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MARCUS VINICIUS MACHADO ZANETTI PROPOSTA PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE COGERAÇÃO EM USINAS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL EMBASADA NOS CONCEITOS DE PROJECT FINANCE São Paulo 2006 Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção

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MARCUS VINICIUS MACHADO ZANETTI

PROPOSTA PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE

COGERAÇÃO EM USINAS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL EMBASADA NOS

CONCEITOS DE PROJECT FINANCE

São Paulo

2006

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção

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MARCUS VINICIUS MACHADO ZANETTI

PROPOSTA PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE

COGERAÇÃO EM USINAS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL EMBASADA NOS

CONCEITOS DE PROJECT FINANCE

São Paulo 2006

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção Orientador: Prof. Dr. Mauro de Mesquita Spínola

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FICHA CATALOGRÁFICA

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Aos meus pais Edson e Rozângela, pela vida, amor e carinho.

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AGRADECIMENTOS

Ao orientador Prof. Mauro Spinola, que soube como ninguém orientar o

trabalho, cobrando firmemente quando nada era feito, e sabendo sempre direcionar

o trabalho até o momento da conclusão.

À minha namorada, Dayane, que sempre esteve ao meu lado, nos

momentos felizes e nos difíceis e me deu muita força nos momentos finais de

conclusão deste trabalho.

Aos meus irmãos Lara e Lucas, pelo apoio, amizade e amor que deram

durante toda minha vida, apesar das brigas e desentendimentos.

À minha tia Deise, que sempre rezou por tudo, para que tudo desse certo,

inclusive nos momentos finais deste trabalho.

Aos meus colegas da república Dennis (Pimpa), João (Biribinha), Ariel

(Ariba), Renato (Renatouro), Renato (Renatão), que foram a melhor companhia, uma

segunda família, durante esses anos de faculdade, com quem me diverti, conversei,

discuti e tudo que mais pode ser feito com verdadeiros amigos.

Aos meus colegas da Produção pelo apoio e amizade, e pelo suporte em

trabalhos aos quais não pude me dedicar 100%.

Aos colegas do Banco Itaú BBA, em especial Paulo Sérgio Capriglione

(Urtiga) e Fabien Roulet que me ajudaram em momentos deste trabalho.

Ao amigo Ângelo Cominelli, que infelizmente partiu no início da faculdade,

porém não antes de se tornar um irmão, e me fez dar ainda mais importância à

minha vida e à faculdade. Saudades amigo.

Aos meus pais, meus verdadeiros heróis, pelo amor e dedicação

incondicional em todos os sentidos durante toda a minha vida, devo muito do que

sou à eles.

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RESUMO

Este Trabalho de Formatura apresenta uma proposta para projetos de

cogeração em Usinas de Açúcar e Álcool com o objetivo de obter um melhor

aproveitamento energético e menor impacto ambiental comparado aos projetos

atualmente implementados, essa proposta será apoiada nos conceitos de Project

Finance no que diz respeito a investimento e análises de viabilidade e rentabilidade.

Para a proposta do projeto foram estudadas maneiras de se aproveitar a vinhaça

gerada na produção de açúcar e álcool, bem como maneiras de reduzir seu impacto

ambiental na utilização atual. É feito um estudo das principais técnicas de Project

Finance, em seguida um Estudo de Caso, para então com os conhecimentos e

informações adquiridos ser proposto o modelo.

Palavras-Chave: Project Finance; Engenharia Financeira

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ABSTRACT

This dissertation presents a proposition of cogeneration projects in Alcohol

and Sugar Plants with the purpose of obtaining a higher energetic efficiency as well

as lower environmental impact compared to actual implemented project of this nature

in Brazil. This proposition will be based on Project Finance concepts, concerning the

investments, viability and yield analysis. For the project proposition, a research on

ways of using the vin generated during the production of sugar and alcohol, as well

as means to minimize the impact of the actual use of it, was done. The main Project

Finance techniques are studied and after this, a Use Case is done, so that in the end

gathering all the knowledge and information, the proposition is done.

Key-words: Project Finance; Financial Engineering

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1- PERCENTUAL DE ENERGIA GERADA POR FONTE (ANEEL, 2005).............................................22 FIGURA 2 - PROCESSO DE AQUECIMENTO DA TERRA PELOS RAIOS SOLARES.......................................26 FIGURA 5 - MODELO APV COM SEPARAÇÃO DOS DIFERENTES FLUXOS DE CAIXA ..............................57 FIGURA 8 - CRONOGRAMA ....................................................................................................................................67 FIGURA 9 - PREMISSAS DO PROJETO 1 (ITAÚ BBA) .........................................................................................70 FIGURA 12 - PREMISSAS PARA IMPOSTOS (ITAÚ BBA)...................................................................................71 FIGURA 13 - PREMISSAS DO PROJETO 3 (ITAÚ BBA) .......................................................................................72 FIGURA 18 - FLUXO DE CAIXA DO PROJETO....................................................................................................75 FIGURA 19 - TAXA INTERNA DE RETORNO .......................................................................................................76 FIGURA 20 - FLUXO DE CAIXA PARA O ACIONISTA........................................................................................76 FIGURA 21 - TAXA INTERNA DE RETORNO .......................................................................................................76 FIGURA 24 - ESQUEMA DE FUNCIONAMENTO DO CICLO DE RANKINE (WILLIANS E LENSON,

1993) ...................................................................................................................................................................84 FIGURA 26- ESQUEMA DE DOIS MOTOGERADORES EM CONTAINER (BRAMESTANO)..........................90 FIGURA 28 - PROCESSOS NECESSÁRIOS PARA A EMISSÃO DOS CRES (APRESENTAÇÃO PAULO

GUIACAM) ........................................................................................................................................................93 FIGURA 29- LOAD DURATION CURVE DA REGIÃO SUL-SUDESTE (UNFCCC) ...........................................95 FIGURA 31 - DADOS DO PROJETO PROPOSTO (ELABORAÇÃO PRÓPRIA)...................................................98 FIGURA 32 - PREMISSAS DE DESPESAS PARA COGERAÇÃO ATRAVÉS DO BAGAÇO (ITAÚ BBA) .......99 FIGURA 33 - PREMISSAS DE DESPESAS COM PRODUÇÃO E QUEIMA DO BIOGÁS (ELABORAÇÃO

PRÓPRIA) ..........................................................................................................................................................99 FIGURA 34 - PREMISSAS PARA IMPOSTOS (ITAÚ BBA).................................................................................100 FIGURA 35 - CALCULO DA QUANTIDADE DE ENERGIA GERADA EM 1 ANO (ELABORAÇÃO

PRÓPRIA) ........................................................................................................................................................101 FIGURA 36 - RECEITA PROVENIENTE DA VENDA DO LODO GERADO NO PROJETO.............................103 FIGURA 37 - GERAÇÃO DE RESULTADO DO PROJETO ORIGINAL..............................................................107 FIGURA 38 - GERAÇÃO DE RESULTADO DO PROJETO PROPOSTO.............................................................107 FIGURA 39 - GERAÇÃO DE RESULTADO DO PROJETO ORIGINAL COM CRES.........................................108 FIGURA 40 - FLUXO DE CAIXA DO PROJETO ORIGINAL...............................................................................109 FIGURA 41 - FLUXO DE CAIXA DO PROJETO PROPOSTO..............................................................................110 FIGURA 42 - FLUXO-DE-CAIXA DO PROJETO ORIGINAL COM ADIÇÃO DOS CRES................................111 FIGURA 43 - TIR PROJETO ORIGINAL (ELABORAÇÃO PRÓPRIA)................................................................112 FIGURA 45 - TIR PROJETO ORIGINAL COM RECEITA DAS CRES.................................................................113

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - EMPREENDIMENTOS EM OPERAÇÃO E SUA PARTICIPAÇÃO NO SETOR ENERGÉTICO BRASILEIRO.....................................................................................................................................................21

TABELA 2- EQUIVALÊNCIA ENERGÉTICA ENTRE 1 M3 DE BIOGÁS E OUTROS ENERGÉTICOS ...........24 TABELA 3 - RANKING MAIORES PRODUTORES BRASILEIROS .....................................................................62 TABELA 4 - EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE CANA, AÇÚCAR E ÁLCOOL...................................................62 TABELA 5 - PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS DA INSTALAÇÃO DA USINA .....................................................64 TABELA 6 - QUADRO DE USOS E FONTES ..........................................................................................................65 TABELA 7 - ORÇAMENTO.......................................................................................................................................66 TABELA 8- VALOR ENERGÉTICO DA CANA-DE-AÇÚCAR..............................................................................86 TABELA 9 - CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DA VINHAÇA ...............................................................87 TABELA 10 - PREMISSAS MACROECONÔMICAS (ELABORAÇÃO PRÓPRIA) ............................................100

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SUMÁRIO CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 14

1.1 Justificativa .....................................................................................................15

1.2 Objetivo ..........................................................................................................16

1.3 O Trainee........................................................................................................17

1.4 Organização do Trabalho de Formatura.........................................................18

CAPÍTULO 2 SETOR ENERGÉTICO ............................................................ 19

2.1 Breve Histórico do Setor.................................................................................19

2.2 Situação Atual ................................................................................................20

2.3 Vinhaça como Fonte de Energia ....................................................................23

2.3.1 Problemas Ambientais ................................................................................24

CAPÍTULO 3 EFEITO ESTUFA E AQUECIMENTO GLOBAL ..................... 26

3.1 O Aquecimento Global e Consequências.......................................................27

3.2 A Busca por uma Solução ..............................................................................28

3.3 O Protocolo de Kyoto......................................................................................28

3.4 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ..............................................29

3.5 O Mercado de Carbono ..................................................................................30

3.6 Geração Créditos de Carbono........................................................................30

CAPÍTULO 4 PROJECT FINANCE ............................................................... 32

4.1 Conceitos Gerais ............................................................................................32

4.2 Vantagens e Desvantagens do Project Finance .............................................33

4.2.1 Alavancagem Financeira.............................................................................33

4.2.2 Tratamento Contábil Distinto.......................................................................34

4.2.3 Segregação de Riscos ................................................................................34

4.2.4 Substituição de Garantias Usuais ...............................................................34

4.2.5 Desvantagens .............................................................................................35

4.2.6 Vantagens e Desvantagens: conclusão......................................................36

4.3 Formas de Financiamento ..............................................................................36

4.3.1 Recursos Próprios dos Acionistas – Equity.................................................36

4.3.2 Recursos de Terceiros – Debt ....................................................................37

4.3.3 Recursos Híbridos - Quasi Equity ...............................................................37

4.3.4 Contratantes, Fornecedores e Compradores..............................................38

4.4 Fontes de Financiamento ...............................................................................38

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4.4.1 Agências Multilaterais .................................................................................38

4.4.2 Agências Bilaterais......................................................................................39

4.4.3 Agência de Crédito à Exportação (ACE).....................................................40

4.4.4 Agência de Seguro e Garantia....................................................................40

4.4.5 Agência de Desenvolvimento......................................................................40

4.4.6 Bancos Comerciais .....................................................................................41

4.5 Personagens do Project Finance....................................................................42

4.5.1 Patrocinador................................................................................................42

4.5.2 Financiador .................................................................................................42

4.5.3 Investidor ....................................................................................................43

4.5.4 Empreiteiro..................................................................................................43

4.5.5 Operador.....................................................................................................43

4.5.6 Fornecedores..............................................................................................44

CAPÍTULO 5 ANÁLISE DE VIABILIDADE.................................................... 45

5.1 Viabilidade Técnica.........................................................................................45

5.2 Viabilidade Econômica ...................................................................................45

5.3 Suficiência em matéria-prima .........................................................................47

5.4 Capacidade de Obtenção de Crédito..............................................................47

CAPÍTULO 6 RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO DE RISCOS ........... 48

6.1 Classificação dos Riscos ................................................................................48

6.1.1 Riscos Estratégicos com Coberturas Contratuais.......................................48

6.1.2 Riscos Seguráveis ......................................................................................48

6.1.3 Riscos com Cobertura por Derivativos........................................................49

6.2 Riscos.............................................................................................................50

6.2.1 Risco Pré-Operacional ................................................................................50

6.2.2 Risco Financeiro .........................................................................................50

6.2.3 Risco Ambiental ..........................................................................................51

6.2.4 Riscos Políticos...........................................................................................51

6.3 Mensuração dos Riscos .................................................................................51

CAPÍTULO 7 METODOLOGIAS PARA ANÁLISE FINANCEIRA ................ 53

7.1 Metodologia CAPM (Capital Asset Pricing Model)..........................................53

7.1.1 WACC (Weighed Average Capital Cost).....................................................54

7.2 O Modelo APV (Adjusted Present Value) .......................................................55

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7.3 APT (Arbitrage Pricing Theory).......................................................................57

7.4 Análise Financeira: conclusão ........................................................................59

CAPÍTULO 8 ESTUDO DE CASO................................................................. 60

8.1 Descrição da Empresa ...................................................................................60

8.1.1 Dados da Produção da Usina .....................................................................62

8.2 O Projeto ........................................................................................................63

8.2.1 Principais Equipamentos.............................................................................64

8.2.2 Quadro de Usos e Fontes ...........................................................................65

8.2.3 Orçamento do Projeto .................................................................................66

8.2.4 Cronograma do Projeto...............................................................................66

8.3 Benefícios Gerados ........................................................................................67

8.4 Riscos.............................................................................................................68

8.4.1 Risco Tecnológico.......................................................................................68

8.4.2 Risco Econômico ........................................................................................68

8.4.3 Risco Financeiro .........................................................................................69

8.4.4 Riscos: conclusão .......................................................................................69

8.5 Estudo de Viabilidade.....................................................................................69

8.5.1 Viabilidade Técnica.....................................................................................70

8.5.2 Viabilidade Econômico-Financeira..............................................................70

8.6 Financiamento ................................................................................................76

8.7 Garantias ........................................................................................................77

8.8 Conclusão.......................................................................................................78

CAPÍTULO 9 PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO ............... 80

9.1 Detalhamento da Proposta .............................................................................80

9.2 Tecnologias Utilizadas no Projeto ..................................................................83

9.2.1 Caldeiras.....................................................................................................83

9.2.2 Turbinas a Gás ...........................................................................................84

9.3 O Processo de utilização da Vinhaça .............................................................85

9.3.1 Potencial de Geração de Energia ...............................................................86

9.3.2 Biodigestão da Vinhaça ..............................................................................86

9.3.3 Equipamentos .............................................................................................88

9.3.4 Processo de utilização da vinhaça: Conclusão ...........................................92

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9.4 Benefícios Gerados ........................................................................................92

9.5 Geração dos CREs.........................................................................................93

9.5.1 Metodologia de baseline .............................................................................94

9.5.2 Negociação dos Créditos Emitidos .............................................................96

9.6 Premissas.......................................................................................................97

9.6.1 Premissas do Projeto ..................................................................................97

9.6.2 Premissas Macroeconômicas ...................................................................100

9.7 Produção de Energia e Lodo ........................................................................100

9.8 Riscos...........................................................................................................103

9.8.1 Risco Operacional.....................................................................................103

9.8.2 Risco Financeiro .......................................................................................104

9.9 Análise de Viabilidade ..................................................................................105

9.10 Financiamento e Garantias...........................................................................113

CAPÍTULO 10 CONCLUSÃO ....................................................................... 115 CAPÍTULO 11 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA............................................ 116

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CAPÍTULO 1 Introdução

Este trabalho propõe um modelo de estruturação de projetos de cogeração

em usinas de açúcar e álcool, com o intuito de obter um melhor rendimento

energético e um menor impacto ambiental, comparado a projetos atualmente

implementados no Brasil, bem como a estruturação do financiamento. Foi

desenvolvido na área de Project Finance de um banco nacional, com o auxílio dos

gestores da área.

O banco no qual o trabalho foi realizado, chama-se ITAÚ BBA, um banco

privado especializado no segmento Corporate (atende clientes de médio e grande

porte). A carteira de clientes é composta pelas maiores empresas do Brasil,

ultrapassando o número de 1.000 grupos econômicos. O banco fechou o ano de

2005 com ativos na base de R$ 40,4 bilhões, o patrimônio líquido foi de R$ 4,5

bilhões e o lucro líquido do exercício representou R$ 1,3 bilhão. O banco Itaú BBA

foi eleito o melhor banco de Investimentos do Brasil em 2006, pela revista Latin

Finance.

O banco é apto a realizar basicamente o maior número de operações

necessárias para qualquer empresa. Possui serviços de corporate finance, cash

management local, financiamento de capital de giro, certificados de depósitos e

venda de fundos mútuos abertos, derivativos de tesouraria, underwriting de ações e

títulos de dívida, assessoria em fusões e financiamento de projetos.

O papel da área de projetos é o de analisar e controlar os financiamentos a

grandes projetos intermediados pelo banco. Por grandes projetos entendem-se

financiamentos que ultrapassam a casa dos 2 milhões e que são fornecidos somente

para projetos específicos.

O Project Finance, vem de encontro com a necessidade que as empresas

têm de desenvolver projetos, que necessitam de mais capital do que possuem, ou

nas quais um financiamento seja interessante por questões de estruturação

financeira, no sentido de aumentar o retorno e viabilidade do projeto. O Project

Finance pode ainda ser usado para se obter uma redução nos riscos, uma vez que

os mesmos são divididos entre os demais participantes.

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1.1 Justificativa

Para grandes empreendimentos, o Project Finance é amplamente utilizado

pelo mundo inteiro. No Brasil, porém essa técnica ainda é pouco utilizada, se

considerarmos o potencial da mesma. Ainda hoje algumas empresas de grande

porte que possuem capital para investimento desconhecem ou ignoram em suas

estratégias a utilização do Project Finance, ignorando o fato de que através dessa

técnica poderiam conseguir financiamentos bem estruturados e mais baratos,

comparado ao seu próprio custo de oportunidade, o que por sua vez resultaria numa

melhor gestão de recursos.

O material específico no Brasil referente ao assunto ainda é muito pobre, se

resume a alguns poucos livros, dentre os quais se destaca “Project Finance no

Brasil: Fundamentos e Estudos de Casos” de Bonomi e Malvessi (2002),

amplamente utilizado neste trabalho, junto com o livro “Project Finance: Engenharia

Financeira Baseada em Ativo” de John Finnerty (1999).

O Brasil é um país subdesenvolvido, considerado um país emergente pelo

mercado. Dentre as muitas coisas que precisam ser feitas no país para que ele se

desenvolva está o investimento em infra-estrutura. O Project Finance é uma

ferramenta eficaz para que investimentos neste setor ocorram, viabilizando através

de uma boa estruturação financeira, uma série de projetos.

O modelo desenvolvimentista do Brasil é marcado historicamente por

investimento interno governamental atrelado à poupança externa, o que constitui um

dos principais fatores do endividamento externo do país. Atualmente o governo tem

tentado atrair investimentos para o setor através das PPPs, que consistem

basicamente na garantia de uma rentabilidade mínima por um período de tempo

previamente acordado entre as empresas e o governo. Essa estratégia é muito boa,

porém é ainda limitada e dependendo do projeto, a garantia de rentabilidade mínima

pode significar gastos excessivos para o governo. O Project Finance pelo fato de

não ter garantia nenhuma dada pelo governo, não gera as mesmas despesas que

podem ser geradas no caso das PPPs, além disso, pela transparência de gastos e

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investimentos que exige, acaba por constituir uma forma eficaz de atrair

investimentos estrangeiros para o país.

Este trabalho terá como foco o setor energético, mais especificamente

projetos de cogeração de energia, por se tratar de um setor com grande potencial de

geração de energia limpa e renovável. Existem no Brasil muitos projetos de

cogeração, esses, porém com seu potencial energético sub-utilizado. A idéia deste

trabalho é propor um projeto para melhorar o rendimento energético bem como

minimizar os impactos ambientais dos mesmos, propondo ainda a melhor maneira

de financiamento.

1.2 Objetivo

Este trabalho tem como objetivo principal, identificar as informações

necessárias para a análise de projetos e o desenvolvimento de um modelo

específico para a análise e execução de projetos de cogeração em usinas de açúcar

e álcool. O modelo a ser desenvolvido tem como base um modelo já existente

(estruturado para projetos que utilizam apenas o bagaço da cana-de-açúcar como

fonte de energia), e complementa o mesmo com o fluxo de caixa proveniente da

venda da energia produzida através da queima do biogás obtido pela biodigestão da

vinhaça, além de adicionar ao modelo o fluxo da receita obtida através da emissão e

venda de créditos de carbono. Esses créditos são gerados pelo fato deste ser um

projeto feito de acordo com as normas do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo).

Para o alcance deste objetivo, primeiramente é feito um estudo geral do

assunto Project Finance e das técnicas citadas na literatura, buscando adaptar da

melhor maneira esses conceitos à realidade brasileira. É feita então uma análise da

situação em que se encontra o setor energético no Brasil, do Protocolo de Kyoto e

do MDL. É analisado também o potencial energético da vinhaça, bem como seus

impactos no meio-ambiente. Feito isso, é estudado um caso real de Project Finance

de uma usina de cogeração, para então se propor um projeto mais completo no

sentido de melhor rendimento energético e menor impacto ambiental, através da

biodigestão da vinhaça e utilização do biogás. A proposta visa também obter uma

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melhora na taxa interna de retorno através da inclusão de receitas geradas pelos

créditos de carbono.

O modelo proposto para implementação de projetos de cogeração conterá

detalhes sobre a implementação, equipamentos, matérias-primas e infra-estrutura

necessárias, estudo de viabilidade, generalizando riscos e condições de

financiamentos para projetos do setor através da adoção de premissas gerais, como

por exemplo, juros da dívida, preço da matéria-prima, enfim dados necessários para

se estudar e modelar a projeção do fluxo-de-caixa do projeto. A proposta conterá

ainda a enumeração e explicação dos processos burocráticos necessários para a

geração dos CER (Certified Emission Reduction), Certificado de Redução de

Emissão), bem como a inclusão da receita proveniente da venda dos mesmos nas

projeções do fluxo de caixa do projeto.

1.3 O Trainee

No programa de trainee, realizado pelo autor em uma instituição financeira,

se tem a chance de trabalhar em quatro áreas, durante um ano, ou seja, passam-se

três meses em cada área. Este trabalho se desenvolveu na primeira etapa do

programa, realizada na área de Project Finance.

De maneira resumida, o trainee nessa área tem poucas rotinas, que incluem

elaboração e atualização de alguns relatórios e não tomam muito tempo, havendo

então disponibilidade para estudar princípios básicos da área de modo a ajudar

inicialmente nos pedidos de financiamento até 10 milhões de reais (BNDES

Automático). Um mês e meio depois, o trainee é demandado para ajudar em projetos

que exigem todo um estudo de viabilidade. Nestes projetos, ele entra em contato

com uma das principais ferramentas do Project Finance, que é a previsão do fluxo

de caixa do projeto. A previsão de fluxo de caixa é feita elaborando-se um modelo,

com o objetivo de fornecer ao desenvolvedor um fluxo de caixa o mais próximo do

que seria o real do projeto, através da inserção de uma série de premissas

econômicas e técnicas.

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1.4 Organização do Trabalho de Formatura

No capítulo 2 será discutido um assunto muito importante e que serve de

base para esse trabalho: a história do setor energético no Brasil e a situação atual

do mesmo. Além disso, será discutido o caso da vinhaça, que é um derivado da

moagem da cana-de-açúcar, e causadora de sérias discussões ambientais.

No capítulo 3 será discutido do Aquecimento Global, bem como o que tem

sido feito para reduzir a velocidade deste fenômeno de grande importância para toda

a humanidade.

Nos capítulos 4, 5, 6 e 7, o assunto será Project Finance. Serão estudados

e revisados os principais conceitos desta ferramenta ainda pouco utilizada no Brasil.

No capítulo 4 é estudado o fundamento do Project Finance. No capítulo 5 será

estudado como deve ser feita uma análise de viabilidade. No capítulo 6, o assunto

principal é a identificação e mensuração dos riscos do projeto. Finalizando no

capítulo 7 com as principais ferramentas utilizadas para a análise de viabilidade

financeira.

No capítulo 8, com o objetivo de compreender como são feitos os projetos

de cogeração no Brasil, foi desenvolvido um estudo de caso, focalizado no

desenvolvimento de um projeto específico. Com as informações levantadas no

estudo de caso, combinadas com a pesquisa bibliográfica e ainda considerando uma

série de problemas e riscos observados, foi possível construir o modelo de um

projeto mais completo, que foi apresentado no capítulo 9.

No capitulo 10, é feita a conclusão do trabalho.

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CAPÍTULO 2 Setor Energético

Nesse capítulo o intuito é mostrar o porquê da grande importância dada pelo

governo aos projetos que têm como objetivo a geração de energia. Mais adiante,

quando for tratado o tema de crédito de carbono, serão estudados os benefícios não

só financeiros, como ambientais no desenvolvimento de projetos que geram energia

sem a necessidade da queima de combustíveis fósseis.

2.1 Breve Histórico do Setor

Segundos dados obtidos no website da ANEEL, até os anos 50 o

fornecimento de energia elétrica era de total responsabilidade do governo, desde a

produção até a distribuição. A partir dos anos 50, os estados brasileiros passaram a

criar suas próprias empresas de eletricidade, essas foram substituindo

progressivamente as empresas privadas existentes à época. Posteriormente, o

Governo Federal criou a ELETROBRÁS, em 1963. Desde então, a capacidade

instalada de geração elétrica cresceu vertiginosamente, atingindo da ordem de 72,4

GW, em dezembro de 2000, excluídos os 6,3 GW da parte paraguaia de Itaipu,

quase toda destinada ao mercado brasileiro, e outras importações de energia.

Em 2000, foram acrescidos 4,2 GW à capacidade instalada de geração

elétrica, além disso, foram acrescidos ao Sistema Elétrico 2600 km de linhas de

transmissão em níveis superiores a 230 kV.

Como conseqüência do aumento da capacidade de produção e do

crescimento do mercado consumidor, a geração interna de eletricidade para uso

público, de 324 TWh (93 % de origem hidrelétrica), acrescida da parte importada do

Paraguai e Argentina (42,4 TWh) e da energia gerada pelos autoprodutores (24,6

TWh), permitiu atender a um consumo total de 331 TWh, 5,2 % superior ao de 1999.

Com o acelerado crescimento do mercado nacional de energia elétrica, a

ANEEL vem atuando intensamente para ampliar a capacidade de geração de

energia elétrica no país, através da condução dos processos de licitações de

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concessões, outorgas de concessões e autorizações de empreendimentos de

geração de energia elétrica, bem como pela celebração de contratos de concessões.

A maioria dos municípios brasileiros possui serviço regular e confiável de

eletricidade. Entretanto, a despeito de mais de 95% do total de domicílios já estarem

eletrificados, parte do extenso território brasileiro ainda não é coberto pela malha de

transmissão. A Região Norte apresenta os maiores problemas de abastecimento de

eletricidade do País, onde localidades ainda são atendidas por sistemas isolados de

geração térmica a óleo diesel pouco eficientes. Isso abre um amplo mercado para

investidores privados interessados no segmento de geração de pequeno e médio

porte, especialmente para projetos que utilizem fontes descentralizadas de energia

(por exemplo: fotovoltaica, eólica, biomassa e pequenos aproveitamentos

hidráulicos).

2.2 Situação Atual

A capacidade de geração de energia elétrica no país encontra-se atualmente

próxima a 92 mil MW. O mercado de energia elétrica experimenta um crescimento

da ordem de 4,5% ao ano, devendo ultrapassar a casa dos 100 mil MW em breve.

Atualmente, segundo a Aneel, são 70 novos empreendimentos em construção que

podem adicionar novos 34,2 mil MW de potência.

O planejamento governamental de médio prazo prevê a necessidade

de investimentos da ordem de R$ 6 a 7 bilhões/ano para expansão da matriz

energética brasileira, em atendimento à demanda do mercado consumidor.

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Tabela 1 - Empreendimentos em operação e sua participação no Setor Energético Brasileiro

N° de Usinas

(kW) % N° de Usinas

(kW) %

Hidro 573 70,041,630 76.4% 573 70,041,630 76.4%

Natural 68 8,970,944 9.8%

Processo 25 916,600 1.0%

Petróleo 4.5% 483 5,267,454 5.7%

Óleo Residual 19 1,168,278

1.3%

Bagaço de Cana 217 2,167,759

2.4%

Licor Negro 12 665,572 0.7%

Madeira 22 199,632 0.2%

Biomassa Biogás 2 20,030 0.0% 255 3,059,393 3.3%

0.0%

Nuclear 2 2,007,000 2.2% 2 2,007,000 2.2%

Carvão Mineral

Carvão Mineral 7 1,415,000

1.5% 7 1,415,000 1.5%

Eólica 11 28,625 0.0% 11 28,625 0.0%

1.424 91,706,646 100.0% 1,424 91,706,646 100%

Empreendimentos em Operação

Tipo

Capacidade instalada Total

Gás 93 9,887,544 10.8%

Total

Óleo Diesel

464 4,099,176

Casca de Arroz 2 6,400

Fonte: Aneel, 2005

A abundância de reservas de água doce brasileira, formadas por grandes

rios alimentados por chuva tropical, torna a geração hidrelétrica atraente como fonte

de energia, o que explica a atual participação de 76% deste parque na matriz

energética.

Para o futuro, porém, algumas alterações devem ocorrer na estrutura dos

investimentos em energia, incluindo a instalação de centrais termelétricas a gás

natural, que exigem prazos de implementação e investimentos menores que as

hidrelétricas. Por outro lado, deverão ser ampliadas as importações de energia da

Argentina, Venezuela e Bolívia; e a interligação elétrica entre o Sul e o Norte do

Brasil, o que significa maiores investimentos em rede de transmissão.

Além desses, o governo também tem se mostrado disposto a incentivar as

fontes de energia alternativa, através do programa PROINFA. Dentro deste

programa, será contratada energia gerada através de usinas eólicas, movidas por

biomassa e por PCHs - pequenas centrais hidrelétricas.

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Nos períodos hidrológicos favoráveis, a energia hidráulica é suficiente para o

atendimento do mercado e, assim, torna-se desnecessário que as usinas térmicas

operem. Porém, quando as condições hidrológicas são desfavoráveis, como em

2001, as térmicas passam a operar, evitando o esvaziamento precoce dos

reservatórios. Cada usina hidrelétrica recebe autorização para uma produção

mínima de energia para venda no mercado. Se as chuvas escasseiam, o Operador

Nacional do Sistema Elétrico (ONS) exige que determinada usina produza menos do

que o autorizado para economizar recursos hídricos enquanto outros produtores

localizados em áreas de maior pluviosidade aumentam a produção para atender os

compromissos assumidos pela usina prejudicada. Se, ao contrário, ocorrerem

chuvas acima do nível esperado, a usina poderá ultrapassar sua meta para

compensar os problemas em outras usinas e/ou aumentar a sua própria venda.

Hidrelétrica 76,4 % Gás

10,8 %

Petróleo 5,7%

Biomassa 3,3 %

Outros 3,8 %

Figura 1- Percentual de Energia Gerada por Fonte (Aneel, 2005)

Aproximadamente 33% da capacidade instalada no Brasil, é atualmente

detida pela Eletrobrás, uma sociedade de economia mista controlada pelo Governo

Federal. Por intermédio de suas subsidiárias, a Eletrobrás é também responsável

por 61,0% da capacidade instalada de transmissão acima de 230 kV no Brasil. Além

disso, alguns estados brasileiros controlam empresas que se dedicam à geração,

transmissão e distribuição de energia elétrica, incluindo, entre outras, a Companhia

Energética de São Paulo - CESP, a Companhia Paranaense de Energia - COPEL e

a Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG.

O sistema elétrico brasileiro apresenta como particularidade, além da

geração predominantemente hidráulica, grandes extensões de linhas de

transmissão. O mercado consumidor (47,2 milhões de unidades) concentra-se nas

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regiões Sul e Sudeste, mais industrializadas. A região Norte é atendida de forma

intensiva por pequenas centrais geradoras, a maioria de termelétricas a óleo diesel.

Empresas privadas detinham, em 2003, 25% e 72% do mercado de geração

e distribuição, respectivamente, em termos de capacidade total, e 21% do mercado

de transmissão em termos de receita.

Durante o ano de 2003, além da incerteza sobre o modelo regulatório, o

parque gerador brasileiro conviveu com capacidade ociosa estimada em 7.500 MW.

A solução encontrada pelo Governo Federal foi realizar um leilão com a energia

excedente no MAE com a participação de 7 geradoras e 23 compradores que,

apesar dos preços satisfatórios, manteve sem solução o problema de energia

excedente. Durante todo ano, diversos projetos em geração foram abandonados e

algumas usinas termelétricas permaneceram desligadas em função das incertezas

do setor e abundância de chuvas observados em 2003.

2.3 Vinhaça como Fonte de Energia

A vinhaça é produzida abundantemente durante a produção do álcool,

estima-se que para cada litro de álcool produzido, são gerados de 12 a 15 litros de

vinhaça.

Tomando-se a relação etanol/biogás (1 m3 de etanol = 185 m3 de biogás -

60% de metano), pode-se estimar o potencial de produção de metano a partir da

vinhaça gerada pela produção brasileira de etanol proveniente da cana de açúcar.

Atualmente, a produção brasileira de etanol, a partir da cana de açúcar, é de

cerca de 15 milhões de m3 por ano (Bancor,2005), o que corresponde a uma

produção anual de cerca de 3 bilhões de m³ de metano.

Segundo NOGUEIRA (1986), o poder calorífico do biogás depende do teor

de metano e do grau de umidade do gás. O valor freqüentemente adotado para o

biogás (metano 60%) é de 5.500 kcal/m3.

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Considerando-se o poder calorífico de 5.500 kcal/m3, o potencial estimado

anteriormente (3 bilhões de m3 de metano) corresponde a 1,65x1016 cal. Em termos

de equivalência com o petróleo, isso corresponde a 1.527.778 tEP; o que significa

0,82% da produção nacional de energia e 0,67% do consumo. Os dados da tabela 1

mostram também a importância que o biogás teria em relação a várias fontes,

particularmente carvão mineral e gás natural, cujo potencial de substituição

corresponderia, respectivamente, a 72% e 16% de toda a produção nacional. Em

relação ao petróleo, o biogás representaria 2,2% do consumo e 3,6% da produção.

Tabela 2- Equivalência Energética entre 1 m3 de Biogás e outros Energéticos

EnergéticoNogueira

(1986)Motta (1986)

Ferraz & Marriel (1980)

Gasolina (L) 0.61 0.7 0.61Querosene (L) 0.62 - 0.58Óleo Diesel (L) 0.55 - 0.55GLP (kg) 1.43 0.4 0.45Álcool (L) 0.80 - -Carvão Mineral (kg) 0.74 - -Lenha (kg) 3.50 - -Eletrecidade (kWh) - 1.25 1.43

Fonte: Agrener

2.3.1 Problemas Ambientais

A vinhaça possui uma alta capacidade poluidora devido a sua elevada taxa

de demanda química e bioquímica de oxigênio (DBO e DQO). Normalmente, a

vinhaça é utilizada como fertilizante nas plantações através da fertirrigação, devido a

sua riqueza em potássio, fósforo, matéria orgânica e teor de água.

O problema, é que a vinhaça, ao ser lançada em grande quantidade ou

diretamente às plantações, pode atingir lençóis subterrâneos de água,

contaminando-os e chegando a poços, tornando-a imprópria para o consumo

humano e animal. Além do problema da contaminação, podem ocorrer também a

salinização e a acidificação do solo, que consistem no aumento de sais e redução do

PH, tornando-o mais ácido e comprometendo a qualidade de plantio, até mesmo

para produção de cana-de-açúcar.

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Existe ainda, a problemática do escoamento superficial de chuvas, que pode

levar a vinhaça aplicada ao solo para o leito do rio, situação que pode ser acentuada

conforme a declividade do terreno, a vegetação existente nesse solo e o o nível de

erosão, obtendo-se resultados catastróficos, como já se observou em acidentes

onde grandes volumes de vinhaça in natura acabaram sendo lançadas em rios.

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CAPÍTULO 3 Efeito Estufa e Aquecimento Global

Um ponto muito importante neste trabalho é a emissão e venda dos créditos

de carbono, esses por sua vez existem devido a um sério problema que vem

ocorrendo já a algum tempo em nosso Planeta, o Efeito Estufa.

O Efeito Estufa consiste, basicamente, na ação do dióxido de carbono e

outros gases (Metano, Óxidos de Azoto e Ozônio) presentes na atmosfera, sobre os

raios infravermelhos refletidos pela superfície da terra, reenviando-os para ela,

mantendo assim uma temperatura estável no planeta. Ao irradiarem a Terra, parte

dos raios luminosos oriundos do Sol é absorvida e transformada em calor, outros

são refletidos para o espaço, mas só parte destes chega a deixar a Terra, em

consequência da ação refletora que os chamados "Gases de Efeito Estufa" (dióxido

de carbono, metano, clorofluorcarbonetos - CFCs e óxidos de azoto) têm sobre tal

radiação reenviando-a para a superfície terrestre na forma de raios infravermelhos.

O que se percebe é que se trata de um processo de aquecimento natural do

planeta. O problema surge a partir do momento em que o acúmulo dos gases

causadores desse efeito se torna excessivo a ponto de causar um aquecimento

superior ao desejado para a vida na Terra.

Figura 2 - Processo de aquecimento da Terra pelos raios solares

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3.1 O Aquecimento Global e Consequências

Desde a revolução industrial a concentração de dióxido de carbono na

atmosfera aumentou aproximadamente 30%, assim como outros gases atuantes

para o efeito estufa em outras grandes proporções. Deste modo, o efeito estufa

acontece de modo mais acentuado gerando um conseqüente aumento na

temperatura terrestre.

O Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas estima que a temperatura

global média tenha subido em 0,6°C no século 20, e pode elevar-se em mais 1°C até

2030. Até 2090, a projeção indica aumento de até 4°C, caso medidas de prevenção

não sejam tomadas. Um das conseqüências do superaquecimento do planeta seria

o aumento do nível dos oceanos devido ao derretimento das geleiras. Se o problema

se agravar, o nível do oceano pode subir cerca de um metro, inundando costeiras e

fazendo desaparecer ilhas.

O aumento da temperatura do ar também modificaria o regime dos ventos e

aumentaria a evaporação da água, criando mais nuvens e chuvas. Projeções para

meados do século XXI indicam a possibilidade de chuvas intensas em áreas hoje

desérticas e falta de água em regiões atualmente férteis.

Figura 3 - Mudanças na Temperatura Global (U.S National Climatic Data) Center, 2001)

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3.2 A Busca por uma Solução

A partir dos problemas constatados anteriormente, autoridades globais,

ONGs e a sociedade como um todo, se conscientizou da necessidade de agir para

evitar um mal maior para todo o planeta. Iniciou-se então uma série de debates

mediados majoritariamente pela ONU para se entender o problema e buscar uma

solução.

Nesses debates o foco era entender cientificamente os problemas causados

pelo efeito estufa, provados e compreendidos esses efeitos, os esforços se voltaram

para o estabelecimento de regras e metas de redução de emissão dos gases

responsáveis pelo mesmo. Nesse período foi criada a UNFCCC (United Nations

Framework Convention on Climate Change). O resultado final destas discussões foi

a constituição do Protocolo de Kyoto.

3.3 O Protocolo de Kyoto

O Protocolo de Kyoto estabelece metas de controle dos gases causadores

do efeito estufa, obrigando 39 países desenvolvidos a deixar, no período de 2008 a

2012, a emissão de dióxido de carbono e outros gases nocivos 5,2% menor do que

o índice global registrado em 1990. Os países foram divididos em dois grupos: os

que precisam reduzir suas emissões de poluentes e os que não tem essa obrigação.

O Brasil está no segundo grupo que irá receber para não poluir mais e para tirar da

atmosfera, com suas florestas e matas, o dióxido de carbono ainda produzido por

seus financiadores.

Assim os países mais poluidores - os mais ricos, em sua maioria - poderão

pagar para continuar poluindo em alguma medida, através do Leilão de Certificado

de Emissões.

O tratado entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, depois da decisão

russa de ratificá-lo. Para entrar em vigor, era necessária a aprovação do Protocolo

por países que representem juntos 55% das emissões de gases do efeito estufa. No

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Brasil, foi ratificado em 19 de junho de 2002 e sancionado pelo presidente Fernando

Henrique Cardoso em 23 de julho do mesmo ano.

Os Estados Unidos, maior poluidor do mundo – responsável por 36,1% das

emissões de gases poluentes – não aderiu ao acordo, além de apontá-lo como um

golpe contra a economia e os empregos no país. Para alcançar as metas de redução

estipuladas pelo Protocolo, os americanos teriam de fazer grandes investimentos,

com reflexos na sua atividade econômica, alegam os dirigentes.

3.4 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

Estabelecido no artigo 12 do Protocolo de Kyoto, o Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo é uma medida para reduzir as emissões de gases do efeito

estufa e promover o desenvolvimento sustentável em países subdesenvolvidos,

único dentre os mecanismos de flexibilização que prevê a participação das nações

em desenvolvimento.

O MDL permite que países desenvolvidos invistam em projetos (energéticos

ou florestais) de redução de emissões e utilizem os créditos para reduzir suas

obrigações.

O princípio é simples: cada tonelada deixada de ser emitida ou retirada da

atmosfera poderá ser adquirida pelo país que tem metas de redução a serem

atingidas. Cria-se assim um mercado mundial de Reduções Certificadas de Emissão

(RCE) ou Certified Emission Reduction (CER). Para participar do MDL

primeiramente as partes interessadas devem designar uma autoridade nacional que

irá validar as atividades, verificar e certificar as reduções das emissões. No Brasil

esta autoridade é a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, criada

em 7 de julho de 1999.

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3.5 O Mercado de Carbono

Créditos de carbono são certificados que países em desenvolvimento (como

Brasil, a China e a Índia) podem emitir para cada tonelada de gases do efeito estufa

que deixem de ser emitida ou que sejam retiradas da atmosfera. Os créditos de

carbono podem ser comercializados com países industrializados (pertencentes ao

Anexo 1 da conferência) que não conseguem ou não desejam reduzir as suas

emissões internamente.

Além do comércio mundial, iniciado com a entrada em vigor do Protocolo de

Kyoto, existem diversos mercados crédito de carbono regionais. Até mesmo os EUA

possuem uma bolsa de negociações especializada em créditos de carbono, fundada

em 2003 por grandes empresas americanas que não querem ficar fora deste

mercado, a Bolsa do Clima de Chicago.

3.6 Geração dos Créditos de Carbono

Neste tópico o objetivo é estudar as diversas maneiras de se gerar créditos

de carbono nos projetos a serem financiados pela instituição, nada impede que um

projeto tenha como único objetivo geração desses créditos, porém no momento são

mais comuns casos de projetos onde o créditos de carbono significam uma melhora

no fluxo de caixa do projeto, melhorando o retorno, ou mesmo tornando esse

projetos viáveis.

Abaixo, seguem as maneiras mais comuns de se gerar créditos de carbono,

ou seja, algumas das ações que são consideradas como redutoras da emissão de

CO2, ou ações responsáveis pela fixação do CO2.

Geração de energia elétrica renovável: Neste tópico, a geração de créditos

de carbono deve-se ao fato de se estar deslocando a energia em rede pública, da

queima de combustíveis fósseis para tipos de energia renováveis.

• Hidroelétrica (PCH)

• Eólica

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• Queima de biomassa

• Queima de biogás

Fuel Shift (troca de combustível): Consiste na troca direta do uso de energia

pela queima de combustíveis fósseis por outros tipos de energia.

• Caldeiras, queimadores, outros

• Veículos (frotas)

Biodigestão de Biomassa: Consiste na redução das emissões de CO2 por

processos naturais, a biomassa que seria decomposta naturalmente, ocasionando

uma emissão de CO2, acaba virando fonte de energia, ou seja, um processo natural

de emissão é evitado e ainda é gerada energia que pode vir a substituir energia

proveniente da queima de combustíveis fósseis.

• Animal

• Vegetal

• Aterro Sanitário

Indústrias: Essas podem gerar créditos de carbono caso reduzam a emissão

em suas fábricas a um nível inferior ao exigido.

• Cimento, siderurgia, metalurgia, papel

• Indústria química

• Carvão vegetal

Floresta: Consiste na plantação de florestas que são as grandes

responsáveis pela fixação do carbono.

Dentro do setor de energia temos uma série de projetos que, além de

gerarem receita com a utilização e venda da energia gerada, reduzirem custos com

a eliminação da matéria-prima que anteriormente era resíduo da produção principal,

ainda podem gerar receita através da negociação dos créditos de carbono.

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CAPÍTULO 4 Project Finance

Neste capitulo serão discutidos os conceitos gerais do Project Finance, de

modo que se possa utilizar os mesmo mais adiante na proposta do projeto.

4.1 Conceitos Gerais

Segundo Finnerty (1999), “o Project Finance pode ser definido como a

captação de recursos para financiar um projeto de um investimento de capital

economicamente separável, no qual os provedores de recursos vêem o fluxo de

caixa vindo do projeto como fonte primária de recursos para atender ao serviço de

seus empréstimos e fornecer o retorno do capital investido no projeto”. Ou seja, no

Project Finance, o projeto é separado como se fosse uma empresa diferente, tem

seu fluxo de caixa e seu lucro considerados separadamente ao da empresa

implementando o projeto. Portanto não importa se após a implementação do projeto

a empresa venha a ter resultados negativos, o pagamento do financiamento estará

garantido enquanto o projeto estiver obtendo retorno, o que mais uma vez, mostra a

importância de uma boa análise do projeto antes da liberação do empréstimo. Ao

tratamento distinto dado entre a empresa e o projeto é dado o nome de SPC –

Special Purpose Company (Companhia de Propósito Específico).

O Project Finance, mais do que uma análise, requer uma cuidadosa

engenharia financeira para alocar os riscos e retornos entre as partes envolvidas, de

forma que seja mutuamente aceitável. A figura a seguir tenta demonstrar os

elementos básicos num investimento em bens de capital financiado com base em

projeto.

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Como se pode observar na figura, todas as responsabilidades estão ligadas

ao projeto, capital e trabalho são investidos neste, para deste obter-se o retorno

esperado.

4.2 Vantagens e Desvantagens do Project Finance

4.2.1 Alavancagem Financeira

Essa modalidade de financiamento proporciona uma significativa

alavancagem financeira para os acionistas, possibilitando que eles participem de

diversos projetos, comprometendo um reduzido volume de capital, possibilitando a

diversificação de sua carteira e o aumento do retorno sobre o capital investido. Isto

ocorrerá desde que, o custo da dívida (líquido do impacto do imposto de renda) seja

inferior ao retorno do projeto sem dívida. A dívida pode vir a participar em até 100%

dos recursos necessários para o investimento (apesar de que os níveis normalmente

praticados variam de 60 a 80% do projeto, dependendo da capacidade financeira e

dos riscos do mesmo).

Figura 4 - Esquema de Responsabilidades em um Project Finance (Finnerty,1999)

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4.2.2 Tratamento Contábil Distinto

Muitos autores, como Finnerty e outros, argumentam que uma das principais

vantagens do Project Finance é a obtenção de financiamento “fora do balanço” (off

balance sheet), evitando uma possível contaminação entre os balanços dos

acionistas e o da SPC. A segregação proporciona aos credores uma maior

transparência em relação à capacidade financeira da SPC, justamente por terem

abdicado da carteira de ativos, bem como, do fluxo de caixa de outros negócios dos

acionistas. Já os acionistas, principalmente os que têm as suas ações negociadas

em bolsa de valores, vislumbram, com essa modalidade de financiamento, reduzir os

indicadores de endividamento.

4.2.3 Segregação de Riscos

A segregação dos riscos e, conseqüentemente, de recursos entre os

participantes, torna essa estrutura de financiamento mais atrativa para os setores

intensivos em capital, como o de infra-estrutura. Segundo Finnerty (1999), o

processo de avaliação e análise pelo qual o projeto passa, reduz sensivelmente a

assimetria de informações, podendo refletir positivamente numa redução dos custos

de financiamento. A segregação de risco e a maior previsibilidade em relação ao

retorno do projeto atraem os diversos investidores, devido às taxas de remuneração

do capital compatíveis com as praticadas pelo mercado.

4.2.4 Substituição de Garantias Usuais

O grande benefício da disseminação desta modalidade de financiamento diz

respeito à substituição de garantias usuais pelas de desempenho. Ou seja, essas

garantias permitem uma maior flexibilidade a acionistas e credores.

Em relação aos acionistas, a principal vantagem se constitui na possibilidade

de utilizar os ativos e os resultados do projeto, ao invés de oferecer os seus ativos

como garantia. Sem dúvida, para os credores, o fluxo de caixa do projeto constitui-se

numa garantia mais líquida do que, por exemplo, os ativos de usina hidrelétrica.

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A utilização dos covenants1 é um grande avanço ao permitir um

monitoramento de desempenho financeiro e administrativo do projeto, podendo

implicar na redução de custos do financiamento, justamente pela qualidade das

garantias retidas pelos credores.

4.2.5 Desvantagens

Como foi dito anteriormente, a participação de um número maior de agentes

constitui numa vantagem ao diluir os riscos entre eles. Por outro lado, a tentativa de

compatibilizar os diferentes interesses dos agentes envolvidos, pode se tornar uma

desvantagem, devido à complexa estrutura contratual necessária nesse tipo de

operação. Geralmente, esse tipo de estrutura consome mais tempo, se comparado

com outras modalidades de financiamento.

A maior complexidade dessa estrutura também eleva os custos de

transação, em razão das despesas legais envolvidas na elaboração do projeto,

pesquisa e gerenciamento de informações e questões fiscais, preparação de

documentação e o grande investimento de tempo de gerência. Quanto mais

desconhecido o cenário do projeto, maior será o tempo de pesquisa e busca por

instrumentos de mitigação.

Cabe ressaltar que, ao utilizar o Project Finance, o acionista está também se

comprometendo a relatar todas as suas decisões e atos administrativos e financeiros

aos financiadores, através de relatórios regulares de: investimentos físicos,

operacionais e situação contábil e financeira. Essa abertura de informações, somada

ao fato de todos os contratos relacionados ao projeto constituírem parte das

garantias fornecidas aos credores, garantem a estes, o poder de intervenção em

muitas das decisões a serem tomadas. Essa situação pode ser considerada como

mais uma desvantagem na medida que restringe o poder de decisão do acionista

sobre o projeto (Azeredo, 1999).

Em alguns casos, os riscos do projeto a ser financiado são tão altos que os

custos de captação da SPC supera o dos seus acionistas, anulando, dessa forma, 1 São uma maneira de manter sobre o projeto um certo controle através do estabelecimentos de certos múltiplos, que devem ser mantidos acima ou abaixo de um certo patamar durante o prazo do projeto

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uma das principais vantagens dessa modalidade, que é proporcionar à SPC uma

classificação de risco (rating) e/ou custos de financiamento melhores do que o de

seus acionistas.

4.2.6 Vantagens e Desvantagens: conclusão

Concluindo a análise das vantagens e desvantagens de se implementar o

Project Finance é o primeiro passo para a decisão de adotar ou não essa

modalidade. O conhecimento do contexto macroeconômico, político, regulatório e

legal do país onde o projeto será instalado, também é relevante para essa análise.

A implementação do Project Finance exige um ambiente macroeconômico e

legal estáveis, que permita um nível aceitável de previsibilidade da geração de caixa

do projeto, assim como, do comportamento dos agentes envolvidos e da validade

jurídica dos contratos firmados. Este é um dos principais desafios para a

implementação dessa modalidade de financiamento em mercados emergentes

(Azeredo, 1999). Não é por acaso que os primeiros financiamentos a utilizarem a

estrutura de Project Finance são posteriores a dois marcos importantes, quais

sejam: o programa de estabilidade econômica, iniciado a partir da implantação do

Plano Real e a desregulamentação da economia brasileira com o PND e,

posteriormente, com a Lei das Concessões (Lei 8.987/95 e Lei 9.074/95).

4.3 Formas de Financiamento

As operações de Project Finance agregam várias formas de financiamento já

disponíveis no mercado numa única estrutura de financiamento, sendo este, o seu

maior diferencial.

4.3.1 Recursos Próprios dos Acionistas – Equity

Usualmente, uma operação de Project Finance se inicia com o aporte de

capital por parte dos acionistas. O aporte inicial de recursos tem como contrapartida

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o direito sobre a participação acionária da empresa e, conseqüentemente, nos seus

lucros. Existem basicamente dois tipos de equity em Project Finance:

• equity direto onde os investidores participam da administração ou da

operação, ou de ambos; e

• equity passivo (portfólio) onde os investidores somente investem os seus

recursos, delegando a administração aos demais acionistas ou a profissionais

especializados.

4.3.2 Recursos de Terceiros – Debt

Os recursos de terceiros significam uma forma de financiamento isenta de

participação direta no projeto e/ou empresa em questão. No caso do Project

Finance, a captação de recursos necessários ao seu financiamento é um ponto

central. O atributo principal da dívida (debt) é, especificamente, o retorno sobre o

investimento, compatível com o retorno tradicionalmente auferido em operações de

crédito, mas provisionando proteção contra perdas provenientes, principalmente, dos

ativos do projeto.

Este tipo de financiamento é freqüentemente usado em projetos privados,

negociado entre o acionista e os investidores. Alternativamente, este financiamento

pode, em certas circunstâncias, ser viabilizado via captação no mercado de capitais

(por exemplo, commercial paper2).

4.3.3 Recursos Híbridos - Quasi Equity

Esta terceira forma de investimento, como o próprio nome sugere, seria uma

mistura entre as duas primeiras alternativas apresentadas anteriormente, a qual

denomina-se como quasi equity. Significa uma modalidade de financiamento que

freqüentemente contempla recursos de terceiros, mas com algumas características

de recursos próprios. Estão incluídas nesta categoria as debêntures conversíveis, as

2 São títulos de dívida emitidos por empresas, são quase como debêntures porem mais simples.

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ações preferenciais entre outros investimentos que possuem atributos de debt e

equity.

As debêntures são um instrumento típico de recursos de terceiros, pois, não

pressupõem uma possível participação acionária. Já no caso de uma debênture

conversível em ação, ela pode ser caracterizada como recurso próprio, caso a opção

seja realizada. Para tanto, o mercado de capitais é o canalizador desta modalidade

de financiamento, pois, é através dele que os demais agentes são acionados.

4.3.4 Contratantes, Fornecedores e Compradores

Os contratantes (contractors), fornecedores (Suppliers) e compradores

(Offtakers) podem atuar também como uma fonte adicional de financiamento. O

setor elétrico é bem ilustrativo, pois, em muitos casos os fornecedores de

equipamentos financiam a exportação desses bens, através das Agências de

Crédito à Exportação (ACE), e as distribuidoras de energia elétrica asseguram a

compra da energia gerada ao assinar os PPAs - Power Purchase Agreement

(Contratos de Compra de Energia), contratos que garantem o fluxo de caixa futuro.

4.4 Fontes de Financiamento

Os investimentos no setor de infra-estrutura demandam alto volume de

recursos, necessitando, para isso, do envolvimento de diferentes fontes de

financiamento. A seguir serão relacionadas as principais fontes de financiamento

utilizadas pela estrutura de Project Finance

4.4.1 Agências Multilaterais

A origem de grande parte das instituições internacionais de

desenvolvimento, reporta-se à Conferência de Bretton Woods em 1944, a qual

resultou na criação do Fundo Monetário Internacional (FMI ou IMF - International

Monetary Fund) e do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

(BIRD ou IBRD – International Bank for Reconstruction and Development), que é

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também conhecido por Banco Mundial, com a missão de promover uma cooperação

econômica no período posterior à Segunda Guerra Mundial. As agências

multilaterais são compostas por uma ampla gama de países, cujo foco de atuação

não se restringe aos seus membros. A principal missão destas instituições é

promover o desenvolvimento econômico e social através do financiamento de

projetos que julguem capazes de contribuir para a melhora da qualidade de vida da

população mundial e, principalmente, dos países em desenvolvimento. Os recursos

dessas agências são provenientes da contribuição de seus países membros e da

emissão de instrumentos de dívida de longo prazo. Cada uma delas possui um

determinado enfoque, algumas apóiam somente projetos sociais, já outras, só

participam do financiamento de projetos de cunho privado, enquanto outras atuam

tanto em parceria com o setor público como com o privado. Sem dúvida, a

participação direta e até mesmo o envolvimento indireto das Agências Multilaterais

são fatores importantes na viabilização econômica, financeira e tecnológica dos

projetos de infra-estrutura em países em desenvolvimento, inclusive no Brasil.

Destacam-se as seguintes agências: International Bank for Reconstruction and

Development (IBRD), The International Development Association (IDA), The Inter-

American Development Bank (IDB), International Finance Corporation (IFC),

European Investment Bank (EIB), European Bank for Reconstruction and

Development (EBRD), African Development Bank (ADB), Asian Development Bank

(ADB), Corporação Andina de Fomento (CAF), dentre outras.

4.4.2 Agências Bilaterais

As agências bilaterais são instituições governamentais cuja finalidade é

promover a economia dos seus países de origem, através da concessão de

financiamento, de crédito à exportação, de seguro e de garantia aos projetos em que

o setor privado, de seus países, esteja envolvido. Desta forma, atingiriam outro

objetivo ao qual se propõem auxiliar o desenvolvimento econômico e social dos

países em desenvolvimento, através do financiamento de seus projetos.

Diferentemente das agências multilaterais, as agências bilaterais possuem apenas

um único país-membro, restringindo a sua atuação aos interesses específicos de

seu país. As agências bilaterais podem ser subdividas, basicamente, em três

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categorias: Agência de Crédito à Exportação (ACE); Agência de Seguro e Garantia e

a Agência de Desenvolvimento.

4.4.3 Agência de Crédito à Exportação (ACE)

As Agências de Crédito à Exportação (também conhecidas como Export

Credit Agency - ECA) são órgãos governamentais que foram constituídos com o

intuito de promover a exportação de seus países, oferecendo condições atrativas de

financiamento. Esses órgãos governamentais podem apoiar projetos que envolvam a

aquisição de bens ou serviços do seu país de origem, através de financiamento, com

recursos próprios ou de bancos comerciais; seguro-garantia contra risco político e/ou

comercial, cobrindo financiamentos de outras instituições financeiras;

refinanciamento de projetos financiados, inicialmente, com recursos de bancos

comerciais; subsídios a taxas de juros contratadas para financiar um produto

originário de seu país; dentre outros. Normalmente seu financiamento, ou cobertura

de risco político, pode alcançar até 85% do valor do bem ou serviço adquirido

(Azeredo, 1999). As agências que se destacam neste segmento são a US Eximbank

(EUA), Jexim (Japão), Hermes (Alemanha), ECGD (Reino Unido) e a COFACE

(França).

4.4.4 Agência de Seguro e Garantia

As Agências de Seguro e de Garantia possuem uma função complementar à

das ACE´s, privilegiando a concessão de seguros contra risco político e comercial e,

até mesmo de crédito. Neste segmento, destacamos a atuação da Overseas Private

Investment Corporation (OPIC), uma agência governamental norte-americana,

portanto um órgão bilateral.

4.4.5 Agência de Desenvolvimento

As agências de desenvolvimento foram criadas em um contexto

macroeconômico regulamentado, onde os governos utilizavam essas agências como

instrumento para viabilizar políticas governamentais intervencionistas. Após a

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desregulamentação das principais economias mundiais, estas agências ampliaram

sua área de atuação no intuito de acompanhar o movimento desses mercados.

Seguem algumas agências relevantes neste processo: o KFW (Alemanha); CDC e

ODA (Reino Unido) e no Brasil destaca-se a atuação do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES.

4.4.6 Bancos Comerciais

Os bancos comerciais atuam não só como financiadores, mas, muitas vezes,

também como consultores financeiros. Há também uma outra novidade, a

concessão de crédito é muitas vezes viabilizada através da sindicalização de

bancos.

De acordo com Azeredo (1999), a participação se dá normalmente através

de empréstimos tipo B das instituições multilaterais, devido à credibilidade que a

participação de uma instituição multilateral confere à transação, não só por

possuírem uma due diligence criteriosa, a qual geralmente dura de 4 meses a 1 ano,

mas, principalmente, porque estas instituições teriam uma maior facilidade para

renegociar a dívida. Ou, no caso de problemas com a conversibilidade da moeda,

poderiam recorrer à chamada “umbrela” (guarda-chuva) das instituições multilaterais.

Adicionalmente, estes bancos operam também com cobertura de risco político (seja

de ECAs, seja de outras instituições). Recentemente, a participação sem cobertura

de risco político, também vinha aumentando, muitas vezes através de operações

complementares àquelas com cobertura contra risco político. No entanto, após a

crise asiática (setembro de 1997), sucedida pela crise russa (julho de 1998), e pela

crise cambial brasileira (janeiro de 1999), esta tendência se esvaziou. Mesmo antes

das crises financeiras mencionadas, esta prática encontrava-se disponível

principalmente para projetos desenvolvidos em países que atingiram a classificação

“Investment Grade”.

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4.5 Personagens do Project Finance

4.5.1 Patrocinador

O patrocinador é o principal personagem do projeto, na grande maioria das

vezes é ele que tem a concepção do empreendimento, faz a análise da viabilidade e

age como elemento integrador entre as demais partes. Resumidamente, é dele o

projeto, e é ele também o maior interessado no sucesso do mesmo.

O patrocinador não necessariamente é a empresa, na qual o projeto será

implementado, pode haver parcerias também entre a empresa e a implementadora,

como por exemplo, uma construtora, uma empresa de engenharia, que no caso

acredita no projeto e está disposta a correr os riscos inerentes ao mesmo.

Mesmo que seja aprovado o Project Finance, as instituições nunca liberam

financiamentos para 100% do projeto, na grande parte dos casos, essa porcentagem

fica em 70%, sendo que os outros 30% têm de ser investidos pelo patrocinador.

4.5.2 Financiador

Fazem parte deste grupo, as entidades que farão o aporte nos projetos

através de dívidas. Na maioria das vezes são representados por bancos. Um projeto

pode receber todo o financiamento de apenas um banco, como de alguns bancos,

caso o financiamento seja sindicalizável. A captação nessas operações é

usualmente estruturada através de títulos de dívida, que podem, ou não ter

regresso. Esses são então pulverizados e oferecidos no mercado. Os compradores

desses títulos são chamados de subscritores, quanto maior o risco do projeto, maior

o prêmio de risco pago pela empresa, ou seja, maior também é o retorno para os

subscritores.

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4.5.3 Investidor

Os investidores também entram como financiadores, entram com aporte de

capital, pois acreditam no projeto. A diferença reside no fato de que, enquanto os

financiadores recebem pelo dinheiro investido, uma certa taxa pré-estabelecida , os

investidores recebem dividendos dependendo do fluxo de caixa do projeto após o

pagamento da dívida, podendo esse valor variar conforme o desempenho do projeto.

Da mesma maneira que ele pode receber um bom retorno, caso o projeto tenha

sucesso, pode receber menos do que os financiadores com os títulos de dívida.

4.5.4 Empreiteiro

Agora é a vez do chamado construtor, o responsável pela construção física

do projeto, algumas vezes isso inclui as instalações técnicas. Podem ser

construtoras, fornecedoras de máquinas, empresas de engenharia e algumas vezes

associações entre essas.

Pelo fato do Project Finance ter um tempo de carência e um prazo para o

pagamento da dívida, muitas vezes é exigido dessas empreiteiras um prazo fixo para

o início e o término das obras, bem como, garantia da operacionalidade do mesmo.

Porém, existem riscos que não estão sob controle das empreiteiras como,

por exemplo, fenômenos naturais, e outras situações das quais eles se protegem

com seguros e garantias. Outro risco é o de o projeto não ter sucesso. Nesse caso

as empreiteiras querem garantias do recebimento pelas obras, buscando isso, na

maioria das vezes são assinados contratos com os investidores.

4.5.5 Operador

O operador é responsável pela operação e manutenção do projeto, assim

que iniciadas as atividades. É sua responsabilidade garantir uma administração

responsável do projeto, de modo que, este resulte em fluxos de caixas positivos para

os investidores e patrocinadores.

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O valor a ser recebido é acordado com os patrocinadores, podendo ser um

preço fixo ou variável, atrelado a indicadores previamente estabelecidos.

Geralmente, para diminuir o risco de ter seu projeto mal administrado, os

patrocinadores pagam bônus aos operadores dependendo de seu desempenho.

4.5.6 Fornecedores

Esses possuem especial importância no bom andamento e na viabilidade de

um Project Finance. O preço das matérias primas de um projeto, podem fazer o

mesmo passar de viável para inviável durante a implementação deste. É necessário

que sejam estudadas formas de se garantir a entrega dos insumos, a qualidade, o

prazo, bem como, os preços dos mesmos. Existem ocasiões em que os

financiadores exigem contratos com essas garantias para liberar os financiamentos.

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CAPÍTULO 5 Análise de Viabilidade

A análise de viabilidade de um projeto se faz através da caracterização de

todos os riscos do projeto, bem como as expectativas de retorno, em vários

cenários, de modo que se possa analisar e inferir um diagnóstico de possibilidade ou

não de realização do projeto.

Dependendo dos cenários escolhidos por cada pessoa que analisa o projeto,

o resultado obtido pode ser diferente, portanto, praticamente todos os participantes

do projeto fazem modelos e análises, pois, é do interesse de todos que o projeto

obtenha sucesso.

5.1 Viabilidade Técnica

Deve ser a primeira a ser comprovada, antes do início do projeto. O

patrocinador deve empreender um extenso trabalho de engenharia para verificar os

processos tecnológicos e o projeto de instalação proposto. Caso seja necessária

nova tecnologia, é necessária a construção de laboratórios de estudo, para a

simulação do processo, para depois, então, se construir em escala normal.

O projeto, e em última análise, a viabilidade técnica de uma instalação

podem ser influenciados por fatores externos ambientais, que podem vir a afetar sua

construção, bem como seu bom funcionamento, como, por exemplo, executar

projetos já estabelecidos em regiões equatoriais em uma região ártica.

5.2 Viabilidade Econômica

No estudo da viabilidade econômica, o mais importante é saber se o valor

presente líquido esperado do projeto é positivo, o que ocorrerá somente se o valor

presente do fluxo de caixa esperado for maior do que o valor presente dos custos

esperados da implementação do projeto. Todo e qualquer fator que possa afetar os

fluxos de caixa do projeto são importantes para essa análise.

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Supondo que o projeto seja feito todo conforme o cronograma e tenha seu

funcionamento e manutenção garantidos, para que se possa fazer um estudo do

fluxo de caixa é necessário que se tenha a previsão dos preços dos insumos, do

preço de venda do produto que será produzido pelo projeto e, também da demanda,

ou seja, se o mercado será capaz de absorver a produção, se haverá demanda

suficiente para qual o nível de preço se manterá em um patamar que cobrirá os

custos e a dívida a ser paga.

Geralmente, para se fazer essas projeções, são feitos estudos de marketing,

incluindo análise de produtos concorrentes e seus custos de produção relativo, uma

análise do ciclo de vida esperado da produção do projeto, volume de vendas

esperado, e preços projetados, e por fim, uma análise do impacto potencial da

obsolescência tecnológica. O estudo é geralmente realizado por uma empresa

especializada independente.

Os custos de produção podem levar a mudanças na precificação do projeto,

por isso, a projeção dos custos de produção são igualmente importantes na análise

de viabilidade econômica. São os custos de matérias-primas, mão-de-obra,

despesas administrativas, impostos, royalties e despesas de manutenção, esses

devem ser identificados e quantificados.

Além de custos operacionais, outro custo importante para se levar em conta

é o custo do capital do projeto. Cabe ao consultor financeiro elaborar e testar

diversos planos financeiros para o projeto de forma a chegar a um plano de

financiamento ótimo que seja consistente com os objetivos de negócios dos

patrocinadores.

É elaborado um plano financeiro básico e, então, se avalia a sensibilidade da

lucratividade do projeto e da taxa de retorno sobre o capital dos investidores sob

diferentes cenários. Para se fazer essas análises são feitos modelos em

computador, para se avaliar os efeitos de custos excedentes, atrasos de finalização,

interrupções das operações do projeto, flutuações no preço, e outros fatores

significativos.

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5.3 Suficiência em matéria-prima

Os credores farão questão de que o projeto tenha acesso à quantidade de

matéria-prima, suficiente para permitir que opere dentro de sua capacidade

projetada, pelo menos ao longo do prazo de pagamento da dívida. Em projetos

ligados a recursos naturais, os credores, geralmente insistem que os patrocinadores

do projeto contratem geólogos ou consultores em engenharia independentes para

avaliarem a quantidade, teor e razão da extração que os recursos minerais

disponíveis ao projeto são capazes de suportar.

5.4 Capacidade de Obtenção de Crédito

A quantidade de dívida que um projeto pode assumir depende da

capacidade esperada do projeto em servir sua divida com o fluxo de caixa do projeto

ou, de forma mais simples, de sua capacidade de crédito. De modo geral, a

capacidade de crédito de um projeto deriva, do valor inerente aos ativos incluídos no

projeto, da lucratividade esperada do projeto, do montante de capital próprio que os

patrocinadores têm em risco e, indiretamente, das garantias dadas por terceiros ou

por patrocinadores com capacidade de crédito envolvidas no projeto.

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CAPÍTULO 6 Reconhecimento e Mensuração de Riscos

Uma das atividades primordiais para a implementação de um Project

Finance é conhecer e dimensionar os riscos do empreendimento e, com base nisso,

procurar mensurá-los, de modo a estabelecer instrumentos eficazes de mitigá-los.

Bonomi e Malvessi (2002) classificam os riscos dividindo-os em dois grandes

grupos: sistêmico e próprio. O sistêmico, ou conjuntural, é aquele ao qual o sistema

econômico, político ou social submete o empreendimento, vide políticas cambiais,

provocando uma valorização ou desvalorização do dólar, preço internacional de

commodities, modificando o retorno de projetos que tenham como receita, a venda

de commodities. Já o risco próprio é aquele intrínseco à atividade, por exemplo,

exaustão do solo, esgotamento de uma jazida mineral.

6.1 Classificação dos Riscos

Os riscos podem ser classificados conforme a capacidade de mitigá-los.

6.1.1 Riscos Estratégicos com Coberturas Contratuais

São os que podem ser mitigados, revendo-se prioridades estratégicas ou

tomando-se cuidados especiais na forma jurídica de sua contratação.

Caso os bens, fontes de receita do projeto, possuam demandas instáveis ou

muito dependentes de algum fator externo, devemos firmar contratos que assegurem

os menores riscos possíveis, cuidando para que haja o mínimo de distorções no

fluxo de caixa projetado do projeto.

6.1.2 Riscos Seguráveis

São os passíveis de serem mitigados por meio da cobertura de uma apólice

de seguro. São conhecidas como Performance Bonds, que se destinam a dar

cobertura aos riscos de engenharia, seguros de lucro cessante e seguros de risco

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político (PRI-Political Risk Insurance), e outros semelhantes, como o Multilateral

Guaranty Agency (Miga) do Banco Mundial ou a Coface francesa.

6.1.3 Riscos com Cobertura por Derivativos

São os riscos que podem ser mitigados através do uso de instrumentos

financeiros chamados derivativos. São derivativos porque seu valor deriva (no

sentido de ter origem) de outro ativo, não possuindo referência própria, como o caso

dos hedges3 cambiais, de taxas de juros ou de mercadorias como soja, café algodão

e outros.

Os produtos financeiros mitigam os riscos de duas formas: pelos contratos

de antecipação, ou de termo e pelos contratos de opção.

Contratos de antecipação, ou de termo, são aqueles onde o titular do

contrato fixa valor que irá pagar em determinada data futura. O mais comum é o

swap, que nada mais são do que operações onde você troca um risco por outro. Por

exemplo, se você deve dólares, e quer se proteger, você pode fazer um swap onde

você fica ativo, ou seja, onde você é remunerado a variação cambial mais uma taxa

de juros, e fica passivo, ou seja, remunera a outra ponta a uma taxa pré-fixada.

Contratos de opções são contratos especiais, que dão direito ao titular do

contrato de comprar e vender um certo ativo a um determinado preço, em uma data

pré-estabelecida. Por esta opção que pode ser exercida ou não, o titular paga um

prêmio, que seria pagar uma quantia para poder executar a opção, somente no caso

de ela ser benéfica para o titular, caso contrário o titular perde o prêmio e não

qualquer fluxo de caixa.

3 Hedge significa proteção, no caso específico proteção de alguma taxa que varie ao longo do tempo,

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6.2 Riscos

6.2.1 Risco Pré-Operacional

Nesse item se encontram todos os riscos físicos do projeto, antes deste

entrar em operação, podendo significar algum problema no terreno, problemas com

as obras civis e outros. Problemas nesta etapa podem gerar muitos outros, por

exemplo, atrasos, aumentos no valor das obras, custos extras com mão-de-obra e

insumos, caso estes aumentem ao longo do tempo, podem surgir novas leis

ambientais, problemas técnicos, além do descasamento do cronograma do projeto

como um todo.

6.2.2 Risco Financeiro

O risco financeiro consiste basicamente nos riscos do projeto que podem ser

relacionados a taxas pós-fixadas.

Taxa de Juros: Dependendo do tipo de financiamento utilizado no processo,

a taxa de juros a ser usada para corrigir a dívida pode ser pós ou pré-fixada, ou seja

um aumento na taxa de juros beneficiaria o projeto financiado a uma taxa pré-fixada

e prejudicaria o financiado a uma taxa pós-fixada.

Taxa de Câmbio: Do mesmo modo como ocorre na taxa de juros, muitos

projetos são financiados em moeda estrangeira estando por isso o valor dívida

diretamente relacionado com a taxa de câmbio. Além disso, o preço do produto

proveniente do projeto, pode estar atrelado a alguma moeda, o que influencia

diretamente o fluxo de caixa.

Estes riscos podem ser mitigados através do uso de derivativos, para o caso

da taxa de juros. Caso a dívida seja pós-fixada, é possível comprar swap, ficando

ativo em uma taxa pós (como a dívida) e passivo a uma taxa pré-fixada, fixando,

dessa maneira, o valor dos juros da dívida a ser pago.

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O mesmo pode ser feito com o risco de taxa de câmbio, um swap, que nada

mais é, do que comprar dólar no futuro a um valor pré-estabelecido.

6.2.3 Risco Ambiental

Nos últimos anos, principalmente após a conferência ECO-92, não só o

Brasil, mas todos os países no mundo vêm tornando suas normas ambientais cada

vez mais abrangentes e rígidas. Investidores já analisam todas as questões

ambientais, antes mesmo de querer adentrar um projeto, grupos ambientalista tem

sua importância cada vez maior. Isso tudo faz com que a viabilidade de um projeto

possa terminar. Caso não siga alguma das normas, os Órgãos Fiscais estão cada

vez mais severos com qualquer quebra de qualquer norma ambiental que seja.

6.2.4 Riscos Políticos

O risco político consiste na possibilidade de o governo interferir no

andamento do projeto, embargando obras, aumentado preços administrados e

cancelando contratos. No Brasil, essas decisões podem partir do governo federal,

estadual ou municipal. Essas intervenções podem gerar grandes mudanças no fluxo

de caixa do projeto, podendo chegar, até mesmo a inviabilizá-los.

Em projetos de grande impacto sobre a sociedade, como projetos em infra-

estrutura, esses riscos são de certa forma mais elevados, por isso, uma série de

contratos e acordos com o governo são feitos antes de se iniciar projetos desse tipo.

6.3 Mensuração dos Riscos

Para a mensuração dos riscos de empreendimentos existem duas

metodologias clássicas: a empregada pelos classificadores de riscos, as agências de

rating, como a Standard & Poor´s (S&P), Moody´s, Duff and Phelps, Fitch-IBCA e

outros, que basicamente se utilizam da análise estrutural, avaliando títulos,

empresas e, até mesmo países, pontuando-os por um critério de notas mediante

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letras, como AAA, BB+ e etc. Esta análise é feita já em um projeto plenamente

estruturado.

A outra metodologia é conhecida como Fórmula de Fischer, originalmente

concebida para medir riscos de inflação e que pode ser empregada para avaliar a

evolução do binômio risco/retorno em um Project Finance, desde sua concepção até

seu final, com as várias reduções de risco, acompanhada por prováveis reduções no

retorno.

1 + T nominal = (1 + T inflação l) x (1 + T efetiva) Eq.(6.1)

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CAPÍTULO 7 Metodologias para Análise Financeira

Neste capítulo serão mostradas as principais ferramentas utilizadas para a

análise da viabilidade financeira de um projeto.

7.1 Metodologia CAPM (Capital Asset Pricing Model)

O raciocínio base do CAPM (Modelo para Precificação de Ativos) é o de que

um título com elevado desvio-padrão não têm, necessariamente, um forte impacto

sobre o desvio-padrão dos retornos de uma carteira ampla e vice-versa. Isso

realmente verifica-se porque, na composição de uma carteira, “ações individuais

combinadas, de maneira a fazer com que um conjunto de títulos, tenha sempre

menos risco que qualquer um dos componentes isoladamente”. Em um Project

Finance, isso pode ser verificado, por exemplo, quando tanto os custos de matéria-

prima quanto as receitas, estão atreladas a uma moeda estrangeira. Se analisados

isoladamente, esses componentes apresentam um alto risco cambial, porém risco

praticamente nulo. Se analisados juntos, basicamente o seu resultado não teria risco

cambial, pois tanto a receita quanto os custos estão atrelados ao mesmo.

O CAPM relaciona um ativo com a carteira a que pertence através da linha

de mercado de títulos, que pode ser escrita matematicamente por:

R = Rf + β*(Rm – Rf) Eq.(7.1)

Onde: R = retorno esperado de carteira Rf = taxa livre de risco

Rm = taxa esperada com risco de mercado Rm – Rf = prêmio pelo risco de mercado

Em termos estatísticos, β informa a tendência de uma ação individual variar

em conjunto com o mercado. Como β é a medida apropriada de risco, os títulos com

betas elevados devem ter um retorno esperado, superior ao de títulos com betas

reduzidos. Se o ativo possuir β igual a um, seu retorno esperado, será igual ao do

mercado (o beta médio de todos os títulos, quando ponderados pela proporção do

valor de mercado de cada título em relação ao da carteira de mercado, é igual a um:

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Somatório xi * βi =1). Se β for inferior ou superior a um, as rentabilidades deverão ser

menores e maiores, respectivamente.

7.1.1 WACC (Weighed Average Capital Cost)

Estruturado e difundido por Modigliani e Miller (1958, 1963), o WACC (Custo

Médio Ponderado do Capital) leva em consideração a estrutura de capital da

empresa no cálculo do custo de capital. Segundo os autores, o custo de capital de

uma empresa deve ser calculado como uma média ponderada dos custos de capital

próprio e de terceiros. Entende-se por capital próprio o patrimônio líquido da

empresa e, por capital de terceiros, as dívidas.

Segundo a abordagem tradicional, há uma estrutura ótima de capital

(relação capital próprio / capital de terceiros), que minimiza o custo médio ponderado

de capital (Durand, 1952). Dessa maneira, o custo de capital é dependente da

estrutura de capital e, a inclusão de capital de terceiros no patrimônio da empresa,

também chamado de alavancagem, pode alterar o custo médio. Embora, em geral, o

custo do capital de terceiros seja menor que o custo de capital próprio, a abordagem

tradicional considera que o aumento excessivo do capital de terceiros irá elevar o

custo de captação de capital, tanto o próprio como o de terceiros. Isso se deve aos

riscos associados ao alto grau de endividamento de uma empresa, entre eles o risco

de falência.

Deve-se salientar que, a equação 7.2 deve sofrer alterações devido a fatores

como diversas fontes de financiamento e benefícios fiscais. A equação 7.2

apresenta uma correção do WACC para considerar os benefícios fiscais.

Eq. (7.2)

Onde: D: Dívidas ou capital de terceiros; rD: Custo da dívida ou do capital de terceiros; E: Equity ou capital próprio da empresa; rE: Custo do capital próprio; V: Valor da empresa (D + E); TC: Alíquota do imposto de renda (IR).

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É importante observar que, a inclusão do benefício fiscal (alíquota do imposto

de renda) reduz o custo médio ponderado de capital, proporcionalmente, à relação

capital de terceiros sobre valor da empresa.

7.2 O Modelo APV (Adjusted Present Value)

O modelo APV (Valor Presente Ajustado) foi apresentado e nomeado por

Stewart Myers (1974). Em seu artigo, Myers apresenta um equacionamento que tem

o objetivo de maximizar o valor da empresa, em função da aceitação de um projeto.

O valor presente da empresa é encontrado através da avaliação de dois fluxos de

caixa, um proveniente das operações normais, referentes a aceitação do projeto e,

outro fluxo de caixa proveniente dos benefícios ou malefícios fiscais gerados pela

aceitação do projeto. Esses benefícios/malefícios fiscais seriam resultantes,

principalmente, da política de financiamento da empresa.

Eq.(7.3)

Eq. (7.4)

Onde: Ft : Variação do valor de mercado da empresa em função das dívidas em

circulação no período (t).

Zjt :Capacidade de dívida no período (t) referente ao projeto (j).

Nota-se que a equação (7.4) é a equação utilizada para cálculo do VPL

simples, onde tem-se o fluxo de caixa esperado, E(CF), e a taxa de desconto (k). A

segunda parte da equação (7.3), computa o total dos benefícios/malefícios fiscais

provenientes das decisões de financiamento da empresa.

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O modelo APV tem como característica o fato de considerar, no cálculo do

valor presente (Aj), um fluxo de caixa esperado E(CF), considerando que a empresa

não tenha dívidas. Dessa maneira, a taxa de desconto (k) também deve ser

calculada considerando uma empresa sem dívidas. Assim sendo, a equação que

resume o modelo APV pode ser dada por:

APV = VP + VPTS Eq.(7.5)

Onde: VP = valor presente da empresa sem dívidas

VPTS = valor presente dos efeitos do financiamento

Damodaran (2002) considera que no cálculo do valor presente da empresa,

considerando que não haja dívidas, deve-se levar em conta, para o cálculo da taxa

de desconto, o nível de alavancagem da empresa. Isso significa que caso seja

utilizado o modelo CAPM para cálculo do custo de capital próprio, o valor encontrado

será referente aos dados da empresa com seu nível de alavancagem de mercado.

Sendo assim, torna-se necessário encontrar um custo de capital teórico que seria a

taxa de desconto do capital próprio da empresa sem dívidas.

Dessa forma, para o caso de se utilizar o modelo CAPM no cálculo do custo

de capital próprio da empresa, para utilização no modelo APV, deve-se utilizar um

índice beta não-alavancado como entrada do modelo CAPM. O cálculo dessa beta

não alavancado é apresentado em Hamada (1972), Damodaran (2002) e Booth

(2002).

Evoluindo no conceito do modelo APV, Luehrman (1997) propôs que os fluxos

de caixa fossem divididos em diversos fluxos que tenham sentido financeiro para a

empresa. Dessa forma a empresa dividiria seu fluxo de caixa em vários fluxos

individuais e somaria esses fluxos no valor presente. Esse modelo apresentado por

Luehrman e resumido na figura 5 é um modelo mais completo do APV e, à partir

dessa publicação, o modelo tornou-se mais difundido.

De acordo com Luehrman (1997), a utilização do WACC como taxa de

desconto para avaliação de negócios só é viável para a mais simples e estática

estrutura de capital. Como na maioria dos casos reais a estrutura de capital é

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complexa e dinâmica, o custo de capital calculado através do WACC deve ser

corrigido não somente a cada projeto, mas também, a cada período. A aplicação do

modelo APV na avaliação de negócios deve, segundo Luehrman (1997), seguir

basicamente cinco passos:

1. Definir os diferentes fluxos de caixa, diferentes fontes de recursos e despesas.

2. Encontrar as taxas de desconto apropriadas a cada fluxo de caixa.

3. Avaliar os efeitos marginais provenientes de empréstimos, lançamento de ações,

etc.

4. Somar os valores presentes dos diferentes fluxos para encontrar o APV.

5. Ajustar a análise dos resultados as necessidades dos investidores.

Figura 5 - Modelo APV com separação dos diferentes fluxos de caixa

7.3 APT (Arbitrage Pricing Theory)

O modelo APT – Teoria de Precificação Arbitrária foi desenvolvido por Stephen

Ross a partir de 1976 e supõe que os retornos sobre ativos sejam gerados por uma

série de fatores de âmbito setorial ou macroeconômico.

A taxa de retorno de um investimento é composta por duas partes, uma sendo

aquela esperada e outra inesperada, representadas na equação a seguir:

R = R + U Eq.(7.6)

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Ou ainda:

R = R + m + ε Eq.(7.7)

Onde: - R é a parte esperada do retorno e U é a inesperada;

- m é o risco de mercado (ou sistemático) e ε é o risco não sistemático.

Diferentemente do CAPM, o APT utiliza o modelo fatorial onde as fontes

sistemáticas de risco são designadas por k fatores, ou seja, esse modelo relaciona

o ativo não só com um parâmetro, mas com tantos outros parâmetros com os quais

se possa estabelecer alguma correlação.

O APT abandona a noção de que existe apenas um portfólio certo para todos

os investidores e o substitui por um modelo baseado na suposição de que alguns

fatores macroeconômicos e específicos influenciam o retorno de ativos. Não importa

quão diversificado está seu portfólio, não se podem evitá-los. Por isso, os

investidores têm de especificar estes fatores de modo preciso, já que são fontes de

risco inevitáveis. Uma compensação por estar exposto a estes riscos, através da

posse desses ativos, vem em termos do retorno esperado. A exposição a estes

riscos é medida pelo beta.

Conforme o CAPM, uma regressão histórica nos retornos de ativos é feita

nestes fatores para estimar os betas. Estes betas são usados na estimativa da taxa

de desconto de determinado projeto; ou seja, na estimativa do retorno esperado do

projeto. No CAPM, um portfólio se encaixa em todos os investimentos, bastando

ajustar a sensibilidade do projeto ao mercado (ajuste de valor do beta). No APT,

podem-se ter diversos portfólios, cada um se preocupando mais, ou menos, com

determinados fatores específicos. Pode-se, então, modelar diferentes cenários

econômicos no portfólio de investimentos, diferentes setores da economia e

diferentes ramos industriais.

Portanto, o APT exige que os investidores tenham perspicácia para perceber

as fontes de risco e escolher os fatores adequados, estimando razoavelmente, a

sensibilidade destes aos riscos de cada projeto. Porém, quanto maior o número de

betas estimados, maior o ruído estatístico incluído no modelo.

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7.4 Análise Financeira: conclusão

Cada indivíduo que analisa um projeto tem a opção de escolher o melhor

modelo para a dada situação. Segundo Fadigas (2001), esse processo deve passar

pela criação de um modelo, que é uma simplificação do mundo real, e procurar

descrever esse modelo da forma mais simples possível. O CAPM surge como um

modelo bem adequado à análise de ativos de qualquer natureza. Sua grande

abrangência e relativa simplicidade foram as principais razões para que o CAPM

fosse a técnica utilizada no Estudo de Caso e no Modelo proposto neste trabalho.

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CAPÍTULO 8 Estudo de caso

Com o objetivo de compreender como são feitos os projetos de cogeração no

Brasil, foi desenvolvido um estudo de caso, focalizado no desenvolvimento de um

projeto específico. Com as informações levantadas no estudo de caso, combinadas

com a pesquisa bibliográfica e, ainda considerando problemas e riscos observados,

pode-se construir o modelo de projeto mais completo, apresentado no capítulo 9.

Com o intuito de manter a confidencialidade da empresa estudada, durante o

capítulo ela será tratada como Usina X.

8.1 Descrição da Empresa

A Usina X é uma empresa do setor sucroalcooleiro, ou seja, produtora de

açúcar e álcool, e entrou em atividade no dia 14 de maio de 1980 com a implantação

do Proálcool. A empresa começou processando 3.180 toneladas de cana/dia, o

equivalente a 22.500 m3 de álcool/ano. Em 1983, ampliou seu parque industrial e

passou a produzir 55.000 m3/ano.

A partir de 1994, passou a fabricar açúcar. Com o processo produtivo sempre

em crescimento, a empresa atingiu diversas metas, como 72.000 m3 de álcool/ano e

220.000 toneladas de açúcar/ano. Para 2005, a estimativa é de 2,8 milhões de

toneladas de cana moída. É a maior indústria de Paraguaçu Paulista e uma das

maiores da região.

A Usina X não depende de terceiros para o fornecimento de matéria-prima,

tendo criado em 1996 a Agrícola Canaã, empresa do grupo responsável pelo

fornecimento da cana-de-açúcar para X. Em 2001 a Agrícola Canaã passou a se

chamar Condomínio Agrícola Canaã, que fornece a totalidade da cana necessária

para X produzir açúcar, álcool e energia.

A Usina X está localizada no estado de São Paulo, é necessário que se saiba a

região para se ter uma idéia de redes de transmissão instaladas próximas à Usina.

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Em 2002 a Usina X colocou em operação sua Termoelétrica, com

capacidade de geração de energia elétrica de 28.2MW, quantidade suficiente para

abastecer um município de 100.000 habitantes.

Os produtos comercializados pelo grupo/empresa são:

• Açúcar Cristal.

• Açúcar VHP.

• Álcool Anidro.

• Álcool Hidratado.

• Energia Elétrica.

Figura 6 - Localização da Usina (Itaú BBA)

54% Açúcar Exportação

17% Álcool exportação

71% Exportação

10% Açúcar Cristal

9% Álcool anidro

8% Álcool hidratado

2% Outros

29% Doméstico

Outros, 2%Hidratado,

8%

Anidro, 9%

Açucar, 10%

Álcool Exp., 17%

Açucar Exp., 54%

Figura 7 - Mix de Produtos no Faturamento (Itaú BBA)

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8.1.1 Dados da Produção da Usina

Com 2,7 milhões de toneladas de cana esmagada, a usina X possui grande

destaque no setor em sua região. As maiores usinas de açúcar e álcool do país são

apresentadas na tabela a seguir:

Tabela 3 - Ranking Maiores Produtores Brasileiros Grupo Cana esmagada

MM ton Prod. de açúcar

MM ton Fatur. Líquido

R$ MM

1 Cosan 26.1 2.4 1,586

2 Carlos Lyra 8.8 1.0 853

3 Zillo 8.9 0.6 629

4 J Pessoa 8.5 0.4 600

5 São Martinho (Ometto) 8.8 0.6 525

6 Rezende Barbosa 6.3 0.6 515

7 Tavares de Melo 4.5 0.3 504

8 Tércio Wanderley 6.8 0.5 502

9 Lincoln Junqueira 7.2 0.7 495

10 Vale do Rosário 8.1 0.6 435

11 João Lyra 5.5 n/a 386

12 Santa Elisa 5.8 0.5 376

13 Itamarati 7.0 0.3 367

14 Irmãos Biagi 6.3 0.3 362

Fonte: Itaú BBA

A tabela a seguir mostra a evolução da produção da Usina em volumes de

açúcar e álcool:

Tabela 4 - Evolução da Produção de cana, açúcar e álcool

Fonte: Usina X

97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03 03/04 04/05

Anidro+Hidratado (mil m3) 72.62 56.27 64.77 59.82 66.44 64 71,00 72,5

Anidro (mil m3) 25.92 28.06 31.32 47.7 34.1 22 46,00 13,2

Hidratado (mil m3) 46.7 28.21 33.45 12.13 32.34 42 25,00 59,3

Açucar (mil ton) 30,2 61,9 83,9 58,0 84,089 140,00 212,00 222,6

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8.2 O Projeto

A Usina X sempre produziu energia elétrica para seu consumo interno,

mas foi em 2000 que iniciou processo de ampliação do seu parque de cogeração,

instalando uma nova casa de força, subestação e linha de transmissão de energia

elétrica. Esta última decretada pela resolução 538/02 da ANEEL como sendo de

utilidade pública.

Em meados de 2001 o Brasil se viu numa grave crise energética e a Usina X

pôde contribuir para a amenização dessa crise, disponibilizando 21MW de energia

elétrica para a Companhia Brasileira de Energia Emergencial – CBEE, órgão

subordinado ao Ministério das Minas e Energia – MME.

O objetivo do projeto é incrementar a geração de Energia Elétrica para

venda, a partir do aproveitamento do bagaço de cana, utilizando caldeiras de alta

pressão. A energia elétrica produzida é vendida para a Eletrobrás através de um

contrato de longo-prazo, dentro do âmbito do PROINFA.

No processo de produção de açúcar e álcool, toda energia consumida

(mecânica, térmica, elétrica) provém da queima do bagaço da cana, gerado a partir

da moagem da cana. Os novos processos de produção de vapor e consumo

modernizam-se promovendo uma redução de consumo com conseqüente sobra de

bagaço, que será usado como combustível a ser queimado em caldeiras de alta

pressão, produzindo vapor, que acionará o conjunto Turbo-Gerador, produzindo

energia elétrica excedente a ser vendida ao mercado.

A Central Térmica da usina produz o vapor necessário à produção de

energia elétrica para consumo interno e a produção de excedente de energia elétrica

destinada à comercialização. O combustível necessário a operação da Central é

assegurado por bagaço produzido na safra pela Usina X e, eventualmente, por

estoques de excedente de bagaço da mesma ou de terceiros. As usinas terão mais

capacidade de produção e venda deste excedente de energia, quanto maior for sua

eficiência energética.

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Pode-se observar neste projeto que, os projetos de cogeração utilizam

tecnologia de ponta desenvolvida no Brasil, como caldeiras de queima de alta

eficiência com baixo índice de rejeição. Alta pressão (62 Kgf/ am2) e temperatura

(500° C), assim como turbo redutores de alta conversão (6,0 Kg vapor por KW),

operando em contra pressão. A razão para se usar essa tecnologia é simples, a

busca pela maior eficiência energética.

8.2.1 Principais Equipamentos

A tabela a seguir apresenta características básicas dos principais

equipamentos da instalação da usina.

Tabela 5 - Principais Equipamentos da Instalação da Usina Equipamento Qtd. Características

Caldeira 1 Capacidade: 170 t/h de vapor Pressão: 62 kgf/cm2 Temperatura: 480 °C

Turbina a Vapor 1 Potência: 30 MW Pressão de alimentação: 62 kgf/cm2 Pressão de extração: 21 kgf/cm2 e 1,5Kgf/cm²

Gerador 1 Potência: 37.5MVA Tensão: 13,8 KV trifásico 60 Hz rpm: 1800 Fator de potência: 80 %

Transformador elevador

1 Elevação: 13,8 – 88 kV Potência: 37.5 MVA

Painéis elétricos 1cj Cubículos de distribuição 13,8 kV, proteção, excitação e medição.

Turbo-bomba 1 Vazão: 220 m3/h A.M.T. : 836 mca Pressão de descarga: 81,0 kgf/cm2

Moto-bomba

1 Vazão: 220 m3/h A.M.T. : 836 mca Pressão de descarga: 81,0 kgf/cm2

Fonte: Itaú BBA

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8.2.2 Quadro de Usos e Fontes

O quadro de usos busca dar uma visão simples do custo total do projeto,

dividindo o mesmo, em alguns principais itens, já o quadro de fontes tem a função de

informar quais serão as origens do capital a ser investido no projeto.

Tabela 6 - Quadro de Usos e Fontes

Fonte: Itaú BBA

USOS (R$) ITENS REALIZADO A REALIZAR TOTAL Estudos, Projetos e Tecnologia - 825.000 825.000 Terrenos - - - Obras, Instalações e Outros - 6.398.700 6.398.700 Equipamentos Nacionais - 30.577.280 30.577.280 Equipamentos Importados (valor FOB) - - - Despesas de Importação - - - Capital de Giro - - - Materiais - 7.437.180 7.437.180 Investimento Total - 45.238.160 45.238.160

FONTES (R$) ITENS REALIZADO A REALIZAR TOTAL Recursos Próprios Acionistas/Cotistas Reinversões de Lucros 9.238.160 9.238.160 Recursos do BNDES FINEM Direto FINEM Indireto 36.000.000 36.000.000 FINAME Investimento Total 45.238.160 45.238.160

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8.2.3 Orçamento do Projeto

O orçamento tem a função de dar maior detalhe aos gastos do projeto,

para que esse possa ser analisado por todos os interessados em investir, ajudando

a dar maior transparência ao empreendimento.

Tabela 7 - Orçamento

Fonte: Itaú BBA

8.2.4 Cronograma do Projeto

O cronograma é muito importante para que se possa fazer uma série

de análises sobre o projeto. É através dele que são calculados os tempos de

carência do empréstimo e através dele, que se torna possível analisar o andamento

do projeto e buscar resolver eventuais problemas para que o mesmo seja

implementado segundo planejado. Uma série de problemas pode ocorrer no caso de

Item % do Total Custo R$ Total1. Estudos e Projetos 1.8% 825,000.00R$ Caldeira 275,000.00R$ Turbo Gerador 194,000.00R$ Subestação 196,000.00R$ ETA /AR 160,000.00R$ 2. Serviços 14.1% 6,398,700.00R$ Caldeira 4,091,300.00R$ Turbo Gerador 1,027,600.00R$ Subestação 908,400.00R$ ETA /AR 371,400.00R$ 3. Material 16.4% 7,437,180.00R$ Caldeira 4,585,350.00R$ Turbo Gerador 1,804,480.00R$ Subestação 768,800.00R$ ETA /AR 278,550.00R$ 4. Equipamentos Nacionais 67.6% 30,577,280.00R$ Caldeira 19,784,850.00R$ Turbo Gerador 6,120,580.00R$ Subestação 3,464,800.00R$ ETA /AR 1,207,050.00R$

Total Geral 45,238,160.00R$

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um projeto atrasar, o principal é o fato de ele atrasar também a geração de receita, o

que pode piorar a capacidade de pagamento da dívida do projeto.

Figura 8 – Cronograma do Projeto

8.3 Benefícios Gerados

O principal benefício deste projeto é a utilização de um combustível

limpo e renovável, de baixo custo, de sobras do processo de moagem da cana para

produção de açúcar e álcool, para produção de Energia Elétrica.

Além disso, a geração de energia pela utilização de biomassa evita que

se tenha que produzir energia através da queima de combustíveis fósseis,

beneficiando o meio-ambiente.

O projeto também tem como benefício a geração de empregos

temporários, no caso da implementação do projeto e, fixos, no caso da operação da

usina de cogeração, estes são mostrados abaixo:

• Gerência: 1

• Operador de campo: 3

• Operador de páteo de combustível: 3

• Operador de caldeira: 3

Descrição Data 2004 1º T 05 2º T 05 3º T 05 4º T 05Assinatura contrato CCVE - Eletrobrás Maio-04Implantação da caldeira Jun-04 a Dez-05

Projeto Jun-04 a Out-04Especificação do Equipamento Out-04 a Nov-04Obras Civis Dez-04 a Jan-05Montagens Fev-05 a Out-05Testes Nov-05 a Dez-05

Implantação do turbo Gerador Nov-04 a Dez-05Projeto Fev-05 a Mar-05Especificação do Equipamento Abr-05 a Mai-05Obras Civis Jun-05 a Ago-05Montagens Ago-05 a Set-05Interligações elétricas Out-05 a Nov-05Testes Nov-05 a Dez-05

Implantação da subestação Cocal Abr-05 a Nov-05Projeto Abr-05 a Mai-05Especificação Trafo Mai-05 a Jun-05Montagem Set-05 a Out-05Testes Out-05 a Nov-05

Licença de Operação Nov-05 a Dez-05Início da Operação Janeiro-06

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• 40Operador turbo-gerador: 3

• Supervisores: 3

• Manutenção (preventiva/ corretiva): 3

Para a empresa os benefícios são inúmeros:

• Economizar não tendo que pagar pela energia utilizada

• Utilização de sobras de seu processo principal para geração de energia

• Obtenção de receita através da venda da energia produzida pela queima do

bagaço, ao invés de despesas com transporte ou outros tipos de ações antes

tomadas para se livrar do mesmo

8.4 Riscos

Neste item são apontados e discutidos os principais riscos deste tipo de projeto

de cogeração.

8.4.1 Risco Tecnológico

O risco tecnológico de um projeto de cogeração, utilizando como fonte de

energia, o bagaço, nos dias de hoje, é muito reduzido, uma vez que, uma série de

projetos deste tipo já foi feita no Brasil, utilizando-se os mais variados equipamentos,

operando nas mais variáveis potências. Existem no Brasil uma série de empresas

com expertise na implantação e gestão de usinas de cogeração.

8.4.2 Risco Econômico

Este risco para o projeto em questão é muito baixo, devido ao fato de o

preço da energia não variar muito, e também, devido à alta demanda por este

recurso a tendência é que o preço do mesmo aumente e não o contrário. Além disso,

o risco de não se ter demanda para a compra do excedente energético produzido

pela usina é praticamente zero, uma vez que como já mencionado, a usina assinou

o contrato com a Eletrobrás, onde a última se dispunha a comprar grande parte da

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energia que a usina gerasse, num período de 20 anos a frente. Portanto no que diz

respeito a pagamento do serviço da dívida, que tem um prazo total de 10 anos, os

risco de default (calote) é muito baixo.

8.4.3 Risco Financeiro

O risco financeiro no caso da Usina X é como os outros riscos já citados,

baixo. A dívida contraída pela empresa está atrelada a TJLP – Taxa de Juros de

Longo Prazo, uma taxa criada pelo governo, com o intuito de promover

investimentos e desenvolvimento no país. A probabilidade desta taxa vir a subir de

maneira descontrolada é muito baixa, ainda mais no governo atual que continua a

reduzir esta taxa. Na última redução, ela passou a ser 6,85%.

8.4.4 Riscos: conclusão

Como se pode observar, pelo fato de ser um projeto já executado a algum

tempo no país, muitos conhecimentos sobre o processo de geração já foi adquirido,

de modo que os riscos são mínimos. A idéia mais à frente, na proposta de um

projeto mais completo, é manter os riscos baixos, aumentando os benefícios para a

empresa, a sociedade e o meio-ambiente.

8.5 Estudo de Viabilidade

O que se pode observar, no caso de uma Usina de Cogeração, é que não

existem outras viabilidades, além da técnica e financeira a serem analisadas.

Ambientalmente e institucionalmente a Usina só tem pontos positivos, reduz a

emissão de CO2, e gera energia para o país, um recurso extremamente valioso e

importante para o crescimento do país. Portanto nesta parte do trabalho, serão

estudadas apenas estas duas viabilidades.

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8.5.1 Viabilidade Técnica

As obras e máquinas a serem financiadas, não apresentam muitas

dificuldades técnicas. As tecnologias como já dito na especificação dos riscos, são

amplamente utilizadas em uma série de projetos do mesmo perfil, além de, a própria

empresa já utilizar a mesma tecnologia em outra usina de cogeração.

Toda a construção foi dimensionada com base em estudos de engenharia

civil, que fornecem total segurança a todo o sistema no que diz respeito a mudanças

climáticas e à operação do maquinário de cogeração. Conforme acima mencionado,

na mesma área já existe outra usina já em operação e sem nenhum problema, o que

diminui, ainda mais, as chances de eventualidades no andamento do projeto.

8.5.2 Viabilidade Econômico-Financeira

Tendo-se comprovado a viabilidade técnica do projeto, resta agora saber se o

projeto é mesmo viável econômica e financeiramente. Para isso, foi feita uma

projeção do fluxo de caixa do projeto, utilizando-se do modelo CAPM para este

estudo.

Os principais dados do projeto são:

Figura 9 - Premissas do Projeto 1 (Itaú BBA)

Para a projeção do fluxo de caixa, as seguintes premissas foram adotadas,

resultado de análises conjuntas da equipe de financiamento de projetos e da equipe

de crédito do banco Itaú BBA:

ParametrosPotência Instalada 30.00 MWHoras de Operação por Ano 5,040Fator de Carga 97.0%Paradas não programadas 1.0%Perdas no circuito 0.68%Demanda Interna 0.50 MWDisponibilizado ao Proinfa 29.50 MW

PPAEnergia Contratada 141,495.0 MWh / anoValor do Contrato: 99.86 R$/MWhData-base Aug-04

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Despesas Operacionais

O&M 15.00%Administração 1.00%Material (incl. água) 0.90%Fees Aneel/MAE/ONS 0.60%CUST 5.00%Provisão para contingências 0.50%Outros 0.50%

O consumo da energia produzida está garantido pelo contrato com a ANEEL

no âmbito do PROINFA.

O projeto teve o fluxo de caixa analisado sendo considerado uma SPC

(Companhia de Propósito Específico).

As projeções foram feitas para dez anos, que é o prazo total dado para o

pagamento dos juros e amortizações da dívida.

As despesas operacionais consideradas estão dentro da média daquelas de

projeto de mesma natureza:

Foram considerados, para acessar o valor econômico, os impostos usuais a

serem aplicados em projetos desta natureza. Obviamente, o resultado da usina irá

interferir na maneira pela qual a empresa fará o tratamento destes impostos.

ALÍQUOTASPIS 1.65%COFINS 7.60%CPMF 0.38%IR 25.00%CS 9.00%

Figura 12 - Premissas para Impostos (Itaú BBA)

Seguindo o mesmo raciocínio, foi alocado um pequeno custo para o bagaço

utilizado pela térmica, sendo que, na prática, este bagaço será fornecido pela própria

usina.

Figura 10 - Premissas do Projeto 2 (Itaú BBA)

Premissas Macroeconômicas 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016IGPM 12.7% 8.0% 7.0% 6.0% 6.0% 6.0% 6.0% 6.0% 6.0% 6.0% 6.0% 6.0% 6.0%

CDI (médio no período) 16.3% 17.5% 16.0% 15.0% 14.0% 14.0% 14.0% 14.0% 14.0% 14.0% 14.0% 14.0% 14.0%

TJLP (média no período) 9.8% 9.5% 9.0% 8.5% 8.0% 8.0% 8.0% 8.0% 8.0% 8.0% 8.0% 8.0% 8.0%

LIBOR (de seis meses) 1.2% 2.8% 3.7% 4.0% 4.2% 4.4% 4.5% 4.7% 4.9% 5.0% 5.1% 5.2% 5.2%

Crescimento real do PIB 5.2% 3.4% 3.5% 3.5% 3.5% 3.5% 3.5% 3.5% 3.5% 3.5% 3.5% 3.5% 3.5%

Figura 11 - Premissas Macroeconômicas (Itaú BBA)

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Compra de Bagaço de Cana

Consumo Específico [kg/MWh] 3.479Preço do Bagaço (R$/ton) 1.00

Figura 13 - Premissas do Projeto 3 (Itaú BBA)

A depreciação dos equipamentos está prevista em 20 anos (taxa de

depreciação de 5% a.a.) e as contas de capital de giro (clientes/ fornecedores/

impostos/ dividendos) estão todas com 30 dias de prazo.

Como se pode observar, o projeto apresenta boa geração de caixa e

cobertura de despesa financeira. À partir de 2011, serão considerados novos

investimentos em CAPEX (Capital Expenditure), ou seja, manutenção para manter

os equipamentos em bom estado.

A margem EBITDA está estimada em 76%, constante para o período

projetado. É uma margem elevada, típica de projetos de geração de energia. A

relação mínima obtida em 2006 aponta o EBITDA como 2x a despesa financeira no

período.

Ainda em 2006, a dívida líquida (Bancos CP + Bancos LP – Caixa) é 3x o

EBITDA, porém, este índice decresce gradualmente, e o projeto vira aplicador

líquido em 2013.

DRE - R$ mil 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016Receita Bruta 15.7 16.8 17.9 18.9 20.1 21.3 22.6 23.9 25.3 26.9 28.5Deduções da Receita Bruta (1.5) (1.6) (1.7) (1.8) (1.9) (2.0) (2.2) (2.3) (2.4) (2.6) (2.7)Receita Líquida 14.2 15.2 16.1 17.1 18.1 19.2 20.4 21.6 22.9 24.3 25.7Depreciação (2.2) (2.2) (2.2) (2.2) (2.2) (2.3) (2.4) (2.5) (2.7) (2.8) (2.9)Amortização (0.3) (0.3) (0.3) (0.3) (0.3) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0)Lucro Bruto 11.7 12.7 13.6 14.6 15.6 16.9 17.9 19.0 20.2 21.4 22.7Despesas operacionais (3.3) (3.6) (3.8) (4.0) (4.3) (4.5) (4.8) (5.1) (5.4) (5.7) (6.0)Lucro Operacional 8.4 9.1 9.9 10.6 11.4 12.3 13.1 13.9 14.8 15.7 16.7Despesas Financeiras (5.3) (4.1) (3.5) (3.1) (2.6) (2.2) (1.7) (1.2) (0.6) (0.1) -LAIR 3.1 5.0 6.3 7.5 8.7 10.2 11.5 12.8 14.2 15.6 16.7CS (0.3) (0.5) (0.6) (0.7) (0.8) (0.9) (1.0) (1.2) (1.3) (1.4) (1.5)IR (0.8) (1.3) (1.6) (1.9) (2.2) (2.5) (2.9) (3.2) (3.5) (3.9) (4.2)LUCRO LÍQUIDO 2.0 3.3 4.2 5.0 5.8 6.7 7.6 8.4 9.4 10.3 11.0

EBITDA 10.9 11.6 12.3 13.1 13.9 14.7 15.6 16.5 17.5 18.6 19.7EBITDA % 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76%

EBITDA / Desp. Fin. 2.0 2.8 3.5 4.2 5.3 6.8 9.4 14.3 28.2 170.3 naDívida Líquida / EBITDA 3.1 2.4 1.8 1.3 0.8 0.4 0.0 (0.3) (0.7) (1.1) (1.5)

Figura 14 - Geração de Resultado yoy do Projeto (Itau BBA)

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Utilizando-se do Ebitda acima calculado e os dados de amortização e juros, é

possível chegar ao fluxo de caixa.

O fluxo de caixa estressa o prazo adequado para o financiamento deste

projeto, o que pode ser identificado em mais detalhe à partir da análise do Índice de

Cobertura do Serviço da Dívida (ICSD), calculado conforme as diretrizes do BNDES

para projetos no âmbito do PROINFA:

Geração de Caixa da Atividade:

(+) EBITDA

(-) imposto de renda

(-) Contribuição Social

(+/-) Variação do Capital de Giro

Serviço da Dívida:

(+) Amortização do Principal

(+) Pagamento de Juros

ICSD = (Geração de Caixa da Atividade) / (Serviço da Dívida)

Fluxo de Caixa - R$ mm 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016EBITDA - 10.9 11.6 12.3 13.1 13.9 14.7 15.6 16.5 17.5 18.6 19.7IR/CS pago - (1.0) (1.7) (2.2) (2.6) (3.0) (3.5) (3.9) (4.3) (4.8) (5.3) (5.7)Geração de caixa operacional - 9.8 9.9 10.2 10.5 10.9 11.2 11.7 12.2 12.7 13.3 14.0Variação de Capital de Giro - (0.9) 0.0 (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.1)Geração de caixa operacional - 9.0 9.9 10.2 10.5 10.9 11.2 11.7 12.2 12.7 13.2 13.9

Amortização - (1.7) (4.2) (4.3) (4.4) (4.5) (4.6) (4.7) (4.8) (4.8) (2.9) -Juros (0.9) (4.1) (3.3) (2.9) (2.6) (2.2) (1.8) (1.4) (1.0) (0.5) (0.1) -Captação 36.2 - - - - - - - - - - -Fluxo Após Financiamentos 35.3 3.1 2.4 2.9 3.5 4.2 4.8 5.6 6.4 7.3 10.3 13.9

Capex (45.2) - - - - (2.1) (2.2) (2.3) (2.5) (2.6) (2.8) (2.9)Investimento em imobilizado (44.4) - - - - (2.1) (2.2) (2.3) (2.5) (2.6) (2.8) (2.9)Investimento em diferido (0.8) - - - - - - - - - - -Fluxo Após Investimentos (9.9) 3.1 2.4 2.9 3.5 2.1 2.7 3.3 4.0 4.7 7.5 11.0

Acionistas 9.9 (0.5) (0.8) (1.0) (1.2) (1.4) (1.7) (1.9) (2.1) (2.3) (2.6) (2.8)(+) Aporte de capital 9.9 - - - - - - - - - - -(-) Dividendos - (0.5) (0.8) (1.0) (1.2) (1.4) (1.7) (1.9) (2.1) (2.3) (2.6) (2.8)Geração de caixa anual - 2.6 1.6 1.9 2.3 0.7 1.0 1.4 1.9 2.4 4.9 8.3

Figura 15 - Geração de Caixa (Itaú BBA)

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Através da análise deste índice, podemos identificar que tanto o prazo

proposto de 10 anos para o financiamento, quanto o nível de alavancagem estão

compatíveis com a natureza do projeto. A geração de caixa é suficiente para cobrir o

serviço da dívida, atingindo um nível mínimo de 1,32 em 2007 e nível médio de 1,75

entre 2007 e 2014.

O usual para projetos de grande porte é a exigência deste índice em termos

não inferiores a 1,30. Este nível é atingido com o endividamento com o perfil

proposto e, para análise de sensibilidade, este índice atinge um mínimo de 1,14

quando o prazo total do financiamento é encurtado para 8 anos.

A análise do comportamento do Índice de Cobertura do Serviço da Dívida, é o

ponto fundamental para certificarmos que as características do financiamento são

adequadas para o projeto que está sendo proposto, o que pode ser facilmente

verificado no gráfico a seguir.

ICSD [R$ MM] 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015EBITDA 10.9 11.6 12.3 13.1 13.9 14.7 15.6 16.5 17.5 18.6IR/CS (1.0) (1.7) (2.2) (2.6) (3.0) (3.5) (3.9) (4.3) (4.8) (5.3)Variação de Capital de Giro (0.9) 0.0 (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0)EBITDA - IR pago 9.0 9.9 10.2 10.5 10.9 11.2 11.7 12.2 12.7 13.2

Amortização BNDES (1.7) (4.2) (4.3) (4.4) (4.5) (4.6) (4.7) (4.8) (4.8) (2.9)Juros BNDES (4.1) (3.3) (2.9) (2.6) (2.2) (1.8) (1.4) (1.0) (0.5) (0.1)Serviço da Dívida 5.9 7.5 7.3 7.0 6.7 6.4 6.1 5.7 5.4 3.0

ICSD 1.53 1.32 1.40 1.50 1.63 1.76 1.93 2.12 2.36 4.47ICSD - mínimo 1.32

-

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

2006 2008 2010 2012 2014

R$

MM

(EBITDA - IR/CS-Var.KG) Servico da Divida

Figura 17 - Gráfico do ICSD (Itaú BBA)

Figura 16 - Índice de Cobertura do Serviço da Dívida

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Por fim, a análise de rentabilidade do projeto é obtida a partir da técnica de

análise do Fluxo de Caixa do Projeto (“FCFF”) e Fluxo de Caixa do Acionista

(“FCFE”). A rentabilidade é calculada como a Taxa Interna de Retorno (“TIR”) do

caixa livre gerado em relação aos investimentos realizados. Assim como o fluxo de

caixa calculado, as taxas estão expressas em termos nominais.

FCFF = EBIT * (1-T) + Depr/Amort – Var. KG – Capex Eq.(8.1)

Onde: EBIT = Lucro antes de juros e impostos

T = taxa de impostos sobre lucro = 34%

Depr/Amort = depreciação / amortização contábeis apuradas

Var. KG = variação da necessidade de capital de giro da empresa (por sua

vez calculado como o ativo circulante operacional menos o passivo circulante

operacional).

CAPEX = investimentos no imobilizado (“capital expenditures”).

Foi calculada a taxa interna de retorno obtida em 20 anos, prazo do contrato

de fornecimento de energia, e desprezados resultados de perpetuidade (valores

residuais).

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014EBIT - 8.4 9.1 9.9 10.6 11.4 12.3 13.1 13.9 14.8T (IR/CS) 0% 34% 34% 34% 34% 34% 34% 34% 34% 34%Depreciação / Amortização - 2.5 2.5 2.5 2.5 2.5 2.4 2.5 2.6 2.7Variação de Capital de Giro - (0.9) 0.0 (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0)Capex (45.2) - - - - (2.1) (2.2) (2.3) (2.5) (2.6)FCFF (45.2) 7.2 8.5 9.0 9.5 7.9 8.3 8.8 9.3 9.9

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025EBIT 15.7 16.7 17.7 18.8 20.0 21.2 22.5 23.9 25.4 26.9 28.6T (IR/CS) 34% 34% 34% 34% 34% 34% 34% 34% 34% 34% 34%Depreciação / Amortização 2.8 3.0 3.1 3.3 3.4 3.6 3.8 4.0 4.2 4.4 4.7Variação de Capital de Giro (0.0) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1)Capex (2.8) (2.9) (3.1) (3.3) (3.5) (3.7) (3.9) (4.1) (4.4) (4.7) (2.5)FCFF 10.4 11.0 11.7 12.4 13.1 13.9 14.7 15.6 16.5 17.5 21.0

Figura 18 - Fluxo de Caixa do Projeto

Resumidamente, os resultados obtidos foram:

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TIR do Projeto: 19.9% 20 anos (nominal)TIR do Projeto: 12.9% 20 anos (real)Payback: 7.0 anosPayback descontado: 8.0 anos

Figura 19 - Taxa Interna de Retorno

O mesmo exercício foi realizado considerando apenas o Fluxo de Caixa para

o Acionista, definido como:

FCFE = LL + Depr/Amort – Var. KG – Capex + Captação de dívida – Amortização

de Dívida Eq.(8.2)

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014LL antes dividendos - 2.0 3.3 4.2 5.0 5.8 6.7 7.6 8.4 9.4Depreciação / Amortização - 2.5 2.5 2.5 2.5 2.5 2.4 2.5 2.6 2.7Variação de Capital de Giro - (0.9) 0.0 (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0) (0.0)Captação de dívida 36.2 - - - - - - - - -Amortização de Financiamento - (1.7) (4.2) (4.3) (4.4) (4.5) (4.6) (4.7) (4.8) (4.8)Capex (45.2) - - - - (2.1) (2.2) (2.3) (2.5) (2.6)FCFE (9.0) 1.9 1.6 2.3 3.0 1.7 2.3 3.0 3.8 4.6

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025LL antes dividendos 10.3 11.0 11.7 12.4 13.2 14.0 14.9 15.8 16.8 17.8 18.9Depreciação / Amortização 2.8 3.0 3.1 3.3 3.4 3.6 3.8 4.0 4.2 4.4 4.7Variação de Capital de Giro (0.0) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1) (0.1)Captação de dívida - - - - - - - - - - -Amortização de Financiamento (2.9) - - - - - - - - - -Capex (2.8) (2.9) (3.1) (3.3) (3.5) (3.7) (3.9) (4.1) (4.4) (4.7) (2.5)FCFE 7.5 11.0 11.7 12.4 13.1 13.9 14.7 15.6 16.5 17.5 21.0

Figura 20 - Fluxo de Caixa para o Acionista

Os resultados obtidos para os acionistas foram:

TIR do Acionista: 32.5% 20 anos (nominal)TIR do Acionista: 23.8% 20 anos (real)Payback: 6.0 anosPayback descontado: 10.0 anos

Figura 21 - Taxa Interna de Retorno

Os resultados obtidos atestam a viabilidade econômica e atratividade

financeira do projeto.

8.6 Financiamento

Como mostrado anteriormente no quadro de fontes, a fonte de financiamento

deste projeto será o BNDES e as condições da operação são descritas abaixo.

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• Participação do BNDES: até 80% dos itens financiáveis – os recursos serão

integralmente repassados pelo Banco Itaú BBA (financiamento indireto, via

repasse).

• Custo Financeiro: Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP.

• Remuneração do BNDES: 2.0% ao ano.

• Remuneração do agente financeiro: 2.0% a.a.

• Amortização pelo Sistema de Amortização Constante (SAC).

• Prazo de carência: 1 ano.

• Prazo total: 10 anos.

8.7 Garantias

As garantias como explicado anteriormente, são utilizadas para possibilitar o

financiamento. É uma maneira de reduzir o risco dos credores e, por conseguinte,

um ponto positivo para a captação. As garantias podem, às vezes, servir para

reduzir as taxas cobradas pelos credores, uma vez que, essa é comumente

proporcional ao risco de crédito. Porém, na maioria das vezes, elas são exigências

mínimas dos credores.

Na fase de implantação:

• Fiança do(s) controlador(es) da beneficiária;

• Penhor dos direitos emergentes da concessão ou autorização;

• Alienação fiduciária dos equipamentos e garantia real dos bens relacionados

ao projeto;

• Cessão condicional dos direitos dos seguros relativos à construção do

empreendimento;

• Hipoteca do imóvel onde se localiza o empreendimento financiado;

• Garantia real não relacionada ao projeto de no mínimo 50% do valor

financiado;

• e/ou

• Seguro garantia no valor de até 50% do valor financiado pelo Banco.

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Na fase de operação:

• Fiança do(s) controlador(es) da beneficiária;

• CCVE assinado com a Eletrobrás, com cláusula de garantia de pagamento de

70% de faturamento mínimo mensal referente à energia de referência

aprovada pela ANEEL ao preço de referência definido pelo MME,

independentemente de recebimento pela Eletrobrás de recursos da Conta

Proinfa e sem incidência das disposições relativas à variação de energia

gerada pelo produtor;

• Penhor dos direitos emergentes da autorização e reserva de meios de

pagamento;

• Alienação fiduciária dos equipamentos e garantia real dos bens relacionados

ao projeto;

• Seguro do empreendimento com cláusula beneficiária para o Banco;

• Contratos relacionados ao projeto, além do CCVE, deverão ser objeto de

penhor;

• Conta reserva com saldo suficiente para a quitação de, no mínimo, 3 meses

de serviço da dívida incluindo pagamentos de principal e juros.

8.8 Conclusão

Foi possível analisar os pontos fundamentais de um projeto de cogeração

nesse Estudo de Caso, quais são as máquinas utilizadas, quais são as eficiências

do processo, a quantidade de energia gerada por um certo volume de bagaço, Foi

possível, também, ter uma perspectiva do investimento necessário e dos benefícios

que são trazidos à empresa e à comunidade próxima.

Outro ponto muito importante, além das máquinas e investimentos é o tempo

de implementação do projeto, pois, é através dele que se pode projetar uma data de

início para a geração de receita do projeto, o que por sua vez tem grande impacto na

capacidade de pagamento da dívida.

Por fim, foi possível se conhecer mais a fundo, quais os principais pontos

observados para a análise de viabilidade financeira do projeto. Quais são os índices

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utilizados que dão uma melhor perspectiva da saúde e capacidade financeira do

projeto.

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80

CAPÍTULO 9 Proposta de Estruturação do Projeto

Neste capítulo, é proposto um projeto de cogeração mais completo. São

repensadas as premissas já utilizadas no Estudo de caso, e é complementado o

modelo com o fluxo de caixa referente à implementação da cogeração, utilizando a

vinhaça, bem como, o fluxo de caixa referente a emissão e venda dos créditos de

carbono.

Foi feito um estudo mais detalhado referente às tecnologias e processos

utilizados na parte da utilização da vinhaça e será discutido mais a fundo todo o

processo de geração e comercialização dos créditos de carbono, de modo a

esclarecer, da melhor maneira possível, todos os pontos da proposta.

9.1 Detalhamento da Proposta

Como se observou no capítulo 2, a geração de energia é muito importante e

incentivada no país por uma série de razões, a principal é a iminência da falta da

mesma, o que teria resultados catastróficos na economia nacional, além do fato de

projetos de cogeração gerarem energia limpa, colaborando com a bem-estar do

meio-ambiente.

Até esse ponto foram demonstrados conceitos gerais do Project Finance e a

viabilidade do uso dos mesmos para projetos de energia. No capítulo anterior foi

analisado um projeto típico de cogeração no Brasil, dando atenção a cada detalhe

da operação. A idéia daqui a diante é propor um projeto ainda mais completo.

Para ilustrar melhor toda a modelagem do projeto serão usados os mesmos

números do caso da Usina X anteriormente estudados, porém serão atualizadas e

complementadas todas as premissas, assim como o próprio modelo criado para a

projeção do fluxo de caixa.

O esquema abaixo ilustra o processo de cogeração executado na Usina X:

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O bagaço da cana-de-açúcar, que é moída dentro da usina, é utilizado

diretamente na caldeira para gerar o vapor que acionará a turbina e produzirá a

energia. Neste esquema, como se pode observar, a vinhaça é utilizada diretamente

como fertilizante, através do processo de fertirrigação, uma aplicação com alto

potencial negativo como mostrado no capítulo 2. Este processo, como foi mostrado

no capítulo anterior, é completamente viável e lucrativo para a empresa, porém pode

ser melhorado de modo a gerar mais energia e menor impacto ambiental.

caldeira turbina

bagaço

vapor

Figura 22 - Projeto Usual de cogeração

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Bio - Digestão

Turbina a gás

Fertilizante

Turbina a vapor

Bagaço

cc

Vinhaça

biogás Lodo

venda

Caldeira

Vapor

Energia Elétrica

Hipótese

Na figura a seguir é apresentada a estrutura de projeto proposto no trabalho:

No modelo acima, pode-se observar que existem algumas ações a

mais e que são basicamente:

• Utilização do Biogás proveniente da biodigestão da vinhaça como combustível

para a produção de vapor

• Venda do Lodo produzido pela biodigestão da vinhaça (Hipótese)

• Emissão e venda dos CREs

Com a implementação de um projeto deste, a usina se torna capaz de não

só torna-se auto-suficiente na utilização de energia, como até mesmo, vender

eletricidade para a rede nacional, gerando uma economia e receita (no caso de se

vender a energia extra para a rede), evitando ainda, que usinas geradoras de

eletricidade por combustíveis fósseis despachem essa energia para a rede, gerando

desse modo, os CREs. Outro ponto que se deve dar atenção é o fato de a vinhaça

biodigerida, ainda manter suas qualidades fertilizantes, ou seja, ao biodigerir a

Figura 23- Esquema do Projeto Proposto (Elaboração Própria)

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vinhaça, a usina continua a utilizá-la como fertilizante. Com isso, a implementação

de um projeto de cogeração evita emissões de CO2 para a atmosfera, contribuindo,

também, para o desenvolvimento sustentável da região e do país.

9.2 Tecnologias Utilizadas no Projeto

9.2.1 Caldeiras

Para a geração de energia elétrica, à partir da combustão de biomassa, em

todo o mundo, a tecnologia utilizada é o ciclo Rankine de vapor. O ciclo consiste da

combustão direta da biomassa em uma caldeira para geração de vapor, o qual então

é expandido em uma turbina. A maioria das plantas de ciclos a vapor está localizada

em áreas industriais, onde o calor proveniente da turbina a vapor é recuperado e

utilizado para atender as demandas locais de energia. Tais sistemas de geração de

calor e energia (CHP), ou sistemas de cogeração, fornecem níveis maiores de

energia por unidade de biomassa consumida do que sistemas que geram somente

energia elétrica.

O ciclo Rankine envolve o aquecimento da água sob pressão, que resulta na

expansão do vapor que movimenta uma turbina-geradora, e o condensamento

desse vapor para água que volta para a caldeira completando o ciclo total ou

parcialmente. Um trocador de calor é usado em alguns casos para recuperar o calor

de gases residuais utilizados para o pré-aquecimento do ar de combustão e, no

caso, um desaerador deve ser utilizado para remover o oxigênio da água, antes que

esta entre na caldeira. Turbinas a vapor são projetadas ou como contrapressão, ou

como condensação.

Aplicações de cogeração empregam tipicamente turbinas de contrapressão,

nas quais o vapor expande até uma pressão substancialmente superior à pressão

ambiente. Ele deixa a turbina ainda como vapor e é enviado para satisfazer

necessidades de calor no parque industrial, onde é condensado. Retorna, então,

total ou parcialmente à caldeira. Alternativamente, se as necessidades de vapor do

processo podem ser supridas utilizando-se apenas parte do vapor disponível, uma

turbina do tipo extração-condensação (CEST) pode ser utilizada. Este projeto inclui a

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capacidade de algum vapor ser extraído em um ou mais pontos no caminho de

expansão para atender necessidades do processo.

Vapor não-extraído continua a expandir a pressões sub-atmosféricas,

incrementando, dessa forma, a quantidade de eletricidade gerada por unidade de

vapor, comparada à turbina de contrapressão. O vapor não extraído é convertido em

água num condensador que utiliza ar ambiente ou uma fonte de água fria como

agente resfriador. O ciclo de vapor Rankine usa diferentes concepções de caldeiras,

dependendo da escala da unidade e das características do combustível utilizado. A

pressão e a temperatura iniciais do vapor, juntamente com a pressão a que ele é

expandido, determinam a quantidade de eletricidade que pode ser gerada por massa

de vapor. Em geral, quanto maior o pico de pressão e temperatura do vapor, mais

sofisticado, eficiente e caro o ciclo.

Figura 24 - Esquema de Funcionamento do Ciclo de Rankine (Willians e Lenson, 1993)

9.2.2 Turbinas a Gás

O ciclo termodinâmico que descreve o funcionamento das turbinas a gás

denomina-se ciclo de Brayton e foi idealizado por George Brayton em 1870,

recebendo seu nome em homenagem.

Estas turbinas funcionam num ciclo aberto, admitindo ar a pressão

atmosférica e descarregando os gases de escape de volta para a atmosfera. Ar em

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condição ambiente (ou refrigerado) entra no compressor, onde ocorre compressão

adiabática com aumento de pressão e, consequentemente, também aumento de

temperatura.

Turbinas de grande porte (Heavy-duty) possuem um compressor de fluxo

axial, tipicamente com 17 ou 18 estágios de compressão. Cada estágio do

compressor é formado por uma fileira de palhetas rotativas que impõem movimento

ao fluxo de ar (energia cinética) e uma fileira de palhetas estáticas, que converte a

energia cinética em aumento de pressão.

O ar pressurizado e aquecido, segue para as câmara de combustão, onde

também é alimentado um combustível que pode ser gasoso gás natural, gás

liquefeito ou líquido, como óleo diesel, querosene ou óleo pesado. Na combustão

ocorre um aumento de temperatura a pressão constante, produzindo um aumento de

volume do fluxo de gases. Estes gases quentes e pressurizados acionam a turbina

de potência, gerando trabalho mecânico. Terminado o processo, os gases, ainda

quentes, são finalmente liberados ainda em alta temperatura, tipicamente entre 500

e 650 celsius.

Cerca de metade da potência produzida pela turbina de potência é utilizada

no acionamento do compressor e o restante é a potência líquida gerada, que será

utilizada para movimentar um gerador ou outro equipamento acoplado à turbina.

Uma desvantagem é que uma queda súbita na demanda de carga elétrica

(também denominada rejeição de carga) pode elevar descontroladamente a

velocidade da segunda turbina (um sistema de controle deve ser previsto). Uma

turbina a gás é um único equipamento que inclui três funções: compressor, câmara

de combustão e turbina de potência.

9.3 O Processo de utilização da Vinhaça

A grande maioria dos projetos de cogeração no Brasil não utiliza o poder

calorífico da vinhaça para a produção de energia, utilizando-se apenas do bagaço

como fonte de calor. Isso se deve ao fato de ser um processo mais complicado, com

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necessidade de máquinas mais avançadas e, principalmente, pelo fato de ser um

projeto que por si só é inviável financeiramente. A questão é que esse é um

processo de elevada importância, primeiramente pelo fato de aumentar a quantidade

de energia gerada pela usina, reduzindo a necessidade de geração de energia pela

queima de combustíveis fósseis e, segundo, pela redução dos impactos ambientais

que a vinhaça in natura tem no meio-ambiente. Nesta etapa será explicado

detalhadamente o processo e será quantificado benefício da produção do biogás no

projeto.

9.3.1 Potencial de Geração de Energia

A produção de álcool gera uma grande quantidade de vinhaça, entre 11 e 14

m3 de vinhaça/m3 de álcool, como já colocado no capítulo 2. Considerando-se a

produção total da usina, chegamos num total de 10.000 m3/dia de biogás

produzidos. Segue uma tabela com o valor energético de cada produto proveniente

da produção do álcool.

Tabela 8- Valor Energético da Cana-de-açúcar

Fonte: Lamo (1991)

Pela tabela acima a utilização do biogás terá o potencial de geração de energia

de aproximadamente 57 milhões de kcal por dia, utilizando-se de premissas mais a

frente colocadas, chega-se ao valor aproximado de 1,2 milhões de MWh por ano de

potência de geração de energia utilizando-se o biogás produzido na Usina.

9.3.2 Biodigestão da Vinhaça

Como já citado, a vinhaça precisa passar pelo processo de biodigestão para

que seja gerado o biogás, através da queima do qual pode-se gerar energia elétrica.

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A vinhaça é um efluente muito rico em abono químico, como: Nitrogênio,

Fósforo, Potássio, Sulfatos, necessários à recomposição dos solos agrícolas da

agroindústria. Com estes componentes se encontram matérias orgânicas do

processo (até 29 4DQO).

A Biodigestão da vinhaça tem como principal objetivo a remoção do

DQO/5DBO do efluente e resume-se em um processo de fermentação anaeróbia,

podendo ser contínua e descontínua, de acordo com as possibilidades técnicas que

se impõem com os interesse comerciais da Usina.

Segundo Pinto (1999), classifica-se os digestores quanto ao tipo de

construção, modo de operação, forma de armazenamento do gás, fluxo das

substâncias em fermentação, temperatura de operação, com ou sem agitação e com

ou sem dispositivos para agregar a biomassa bacteriana.

O processo de biodigestão, se conduzido em reatores convencionais, é

relativamente lento, com tempos de retenção hidráulica do resíduo dentro do reator

de vários dias, ou mesmo semanas, para se completar o processo. Neste trabalho o

biodigestor considerado é o chamado UASB (Upflow Anaeróbic Sludge Blanket

Reactor), onde se mantém elevada concentração de microorganismos no interior do

reator, através da recirculação externa ou retenção interna dos microorganismos.

Tabela 9 - Características Físico-Químicas da vinhaça

Fonte: Bancor

4 Demanda Química por Oxigênio 5 Demanda Biológica de Oxigênio

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Como fator de balanceamento organo-mineral, a normalização do pH a nível

6.0 ~ 6.9, resultará nas lavouras de cana, em menor dispêndio de corretores de

acidez dos solos, sabendo-se ser este fator predominante nas áreas de plantio da

cana de açúcar.

Com a redução do DQO e DBO, obtida através da biodigestão o poder de

contaminação da vinhaça é reduzido consideravelmente, reduzindo muito a

probabilidade de contaminação de lençóis freáticos e rios.

Outro ponto muito importante da utilização deste processo para a biodigestão

da vinhaça é a geração de grande quantidade de lodo durante o processo. Este

lodo, em uma situação onde o processo é amplamente utilizado no país, pode ser

vendido para dar partida6 em outros biodigestores e ter sua receita incorporada ao

fluxo de caixa do processo. Essa produção ocorre na medida que novas cargas de

matéria orgânica são adicionadas ao biodigestor.

9.3.3 Equipamentos

9.3.3.1 Biodigestão da Vinhaça

Para o projeto em questão a geração de vinhaça é de aproximadamente

5.000 m3 por dia. Para que seja feita a biodigestão dessa vinhaça, serão usados

reatores de fluxo ascendente com leito de Iodo (UASB), devido ao baixo custo de

manutenção e alta eficiência na remoção de DQO, aproximadamente 80%. Para

esta proposta serão utilizados 4 biodigestores de 2.500 m3 de volume unitário, com

26,0 m de diâmetro e 4,75 de altura, conforme figura 22.

Os cálculos utilizados para se dimensionar o volume dos biodigestores é

mostrado abaixo.

São produzidos aproximadamente 5.000 m3 de vinhaça por dia, coniderando-

se uma carga orgânica de aproximadamente 35 kg DQO (Lamo, 1991), obten-se o

valor de:

6 Iniciar a utilização de um novo biodigestor.

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5.000 m3/dia x 35kg DQO/m3 = 175.000 kg DQO/dia (carga orgânica)

Segundo experimentos práticos da Codistil S.A – Dedini, empresa

especializada na produção de sistemas biodigestores, a taxa de aplicação de um

biodigestor UASB é de aproximadamente 18 kgDQO/m3 dia, significando que cada

m3 de biodigestor é capaz de biodigerir 18 kg de DQO em um dia. Desse modo, o

volume necessário para o projeto em questão é de:

(175.000 kg DQO/dia) / (18 kgDQO/m3.dia) = 9.700 m3

Dessa maneira, o projeto necessita de 4 biodigestores de 2.500 m3, pois, caso

seja feito apenas um de 10.000 m3, o potencial biodigestor é reduzido devido à

menor área de contato do lodo com a vinhaça. É necessário que se mantenha uma

mínima superfície de contato para que a biodigestão ocorra dentro dos parâmetros

utilizados.

9.3.3.2 Geração de Energia pelo Uso do Biogás

Para a geração de energia através do biogás são dois os equipamentos mais

utilizados, os moto-geradores e as turbinas a gás. Segue uma breve descrição de

ambos.

Figura 25 - Biodigestor do tipo UASB (CETESB)

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Motogeradores

Os moto-geradores de combustão interna são bastante utilizados

devido a uma série de razões abaixo citadas:

• Robustez

• Facilidade de manutenção

• Possuem conjunto de filtração e desumificação do biogás

• Possuem Unidade de aquecimento e controle de temperatura do biogás,

incorporado a unidade de auto-alimentação

• Possuem unidade independente de resfriamento e controle de temperatura

Figura 26- Esquema de dois motogeradores em container (BRAMESTANO)

Turbinas a Gás

As turbinas a gás são motores térmicos que realizam a conversão da

energia de um combustível em potência de propulsão, potência de eixo ou potência

elétrica. Por serem máquinas de combustão interna realizam o processo de

conversão da energia do combustível a altas temperaturas (começando com

temperaturas da ordem de 1000 o C e terminando em temperaturas próximas de 500 oC). A maior parcela da energia do combustível que não é aproveitada está nos

gases de exaustão ainda a altas temperaturas.

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Para o projeto a ser proposto, serão utilizados seis conjuntos de turbinas a

gás modelo J 320V81 – Container, com capacidade de 1.000 kWh cada, devido ao

fato de a usina atingir um pico de produção de biogás de aproximadamente 43.000

Nm3/dia, e para se manter uma margem de segurança razoável. O rendimento da

turbina será considerado de 35% (Lamo, 1991).

9.3.3.3 Investimentos necessários

Para se construir os quatro biodigestores do tipo UASB, sendo cada um de

aproximadamente 2.500 m3, segundo o setor de Estruturas da Departamento de

Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, será

necessário um investimento por volta de R$ 4,3 milhões, entre custos de projeto,

materiais e mão-de-obra.

Segundo Wagner (2002), o custo de instalação por kWh é de US$ 160. Para

o calculo do valor atual, esse valor foi corrigido pela inflação americana acumulada

no período, aproximadamente 10,3% e foi usada a taxa de câmbio atual de 2,16

R$/US$, resultando num investimento de aproximadamente R$ 2,3 milhões, entre

custos de projeto, materiais e mão-de-obra.

Desse modo o investimento total para o aproveitamento da vinhaça é de R$

6,5 milhões.

Figura 27 - Turbina a Gás usada em Projetos de Cogeração (Critweb)

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9.3.4 Processo de utilização da vinhaça: Conclusão

Como se pode observar, para se gerar o biogás e então utilizá-lo como fonte

para geração de energia é necessário um grande investimento. Esse fator aliado ao

rendimento energético bem menor se comparado ao do bagaço, faz com que as

usinas optem por não implementar este tipo de projeto. Um outro grande problema

para a execução de projetos como esse, é o fato de não se haver maneiras pouco

onerosas de se armazenar a vinhaça ou o biogás. Desse modo, os mesmos têm de

ser utilizados em curtos períodos após produzidos. Isso faz com que se tenha a

necessidade de instalação de equipamentos com capacidade muito maior do que a

capacidade média utilizada.

9.4 Benefícios Gerados

Além dos benefícios gerados mostrados no capítulo 9, serão mostrados aqui

os benefícios que foram gerados pelo projeto proposto.

Primeiramente, ocorre a geração de mais energia elétrica por fontes

renováveis reduzindo a necessidade da produção de energia pela queima de

combustíveis fósseis, bem como, reduzindo o risco da ocorrência de um novo

apagão. Isso caso esse projeto fosse aplicado em diversas usinas, aproveitando

parte do potencial brasileiro mostrado no capítulo 3.

Ocorre, ainda, a geração de mais empregos, sendo necessário quatro

funcionários para trabalhar nos biodigestores e dois para trabalhar no turbina.

Por último existe o benefício ambiental. Além da já citada redução da

produção de energia pela queima de combustíveis fósseis, reduzindo a quantidade

de CO2 emitida na atmosfera, existe, também, o benefício de uma grande redução

do potencial poluidor da vinhaça, pela redução da DQO e DBO da mesma. Tal fato

pode ser observado na tabela 8. Com isso é reduzido o risco de contaminação de

rios e lençóis subterrâneos.

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9.5 Geração dos CREs

Primeiramente, vale dizer que, somente projetos estruturados com base nos

mecanismos de flexibilização estabelecidos no Protocolo de Kyoto serão elegíveis

para emitir créditos de carbono (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL -

Artigo 12 do Protocolo).

Para que uma empresa possa gerar os CERs, são necessários uma série de

procedimentos; desde a elaboração de documentos até validações e certificações. O

esquema abaixo busca ilustrar de maneira simples as etapas a serem seguidas,

especificamente para usinas de cogeração. Isso não significa que o esquema seja

válido para outros negócios.

Figura 28 - Processos necessários para a emissão dos CREs (Apresentação Paulo Guiacam)

(1) Documentos - O projeto deverá ser entregue à Entidade Operacional

(2) Validação - A Autoridade Nacional – MCT7 deve aprovar o projeto este será

então encaminhado à Entidade Operacional 8 que deverá validar o projeto,

caso este esteja de acordo com os requerimentos para projetos de MDL.

7 No caso do Brasil esta autoridade é a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima 8 Deve ser previamente acreditada às Nações Unidas

Projeto

CCEERR (6)Emissão

(3) Registro das Atividades de Projeto

CCoonnsseellhhoo EExxeeccuuttiivvoo OONNUU

((UUNN --FFrraammeewwoorrkk CCoonnvveennttiioonn oonn CClliimmaattee CChhaannggee))

(2)Validação

(2)Aprovação

(1) Documentos

EEnnttiiddaaddee OOppeerraacciioonnaall DDeessiiggnnaaddaa

((DDeett NNoorrsskkee VVeerriittaass)) -- DDNNVV

(1) Documentos

Autoridade Nacional

MCT

(4)Monitoramento

(5)Verificação/ Certificação

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(3) Registro - O conselho Executivo da ONU registra todas as atividades do

projeto

(4) Os participantes do projeto deverão incluir no documento de concepção do

mesmo um plano de monitoramento para obter e arquivar dados referentes a:

a. Mensuração das emissões de GHG antropogênicas9 que ocorrem na

área do projeto;

b. Determinar o baseline10 de acordo com as emissões antropogênicas de

GHG na área do projeto no período dos créditos;

c. Identificação das potenciais fontes de emissão de GHG fora da área do

projeto.

(5) Verificação/Certificação - Trata-se de uma revisão periódica independente e

determinada a posteriori pelo certificador sobre as reduções de emissões

antropogênicas de GHG que ocorreram como resultado do projeto de MDL

(6) Emissão - Após validado, revisado, acompanhado e levado ao Conselho

Executivo da ONU, os créditos de carbono são emitidos

9.5.1 Metodologia de baseline

A função da metodologia baseline é mensurar a emissão evitada de GHG

que um projeto propicia. Nesta proposta será utilizada a metodologia AM0015, pelo

fato desta já ter sido usada em um projeto de cogeração na Usina Vale do Rosário.

Essa metodologia permite calcular o volume de CERs gerados por projetos de

cogeração com biomassa de cana-de-açúcar , para geração de energia na chamada

margem da rede elétrica, ou seja, projetos de cogeração que provêm energia à rede

elétrica.

É importante ressaltar que, a rede elétrica brasileira tem uma forte

componente hídrica. Isto significa que ao gerar energia algumas horas por dia, não

estaria sendo evitada a queima de nenhum combustível fóssil. Para solucionar este

problema a Econergy utilizou o cálculo da Load Duration Curve (LDC) para

determinar quantas horas por ano o projeto estaria de fato, evitando a queima de

9 CO2 10 Qual é a quantidade de emissão de GHG permitida para aquele projeto e as áreas ao redor pertencentes à

mesma companhia

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combustíveis fósseis. Em outras palavras, quantas horas por ano a hidroeletricidade

gerada é suficiente para cobrir a demanda da rede.

No Brasil existem duas redes a serem consideradas para se obter a

Load Duration Curve. A proposta considera a localização da Usina como sendo a

mesma do estudo de caso, ou seja, localiza-se na rede sul-sudeste.

Figura 29- Load Duration Curve da região sul-sudeste (unfccc)

Obtidos os dados da rede elétrica, a metodologia incorpora o conceito de

margem Operacional (Operating Margin) e Margem em Construção (Build Margin).

Esse conceito foi desenvolvido e aprimorado por Kartha e Bosi (Kartha et al., 2002).

Portanto, através desse conceito, é possível calcular a emissão de GHGs evitada

não somente para a queima de combustível fóssil atualmente na rede, mas também

incorporar a emissão evitada pelo adiamento ou cancelamento da construção de

geradores de energia com combustível fóssil. Esse conceito é amplamente

reconhecido, já que ao implementar um projeto de geração de energia renovável, em

sua grande maioria, se trata de projetos low cost/must run, ou seja, um projeto que

não é despachado pelo Operador Nacional (ONS) do sistema, e sim evita o

despacho de outros. Esse despacho do ONS segue o preceito de custo operacional,

o que, em última instância, significa desligar as termoelétricas menos eficientes e,

portanto, de maior custo operacional, primeiro. Como resultado desse conceito, a

carbo-intensidade evitada é composta por ambas carbo-intensidades, a da Margem

Operacional e a da Margem em Construção, conforme a fórmula a seguir:

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96

CM1stcreditingperiod = OMyear1 + BMhistorical Eq.(9.1)

2

Onde: CM = Margem Combinada (tCO2e/GWh)

OM = Margem Operacional (tCO2e/GWh)

BM = Margem em Construção (tCO2e/GWh)

Na proposta será utilizado o fator de emissão equivalente ao resultado

da equação acima, já usado no projeto da Usina Vale do Rosário, pois este foi feito

recentemente e se encontra na mesma região, alimentando a mesma rede.

9.5.2 Negociação dos Créditos Emitidos

Um assunto importante a se tratar aqui é como os créditos de carbono

gerados podem ser transformado em receita, ou seja, negociados. Hoje em dia já

existe um mercado de créditos de carbono, porém, este é ainda pouco líquido, o que

vem ocorrendo é a negociação dos créditos diretamente com Hedge Funds,

principalmente dentre os países do anexo1, esses têm comprado os créditos a

preços que variam de 5 a 9 $/ton, através de contratos com prazo médio de 10 anos.

0

30

60

90

120

150

180

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Esti

mado

Jan-Maio 2004

Figura 30 - Volume Negociado de CRE

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97

A negociação ocorre geralmente através de contratos onde a parte e a

contraparte acordam de vender e comprar os créditos de carbono gerados. Em

projetos de cogeração, geralmente são firmados acordos de compra dos créditos de

carbono, equivalentes a 90% da capacidade instalada para que a vendedora não

corra o risco de não conseguir gerar os créditos. Caso a empresa vendedora consiga

emitir mais créditos do que o acordado, ela pode vender os mesmos ao mercado ou

a mesma parte, mas o preço não é mais limitado ao valor estipulado no contrato.

O pagamento dos CREs é feito sempre um mês após a certificação e

entrega dos mesmos, para efeito da análise de fluxo-de-caixa proposta, não importa

em que mês ocorre o recebimento, pois consiste em uma análise anual.

9.6 Premissas

Nesse item serão apresentadas e explicadas todas as premissas

econômicas e técnicas do projeto utilizadas para a projeção do fluxo de caixa. É

importante dizer que toda a projeção para a análise financeira do projeto foi feita

tomando o ano de 2007 como início do projeto, de modo a aproximar ao máximo o

modelo do que seria uma situação real de um projeto como o proposto nos dias de

hoje.

9.6.1 Premissas do Projeto

Como citado no Estudo de Caso, através do PROINFA, é assegurada a

compra da energia a ser produzida, pela ELETROBRÁS, no período de 20 anos,

para os empreendimentos que preencherem todos os requisitos de habilitação

descritos nos guias e tiverem seus projetos selecionados de acordo com os

procedimentos da lei 10.438/02. Para a modelagem deste projeto, já é considerado

como premissa a compra de grande parte da energia produzida, o que for produzido

a mais será vendido a preço de mercado.

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98

Dados do Projeto

ParametrosPotência Instalada 30,00 MWHoras de Operação por Ano 5.040Fator de Carga 97,0%Paradas não programadas 1,0%Perdas no circuito 0,68%Demanda Interna 0,50 MWDisponibilizado ao Proinfa 29,50 MW

PPAEnergia Contratada 141.495,0 MWh / anoValor do Contrato: 130,00 R$/MWhData-base Jul-06K1 (IGP-M) 100%K2 (Combustível) 0%K3 (Dólar) 0%Reajustes de Tarifa 8

Take-or-pay do Contrato 100,0%

Entrada em operação jul/07

Valor líquido de impostos? 1

Créditos de CarbonoEnergia contratada (10 anos) 1.344.202,5 MWhFator de geração (bagaço) 0,3 tonCO2/MWhValor Contrato 5,0 US$/CRE

AGO

Valor Bruto

Figura 31 - Dados do Projeto Proposto (Elaboração Própria)

A potência instalada foi calculada baseada na produção total da usina e

capacidade de cogeração da mesma. Vale citar que a potência já se refere à soma

da potência da cogeração por bagaço e através da vinhaça.

As horas em operação, fator de carga, perdas em circuitos, paradas não

programadas foram premissas provenientes da equipe de financiamento de projetos

do Itaú BBA, devido ao seu know-how obtido através da análise de diversos projetos

semelhantes.

Os dados referentes ao crédito de carbono foram obtidos no site da unfccc e

foram tirados de um projeto de cogeração similar ao proposto e na mesma região, o

que é de vital importância para o calculo da quantidade de emissão de CO2 que

realmente deixou de ser emitida.

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99

Despesas Operacionais

O&M 15,00%Administração 1,00%Material (incl. água) 0,90%Fees Aneel/MAE/ONS 0,60%CUST 5,00%Provisão para contingências 0,50%Outros 0,50%Total [% sobre receita bruta] 23,50%

Figura 32 - Premissas de Despesas para Cogeração através do Bagaço (Itaú BBA)

As despesas operacionais consideradas estão dentro da média daquelas de

projetos da mesma natureza.

Quanto aos custos de Operação e Manutenção para as unidades de

produção do biogás, considerou-se um somatório dos custos de manutenção e de

mão-de-obra necessários para o bom andamento operacional. Segundo Almança

(1994), o custo de manutenção de biodigestores do tipo UASB é de 1% do valor total

do investimento, ou seja, baixíssimo. Para a obtenção dos gastos com mão-de-obra,

foi considerado o número de empregados necessários, com salários de 2 salários

mínimos e considerando contribuição social como 80% (Almança, 1994). Desse

modo chegou-se nos valores a seguir:

Figura 33 - Premissas de Despesas com Produção e Queima do biogás (Elaboração Própria)

Como as despesas para geração e queima do Biogás são dadas em valores

absolutos e não percentuais da receita, esses valores serão corrigidos ano a ano

pela inflação, para o estudo da geração de caixa do projeto.

Quanto às premissas referentes aos impostos pagos por projetos desta

natureza, essas serão mantidas iguais às especificadas no capítulo 8, pois até o

presente momento as mesmas não sofreram nenhuma modificação.

Despesas Operacionais

O&M - Produção do Energia (R$/MWh) 8,72 Operacional - Produção de Biogás (R$/ano) 30.240 Manutenção - Produção de Biogás (R$/ano) 40.000

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ALÍQUOTASPIS 1.65%COFINS 7.60%CPMF 0.38%IR 25.00%CS 9.00%

Figura 34 - Premissas para impostos (Itaú BBA)

A depreciação dos equipamentos será aqui também considerada como 20

anos (taxa de depreciação de 5% a.a) e as contas de capital de giro (clientes/

fornecedores/ impostos/ dividendos) serão consideradas com 30 dias de prazo como

no Estudo de Caso.

9.6.2 Premissas Macroeconômicas

Premissas Macroeconômicas2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016Dólar no Fim do Período 2,18 2,30 2,42 2,51 2,58 2,69 2,81 2,93 3,06 3,19 3,31Desvalorização R$ x US$ 4,5% 4,0% 4,0% 4,0% 4,0% 4,0% 4,0% 4,0% 4,0% 4,0% 4,0%IGPM 3,3% 4,4% 4,4% 4,4% 4,4% 4,4% 4,4% 4,4% 4,4% 4,4% 4,4%IPCA 3,0% 4,3% 4,3% 4,3% 4,3% 4,3% 4,3% 4,3% 4,3% 4,4% 4,4%CDI (médio no período) 15,8% 14,2% 13,3% 12,8% 12,8% 12,8% 12,8% 12,8% 12,8% 12,8% 12,8%TJLP (média no período) 8,0% 6,9% 6,9% 6,9% 6,9% 6,9% 6,9% 6,9% 6,9% 6,9% 6,9%LIBOR (de seis meses) 3,7% 4,0% 4,2% 4,4% 4,5% 4,7% 4,9% 5,0% 5,1% 5,2% 5,2%Crescimento real do PIB 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5%

Tabela 10 - Premissas Macroeconômicas (Elaboração Própria)

As premissas macroeconômicas são usadas para corrigir os preços da

energia, calcular em reais os valores acordados em dólares como, por exemplo, os

créditos de carbono, para corrigir os juros da dívida, bem como, para calcular o custo

de oportunidade do capital.

Os valores foram, em sua maioria, obtidos no website do banco central e

correspondem as ultimas projeções dos valores, enquanto que alguns foram obtidos

junto à equipe de Financiamento de Projetos do Banco Itaú BBA.

9.7 Produção de Energia e Lodo

Nos dados do projeto, contidos na Figura 27, a quantidade de energia já

engloba a energia gerada por ambos processos, queima do bagaço e do biogás.

Agora serão mostrados os dados e premissas para efetuar o cálculo desta

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quantidade de energia gerada através da utilização da vinhaça. Serão também

mostrados os cálculos e premissas utilizadas para se chegar à quantidade de Lodo

produzida.

Produção de álccol (milhões de l) 76 Produção de vinhaça/l álcool 13 Produção de vinhaça (l) 988.052.000 DQO (mg/l) 35.000 Carga Orgânica (kg) 34.581.820 eficiência de remoção de DQO do processo 78%Fator de conversão de biogás por DQO removido (N.m3/kg) 0,5Produção de Biogás 13.486.910 PCIB - Poder Calorífico Inferior do Biogás (kcal/Nm3) 5663Energia do Biogás (kcal) 76.376.370.197 Eficiência da Turbina a Gás 35%fator de conversão (kWh/kcal) 0,001163Energia Elétrica Produzida (Mwh) 1.295

Geração de Energia

Figura 35 - Calculo da Quantidade de Energia Gerada em 1 ano (elaboração Própria)

As linhas azuis indicam valores calculados, enquanto as linhas brancas

indicam premissas. Para o volume de vinhaça gerada por volume de álcool

produzido, foi utilizado um valor conservador, pois autores indicam que a relação é

entre 12 e 16 l de vinhaça/l de álcool.

A carga orgânica (CO) obtida através da vinhaça é dada pela equação:

CO = VV x DQO Eq.(9.2)

Onde: VV - volume de vinhaça

DQO – 35.000mg/l segundo Lamo (1991)

O calculo do volume de Biogás (VB) gerado pela biodigestão anaeróbica da

vinhaça é obtido na equação a seguir:

VB = CO x E x F Eq.(9.3)

Onde: E - Eficiência de remoção de DQO do processo, considerado 78%, segundo

Almança (1994)

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F – Fator de conversão de biogás por DQO removido, considerado 0,5N.m3/kg

DQO removido (CODISTIL).

A quantidade de energia do biogás (GEB) é dada pela equação:

GEB = VB x PCIB Eq.(9.4)

Onde: PCIB – Poder Calorífico Inferior do biogás, considerando 5.500 kcal/Nm3,

considerando um percentual de 60% de metano

Pela utilização do conjunto de turbinas sugeridas, pode-se estimar a

quantidade de energia produzida (EP) utilizando a equação:

EP = GEB x E1 Eq.(9.5)

Onde: E1 – Eficiência da turbina, no caso 35%

Uma outra fonte de receita possível para um projeto como este, é a venda

do Lodo produzido durante a biodigestão anaeróbica da vinhaça. Em 1994, se

acreditava-se que o número de biodigestores UASB cresceria vertiginosamente, o

que não ocorre. Porém, vale a pena mencionar que, em 1994 se estimava um preço

de 9 US$/kg de Lodo, caso algum fator tecnológico viabilize a produção de energia

através da utilização da vinhaça. Para que se possa ser iniciado o funcionamento do

biodigestor, seria necessária a compra de uma certa quantidade de Lodo o que

resultaria na existência de um mercado para compra e venda deste produto.

Para o calculo da produção de Lodo, basta utilizar a Carga Orgânica do

sistema (mostrada logo acima) a eficiência de remoção de DQO (78%) e o fator de

transformação lodo/gas (0,02 Kg ST11 dia/KgDQO removido).

11 ST = Sólidos Totais

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Produção de álccol (milhões de l) 76 Produção de vinhaça/l álcool 13 Produção de vinhaça (l) 988.052.000 DQO (mg/l) 40.000 eficiência de remoção de DQO do processo 78%Atividade do lodo - fator de transformação (Kg ST/kgDQOremovido) 2%

Kg/m3 80 Preço do m3 24,03 Receita com venda do Lodo 0,205

Figura 36 - Receita Proveniente da Venda do Lodo gerado no Projeto

Segundo Almança (1994), o fator de transformação do Lodo é de 2% ou 0,02

Kg ST/KgDQOremovido, desse modo chega-se a uma receita anual de

aproximadamente R$ 0,205 milhões.

O preço do m3 de Lodo foi obtido corrigindo-se o valor do Lodo em 1994 pela

inflação americana acumulada e multiplicando-se pela taxa cambial da Atualidade,

que é aproximadamente 2,15. Nesses preços e com a geração de Lodo calculada

para a Usina seria gerada uma receita anual de aproximadamente 0,200 milhões de

reais. Essa receita não será considerada no modelo pelo fato deste mercado ser

apenas uma possibilidade ainda na atualidade.

9.8 Riscos

Em relação aos custos com matéria-prima, será mantido o mesmo custo que

já existia no estudo de caso, pois a vinhaça após biodigerida mantém seu poder

fertilizante. Desse modo, nenhum custo extra incorre da utilização da vinhaça. As

despesas com a produção do biogás aparecem na forma de custo operacional com

a biodigestão.

9.8.1 Risco Operacional

O risco operacional de um projeto como o proposto não é maior do que o

Estudo de Caso. Em todos os novos equipamentos adicionados para se efetuar a

biodigestão da vinhaça e a queima do gás, foram consideradas margens de

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segurança, em relação à alimentação do sistema, na medida que é gerado o bagaço

e gerada também a vinhaça, portanto, o risco também se mantém o mesmo.

Tecnicamente, a tecnologia para a produção de biogás pela biodigestão da

vinhaça e a utilização do mesmo como fonte de energia, já alcançou um grau de

maturidade razoável devido às sucessivas experiências em escala de demonstração.

Porém permanecem, ainda, algumas incertezas, tais como: os efeitos corrosivos do

biogás nos equipamentos auxiliares e motogeradores e a estabilidade da

biodigestão frente às flutuações na quantidade e qualidade da vinhaça processada.

Estes problemas potenciais, que podem causar impactos negativos para o futuro

comercial da tecnologia, só poderão ser realmente avaliados e resolvidos com o

estudo de unidades instaladas.

Esses riscos são mitigados terceirizando-se os serviços de manutenção e

construção das usinas de cogeração, de modo que, caso ocorra algum problema, as

obrigações recairão sobre as empresas contratadas. Essas obrigações envolvem

reconstrução do que foi danificado e pagamento de multas caso essas venham a ser

aplicadas ao projeto.

9.8.2 Risco Financeiro

Os riscos financeiros de um projeto de cogeração são mínimos, toda a

matéria-prima na grande maioria dos projetos é fornecida pelos próprios

patrocinadores12, não estando, dessa forma, sujeito ao preço da mesma. O preço de

venda do produto já é acordado antes do início do projeto através dos PPAs,

portanto, é como se a matéria-prima e o produto final não variassem de preço

facilitando a projeção do fluxo-de-caixa do projeto e deixando a mesma mais segura.

Quanto à taxa de juros cobrada sobre o empréstimo, devido ao fato de ser

um tipo de projeto bastante incentivado no país, nessa proposta, parte do capital

será levantado junto ao BNDES, que cobra taxas bem abaixo das taxas de mercado,

enquanto que a outra parte, será capital da própria Usina. Desse modo o risco de o

12 Como explicado no capítulo 3 são a empresa ou pessoa física que está investindo e que está cuidando do projeto

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poder de pagamento da dívida, ser baixo, tem um risco mínimo de ocorrer. Esse

poder de pagamento é medido através do ICSD.

Devido ao baixo risco financeiro não é necessária a tomada de nenhuma

medida para mitigar os mesmos.

9.9 Análise de Viabilidade

No item 9.3 foi mostrada a viabilidade técnica do projeto através do estudo

do processo e dos equipamentos necessários, bem como, seus rendimentos e

capacidades. Nesta parte do trabalho será analisada a viabilidade financeira do

projeto. Serão analisadas três situações, a primeira considerando-se o projeto

original, ou seja, gerando energia apenas através da queima do bagaço, a segunda

considerando o projeto proposto, entende-se geração de energia através da queima

do biogás e do bagaço e com a utilização da receita proveniente da venda dos

créditos de carbono, e a última adicionando-se ao projeto original apenas as receitas

com a venda dos créditos de carbono.

Para se analisar a viabilidade de um projeto, como já explicado

anteriormente no capítulo 7, são calculados o WACC e a Taxa Interno de Retorno -

TIR, para que depois se possa comparar as duas taxas, caso a TIR seja maior e o

projeto tenha condições de pagar juros e amortização durante todo o projeto, ele é

viável financeiramente. Para se calcular o WACC do projeto, foram consideradas as

seguintes premissas:

As projeções de fluxo de caixa foram feitas em reais, utilizando-se as

premissas de inflação já mostradas no item premissas macroeconômicas.

Taxa de juros real (descontada a inflação) livre de risco é de 9,45%.

A taxa do empréstimo considerada é de 10,85%, sendo 2% de taxa de risco

cobrada pelo banco, 2% taxa operacional cobrada pelo BNDES, mais TJLP que é

considerada 6,85% por todo o período da dívida.

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O valor de Beta foi encontrado no website do Damodaran, foi considerado o

Beta não alavancado do setor de Centrais de Energia Elétrica que é de 0,81, pelo

fato de ser um projeto alavancado e green-field13 é necessário que se recalcule o

Beta encontrado para um projeto alavancado, multiplicando o mesmo pela razão

Debt/Equity.

Com o Beta encontrado e o custo do capital de terceiros, pode-se calcular o

custo de capital do projeto (R – retorno esperado):

R = Rf + β * (Debt/Equity) *(Rm – Rf) = 9,45% + 0,81 * (0,8/0,2) * (2%) =

=15,93%

Após se obter o R, pode-se finalmente calcular o WACC:

WACC = (1 – Tc) x (D / V x rd) + (E / V * re)

=(1-25%)x(36.200.000/45.200.000x10,85%)+(9.000.000/45.200.000x15,93%)

WACC = 9,69%

Calculado o WACC, agora basta comparar o mesmo com a TIR obtida

através da projeção do fluxo-de-caixa do projeto e analisar a índice de cobertura do

serviço da dívida (ICSD).

Através das premissas previamente mostradas foi possível chegar a uma

projeção do fluxo-de-caixa do projeto confiável, que será mostrada a seguir, como

explicado no início do parágrafo serão mostrados aqui três fluxos, o do projeto

original, o do projeto proposto com créditos de carbono e o projeto original com a

adição da receita proveniente da venda dos créditos de carbono:

13 Projeto a ser feito do zero, iniciado com a apresentação do Project Finance

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DRE - R$ mil 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016Receita Bruta 9,9 20,7 21,6 22,5 23,5 24,5 25,6 26,7 27,9 29,1

Venda de Energia 9,9 20,7 21,6 22,5 23,5 24,5 25,6 26,7 27,9 29,1Deduções da Receita Bruta (1,0) (2,0) (2,1) (2,2) (2,3) (2,4) (2,5) (2,6) (2,7) (2,8)Receita Líquida 9,0 18,7 19,5 20,4 21,3 22,2 23,2 24,2 25,2 26,3Depreciação - (2,2) (2,2) (2,2) (2,3) (2,4) (2,5) (2,6) (2,7) (2,8)Amortização - (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0)Lucro Bruto 9,0 16,4 17,2 18,1 18,9 19,7 20,6 21,5 22,5 23,5Despesas operacionais (2,1) (4,4) (4,6) (4,8) (5,0) (5,2) (5,4) (5,7) (5,9) (6,2)Lucro Operacional 6,9 12,0 12,7 13,3 13,9 14,5 15,2 15,8 16,5 17,3Despesas Financeiras (2,8) (4,3) (3,2) (2,8) (2,4) (2,0) (1,6) (1,2) (0,7) (0,3)LAIR 4,0 7,8 9,4 10,5 11,5 12,5 13,6 14,7 15,8 17,0CS (0,4) (0,7) (0,8) (0,9) (1,0) (1,1) (1,2) (1,3) (1,4) (1,5)IR (1,0) (1,9) (2,4) (2,6) (2,9) (3,1) (3,4) (3,7) (4,0) (4,2)LUCRO LÍQUIDO 2,7 5,1 6,2 6,9 7,6 8,3 9,0 9,7 10,4 11,2

EBITDA 6,9 14,3 14,9 15,6 16,3 17,0 17,7 18,5 19,3 20,1EBITDA % 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76%

EBITDA / Desp. Fin. 2,4 3,4 4,6 5,5 6,7 8,4 11,1 15,9 26,6 71,8Dívida Líquida / EBITDA 6,2 2,3 1,7 1,3 0,9 0,4 0,0 (0,4) (0,8) (1,2)

Figura 37 - Geração de Resultado do Projeto Original DRE - R$ mil 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016Receita Bruta 10,4 21,3 22,2 23,2 24,2 25,3 26,4 27,5 28,7 30,0

Venda de Energia 10,4 21,3 22,2 23,2 24,2 25,3 26,4 27,5 28,7 30,0Deduções da Receita Bruta (1,0) (2,1) (2,1) (2,2) (2,3) (2,4) (2,5) (2,7) (2,8) (2,9)Receita Líquida 9,4 19,3 20,1 21,0 21,9 22,8 23,8 24,9 26,0 27,1Depreciação - (2,5) (2,5) (2,5) (2,6) (2,7) (2,8) (2,9) (3,1) (3,2)Amortização - (0,1) (0,1) (0,1) (0,1) (0,1) (0,1) (0,1) (0,1) (0,1)Lucro Bruto 9,4 16,7 17,5 18,4 19,2 20,1 20,9 21,9 22,8 23,8Despesas operacionais (2,3) (4,6) (4,8) (5,0) (5,2) (5,5) (5,7) (6,0) (6,2) (6,5)Lucro Operacional 7,1 12,1 12,7 13,4 14,0 14,6 15,2 15,9 16,6 17,3Despesas Financeiras (3,2) (4,9) (3,7) (3,2) (2,8) (2,3) (1,8) (1,3) (0,8) (0,3)LAIR 3,9 7,2 9,0 10,1 11,2 12,3 13,4 14,6 15,8 17,0CS (0,4) (0,6) (0,8) (0,9) (1,0) (1,1) (1,2) (1,3) (1,4) (1,5)IR (1,0) (1,8) (2,3) (2,5) (2,8) (3,1) (3,4) (3,6) (3,9) (4,3)LUCRO LÍQUIDO 2,6 4,8 5,9 6,7 7,4 8,1 8,9 9,6 10,4 11,2

EBITDA 7,1 14,6 15,3 15,9 16,6 17,4 18,1 18,9 19,7 20,6EBITDA % 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76%

EBITDA / Desp. Fin. 2,2 3,0 4,1 4,9 6,0 7,6 10,0 14,3 23,9 64,5Dívida Líquida / EBITDA 6,9 2,6 2,0 1,6 1,1 0,7 0,3 (0,2) (0,6) (1,0)

Figura 38 - Geração de Resultado do Projeto Proposto

Como se pode observar houve uma melhora na geração de caixa do projeto,

devido à geração de energia através da queima do biogás e da inclusão de receitas

referentes aos créditos de carbono, porém o que fica claro é que a relação

EBITDA14/Desp. Financeira e Dívida Líquida / EBITDA pioraram significativamente,

isso se deve ao fato de a produção de energia pela queima de biogás gerar um

resultado operacional positivo, porém uma TIR negativa, resultado de um alto

14 Earning before interes, taxes, depreciation and amortization – Lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações

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108

investimento inicial necessário. Na apresentação da geração de caixa dos projetos é

que se perceberá melhor essa inviabilidade econômica.

DRE - R$ mil 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016Receita Bruta 10,3 21,1 22,0 23,0 24,0 25,0 26,1 27,3 28,5 29,7

Venda de Energia 10,3 21,1 22,0 23,0 24,0 25,0 26,1 27,3 28,5 29,7Deduções da Receita Bruta (1,0) (2,0) (2,1) (2,2) (2,3) (2,4) (2,5) (2,6) (2,7) (2,9)Receita Líquida 9,3 19,1 19,9 20,8 21,7 22,6 23,6 24,7 25,7 26,9Depreciação - (2,2) (2,2) (2,2) (2,3) (2,4) (2,5) (2,6) (2,7) (2,8)Amortização - (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0)Lucro Bruto 9,3 16,8 17,7 18,5 19,3 20,2 21,1 22,0 23,0 24,0Despesas operacionais (2,2) (4,5) (4,7) (4,9) (5,1) (5,3) (5,6) (5,8) (6,0) (6,3)Lucro Operacional 7,1 12,3 13,0 13,6 14,2 14,9 15,5 16,2 16,9 17,7Despesas Financeiras (2,8) (4,3) (3,2) (2,8) (2,4) (2,0) (1,6) (1,2) (0,7) (0,3)LAIR 4,3 8,1 9,7 10,8 11,8 12,9 13,9 15,1 16,2 17,4CS (0,4) (0,7) (0,9) (1,0) (1,1) (1,2) (1,3) (1,4) (1,5) (1,6)IR (1,1) (2,0) (2,4) (2,7) (3,0) (3,2) (3,5) (3,8) (4,1) (4,4)LUCRO LÍQUIDO 2,8 5,3 6,4 7,1 7,8 8,5 9,2 9,9 10,7 11,5

EBITDA 7,1 14,6 15,2 15,9 16,6 17,3 18,1 18,9 19,7 20,5EBITDA % 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76% 76%

EBITDA / Desp. Fin. 2,5 3,4 4,7 5,6 6,8 8,6 11,4 16,3 27,2 73,2Dívida Líquida / EBITDA 6,0 2,3 1,7 1,3 0,8 0,4 (0,0) (0,4) (0,9) (1,3)

Figura 39 - Geração de Resultado do Projeto Original com CREs

No caso 3, como já era de se esperar a geração de caixa e as relações

EBITDA/Desp. Financeira e Dívida Líquida/EBITDA melhoraram significativamente,

uma vez que a inclusão das receitas com a venda dos CREs não tem nenhum custo,

senão um percentual dessa receita.

A margem Ebitda continua alta, 76%, nas três situações, porém pode-se

observar a que no caso 3 o projeto já se torna aplicador um ano antes em relação

aos outros casos.

A seguir é apresentada a geração de caixa do projeto, o que nós chamamos

no trabalho de projeção do fluxo-de-caixa, serão, como na apresentação da geração

de resultados, apresentadas três figuras referentes as três diferentes análises feitas.

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Fluxo de Caixa - R$ mm 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016EBITDA 6,9 14,3 14,9 15,6 16,3 17,0 17,7 18,5 19,3 20,1IR/CS pago (1,4) (2,6) (3,2) (3,6) (3,9) (4,3) (4,6) (5,0) (5,4) (5,8)Geração de caixa operacional 5,5 11,7 11,7 12,0 12,4 12,7 13,1 13,5 13,9 14,4Variação de Capital de Giro (0,5) (0,5) 0,0 (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0)Geração de caixa operacional 5,0 11,1 11,7 12,0 12,3 12,7 13,1 13,5 13,9 14,3

Amortização - (3,7) (4,1) (4,1) (4,2) (4,2) (4,2) (4,3) (4,3) (4,3)Juros (2,6) (3,9) (3,0) (2,6) (2,2) (1,9) (1,5) (1,1) (0,7) (0,3)Captação 36,2 - - - - - - - - -

Fluxo Após Financiamentos 38,6 3,5 4,6 5,2 5,9 6,6 7,4 8,1 8,9 9,7

Capex (45,2) - - (1,8) (1,9) (1,9) (2,0) (2,1) (2,2) (2,3)Fluxo Após Investimentos (6,6) 3,5 4,6 3,5 4,1 4,7 5,3 6,0 6,7 7,4

Acionistas 0,2 (1,3) (1,6) (1,7) (1,9) (2,1) (2,2) (2,4) (2,6) (2,8)

Geração de caixa anual (6,4) 2,2 3,1 1,7 2,2 2,6 3,1 3,6 4,1 4,6

Receita Financeira - - - - - - - - - -

Geração de caixa total (6,4) 2,2 3,1 1,7 2,2 2,6 3,1 3,6 4,1 4,6

DSCR 2,10 1,52 1,65 1,78 1,93 2,10 2,30 2,53 2,80 3,12DSCR - mínimo 2006 a 2012 1,52

Figura 40 - Fluxo de Caixa do Projeto Original

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Fluxo de Caixa - R$ mm 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016EBITDA 7,1 14,6 15,3 15,9 16,6 17,4 18,1 18,9 19,7 20,6IR/CS pago (1,3) (2,4) (3,1) (3,4) (3,8) (4,2) (4,6) (5,0) (5,4) (5,8)Geração de caixa operacional 5,8 12,2 12,2 12,5 12,8 13,2 13,6 14,0 14,4 14,8Variação de Capital de Giro (0,5) (0,5) 0,0 (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0)Geração de caixa operacional 5,4 11,7 12,2 12,5 12,8 13,2 13,5 13,9 14,3 14,8

Amortização - (4,3) (4,7) (4,7) (4,7) (4,8) (4,8) (4,9) (4,9) (4,9)Juros (3,0) (4,5) (3,4) (3,0) (2,6) (2,1) (1,7) (1,2) (0,8) (0,3)Captação 41,2 - - - - - - - - -

Fluxo Após Financiamentos 43,6 2,9 4,2 4,8 5,5 6,3 7,0 7,9 8,7 9,6

Capex (51,5) - - (2,0) (2,1) (2,2) (2,3) (2,4) (2,5) (2,6)Fluxo Após Investimentos (7,9) 2,9 4,2 2,8 3,4 4,1 4,7 5,4 6,2 6,9

Acionistas 0,2 (1,2) (1,5) (1,7) (1,8) (2,0) (2,2) (2,4) (2,6) (2,8)

Geração de caixa anual (7,7) 1,7 2,7 1,1 1,6 2,0 2,5 3,0 3,6 4,1

Receita Financeira - - - - - - - - - -

Geração de caixa total (7,7) 1,7 2,7 1,1 1,6 2,0 2,5 3,0 3,6 4,1

DSCR 1,95 1,40 1,51 1,62 1,76 1,91 2,09 2,29 2,54 2,83DSCR - mínimo 2006 a 2012 1,40

Figura 41 - Fluxo de Caixa do Projeto Proposto

Fica mais claro através da análise do fluxo-de-caixa o impacto financeiro

negativo que a utilização da vinhaça tem na geração de fluxo-de-caixa do projeto,

mas é questão é que, mesmo assim, o projeto proposto é viável economicamente

como será mostrado a seguir a TIR é ainda maior que o WACC com grande folga,

porém traz de fato uma redução significativa à TIR do projeto original.

Um dos principais índices observados quando se faz uma análise de fluxo-

de-caixa é a capacidade de cobertura do serviço da dívida, quanto maior esse índice

maior a segurança de que o empréstimo será pago.

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Fluxo de Caixa - R$ mm 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016EBITDA 7,1 14,6 15,2 15,9 16,6 17,3 18,1 18,9 19,7 20,5IR/CS pago (1,5) (2,7) (3,3) (3,7) (4,0) (4,4) (4,7) (5,1) (5,5) (5,9)Geração de caixa operacional 5,7 11,9 11,9 12,2 12,6 12,9 13,3 13,7 14,2 14,6Variação de Capital de Giro (0,5) (0,5) 0,0 (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0) (0,0)Geração de caixa operacional 5,2 11,3 11,9 12,2 12,6 12,9 13,3 13,7 14,1 14,6

Amortização - (3,7) (4,1) (4,1) (4,2) (4,2) (4,2) (4,3) (4,3) (4,3)Juros (2,6) (3,9) (3,0) (2,6) (2,2) (1,9) (1,5) (1,1) (0,7) (0,3)Captação 36,2 - - - - - - - - -

Fluxo Após Financiamentos 38,8 3,7 4,8 5,5 6,1 6,9 7,6 8,4 9,2 10,0

Capex (45,2) - - (1,8) (1,9) (1,9) (2,0) (2,1) (2,2) (2,3)Fluxo Após Investimentos (6,5) 3,7 4,8 3,7 4,3 4,9 5,6 6,3 7,0 7,7

Acionistas 0,2 (1,3) (1,6) (1,8) (1,9) (2,1) (2,3) (2,5) (2,7) (2,9)

Geração de caixa anual (6,3) 2,3 3,2 1,9 2,3 2,8 3,3 3,8 4,3 4,8

Receita Financeira - - - - - - - - - -

Geração de caixa total (6,3) 2,3 3,2 1,9 2,3 2,8 3,3 3,8 4,3 4,8

DSCR 2,17 1,55 1,68 1,81 1,96 2,14 2,34 2,57 2,85 3,18DSCR - mínimo 2006 a 2012 1,55

Figura 42 - Fluxo-de-caixa do Projeto Original com adição dos CREs

Como se pode observar a valor mínimo atingido pelo DSCR diminui com a

adição das receitas provenientes da venda dos CREs, melhorando dessa forma a

capacidade de pagamento da dívida do projeto. Como visto no capítulo 8, para

projetos de grande porte um nível saudável de DSCR é acima de 1,30 e como

podemos ver no três casos o mínimo é no caso 2 (Projeto Proposto) onde esse

indíce atinge o valor de 1,40.

Após se obter a projeção do fluxo-de-caixa, é importante observar a

capacidade de pagamento do serviço da dívida, como visto no Estudo de Caso, o

desempenho deste índice é ponto fundamental para se certificar que as

características do financiamento são adequadas ao projeto. Pode-se verificar pela

figuras 40, 41 e 42, que nas três situações o valor mínimo é de 1,40, sendo que o

razoável é que projetos deste tipo não fiquem abaixo de 1,30. Isto indica que as

características são próprias ao investimento proposto, sendo que nos três casos é

mantido um bom índice de cobertura do serviço da dívida, durante todo o prazo.

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112

Por fim para a análise de rentabilidade do projeto serão utilizadas as

mesmas técnicas utilizadas no capítulo 8, análise do Fluxo de Caixa do Projeto e

Fluxo de Caixa para o Acionista, após projetados os fluxos de caixa será calculada a

TIR do caixa livre gerado em relação aos investimentos realizados.

Para o calculo da TIR foi analisada a geração do fluxo de caixa por 20 anos,

prazo da duração do contrato de fornecimento de energia.

Os resultados obtidos foram:

Figura 43 - TIR Projeto Original (Elaboração Própria)

Figura 44 - TIR Projeto Proposto

TIR do Projeto: 22,5% 20 anos (nominal)TIR do Projeto: 17,2% 20 anos (real)Payback: 7,0 anosPayback descontado: 8,0 anos

TIR do Acionista: 44,7% 20 anos (nominal)TIR do Acionista: 37,6% 20 anos (real)Payback: 5,0 anosPayback descontado: 8,0 anos

TIR do Projeto: 25,4% 20 anos (nominal)TIR do Projeto: 20,0% 20 anos (real)Payback: 6,0 anosPayback descontado: 6,0 anos

TIR do Acionista: 58,4% 20 anos (nominal)TIR do Acionista: 51,3% 20 anos (real)Payback: 3,0 anosPayback descontado: 5,0 anos

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113

Figura 45 - TIR Projeto Original com Receita das CREs

Pela análise das TIRs de cada situação pode-se observar que elas são

muito elevadas e que atingem valores muito altos se considerarmos o ponto de vista

do acionista, o que difere a TIR do Projeto para a TIR do acionista é o investimento

inicial, para o calculo da TIR do projeto se utiliza o investimento inicial completo

como saída no fluxo-de-caixa, já quando se calcula a TIR do acionista o investimento

inicial considerado é apenas o Equity, ou seja, o capital investido pelo patrocinador.

Todas as análises mostram uma alta viabilidade financeira para os três

casos, porém fica claro que a produção de energia através da queima do biogás

produzida pela biodigestão da vinhaça reduz a rentabilidade do projeto como um

todo, deve-se então observar a geração de fluxo de caixa, que nesta análise fica

menor no projeto proposto indicando uma geração de negativa de caixa e portanto, a

inviabilidade financeira deste processo individualmente.

9.10 Financiamento e Garantias

O financiamento proposto seguirá os moldes do proposto no estudo de caso,

de modo, que terá um mesmo percentual de Debt/Equity, mesmo prazo e carência,

dez anos e um ano, respectivamente. Deste modo o financiamento terá as seguintes

características para o projeto proposto:

• Participação do BNDES: até 80% dos itens financiáveis – os recursos serão

integralmente repassados pelo Banco Itaú BBA (financiamento indireto, via

repasse).

• Custo Financeiro: Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP.

• Remuneração do BNDES: 2.0% ao ano.

TIR do Projeto: 26,0% 20 anos (nominal)TIR do Projeto: 20,5% 20 anos (real)Payback: 6,0 anosPayback descontado: 6,0 anos

TIR do Acionista: 62,1% 20 anos (nominal)TIR do Acionista: 55,0% 20 anos (real)Payback: 3,0 anosPayback descontado: 5,0 anos

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• Remuneração do agente financeiro: 2.0% a.a.

• Amortização pelo Sistema de Amortização Constante (SAC).

• Prazo de carência: 1 ano.

• Prazo total: 10 anos.

Deste modo o financiamento terá o valor total de R$ 36,2 milhões e deverá

ser pago até 2016. Durante o prazo de carência a dívida não é amortizada cabendo

ao projeto apenas o pagamento trimestral dos juros.

As garantias a serem dadas no projeto podem ser consideradas as mesmas

do Estudo de Caso no capítulo 8, devido a similaridade de valores, bem como

similaridade de riscos.

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CAPÍTULO 10 Conclusão

Os objetivos estabelecidos para este Trabalho de Formatura foram

alcançados. O projeto proposto tem de fato uma série de benefícios ambientais e

sociais a mais se comparado com os projetos usuais de cogeração no Brasil, além

de uma maior geração de energia elétrica, porém a produção de energia através da

queima do biogás se mostrou inviável do ponto de vista financeiro, possuindo uma

geração de fluxo-de-caixa negativa. Fica claro também através da análise financeira

o benefício econômico gerado por uma boa política de financiamento, uma vez que o

custo da dívida é menor do que custo de oportunidade calculado, o que possibilita

um maior retorno financeiro, bem como o investimento em maior número de projetos.

Quanto ao estudo técnico da geração de energia através da utilização da

vinhaça, o objetivo também foi alcançado através da análise de teses e artigos

estudados. Durante o desenvolvimento deste trabalho pôde-se observar a

viabilidade técnica do projeto, porém ficou claro através da análise financeira que o

projeto é inviável financeiramente.

Finalmente outro ponto importante que se deve observar é que este trabalho

possibilitou uma comparação quanto a viabilidade de projetos em 2004 e hoje,

ficando clara a importância das políticas econômicas adotadas pelo governo e pelo

Banco Central. Com a redução da taxa de juros e redução da TJLP, taxa

normalmente utilizada como taxa de juros de empréstimos feitos pelo BNDES,

ocorreu uma melhora significativa na viabilidade de projetos reduzindo o custo da

dívida bem como o custo de oportunidade das empresas. Isso causa um incentivo

maior para as empresas investirem, gerando mais empregos e maior

desenvolvimento para o país.

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116

CAPÍTULO 11 Referência Bibliografia

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