-se à utilidade da sala em questão, pois, para além dos

elementos comuns às restantes assoalhadas, tais como as folhagens, os emolduramentos

e os padrões, aqui o teto pintado de verde-claro é também ornamentado com cachos de

uvas, peras, maçãs, figos, entre outras frutas. A sanca apresenta um friso de óvulos, sendo

esta mais uma das características clássicas utilizadas na decoração do imóvel147.

Fig. 31. Pormenor dos estuques e dos frescos do teto da Sala de Jantar. Fotografia da autora.

147 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.

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Tal como era comum na época, as habitações deste género tinham uma sala de fumo,

para onde se deslocavam os homens após o jantar. Segundo o “Roteiro Casa Mora”, a

pequena divisão de recolhimento, junto à zona de refeições, era a antiga Sala de Estar

(11) da casa. Porém, há indícios de que esta pequena sala se destinava aos afazeres da

costura148. Com vista para toda a zona Norte da cidade, esta sala apresenta uma decoração

especialmente simples, mas continua a conter frescos em estilo rocaille junto à sanca e

um pequeno apontamento emoldurado em estuque no centro do teto.

Adjacente à sala de refeições, encontra-se a Cozinha (12), servindo apenas para a

confeção dos alimentos, visto que os produtos chegavam já amanhados ao piso superior.

Segundo Fernanda Pinho, era pelas escadas exteriores que se fazia o acesso a esta divisão,

depois de serem efetuados os «trabalhos sujos», como o arranjo de carnes. Ostentando

paredes integralmente revestidas de azulejos tipo pombalino, padronizados a azul e

branco e contornados por cercaduras, a cozinha tem ainda conjuntos de grandes armários

em madeira. Existem também recantos de armazenamento e toda uma zona de lavagem e

confeção dos alimentos. O chão da cozinha é revestido por lajes de tijoleira castanha,

sendo esta a solução encontrada para harmonizar os contrastes que podiam surgir entre

este pavimento e todo o restante149, composto por madeira envernizada. O teto exibe um

trabalho de estuque simples, estando emoldurado a toda a volta e tendo um centro

composto por folhas de acanto.

Fig. 32. Cozinha. Fotografia da autora.

148 SANTOS, L. C – Estratégias para o aproveitamento e valorização do Património de Montijo, vol. I, p.

139. 149 SANTOS, L. C – Estratégias para o aproveitamento e valorização do Património de Montijo, vol. I, p.

138.

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Adjacente a esta última divisão, existe uma pequena despensa para arrumos, chamada

de Sala dos Louceiros (13). Segundo o “Roteiro Casa Mora”, era neste compartimento

que se situavam os armários de acondicionamento das louças utilizadas na casa, e podia

ser acedido tanto pelo corredor, como pela cozinha, através de uma passagem situada

debaixo das escadas de ligação à mansarda. De decoração também simples, esta pequena

sala possui um teto muito idêntico ao da cozinha, tendo ao centro estuques com folhas de

acanto. Junto à sanca encontramos novamente as pinturas murais padronizadas, tão

características da Casa Mora, desta vez, em tons de azul e laranja.

Para finalizar o percurso pelo primeiro piso, encontramos a última divisão, que pode

ser acedida pelo término do corredor, ou pela Sala Azul. Trata-se de um Quarto de

Hóspedes (14), segundo o “Roteiro Casa Mora”. A sua decoração remete-nos novamente

para os grandes trabalhados de estuque e frescos, estando o teto revestido com padrões,

emolduramentos requintados e folhagens. Contudo, encontramos também um conjunto

de elementos zoomórficos, consistindo num casal de pombos enquadrados num medalhão

de fundo bege. Estes animais fazem-se acompanhar por uma tocha acesa e algumas

flechas, havendo hipóteses de existir uma certa simbologia orientada para a mensagem da

paz.

Junto à sanca, e por toda a altura das paredes, encontram-se pinturas murais, onde se

destacam os arranjos florais e os rubis. Estes frescos funcionam como emolduramentos.

A ligação entre este quarto e o salão nobre é feita através de duas passagens, cujos vãos

se apresentam emoldurados e os lintéis voltam a assumir o formato de arco de volta

perfeita. Os espelhos ressurgem nesta divisão, situando-se sobre as passagens para a Sala

Azul, e os espaços vazios entre a curvatura dos arcos e a sanca estão revestidos de

pinturas.

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Fig. 33. e fig. 34. Pormenor dos frescos e dos estuques do

Quarto de Hóspedes. Fotografias da autora.

Fig. 35. Planta da mansarda, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do Montijo.

Resta-nos espreitar a área da mansarda, cuja funcionalidade estava relacionada com

os alojamentos das empregadas, espaço que não poderia estar relacionado com o piso de

maior privacidade dos proprietários. Esta grande área estava hierarquicamente dividida

por diferentes compartimentos, sendo um deles o quarto individual da Governanta e os

restantes, mais amplos, teriam de ser partilhados pelas restantes criadas150.

150 C.M.M. – Roteiro Casa Mora.

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Há ainda uma casa de banho, possivelmente instalada após a época de ocupação do

edifício pelos primeiros proprietários, e uma grande sala (15) que antecede os quartos,

onde se desenrolavam as atividades rotineiras e de lazer das empregadas. É através dessa

mesma divisão que se pode aceder ao Lanternim.

Existe um pormenor bastante curioso sobre a escadaria de acesso ao mirante (16),

tratando-se de uma tipologia parecida às escadas de navio, que, segundo o arquiteto Paulo

Lima, aproxima o trabalho de construção da casa aos saberes e tradições ligadas ao rio e

às embarcações.

Toda a variedade de linguagens decorativas que podemos encontrar neste edifício

traduz o gosto eclético com que foi erguido, tentando conjugar o clássico com o barroco

e com o gótico presente em alguns vãos, prática muito comum no Portugal oitocentista151.

Muitos outros detalhes poderiam ter sido referidos nesta descrição sobre a Casa Mora,

porém não se justifica a sua menção na presente dissertação, visto que esta não se trata

exclusivamente do estudo deste património, mas também da apresentação da proposta de

um exercício no âmbito da educação patrimonial, trabalhando na sua divulgação.

151 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 133.

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III. O LIVRO INFORMATIVO COMO ESTRATÉGIA DE DIVULGAÇÃO DO

PATRIMÓNIO. PROPOSTA EDITORIAL SOBRE A CASA MORA PARA

CRIANÇAS.

1. A importância do livro informativo na infância.

Nos capítulos anteriores, tivemos oportunidade de analisar a importância que o

património e a educação patrimonial têm na vida dos cidadãos, tanto ao nível do seu

equilíbrio psíquico, como do sentido de pertença e de estima pelas suas identidades e

heranças. Constatámos que existem diversas iniciativas de educação patrimonial que

revertem para a valorização do património nacional e contribuem para uma maior

consciencialização quanto à sua salvaguarda. Investigámos também o património que irá

servir de base para a criação desta proposta, a Casa Mora, edifício do Museu Municipal

do Montijo, revelando alguns dos episódios que ocorreram, tanto na vida do seu primeiro

proprietário, como na própria habitação. Foram observados tanto o exterior como o

interior do imóvel e destacados os seus principais detalhes arquitetónicos e decorativos,

para que o leitor desta dissertação possa conhecer o conteúdo do projeto.

Terminado o estudo mencionado, segue-se a descrição geral da proposta de

salvaguarda que pretendemos apresentar ao Serviço Educativo do Museu Municipal do

Montijo. Consistindo num livro informativo com a estrutura de conto, este pequeno

projeto visa promover a divulgação da Casa Mora junto de crianças com idades

compreendidas entre os 7 e os 12 anos.

Antes de mais, é necessário justificar a nossa escolha em relação ao material lúdico-

didático apresentado nesta proposta, analisando a forma como os livros relacionados com

o património podem constituir uma ferramenta essencial para a educação patrimonial e

para a passagem de informação de geração em geração. Precisamos, portanto, de

compreender que influência tem o livro junto das crianças, para que seja estabelecida uma

maior amplitude de conhecimento e de consciencialização, surgindo assim a estima pelo

património que as rodeia. Neste presente capítulo, iremos abordar o potencial dos livros

como estratégia para educar o olhar da criança, tornando-as mais atentas a tudo o que as

rodeia, no meio de tantos pontos de dispersão.

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Desde a antiguidade que as narrativas fazem parte do dia-a-dia dos mais novos e o

conteúdo moral das histórias foi sempre instrumento de educação, desde a Idade Média.

Assim sendo, os contos tinham, e ainda hoje têm, uma forte componente pedagógica152.

O Homem teve sempre a necessidade de recordar os acontecimentos do passado e, por

isso, acabou por recorrer à construção de histórias fantásticas com personagens de

determinados eventos como forma de transmissão de informações153.

Atualmente, as nossas crianças deparam-se com inúmeras formas de comunicação, a

maioria provenientes das novas tecnologias, mas a família tem um papel importantíssimo

no diálogo e na interpretação dos eventos da nossa história. No entanto, e por diversas

circunstâncias, a família parece estar cada vez mais distanciada dessa função154. A criança

possui a capacidade de sonhar e é algo que os adultos não fazem, pelo menos com tanta

frequência, devido à realidade do quotidiano a que são forçados a viver sistematicamente.

Pensamos que seja essa a causa da falta de diálogo entre pais e filhos, nos dias que correm,

pois os primeiros não conseguem prescindir da interpretação literal das suas realidades155.

O acesso aos livros está cada vez mais facilitado, visto que há maior oferta.

Recentemente, os livros passaram a competir com as novas tecnologias, com o tablet, os

telemóveis e os jogos de computador. A nova moda do ebook também tem vindo a

prevalecer no quotidiano das comunidades contemporâneas, pois, é possível aceder-lhe

através de um dispositivo com internet, onde quer que se esteja.

Ironicamente, são as novas tecnologias que permitem uma maior aproximação dos

indivíduos aos livros, mas distancia-os uns dos outros, pois, muitas vezes, deixam de

socializar entre si. As novas tecnologias e a internet facilitam a pesquisa de exemplares

junto dos sítios oficiais das editoras, por exemplo, e também auxiliam a exploração de

novos formatos e soluções gráficas. No entanto, mesmo com todas as alternativas e

comodidades que se encontram hoje ao dispor do ser humano, acreditamos que nada

substitui a sensação de folhear as páginas de um livro, nem de sentir o cheiro ou a textura

do papel156.

152 RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial. Projeto editorial

sobre património histórico-artístico de Lisboa, pp. 43-44. 153 EGAN, K. cit. por Idem, ibidem, p. 73. 154 RODRIGUES, C. – Literatura para a infância em Portugal: conceptualização e contextualização

histórica, p. 162. 155 RIBEIRO, M. – Do desenho à ilustração infantil, p. 64. 156 RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial. (…), p. 44.

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Os livros de arte para a criança podem tornar-se em excelentes recursos para o

processo de aprendizagem, porque existem imensas limitações quanto ao trabalho dos

professores de arte. Segundo Renata Sant’Anna e Valquíria Prates157, há barreiras nas

práticas de ensino de artes na infância, tais como a falta de materiais, a falta de formação

sobre os processos de aprendizagem em artes para os professores da infância e as

dificuldades financeiras que condicionam o acesso por parte das escolas aos museus, aos

centros de arte e/ou aos monumentos. Para preencher esta lacuna, é possível recorrer-se

aos materiais didáticos que, muitas vezes, são inadequados, comprometendo o ensino das

artes e do património. Estando estas crianças privadas do contacto direto com a arte e com

os lugares, o livro poderá ser a solução para estimular o interesse do público infantil pela

arte e pelo património, apesar de esta alternativa nunca conseguir substituir a experiência

de observar as obras na sua dimensão real.

O livro informativo sobre arte destaca-se por ser capaz de contribuir para o

desenvolvimento da compreensão artística e da apreciação estética. Este tipo de livros

tem a capacidade de inspirar as crianças a quererem saber mais sobre os temas trabalhados

e de promover a criação de laços com a história da arte e com o património. De uma

maneira geral, os livros são também peças imprescindíveis na formação de diálogo entre

os indivíduos e ótimos apoios quando se trata da aproximação do público-alvo aos seus

mediadores de leitura, sejam família, professores, ou educadores.

Segundo José Gomes158, o livro infantil é um dos melhores instrumentos que

proporcionam aos mais novos a possibilidade de se tornarem seres humanos mais cultos

e críticos, graças ao gradual domínio da palavra e da competência literária. Aliado à

prática convencional de contar histórias, a literatura em geral, e em particular quando se

destina à infância, desempenha um papel crucial na formação do indivíduo. Gomes refere

que a leitura é capaz de tornar as crianças em adultos capazes de “entender melhor as

alegrias, dores e sonhos de um ser humano; gente capaz de saber enfrentar as duras

realidades da existência, as frustrações e as feridas narcísicas e de empreender um

percurso de vida em sociedade (…).”159

O autor salienta que a leitura participa ativamente na formação de indivíduos que

sabem interagir de forma adequada com os seus semelhantes, tendo como base a

comunicação verbal, a argumentação e a negociação, tanto no exame lógico de problemas,

157 Em “Porque criar uma coleção de livros de arte para crianças”, p. 260. 158 Em “Literatura para a infância e a juventude e promoção de leitura”, p. 5. 159 Idem, ibidem.

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como na expressão de discordâncias, de protestos ou de afetos. Resumidamente, José

Gomes diz-nos que o livro é uma ferramenta indispensável na educação e na construção

da cidadania.

Segundo André Letria160, quando falamos de livros para a infância, é importante que

estes não lhes sejam impostos, pois, não é suposto que a criança os leia por obrigação. Os

livros também não têm de ser feitos com o propósito de forçar os seus leitores a gostarem

de ler, antes pelo contrário. Primeiro, e falando no caso específico das crianças, estas têm

de gostar daquilo que veem, por isso é aconselhável que os livros a si destinados tenham

ilustrações e imagens apelativas, de modo a que seja estabelecida de imediato a

fidelização do público infantil aos respetivos livros. Assim, a leitura torna-se uma

atividade prazerosa e divertida, tendo em conta que esta se encontra em constante

competição com diferentes meios, como o das novas tecnologias, como já referimos.

Existem imensos livros de caráter informativo no nosso mercado que são formados

apenas por aglomerados de informações dispostas por temas. Tal caraterística faz com

que o prazer da leitura se desvaneça, tornando este tipo de livros em meros instrumentos

auxiliares na aprendizagem das matérias escolares161. Segundo Luisa Villarejo162, um

bom livro informativo para crianças estimula a curiosidade; favorece as conexões com

outros aspetos do tema tratado; desenvolve hábitos e métodos de trabalho intelectual; cria

autonomia de critério; melhora a capacidade de análise; e entretém, enquanto é ampliado

o conhecimento do mundo em que a criança habita.

Porém, para que a proposta que pretendemos apresentar nesta dissertação esteja de

acordo com os interesses do público-alvo e com as suas capacidades interpretativas, é

necessário conhecer as principais caraterísticas e limitações cognitivas da criança entre

os 7 e os 12 anos de vida.

160 Cit. por AZEVEDO, C. – Imagens para a infância. Processos construtivos da ilustração do livro infantil

em Portugal, Anexo I, p. 113. 161 CARTER, B. cit. por RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e

patrimonial. (…), pp. 45-46. 162 Em “Libros documentales y de información para niños y jóvenes. El uso de otros documentos

(informativos) en la biblioteca escolar del siglo XXI”, p. 316.

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2. O público-alvo e a sua capacidade de processamento de informação.

Regra geral, a criança recorda mais facilmente informações que sejam diferentes do

seu quotidiano. A partir dos dois anos, a criança começa a conseguir compreender a forma

da narrativa das histórias, principalmente os opostos binários – alegria/tristeza,

coragem/medo, bem/mal, amor/ódio, entre outros – presentes na sua estrutura, bastante

comuns nos contos clássicos163.

Segundo Ana Garralón164, a criança deseja crescer rapidamente e vê tudo o que se

passa ao seu redor a acontecer a grande velocidade. Este desejo em crescer faz com que

os pequenos tenham tendência para querer participar nas questões e atividades do mundo

dos adultos, adorando falar sobre os seus próprios conhecimentos e exibindo-os

orgulhosamente. Garralón diz-nos que a criança quer ser sempre lavada a sério, prefere

que lhe expliquem como é a realidade, não através da infantilização dos assuntos, mas

com sinceridade e clareza. A criança só aceita explicações que sejam honestas e

espontâneas, mesmo que sejam pesadas e abstratas165.

Construindo a sua visão com base na sensibilidade, os mais pequenos interessam-se

vivamente pelas coisas, pois os seus sentimentos manifestam-se “com pureza e sem

ambiguidade.”166 Enquanto os adultos passam o seu tempo a racionalizar, ordenar e

controlar, a criança conhece o mundo com fantasia e emoção puras. Segundo Durlei de

Carvalho Cavicchia167, a capacidade da criança em conhecer a sua realidade é resultado

da relação com o próprio meio, uma vez que a cognição está sempre aliada à afetividade

em todas as fases da adaptação humana.

É precisamente por volta dos sete anos de idade que a atividade cognitiva da criança

torna-se operatória, suscetível à reversibilidade lógica. As trocas cognitivas entre a

criança e a sua realidade são finalmente mais ricas, mais estáveis e mais abertas. Tal como

Jean Piaget168 refere, o essencial a reter é que a criança a partir dos 7 anos começa a pensar

antes de agir e a adquirir capacidades de reflexão gerais, em vez de permanecer nas

163 EGAN, K. cit. por RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial.

(…), p. 73. 164 Em “Los libros informativos ya están aqui”, p. 14. 165 BENJAMIN, W. cit. por SCHLESENER, A. – Educação e infância em alguns escritos de Walter

Benjamin, p. 132. 166 SCHLESENER, A. – Educação e infância em alguns escritos de Walter Benjamin, p. 129. 167 Em “O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida”, p. 4. 168 Em “Seis estudos de psicologia”, p. 42.

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condutas impulsivas da primeira infância, devido à anterior fase de desenvolvimento,

caraterizada pelo egocentrismo intelectual.

Segundo a perspetiva de Arnold Gesell169, é também a partir dos 7 anos que se verifica

uma diminuição na impulsividade e se dá o aumento de comportamentos de concentração

mental e de capacidades de interiorização, refletindo-se no maior esforço em

compreender e assimilar o mundo exterior. Esta assimilação é ainda feita com base na

intuição, ou seja, face àquilo que a criança sente em determinada situação. Este exercício

das capacidades de compreensão leva a que os mais pequenos tenham maior consciência

de si e dos outros.

Na continuação do raciocínio de Gesell, aos 8 anos estas caraterísticas tendem a

expandir-se e exteriorizar-se em pleno. Em termos afetivos, regista-se uma maior

dependência em relação à família e aos professores, começando a surgir o sentido de

pertença a um grupo, tão importante no processo de apreciação do património e na

capacidade de compreender que este faz parte da sua identidade. A nível intelectual, há

maior capacidade de avaliação das situações e de chegar a conclusões.

Com a continuidade do seu crescimento, a criança estabelece um nível de integração

superior e começa a surgir a motivação pessoal, ou seja, a própria criança encontra razões

para se comportar de determinada maneira e é capaz de tomar iniciativas, envolvendo-se

por completo nas suas tarefas. É aqui que o caráter apelativo do livro tem bastante

importância, visto que a criança começa a saber escolher aquilo que lhe suscita maior

interesse.

Para completar esta teoria de Arnold Gesell, a partir dos 10 anos de idade estabelece-

se um período de consolidação e de generalização do equilíbrio geral. Segundo Gesell, os

10 anos de idade são marcados pela estabilidade emotiva, pelo autocontrolo, pelo sentido

crítico e pela perceção mais apurada, havendo maiores capacidades de raciocínio e de

individualidade, contribuindo em muito, mais uma vez, para o sentido de pertença em

relação ao meio a que a criança pertence.

Jean Piaget170, refere que em termos de compreensão dos tempos históricos e dos

acontecimentos do passado, a criança com 9 ou mais anos de idade começa a ser capaz

de fazer conexões entre eventos de forma consistente, pois, o seu pensamento deixou de

ser egocêntrico, possibilitando a visão dos problemas pela perspetiva dos outros. É aqui

169 Cit. por BORGES, M. – Introdução à psicologia do desenvolvimento, pp. 129-131. 170 Cit. por RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial. (…), pp.

31-33.

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que a criança começa a ter perceção das diferentes datas históricas e estima há quanto

tempo atrás é que determinados acontecimentos ocorreram. Todavia, é só a partir dos 11

anos que o indivíduo começa a diferenciar largos períodos de tempo, tal como as diversas

épocas.

Elaborada esta reflexão generalizada sobre as principais caraterísticas do

desenvolvimento dos indivíduos dos primeiros ciclos de escolaridade, resta-nos tentar

compreender que características precisa de ter um bom livro sobre arte e património para

que as crianças o achem significativo e interessante.

3. As estratégias a adotar para uma melhor apreciação do livro.

Como já tivemos oportunidade de perceber, as crianças não aceitam apenas a

simplificação e infantilização dos assuntos, é necessário adaptá-los eficazmente aos seus

interesses e competências cognitivas. Importa perceber que estratégias poderão ser

utilizadas para que o livro informativo infantil consiga chegar ao seu público. As suas

caraterísticas têm que ser concordantes com as da própria criança, para que esta se sinta

verdadeiramente interessada pelos temas e suscite a curiosidade de os conhecer cada vez

mais.

Antes de elaborarmos um projeto editorial sobre determinado assunto, é necessário

conhecê-lo bem e entender os seus destinatários, tentando compreender de que forma

pode ser organizado todo o conteúdo. Segundo Luisa Villarejo171, tem que ser oferecido

aos leitores apenas um tema, de forma concisa para que não lhes semeie dúvidas. A

estrutura do livro pode ser trabalhada com base em perguntas e respostas, em jogos

interativos, e em contos relacionados, ou não, com o mundo da fantasia e/ou com o humor,

onde se transmite os derivados assuntos de forma mais divertida.

É aconselhável que a narrativa empregue no livro tenha pontos de viragem

significativos, para que a atenção dos leitores seja mantida. Segundo José Gomes172, as

narrativas para o público infantojuvenil podem assumir contornos novelísticos,

explorando por exemplo a clássica temática da «viagem no tempo», de modo a que sejam

transmitidos factos históricos e personalidades do passado, enquanto é trabalhada a

componente da imaginação e da curiosidade. Um livro sem o fator da surpresa não

171 Em “Libros documentales y de información para niños y jóvenes. (…)”, p. 311. 172 Em “Literatura para a infância e a juventude e promoção de leitura”, p. 7.

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consegue alcançar a atenção do leitor infantojuvenil, pois, este último deixa de se sentir

cativado pela leitura e não se estabelece uma relação com o imaginário do indivíduo.

A criança poderá sentir-se mais entusiasmada ao ler um livro que lhe ofereça uma

narrativa com momentos de tensão e de expectativa, cuja história seja desvendada aos

poucos, suscitando o interesse em querer ler e em querer descobrir as revelações

seguintes. Caso o livro esteja incluído numa coleção, acreditamos que seja proveitoso que

a narrativa não se encerre em si mesma, pois, assim é permitida a continuação da história

ao longo de toda a respetiva coleção, incentivando a leitura de livro após livro. Neste

caso, para que a narrativa do último livro faça sentido, é necessária a leitura do primeiro,

facto que permite uma maior afeição às personagens, quando existentes, e mais interesse

pelos temas trabalhados.

Para que a narrativa conquiste o público, é necessário que seja identificado

primeiramente tudo aquilo que é emocionalmente importante no tema. Kieran Egan173

sugere que devem ser encontrados os opostos binários presentes no tema, sejam lutas

entre o bem e o mal, seja a persistência ou desistência de determinadas personagens, ou

até o amor ou o ódio que possa existir entre elas. Egan salienta ainda que é importante

que os conceitos binários forneçam pistas sobre os assuntos que se pretendem tratar e que

deve escolher-se o conteúdo de maneira a articular toda a história de forma clara, tendo

em conta as metáforas que esta sugere.

A linguagem tem que ser acessível, para que seja percetível a mensagem que se deseja

passar, e os factos abordados têm de ser limitados àquilo que é realmente importante

trabalhar com o público, de modo a que a leitura da obra não fique comprometida. À

criança de 11 ou 12 anos de idade, podem ser oferecidos livros com diferentes níveis de

informação, sendo utilizados anexos ou comentários à margem, verdadeiros apoios ao

texto principal.

Toda a informação documental precisa de ser exata e rigorosa. Embora a narrativa

possua um caráter lúdico e novelístico, os factos tratados não podem ser ficcionais, pois

como já tivemos oportunidade de constatar, no primeiro capítulo desta dissertação, a

história não pode ser deturpada em momento algum.

Segundo Villarejo174, um livro histórico destinado a crianças e a jovens tem que conter

nele uma extrema coerência científica baseada em documentação. Para a autora, tanto o

173 Cit. por RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial. (…), p.

74. 174 Em “Libros documentales y de información para niños y jóvenes. (…)”, p. 323.

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método literário, como o grafismo têm que acompanhar a realidade das crianças,

apresentando um aspeto atualizado face à era contemporânea.

4. A ilustração enquanto mediadora entre o livro e o leitor.

Atualmente, os indivíduos em geral encontram-se rodeados e expostos a variados

estímulos visuais que chegam pelos diversos meios de comunicação. Segundo Marta

Ribeiro175, a imagem ocupa grande parte do quotidiano das populações, e esta situação é

capaz de provocar instabilidade emocional. Assim sendo, o papel do ilustrador passa por

sensibilizar o público, dando-lhe exemplos de imagens que vão ajudá-lo a entender os

lugares que o rodeiam.

A autora refere ainda que as crianças do século XXI são constantemente tentadas pelas

imagens animadas dos programas de televisão, dos jogos de computador e da internet,

por isso, é necessário o recurso à ilustração, não só para atrair a atenção da criança para

o livro, mas também para que as imagens sem preocupação estética não sejam a sua única

realidade. A ilustração auxilia assim o processo de literacia visual da criança, visto que

estimula a sua perceção, a sua imaginação, e aumenta o seu sentido de observação e de

apreciação estética.

Quando se trata de um livro para a infância, a ilustração é uma forma pedagógica de

acesso à leitura, pois, tal como nos diz Villarejo176, as ilustrações permitem suscitar o

interesse do público que não aprecia a prática da leitura. Para a autora, a abundância de

imagens faz com que a criança folheie um livro e satisfaça a sua curiosidade sem ter de o

ler obrigatoriamente. Se as ilustrações lhe interessarem o suficiente, a criança irá dirigir-

se ao texto para saber mais.

A ilustração deve de ter uma relação muito próxima com o texto, interpretando-o e

auxiliando na comunicação entre o leitor e a situação narrada. É uma forma do público

ter a perceção imediata daquilo que vê. Nelly Coelho177 refere que só através da palavra,

a criança teria dificuldades em perceber todo o enquadramento das histórias. Segundo a

175 Em “Do desenho à ilustração infantil”, p. 22. 176 Em “Libros documentales y de información para niños y jóvenes. (…)”, p. 318. 177 Cit. por BAIÃO, A. – Experiências de leitura na narrativa gráfica: o papel do designer na criação de

livros sem texto, p. 25.

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autora, as ilustrações tocam a sensibilidade dos mais pequenos, permitindo a estimulação

da sua imaginação através da dita relação do texto com a imagem.

Maioritariamente, o ensino encontra-se concentrado na alfabetização dos indivíduos

e na criação de hábitos de leitura, mas não se educa o olhar da mesma forma. O ensino

deve focar-se também na contemplação e no «saber ver», prática essencial na educação

patrimonial, e o livro ilustrado ajuda a apurar os sentidos da criança e a despertar o seu

olhar.

Marta Ribeiro178 refere que as ilustrações podem dar à criança o sentido de identidade

pessoal e uma maior consciencialização da sua herança cultural. Ribeiro salienta que as

ilustrações eliminam estereótipos e corrigem noções erradas de cultura. Uma criança em

desenvolvimento conhece muito pouco do que a rodeia e a ilustração tem como objetivo

informar e dar a conhecer o que ainda há por descobrir. Para além disso, a ilustração

apresenta-se como uma ferramenta auxiliar no processo de mediação de leitura por parte

dos pais e educadores, visto que, muitas vezes, estes podem não conseguir explicar, por

palavras suas, certas circunstâncias da narrativa.

No fundo, a ilustração é um meio para contar a história através de imagens, tendo

sempre a preocupação de ligar cada uma delas ao excerto do texto a que se destina, visto

que a criança procura sempre elementos comuns entre a imagem e a narrativa. Contudo,

a ilustração também pode contar a sua própria história e “deve permitir às pessoas que

leem o livro, poder imaginar mais qualquer coisa para além daquilo que está naquele livro,

para além daquilo que está naquela história e naquela ilustração.”179

Desta forma, podemos afirmar que a ilustração não pretende representar fielmente o

que está escrito, mas sim sugerir ao leitor outras possibilidades de imaginar a história

empregue no livro, recriando-a. Se todos os pormenores apresentados na ilustração

fossem narrados integralmente, os textos seriam extremamente longos e pesados. Assim,

o aspeto descritivo da ilustração conta com uma série de caraterísticas que são

apreendidas no ato de leitura da imagem, não sobrecarregando a narrativa.

A ilustração ganha então autonomia, evitando redundâncias em relação ao texto,

sugerindo diversas leituras de forma implícita, embora tenha sempre como ponto de

partida a história contada. Os livros ilustrados acabam por ser mais estimulantes aos olhos

do público, primeiro, porque as imagens chamam a atenção do olhar, e segundo, porque

178 Em “Do desenho à ilustração infantil”, p. 63. 179 LETRIA, A. cit. por AZEVEDO, C. – Imagens para a infância. Processos construtivos da ilustração do

livro infantil em Portugal, Anexo I, p. 106.

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a observação de uma ilustração constitui um momento de pausa, onde o leitor recorre ao

imaginário e se desprende da leitura sucessiva de texto após texto.

Terminada a abordagem sobre a importância da ilustração para a infância, resta-nos

refletir sobre as estratégias que podem tornar as imagens presentes nos livros infantis mais

apelativas ao olhar. Se assim for, a experiência de folhear, de apreciar e de ler o livro

poderá ser bem mais agradável e perpetuará na memória da criança leitora.

Antes de mais, o processo criativo da ilustração para crianças não pode ser restritivo,

o ilustrador precisa de ter liberdade para interpretar a história à sua maneira e representá-

la a pensar também no adulto. Como refere André Letria180, o agrado do adulto pela

linguagem plástica de um livro sugere grandes vantagens económicas, visto que os livros

são objetos comerciais, que passam pelos pais antes de chegarem às crianças. Todavia, a

satisfação do adulto ao observar determinado livro estabelece uma maior afeição e ligação

entre pais e filhos durante a prática da leitura, porque os primeiros envolvem-se também

na atividade.

Os crescidos têm um papel fulcral na mediação entre a criança e o livro, pois alguns

temas podem ser difíceis de entender, sendo imprescindível a elucidação por parte de um

adulto. Assim sendo, a ilustração para a criança, por exemplo, de 7 anos não deve estar

unicamente destinada a essa faixa etária, como se fosse interdito ao adulto, ou a crianças

de outras idades, apreciar os seus grafismos. “Um bom livro para a infância tem que ser

também um bom livro para os adultos, (…)”, refere Margarida Botelho181, com o que

concordamos, porque, se o livro infantil for bem ilustrado e bem pensado, irá cativar e

sensibilizar igualmente o adulto.

Nos últimos tempos, ocorreu uma notável expansão no mundo da ilustração para os

livros. Aos poucos, a imagem saiu dos limites impostos pelas cercaduras simétricas e

pelas margens das páginas, instalando-se no centro do livro e competindo pelo olhar do

leitor. Tradicionalmente, a ilustração cingia-se ao enquadramento que lhe era destinado,

delimitado por linhas, molduras ou por fundos coloridos, porém, atualmente encontramos

livros cujas imagens não apresentam qualquer tipo de limitação, podendo ocupar páginas

inteiras e convivendo com o texto. Nestes casos, a criança irá tentando descobrir o sentido

da imagem e da narrativa em simultâneo, visto que estes últimos acabam por formar um

todo.

180 Cit. por AZEVEDO, C. – Imagens para a infância. Processos construtivos da ilustração do livro infantil

em Portugal, Anexo I, p. 106. 181 Cit. por Idem, ibidem, Anexo I, p. 151.

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Acreditamos que este método pode tornar-se ligeiramente confuso no que diz respeito

a livros sobre arte e património, pois o leitor poderá não conseguir percecionar na íntegra

os detalhes da imagem da obra ou do acontecimento que se propõe explorar. Cremos que

tem que ser dada uma certa «liberdade» à ilustração, contudo, achamos que a

sobreposição de texto sobre a mesma aparenta ser uma estratégia demasiado arriscada,

que talvez resulte no excessivo ruído visual, acabando por gerar pouco entendimento do

conjunto por parte do público.

Tendo em conta o estilo da ilustração a aplicar, podemos dizer que não há

obrigatoriedade de trabalhar determinadas linguagens gráficas nos livros infantis, porém,

há estilos que podem cativar mais as crianças de uma certa idade, enquanto outras podem

não se interessar tanto. Este processo é ditado pela apreciação, sempre diferente em cada

indivíduo, por isso uma criança de 11 ou 12 anos pode interessar-se pelo grafismo de um

livro para o público de 7 anos, embora possa achar ligeiramente infantil o seu conteúdo,

se este estiver exclusivamente destinado aos mais novos.

Segundo João Fazenda182, o tipo de imagem que aparece nos livros destinados a

crianças até aos 9 anos é muito mais interessante no ponto de vista gráfico do que a que

surge nos livros juvenis. Para o ilustrador, os mais novos têm maior disponibilidade para

ver e brincar, fator que se vai perdendo ao longo do crescimento, e a ilustração torna-se

muito mais aliciante ao seu olhar quando apresenta valores muito plásticos ao nível da

cor e da textura dos materiais. Estas imagens podem estabelecer uma relação

surpreendente com o texto e aliciar a curiosidade até dos mais crescidos. Quanto aos livros

juvenis, Fazenda refere ainda que muitas vezes apresentam um aspeto muito

estereotipado, relacionado com a linguagem da animação televisiva standard, o que no

ponto de vista do ilustrador, deixa de ser interessante, visto que é uma tipologia vulgar.

Os próprios jovens preferem esse tipo de estímulos, porque acham-se já demasiado

crescidos para livros coloridos e plásticos. João Fazenda termina esse tema dizendo que

o público jovem opta por grafismos muito fortes, muito duros, com ligação à manga e aos

jogos de computador. Tal como o ilustrador, também nós acreditamos que assim “se perde

o tal terreno que se pode ganhar com a própria educação visual, que passa pela educação

pelos livros infantis ilustrados do olhar, do gosto pelas cores e formas, que pode ser

despertado.”183

182 Cit. por AZEVEDO, C. – Imagens para a infância. Processos construtivos da ilustração do livro infantil

em Portugal, Anexo I, p. 137. 183 Idem, ibidem.

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Sobre este assunto, Pedro Morais184, diz-nos que os desenhos para o público mais

velho tendem em ser mais realistas e anatomicamente mais corretos, pois os jovens são

mais exigentes quanto a isso, embora não seja obrigatório. No entanto, para o ilustrador,

um bom desenho consegue agradar tanto à criança como ao adulto. A ideia de que o

desenho mais simples e infantil, despido de detalhes, está destinado unicamente aos mais

novos é errada, pois a própria criança também gosta de andar à procura e descobrir

pormenores na imagem.

Em suma, qualquer estilo pode adaptar-se a qualquer público, sem que seja necessário

criar linguagens gráficas específicas para determinadas faixas etárias. Contudo, é

importante que o ilustrador tenha em atenção a quantidade de elementos descritivos que

emprega no desenho, de modo a que este não fique sobrecarregado de informação.

Terminada esta investigação sobre a importância do livro informativo e da leitura na

infância, sobre o desenvolvimento cognitivo da criança e sobre as estratégias a adotar

para que um livro se torne apelativo aos olhos desta, seguem-se a descrição e as ideias-

chave referentes à proposta para o livro sobre o património que estudámos anteriormente.

5. “A casa do Sr. Domingos”. Uma proposta editorial para a divulgação da Casa

Mora, Museu Municipal do Montijo.

Como já tivemos oportunidade de referir, esta proposta consiste na criação de um

livro informativo com a estrutura de conto para crianças com idades compreendidas entre

os 7 e os 12 anos, cujo conteúdo irá incidir sobre a investigação elaborada acerca da Casa

Mora, atual sede do Museu Municipal do Montijo. No capítulo anterior, vimos que o

estudo deste património em particular poderá ser enriquecedor para a história local e para

a salvaguarda do património concelhio, e por isso, um livro infantil sobre este tema poderá

também constituir uma mais-valia para a sua divulgação e salvaguarda.

Há diversos fatores que contribuem para a falta de investimento em atividades de

educação patrimonial em torno do imóvel. O primeiro, como já destacámos, consiste na

carência de informação histórica sobre o edifício, não permitindo uma investigação

aprofundada, por exemplo, sobre os detalhes de construção ou sobre os motivos que

levaram os antigos proprietários a optar por determinadas linguagens decorativas. Toda a

184 Cit. por Idem, ibidem, Anexo I, p. 137.

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informação que conseguimos recolher baseia-se em testemunhos que passaram de

geração em geração até aos nossos dias e deve-se também à observação de cada pormenor

do edifício. Sem este sucessivo diálogo não seria possível estabelecer uma ligação ao

edifício nem surgiria a apreciação estética do mesmo. É esse o objetivo deste livro, incutir

no público-alvo a curiosidade em contemplar e descobrir ou redescobrir a casa, olhando-

a com outros olhos e apreciando-a.

O segundo fator revela-se na falta de recursos humanos por parte do Serviço

Educativo municipal, pois as equipas têm demasiado poucos elementos na sua

constituição, o que impossibilita o planeamento e concretização de atividades. Mediante

este cenário, e tendo em conta todas as vantagens que o livro poderá trazer para a

educação dos indivíduos, julgamos ser esta a solução mais viável no que toca à liberdade

que os serviços municipais teriam na execução desta estratégia de dinamização do seu

património.

Neste capítulo, salientámos algumas das pertinências da utilização do livro, desde o

auxílio na formação de indivíduos de uma maneira geral, ao desenvolvimento da literacia.

Vimos que o livro pode ser uma ferramenta útil para o despertar da cidadania, do sentido

crítico e da apreciação estética. Pode também ser um excelente apoio na aprendizagem

das matérias escolares, como na aproximação das comunidades à arte, porém existem

outros fatores que nos levaram a definir esta estratégia do livro como a mais interessante.

Em primeiro lugar, visto que o Serviço Educativo existente na Casa Mora, como já

foi referido, carece de recursos humanos, o livro poderá ser uma ferramenta bastante útil

no ponto de vista do alívio da carga horária devido a agendamentos de atividades. A

leitura do livro sobre património não necessita obrigatoriamente de visitas orientadas pelo

edifício, pois, a leitura pode ser feita tanto em contexto escolar, sendo os professores os

mediadores de leitura, como em contexto doméstico.

Na era do consumismo, da comunicação, dos media, das novas tecnologias e das redes

sociais, seriam muitas as alternativas de valorização da Casa Mora que estariam à nossa

disposição. Poderíamos ter optado por criar aplicações de telemóvel, jogos de

computador, ou atividades em grupo dentro do próprio espaço, mas continuamos a

acreditar que o livro, grande sobrevivente no âmbito do contexto da modernidade, deveria

ter o seu destaque neste projeto.

As novas tecnologias prejudicam, mesmo que a longo prazo, a saúde ocular dos

indivíduos. O sucessivo foco nos pequenos ecrãs dos smartphones, dos tablets e dos

computadores podem causar lesões oculares, por vezes irreversíveis, desde tenra idade. É

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certo que a prática da leitura, quando em demasia, também pode provocar situações de

cansaço, mas em comparação com o ecrã de um telemóvel, julgamos não ser tão imediato,

devido à ausência de brilho nas folhas de papel.

Como já foi comentado anteriormente, cremos que as novas tecnologias nos

distanciam uns dos outros. Os indivíduos passam minutos ou horas seguidas com os olhos

postos nos jogos, nas mensagens trocadas, por vezes com pessoas que estão mesmo ao

seu lado, ou nas páginas das redes sociais, à procura de novas formas de interagir com a

restante sociedade, descurando o tempo necessário para si próprios.

No caso do património, este acaba por sofrer com esta mesma falta de reflexão. O ser

humano parece não lhe dar atenção, mesmo quando tira um pouco do seu tempo para o

visitar. Parece haver pouca disponibilidade para a contemplação e apreciação, para o

desenvolvimento da curiosidade sobre o património e para a tentativa de descoberta da

história. Mesmo em tempos de férias, as novas possibilidades de registar o momento

torna-nos cada vez mais distantes dele.

Atualmente, observamos o património e os eventos culturais através de uma máquina

fotográfica ou de uma câmara de telemóvel. Se não forem tiradas as fotografias do

acontecimento, é como se este nunca tivesse existido, sendo cada vez mais a exigência de

que a fotografia fique perfeita, com o intuito de ser partilhada com o resto do mundo, na

internet. Assim, a experiência do indivíduo é validada pelos outros, pelo número de

«gostos» que recebe, tornando a prática de recordar o passado num sistema de partilhas

sociais. Este paradigma não tem de ser de todo mau ou errado, basta que seja equilibrado

e o livro pode contrariar a compulsão do registo e da partilha imediata do momento, visto

que o conteúdo presente no livro já se encontra registado nele e é permanente, tornando

a experiência o mais pessoal possível.

O livro aproxima os indivíduos de si próprios, mas também, uns dos outros. Um leitor,

quando a sós, tira tempo para si mesmo ao ler um livro, levando a um momento de

autoconsciência; em ambiente escolar, as crianças poderão ler, apreciar a narrativa e as

imagens, tirar conclusões e partilhar com os seus colegas, dialogando em tempo real; em

ambiente familiar, os mediadores de leitura poderão também usufruir de um bom

momento com os mais pequenos, pois o património chega a todos, e, tal como já fizemos

referência, um bom livro para crianças é igualmente um bom livro para adultos.

Justificada a escolha do livro como ferramenta desta proposta, iremos referir o que

nos levou a optar por este público-alvo em específico. É na infância que tudo começa, é

quando somos pequenos que descobrimos o mundo da forma mais genuína possível, e

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iniciamos o processo de traçar o caminho para os interesses futuros. Assim sendo,

acreditamos que a educação patrimonial deve ter início desde cedo.

Apesar das crianças mais pequenas não terem a perceção do tempo histórico nem das

diferentes épocas, deve começar-se a incutir desde tenra idade o gosto por querer

conhecer o passado e o fascínio pela nossa identidade, tendo os contos como

intermediários, uma vez que as crianças gostam de histórias. Quanto mais uma criança se

aproxima da consciencialização de proteger o seu património, mais se revela protetora do

património dos outros. Não queremos com isto dizer que todos os indivíduos devem

reconhecer todo o tipo de património como tal, até porque já tivemos oportunidade de

verificar no primeiro capítulo desta dissertação, que o património será tudo aquilo com

que nos identificamos, mas deve haver obrigatoriamente respeito mútuo pelas diversas

manifestações da cultura, essencial ao progresso do ser humano em geral.

Este livro, destinado a crianças dos 7 aos 12 anos, poderá ser um excelente apoio na

aproximação dos indivíduos a essa consciencialização. Dirige-se a crianças que já sabem

ler e têm maior entendimento dos assuntos, podendo estes ser tratados de forma mais

abrangente, sem que no entanto se tornem exaustivos. Estas crianças já reconhecem datas

e grandes períodos de tempo, conseguindo ter a perceção da época e do contexto em que

a Casa Mora surgiu.

Quando olhamos para este imóvel, rapidamente percebemos que não pode ser

ignorado. Trata-se de um património único no concelho, uma casa nobre do século XIX,

que auxilia bastante o entendimento dessa época, da mentalidade e dos gostos das gentes

da antiga vila de Aldeia Galega. Naquele tempo, não havia os sistemas de construção que

temos atualmente, por isso, percecionar e imaginar como poderia ter sido a edificação de

uma habitação deste género aproxima-nos de imediato ao desejo da sua salvaguarda.

A escolha do tema não foi, portanto, difícil. A imponência do edifício não passa

despercebida – e a verdade é que o espaço foi escolhido para Museu Municipal –, mas a

sociedade contemporânea, tal como já abordámos, está em constante movimento e

aceleração, o que por vezes impede a contemplação de tudo aquilo que está para lá da sua

rotina e das suas deslocações diárias. O facto de um indivíduo já estar acostumado à

presença de determinados elementos artísticos na sua área de residência e no seu dia-a-

dia, faz com que não os olhe com atenção. Este projeto visa aproximar o imóvel sobretudo

às gentes da terra, mas também dá-lo a conhecer à população em geral.

Revelados os principais motivos para a escolha das caraterísticas deste livro

informativo, iremos partir para a descrição física da proposta. Como foi brevemente

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estudado, as crianças não aceitam a infantilização dos temas, basta que os abordemos de

forma clara, genuína e estrategicamente bem conseguida.

A narrativa deste livro terá caraterísticas como a acessibilidade, a exatidão e o rigor

histórico. Apesar do texto apresentar a estrutura de conto, de história ficcionada, as

informações não serão deturpadas. Iremos recorrer ao mundo da imaginação e da fantasia

para aproximar as crianças ao património, fazendo-as recuar até ao século XIX, através

de um «portal do tempo», como se conhecessem a Casa Mora diretamente na sua época.

Acreditamos que esta estratégia poderá ser bastante elucidativa para que seja possível

a compreensão por parte das crianças de que existe o passado e que esse é relevante para

o futuro. A temática da «viagem no tempo» também aparenta estar cada vez mais presente

na vida das comunidades, como podemos constatar pela concretização de eventos

municipais e de atividades de época, já para não falar da quantidade de documentários,

séries e filmes cuja história se baseia no recuo de personagens no percurso temporal, para

resolverem determinados assuntos do passado. Entre a emoção da narrativa e do

envolvimento entre as diferentes personagens, são dadas informações de acontecimentos

ocorridos em determinadas épocas.

Para que a narrativa do livro resulte, será selecionado primeiramente todo o conteúdo

com mais significado, mais emoção e maior relevância. No ponto de vista das crianças, e

para que o livro não seja exaustivo, a história da Casa Mora transmitida terá de ser

equilibrada, excluindo-se a carência de informações disponibilizadas, tal como o seu

excesso. Os indivíduos não aceitam textos infindáveis, mas também sentem a falta de

suporte histórico e de interesse quando os assuntos são abordados superficialmente, por

isso é importante que estes estejam articulados de forma explícita. Os conceitos binários

estabelecidos entre personagens podem também enquadrar os acontecimentos da

narrativa de forma clara.

Hoje em dia, e no meio de tantos pontos de dispersão, ler poderá tornar-se numa

atividade cansativa para os mais novos quando os textos aparentam não ter pontos de

viragem, expectativa, tensão ou emoção. O fator da surpresa é bastante importante para

que seja mantido o foco de atenção. A pressa para jogarem mais um jogo, por exemplo,

pode não permitir que a concentração da criança esteja estabelecida na leitura, por isso

estratégias como recorrer à ideia de fantasia e de aventura, a utilização do humor, bem

como a descoberta da história aos poucos, serão utilizadas. Como o público-alvo desta

proposta aparenta ser exigente, visto que há risco das crianças de 12 anos acharem

demasiado infantil o conteúdo dos livros e as ilustrações para os mais novos, iremos tentar

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equilibrar e enquadrar tanto os assuntos como a linguagem, de modo a que não sejam

inalcançáveis por parte dos mais pequenos, nem insignificantes para os mais crescidos.

Pensa-se que a disposição do texto, o espaçamento entre linhas e a harmonia dos

alinhamentos também poderão ser fatores que contribuem para uma maior vontade em

descobrir o que está escrito. Realçando a frase popular de que «os olhos também comem»,

neste caso, cremos que o primeiro olhar estabelece de imediato uma ligação de interesse

ou desinteresse para as soluções gráficas e para a leitura. Para este efeito, pensamos que

o tipo de letra também precisa de ser o mais simples possível, não apresentando rigidez

(aspeto bold) para a visão das crianças e despertando uma certa leveza na leitura, tornando

a atividade mais prazerosa.

Julgamos ser proveitoso para a estima do património e para a educação patrimonial

da região o facto da história deste livro não se encerrar em si mesma, pois, tal como já

fizemos alusão, assim será possível estabelecer a sua continuidade, criando afinidade

entre o leitor e as personagens e uma maior procura e vontade de descoberta de outros

tipos de património da cidade. Uma coleção deste formato sobre o património e a arte do

Montijo, poderá constituir uma mais-valia para a valorização do património e para a

educação patrimonial dos indivíduos da região, sem que haja muito esforço ou aumento

da carga horária das equipas responsáveis pelos espaços.

Um livro com base em perguntas e respostas estabelece uma certa dinâmica, pois, este

esquema será motivo para que se olhe o tema mais que uma vez, estimulando a procura

de conhecimentos. Visto que um texto para as crianças mais crescidas poderá conter

informações laterais e auxiliares, acreditamos que fazer uso desse esquema poderá ser útil

na definição de conceitos ou de termos artísticos que possam surgir durante o decorrer da

narrativa. Uma vez que o livro irá conter ilustrações, a própria imagem pode ser detentora

de elementos explicativos desses assuntos tratados no texto, como se de comentários à

margem se tratassem.

Como a criança aprecia o jogo, a interatividade, acreditamos que o conto só estará

completo se conter em si pequenos momentos lúdicos que visam estabelecer um contato

direto entre a criança e o tema do livro. Todavia, talvez se perdesse a continuidade da

narrativa se fossem criados enigmas durante o percurso da história, pois, assim o fio

condutor da narrativa e o raciocínio dos leitores quebrar-se-iam.

Devido a este possível efeito, optámos por propor a colocação de pequenos jogos

como anexo do livro, na continuidade do texto e das ilustrações, assim, a criança irá

compreender integralmente o conto sem dispersões e testar os seus conhecimentos sobre

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o que reteve dele. As últimas páginas do livro serão então dedicadas à comunicação entre

as personagens e as crianças, onde serão lançados desafios sobre a Casa Mora. Aqui, mais

uma vez, tentaremos equilibrar os conteúdos e a dificuldade dos jogos, para que não sejam

tomados como demasiado difíceis pelos mais pequenos, nem demasiado fáceis para os

mais crescidos.

No que toca às ilustrações, estas serão pensadas consoante o momento-chave da

narrativa presente em cada página, auxiliando a comunicação entre o leitor e o texto. As

imagens serão pensadas como uma forma de acesso à leitura, pois, como já referimos, a

ilustração pode suscitar o interesse do público que não aprecia ler, visto que a abundância

de imagens permite-lhe desenvolver interesse pelo texto. Tendo em conta esta perspetiva,

as imagens irão ocupar grande parte das páginas do livro, sem qualquer limitação ou

margens, competindo em grande escala com a narrativa pela atenção do olhar da criança.

Não tendo qualquer tipo de cercadura e contendo sobretudo fundos neutros, o

alinhamento do texto será conjugado com os detalhes das imagens, sem que haja

sobreposição de elementos. Parece-nos ser esta uma prática bastante harmoniosa de tratar

o conjunto texto-ilustração, havendo também dinâmica na solução gráfica.

De maneira geral, as imagens irão apresentar harmonia entre as cores e alguma

simplicidade, de maneira a que estas cheguem a todas as idades. Os tons poderão ser

sobretudo pastel e a mancha aparenta ser uma boa solução quanto às exigências do

público infantil e do público juvenil. Assim, a componente plástica permanece, enquanto

os detalhes se apresentam realistas, indo ao encontro das realidades das diferentes idades,

visto que os mais pequenos apreciam a diversidade de pormenores, das texturas e das

cores, enquanto os mais velhos gostam de imagens mais realistas.

Os conteúdos das imagens irão estar sempre relacionados com os detalhes decorativos

da Casa Mora, com as personagens presentes no livro e com as diferentes situações da

narrativa, prestando auxílio ao momento narrado e aos conceitos destacados nas

respetivas páginas adjacentes. Pensa-se que a perspetiva e a anatomia não têm que

representar fielmente a realidade, pois se assim fosse, não dariam azo à criatividade e à

imaginação dos leitores.

Destacamos como exemplo um livro, que de certa forma abriu-nos horizontes para a

estruturação desta proposta, intitulado de “El Madrid de los Austrias contado a los niños”,

de Maria Aguado Molina, com ilustrações de Pilarín Bayés de Luna, das Edições Miguel

Sanchez. Neste livro, a história de Madrid é contada através da fantasia, onde quatro

personagens, crianças, vão ao encontro do século XVIII, após se aperceberem que uma

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das meninas retratadas na obra “As Meninas de Velazquez”, em exposição no Museu do

Prado, se move no próprio quadro e os convida a viverem uma aventura pelo passado. As

próprias ilustrações estão cheias de detalhes e convivem harmoniosamente com o texto,

não havendo contornos, nem limites, embora todos os elementos se enquadrem uns nos

outros. Este exemplo mostra ser muito relevante para esta proposta, visto que

consideramos ter sido uma excelente estratégia para transmitir alguns dos acontecimentos

históricos às crianças pequenas, tendo como ponto de partida uma personagem de um

quadro.

Fig. 36. Capa do livro “El Madrid de los Austrias contado a los

niños”, de Maria Molina e Pilarín de Luna. Edições Miguel

Sanchez, 2006.

Um outro exemplo de relevância foi “Lisboa”, de David Pintor e da editora

Kalandraka, que mostrou ser bastante original no ponto de vista da criatividade com que

o património da cidade de Lisboa é tratado. Consiste num livro baseado numa coleção de

imagens, como se de um álbum de viagem se tratasse. O autor dá a conhecer a capital

portuguesa segundo a sua imaginação, com elementos fantasiosos, como peixes voadores,

ou passeios de barco junto à Assembleia da República. Existe um texto inicial, cuja

conjugação verbal encontra-se na primeira pessoa do singular, facto que transmite a ideia

de diário autobiográfico, característica fascinante na literatura, capaz de aproximar os

leitores à experiência da personagem narradora.

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Fig. 37. Capa do livro “Lisboa”, de David Pintor185.

Este género de narrativa será muito interessante quando ligada à componente ficcional

da «viagem no tempo», criando empatia entre o público e a personagem que conta a sua

própria história, permitindo que este se identifique com as suas emoções e expectativas

ao longo da mesma. Neste campo, “A casa do Sr. Domingos” conta pelo menos com duas

personagens do nosso tempo, Carlos e Laura, crianças de 12 anos, que irão conviver com

a vila de Aldeia Galega e com a Casa Mora do século XIX. Nesta história, personalidades

como Domingos Tavares, Margarida Inácia dos Anjos, Maria Antónia Tavares e Manuel

Justiniano Mora, entre outras, irão fazer parte de um elenco que irá transmitir aos leitores

as informações necessárias ao entendimento da história do Montijo e do atual edifício do

Museu Municipal, através de uma narrativa fantasiosa, cujo objetivo é não deixar os seus

leitores indiferentes.

185 Imagem retirada do catálogo online da editora Kalandraka.

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CONCLUSÃO.

Esta dissertação tinha como objetivo refletir sobre as questões do património, da

educação patrimonial, e apresentar uma investigação com base na Casa Mora, atual

edifício sede do Museu Municipal do Montijo, acompanhada por uma breve proposta de

divulgação. Ao longo de todo este estudo, verificou-se que o património é demasiado

importante na vida dos cidadãos para ser descurado, esquecido ou subvalorizado. É certo

que o excessivo aglomerado de memórias pode afetar o percurso natural do presente e

dificultar o desenvolvimento humano, mas enquanto existem determinados testemunhos

do passado, há que salvaguardá-los e protegê-los para que sejam levados às gerações

seguintes.

Verificou-se que, nos dias que correm, existem cada vez mais iniciativas que nos

permitem sentir o património como parte da nossa identidade e nos levam a conhecer

outras culturas e comunidades. Analisámos algumas delas e percebemos que são muito

importantes, pois aproximam-nos da apreciação estética e da consciencialização quando

ao sentido de pertença a um lugar.

A sociedade atual vive em constante movimento e acreditamos que esta dissertação

é uma chamada de atenção para a constante azáfama do ser humano e para a falta de

recolhimento e de reflexão. Existem demasiados pontos de dispersão entre o Homem e as

suas manifestações de cultura, o que muitas vezes dificulta a permanência num

determinado foco de atenção, e o património e a educação patrimonial acabam por ser

«vítimas» deste sistema. No fundo, esta investigação, ao tratar todos estes temas,

constituiu um apelo à consciencialização quanto à importância do património para o nosso

progresso, para o nosso equilíbrio psíquico e para o nosso bem-estar.

Analisámos diversas alternativas que trabalham em conjunto com a educação

patrimonial, de modo a que nos aproximemos das nossas heranças com mais vontade e

ânimo. Facilmente percebemos que todas elas constituem uma mais-valia para o

conhecimento de nós próprios e da nossa cultura.

Ao estudarmos a Casa Mora e o seu contexto histórico, facultámos uma série de

informações que, de uma maneira ou de outra, contribuíram para que mais indivíduos

conheçam uma das principais construções montijenses, que muito oferece ao

enquadramento artístico local. Trata-se de uma antiga habitação, do ano de 1875, que nos

mostra parte dos gostos da sua época, das influências arquitetónicas e do estilo de vida

das famílias endinheiradas.

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Estudar a Casa Mora, não só presta um contributo à comunidade como abre portas a

novas consciências quanto à sua salvaguarda, pois imaginar as dificuldades que poderiam

ter passado os indivíduos encarregados da sua edificação e a minúcia com que os artistas

trabalharam nas suas decorações, estabelece à partida uma forte ligação com este

património. Um dos objetivos desta dissertação era esse mesmo, fazer os seus leitores

imaginarem e refletirem sobre a relevância que esta casa tem no contexto patrimonial do

Montijo e dá-la a conhecer a quem nunca ouviu falar dela.

A proposta de livro infantil sobre este edifício, atual Museu Municipal do Montijo, é

uma vantagem em termos de serviço educativo e no âmbito da educação patrimonial.

Como pudemos constatar, a educação patrimonial deve ser iniciada desde cedo na vida

dos indivíduos, e o livro revelou-se bastante útil nessa tarefa.

Nesta dissertação, defendemos a temática do livro como apoio da educação,

principalmente por ser uma ferramenta que não depende necessariamente das novas

tecnologias. O livro aproxima as pessoas e é bastante aliciante, visto que tudo o que passa

pela rotina dos mais pequenos – jogos de computador, telemóveis, tablets – já se tornou

vulgar. O livro ainda resiste e luta contra os paradigmas típicos da fragmentação social,

tais como a despreocupação estética, a dispersão e a falta de momentos de reflexão e de

recolhimento.

Defender o livro nesta dissertação pareceu-nos o mais lógico, e sensibilizar a

comunidade para a aproximação à leitura foi uma das nossas principais escolhas. Nada

melhor do que provocar o desejo pela leitura e pelo conhecimento da história e do

património, estando o livro infantil, neste caso, ligado à Casa Mora, um testemunho do

passado que tanto merece atenção, como estima.

Temos consciência que o mundo do património e da educação patrimonial é

demasiado vasto, tendo-se feito apenas um breve estudo generalizado sobre estes

assuntos. O mesmo aconteceu com a questão da importância do livro infantil, com a

cognição da criança e com as principais estratégias para a elaboração de um livro, visto

que o espaço para todas estas informações na dissertação era limitado e também não era

suposto sobrepor a restante investigação ao estudo da Casa Mora.

Tendo em conta este último estudo, acreditamos que não era possível aprofundá-lo

muito mais, pois era necessária uma seleção de conteúdos, contudo, foi-nos apenas

possível comparar a arquitetura da casa com as restantes construções locais da época e

através da observação do edifício, foram feitas apreciações sobre o aspeto exterior e

interior. É claro que há sempre muito mais a dizer, porque acaba por haver pormenores

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que escapam, daí terem sido necessárias várias visitas ao imóvel e várias conversas

informais com os responsáveis e com as entidades que, de uma maneira ou de outra, já se

debruçaram sobre o espaço – como por exemplo, o arquiteto Rogério Dias, responsável

pela recuperação do jardim; a Dra. Fernanda Pinho, que companha as visitas orientadas

pelo edifício; e Joaquim Baldrico, que elaborou uma investigação aprofundada sobre

Domingos Tavares. Foram, portanto, reunidos os testemunhos mais significativos e feita

uma reflexão pessoal sobre este património, para que conseguíssemos compilar e

transmitir todas as informações necessárias à elaboração da proposta de livro para

crianças.

Infelizmente, não nos foi possível adicionar o apêndice onde se revelaria o enredo da

narrativa o livro, e onde se colocariam exemplos de ilustrações, devido ao tempo limitado,

maioritariamente ocupado pela busca de informações sobre os diferentes temas tratados

nos primeiros capítulos. Apenas conseguimos assegurar a descrição das principais ideias-

chave que irão compor o projeto, bem como as estratégias já delineadas, garantindo de

futuro a sua realização.

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