proposiÇÃo de melhorias no ressuprimento de … · celulares de uma empresa de varejo hebert...
TRANSCRIPT
PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS NO
RESSUPRIMENTO DE ESTOQUE DO
CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE
CELULARES DE UMA EMPRESA DE
VAREJO
Hebert Venancio Alves (UFPB )
Fabio Walter (UFPB )
O processo de ressuprimento de estoque de uma empresa é algo
importante para ela, pois a agilidade na execução das atividades desse
processo pode ser um diferencial competitivo para a organização. O
objetivo deste trabalho é propor melhoriaas no ressuprimento de
estoque de aparelhos celulares de uma empresa varejista. Neste caso,
foram utilizados como meios de investigação a pesquisa documental,
estudo de caso, pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Como
método de coleta de dados, foi utilizado o método de entrevistas
individuais e focalizadas de estrutura aberta aplicadas no ambiente da
pesquisa. Ainda para a coleta dos dados foi utilizado o método de
observação e mapeamento de processos. Como resultado, conclui-se
que o processo de ressuprimento de estoque da empresa possui
algumas falhas que acabam atrasando a reposição de produtos. Entre
as possíveis melhorias sugeridas estão a introdução de pontos de
pedidos específicos por produto, emissão de alertas automáticos
relacionados a estes para o comprador, ampliação da área do Centro
de Distribuição, aquisição de mais equipamentos de movimentação,
implementação de um sistema de endereçamento mais adequado,
melhoria nos processos de comunicação do setor e melhorias nos
demais processos internos do setor. Conclui-se também que o processo
de proposição de melhorias seria facilmente implementado em
qualquer empresa.
Palavras-chave: Compras, Suprimentos, Administração de Materiais,
Melhoria de Processos.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
2
1. Introdução
Um fator de fundamental importância para as empresas varejistas é o bom controle de
estoque, o qual é um grande passo para se minimizar custos e agilizar processos. E no Brasil,
a telefonia celular representa um segmento de notável sucesso comercial nas recentes décadas,
apresentando um crescimento muito rápido nas vendas de aparelhos. Sendo os celulares um
produto de alto valor agregado, há uma preocupação e atenção maior no controle de seus
estoques.
A empresa varejista “X” possui um Centro de Distribuição (CD) de celulares que abastece
suas filiais, sendo que permanentemente entram e saem aparelhos do estoque. Pelo menos
uma vez a cada três meses surgem novidades no mercado e, consequentemente, mais tipos de
aparelhos para o estoque e, da mesma forma, com o tempo outros aparelhos saem
definitivamente do estoque por obsolescência.
No CD de celular da Empresa X existem falhas no controle de estoque. Alguns dos principais
problemas inicialmente encontrados são a falta de um estoque mínimo ou de segurança e a
ausência de um ponto de pedido para se efetuar mais compras aos fornecedores. Esses
processos podem ser melhorados e o objetivo deste trabalho é, então, propor possíveis
melhorias no ressuprimento de estoque de aparelhos celulares de uma empresa varejista.
2. Administração de estoques
A administração de recursos materiais é, em grande parte, baseada em técnicas que integram
os elementos de tecnologia de manufatura e otimizam a utilização de pessoas, materiais e
instalações ou equipamentos (MARTINS; ALT, 2006). E é neste contexto que há nas
organizações uma preocupação com o gerenciamento dos recursos materiais: “o objetivo da
administração de materiais deve ser prover o material certo, no local de operação certo, no
instante correto e em condição utilizável ao custo mínimo” (BALLOU, 1993, p. 61).
2.1 Controle de estoque
Para Ballou (1993), os estoques ajudam a melhorar o nível de serviço, auxiliando a função de
marketing a vender os produtos da empresa. Os estoques também agem como amortecedores
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
3
entre a demanda e o suprimento e têm o poder de proporcionar economia de escala nas
compras e proteção contra o aumento de preços e contingências.
A administração de estoques é de importância significativa, tanto em função do próprio valor
dos itens mantidos em estoque, como na associação direta com o ciclo operacional da
empresa. Da mesma forma como as contas a receber, os níveis de estoques também dependem
em grande parte do nível de vendas, com uma diferença: enquanto os valores a receber
surgem após a realização das vendas, os estoques precisam ser adquiridos antes das
realizações das vendas. No meio empresarial, se por um lado o excesso de estoques representa
custos operacionais e de oportunidade do capital empatado, por outro lado níveis baixos de
estoque podem originar perdas de economia e custos elevados devido à falta de produtos
(AMARAL; DOURADO, 2011).
Segundo Dias (2009), controle é definido como a medição do progresso em relação a
objetivos-padrão, somada a uma análise do que precisa ser feito e à tomada de iniciativas para
devida correção, a fim de realizar os objetivos ou alcançar o padrão. Para se manter um
controle do estoque é necessário adotar algumas políticas de gerenciamento: metas quanto a
tempo de entrega dos produtos aos clientes, definição do número de almoxarifados e o que
serão estocados neles, definição do nível de flutuação do estoque para atender a uma alta ou
baixa das vendas ou alteração de consumo, identificação dos itens obsoletos e defeituosos em
estoque, prevenção contra perdas, danos, extravios ou mau uso, evitar condições de falta ou
de excesso nos estoque e manter os custos nos níveis mais baixos possíveis (DIAS, 2009;
POZO, 2007).
2.2 Custos de estoque
Há três categorias de custo de estoque: de manutenção, de aquisição e de falta de estoque
(BALLOU, 1993). Os custos de manutenção “estão associados a todos os custos necessários
para manter certa quantidade de mercadorias por um período de tempo” (BALLOU, 1993, p.
211). Segundo Dias (2009), todo e qualquer armazenamento de material gera determinados
custos, como por exemplo: com juros, depreciação, aluguel, equipamentos de movimentação,
deterioração, obsolescência, seguros, salários e conservação.
Já os custos de aquisição, de acordo com Ballou (1993), estão associados ao processo de
aquisição das quantidades requeridas para reposição de estoque:
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
4
(...) incluem o custo de processar pedidos nos departamentos de compras,
faturamento ou contabilidade; o custo para enviar o pedido até o fornecedor; o custo
de preparação da produção; o custo devido a qualquer tipo de manuseio ou
processamento realizado na doca de recepção; e o preço da mercadoria (BALLOU,
1993, p. 212).
Os custos de falta de estoque “são aqueles que ocorrem caso haja demanda por itens em falta
no estoque” (BALLOU, 1993, p. 212) e podem ocorrer com custo de vendas perdidas ou
custo de atrasos.
2.3 Sistema máximo-mínimo
Segundo Mayer (1968, apud POZO, 2007), uma das técnicas utilizadas no gráfico dente de
serra é o enfoque da dimensão do lote econômico de compra para manter os níveis de estoque
satisfatórios, denominada de sistema máximo-mínimo:
cada produto ou material receberá quatro informes básicos – estoque mínimo que se
deseja manter (Emin), o momento em que novas quantidades da peça devem ser
compradas (PR ou PP), tempo necessário para repor a peça (TR), a quantidade de
peças que devem ser compradas, ou seja, o lote de compras (LC), e quando esse lote
chega à fábrica, temos o estoque máximo (Emax). E isto possibilita a manutenção
dos níveis de estoque estabelecidos e que configurem um sistema automático de
suprimentos da manutenção de estoques onde novas ordens são emitidas, em função
das variações do próprio nível de estoque. Assim toda vez que o estoque estiver
abaixo do nível de ponto de pedido é emitida uma requisição de compras para a peça
em específico (POZO, 2007, p.63).
Desta forma, ao se descobrir o tempo de reposição, estoque mínimo, estoque máximo e
encontrar o lote econômico de compra, poderá ser encontrado o ponto de pedido.
3. Aspectos metodológicos
A presente pesquisa pode ser classificada quanto aos fins como descritiva. Em relação aos
meios, foram utilizados a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e o estudo de caso.
Quanto à natureza, esta pesquisa é qualitativa.
Como técnicas de coleta de dados foram utilizadas a observação, o mapeamento de processos
e entrevistas individuais e semiabertas, realizadas a partir de um roteiro pré-elaborado. Os
sujeitos, os quais participaram das entrevistas, foram um analista de compras e um assistente
de logística, ambos com mais de 10 anos de experiência na empresa.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
5
Neste trabalho, o ambiente de pesquisa foi o Centro de Distribuição de celulares da Empresa
X, localizada em João Pessoa/PB. Esta empresa é uma grande varejista do ramo de móveis,
eletrodomésticos e eletroeletrônicos e atua no mercado há mais de 55 anos, possuindo 47
unidades em 3 estados do Nordeste.
Como instrumento de análise foram utilizados softwares da Microsoft, como por exemplo, o
MS-Word e MS-Visio.
4. Coleta e análise de dados
4.1 Mapeamento do processo de ressuprimento
Inicialmente, realizou-se um mapeamento do processo de ressuprimento, para sua posterior
compreensão e análise. Como revisaram Borges, Walter e Santos (2016), todas as
metodologias de melhorias de processos abordam, ao menos parcialmente, as fases de Análise
e de Desenho: “Enquanto a fase de Análise se preocupa em entender como os processos atuais
funcionam, a fase de Desenho se propõe a melhorar a forma atual que os processos operam. A
transição para a fase de Desenho é o que caracteriza a melhoria, pois é a partir dessa etapa que
as proposições de melhoria começam a aparecer (...)” (BORGES; WALTER; SANTOS, 2016,
p.235). A Figura 1 apresenta o mapa do processo de ressuprimento do estoque de celulares da
empresa, o qual foi desenvolvido por meio de observação e entrevistas não estruturadas com
colaboradores da empresa. A seguir são descritos brevemente os subprocessos apresentados:
Análise de Vendas: Quinzenalmente é gerado um relatório de vendas do mês corrente. Neste
relatório se encontram as informações sobre os últimos três meses e a situação atual do
estoque e das vendas. Daí se identificam os produtos de maior venda e de maior lucro, o
estoque atual de cada produto e, proveniente disso, uma base para se estipular o estoque
necessário para os próximos 30 dias. A análise desse estudo é feita pelo gestor do
departamento juntamente com o analista de compras do departamento.
Decisão sobre o que vai comprar e quanto vai comprar: Após a análise de vendas é feita uma
reunião entre o analista de compras e o gerente do setor, em que são discutidas as
necessidades de compras, é estudado o preço de mercado, é feita uma breve análise da
concorrência e definido o preço mais adequado para comprar os produtos.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
6
Cotação entre os fornecedores: Ao tomar as decisões sobre as quantidades e valores, é
elaborada uma planilha com os produtos definidos em reunião e passada para os respectivos
fornecedores, e eles irão analisar a relação dos produtos que se estão precisando comprar.
Figura 1 - Fluxograma do processo de Ressuprimento (Compras)
Fonte: Dados da Pesquisa (2016).
Aguardar retorno dos fornecedores: Logo após a cotação, aguarda-se que os fornecedores
respondam ao email enviado pelo analista de compras dizendo se possuem ou não o(s)
produto(s) desejado(s).
Entrar em Contato com o Fornecedor: Em seguida à resposta dos fornecedores, entra-se em
contato com aqueles que responderam dizendo que dispõem do(s) produto(s) desejado(s) e
inicia-se uma negociação, discutindo-se o preço e as quantidades de cada produto. O analista
de compras, já se baseando no preço atual de mercado e baseando-se também na análise de
vendas feita anteriormente, propõe para o fornecedor o preço desejado ou necessário para a
comercialização desse(s) produto(s).
Decisão: Fechada a Negociação? “Se Sim”: Efetua-se a compra ao fornecedor selecionado.
Emite-se um pedido formal (por email) confirmando o modelo, a quantidade, o valor e o
prazo para pagamento, que já haviam sido negociados anteriormente. “Se Não”: É feita uma
nova cotação entre os outros fornecedores que não tinham oferecido as melhores propostas.
Nessa nova cotação é passada novamente uma planilha com os produtos, as quantidades e os
valores desejados, à procura do que seja mais interessante para a empresa.
Agendamento: Após a confirmação formal do fornecedor é feito o agendamento do
recebimento do produto, feito por email em uma planilha contendo modelo, quantidade, valor
unitário, valor total e sugestão de data de entrega. Daí confere-se as informações contidas na
planilha passada pelo fornecedor e responde-se, informando, assim, a melhor data e horário
para o recebimento. Assim que confirmada a data para receber os produtos, informar ao
responsável pelo recebimento.
Aguardar a Chegada do Produto: Confirmado o agendamento, aguarda-se a chegada do
produto de acordo com o pré-estabelecido no momento da negociação e, posteriormente,
acordado entre o Analista de Compras e o Fornecedor no momento do agendamento.
Decisão: Produto Chegou? “Se Não”: Entra-se em contato com o fornecedor solicitando uma
posição sobre a mercadoria que não foi entregue na data combinada. Após o posicionamento
do fornecedor, deve-se informar uma nova data de agendamento e aguardar a chegada do que
foi comprado. “Se Sim”: Autorizar a descarga pela transportadora, acionar o auxiliar de
estoque que fará a conferência dos produtos através do pedido.
Conferência das Mercadorias Recebidas: Ao terminar de descarregar os produtos, deve-se
iniciar sua conferência. Deve-se, na ordem, conferir o modelo, as quantidades, o preço
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
unitário de cada produto, o valor total da nota e os impostos que estão sendo cobrados. Tudo
deve estar conforme a nota fiscal e não deve haver divergências entre o recebido e o pedido.
Decisão: Chegou Tudo Conforme Negociação? “Se Não”: Caso o recebido não esteja de
acordo com o que foi negociado, deve-se mandar a mercadoria de volta para o fornecedor e,
de imediato, entrar em contato com o mesmo para redefinir uma nova data para o
recebimento. Essa nova data, quando decidida, tem que ser agendada novamente e passada
para o responsável pelo recebimento. “Se Sim”: Receber os produtos, assinar o conhecimento
de frete e liberar a transportadora.
Armazenagem dos Produtos: Após receber e conferir os produtos de acordo com o pedido,
armazenar os produtos no estoque do CD de Celular. Com a conclusão do mapeamento, o
desenho do fluxo servirá de base e ensinamento para os colaboradores, tanto os que já
executam as atividades como também os colaboradores que possam vir a ser contratados,
executarem as atividades de acordo com o que fora determinado após as pesquisas e estudos.
4.2 Entrevistas
As entrevistas para a coleta de informações foram realizadas seguindo um roteiro com
perguntas referentes ao estoque, ao processo de ressuprimento do estoque e os problemas
identificáveis. As respostas estão resumidas a seguir:
Pergunta: Quais são os principais problemas encontrados no CD?
Sujeito A: Um desses problemas é a falta de um determinado produto. É o caso de um
produto que começa a ter uma boa aceitação no mercado, porém começa a faltar produto
para abastecimento das lojas. Quanto ao fornecimento, existem outros problemas. Alguns
fornecedores não fazem o agendamento junto ao analista de compras da empresa em tempo
hábil, ou demoram demais para realizar a entrega, ou em alguns casos, a transportadora
enfrenta algum problema no posto fiscal e a mercadoria acaba ficando presa por alguns dias.
Outro problema é quando o fornecedor comete algum erro no faturamento da nota.
Dependendo da época do ano, alguns problemas são mais evidentes. Através de estudos e
análises de mercado percebe-se que há um aumento nas vendas e então é necessário que seja
feita uma compra maior para que o estoque esteja bem abastecido para suprir a necessidade
das filiais. O fato de comprar mais quantidades de uma variedade pequena de produtos
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
dificulta a chegada de novos produtos e acaba afetando o desempenho da atividade dos
colaboradores, pois há uma intensificação do trabalho.
Sujeito B: Um dos principais problemas encontrados é o espaço físico. Em dias em que há
um grande recebimento de mercadorias a área se torna pequena, atrapalhando as atividades.
A falta de materiais de trabalho também é um problema, como por exemplo, cintos que
protegem a coluna de algum tipo de trauma. A divisão de trabalho é também um problema,
porque não existe tal divisão, sendo todos são responsáveis por tudo e dificultando a
execução de algumas tarefas. Dentro do estoque, as mercadorias não são identificadas e nem
tem endereçamento. A falha na comunicação na hora do recebimento é também um problema
frequente. Muitas vezes, no ato do recebimento, chega mais mercadoria do que foi negociado
e comprado. Outro problema é que o setor de reposição automática que existe dentro do
departamento altera manualmente as quantidades de cada produto que é mandado para a
filial e isto está atrasando o processo de separação das mercadorias e o abastecimento dos
estoques das filiais.
Pergunta: Como é feito o ressuprimento dos produtos?
Sujeito A: É feito um estudo quinzenalmente, em que são observadas as vendas de todos os
produtos nos últimos três meses, o quanto que está vendendo no mês atual e a quantidade
disponível no estoque. Também se observa o ticket médio do produto e o quanto está dando
de lucro. A partir daí o analista de compras faz uma relação com esses aparelhos e elabora
um email para ser enviado aos fornecedores com a cotação. Com relação ao ponto de pedido,
não existe um ponto de pedido fixo. O mercado de celular é muito rápido, muito dinâmico, se
for se prender a apenas um aparelho, pode não ser interessante, pois um produto que está
vendendo bem neste mês pode não vender tão bem no mês seguinte. Não existe um ponto de
pedido automático. É necessário ter feeling, e ter um estudo dos números. O tempo de
reposição é baseado e programado para uma média de 30 ou 45 dias de venda, para os
produtos que têm rotatividade. De acordo com o estudo feito também são vistos os produtos
que estão sem giro e diante disso são tomadas decisões para saber se deve ser comprado
mais destes produtos ou não e até mesmo se vai continuar vendendo este produto. É
comprado de 20 a 30% a mais do que necessita e foi estudado para o mês. O estoque de
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
segurança é feito de uma forma improvisada, sem auxílio algum do sistema, somente de
acordo com os estudos semanais.
Sujeito B: No decorrer dos dias, ao ver que o produto está acabando, é feita uma análise de
vendas e se entra em contato com os fornecedores para saber qual tem a melhor oferta e
renderá mais lucro à empresa.
Pergunta: Quanto ao Giro de Estoque, é verificado na hora de fazer o ressuprimento?
Sujeito A: Isso é visto de acordo com a venda do produto. É visto se está vendendo, visto se
as vendas estão caindo ou se foi lançado algum novo produto. É visto e estudado o ciclo de
vida desse produto. A cada três meses os fabricantes vêem o preço e informam se vão
continuar fabricando aquele produto.
Sujeito B: Sim. É verificada a saída de cada produto no mês. É puxado um relatório de
vendas e analisado o que foi vendido e o que ainda tem em estoque.
Pergunta: Caso haja um produto sem giro, obsoleto, parado no estoque, quais medidas são
tomadas?
Sujeito A: Primeiramente é entrar em contato com o fabricante, conversar e negociar com
ele, argumentando que o fabricante vendeu um produto prometendo boa saída e este mesmo
produto não superou as expectativas. Diante da resposta, é visto o que pode ser feito e se vai
haver uma proteção de preço (que o fabricante pague uma certa quantia em cima de cada
produto vendido) para que o produto seja vendido num preço competitivo e aumentem suas
vendas.
Sujeito B: São feitas pesquisas de mercado. Daí é analisado e estudado uma possível baixa
de preços que sejam suficientes para que os aparelhos voltem a girar. Caso a baixa de preço
não solucione o problema, entra-se em contato com os fornecedores ou tenta-se fazer
parcerias com operadoras ou fornecedores para que eles possam entrar com alguma ação e
ajudar a vender o produto mais rapidamente.
Pergunta: Quanto ao espaço físico e a disposição das prateleiras, o que pode ser melhorado?
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
Sujeito A: O ideal é que se tenha um espaço grande para que facilite a separação dos
pedidos enviados para as filiais. Separar modelo por modelo, endereçar todas as prateleiras
e facilitar a transição dos colaboradores. A capacidade de armazenagem do estoque de
celular é de aproximadamente 70 mil peças. Passando disso se torna complicado transitar
dentro dela e acaba dificultando o andamento do trabalho dos colaboradores que trabalham
no estoque.
Sujeito B: Aumentar o espaço físico e colocar mais prateleiras. Ampliar a capacidade de
armazenamento do depósito e organizá-lo de modo que sejam denominadas ruas e endereços
para cada produto que tiver no estoque.
Pergunta: É necessário estipular um estoque mínimo?
Sujeito A: Sim. Porém é sempre importante estar atento às mudanças do mercado, pois as
vendas de celulares podem se tornar imprevisíveis. É necessário ter feeling para que quando
houver uma mudança no mercado, não se tenha prejuízo estocando aparelhos que já não
estarão mais tendo boa saída. Pois o mercado de celular é imprevisível, tudo muda mês a
mês. O produto que é top de vendas neste mês, pode não ser mais no mês seguinte.
Sujeito B: (O entrevistado não soube responder à pergunta).
Pergunta: O que pode ser melhorado (pontos de melhorias)?
Sujeito A: Seriam necessários treinamentos especializados, realizados por pessoas com uma
vasta experiência. Trazer o conhecimento de uma pessoa formada e com experiência para
agregar ao setor e repassar esse conhecimento para os demais colaboradores. Melhorar a
questão do espaço. Aumentar a capacidade de armazenamento. Estudar um melhor layout
para o depósito. Estes são pontos fracos, mas que não são problemas tão grandes assim para
o departamento.
Sujeito B: A comunicação entre os setores do departamento, tanto no repasse das
informações sobre o que está agendado para recebimento, como também entre os setores do
departamento. O setor de reposição automática estudar mais a saída de cada aparelho e
ajustar a reposição de cada produto no sistema.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
Pergunta: A ausência de um supervisor dentro do depósito interfere no resultado da equipe?
Sujeito A: Sim. A presença de uma pessoa mais especializada, mais preparada, influencia na
capacidade de produção dos colaboradores, pois esta pessoa está mais preparada para
tomar uma decisão de forma mais rápida, no momento certo, ou fazer alguma mudança
necessária. Coisa essa que os outros colaboradores não estão tão preparados.
Sujeito B: Sim. Na presença de um líder dentro do depósito, os outros colaboradores
produziriam mais e estariam mais atentos às atividades. Isso reduziria erros e melhoraria a
produtividade dos mesmos, deixando o tempo de execução de cada atividade menor.
O Quadro 1 resume as respostas de cada colaborador. Em algumas respostas nota-se uma
certa diferença no que se diz respeito ao conhecimento sobre a realização das atividades dos
processos.
4.3 Melhoria do processo
A partir da observação e das análises do processo e das entrevistas, entende-se que os
principais problemas existentes são a falta de um ponto de pedido pré-definido e a ausência de
estudos para que se saiba o tempo de reposição de cada produto e por fornecedor. O Quadro 2
elenca os principais problemas existentes no estoque do ambiente pesquisado e sugestões de
melhoria apresentadas.
5. Considerações finais
O presente trabalho se contextualiza num problema comum às empresas modernas: a melhoria
na gestão de estoques. Uma empresa varejista paraibana possui problemas em sua gestão de
estoques de aparelhos celulares, que são itens de alto custo e que por isto requerem um
gerenciamento eficiente. O objetivo deste trabalho foi propor possíveis melhorias no
ressuprimento de estoque de aparelhos celulares de uma empresa varejista e, para se atingir o
objetivo da pesquisa, realizou-se uma revisão da literatura sobre gestão de estoques e um
estudo de caso que visou a identificação de melhorias a serem implementadas no processo de
ressuprimento, a partir das percepções dos autores e de colaboradores do processo analisado.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
Entre as possíveis melhorias sugeridas estão a introdução de pontos de pedidos específicos
por produto, emissão de alertas automáticos relacionados a estes para o comprador, ampliação
da área do Centro de Distribuição, aquisição de mais equipamentos de movimentação,
implementação de um sistema de endereçamento mais adequado, melhoria nos processos de
comunicação do setor e melhorias nos demais processos internos do setor.
Quadro 1 - Quadro-resumo das entrevistas
Fonte: Dados da pesquisa (2016)
Quadro 2 - Principais problemas encontrados nas entrevistas e observações
Fonte: Dados da pesquisa (2016)
Como se observa, as ações recomendadas não são complexas e podem ser implementadas sem
grandes demandas. Mais relevante foi, talvez, confirmar que a adoção de programas de
melhorias de processos em organizações de grande porte – e que neste caso tratou apenas de
listar problemas existentes e apontar possíveis soluções – não é uma ação organizacional
complexa, exigindo apenas a efetiva (e temporária) alocação de colaboradores do próprio
setor. Tais ações, realizadas sem custos adicionais, poderiam facilmente resultar em melhorias
rápidas (e baratas) do desempenho dos processos e por isso deveriam ser priorizadas em todo
tipo de organização.
REFERÊNCIAS
AMARAL, J. T.; DOURADO, L. O. Gestão de Estoque. In: III Encontro Científico e Simpósio de Educação
Unisalesiano. Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/ simposio2011/publicado/artigo0055.pdf>
Acesso em 22 de abr. de 2016.
BALLOU, R. H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo:
Atlas, 1993.
BORGES, L. M.; WALTER, F.; SANTOS, L. C. Análise e Redesenho de Processos no Setor Público:
Identificação de Melhorias em um Processo de Compra. Holos, ano 32, n. 1. Disponível em
<http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/3734>. Acesso em: 29 abr. 2016.
DIAS, M. A. P. Administração de materiais: princípios, conceitos e gestão. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MARTINS, P. G.; ALT, P. R. C. Administração de materiais e recursos patrimoniais. 2ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.
POZO, H. Administração de recursos materiais e patrimoniais: uma abordagem logística. 4ª Ed. 2ª reimp.
São Paulo: Atlas, 2007.
VIANA, J. J. Administração de materiais: um enfoque prático. 1. Ed. 5ª tiragem. São Paulo: Atlas, 2002.