propagaÇÃo vegetativa e estabelecimento em cerrado de banisteriopsis caapi
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Dissertação de mestrado que discute o cultivo da espécie Banisteriopsis caapi, utilizada para a preparação de ayahuasca, bebida ritualística consumida por grupos espiritualistas de várias partes do Brasil.TRANSCRIPT
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Universidade de Braslia Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Florestal PROPAGAO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO
EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi Aluno: Thiago Martins e Silva Matrcula: 99/15991 Orientadora: Rosana de Carvalho Cristo Martins Co-orientador: Ildeu Soares Martins
Trabalho Final de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Florestal como requisito parcial para obteno do grau de Engenheiro Florestal
Braslia, 2006
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Universidade de Braslia Faculdade de Tecnologia Departamento de Engenharia Florestal
PROPAGAO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi
Aluno: Thiago Martins e Silva Matrcula: 99/15991 Meno: _______ Banca Examinadora
_________________________________________ Rosana de Carvalho Cristo Martins
Orientadora
_________________________________________ Ildeu Soares Martins
Co-Orientador
_________________________________________ Fernando de La Rocque Couto
Membro da Banca
Braslia, 13/03/2006
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Agradecimentos Antes de tudo, agradeo a Deus pelo dom dessa vida e por todas as oportunidades. Agradeo aos meus pais, Eliane e Walter, pela grande riqueza que me proporcionaram: a educao. Agradeo a meus irmos, Junior e Cinthia, por, de uma forma ou de outra, sempre fazerem parte de minha existncia. Agradeo querida professora Rosana por acreditar, apoiar e orientar a realizao desse trabalho desde Junho de 2004. Agradeo pela grande ajuda e orientao do professor Ildeu na anlise dos dados obtidos e por todo carinho de pai durante todo o curso de graduao. Agradeo a Ftima, Ellen, Marcinho (tambm pela ajuda na coleta dos dados), Rafael Santos, Emmanuel Lima, Marcello Alceo, Ana Rita e todos aqueles que disponibilizaram referncias bibliogrficas para embasar e enriquecer a realizao desse trabalho. Agradeo ao Fabrcio da Vinha (CCC) e ao padrinho Fernando La Rocque pela grande ajuda com material bibliogrfico, permisso de divulgao das fotos, conversas, orientaes e incentivos. Agradeo ao Chico, ao Manoel, ao padrinho Fernando, ao padrinho Alfredo Gregrio e ao paj Ban (Kaxinaw) pelas entrevistas. Agradeo ao Leonardo Vasconcelos pela tima acolhida em Belm, pela ajuda na preparao das estacas, conversas, orientaes, companheirismo e pelos muitos aas com tapioca. E tambm pela grande fora na apresentao. Agradeo ao Francisco, responsvel pelo viveiro da FAL na poca do plantio e ao Departamento de Engenharia Florestal pelo apoio na produo das mudas. Agradeo ao Fbio Venturoli (NOVACAP) e Igor de Oliveira pela ajuda. Agradeo ao Carlos Eduardo, ao Celso Papito (tambm pelos ensinamentos), ao Francisco Guilhermano, ao Joo Neto (tambm pela retirada do viveiro), Rafael (Macei), Jlio, Sat e todos aqueles que puderam ajudar a produzir os beros e a plantar. Agradeo ao Jorge, ao Guilherme Simes e ao Josimar pela grande ajuda na manuteno das mudas em campo. Agradeo ao Bergmann (Laboratrio de Microscopia Eletrnica do Departamento de Biologia Celular da UNB) pela ajuda nas fotos do teste de viabilidade. Agradeo ao Lucas pela ajuda na anlise de solo. Agradeo bebida Ayahuasca por proporcionar tantas curas e mostrar-me os verdadeiros valores importantes nessa vida. Em especial, agradeo Juliana Hoff, por ter sido muito mais do que ajudante e peoa na execuo desse trabalho, por ter sido o maior incentivo e apoio para a sua concluso.
Dedicatria
Dedico esse trabalho Juliana, noiva, companheira, ajudante, inspirao e amor de minha vida.
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As sementes da macieira esto dentro da ma,
As sementes da parreira esto dentro da uva,
As sementes do pequi esto dentro do pequi,
As sementes de Deus esto dentro de DEUS!
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RESUMO
O presente trabalho analisou a propagao vegetativa em viveiro e o estabelecimento em campo da espcie amaznica Banisteriopsis caapi no bioma Cerrado. Uma reviso de literatura foi feita para indicar outros usos, alm do uso religioso, para a espcie em estudo. A forma de propagao vegetativa utilizada foi a estaquia caulinar. Foram testados quatro tipos de tratamentos: 70% e 90% de sombreamento; e casa de vegetao climatizada com estacas verticais e horizontais. O indivduo utilizado para obteno das estacas foi coletado em Belm/PA. A medio do comprimento (cm) do maior broto foi o critrio de avaliao em viveiro. Foram utilizadas duas reas principais para estabelecimento em campo. As medies do comprimento (cm) e do dimetro (mm) do maior broto e a observao durante um ano foram os critrios de avaliao do desempenho em campo. Os resultados mostraram que a estaquia caulinar o mtodo mais recomendado para viveiro; a espcie tem um timo estabelecimento no Cerrado; a gua requisitada em abundncia para desenvolvimento acelerado, mas a espcie resiste bem aos perodos secos sendo caduciflia.
SUMMARY
The present work analyzed the vegetative propagation in nursery and the establishment in field of the Amazonian species Banisteriopsis caapi in Cerrado. A literature revision was made to indicate other uses, beyond the religious use, for the species in study. The vegetative propagation form used was by stem cuttings. Four types of treatments had been tested: 70% and 90% of shading; greenhouse acclimatized with vertical and horizontal cuttings. The individual used for attainment of the cuttings was collected in Belm/PA/Brazil. The measurement of the length (cm) of the biggest sprout was the criterion of evaluation in nursery. Two main areas for establishment in field had been used. The measurements of the length (cm) and the diameter (mm) of the biggest sprout and the observation during one year had been the criteria of evaluation of the performance in field. The results had shown that the stem cuttings is the most recommended method for nursery; the species has an excellent establishment in the Cerrado; the water is requested in abundance for sped up development, but the species resists the dry periods well being deciduous.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Banisteriopsis caapi 02
Figura 2 - Psychotria viridis 03
Figura 3 - Garrafa contendo Ayahuasca 04
Figura 4 - O xam Ka-paye com o aray (chocalho de paj) e o charuto 06
Figura 5 - Susticas associadas a smbolos religiosos 08
Figura 6 - Filotaxia, flor e semente de B. caapi 40
Figura 7 - Exsicata de B. caapi do herbrio da UNB 41
Figura 8 - B. caapi no uso de cobertura de portal 48
Figura 9 - Uso de liana para cobertura em alambrado 48
Figura 10 - B. caapi no uso de revestimento de muros 49
Figura 11 - Uso de liana para coroamento de muros 49
Figura 12 - Bateo do B. caapi na preparao de Ayahuasca 63
Figura 13 - Coco de B. caapi na preparao de Ayahuasca 63
Figura 14 - Harmina 67
Figura 15 - Harmalina 67
Figura 16 - N, N-Dimetiltriptamina 67
Figura 17 - Planta-me de B. caapi de onde foram confeccionadas as
estacas utilizadas 76
Figura 18 - Regenerao da rea 2 79
Figura 19 - Queda das folhas 87
Figura 20 - Investimento em brotaes novas 87
Figura 21 - Exemplo de semente vivel 90
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Classificao botnica de Banisteriopsis caapi 39
Tabela 2 Nmero de brotaes produzidas e percentagem das
estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi nas diversas
condies testadas de viveiro florestal da Fazenda gua
Limpa, DF, aps 23 dias 81
Tabela 3 - Nmero de brotaes produzidas, comprimento da maior
brotao e nmero estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi
nas diversas condies testadas de viveiro florestal da
Fazenda gua Limpa, DF, aps 30 dias 81
Tabela 4 - Nmero de brotaes produzidas, comprimento da maior
brotao e nmero estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi
nas diversas condies testadas de viveiro florestal da
Fazenda gua Limpa, DF, aps 53 dias 82
Tabela 5 - Resumo da Anlise de Varincia para o comprimento das
brotaes no viveiro aps 30 dias (16/09/2004) 83
Tabela 6 - Resultados do Teste de Tuckey para os tratamentos: casa
de vegetao (0); 70% de sombreamento (1); e 90% de
sombreamento (2) aps 30 dias (16/09/2004) 83
Tabela 7 - Resumo da Anlise de Varincia para o comprimento das
brotaes no viveiro aps 53 dias (09/10/2004) 84
Tabela 8 - Resultados do Teste de Tuckey para os tratamentos: casa
de vegetao (0); 70% de sombreamento (1); e 90% de
sombreamento (2) aps 53 dias (09/10/2004) 84
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Tabela 9 Resultados da anlise de solo da rea 1 86
Tabela 10 - Resumo das Anlises de Varincia para o comprimento
das brotaes (COMP) e dimetro das brotaes (DIAM),
em nvel de campo 88
Tabela 11 - Comparaes do Teste de Tuckey para o comprimento
e o dimetro das brotaes em nvel de campo 89
Tabela 12 Resultados do Teste de Tetrazlio 89
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TABELA DE CONTEDO
I INTRODUO 01
II REVISO DE LITERATURA 13
2.1 CARACTERSTICAS EVOLUTIVAS DAS TREPADEIRAS 14
2.2 ECOLOGIA DAS TREPADEIRAS 16
2.3 PROPAGAO VEGETATIVA 17
MERGULHIA 19
ENXERTIA 20
ESTAQUIA 21
CULTURA DE TECIDOS (MICROPROPAGAO) 22
2.3.1 RECIPIENTES/EMBALAGENS 23
2.3.2 SUBSTRATOS 25
2.3.3 SOMBREAMENTO 28
2.4 TESTE DE TETRAZLIO 30
2.4.1 LIMITAES DO TESTE DE TETRAZLIO 32
2.5 FAMLIA MALPIGHIACEAE 33
2.5.1 GNERO Banisteriopsis 37
2.6 AMAZNIA X CERRADO 42
2.7 Banisteriopsis caapi: USOS 44
2.7.1 PAISAGISMO 46
2.7.2 RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS 50
2.7.3 USO TERAPUTICO 51
2.8 AYAHUASCA 54
2.8.1 ORIGEM DA AYAHUASCA 57
2.8.2 RITUAL DE PREPARO OU FEITIO DA AYAHUASCA59
2.8.3 EFEITOS FSICOS, PSQUICOS E QUMICOS DA
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AYAHUASCA 64
2.8.4 ASPECTOS LEGAIS REFERENTES AYAHUASCA71
III MATERIAL E MTODOS
3.1 FASE 1 76
3.2 FASE 2 78
3.3 FASE 3 80
IV RESULTADOS E DISCUSSO
4.1 FASE 1 81
4.2 FASE 2 85
4.3 FASE 3 89
V CONCLUSES
5.1 FASE 1 91
5.2 FASE 2 91
5.3 FASE 3 92
VI RECOMENDAES 92
VII SUGESTES 93
VIII REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 95
ANEXOS
ANEXO 1 NOMES ENCONTRADOS NA BIBLIOGRAFIA PARA A BEBIDA AYAHUASCA
ANEXO 2 PARECER CONFEN SUBMETIDO PLENRIA EM 31 DE JANEIRO DE 1986
ANEXO 3 CARTA DE PRINCPIOS PARA O USO DA AYAHUASCA
ANEXO 4 RESOLUO DO CONFEN SOBRE A AYAHUASCA DE 24 DE AGOSTO DE 1992
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ANEXO 5 RESOLUO N.4 CONAD, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2004
ANEXO 6 HINOS CITADOS
ANEXO 7 CHAMADAS CITADAS
ANEXO 8 MEDIES NA FASE DE VIVEIRO
ANEXO 9 DADOS DE CAMPO
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I - INTRODUO
A importncia das florestas incontestvel. E seu uso sustentvel , a
cada dia que passa, mais necessrio para que as geraes futuras tenham,
pelo menos, os mesmos recursos da atualidade. A madeira ainda o produto
mais procurado e, consequentemente, mais valorizado das florestas.
Entretanto, vm se descobrindo, cada vez mais, mais usos dos produtos no-
madeireiros, o que favorece a conservao das florestas. Dentre as finalidades
dos produtos florestais no-madeireiros esto os usos alimentcio, cosmtico,
farmacolgico, turstico, txtil e religioso.
Buda define a floresta como um organismo especial de bondade e
benevolncia infinitas que no faz nenhuma exigncia para o seu sustento e
espalha generosamente os frutos de sua atividade vital. Ela fornece proteo a
todos os seres e oferece sombra at mesmo ao lenhador que a destri (Vinha,
2005).
Deus disse: Eis que eu vos dou toda a erva que d semente sobre a
terra, e todas as rvores frutferas que contm em si mesmas as suas
sementes, para que sirvam de alimento (Gnesis 1, 29). Desde ento, das
plantas se obtm os princpios ativos empregados nos medicamentos, uma
completa farmcia natural. Umas alimentam, outras perfumam, outras
purificam, acalmam, do prazer, etc. Porm, algumas plantas transportam a
mente humana a regies de maravilhas espirituais, alterando a conscincia,
levando o ser humano ao mundo profundo do inconsciente, reconectando o
homem com os seus ancestrais.
O cip Banisteriopsis caapi (Spr. Ex Griseb.) Morton (Malpighiaceae)
(Figura 1) nativo da regio amaznica tem sua maior importncia no uso
religioso. Juntamente com o arbusto Psychotria viridis Ruiz & Pavon
(Rubiaceae) (Figura 2), a espcie B. caapi matria-prima na produo da
bebida indgena conhecida por, pelo menos, oitenta nomes diferentes (Anexo
1), como, por exemplo, Yag, Kamarampi, Caapi, Natema, Pind, Kahi, Mihi,
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Dpa, Nixi pae, Cip dos mortos, Santo Daime, Vegetal, Oaska ou mais
comumente Ayahuasca. Aya, no dialeto quchua1, significa alma, esprito,
ancestral; e Huasca, no mesmo dialeto, significa ch ou vinho. Portanto,
Ayahuasca pode ser traduzida para o portugus como Vinho da Alma ou Ch
do Esprito.
1 Lngua amerndia de etnia peruana falada pelos povos dos altiplanos andinos (Luna, 1986), tambm conhecida como quchua.
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Figura 4 - Banisteriopsis caapi
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Figura 5 - Psychotria viridis
Esse ch, tratado aqui como Ayahuasca (Figura 3), um produto da
medicina da floresta, pode ser preparado com outras espcies, tanto de cip
como de folha. Pode-se acrescentar mais de trinta outras espcies ao cip,
como a folha de outro cip, Diplopterys cabrerana, conhecida na Colmbia
como chagro panga (Labate, 2003), sendo as espcies mais utilizadas o B.
caapi e a P. viridis.
Muitas vezes confundido com a bebida Ayahuasca, o cip B. caapi
mais conhecido no Brasil pelos nomes vulgares Jagube ou Mariri. Seu uso
anestsico local, estimulante de memria e contra a paralisia (Cointe, 1947
citado por Vieira, 1992), entre outros.
Na regio Norte do Brasil, seu uso tambm bastante divulgado para
proteo contra maus espritos. Com essa finalidade, rezadeiras2 e pessoas
mais antigas sempre tinham um p plantado de Cabi (como mais conhecido
no Par) na frente ou nos fundos de casa. Tambm utilizado para banho com
2 Mulheres com experincia na rea de cura com as plantas da floresta.
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suas folhas a fim de proteo contra mal olhado. Seu uso ainda estende-se
aos campos teraputico, ornamental e, em menor escala, de recuperao em
reas degradadas.
Figura 6 - Garrafa contendo Ayahuasca
Substncias alucingenas so aquelas que, quando em contato com
nosso sistema nervoso, propiciam estados de alterao da conscincia
esdexxxm maior ou menor grau. Embora elas tenham chegado mdia
associadas a rebeldes e artistas psicodlicos dos anos 60 e 70, seu uso
muito anterior e muito mais complexo do que se pode pensar, primeira vista.
Muitas vezes so tratadas erroneamente como drogas ou txicas.
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Na natureza, existem cerca de 100 plantas classificadas desta forma.
Como exemplos, alm da Ayahuasca, tm:
A raiz iboga (Tabernanthe iboga), utilizada por curandeiros tradicionais dos
pases da bacia do Congo e na religio do Buiti na Guin Equatorial, Camares
e, sobretudo, no Gabo, onde membros importantes das hierarquias polticas
do pas so adeptos do culto. Supostamente capaz de induzir o coma, usada
em rituais e tratamentos de dependncia qumica;
O cacto peiote (vrias espcies do gnero Echinopsis), amplamente
consumido no Mxico, cuja substncia ativa a mescalina. Popularizado pelas
narrativas do antroplogo Carlos Castaeda, o cacto sagrado para ndios
norte-americanos. Nos Estados Unidos, a Igreja Nativa Americana comunga o
peiote em cerimnias, legalmente;
Os cogumelos (vrias espcies), utilizados por culturas de todo o planeta
desde a antiguidade. Entre os astecas mexicanos, os fungos eram
considerados mensageiros sagrados de Deus;
A Cannabis sativa, embora esteja associada ao universo do narcotrfico,
h registros milenares do seu emprego religioso. Um exemplo so os adeptos
do movimento Rastafari, na Jamaica, que a consideram uma planta divina;
A Jurema (Mimosa hostilis), planta natural da caatinga, usada em rituais
por sertanejos e comunidades indgenas no Nordeste do Brasil;
O p feito de sementes de paric (Piptadenia peregrina), usado por ndios
no Brasil, na Colmbia, no Peru e na Venezuela, possui o alcalide DMT, o
mesmo presente na Ayahuasca;
A Salvia divinorum, utilizada em cerimnias pelos xams3 (Figura 4)
mexicanos; h registros de que era associada a uma entidade4 feminina
guardi da sabedoria.
3 Aqueles que conseguem entrar e sair dos estados alterados de conscincia, trazendo ensinamentos e curas para si e para os outros, com tcnicas que lhe so exclusivas, tendo sua disposio espritos, seres ou entidades, que quando chamados o atendam prontamente. No se nasce Xam, torna-se, mas quem tem antepassados com este dom ter maior
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Nos exemplos citados, trata-se de plantas utilizadas no mbito de rituais
sagrados, pautados por cosmologias que lhes conferem sentido. Como, no
caso da Ayahuasca, acredita-se que a folha da P. viridis, chamada de rainha ou
chacrona (ch temeroso), fornece a luz e o cip B. caapi, chamado (quando
encorpado) de marechal, fornece a fora bebida sagrada.
Figura 7 - O xam Ka-paye com o aray (chocalho de paj) e o charuto
Isso aceito cientificamente, pois pesquisas j comprovaram que o
princpio ativo da P. viridis, a substncia n, n-dimetiltriptamina (DMT), no
causa efeitos sozinha. necessria a ao do B. caapi para que a enzima
Monoamina oxidase (MAO), naturalmente presente no nosso organismo, seja
inibida temporariamente pelas beta-carbolinas (harmalina, harmina e
tetrahidroharmina, THH) e no destrua o alcalide DMT, responsvel pelos
efeitos do ch (Ott, 1994).
probabilidade. Conhecidos tambm por: pajs, curandeiros, magos, videntes. Embora nem todo vidente, curandeiro, mago ou paj, seja um Xam. No xamanismo existem duas vias: do Xamanismo Clssico e do Xamanismo de Planta de Poder. Tambm conhecidos como pajs entre as tribos indgenas brasileiras. 4 Ser espiritual no materializado.
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A harmalina e a harmina so inibidores da MAO-A e o THH inibe a
receptao da serotonina, desencadeando um aumento da sua atividade
central e perifrica, facilitando a psicoatividade da DMT (McKenna et al., 1984;
Holmstedt & Lindgren, 1967; Callaway, 1994 a, b; Callaway et al., 1996;
Callaway et al., 1999). Portanto, o B. caapi fornece a fora para permitir que a
luz da P. viridis haja no organismo da pessoa que tenha ingerido Ayahuasca.
por isso que os pesquisadores deste campo evitam utilizar o termo
droga com carter pejorativo -, preferindo utilizar as expresses plantas de
poder ou entegenos. Tambm so conhecidas como Plantas Mestres,
Plantas Professoras, Plantas de Conhecimento ou Plantas Sagradas.
Entegeno engloba a palavra Deus em grego (Teo) e significa o que vm de
Deus, o que revela o papel que muitas sociedades e religies atribuem a tais
preparados vegetais: facilitar a comunicao entre a esfera humana e a divina.
Quanto s ditas Plantas de Poder naturais, no sujeitas aos
processos qumicos e que despertam determinados poderes latentes do ser
humano em si, no trazem nem o bem nem o mal. Depende da inteno de
cada um. S no entende sobre o livre arbtrio de cada um com relao ao uso
dos vegetais quem tiver algum interesse em seu trfico, represso ou
preconceito (Gregorim, 1991).
Como exemplos comparativos, tm a sustica5 (Figura 4) e o vinho. A
sustica um smbolo antigo e de ocorrncia freqente, encontrado em muitas
culturas diferentes, em diferentes pocas. possvel encontrar a sustica
associada aos ndios Hopi, astecas, celtas, budistas, gregos e hindus como
smbolo religioso e decorativo. Hoje associada a Hitler, maleficamente usada
para espalhar a morte em nome do que o nazismo defendia (o anti-semitismo,
o holocausto, o dio aos homossexuais, o desejo de eliminar os deficientes e
os enfermos, etc.). O mesmo acontece com o vinho da Eucaristia catlica, a
pessoa pode beb-lo sem moderao e embriagar-se (Gregorim, 1991).
5 A palavra sustica ou swastika vem do snscrito e significa estar bem.
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Figura 8 - Susticas associadas a smbolos religiosos
O uso de Plantas Sagradas vem fazendo parte da experincia humana
h milnios. Quase todas as culturas primitivas do planeta empregam ou
empregaram esta classe de plantas em um contexto xamnico (Zuluaga, 2002).
No podem nunca serem confundidas com drogas que causam a dependncia
e colocam em risco a sade de quem as usa. A Planta criao de Deus, a
droga uma criao humana. As Plantas de Poder so ingeridas em rituais.
Obedecem a preceitos mgico-religiosos, proporcionam cura,
autoconhecimento e expanso da conscincia.
As Plantas de Poder aumentam a percepo, a acuidade visual e
auditiva, e transportam o praticante para outras camadas vibracionais ou
dimenses. A experincia individual, algumas pessoas tm vises, outras
canalizam mensagens, fazem regresses, recebem insights 6, recebem
solues para seus problemas com maior claridade, percebem as causas de
suas doenas, recebem cura, se conectam a arqutipos, aos mitos, aos medos,
traumas, smbolos que esto no inconsciente coletivo, visualizam entidades,
viajam astralmente, entre outras sensaes. O uso ritualstico de Plantas de
Poder proporciona, sem dvida, uma experincia mstico-religiosa de beleza
incomparvel, proporcionando o samadhi, o xtase, o nirvana, o encontro com
o Eu Superior, o transe.
A busca pelas Plantas de Poder pode ser perigosa. No so todos os
que dizem conhec-las, que as conhecem realmente. As Plantas de Poder s
6 Do ingls, corresponde a discernimento, apreenso sbita.
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trazem resultados benficos, se utilizadas dentro de um fundamento espiritual.
Consagradas em rituais e preparadas de forma correta.
Vale ressaltar que no apenas as Plantas de Poder podem proporcionar
esse xtase desejado h milnios pela natureza humana. Prticas iogues,
meditaes, rezas fervorosas, jejum e tcnicas de respirao so apenas
alguns dos tantos outros meios para atingir esse transe. Entretanto, as Plantas
de Poder aparecem como um caminho mais curto e profundo para essa
finalidade.
A evoluo cultural em todos os povos produziu um paulatino
distanciamento das tcnicas xamnicas e, sobretudo, do uso das plantas
alucingenas. Esta tendncia foi levada ao extremo de considerar estas plantas
como txicas ou diablicas e seu uso proscrito em quase todo o mundo
moderno. Todavia, desde fins do sculo passado, muitos ocidentais tm
incursionado novamente no consumo destas substncias, buscando uma
resposta aos grandes problemas da civilizao industrial (Zuluaga, 2002).
Txicos so as inmeras drogas qumico-farmacuticas sintticas que
combatem provisoriamente o efeito das doenas e no suas causas. E, muitas
vezes, ocasionam efeitos colaterais e dependncia fsico-mental,
principalmente quando mal administradas (Gregorim, 1991). Deixando o
organismo com menos resistncia para um possvel retorno da mesma doena,
cada vez doente, o organismo necessita de uma maior quantidade de
medicamento.
A medicina tradicional ocidental tem o seu valor. Entretanto, a eficcia
de prticas consideradas culturalmente como alternativas vem sendo
descoberta pela sociedade urbana moderna. Isso porque a medicina tradicional
analisa a doena isoladamente, enquanto as prticas alternativas se
preocupam com o ser humano no todo.
Com o desenvolvimento da cincia e tecnologia, a diviso dos
componentes do corpo humano na medicina tornou-se muito mais comum. Os
mdicos tradicionais modernos sabem muito mais sobre muito menos. Esse
desenvolvimento tambm causou uma diviso do ser humano em esprito e
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matria, onde o campo material foi privilegiado, ocasionando certo
esquecimento da importncia do esprito para uma boa sade.
A doena no causada por germes, toxinas, radioatividade excessiva,
micrbios, bactrias ou por qualquer outro agente fsico. Esses elementos
sempre esto presentes; milhares deles passam diariamente por todo o corpo
humano saudvel. Esses agentes s so destrutivos quando no passam
pelo corpo humano, mas, em vez disso, so nele retidos (Carey, 1990). Para o
ndio, a doena tem origem sobrenatural (Sangirardi, 1983).
H apenas uma razo pela qual os germes ou toxinas so retidos num
sistema humano: porque est presente, nesse sistema humano, um esprito
malvolo. Na medida em que o esprito do mal aceito e acolhido na vida de
uma pessoa, seu corpo adoece. Trata-se de um mecanismo regulador,
destinado a despojar os espritos destrutivos de corpos fsicos. Os espritos
malvolos so atitudes negativas, emoes destrutivas, enraizadas no medo,
como: ressentimento, ira, vergonha, culpa, ansiedade, dio, ganncia, vingana
e cime (Carey, 1990).
Assim, a Ayahuasca mostra-se como remdio em potencial, pois,
induzindo a uma evoluo espiritual, as mudanas de hbitos e sentimentos
favorecem a uma vida mais saudvel em todos os aspectos. So inmeros
casos de dependentes qumicos que conseguiram livrar-se do vcio aps o
contato com a bebida. Alm disso, na maioria das vezes ocorre uma mudana
de atitude em relao ao prximo e natureza, devido a um despertar do amor
crstico, que seria o redescobrimento dos ensinamentos de Jesus Cristo de
amor a Deus e ao prximo na prtica. Podendo, nesse sentido, ser usado no
sentido teraputico, alm do religioso, o que vem ocorrendo cada vez mais.
Aps a Resoluo N. 4 do CONAD (Conselho Nacional Anti-Droga), de
Quatro de Novembro de 2004 (Anexo 5), regulamentando o uso
contextualizado da bebida Ayahuasca, a fiscalizao da extrao e do
transporte das espcies nativas da floresta tornou-se mais rgida. Entretanto,
com a divulgao da bebida e sua total legalidade, o preconceito e medo do
consumo do ch tornaram-se menores. Devido ao grande aumento do nmero
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de ayahuasqueiros7, a preocupao com a preservao das espcies que
compem a Ayahuasca tambm aumentou.
Muito se tem escrito sobre o uso da Ayahuasca, mas poucos trabalhos
so especficos sobre cada espcie separadamente. Com a prtica de vrias
dcadas de plantio, colheita e uso, o conhecimento no cientfico
razoavelmente capaz de indicar a melhor forma de faz-los. Entretanto, o
conhecimento acadmico aplicado junto com os conhecimentos prticos a
melhor forma de aumentar a eficincia, diminuindo o custo e aumentando a
produo.
A propagao de plantas realizada de duas diferentes formas: sexual e
assexuada ou vegetativa. A propagao vegetativa ou assexuada de grande
importncia quando se deseja multiplicar um gentipo que altamente
heterozigoto e que apresenta caractersticas consideradas superiores, que se
perdem quando propagadas por sementes. Cada planta, individualmente
produzida por meio vegetativo, , na maioria das vezes, geneticamente idntica
planta-me constituindo, assim, o motivo de sua aplicao (Paiva & Gomes,
2001). A propagao vegetativa tambm vantajosa por permitir o plantio em
qualquer poca do ano.
A propagao vegetativa por estacas consiste em destacar da planta
original um ramo, uma folha ou raiz e coloc-los em um meio adequado para
que se forme um sistema radicular e, ou, desenvolva a parte area.
Para preparar a bebida Ayahuasca, necessrio que o cip B. caapi
tenha florido, pelo menos duas vezes. Isso para que ele possa fornecer uma
boa burracheira8. Depende muito das condies do local (solo, clima, etc.),
mas, em mdia, so necessrios, no mnimo, trs anos para utilizar um
indivduo de B. caapi no feitio9. E, sem matria-prima qualificada para utilizao
em feitio na regio do Cerrado, os ayahuasqueiros viajam at a Amaznia em
busca de indivduos nativos.
7 Adeptos do uso freqente de Ayahuasca em contexto religioso. 8 Nome escrito com u devido origem cabocla e usado pelos ayahuasqueiros para definir o estado de conscincia alterado ocasionado pela ingesto de Ayahuasca. 9 Ritual de preparao do ch Ayahuasca.
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Devido a esses fatos, o presente trabalho tem como objetivos principais:
Analisar a propagao vegetativa por estaquia em viveiro de Banisteriopsis
caapi;
Verificar as condies mnimas para o estabelecimento da espcie no
bioma Cerrado; a fim de facilitar o plantio em larga escala pelas igrejas/centros
usurios desse sacramento presentes nesse bioma.
O trabalho tambm tem como objetivos secundrios:
Apresentar outros usos, alm do uso em contexto religioso, para a espcie
Banisteriopsis caapi;
Apresentar meios para que a sua preservao em ambiente nativo seja
favorecida.
Para atingir os objetivos propostos, o presente trabalho foi estruturado
em sete captulos, sendo o primeiro esta introduo. O segundo captulo
apresenta as referncias tericas usadas que fundamentam o desenvolvimento
do corpo deste trabalho, discorrendo sobre as trepadeiras em geral, suas
caractersticas e sua ecologia; sobre propagao vegetativa; sobre o teste de
tetrazlio (teste de viabilidade); sobre a famlia Malpighiaceae e o gnero
Banisteriopsis; uma anlise comparativa entre os biomas Amaznia e Cerrado;
sobre a espcie B. caapi e seus possveis usos; sobre o ch Ayahuasca, sua
origem, seu ritual de preparo, seus efeitos fsicos, psquicos e qumicos, e seu
histrico de legalizao.
O terceiro captulo apresenta o material e a metodologia utilizados no
desenvolvimento deste trabalho. O quarto captulo apresenta os resultados e
uma breve discusso sobre os mesmos. O quinto captulo apresenta as
concluses que foram retiradas a partir do presente trabalho. Esses trs
captulos foram divididos em trs fases, sendo a primeira fase, a fase em
viveiro; a segunda fase, o estabelecimento em campo; e a terceira fase, o teste
de viabilidade para comparao da propagao sexuada com a propagao
vegetativa.
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No sexto captulo, esto as recomendaes pertinentes ao uso da liana
Banisteriopsis caapi. E, no stimo captulo, so apresentadas sugestes para o
desenvolvimento de um trabalho futuro na mesma linha do trabalho presente.
II - REVISO DE LITERATURA
As trepadeiras so plantas cujo crescimento em altura depende da
sustentao mecnica fornecida por outras plantas e, para isto, necessitam de
uma srie de adaptaes estruturais e funcionais (Putz & Windsor, 1987 citado
por Rezende, 1997). Ocorrem praticamente em qualquer tipo de clima e
comunidade vegetal onde haja rvores capazes de sustent-las, no entanto
so mais abundantes, diversas e com maior variedade de formas e tamanho
nos trpicos, onde ocorre mais de 90% de todas as espcies de trepadeiras
conhecidas no mundo (Walter, 1971 citado por Engel et al., 1998).
Aproximadamente metade das famlias de plantas vasculares contm espcies
de trepadeiras (pelo menos 133 famlias) (Putz, 1984; Gentry, 1991 citado por
Venturi, 2000).
Podem ser classificadas em herbceas, que geralmente crescem em
ambientes perturbados ou nas bordas de florestas; e lenhosas, geralmente com
caules mais grossos, que crescem no interior das florestas (Gentry, 1991; Putz
& Mooney, 1991 citado por Venturi, 2000), mas na prtica extremamente
difcil fazer uma distino rigorosa, pois pouco se conhece a respeito do ciclo
de vida completo das espcies de trepadeiras (Rezende, 1997). A terminologia
para este tipo de hbito ainda confusa, principalmente no Brasil, onde termos
cip, volvel e liana so tratados como sinnimos (Kim, 1996). mais comum
encontrar os termos cip e liana associados s trepadeiras lenhosas.
So tambm uma importante forma de crescimento dentro das
comunidades tropicais em termos de nmero de espcies, constituindo cerca
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de 12% das espcies, comparado a 2% nas comunidades temperadas
(Richards, 1952; Aristeguieta, 1966; Croat 1978; Gentry, 1985 citado por
Castellanos et al., 1989). Entretanto, a ateno dirigida ao estudo das espcies
de trepadeiras tem sido pequena, sendo provavelmente o grupo menos
coletado (Gentry, 1991 citado por Rezende, 1997). No Brasil, s recentemente
as trepadeiras tm sido enfocadas e discutidas com maior ateno em estudos
e levantamentos florsticos (Rezende, 1997).
Observa-se nas florestas paulistas, certo anacronismo entre a florao
das rvores e arbustos em relao s trepadeiras. Esse processo parece ter
grande importncia na manuteno da fauna de polinizadores, que, assim, teria
sua sobrevivncia garantida, explorando diversas fontes alimentares durante
diferentes pocas do ano (Morellato, 1996 citado por Rodrigues & Gandolfi,
1996). Na ARIE Cerrado P-de-Gigante em Santa Rita do Passa Quatro SP,
Weiser (2001) observou que, de um modo geral, os suportes apresentam
fenofases de florao e frutificao em pocas distintas das trepadeiras neles
instaladas, e que, quando frutificavam na mesma poca, suporte e trepadeira
apresentavam diferentes sndromes de disperso. Do mesmo modo, diferentes
espcies de trepadeiras no mesmo suporte, tambm florescem e frutificam em
meses diferentes.
Muitas espcies de cip produzem flores grandes e vistosas que
proporcionam nctar e plen para insetos, aves e morcegos. Os cips tambm
podem proporcionar vias de locomoo entre as copas para animais arbreos,
tais como macacos e preguias. Alm da sua importncia ecolgica, os cips
tambm possuem importncia econmica. Algumas espcies de cip (como,
por exemplo, as palmeiras trepadeiras rattans) so coletadas e vendidas para a
indstria de mveis, enquanto outras so coletadas para uso medicinal.
Entretanto, nas florestas manejadas para extrao de madeira, os cips
geralmente so considerados pragas, porque podem dificultar tanto a extrao
madeireira quanto a silvicultura. Embora muitos profissionais na rea de
manejo de florestas tropicais reconheam que o manejo de cips deva ser
considerado em qualquer plano silvicultural, poucas informaes sobre o tema
foram publicadas (Vidal & Gerwing, 2003).
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2.1 CARACTERSTICAS EVOLUTIVAS DAS TREPADEIRAS
O hbito trepador parece ter evoludo independentemente dentro de
diferentes grupos taxonmicos (Engel et al., 1998). As trepadeiras tendem a
ser intolerantes sombra. Muitas espcies germinam na sombra, entretanto o
caule entra em uma fase de alongamento muito rpido como em plantas
estioladas, o que estimulado pela sombra. Para que isso ocorra e as
trepadeiras possam atingir o dossel e, consequentemente, os nveis de
iluminao adequados para o seu crescimento, adotam uma estratgia de
baixa canalizao de recursos para tecidos de sustentao, e, justamente por
isso, so to dependentes de suportes onde possam se apoiar. Esta
necessidade de apoio levou as trepadeiras a evolurem adaptaes especficas
(Engel et al., 1998).
Alm das diversas estratgias de escalada, o sucesso evolutivo das
trepadeiras deve-se tambm s adaptaes anatmicas, especialmente nos
caules, obtendo uma maior eficincia dos tecidos de conduo, de modo a
alcanar as longas distncias que percorrem com curvas e dobras do estreito
caule levando gua e nutrientes a uma copa que pode ser to extensa ou maior
do que a de uma grande rvore (Venturi, 2000).
French (1977, citado por Kim, 1996) observou que trepadeiras que no
apresentam gavinhas possuem entrens mais longos e desenvolvimento tardio
da rea foliar, como adaptao para aumentar o sucesso na busca de
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recursos, diminuindo o peso da carga de produo que as folhas investem no
ramo. Caball (1993, citado por Kim, 1996) concluiu que as trepadeiras
apresentam uma diversidade de organizao maior do que outras formas de
vida enfatizando que a estrutura anatmica do caule bastante eficiente na
identificao dos taxa a que pertencem. As trepadeiras competem com as
rvores por luz, gua e nutrientes, sendo a competio por luz a principal fora
seletiva para este hbito (Gentry, 1991 citado por Ferrucci et al., 2002).
Quanto disperso, as trepadeiras tendem a apresentar formas
semelhantes s das outras formas de vida do mesmo estrato (Hegarty, 1989
citado por Venturi, 2000). Desta forma, as trepadeiras herbceas, que vivem
nos estratos inferiores tendem disperso por zoocoria; enquanto que as
lenhosas, que se espalham pelo dossel, tendem a ser dispersas por
anemocoria (Foster, 1996; Morellato & Leito-Filho, 1996 citado por Venturi,
2000). Outro padro observado a abundncia de espcies anemocricas em
etapas iniciais de regenerao de florestas temperadas (McDonell & Stiles,
1983 citado por Ibarra-Manrquez et al., 1991) e tropicais (Gentry, 1983;
Augspurger & Franson, 1988 citado por Ibarra-Manrquez et al., 1991).
2.2 ECOLOGIA DAS TREPADEIRAS
No Brasil, so poucos os trabalhos que utilizam as trepadeiras como
materiais de estudo e sua ecologia ainda pouco conhecida (Hora & Soares,
2002). As trepadeiras tm uma tendncia a tornarem-se mais abundantes em
fragmentos florestais perturbados. Alguns fatores que passam a atuar nesses
fragmentos relacionam-se aos efeitos de borda, maior incidncia de luz,
formao de clareiras e maior disponibilidade de suportes (Hergarty & Caball,
1991 citado por Hora & Soares, 2002).
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Hegarty (1991, citado por Weiser, 2001) afirma que a interao entre
trepadeiras e suportes depende do mecanismo de ascenso, muito embora,
algumas no utilizem um suporte, mesmo quando este est disponvel,
enquanto outras, no s o utilizam para ascender verticalmente, como tambm
expandir horizontalmente no dossel. Em geral, os tipos de mecanismos variam
pouco de regio para regio, sendo caule volvel o mais abundante e razes
adventcias o menos abundante, exceto em algumas florestas tropicais muito
midas.
Ecologicamente as trepadeiras tm sido caracterizadas como parasitas
estruturais das rvores (Putz, 1980; Stevens, 1987 citados por Ramalho, 2003).
Givnish & Vermeij (1976, citados por Kim, 1996) sugerem um modelo
para explicar padres ecolgicos no tamanho e forma das folhas de trepadeiras
que afetariam o seu sucesso na competio no qual folhas grandes, de base
cordada e pecolo longo so favorecidas em situaes de pleno Sol, enquanto
as pequenas, de base estreita e pecolo curto em ambientes de sombra.
As trepadeiras desempenham um papel importante na dinmica das
comunidades florestais, uma vez que, em mdia 21% das plantas utilizadas
como alimento por uma ampla variedade de primatas tropicais so trepadeiras
(Emmons & Gentry, 1983; Morellato & Leito Filho, 1996 citado por Rezende
1997). Para os animais, o emaranhado de ramos das trepadeiras que se forma
sobre o dossel e as margens das florestas so especialmente teis ao seu
deslocamento de rvore a rvore, servindo tambm como abrigo e local para
ninhos (Engel et al., 1998).
O desenvolvimento de ritmos de florao e frutificao diferentes
daqueles apresentados pelas rvores, alm da produo de frutos
anemocricos que amadurecem justamente nos perodos em que um grande
nmero de rvores encontra-se sem folhas (Morellato, 1991; Foster, 1996;
Morellato & Leito-Filho, 1996 citados por Venturi, 2000) garantem a
polinizao e disperso das trepadeiras sem competio com o estrato arbreo
(Venturi, 2000).
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As trepadeiras podem ser polinizadas por abelhas, mariposa, moscas,
beija-flores e vespas. Em geral, caracterizam-se por ter uma ou poucas
estratgias de polinizao, sendo a maioria polinizada por abelhas de mdio a
grande porte, ou por pequenos insetos (Ferrucci et al., 2002).
Os cips no so distribudos uniformemente por toda a paisagem. Pelo
contrrio, muitas vezes a abundncia de cips encontra-se agrupada e
inversamente relacionada estatura da floresta (Vidal & Gerwing, 2003).
2.3 PROPAGAO VEGETATIVA
A propagao de plantas realizada de duas diferentes formas: sexual e
assexual ou vegetativa. A propagao por sementes um processo sexual,
pois envolve a unio do gameta masculino, gro de plen, com o gameta
feminino, vulo, para formar a semente (Paiva & Gomes, 2001).
No caso de sementes, h uma exceo, que a apomixia, na qual
ocorre a produo de sementes por um processo assexual, sem ocorrer a
fecundao; sendo, no entanto, considerada incomum em espcies florestais.
Atualmente, com o avano da fitossociologia, tem se verificado que, em
florestas tropicais, h grande nmero de espcies consideradas raras, ou seja,
existe um nico indivduo em uma rea relativamente grande, onde a apomixia
pode estar ocorrendo em propores superiores ao que se imagina (Paiva &
Gomes, 2001).
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A propagao vegetativa ou assexual de grande importncia quando
se deseja multiplicar um gentipo que altamente heterozigoto e que
apresenta caractersticas consideradas superiores, que se perdem quando
propagadas por sementes. Cada planta, individualmente produzida por meio
vegetativo, na maioria das vezes, geneticamente idntica planta-me
constituindo, assim, o motivo de sua aplicao (Paiva & Gomes, 2001).
A propagao assexuada ou vegetativa apresenta como vantagens
(Yamazoe & Vilas Boas, 2003):
- A rapidez de produo da muda;
- A reproduo fiel da planta-me;
- Permite multiplicar indivduos que no florescem por falta de adaptao,
etc.;
- Permite multiplicar indivduos estreis;
- Indivduos obtidos so mais precoces.
Como desvantagens, podem-se relacionar (Yamazoe & Vilas Boas,
2003):
- Transmisso de doenas bacterianas, virticas e vasculares;
- Necessidade de plantas matrizes adequadas;
- Instalaes adequadas;
- Volume de material a ser transportado, armazenado, etc.
Em qualquer processo de propagao vegetativa, o grupo de plantas-
filhas fornecido denominado clone. A propagao vegetativa pode ser
efetuada utilizando-se de processos naturais ou artificiais. Os processos
naturais so aqueles que se utiliza de estruturas naturalmente produzidas pelas
plantas, com a finalidade de propagao. Estas estruturas so todas
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vegetativas, isto , no foram formadas pela fuso de gametas e,
consequentemente, originam plantas idnticas planta-me (Yamazoe & Vilas
Boas, 2003).
Os processos naturais de propagao vegetativa acontecem atravs dos
bulbos (escamosos, tunicados, slidos ou compostos); rizomas; tubrculos;
razes tuberosas; estoles ou estolhos; bulbilhos areos; rebentos e filhotes;
folhas; e, esporos10.
Nos processos artificiais so englobados aqueles que no ocorrem
frequentemente na natureza. O homem, utilizando-se da capacidade
regeneradora dos tecidos vegetais, desenvolveu vrias tcnicas para facilitar a
plena realizao deste fenmeno, permitindo, assim, que pedaos de caules,
de folhas e de razes venham a regenerar plantas completas (Yamazoe & Vilas
Boas, 2003).
Na natureza, eventualmente encontram-se ramos de plantas que se
quebram e, sob condies favorveis, enrazam-se e regeneram outras
plantas, tendo sido esta, talvez, a idia inicial que o homem explorou. Do
mesmo modo, pores de plantas naturalmente soterradas, enraizando,
formaram novas plantas, como na mergulhia, e, ainda, galhos que se atritavam
por longo perodo de tempo, ao se soldarem, podem ter dado a primeira idia
sobre a tcnica da enxertia (Yamazoe & Vilas Boas, 2003).
Dentre os inmeros meios de propagao vegetativa, os que mais
interessam cincia florestal so: mergulhia, enxertia, estaquia e cultura de
tecidos ou micropropagao. Dentre os mtodos de propagao vegetativa, a
estaquia , ainda, a tcnica de maior viabilidade econmica para o
estabelecimento de plantios clonais, pois permite, a um custo menor, a
multiplicao de gentipos selecionados em um curto perodo de tempo (Paiva
& Gomes, 2001).
10 Para mais informaes sobre os processos naturais de propagao vegetativa, ver Yamazoe & Vilas Boas (2003).
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MERGULHIA:
A mergulhia um mtodo de propagao vegetativa pelo qual um ramo
da planta posto a enraizar quando ainda faz parte dela, no sendo apartado
antes de se completar o seu enraizamento (Mattos, 1976 citado por Paiva &
Gomes, 2001). um processo geralmente usado na obteno de plantas que
dificilmente se enrazam por meio de ramos destacados (estaquia), mas sua
aplicao comercial pouco restrita, pois o rendimento muito baixo e
necessita de muita mo-de-obra (Pdua, 1983 citado por Paiva & Gomes,
2001). de ampla aplicao em arboricultura, mas no to usado em
silvicultura (Gomes, 1987 citado por Paiva & Gomes, 2001).
Os principais tipos de mergulhia so: area (alporquia) e subterrnea.
Na mergulhia subterrnea h as modalidades: simples normal, simples
invertida, contnua chinesa, contnua serpenteada e mergulhia de cepa (Paiva
& Gomes, 2001).
ENXERTIA:
a operao que consiste em inserir partes de uma planta (gema ou
garfo) em outra que lhe sirva de suporte, de modo que, soldados os seus
tecidos, possam elas viver em comum. O princpio fundamental da enxertia
baseia-se na faculdade que possuem as plantas de unir suas partes, graas
atividade do cmbio (Borges, 1978 citado por Paiva & Gomes, 2001).
Na enxertia, planta receptora d-se o nome de hipobioto,
popularmente conhecido como porta-enxerto ou cavalo, que, em virtude de
estar enraizado num substrato, desempenha as funes de absoro e fixao.
O enxerto (rgo doado), denominado epibioto ou tambm cavaleiro, por sua
vez, desempenhar as funes do caule, que so: conduo, fotossntese,
florescimento, etc. (Mattos, 1976 citado por Paiva & Gomes, 2001).
O cavaleiro sempre representado por um fragmento ou por uma parte
da planta que se pretende multiplicar por enxertia, ao passo que o cavalo ,
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geralmente, representado por uma planta jovem, proveniente de semente ou de
estaca, bem rstica e resistente s pragas e doenas (Csar, 1968 citado por
Paiva & Gomes, 2001).
As enxertias ou plastias podem envolver plantas (cavalo e cavaleiro) da
mesma espcie e recebem o nome de homoplastias, ou serem constitudas por
espcies diferentes, conhecidas por heteroplastias (Gomes, 1987 citado por
Paiva & Gomes, 2001).
Inmeros so os processos de enxertia, os quais so agrupados em trs
categorias distintas: garfagem, borbulhia e encostia (Paiva & Gomes, 2001).
ESTAQUIA:
Dentre os mtodos de propagao vegetativa, a estaquia , ainda, a
tcnica de maior viabilidade econmica para o estabelecimento de plantios
clonais, pois permite, a um custo menor, a multiplicao de gentipos
selecionados, em curto perodo de tempo. Alm disso, a estaquia tem a
vantagem de no apresentar o problema de incompatibilidade que ocorre na
enxertia (Paiva & Gomes, 2001).
A propagao vegetativa por estacas consiste em destacar da planta
original um ramo, uma folha ou raiz e coloc-los em um meio adequado para
que se forme um sistema radicular e, ou, desenvolva a parte area. As estacas
podem ser retiradas tanto da parte area quanto da parte subterrnea da
planta original. Quando retirada da parte area, ela pode ser herbcea ou
lenhosa, ao passo que as estacas radiculares so lenhosas (Paiva & Gomes,
2001).
A estaquia caulinar o mtodo mais difundido e de uso mais comum na
propagao vegetativa por enraizamento (Gomes, 1987 citado por Paiva &
Gomes, 2001). Na propagao por estacas caulinares, obtm-se segmentos de
ramos que contm gemas terminais ou laterais, pois o objetivo que, ao
coloc-los em condies adequadas, produzam razes adventcias e, em
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conseqncia, plantas independentes (Hartmann e Kester, 1976, citado por
Paiva & Gomes, 2001).
De acordo com Mattos (1976, citado por Paiva & Gomes, 2001), as
estacas lenhosas tm, em geral, a idade de um ano, sendo parcialmente
lignificadas e diferem entre si no formato e nas dimenses, conforme a
categoria. A estaca simples apresenta 20 a 30 cm de comprimento e 0,5 a 1,5
cm de dimetro, com algumas excees, como o caso da figueira, cujas
estacas de um ano tm dimetro bem maior.
A formao de mudas por estaquia recomendada em casos de
dificuldade de obteno de sementes ou com espcies de fcil enraizamento.
As estacas devem ser retiradas de indivduos sadios, de maturao varivel, de
acordo com a espcie, geralmente de dimenses de um lpis. Devem ser
enraizadas em substrato poroso (vermiculita, areia grossa, etc.), mantidas sob
sombreamento de 50%, sempre mido, irrigando com gotculas finas (Yamazoe
& Vilas Boas, 2003).
Dentre os vrios fatores de que depende o enraizamento de estacas,
destacam-se os ambientais, o estado fisiolgico, a maturao, o tipo de
propgulo, a sua origem na copa e a poca de coleta, que influenciam,
sobretudo, na capacidade e na rapidez do enraizamento (Gomes, 1987 citado
por Paiva & Gomes, 2001). O sucesso, no entanto, depende de fatores internos
(condio fisiolgica da planta-me, idade da planta-me, poca do ano, tipo
de estaca) e externos (umidade, temperatura, luz, substrato) (Paiva & Gomes,
2001).
Uma estaca que proporciona bons resultados constituda de duas a
quatro gemas, na qual so deixadas as folhas, reduzindo-as a cerca de 50% de
sua rea foliar (Paiva & Gomes, 2001).
CULTURA DE TECIDOS (MICROPROPAGAO):
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Esta tcnica oferece excelentes possibilidades, tanto para a propagao
comercial como para a tcnica auxiliar em programas de melhoramento,
possibilitando, neste ltimo caso, grande economia, alm de antecipao, em
dcadas, dos resultados finais. Como possibilita a obteno de grande nmero
de plantas a partir de poucas matrizes, em curto espao de tempo e em
reduzida rea de laboratrio, alm de permitir que se projete, com preciso, a
entrega futura de mudas prontas para o plantio, em quantidade e pocas
desejadas. Os aspectos negativos quanto reduo da base gentica dos
povoamentos tem sido a preocupao dos silvicultores (Paiva & Gomes, 2001).
Os inconvenientes ou as desvantagens so apenas temporrios e se
resumem na inexistncia de metodologia para utilizao de material adulto,
principalmente de eucalipto, e no custo elevado de construo e manuteno
do laboratrio. Todavia, alguns desses inconvenientes j esto sendo
pesquisados (Paiva & Gomes, 2001).
A cultura de tecidos consiste, na realidade, no cultivo de rgos, tecidos
ou clulas vegetais em meio nutritivo apropriado, em ambiente assptico
(Ottoni, 1984 citado por Paiva & Gomes, 2001). Baseia-se no fato, amplamente
aceito, de que qualquer clula do organismo vegetal totipotente, isto ,
encerra em seu ncleo toda a informao gentica necessria regenerao
de uma planta completa; estando, portanto, apta a dar origem, por si s, a uma
nova planta, quando submetida a condies apropriadas (Teixeira, s.d. citado
por Paiva & Gomes, 2001).
Nesta tcnica tem-se a grande vantagem de trabalhar apenas com
clulas de plantas desejveis. Estas clulas, ao serem colocadas em tubos de
ensaio, multiplicam-se com rapidez, formando milhes de outras ou mesmo
milhes de plantas, todas iguais planta-me, ou com modificaes em uma
ou mais de suas caractersticas, como maior produtividade, maior tolerncia
seca, maior resistncia a pragas e doenas e a deficincia minerais do solo,
etc. (Teixeira, 1984 citado por Paiva & Gomes, 2001).
As plantas lenhosas, em geral, apresentam certas dificuldades para
regenerao in vitro, em virtude de causas ainda obscuras. Todavia, as
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conquistas neste sentido, nos ltimos anos, permitem antever o otimismo a
plena utilizao da tcnica (Gomes, 1985 citado por Paiva & Gomes, 2001).
2.3.1 RECIPIENTES / EMBALAGENS
A confeco de recipientes apropriados para a propagao e o
crescimento de plntulas intensa e ainda incompleta. Basicamente no existe
material disponvel que proporcione, simultaneamente, bom desenvolvimento
radicular, e que minimize os danos do transplante e reduza os custos de
produo (Fonseca & Ribeiro, 1998).
Sabe-se que o tipo de recipiente influencia o desenvolvimento das
mudas de essncias florestais (Paiva & Gomes, 1995). Dentre os diversos
recipientes utilizados para produo de mudas, os mais utilizados so sacos e
tubetes, ambos de polietileno. Todos os recipientes podem variar no tamanho
quanto altura e ao dimetro.
Os sacos plsticos tm sido mais utilizados em face de sua maior
disponibilidade e do menor preo. Alm disso, manuse-lo nos viveiros
bastante simples e propicia elevado rendimento, no caso de produo de
mudas em grande escala. De acordo com o tamanho do saco plstico a muda
poder ficar no viveiro por mais tempo. So fabricados com vrias dimenses e
apresentam furos na parte inferior para a drenagem da gua. Por ocasio do
plantio, o saquinho deve ser completamente removido (Martins et al., 1998). As
dimenses encontradas no mercado variam de 11 cm de largura / 20 cm de
altura at 40 cm de largura / 60 cm de altura (Yamazoe & Vilas Boas, 2003).
Segundo Paiva & Gomes (1995), os sacos plsticos tem superado os
demais recipientes quanto ao rendimento na produo de mudas,
apresentando, porm, desvantagens, como o enovelamento do sistema
radicular, a utilizao de grandes reas do viveiro, o alto custo no transporte
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das mudas para o campo (por causa do volume e do peso) e o baixo
rendimento na operao de plantio (em razo da necessidade de retirar a
embalagem).
Yamazoe & Vilas Boas (2003) ainda afirma que os sacos plsticos
apresentam as seguintes vantagens em relao aos tubetes: possibilitam a
produo de mudas de maiores dimenses; permitem armazenamento das
mudas fora do viveiro por mais tempo; os ndices de sobrevivncia so maiores
quando as mudas so plantadas sob condies adversas, como em meio a
gramneas de porte alto (braquiria, colonio, etc.) e em solos compactados ou
degradados, apresentam maior reteno de gua, resistindo por um perodo
maior de estiagem e menor investimento na instalao do viveiro.
Os mesmos autores apresentam como desvantagens dos sacos
plsticos em relao aos tubetes: exigncia de maior volume de terra e esterco
para seu preenchimento; maior dificuldade para transporte e manuseio;
necessidade de mais espao e mo-de-obra para enchimento da embalagem,
semeadura, repicagem e manuteno; menor rendimento nas operaes de
plantio, especialmente em terrenos de topografia acidentada.
2.3.2 SUBSTRATOS
A funo do substrato principalmente a de sustentar a planta e
fornecer nutrientes mesma. Sua composio de uma parte slida formada
por partculas minerais e orgnicas e poros ocupados por ar e gua (Martins et
al., 1998). O desenvolvimento e a eficincia do sistema radicular so muito
influenciados pela aerao do solo, que depende da quantidade e do tamanho
das partculas que definem a sua textura (Sturion, 1981b citado por Paiva &
Gomes, 1995).
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Um substrato de boa qualidade deve ter baixa densidade, boa
capacidade de absoro de gua e nutrientes, boa aerao, drenagem e ser
livre de agentes patgenos e qualquer tipo de corpos estranhos. Dentre os
substratos que podem ser utilizados na produo de mudas de espcies
florestais, os mais comuns so: vermiculita, composto orgnico, moinha de
carvo, terra de subsolo, serragem, acculas de Pinus e turfa (Martins et al.,
1998).
Os substratos devem ter estrutura fsica rica em argila e matria
orgnica de modo que haja permeabilidade adequada para troca de nutrientes
e gua do solo com a planta sem que ocorra uma lixiviao excessiva dos
nutrientes. Este substrato pode ser produzido pelo prprio viveirista, sendo
utilizado aps um peneiramento para semeadura; e bruto para enchimento dos
sacos plsticos. Quando se utilizam tubetes, h grande vantagem no uso do
substrato comercial que, devido sua textura, facilita o enchimento dos
tubetes, possui uma permeabilidade ideal da gua, e isento de sementes de
ervas daninhas, reduzindo a mo-de-obra.
Para a produo de mudas em sacos plsticos essencial assegurar o
suprimento regular de substrato, que se compe de terra e composto orgnico.
Considera-se solo ideal, em termos volumtricos, aquele que apresenta 45%
de fase slida, 25% de gua, 25% de ar e 5% de matria orgnica (Yamazoe &
Vilas Boas, 2003).
A deficincia de oxignio no substrato causa, muitas vezes, a
paralisao do crescimento radicular, com injrias ou morte deste. Essa
deficincia pode ser induzida por inundao, baixa drenagem ou compactao
do substrato (Kramer & Kozlowski, 1960 citados por Fonseca, 1988).
Na zona rural relativamente fcil a obteno de terra de boas
qualidades fsicas e qumicas, podendo-se recorrer terra de barranco ou
buscar material mais adequado dentro da propriedade. Entretanto, quando se
pretende instalar viveiro prximo ou dentro do permetro urbano, na falta de
outra fonte preciso aproveitar terra de bota fora, retirada do local de obras.
Nesse caso preciso vistoriar a rea previamente, rejeitando aquela que
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contenha ervas daninhas, entulho, ou de camadas mais profundas, em geral
pobres e cidas. O aproveitamento desse material representa dois ganhos do
ponto de vista ambiental: evita-se a extrao de solo frtil e d-se uso nobre
terra que normalmente iria para o aterro sanitrio ou para lixes (Yamazoe &
Vilas Boas, 2003).
Independentemente da origem, deve-se evitar terra muito argilosa que
pode empedrar dentro da embalagem, pois, alm de dificultar a drenagem,
causa problemas de aerao e de encharcamento na poca das chuvas. A
terra muito arenosa, por outro lado, apresenta boa aerao e drenagem,
porm, no facilita a reteno de gua e nutrientes e no d consistncia ao
torro quando o recipiente for retirado para plantio no campo. No se
recomenda o uso de terra vegetal retirada debaixo da vegetao arbrea, pois
representa alteraes no sub-bosque e agresso ao meio ambiente (Yamazoe
& Vilas Boas, 2003).
A terra de subsolo bastante utilizada como substrato na produo de
mudas em sacos plsticos. Pode-se utiliz-la tambm misturada com esterco
de gado, areia, lixo orgnico, etc. Essa terra deve ter uma textura areno-
argilosa e deve ser peneirada (Martins et al., 1998).
A terra de subsolo tem o teor de argila entre 20 a 35%, boa
permeabilidade, consistncia, boa aerao e resistncia ao manuseio (Paiva &
Gomes, 1995).
O solo deve apresentar propriedades fsicas e qumicas favorveis ao
desenvolvimento das plantas, pois, alm de suporte, tambm fonte de
minerais, gua e ar, que so fatores indispensveis aos seres vivos. As
condies fsicas do solo afetam fenmenos de suma importncia, quais sejam
a aerao do solo e a movimentao da gua. As propriedades fsicas do solo
dependem de vrios fatores, como o tamanho e a disposio das partculas e o
teor de matria orgnica (Jorge, 1983 citado por Fonseca, 1988).
A quantidade e o tamanho das partculas dentro do solo definem a
textura, que uma caracterstica praticamente estvel. As fraes de areia no
possuem pegajosidade e plasticidade, tendo pouca capacidade de reteno de
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gua e nutrientes e, por causa dos poros grandes que separam as suas
partculas, a percolao de gua rpida. Os solos formados de partculas de
areia tm baixa capacidade de reteno de gua e nutrientes, mas apresentam
boa aerao (Sturion, 1981b citado por Paiva & Gomes, 1995).
O limo funciona praticamente como micropartcula de areia e, por
possuir maior superfcie do que a areia, pode reter mais gua (Sturion, 1981 b
citado por Paiva & Gomes, 1995).
A frao de argila d ao solo a caracterstica de plasticidade e
pegajosidade com a matria orgnica e com a frao dinmica do solo,
apresentando alta capacidade de absoro de gua e sais solveis, cedendo
s plantas parte da gua e dos nutrientes absorvidos (Carneiro, 1983 citado por
Fonseca, 1988).
Os substratos base de terra so os mais comuns. O substrato deve ser
bem drenado, conter quantidade suficiente de matria orgnica e, ou, argila
para reter umidade e nutrientes e ter coeso necessria para a agregao ao
sistema radicular. A condio nutritiva do substrato no to importante como
a sua textura, porque fcil modific-la por meio de fertilizao. Por outro lado,
a acidez importante (Napier, 1983 citado por Paiva & Gomes, 1995).
O esterco de gado tem: 62,1 de matria orgnica (M.O.); 18/1 de relao
Carbono/Nitrognio (C/N); 1,9% de Nitrognio (N); 1,0 de Anidrido Fosfrico
(P2O5); e 1,6 de xido de Potssio (K2O) (Loures, 1983 citado por Paiva &
Gomes, 1995).
O principal valor do esterco no est no fato de ele ser um fornecedor de
nutrientes s plantas, mas, sim, de contribuir para melhorar as condies
fsicas, qumicas e biolgicas do solo (Jorge, 1983 citado por Fonseca, 1988).
O aumento da capacidade de troca catinica, de reteno de gua e de
circulao de ar, a presena de substncias de crescimento e o aumento da
agregao so mais importantes que os minerais adicionados pelo esterco
bovino (Primavesi, 1982 citado por Fonseca, 1988).
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O valor do esterco como fertilizante depende, sem dvida, do grau de
decomposio em que se encontra e dos teores que ele apresenta de diversos
elementos essenciais vida da planta. Essa riqueza em elementos nobres
depender, essencialmente, da composio primitiva dos restos orgnicos que
deram origem ao respectivo esterco, dos cuidados com o manejo, durante o
seu curtimento, e da sua aplicao s culturas beneficiadas (Dorofeeff, 1953
citado por Fonseca, 1988).
Na produo de mudas de essncias florestais, o esterco bem curtido
til em mistura com outros substratos, proporcionando resultados semelhantes
ao do composto orgnico, porm inferiores (Paiva & Gomes, 1995).
2.3.3 - SOMBREAMENTO
A cobertura das mudas com esteiras ou similares foi amplamente
utilizada com o objetivo de controlar a temperatura, umidade e luminosidade,
principalmente quando as mudas eram produzidas em sementeiras, para
posterior repicagem (Paiva & Gomes, 1995). Entretanto, trabalhos recentes tm
demonstrado que o sombreamento em qualquer nvel prejudicial ao
crescimento das mudas, bastando o emprego da cobertura morta sobre as
sementes (Martins et al, 1998).
O sombreamento empregado hoje apenas quando a produo de
mudas efetuada por meio de enraizamento de estacas e quando se tratam de
essncias nativas do interior da mata, clmaces e ombrfilas. O uso de
sombrites serve a regies sujeitas a geada ou chuvas de granizo (Martins et al.,
1998).
A intensidade de luz pode ser controlada com muita eficincia em
viveiros. Os viveiros a pleno Sol, que no tem nenhum tipo de sombreamento,
so utilizados com sucesso na produo de mudas de espcies que ocorrem
naturalmente em fisionomias de Cerrado Tpico e tambm podem ser usados
para a produo de mudas de espcies pioneiras de Mata de Galeria (Fonseca
& Ribeiro, 1998).
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Os viveiros sombreados usualmente so cobertos com folhas de
palmeiras ou tela sombrite. As construes com folhas de palmeiras so mais
simples, econmicas e tm a grande vantagem de ajudar no endurecimento
(aclimatizao) natural das mudas, devido secagem e queda gradativa dos
fololos das folhas da palmeira. No entanto, a desvantagem que a folhagem
tem de ser renovada anualmente (Fonseca & Ribeiro, 1998).
As coberturas feitas com tela sombrite apresentam grande durabilidade
(quatro a seis anos) e podem ser encontradas em diferentes gradaes de
sombreamento (25%, 30%, 50%, 60%, 75%, 80% e 90%). Porm,
obrigatoriamente, as mudas produzidas sob esse tipo de cobertura tm de ser
aclimatizadas antes de serem levadas ao campo. Viveiros com sombreamento
devem ser usados preferencialmente na produo de mudas de espcies
tardias. Logo aps o plantio no campo, as mudas, especialmente de espcies
tardias, devem ser cobertas com folhas de palmeiras at a completa
aclimatizao e o estabelecimento no ambiente definitivo (Fonseca & Ribeiro,
1998).
Existem vrios trabalhos referentes influncia do sombreamento na
produo de mudas de espcies florestais. Entretanto, no foi encontrada
nenhuma referncia sobre a influncia do sombreamento na produo de
mudas de qualquer tipo de lianas.
2.4 TESTE DE TETRAZLIO
A necessidade de mtodos rpidos para estimar ou predizer o
comportamento das sementes tem sido de longa data reconhecida (Delouche
et al., 1976). Um dos mtodos mais utilizados atualmente o Teste de
Viabilidade, mais conhecido como Teste de Tetrazlio.
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A semente um organismo vivo que, portanto, respira, liberando ons de
hidrognio. O sal de 2, 3, 5 trifeniltetrazlio, ou simplesmente, tetrazlio (TZ)
um p branco que quando posto em soluo aquosa em contato com os
tecidos da semente reage com os ons de hidrognio resultantes da respirao
formando uma substncia denominada de FORMAZAN que apresenta
colorao vermelha (Rodrigues & Santos, 1988).
Teoricamente, os tecidos sadios da semente colorem-se de vermelho
com a ao do sal de tetrazlio. No entanto, muitos fatores atuam para
influenciar na colorao obtida e na velocidade da reao. Esses fatores so:
Integridade dos tecidos; Concentrao da soluo; Grau de deteriorao da
semente (tecidos mortos, mas no deteriorados, no respiram e, portanto,
mantm, no teste de tetrazlio, sua cor inalterada, no reagindo com o sal); O
pH da soluo; Temperatura; e Presso atmosfrica (Grabe, 1959, Metzer,
1960 e Shuel, 1948 citados por Delouche et al., 1976; Rodrigues & Santos,
1988).
A soluo preparada diluindo-se o sal em gua destilada com pH
neutro (6,5 a 7,0), devendo ser mantida em recipiente escuro em local de
temperatura amena e constante. A luz afeta a soluo tornado-a vermelha ou
rsea (Rodrigues & Santos, 1988). O preparo de soluo feito da seguinte
forma (Delouche et al., 1976):
Soluo a 0,1%: um grama de tetrazlio em 1.000 ml de gua;
Soluo a 0,5%: cinco gramas de tetrazlio em 1.000 ml de gua;
Soluo a 1,0%: dez gramas de tetrazlio em 1.000 ml de gua.
Segundo Zappia (1979), a quantidade ideal de sementes de quatro
repeties de 100 sementes cada. No entanto, como comum em sementes
florestais a obteno de poucas sementes, este nmero pode ser reduzido:
2 X 100: permite uma boa estimativa da viabilidade;
2 X 50 ou 1 X 100: ainda possvel obter informaes confiveis;
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1 X 50: permite apenas uma estimativa aproximada da viabilidade da
semente.
desejvel e freqentemente necessrio, pr-condicionar as sementes,
antes de prepar-las para o teste de tetrazlio (Delouche et al., 1976). As
sementes podem ser pr-condicionadas permanecendo embebidas em gua
ou em substrato umedecido, temperatura de 30C por um determinado
perodo de tempo, que varivel. Esta prtica visa no s permitir o corte ou
retirada do tegumento, como tambm favorece o aumento da taxa de
respirao da semente. A embebio deve ser efetuada em meio mido, de
preferncia em papel mata-borro umedecido, para evitar uma rpida absoro
da umidade que poderia provocar trincamentos em sementes deterioradas.
(Rodrigues & Santos, 1988).
A velocidade com que o sal de tetrazlio atinge os tecidos das
sementes, colorindo-os, depende do nmero de barreiras que este encontra. O
preparo da semente nada mais do que uma prtica que visa permitir a rpida,
mas no brusca penetrao do tetrazlio (Rodrigues & Santos, 1988). Existem
diversos mtodos gerais para preparar a as sementes para o teste de
tetrazlio. A escolha de um mtodo especfico depende do tipo de sementes
que vai ser usado (Delouche et al., 1976).
Os mtodos de preparo mais usuais so a puno (furar o tegumento,
recomendado para sementes pequenas); o corte ou seccionamento (utiliza-se a
parte que contem o embrio); e a retirada do tegumento (indicada em
sementes com tegumento impermevel gua) (Rodrigues & Santos, 1988).
2.4.1 LIMITAES DO TESTE DE TETRAZLIO
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O uso inteligente do teste de tetrazlio requer, pelo menos, o
conhecimento de suas limitaes. Segundo Delouche et al. (1976), as
limitaes do Teste de Tetrazlio so:
a) Embora os resultados do teste de tetrazlio possam ser obtidos dentro de
um perodo de tempo relativamente curto, geralmente o teste requer um maior
nmero total de horas de trabalho por pessoa do que o teste de germinao;
b) Algumas das tcnicas e mtodos do teste de tetrazlio so extremamente
enfadonhos e requerem tanto pacincia, como experincia;
c) Naquelas espcies que possuem sementes duras, o teste de tetrazlio no
indica com preciso as propores germinveis da amostra; entretanto, os
resultados do teste, corretamente interpretados, devem ser comparveis ao
total de germinao mais a percentagem de sementes duras;
d) O teste de tetrazlio no diferencia as sementes dormentes (isto , firmes) e
as no-dormentes. Ento, naqueles tipos de sementes que apresentam
dormncia profunda, os resultados desse teste so consideravelmente mais
altos do que os de germinao. Nos casos em que praticada a classificao
das sementes firmes, os resultados do teste de tetrazlio devem ser muito
aproximados do total de germinao mais a percentagem de sementes firmes;
e) Danos qumicos causados por produtos usados no tratamento das sementes
(fungicidas, inseticidas, fumigantes), geralmente no so revelados no teste de
tetrazlio. As sementes quimicamente danificadas se tornam to coloridas
como as sementes germinveis;
f) Com o teste de tetrazlio, nem sempre possvel identificar com preciso
danos mecnicos recentes, ou causados por geadas ou calor;
g) Uma vez que o teste de tetrazlio no envolve germinao, os
microorganismos danosos s plntulas germinadas no so identificadas.
Delouche et al. (1976) ainda afirma que, embora possa parecer que o
teste de tetrazlio oferea muitas limitaes para uso generalizado,
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proporo de lotes de sementes em que alguma das limitaes possa se
manifestar bem pequena.
Segundo Salomo et al. (2003), o teste de TZ apresenta certos
inconvenientes. No h um manual de referncias para leitura do padro de
colorao de sementes de espcies nativas. Isto dificulta a interpretao de
resultados, e, consequentemente, a quantificao de sementes aptas a
germinar. Outro inconveniente deste teste que sementes imaturas e viveis
tm, igualmente, seus tecidos coloridos de vermelho. Neste caso, os resultados
obtidos em teste de germinao sero numericamente inferiores queles
obtidos no teste de viabilidade.
2.5 - FAMLIA MALPIGHIACEAE
A maioria de representantes trepadeiras, raramente rvores. Folhas
geralmente inteiras, opostas. Flores reunidas em panculas, em algumas
espcies amarelas, em algumas cor-de-rosa ou arroxeadas. Largamente
distribudas na Amrica do Sul (Gemtchjnicov, 1976).
Essa uma das famlias mais comuns na maioria das formaes
naturais. Nos cerrados so comuns espcies arbustivas e arbreas,
principalmente de Byrsonima. Nas dunas litorneas e bordas de matas de
restinga chamam a ateno espcies de Stigmaphyllon. Os gneros
Banisteriopsis, Heteropterys e Tetrapterys apresentam um grande nmero de
espcies e so comuns ao longo de todo o Brasil, especialmente nas bordas de
florestas (Souza & Lorenzi, 2005).
Malpighiaceae uma famlia botnica que compreende 71 gneros
(Lombello & Forni-Martins, 2003) distribudos nos trpicos, especialmente na
Amrica do Sul. No Brasil, h 38 gneros e aproximadamente 300 espcies
(Souza & Lorenzi, 2005), com destaque na regio Centro-Oeste. O nome foi
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idealizado por L. C. Rich, em homenagem ao botnico e professor italiano
Marcello Malpighi (1628 1694).
A famlia Malpighiaceae tem cerca de 1.250 espcies de rvores,
arbustos, trepadeiras ou ervas, de distribuio pantropical, embora
particularmente abundante nos trpicos (Ramalho, 2003). Nos Neotrpicos, a
famlia Malpighiaceae possui cerca de 950 espcies distribudas em 47
gneros endmicos (Anderson, 1979). Nesta regio, as espcies de
Malpighiaceae ocupam ambientes abertos, tais como cerrados, campos,
margens de rios, florestas pluviais, florestas mesfilas e restingas. Os membros
desta famlia apresentam grande heterogeneidade de hbito, frutos, plen e
nmero cromossmico, porm suas flores possuem arquitetura geral muito
uniforme, o que tem acarretado problemas taxonmicos (Arajo, 1994).
As folhas so simples, pecioladas ou ssseis, opostas, estipuladas,
inteiras, denteadas ou lobadas, com glndulas visveis a olho nu, presentes na
base do pecolo e/ou base e borda da folha ou espalhadas pela lmina foliar
(Attala, 1997). As folhas podem ser glabras ou pilosas, podendo os plos ser
persistentes ou caducos, filamentosos ou em forma de T. Estes ltimos
comumente denominados plos malpighiceos, por serem muito freqentes
na famlia (Metcalfe & Chalk, 1950).
Os plos malpighiceos caracterizam-se por apresentarem dois braos
de tamanhos iguais ou desiguais, mais ou menos horizontais, ligados planta
por uma haste curta ou longa (Metcalfe & Chalk, 1950). Os plos
malpighiceos, alm da forma de T, podem ser em forma de Y ou com um
dos lados muito maior que o outro (Gates, 1977).
As flores das malpighiceas so de tamanho mediano, porm
abundantes e reunidas em vistosas inflorescncias, e so visitadas por abelhas
e mamangavas. Os frutos de algumas espcies tm finssimos plos que
podem provocar coceira se manuseados (Ramalho, 2003).
O mesofilo dorsiventral ou isolateral, com parnquima palidico
constitudo por clulas altas. Podem ocorrer clulas armazenadoras de gua de
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localizao varivel; esta variabilidade pode apresentar valor taxonmico em
nvel especfico. Os feixes vasculares das nervuras podem ou no apresentar
tecido mecnico. comum a ocorrncia de clulas com incluses de oxalato
de clcio na forma de drusas (Metcalfe & Chalk, 1950; Beiguelman, 1962;
Giulietti, 1971).
O pecolo exibe um feixe vascular central em forma de arco, podendo
ser acompanhado por feixes pequenos e acessrios em posio latero-superior
(Metcalfe & Chalk, 1950).
Nas Malpighiaceae, a inflorescncia , em geral, racemosa, podendo ser
auxiliar em Hiptage, Tetrapteris e Bunchosia, ou terminal em Camarea,
Galphimieae e Byrsoniminae, ocorrendo flores isoladas em algumas espcies
de Malpighia (Niendenzu, 1928a citado por Mamede, 1981). Em Banisteriopsis,
os ltimos ramos da inflorescncia so racemosos, mas h uma grande
variao entre as espcies quanto ao nmero de flores dos ltimos ramos
(Attala, 1997).
As flores so pentmeras, hermafroditas, raramente unissexuais. O
clice sinspalo; as spalas so castanhas ou verdes, excepcionalmente
vermelhas em Diplopterys rsea (Miq.) Nied (Mamede, 1981). As flores so
vistosas. O clice pentmero, geralmente dialisspalo. As ptalas geralmente
so ungiculadas e com margem franjada, frequentemente uma destas (labelo)
diferente no tamanho, formato ou colorao das demais (Souza & Lorenzi,
2005).
Os gneros americanos podem ser caracterizados pela presena de
glndulas basais na face dorsal das spalas. O nmero de glndulas varia de
seis a oito em Malpighia L., Banisteriopsis (oito), Stigmaphyllon, at dez em
Byrsonima (Mamede, 1981). Os leos existentes nestas glndulas so
componentes essenciais da dieta larvria das abelhas da famlia Anthophoridae
(Sazima & Sazima, 1989 citado por Arajo, 1994).
O androceu formado por dez estames. Nos gneros considerados
mais primitivos, os estames so do mesmo tamanho, enquanto que nos mais
evoludos, os estames do verticilo interno so mais longos e com filetes mais
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grossos ou, como em Mascagniinae e Banisteriinae, pode ocorrer reduo no
nmero de estames, com presena de estamindios (Arechavaleta, 1900;
Mamede, 1981). Os estames so livres ou ocasionalmente unidos na base
(Souza & Lorenzi, 2005).
O gineceu tricarpelar, sendo raramente bicarpelar, por aborto de um
dos lculos. Os estiletes so livres entre si, exceto em algumas espcies de
Bunchosia, e podem ser longos e delgados ou curtos e espessados (Mamede,
1981).
Nas Gaudichaudioideae, o fruto seco, indeiscente e alado, com duas
asas dorsais em Heteropterys, Banisteriopsis, Peixotoa e Stigmaphyllon, duas
asas laterais em Mascagnia e Hiraea ou quatro asas em forma de X em
Tetrapteris. Nas Malpighioideae, pode ser do tipo cpsula deiscente em
Spachea e Galphimia, tricoca indeiscente em Tryallis, drupa em Malpighia,
Byrsonima e Bunchosia, ou noz em Dicella, Glandonia e Burdachia (Mamede,
1981).
H destaque econmico s drupas da Acerola (Malpighia emarginata),
com alto teor de vitamina C. H muitas plantas ornamentais, principalmente
dos gneros Byrsonima, Galphimia, Malpighia e Stigmaphyllon (Watson &
Dallwitz, 1992), Peixotoa e Banisteriopsis (Lorenzi & Souza, 1999, citados por
Lombello & Forni-Martins, 2003).
As Malpighiaceae so conhecidas pelas suas propriedades alimentcias,
tnicas, medicinais e txicas (Attala, 1997). Banisteriopsis caapi possui o
alcalide banisterina (semelhante harmina encontrado nas Rutaceae). As
cascas da maioria das espcies de Byrsonima, ricas em tanino, so
amplamente empregadas no curtume de peles de animais (Pereira, 1953). No
Planalto Central Brasileiro utiliza-se a casca de Byrsonima crassa Nied. para
esse mesmo fim (Hermans, 1978 citado por Mamede, 1981).
Os frutos maduros de B. crassifolia e de outras espcies de murici so
empregados no Mxico como condimentos para sopas e ensopados. Frutos de
diversas outras espcies de Byrsonima so empregados na fabricao de
bebidas, refrigerantes e de doces, especialmente nas regies Norte e Nordeste
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do Brasil (Pereira, 1953). Tambm utilizado no Centro-Oeste na fabricao de
licores regionais, frequentemente comercializados (Rizzo, 1998 citado por
Attala, 1997).
No Distrito Federal ocorrem 65 espcies de Malphighiaceae (Ramalho,
2003).
2.5.1 GNERO Banisteriopsis
Todas as espcies de Banisteriopsis so lenhosas. As sees novas de
tronco, ou das partes dos arbustos que so renovadas anualmente, tm a
medula composta de parnquima cilndrico, cercado por um anel completo de
xilema e de floema. Na borda interna do xilema, numerosos pontos do xilema
primrio so frequentemente visveis, e em partes muito novas as posies dos
pacotes vasculares, originalmente discretos, podem ser detectadas (Gates,
1977).
No gnero Banisteriopsis C. B. Robinson ex Small, as glndulas visveis
presentes nas folhas esto localizadas no pice do pecolo, base, borda ou
espalhadas pela lmina foliar (Ramalho, 2003). As glndulas foliares esto
presentes em todas as espcies de Banisteriopsis; algumas vezes esto
restritas ao pecolo (por exemplo, B. nitrosiodora, B. heterostyla), mas
usualmente esto na lmina foliar. As glndulas na lmina so marginais, ou
concentradas na parte abaxial da folha. As glndulas marginais quando
presentes so, em geral, uniformemente distribudas ao longo da margem (s
vezes com o par basal mais largo), ou concentradas no pice da folha (Gates,
1977).
Janzen (1966, citado por Gates, 1977) sugeriu que a secreo das
glndulas foliares tem o propsito de atrair formigas para a planta,
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desencorajando desse modo a predao. Gates (1977) observou em campo
que h pouca herbvora de folhas ou de botes de flores.
O clice sempre pentmero. Em B. caapi, B. muricata, B. parviflora e
B. martiniana o clice apresenta formas com glndulas e sem glndulas na
mesma espcie, o que sugere que as glndulas no tm funo como atrativo
para os polinizadores dessas espcies (Gates, 1977).
Em todas as espcies de Banisteriopsis, exceto B. laevifolia e B.
leiocarpa, a ptala posterior diferente das outras quatro ptalas; usualmente
a ptala posterior fica ereta e age como uma bandeira para atrair e orientar
insetos polinizadores, enquanto que as outras ptalas so recurvadas entre as
spalas e so orientadas em noventa graus ou mais da linha central da flor. As
ptalas em Banisteriopsis podem ser brancas, rosas ou amarelas (Gates,
1977).
Sempre h dez estames frteis em Banisteriopsis, consistindo de dois
conjuntos opostos s ptalas e spalas respectivamente (Gates, 1977).
O gnero Banisteriopsis um dos mais abundantes e difundidos entre
os gneros de Malpighiaceae. A mais recente monografia do gnero, feita por
Gates (1982), reconhece 92 espcies. Este gnero sempre apresentou
dificuldades para os taxonomistas em virtude da variabilidade morfolgica das
plantas, sinonmia das espcies e problemas nomenclaturais do prprio gnero
(Gates, 1982; Makino-Watanabe, 1993). Muitas variaes ocorrem dentro
de uma espcie, ou at mesmo dentro de um indivduo (Gates, 1977).
Sobre o gnero Banisteriopsis, Gates (1977) afirma que inteiramente
distribudo no Novo Mundo. Poucas espcies ocorrem no Mxico e Argentina,
mas a maioria restrita aos trpicos, com a grande maioria no Brasil. Gates
(1977) ainda afirma que a maioria das espcies cresce exclusivamente na
regio do Planalto Central do Brasil, no Cerrado, sendo poucas na Floresta
Amaznica e na Mata Atlntica.
A espcie Banisteriopsis caapi dicotilednea, Angiosperma, tendo sua
classificao botnica completa apresentada pela Tabela 1.
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Tabela 1 - Classificao botnica de Banisteriopsis
caapi
Reino: Plantae
Sub-reino: Tracheobionta
Superdiviso: Spermatophyta Diviso: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida Subclasse: Rosidae Super-ordem: Geranianae
Ordem: Polygalales (Malpighiales)
Famlia: Malpighiaceae Subfamlia: Gaudichaudioideae
Gnero: Banisteriopsis C. B. Robins ex Small
Espcie: Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb) Morton
Segundo Couto (1989), em relao ao descobrimento desta espcie, em
1852, Spruce afirmou:
Havia quase uma dezena de plantas adultas de
caapi trepando pelas rvores ao longo da roa
(parcela cultivada