proposta de revitalizaÇÃo · em 8 de março de 2006,apresentei à câmara municipal de lisboa uma...

154
PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO BAIXA-CHIADO SETEMBRO 2006

Upload: phamnhi

Post on 17-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO BAIXA-CHIADO

SETEMBRO 2006

Page 2: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO BAIXA-CHIADO

SETEMBRO 2006RELATÓRIO

Page 3: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO BAIXA-CHIADO

SETEMBRO 2006ANEXOS TÉCNICOS

Page 4: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006

Page 5: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006

Page 6: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

Ficha técnica

Vereadora ResponsávelMaria José Nogueira Pinto

ComissariadoAugusto Mateus

Celeste HagatongElísio Summavielle

Manuel SalgadoMiguel Anacoreta CorreiaRaquel Henriques da Silva

Representante do Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento RegionalRolando Borges Martins

Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa-ChiadoUnidade de Projecto da Baixa Chiado

ColaboraçõesHenrique Cayatte

João AppletonJosé Sarmento de Matos

Luís Correia da SilvaHelena Martins

EstudosAntónio Segadães Tavares | Segadães Tavares & Associados

Fernando Nunes da Silva | CESUR – ISTFrancisco Ferreira | Faculdade Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa

Guilherme Carrilho da Graça | Natural Works Consultores de EngenhariaJosé Manuel Viegas | TIS – Transportes, Inovação Sistemas Ace

Luís Jorge Bruno Soares | Bruno Soares, ArquitectosPedro Siza Vieira | Linklaters

Vasco Colaço | TIS – Transportes, Inovação Sistemas AceVictor Reis | Instituto Nacional de Habitação

Equipa que assessorou o ComissariadoAna Maria Oliveira Martins

Anabela CarvalhoAntónio José Barros

João VasconcelosLuís Silveira

Pedro Barreto

Page 7: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

Nota introdutória

Em 8 de Março de 2006, apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de umComissariado que procedesse à elaboração de um projecto integrado de revitalização da Baixa-Chiado. Ummodelo de intervenção que fosse além de meras acções pontuais de reabilitação urbana e constituísse, defacto, o fio condutor de uma operação integrada e integradora na certeza de que só um espaço vivo e vivido,capaz de assegurar o seu ciclo de vida, é sustentável e tem futuro.

A constituição do Comissariado permitiu-me dirigir a seis individualidades de reconhecida competên-cia e mérito o convite para, em nome da cidade, abraçarem um projecto que, pelo seu alcance, importância,dimensão e urgência foi e será sempre sentido como uma causa comum.

A Baixa é um espaço singular e resistente, ameaçado de converter-se num somatório de restos.As enormes potencialidades deste coração de Lisboa, a sua importância para a cidade e para o País,

reforçam a nossa obrigação de propor um caminho que inverta um processo evidente de declínio.Território de jurisdição partilhada, com dois milhões de metros quadrados de construção e um

património histórico e arquitectónico excepcional, a Baixa-Chiado foi também vítima dos seus próprios cons-trangimentos que adiaram sucessivamente decisões, sempre difíceis e polémicas, e a remeteram para um limbodoloroso, uma espera prolongada que põe em risco a sua própria sobrevivência.

Como transformar, então, um espaço profundamente deprimido e ameaçado, numa verdadeira oportu-nidade para Lisboa e para o País? Esta era, e é, a questão à qual se procurou dar resposta.

Procedeu-se, em primeiro lugar, a um diagnóstico dos motivos que o levaram paulatinamente ao esta-do actual, desde a desagregação dos modelos de ocupação do espaço, precipitada pelo grande incêndio, até àincipiente renovação do modelo comercial e perda de competitividade em relação aos novos espaços comerci-ais emergentes, passando pelo efeito depressivo da deslocalização dos residentes, dos serviços, das actividadesuniversitárias, entre outros.

Em seguida, elegeram-se as chaves para “abrir os círculos virtuosos”, na convicção de que são múlti-plos os caminhos da revitalização e cada um deles igualmente necessário ao resultado final: um espaço commultifunções e utilização diversificada, vivido e fruído pelo maior número de pessoas, durante o maior númerode horas por dia e o maior número de dias por ano.

Que fazer e que trazer para este espaço, como conservar e aumentar os seus usos, como criar as condiçõesde uma atractividade de “marca” para públicos diversos, gerando a massa crítica necessária à sua sustentabilidade?E como organizar, em função desta estratégia, um espaço profundamente marcado pela sua singularidade?

Page 8: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

Fazer deste espaço organizado um instrumento privilegiado da visão e da estratégia de revitalização,instituindo, ao mesmo tempo, como fundamento de todo o projecto, a salvaguarda e valorização do seupatrimónio arquitectónico e histórico, constituiu um desafio considerável.

O desafio de passar com rigor e equilíbrio entre a via fundamentalista da mumificação dos espaços emnome da sua identidade e a via do facilitismo destruidor do retalho urbanístico.

Este é um projecto que se quis assente numa clara matriz de política pública. Por isso desenvolveram-setambém, de modo preliminar, as políticas públicas de cariz mais sectorial – na cultura, na habitação, no turis-mo, na segurança, na gestão urbana – que constituem um indispensável suporte à intervenção.

Por fim, a convicção de que esta macro-operação – pela seu carácter integrado, pela sua dimensão, pelanecessidade de compatibilizar e coordenar vontades e competências da Câmara e do Governo, pelo seu pre-visível período de duração, pelos seus custos – necessitava de um modelo institucional de excepção. Um modelorepresentativo das entidades intervenientes, claro na partilha de responsabilidades, capaz de assegurar amáxima eficiência na gestão da operação, protegido dos ciclos eleitorais, oferecendo estabilidade e segurançaaos múltiplos actores da sociedade civil e aos parceiros naturais no âmbito da iniciativa privada, desde já convo-cados para esta tarefa que, pela sua natureza, só será possível se “apropriada” por todos.

Esta é uma operação ambiciosa, mas exequível.

No sentido de o deixar claro, estabeleceram-se horizontes temporais e elaborou-se um modelo possívelde financiamento do investimento público. Por um lado, este é um projecto que, por razões óbvias, tem decumprir um rigoroso calendário. Por outro, a sua exequibilidade depende de um modelo de financiamento quenão agrave a situação financeira do Estado nem se repercuta nos níveis de endividamento da Câmara Municipalde Lisboa.

Daí a importância de elencar, de modo claro e fundamentado, os projectos estruturantes, aqueles semos quais nada verdadeiramente mudará, mas que, uma vez postos em marcha, constituirão uma viragem irre-versível e um potente motor de dinamização do sector privado.

Por fim, gostaria de salientar aquilo que é o meu mais profundo sentir: não sei se este é, em absoluto,o melhor projecto, mas é indiscutivelmente um bom projecto; levá-lo a cabo não será fácil, mas é possível; aalternativa de nada fazer não é aceitável.

As consequências seriam gravíssimas, pois, se não se travar o declínio da Baixa-Chiado, a suadegradação será exponencial. Esta é uma situação urgente que não pode, nem deve, ser adiada.

Colocámo-nos, tão-só, na posição de facilitadores da decisão política. Esse foi o nosso mandato. Nãoinventámos quase nada. Socorremo-nos de muito trabalho – bom trabalho – realizado ao longo dos anos, querno âmbito camarário e da iniciativa de sucessivos executivos, quer no âmbito mais geral: organismos públicos,

Page 9: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

entidades responsáveis por diferente sectores, estudos elaborados por Universidades, contributos conceptuais etécnicos de cidadãos responsáveis que pensaram a Baixa-Chiado. O nosso foi, sobretudo, um trabalho de siste-matização enquadrado por uma visão e uma estratégia que, em nosso entender, devem dar forma à intervenção.

E é por tudo isto que não posso deixar de agradecer aos que, nas últimas décadas, com grande esforçoe muitas dificuldades, mantiveram acesa a chama: moradores, comerciantes, Juntas de Freguesia, associações,responsáveis por equipamentos culturais, agentes económicos e tantos outros resistentes aos quais devemos,hoje, a possibilidade deste desiderato.

E também a todos quantos nos receberam, nos abriram as portas, nos animaram, nos elucidaram, nosajudaram com as suas opiniões, conhecimentos e experiência.

E, por fim, aos Comissários pelo muito e bom trabalho que desenvolveram, com sabedoria, entusiasmoe humildade, entendendo-o sempre como um contributo cívico a bem de Lisboa e dos lisboetas.

Chegados ao termo do nosso mandato – relevando a confiança (ou o beneficio da dúvida) que atravésdo voto o Senhor Presidente e os Senhores Vereadores exprimiram, tornando assim possível este primeiropasso, e a forma atenta como o Governo quis acompanhar o nosso trabalho –, é com boa consciência e profundasatisfação que entregamos este contributo aos decisores políticos, certos que a manifestação da vontade políticaé o ponto de partida.

Uma decisão que marque o primeiro dia de um novo e profícuo ciclo de vida para a Baixa-Chiado,coração de Lisboa e património comum de todos os portugueses.

LISBOA, 20 DE SETEMBRO DE 2006

Maria José Nogueira Pinto

Page 10: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

Índice1. A RECUPERAÇÃO, REABILITAÇÃO

E REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO

NO DESENVOLVIMENTO COMPETITIVO DE LISBOA

1.1 O DIAGNÓSTICO

1.2 A VISÃO

1.3 A ESTRATÉGIA

1.4 OS PROJECTOS ESTRUTURANTES

2. A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO

TERREIRO DO PAÇO: ESPAÇO E FUNÇÕES

[Sarmento Matos]

UM PLANO DE SALVAGUARDA DA BAIXA POMBALINA,

ESTRUTURAS, FUNDAÇÕES E OUTRAS CONSIDERAÇÕES

[João Appleton]

2.1 OS LIMITES DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

2.2 O NOVO TERREIRO DO PAÇO

2.3 O CENTRO FINANCEIRO INTEGRADO

2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

2.5 MAIS GENTE A RESIDIR NA BAIXA E NO CHIADO

2.6 UMA REABILITAÇÃO SUSTENTÁVEL DO EDIFICADO

2.7 PACIFICAR O TRÂNSITO

2.8 UM ESPAÇO PÚBLICO DE EXCELÊNCIA

3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE SUPORTE À INTERVENÇÃO

3.1 CULTURA

3.2 HABITAÇÃO

3.3 TURISMO

3.4 SEGURANÇA E PROTECÇÃO CIVIL

3.5 GESTÃO URBANA

4. MODELO INSTITUCIONAL

4.1 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS

4.2 ACTIVIDADES A DESENVOLVER

4.3 O MODELO INSTITUCIONAL PROPOSTO

4.4 FINANCIAMENTO

4.5 UM PROJECTO À PARTE - A CIRCULAR DAS COLINAS

4.6 O PLANEAMENTO URBANÍSTICO

4.7 PROGRAMA DE CONCRETIZAÇÃO

DO MODELO INSTITUCIONAL

5. MODELO DE FINANCIAMENTO DO INVESTIMENTO PÚBLICO

5.1 INTRODUÇÃO

5.2 O PROGRAMA DE INVESTIMENTO

5.3 MODELO DE FINANCIAMENTO

DE INVESTIMENTOS MUNICIPAIS

5.4 MODELO DE FINANCIAMENTO DOS INVESTIMENTOS

DA RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL

5.5 BANCO DE INVESTIMENTO COMO PARTE

DE FINANCIAMENTO PRIVILEGIADO

Page 11: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES
Page 12: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

A RECUPERAÇÃO, REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO NO DESENVOLVIMENTO COMPETITIVO DE LISBOA

Page 13: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 15

O CONCEITO GLOBAL DA INTERVENÇÃO: DIAGNÓSTICO, VISÃO E ESTRATÉGIA

O projecto de intervenção de recuperação, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiado proposto peloComissarido corresponde a um exercício pragmático de planeamento prospectivo de situações, isto é, à produçãode uma visão de conjunto orientada pelas oportunidades e pelos desafios do futuro próximo susceptível de per-mitir a identificação das acções e iniciativas necessárias para poder (re)colocar o centro histórico de Lisboa aoserviço de uma capital maior e mais forte, no plano internacional, mas menos pesada no plano nacional.

O projecto de intervenção de recuperação, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiado proposto peloComissariado não pretende ser nem mais uma proposta, desvalorizando ou ignorando, em maior ou menorescala, propostas e trabalhos anteriores, nem uma colecção de vontades e ideias, mais ou menos detalhadas,fragmentadas e pontuais, mas, antes, um caminho coerente e integrado, um processo credível, articulado e exe-quível dotado da inteligência operacional e da massa crítica de recursos necessários para viabilizar a efectivaconcretização das ideias, propostas e projectos capazes de travarem o declínio do espaço da Baixa-Chiado e ge-rarem novos fluxos sustentados de actividades e pessoas em sintonia com a sua reabiliticação e requalificação.

O projecto de intervenção de recuperação, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiado proposto peloComissariado pressupõe, no entanto, que a sua concretização depende decisivamente da capacidade de institu-cionalizar e desenvolver uma exigente e complexa lógica de cooperação, envolvendo:

– a cooperação entre entidades públicas, surgindo, em primeiro lugar, a cooperação entre o Governo ea Câmara Municipal, uma vez que se trata de um projecto para o país e para a sua capital, onde só uma estrei-ta colaboração e partilha de objectivos estratégicos pode garantir o seu pleno desenvolvimento, e, em segundolugar, a cooperação entre a Câmara Municipal e as freguesias envolvidas pela zona de intervenção, uma vez quese trata de um projecto que terá de contribuir relevantemente para a criação do novo “modelo de governação”exigido pela moderna política de cidades;

– a cooperação entre o sector público e o sector privado, surgindo não apenas no plano operacional e finan-ceiro, traduzida, nomeadamente, na compatibilização e alavancagem mútua de investimentos e despesas, mas tam-bém, no plano estratégico e organizacional, traduzida, nomeadamente, na estabilização de regras indutoras de cál-culos e decisões com racionalidade económica e em sintonia com os grandes objectivos da intervenção.

1.1 O DiagnósticoO diagnóstico efectuado procurou sistematizar as grandes conclusões e lições do significativo e diversifica-

do conjunto os estudos existentes para situar os grandes factores do declínio, que importa evitar e combater, e iden-tificar as principais oportunidades, que importa agarrar e viabilizar, numa lógica aberta e cosmopolita, olhando ofuturo e o mundo, para perceber e especificar as alavancas de uma mudança irreversível e sustentável, contribuindopara uma maior integração de Lisboa no movimento de renascimento urbano das grandes cidades europeias.

Page 14: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 16

Os factores de declínio no passado recenteO declínio da Baixa-Chiado pode ser associado ao arrastamento de um “círculo vicioso” de desqualifi-

cação onde se interpenetram a incoerência das funções económicas, políticas e institucionais mantidas, a perdacumulativa de dinamismo da ocupação habitacional, empresarial e comercial, a incapacidade de conservar evalorizar o património e uma animação sem “massa crítica”, restrita nos conteúdos e muito limitada no tempo.

Cinco factores merecem um destaque especial, na medida em que apontam outras tantas direcções dereequilíbrio dos processos de natureza institucional, económica e social em acção na Baixa-Chiado:

– A desagregação dos modelos de ocupação do espaço precipitada pelo grande incêndio e pela desco-ordenação e arrastamento das intervenções mais pesadas de recuperação de edifícios ou gestão da rede detransportes (congestionamento, ruído e degradação ambiental, infra-estruturas desactualizadas, mobilidade nãoorganizada, desertificação em certos períodos do dia e da semana, segurança diminuída);

– A muito incipiente renovação do modelo comercial (rigidez dos horários de abertura e de trabalho,incapacidade de materializar a lógica de “centro comercial a céu aberto”, lentidão na redefinição da actividadedas lojas, insuficiente presença de “lojas-âncora”) e a perda de competitividade em relação aos novos espaçoscomerciais emergentes;

– O efeito depressivo das “deslocalizações” dos “escritórios” (actividades financeiras, serviços centraisdo Estado, serviços às empresas) e das actividades universitárias, bem como da rarefacção dos serviços de proxi-midade às famílias residentes;

– O desaproveitamento dos espaços culturais e de lazer como pólos relevantes na atractividade de pes-soas e actividades complementares (inexistência de uma programação efectiva e de uma articulação em rede,nomeadamente na área do património, artes do espectáculo e percursos urbanos);

– O “modelo” de gestão do espaço urbano vigente (tradicional, burocrático, fragmentário e descoorde-nado, nomeadamente nas relações entre o Município e o Governo) crescentemente reduzido a um papel muitolimitado e passivo de inércia e/ou “bloqueio”, sem capacidade de antecipar e promover novas utilizações, funçõese projectos com suficiente valor para os potenciais investidores.

As oportunidades do próximo futuro A revitalização da Baixa-Chiado deve ser directamente associada à possibilidade de catalisar um “círcu-

lo virtuoso” de aglomeração de actividades, organizações, equipamentos e pessoas com suficiente massa crítica(dimensão, diversidade, qualificação, poder de compra) para despoletar uma dinâmica de sustentabilidade.

Cinco oportunidades merecem um destaque especial, na medida em que representam outras tantas for-mas de conferir aos activos e características estruturais da Baixa-Chiado caminhos de modernização, transfor-mação e revalorização:

Page 15: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 17

– A situação específica de um espaço singular e resistente, com uma história rica e enquadrado numalógica certificada de património mundial (valores decisivos para uma diferenciação competitiva, interna e exter-na, indutora de criação de valor) que justifica um esforço consistente e sustentado de recuperação e reabilitaçãoconduzido com regras explícitas de coerência global;

– A forte expansão do turismo internacional não deixará de premiar uma resposta qualificada e enrique-cida do destino “Lisboa” a essa procura (fluxos globais que duplicam e fluxos “longos” que triplicam no hori-zonte 2020 face a 2000, e que se polarizarão, progressivamente, na Europa, pelos “produtos” complexos de maiselevado conteúdo patrimonial e cultural), num quadro, de fácil compreensão, em que a afirmação competitivado pólo turístico de Lisboa produz fortes efeitos positivos sobre as outras regiões turísticas do país;

– A redefinição inadiável da presença de serviços centrais do Estado no centro histórico da cidade deLisboa (impulsionada, nomeadamente, pela afirmação do “Estado Regulador” e do “governo electrónico”), emarticulação com a consolidação das funções europeias assumidas por Portugal e pelos portugueses (traduzida,nomeadamente, na localização de agências europeias);

– A relevância das indústrias criativas, dos centros financeiros e do investimento imobiliário nas dinâmi-cas mais fortes e actuais de internacionalização das grandes cidades, podendo uma Baixa-Chiado em recuper-ação ocupar uma posição significativa na concretização de um potencial de investimento reconhecido, masainda insuficientemente concretizado, na cidade de Lisboa;

– A aceleração da internacionalização das actividades de ensino superior, nomeadamente nas actividadesde pós-graduação, exigindo novos modelos de atractividade de procuras muito mais diversificadas, onde a qual-idade de vida urbana se torna muito mais relevante, podendo a revitalização da Baixa-Chiado contribuir, comooutros centros históricos de grandes “cidades universitárias”, para a atractividade internacional dos pólos uni-versitários da cidade de Lisboa.

1.2 A VisãoA visão da proposta do Comissariado para a recuperação, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiado

foi construída com base numa abordagem centrada na sua atractividade ou, mais especificamente, na passagemda compreensão de uma “velha” atractividade perdida para a acção da construção sistemática de uma “nova”atractividade, desenvolvendo novas forças e competências, para agarrar as novas oportunidades, através de umaprofunda reorganização global do espaço, do tempo e das actividades, conquistando uma função relevante naafirmação da capital e do país, percebida exteriormente, na Europa e no Mundo.

A visão da proposta do Comissariado para a recuperação, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiadocomporta, neste quadro, quatro grandes “ideias estruturantes”:

Page 16: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 18

– UMA “CENTRALIDADE” POLÍTICA E INSTITUCIONAL COM FUTURO NA GLOBALIZAÇÃO:UM NOVO “TERREIRO DO PAÇO”A Baixa-Chiado pode incluir, na sua recuperação, a dimensão de centro, em aglutinação, de um Estado

de Direito Moderno e Europeu – regulador, incentivador, gestor “digital” de informação e descentralizador – emvez do centro, em declínio, do velho Estado burocrático, corporativo e nacionalista – intervencionista, adminis-trativo, acumulador de “papelada” e centralista (agências europeias, agências reguladoras, agências de pro-moção, agências de incentivos, agências de protecção da propriedade intelectual e industrial, instituições judi-ciais, funções centrais do governo electrónico, instituições regionais...).

– UM “MOTOR” DE CRIAÇÃO DE EMPREGO QUALIFICADO: UM PÓLO ESPECIALIZADO DESERVIÇOS NA ECONOMIA BASEADA NO CONHECIMENTOA Baixa-Chiado pode constituir-se, no seu processo de recuperação e revitalização, como uma área de

localização de actividades criativas e qualificadas, promovendo a aglomeração (“clusterização”) dos serviços, dasempresas e dos profissionais mais directamente envolvidos em funções criativas, intensivas em informação econhecimento, onde se incluem, necessariamente, as funções de reabilitação, restauro e preservação da históriae do património (envolvendo, entre outras, as áreas de consultoria, projecto, marketing, arquitectura, design,moda, produção de espectáculos, multimédia, museologia, artes & ofícios...).

– UMA “CENTRALIDADE” EMPRESARIAL ESPECÍFICA: UM ESPAÇO DIFERENCIADO DE ACTIVIDADES FINANCEIRASA Baixa-Chiado pode associar ao seu processo de revitalização a manutenção de um núcleo relevante

de actividades financeiras, nomeadamente em termos qualitativos, isto é, um espaço de convivência e arti-culação de múltiplas organizações (Ministério das Finanças, Banco de Portugal, Bancos e Companhias deSeguros, Fundos de Investimento,...), polarizando centros de decisão do sector financeiro (actividades cen-trais, serviços e políticas) e articulando dinâmicas internas e europeias numa lógica de desenvolvimento ondea função informal de centro de informações, contactos e negócios também possa encontrar espaço de con-solidação.

– UMA PROPOSTA INOVADORA DE ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO: UM ESPAÇODE EFICIÊNCIA COLECTIVA, ORDENADO E ORGANIZADO, SUJEITO A MULTIUTILIZAÇÕES COMHORÁRIOS ALARGADOS E CAPAZ DE GERIR O SEU CICLO DE VIDA

A Baixa-Chiado deve, finalmente, ser capaz de prosseguir o seu processo de recuperação, reabilitação erevitalização, materializando uma alteração substancial do seu actual referencial de “espaço” e de “tempo” con-substanciando de forma gradual, mas sustentada, um conjunto de decisões e intervenções que, combinandorestrições e incentivos, evidenciem, para os seus diversos “utilizadores”, uma rede alargada e convergente depontos fortes de atractividade para visitar, trabalhar e viver, onde o acesso fácil e a mobilidade, a segurança e oconforto, a modernidade e qualidade das infra-estruturas e equipamentos partilháveis e a diversidade das uti-

Page 17: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 19

lizações do espaço público ao longo do dia, da semana e do ano, contribuam para a imposição de uma identi-dade forte de espaço urbano diferenciado, singular e privilegiado.

– A concepção do “espaço” como principal alavanca de mudançaA Baixa-Chiado pode e deve evoluir para a configuração de um espaço urbano organizado onde se

localizam propostas específicas e diferenciadas, de forte identidade, para viver e trabalhar e, sobretudo, paravisitar, onde se chega e circula internamente com facilidade e múltiplas opções, configurado como uma redeglobal densa e diversa, com valor suficiente para não dever ser congestionado, nem poluído, pela mera circu-lação de transportes individuais, isto é, um “sítio” com entrada e saída fácil mas de atravessamento difícil, ondevale a pena ir, mas que não compensa utilizar como mero ponto de passagem.

– A organização do “tempo” como grande instrumento de dinamização e animaçãoA Baixa-Chiado pode e deve evoluir para uma configuração de ocupação do espaço que contenha

respostas concretas e duradouras, nas suas rotinas repetíveis, para acabar com os inúmeros “tempos” de utiliza-ção rarefeita e, mesmo, de “desertificação”, propiciando uma efectiva compatibilização e optimização das dife-rentes actividades ao longo do dia, da semana e do ano, isto é, um “sítio” dinâmico em “movimento perpétuo”,onde há sempre “coisas” para fazer, incluindo, obviamente, dormir com qualidade.

1.3 A EstratégiaA estratégia proposta do Comissariado para a recuperação, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiado

foi construída com base numa abordagem centrada numa tentativa de descoberta do “fio da meada” para o êxitode toda a operação, isto é, de identificação dos grandes instrumentos que podem vir a configurar as “chaves”da travagem dos “círculos viciosos” em acção e da abertura dos “círculos virtuosos” de uma atractividade reno-vada e duradoura. A abordagem preconizada é uma abordagem que, recusando uma perspectiva geral e genéri-ca, enquadrando quase todos os problemas e aspirações numa multidão de projectos espartilhados, valoriza, aocontrário, um caminho de concentração dos esforços num número limitado de projectos de dimensão qualitativae efeitos transversais relevantes, sujeitos a uma forte coerência global.

A estratégia proposta do Comissariado para a recuperação, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiadofocaliza-se, deste modo, na articulação rigorosa entre um conjunto restrito de ideias estruturantes e um con-ceito urbanístico próprio, que se sintetizam a seguir.

AS GRANDES IDEIAS ESTRUTURANTESConquistar uma função comercial e de lazer relevante: a Baixa-Chiado como grande centro histórico,

mas inovador, de vocação comercial e turística (o grande eixo quantitativo)– Adoptar a lógica de centro comercial e cultural sem os seus limites.A Baixa-Chiado pode ser um espaço comercial e cultural de grande valor na criação de empregos e na

Page 18: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 20

geração de riqueza, se conseguir materializar um conjunto de significativas transformações – horário regularalargado de funcionamento, nomeadamente nos “tempos de lazer”; limpeza, segurança, informação e orientaçãocomo serviços comuns e colectivos; organização de espaços de concentração de lojas especializadas; “lojas--âncora”; renda diferenciada e trespasse rápido – sem ser um espaço truncado, fechado, parcial ou “demasiado”organizado; espaços e actividades culturais diversificadas em todas as vertentes);

– Atrair fluxos de consumidores diversificados com poder de compraA Baixa-Chiado pode e deve ser um espaço capaz de atrair consumidores diversificados em períodos

diversificados de tempo (no dia, na semana e no ano) e capacitados (na informação e/ou no poder de compra),servindo os que lá moram e/ou trabalham, mas alargando muito para além destes (turistas e visitantes, habi-tantes da cidade de Lisboa e da região metropolitana) o seu potencial, utilizando a sua riqueza patrimonial, cul-tural, a oferta de actividades de animação e espectáculos, a centralidade política, empresarial e financeira (“cen-tro da capital”), as “janelas” privilegiadas do Tejo e uma rede de comércios e serviços especializados, sofistica-dos e de qualidade;

– Afirmar o turismo como elemento dinâmico de mercadoA Baixa-Chiado pode e deve captar algumas das iniciativas empresariais mais relevantes da cidade no

terreno da hotelaria, da restauração e dos cafés, tal como pode aproximar uma lógica mais integrada da cadeiade valor das actividades turísticas nas grandes concentrações urbanas: viagens, produção e difusão de conteú-dos especializado; turismo cultural como via geradora de actividades de animação, artes & espectáculos,património, museus, ...);

Dinamizar o surgimento de uma zona renovada de localização de actividades: A Baixa-Chiado como zona privilegiada para os modernos centros de decisão e criatividade públicos e pri-

vados (o eixo qualitativo principal)– Construir as infra-estruturas competitivas de atracção empresarialA Baixa-Chiado deve fazer um esforço global de renovação e modernização competitiva das suas redes

de infra-estruturas, como as de telecomunicações e distibuição de energia, a melhoria dos werviços de limpezaurbana, bem como garantir a disponibilidade de um número suficiente de lugares de parqueamento de funçãopara atrair profissionais altamente qualificados;

– Favorecer o empreendedorismo criativoA Baixa-Chiado pode e deve criar espaços inovadores e flexíveis de acolhimento de iniciativas

empreendedoras de jovens empresários, nomeadamente em propostas criativas e qualificadas para as funçõesde lazer e consumo, articulados com modelos integrados e expeditos de formação, financiamento e aconsel-hamento); micro-empresas criativas (design, artesanatos, gastronomia).

Page 19: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 21

Construir um modelo específico de habitação:(A Baixa-Chiado como espaço urbano singular, mas privilegiado (o eixo qualitativo complementar)– Adoptar uma tipologia de reabilitação com grande valor em espaços limitadosA Baixa-Chiado pode ser um espaço residencial muito interessante, se o modelo de reabilitação for

moderno e duradouro, superando as limitações físicas (m2) e de mobilidade (elevadores, estacionamento) comsoluções inovadoras e cómodas e oferecendo no espaço comercial soluções de “comércio de proximidade” paraos moradores);

– Atrair “jovens” e “velhos” com iniciativa e/ou poder de compraO espaço residencial da Baixa-Chiado não pode ser um espaço global nem se adequa a famílias grandes,

ajustando-se mais às “idades” inicial e final do ciclo de vida. A captação de população pode ser feita, por outrolado, articulando decisões familiares ou individuais no quadro da economia privada e do mercado, comsoluções institucionais no quadro da economia pública e social (residências estudantis, residências seniores);

O CONCEITO URBANÍSTICOA revitalização da Baixa Chiado tem subjacente um conceito urbanístico.Esse conceito para um espaço urbano carregado de história em que ruas, praças e edifícios já estão cons-

truídos, traduz-se em desenvolver uma ideia para a (re)organização do espaço.Interpretar, reutilizar, restaurar, reconverter, corrigir e libertar espaços para novos usos, é o caminho

para materializar esse conceito.

– A Baixa é um espaço com uma grande concentração de actividades onde os serviços públicos e priva-dos, o comércio, os equipamentos culturais e religiosos têm uma presença preponderante mas onde a residên-cia, permanente ou temporária, joga um papel essencial na vitalidade da área ao longo de todo o ciclo do dia. Éesta a mistura de funções sabiamente organizada por estratos - o sub-solo da arqueologia e do metropolitano, orés do chão e a sobreloja do comércio, os primeiros pisos dos serviços, os últimos de habitação e as coberturasdos terraços e miradouros - que vai propiciar uma intensa vida dos edifícios e do espaço público.

– O património urbanístico e arquitectónico pombalino assegura uma forte imagem de conjunto, nãoobstante a Baixa hoje ser um somatório de quarteirões substancialmente distintos, de edifícios muito diferentesentre si.

“Reabilitar a Baixa obriga por isso, um exercício de grande rigor técnico e histórico e uma coragem pararoturas onde elas sejam indispensáveis, seja para dar remédio a erros sanáveis, seja para inovar e alterar ondee quando as próprias condições de sobrevivência da Baixa o imponham”.[João Appleton]

– A Praça do Comércio e o Rossio são os dois pólos da cidade reconstruída após o terramoto. Aprimeira, como praça majestática, a segunda de vivência mais popular.

Page 20: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 22

Os edifícios do Terreiro do Paço definem uma fachada monumental para o rio, que se estende paranascente até S.ta Apolónia através do casario de Alfama, de escala mais fragmentada, e, para poente, até ao Caisdo Sodré com os quarteirões pombalinos.

As duas praças, a malha ortogonal da Baixa e a frente ribeirinha, sem carros, constituem o espaço públi-co cuja recuperação é determinante para a reabilitação do centro da cidade.

– Aumentar a conectividade entre a Baixa e as Colinas do Chiado e do Castelo é um objectivo para oqual são necessários percursos pedonais assistidos por meios mecânicos, existentes ou a criar, que ajudem avencer as diferenças de cota. Os fluxos pedonais entre o Largo do Chiado e do Carmo e o Castelo de S. Jorge,surgem como a oportunidade para incrementar o comércio em duas ruas transversais às ruas principais daBaixa as Ruas da Vitória e de S.ta Justa.

OS PROJECTOS ESTRUTURANTES DA INTERVENÇÃO

1.4 Os projectos estruturantesO processo de revitalização da Baixa-Chiado comporta a montagem e desenvolvimento de um conjun-

to de PROJECTOS ESTRUTURANTES, isto é, projectos que, pela sua natureza transversal e temática, pela suaaptidão para fazer convergir e colaborar diferentes agentes e interesses públicos e privados e pela sua forte inte-gração na estratégia proposta e na visão de conjunto apresentada para o futuro da Baixa-Chiado, representamuma garantia de efectiva concretização de mudanças irreversíveis na organização global das funções e das activi-dades nela concentradas.

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados comportam diferentes referências espaciais deincidência, isto é, ganham a sua dimensão estratégica, contribuindo mais directamente para a revitalização doespaço local da zona de intervenção (“dimensão local”), para a afirmação do espaço da cidade/região no com-plexo “jogo” concorrencial das grandes cidades europeias, em geral, e ibéricas, em particular (“dimensão region-al”) ou, ainda, para o reequilíbrio do posicionamento competitivo do país na globalização e na Europa alarga-da (“dimensão nacional”).

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados envolvem diferentes protagonistas e implicamdiferentes modelos de cooperação, quer no plano das entidades públicas, quer no plano da relação destas comas entidades privadas e a sociedade civil, e estabelecem um quadro objectivo e claro, uma agenda credível, dasresponsabilidades e oportunidades que se abrem, em especial, não só para a Câmara Municipal de Lisboa, comopara o Governo, os investidores institucionais, os grupos económicos privados mais dinâmicos e, também, parao tecido económico, social e cultural da cidade e da zona de intervenção.

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados, se assumem, também, a forma de projectos deinvestimento, surgem, sobretudo, como projectos de organização de iniciativas, capacidades e vontades, isto é,

Page 21: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 23

como combinação de organização, programação, promoção e dinamização de actividades capazes de rendibi-lizar e sustentar os investimentos, como projectos abertos e flexíveis, isto é, como projectos onde as regras e oslimites estabelecidos sejam suficientes para criar um quadro de redução de incerteza e de estabilidade deregras, para orientar a despesa pública e privada num sentido reprodutivo, mas não demasiado formatados, paragarantir que os seus promotores têm condições de aplicar o respectivo “know-how” específico para lhes darvida com condições optimizadas de eficiência.

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados não são, neste contexto, necessariamente os pro-jectos de maior dimensão financeira, nem os projectos de incidência espacial mais vasta, estando a sua naturezaestruturante associada à sua capacidade de funcionarem como catalisadores de uma nova atractividade da zonade intervenção da Baixa-Chiado para visitantes, turistas, consumidores, empresas, empregos e moradores.

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados procuram ser, sobretudo, projectos capazes deaglutinar intervenções dispersas numa mesma estratégia coerente, projectos que se referenciam, com determi-nação e voluntarismo, a uma lógica de conjunto com massa crítica para a afirmação de funções económicas,políticas e sociais qualificadas no espaço da Baixa-Chiado e projectos capazes de criarem uma agenda global deprogramação, animação, divulgação e promoção das suas grandes âncoras de atractividade, nomeadamente asque se prendem com as vertentes turísticas, de cultura, arte e espectáculo e de lazer e consumo.

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados procuram ser, igualmente, projectos de utilizaçãoracional de meios, de combate ao desperdício, de valorização quer das “pequenas coisas”, quer do muito que jáestá feito, nomeadamente numa melhoria sustentada e preservável da qualidade do espaço público, e deimplantação de rotinas duradouras em detrimento de fogachos ocasionais, mesmo que tal implique umarranque mais modesto de certas acções visando um acumular progressivo de meios e capacidades.

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados procuram, por outro lado, viabilizar um processoonde a revitalização da Baixa-Chiado, sendo um processo com uma intervenção pública significativa, não se con-verta num processo onde a população não tenha de assumir responsabilidades igualmente significativas,nomeadamente na participação no seu acompanhamento e correcção, na resposta atempada às novas ofertas ge-radas e na defesa activa dos seus resultados positivos, e onde o sector privado não possa encontrar as oportu-nidades efectivas para desenvolver projectos de investimento rendíveis em sintonia com a estratégia desenhada.

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados procuram, ainda, articular de forma muito estrei-ta uma base de intervenção estruturada pelo grande esforço de recuperação e reabilitação do património edi-ficado, que os diagnósticos mais recentes configuram como uma tarefa de grande amplitude e de longa duração,com um conjunto diversificado de intervenções estruturadas pelo esforço de revitalização económica e social,sem o qual a recuperação de edifícios não poderá ser completa, nem sustentável, para poder contribuir para oressurgimento do centro histórico da cidade de Lisboa, no quadro mais geral da sua afirmação competitiva noseio das grandes cidades europeias e ibéricas.

Page 22: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 24

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES identificados procuram, finalmente, servir de elo de ligaçãoentre os três “tempos” da intervenção de recuperação, reabilitação e revitalização competitiva da Baixa-Chiado,enquanto tarefa de longo prazo (nunca menos que os 25 anos de uma geração), isto é, o “tempo” da primeirafase que tudo aconselha que adopte o perfil temporal do novo ciclo de programação dos fundos estruturaiseuropeus (2007-2013), o “tempo” da fase de arranque que, polarizada pelo centenário da República (2010), deveconsubstanciar as urgências e as acções irreversíveis necessárias às mudanças de fundo, e o “tempo” da entra-da em ritmo de “cruzeiro” (depois de 2013).

Os PROJECTOS ESTRUTURANTES propostos, apresentados sem especial preocupação de hierar-quização entre eles, uma vez que, dadas as respectivas características atrás explicitadas, se completam e inter-penetram entre si, por um lado, e devem ser erguidos com motivações de produção de sinergias e externali-dades positivas entre si, por outro lado, são os seguintes:

Recuperação e reabilitação do EDIFICADO, num horizonte sustentado de médio prazo, respeitando asvárias dimensões históricas e civilizacionais, em particular a pombalina, numa lógica global integrada de val-orização patrimonial certificável e de modernização das suas condições de utilização:

– Montagem e desenvolvimento de uma grande operação de reabilitação urbana na zona de intervençãoda Baixa-Chiado (articulando de forma criativa as capacidades municipais, através do modelo SRU, com ascapacidades nacionais, através do INH, com projectos imobiliários de iniciativa privada de maior ou menordimensão, para permitir, nomeadamente, um modelo flexível de realojamento e execução de obras e umarranque suficientemente vigoroso), procurando um equilíbrio rigoroso entre “conservação” e “inovação”;

– Fixação de metas de recuperação e oferta de habitação suficientemente expressivas (estimando-se emcerca de 10 a 12 mil o potencial total de novos residentes no final da operação, considera-se viável e desejávelalcançar um aumento de 2 a 3 mil residentes na Baixa-Chiado, no período inicial de desenvolvimento do pro-jecto 4/5 anos), e diversificadas (o modelo de produção de oferta de habitação na Baixa-Chiado deve alargar adiversidade demográfica, económica e social da população residente, captando novos fluxos, sem deixar degerar oportunidades de melhoria das condições de habitação para os residentes actuais);

– Inclusão de um vector ambicioso de requalificação, expansão e diversificação da oferta de hotelarianas especificações para a reabilitação e/ou reutilização dos edifícios, prosseguindo sem hesitações a criação decondições de captação dos investimentos necessários para o pleno aproveitamento das oportunidades dedesenvolvimento turístico no centro histórico de Lisboa (considera-se que, apesar de não se poderem adoptartipologias de grande dimensão, será viável aumentar a oferta de camas em estabelecimentos hoteleiros qualifi-cados, em diferentes segmentos de resposta às procuras dirigidas a Lisboa, em mais de 1000 camas);

– Adopção de um modelo de reabilitação urbana que contemple a disponibilização de uma oferta adi-cional (seja por modernização de estabelecimentos já existentes, seja, necessariamente, pela superação das

Page 23: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 25

muito importantes carências na oferta actualmente existente) suficiente de comércios e serviços especializadosde proximidade polarizados pelos consumos de rotina das famílias residentes (e, também, numa gama maisrestrita, pelos turistas com dormidas na Baixa-Chiado).

Criação de um grande espaço qualificado na FRENTE RIBEIRINHA como pólo urbano e turístico, forte-mente diferenciado e singular em termos internacionais, sustentado pela captação de fluxos alargados devisitação e pelo desenvolvimento de uma oferta de actividades de lazer suficientemente expressiva:

– Aproveitamento da conclusão e lançamento de um conjunto de projectos em curso (Expansão doMetro, Reposição da Zona do Cais das Colunas, Novo terminal de cruzeiros, Construção dos edifícios dasAgências Europeias de Segurança Marítima e Luta contra a Droga, Reorganização da Administração PúblicaCentral, nomeadamente) para a sua integração na “produção” de um conjunto de intervenções sujeitas a umplano global de coerência visando a criação de um novo espaço urbano de grandes dimensões com forte liga-ção ao Tejo e à componente marítima (seguramente relevante no passado e desejavelmente importante nofuturo dos portugueses, ainda que menos assumida no presente) e ampla fruição pedonal (que, se implica ummodelo sensato e necessariamente progressivo, não dispensa uma decisão corajosa e irreversível de criação decondições para uma redução drástica da circulação automóvel de atravessamento);

– Lançamento de um conjunto de arranjos do espaço público (nomeadamente as zonas pedonais, osespaços verdes e os passeios ribeirinhos), de infra-estruturas de suporte a novas actividades (nomeadamente derestauração e comércio especializado e qualificado) e de um número restrito de novos pólos de visitação (asso-ciados, nomeadamente, à projecção no futuro dos activos actuais do passado marítimo).

Afirmação de um NOVO TERREIRO DO PAÇO, polarizado por funções do Estado central associadas aogoverno electrónico, à regulação e à dimensão europeia e por uma nova combinação de utilizações dosespaços, como grande praça urbana relevante para a competitividade do destino turístico “Lisboa”:

– Obtenção de uma efectiva diversificação da ocupação dos espaços da “Praça do Comércio” (garantin-do uma presença reforçada do sector público nas zonas mantidas para “escritórios”, nomeadamente as que sereferem às modernas funções de regulação, gestão digital de informação e cooperação internacional, abrindooutras zonas para actividades de comércio, hotelaria e restauração, nomeadamente nos pisos térreos e arcadas),de forma a contribuir para estancar a hemorragia de emprego terciário que se foi acentuando ao longo das duasúltimas décadas (mas que não é nem desejável, nem irreversível, desde que se cuide dos modernos factores delocalização);

– Criação de um número restrito de novos centros de interesse construídos por referência à fusão doTejo com a Baixa (de que um arco da Rua Augusta tornado acessível por elevador ou uma organização moder-na da difusão dos valores patrimoniais associados à reconstrução pombalina ou um hotel de elevados padrões

Page 24: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 26

de referência e identidade ou, ainda, modelos inovadores de iluminação, constituem exemplos), de forma agarantir uma praça que, acima de tudo, seja capaz de atrair muitas pessoas, convertendo-se numa das grandesreferências turísticas da cidade.

Desenvolvimento de um PÓLO CULTURAL e de ACTIVIDADES CRIATIVAS DENSO polarizado pelas“Belas Artes”, privilegiando a “modernidade” e valorizando a rede existente de recintos, com massa críticapara captar públicos e comércios com efeitos de arrastamento sobre as outras ofertas culturais na Baixa--Chiado:

– Concretização da expansão do Museu do Chiado no quadro de uma plena ocupação do espaço doConvento de S. Francisco (obrigando à saída, total ou substancial, dos serviços do Governo Civil e da PSP insta-lados no convento), numa lógica de principal museu da zona de intervenção e museu de primeiro nível na ofer-ta da cidade, organizando-se numa lógica competitiva internacional e numa gama alargada de actividades eserviços;

– Consolidação do pólo universitário das Belas-Artes valorizando, especialmente, a consolidação decompetências nas componente da estética e do design que permitam a sua utilização transversal nas “indústrias”de conteúdos e produção diferenciada (explorando, nomeadamente, as ligações possíveis às produções teatraise musicais) e desenvolvendo as lógicas de colaboração entre as universidades e as empresas, facilitando,nomeadamente, a instalação de comércios especializados associados à Arte;

– Dinamização de uma coordenação e promoção efectivas da programação de uma oferta global, masdiversificada, de actividades culturais e de espectáculos no espaço da Baixa-Chiado, onde a densidade deespaços vocacionados para o teatro e a música assume especial relevância;

– Incentivo da aglutinação de actividades criativas diversificadas no espaço difuso polarizado peloLargo do Carmo, integrando, nomeadamente, a criação de uma escola de referência nacional para as artes e ofí-cios, valorizando as dimensões tecnológica e profissional, enquanto pólo dinamizador da instalação dosserviços, negócios e actividades associados, e uma valorização do Convento do Carmo traduzida na sua aberturaa visitas e exposições.

Desenvolvimento de uma operação imobiliária específica nas “ruas transversais” de maior aptidãopara a criação de um ESPAÇO COMERCIAL MODERNO A CÉU ABERTO susceptível de contribuir, também, paraa revitalização do pequeno comércio actualmente instalado e a renovação e requalificação da oferta de restau-ração:

– Elaboração de planos específicos de recuperação e reabilitação para duas “ruas transversais” (as Ruasda Vitória e Santa Justa que apresentam, já, condições privilegiadas de circulação entre o vale e as colinas –acesso ao Chiado pelo túnel do metro e acesso ao Carmo pelo elevador – e que podem ser ampliadas com os

Page 25: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 27

acessos assistidos ao Castelo) que viabilizem uma operação imobiliária e empresarial com dimensão adequadapara gerar um Centro Comercial moderno a céu aberto (enquanto alavanca de alargamento dos esforços, já inici-ados, mas ainda insuficientes, de captação de lojas-âncora de referência e de diversificação da oferta comercial);

– Implantação de modelos de gestão integrada das condições específicas de suporte à competitividade(limpeza, segurança, iluminação, promoção, logística partilhada e outros serviços gerais de suporte às activi-dades de retalho, entre outras) dos espaços comerciais num centro histórico, consolidando um vasto percursopedonal organizado por experiências de consumo que, neste novo quadro, podem ser bastante valorizadas;

– Dinamização da requalificação e diversificação da oferta de restauração no espaço da Baixa-Chiado,aliando a imprescindível renovação dos modelos tradicionais em declínio (o “café” como espaço dinâmico deconsumo, lazer e convívio), com o alargamento do “tempo de ocupação” do espaço da intervenção, nomeada-mente nos períodos do “fim de tarde” e “noite” (articulando-se, nomeadamente, com as ofertas ribeirinhas anascente e poente);

– Montagem de um programa de reorganização e modernização empresarial do pequeno comércio (cen-trado na adaptação ofensiva dos horários de abertura às necessidades dos consumidores de referência, na for-mação e qualificação dos comerciantes, na dinamização do empreendedorismo, incluindo quer a facilitação dascondições de entrada e saída e de mudança de ramo comercial, quer a incubação de novas empresas e/ou mode-los comerciais) visando maximizar as oportunidades geradas pela captação de novos públicos (novos fluxosturísticos, novos fluxos de consumidores, novos moradores) e acompanhar as exigências de reconversão com-ercial associadas à requalificação global do espaço da Baixa-Chiado.

CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO PÚBLICO DE EXCELÊNCIA, aproveitando a redução do tráfegoautomóvel para redesenhar as ruas, modernizar as infraestruturas, alargar os passeios, melhorar ascondições de utilização pelos peões criando melhores condições de interacção com os espaços comerciais ecom os equipamentos de uso público.

– Construção do grande colector ao longo da margem do Tejo, que vai permitir recolher os esgotos dazona central de Lisboa evitando o lançamento das águas poluídas ao rio no Cais das Colunas; modernização dasinfraestruturas enterradas, nomeadamente de distribuição de energia e de telecomunicações, instalando-as emcaleiras técnicas sob os passeios; instalação de um sistema de telecomunicações avançadas.

– Repavimentação das ruas da Baixa e do Chiado utilizando pavimentos nas faixas de rodagem que ori-ginem pouco ruído e passeios em que as calçadas com desenho – um dos ex-libris de Lisboa – serãoenquadradas por lajedos que tornem mais cómoda a circulação dos peões.

– Desenvolvimento de um Plano Director de Iluminação Pública que responda às exigências de segu-rança da circulação rodoviária, mas que tenha também como objectivo a valorização cénica dos edifícios eespaços singulares na área da Baixa Chiado e na sua envolvente – Castelo, Colina da Sé, Alfama, Av. daLiberdade, Alto de Santa Catarina, Av. 24 de Julho.

Page 26: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 28

– Montagem de um sistema de sinalética universal em que a informação esteja organizada para servirtanto o trânsito automóvel como pedonal, que contribua para dar a conhecer a história de um edifício ou deuma rua e a guiar os visitantes através de pontos de roteiros pré-estabelecidos recorrendo, quando possível, àsnovas tecnologias de georeferenciação.

– Instalação de uma linha de mobiliário urbano desenhada expressamente, que para além de constituirum elemento de distinção deste espaço seja uma oportunidade de afirmação do design e da indústria nacional.

– Desenvolvimento de um serviço de recolha de resíduos sólidos urbanos, de limpeza e manutenção doespaço público, respondendo a padrões de grande exigência e qualidade que, pela sua exemplaridade, incutanos cidadãos comportamentos de grande civilidade.

Reforço da MOBILIDADE INTERNA E EXTERNA, organizando e favorecendo os acessos e a circulaçãoentre os vários pólos no interior da Baixa-Chiado e reduzindo drasticamente os atravessamentos pela disponi-bilização de novas soluções de circulação na cidade:

– Lançamento e/ou realização e/ou conclusão das obras que atenuem o carácter rádioconcêntrico darede rodoviária da cidade, com destaque para a “circular das colinas”, em articulação com a progressiva limi-tação do atravessamento da Baixa-Chiado;

– Valorização de uma oferta abundante e diversificada de transportes públicos (metro, bus, eléctrico, ele-vador, comboio, barco), reforçando a respectiva complementaridade e organização (terminais, horários, pontosde acesso intermodal), preservando as singularidades culturais associadas e acolhendo experiências-piloto asso-ciadas a inovações tecnológicas (energias limpas, informação e comunicação);

– Reorganização e estabelecimento de canais de circulação pedonal visando, quer a afirmação das liga-ções transversais entre as colinas adjacentes e o vale, nomeadamente, entre o Bairo-Alto/Chiado, a Baixa e oCastelo (através de ligações pedonais assistidas em vários lanços, de que as ligações entre a Rua dos Fanqueirose o Largo Amaro da Costa e entre o Chão do Loureiro e a Costa do Castelo são exemplos), quer a afirmaçãodas ligações verticais entre o centro histórico e o Tejo (isto é, nomeadamente, integrando plenamente a frenteribeirinha no espaço da Baixa-Chiado);

– Concretização de uma rede alargada de parques de estacionamento (utilizando a base técnica e cien-tífica fornecida pelos estudos efectuados para aumentar com segurança a oferta, em sintonia com os objectivosde aumento de empregados e residentes) sujeita a formas de utilização optimizadas por uma gestão flexível dastipologias de lugar disponibilizadas (atendendo, em particular, às necessidades de revitalização do comércio eaceleração da especialização turística).

Page 27: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES
Page 28: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO

Page 29: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 32

O elenco das propostas que se enunciam tem em conta que a Baixa-Chiado é uma área da cidade ondepraças, ruas e edifícios existem, pelo que a revitalização passa, essencialmente, por intervir no existente, sendoraras as oportunidades de construir de novo.

Nestas circunstâncias, organizar o espaço é, essencialmente, conquistar a margem do Tejo como umgrande espaço aberto pedonal, de recreio e lazer, o que implica um novo conceito de mobilidade, é reafectarusos, é requalificar o património e o espaço público, modernizar as infra-estruturas, construir cirurgicamenteem locais estratégicos, criar condições de qualidade ambiental que atraiam mais gente à Baixa e ao Chiado etornem atractivo o investimento.

Page 30: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 33

TERREIRO DO PAÇO: ESPAÇO E FUNÇÃO JOSÉ SARMENTO MATOS

I - Tópicos de EvoluçãoA ideia de uma Praça Real, aberta ao Tejo, concebida como cenário majestático de entrada nobre da

cidade/capital, a que se acede a partir do rio por uma escadaria (Cais das Colunas), é uma concepção decorrentedo ideário da reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755.

Claro que o chamado Terreiro do Paço já existia e constituía, mesmo, a imagem marcante da represen-tação lisboeta anterior ao cataclismo, sobretudo a partir de finais do século XVI, após a construção do impo-nente torreão filipino. Mas, na verdade, esse terreiro informe era separado do rio por uma muralha relativa-mente alta, além de se encontrarem ao longo da margem alguns edifícios (armazéns sobretudo) que contra-riavam essa relação directa com o Tejo. Portanto, quem nesses tempos circulava no terreiro não tinha a per-cepção da espacialidade fluvial de que nós hoje desfrutamos. E essa imediata largueza de vistas constitui, semdúvida, o atractivo central desta praça única.

Aliás, a própria evolução desse terreiro está intimamente ligada ao conceito de muralha, decorrentenaturalmente de alguma hipotética insegurança provinda do rio. Nos inícios do século XIV, D. Dinis, de parce-ria com o Senado Municipal, fez erguer uma forte muralha longitudinal à praia, que entroncava na velha torreda Escrivaninha, guarda avançada da Cerca Velha, pondo a resguardo as freguesias da parte baixa de Lisboa,cada dia mais activas e populosas, dos apetites da pirataria muçulmana que infestava as costas portuguesas enão se coibia mesmo de transpor a barra. No mesmo século, D. Fernando inicia o ciclópico e rápido processode erguer a Cerca Nova, dita Fernandina, que neste local passava uns bons metros adiante da muralha de D.Dinis. Para lá desse dupla cinta amuralhada, escorria a praia dita da Ribeira que, no correr dos tempos e daságuas, se consolidava, avançando rio adentro, dado o inevitável processo de assoreamento.

É esse terrapleno arenoso que D. Manuel, nos inícios do século XVI, irá transformar no logradouro dasinstalações que para ali determina, construídas sobre os muros possantes da dupla muralha. A Casa da Índia,armazém indispensável à sua nova condição de senhor do “Comércio” e, sobre ela, os novos aposentos régios,mais conhecidos por Paço da Ribeira. Mas as preocupações defensivas mantiveram-se, sendo erguido no limiteda praia, sobre o rio, um fortim torreado com uma muralha/parapeito sobre as águas. Esse fortim era ligado àsestruturas paçãs por uma correnteza, mais tarde conhecida por Galeria das Damas. Assim se delimitava a novapraça. A norte, fechava-a o Paço e, sob ele, a Casa da Índia; a poente, a parede dessa correnteza e o fortim, res-guardando o terreiro das estruturas barulhentas do Arsenal; a sul, a muralha-parapeito sobre o rio; e, a nascente,foram surgindo informalmente diversos armazéns, iniciando nesse local o rei D. Sebastião a construção de umabasílica dedicada ao seu patrono.

Page 31: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 34

Informe, estirado no sentido longitudinal, nasceu assim o Terreiro do Paço, vocacionado para um papelcentral no futuro da cidade como referente primordial do poder régio. Embora com um deficiente entrosamen-to à restante cidade que por detrás se estendia, quase só garantido pelos arcos abertos nas prévias estruturasamuralhadas, como o sempre citado arco dos Barretes, o novo Terreiro do Paço tornava-se progressivamente ocentro administrativo central de Lisboa e, por extensão, de todo o Reino: o Rei era o Estado e o Estado era oRei.

A complexificação da máquina estatal foi obrigando à construção de novos edifícios ou alargamento deoutros, indispensáveis para albergar esse universo plural que girava em torno da monarquia. Há dois momen-tos centrais nesta evolução. O primeiro é da responsabilidade de Filipe II de Espanha, I de Portugal, durante asua curta permanência em Lisboa. O modesto fortim manuelino foi transformado em imponente torreão régio,emblema da majestade e referência central futura da imagem lisboeta. E, aproveitando a citada correnteza, umnovo corpo palaciano passava a ligar o novo torreão ao velho paço manuelino, dando à Praça e ao Paço anobreza de uma fachada, forte arquétipo que ainda hoje a marca. A veleidade sebastianista de uma imponentebasílica desvaneceu-se, acentuando o carácter mais laico que a nascente concepção absolutista do poder iriacultivar daí em diante. No Terreiro do Paço era o rei e só o rei, simbolicamente personificado no imponente tor-reão com a sua cúpula, coroa indispensável de uma concepção unipessoal do poder, legitimado pela escolhadivina.

Mais tarde, já no século XVIII, D. João V culminaria o processo de integração de diversos edifícios con-tíguos, caso do palácio do Corte-Real, estendendo mesmo o âmbito para fora da área ribeirinha com a aquisiçãodo palácio dos Condes da Ribeira, cá em cima, junto aos Mártires (actual Victor Cordon), ligado este ao conjun-to através de uma escada que galgava o acentuado desnível, bem como ampliou a antiga capela régia de S.Tomé,transformando-a em opulenta Patriarcal. O perímetro palaciano tornava-se uma amálgama de construçõesdesconexas, unificadas pela simples lógica de dar guarida a todas as díspares funções que volteavam em tornodo rei. E nem o comércio faltava, pois no andar térreo do pátio da capela pululavam as tendas dos chamadoscapelistas, designação que se manteria na gíria lisboeta mesmo depois de desaparecida a sua razão de ser. Seufilho, D. José, prosseguiu na mesma orientação, dotando esse conjunto de um Teatro de Ópera, desenhado porBibiena e inaugurado pouco antes do terramoto.

Estendida desde o Terreiro do Paço ao Corpo Santo, subindo já mesmo a colina, envolvendo no seuseio o Arsenal e a Ribeira das Naus, esta verdadeira “Cidade Régia”, caótica na sua articulação, feita de acres-centos e remendos, sobrepondo gostos e estéticas e misturando gentes e funções, era o centro nevrálgico dopoder e foi, naturalmente, a vítima mais imediata do cataclismo de 1755. Corria, assim, o pano sobre um cenário,impondo-se inventar um outro.

Page 32: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 35

II - A Real PraçaFoi a partir dos escombros calcinados da “Cidade Régia” que o processo de reconstrução do Terreiro

do Paço se articulou. Aproveitando o que era adaptável da construção preexistente, o entendimento da novaReal Praça do Comércio obedece a três vectores fundamentais:

Em primeiro lugar, a sua articulação harmónica com a cidade. Para norte abrem-se três amplas vias(ruas Augusta, Áurea e da Prata), permitindo o entrosamento directo com o Rossio, o outro pólo central da con-cepção da nova cidade. Regulariza-se a via nascente (Alfândega) e abre-se, no emaranhado construído da anti-ga “Cidade Régia”, uma nova via (Arsenal), ligando, a ocidente, ao Corpo Santo, Remolares e São Paulo. Ou seja,a nova Real Praça tornava-se um ponto de confluência urbana, acentuada ainda pela abertura directa ao rio,através da escada/cais na fachada sul, não deixando esquecer que o rio era ainda o eixo privilegiado de trânsi-to, quer de gentes, quer de mercadorias. Portanto, de lugar relativamente fechado e organicamente mal articu-lado com a cidade, o velho Terreiro do Paço, como o lisboeta teimava continuar a chamar-lhe, torna-se a placagiratória a partir da qual se acedia às diversas partes de Lisboa, ainda privilegiadamente pensada no sentidolongitudinal, ao longo do rio.

Definidos como pólos deste novo modelo de cidade, o Terreiro do Paço e o Rossio completavam umadupla funcionalidade de espaços públicos, devidamente hierarquizados pelo próprio prospecto arquitectónicoproposto. O primeiro era a praça régia, o segundo tinha uma componente de vivência funcional mais popular.Usando referências europeias, diríamos que o Terreiro do Paço se aproximava do modelo francês da “PlaceRoyale”, enquanto o Rossio se poderia comparar mais à prática castelhana da “Plaza Mayor”.

Se o velho ditado diz que “todos os caminhos vão dar a Roma”, na nova Lisboa reconstruída todosdesembocavam na nova Real Praça. E como no centro dela, dominando-a de forma majestática, se colocou aestátua equestre do rei, podemos visualizar, nesta arquitectura de valores, uma metáfora da concepção dopróprio poder monárquico absoluto. Na nova Lisboa, concebida como um todo homogéneo, todos os caminhosvão dar ao “rei”, dispensando até a sua presença física, substituída por uma imagem brônzea, representação ide-alizada de uma visão hierarquizada e unitária da orgânica social e política. Poder-se-á dizer que, nesta elabora-da articulação, a estátua régia funciona como uma espécie de “rosa-dos-ventos”, referente essencial do corpoorganizado da “polis”, onde tudo conflui e de onde tudo parte.

E essa nova relação não se limitava à cidade em si. Ao abrir o cais/escadaria sobre o rio, essa simbólicade referência alargava-se ao vasto estuário do Tejo, metaforicamente diga-se que a todo o país. O facto de a praçaestar colocada no topo mais saliente da curva que descreve a margem norte do Tejo confere-lhe a dimensão deconvergência das múltiplas linhas de leitura visual de quem olha de sul.A imagem do rei impõe-se, assim, comoo referente dos olhares e dos comportamentos, quer para quem desce da cidade, quer para quem circula do rio.Todos não podem deixar de o ter como seu ponto central de referência.

Page 33: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 36

Em segundo lugar, a forma. Dentro de uma concepção influenciada pelos modelos arquitectónicosdominantes, a que não foi alheia, naturalmente, a própria imagem do palácio filipino, a nova Real Praça, car-regada da simbologia atrás enunciada, foi pensada como uma unidade formal, geometricamente delineada esimetricamente agenciada. O Torreão da Ribeira, velho arquétipo monárquico, agora substituído na sua funçãosimbólica pela estátua equestre, foi duplicado em obediência ao jogo simétrico, e, dado o posicionamentosobranceiro ao rio, as novas torres mantinham em certa medida a ideia defensiva de dupla guarda avançada pro-tectora, marcando o território e fazendo confluir a leitura para a estátua central.

A Praça em si definia um quadrado harmónico, com arcadas na base dos edifícios, cuja arquitecturarepetitiva remetia para modelos de uma prática enraizada em Lisboa. Essa sucessão de arcarias só era inter-rompida pelas aberturas amplas das novas cinco vias (três a norte, uma a nascente e outra a poente), dotando--se a central, sobre a então chamada Rua Augusta (evocação da Augusta Majestade), um elegante campanáriocom relógio (nunca construído), elemento verticalizante que enquadrava a estátua, exaltando-a, ao mesmotempo que introduzia um pequeno toque de sensibilidade mais barroca, espécie de apontamento de datação.

A grande inovação constituía, como já se disse, a solução proposta para a fachada sul, eliminando devez a muralha que outrora protegia o velho Terreiro do Paço. Esta era substituída por um muro baixo, com ban-cos, dispondo-se ao centro um conjunto elegante de escadas triplas, acentuando o eixo central que compunhacom a estátua e o campanário esguio sobre o arco da Rua Augusta.

Foi esta sobriedade elegante e sóbria, dotada de indiscutível majestade no equilíbrio da sua simetriamétrica, aberta ao rio e à cidade, espécie de vestíbulo nobre de Lisboa, concebida agora como verdadeira capi-tal de um império multicontinental, que chegou aos nossos dias e nos compete entender e valorizar nas suaslinhas mestras.

Em terceiro lugar, a função. Numa evidente continuidade com a história pretérita, o conjunto edifica-do em torno da nova Real Praça do Comércio foi destinado a albergar os variados serviços da máquina admi-nistrativa. No entanto, dá-se uma alteração significativa pois o Paço, a residência real, desaparece, deslocado orei, em parte por vontade própria, para a periferia urbana, mais propriamente a Ajuda, com a sua imensa RealBarraca. Embora esporadicamente, D. Maria I ainda regressou ao Terreiro, ali habitando por algumas tempo-radas, ocupando partes do corpo norte (aquelas, aliás, que correspondiam ao original paço manuelino), lançan-do mesmo um arco efémero de ligação sobre a rua do Ouro. Mas, na verdade, e apesar desse momento de dúvi-da e de projectos de alteração do modelo da reconstrução, permitindo conceber um verdadeiro paço régio, orei em pessoa vai desaparecer de vez do centro da cidade, ali continuando, no entanto, como ponto central dereferência através da estátua equestre que servia, repita-se, de espécie de “rosa-dos-ventos” dos itinerárioscitadinos.

Page 34: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 37

A construção da Real Praça prolongou-se no tempo. À data da inauguração da estátua, em 1775, só estavaerguido o lado ocidental, aquele que, em parte, correspondia à antiga estrutura filipina. Isto levanta a questãopertinente de se saber, sobretudo neste lado ocidental e no seu prolongamento pela Rua do Arsenal, em quemedida essas construções anteriores foram aproveitadas na nova unidade. Pouco ou nada se sabe. Mas conviránotar que na planta levantada logo a seguir ao cataclismo, antes portanto das novas intervenções, o corpo salienteque alberga o grande portal de acesso ao Arsenal, hoje no Largo do Município, já se encontra referenciado, cor-respondendo anteriormente ao teatro desenhado por Bibiena. Além disso, sabemos que a Sala do Risco funcio-nou, desde o início, em edifícios junto do Arsenal, por certo poupados pelo terramoto.

Dada essa longa duração da reconstrução da nova praça, não admira que não haja referências à insta-lação de Pombal e das suas secretarias neste local. Será, de facto, a partir do estabelecimento definitivo doregime liberal (1834) que o Terreiro de Paço, então já terminado, se tornará quase exclusivamente na sede doGoverno, datando, a partir de então, sucessivas obras de embelezamento decorativo interior, de que o SupremoTribunal de Justiça, remodelado já na década de 80, constitui o exemplo mais acabado. E esse processo prolon-gar-se-ia com o Estado Novo, datando de então a grande intervenção no corpo nascente, até ao Campo dasCebolas (Ministério da Finanças), com interessantes apontamentos arquitectónicos, como o pátio interior, alin-dado à moda antiga por Raul Lino, a grande escadaria de Pardal Monteiro ou, ainda, o salão nobre do Tribunalde Contas, no piso nobre do torreão nascente.

Um único corpo do Terreiro do Paço não teve função oficiosa. Os irmãos Sobral, Joaquim Inácio eAnselmo José da Cruz, deram uma ajuda a Pombal, reconstruindo por sua conta o pequeno corpo nascente,entre a Rua da Prata e a Rua da Alfândega. No entanto, o carácter Real da Praça obrigou a que a entrada doimóvel não se fizesse sob as arcadas, mas sim na fachada da Rua da Prata. Foi por esse condicionalismo priva-do que o piso térreo conheceu um destino comercial, albergando hoje o café Martinho da Arcada.

III - A Realidade Actual Condicionado pela evolução global da cidade, com a dispersão por novas centralidades, e pelo reajus-

tamento e complexificação da máquina governamental, levando ao abandono sucessivo de serviços e ao enve-lhecimento de outros, o Terreiro do Paço vai definhando a olhos vistos, na enganosa agitação diurna de um trân-sito caótico e opressivo e na solidão nocturna de uma terra de ninguém. Salvo algum acontecimento pontual(concertos ou exposições), a Real Praça perdeu vida própria, sem grandes atractivos quer para o lisboeta, querpara o turista, a não ser, claro, a apreciação da arquitectura global e da beleza da relação com o rio. É ver e andar.

Tudo o resto limita-se a circular. Por vezes, ou mesmo quase sempre, as boas ideias têm o seu lado per-verso. O facto é que a convergência dos caminhos lisboetas para a Real Praça do Comércio, chave mestra daconcepção urbana da reconstrução pós-terramoto, se vai também mantendo como arquétipo lisboeta, reforça-

Page 35: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 38

do até por intervenções posteriores. A abertura do eixo 24 de Julho/Ribeira das Naus/Infante D. Henrique veiocanalizar todo o trânsito ribeirinho para o Terreiro do Paço, rompendo de forma drástica o equilíbrio da suarelação imediata com o rio e transformando-o em mero corredor de passagem, a que não faltam os pesados queligam os pólos portuários de Alcântara e Xabregas. Se a isto juntarmos a abertura das Avenidas da Liberdadee Almirante Reis, carreando para a Baixa todo o trânsito da periferia, resulta num inevitável afunilamento noTerreiro do Paço, única saída possível, potenciando de uma forma inimaginável para a mente dos planeadoresda reconstrução esse carácter de confluência que eles tão afincadamente cultivaram.

Se Lisboa pretende que o Terreiro do Paço volte a desempenhar o papel central que a sua história lhegranjeou, não vai lá com meros arremedos ou paninhos quentes. Há que intervir de forma decidida e radical.

Page 36: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

CONTRIBUIÇÃO PARA UM PLANO DE SALVAGUARDA DA BAIXA POMBALINAESTRUTURAS, FUNDAÇÕES E OUTRAS CONSIDERAÇÕES JOÃO AUGUSTO DA SILVA APPLETON

1.A Baixa Pombalina, construída após o grande terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755, cons-tituiu um raro gesto de planeamento da cidade e, pela sua singularidade urbanística, arquitectónica e constru-tiva, justifica que seja hoje encarada como um objecto global, de grande valor patrimonial, que tem de ser alvode uma operação global de reabilitação ou, pelo menos, sobre ela, sobre o seu futuro, tem de haver uma visãode conjunto que permita enquadrar as futuras intervenções, quer as que tenham um efeito estruturante, queras que se destinem a resolver o estado de envelhecimento e de doença que afecta edifícios e quarteirões.

2.A Baixa, pelo menos na sua zona central, demarcada pelas Ruas da Madalena e Nova do Almada epelas Praças do Comércio e do Rossio, foi construída sobre os escombros da cidade morta, e a malha ortogo-nal que se estabeleceu não teve em conta características geológicas ou hidrológicas locais.

3.Por isso, um dos passos essenciais para que possam vir a ser conduzidas intervenções globais dereabilitação deve ser o de fazer o mapeamento geológico e hidrológico de toda a zona da Baixa; no que se re-fere à geologia, existe informação abundante mas, ao que se sabe, não tratada e não actualizada, decorrendo talinformação de sucessivas campanhas de prospecção e de reconhecimento, incluindo as que resultaram dasescavações para o Metropolitano de Lisboa, para parques de estacionamento e, em geral, para a construção decaves sob os edifícios existentes, de escavações arqueológicas, etc.

4.A Carta Geológica da Baixa deverá, pois, partir da existente Carta Geológica de Lisboa e fazer o seurefinamento a partir da recolha e do tratamento de toda a informação existente, para o que deve ser feito umapelo de colaboração à Câmara Municipal de Lisboa (Gabinete de Geologia), ao Metropolitano de Lisboa, àAdministração do Porto de Lisboa, às empresas de sondagens e aos serviços de Arqueologia da CML e do IPAe IPPAR; recolhida toda essa informação, será possível definir uma campanha de estudos complementares queservirá para acabar de preencher a malha da informação geológica pertinente. A Carta Geológica da Baixa será,então, um elemento de referência essencial para todas as intervenções que venham a ser realizadas, quer emtermos de escavações no espaço público ou sob edifícios, quer de operações de reforço estrutural e de fun-dações.

REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | PROPOSTA DE ESTRATÉGIA 39

Page 37: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 40

5.Para ter a visão completa das condições de fundação dos edifícios da Baixa, seria necessário realizarum trabalho de maior complexidade e que consistiria na execução de campanhas destinadas a avaliar as carac-terísticas de fundação dos edifícios, nomeadamente no que se refere à existência de estacaria de madeira, seucomprimento e estado de conservação. É viável, através de pesquisa documental, junto dos arquivos da CML,do ML, de empresas de sondagens, de gabinetes de projecto e de empresas de construção, fazer a recolha deinformação que já foi obtida, nomeadamente a propósito de grandes campanhas de obras (túneis e estações doMetropolitano, intervenções nas grandes instalações bancárias, Grandes Armazéns do Chiado, etc).Provavelmente, a informação que se poderá recolher desse modo será escassa ou, pelo menos, insuficiente,entendendo-se que o necessário trabalho de campo só seja feito caso a caso, a propósito de cada intervençãoque seja prevista, projectada ou construída.

6.No que se refere à hidrologia da Baixa, a situação apresenta algumas semelhanças com a campanhageológica, já tratada, mas a informação disponível é mais escassa. Apesar disso, informação importante como aque decorre de grandes obras executadas, sobretudo no espaço público (parques de estacionamento dosRestauradores, do Martim Moniz e da Praça da Figueira, estações e túneis do Metropolitano no Rossio,Restauradores, Baixa-Chiado,Terreiro do Paço, etc.) deve ser recolhida e tratada. Essencial é prosseguir e alargaro estudo que tem vindo a decorrer, o qual deve abranger a Baixa e as suas franjas, sobretudo a montante (paranorte), já que é fundamental conhecer o actual regime de acumulação e escoamento das águas subterrâneas eseu acesso à Baixa.A importância de dispor de uma carta hidrológica da Baixa deriva da estreita relação entre os níveis freáticos eas condições de realização de escavações e fundações e, porventura antes do mais, da relevância que tem a vari-ação dos níveis freáticos nas condições de conservação das fundações e estruturas existentes.

7.Do conhecimento das vertentes geológica e hidrológica da Baixa, resulta a possibilidade de se fazerigualmente o mapeamento da Baixa subterrânea, arqueológica.Não se tratará apenas de refazer cenograficamente a Lisboa pré-terramoto, de que já existem mapeamentos eaté modelos à escala, muito interessantes mas com um rigor que não é garantido; esta informação é muitoimportante e deve ser explorada, mas existe muita outra que, lentamente, tem vindo a ser acrescentada e actua-lizada, e que se refere, por exemplo, à urbe muçulmana e romana, cujo conhecimento tem sido muito valoriza-do nos últimos anos, sem que, no entanto, tenha havido o tratamento e a divulgação desse novo conhecimentoque muito importaria pôr à disposição dos lisboetas e do público em geral, incluindo a definição de roteirosarqueológicos de Lisboa, com os sítios visitáveis.

Page 38: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 41

8.No que se refere às componentes estruturais e construtivas, a Baixa deve ser olhada como uma grandeunidade com muita diversidade, que resulta quer das excepções que foram assumidas desde os primeirosplanos (exemplo máximo é, porventura, o do quarteirão que integra o antigo convento de Corpus Cristi, maissubtil é a significativa diferença entre os simples telhados de duas águas do desenho de Eugénio dos Santos eos telhados germânicos de Carlos Mardel), até às modificações que o tempo foi impondo, quer por pressão damoda que contrariou quando pôde o plano original para a Baixa, quer por pressão especulativa que o valorfundiário da que foi o coração da cidade parece ter justificado.

9.A Baixa que conhecemos foi construída ao longo dos últimos 250 anos, e mesmo a conclusão do planode reconstrução demorou mais de 100 anos a ser executado; antes mesmo que tal acontecesse, já a cidade assistiaa obras de ampliação e de alteração dos edifícios existentes, primeiro acrescentado um, dois ou três pisos, depoisalterando os pisos térreos, abrindo caves, tudo isso se seguindo, quase sem interrupção até aos nossos dias em queprosseguem obras de reabilitação, de alteração e de total reconstrução interior, sem que alguma vez tais obras sesubordinassem a um plano, a um programa ou mesmo a uma simples ideia coerente sobre a Baixa e o seu futuro.

10.Com uma história tão longa e tão sinuosa que, apesar de tudo, não fez perder à Baixa uma forteimagem de conjunto que ainda se aproxima da que teriam os reconstrutores, mas que, na verdade, ninguémnunca pôde observar completa e na sua total pureza, não é de estranhar que a Baixa seja hoje um somatório dequarteirões substancialmente distintos, de edifícios muito diferentes entre si, na imagem e nas suas compo-nentes estrutural e construtiva.

11.A Baixa era uma cidade (ou parte de cidade) construída de alvenaria e madeira, com edifícios de pisotérreo, três andares elevados e cobertura com sótão parcialmente aproveitado; as ruas ortogonais definiam quar-teirões hierarquizados, mas com grande unidade no desenho de fachadas e coberturas.Hoje, na Baixa, não resta nenhum quarteirão original, pelas razões que um certo sentido de progresso e de civi-lização impuseram; para além da modernização inevitável, imposta por diferentes formas de habitar e de viver,a Baixa que foi perdendo os seus habitantes também se adaptou à função comercial, de armazenamento e deserviços que, mais por ignorância do que por necessidade imperiosa, foram de forma sistemática introduzindoalterações estruturais relevantes, com substituição de pavimentos de madeira por pavimentos de aço ou debetão, supressão de paredes de fachadas e interiores de alvenaria, eliminação de paredes de frontal, ocupaçãode logradouros com construções, alteração de coberturas, incluindo a colocação de equipamentos.

Page 39: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 42

Quem olhar a Baixa, de qualquer dos miradouros que sobre ela se debruçam, do Castelo ou do Carmo, da Graçaou de S. Pedro de Alcântara, não verá uma cidade “monótona” e repetitiva que seria a Lisboa planeada, mas amudança não agradará a ninguém: a desordem urbana e a falta de qualidade de tantas intervenções apenasservirão para realçar a resistência estóica da Baixa Pombalina, sinal máximo de soluções que a tudo têm resis-tido, até aos piores impulsos e às decisões mais absurdas dos lisboetas e daqueles que de Lisboa fazem a capi-tal dos seus desmandos especulativos, quase sempre sob o olhar complacente dos cidadãos e das autarquias.

12.Se a Baixa é hoje um conjunto que o tempo tornou heterogéneo, muito longe daquela monotoniatão criticada pelos lisboetas do final de Setecentos e, de algum modo, pela elite cultural de então, é preciso terpresente que, apenas na aparência, à homogeneidade visível corresponde um conjunto de edificações subordi-nadas globalmente à estrita observância dos mesmos princípios e regras estruturais e construtivas.De facto, o longo período durante o qual foi decorrendo a reconstrução da Baixa conduziu a um grande númerode desvios aos conceitos e aos desenhos originais; tal não pode surpreender, se pensarmos que logo na sequên-cia das dissertações de Manuel da Maia que, de forma paulatina mas deliberada, foram definindo o “perfil” dacidade nova, os edifícios vieram a ser “beneficiados” com mais um andar elevado que já consta dos prospectosproduzidos e que resultou, decerto, de uma lógica negocial entre o Reino e os proprietários obrigados a cumprirum plano que não desejavam.

13.As próprias soluções construtivas não permaneceram imutáveis, embora se mantenha, ao longo demais de um século, uma matriz estrutural básica que só veio a ser abandonada definitivamente a partir do 3.ºquartel do século XIX, quando um novo surto de expansão urbanística e a perda de memória directa do terramo-to conduziram ao domínio do que veio a designar-se por construção dos “gaioleiros”. Não existe, portanto, umaconstrução pombalina, sistematicamente baseada num reticulado bidireccional de paredes de frontal associadoa um conjunto de paredes de alvenaria ordinária formando fachadas e empenas, saguões e, por vezes, separaçõesde fogos. Esta solução, que constitui o paradigma do edifico pombalino, foi sendo alterada e simplificada, emdois tempos e por dois motivos principais: logo no início da reconstrução, ainda no século XVIII, verifica-se quealguns frontais são suprimidos e substituídos por tabiques de prancha ao alto, o que se deverá ao facto de setratar de lotes menores, localizados fora das zonas mais nobres da Baixa, e à acção de construtores menos crite-riosos. Depois, as acções fiscalizadoras foram abrandando, os receios de novo sismo foram esmorecendo, e aespeculação imobiliária foi fazendo o seu caminho; uma das formas mais directas de construir estes edifíciosmais depressa e com menos custos consistiria precisamente na diminuição da quantidade de paredes de frontal,criando-se deste modo uma nova hierarquia de paredes que originalmente, e por causa do sismo, não existiria.

Page 40: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 43

Ao mesmo tempo e pelas mesmas razões, os projectos originais deixaram de ser cumpridos, verificando-se, coma complacência do Senado de Lisboa, o aumento do número de andares dos edifícios já construídos e mesmodos que então se iniciavam.

14.Estas circunstâncias poderão ser explicadas, entre outros motivos, pelo facto, muitas vezes citado,de não haver projectos completos dos edifícios, que incluam a definição da estrutura como um todo, ideia quese foi consolidando com o não-aparecimento de desenhos ou de recomendações escritas específicas quanto àorganização da compartimentação interior e da estrutura de paredes e pavimentos.A circunstância de nunca se terem “descoberto” outros desenhos, além dos projectos conhecidos que definemalçados de uma pequena parte da zona intervencionada, plantas gerais e cortes esquemáticos, apenas pode sig-nificar que se perderam, ou melhor, que ainda não se encontraram muitos dos elementos em falta, entre osquais poderão estar, também, recomendações sobre as soluções construtivas; não é razoável admitir que taisrecomendações não existissem, já que a preocupação que domina a reconstrução, para lá do exercício de poderque representa, é a da segurança sísmica das estruturas.

15.Independentemente de todas as dúvidas que subsistem sobre a autoria da solução da estrutura degaiola pombalina, questão que, aliás, apenas deveria suscitar uma curiosidade muito moderada, o facto é que areconstrução se subordinou a regras construtivas muito racionais e cuja aplicação evidencia um excelentedomínio da arte da construção, como seria de esperar de arquitectos e engenheiros prestigiados na arquitec-tura civil, religiosa e militar, com amplas provas dadas.A heterogeneidade a que, efectivamente, obedecem as construções da Baixa não pode ser olhada com estra-nheza, mas com a naturalidade com que tem de olhar-se para História: o homem muda, como a natureza, e aconstrução é apenas uma parcela da interacção entre o Homem e a Natureza e, portanto, muda também.Compreender a heterogeneidade da Baixa, com toda a sua carga histórica, é, por isso, um dever de quem sobreela se debruça, sob pena de nunca ser entendida a realidade global que hoje é, como ontem foi, mas semprediferente, numa unidade que, apesar de tudo, parece ser prevalecente.

16.A grandeza da Baixa e do acto que lhe deu origem, somatório de actos singulares e quase extrava-gantes num país que teve poucos períodos heróicos ao longo da sua história como nação, justifica que agorahaja a capacidade de iniciar, finalmente, um novo caminho de coragem e de competência que será a melhorhomenagem aos que participaram mais directamente na concretização desse desiderato excepcional.

Page 41: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 44

Olhar com respeito o passado, ver a Baixa numa perspectiva multifacetada e sem preconceitos, não significanenhum de dois princípios extremos de actuação: um marcado pelo temor reverencial que impede a inovaçãoe a transformação; outro determinado pela facilidade de nada afrontar, a partir de falsos argumentos de quetoda a carga histórica na Baixa tem o mesmo valor.Respeitar a Baixa e a sua história comporta, por isso, um exercício de grande rigor técnico e histórico e umacoragem para roturas onde elas são indispensáveis, seja para dar remédio a erros sanáveis, seja para inovar ealterar onde e quando as próprias condições de sobrevivência da Baixa o imponham.

17.Neste exercício de rigor e de competência multidisciplinar é essencial não esquecer que a unidademínima de intervenção tem de ser, definitivamente, o quarteirão e, algumas vezes, pode ser mesmo a frente derua ou um conjunto de quarteirões.Independentemente dos raciocínios fundamentados na arquitectura ou no urbanismo, o quarteirão impõe-secomo unidade fundamental por razões estruturais e construtivas, onde prevalecem factores determinantescomo a resistência aos sismos e a segurança contra incêndios.A existência de logradouros comuns ao quarteirão, a construção de lotes contíguos com paredes meeiras quese elevam acima do telhado com função guarda-fogo, asseguram que, pelo menos de acordo com a sua con-cepção, cada quarteirão é como um único e enorme edifício, dividido em células autónomas com característi-cas diferenciadas.

18.A continuidade estrutural, em planta, com fachadas de vários edifícios que são, na verdade, uma sófachada, é acompanhada também por um enorme rigor no desenho altimétrico ao longo de cada quarteirão. Naszonas planas, a continuidade de cérceas é evidenciada pela correnteza das cimalhas e, nos quarteirões em ruasdeclinosas, observa-se um “dégradé” muito cuidado a fazer o acerto e desacerto das fachadas, das soleiras, dospeitos e das cimalhas.Este desenho que, parecendo apenas arquitectónico, é determinantemente estrutural, tem de ser retomado porrazões que a engenharia sísmica pode facilmente invocar.Naturalmente que se sabe que não é possível, nem será desejável, um regresso a um passado de uma purezaque, porventura, nunca existiu a não ser no papel mas, com saber e com coragem, é caminho que tem de serensaiado e que deve ser percorrido.Tantas e tão profundas têm sido as alterações em cada quarteirão da Baixa que se pode dizer sem receio quecada quarteirão é um caso e não podem estabelecer-se, à partida, regras gerais.É preciso ter consciência de que os quarteirões onde ocorreram transformações relevantes em altura ou nas

Page 42: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 45

estruturas dos pisos, principalmente nos pisos térreos, sem que as estruturas tenham sido globalmentereforçadas, estão hoje condenados em caso de ocorrência de um sismo que replique o de 1755.Transições bruscas de rigidez de edifício para edifício num mesmo quarteirão condenam o quarteirão, nãodevendo ser admitidas, em princípio, diferenças de mais de um andar entre edifícios contíguos do mesmo quar-teirão; além disso, acrescentos de até três andares executados em alguns edifícios, sem reforços significativos,representam a aceitação de reduções drásticas das condições de segurança de estruturas e fundações, mesmona ausência de sismos tão violentos como o que determinou a construção da Baixa.É também essencial eliminar ou reduzir drasticamente as perturbações nas fachadas introduzidas pelasupressão de pilastras e pelo alargamento desmedido de montras; é igualmente necessário analisar os efeitosde outras alterações estruturais introduzidas nos andares inferiores, de modo a constatar a eventual necessi-dade de repor elementos estruturais ou de reforçar os existentes.

19.Admite-se que estes saudáveis princípios de intervenção, que se baseiam em raciocínios estrutural-mente intocáveis, não possam ser aplicados a toda a Baixa.Admite-se que, tal como Pombal sentiu, mesmo com todo o poder de que dispunha, os direitos de propriedadevenham a constituir obstáculo de monta à concretização de operações indispensáveis de saneamento estrutural.Admite-se que alguns quarteirões sejam hoje irrecuperáveis à luz de uma operação razoável de recuperaçãodeste património e, por isso, admite-se também que venham a eleger-se quarteirões e edifícios de sacrifícioonde a realidade demonstrou que pouco ou nada resta da sua composição original, com possível excepção defachadas mais ou menos postiças. Admite-se mesmo que a sobrevivência global da Baixa passe por se aceitaremalguns sacrifícios, seja para fazer o agrupamento com o parcelamento de edifícios, seja para fazer a sua recon-versão funcional para grande comércio, parqueamento automóvel, etc.Nesses casos, ainda mais se exige das autoridades, dos promotores, dos projectistas e dos construtores em con-junto obrigados a pôr em prática operações que se encarem como intervenções de salvaguarda à custa deenorme qualidade dessas intervenções.

20.Sem tabus, mas com muito respeito, a Baixa tem uma enorme capacidade de regeneração. É apenasnecessário que, finalmente, sejamos capazes de ser dignos dela e daqueles que a pensaram e fizeram. Para issoexige-se cultura técnica, rigor profissional e sensibilidade, atributos que não são comuns, como seria de dese-jar. De facto, a formação profissional, a todos os níveis, tem-se revelado claramente insuficiente, escasseandocompetências desde os promotores e donos de obra até aos operários artesãos, passando por projectistas, cons-trutores e fiscalizações.

Page 43: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 46

As grandes obras foram sempre grandes escolas e Portugal não fugiu a essa regra, sendo a própria reconstruçãoda cidade de Lisboa um exemplo de progresso técnico da maior importância; também se poderiam referir,noutros contextos e a outras escalas, os exemplos da construção do Convento/Palácio de Mafra ou do Palácioda Ajuda.A revitalização da Baixa passará necessariamente por vastíssimas campanhas de obras a que corresponderãoinvestimentos de muitas centenas de milhões de Euros; por isso, existem condições objectivas para que estamegaoperação, a desenrolar-se num horizonte temporal que não será inferior a duas décadas, possa ela própriaconstituir-se como motor e centro de uma nova mentalidade quanto à aprendizagem de princípios, metodolo-gias e práticas de conservação e de reabilitação, virada para todos os agentes interessados.

21.Nesta ideia, que poderá levar à institucionalização de uma Escola especial, dedicada a um ensinosimultaneamente horizontal e vertical, onde caberão os saberes práticos da experiência feitos e os conhecimen-tos teóricos, científicos, multidisciplinares, terá de haver lugar para a sensibilização e aprendizagem de todosos que irão participar no que se deseja ser um gesto exemplar de reflexão e trabalho sobre a cidade velha.A prioridade deve, apesar de tudo, ser dirigida a um conjunto mais restrito de operadores: em primeiro lugar,os projectistas, arquitectos e engenheiros que ainda hoje estão muito pouco preparados (e mesmo pouco inte-ressados) para enfrentar os desafios técnicos que se adivinham; para estes, a Escola imaginada seria uma espé-cie de extensão da Universidade, mas com uma forte componente de atelier de projecto. Depois, virá a necessi-dade de (re)aprender materiais e técnicas, combinando o artesanato e os materiais tradicionais com a inovaçãotecnológica, com os novos materiais e equipamentos, cuja utilização não deve ser desprezada, muito menosanatemizada; esta componente de ensino, dedicada aos operários-artesãos, é, porventura, a mais difícil de orga-nizar e, por isso, deveria ser prioritária.Esta ideia de uma Escola para a Baixa deveria, até pelo simbolismo que tal encerraria, constituir-se e viver nopróprio espaço geográfico da Baixa ou nas suas margens, sendo quase certa a possibilidade de dispor de umedifício público existente e adaptável, de preferência ele próprio portador de uma história que se integre noobjecto central do trabalho.

Page 44: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 47

2.1 Os Limites da Área de Intervenção

Os limites da área de intervenção resultam de uma ponderação dos limites propostos pela candidatu-ra da Baixa Chiado a Património da Humanidade, dos limites da SRU Baixa Chiado, dos limites das freguesias,total ou parcialmente abrangidas, e de um ajustamento a Norte para coincidir com o Elevador da Glória.

Na área de intervenção adoptada incluem-se as freguesias da Sé, Madalena, São Nicolau, Sacramento,Mártires e, parcialmente, as freguesias da Encarnação, Stª. Justa e S. Paulo.

Fora destes limites há importantes áreas de interface, nomeadamente Alfama, Colinas do Castelo, BairroAlto, Bica e Santa Catarina, mas também o Martim Moniz, o Intendente e o vale da Av. da Liberdade, com osquais há uma relação estreita em termos sociais, económicos, das acessibilidades e da vivência do espaço públi-co que terão de ser equacionadas nas medidas a implementar na Baixa Chiado. O que aqui vier a suceder teráconsequências nas áreas circundantes, mas a inversa também é verdadeira. As medidas de dinamizaçãoeconómica e de reabilitação social que se puserem em prática, o novo conceito de mobilidade para esta áreaum novo olhar sobre a forma de utilizar o espaço público e as políticas de segurança, protecção civil e higieneurbana, não podem ignorar o efeito de contaminação que vão ter nesta envolvente.

Para além das áreas da envolvente imediata, existem vários pontos, um pouco por toda a cidade, onde,em consequência do novo modelo de mobilidade que se propõe, será necessário intervir para resolver estran-gulamentos na rede viária.

Page 45: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 48

Os limites da área de intervenção

Page 46: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 49

2.2 Um novo Terreiro do Paço

A OCUPAÇÃO ACTUALOs edifícios do Terreiro do Paço foram construídos para sede do poder político e judicial. A importância

da reocupação do Terreiro do Paço, na proposta de estratégia para reabilitar a Baixa, está desenvolvida no ponto 1.4.Enquanto estrutura edificada, trata-se de uma construção com grandes espaços e pés-direitos muito

altos que, ao longo dos anos, foram sofrendo alterações interiores sem pôr em causa os princípios gerais da suamorfologia ou o desenho arquitectónico.

Compartimentar estes edifícios para acolher novos usos obriga a uma profunda reflexão, aliando orestauro e a modernização dos espaços e das instalações técnicas.

Na ala Nascente, onde está instalado o Ministério das Finanças, realizaram-se obras profundas na primeirametade do século XX. Nos quatro edifícios que constituem a fachada Norte da Praça, estão localizados os serviçosdo Ministério das Obras Públicas, dos Ministérios da Justiça e da Administração Interna e o Supremo Tribunal deJustiça. Na ala Poente, os Ministérios da Agricultura, o Estado-Maior da Armada e alguns serviços do Estado-Maiordo Exército. Na ala do Arsenal, estão instalados o Tribunal da Relação de Lisboa e diversos serviços da Armada. Noconjunto dos edifícios do Terreiro do Paço foram, no século passado, realizadas múltiplas obras, com substituiçãodas antigas estruturas de madeira por estruturas em aço ou betão armado. A ala do Arsenal, onde se localizava oInstituto Hidrográfico, foi toda reconstruída com estrutura de betão armado após o incêndio dos anos sessenta.

OPORTUNIDADESNo piso das arcadas que ladeiam o Terreiro do Paço, têm vindo a ser recuperados vários espaços para a

instalação de actividades abertas ao público.Para além do antigo café Martinho da Arcada, que constitui uma excepção, abriram recentemente ao

público o Welcome Center da CML, a galeria de exposições temporárias do Ministério das Finanças e o restau-rante Terreiro do Paço.

A área dos espaços deste piso, que confrontam com as arcadas, é de cerca 10.000 m2. É uma área con-siderável que poderia, sem prejudicar a entrada nobre dos Ministérios, destinar-se à instalação de um núcleocultural e de comércio especializado (ver ponto 3.1).

Nos pisos térreos dos edifícios que não enfrentam directamente a Praça do Comércio e no primeiro esegundo pisos, e águas-furtadas, a área total disponível é de cerca de 150.000 m2.

Considerando um rácio m2/posto de trabalho bastante generoso (25 m2/pt), poder-se-á, com um projec-to de reocupação e recuperação dos edifícios, albergar cerca de 5000 pessoas, um acréscimo significativo rela-tivamente aos cerca de 1000 postos de trabalho hoje existentes no mesmo local1.

1 O número de 982 ocupantes do Terreiro do Paço não inclui os efectivos da Armada, que ocupam parte da Ala Poente, nem os funcionários dos tribunais.

Page 47: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 50

Propõe-se, ainda, no Terreiro do Paço, a instalação de um Hotel (5 estrelas +) no quarteirão a poente do Arcoda Rua Augusta. Este hotel seria instalado em dois edifícios contíguos que completam o quarteirão, um virado àPraça do Comércio, onde está instalado o Ministério da Justiça, e outro com frente para a Rua do Comércio. Parainstalar o Hotel, aproveitar-se-iam, como áreas sociais, os grandes espaços e escadarias do Ministério da Justiça. EsteHotel será uma peça importante para o reforço da centralidade política e financeira da Baixa e um contributo paraa qualificação do turismo em Lisboa. Estima-se que o Hotel possa ter capacidade para 120 quartos.

Um novo Terreiro do Paço

Área utilizável para serviços = 140 000 m2 | Área disponível nas arcadas para actividades públicas: 10 000m2

Page 48: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 51

2.3 Um Centro Financeiro Integrado

Na Baixa estão localizados: o Ministério das Finanças, a sede do Banco de Portugal, as sedes doMontepio e do Banco Totta, e as instalações centrais do BCP, BPI, CGD, BES...

Além das Direcções destes Bancos, está situado na Baixa e no Chiado um conjunto alargado de serviçosbancários, com uma elevada densidade de balcões.

A área total de construção afecta à actividade bancária e seguradora é de cerca de 280 000 m2, dos quais20 600 m2 estão localizados no piso térreo dos edifícios.

Os 280.000 m2 correspondem a 13% da área bruta total de construção da Baixa-Chiado.O reforço de um Centro Financeiro Integrado será um contributo importante para a reabilitação da

Baixa. Esse reforço poderá não passar pelo aumento da área afecta à actividade bancária, mas sim pelamanutenção dos centros de decisão ou instalações representativas das instituições financeiras.

Admitindo que a actual cobertura de balcões possa ser excessiva face às inovações tecnológicas verifi-cadas nos últimos anos, seria de todo o interesse que a área a libertar, especialmente ao nível do piso térreo dosedifícios, fosse utilizada por actividades como, por exemplo, salas de exposições de colecções de arte ou outrosespaços culturais abertos ao público.

É desejável que, na reorganização das instituições financeiras e na sua relocalização na cidade, algunsespaços a libertar na Baixa venham a ser reocupados por outras instituições financeiras que pretendam con-centrar aqui os seus serviços, cabendo, nestes casos, à Câmara ou à entidade que vier a gerir o território daBaixa-Chiado, um papel de mediador nestas transferências. Esta entidade teria um papel proactivo, encarandoa reafectação de áreas numa visão alargada da cidade, podendo entrar nessa negociação com contrapartidasfora da área da Baixa-Chiado.

Em qualquer caso, será condição “sine qua non” para reforçar as funções de Centro FinanceiroIntegrado anular os factores negativos que levaram à perda de peso da Baixa como Centro de Serviços, isto é:aumento, em número, da oferta de estacionamento próximo do núcleo financeiro – zona Sul da Baixa – moder-nização da rede de telecomunicações e fomento do nível de qualidade dos serviços pessoais, em geral, da hote-laria, da restauração e da oferta cultural, bem como da qualidade do ambiente urbano – diminuição do ruído emelhoria da qualidade do ar, do espaço público e da segurança.

Page 49: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 52

Um centro financeiro integrado

Emprego actual serviços = 30 000

Page 50: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 53

2.4 Um Centro Comercial sem limites

SITUAÇÃO ACTUALO conjunto da Baixa-Chiado já foi o grande centro comercial da capital.A partir do anos 60, deu-se início à perda de importância relativa da zona como área comercial, proces-

so de declínio acelerado com o incêndio do Chiado de 1988.São múltiplas as razões que levaram a uma diminuição da procura e à perda de importância desta actividade.Nos últimos anos iniciou-se uma recuperação, em particular no Chiado e, um pouco, na Rua do Ouro

e na Rua Augusta.Apesar do declínio, na área de intervenção estão instalados 1136 estabelecimentos que ocupam 290 000 m2.A área comercial localiza-se, metade ao nível do r/c, e a outra metade nos pisos superiores em parte com

espaços de armazenagem, mas a sua distribuição pela área de intervenção é muito heterogénea, tanto quanto àdensidade como à qualidade.

No que respeita ao valor imobiliário dos espaços comerciais, é manifesto o valor mais elevado noChiado Sul e mais baixo na Baixa Nascente.

Na Baixa e no Chiado, existem ainda cerca de 500 estabelecimentos comerciais classificados pelo seuvalor histórico e patrimonial, alguns dos quais centenários, que são marcas de referência da cidade.

REJUVENESCIMENTO DO COMÉRCIOA estratégia para um rejuvenescimento do comércio assenta nos seguintes vectores:– Incremento da procura resultante de um maior número de pessoas a trabalhar e a viver na Baixa, no

Chiado e na Encosta do Castelo, e do número de visitantes;– Valorização das lojas de marca – comércio tradicional da Baixa;– Mais oportunidade para a instalação de novos empresários;– Institucionalização de uma entidade que promova a criação de uma marca Baixa-Chiado, negoceie

horários alargados e assegure a qualidade da limpeza, segurança e a gestão conjunta dos serviços;– Implementação de um sistema de logística partilhada (abastecimento e distribuição domiciliária) com

núcleos de armazenagem e “transfer” fora da área de intervenção. Esta medida permitirá aumentar as áreaslocáveis em cerca de 10%;

– Melhor espaço público com a supressão do tráfego de passagem, alargamento dos passeios e melho-ria do conforto e segurança dos peões;

– Aumento da capacidade de estacionamento em parques periféricos e à superfície, com um tarifárioque favoreça as pequenas permanências;

– Implementação de um sistema de mobilidade local com veículos eléctricos em movimento contínuoe melhoria da acessibilidade às colinas.

Page 51: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 54

Um centro comercial sem limites

Rua da Vitória - 30 000 m2 | Rua de Santa Justa - 40 000 m2

Page 52: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 55

UM PROJECTO ESTRUTURANTE E DUAS INTERVENÇÕES COMPLEMENTARESPara além destas acções a desenvolver em toda a Área de Intervenção, propõe-se desenvolver três

acções de fundo no domínio do Comércio, que se pensa possam ter um efeito catalisador e regenerador docomércio tradicional da Baixa e do Chiado. São eles:

– O desenvolvimento de duas ruas comerciais funcionando como centros comerciais a céu aberto;– Reinstalar na Praça da Figueira um mercado, parte a céu aberto;– Instalar duas áreas de comércio, restauração e lazer na zona ribeirinha junto ao Campo das Cebolas

e na Praça da Ribeira.

UM CENTRO COMERCIAL A CÉU ABERTOAs duas ruas comerciais – da Vitória e de S.ta Justa – apoiam-se em percursos pedonais assistidos (ver ponto

2.7). No caso da rua da Vitória, a galeria do Metro que liga a Rua do Crucifixo ao Largo do Chiado e uma nova ligação,também por escadas rolantes, que ligará a Rua dos Fanqueiros à Rua da Madalena e daí à Colina do Castelo de S. Jorge.

No caso da rua de S.taJusta, no extremo Poente existe o elevador de S.ta Justa e, no extremo Nascente,as escadinhas junto ao edifício da Polux nas quais se propõe instalar escadas rolantes ou equipamento domesmo tipo, a estudar.

Trata-se de duas ruas transversais que tiram partido dos fluxos pedonais que se pretendem incremen-tar entre o Vale – a Baixa – e as Colinas – o Chiado e o Castelo.

O objectivo é que estas ruas passem a ser geridas como um centro comercial, isto é, como uma enti-dade única que negoceie contratos de arrendamento de acordo com uma estratégia comercial e opere o espaçonas suas várias componentes – abastecimento, limpeza, segurança, promoção, etc.

Para viabilizar a operação, é necessário criar condições para que uma entidade única agregue a pro-priedade dos vários edifícios que constituem cada uma destas ruas, promova as operações de realojamento, senecessário, negoceie contratos de arrendamento, realize as obras de restauro e renovação necessárias e redis-tribua os usos pelos diferentes edifícios e pisos.

Este tipo de intervenção em cascos históricos tem sido desenvolvido em algumas cidades históricaseuropeias, por vezes por iniciativa municipal, noutras por promotores privados e, noutros casos ainda, emparceria público/privado.

O primeiro passo nesta operação será a avaliação pormenorizada do valor patrimonial dos edifíciosdestas duas ruas para se estabelecer, com rigor, os tipos de intervenções possíveis, tanto no que respeita a altera-ções no edificado, como nos usos e, depois, levar a efeito uma operação urbanística que fixe as alteraçõesfundiárias a efectuar e regulamente a obra a realizar.

Tais operações urbanísticas poderão ser autónomas para cada uma das ruas e escalonadas no tempo.Neste caso, deverá ser dada prioridade à Rua da Vitória e, só depois de avaliados os efeitos, se decidirá avançarpara a Rua de S.ta Justa.

Page 53: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 56

As intervenções na Rua da Vitória e na Rua de S.ta Justa desenvolver-se-iam no âmbito das competên-cias da SRU, adoptando um Documento Estratégico para um conjunto de quarteirões que estabeleça a formade associação de proprietários, a eventual aquisição, nos casos em que a concordância dos proprietários nãofosse possível, e o lançamento de um concurso entre operadores de centros comerciais.

Na análise já efectuada verifica-se que, em ambas as ruas, há edifícios setecentistas de grande valor emque apenas é admissível o uso comercial no piso térreo, mas outros em que é de admitir remodelações profun-das, ou mesmo o emparcelamento de dois ou mais prédios para tornar viável a instalação de lojas-âncora comdimensão relevante.

Numa estimativa preliminar, considerando já a avaliação do património arquitectónico em jogo, é pos-sível obter uma área bruta comercial total de cerca de 30 000 m2 na Rua da Vitória e de 40 000 m2 na Rua deS.ta Justa.

UM MERCADO NA PRAÇA DA FIGUEIRAA segunda intervenção consiste em repensar a forma de voltar a atribuir à Praça da Figueira um papel

comercial relevante, mantendo o seu carácter de espaço público de transição entre o Martim Moniz e a Baixa.O Plano de Eugénio dos Santos, executado quase integralmente, é a matriz da intervenção, dita pom-

balina, que constitui o grande legado patrimonial desta área. No Plano foi introduzido, nos anos 50 do séculoXX, uma alteração significativa: a demolição do Mercado da Praça da Figueira.

De facto, o plano de 1756 previa, apenas, duas Praças: o Rossio e a Praça do Comércio e, no quarteirãoa Nascente do Rossio, a construção do Hospital Real onde, antes do terramoto, se erguia o Hospital de Todosos Santos.

Não tendo sido construído o Hospital, foi, no seu lugar construído o Mercado da Praça da Figueira, quefoi demolido no século XX. Em vez das duas Praças previstas no projecto pombalino, surgiu um vazio no qualos edifícios, ao contrário do Rossio e da Praça do Comércio, não têm um desenho de fachadas de conjunto.

Apesar das obras recentemente realizadas, a construção do parque de estacionamento, a deslocalizaçãoda estátua e o revestimento dos pavimentos, a Praça da Figueira não conseguiu ganhar o estatuto de Praça.Uniformizar as fachadas de acordo com o projecto de revestimento a azulejos de Daciano da Costa poderá serum ponto de partida. Um outro será a recuperação parcial do espaço central.

Logo que se reduza o espaço afecto à circulação automóvel à superfície, serão possíveis novos usos paraa Praça da Figueira.

Desta forma, além de um espaço na placa central organizado para feiras semanais – filatelia, antigui-dades, produtos regionais e biológicos –, poderá ser equacionada a possibilidade de se implantar, numa estru-tura ligeira de aço e vidro, de baixa altura, algum comércio permanente, nomeadamente do ramo alimentar –gastronomia, restauração e, também, serviços de apoio aos visitantes (posto de informação turística, segurançae instalações sanitárias, etc.).

Page 54: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 57

ÁREAS DE COMÉRCIO, RESTAURAÇÃO E LAZER NA FRENTE RIBEIRINHANa terceira intervenção desenvolver-se-á uma área de comércio de média dimensão, com cerca de

18 000 m2 acima do solo, e parque de estacionamento subterrâneo para cerca de 700 veículos na zona do Campodas Cebolas.

Esta intervenção incide sobre um quarteirão limitado pelas Ruas do Cais de Santarém,Victor Machadoe Av. Infante D. Henrique, para o qual será necessário elaborar um projecto conjunto, que assegure amanutenção de alguns valores patrimoniais e a construção de um novo conjunto vocacionado para o comérciode produtos tradicionais, restauração e lazer.

Um edifício totalmente aberto para o exterior, com esplanadas, será adequado ao carácter popular doCampo das Cebolas, já com forte presença de estabelecimentos de restauração. A proximidade de Alfama e dofuturo terminal de navios de cruzeiro é garantia de sucesso.

O antigo Mercado da Ribeira é uma interessante estrutura de ferro construída no primeiro quartel doséculo XX.A sua desactivação, enquanto mercado de produtos alimentares, nos anos 90 permitiu acolher um conjuntodiversificado de usos. Porém, com a actual gestão do edifício ainda não se conseguiu tirar partido de todas aspotencialidades deste espaço.

É, portanto, oportuno proceder a uma avaliação, de forma a melhor aproveitar este espaço, consideran-do: a área disponível de 12 000 m2, o volume das naves centrais e a possibilidade de uma oferta suplementar deestacionamento público nas ruas adjacentes. O programa a estabelecer terá em conta a instalação de uma super-fície comercial que a REFER projecta para a estação do Cais do Sodré.

Page 55: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 58

Um centro comercial sem limites

Emprego actual Comércio e restauração: 17 000

Rua de Santa Justa: 40 000m2 Rua da Vitória: 30 000m2

Page 56: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 59

2.5 Mais gente a residir na Baixa

HABITAÇÃOActualmente, residem na Baixa Chiado cerca de 4.900 moradores.Após um prolongado período de declínio da população, seguindo, com mais intensidade, a tendência

de Lisboa – que perdeu nos últimos 20 anos 243 280 habitantes (menos 30%), enquanto o conjunto das UORperdeu, no mesmo período, 54% da sua população, – assiste-se actualmente a alguma recuperação.

Nos últimos anos verificou-se um esforço considerável na reconstrução de edifícios para fins habita-cionais, em particular no Chiado, caso da zona sinistrada pelo incêndio do Chiado, dos Terraços de Bragança,na Rua do Alecrim, do conjunto residencial da Rua Garrett e de alguns edifícios totalmente reconstruídos, quetotalizam cerca de 160 fogos.

Em simultâneo, continua a decorrer a reabilitação de alguns edifícios com intervenções mais profundas.A zona onde o processo de renovação não se verificou foi a zona da Baixa, a que não são estranhas as

restrições impostas pelo Plano Director Municipal.As características do parque habitacional da Baixa Chiado são muito diversificadas na tipologia e

dimensão dos fogos, estado de conservação e data de construção.A política pública de habitação é desenvolvida no ponto 3.2.

ACRÉSCIMO POSSÍVEL DE RESIDENTESNa Baixa Chiado já não existem espaços livres de dimensões relevantes, nem a possibilidade de construir

grandes edifícios para novos conjuntos residenciais.Acresce que a morfologia dos quarteirões da Baixa dificulta a insolação e a ventilação dos pisos mais

próximos do chão, pelo que apenas os dois últimos pisos apresentam condições favoráveis ao uso habitacional.Na área de intervenção existem 42 edifícios totalmente devolutos, além de inúmeras fracções na mesma

situação. A área total de fracções devolutas é de 274259 m2, dos quais cerca de 40% se localizam na Baixa, peloque, na óptica da sua reabilitação, parece mais aconselhável a utilização para comércio e serviços nos trêsprimeiros pisos e residência nos pisos superiores.

Seguindo esta linha de raciocínio, faz-se o exercício de afectar à habitação todos os fogos existentes ouespaços devolutos que já tenham tido esse uso, bem como os armazéns existentes nos pisos acima do 2.º andar.Dividindo a área bruta total obtida por um rácio de 125 m2/fogo e considerando uma média de 3 habitantes/fogo, chegou-se a uma capacidade total de 17700 residentes, incluindo os já existentes, assim distribuídos:

Page 57: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 60

Unidades Operativas de Reabilitação - SRU

Page 58: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

HABITAÇÃOActual Prevista (D)

UOR AB Resid. Censos Resid. Estimados AB Resid.m2 (A) SRU(B) m2 (C)

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 61

Quadro Geral de Áreas – Situação Actual e Futura

UOR01 - Alfama Rio 71 823 722 428 86 141 2067

UOR02 - Terreiro do Paço 57 54 _ 0 0

UOR03 - São Paulo 34 137 319 197 42 787 1027

UOR04 - Baixa Nascente 68 125 981 844 146 006 3504

UOR05 - Baixa Poente 18 129 316 302 65 797 1579

UOR06 - Chiado Sul 65 422 456 443 110 652 2656

UOR07 - Chiado Norte 77 026 880 737 118 274 2839

UOR08 - Praças 15 397 173 115 45 930 1102

UOR09 - Alto S.ta Catarina 65 226 913 990 85 330 2048

UOR10 - Boavista total 39 047 95 68 39 350 944

TOTAL 45 4387 4909 4122 740 268 17 766

(A) Valores obtidos dos Censos de 2001.(B) Valores obtidos com base no decrescimento verificado entre 1991 e 2001, transposto para 2006.(C) Valor calculado através de aplicação da fórmula: AB/125*3.(D) Soma das áreas de habitação e devolutos, armazéns, indústria, mista acima do piso térreo.

Page 59: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 62

HOTELARIATeoricamente, a capacidade hoteleira existente na Baixa é de 1700 camas, das quais 770 em hotéis de 3

e 4 estrelas e 1000 em residências e pensões, na sua larga maioria muito desqualificadas.Entre os hotéis, destacam-se Mundial, Avenida Palace, Borges, Regency Chiado e Bairro Alto, com um

total de cerca de 400 camas.As pensões e residenciais deverão ser objecto de uma inspecção cuidadosa para avaliar as que poderão

ser reabilitadas e as que devem ver as licenças canceladas. O uso indevido de algumas unidades está na origemde situações sociais e de segurança graves que hoje se vivem na Baixa.

Nos últimos anos, foram apresentados à CML projectos para a construção de mais 4 hotéis, com umacapacidade estimada de 620 camas, nomeadamente no Quarteirão da Pastelaria Suíça (Rossio), no Cais deSantarém e em parte do antigo Convento Corpus Christi.

Para estas diversas formas de hotelaria e residência existem na Baixa, no Chiado e na Encosta doCastelo alguns edifícios ou conjuntos de edifícios com características adequadas. Assim, para além dasintenções já manifestadas, na CML existem oportunidades na utilização de todo o edifício do antigo ConventoCorpus Christi, do Tribunal da Boa Hora, do antigo edifício da CML nos Restauradores e da actual sede daEgeac, na encosta do Castelo. Acresce o já referido hotel a instalar no quarteirão a Poente do Arco da RuaAugusta, que constitui a possibilidade mais relevante pelo efeito qualitativo que pode trazer a toda a área deintervenção.

Com este conjunto de projectos e outros que irão surgir, é possível aumentar a oferta turística na zonaem cerca de 1000 camas e reabilitar metade das existentes.

O reforço da capacidade hoteleira na Baixa-Chiado e na Encosta do Castelo é desejável e deve serincentivado através dos meios que estiverem ao alcance da Câmara. A hotelaria garante movimento ao longodas 24 h do dia, contribuindo para a vitalidade e segurança nas ruas, aumenta a procura no comércio e restau-ração. Hotelaria de qualidade favorece o incremento do movimento dos cruzeiros turísticos e, eventualmente,cria condições para os cruzeiros com origem e destino em Lisboa. A componente dos “aparthotels” e dospequenos apartamentos com serviços comuns (lavandaria e segurança), para os chamados “city-users”, tambémdeve ser incrementada.

Page 60: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 63

Mais gente a residir na Baixa-Chiado

Emprego actual Hotelaria: 800 | Actualmente: 1300 camas hoteleiras | Proposta: 1000 camas hoteleiras

Page 61: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 64

Mais gente a residir na Baixa-Chiado - Hotelaria

Page 62: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 65

Mais gente a residir na Baixa-Chiado

Actualmente: 4 900 residentes | Expectativa: 17 700 residentes

Page 63: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 66

2.6 Uma reabilitação sustentável do edificado

AS DISPOSIÇÕES DO PDMExceptuando a frente ribeirinha, no território da Baixa-Chiado, o espaço público – praças, ruas e lar-

gos – está totalmente definido e as parcelas ou lotes urbanos estão edificados. Já não existem vazios a preenchermas, sim, edificado a reabilitar ou a reconverter.

No PDM em vigor, e excepção feita a parte da área portuária entre Santa Apolónia e o Campo dasCebolas, as UOPG 1, 3, 8, 9, 10 e 11 cobrem, total ou parcialmente, a área de intervenção. De entre as UOPG,destaca-se a unidade UOPG 8 da Baixa, que cobre cerca de metade do total da área de intervenção.

Na Planta de Ordenamento – Classificação do Espaço Urbano, a área de intervenção subdivide-se nosseguintes espaços: Área Histórica da Baixa, Área Histórica Habitacional, Área Consolidada de Edifícios deUtilização Colectiva Terciária, Área Usos Especiais e Área de Equipamentos e Serviços Públicos, nas quais osvários tipos de intervenção urbanística estão estabelecidos, respectivamente, nos artigos 38.º a 40.º, 31.º a 37.º,62.º e 63.º, 85.º a 89.º do Regulamento do Plano Director Municipal de Lisboa (RPDM).

O PLANO DE EUGÉNIO DOS SANTOSNo Plano de Reconstrução da Baixa Pombalina de 1756, traçado urbano, projectos das infra-estruturas

do espaço público, desenho das fachadas e técnicas construtivas são indissociáveis. Mas é necessário ter pre-sente que o preenchimento dos espaços edificáveis com frentes de lote de dimensões variáveis demorou maisde um século e que, durante esse período, se verificaram algumas alterações na volumetria dos edifícios e nastécnicas construtivas. Por outro lado, se na origem todo o espaço era destinado a residência, com excepção dor/c previsto para comércio ou actividades artesanais, até aos nossos dias, muitas alterações dos edifícios pom-balinos foram feitas rasgando vãos, em particular no r/c comercial, aumentando pisos, alterando ou substituindoa estrutura “em gaiola”. Alguns edifícios foram demolidos e reconstruídos com projectos modernos querompem com o pombalino, outros, mais recentes, com “pastiches” neopombalinos.

Hoje, a situação é muito heterogénea quanto à fidelidade ao projecto original, ao valor patrimonial efec-tivo do existente, ao estado de conservação e ao uso dos vários pisos.

É também uma situação heterogénea quanto ao estatuto da propriedade com um peso significativode propriedade institucional, mas também uma presença significativa, não negligenciável, dos edifícios dividi-dos em propriedade horizontal (12%), situação que um projecto de reabilitação não pode deixar de ter emconta.

Page 64: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 67

Uma reabilitação sustentável do Património histórico-arquitectónico

Baixa Pombalina Anos 30

Page 65: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 68

RECONHECIMENTO DA SITUAÇÃO ACTUAlO levantamento do património arquitectónico relevante tem vindo a ser realizado. Todos os edifícios

deverão ser avaliados em profundidade, num trabalho iniciado pela Unidade de Projecto Baixa Chiado e pelaDGEM, que está a ser completado pela Baixa Chiado SRU. Esta base de informação é indispensável para se for-mularem propostas sustentáveis de reabilitação.

Existem fichas, preenchidas a partir do levantamento feito a cada edifício, com a identificação dos ele-mentos construtivos e decorativos a preservar, das alterações introduzidas ao projecto inicial, do estado de con-servação e patologias construtivas, dos usos actuais, da propriedade, etc.

Feito o levantamento, foi possível quantificar a área bruta de construção existente, por unidades deordenamento de reabilitação (UOR), com a discriminação dos usos e do estado de conservação.

A área bruta de construção total existente é de 2 157 793 m2, dos quais 454 387 m2 (24%) são de usohabitacional, 44 636 m2 (2%) de Hotelaria, 289 420 m2 (15%) de Comércio, 601 839 m2 (32%) de Serviços, 104111 m2 (5%) indiscriminados2, 76 439 m2 (9%) de Equipamentos, 309 842 m2 de edifícios singulares (igrejas,museus, etc.), 3 260 m2 (0,01%) de Indústria.

Esta repartição por grandes categorias de usos, com um quarto da área destinada a habitação, outro quar-to a comércio e metade aos serviços, é reveladora de uma área central potencialmente bastante viva graças ao pesoda componente habitacional, vitalidade que tende a ser muito ampliada devido à forte atracção turística.

Actualmente, não obstante ser esta a distribuição dos usos, a situação de decadência é evidente pelaperda de valor das actividades, pela degradação da habitação e pelo mau estado de conservação da maioria dosedifícios.

É de realçar que 274 259 m2 correspondentes a 13% da área total se encontram devolutos, sintoma evi-dente da desertificação.

Quanto ao estado de conservação do edificado, cerca de 65% dos edifícios necessitam de obras dereabilitação, correspondendo, aproximadamente, 1 400 000 m2.

OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO URBANÍSTICAExceptuando a área portuária (Área de Usos Especiais, segundo o RPDM), com a informação disponív-

el é já possível estabelecer regras que enquadrem a diversidade de intervenções, tendo em conta a natureza decada objecto.

Aliás, com excepção da UOP 8 (Baixa) e da UOP 11 (Eixo Terciário das Avenidas), nas obras queimpliquem alterações do edificado ou dos usos, o RPDM já estabelece as regras a seguir.

2 Igrejas, caves, estacionamentos, etc.

Page 66: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 69

De acordo com o Regulamento do PDM (Art.º 39.º), na Área Histórica da Baixa esse instrumento podeser um plano de pormenor ou um regulamento municipal que tenha por objectivos a conservação e revitaliza-ção do conjunto arquitectónico e urbanístico.

Pelas razões expostas nos pontos 4.2 e 4.6 deste relatório, a solução mais adequada para a Baixa-Chiado,com exclusão da frente ribeirinha, é a elaboração dum regulamento urbanístico com o detalhe necessário ágarantia da salvaguarda do património histórico e arquitectónico.

Relativamente à frente ribeirinha que se estende de Santa Apolónia ao Aterro da Boavista, limitada aSul pelo rio e a Norte pelas ruas Jardim do Tabaco,Terreiro do Trigo, Cais de Santarém, Bacalhoeiros, Comércio,Largo do Município, Arsenal, Largo do Corpo Santo, Rua de São Paulo, Instituto Industrial, onde se prevêemalgumas situações de reestruturação urbanística com redefinição da estrutura fundiária, o instrumento maisindicado é um Plano de Pormenor ou outro instrumento de ordenamento a definir para esta zona entre a CML,a APL e a entidade gestora da intervenção.

PRINCÍPIOS PARA A REABILITAÇÃO DO EDIFICADOA reabilitação do edificado significa encarar os elementos patrimoniais distintivos da Baixa-Chiado

como um valor cultural inalienável, mas a reabilitação também tem de ser social, económica e ambientalmentesustentável.

Restaurar e preservar o património sem assegurar melhores condições para as pessoas viverem, trabalharem,comprarem e fruírem do espaço público em geral e dos espaços culturais em particular, não é o caminho.

Por estas razões, é indispensável encontrar um equilíbrio entre as exigências de conservação e restauroe a introdução de melhorias no habitat com a integração de requisitos de conforto que, hoje, são indispensáveis:

– A introdução de elevadores deverá ser uma regra, com excepção apenas nos casos em que os valorespatrimoniais o impeçam. Hoje, apenas 15% dos edifícios da Baixa Chiado dispõem de elevador;

– Deve ser generalizada a introdução de técnicas construtivas, materiais e sistemas de condicionamen-to de ar e aquecimento que contribuam para melhorar as condições de conforto e de poupança energética eevitem a intrusão de aparelhagem nas fachadas, desde que ajustada ao restauro e reabilitação do património.

– Pelas razões de segurança invocadas no ponto 2.5, deve ser promovida a demolição dos pisos a maisque ultrapassem a regra do plano original e a altura dos edifícios contíguos;

– A demolição de edifícios sem valor patrimonial (do século XIX ou posteriores) e a sua substituição poredifícios com arquitectura contemporânea poderá ser aceite, desde que sigam os princípios e regras do desenhodo plano/projecto da Baixa. Não faz sentido manter fachadas que não são originais nem obrigar a um modeloneopombalino.

Page 67: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 70

O projecto original dos edifícios da Baixa não previa o revestimento das fachadas com azulejos. Porém,no século XIX, esse revestimento foi adoptado um pouco por toda a Baixa e Chiado, essencialmente por razõesde protecção hidrófuga dos paramentos da fachada. O uso do azulejo introduziu um novo carácter distintivonesta zona da cidade, pelo que a sua utilização está hoje integrada.

No projecto inicial, a frente de cada lote foi o resultado de um processo de perequação que regulou osdireitos de edificabilidade de cada proprietário e a distribuição dos usos em cada prédio: uma tipologia decomércio e actividades no rés-do-chão e primeiros pisos, e residência nos pisos superiores.

A prática mostrou, desde o início do século XX, que a instalação de actividades económicas, designada-mente escritórios e superfícies comerciais, necessitavam de uma outra compartimentação e dimensão dosespaços. Aliás, a razão da saída de muitas instituições da Baixa, nomeadamente bancos, deve-se à impossibili-dade de aí encontrarem os espaços com as características necessárias à sua actividade.

Se hoje se pretende fixar os serviços financeiros e atrair novas actividades, há que procurar serviçosque se adaptem às condições físicas existentes e, também, adaptar espaços às exigências actuais dessas activi-dades.

O emparcelamento de edifícios, sobretudo nas ruas da Baixa que são praticamente de nível, não con-traria a essência do projecto pombalino, desde que se mantenham as paredes corta-fogo entre prédios e alógica de desenho do alçado original.

Uma outra componente da construção, que deve ser vista com cuidado, é a da cobertura dos edifícios.As vistas dos miradouros das colinas sobre a Baixa são um dos ex-líbris de Lisboa. Cuidar das cober-

turas, é uma exigência. É indispensável corrigir a proliferação de aparelhagens técnicas, nomeadamente degrandes equipamentos de AVAC3 e a substituição de telha tradicional pelo zinco. A imagem do conjunto dostelhados da Baixa deve ser salvaguardada.

3 Sistemas de arrefecimento, ventilação e ar-condicionado.

Page 68: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 71

A recuperação do azulejo

Page 69: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 72

CAPACIDADE E USOS FUTUROSComo se referiu, o território da Baixa-Chiado está todo preenchido, pelo que as áreas novas a edificar

resultam da substituição de áreas já existentes, e as raras subidas de cércea serão compensadas pelos pisos asuprimir.

O valor da área bruta total de construção, mesmo depois da área reabilitada, manter-se-á à volta dos2 158 000 m2 atrás referidos.

Porém, admite-se que, com medidas de apoio a mais residência, a supressão dos usos afectos à indús-tria e a redução de áreas de armazenagem, as percentagens de usos por categorias tenham pequenas oscilações.

Tendencialmente, com o projecto de reabilitação, a distribuição de área por usos e por UOR será a seguinte:

(A) Valores obtidos dos Censos de 2001.(B) Valores obtidos com base no decrescimento verificado entre 1991 e 2001, transposto para 2006.(C) Valor calculado através de aplicação da formula: AB/125*3.(D) Soma das áreas de habitação e devolutos, armazéns, indústria, mista acima do piso térreo.(E) Valor calculado através de aplicação da fórmula: AB/25.(F) Valor corresponde à soma das áreas de comércio e devolutos, armazéns, indústria, mista no piso térreo e caves.(G) Valor igual à soma da área de 'outra', mista, armazéns. (H) Área distribuída para o comércio e habitação.(I) Área aproximada dos edifícios não medidos (igrejas, monumentos, museus, teatros, edifícios de alto valor arquitectónico) e edifícios sem informação.(J) Total de edifícios na ZI.(L) Edifícios não medidos (igrejas, monumentos, museus, teatros, edifícios de alto valor arquitectónico) e edifícios sem informação.

Fonte: Baixa-Chiado SRU

HABITAÇÃO HOTELARIA COMÉRCIO

Área total Actual Prevista (D) Actual Prevista Actual Prevista (F)

UOR com caves AB Res. Censos Res.Estimados AB Resid. AB N.º camas AB N.º camas AB Postos AB Postos

m2 m2 (A) SRU (B) m2 (C) m2 m2 estimado (E) m2 trabalho (E) m2 trabalho (E)

UOR01 - Alfama Rio 164.771 71.823 722 428 86.141 2067 2777 109 6140 310 13.627 545 25.899 1036

UOR02 - Terreiro do Paço 67.613 57 54 – 0 0 0 0 10.000 280 910 36 1139 46

UOR03 - São Paulo 99.197 34.137 319 197 42.787 1027 1311 26 1311 26 12.755 510 14.316 573

UOR04 - Baixa Nascente 355.667 68.1245 981 844 146.006 3504 9645 138 9645 400 67.648 2706 80.691 3228

UOR05 - Baixa Poente 314.083 18.129 316 302 65.797 1579 412 200 412 400 71.695 2868 80.851 3234

UOR06 - Chiado Sul 453.739 65.422 456 443 110.652 2656 0 0 19.999 400 37.118 1485 48.605 1944

UOR07 - Chiado Norte 265.761 77.026 880 737 118.274 2839 11.829 234 11.829 234 31.946 1278 43.697 1748

UOR08 - Praças 172.640 15.397 173 115 45.930 1102 15.773 738 32.945 900 35.302 1412 38.544 1542

UOR09 - Alto S.ta Catarina 152.529 65.226 913 990 85.330 2048 2178 65 2178 65 14.263 571 18.276 731

UOR10 - Boavista total 111.794 39.047 95 68 39.350 944 710 – 710 – 4155 166 7080 283

TOTAL 2.157.793 454.387 4909 4122 740.268 17.766 44.636 1510 95.170 3015 289.420 11.577 359.098 14.364

Capacidade e usos futuros

Page 70: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 73

Fonte: Baixa-Chiado SRU

SERVIÇOS/POLÍT/ADMIN OUTROS EQUIPAMENTOS

Actual Prevista Actual (G) Prevista (H) Actual Prevista

AB Postos AB Postos AB AB AB Postos AB Postosm2 trabalho (E) m2 trabalho (E) m2 % m2 % m2 trabalho (E) m2 trabalho (E)

UOR01 - Alfama Rio 37.830 1513 37.830 1513 11.773 7,1% 0 0% 2451 98 2451 98

UOR02 - Terreiro do Paço 52.857 2114 52.857 2114 0 0,0% 0 0% 0 0 0 0

UOR03 - São Paulo 29.383 1175 29.383 1175 1579 1,6% 0 0% 2837 113 2837 113

UOR04 - Baixa Nascente 95.959 3838 95.959 3838 32.087 9,0% 0 0% 2729 109 2729 109

UOR05 - Baixa Poente 108.719 4349 108.719 4349 15.814 5,0% 0 0% 3589 144 3589 144

UOR06 - Chiado Sul 122.990 4920 102.991 4120 12.572 2,8% 0 0% 13.856 554 13.856 554

UOR07 - Chiado Norte 56.498 2260 56.498 2260 14.953 5,6% 0 0% 7046 282 7046 282

UOR08 - Praças 40.318 1613 35.543 1418 10.165 5,9% 0 0% 22.167 887 22.167 887

UOR09 - Alto S.ta Catarina 33.661 1346 33.661 1346 1770 1,2% 0 0% 7433 297 7433 297

UOR10 - Boavista total 23.624 945 23.624 945 3396 3,0% 0 0% 14.332 573 14.332 573

TOTAL 601.839 12.037 576.975 11.539 104.111 4,8% 0 0,0% 76.439 3058 76.439 3058

Fonte: Baixa-Chiado SRU

INDÚSTRIA DEVOLUTOS EDIFÍCIOS SINGULARES Edifícios

Actual Prevista Actual (G) Prevista (H) Actual

AB Postos AB Postos AB AB AB Calculados Totalm2 trabalho (E) m2 trabalho (E) m2 % m2 % m2 %

UOR01 - Alfama Rio 563 0 17.969 10,9% 0 0% 5959 4% 138 154

UOR02 - Terreiro do Paço 0 0 1163 1,7% 0 0% 12.627 19% 13 18

UOR03 - São Paulo 0 0 10.684 10,8% 0 0% 6510 7% 56 66

UOR04 - Baixa Nascente 582 0 60.841 17,1% 0 0% 18.051 5% 251 259

UOR05 - Baixa Poente 289 0 43.058 13,7% 0 0% 52.379 17% 148 153

UOR06 - Chiado Sul 210 0 46.314 10,2% 0 0% 155.257 34% 130 138

UOR07 - Chiado Norte 1216 0 39.213 14,8% 0 0% 26.034 10% 159 172

UOR08 - Praças 0 0 28.613 16,6% 0 0% 4903 3% 87 100

UOR09 - Alto S.ta Catarina 0 0 24.549 16,1% 0 0% 3448 2% 108 110

UOR10 - Boavista total 0 0 1856 1,7% 0 0% 24.675 22% 33 49

TOTAL 2860 0 274.259 12,7% 0 0% 309.842 14,4% 1123 1219

Capacidade e usos futuros

Page 71: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 74

Áreas edificáveis, edifícios estratégicos, interiores de quarteirão a recuperar

Page 72: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 75

2.7 Pacificar o trânsito na Baixa, condição para a Reabilitação do Centro da Cidade

TRÁFEGO ACTUALDe acordo com contagens de tráfego realizadas expressamente para este estudo, chegam à Praça do

Comércio, em hora de ponta4, cerca de 5500 veículos e, entre as 7h00 e as 21h00, 65 000 veículos. Considerandoas características urbanísticas do local, trata-se de volumes muito elevados, ligeiramente inferiores à procuranos grandes nós rodoviários da cidade, que foram concebidos como tal: cerca de 8000 veículos em hora deponta, na Praça de Espanha, e de 7000 no Marquês de Pombal.

Do tráfego que procura a Praça do Comércio, a maioria – cerca de 76% na hora de ponta da tarde – des-tina-se a zonas fora da zona da Baixa-Cais do Sodré. As análises aos resultados dos inquéritos Origem/Destino,realizados nesta Praça, indicam que, para uma parte significativa destes veículos, o trajecto através da circularribeirinha não é sequer o caminho mais curto para a viagem que pretendem efectuar, pelo que, facilmente, seri-am desviados desta zona se houvesse boas alternativas na restante rede circular de Lisboa.

Os efeitos deste volume de tráfego de atravessamento em todo o vale das Avenidas da Liberdade eAlmirante Reis e na Baixa são muito penalizadoras para a qualidade de vida nesta zona.

RUÍDO E POLUIÇÃO DO ARPela análise do Mapa de Ruído Global, na Baixa, e assumindo que com o zonamento acústico previsto

será a classificação de Zona Mista, poderá concluir-se que, em ambos os períodos de referência, diurno e noc-turno, a maioria da área de intervenção apresenta um ambiente sonoro tranquilo, com valores do parâmetrocaracterístico (LAeq) abaixo dos limites sonoros estabelecidos legalmente. Contudo, verifica-se existirem ultra-passagens dos limites legais de ruído em torno das vias mais movimentadas, nomeadamente nas avenidas mar-ginais – Infante D. Henrique, Ribeira das Naus e 24 de Julho – e em vias hierarquicamente inferiores, mas detráfego intenso, tais como a R. Áurea, a R. da Prata, a R. dos Fanqueiros e a R. da Madalena. Também as praçascomo a Pç. dos Restauradores, Rossio, Pç. da Figueira, Pç. do Comércio, Pç. D. Luís I apresentam níveis sonorossuperiores aos limites de ruído, tanto em período diurno como nocturno.

Concluindo-se, à luz da actual legislação, que, sem serem reduzidos os níveis sonoros nos locais atrásreferidos, através da implementação de Medidas de Minimização de Ruído (suportadas no Plano de Mobili-dade), não é permitida a utilização do edificado, mais exposto, para usos mistos, e muito menos para usos sen-síveis como habitação, escolas ou similares.

Durante nove dias, entre 5 e 13 de Agosto, a equipa DCEA-FCT/UNL (Departamento de Ciências eEngenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa) realizou umacampanha de monitorização de qualidade do ar com uma estação instalada na esquina da Rua da Prata com aRua da Vitória.

4 Das 9h00 às 10h00.

Page 73: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 76

Desta verificação conclui-se que, tanto no que respeita às partículas PM10 como ao dióxido de azoto,os valores medidos ultrapassam os limites estabelecidos na legislação e são superiores, nomeadamente, aos veri-ficados na Av. de Liberdade. Os elevados níveis de poluição do ar têm origem no forte tráfego automóvel, influ-enciados pelas fracas condições de dispersão verificadas no local, consequência do traçado das ruas que apre-sentam uma disposição que propicia o efeito “canyon”.

No estudo conclui-se, também, que os problemas da qualidade do ar verificadas no local têm origem amontante e relacionam-se essencialmente com o elevado nível de tráfego rodoviário que circula diariamente nacidade de Lisboa, em particular no centro e na zona ribeirinha.

O intenso tráfego de atravessamento que está na origem de níveis de ruído e da poluição do ar, para alémde condições toleráveis, origina situações de insalubridade e desconforto para quem aqui reside e trabalha, éapontado pelos comerciantes como uma penalização à sua actividade, torna insegura e incómoda a utilização doespaço público pelos peões, impede uma utilização mais racional dos transportes públicos – um táxi ou um veículoligeiro não podem parar na R. do Ouro ou da Prata para largarem ou tomarem um passageiro – degrada a estru-tura edificada antiga com uma notória conspurcação das fachadas e vibrações excessivas das estruturas.

Reduzir drasticamente o tráfego de atravessamento na Baixa-Chiado é uma condição indispensável àreabilitação sustentável, tanto económica, como social e ambiental da Baixa-Chiado, e deverá ser fixado comoum objectivo a atingir no horizonte da 1.ª fase do projecto.

O ACTUAL MODELO DE MOBILIDADE EM LISBOAA organização tradicional dos grandes canais de mobilidade (transporte individual e transporte público)

de Lisboa tem-se caracterizado por um modelo rádio concêntrico que apresenta o seu centro no Terreiro do Paçoe os principais eixos radiais constituídos pela circular ribeirinha e as Avenidas da Liberdade e Almirante Reis.

As novas acessibilidades rodoviárias construídas a propósito da Expo’98 vieram reforçar a importânciada circular ribeirinha (Av. Infante D. Henrique, Ribeira das Naus, 24 de Julho e Av. da Índia) como um eixo fun-damental da entrada e distribuição na cidade. Esse reforço é tanto maior quanto mais difícil e mais imprevisívelé a circulação nas restantes circulares, das quais apenas a 2.ª Circular está concluída.

Acresce a este conceito o sistema de controle de tráfego semafórico GERTRUDE que, ao limitar osfluxos de entrada dentro do perímetro do centro mais tradicional da cidade, tem permitido a criação decondições de circulação dentro deste perímetro bem melhores que as que ocorrem na sua envolvente. Estasituação associada a outras situações conjunturais como sejam as obras do Túnel do Marquês, tem feito comque a Av. da Liberdade, a Av. Almirante Reis e o atravessamento da Baixa se tornem alternativas atractivas paraquem tem origem ou destino a Norte ou para Poente da cidade, aproveitando a circular Ribeirinha.

Page 74: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 77

Tráfego de atravessamento na Praça do Comércio (%)

HPT: 18h00-19h00

Page 75: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 78

Um novo conceito de mobilidade – um espaço não atravessável

Page 76: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 79

O MODELO DE CIRCULAÇÃO PROPOSTO PARA A BAIXARetirar o tráfego de atravessamento na Baixa-Chiado não significa tornar a Baixa e o Chiado inacessí-

veis ao TI, mas sim penalizar fortemente o seu atravessamento.A estratégia para a contenção do tráfego na Baixa passa pela conjugação de um modelo de circulação

que não facilita o seu atravessamento aliado a um sistema de controle de tráfego (baseado no sistemaGERTRUDE) que apenas permita a entrada na zona de intervenção dos volumes de tráfego compatíveis com acapacidade oferecida. O desvio do tráfego de atravessamento será feito a montante, para o sistema de circularesda cidade e de forma gradual desde a periferia até ao centro da cidade.

O conceito de intervenção para a redução do atravessamento da Baixa Chiado considera os seguintesprincípios orientadores:

– A redução de tráfego deve ser realizada de forma criteriosa por forma a assegurar que, ao atacar o pro-blema do excesso de tráfego de atravessamento, não se reduz irremediavelmente à acessibilidade à Baixa-Chiado(enquanto destino das deslocações), sem o que se poderia estar a comprometer o objectivo da sua revitalização;

– A circulação dentro da Baixa-Chiado deve ser prioritariamente afecta aos transportes públicos, àlogística e ao transporte individual gerado pelas actividades existentes na Baixa-Chiado, designadamente veícu-los de residentes e de trabalhadores nos acessos aos parques privados;

– O tráfego gerado pelos visitantes da zona deve ser maioritariamente contido nas portas de entrada da zonade intervenção, através da criação de parques de estacionamento de rotação de grande capacidade em cada porta;

– A contenção do tráfego nas entradas da ZIBC deve ser assegurada através do sistema de controle detráfego semafórico e de um esquema de circulação interno pouco directo, dissuasor de uma travessia fácil da zona.

O tráfego de atravessamento tem duas componentes principais: fluxos norte-sul (e vice-versa) em movi-mentos que percorrem os principais eixos radiais de aproximação à Baixa (Av. da Liberdade e Av. AlmiranteReis) em direcção às zonas situadas a nascente e poente da Baixa-Chiado e mais facilmente acedidas a partir dacircular ribeirinha (eixo da Av. 24 de Julho e Av. Infante D. Henrique). Estes fluxos atravessam a Baixa pelas ruasdo Ouro e Fanqueiros no sentido descendente e pelas ruas da Prata e da Madalena no sentido ascendente. Asegunda componente, que é a que tem maior peso, é constituída pelos fluxos poente-nascente que maioritari-amente circulam ao longo da circular ribeirinha.

A forma mais eficaz para reduzir o tráfego de atravessamento é impedir o tráfego correspondente a estaúltima componente, interrompendo a circular ribeirinha entre o Cais do Sodré e o Campo da Cebolas. A trans-posição nascente-poente, e vice-versa, só será possível através de percursos sinuosos com passagens pelas ruas daconceição e de S. Julião, o que será só por si dissuasor destes movimentos. A alternativa à Av. Ribeira das Naus,para servir o tráfego de natureza local que circula de poente para norte, e vice-versa, é a rua do Arsenal que passaa ter dois sentidos de circulação para TI e TP.

Page 77: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 80

Conceito de circulação

Page 78: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 81

A eliminação da circulação nas faixas laterais (poente e nascente) da Praça do Comércio será, por seuturno, o principal elemento condicionante para o tráfego de atravessamento norte-sul.

Os efeitos dissuasores resultantes destes cortes, conjugados com o sistema de controle de tráfego quedeverá ser instalado nas portas de acesso à zona de intervenção, irão reduzir o tráfego dentro da zona da Baixa--Chiado para os níveis que garantem uma boa acessibilidade ao tráfego gerado localmente.

Em termos globais, os condicionalismos ao nível do transporte individual apontam para reduções daordem dos 75% em relação ao tráfego que hoje acede à zona de intervenção, passando-se dos cerca de 7500veículos actuais em hora de ponta (no somatório das entradas na zona de intervenção) para cerca de 1800 veícu-los por hora.

As análises realizadas permitem concluir que estes volumes serão compatíveis com as capacidadesdisponíveis na rede viária que será oferecida. Estas reduções permitem ainda alterar para uma via por sentidoa circulação nas ruas do Ouro e da Prata e alargar o espaço destinado à circulação pedonal.

Independentemente das soluções mais definitivas que vierem a ser adoptadas para a circulação na zonada Baixa, deve fixar-se como objectivo o corte de toda a circulação a automóveis ligeiros (TI), na Praça doComércio, com excepção do acesso de veículos oficiais, de serviço ou emergência e do acesso ao parque de esta-cionamento previsto para a Praça.

Pretende-se, nesta fase dos trabalhos, que a proposta para a circulação na Baixa-Chiado correspondaapenas à formalização de um conceito cujo objectivo principal é reduzir significativamente o tráfego de atra-vessamento e libertar do tráfego rodoviário toda a frente ribeirinha que se estende do Cais do Sodré até aoTerreiro do Paço. As soluções propostas são suficientemente flexíveis para se poder introduzir em fases poste-riores, após o aprofundamento das análises agora realizadas, as alterações e ajustamentos que melhor acessibi-lidade à zona da Baixa-Chiado.

Retirar o trânsito da Praça do Comércio e reduzir o tráfego de atravessamento na Baixa, para além decriar novas oportunidades para a fixação de actividades e de residentes com outras condições de conforto, vaipermitir uma melhoria significativa de utilização do espaço público e, sobretudo, oferecer à cidade a frenteribeirinha entre S.ta Apolónia e o Cais do Sodré.

OS TRANSPORTES PÚBLICOSNa grande Lisboa, a Baixa é o local com maior acessibilidade por transportes públicos.Diariamente, afluem aos terminais da Baixa-Cais do Sodré, Sul-Sueste, Rossio, S.ta Apolónia e Estação

de Metro – cerca de 200.000 pessoas em meios de transportes públicos pesados, dos quais 2/3 são oriundos damargem Norte e 1/3 da margem Sul, utilizando os barcos que cruzam o Tejo. Os tempos de viagem variam entreos 10 e os 35 minutos. Este é um potencial de fundamental importância para atrair mais gente à Baixa-Chiadoe é revelador do papel nuclear da Baixa-Chiado em relação à grande Lisboa de ambas as margens do Tejo.

Page 79: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 82

Lisboa, cidade das duas margens do Tejo

Diariamente confluem na Baixa 200 000 pessoas, vindas em transporte público52 500 pessoas da margem Sul | 140 500 pessoas da margem Norte

Cacilhas: 10 min | Seixal: 15-20 min | Barreiro: 20 min | Montijo: 25-30minAzambuja: 45 min | Sintra: 40 min | Cascais: 35 min

Page 80: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 83

Esta situação de centralidade única, em que o transporte público é já hoje o grande meio de acesso, éreforçada pelo facto de as deslocações a pé serem muito fáceis na Baixa e poderem ser melhoradas nas relaçõescom as colinas do Chiado e do Castelo.

Privilegiar o transporte público (TP),que já é dominante no acesso à Baixa, e conter a circulação dos TI é um pontode partida, sem prejuízo de se ter consciência que a atracção de actividades qualificadas e de novos residentes para a Baixaimplica também o acesso e a garantia de estacionamento em transporte individual.

O serviço de transporte público deve ser reforçado de modo criterioso através de um novo modelo que tenhaem conta o prolongamento da linha azul do Metro até Santa Apolónia, com uma estação no Terreiro do Paço e a neces-sidade de reduzir os fluxos de atravessamento na zona do Terreiro do Paço.Actualmente, existe uma forte concentraçãode passagens TC nas ruas do Ouro e da Prata, com especial destaque para esta última que regista 98 passagens (auto-carro e eléctrico) em hora de ponta.A existência do metropolitano vai permitir encurtar as linhas radiais, transferindoos pontos de término (Praça do Comércio, Cais do Sodré, Martim Moniz, Restauradores e Santa Apolónia para Rossioe Sul e Sueste) de modo a evitar o atravessamento da zona da Baixa. Consegue-se desta forma passar para metade aspassagens nas Ruas do Ouro e da Prata. Complementarmente, admite-se vir a criar um serviço de “navette” com auto-carros minibus apoiados em tecnologias ambientalmente mais suaves, cujo principal objectivo é servir os utentes doTI que deixam os seus veículos nos parques de estacionamento instalados nas 4 grandes portas de entrada da zonade intervenção, mas que também poderá funcionar como um serviço de reforço na articulação entre os 4 importantesinterfaces de transporte da Baixa Chiado: Cais do Sodré, Sul e Sueste, Martim Moniz e Rossio.

Ainda em relação ao serviço de eléctrico, será considerada a possibilidade de criar uma antena do eléc-trico 15 com extensão até Santa Apolónia, sem prejuízo da ligação actual à Praça da Figueira.

Com o objectivo de oferecer à cidade toda a frente ribeirinha entre o Cais do Sodré e Santa Apolónia,prevê-se passar para o eixo da Rua do Arsenal o serviço de transporte colectivo que actualmente serve o corre-dor ribeirinho naquela zona.Trata-se de uma alteração que irá implicar mudanças na gestão daquele canal entreo Cais do Sodré e o Terreiro do Paço, no sentido de oferecer mais capacidade instalada para satisfazer osacréscimos de procura previstos.

COMO ATENUAR O CARÁCTER RADIO-CONCÊNTRICO DA REDE DA CIDADECortar a circular ribeirinha e interromper o atravessamento Norte-Sul da Baixa só é possível com medi-

das de gestão do tráfego no conjunto da cidade, com uma nova política de estacionamento e com intervençõespontuais na rede principal.

O plano de mobilidade elaborado no âmbito dos estudos de Revisão do PDM, peça-chave nesta refor-mulação, deverá ser aprofundado estabelecendo-se um plano de vias de tráfego fluido para o transporte indi-vidual e público que, através de medidas de gestão e intervenções estratégias na rede existente, vá transforman-do gradualmente o modelo radio-concêntrico numa malha, criando as condições para se atingir o objectivo detráfego zero no Terreiro do Paço.

Page 81: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 84

Circular das colinas

O não atravessamento da Baixa exige um sistema externo de mobilidade que abrange toda a cidade

Page 82: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 85

A rede viária principal da cidade tem vindo a evoluir nos últimos anos no sentido da melhoria de todoo sistema de eixos circulares que permitem atenuar o caracter radio-concêntrico da cidade. São disso exemploo prolongamento das avenidas dos EUA e Afonso Costa e os desnivelamentos na Marechal Gomes da Costa.Infelizmente, alguns destes eixos ainda não estão totalmente completos, perdendo-se muito do efeito de desvioque elas poderiam ter. Por outro lado, a CRIL e o Eixo Norte/Sul também se encontram por completar, o quesobrecarrega para níveis insustentáveis a 2.ª circular.

Dado que o eixo Norte-Sul e a CRIL serão completados no curto prazo, é possível estruturar uma malhaque reforce a fluidez nas vias principais do sistema, a saber:

– 2.ª Circular– Av. do Brasil-Av. dos Combatentes– Av. Estados Unidos da América-Forças Armadas– Olaias, Praça de Espanha, Av. de Ceuta– Circular das Colinas, Vale da S.to António, Infante Santo– Ligação da AE 5 (Estoril) ao Eixo Norte-Sul

As intervenções nestes eixos traduzem-se em controlar os fluxos do sistema semafórico, reduzir o atri-to do estacionamento ao longo das vias, instalar corredor BUS, resolver alguns nós com redesenho da via oudesnivelamento e, em casos pontuais, construção de túneis para o tráfego de atravessamento. Não se trata deolhar apenas as questões do tráfego, mas de desenvolver acções conjuntas de aperfeiçoamento do canal e valo-rização do espaço público, aproveitando-se as intervenções mais pesadas na infra-estruturas, nomeadamenteatravés da construção de túneis, para melhorar os espaços à superfície e a circulação dos transportes públicosde superfície e o tráfego local, ganhando-se, assim, novas áreas pedonais.

A CIRCULAR DAS COLINASDeste conjunto, merece realce a designada Circular da Colinas por ser o único eixo circular a servir o

centro da cidade histórica (a sul do Marquês de Pombal). A Circular das Colinas é constituída por um conjun-to de vias já existentes – a completar por um conjunto de trechos em túnel – e que funcionará em articulaçãocom o eixo ribeirinho como forma privilegiada de acesso aos bairros históricos situados nas colinas envolventesda Baixa, e envolvidas por esse conjunto de duas circulares. As principais vias dessa Circular das Colinas são, amenos de ajustes pontuais, as seguintes, de poente para nascente: Av. Infante Santo, túnel da Estrela (a construir),Av. Álvares Cabral, Largo do Rato, Rua Alexandre Herculano, Rua de Conde de Redondo, Rua JoaquimBonifácio, Rua Jacinta Marto, Rua de Angola, túnel do Miradouro do Monte Agudo (a construir) e Av. Mouzinhode Albuquerque.

Page 83: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 86

Circular das Colinas: um projecto de mobilidade e de reabilitação do espaço público

Page 84: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 87

Para além da eventual construção dos dois túneis referidos – requerendo estudo detalhado dos pontosde inserção na circular –, a plena funcionalidade desta circular só será atingida com um conjunto significativode intervenções de ordenamento do espaço viário e suas utilizações ao longo de todo o itinerário. Não se pre-tende uma via circular que privilegie a velocidade, mas sim a capacidade. A Circular da Colinas deverá mantero carácter urbano das vias que actualmente já nela se inserem. Considera-se, no entanto, que para a sua fun-cionalidade é indispensável assegurar capacidade e fluidez por forma a absorver com boa qualidade de serviço,além do tráfego que já hoje a usa, todo o tráfego que actualmente atravessa a Baixa e que se pretende que nofuturo venha a usar sobretudo esta circular. Os principais tipos de medidas de ordenamento terão a ver com oestacionamento ao longo da via e com a revisão integral dos movimentos permitidos e dos graus de prioridadedesses movimentos em todas as intersecções.

O ESTACIONAMENTOPara a revitalização da Baixa-Chiado não basta garantir boas condições de acesso em Transporte

Individual, é também necessário oferecer um bom sistema de estacionamento que diferencie os diferentes seg-mentos da procura, designadamente residentes, visitantes e trabalhadores. A zona da Baixa-Chiado é global-mente bem servida de estacionamento. Para uma população residente que se estima não ter mais de 1000 veícu-los, existem actualmente cerca de 1800 lugares na via pública, 5000 em parques de estacionamento público e1200 em parques privados, dos quais apenas 28% estão associados a usos habitacionais. Ainda assim, verifica--se uma elevada pressão na procura de estacionamento com a ocorrência de taxas de ilegalidade próximas dos35%, o que evidencia baixos níveis de fiscalização.

O estacionamento na via pública deve ser preferencialmente destinado aos residentes, ainda que aatribuição de dísticos não deva permitir a atribuição de mais de 2 dísticos por fogo, sendo o segundo obrigato-riamente pago. O estacionamento de longa duração, maioritariamente associado aos trabalhadores, deve serconcentrado em parques em estrutura específicos, em que durante o dia os lugares estão reservados a avençasou assinaturas mensais e, durante a noite e fins-de-semana, poderão ser utilizados para os residentes ou visi-tantes. Propõe-se para estas funções específicas a construção de um parque enterrado na Praça do Comérciocom uma capacidade de cerca de 450 lugares e a passagem do parque da Praça do Município para este regime.Em relação aos parques de rotação para o estacionamento de curta e média duração destinados maioritaria-mente a visitantes, a Baixa já dispõe de uma boa oferta, sobretudo na parte norte (Restauradores, Praça daFigueira, Martim Moniz, Chiado), propondo-se, para além do parque do mercado do Chão do Loureiro com 230lugares, a construção de dois novos parques públicos na zona ribeirinha em frente ao Largo do Corpo Santo eno Campo das Cebolas com capacidade para 700 lugares cada. Com a concretização destes parques a BaixaChiado ficará com uma oferta de parques públicos totalizando cerca de 8 mil lugares5 e uma distribuição espa-cial onde é possível encontrar um parque de grande capacidade em cada uma das portas de entrada da zona.

5 O aumento preconizado do número de lugares de estacionamento face ao aumento expectável de residentes, empregos e visitantes segue,em termos comparativos, rácios muito exigentes.

Page 85: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 88

Para um funcionamento eficaz do sistema de estacionamento, é essencial garantir a existência de umaboa fiscalização do estacionamento na via pública e a criação de um sistema de sinalização integrado que per-mita ao visitante saber a capacidade disponível em cada parque.

A ACESSIBILIDADE DA BAIXA ÀS COLINASUma circulação fácil e cómoda entre o vale da Baixa, a frente ribeirinha e as colinas do Chiado e do

Castelo é vital para a vitalidade da Baixa e para a melhoria das condições de vida dos residentes das Colinas.A Baixa necessita da população que reside nas colinas, e pela Baixa passam muitos caminhos que ligam

o centro ao resto da cidade. Acresce que o Castelo de S. Jorge é um dos monumentos mais visitados de Lisboae que o percurso mais directo para aí aceder é através da Baixa.

Potenciar ligações pedonais cómodas e directas da Baixa às Colinas do Castelo e do Chiado é uma pro-posta estruturante da estratégia de reabilitação que se propõe. Para tal, será necessário assistir esses percursoscom meios mecânicos – escadas rolantes e elevadores – que permitam vencer os desníveis mais acentuados. Asescadas do Metropolitano, entre a Rua do Crucifixo e o Largo do Chiado, o elevador de Santa Justa e os ele-vadores da Bica e da Glória são exemplos a replicar, nomeadamente através de escadas mecânicas que facilitemas ligações da Rua da Vitória à Rua da Madalena, no Chão do Loureiro e na Cerca do Castelo.

OS PERCURSOS DE MOBILIDADE SUAVEA topografia da Baixa e da frente ribeirinha é particularmente atractiva para a marcha a pé e de bici-

cleta; porém, os obstáculos existentes, nomeadamente a grande intensidade do tráfego automóvel, tornam estesmeios de locomoção perigosos e incómodos.

A pacificação do trânsito na frente ribeirinha e na Baixa vai favorecer os modos de circulação suave,integrando os percursos na Baixa com a rede projectada para a cidade.

Page 86: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 89

O novo conceito de mobilidade

Page 87: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 90

2.8 Um Espaço Público de Excelência

A REDUÇÃO DO TRÁFEGO RODOVIÁRIO COMO GRANDE OPORTUNIDADEA requalificação do Espaço Público da Baixa-Chiado é uma condição “sine qua non” e prévia, não só à

valorização patrimonial, cultural e ambiental da Zona, mas também à necessária reabilitação do seu tecidoeconómico-empresarial e demográfico-social.

Neste sentido, a redução drástica do volume de tráfego rodoviário que actualmente atravessa a zona, eque se defende nesta estratégia, constitui a grande oportunidade para alterar o desenho e as características físi-cas dos espaços públicos, bem como as suas condições de uso e apropriação pelos peões.

No passado recente, realizaram-se intervenções importantes de requalificações das Praças da Baixa e depedonalização de algumas ruas.

Rossio, Praça da Figueira, Largo de S. Carlos, Largo de S. Domingos e Praça do Município, bem comoas ruas das Portas de S.to Antão, Augusta,Vitória, S.ta Justa e Correeiros, foram obras que conferiram uma novaqualidade ao espaço público.

Mas estas intervenções, mesmo que de dimensão reduzida e de impactes limitados, implicaram outras,importantes, no respeitante à circulação e ao estacionamento automóvel e, em diversos casos, ao reordenamen-to das paragens de transportes colectivos.

A ZONA RIBEIRINHAA intervenção mais relevante que agora se preconiza abrange a Zona Ribeirinha entre Santa Apolónia

e a Praça D. Luís integrando o troço da Av. Infante D Henrique a poente de Santa Apolónia, Campo dasCebolas, Terreiro do Paço, Avenida Ribeira das Naus, Corpo Santo, Cais do Sodré e parte da Av. 24 de Julho.

Trata-se de um espaço com uma grande concentração de edifícios notáveis onde se destaca o ConjuntoMonumental da Praça do Comércio entre o espaço do Corpo Santo, a poente, e o Campo das Cebolas, a nascente.Este conjunto e os espaços públicos envolventes são a “peça central” a destacar no processo de revalorizaçãoda Frente Ribeirinha, sendo que a Praça do Comércio deverá ser tratada como a praça nobre da cidade e, assim,retomar o sentido histórico e simbólico de “Centro da Cidade”.

Propõe-se, pois, a renovação e dinamização da ocupação dos edifícios, como se descreve no ponto 2.2, e arevitalização da Praça, não como espaço de estar, mas como espaço de representação da cidade, por excelência.

Nesta linha, a salvaguarda do traçado da Praça e da sua arquitectura são questões fundamentais que impõema reposição do Cais das Colunas no local original, bem como a avaliação do enquadramento da estátua equestre de D.José, e a definição e uniformização da pintura de todos os edifícios do conjunto, hoje pintados de diversas cores.

A alteração do sistema de circulação automóvel e o reordenamento do espaço envolvente do conjunto mo-numental da Praça do Comércio permitirão recuperar, para novas funções e para o uso pedonal, áreas que se encon-tram hoje condicionadas pela rede viária e cujos valores histórico, cultural e paisagístico não estão aproveitados.

Page 88: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 91

Uma nova oportunidade para a Frente Ribeirinha - a situação actual

Page 89: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 92

Trata-se da Ribeira das Naus onde a suspensão ou a drástica redução da circulação automóvel permi-tirão criar um novo espaço de enquadramento dos edifícios na sua relação com o Rio, nomeadamente integran-do o antigo “Dique do Arsenal”, que se encontra soterrado, e que poderá ser associado a um futuro complexomuseológico a instalar no piso térreo dos edifícios do Arsenal da Armada.

Por outro lado, o Campo das Cebolas poderá constituir um espaço, a nascente, de enquadramento dosedifícios da Praça do Comércio, assim como do conjunto edificado da Rua da Alfândega, estabelecendo umaarticulação com a Doca da Marinha na qual se poderão vir a acolher os navios históricos (Fragata D. Fernando,Navio Escola Sagres e o Crioula) e a construir um espaço cultural.

Para além da Praça do Comércio e do conjunto dos edifícios que lhe estão associados, o ordenamento,desenho e tratamento dos restantes espaços da frente ribeirinha atenderão à diversidade morfológica dosespaços públicos, à diferenciação das funções urbanas, à localização de edifícios e de elementos edificados sin-gulares, e à relação dos diversos tipos de espaços com a “cena urbana” e ao seu papel no sistema de vistas querelacionam a cidade com o Rio.

Neste sentido, evidenciar-se-ão três situações:– Os Espaços Rua, integrados nas malhas urbanas consolidadas ou que se configuram ao longo da zona

portuária;– Os Percursos Ribeirinhos que, actualmente, de forma descontínua e acidental, permitem a circulação

e a permanência das pessoas junto ao Rio e que ligam as várias praças;– Praças abertas ao Tejo que, com as Praças do Comércio e do Cais do Sodré, devem constituir um con-

junto de espaços urbanos formais que enfatizem a relação da Cidade com o Rio. Estes espaços podem ser cria-dos frente ao edifício da Alfândega, no Corpo Santo, junto às futuras instalações da Agência Europeia deSegurança Marítima e consolidados no Cais do Sodré e em Santa Apolónia.

A intervenção na Frente Ribeirinha será também marcada pela construção do novo Terminal deCruzeiros de Lisboa no Jardim do Tabaco, cujas obras marítimas serão iniciadas em breve.

Esta obra abrange uma extensão relevante da margem do Rio e será um importante factor de revitali-zação das zonas da Baixa-Chiado e de Alfama.

A sua concretização implicará também uma profunda alteração urbanística entre o Campo das Cebolase o Largo de Santa Apolónia, a qual poderá contribuir para atingir os objectivos estratégicos da operação Baixa--Chiado no respeitante à requalificação dos espaços públicos ribeirinhos, à resolução de problemas de circu-lação e estacionamento automóvel na zona, e à introdução de novas actividades económicas.

Neste último aspecto, para além das funções portuárias, a área do terminal poderá integrar espaços paranovas actividades ligadas aos serviços, comércio e hotelaria, as quais se deverão relacionar e integrar na reno-vação do tecido económico e empresarial do Centro Histórico.

Page 90: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

Grandes espaços urbanos relacionados com o Rio

Espaço-Rua

Praças e Largos interiores

Espaços de enquadramento do conjunto monumental

Passeio ribeirinho central

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 93

Tipologias de espaços públicos na frente ribeirinha

Page 91: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 94

No respeitante ao Espaço Público, a zona deverá ser objecto de uma intervenção de grande qualidadearquitectónica e paisagística, com uma escolha criteriosa de materiais de revestimento dos pavimentos, plan-tações, equipamentos de iluminação, mobiliário urbano e sinalética, assim como critérios de desenho comunsa todos os espaços, sem prejuízo de cada praça ter o seu próprio carácter e, eventualmente, projectos de dife-rentes autores.

As obras na frente ribeirinha terão de ser articuladas com a renovação ou completamento dos grandessistemas de infra-estruturas da cidade, designadamente o grande interceptor de esgotos e a conduta de água e,ainda, com a construção de parques de estacionamento enterrados no Campo das Cebolas, na Praça doComércio e no Corpo Santo. É também necessário proceder à regularização da margem do Tejo, entre o Caisdas Colunas e o Cais do Sodré (cerca de 500 m), e tratar a face superior do túnel do metro que ficará submer-so frente ao Cais das Colunas, por forma a torná-lo o menos visível possível e menos susceptível de depósitode lamas e detritos.

A intervenção que se preconiza para a frente ribeirinha permitirá restabelecer o contacto com o Rio oucom o Porto (na zona do Terminal de Cruzeiros), com 1,5 km de extensão e, ao mesmo tempo, organizar 25 hade áreas pedonais articuladas por um percurso ribeirinho contínuo, o qual poderá também vir a integrar modosde deslocação suaves (bicicletas, transportes eléctricos…).

Trata-se de uma situação única em Lisboa, só repetível no Parque das Nações.A valorização do espaço público terá em especial atenção as condições de utilização, diurna e noctur-

na, pelas pessoas. Os espaços deverão ser atractivos, confortáveis, seguros, ambientalmente saudáveis, diferen-ciados dos outros espaços urbanos ribeirinhos pela sua valorização, edifícios e funções singulares, através deuma iluminação ambiental de grande qualidade. Neste sentido, a banalização funcional e estética do espaçopúblico deverá ser combatida.

O ESPAÇO PÚBLICO DA BAIXA E DO CHIADOAlém das intervenções na frente ribeirinha, na requalificação dos espaços públicos, propõem-se as

seguintes obras:– Completar as intervenções previstas no Plano de Pormenor para a Recuperação da Zona Sinistrada

do Chiado, da autoria do Arq.º Siza Vieira, nomeadamente a escadaria de ligação ao Largo do Carmo;– Intervir na envolvente imediata do Quartel do Carmo, demolindo as construções abarracadas con-

struídas no século passado e repondo a situação registada na Carta de Filipe Folque de 1856/7;Com esta intervenção pretende-se abrir ao público um terraço ajardinado com uma vista surpreen-

dente sobre o Rossio e o Castelo e valorizar paisagisticamente as ruínas do Convento;– Ajustamento do desenho da Praça da Figueira em resultado da diminuição da área afecta à circulação

automóvel.

Page 92: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 95

Na Praça da Figueira, a diminuição do espaço rodoviário e o eventual ajustamento da linha de eléctri-co são as condições para se desenvolver o projecto de reconstituição de um mercado.

– Reperfilamento das ruas do Ouro, da Prata e dos Fanqueiros com o alargamento dos passeios;– Redesenho da Praça Barão de Quintela, retirando o quartel dos Bombeiros, suprimindo a circulação

automóvel nos lados Norte e Sul. Junto à fachada Norte propõe-se que seja localizado um espaço paraesplanadas e aumentada a área permeável da praça;

– Redesenho dos pavimentos do Largo das Duas Igrejas, privilegiando os espaços pedonais através daescolha de materiais de pavimento adequados à convivência entre veículos e peões;

– Estudar a possibilidade de abrir ao público o interior do quarteirão compreendido entre as ruasIvens, Capelo, Anchieta e Garrett. Deverá estudar-se a possibilidade de demolir, no interior do quarteirão, osanexos existentes e abrir para o espaço interior as lojas que estão instaladas na periferia. O pavimento interiorficará, tanto quanto possível, permeável e serão plantadas árvores de grande porte para atenuar a excessiva min-eralização desta zona da cidade;

– Uma intervenção análoga poderá ser realizada no Quarteirão delimitado pela Rua Nova da Trindade,Escadinha de João de Deus, Rua Oliveira do Carmo e Rua da Trindade.

AS PORTAS DA ÁREA DE INTERVENÇÃOPropõe-se que no território da Baixa-Chiado sejam assinaladas portas virtuais que referenciem a entra-

da num território excepcional, tanto pelo valor simbólico como pelas funções instaladas, como, ainda, pela qua-lidade do espaço público e modernidade dos serviços urbanos. Porém, o objectivo é que, com o tempo, essasfronteiras se esbatam.

Impõe-se uma reflexão sobre a forma de concretizar as portas. Simples mudança dos materiais de pavi-mento, instalação de Arte Urbana, dispositivos singulares de iluminação, mapas ilustrativos incrustados nospavimentos, são algumas das hipóteses de trabalho.

A RENOVAÇÃO DAS REDES DE INFRA-ESTRUTURASA execução das obras de repavimentação dos espaços públicos terá de ser articulada com a renovação

das redes de infra-estruturas urbanas enterradas.Neste sentido, será feita uma avaliação cuidada de todas as obras a realizar, desde já se enfatizando a

necessidade de enterrar toda a cablagem que está agarrada às fachadas e a redução significativa do número dearmários (electricidade, sistema semafórico, iluminação pública e telecomunicações) que afloram à superfície.O redesenho da rede de distribuição de energia eléctrica passa por aumentar e redistribuir os postos de trans-formação e os armários da EDP. Admite-se que os que tiverem de ficar na via pública deverão ser implantadospor forma a diminuir, tanto quanto possível, o seu impacto. É indispensável avaliar a necessidade de modern-

Page 93: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 96

izar a rede de transmissão de dados e voz, uma vez que as redes de abastecimento de gás e de água são de cons-trução recente e a rede de saneamento apenas necessita de intervenções pontuais, nomeadamente na ligaçãode colectores, junto à Praça da Figueira, e de correcções na Praça do Comércio em resultado da futura con-strução do parque de estacionamento e do novo colector ribeirinho.

Caso se confirme que uma parte apreciável das redes enterradas de esgotos, águas e gás não necessitade ser reformulada, e verificando-se que cerca de um terço das ruas do Chiado e da Baixa tiveram obras de recu-peração nos últimos 15 anos, as obras a realizar no espaço público da Baixa-Chiado incidirão essencialmente naZona Ribeirinha e nas Ruas do Ouro, da Prata e dos Fanqueiros e nas transversais ainda não pedonalizadas.

Nestas ruas, as obras incidirão no tratamento da superfície, evitando-se os grandes esventramentos, comos inerentes custos financeiros e os incómodos para os cidadãos.

A realização dos projectos destas obras obriga a uma vistoria rigorosa das redes existentes, a dispor deum cadastro do que está enterrado, a decidir quais os novos sistemas de infra-estruturas que devem ser enter-rados no subsolo e se será ou não aconselhável a construção de um sistema total ou parcial de caleiras técni-cas e com que características, já que não parece aconselhável a construção de galerias enterradas.

Na repavimentação, é necessário ter em conta as calçadas desenhadas existentes, que deverão ser pro-tegidas, e os materiais dos pavimentos das faixas de rodagem que assegurem baixos níveis de ruído.

UM PLANO DE ILUMINAÇÃO PÚBLICAA iluminação pública tem a maior importância no projecto de reabilitação desta zona da cidade.Além de contribuir para um maior nível de segurança, responder às exigências funcionais específicas

– nomeadamente na circulação automóvel –, a iluminação pública joga um papel da maior relevância na mar-cação dos edifícios singulares, na caracterização de ambientes, na valorização estética dos espaços. Para alémdos casos conhecidos em cidades estrangeiras, o festival Luzboa, entre nós, é um pequeno exemplo do efeitodo que se pode retirar de um plano de iluminação.

Por estas razões, entendemos que deve ser dada a maior importância ao projecto de iluminação, enca-rado de uma forma global para toda a área de intervenção e integrando, também na mesma lógica, a iluminaçãodas fachadas propostas pelos proprietários dos edifícios que o desejem fazer.

À imagem de outras cidades, dever-se-á executar um Plano Director de Iluminação da Baixa Chiado edas áreas envolventes (vale da Av. da Liberdade e Colina do Castelo).

ARTE URBANALisboa não é rica em arte urbana de qualidade. Esta situação também se reflecte na Baixa e no Chiado,

não obstante ter sido implantada, no início do século XX, uma estátua em cada uma das suas praças.

Page 94: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 97

Como não deve ser o espaço público

Page 95: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 98

A implantação de peças de arte em locais estratégicos da Baixa e do Chiado seria um importante con-tributo para a valorização do espaço público. Estas peças poderiam ser desenhos nos pavimentos ou peças tridi-mensionais, criando pontos focais, marcando alinhamentos ou caracterizando espaços de maior intimidade ou,ainda, intervenções com outra dimensão e alcance.

No Elevador de Santa Justa, poderia ser levada a efeito uma intervenção de relevo, recuperando o con-curso realizado em 1988, promovido pela CARRIS e CML em associação com a DYRUP.

A proposta então vencedora propunha pintar o elevador num tom de azul, com gradações cada vez maisclaras de cima para baixo. Este é o exemplo de um tipo de intervenção de arte urbana não convencional quemuito pode valorizar o espaço público da Baixa.

A PRESENÇA DAS ÁRVORES E DO SOLO PERMEÁVELO espaço público da Baixa-Chiado é um espaço essencialmente duro e impermeável, onde a presença

do verde é rara. Aliás, alguns exemplos de árvores notáveis, como os pinheiros mansos da Praça em frente àEstação de Sul e Sueste e do Largo de Camões, foram sacrificados, num caso à construção da estação de metrodo Terreiro do Paço e, no outro, do parque de estacionamento do Camões.

No projecto dos novos espaços públicos da Baixa-Chiado, é necessário repensar a presença do verde,seja das árvores, seja dos espaços permeáveis, dos quais o passeio ribeirinho e os socalcos junto ao Quartel doCarmo podem ser um exemplo.

No Regulamento da Baixa-Chiado, deverá ser reafirmada a exigência do RPDM, de impedir, em qual-quer caso, a impermeabilização dos logradouros dos quarteirões, mesmo com o argumento da construção demais estacionamento.

A SINALIZAÇÃOA caracterização de uma zona urbana de excelência como a Baixa-Chiado deverá ser feita de forma

coordenada entre o que é a sinalética e a respectiva comunicação e o projecto global de recuperação.Nos limites geográficos definidos, deverá desenvolver-se um sistema universal de acessibilidade, sem

exclusão de cidadãos portadores de deficiências ou estrangeiros.Esse sistema terá especiais responsabilidades em afirmar esta zona como área de excelência, da história

política, das ideias, do multiculturalismo, de uma cidade que sempre viu chegar e partir.Deveria ser criado numa lógica “mimética” com o construído, procurando respeitar as diversas

“camadas” que a malha urbana foi acrescentando, evitando, sempre que possível, agressões de novos suportes.Respeitar deve aqui ser entendido como um ponto de partida para a criação de um sistema próprio,

único e distintivo, que funcione como “landmark”, conforme experiências similares noutras capitais.O design partirá da criação de um alfabeto tipográfico próprio, que conjugue, de forma eficaz, o humanis-

mo que sempre caracterizou a fruição destes espaços com uma legibilidade irrepreensível.

Page 96: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 99

Melhor iluminação, mais arte urbana e mais árvores

Page 97: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 100

A organização da informação quanto a ruas, praças, etc., deve ser conjugada entre trânsito viário epedonal, isto é, torna-se fundamental olhar com atenção para a toponímia – que deverá explicar quem é quemou acontecimento que provocaram a sua escolha para marcar uma rua –, números de polícia, indicação deequipamentos de referência e outros locais de interesse e tratá-los de forma articulada. Esta informação terá derespeitar a história dos locais, não destruindo, antes integrando, micro-sistemas de grande valia como a infor-mação gravada nos cunhais dos edifícios das Ruas do Ouro e da Prata. O que vier a ser projectado não deveránunca “apagar” a história, mas integrar e marcar. Por exemplo, tirando partido do revestimento dos passeios empedra de lioz, a informação para os peões poderia estar embebida no chão, usando os mesmos materiais quepisamos, agora impressos em baixo-relevo. Essa informação estaria relacionada, quando necessário, comsuportes verticais de apoio à navegação.

No chão poderia também ser aplicado um sistema específico para guiar as pessoas através de “pontos”,p. ex., circuito Pessoa – cf. experiência do atelier Cézanne em Aix-en-Provence.

Explicar a história de um edifício ou de uma rua – por exemplo a António Maria Cardoso no 25 de Abril– é indispensável para mostrar uma cidade rica em acontecimentos.

As novas tecnologias de geo-referenciação, com e sem sensors, são um contributo incontornável, tanto noauxílio ao cidadão que quer planear uma visita, como quando progride no espaço. Essa tecnologia permitirá, nãosó “ir mais longe” e ter acesso a mais informação sobre a zona, mas também a auxiliar, por exemplo, os cegos atravésdos seus telemóveis. Não será compreensível que, apesar dos acidentes do terreno e das marcas de uma cidadevelha, não se estudem – com detalhe – as acessibilidades para que quem nos visita possa fruir totalmente a cidade.

O MOBILIÁRIO URBANOA Baixa-Chiado deverá ter uma linha de mobiliário urbano de grande qualidade, de desenho e construção.Deverá ser estudada a hipótese de se realizar um concurso para o desenho e fornecimento do mobiliá-

rio urbano, aliando designers e fabricantes, desde que se acautelem alguns aspectos essenciais, como durabili-dade dos móveis e stocks de peças de reserva para substituição.

Esta linha de mobiliário (bancos, bebedouros, papeleiras, abrigos, etc.) poderia, depois, ser generaliza-da à cidade, passando a constituir uma marca distintiva de Lisboa.

A experiência do mobiliário desenhado expressamente para os Campos Elísios, em Paris, é um caso areter. Igualmente a experiência do mobiliário da EXPO’98 deverá ser avaliada.

Neste particular é indispensável ter em atenção o mobiliário das esplanadas, cadeiras, mesas e chapéus--de-sol para assegurar um nível de qualidade adequado à nobreza da zona e evitar que o mobiliário seja priori-tariamente um suporte de publicidade.

São essenciais critérios e regras de implantação do mobiliário urbano para evitar os obstáculos à cir-culação de pessoas, em geral, ou de mobilidade ou capacidade de visão reduzidas, em particular, ou ainda, pes-soas transportando crianças em carros de bebés.

Page 98: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 101

A correcta gestão do espaço público passa também por reduzir ao mínimo a presença de quiosques des-tinados a múltiplas funções que hoje povoam o espaço público, sem qualquer critério, bem como dos suportesde publicidade (“mupis”).

Sabendo-se que os quiosques e “mupis” são uma importante fonte de receitas do município, é indis-pensável que, nos critérios de decisão para a sua implantação, se pondere o impacto no espaço público e nãoapenas os critérios financeiros.

Desde já, propõe-se a renegociação da implantação de “mupis”, quiosques e postos de venda na viapública, depois de ser feito um levantamento da situação actual e estabelecidas regras a seguir na suaimplantação.

A PUBLICIDADEA instalação de publicidade na área de intervenção deve ser objecto de um regulamento em que seja

ponderado o valor patrimonial do sítio.Dimensões dos suportes, forma de aplicação nas fachadas, materiais, recurso a iluminação, etc., devem

ser objecto de regulamentação específica articulado com o regulamento urbanístico de toda a área e com planosespecíficos, como o da iluminação pública, cor, etc.

MANIFESTAÇÕES, EVENTOS E FESTIVIDADES.UTILIZAÇÕES EFÉMERAS DO ESPAÇO PÚBLICOA utilização efémera do espaço público da Baixa Chiado deve ter em consideração o carácter dos dife-

rentes espaços.A Praça do Comércio é diferente do Rossio e da Praça da Figueira, e nem todos os eventos ou mani-

festações se adequam de igual modo a cada um destes espaços.A realização de feiras temáticas – filatelia, livros antigos, velharias, artesanato e produtos regionais e

produtos biológicos – é um contributo para a animação do espaço público, mas devem ter lugares pré-estabele-cidos adequados à nobreza dos espaços como, por exemplo, a Praça da Figueira. O mesmo se pode dizer doseventos culturais e manifestações realizados ao ar livre.

As bancas dos artistas de rua não podem penalizar os lojistas nem incomodar os peões. A implantaçãoanárquica de barracas, stands e exposições de rua deve ser evitada. Acima de tudo, é indispensável salvaguardara qualidade do espaço. As iluminações de Natal devem ter em conta a especificidade da zona e não podem dan-ificar as fachadas, como sucede com tanta frequência.

Para responder às necessidades da utilização efémera do espaço público, prever-se-ão infra-estruturasadequadas em espaços específicos, nomeadamente de abastecimento de energia eléctrica, água e esgoto.

Page 99: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 102

Mais água e mais animação

Page 100: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 103

ESTALEIROS DE OBRASDurante cerca de duas décadas, a Baixa e o Chiado vão conviver com obras.Mesmo que se aponte a sua conclusão no espaço público para 2010, as obras no edificado vão prolon-

gar-se, no mínimo, por mais uma década.Para evitar grandes incómodos, é indispensável elaborar um manual de estaleiro aplicável em todas as

obras de promoção pública e privada que regulamente questões tão díspares como forma e cor de tapumes eprotecção da fachada, como movimentação de cargas pesadas, ruído, como a segurança dos transeuntes, etc.

Hoje, há exemplos a seguir da forma como a protecção de uma fachada em obra pode ser um elemen-to de valorização da paisagem urbana. Nestes casos, o cartulário pombalino pode ser uma fonte de inspiração.

A gestão conjunta da área de intervenção deverá, também, coordenar a realização das obras em edifí-cios e espaços públicos com os momentos do ano mais indicados, tendo em conta as festividades e momentosde maior afluxo de pessoas.

Page 101: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES
Page 102: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

POLÍTICAS PÚBLICAS DE SUPORTE À INTERVENÇÃO

Page 103: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 108

A presente proposta tem subjacente, como não poderia deixar de ser, uma política pública definidorados grandes objectivos que a revitalização da Baixa-Chiado visa alcançar, muitos dos quais ultrapassam o seuâmbito territorial para se reflectirem favoravelmente em toda a cidade, na grande Lisboa e no País.

A perspectiva integrada e integradora do projecto é fundamental para, em torno de um conceito derevitalização mais profundo, amplo e sustentável que o da mera reabilitação urbana, realçar as políticas públi-cas de suporte à intervenção que permitirão respeitar e cumprir os objectivos que, embora sectoriais, se con-sideraram como indispensáveis e devem, pois, ser vistos e tratados no seu conjunto.

Page 104: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 109

3.1 Cultura

VALORIZAR O PATRIMÓNIO

A Baixa Pombalina é a resposta ao terramoto de 1755 que destruiu o centro de Lisboa. A cidade novaexprime, no seu próprio plano, a afirmação da capitalidade de um império que tinha no mar a sua razão de sere uma ideia utópica de sociedade, racional e estruturada, onde as diferenças se esbatem no propósito comumde gerar o progresso.

A rápida resposta à catástrofe manifesta também a qualidade do urbanismo português, utilizando eampliando a experiência de “fazer cidade” nos espaços do império entre os séculos XV e XVIII, nos arquipéla-gos de Madeira e Açores, no Norte de África, na Índia e, sobretudo, no Brasil. A este propósito, deve salientar-seque as cidades brasileiras classificadas como Património da Humanidade (mas também Galle no SriLanka oua Colónia do Sacramento no Uruguai) todas têm origem no urbanismo português.

Em termos técnicos, a cidade reconstruída apresenta soluções inovadoras, nos domínios do urbanismo,das tecnologias construtivas e da arquitectura, esta submetida a uma estética sóbria e estandardizada, de gostoproto-neoclássico. Integrando a importante dinâmica urbana da Europa do século XVIII, a reconstrução deLisboa distingue-se pela extensão da área abrangida; por cumprir, com rigor, o plano delineado; por cerzir, comeficácia, o então inventado presente de Lisboa com o seu passado e futuro.

O Plano de reconstrução (delineado pelo Eng. Eugénio dos Santos e a sua equipa, sob a direcção de Manuelda Maia) revelou qualidades de flexibilidade e adaptabilidade. Permitiu salvaguardar memórias e símbolos da cidadedesaparecida, por exemplo na Praça do Comércio, que é o antigo Terreiro do Paço, regularizado e unificado arqui-tectonicamente, substituindo o conjunto palaciano por edifícios destinados às funções de um Estado moderno.

A adequação do Plano permitiu, também, a sua actualização ao longo de 250 anos, com marcaçõesarquitectónicas que vão do neoclassicismo aos revivalismos do século XIX e às várias estilísticas novecentistas,incluindo a Arte Nova, as Art Déco, o Modernismo internacional até à estética patrimonialista e neomoderna deSiza Vieira, responsável pelo plano de reconstrução do Chiado, depois do incêndio de 1988.

A Baixa Pombalina é ainda exemplo eminente de um tipo de construção e tecnologias específicos, comoacontece com a gaiola pombalina, comportando um conjunto diversificado de normas para melhorar as condi-ções de resistência aos sismos e incêndios. Simultaneamente, ela foi concebida e desenhada como conjuntomonumental que, simbolicamente, representa Lisboa, capital de Império.

Pode por isso afirmar-se (utilizando as palavras da Arq.ª Maria Helena Ribeiro dos Santos no justifica-tivo da Candidatura da Baixa a Património da Humanidade) que a reconstrução impôs um Plano, uma Arquitecturae um Estilo. Impôs, igualmente, sistemas construtivos anti-sísmicos e antifogo, definindo estruturas e materiaisutilizáveis, contribuindo para a homogeneidade de toda a área.

Page 105: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 110

Ampliar e actualizar os inventáriosA área de intervenção foi, no essencial, definida pelo Conselho Científico da Candidatura da Baixa

Pombalina a Património da Humanidade, em 2005, partindo dos limites do plano pombalino, proposto porEugénio dos Santos.

Por este facto, mas também pela densidade de monumentos e edifícios de interesse patrimonial ali exis-tentes, todos os projectos de revitalização e modernização do edificado têm de ser rigorosamente ponderadoscaso a caso, no seu valor patrimonial intrínseco e na sua relação com o quarteirão em que este se inserem.

Por isso, o inventário é um instrumento estratégico que informa, suporta e determina as indispensáveisintervenções, entendido como “trabalho em aberto” e, simultaneamente, conjunto flexível de princípios e orien-tações, de que destacamos:

– Continuidade em relação aos inventários bastante desenvolvidos, que têm vindo a ser realizados pelaSRU, pela DGEMN e pelo Gabinete da Baixa-Chiado, que devem ser continuados, aprofundados, sistematiza-dos e disponibilizados à consulta pública;

– Alargamento, na área de intervenção definida, para fora da Baixa propriamente dita, tal como a zonada Sé, a Rua dos Bacalhoeiros, o Cais de Santarém, a nascente, e a zona de São Paulo, a poente;

– Estruturação histórico-artística, privilegiando, em primeiro lugar, o edificado pombalino do séculoXVIII e primeiros anos do século XIX, mas, logo a seguir, outras épocas construtivas, anteriores e posterioresà reconstrução, incluindo o desenho de interiores e soluções decorativas;

– Enriquecimento histórico e social, abrangendo o comércio e outras actividades económicas, bem comomarcas diversas de vivências quotidianas;

– Valorização da componente arqueológica, não só em relação a passados remotos, mas também àssobrevivências pré-terramoto, escondidas ou integradas no novo tecido edificado, devendo tais elementos serintegrados no citado inventário (caso, por exemplo, do Corpus Christi ou do Hotel Bragança);

– Tipificação da ficha de inventário (que remeterá também para o quarteirão ou edifícios de acompa-nhamento) que, caso a caso, determinará os modos de reabilitação, os usos tradicionais e as possibilidades dereabilitação ou reformulação.

Além do inventário do existente em termos da arquitectura e de memórias sociais, há a considerar duasoutras direcções de estudo sistemático e operativo:

– O território físico da Baixa, nomeadamente a sua geologia e hidrografia, seguindo as urgências deli-neadas no texto de João Appleton que integra este capítulo.

– O património imaterial, nos domínios da literatura, das artes plásticas, do teatro, do cinema e da músicaque, em obras individuais e tertúlias desde o século XIX (algumas ligadas a edifícios e trajectos concretos),foram fazendo da Baixa um dos lugares privilegiados da cultura portuguesa. Citando um exemplo de amploreconhecimento, a Baixa é também a “Rua dos Douradores” de Fernando Pessoa.

Page 106: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 111

O património como valor de investimentoA decadência da Baixa-Chiado (mais evidente na Baixa propriamente dita, alargando-se ao Cais do

Sodré e a S. Paulo, do que no Chiado) tem a sua expressão mais evidente no abandono de muitos edifícios totalou parcialmente devolutos, e, em alguns casos, em mau estado de conservação. Saliente-se, neste quadro geral,que parte dos edifícios em mau estado detém valores construtivos e estéticos do pombalino. Em geral, os levan-tamentos realizados pela SRU permitem identificar o número, a localização e as premências de intervenção desalvaguarda e revitalização.

Esta situação manifesta que, apesar da importância inquestionável da Lisboa pombalina, nunca foi pos-sível, ao longo do século XX, delinear e executar um plano de salvaguarda. Mas ela cria, positivamente, a nossaoportunidade de intervenção.

> O maior desafio é, neste domínio, salvaguardar maximamente o edificado de raiz pombalina, segundoinstrumentos de intervenção rigorosos que, no entanto, serão também flexíveis. A referência será a ficha deinventário desenvolvida que, caso a caso, determinará os modos de reabilitação;

> A determinação de que o edificado mais antigo e mais íntegro da Baixa-Chiado vai ser valorizado,dentro dos limites impostos pelas exigências da salvaguarda, tem implicações imediatas, para os usos dos edifí-cios que, por princípio, devem manter as suas tradicionais funções de habitação e comércio;

> Ao eleger-se a salvaguarda como coluna dorsal da intervenção na Baixa/Chiado, afirma-se uma políticacultural que:

– modela a modernização sobre as potencialidades riquíssimas das heranças;– gera investimentos qualificados, em termos de recursos humanos e tecnológicos, capazes de delinear

e concretizar a revitalização dos edifícios e conjuntos;– participa e enriquece o debate sobre os valores da cidade europeia onde a história se acumula por

diferenças, lacunas, utopias, resistências e inércias, entendendo a sua modernização como um processo sem-pre aberto.

Salvaguardar e criar de novoA determinação de que o edificado mais íntegro da área de intervenção vai ser valorizado, dentro dos

limites impostos pelas exigências da salvaguarda, não é incompatível, em termos do Instrumento Urbanístico aelaborar, com a possibilidade, a ponderar caso a caso, de se realizarem eventuais demolições, dando lugar aedifícios novos, relativamente integrados em termos urbanísticos e de qualidade arquitectónica moderna.

Não é incompatível também com ponderadas alterações de uso; com a não-correspondência entre afachada salvaguardada e os interiores totalmente reconvertidos; a ligação interna de vários edifícios, aparente-

Page 107: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 112

mente distintos em termos de fachadas; finalmente, com a demolição de desqualificados pastiches neopombali-nos sem qualidade.

Estas possibilidades inscrevem-se em conceitos flexíveis que reconhecem a má qualidade de algum edi-ficado da Baixa e áreas adjacentes; as numerosas alterações dos interiores; a necessidade de garantir a viabili-dade cosmopolita de toda a área. Elas têm também uma espécie de inscrição histórica, uma vez que, desde o iníciodo século XX, se realizaram algumas demolições na Baixa-Chiado, dando lugar a edifícios que hoje são valorespatrimoniais, embora não pombalinos.

O que se exige é que o instrumento urbanístico garanta as condições de credibilidade para que qualquer“criação de novo” seja, de facto, sempre excepcional e rigorosamente justificada.

A requalificação da Baixa-Chiado deve, também neste campo, ter valor de exemplaridade, em termosnacionais e internacionais, articulando-se com a qualidade reconhecida da melhor da nossa arquitectura con-temporânea.

Promover a formação e disseminação de saberes e práticas especializadas: a Escola especial de Artes e OfíciosA revitalização da Baixa passará por vastas campanhas de obras a que corresponderão investimentos de

muitas centenas de milhões de Euros; por isso, existem condições objectivas para que esta mega-operação, adesenrolar-se num horizonte temporal que não será inferior a 25 anos, seja motor e centro de uma nova men-talidade quanto à aprendizagem de princípios, metodologias e práticas de conservação e de reabilitação, envol-vendo todos os agentes interessados

Esta dinâmica enquadrará a criação de uma Escola especial de Artes e Ofícios (articulada com outrasinstituições da área, nomeadamente a Faculdade de Belas-Artes) dedicada a um ensino simultaneamente hori-zontal e vertical, onde caberão os saberes práticos da experiência feitos e os conhecimentos teóricos, científi-cos, multidisciplinares. O objectivo será criar um lugar para a sensibilização e aprendizagem de todos os queirão participar no que se deseja ser um gesto exemplar de reflexão e trabalho sobre a cidade velha.

A prioridade deve, apesar de tudo, ser dirigida a um conjunto mais restrito de operadores: em primeirolugar, os projectistas, arquitectos e engenheiros que ainda hoje estão muito pouco preparados (e mesmo poucointeressados) para enfrentar os desafios técnicos que se adivinham; para estes, a Escola seria uma espécie deextensão da Universidade, mas com uma forte componente de atelier de projecto. Depois, virá a necessidade de(re)aprender materiais e técnicas, combinando o artesanato e os materiais tradicionais com a inovação tec-nológica, com os novos materiais e equipamentos, cuja utilização não deve ser desprezada, muito menosanatemizada; esta componente de ensino, dedicada aos operários-artesãos, é, porventura, a mais difícil de orga-nizar e, por isso, deveria ser prioritária.

Page 108: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 113

Esta ideia de uma escola para a Baixa poderá fazer convergir parcerias universitárias diversificadas erecursos europeus para a formação profissional, numa estruturação flexível marcada pelo espírito da reformaeuropeia de Bolonha.

REDES DE CULTURA – FRUIÇÃO E COSMOPOLITISMO

Territórios de Cultura: A Baixa-Chiado em diálogo com as envolventesNos aspectos culturais, interessa enquadrar os objectivos e as intenções já manifestadas, assumindo que

deve haver uma estratégia comum, multidisciplinar e de eficácia para a ‘Baixa-Chiado’e áreas adjacentes, que acompletam e valorizam. A intervenção urbana, tal como se antevê na Baixa-Chiado, irá certamente constituirum desafio cultural imenso, não só pelo nicho de oportunidades inovadoras que se abre no centro da capital,como também pela multiplicidade de áreas e acções programáticas a estabelecer no terreno. Em diálogo. Emparceria. Que são práticas ainda pouco comuns. Temos, assim:

A COLINA da SÉ ainda consegue respirar alguma tradição lisboeta, muito própria, idiossincrática, devizinhança de ofícios e mesteres. Corresponde a um pequeno ‘ecossistema’ que sobrevive indiferente à vizinhaBaixa, com a qual teve e tem poucas relações.

A Sé e a Igreja de Santo António, o Teatro Romano são pontos de referência essenciais turístico/cul-turais, além da chamada ‘Sala do Risco’ (galeria de exposições, municipal, junto à Igreja de Santo António) e dealgumas casas de fado. Refira-se que o carácter próprio desta zona tem boas condições de valorização.

A COLINA do CHIADO/CARMO/ CAMÕES tem uma tradição mais cosmopolita, burguesa, de comér-cio e vida mundana (clubes e centros de cultura). A reconstrução após o incêndio não lhe afectou significativa-mente o carácter matricial. A presença da Faculdade de Belas-Artes, salas de espectáculo de referência (S.Carlos, S. Luiz e Trindade), museu do Chiado, das livrarias, galerias e cafés dão ao Chiado/Camões o seu vincotradicional de elite e ‘centro de agitação intelectual’. Patrimonialmente, existe ali um conjunto de monumentosnotáveis (Convento do Carmo, Igrejas do Chiado...) que enquadra com nobreza toda a ambiência referida.

A sul, no sopé desta colina, está o CAIS do SODRÉ/S. PAULO, com características socioculturais bemdiferentes, que aliam o carácter popular ribeirinho (a velha Praça da Ribeira) à boémia marinheira nocturna dosbares e ‘boîtes’.A presença, desde os anos 90, da sede da Ordem dos Arquitectos terá induzido de certa maneirauma ténue implantação de pequenos ‘nichos’ culturais, de vanguardas diversas (galerias), algo marginais, emantigos cafés, o que pode tornar interessante uma ideia reprodutiva. Trata-se de uma zona em depressão construtiva, areequacionar funcionalmente.

Descendo ao ‘lençol entre colinas’ que se estende dos Restauradores ao Terreiro do Paço, começamoso percurso pelas PORTAS de SANTO ANTÃO, uma potencial ‘mini-Broadway’ lisboeta, fechada nos anos 90

Page 109: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 114

Redes de cultura

Page 110: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 115

ao trânsito automóvel, com salas de espectáculo (Coliseu, Politeama, o Odeon e o Olímpia (desactivados), até aoTeatro Nacional D. Maria II, restaurantes e cervejarias, de diversa graduação. Ali se encontram também aSociedade de Geografia, o Ateneu, a Casa do Alentejo e o Palácio Almada. A população é flutuante, não fixa, ea frequência é socialmente plural.

O ROSSIO, em contraposição ao ‘Terreiro do Paço’, é o ‘Terreiro do povo’. Ladeada a montante pelaEstação de comboios/escadinhas do Duque, e orientada pelo eixo Teatro Nacional/Arco do Bandeira, a praçaenvolve toda uma vivência urbana, plural, de passagem e convívio de café (Nicola, Suíça, ginjinha), com algumcomércio diversificado e alguma (escassa) hotelaria. A Igreja de S. Domingos é uma referência patrimonial deelevado interesse. Esquecida injustamente, já que é, paradoxalmente, a igreja mais frequentada pelos lisboetasque até ali chegam diariamente das diversas colinas, com o maior número de missas diárias em Lisboa. A ‘igre-ja do fogo’ congrega a maior devoção dos lisboetas...

Ao lado, pela R. de S. Domingos (com peculiar comércio), chegamos à PRAÇA da FIGUEIRA, queladeia o Rossio a escassos metros de distância, uma praça que nunca o foi pela História, mas que agora o é pelodesenho. Frequentada pela imigração, com comércio pobre e cafés, parca e pobre habitação, pensões económi-cas, com a estátua de D. João I, agora implantada ao eixo da R. da Prata. E são estas as duas praças que abremo caminho da BAIXA POMBALINA:

A Baixa, estruturada ao centro pela R. Augusta, a de maior largueza, teve na origem e na toponímia, osofícios e as profissões do velho Reino. Habitação, comércio e serviços estão desproporcionados, sendo hoje raraa habitação.A Banca permanece. O comércio persiste, em decadência progressiva, e, para lá de património mon-umental de potencial interesse (como as importantes ruínas romanas da R. da Prata e o Convento CorpusChristi), existe um conjunto muito interessante e coerente de restaurantes na R. dos Correeiros – os célebres‘galegos’, merecedores de futura atenção especial. A população é predominantemente de passagem, de serviçose comércio, durante o dia, findo o qual, à noite, é o deserto absoluto.

A PRAÇA do COMÉRCIO/TERREIRO DO PAÇO é o monumento por excelência. Pela escala, pelodesenho, pelo lugar. Ministérios, serviços públicos e o constante vaivém, a horas certas, da margem sul paraLisboa. Palco de festas de rua em datas festivas e culturalmente pouco equipada (o ‘Wellcome Center’, na alaocidental, não resultou no programa).

Potenciar as práticas culturaisA Baixa-Chiado dispõe de um conjunto muito qualificado de equipamentos culturais diversificados.

Alguns deles, como teatros e museus, são referências históricas da cultura nacional e possuem articulaçõesinternacionais que se manifestam, embora sem sistematicidade, na sua programação.

A maioria foi objecto de requalificações recentes e dispõe de muito boas condições de trabalho e deacolhimento dos públicos. Assim acontece, por exemplo, com os teatros de S. Carlos, D. Maria II e S. Luiz, com

Page 111: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 116

o Museu do Chiado, o Museu Arqueológico do Carmo ou, já na envolvência, o Museu do Teatro Romano e oMuseu de S. Roque, ou o Coliseu dos Recreios. Este facto positivo não deve fazer esquecer situações gravescomo a do Teatro Politeama, e indecisões que devem ser resolvidas, como a da Estação do Rossio.

A par destes equipamentos históricos, é necessário recordar a existências de Clubes, Associações daimportância do Grémio Literário e do Centro Nacional de Cultura, Escolas Superiores (Belas-Artes,Conservatório Nacional, Companhia Nacional de Dança) e um número ainda impressivo de igrejas que repre-sentam as freguesias mas também patrimónios relevantes, onde por vezes se realizam espectáculos musicais.

Este excepcional tecido cultural articula-se ainda através de algumas lojas históricas, galerias de arte,sobreviventes cafés e espaços públicos de estadia ou rápida circulação.

Deve considerar-se finalmente que, em geral, apesar de habituais constrangimentos, os referidosequipamentos apresentam programações qualificadas, diversificadas e atractivas.

No entanto, apesar da positividade contida na análise feita, a sensação dos lisboetas e dos turistasnacionais e estrangeiros mais informados é que a Baixa-Chiado é culturalmente intensa, mas sem animação. Porisso, o que urge fazer é, sobretudo, potenciar o existente, nomeadamente através de:

– Programações em rede, o que implica diálogo, articulação prévia de projectos e calendários e divul-gação conjunta. Estas redes podem ser de diversos níveis, envolvendo tipologias afins (teatro; exposições; con-ferências; música ou dança), mas também a diversidade imaginosa de vários cruzamentos tipológicos;

– Promoção de eventos diversificados em “sequências concentradas” com forte expressão de fim de diae nocturna, e em programas de fim-de-semana. De uma maneira ou de outra, o que é indispensável é rompercom a cristalização dos horários e intensificar ritmos de produção e oferta;

– Promoção da rua como espaço cultural, para onde, em grande parte do ano, as programações possamextravasar. Mais fácil para a música e para o teatro, menos para exposições, o que se pretende é que os passantesocasionais possam ser atraídos e que os públicos fiéis, bem como artistas, possam participar no desafio de pro-longar os espectáculos na rua, nas praças, jardins ou miradouros. Neste caso, serão particularmente pensadas.as imensas possibilidades da frente ribeirinha, da Praça do Comércio, do Rossio e da Praça da Figueira;

– Promoção de estratégias comuns de divulgação, como aspecto essencial do bom funcionamento emrede, através de uma marca “Cultura Baixa-Chiado” em que os muitos estudantes que ali se movimentam possamcriar e ciclicamente renovar; que deve manifestar-se em cartazes, desdobráveis, catálogos, roteiros, performances,instalações, etc.; que abrangerá determinadas actividades comerciais (livrarias, galerias, alguns hotéis, restau-rantes e cafés, alguns transportes públicos), num esforço conjunto de ampla democratização;

– Promoção de modelos inovadores de mecenato cultural junto dos diversos investidores interessadosno renascimento da Baixa-Chiado, como uma das fontes de financiamento do programa “Cultura em Rede”.

Page 112: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 117

O núcleo museológico do Convento de S. FranciscoApesar da qualidade do espaço, da colecção e das exposições, o Museu do Chiado (ali instalado em 1911)

tem uma área exígua que não lhe permite potenciar as suas actividades.Este facto, reconhecido logo no momento da sua reabertura em 1994, é assumido pelo Governo como

uma das suas prioridades de política cultural. Trata-se de reordenar e revalorizar o importante ex-Convento deS. Francisco que alberga também (o que deve continuar) a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboae a Academia Nacional de Belas-Artes. Pelo contrário, o Comando da PSP ali instalado deve ser reinstalado emárea mais adequada, e as instalações do Governo Civil de Lisboa podem ser reduzidas.

O Museu do Chiado ampliado cumprirá importantes funções, nomeadamente:– Oferecer, em permanência, a mais importante colecção de arte portuguesa dos séculos XIX e XX (até à actu-

alidade), em espaços modernos e atractivos que incluirão áreas de estar, biblioteca e a valorização do miradouro noterraço, capazes também de acolher exposições internacionais relativas ao mesmo período histórico;

– Requalificar, respeitando e valorizando as memórias, o notável edifício em que está instalado, em parce-ria com a Faculdade de Belas-Artes e com a Academia de Belas-Artes, que, evidentemente, beneficiarão dasobras a realizar. Considerando a proximidade de monumentos nacionais como o Teatro de S. Carlos e a Igrejados Mártires, compreende-se que S. Francisco voltará a ser um pólo de excelência, atraindo para a envolvênciaa hotelaria, a habitação e o comércio mais qualificado;

– Polarizar e disseminar práticas culturais e artísticas que articulem a história com as dinâmicas inven-tivas da arte actual, envolvendo artistas e outros operadores culturais, ao serviço também de moradores, de visi-tantes e da formação de públicos mais exigentes e participativos.

Dois novos MuseusNo lugar simbólico por excelência que é a Praça do Comércio – e cuja requalificação e revitalização são

centrais na estratégia definida para a Baixa-Chiado –, propomos a criação de um Núcleo do Museu da Cidade deLisboa (dedicado ao terramoto de 1755 e à reconstrução da cidade), a instalar, como já está previsto, na alanascente da Praça.

A função deste núcleo museológico será a de Centro de Documentação sobre a reconstrução da cidade,utilizando a riquíssima colecção de desenhos pombalinos da Câmara Municipal de Lisboa, a excepcionalidadeda maqueta de Lisboa antes do terramoto, recentemente restaurada, mas também novos recursos informáticosque permitam aos investigadores e aos públicos interessados interrogar a cidade.

À ilharga da Praça do Comércio, no Edifício do Arsenal, propõe-se criar o Museu da Viagem, essencial-mente virtual, didáctico e espectacular, evocando as viagens marítimas dos portugueses nas épocas imperiais,sobretudo na sua dimensão técnica e científica.

Page 113: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 118

Trata-se de um projecto ambicioso – que cruzará recursos diversos, nomeadamente do Museu daMarinha – destinado também a responder à procura turística que, maioritariamente (e bem), conota Portugal eLisboa com os Descobrimentos e a criação das primeiras rotas do comércio mundial.

Em termos físicos, propõe-se que o Museu da Viagem determine a abertura da Doca do Arsenal paraexposição visitável de embarcações de especial relevância, de acordo com projectos já diversas vezes veiculados.

Tratando-se de um projecto de custos significativos, implicando nomeadamente a reinstalação dealguns serviços ali sediados, o Museu da Viagem deverá ser um projecto de médio prazo, encontrando no mece-nato cultural fontes de financiamento.

O ex-Convento do Carmo, o Museu Arqueológico do Carmo e a Nova Escola de Artes e Ofícios Recuperando e modernizando vivências antigas, propõe-se que – além dos centros vitais sediados na

Praça do Comércio, no Rossio e na zona de S. Francisco – o Largo do Carmo se venha a configurar como outropólo cultural qualificado. Este desígnio inscreve-se, aliás, no actual dinamismo da área, onde têm surgido lojasde qualidade, pequenos restaurantes atraentes e se assistiu a remodelação do Museu Arqueológico do Carmo,um dos mais antigos museus portugueses, fundado na década de 1860.

O Carmo é o “céu da Baixa”, dispondo de dois dos seus mais amados ex-líbris, as ruínas da igreja e oponto de chegada do Elevador do Carmo. Afectas ao Museu Arqueológico, as ruínas da nave da igreja têm vindoa ser afectas a funções culturais e sociais diversas, contratualizadas com a Associação Nacional dos Arqueólogosque tutela o Museu. É esta vertente que se pretende potenciar, integrada na Rede dos Equipamentos Culturaisda Baixa-Chiado.

Neste sentido, o espaço da ex-igreja deve constituir-se como um dos anfiteatros de ar livre de Lisboa paraespectáculos de cinema, teatro, música, dança e outros, articulados com as programações de outros orga-nismos da área.

A hipótese de estabelecer, na ex-Escola Veiga Beirão, a nova Escola de Artes e Ofícios poderá ser outraimportante mais-valia que dinamizará a actual tendência para o estabelecimento ali de pequenas empresas cria-tivas, nas áreas da moda e do design.

A médio prazo, deve prever-se a desafectação do ex-convento pelos organismos militares ali instalados,abrindo-se a possibilidade de outras ocupações mais interessantes, que poderão passar por secções da Escolade Artes e Ofícios, pela desejada ampliação do Museu Arqueológico do Carmo.

Page 114: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 119

Casa dos Bicos e Teatro RomanoDada a anunciada desafectação da Casa dos Bicos (propriedade da CML), parece de propor uma exten-

são arqueológica do Museu da Cidade, potenciando quer as reminiscências romanas ali presentes, quer as carac-terísticas do projecto museológico originariamente pensado pelo arquitecto Manuel Vicente no projecto dereabilitação de 1994, com galerias abertas, hoje entaipadas. Esta estrutura museológica deveria ser articulada como Museu do Teatro Romano (Museu da Cidade) que lhe fica sobranceiro, criando um interessante percursoque se desenha pelas “entranhas” da cidade actual, revelando o passado romano, tão pouco valorizado até aomomento. Este percurso romano poderia ainda alargar-se quer ao criptopórtico sob a rua da Prata, quer àsestruturas já museológicas do BCP.

Page 115: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 120

3.2 Política pública de habitação

NOTA INTRODUTÓRIAEncontramo-nos hoje hum momento de mudança no contexto das políticas públicas de habitação.Se até agora fazia todo o sentido falarmos em política de habitação social, na perspectiva em que era

premente construir fogos necessários para garantir o direito à habitação para todos, actualmente o grandedesafio é desenvolver mecanismos eficazes de gestão social do espaço e edificado público urbano.

Deste modo, é fundamental o desenvolvimento de uma política social de habitação que permita a gestãoadequada dos recursos habitacionais, que garanta a equidade social, promova a cidadania e respeite a diversi-dade sociocultural, por contraposição a uma visão meramente economicista de reabilitação arquitectónica doedificado e sem preocupações de regulação do mercado, adequadas à ocupação heterogénea do espaço pelosgrupos populacionais.

O Projecto de Revitalização da Baixa-Chiado (PRBC) representa uma excelente oportunidade empíricapara pormos à prova os efeitos desta mudança de paradigma na abordagem à reabilitação urbana, quer pela he-terogeneidade das problemáticas sociais, arquitectónicas e de gestão do espaço público que envolve, quer pelanobreza do espaço, quer, ainda, pelo seu significado simbólico. O desafio é enorme, entre deixar o mercado fun-cionar livremente e encontrar mecanismos de regulação que, não o impedindo de funcionar, permitam umaocupação do espaço diversificada e equitativa. Importa, neste contexto, criar instrumentos que permitam definir“quem deve ficar a residir nesta área”, “quem deve ser realojado noutra zona da Cidade” e “quem deve ser atraí-do a residir na Baixa-Chiado”.

Assim, de forma a delinear uma política pública (social) de habitação, assente numa perspectiva ecoló-gica e social, invoca-se, necessariamente, a ponderação de três dimensões fundamentais: I) a avaliação do pontode partida que justifica a implementação da política; II) o estabelecimento dos objectivos a alcançar; e III) a afe-rição dos instrumentos disponíveis para execução das orientações adoptadas.

AVALIAÇÃO DO PONTO DE PARTIDAA avaliação do ponto de partida para o estabelecimento de uma política social de habitação na Baixa-

-Chiado deve basear-se no conhecimento da realidade sócio-ecológica da área geográfica de intervenção. Esteconhecimento, integrado e multidimensional, deve abranger aspectos como a sociodemografia, as composiçõese dinâmicas familiares, os recursos económicos, a afiliação espacial dos grupos populacionais e suas represen-tações sociais e dinâmicas culturais.

No momento actual, a informação colhida em diversas fontes privilegiadas (Census 2001; SCML; CML;SRU Baixa Pombalina, Juntas de Freguesia) permite-nos proceder ao pré-diagnóstico sociodemográfico da zonade intervenção.

Page 116: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 121

Assim, relativamente aos aspectos demográficos e às condições sociais, podemos constatar a presença de:– Forte coesão social dos residentes (participação local e associativismo de bairro), com uma cultura de

bairro alicerçada em relações de vizinhança e com o espaço público;– População envelhecida e em declínio demográfico;– Atracção recente de população jovem com estatuto económico mais elevado e diferentes modos de vida;– Contextos de familiaridade e de proximidade proporcionando relações de interajuda e de vizinhança;– Desejo de permanência da população no local;– Existência de más condições de habitabilidade;– Presença de uma população idosa muito dependente e fraca existência de respostas de saúde;– Insuficiência de respostas sociais no tocante aos idosos;– Emergência de toda uma panóplia de comportamentos desviantes que poderão ameaçar a coesão do bairro;– Sentimento de insegurança no imaginário da população.

Por outro lado, constata-se a existência de diferentes problemáticas sociofamiliares, em face das quaisé necessário delinear uma resposta adequada, a saber:

I. Idosos isolados residentes há longa data (há mais de 40 anos), na condição de arrendatários. Estegrupo dispõe de fracos recursos económicos, deficientes condições de habitabilidade e evidencia reduzidamobilidade associada frequentemente a problemas de saúde, recorrendo ao apoio da rede de vizinhança. Nãodeseja abandonar a zona de residência;

II. Idosos com filhos e/ou netos residentes há longa data, na condição de arrendatários. Este grupo dis-tingue-se do grupo anterior pela coabitação, seja com os filhos adultos (em situação de desemprego ou dedependência económica, por vezes associada com problemas de saúde), seja com os netos jovens;

III. Adultos com problemas de inserção (saúde mental, toxicodependência e alcoolismo) residentes hálonga data por sucessão na ocupação habitacional dos seus ascendentes. Este grupo evidencia deficiente acom-panhamento médico-social;

IV. Famílias nucleares residentes há algum tempo (5-20 anos), na condição de arrendatários, com nível derendimento médio, situado entre os 1000 euros e os 1500 euros, vivendo em más condições de habitabilidade;

V. Famílias monoparentais, resultantes de separações dos jovens cônjuges, com fraca rede social desuporte e fracos recursos económicos, normalmente os filhos e netos de residentes de há longa data;

VI. Adultos jovens residentes há muito pouco tempo (1-5 anos) e que representam a primeira face visív-el das parcas intervenções de reabilitação já realizadas. Incluem-se neste grupo algumas situações de profissõesliberais com rendimento elevado e aquisição de habitação própria;

VII. Jovens e adultos itinerantes sem residência, vivendo, normalmente, em pensões a expensas daSCML;

Page 117: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 122

VIII. Sem-abrigo, uns que apenas atravessam a zona e outros que aqui pernoitam, e têm apoio das orga-nizações de apoio a este tipo de população.

IX. Imigrantes ilegais, que vivem em habitações insalubres, sem quaisquer condições de habitabilidadeà mercê de proprietários pérfidos.

Este quadro populacional enquadra-se num parque habitacional também ele de características particulares:I. Elevado número de fogos devolutos;II. Deficientes condições de habitabilidade de uma grande parte dos fogos;III. Pouca afectação de usos a habitação;IV. Considerável peso dos actores institucionais, incluindo o próprio Município, como proprietários.

Importa, contudo, proceder a um diagnóstico aprofundado da caracterização sócio-ecológica da áreageográfica de intervenção do PRBC. Este trabalho deverá ser realizado por um organismo externo competentecomo, por exemplo, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (Núcleo de Ecologia Social).

ESTABELECIMENTO DOS OBJECTIVOSFace a este pré-diagnóstico, traçamos os seguintes objectivos estratégicos:– Possibilitar a permanência da população residente;– Promover a participação dos residentes nos processos de tomada de decisão inerentes ao impacto

social deste projecto;– Melhorar as condições de habitabilidade dos residentes;– Dar resposta adequada e eficaz às problemáticas identificadas;– Regular os efeitos do livre funcionamento do mercado imobiliário, de forma a permitir uma ocupação

diversificada e equitativa do edificado.

Para levar a cabo estes objectivos estratégicos considera-se fundamental, por um lado, elaborar umPlano de Intervenção Comunitária e Social para a Baixa-Chiado e, por outro lado, proceder ao levantamentodos instrumentos legais que permitam alcançar os objectivos propostos.

INSTRUMENTOSO Plano de Intervenção Comunitária e Social para a Baixa-Chiado tem como finalidade perspectivar

uma matriz de intervenção e acompanhamento do PRBC que garanta a adequação dos recursos e a eficácia dasrespostas sociais às problemáticas identificadas, bem como a participação dos residentes nos processos detomada de decisão inerentes ao impacto social deste projecto.

Page 118: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 123

A execução deste plano deve ser da responsabilidade de um Gabinete Técnico de Gestão Social doPRBC, composto pelo núcleo da Rede Social de Lisboa, ou seja, o Instituto da Segurança Social, a CâmaraMunicipal de Lisboa e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Este Gabinete tem como responsabilidades o atendimento aos residentes e a criação de uma Rede deReferenciação Social do PRBC. É ainda da sua responsabilidade a articulação com outros organismos públicose privados com vista a apoiar os residentes em assuntos nas áreas jurídica, da segurança e económica.

O atendimento aos residentes será feito em local preparado para o efeito e visando informar os residentes sobre oprojecto, esclarecer dúvidas, resolver problemas inerentes ao Projecto, acompanhar as famílias durante o período de inter-venção e encaminhar os indivíduos e as famílias para as respostas sociais mais adequadas.

Com base no diagnóstico sócio-ecológico, será criada uma Rede de Referenciação Social para respon-der de uma forma adequada e célere às situações sociais. Esta Rede de Referenciação Social integrará todas asentidades consideradas relevantes no apoio às problemáticas identificadas, tais como:

– Imigração;– Sem-abrigo;– Saúde mental;– Toxicodependências;– Crianças e jovens em risco;– Idosos.

Quanto aos instrumentos legais que permitam alcançar os objectivos de possibilitar a permanência dapopulação residente, melhorar as condições de habitabilidade dos residentes e regular os efeitos do livre fun-cionamento do mercado imobiliário, de forma a permitir uma ocupação diversificada e equitativa do edificado,desde logo, registam-se as virtualidades oferecidas pelo NRAU e respectiva regulamentação, em especial as fa-culdades de intervenção em caso de não-realização de obras devidas pelo proprietário (relembre-se que oMunicípio pode chegar a ter o direito de manter o prédio arrendado em regime de renda condicionada).

Por outro lado, o programa PROHABITA, actualmente em fase de revisão. Como se sabe, este progra-ma, sob formas várias, permite obter a comparticipação do Estado Central, por intermédio do Instituto Nacionalde Habitação, de diversas operações tendentes a obviar a situações de carência habitacional grave das popu-lações beneficiárias. Destacam-se, para o fim que nos ocupa:

a. A possibilidade de realização de obras de reabilitação comparticipadas em prédios municipais, muitosdos quais, note-se, têm fracções devolutas, devendo os fogos reabilitados ser atribuídos aos desti-natários recenseados em regime de renda apoiada (sendo que também a aquisição de prédios paraeste fim é financiável);

b. A faculdade de arrendamento, também comparticipado, de prédios ou de fracções autónomas deprédios urbanos destinados a habitação para posterior subarrendamento;

Page 119: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 124

c. Por último, a opção de realização de obras para conversão das habitações devolutas em unidades resi-denciais, ou seja, em habitações ou áreas delimitadas por paredes separadoras, que podem disporde um espaço para preparação de refeições e de uma instalação sanitária, destinadas a alojamentocolectivo ou exclusivo de agregados familiares e integradas em edifício ou fracção autónoma deedifício dotado de espaços de utilização comum destinados a lazer e a serviços complementares deassistência ou de serviços aos residentes. Esta possibilidade abre as portas à possibilidade de criaçãode uma rede de residências assistidas que permitirão às populações idosas a continuidade de per-manência no local onde sempre habitaram, com manutenção de autonomia e dos laços de vizinhança.Esta solução apresentará evidentes benefícios, seja porque permite a manutenção da identidadecolectiva do local, o que em termos de conceito imobiliário é uma mais-valia não desprezível, querseja porque confere ao Município a oportunidade de libertar fracções e alavancar soluções várias deoptimização do seu património, numa lógica de economia social. De resto, está já em curso a apro-vação do primeiro projecto de arquitectura para uma residência assistida municipal, assente nareabilitação de prédio camarário na Rua do Crucifixo, a qual permitirá, com as virtualidades acimareferidas, a libertação de 30 fracções no património disperso da edilidade.

No intuito de reservar uma quota de mercado habitacional para a classe média jovem, promovendoassim a transversalidade na ocupação da Baixa-Chiado, será particularmente relevante a implementação donovo programa governamental pendente de regulamentação, Porta 65, também sob a égide do INH. Este pro-grama surge com o objectivo de dinamizar o mercado de arrendamento, tornando-o dinâmico e capaz deresponder às necessidades sociais da população.Visa, essencialmente, sob a alçada do INH, disponibilizar e con-tratualizar serviços com os proprietários (Administração Central e Local, privados) colocando-os depois ao dis-por não só de pessoas que necessitem de apoio social, como de novos perfis de agregados familiares, jovens ede classe média sub-solvente, durante o período necessário. Os proprietários deverão pagar à Porta 65 uma taxade gestão para disponibilizarem os fogos, recebendo em troca a garantia do pagamento das rendas e amanutenção quotidiana, sendo esta última a mais relevante para a Baixa-Chiado.

A política pública de habitação para a Baixa-Chiado deverá, no ponto óptimo de intersecção entre olivre funcionamento do mercado e a regulação tendente à revitalização, responder de forma positiva ao desafiode recuperar, mantendo a identidade simbólica: aumentando e diversificando as respostas às carências habita-cionais, promovendo o mercado de o arrendamento, estimulando a mobilidade residencial quando tal se justi-fique, apoiando a reabilitação e arrendamento dos fogos devolutos.

Esta intervenção deve operar-se numa quota a estabelecer, de forma equilibrada, no universo previsí-vel de 5400 fogos, alcançando-se assim um desejável equilíbrio demográfico e sócio-económico entre a popu-lação residente.

Page 120: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 125

3.3 Turismo

A importância estratégica e a dimensão relativa do Turismo da cidade de Lisboa, no contexto nacional,não tem cessado de crescer, e o Plano de Marketing Estratégico para Lisboa 2007-2010 tem como principalobjectivo ultrapassar 2 milhões de turistas estrangeiros em 2010.

Em 2005, a Região de Lisboa foi responsável, em termos de receitas geradas na hotelaria global, por442,5 milhões de euros, num total de 1593 milhões de euros a nível nacional (28% do total). Nesse período, asdormidas de turistas estrangeiros representaram 73% no total de dormidas nos estabelecimentos hoteleiros. Ea duração média de estadia foi de 2,37 noites.

A maioria dos turistas estrangeiros que visita a cidade de Lisboa obedece a um perfil com as seguintescaracterísticas principais:

– Pertence ao escalão etário entre os 36 e os 55 anos. Há um ligeiro mas contínuo crescimento de visi-tantes jovens (19-25 anos);

– Possui formação média ou superior;– Viaja acompanhado.

Elege como principais actividades, durante a estadia em Lisboa, a visita a atracções (87%), passeios a pépela cidade (86%), frequência de bares e discotecas (82%), shopping (71%) e visitas a museus (79%).

Sobre o grau de satisfação, 56% dos turistas consideraram a visita como “uma magnífica surpresa”, 20%avaliam-na acima das expectativas e 97% pensavam recomendar a visita a familiares e amigos. Numa escala de 1a 10 (máx.), o total de entrevistados estrangeiros posicionou Lisboa com uma média de 9,23 (Inquéritos de 2005).

Pode afirmar-se que Lisboa, enquanto destino turístico:

Apresenta como principais pontos fortesTer uma oferta rica e diversificada de património histórico, arquitectónico e cultural, combinar história

e tradição com modernidade, ser uma cidade bonita, com uma luz única e um clima privilegiado. Ser umacidade turisticamente fácil de visitar, segura, com uma “face humana” e onde se sente uma “amabilidade geral”e empatia dos residentes para com os turistas. A cidade dispõe, hoje, de uma forte e moderna capacidade dealojamento turístico e de boas estruturas de animação e entretenimento para os visitantes.

Evidencia como pontos fracosA degradação e consequente necessidade de requalificação do património edificado, principalmente no

Centro Histórico, deficiente integração turística entre a cidade e a região envolvente, a degradação e o desaproveita-mento das frentes de rio e mar, deficiente oferta de actividades marítimo-turísticas para lazer, a fraca qualidade

Page 121: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 126

de alguns equipamentos, do serviço prestado em grande parte das zonas de vocação turística, a deficiente sinal-ização rodoviária e turística, o excesso de circulação automóvel e parqueamento desordenado, e uma deficientedivulgação de eventos culturais e desportivos de projecção internacional.

Os turistas elegeram as zonas do Chiado, Belém, Av. da Liberdade, Baixa e Alfama como os locais demais interesse. 89% dos turistas estrangeiros afirmaram ter visitado o Chiado, e 79% a Baixa.

Parte substancial do crédito de apreciação positiva que a cidade de Lisboa, como destino turístico, teme continua a ganhar junto dos visitantes e potenciais turistas nos principais mercados emissores deve-se à efec-tiva atractividade turística desta zona da Baixa-Chiado. Por isso, esta deve ser objecto de um “PROGRAMA DEVALORIZAÇÃO TURÍSTICA” que permita corrigir os aspectos considerados fracos ou penalizadores e desen-volver todo o potencial de atractividade que lhe é reconhecido, contribuindo para tornar o destino turístico deLisboa mais competitivo, para benefício da cidade, dos lisboetas e do turismo nacional.

Este programa deve atender ao que se projecta venha a ser a evolução do Turismo de cidade a nívelmundial e, em particular, na Europa, nos próximos 10/15 anos, fortemente marcada por alterações estruturais econjunturais: (novos países emissores; as novas realidades no transporte aéreo, nomeadamente a emergência eo desempenho dos “low cost”; o aumento do tempo disponível para o lazer; a facilidade de circulação de pes-soas; envelhecimento da população, com maior predisposição para viagens de férias e lazer; as novas exigênciasdos consumidores e a intensificação da concorrência entre destinos turísticos e, particularmente, entre as prin-cipais cidades capitais da Europa…).

No Turismo dirigido às cidades capitais com perfil histórico, é indiscutível que a visitação está cada vezmais associada a motivações de carácter cultural e ao “touring” para usufruto de férias e lazer (passeios a pé,gastronomia, shopping…). Há a salientar uma crescente apetência pela visita de destinos que proporcionemfacilidade de circulação pedonal ou de bicicleta.

As projecções realizadas pela Organização Mundial de Turismo (OMT) estimam em cerca de 13 milhõeso número de turistas que o país deverá receber em 2010 e em 16 milhões de turistas o número que poderá vira receber em 2020 (11,6 em 2004).

Poder-se-á estimar que, em 2010 e ao longo do ano, visitarão, no mínimo, a Baixa-Chiado:1,8 milhões turistas estrangeiros | 1 milhão de turistas nacionais.

Considerando o período médio de estadia em Lisboa, poder-se-á também projectar um número médiode permanência diária de turistas na zona da Baixa-Chiado e ao longo do ano oscilando entre 8000 a 15.000indivíduos, com picos, nas épocas altas, que poderão ultrapassar os 50.000 turistas/dia. Isso mesmo reforça anecessidade de um “PROGRAMA DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA” para tornar a visita à zona e à cidadeainda mais interessante, e criando condições para que estes potenciais turistas possam ser fidelizados erecomendem a visita a outros.

Page 122: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 127

Não cabe no âmbito deste trabalho estabelecer os princípios e pilares desse Programa, todavia não podedeixar de se insistir que ele deve procurar acompanhar a execução de numerosas medidas expostas ao longodeste Relatório e dar soluções a um certo número de questões, de que realçamos as seguintes:

– Inexistência de alojamento turístico de qualidade em edifícios de património arquitectónico classifi-cado, reabilitados para o efeito;

– Reduzido número de esplanadas de qualidade, em locais física e visualmente atractivos, em especialnas principais praças e zonas de circulação pedonal;

– Ausência ou deficiente policiamento em áreas conhecidas de visitação e grande circulação de turis-tas estrangeiros (o caso do eléctrico 28 é paradigmático);

– Inexistência de equipamentos culturais “âncora” que possam atrair e fixar a atenção dos turistas paraa visitação da zona;

– Inexistência de núcleos de “animação nocturna” que tornem interessante a circulação e a presençados turistas na área a partir das 21 horas;

– Ausência de lojas de produtos de grande qualidade, nacionais ou de marca internacional;– Ausência de percursos pedonais temáticos e de uma ciclovia que permita a circulação de bicicletas

em toda a parte ribeirinha;– Necessidade de criar condições para o desenvolvimento de actividades marítimas turísticas para lazer

e usufruto dos utentes e turistas;O Programa de Valorização Turística deve prever mecanismos de carácter excepcional para agilizar a

análise e eventual aprovação e licenciamento de projectos e actividades considerados de interesse para o desen-volvimento turístico, nomeadamente a reabilitação de edifícios para “usos” turísticos, a abertura de hotéis, ren-ovação de restaurantes, bares, esplanadas e áreas de animação, e o licenciamento de actividades marítimo-tu-rísticas etc.

Este programa não pode estar na responsabilidade de diversas entidades públicas e privadas. Ele tem deser da responsabilidade de uma única autoridade de preferência do organismo que suceder ao Comissariado eque vier a ter responsabilidade global pela revitalização da Baixa-Chiado.

Page 123: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 128

3.4 Segurança e Protecção Civil

Os objectivos e as soluções que o Comissariado propõe para a Baixa-Chiado não serão atingidos se naZona não existir uma garantia de segurança sob todas as suas vertentes.

O processo de revitalização, como é explicado neste Relatório, implica o reforço da presença de muitomais gente na Zona, durante mais tempo ao longo do dia e da semana. Nessas circunstâncias, como é óbvio, osvários tipos de ameaças aumentam.

Uma firme decisão de que os parâmetros de qualidade de vida urbana (e pensamos, em particular, naHigiene e Limpeza) vão ser desde o início da materialização do projecto, objecto de uma melhoria, de umaatenção especial e da vontade de atingir níveis de excelência, não pode sequer ser posto em dúvida.

Um destes parâmetros é o da segurança.A Polícia (as Polícias de Segurança Pública e a Municipal têm de funcionar em coordenação perfeita e

por isso mesmo nos referiremos apenas à Polícia) conhece perfeitamente a situação da Baixa-Chiado e temcapacidade para garantir que esses parâmetros são atingíveis.

Devem-lhe, por isso, ser fornecidos os meios humanos e materiais (menores do que à primeira vistapossam parecer), por forma a que a Polícia possa sempre antecipar-se aos acontecimentos (atitude proactiva),em vez de se lhe exigir que reaja às mesmas e “remedeie” situações.

Será necessário que a Polícia mantenha e desenvolva níveis elevados de confiança com os comerciantese os residentes (os mais interessados na materialização desse clima de segurança permanente) e, para tal, énecessário que a sua presença se torne visível.

Serão necessários polícias com aptidões linguísticas e que se criem condições para o combate imedia-to dos pequenos delitos. Pensamos, em particular, no que ocorre na Rua Augusta – a única via pedonal comexpressão que a zona Baixa-Chiado integra – e no eléctrico 28. Ambas constituem bons exemplos do que nãopode ocorrer no futuro.

A Polícia deverá ter uma atenção especial à repressão ao estacionamento ilegal e à observação dasregras de cargas e descargas.

Certas zonas devem ser equipadas com videovigilância, e a monitorização constante desse clima de con-fiança é peça essencial nos objectivos de revitalização.

No que se refere à Protecção Civil, devem ser desenvolvidas políticas de informação aos utilizadoreshabituais e residentes de como reagir em situações de excepção.

Deve ser dada especial atenção, nas operações de reabilitação, à observância das medidas antifogo e àsde protecção anti-sísmica.

Particularmente nestes domínios, deve ser feita uma certificação do edificado existente, operação que,por ser demorada, deve ser iniciada quanto antes, provavelmente com o apoio e atitude proactiva das compa-nhias seguradoras.

Page 124: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 129

3.5 Gestão Urbana

LIMPEZA E HIGIENENo que se refere à limpeza e higiene urbana, é indispensável definir rotinas e processos exigentes, no

que se refere a:1. Horas de recolha de resíduos (por exemplo, não é compatível ter restaurantes abertos à noite com a

sua proximidade repleta de contentores de lixo).2. Horas de recolha de contentores vazios (que tem de estar terminada antes da abertura dos comércios).3. Rotinas de lavagem das ruas e praças. Periodicamente (anualmente), deve ser feita uma limpeza pro-

funda do espaço público e dos monumentos públicos e religiosos.4. Sistemas de recolhas selectivas dos resíduos (por exemplo, sem a colaboração efectiva dos comer-

ciantes, a recolha dos cartões será sempre uma operação ineficiente…).5. Aspiração frequente dos locais mais nobres e frequentados.

Para além dessa definição conjunta de objectivos e processos, a SGU – Sociedade de Gestão Urbana(ver ponto 4.3.5) e os serviços camarários definirão uma política de comunicação dirigida aos residentes, co-merciantes e visitantes, e uma vez estabelecidos os objectivos e a forma de actuar, o seu desempenho (que exigiráalgum reforço de meios, pelo menos no que se refere à fiscalização) deverá ser acompanhado por uma avaliaçãoexterna e independente. O “objectivo-síntese” desta actuação é a obtenção de uma “certificação internacionalde qualidade” para os serviços de limpeza e higiene urbana da Baixa-Chiado.

PUBLICIDADE E GRAFITIS O número excessivo de “armários técnicos” e a indisciplina na sua distribuição é uma questão já levan-

tada neste relatório (vide ponto 2.8). A redução do seu número (que tem a ver principalmente com a rede tele-fónica, televisão por cabo e rede de distribuição de electricidade) terá de ser um dos objectivos da gestão danova “Baixa-Chiado”.

É necessária uma alteração dos regulamentos vigentes (ou mesmo de legislação) que permita um com-bate eficaz e imediato à colagem de publicidade, para os mais diversos fins, nessas caixas e noutros equipamen-tos, como candeeiros, postes de sinalização, etc.

Igualmente, serão necessárias alterações na regulamentação que permitam combater os grafitis, não sópelo estabelecimento de mecanismos eficazes de dissuasão, mas também no que se refere à definição dosdeveres que incumbem aos proprietários e às entidades camarárias, e da clarificação em que condições estaspodem actuar em nome daqueles, nas acções de limpeza dos grafitis e da publicidade abusiva.

Como já foi referido, todo o espaço público precisa de um tratamento no que se refere à afixação depublicidade, hoje praticamente funcionando em regime de “self-service”.

Page 125: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES
Page 126: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

MODELO INSTITUCIONAL

Page 127: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 134

Uma das questões mais críticas de um projecto desta natureza é a opção por um modelo institucionalcapaz de assegurar com eficácia e eficiência a sua operacionalização e execução. Consideraram-se, neste ponto,os seguintes pressupostos:

– um território de excepção pela sua singularidade, vista como uma condicionante, mas sobretudo comouma oportunidade;

– Um território com zonas claras de influência do Poder Central e do Poder Autárquico;– A necessidade de articular inúmeros parceiros e actores públicos e privados;– A importância de um limite temporal à intervenção garantida pela criação de mecanismos expeditos

de decisão;– Um acordo de compromisso, explícito quanto à partilha de responsabilidades e com uma vigência

garantida até ao termo da intervenção;– A criação de uma única “entidade” para gerir o espaço de intervenção, reunindo, para o efeito, as

necessárias competências governamentais e camarárias;– A potenciação do efeito mobilizador do projecto no sector privado, enquanto parceiro, promotor e

investidor, garantindo, através deste modelo, quer a estabilidade do mesmo, quer a celeridade dos procedimen-tos num quadro pré-definido de objectivos e prioridades;

O modelo apresentado reflecte estes pressupostos e responde à necessidade de melhorar a governaçãodas intervenções urbanas graças a um planeamento eficaz e ao empenhamento claro de todas as entidades com-petentes, por um lado, e cria as condições para uma nova forma de governança, assente na cooperação inter-insti-tucional, na concertação de políticas e na capacitação dos actores, por outro.

Page 128: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 135

4.1 Princípios Aplicáveis

4.1.1O projecto de reabilitação da zona da Baixa-Chiado (o “Projecto”) exige um modelo institucional de

gestão que assegure, do ponto de vista organizacional, procedimental e jurídico, os instrumentos necessários àsua realização. Com efeito, o Projecto pretende assegurar a reabilitação e requalificação integrada da zona, querdo ponto de vista da sua renovação física, quer da sua reconversão social. A atracção de novas utilizações eactividades implica necessariamente a concretização de alguns projectos estruturantes – sem os quais não segera a transformação física necessária, a qual é condição da renovação social e económica que se pretende paraa zona.

Em síntese, o Projecto exige que, de forma integrada, sejam assegurados o planeamento e a execuçãode diversas actividades, cuja implementação deverá ficar a cargo de diversas entidades, públicas e privadas, masque devem ocorrer de forma coordenada e em obediência a um programa único.

A coordenação de todas essas actividades, a dinamização da actuação das várias entidades envolvidas,a capacidade de adaptar o projecto às várias circunstâncias que ao longo do tempo da sua execução irão inevi-tavelmente ocorrer, bem como a mobilização dos recursos financeiros necessários ao Projecto, constituem tare-fas de natureza pública, integradas quer na Administração do Município de Lisboa, quer na AdministraçãoCentral do Estado.

O Projecto implica a capacidade de rapidamente concretizar os projectos previstos. A atractividade daárea beneficiará da capacidade de assegurar que a decisão pública ocorrerá de forma rápida e previsível – o queimplica a adequação dos instrumentos de gestão territorial às necessidades do Projecto, celeridade nos proces-sos de licenciamento e articulação dos vários serviços públicos que devem pronunciar-se no âmbito destes.

Finalmente, o Projecto tem um tempo longo de preparação e execução dos vários projectos estrutu-rantes previstos, que se pode estender até 2010. Ao mesmo tempo, a requalificação da área implica um modelode organização da gestão urbana da área que assegure um nível de excelência para a área ao longo de um hori-zonte temporal longo.

4.1.2Todas estas características determinam que o desenho do modelo institucional de gestão do Projecto

se deva subordinar a quatro grandes princípios.

Envolvimento do Estado e do MunicípioOs vários projectos estruturantes e a actividade pública de revitalização da área carecem do empenho

e alinhamento de serviços do Estado e do Município.

Page 129: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 136

Alguns dos projectos estruturantes incidem sobre equipamentos e edifícios do Estado (museus edifí-cios dos Ministérios no Terreiro do Paço) ou devem ser realizados por entidades dependentes do Estado (PóloTurístico da Frente Ribeirinha). O envolvimento e o empenhamento do Governo e, em geral, da Administraçãodo Estado são, por isso, condição necessária da concretização do Projecto.

Ao mesmo tempo, cumpre ter presente que a área em causa se integra na cidade de Lisboa; que grandeparte das intervenções devem ser realizadas sobre bens que integram o domínio municipal, designadamente oespaço público; que o licenciamento de construção ou reabilitação de edifícios é uma competência municipal;e que a qualidade da gestão urbana depende essencialmente do Município. Por isso mesmo, sem o envolvimen-to do Município, o Projecto não pode realizar-se.

Deste modo, o modelo de gestão do Projecto deve assegurar o envolvimento dos dois níveis deAdministração.

Unidade de comandoA gestão do Projecto deve ser assegurada de modo unitário. A dispersão de competências relevantes

actualmente verificada torna difícil o planeamento e a execução das diversas actividades envolvidas. De resto, aexperiência passada demonstra que os projectos urbanos de relevo cuja concretização envolva competências erecursos nacionais e locais foram mais bem-sucedidos nos casos em que ocorreu essa unidade de comando (sãodisso exemplos as várias intervenções no âmbito do Programa Polis ou a Expo’ 98).

Estabilidade a longo prazoO Projecto tem um prazo longo de concretização, no que respeita aos projectos estruturantes, e ainda

mais longo de sedimentação – no que respeita a várias outras iniciativas públicas e privadas e à renovação sociale económica da área.

A mobilização de agentes exteriores – designadamente privados e entidades públicas – impõe que estespossam confiar no empenhamento a longo prazo dos poderes públicos e na estabilidade do modelo de gestão.Importa assim que este seja concebido de modo a sobreviver pelo prazo previsto da operação.

«Via Verde» para decisõesComo já se referiu, a celeridade no processo de decisão, particularmente no que respeite aos processos

de revisão dos instrumentos de gestão territorial aplicáveis, aos processos de licenciamento e, em geral, na emis-são de quaisquer actos administrativas de que dependam as várias acções compreendidas no processo, sãoaspectos críticos quer no que se refere à concretização do Projecto nos prazos previstos, quer na própria atrac-tividade de outros projectos, designadamente privados.

O modelo institucional procura respeitar todos estes princípios.

Page 130: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 137

4.2 Actividades a desenvolver

4.2.1O princípio da unidade de comando impõe que o modelo institucional seja concebido de modo a que

as competências públicas envolvidas – sejam elas originariamente municipais ou centrais – sejam exercidas poruma única entidade ou sob a supervisão desta – salvo os casos de competências sectoriais.

Assim, a entidade responsável pela gestão do Projecto deverá deter competências pelo menos nasseguintes matérias:

PlaneamentoA entidade gestora deve dispor da capacidade de elaboração dos instrumentos de gestão territorial que

se mostrem necessários para a concretização do Projecto. Em particular, o desenvolvimento do Projecto carecede ser enquadrado por normas de planeamento adequadas, tendo em conta as regras constantes do regulamen-to do actual Plano Director Municipal de Lisboa (“PDM”).

De acordo com o PDM, a área de intervenção abrange diversas unidades a que correspondem dife-rentes classes de espaço. De entre essas unidades, assume particular relevância a denominada “Área históricada Baixa”. O artigo 39.º do Regulamento do PDM obriga à elaboração de um “plano de pormenor ou regula-mento municipal” que tenha por fim a conservação e revitalização do conjunto arquitectónico e urbanístico.

Por sua vez, o artigo 40.º do mesmo Regulamento determina que, na falta daquele plano ou regulamen-to, as operações urbanísticas permitidas se limitam à beneficiação, restauro e conservação dos edifícios exis-tentes, ou à realização de alterações pontuais que visem a reposição das características dos mesmos.

Deste modo, nas circunstâncias actuais, muitas das operações compreendidas no Projecto não poderãoser executadas, uma vez que envolvem a realização de novas edificações ou a reconversão das actuais.

A entidade que venha a gerir o Projecto deve deter competência para elaborar os instrumentos degestão territorial que por este motivo se mostrem necessários, em função do programa e dos objectivos geraisdefinidos.

Execução de infra-estruturasA realização do Projecto exige igualmente um trabalho intenso de realização ou reabilitação de infra-

-estruturas, em particular a requalificação do espaço público. Por outro lado, as infra-estruturas no subsolo(públicas e privadas) precisam igualmente de ser modernizadas, para servir as novas actividades que se preten-dem atrair para a área.

A execução destas infra-estruturas está a cargo de diversas entidades – basta pensar, a título de exemplo,no projecto do pólo turístico da frente ribeirinha, que compreende espaços sob jurisdição da Administração do

Page 131: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 138

Porto de Lisboa (“APL”), espaços dominiais municipais (o Terreiro do Paço e arruamentos adjacentes), espaçosdependentes da Administração Directa do Estado (o Arsenal) ou as redes enterradas das várias concessionárias.

Sucede ainda que a execução das infra-estruturas deve ser executada logo nas primeiras fases de desen-volvimento do Projecto e de modo coordenado em termos de programação e gestão de acessos.

Deste modo, a entidade gestora do Projecto deve ter a capacidade de assumir a coordenação de todasestas actividades, incluindo a elaboração dos respectivos projectos.

Construção e reabilitação de equipamentosMuitas das acções compreendidas no Projecto envolvem a construção ou reabilitação de equipamentos

públicos e privados – infra-estruturas de transportes, equipamentos culturais ou museológicos ou a reconver-são e reabilitação de edifícios públicos existentes.

Uma vez mais, estas acções serão executadas por entidades distintas, e algumas delas estão já em curso.A entidade gestora do Projecto, porém, deverá ter a capacidade de estudar novas acções a este nível e coordenaras várias intervenções em função dos objectivos definidos para o Projecto.

Gestão urbanísticaGrande parte do Projecto corresponde à reabilitação ou reconversão de edifícios privados. Nesta

matéria, a entidade gestora do Projecto deverá deter competências em matéria de licenciamento urbanístico, asquais são habitualmente dos órgãos municipais.

As competências em matéria de gestão urbanística são aquelas em que o princípio correspondente à“Via Verde” para as decisões se mostra mais relevante. Neste aspecto, importa referir que todos os edifícios situ-ados na área estão sujeitos a servidão administrativa, que impõe a sujeição de todos os actos de licenciamentoou autorização a parecer prévio do Instituto Português de Património Arquitectónico (“IPPAR”). Deve, assim,buscar associar-se o IPPAR ao Projecto, de forma que agilize a emissão dos pareceres que se mostramnecessários.

Reabilitação urbanaSe é certo que o elemento central do Projecto é a reabilitação ou reconversão de muitos edifícios, não

é menos verdade que parte dessas intervenções correspondem à reconversão profunda deles. Outras inter-venções, porém, correspondem a simples intervenções de reabilitação de edifícios ou quarteirões, por iniciati-va pública ou dos seus proprietários, em termos muito semelhantes aos que são enquadrados pelo actual regimedas sociedades de reabilitação urbana (“SRU”). De resto, está já constituída uma SRU que abrange a zona daBaixa-Chiado. Importa, desse modo, que a actividade da SRU da Baixa-Chiado seja articulada com, ou coorde-nada por, a entidade gestora do Projecto.

Page 132: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 139

Gestão urbanaO Projecto assume que a zona da Baixa-Chiado será um espaço urbano de qualidade, gerido de forma

integrada no que respeita a serviços urbanos e, em geral, no que toca à organização do espaço e actividades.Nessa matéria, importa assegurar que a gestão urbana da zona seja diferenciada, em função dos objec-

tivos do Projecto. Por gestão urbana, para este efeito, pretende-se designar, em primeiro lugar, serviços como alimpeza urbana, recolha de resíduos sólidos, ajardinamento, conservação de espaços públicos e mobiliáriourbano; a disciplina e o licenciamento de diversas actividades particulares que influenciam a vivência do espaçourbano (publicidade exterior; mobiliário urbano, ocupação de espaço público; cargas e descargas); a disciplinado trânsito e do estacionamento; ou a segurança. Em segundo lugar, considera-se igualmente incluída no con-ceito de gestão urbana a elaboração de normas disciplinadoras destas actividades.

Entende-se que a entidade gestora do Projecto deve ter competência para elaborar projectos de regu-lamentos nestas matéria, que serão posteriormente submetidos a aprovação dos órgãos municipais compe-tentes. Entende-se, igualmente, que a mesma entidade deve dispor de competência para a prática dos actos delicenciamento referidos. Finalmente, entende-se que a entidade gestora deve ter, por um lado, a capacidade defixar os parâmetros de actuação dos serviços municipais que prestem alguns desses serviços (p. ex., a recolhade resíduos sólidos); por outro lado, quando se trate de serviços que o Município já contrate a prestadores exter-nos ou que não se justifique serem desenvolvidos por serviços municipais (p. ex., o ajardinamento ou a conser-vação de arruamentos) deverão esses serviços ser contratados directamente pela entidade gestora do Projecto.

Dinamização económica e desenvolvimento empresarialA entidade gestora do Projecto deve igualmente assumir-se como agência de dinamização de projectos

empresariais ligados às actividades que, preferencialmente, se desejam ver instaladas na área.Para este efeito, a entidade gestora deverá reunir competências que lhe permitam identificar potenci-

ais investidores, apoiar projectos de incubação de empresas, facilitar o acesso a fundos públicos de apoio a ini-ciativas económicas ou culturais e, em geral, actuar como dinamizadora da actividade económica local.

4.3 O modelo institucional proposto

4.3.1Na concepção do modelo institucional proposto, procurou-se encontrar soluções que não careçam de

alterações ao quadro legislativo actual. O modelo institucional proposto obedece aos princípios referidosacima, associando, por isso, Estado e Município numa entidade gestora única. Esta entidade gestora, por suavez, deterá participações noutras entidades que desenvolverão por si, mas sob a coordenação da entidade gesto-ra, algumas das actividades compreendidas no Projecto.

No Anexo I, encontra-se a representação gráfica do modelo institucional proposto.

Page 133: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 140

Estado MunicípioAcordo Parassocial

Modelo Institucional

Participaçãomaioritária

Participaçãomaioritária

Participaçãominoritária

Participaçãominoritária

Contratos específicos

Contrato programa

Mandato para gestão

Domínio total

Entidadegestora

Estado Município

SRU

Projectos estruturantes

Gestão urbana einfra-estruturas

Page 134: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 141

4.3.2O modelo institucional foi também pensado tendo em conta que o Projecto é desenvolvido a muito

longo prazo, o que exige a sua estabilidade durante esse período.Porém, o Projecto não apresenta as mesmas características ao longo de todo esse período. Assim, a fase

inicial corresponde a um momento de investimentos pesados (concretização de projectos estruturantes até2010); o peso dos investimentos diminui nas fases posteriores. Nessa altura, estará essencialmente em causa anecessidade de assegurar a gestão qualificada de um espaço urbano moderno

Na fase inicial, o peso do Estado é significativo, dada a importância dos projectos de interesse nacional,que incidem sobretudo sobre espaços do Estado. Na segunda fase, porém, o peso do Estado na gestão doProjecto quase não tem significado, sendo sobretudo relevante a importância da actividade municipal.

O modelo institucional preconizado reflecte esta dinâmica.

4.3.3A Sociedade GestoraA entidade gestora é uma sociedade de capitais exclusivamente públicos, cujo capital social será exclu-

sivamente detido pelo Estado e pelo Município (a “Sociedade Gestora”). Entende-se que, no momento inicial,os projectos estruturantes de maior relevo e maior peso financeiro são os projectos de natureza nacional ou quese referem a bens ou equipamentos do Estado. Por isso mesmo, entende-se que, no momento inicial, a partic-ipação do Estado no capital social deverá ser maioritário; num segundo momento, após a concretização dessesprojectos estruturantes, o peso das responsabilidades municipais será superior ao do Estado, pelo que o Estadodeverá transmitir a sua participação ao Município, que então se tornará no accionista único da EntidadeGestora.

No sistema actual, disciplinado pelo Decreto-Lei n.º 558/99, de 17 de Dezembro, a Sociedade Gestoraserá inicialmente, por isso, uma empresa pública integrada no sector empresarial do Estado. No momento sub-sequente, a Sociedade Gestora integrar-se-á no sector empresarial do Município de Lisboa.

Estado e Município deverão celebrar um acordo parassocial no qual regularão as suas relações enquan-to accionistas, no que respeita, designadamente, à composição dos órgãos sociais, e estabelecerão compromis-sos de permanência no capital da sociedade. Estado e Município acordarão igualmente o momento e ascondições da futura transmissão da participação do Estado ao Município.

A Sociedade Gestora tem por objecto a coordenação geral do Projecto e deterá participações em duasoutras sociedades – a sociedade responsável pela gestão dos projectos estruturantes (a “Sociedade Gestora dosProjectos Estruturantes” ou “SGPE”) e a sociedade responsável pela gestão urbana (a “Sociedade de GestãoUrbana” ou “SGU”). A Sociedade Gestora exercerá indirectamente as actividades compreendidas no objectosocial destas duas sociedades. Para lá disso, a Sociedade Gestora será responsável directamente pelas actividades

Page 135: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 142

de dinamização empresarial. Será ainda responsável pela articulação geral do Projecto com a actividade de outrasentidades públicas e privadas, como os órgãos do Estado ou do Município, os operadores de transportes ou osgestores de infra-estruturas ou as várias autoridades administrativas.

4.3.4A Sociedade Gestora de Projectos EstruturantesO capital da SGPE será detido na totalidade pela Sociedade Gestora. No seu conselho de adminis-

tração, estarão administradores designados pelo Estado e pelo Município.A SGPE terá por objecto a gestão de alguns dos projectos estruturantes de interesse nacional e municipal.Assim, a SGPE assumirá, mediante contratos específicos com diversas entidades públicas, o encargo de

efectuar estudos de viabilidade dos projectos de reconversão e reabilitação de edifícios públicos (p. ex., a recon-versão dos edifícios do Terreiro do Paço; a reconversão do Convento de S. Francisco e ampliação do Museu doChiado). Esse estudos de viabilidade compreenderão os estudos de viabilidade económica, reconversão dosedifícios e de financiamento das várias actividades. Uma vez aprovados esses estudos pelas entidades respon-sáveis, a SGPE poderá assumir-se como gestora de cada uma dessas intervenções.

A SGPE deverá ainda actuar como “project manager” de algumas das intervenções públicas previstas,designadamente do projecto de reconversão de espaços públicos e infra-estruturas. Nesta actividade, a SGPEcoordenará a elaboração de projectos e cadernos de encargos das obras nos espaços públicos municipais, acom-panhará os processos de adjudicação das empreitadas – em que o dono de obra será a SGU – e actuará comoentidade de gestão e fiscalização das obras respectivas. Nesta vertente, a SGPE deverá ainda assegurar a coor-denação de outras obras públicas, lançadas por outros donos de obra, que se devam realizar no mesmo espaçoe ao mesmo tempo. Pense-se, a este propósito, nas empreitadas das concessionárias de serviços ou das empre-itadas da APL, que deverão ter os respectivos acessos e programação coordenadas em conjunto.

A SGPE deverá ainda assumir a gestão do projecto de reconversão comercial da Baixa – designada-mente do projecto de reconversão de arruamentos da Baixa segundo uma lógica de centro comercial a céu aber-to, a levar a cabo por promotores particulares.

4.3.5A Sociedade de Gestão UrbanaA SGU terá por objecto o exercício das actividades que, sendo necessárias à concretização do Projecto,

se compreendem no âmbito das atribuições municipais. No seu conselho de administração, estarão admi-nistradores designados maioritariamente pelo Município, sendo os restantes designados pela Sociedade Gestora.Condição necessária à viabilidade do modelo é que exista fundamento legal para que o Município possa come-ter à SGU o exercício destas actividades e dos poderes correspondentes.

Page 136: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 143

Para esse efeito, será necessário que a empresa se possa caracterizar como empresa municipal. Comefeito, o actual regime das empresas municipais, constante da Lei n.º 58/98, de 18 de Agosto, autoriza os municí-pios a delegar nas empresas municipais a delegar nas empresas por eles constituídas poderes respeitantes àprestação de serviços públicos; e, de igual modo, a celebrar com elas contratos-programa.

Também o projecto de diploma que visa regular o novo regime do sector empresarial local autoriza osmunicípios a encarregar empresas municipais da gestão de serviços de interesse geral ou da promoção do desen-volvimento local.

Deste modo, a concretização do modelo, no que toca à SGU, depende da sua qualificação como empre-sa municipal. Para tanto, será necessário que o Município detenha a maioria do respectivo capital. Por issomesmo se propõe que o capital da SGU seja detido pela Sociedade Gestora e pelo Município, e que a partici-pação deste seja maioritária. No seu conselho de administração, estarão administradores designados maioritari-amente pelo Município, sendo os restantes designados pela Sociedade Gestora.

O objecto da SGU consistirá no planeamento, na execução de infra-estruturas e na gestão urbana daárea da Baixa-Chiado.

O Município delegará na SGU um conjunto de poderes e competências municipais, designadamenteos seguintes:

– a elaboração de regulamentos em matéria de gestão urbana, relativos, designadamente, à ocupação deespaço público e da via pública, à publicidade exterior, às cargas e descargas e à disciplina do trânsito e esta-cionamento; estes projectos de regulamentos serão submetidos à aprovação dos órgãos municipais competentes;

– A elaboração de planos de ordenamento ou dos regulamentos neles previstos;– A execução de obras de infra-estruturas viárias ou outras, constituindo-se como dono de obra das

empreitadas respectivas;– A apreciação dos processos de licenciamento ou autorização de operações urbanísticas ou de activi-

dades particulares, como a instalação de mobiliário urbano, a ocupação do espaço público;– A iluminação pública e a vigilância;– A disciplina de tráfego, circulações e estacionamento;– A coordenação e definição da actividade dos serviços ou empresas municipais que actuem na área da

Baixa-Chiado em matérias como a limpeza urbana, a recolha de resíduos, o estacionamento tarifado, ou a con-servação de espaços públicos e arruamentos.

– A cobrança de taxas relativas às actividades por si realizadas.O Município celebrará com a SGU um contrato no qual serão estabelecidos as condições de exercício

daquelas actividades e as compensações que o Município se obriga a pagar à SGU. Estas compensações deve-rão ser calculadas como uma percentagem a definir da receita fiscal e parafiscal cobrada pelo Município eimputável à zona da Baixa-Chiado.Adiante, detalham-se os princípios e fundamentos aplicáveis ao cálculo destascompensações.

Page 137: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 144

Este contrato deverá estender-se por um prazo dilatado, para corresponder à sedimentação do Projecto.A título indicativo, sugere-se um prazo de [25 anos].

4.3.6A SRU da Baixa-ChiadoA actividade da SRU da Baixa-Chiado é estratégica no âmbito do Projecto. Para além disso, o regime

específico das SRU prevê alguns instrumentos jurídicos que não podem ser utilizados por qualquer outro tipode entidade. Por isso mesmo se prevê a manutenção da SRU.

Ao mesmo tempo, a existência da SRU e a coordenação da sua actividade devem subordinar-se ao jámencionado princípio da unidade de comando. Por isso mesmo se preconiza a transmissão do respectivo capi-tal pelo Município para a SGU. Se tal não se mostrar legalmente possível, sugere-se que o Município atribua àSGU mandato para o exercício dos seus poderes enquanto accionista, dentro dos limites da lei.

4.4 Financiamento

4.4.1A concretização do Projecto exige a realização de diversos investimentos, públicos e privados, de mon-

tante substancial. Os investimentos públicos preconizados, porém, são por si só geradores de valor, contribuin-do para a valorização da área central da capital do país, justificando-se desde logo por esse motivo. Para alémdisso, quer pelo efeito de atracção de novas actividades, quer pelo efeito de valorização dos imóveis situados nazona, terão retorno no aumento da receita fiscal e parafiscal do Município imputável à zona da Baixa.

Por outro lado, existe a consciência das actuais dificuldades financeiras do Estado e do Município, e doesforço de contenção financeira exigido ao país. Desse modo, o modelo institucional assume que o investimen-to público a realizar que não se encontre já previsto nos planos de actividades das várias actividades não deveser efectuado com exigências ao Estado ou ao Município; a Sociedade Gestora e as suas participadas deverãoencontrar meios de financiamento para os investimentos que tenham por contrapartida as receitas que esseinvestimento irá gerar.

4.4.2Importa fazer a distinção entre investimento público e privado. Parte das intervenções previstas no

Projecto será realizada por entidades privadas, que efectuarão os investimentos correspondentes sem necessi-dade de apoios públicos, se entenderem que os mesmos são racionais e viáveis.

No entanto, parte substancial do investimento previsto será investimento público ou em bens e equipa-mentos públicos. Quanto ao investimento público, importa desde logo fazer referência ao investimento que se

Page 138: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 145

encontra já programado por várias entidades – como os investimentos a realizar pela APL. Quanto a estes, oProjecto não carece de mobilizar novos recursos financeiros, uma vez que estes já estão comprometidos comaqueles projectos.

Diferentemente ocorrem as coisas noutros projectos. Assim, e desde logo, todos os projectos que se re-ferem ao conceito denominado como centro cultural e patrimonial da Baixa-Chiado, de que é exemplo a ampliaçãodo Museu do Chiado. A viabilidade técnica, económica e financeira destes projectos, como acima se referiu, deveser aferida pela SGPE. Esta deve, mediante contrato, avaliar a viabilidade dos mesmos e, nos estudos que pre-pare, deve igualmente identificar as necessidades de investimento associados e os modos de financiamento dosmesmos.

Relativamente ao grande projecto de requalificação do espaço público, sugere-se que a SGU – que seráa respectiva dona de obra – encontre por si própria os modos de financiamento do mesmo.

Entende-se que, para esse efeito, a SGU deverá recorrer a endividamento, que contrairá por contaprópria e sem garantias municipais. Para fazer face ao serviço da dívida associado, a SGU irá recorrer às receitasdecorrentes da sua actividade. Essas receitas são, por um lado, as receitas por si cobradas (as taxas acima men-cionadas) e, por outro lado, os pagamentos que o Município assumirá efectuar ao abrigo do contrato a celebrarcom a SGU.

Esses pagamentos são realizados a longo prazo e deverão ser calculados de modo a que correspondamapenas a parte da receita fiscal e parafiscal estimada como imputável à zona da Baixa-Chiado. Com efeito, aactividade da SGU irá aliviar o Município de parte da despesa municipal inerente à zona da Baixa-Chiado, umavez que as actividades actualmente desenvolvidas pelo Município passarão a ser realizadas pela SGU. Por outrolado, a concretização do Projecto irá gerar uma receita acrescida para o Município, quer pela revalorização dosimóveis da zona, quer pela atracção de novas actividades e melhoria da produtividade das actuais.

Deste modo, o Município compromete-se a canalizar para a SGU apenas fundos que têm como origemos benefícios financeiros decorrentes do Projecto, em contrapartida de deixar de ter despesa em que de outromodo incorreria e do facto de o próprio investimento a realizar pela SGU e a actividade desta – para não falardos outros investimentos públicos – ir gerar maior receita para aquele.

4.4.3O financiamento a contrair pela SGU não releva para o endividamento municipal. Não releva, desde

logo, à luz da actual lei das empresas municipais, uma vez que, à luz das normas legais aplicáveis, só o endivi-damento das empresas públicas municipais – tal como definidas nessa lei – é contado para esse efeito, e já nãoo endividamento das empresas de capitais públicos.

Mas também não releva à luz do projecto de lei actualmente em discussão para regular o sector empre-sarial local, uma vez que, neste, a dívida das empresas municipais só releva para aqueles efeitos se as empresas

Page 139: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 146

apresentarem resultados operacionais negativos e os sócios não cumprirem a obrigação legal de efectuarem astransferências financeiras para as empresas que se mostrem necessárias para equilibrarem a exploração opera-cional. O modelo institucional proposto pressupõe o equilíbrio de exploração da SGU.

4.5 A Circular das Colinas

4.5.1No âmbito do Projecto, a Circular das Colinas é considerada como um dos projectos estruturantes de

interesse municipal que constitui condição necessária à concretização daquele. Com efeito, só a execução daCircular permite desviar da zona da Baixa-Chiado a parte substancial do tráfego de atravessamento que a per-corre. Este tráfego, apesar de não ter origem nem destino na área, é responsável pelos elevados níveis depoluição atmosférica e sonora que impedem a instalação de habitação no local e afastam as empresas; por outrolado, é responsável pelo elevado número de automóveis que impedem a circulação pedonal em condições deconforto e segurança e a requalificação do espaço.

Porém, se a execução da Circular das Colinas é condição indispensável à realização do Projecto, a ver-dade é que o seu impacte e a sua importância não se circunscrevem à Baixa-Chiado. A Circular beneficia zonasmuito extensas da cidade e melhora as condições de acessibilidade, reduzindo ainda consideravelmente os tem-pos de percurso de muitas deslocações totalmente alheias à zona da Baixa-Chiado.

4.5.2Entende-se, por isso, que a Circular das Colinas deve ser considerada como um projecto à parte –

necessário à concretização do programa de revitalização mas justificado por si, com benefícios para toda acidade. Considera-se, em consequência, que os custos da Circular das Colinas não devem ser imputados aoProjecto e não devem ser suportados por este.

Ainda assim, não deixou de se reflectir sobre os modos de concretização deste, no actual contexto decontenção da despesa.

Por esse motivo, contemplaram-se três soluções. A primeira dessas soluções passa pela execução daobra segundo o modelo tradicional, obrigando o Município a prever no orçamento as verbas necessárias à reali-zação da mesma durante os exercícios correspondentes à sua construção. Por se tratar de um esforço elevado,entende-se que, a seguir-se este modelo, se poderá optar por uma construção por fases, efectuando-se naprimeira fase – a lançar de imediato – apenas a parte da Circular estritamente necessária ao desvio do tráfegode atravessamento da zona da Baixa-Chiado. Esta corresponde à ligação entre a Avenida Infante D. Henrique ea Avenida Almirante Reis, com a construção do túnel sob a Penha da França.

A segunda solução preconiza a construção integral da Circular. Para esse efeito, sugere-se a realização deuma parceria público-privada, promovendo-se a abertura de um concurso para atribuir a concessão da execução

Page 140: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 147

(incluindo construção de novos troços e a reabilitação e reperfilamento dos já existentes) e a conservação daCircular, por um período de [30 anos]. A remuneração do concessionário consistiria em pagamentos a realizarpelo Município em função da disponibilidade da obra (com realização de deduções aos pagamentos conven-cionados se a via estiver indisponível para conservação ou se os níveis de conservação não respeitarem asespecificações contratuais). As parcerias concebidas nestes termos não são consideradas como endividamentoao abrigo das regras do Sistema Europeu de Contas (SEC 95) ou da lei portuguesa.

A terceira solução é integrar este investimento nos investimentos a realizar pela SGU sendo abrangidopelo Contrato-programa a celebrar entre esta empresa e a Câmara Municipal de Lisboa, conforme avaliado nocapítulo 5 deste relatório.

4.6 O planeamento urbanístico

4.6.1Uma questão específica a merecer atenção consiste na possibilidade de avançar de imediato com muitas

das acções previstas no Projecto face às actuais regras do PDM, a que acima se fez referência. Como então sereferiu, o artigo 39.º do Regulamento do PDM obriga à elaboração de um “plano de pormenor ou regulamen-to municipal” que tenha por fim a conservação e revitalização do conjunto arquitectónico e urbanístico. Até àentrada em vigor de tal plano ou regulamento, o artigo 40.º limita as operações urbanísticas permitidas na zonaà beneficiação, restauro e conservação dos edifícios existentes, ou à realização de alterações pontuais que visemreposição das características dos mesmos.

4.6.2A elaboração de um plano de pormenor é um processo moroso, incompatível com as necessidades do

Projecto. Por outro lado, o conteúdo dos planos de pormenor é demasiado denso e, por isso, rígido, o que semostra eventualmente em conflito com a necessidade de adequar a gestão do Projecto às oportunidades quesurjam, designadamente no que se refere às tipologias das habitações ou aos usos dos edifícios.

Considera-se, por isso, mais proveitosa a elaboração de um regulamento de desenvolvimento das regrascontidas no artigo 39.º do Regulamento do PDM, cuja elaboração e aprovação podem ser atingidas em cerca deseis a nove meses, com os recursos adequados.

O regulamento a que alude o citado artigo 39.º não é um instrumento de gestão territorial previsto na lei emvigor. Ainda assim, considera-se que a validade da figura e a sua força dispositiva não devem ser postas em causa,desde que se interprete o artigo como habilitando simplesmente a elaboração de um regulamento de densificação epormenorização dos princípios constantes daquele preceito. Esse regulamento terá de se conformar, e não poderáalterar, com tais princípios. Por outro lado, a vigência de tal regulamento estará dependente da vigência do PDM.

Com estas ressalvas, considera-se não existirem objecções à aprovação do regulamento.

Page 141: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 148

O regulamento seria elaborado com a participação do IPPAR, permitindo depois a mais rápida apreci-ação por este dos projectos a licenciar na zona.

4.6.3Ainda assim, o caminho preconizado não permite a realização imediata das acções previstas. Sugere-se,

assim, que se proceda à suspensão da regra do artigo 40.º, que limita as actividades a realizar na zona.Nos termos da lei, é possível ao Município deliberar a suspensão total ou parcial dos planos municipais

de ordenamento do território, mediante prévio parecer da Comissão de Coordenação e DesenvolvimentoRegional e desde que seja em simultâneo deliberada a alteração do plano suspenso – o que já se encontra a cor-rer – e a aprovação de medidas preventivas. No caso, as medidas preventivas consistiriam na sujeição das inter-venções a prévio parecer do IPPAR.

Com tal suspensão, mostra-se possível assegurar o imediato licenciamento ou autorização de operaçõesurbanísticas durante o período de elaboração do regulamento.

4.7 Programa de concretização do modelo institucional

4.7.1A implementação do modelo institucional deve fazer-se de forma completa e em tempo útil. Quer-se com

isto significar que o sucesso do Projecto implica o seu arranque a curto prazo; mas exige, em simultâneo, que todasas condições necessárias à sua concretização estejam verificadas. Se não estiverem aprovadas, no momento doarranque do Projecto, todas as componentes do modelo institucional, tal como vier a resultar do acordo que seespera vir a existir entre o Município e o Estado, são elevadas as probabilidades de o Projecto não vir a suceder,porque sempre sofrerá atrasos decorrentes da falta de algumas competências que aguardam decisão.

4.7.2Ainda assim, não se ignora que o conjunto de documentos, actos e formalidades necessários à con-

cretização do modelo institucional demora algumas semanas de concretização, e a afectação de muitos recur-sos para o efeito. Só faz sentido reunir esses recursos desde que os princípios básicos do modelo e do Projectohajam sido aceites pelos órgãos municipais e do Estado competentes.

Por isso, prevê-se que após a apresentação deste Relatório, caracterizando o Projecto e estabelecendoo desenho e princípios do modelo institucional de gestão, seja celebrado, nas próximas semanas, um memoran-do de entendimento entre o Estado e o Município, estabelecendo os objectivos e princípios gerais do Projectoe o desenho do modelo institucional, bem como fixando prazos para o efeito. Este memorando deverá seraprovado pelos órgãos municipais e estaduais competentes.

Page 142: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 149

Com base nessas decisões, deverão mobilizar-se os recursos necessários para, durante os meses deJaneiro e Fevereiro de 2007, ser aprovada e celebrada a documentação final que, em desenvolvimento do memo-rando, se mostra necessária para a instalação das várias entidades previstas e o respectivo funcionamento.

Essa documentação é, em síntese, a seguinte:– Estatutos da Sociedade Gestora, da SGPE e da SGU, bem como o estudo económico financeiro de

cada uma delas;– Acordo Parassocial entre o Estado e o Município relativo à Sociedade Gestora, estabelecendo os

princípios relativos ao exercício dos respectivos direitos sociais, e entre a Sociedade Gestora e o Município, rela-tivamente à SGU;

– Contrato-Programa entre o Município e a SGU, incluindo a delegação de poderes de gestão urbanae delegação de poderes relativos à SRU;

– Regulamentos municipais relativos à zona da Baixa-Chiado (estacionamento; circulação e cargas edescargas; publicidade; mobiliário urbano e ocupação do espaço público; etc.);

– Deliberação de suspensão do art.º 40.º do PDM, aprovação de medidas preventivas e determinação deelaboração do regulamento municipal a que se refere o art.º 39.º do PDM, com delegação na SGU dos poderespara elaboração do plano;

– Deliberação de lançamento dos estudos para a Circular das Colinas;– Protocolos entre SGPE e Estado para elaboração de projectos;– Nomeação dos órgãos sociais das diversas empresas;– Contratos de financiamento da Empresa de Gestão Urbana.

Page 143: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES
Page 144: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

MODELO DE FINANCIAMENTO DOS INVESTIMENTOS DO SECTOR PÚBLICO

Page 145: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 154

Modelo global de mobilização de recursos financeiros: uma combinação de responsabilidades e opor-tunidades e um equilíbrio de fontes, formas e prazos de financiamento.

Page 146: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 155

5.1 Introdução

O projecto de recuperação, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiado envolve a realização de um con-junto alargado e diversificado de investimentos públicos e privados, no quadro de um perfil temporal longo(o prazo de uma “geração”), mas não monótono, nem linear, com destaque para a articulação entre uma primeirafase, que tudo aconselha que coincida com o próximo ciclo de gestão dos fundos estruturais (2007-2013), ondese inclui uma fase de arranque (2007-2010) para a concentração de esforços e meios nas “urgências” e nos pro-jectos com maior aptidão para gerar mudanças irreversíveis, e uma entrada em velocidade de cruzeiro depois de2013.

A estimativa da dimensão financeira da intervenção foi feita, neste quadro, na base de produção de valo-res indicativos de referência suficientemente rigorosos, nomeadamente no que respeita aos projectos estrutu-rantes, que não podem, nem devem, ser confundidos com valores orçamentais completos, detalhados e defini-tivos. O horizonte temporal adoptado, para a estimativa destes valores de referência, foi polarizado pelo ano de2020, procurando, sobretudo, evidenciar a concentração preconizada para a fase de arranque. O Comissariadoentendeu que o seu mandato seria melhor cumprido não se substituindo aos grandes (e pequenos) protagonistase promotores do processo de revitalização da Baixa-Chiado e, portanto, não entrando em especificações e par-ticularidades que, verdadeiramente, devem ser decididas projecto a projecto com base na visão e na estratégiaapresentadas com os ajustes e transformações que resultarem da sua validação política democrática.

O modelo de financiamento preconizado, tendo em conta a estimativa da dimensão financeira, corres-ponde a uma alavancagem sucessiva de meios financeiros.

Em primeiro lugar, no “terreno” do sector público, onde a tomada de responsabilidades financeiras rele-vantes pela Câmara Municipal de Lisboa, sustentadas, em parte, pelo retorno previsível de receitas a médio prazoinduzido pelos resultados do próprio processo de revitalização, justifica e conforta a tomada de outro tipo deresponsabilidades, não só financeiras, pelo Governo, seja no âmbito da racionalização e modernização da admi-nistração pública, seja no âmbito da afectação de recursos associada à gestão das agências e institutos públicoscom intervenção no espaço da Baixa-Chiado, seja no âmbito da prossecução das suas políticas, em particular dasua política de desenvolvimento das cidades.

Em segundo lugar, no “terreno” da cooperação entre os sectores público e privado, onde a programaçãosegura de um conjunto de investimentos públicos, municipais e nacionais, associada ao estabelecimento de umaestratégia credível, traduzida em regras claras e estáveis e prosseguida por estruturas de gestão e acompa-nhamento ancoradas em processos de decisão rápida e objectiva, constitui o principal, e suficiente, incentivopara uma progressiva afirmação do investimento privado, como grande e principal motor da operação global darevitalização da Baixa-Chiado.A lógica temporal diferenciada, preconizada para a concretização dos investimen-tos públicos (progressivo “phasing-out”) e privados (progressivo “phasing-in”) corresponde, assim, também, àconstrução de um processo, onde o sector privado encontra nas realizações do sector público a segurança sufi-

Page 147: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 156

ciente para correr os riscos da inovação e do empreendedorismo que o caracterizam, e onde o sector públicoencontra no seu esforço de realização e de decisão atempada uma força acrescida para exigir ao sector privadoníveis adequados de responsabilidade social, ambiental, económica e fiscal, que serão decisivos para o sucessoda operação proposta.

Na sequência dos trabalhos desenvolvidos pelo Comissariado da Baixa-Chiado relativamente à definiçãodo programa de reabilitação a implementar na zona de intervenção, foi efectuada uma primeira estimativa doscustos de investimento, decompostos pelos períodos 2007-2010 e 2011-2020 e com a identificação da entidaderesponsável pelo seu financiamento (Estado, APL, Câmara Municipal de Lisboa, Privados, …), bem como umaprojecção dos custos de estrutura para a implementação do projecto prevista no modelo institucional.

Em termos globais, o investimento total estimado para o Programa de Reabilitação da Baixa-Chiado parao período de 2007 a 2020 ascende a cerca de EUR 1145 milhões, dos quais cerca de EUR 682 milhões a realizarentre 2007 e 2010 e os restantes EUR 463 milhões entre 2011 e 2020.

Relativamente à afectação do investimento global pelas principais entidades responsáveis pela sua reali-zação, prevê-se uma contribuição directa (excluindo eventuais parcerias a estabelecer com o Estado e/ou aCâmara Municipal de Lisboa) significativa por parte do sector privado da ordem de EUR 660 milhões (dos quaisEUR 270 milhões até 2010), seguida pelos investimentos municipais de cerca de EUR 224 milhões (dos quaisEUR 168 milhões até 2010), pelos investimentos da Administração Central com cerca de EUR 137 milhões (dosquais EUR 119 milhões até 2010), pelos investimentos a cargo da APL de EUR 71 milhões (integralmente até2010) e das empresas concessionárias de utilities diversas (AdP, PT, EDP, GOP) com cerca de EUR 14 milhões(integralmente até 2010).

O lançamento dos projectos estruturantes é, sem dúvida, o motor do investimento privado na zona daBaixa-Chiado, pelo que será necessária uma execução atempada e coordenada de projectos estruturantes daresponsabilidade do Estado e do Município, para que a dinamização do sector privado se torne uma realidadeirreversível.

Por isso, a concentração do investimento público na primeira fase (2007-2010) será essencial para garan-tir que os objectivos deste projecto integrado serão atingidos.

Assim, e conhecidas que são as presentes limitações financeiras do Estado e da CML, são equacionadasno presente documento diferentes alternativas para a mobilização dos financiamentos necessários à implemen-tação dos projectos estruturantes, designadamente através de modalidades que permitam captar capitais priva-dos adicionais para o programa e alocar riscos dos projectos de investimento também ao sector privado, noâmbito de parcerias público-privadas.

Page 148: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 157

5.2 O Programa de Investimento

O quadro seguinte sintetiza os valores estimados para a realização da totalidade dos investimentos pre-conizados no Programa de Reabilitação da Baixa-Chiado (a preços de 2006), apresentando-se igualmente ofaseamento previsto para a sua implementação (2007-2010 e 2011-2020) e a identificação das principais enti-dades responsáveis pelo respectivo financiamento:

Como se depreende do quadro supra, a intervenção directa do sector privado no Programa incidirásobretudo ao nível dos projectos com potencial de rentabilização comercial, designadamente ao nível da hote-laria, espaços comerciais e reabilitação urbana de edifícios de habitação e serviços. Caberá ao sector públicoassegurar as condições necessárias ao financiamento, por um lado, dos custos de desenvolvimento do Programa

INVESTIMENTO ESTIMADO (EUR MILHÕES)

PROJECTO 2007-2010 2011-2020 Total Responsávelpelo financiamento

Cais para Navios de Cruzeiros 27,0 14,0 41,0 APL

Frente Ribeirinha 32,8 0,0 32,8 Estado

Frente Ribeirinha 30,0 0,0 30,0 APL

Reabilitação do Espaço Público da Baixa-Chiado 31,0 0,0 31,0 CML/Concess

Sinalética e Mobiliário Urbano 5,2 0,0 5,2 CML

Plano de Iluminação Pública 12,9 0,0 12,9 CML

Percursos Pedonais Assistidos 6,0 0,0 6,0 CML

Rede Viária Externa à Área de Intervenção 94,6 27,2 121,7 CML

Reabilitação do Terreiro do Paço 68,0 0,0 68,0 Estado

Equipamentos Culturais 44,0 0,0 44,0 Estado/CML

Hotelaria 85,5 10,0 95,5 Privados

Espaços Comerciais 34,2 40,0 74,2 Privados

Reabilitação Urbana 151,5 340,0 491,5 Privados

Estudos e Projectos 7,5 7,5 15,0 Estado/CML

Custos de Funcionamento 12,0 24,0 36,0 Estado/CML

TOTAL 642,1 462,7 1104,8

Page 149: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 158

(incluindo estudos e projectos) e dos custos de estrutura das entidades que ficarão responsáveis pelo seu acom-panhamento e, por outro, dos projectos estruturantes, nomeadamente, do cais para navios de cruzeiros, reabili-tação da frente ribeirinha e do espaço público da Baixa-Chiado, sinalética, mobiliário urbano e iluminaçãopública, percursos pedonais assistidos, rede viária externa à área de intervenção, reabilitação do Terreiro doPaço e equipamentos culturais.

5.3 Modelo de Financiamento de Investimentos Municipais

De acordo com o modelo institucional preconizado, os investimentos municipais irão ser realizadospela sociedade de gestão urbana (SGU) (incluindo a Rede Viária Externa à Área de Intervenção – “Circular dasColinas”) e financiados tendo por base um contrato-programa a estabelecer com a Câmara Municipal deLisboa.

Neste contrato-programa, a Câmara Municipal de Lisboa assumirá o compromisso de afectação detodas as receitas municipais geradas no âmbito da área da Baixa-Chiado à SGU para assegurar o financiamen-to do Projecto de Reabilitação da Baixa-Chiado.

Considerando o horizonte de 2007 a 2010 e o montante global de investimentos a realizar neste períodode EUR 168 milhões, sugere-se a afectação a estes investimentos do montante do Fundo Remanescente doChiado (± EUR 30 milhões) e também de fundos comunitários no âmbito do novo Quadro Comunitário deApoio da ordem dos EUR 30 a EUR 60 milhões. A afectação do fundo remanescente do Chiado a este projec-to parece ajustada aos objectivos com que foi criado.

Isto significa que o montante dos financiamentos bancários de longo prazo que serão necessários paraos projectos municipais atinja EUR 78 a 108 milhões.

EUR milhõesInvestimento Municipal 168Fundo Remanescente do Chiado - 30Novo Quadro Comunitário - 60 / 30

78 / 108

Como cenário central, será de assumir que o montante do financiamento a mobilizar será da ordem dosEUR 125 milhões, considerando a capitalização dos juros durante os 5 primeiros anos do projecto.

Com o presente Projecto, justifica-se que a tributação sobre o património imobiliário da zona históricapasse a ser idêntico ao do regime geral, mesmo que tal necessite de um período transitório entre 2007 e 2010.

Page 150: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 159

Os primeiros estudos realizados com base nos dados recolhidos pela SRU indicam que o aumento doIMI decorrente deste projecto de reabilitação urbana (numa base conservadora) irá originar um aumento destareceita municipal da ordem dos EUR 10 milhões/ano. Para além desta receita camarária, outras também terãoum forte incremento, tendo sido impossível a sua estimativa no curto espaço de tempo de trabalho doComissariado da Baixa-Chiado.

Assim sendo, só esta base de acréscimo de receitas municipais decorrentes do IMI sustenta um finan-ciamento de EUR 125 milhões, por um prazo de 25 anos, considerando uma taxa de juro de 5% e um prazo dereembolso de 20 anos:

EUR milhõesFinanciamento bancário 100Juros capitalizados (2007-2012) 25Financiamento total 125

Reembolso 2013 / 2033

5.4 Modelo de Financiamento dos Investimentos da Responsabilidade da Administração Central

As obrigações do Estado, directamente, através da APL ou ainda por via dos compromissos a assumirpela Carris e pelo Metro, no âmbito do Programa de Reabilitação da Baixa-Chiado, incidirão fundamentalmentesobre os seguintes projectos estruturantes:

(I.) Frente ribeirinha (EUR 32,8 milhões), para projecto de espaço público qualificado e integrado coma zona ribeirinha, da responsabilidade da APL;

(II.) Reabilitação do Terreiro do Paço (EUR 68 milhões), incluindo as arcadas e os pisos superiores eadministrativos;

(III.) Equipamentos Culturais (EUR 40,6 milhões), incluindo um equipamento cultural na Doca daMarinha (Museu da Viagem), núcleo museológico no Convento de S. Francisco e valorização do ex-Convento doCarmo.

A exemplo do que foi referido para a CML, uma parte dos investimentos, designadamente na frente ribeir-inha e na reabilitação do Terreiro do Paço, poderá ser suportada por entidades terceiras, nomeadamente os colec-tores e adutores da SIMTEJO e EPAL, respectivamente, cujo valor ascenderá a cerca de EUR 11,4 milhões, e asinfra-estruturas de transportes que poderão ser cometidas à Carris e ao Metro, no valor de EUR 14,1 milhões.

Page 151: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 160

Relativamente às restantes componentes de qualquer destes projectos estruturantes, o Estado poderáoptar pelo seu financiamento directo ou, nomeadamente nos casos de projectos circunscritos e passíveis derentabilização comercial, pelo mercado ou por arrendamento/pagamento pela disponibilização pelo Estado(casos de edifícios utilizados por serviços públicos ou equipamentos culturais), pela transferência para o sectorprivado da obrigação de construção, manutenção, exploração e financiamento.

Considerando, por um lado, o valor relativamente elevado previsto para os projectos estruturantes daresponsabilidade do Estado (cerca de EUR 137 milhões para os projectos acima enunciados, a maior parte dosquais a realizar até 2010), e, por outro, o potencial de realização de parcerias com o sector privado numa partesubstancial destes projectos (por exemplo, no Terreiro do Paço – arcadas e edifícios administrativos, e nosequipamentos culturais), afigura-se que será possível diferir o esforço orçamental do Estado com o financia-mento de uma parte importante destes projectos estruturantes.

Da análise preliminar efectuada, estima-se que, numa situação extrema de recurso a parcerias com osector privado para a execução dos projectos estruturantes, o esforço financeiro do Estado até 2010 poderia serreduzido até cerca de EUR 15 milhões, ficando, no entanto, responsável pela regularização de uma parte signi-ficativa do custo do investimento a longo prazo (por exemplo, 30 anos) através do compromisso de arrendar//pagar pela disponibilidade de um conjunto mais ou menos alargado de edifícios e equipamentos públicos.

5.5 O modelo global de mobilização de recursos financeiros: uma combinação responsável de responsabilidades e oportunidades e um equilíbrio de fontes, formas e prazos de financiamento

O modelo global de mobilização de recursos financeiros para o desenvolvimento do projecto de recu-peração, reabilitação e revitalização da Baixa-Chiado assume a forma de uma combinação complexa, mas equi-librada, de fontes e modos de financiamento.

Em primeiro lugar, importa explicitar que o modelo preconizado procura assumir as significativasrestrições que a política orçamental e fiscal de consolidação orçamental, plenamente enquadrada na disciplinado Pacto de Estabilidade e Crescimento, não deixará de continuar a colocar num horizonte de médio prazo, istoé, contempla níveis de despesa pública (investimento e manutenção) que não induzem novos desequilíbriosorçamentais, por um lado, e prevê explicitamente as condições de sustentabilidade financeira de médio e longoprazo que importa garantir.

Os níveis de despesa pública previstos, nos diferentes níveis de administração pública (central, muni-cipal e alargada) são, assim, não só compatíveis com o esforço de rigor orçamental em curso, como, sobretudo,desenhados numa lógica de racionalidade económica e optimização de recursos.

Page 152: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 161

Em segundo lugar, importa compreender que o modelo preconizado procura ancorar solidamente oprojecto nas oportunidades que se abrem, no horizonte da primeira fase e, sobretudo, da fase de arranque pre-vista (2007-2010), quer no plano do relançamento do investimento privado, onde a reabilitação e recuperaçãodo património edificado constitui um vector importante de relançamento competitivo das actividades de cons-trução e obras públicas (perante a irreversibilidade do fecho do ciclo de forte expansão quantitativa alimenta-da pela redução das taxas de juro e iniciado na segunda metade dos anos 90), quer do relançamento das políti-cas públicas de natureza estrutural directamente associadas aos objectivos de coesão, crescimento e emprego,onde o contributo da afirmação competitiva das cidades é explicitamente assumido pelas orientações comu-nitárias.

Os níveis de investimento privado e de mobilização de fundos estruturais previstos foram, assim, esti-mados numa lógica realista, no plano dos recursos disponibilizáveis, e, sobretudo, convergente com o novo ciclode actividade associado à entrada em vigor do futuro QREN (seguramente em acção efectiva na primeira metadedo ano de 2007), contribuindo, também, com projectos de mérito para o esforço global de relançamento competi-tivo do crescimento económico em Portugal.

Em terceiro lugar, importa salientar que um projecto com estas características só pode ser realizado seenvolver financiamentos específicos relevantes de longo prazo (superiores a 25 anos), tendo o modelo dese-nhado previsto quer a intervenção do Banco Europeu de Investimentos, quer a intervenção das instituiçõesfinanceiras nacionais mais vocacionadas para este tipo de operações (que na audição realizada pelo Comissa-riado se mostraram claramente interessadas em assumir um papel activo na dinamização das oportunidades denegócio que a recuperação da Baixa-Chiado lhes possa abrir).

O Banco Europeu de Investimento será certamente uma fonte de financiamento a longo prazo doProjecto de Reabilitação da Baixa-Chiado, nas suas várias componentes. A valia do Projecto de per si e a formapreconizada para a sua gestão integrada serão certamente aspectos que muito contribuirão para um acolhimentopositivo por parte desta instituição.

Acresce que a apresentação do Projecto acompanhada com uma análise quantitativa numa base decusto-benefício para a economia nacional, para a região e para a cidade de Lisboa permitirá uma justificaçãosustentável do nível de investimento exigidos ao sector público. Será possível lançar este trabalho logo após aaprovação das linhas estratégicas do presente Projecto.

Page 153: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 162

AgradecimentosNo âmbito do trabalho do Comissariado, e atentos às diferentes vertentes do projecto de Revitalização da Baixa-Chiado, foram

realizadas, ao longo deste período de trabalho, várias reuniões com as entidades e os actores mais relevantes na área de intervenção e cujoscontributos se consideraram indispensáveis para a elaboração do documento.

Considerando que o envolvimento do Poder Central é indispensável para a viabilização do projecto, reunimos com: Ministro deEstado e da Defesa Nacional – Dr. Luís Amado | Ministro da Justiça – Dr. Alberto Costa | Ministro do Ambiente, do Ordenamento doTerritório e do Desenvolvimento Regional – Eng.º Francisco Nunes Correia | Ministra da Cultura – Dra. Isabel Pires de Lima | Secretário deEstado do Ordenamento do Território e das Cidades – Dr. João Ferrão | Secretária de Estado dos Transportes – Eng.ª Ana Paula Vitorino |

Subsecretário de Estado da Administração Interna – Dr. Fernando Rocha Andrade.

Considerando a particular importância de certas instituições para a materialização deste projecto, reunimos com: Chefe deEstado-Maior da Armada – Almirante Fernando Melo Gomes | Governador do Banco de Portugal – Dr. Victor Constâncio | Presidente daComissão de Projectos para as Comemorações do Primeiro Centenário da República – Prof. Vital Moreira | Comando Metropolitano daPolicia de Segurança Pública de Lisboa – Superintendente Francisco Oliveira Pereira | Presidente da Comissão Nacional da UNESCO – Dr.José Sasportes.

Considerando a importância da valorização e modernização do Espaço Público e das Infra-Estruturas na estratégia deste projecto,reunimos com: EDP – Eng. João Torres | Portugal Telecom – Dr. Henrique Granadeiro | Lisboagás – Eng. João Fiadeiro | EPAL – Dr. JoãoFidalgo | SIMTEJO – Eng. Adriano Tourais

Considerando a importância da Mobilidade e a alteração do seu modelo para a realização deste projecto, reunimos com:Administração do Porto de Lisboa – Dr. Manuel Frasquilho | CARRIS – Dr. José Manuel Silva Rodrigues | Metropolitano de Lisboa – Eng.ºCarlos Mineiro Aires | Transtejo – Eng. Raul Vilaça e Moura | REFER – Eng.º Luís Sousa Pardal.

Considerando a importância do reforço de um Centro Financeiro Integrado, foi promovida uma reunião pelo presidente daAssociação Nacional de Bancos, Dr. João Salgueiro, com as administrações de todos os Bancos.

Para além desta reunião, e devido à especialidade de certas matérias, reunimos com: Caixa Geral de Depósitos – Dr. Carlos SantosFerreira | Banco Português de Investimento – Dr. Fernando Ulrich | Montepio Geral – Dr. José da Silva Lopes | Tranquilidade, Companhia deSeguros – Pedro Brito e Cunha.

Considerando a importância do Comércio, a sua dinâmica e valorização, neste projecto, assente num conhecimento ímpar daBaixa-Chiado, reunimos com: Agência Baixa-Chiado – Dr. António Amaral | Associação de Dinamização da Baixa Pombalina – Dr. JoséQuadros | Associação de Valorização do Chiado – Vítor Silva | Associação de Restauração e Similares de Portugal (ARESP) – José DuarteSilva | União de Associações do Comércio e Serviços (UACS) – Dr.Vasco Mello.

Considerando a importância do Turismo, a sua dinâmica e expansão, como uma das grandes alavancas para este projecto, reuni-mos com: Instituto de Turismo de Portugal | Confederação de Turismo de Portugal | Associação de Turismo de Lisboa | e cerca de 30Operadores Turísticos nacionais e estrangeiros.

Page 154: PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO · Em 8 de Março de 2006,apresentei à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta de constituição de um ... 2.4 UM CENTRO COMERCIAL SEM LIMITES

PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO | SETEMBRO 2006 163

Reconhecendo a importância das Paróquias e da sua acção na rede social de proximidade, reunimos com: Paróquia da Sé | Paróquiada Encarnação | Paróquia dos Mártires | Paróquia do Sacramento | Paróquia de Santa Maria da Madalena | Paróquia de São Nicolau |

Reitoria de São Paulo.

Considerando a importância do investimento Imobiliário privado, reunimos com: cerca de 70 Promotores Imobiliários nacionaise estrangeiros.

Considerando a importância dos Equipamentos Culturais, da existência de uma política cultural integrada e do Associativismona área da Baixa-Chiado, reunimos com: Directores dos Equipamento Culturais da Baixa-Chiado e Zonas Envolventes | Associações daBaixa-Chiado | Clubes da Baixa-Chiado.

Considerando a necessidade da elevação da Qualidade Ambiental, indispensável à revitalização da Baixa-Chiado, reunimoscom: GEOTA | QUERCUS.

Considerando a importância de um contacto mais alargado com a Sociedade Civil, foi promovida, pelo Centro Nacional deCultura, uma sessão de apresentação do projecto de Revitalização da Baixa-Chiado.

Considerando a importância deste projecto, o Comissariado promoveu uma reunião de apresentação aos Directores e Subdirec-tores dos Órgãos de Comunicação Social.

Considerando a necessidade de dispor da melhor informação para as análises e estudos efectuados, deixamos registada a colabo-ração, em pareceres e disponibilização de informação, das seguintes entidades: Ministério da Justiça – Instituto de Gestão Financeira ePatrimonial da Justiça | Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional – Direcção-Geral deEdifícios e Monumentos Nacionais | CML – Departamento de Apoio à Presidência | CML – Departamento de Planeamento Estratégico |CML – Direcção Municipal dos Serviços Centrais | CML – Direcção Municipal de Ambiente Urbano | CML – Direcção Municipal deProjectos e Obras | CML – Direcção Municipal de Gestão Urbanística | CML – Direcção Municipal de Cultura | CML – Direcção Municipalde Protecção Civil, Segurança e Tráfego | CML – Regimento de Sapadores Bombeiros.

Considerando a importância das Juntas de Freguesia como as instituições autárquicas mais próximas dos cidadãos e conhecedo-ras da especificidade dos problemas, reunimos com: Junta de Freguesia da Encarnação – Dra. Maria Alexandra Figueira | Junta de Freguesiados Mártires – Joaquim Guerra de Sousa | Junta de Freguesia do Sacramento – Francisco Silva Oliveira | Junta de Freguesia de São Nicolau– António Manuel | Junta de Freguesia de São Paulo – Fernando Pereira Duarte | Junta de Freguesia da Sé – Filipe Almeida Pontes

Reconhecendo a importância dos Moradores na dinâmica do projecto, reunimos com a Associação de Moradores da BaixaPombalina – Dra. Anabela Rocha.

Considerando a importância da Câmara Municipal de Lisboa como a entidade promotora da criação do Comissariado Baixa-Chiado, reuni-mos com: Presidente da Câmara Municipal de Lisboa – Prof. António Carmona Rodrigues | e todos os Vereadores, a quem foi feita uma apre-sentação da versão preliminar do projecto de Revitalização da Baixa-Chiado.

A todos, os nossos agradecimentos.