propagação vegetativa e estabelecimento em cerrado de

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www.neip.info 1 Universidade de Brasília Faculdade de Tecnologia Departamento de Engenharia Florestal PROPAGAÇÃO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi Aluno: Thiago Martins e Silva Matrícula: 99/15991 Orientadora: Rosana de Carvalho Cristo Martins Co-orientador: Ildeu Soares Martins Trabalho Final de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Florestal como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Florestal Brasília, 2006

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Universidade de Brasília Faculdade de Tecnologia

Departamento de Engenharia Florestal PROPAGAÇÃO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO

EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi Aluno: Thiago Martins e Silva Matrícula: 99/15991 Orientadora: Rosana de Carvalho Cristo Martins Co-orientador: Ildeu Soares Martins

Trabalho Final de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Florestal como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Florestal

Brasília, 2006

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Universidade de Brasília Faculdade de Tecnologia Departamento de Engenharia Florestal

PROPAGAÇÃO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi

Aluno: Thiago Martins e Silva Matrícula: 99/15991 Menção: _______ Banca Examinadora

_________________________________________ Rosana de Carvalho Cristo Martins

Orientadora

_________________________________________ Ildeu Soares Martins

Co-Orientador

_________________________________________ Fernando de La Rocque Couto

Membro da Banca

Brasília, 13/03/2006

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Agradecimentos Antes de tudo, agradeço a Deus pelo dom dessa vida e por todas as oportunidades. Agradeço aos meus pais, Eliane e Walter, pela grande riqueza que me proporcionaram: a educação. Agradeço a meus irmãos, Junior e Cinthia, por, de uma forma ou de outra, sempre fazerem parte de minha existência. Agradeço à querida professora Rosana por acreditar, apoiar e orientar a realização desse trabalho desde Junho de 2004. Agradeço pela grande ajuda e orientação do professor Ildeu na análise dos dados obtidos e por todo carinho de pai durante todo o curso de graduação. Agradeço a Fátima, Ellen, Marcinho (também pela ajuda na coleta dos dados), Rafael Santos, Emmanuel Lima, Marcello Alceo, Ana Rita e todos aqueles que disponibilizaram referências bibliográficas para embasar e enriquecer a realização desse trabalho. Agradeço ao Fabrício da Vinha (CCC) e ao padrinho Fernando La Rocque pela grande ajuda com material bibliográfico, permissão de divulgação das fotos, conversas, orientações e incentivos. Agradeço ao Chico, ao Manoel, ao padrinho Fernando, ao padrinho Alfredo Gregório e ao pajé Banê (Kaxinawá) pelas entrevistas. Agradeço ao Leonardo Vasconcelos pela ótima acolhida em Belém, pela ajuda na preparação das estacas, conversas, orientações, companheirismo e pelos muitos açaís com tapioca. E também pela grande força na apresentação. Agradeço ao Francisco, responsável pelo viveiro da FAL na época do plantio e ao Departamento de Engenharia Florestal pelo apoio na produção das mudas. Agradeço ao Fábio Venturoli (NOVACAP) e Igor de Oliveira pela ajuda. Agradeço ao Carlos Eduardo, ao Celso Papito (também pelos ensinamentos), ao Francisco Guilhermano, ao João Neto (também pela retirada do viveiro), Rafael (Maceió), Júlio, Sat e todos aqueles que puderam ajudar a produzir os berços e a plantar. Agradeço ao Jorge, ao Guilherme Simões e ao Josimar pela grande ajuda na manutenção das mudas em campo. Agradeço ao Bergmann (Laboratório de Microscopia Eletrônica do Departamento de Biologia Celular da UNB) pela ajuda nas fotos do teste de viabilidade. Agradeço ao Lucas pela ajuda na análise de solo. Agradeço à bebida Ayahuasca por proporcionar tantas curas e mostrar-me os verdadeiros valores importantes nessa vida. Em especial, agradeço à Juliana Hoff, por ter sido muito mais do que ajudante e peoa na execução desse trabalho, por ter sido o maior incentivo e apoio para a sua conclusão.

Dedicatória

Dedico esse trabalho à Juliana, noiva, companheira, ajudante, inspiração e amor de minha vida.

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As sementes da macieira estão dentro da maçã,

As sementes da parreira estão dentro da uva,

As sementes do pequi estão dentro do pequi,

As sementes de Deus estão dentro de DEUS!

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RESUMO

O presente trabalho analisou a propagação vegetativa em viveiro e o estabelecimento em campo da espécie amazônica Banisteriopsis caapi no bioma Cerrado. Uma revisão de literatura foi feita para indicar outros usos, além do uso religioso, para a espécie em estudo. A forma de propagação vegetativa utilizada foi a estaquia caulinar. Foram testados quatro tipos de tratamentos: 70% e 90% de sombreamento; e casa de vegetação climatizada com estacas verticais e horizontais. O indivíduo utilizado para obtenção das estacas foi coletado em Belém/PA. A medição do comprimento (cm) do maior broto foi o critério de avaliação em viveiro. Foram utilizadas duas áreas principais para estabelecimento em campo. As medições do comprimento (cm) e do diâmetro (mm) do maior broto e a observação durante um ano foram os critérios de avaliação do desempenho em campo. Os resultados mostraram que a estaquia caulinar é o método mais recomendado para viveiro; a espécie tem um ótimo estabelecimento no Cerrado; a água é requisitada em abundância para desenvolvimento acelerado, mas a espécie resiste bem aos períodos secos sendo caducifólia.

SUMMARY

The present work analyzed the vegetative propagation in nursery and the establishment in field of the Amazonian species Banisteriopsis caapi in Cerrado. A literature revision was made to indicate other uses, beyond the religious use, for the species in study. The vegetative propagation form used was by stem cuttings. Four types of treatments had been tested: 70% and 90% of shading; greenhouse acclimatized with vertical and horizontal cuttings. The individual used for attainment of the cuttings was collected in Belém/PA/Brazil. The measurement of the length (cm) of the biggest sprout was the criterion of evaluation in nursery. Two main areas for establishment in field had been used. The measurements of the length (cm) and the diameter (mm) of the biggest sprout and the observation during one year had been the criteria of evaluation of the performance in field. The results had shown that the stem cuttings is the most recommended method for nursery; the species has an excellent establishment in the Cerrado; the water is requested in abundance for sped up development, but the species resists the dry periods well being deciduous.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Banisteriopsis caapi 02

Figura 2 - Psychotria viridis 03

Figura 3 - Garrafa contendo Ayahuasca 04

Figura 4 - O xamã Kañî-paye com o aray (chocalho de pajé) e o charuto 06

Figura 5 - Suásticas associadas a símbolos religiosos 08

Figura 6 - Filotaxia, flor e semente de B. caapi 40

Figura 7 - Exsicata de B. caapi do herbário da UNB 41

Figura 8 - B. caapi no uso de cobertura de portal 48

Figura 9 - Uso de liana para cobertura em alambrado 48

Figura 10 - B. caapi no uso de revestimento de muros 49

Figura 11 - Uso de liana para coroamento de muros 49

Figura 12 - Bateção do B. caapi na preparação de Ayahuasca 63

Figura 13 - Cocção de B. caapi na preparação de Ayahuasca 63

Figura 14 - Harmina 67

Figura 15 - Harmalina 67

Figura 16 - N, N-Dimetiltriptamina 67

Figura 17 - Planta-mãe de B. caapi de onde foram confeccionadas as

estacas utilizadas 76

Figura 18 - Regeneração da área 2 79

Figura 19 - Queda das folhas 87

Figura 20 - Investimento em brotações novas 87

Figura 21 - Exemplo de semente viável 90

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação botânica de Banisteriopsis caapi 39

Tabela 2 – Número de brotações produzidas e percentagem das

estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi nas diversas

condições testadas de viveiro florestal da Fazenda Água

Limpa, DF, após 23 dias 81

Tabela 3 - Número de brotações produzidas, comprimento da maior

brotação e número estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi

nas diversas condições testadas de viveiro florestal da

Fazenda Água Limpa, DF, após 30 dias 81

Tabela 4 - Número de brotações produzidas, comprimento da maior

brotação e número estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi

nas diversas condições testadas de viveiro florestal da

Fazenda Água Limpa, DF, após 53 dias 82

Tabela 5 - Resumo da Análise de Variância para o comprimento das

brotações no viveiro após 30 dias (16/09/2004) 83

Tabela 6 - Resultados do Teste de Tuckey para os tratamentos: casa

de vegetação (0); 70% de sombreamento (1); e 90% de

sombreamento (2) após 30 dias (16/09/2004) 83

Tabela 7 - Resumo da Análise de Variância para o comprimento das

brotações no viveiro após 53 dias (09/10/2004) 84

Tabela 8 - Resultados do Teste de Tuckey para os tratamentos: casa

de vegetação (0); 70% de sombreamento (1); e 90% de

sombreamento (2) após 53 dias (09/10/2004) 84

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Tabela 9 – Resultados da análise de solo da Área 1 86

Tabela 10 - Resumo das Análises de Variância para o comprimento

das brotações (COMP) e diâmetro das brotações (DIAM),

em nível de campo 88

Tabela 11 - Comparações do Teste de Tuckey para o comprimento

e o diâmetro das brotações em nível de campo 89

Tabela 12 – Resultados do Teste de Tetrazólio 89

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TABELA DE CONTEÚDO

I – INTRODUÇÃO 01

II – REVISÃO DE LITERATURA 13

2.1 – CARACTERÍSTICAS EVOLUTIVAS DAS TREPADEIRAS 14

2.2 – ECOLOGIA DAS TREPADEIRAS 16

2.3 – PROPAGAÇÃO VEGETATIVA 17

MERGULHIA 19

ENXERTIA 20

ESTAQUIA 21

CULTURA DE TECIDOS (MICROPROPAGAÇÃO) 22

2.3.1 – RECIPIENTES/EMBALAGENS 23

2.3.2 – SUBSTRATOS 25

2.3.3 – SOMBREAMENTO 28

2.4 – TESTE DE TETRAZÓLIO 30

2.4.1 – LIMITAÇÕES DO TESTE DE TETRAZÓLIO 32

2.5 – FAMÍLIA MALPIGHIACEAE 33

2.5.1 – GÊNERO Banisteriopsis 37

2.6 – AMAZÔNIA X CERRADO 42

2.7 – Banisteriopsis caapi: USOS 44

2.7.1 – PAISAGISMO 46

2.7.2 – RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS 50

2.7.3 – USO TERAPÊUTICO 51

2.8 – AYAHUASCA 54

2.8.1 – ORIGEM DA AYAHUASCA 57

2.8.2 – RITUAL DE PREPARO OU FEITIO DA AYAHUASCA59

2.8.3 – EFEITOS FÍSICOS, PSÍQUICOS E QUÍMICOS DA

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AYAHUASCA 64

2.8.4 – ASPECTOS LEGAIS REFERENTES À AYAHUASCA71

III – MATERIAL E MÉTODOS

3.1 – FASE 1 76

3.2 – FASE 2 78

3.3 – FASE 3 80

IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 – FASE 1 81

4.2 – FASE 2 85

4.3 – FASE 3 89

V – CONCLUSÕES

5.1 – FASE 1 91

5.2 – FASE 2 91

5.3 – FASE 3 92

VI – RECOMENDAÇÕES 92

VII – SUGESTÕES 93

VIII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 95

ANEXOS

ANEXO 1 – NOMES ENCONTRADOS NA BIBLIOGRAFIA PARA A BEBIDA AYAHUASCA

ANEXO 2 – PARECER CONFEN SUBMETIDO À PLENÁRIA EM 31 DE JANEIRO DE 1986

ANEXO 3 – CARTA DE PRINCÍPIOS PARA O USO DA AYAHUASCA

ANEXO 4 – RESOLUÇÃO DO CONFEN SOBRE A AYAHUASCA DE 24 DE AGOSTO DE 1992

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ANEXO 5 – RESOLUÇÃO Nº.4 – CONAD, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2004

ANEXO 6 – HINOS CITADOS

ANEXO 7 – CHAMADAS CITADAS

ANEXO 8 – MEDIÇÕES NA FASE DE VIVEIRO

ANEXO 9 – DADOS DE CAMPO

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I - INTRODUÇÃO

A importância das florestas é incontestável. E seu uso sustentável é, a

cada dia que passa, mais necessário para que as gerações futuras tenham,

pelo menos, os mesmos recursos da atualidade. A madeira ainda é o produto

mais procurado e, consequentemente, mais valorizado das florestas.

Entretanto, vêm se descobrindo, cada vez mais, mais usos dos produtos não-

madeireiros, o que favorece a conservação das florestas. Dentre as finalidades

dos produtos florestais não-madeireiros estão os usos alimentício, cosmético,

farmacológico, turístico, têxtil e religioso.

Buda define a floresta como “um organismo especial de bondade e

benevolência infinitas que não faz nenhuma exigência para o seu sustento e

espalha generosamente os frutos de sua atividade vital. Ela fornece proteção a

todos os seres e oferece sombra até mesmo ao lenhador que a destrói” (Vinha,

2005).

Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a

terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas as suas

sementes, para que sirvam de alimento” (Gênesis 1, 29). Desde então, das

plantas se obtém os princípios ativos empregados nos medicamentos, uma

completa farmácia natural. Umas alimentam, outras perfumam, outras

purificam, acalmam, dão prazer, etc. Porém, algumas plantas transportam a

mente humana a regiões de maravilhas espirituais, alterando a consciência,

levando o ser humano ao mundo profundo do inconsciente, reconectando o

homem com os seus ancestrais.

O cipó Banisteriopsis caapi (Spr. Ex Griseb.) Morton (Malpighiaceae)

(Figura 1) nativo da região amazônica tem sua maior importância no uso

religioso. Juntamente com o arbusto Psychotria viridis Ruiz & Pavon

(Rubiaceae) (Figura 2), a espécie B. caapi é matéria-prima na produção da

bebida indígena conhecida por, pelo menos, oitenta nomes diferentes (Anexo

1), como, por exemplo, Yagé, Kamarampi, Caapi, Natema, Pindé, Kahi, Mihi,

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Dápa, Nixi pae, Cipó dos mortos, Santo Daime, Vegetal, Oaska ou mais

comumente Ayahuasca. Aya, no dialeto quíchua1, significa alma, espírito,

ancestral; e Huasca, no mesmo dialeto, significa chá ou vinho. Portanto,

Ayahuasca pode ser traduzida para o português como Vinho da Alma ou Chá

do Espírito.

1 Língua ameríndia de etnia peruana falada pelos povos dos altiplanos andinos (Luna, 1986), também conhecida como quéchua.

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Figura 4 - Banisteriopsis caapi

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Figura 5 - Psychotria viridis

Esse chá, tratado aqui como Ayahuasca (Figura 3), um produto da

medicina da floresta, pode ser preparado com outras espécies, tanto de cipó

como de folha. Pode-se acrescentar mais de trinta outras espécies ao cipó,

como a folha de outro cipó, Diplopterys cabrerana, conhecida na Colômbia

como chagro panga (Labate, 2003), sendo as espécies mais utilizadas o B.

caapi e a P. viridis.

Muitas vezes confundido com a bebida Ayahuasca, o cipó B. caapi é

mais conhecido no Brasil pelos nomes vulgares Jagube ou Mariri. Seu uso é

anestésico local, estimulante de memória e contra a paralisia (Cointe, 1947

citado por Vieira, 1992), entre outros.

Na região Norte do Brasil, seu uso também é bastante divulgado para

proteção contra “maus espíritos”. Com essa finalidade, rezadeiras2 e pessoas

mais antigas sempre tinham um pé plantado de Cabi (como é mais conhecido

no Pará) na frente ou nos fundos de casa. Também é utilizado para banho com

2 Mulheres com experiência na área de cura com as plantas da floresta.

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suas folhas a fim de proteção contra “mal olhado”. Seu uso ainda estende-se

aos campos terapêutico, ornamental e, em menor escala, de recuperação em

áreas degradadas.

Figura 6 - Garrafa contendo Ayahuasca

Substâncias alucinógenas são aquelas que, quando em contato com

nosso sistema nervoso, propiciam estados de alteração da consciência –

esdexxxm maior ou menor grau. Embora elas tenham chegado à mídia

associadas a rebeldes e artistas psicodélicos dos anos 60 e 70, seu uso é

muito anterior e muito mais complexo do que se pode pensar, à primeira vista.

Muitas vezes são tratadas erroneamente como drogas ou tóxicas.

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Na natureza, existem cerca de 100 plantas classificadas desta forma.

Como exemplos, além da Ayahuasca, têm:

• A raiz iboga (Tabernanthe iboga), utilizada por curandeiros tradicionais dos

países da bacia do Congo e na religião do Buiti na Guiné Equatorial, Camarões

e, sobretudo, no Gabão, onde membros importantes das hierarquias políticas

do país são adeptos do culto. Supostamente capaz de induzir o coma, é usada

em rituais e tratamentos de dependência química;

• O cacto peiote (várias espécies do gênero Echinopsis), amplamente

consumido no México, cuja substância ativa é a mescalina. Popularizado pelas

narrativas do antropólogo Carlos Castañeda, o cacto é sagrado para índios

norte-americanos. Nos Estados Unidos, a Igreja Nativa Americana comunga o

peiote em cerimônias, legalmente;

• Os cogumelos (várias espécies), utilizados por culturas de todo o planeta

desde a antiguidade. Entre os astecas mexicanos, os fungos eram

considerados mensageiros sagrados de Deus;

• A Cannabis sativa, embora esteja associada ao universo do narcotráfico,

há registros milenares do seu emprego religioso. Um exemplo são os adeptos

do movimento Rastafari, na Jamaica, que a consideram uma planta divina;

• A Jurema (Mimosa hostilis), planta natural da caatinga, usada em rituais

por sertanejos e comunidades indígenas no Nordeste do Brasil;

• O pó feito de sementes de paricá (Piptadenia peregrina), usado por índios

no Brasil, na Colômbia, no Peru e na Venezuela, possui o alcalóide DMT, o

mesmo presente na Ayahuasca;

• A Salvia divinorum, utilizada em cerimônias pelos xamãs3 (Figura 4)

mexicanos; há registros de que era associada a uma entidade4 feminina

guardiã da sabedoria.

3 Aqueles que conseguem entrar e sair dos estados alterados de consciência, trazendo ensinamentos e curas para si e para os outros, com técnicas que lhe são exclusivas, tendo à sua disposição espíritos, seres ou entidades, que quando chamados o atendam prontamente. Não se nasce Xamã, torna-se, mas quem tem antepassados com este dom terá maior

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Nos exemplos citados, trata-se de plantas utilizadas no âmbito de rituais

sagrados, pautados por cosmologias que lhes conferem sentido. Como, no

caso da Ayahuasca, acredita-se que a folha da P. viridis, chamada de rainha ou

chacrona (chá temeroso), fornece a luz e o cipó B. caapi, chamado (quando

encorpado) de marechal, fornece a força à bebida sagrada.

Figura 7 - O xamã Kañî-paye com o aray (chocalho de pajé) e o charuto

Isso é aceito cientificamente, pois pesquisas já comprovaram que o

princípio ativo da P. viridis, a substância n, n-dimetiltriptamina (DMT), não

causa efeitos sozinha. É necessária a ação do B. caapi para que a enzima

Monoamina oxidase (MAO), naturalmente presente no nosso organismo, seja

inibida temporariamente pelas beta-carbolinas (harmalina, harmina e

tetrahidroharmina, THH) e não destrua o alcalóide DMT, responsável pelos

efeitos do chá (Ott, 1994).

probabilidade. Conhecidos também por: pajés, curandeiros, magos, videntes. Embora nem todo vidente, curandeiro, mago ou pajé, seja um Xamã. No xamanismo existem duas vias: do Xamanismo Clássico e do Xamanismo de Planta de Poder. Também conhecidos como pajés entre as tribos indígenas brasileiras. 4 Ser espiritual não materializado.

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A harmalina e a harmina são inibidores da MAO-A e o THH inibe a

receptação da serotonina, desencadeando um aumento da sua atividade

central e periférica, facilitando a psicoatividade da DMT (McKenna et al., 1984;

Holmstedt & Lindgren, 1967; Callaway, 1994 a, b; Callaway et al., 1996;

Callaway et al., 1999). Portanto, o B. caapi fornece a força para permitir que a

luz da P. viridis haja no organismo da pessoa que tenha ingerido Ayahuasca.

É por isso que os pesquisadores deste campo evitam utilizar o termo

“droga” – com caráter pejorativo -, preferindo utilizar as expressões “plantas de

poder” ou “enteógenos”. Também são conhecidas como Plantas Mestres,

Plantas Professoras, Plantas de Conhecimento ou Plantas Sagradas.

Enteógeno engloba a palavra “Deus” em grego (Teo) e significa “o que vêm de

Deus”, o que revela o papel que muitas sociedades e religiões atribuem a tais

preparados vegetais: facilitar a comunicação entre a esfera humana e a divina.

Quanto às ditas “Plantas de Poder” – naturais, não sujeitas aos

processos químicos e que despertam determinados poderes latentes do ser

humano – em si, não trazem nem o bem nem o mal. Depende da intenção de

cada um. Só não entende sobre o livre arbítrio de cada um com relação ao uso

dos vegetais quem tiver algum interesse em seu tráfico, repressão ou

preconceito (Gregorim, 1991).

Como exemplos comparativos, têm a suástica5 (Figura 4) e o vinho. A

suástica é um símbolo antigo e de ocorrência freqüente, encontrado em muitas

culturas diferentes, em diferentes épocas. É possível encontrar a suástica

associada aos índios Hopi, astecas, celtas, budistas, gregos e hindus como

símbolo religioso e decorativo. Hoje é associada a Hitler, maleficamente usada

para espalhar a morte em nome do que o nazismo defendia (o anti-semitismo,

o holocausto, o ódio aos homossexuais, o desejo de eliminar os deficientes e

os enfermos, etc.). O mesmo acontece com o vinho da Eucaristia católica, a

pessoa pode bebê-lo sem moderação e embriagar-se (Gregorim, 1991).

5 A palavra suástica ou “swastika” vem do sânscrito e significa estar bem.

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Figura 8 - Suásticas associadas a símbolos religiosos

O uso de Plantas Sagradas vem fazendo parte da experiência humana

há milênios. Quase todas as culturas primitivas do planeta empregam ou

empregaram esta classe de plantas em um contexto xamânico (Zuluaga, 2002).

Não podem nunca serem confundidas com drogas que causam a dependência

e colocam em risco a saúde de quem as usa. A Planta é criação de Deus, a

droga é uma criação humana. As Plantas de Poder são ingeridas em rituais.

Obedecem a preceitos mágico-religiosos, proporcionam cura,

autoconhecimento e expansão da consciência.

As Plantas de Poder aumentam a percepção, a acuidade visual e

auditiva, e transportam o praticante para outras camadas vibracionais ou

dimensões. A experiência é individual, algumas pessoas têm visões, outras

canalizam mensagens, fazem regressões, recebem “insights” 6, recebem

soluções para seus problemas com maior claridade, percebem as causas de

suas doenças, recebem cura, se conectam a arquétipos, aos mitos, aos medos,

traumas, símbolos que estão no inconsciente coletivo, visualizam entidades,

viajam astralmente, entre outras sensações. O uso ritualístico de Plantas de

Poder proporciona, sem dúvida, uma experiência místico-religiosa de beleza

incomparável, proporcionando o samadhi, o êxtase, o nirvana, o encontro com

o Eu Superior, o transe.

A busca pelas Plantas de Poder pode ser perigosa. Não são todos os

que dizem conhecê-las, que as conhecem realmente. As Plantas de Poder só

6 Do inglês, corresponde a discernimento, apreensão súbita.

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trazem resultados benéficos, se utilizadas dentro de um fundamento espiritual.

Consagradas em rituais e preparadas de forma correta.

Vale ressaltar que não apenas as Plantas de Poder podem proporcionar

esse êxtase desejado há milênios pela natureza humana. Práticas iogues,

meditações, rezas fervorosas, jejum e técnicas de respiração são apenas

alguns dos tantos outros meios para atingir esse transe. Entretanto, as Plantas

de Poder aparecem como um caminho mais curto e profundo para essa

finalidade.

A evolução cultural em todos os povos produziu um paulatino

distanciamento das técnicas xamânicas e, sobretudo, do uso das plantas

alucinógenas. Esta tendência foi levada ao extremo de considerar estas plantas

como “tóxicas” ou “diabólicas” e seu uso é proscrito em quase todo o mundo

moderno. Todavia, desde fins do século passado, muitos ocidentais têm

incursionado novamente no consumo destas substâncias, buscando uma

resposta aos grandes problemas da civilização industrial (Zuluaga, 2002).

Tóxicos são as inúmeras drogas químico-farmacêuticas sintéticas que

combatem provisoriamente o efeito das doenças e não suas causas. E, muitas

vezes, ocasionam efeitos colaterais e dependência físico-mental,

principalmente quando mal administradas (Gregorim, 1991). Deixando o

organismo com menos resistência para um possível retorno da mesma doença,

cada vez doente, o organismo necessita de uma maior quantidade de

medicamento.

A medicina tradicional ocidental tem o seu valor. Entretanto, a eficácia

de práticas consideradas culturalmente como alternativas vem sendo

descoberta pela sociedade urbana moderna. Isso porque a medicina tradicional

analisa a doença isoladamente, enquanto as práticas alternativas se

preocupam com o ser humano no todo.

Com o desenvolvimento da ciência e tecnologia, a divisão dos

componentes do corpo humano na medicina tornou-se muito mais comum. Os

médicos tradicionais modernos sabem muito mais sobre muito menos. Esse

desenvolvimento também causou uma divisão do ser humano em espírito e

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matéria, onde o campo material foi privilegiado, ocasionando certo

esquecimento da importância do espírito para uma boa saúde.

A doença não é causada por germes, toxinas, radioatividade excessiva,

micróbios, bactérias ou por qualquer outro agente físico. Esses elementos

sempre estão presentes; milhares deles passam diariamente por todo o corpo

humano saudável. Esses agentes só são destrutivos quando “não” passam

pelo corpo humano, mas, em vez disso, são nele retidos (Carey, 1990). Para o

índio, a doença tem origem sobrenatural (Sangirardi, 1983).

Há apenas uma razão pela qual os germes ou toxinas são retidos num

sistema humano: porque está presente, nesse sistema humano, um “espírito

malévolo”. Na medida em que o espírito do mal é aceito e acolhido na vida de

uma pessoa, seu corpo adoece. Trata-se de um mecanismo regulador,

destinado a despojar os espíritos destrutivos de corpos físicos. Os espíritos

malévolos são atitudes negativas, emoções destrutivas, enraizadas no medo,

como: ressentimento, ira, vergonha, culpa, ansiedade, ódio, ganância, vingança

e ciúme (Carey, 1990).

Assim, a Ayahuasca mostra-se como remédio em potencial, pois,

induzindo a uma evolução espiritual, as mudanças de hábitos e sentimentos

favorecem a uma vida mais saudável em todos os aspectos. São inúmeros

casos de dependentes químicos que conseguiram livrar-se do vício após o

contato com a bebida. Além disso, na maioria das vezes ocorre uma mudança

de atitude em relação ao próximo e à natureza, devido a um despertar do amor

crístico, que seria o redescobrimento dos ensinamentos de Jesus Cristo de

amor a Deus e ao próximo na prática. Podendo, nesse sentido, ser usado no

sentido terapêutico, além do religioso, o que vem ocorrendo cada vez mais.

Após a Resolução Nº. 4 do CONAD (Conselho Nacional Anti-Droga), de

Quatro de Novembro de 2004 (Anexo 5), regulamentando o uso

contextualizado da bebida Ayahuasca, a fiscalização da extração e do

transporte das espécies nativas da floresta tornou-se mais rígida. Entretanto,

com a divulgação da bebida e sua total legalidade, o preconceito e medo do

consumo do chá tornaram-se menores. Devido ao grande aumento do número

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23

de ayahuasqueiros7, a preocupação com a preservação das espécies que

compõem a Ayahuasca também aumentou.

Muito se tem escrito sobre o uso da Ayahuasca, mas poucos trabalhos

são específicos sobre cada espécie separadamente. Com a prática de várias

décadas de plantio, colheita e uso, o conhecimento não científico é

razoavelmente capaz de indicar a melhor forma de fazê-los. Entretanto, o

conhecimento acadêmico aplicado junto com os conhecimentos práticos é a

melhor forma de aumentar a eficiência, diminuindo o custo e aumentando a

produção.

A propagação de plantas é realizada de duas diferentes formas: sexual e

assexuada ou vegetativa. A propagação vegetativa ou assexuada é de grande

importância quando se deseja multiplicar um genótipo que é altamente

heterozigoto e que apresenta características consideradas superiores, que se

perdem quando propagadas por sementes. Cada planta, individualmente

produzida por meio vegetativo, é, na maioria das vezes, geneticamente idêntica

à planta-mãe constituindo, assim, o motivo de sua aplicação (Paiva & Gomes,

2001). A propagação vegetativa também é vantajosa por permitir o plantio em

qualquer época do ano.

A propagação vegetativa por estacas consiste em destacar da planta

original um ramo, uma folha ou raiz e colocá-los em um meio adequado para

que se forme um sistema radicular e, ou, desenvolva a parte aérea.

Para preparar a bebida Ayahuasca, é necessário que o cipó B. caapi

tenha florido, pelo menos duas vezes. Isso para que ele possa fornecer uma

boa burracheira8. Depende muito das condições do local (solo, clima, etc.),

mas, em média, são necessários, no mínimo, três anos para utilizar um

indivíduo de B. caapi no feitio9. E, sem matéria-prima qualificada para utilização

em feitio na região do Cerrado, os ayahuasqueiros viajam até a Amazônia em

busca de indivíduos nativos.

7 Adeptos do uso freqüente de Ayahuasca em contexto religioso. 8 Nome escrito com “u” devido à origem cabocla e usado pelos ayahuasqueiros para definir o estado de consciência alterado ocasionado pela ingestão de Ayahuasca. 9 Ritual de preparação do chá Ayahuasca.

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Devido a esses fatos, o presente trabalho tem como objetivos principais:

• Analisar a propagação vegetativa por estaquia em viveiro de Banisteriopsis

caapi;

• Verificar as condições mínimas para o estabelecimento da espécie no

bioma Cerrado; a fim de facilitar o plantio em larga escala pelas igrejas/centros

usuários desse sacramento presentes nesse bioma.

O trabalho também tem como objetivos secundários:

• Apresentar outros usos, além do uso em contexto religioso, para a espécie

Banisteriopsis caapi;

• Apresentar meios para que a sua preservação em ambiente nativo seja

favorecida.

Para atingir os objetivos propostos, o presente trabalho foi estruturado

em sete capítulos, sendo o primeiro esta introdução. O segundo capítulo

apresenta as referências teóricas usadas que fundamentam o desenvolvimento

do corpo deste trabalho, discorrendo sobre as trepadeiras em geral, suas

características e sua ecologia; sobre propagação vegetativa; sobre o teste de

tetrazólio (teste de viabilidade); sobre a família Malpighiaceae e o gênero

Banisteriopsis; uma análise comparativa entre os biomas Amazônia e Cerrado;

sobre a espécie B. caapi e seus possíveis usos; sobre o chá Ayahuasca, sua

origem, seu ritual de preparo, seus efeitos físicos, psíquicos e químicos, e seu

histórico de legalização.

O terceiro capítulo apresenta o material e a metodologia utilizados no

desenvolvimento deste trabalho. O quarto capítulo apresenta os resultados e

uma breve discussão sobre os mesmos. O quinto capítulo apresenta as

conclusões que foram retiradas a partir do presente trabalho. Esses três

capítulos foram divididos em três fases, sendo a primeira fase, a fase em

viveiro; a segunda fase, o estabelecimento em campo; e a terceira fase, o teste

de viabilidade para comparação da propagação sexuada com a propagação

vegetativa.

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No sexto capítulo, estão as recomendações pertinentes ao uso da liana

Banisteriopsis caapi. E, no sétimo capítulo, são apresentadas sugestões para o

desenvolvimento de um trabalho futuro na mesma linha do trabalho presente.

II - REVISÃO DE LITERATURA

As trepadeiras são plantas cujo crescimento em altura depende da

sustentação mecânica fornecida por outras plantas e, para isto, necessitam de

uma série de adaptações estruturais e funcionais (Putz & Windsor, 1987 citado

por Rezende, 1997). Ocorrem praticamente em qualquer tipo de clima e

comunidade vegetal onde haja árvores capazes de sustentá-las, no entanto

são mais abundantes, diversas e com maior variedade de formas e tamanho

nos trópicos, onde ocorre mais de 90% de todas as espécies de trepadeiras

conhecidas no mundo (Walter, 1971 citado por Engel et al., 1998).

Aproximadamente metade das famílias de plantas vasculares contém espécies

de trepadeiras (pelo menos 133 famílias) (Putz, 1984; Gentry, 1991 citado por

Venturi, 2000).

Podem ser classificadas em herbáceas, que geralmente crescem em

ambientes perturbados ou nas bordas de florestas; e lenhosas, geralmente com

caules mais grossos, que crescem no interior das florestas (Gentry, 1991; Putz

& Mooney, 1991 citado por Venturi, 2000), mas na prática é extremamente

difícil fazer uma distinção rigorosa, pois pouco se conhece a respeito do ciclo

de vida completo das espécies de trepadeiras (Rezende, 1997). A terminologia

para este tipo de hábito ainda é confusa, principalmente no Brasil, onde termos

cipó, volúvel e liana são tratados como sinônimos (Kim, 1996). É mais comum

encontrar os termos cipó e liana associados às trepadeiras lenhosas.

São também uma importante forma de crescimento dentro das

comunidades tropicais em termos de número de espécies, constituindo cerca

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de 12% das espécies, comparado a 2% nas comunidades temperadas

(Richards, 1952; Aristeguieta, 1966; Croat 1978; Gentry, 1985 citado por

Castellanos et al., 1989). Entretanto, a atenção dirigida ao estudo das espécies

de trepadeiras tem sido pequena, sendo provavelmente o grupo menos

coletado (Gentry, 1991 citado por Rezende, 1997). No Brasil, só recentemente

as trepadeiras têm sido enfocadas e discutidas com maior atenção em estudos

e levantamentos florísticos (Rezende, 1997).

Observa-se nas florestas paulistas, certo anacronismo entre a floração

das árvores e arbustos em relação às trepadeiras. Esse processo parece ter

grande importância na manutenção da fauna de polinizadores, que, assim, teria

sua sobrevivência garantida, explorando diversas fontes alimentares durante

diferentes épocas do ano (Morellato, 1996 citado por Rodrigues & Gandolfi,

1996). Na ARIE Cerrado Pé-de-Gigante em Santa Rita do Passa Quatro – SP,

Weiser (2001) observou que, de um modo geral, os suportes apresentam

fenofases de floração e frutificação em épocas distintas das trepadeiras neles

instaladas, e que, quando frutificavam na mesma época, suporte e trepadeira

apresentavam diferentes síndromes de dispersão. Do mesmo modo, diferentes

espécies de trepadeiras no mesmo suporte, também florescem e frutificam em

meses diferentes.

Muitas espécies de cipó produzem flores grandes e vistosas que

proporcionam néctar e pólen para insetos, aves e morcegos. Os cipós também

podem proporcionar vias de locomoção entre as copas para animais arbóreos,

tais como macacos e preguiças. Além da sua importância ecológica, os cipós

também possuem importância econômica. Algumas espécies de cipó (como,

por exemplo, as palmeiras trepadeiras rattans) são coletadas e vendidas para a

indústria de móveis, enquanto outras são coletadas para uso medicinal.

Entretanto, nas florestas manejadas para extração de madeira, os cipós

geralmente são considerados pragas, porque podem dificultar tanto a extração

madeireira quanto a silvicultura. Embora muitos profissionais na área de

manejo de florestas tropicais reconheçam que o manejo de cipós deva ser

considerado em qualquer plano silvicultural, poucas informações sobre o tema

foram publicadas (Vidal & Gerwing, 2003).

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2.1 – CARACTERÍSTICAS EVOLUTIVAS DAS TREPADEIRAS

O hábito trepador parece ter evoluído independentemente dentro de

diferentes grupos taxonômicos (Engel et al., 1998). As trepadeiras tendem a

ser intolerantes à sombra. Muitas espécies germinam na sombra, entretanto o

caule entra em uma fase de alongamento muito rápido como em plantas

estioladas, o que é estimulado pela sombra. Para que isso ocorra e as

trepadeiras possam atingir o dossel e, consequentemente, os níveis de

iluminação adequados para o seu crescimento, adotam uma estratégia de

baixa canalização de recursos para tecidos de sustentação, e, justamente por

isso, são tão dependentes de suportes onde possam se apoiar. Esta

necessidade de apoio levou as trepadeiras a evoluírem adaptações específicas

(Engel et al., 1998).

Além das diversas estratégias de escalada, o sucesso evolutivo das

trepadeiras deve-se também às adaptações anatômicas, especialmente nos

caules, obtendo uma maior eficiência dos tecidos de condução, de modo a

alcançar as longas distâncias que percorrem com curvas e dobras do estreito

caule levando água e nutrientes a uma copa que pode ser tão extensa ou maior

do que a de uma grande árvore (Venturi, 2000).

French (1977, citado por Kim, 1996) observou que trepadeiras que não

apresentam gavinhas possuem entrenós mais longos e desenvolvimento tardio

da área foliar, como adaptação para aumentar o sucesso na busca de

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recursos, diminuindo o peso da carga de produção que as folhas investem no

ramo. Caballé (1993, citado por Kim, 1996) concluiu que as trepadeiras

apresentam uma diversidade de organização maior do que outras formas de

vida enfatizando que a estrutura anatômica do caule é bastante eficiente na

identificação dos taxa a que pertencem. As trepadeiras competem com as

árvores por luz, água e nutrientes, sendo a competição por luz a principal força

seletiva para este hábito (Gentry, 1991 citado por Ferrucci et al., 2002).

Quanto à dispersão, as trepadeiras tendem a apresentar formas

semelhantes às das outras formas de vida do mesmo estrato (Hegarty, 1989

citado por Venturi, 2000). Desta forma, as trepadeiras herbáceas, que vivem

nos estratos inferiores tendem à dispersão por zoocoria; enquanto que as

lenhosas, que se espalham pelo dossel, tendem a ser dispersas por

anemocoria (Foster, 1996; Morellato & Leitão-Filho, 1996 citado por Venturi,

2000). Outro padrão observado é a abundância de espécies anemocóricas em

etapas iniciais de regeneração de florestas temperadas (McDonell & Stiles,

1983 citado por Ibarra-Manríquez et al., 1991) e tropicais (Gentry, 1983;

Augspurger & Franson, 1988 citado por Ibarra-Manríquez et al., 1991).

2.2 – ECOLOGIA DAS TREPADEIRAS

No Brasil, são poucos os trabalhos que utilizam as trepadeiras como

materiais de estudo e sua ecologia ainda é pouco conhecida (Hora & Soares,

2002). As trepadeiras têm uma tendência a tornarem-se mais abundantes em

fragmentos florestais perturbados. Alguns fatores que passam a atuar nesses

fragmentos relacionam-se aos efeitos de borda, maior incidência de luz,

formação de clareiras e maior disponibilidade de suportes (Hergarty & Caballé,

1991 citado por Hora & Soares, 2002).

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Hegarty (1991, citado por Weiser, 2001) afirma que a interação entre

trepadeiras e suportes depende do mecanismo de ascensão, muito embora,

algumas não utilizem um suporte, mesmo quando este está disponível,

enquanto outras, não só o utilizam para ascender verticalmente, como também

expandir horizontalmente no dossel. Em geral, os tipos de mecanismos variam

pouco de região para região, sendo caule volúvel o mais abundante e raízes

adventícias o menos abundante, exceto em algumas florestas tropicais muito

úmidas.

Ecologicamente as trepadeiras têm sido caracterizadas como parasitas

estruturais das árvores (Putz, 1980; Stevens, 1987 citados por Ramalho, 2003).

Givnish & Vermeij (1976, citados por Kim, 1996) sugerem um modelo

para explicar padrões ecológicos no tamanho e forma das folhas de trepadeiras

que afetariam o seu sucesso na competição no qual folhas grandes, de base

cordada e pecíolo longo são favorecidas em situações de pleno Sol, enquanto

as pequenas, de base estreita e pecíolo curto em ambientes de sombra.

As trepadeiras desempenham um papel importante na dinâmica das

comunidades florestais, uma vez que, em média 21% das plantas utilizadas

como alimento por uma ampla variedade de primatas tropicais são trepadeiras

(Emmons & Gentry, 1983; Morellato & Leitão Filho, 1996 citado por Rezende

1997). Para os animais, o emaranhado de ramos das trepadeiras que se forma

sobre o dossel e as margens das florestas são especialmente úteis ao seu

deslocamento de árvore a árvore, servindo também como abrigo e local para

ninhos (Engel et al., 1998).

O desenvolvimento de ritmos de floração e frutificação diferentes

daqueles apresentados pelas árvores, além da produção de frutos

anemocóricos que amadurecem justamente nos períodos em que um grande

número de árvores encontra-se sem folhas (Morellato, 1991; Foster, 1996;

Morellato & Leitão-Filho, 1996 citados por Venturi, 2000) garantem a

polinização e dispersão das trepadeiras sem competição com o estrato arbóreo

(Venturi, 2000).

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As trepadeiras podem ser polinizadas por abelhas, mariposa, moscas,

beija-flores e vespas. Em geral, caracterizam-se por ter uma ou poucas

estratégias de polinização, sendo a maioria polinizada por abelhas de médio a

grande porte, ou por pequenos insetos (Ferrucci et al., 2002).

Os cipós não são distribuídos uniformemente por toda a paisagem. Pelo

contrário, muitas vezes a abundância de cipós encontra-se agrupada e

inversamente relacionada à estatura da floresta (Vidal & Gerwing, 2003).

2.3 – PROPAGAÇÃO VEGETATIVA

A propagação de plantas é realizada de duas diferentes formas: sexual e

assexual ou vegetativa. A propagação por sementes é um processo sexual,

pois envolve a união do gameta masculino, grão de pólen, com o gameta

feminino, óvulo, para formar a semente (Paiva & Gomes, 2001).

No caso de sementes, há uma exceção, que é a apomixia, na qual

ocorre a produção de sementes por um processo assexual, sem ocorrer a

fecundação; sendo, no entanto, considerada incomum em espécies florestais.

Atualmente, com o avanço da fitossociologia, tem se verificado que, em

florestas tropicais, há grande número de espécies consideradas raras, ou seja,

existe um único indivíduo em uma área relativamente grande, onde a apomixia

pode estar ocorrendo em proporções superiores ao que se imagina (Paiva &

Gomes, 2001).

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A propagação vegetativa ou assexual é de grande importância quando

se deseja multiplicar um genótipo que é altamente heterozigoto e que

apresenta características consideradas superiores, que se perdem quando

propagadas por sementes. Cada planta, individualmente produzida por meio

vegetativo, na maioria das vezes, é geneticamente idêntica à planta-mãe

constituindo, assim, o motivo de sua aplicação (Paiva & Gomes, 2001).

A propagação assexuada ou vegetativa apresenta como vantagens

(Yamazoe & Vilas Boas, 2003):

- A rapidez de produção da muda;

- A reprodução fiel da planta-mãe;

- Permite multiplicar indivíduos que não florescem por falta de adaptação,

etc.;

- Permite multiplicar indivíduos estéreis;

- Indivíduos obtidos são mais precoces.

Como desvantagens, podem-se relacionar (Yamazoe & Vilas Boas,

2003):

- Transmissão de doenças bacterianas, viróticas e vasculares;

- Necessidade de plantas matrizes adequadas;

- Instalações adequadas;

- Volume de material a ser transportado, armazenado, etc.

Em qualquer processo de propagação vegetativa, o grupo de plantas-

filhas fornecido é denominado clone. A propagação vegetativa pode ser

efetuada utilizando-se de processos naturais ou artificiais. Os processos

naturais são aqueles que se utiliza de estruturas naturalmente produzidas pelas

plantas, com a finalidade de propagação. Estas estruturas são todas

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vegetativas, isto é, não foram formadas pela fusão de gametas e,

consequentemente, originam plantas idênticas à planta-mãe (Yamazoe & Vilas

Boas, 2003).

Os processos naturais de propagação vegetativa acontecem através dos

bulbos (escamosos, tunicados, sólidos ou compostos); rizomas; tubérculos;

raízes tuberosas; estolões ou estolhos; bulbilhos aéreos; rebentos e filhotes;

folhas; e, esporos10.

Nos processos artificiais são englobados aqueles que não ocorrem

frequentemente na natureza. O homem, utilizando-se da capacidade

regeneradora dos tecidos vegetais, desenvolveu várias técnicas para facilitar a

plena realização deste fenômeno, permitindo, assim, que pedaços de caules,

de folhas e de raízes venham a regenerar plantas completas (Yamazoe & Vilas

Boas, 2003).

Na natureza, eventualmente encontram-se ramos de plantas que se

quebram e, sob condições favoráveis, enraízam-se e regeneram outras

plantas, tendo sido esta, talvez, a idéia inicial que o homem explorou. Do

mesmo modo, porções de plantas naturalmente soterradas, enraizando,

formaram novas plantas, como na mergulhia, e, ainda, galhos que se atritavam

por longo período de tempo, ao se soldarem, podem ter dado a primeira idéia

sobre a técnica da enxertia (Yamazoe & Vilas Boas, 2003).

Dentre os inúmeros meios de propagação vegetativa, os que mais

interessam à ciência florestal são: mergulhia, enxertia, estaquia e cultura de

tecidos ou micropropagação. Dentre os métodos de propagação vegetativa, a

estaquia é, ainda, a técnica de maior viabilidade econômica para o

estabelecimento de plantios clonais, pois permite, a um custo menor, a

multiplicação de genótipos selecionados em um curto período de tempo (Paiva

& Gomes, 2001).

10 Para mais informações sobre os processos naturais de propagação vegetativa, ver Yamazoe & Vilas Boas (2003).

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MERGULHIA:

A mergulhia é um método de propagação vegetativa pelo qual um ramo

da planta é posto a enraizar quando ainda faz parte dela, não sendo apartado

antes de se completar o seu enraizamento (Mattos, 1976 citado por Paiva &

Gomes, 2001). É um processo geralmente usado na obtenção de plantas que

dificilmente se enraízam por meio de ramos destacados (estaquia), mas sua

aplicação comercial é pouco restrita, pois o rendimento é muito baixo e

necessita de muita mão-de-obra (Pádua, 1983 citado por Paiva & Gomes,

2001). É de ampla aplicação em arboricultura, mas não tão usado em

silvicultura (Gomes, 1987 citado por Paiva & Gomes, 2001).

Os principais tipos de mergulhia são: aérea (alporquia) e subterrânea.

Na mergulhia subterrânea há as modalidades: simples normal, simples

invertida, contínua chinesa, contínua serpenteada e mergulhia de cepa (Paiva

& Gomes, 2001).

ENXERTIA:

É a operação que consiste em inserir partes de uma planta (gema ou

garfo) em outra que lhe sirva de suporte, de modo que, soldados os seus

tecidos, possam elas viver em comum. O princípio fundamental da enxertia

baseia-se na faculdade que possuem as plantas de unir suas partes, graças à

atividade do câmbio (Borges, 1978 citado por Paiva & Gomes, 2001).

Na enxertia, à planta receptora dá-se o nome de hipobioto,

popularmente conhecido como porta-enxerto ou cavalo, que, em virtude de

estar enraizado num substrato, desempenha as funções de absorção e fixação.

O enxerto (órgão doado), denominado epibioto ou também cavaleiro, por sua

vez, desempenhará as funções do caule, que são: condução, fotossíntese,

florescimento, etc. (Mattos, 1976 citado por Paiva & Gomes, 2001).

O cavaleiro é sempre representado por um fragmento ou por uma parte

da planta que se pretende multiplicar por enxertia, ao passo que o cavalo é,

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geralmente, representado por uma planta jovem, proveniente de semente ou de

estaca, bem rústica e resistente às pragas e doenças (César, 1968 citado por

Paiva & Gomes, 2001).

As enxertias ou plastias podem envolver plantas (cavalo e cavaleiro) da

mesma espécie e recebem o nome de homoplastias, ou serem constituídas por

espécies diferentes, conhecidas por heteroplastias (Gomes, 1987 citado por

Paiva & Gomes, 2001).

Inúmeros são os processos de enxertia, os quais são agrupados em três

categorias distintas: garfagem, borbulhia e encostia (Paiva & Gomes, 2001).

ESTAQUIA:

Dentre os métodos de propagação vegetativa, a estaquia é, ainda, a

técnica de maior viabilidade econômica para o estabelecimento de plantios

clonais, pois permite, a um custo menor, a multiplicação de genótipos

selecionados, em curto período de tempo. Além disso, a estaquia tem a

vantagem de não apresentar o problema de incompatibilidade que ocorre na

enxertia (Paiva & Gomes, 2001).

A propagação vegetativa por estacas consiste em destacar da planta

original um ramo, uma folha ou raiz e colocá-los em um meio adequado para

que se forme um sistema radicular e, ou, desenvolva a parte aérea. As estacas

podem ser retiradas tanto da parte aérea quanto da parte subterrânea da

planta original. Quando retirada da parte aérea, ela pode ser herbácea ou

lenhosa, ao passo que as estacas radiculares são lenhosas (Paiva & Gomes,

2001).

A estaquia caulinar é o método mais difundido e de uso mais comum na

propagação vegetativa por enraizamento (Gomes, 1987 citado por Paiva &

Gomes, 2001). Na propagação por estacas caulinares, obtêm-se segmentos de

ramos que contêm gemas terminais ou laterais, pois o objetivo é que, ao

colocá-los em condições adequadas, produzam raízes adventícias e, em

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conseqüência, plantas independentes (Hartmann e Kester, 1976, citado por

Paiva & Gomes, 2001).

De acordo com Mattos (1976, citado por Paiva & Gomes, 2001), as

estacas lenhosas têm, em geral, a idade de um ano, sendo parcialmente

lignificadas e diferem entre si no formato e nas dimensões, conforme a

categoria. A estaca simples apresenta 20 a 30 cm de comprimento e 0,5 a 1,5

cm de diâmetro, com algumas exceções, como é o caso da figueira, cujas

estacas de um ano têm diâmetro bem maior.

A formação de mudas por estaquia é recomendada em casos de

dificuldade de obtenção de sementes ou com espécies de fácil enraizamento.

As estacas devem ser retiradas de indivíduos sadios, de maturação variável, de

acordo com a espécie, geralmente de dimensões de um lápis. Devem ser

enraizadas em substrato poroso (vermiculita, areia grossa, etc.), mantidas sob

sombreamento de 50%, sempre úmido, irrigando com gotículas finas (Yamazoe

& Vilas Boas, 2003).

Dentre os vários fatores de que depende o enraizamento de estacas,

destacam-se os ambientais, o estado fisiológico, a maturação, o tipo de

propágulo, a sua origem na copa e a época de coleta, que influenciam,

sobretudo, na capacidade e na rapidez do enraizamento (Gomes, 1987 citado

por Paiva & Gomes, 2001). O sucesso, no entanto, depende de fatores internos

(condição fisiológica da planta-mãe, idade da planta-mãe, época do ano, tipo

de estaca) e externos (umidade, temperatura, luz, substrato) (Paiva & Gomes,

2001).

Uma estaca que proporciona bons resultados é constituída de duas a

quatro gemas, na qual são deixadas as folhas, reduzindo-as a cerca de 50% de

sua área foliar (Paiva & Gomes, 2001).

CULTURA DE TECIDOS (MICROPROPAGAÇÃO):

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Esta técnica oferece excelentes possibilidades, tanto para a propagação

comercial como para a técnica auxiliar em programas de melhoramento,

possibilitando, neste último caso, grande economia, além de antecipação, em

décadas, dos resultados finais. Como possibilita a obtenção de grande número

de plantas a partir de poucas matrizes, em curto espaço de tempo e em

reduzida área de laboratório, além de permitir que se projete, com precisão, a

entrega futura de mudas prontas para o plantio, em quantidade e épocas

desejadas. Os aspectos negativos quanto à redução da base genética dos

povoamentos tem sido a preocupação dos silvicultores (Paiva & Gomes, 2001).

Os inconvenientes ou as desvantagens são apenas temporários e se

resumem na inexistência de metodologia para utilização de material adulto,

principalmente de eucalipto, e no custo elevado de construção e manutenção

do laboratório. Todavia, alguns desses inconvenientes já estão sendo

pesquisados (Paiva & Gomes, 2001).

A cultura de tecidos consiste, na realidade, no cultivo de órgãos, tecidos

ou células vegetais em meio nutritivo apropriado, em ambiente asséptico

(Ottoni, 1984 citado por Paiva & Gomes, 2001). Baseia-se no fato, amplamente

aceito, de que qualquer célula do organismo vegetal é totipotente, isto é,

encerra em seu núcleo toda a informação genética necessária à regeneração

de uma planta completa; estando, portanto, apta a dar origem, por si só, a uma

nova planta, quando submetida a condições apropriadas (Teixeira, s.d. citado

por Paiva & Gomes, 2001).

Nesta técnica tem-se a grande vantagem de trabalhar apenas com

células de plantas desejáveis. Estas células, ao serem colocadas em tubos de

ensaio, multiplicam-se com rapidez, formando milhões de outras ou mesmo

milhões de plantas, todas iguais à planta-mãe, ou com modificações em uma

ou mais de suas características, como maior produtividade, maior tolerância à

seca, maior resistência a pragas e doenças e a deficiência minerais do solo,

etc. (Teixeira, 1984 citado por Paiva & Gomes, 2001).

As plantas lenhosas, em geral, apresentam certas dificuldades para

regeneração “in vitro”, em virtude de causas ainda obscuras. Todavia, as

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conquistas neste sentido, nos últimos anos, permitem antever o otimismo a

plena utilização da técnica (Gomes, 1985 citado por Paiva & Gomes, 2001).

2.3.1 – RECIPIENTES / EMBALAGENS

A confecção de recipientes apropriados para a propagação e o

crescimento de plântulas é intensa e ainda incompleta. Basicamente não existe

material disponível que proporcione, simultaneamente, bom desenvolvimento

radicular, e que minimize os danos do transplante e reduza os custos de

produção (Fonseca & Ribeiro, 1998).

Sabe-se que o tipo de recipiente influencia o desenvolvimento das

mudas de essências florestais (Paiva & Gomes, 1995). Dentre os diversos

recipientes utilizados para produção de mudas, os mais utilizados são sacos e

tubetes, ambos de polietileno. Todos os recipientes podem variar no tamanho

quanto à altura e ao diâmetro.

Os sacos plásticos têm sido mais utilizados em face de sua maior

disponibilidade e do menor preço. Além disso, manuseá-lo nos viveiros é

bastante simples e propicia elevado rendimento, no caso de produção de

mudas em grande escala. De acordo com o tamanho do saco plástico a muda

poderá ficar no viveiro por mais tempo. São fabricados com várias dimensões e

apresentam furos na parte inferior para a drenagem da água. Por ocasião do

plantio, o saquinho deve ser completamente removido (Martins et al., 1998). As

dimensões encontradas no mercado variam de 11 cm de largura / 20 cm de

altura até 40 cm de largura / 60 cm de altura (Yamazoe & Vilas Boas, 2003).

Segundo Paiva & Gomes (1995), os sacos plásticos tem superado os

demais recipientes quanto ao rendimento na produção de mudas,

apresentando, porém, desvantagens, como o enovelamento do sistema

radicular, a utilização de grandes áreas do viveiro, o alto custo no transporte

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das mudas para o campo (por causa do volume e do peso) e o baixo

rendimento na operação de plantio (em razão da necessidade de retirar a

embalagem).

Yamazoe & Vilas Boas (2003) ainda afirma que os sacos plásticos

apresentam as seguintes vantagens em relação aos tubetes: possibilitam a

produção de mudas de maiores dimensões; permitem armazenamento das

mudas fora do viveiro por mais tempo; os índices de sobrevivência são maiores

quando as mudas são plantadas sob condições adversas, como em meio a

gramíneas de porte alto (braquiária, colonião, etc.) e em solos compactados ou

degradados, apresentam maior retenção de água, resistindo por um período

maior de estiagem e menor investimento na instalação do viveiro.

Os mesmos autores apresentam como desvantagens dos sacos

plásticos em relação aos tubetes: exigência de maior volume de terra e esterco

para seu preenchimento; maior dificuldade para transporte e manuseio;

necessidade de mais espaço e mão-de-obra para enchimento da embalagem,

semeadura, repicagem e manutenção; menor rendimento nas operações de

plantio, especialmente em terrenos de topografia acidentada.

2.3.2 – SUBSTRATOS

A função do substrato é principalmente a de sustentar a planta e

fornecer nutrientes à mesma. Sua composição é de uma parte sólida formada

por partículas minerais e orgânicas e poros ocupados por ar e água (Martins et

al., 1998). O desenvolvimento e a eficiência do sistema radicular são muito

influenciados pela aeração do solo, que depende da quantidade e do tamanho

das partículas que definem a sua textura (Sturion, 1981b citado por Paiva &

Gomes, 1995).

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Um substrato de boa qualidade deve ter baixa densidade, boa

capacidade de absorção de água e nutrientes, boa aeração, drenagem e ser

livre de agentes patógenos e qualquer tipo de corpos estranhos. Dentre os

substratos que podem ser utilizados na produção de mudas de espécies

florestais, os mais comuns são: vermiculita, composto orgânico, moinha de

carvão, terra de subsolo, serragem, acículas de Pinus e turfa (Martins et al.,

1998).

Os substratos devem ter estrutura física rica em argila e matéria

orgânica de modo que haja permeabilidade adequada para troca de nutrientes

e água do solo com a planta sem que ocorra uma lixiviação excessiva dos

nutrientes. Este substrato pode ser produzido pelo próprio viveirista, sendo

utilizado após um peneiramento para semeadura; e bruto para enchimento dos

sacos plásticos. Quando se utilizam tubetes, há grande vantagem no uso do

substrato comercial que, devido à sua textura, facilita o enchimento dos

tubetes, possui uma permeabilidade ideal da água, e é isento de sementes de

ervas daninhas, reduzindo a mão-de-obra.

Para a produção de mudas em sacos plásticos é essencial assegurar o

suprimento regular de substrato, que se compõe de terra e composto orgânico.

Considera-se solo ideal, em termos volumétricos, aquele que apresenta 45%

de fase sólida, 25% de água, 25% de ar e 5% de matéria orgânica (Yamazoe &

Vilas Boas, 2003).

A deficiência de oxigênio no substrato causa, muitas vezes, a

paralisação do crescimento radicular, com injúrias ou morte deste. Essa

deficiência pode ser induzida por inundação, baixa drenagem ou compactação

do substrato (Kramer & Kozlowski, 1960 citados por Fonseca, 1988).

Na zona rural é relativamente fácil a obtenção de terra de boas

qualidades físicas e químicas, podendo-se recorrer à terra de barranco ou

buscar material mais adequado dentro da propriedade. Entretanto, quando se

pretende instalar viveiro próximo ou dentro do perímetro urbano, na falta de

outra fonte é preciso aproveitar terra de bota fora, retirada do local de obras.

Nesse caso é preciso vistoriar a área previamente, rejeitando aquela que

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contenha ervas daninhas, entulho, ou de camadas mais profundas, em geral

pobres e ácidas. O aproveitamento desse material representa dois ganhos do

ponto de vista ambiental: evita-se a extração de solo fértil e dá-se uso nobre à

terra que normalmente iria para o aterro sanitário ou para lixões (Yamazoe &

Vilas Boas, 2003).

Independentemente da origem, deve-se evitar terra muito argilosa que

pode empedrar dentro da embalagem, pois, além de dificultar a drenagem,

causa problemas de aeração e de encharcamento na época das chuvas. A

terra muito arenosa, por outro lado, apresenta boa aeração e drenagem,

porém, não facilita a retenção de água e nutrientes e não dá consistência ao

torrão quando o recipiente for retirado para plantio no campo. Não se

recomenda o uso de terra vegetal retirada debaixo da vegetação arbórea, pois

representa alterações no sub-bosque e agressão ao meio ambiente (Yamazoe

& Vilas Boas, 2003).

A terra de subsolo é bastante utilizada como substrato na produção de

mudas em sacos plásticos. Pode-se utilizá-la também misturada com esterco

de gado, areia, lixo orgânico, etc. Essa terra deve ter uma textura areno-

argilosa e deve ser peneirada (Martins et al., 1998).

A terra de subsolo tem o teor de argila entre 20 a 35%, boa

permeabilidade, consistência, boa aeração e resistência ao manuseio (Paiva &

Gomes, 1995).

O solo deve apresentar propriedades físicas e químicas favoráveis ao

desenvolvimento das plantas, pois, além de suporte, é também fonte de

minerais, água e ar, que são fatores indispensáveis aos seres vivos. As

condições físicas do solo afetam fenômenos de suma importância, quais sejam

a aeração do solo e a movimentação da água. As propriedades físicas do solo

dependem de vários fatores, como o tamanho e a disposição das partículas e o

teor de matéria orgânica (Jorge, 1983 citado por Fonseca, 1988).

A quantidade e o tamanho das partículas dentro do solo definem a

textura, que é uma característica praticamente estável. As frações de areia não

possuem pegajosidade e plasticidade, tendo pouca capacidade de retenção de

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água e nutrientes e, por causa dos poros grandes que separam as suas

partículas, a percolação de água é rápida. Os solos formados de partículas de

areia têm baixa capacidade de retenção de água e nutrientes, mas apresentam

boa aeração (Sturion, 1981b citado por Paiva & Gomes, 1995).

O limo funciona praticamente como micropartícula de areia e, por

possuir maior superfície do que a areia, pode reter mais água (Sturion, 1981 b

citado por Paiva & Gomes, 1995).

A fração de argila dá ao solo a característica de plasticidade e

pegajosidade com a matéria orgânica e com a fração dinâmica do solo,

apresentando alta capacidade de absorção de água e sais solúveis, cedendo

às plantas parte da água e dos nutrientes absorvidos (Carneiro, 1983 citado por

Fonseca, 1988).

Os substratos à base de terra são os mais comuns. O substrato deve ser

bem drenado, conter quantidade suficiente de matéria orgânica e, ou, argila

para reter umidade e nutrientes e ter coesão necessária para a agregação ao

sistema radicular. A condição nutritiva do substrato não é tão importante como

a sua textura, porque é fácil modificá-la por meio de fertilização. Por outro lado,

a acidez é importante (Napier, 1983 citado por Paiva & Gomes, 1995).

O esterco de gado tem: 62,1 de matéria orgânica (M.O.); 18/1 de relação

Carbono/Nitrogênio (C/N); 1,9% de Nitrogênio (N); 1,0 de Anidrido Fosfórico

(P2O5); e 1,6 de Óxido de Potássio (K2O) (Loures, 1983 citado por Paiva &

Gomes, 1995).

O principal valor do esterco não está no fato de ele ser um fornecedor de

nutrientes às plantas, mas, sim, de contribuir para melhorar as condições

físicas, químicas e biológicas do solo (Jorge, 1983 citado por Fonseca, 1988).

O aumento da capacidade de troca catiônica, de retenção de água e de

circulação de ar, a presença de substâncias de crescimento e o aumento da

agregação são mais importantes que os minerais adicionados pelo esterco

bovino (Primavesi, 1982 citado por Fonseca, 1988).

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O valor do esterco como fertilizante depende, sem dúvida, do grau de

decomposição em que se encontra e dos teores que ele apresenta de diversos

elementos essenciais à vida da planta. Essa riqueza em elementos nobres

dependerá, essencialmente, da composição primitiva dos restos orgânicos que

deram origem ao respectivo esterco, dos cuidados com o manejo, durante o

seu curtimento, e da sua aplicação às culturas beneficiadas (Dorofeeff, 1953

citado por Fonseca, 1988).

Na produção de mudas de essências florestais, o esterco bem curtido é

útil em mistura com outros substratos, proporcionando resultados semelhantes

ao do composto orgânico, porém inferiores (Paiva & Gomes, 1995).

2.3.3 - SOMBREAMENTO

A cobertura das mudas com esteiras ou similares foi amplamente

utilizada com o objetivo de controlar a temperatura, umidade e luminosidade,

principalmente quando as mudas eram produzidas em sementeiras, para

posterior repicagem (Paiva & Gomes, 1995). Entretanto, trabalhos recentes têm

demonstrado que o sombreamento em qualquer nível é prejudicial ao

crescimento das mudas, bastando o emprego da cobertura morta sobre as

sementes (Martins et al, 1998).

O sombreamento é empregado hoje apenas quando a produção de

mudas é efetuada por meio de enraizamento de estacas e quando se tratam de

essências nativas do interior da mata, clímaces e ombrófilas. O uso de

sombrites serve a regiões sujeitas a geada ou chuvas de granizo (Martins et al.,

1998).

A intensidade de luz pode ser controlada com muita eficiência em

viveiros. Os viveiros a pleno Sol, que não tem nenhum tipo de sombreamento,

são utilizados com sucesso na produção de mudas de espécies que ocorrem

naturalmente em fisionomias de Cerrado Típico e também podem ser usados

para a produção de mudas de espécies pioneiras de Mata de Galeria (Fonseca

& Ribeiro, 1998).

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Os viveiros sombreados usualmente são cobertos com folhas de

palmeiras ou tela sombrite. As construções com folhas de palmeiras são mais

simples, econômicas e têm a grande vantagem de ajudar no endurecimento

(aclimatização) natural das mudas, devido à secagem e queda gradativa dos

folíolos das folhas da palmeira. No entanto, a desvantagem é que a folhagem

tem de ser renovada anualmente (Fonseca & Ribeiro, 1998).

As coberturas feitas com tela sombrite apresentam grande durabilidade

(quatro a seis anos) e podem ser encontradas em diferentes gradações de

sombreamento (25%, 30%, 50%, 60%, 75%, 80% e 90%). Porém,

obrigatoriamente, as mudas produzidas sob esse tipo de cobertura têm de ser

aclimatizadas antes de serem levadas ao campo. Viveiros com sombreamento

devem ser usados preferencialmente na produção de mudas de espécies

tardias. Logo após o plantio no campo, as mudas, especialmente de espécies

tardias, devem ser cobertas com folhas de palmeiras até a completa

aclimatização e o estabelecimento no ambiente definitivo (Fonseca & Ribeiro,

1998).

Existem vários trabalhos referentes à influência do sombreamento na

produção de mudas de espécies florestais. Entretanto, não foi encontrada

nenhuma referência sobre a influência do sombreamento na produção de

mudas de qualquer tipo de lianas.

2.4 – TESTE DE TETRAZÓLIO

A necessidade de métodos rápidos para estimar ou predizer o

comportamento das sementes tem sido de longa data reconhecida (Delouche

et al., 1976). Um dos métodos mais utilizados atualmente é o Teste de

Viabilidade, mais conhecido como Teste de Tetrazólio.

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A semente é um organismo vivo que, portanto, respira, liberando íons de

hidrogênio. O sal de 2, 3, 5 trifeniltetrazólio, ou simplesmente, tetrazólio (TZ) é

um pó branco que quando posto em solução aquosa em contato com os

tecidos da semente reage com os íons de hidrogênio resultantes da respiração

formando uma substância denominada de FORMAZAN que apresenta

coloração vermelha (Rodrigues & Santos, 1988).

Teoricamente, os tecidos sadios da semente colorem-se de vermelho

com a ação do sal de tetrazólio. No entanto, muitos fatores atuam para

influenciar na coloração obtida e na velocidade da reação. Esses fatores são:

Integridade dos tecidos; Concentração da solução; Grau de deterioração da

semente (tecidos mortos, mas não deteriorados, não respiram e, portanto,

mantém, no teste de tetrazólio, sua cor inalterada, não reagindo com o sal); O

pH da solução; Temperatura; e Pressão atmosférica (Grabe, 1959, Metzer,

1960 e Shuel, 1948 citados por Delouche et al., 1976; Rodrigues & Santos,

1988).

A solução é preparada diluindo-se o sal em água destilada com pH

neutro (6,5 a 7,0), devendo ser mantida em recipiente escuro em local de

temperatura amena e constante. A luz afeta a solução tornado-a vermelha ou

rósea (Rodrigues & Santos, 1988). O preparo de solução é feito da seguinte

forma (Delouche et al., 1976):

• Solução a 0,1%: um grama de tetrazólio em 1.000 ml de água;

• Solução a 0,5%: cinco gramas de tetrazólio em 1.000 ml de água;

• Solução a 1,0%: dez gramas de tetrazólio em 1.000 ml de água.

Segundo Zappia (1979), a quantidade ideal de sementes é de quatro

repetições de 100 sementes cada. No entanto, como é comum em sementes

florestais a obtenção de poucas sementes, este número pode ser reduzido:

• 2 X 100: permite uma boa estimativa da viabilidade;

• 2 X 50 ou 1 X 100: ainda é possível obter informações confiáveis;

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• 1 X 50: permite apenas uma estimativa aproximada da viabilidade da

semente.

É desejável e freqüentemente necessário, pré-condicionar as sementes,

antes de prepará-las para o teste de tetrazólio (Delouche et al., 1976). As

sementes podem ser pré-condicionadas permanecendo embebidas em água

ou em substrato umedecido, à temperatura de 30ºC por um determinado

período de tempo, que é variável. Esta prática visa não só permitir o corte ou

retirada do tegumento, como também favorece o aumento da taxa de

respiração da semente. A embebição deve ser efetuada em meio úmido, de

preferência em papel mata-borrão umedecido, para evitar uma rápida absorção

da umidade que poderia provocar trincamentos em sementes deterioradas.

(Rodrigues & Santos, 1988).

A velocidade com que o sal de tetrazólio atinge os tecidos das

sementes, colorindo-os, depende do número de barreiras que este encontra. O

preparo da semente nada mais é do que uma prática que visa permitir a rápida,

mas não brusca penetração do tetrazólio (Rodrigues & Santos, 1988). Existem

diversos métodos gerais para preparar a as sementes para o teste de

tetrazólio. A escolha de um método específico depende do tipo de sementes

que vai ser usado (Delouche et al., 1976).

Os métodos de preparo mais usuais são a punção (furar o tegumento,

recomendado para sementes pequenas); o corte ou seccionamento (utiliza-se a

parte que contem o embrião); e a retirada do tegumento (indicada em

sementes com tegumento impermeável à água) (Rodrigues & Santos, 1988).

2.4.1 – LIMITAÇÕES DO TESTE DE TETRAZÓLIO

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O uso inteligente do teste de tetrazólio requer, pelo menos, o

conhecimento de suas limitações. Segundo Delouche et al. (1976), as

limitações do Teste de Tetrazólio são:

a) Embora os resultados do teste de tetrazólio possam ser obtidos dentro de

um período de tempo relativamente curto, geralmente o teste requer um maior

número total de horas de trabalho por pessoa do que o teste de germinação;

b) Algumas das técnicas e métodos do teste de tetrazólio são extremamente

enfadonhos e requerem tanto paciência, como experiência;

c) Naquelas espécies que possuem sementes duras, o teste de tetrazólio não

indica com precisão as proporções germináveis da amostra; entretanto, os

resultados do teste, corretamente interpretados, devem ser comparáveis ao

total de germinação mais a percentagem de sementes duras;

d) O teste de tetrazólio não diferencia as sementes dormentes (isto é, firmes) e

as não-dormentes. Então, naqueles tipos de sementes que apresentam

dormência profunda, os resultados desse teste são consideravelmente mais

altos do que os de germinação. Nos casos em que é praticada a classificação

das sementes “firmes”, os resultados do teste de tetrazólio devem ser muito

aproximados do total de germinação mais a percentagem de sementes firmes;

e) Danos químicos causados por produtos usados no tratamento das sementes

(fungicidas, inseticidas, fumigantes), geralmente não são revelados no teste de

tetrazólio. As sementes quimicamente danificadas se tornam tão coloridas

como as sementes germináveis;

f) Com o teste de tetrazólio, nem sempre é possível identificar com precisão

danos mecânicos recentes, ou causados por geadas ou calor;

g) Uma vez que o teste de tetrazólio não envolve germinação, os

microorganismos danosos às plântulas germinadas não são identificadas.

Delouche et al. (1976) ainda afirma que, embora possa parecer que o

teste de tetrazólio ofereça muitas limitações para uso generalizado, à

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proporção de lotes de sementes em que alguma das limitações possa se

manifestar é bem pequena.

Segundo Salomão et al. (2003), o teste de TZ apresenta certos

inconvenientes. Não há um manual de referências para leitura do padrão de

coloração de sementes de espécies nativas. Isto dificulta a interpretação de

resultados, e, consequentemente, a quantificação de sementes aptas a

germinar. Outro inconveniente deste teste é que sementes imaturas e viáveis

têm, igualmente, seus tecidos coloridos de vermelho. Neste caso, os resultados

obtidos em teste de germinação serão numericamente inferiores àqueles

obtidos no teste de viabilidade.

2.5 - FAMÍLIA MALPIGHIACEAE

A maioria de representantes é trepadeiras, raramente árvores. Folhas

geralmente inteiras, opostas. Flores reunidas em panículas, em algumas

espécies amarelas, em algumas cor-de-rosa ou arroxeadas. Largamente

distribuídas na América do Sul (Gemtchújnicov, 1976).

Essa é uma das famílias mais comuns na maioria das formações

naturais. Nos cerrados são comuns espécies arbustivas e arbóreas,

principalmente de Byrsonima. Nas dunas litorâneas e bordas de matas de

restinga chamam a atenção espécies de Stigmaphyllon. Os gêneros

Banisteriopsis, Heteropterys e Tetrapterys apresentam um grande número de

espécies e são comuns ao longo de todo o Brasil, especialmente nas bordas de

florestas (Souza & Lorenzi, 2005).

Malpighiaceae é uma família botânica que compreende 71 gêneros

(Lombello & Forni-Martins, 2003) distribuídos nos trópicos, especialmente na

América do Sul. No Brasil, há 38 gêneros e aproximadamente 300 espécies

(Souza & Lorenzi, 2005), com destaque na região Centro-Oeste. O nome foi

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idealizado por L. C. Rich, em homenagem ao botânico e professor italiano

Marcello Malpighi (1628 – 1694).

A família Malpighiaceae tem cerca de 1.250 espécies de árvores,

arbustos, trepadeiras ou ervas, de distribuição pantropical, embora

particularmente abundante nos trópicos (Ramalho, 2003). Nos Neotrópicos, a

família Malpighiaceae possui cerca de 950 espécies distribuídas em 47

gêneros endêmicos (Anderson, 1979). Nesta região, as espécies de

Malpighiaceae ocupam ambientes abertos, tais como cerrados, campos,

margens de rios, florestas pluviais, florestas mesófilas e restingas. Os membros

desta família apresentam grande heterogeneidade de hábito, frutos, pólen e

número cromossômico, porém suas flores possuem arquitetura geral muito

uniforme, o que tem acarretado problemas taxonômicos (Araújo, 1994).

As folhas são simples, pecioladas ou sésseis, opostas, estipuladas,

inteiras, denteadas ou lobadas, com glândulas visíveis a olho nu, presentes na

base do pecíolo e/ou base e borda da folha ou espalhadas pela lâmina foliar

(Attala, 1997). As folhas podem ser glabras ou pilosas, podendo os pêlos ser

persistentes ou caducos, filamentosos ou em forma de “T”. Estes últimos

comumente denominados “pêlos malpighiáceos”, por serem muito freqüentes

na família (Metcalfe & Chalk, 1950).

Os “pêlos malpighiáceos” caracterizam-se por apresentarem dois braços

de tamanhos iguais ou desiguais, mais ou menos horizontais, ligados à planta

por uma haste curta ou longa (Metcalfe & Chalk, 1950). Os pêlos

malpighiáceos, além da forma de “T”, podem ser em forma de “Y” ou com um

dos lados muito maior que o outro (Gates, 1977).

As flores das malpighiáceas são de tamanho mediano, porém

abundantes e reunidas em vistosas inflorescências, e são visitadas por abelhas

e mamangavas. Os frutos de algumas espécies têm finíssimos pêlos que

podem provocar coceira se manuseados (Ramalho, 2003).

O mesofilo é dorsiventral ou isolateral, com parênquima paliçádico

constituído por células altas. Podem ocorrer células armazenadoras de água de

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localização variável; esta variabilidade pode apresentar valor taxonômico em

nível específico. Os feixes vasculares das nervuras podem ou não apresentar

tecido mecânico. É comum a ocorrência de células com inclusões de oxalato

de cálcio na forma de drusas (Metcalfe & Chalk, 1950; Beiguelman, 1962;

Giulietti, 1971).

O pecíolo exibe um feixe vascular central em forma de arco, podendo

ser acompanhado por feixes pequenos e acessórios em posição latero-superior

(Metcalfe & Chalk, 1950).

Nas Malpighiaceae, a inflorescência é, em geral, racemosa, podendo ser

auxiliar em Hiptage, Tetrapteris e Bunchosia, ou terminal em Camarea,

Galphimieae e Byrsoniminae, ocorrendo flores isoladas em algumas espécies

de Malpighia (Niendenzu, 1928a citado por Mamede, 1981). Em Banisteriopsis,

os últimos ramos da inflorescência são racemosos, mas há uma grande

variação entre as espécies quanto ao número de flores dos últimos ramos

(Attala, 1997).

As flores são pentâmeras, hermafroditas, raramente unissexuais. O

cálice é sinsépalo; as sépalas são castanhas ou verdes, excepcionalmente

vermelhas em Diplopterys rósea (Miq.) Nied (Mamede, 1981). As flores são

vistosas. O cálice é pentâmero, geralmente dialissépalo. As pétalas geralmente

são ungüiculadas e com margem franjada, frequentemente uma destas (labelo)

diferente no tamanho, formato ou coloração das demais (Souza & Lorenzi,

2005).

Os gêneros americanos podem ser caracterizados pela presença de

glândulas basais na face dorsal das sépalas. O número de glândulas varia de

seis a oito em Malpighia L., Banisteriopsis (oito), Stigmaphyllon, até dez em

Byrsonima (Mamede, 1981). Os óleos existentes nestas glândulas são

componentes essenciais da dieta larvária das abelhas da família Anthophoridae

(Sazima & Sazima, 1989 citado por Araújo, 1994).

O androceu é formado por dez estames. Nos gêneros considerados

mais primitivos, os estames são do mesmo tamanho, enquanto que nos mais

evoluídos, os estames do verticilo interno são mais longos e com filetes mais

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grossos ou, como em Mascagniinae e Banisteriinae, pode ocorrer redução no

número de estames, com presença de estaminódios (Arechavaleta, 1900;

Mamede, 1981). Os estames são livres ou ocasionalmente unidos na base

(Souza & Lorenzi, 2005).

O gineceu é tricarpelar, sendo raramente bicarpelar, por aborto de um

dos lóculos. Os estiletes são livres entre si, exceto em algumas espécies de

Bunchosia, e podem ser longos e delgados ou curtos e espessados (Mamede,

1981).

Nas Gaudichaudioideae, o fruto é seco, indeiscente e alado, com duas

asas dorsais em Heteropterys, Banisteriopsis, Peixotoa e Stigmaphyllon, duas

asas laterais em Mascagnia e Hiraea ou quatro asas em forma de X em

Tetrapteris. Nas Malpighioideae, pode ser do tipo cápsula deiscente em

Spachea e Galphimia, tricoca indeiscente em Tryallis, drupa em Malpighia,

Byrsonima e Bunchosia, ou noz em Dicella, Glandonia e Burdachia (Mamede,

1981).

Há destaque econômico às drupas da Acerola (Malpighia emarginata),

com alto teor de vitamina C. Há muitas plantas ornamentais, principalmente

dos gêneros Byrsonima, Galphimia, Malpighia e Stigmaphyllon (Watson &

Dallwitz, 1992), Peixotoa e Banisteriopsis (Lorenzi & Souza, 1999, citados por

Lombello & Forni-Martins, 2003).

As Malpighiaceae são conhecidas pelas suas propriedades alimentícias,

tânicas, medicinais e tóxicas (Attala, 1997). Banisteriopsis caapi possui o

alcalóide banisterina (semelhante à harmina encontrado nas Rutaceae). As

cascas da maioria das espécies de Byrsonima, ricas em tanino, são

amplamente empregadas no curtume de peles de animais (Pereira, 1953). No

Planalto Central Brasileiro utiliza-se a casca de Byrsonima crassa Nied. para

esse mesmo fim (Hermans, 1978 citado por Mamede, 1981).

Os frutos maduros de B. crassifolia e de outras espécies de “murici” são

empregados no México como condimentos para sopas e ensopados. Frutos de

diversas outras espécies de Byrsonima são empregados na fabricação de

bebidas, refrigerantes e de doces, especialmente nas regiões Norte e Nordeste

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do Brasil (Pereira, 1953). Também utilizado no Centro-Oeste na fabricação de

licores regionais, frequentemente comercializados (Rizzo, 1998 citado por

Attala, 1997).

No Distrito Federal ocorrem 65 espécies de Malphighiaceae (Ramalho,

2003).

2.5.1 – GÊNERO Banisteriopsis

Todas as espécies de Banisteriopsis são lenhosas. As seções novas de

tronco, ou das partes dos arbustos que são renovadas anualmente, têm a

medula composta de parênquima cilíndrico, cercado por um anel completo de

xilema e de floema. Na borda interna do xilema, numerosos pontos do xilema

primário são frequentemente visíveis, e em partes muito novas as posições dos

pacotes vasculares, originalmente discretos, podem ser detectadas (Gates,

1977).

No gênero Banisteriopsis C. B. Robinson ex Small, as glândulas visíveis

presentes nas folhas estão localizadas no ápice do pecíolo, base, borda ou

espalhadas pela lâmina foliar (Ramalho, 2003). As glândulas foliares estão

presentes em todas as espécies de Banisteriopsis; algumas vezes estão

restritas ao pecíolo (por exemplo, B. nitrosiodora, B. heterostyla), mas

usualmente estão na lâmina foliar. As glândulas na lâmina são marginais, ou

concentradas na parte abaxial da folha. As glândulas marginais quando

presentes são, em geral, uniformemente distribuídas ao longo da margem (às

vezes com o par basal mais largo), ou concentradas no ápice da folha (Gates,

1977).

Janzen (1966, citado por Gates, 1977) sugeriu que a secreção das

glândulas foliares tem o propósito de atrair formigas para a planta,

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desencorajando desse modo a predação. Gates (1977) observou em campo

que há pouca herbívora de folhas ou de botões de flores.

O cálice é sempre pentâmero. Em B. caapi, B. muricata, B. parviflora e

B. martiniana o cálice apresenta formas com glândulas e sem glândulas na

mesma espécie, o que sugere que as glândulas não têm função como atrativo

para os polinizadores dessas espécies (Gates, 1977).

Em todas as espécies de Banisteriopsis, exceto B. laevifolia e B.

leiocarpa, a pétala posterior é diferente das outras quatro pétalas; usualmente

a pétala posterior fica ereta e age como uma ‘bandeira’ para atrair e orientar

insetos polinizadores, enquanto que as outras pétalas são recurvadas entre as

sépalas e são orientadas em noventa graus ou mais da linha central da flor. As

pétalas em Banisteriopsis podem ser brancas, rosas ou amarelas (Gates,

1977).

Sempre há dez estames férteis em Banisteriopsis, consistindo de dois

conjuntos opostos às pétalas e sépalas respectivamente (Gates, 1977).

O gênero Banisteriopsis é um dos mais abundantes e difundidos entre

os gêneros de Malpighiaceae. A mais recente monografia do gênero, feita por

Gates (1982), reconhece 92 espécies. Este gênero sempre apresentou

dificuldades para os taxonomistas em virtude da variabilidade morfológica das

plantas, sinonímia das espécies e problemas nomenclaturais do próprio gênero

(Gates, 1982; Makino-Watanabe, 1993). Muitas variações ocorrem dentro

de uma espécie, ou até mesmo dentro de um indivíduo (Gates, 1977).

Sobre o gênero Banisteriopsis, Gates (1977) afirma que é inteiramente

distribuído no “Novo Mundo”. Poucas espécies ocorrem no México e Argentina,

mas a maioria é restrita aos trópicos, com a grande maioria no Brasil. Gates

(1977) ainda afirma que a maioria das espécies cresce exclusivamente na

região do Planalto Central do Brasil, no Cerrado, sendo poucas na Floresta

Amazônica e na Mata Atlântica.

A espécie Banisteriopsis caapi é dicotiledônea, Angiosperma, tendo sua

classificação botânica completa apresentada pela Tabela 1.

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Tabela 1 - Classificação botânica de Banisteriopsis

caapi

Reino: Plantae

Sub-reino: Tracheobionta

Superdivisão: Spermatophyta Divisão: Magnoliophyta

Classe: Magnoliopsida Subclasse: Rosidae Super-ordem: Geranianae

Ordem: Polygalales (Malpighiales)

Família: Malpighiaceae Subfamília: Gaudichaudioideae

Gênero: Banisteriopsis C. B. Robins ex Small

Espécie: Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb) Morton

Segundo Couto (1989), em relação ao descobrimento desta espécie, em

1852, Spruce afirmou:

“Havia quase uma dezena de plantas adultas de

caapi trepando pelas árvores ao longo da roça

(parcela cultivada) e várias outras menores.

Afortunadamente, estavam florescendo e tinham

frutos jovens. Com surpresa, vi que pertenciam à

família Malpighiaceae e ao gênero Banisteria, pelo

que deduzi que se tratava de uma nova espécie não

descrita, portanto, chamei-a de Banisteria caapi.”

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A Banisteria caapi do botânico inglês Richard Spruce foi re-classificada

como Banisteriopsis caapi pelo taxonomista Morton em 1931. A área de

distribuição tem limites definidos, sendo a floresta amazônica o centro de

dispersão dessa espécie (Lima, 2004).

Devido à grande variedade dentro das espécies e às poucas pesquisas

existentes sobre cipós, as variações de B. caapi são conhecidas apenas pelo

nome vulgar, sendo todas descritas botanicamente com o mesmo nome.

Dentre as variações têm-se Ourinho, Cabi, Quebrador, Tucunacá e Caupuri.

Banisteriopsis caapi é uma liana inchada nas juntas. Folhas opostas,

21,3 x 11 (cm), ovais acuminadas, apiculadas – agudas, finas, lisas na parte

superior, pilosas na parte inferior, panículas axilares ou umbelas. Pedicelos

pilosos, brácteas somente a base, cálice com cinco pétalas partidas,

segmentos ligulados, glandular ou somente com glândulas rudimentares.

Possui cinco pétalas longas e afinadas (Figuras 6 e 7). Lâminas pentagonais,

fimbriadas e clavadas. Estames no número de 10, desiguais, anteras

arredondadas. Com três estiletes, subulados; estigmas captados. Cápsulas

muricato-cristadas, prolongadas em um lado numa semi-obovada asa branco-

esverdeada (Spruce, 1970 citado por Vinha, 2005).

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Fig

ura 6 - Filotaxia, flor e semente de B. caapi

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56

Figura 7 - Exsicata de B. caapi do herbário da UnB

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2.6 – AMAZÔNIA X CERRADO

Em território brasileiro, os ecossistemas amazônicos ocupam uma

superfície de 368.989.221 ha, abrangendo os estados do Acre, Amapá,

Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e pequena parte dos estados do

Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. A Amazônia é reconhecida como a maior

floresta tropical existente, o equivalente a ⅓ das reservas de florestas tropicais

úmidas e o maior banco genético do planeta. Contém 1/5 da disponibilidade

mundial de água doce e um patrimônio mineral não mensurado (Arruda, 2001).

A área nuclear ou core do Cerrado está distribuída, principalmente, pelo

Planalto Central Brasileiro, nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul, parte de Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal,

abrangendo 196.776.853 ha. Há outras áreas de Cerrado, chamadas

periféricas ou ecótonos, que são transições com os biomas Amazônia, Mata

Atlântica e Caatinga (Arruda, 2001).

Na Amazônia, a grande diversidade geológica, aliada ao relevo

diferenciado, resultou na formação das mais variadas classes de solo, sob a

influência das grandes temperaturas e precipitações, características do clima

equatorial quente superúmido e úmido. Contudo, a fertilidade natural dos solos

é baixa, em contraste com a exuberância das florestas ombrófilas (úmidas) que

nelas se desenvolvem (Arruda, 2001).

A típica vegetação que ocorre no Cerrado possui seus troncos tortuosos,

de baixo porte, ramos retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. Os

estudos efetuados consideram que a vegetação nativa do Cerrado não

apresenta essa característica pela falta de água – pois, ali se encontra uma

grande e densa rede hídrica – mas sim, devido a outros fatores edáficos, como

o desequilíbrio no teor de micronutrientes, a exemplo do alumínio (Arruda,

2001).

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O Cerrado pertence ao bioma das savanas. Nas savanas, devido à

distribuição esparsa de árvores, o solo é geralmente bem iluminado, e ervas

perenes (em sua maioria gramínea) são comuns. Plantas com órgãos

subterrâneos espessos, que são capazes de resistir a queimadas periódicas,

são abundantes (Raven et al., 1992).

A riqueza da biodiversidade da Amazônia e o seu delicado equilíbrio

ecológico, aliados ao grande valor econômico de seus recursos naturais,

exigem da sociedade, tanto nacional como mundial, uma nova consciência em

direção ao desenvolvimento sustentável. Este é o grande desafio da Amazônia

que, apesar das várias experiências desenvolvidas nesse sentido, continua

uma incógnita para a ciência no horizonte futuro. Os instrumentos de

conservação da natureza, presentes na Amazônia, são: o manejo de

ecossistemas, as unidades de conservação e o estudo e a preservação de

espécies da fauna e flora (Arruda, 2001).

Uma razão para a rapidez com a qual as florestas tropicais se

desintegram sob pressão humana tem a ver com a natureza dos solos

tropicais. Muitos destes solos estão condicionados a altas e constantes

temperaturas, precipitações abundantes, sendo relativamente inférteis. Grande

parte de muitos dos nutrientes minerais está localizada nas próprias plantas,

não no solo (que é o caso em muitas comunidades temperadas). Mais da

metade dos solos dos trópicos é ácida e deficiente em cálcio, fósforo, potássio,

magnésio e outros nutrientes (Raven et al., 1992).

Além disso, o fósforo em tais solos tende a se combinar com o ferro ou o

alumínio para formar compostos insolúveis que não são disponíveis para o

crescimento da planta, e os solos frequentemente apresentam níveis tóxicos de

íons de alumínio. As raízes tendem a se expandir em uma fina camada com

não mais de uns poucos centímetros de profundidade, e elas rapidamente

transferem os nutrientes liberados pela decomposição das folhas e ramos

caídos de volta para as plantas vivas. Abaixo desta fina camada superior do

solo, a qual é facilmente destruída durante o processo de remoção das árvores,

não existe virtualmente matéria orgânica. Apesar destas razões, as florestas

tropicais do mundo estão sendo derrubadas e queimadas em uma taxa

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crescente, principalmente para produzir campos que se tornam completamente

inúteis para a agricultura em poucos anos (Raven et al., 1992).

Atualmente, o Cerrado, por estar localizado numa região próxima aos

grandes centros industriais, e por ocorrer em superfície relativamente plana

com solos melhores que os da Amazônia (Mittermeier et al., 1992 citado por

Rezende, 1998), apresenta as maiores taxas e o mais rápido processo de

expansão de fronteiras agrícolas do país, atraindo grande parte da

agroindústria nacional (Rezende, 1998).

2.7 – Banisteriopsis caapi: USOS

O processo de destruição da natureza, vigente no Brasil, criou a

obrigação de conservar espécies vegetais, animais e ecossistemas ameaçados

de extinção para garantir a sobrevivência de sua beleza e importância científica

(Marx, 1987a citado por Rocha, 1995).

Áreas verdes, ruas e praças arborizadas em locais urbanos apenas

recentemente adquiriram relevância no mundo ocidental (Salatino, 2001). A

consolidação dos núcleos urbanos traz consigo, no geral, a predominância do

ambiente construído sobre a paisagem natural, avançando no distanciamento

entre estes dois pólos na medida direta do crescimento das cidades. A

eliminação de áreas verdes naturais em contraposição à concentração de

edificações e outros elementos geradores de poluição, resulta em um ambiente

árido e agressivo, adverso à boa qualidade de vida desejada nos centros

urbanos. Como medida saneadora cresce a demanda pela necessidade de

implantação de áreas verdes (MMA/SUFRAMA/SEBRAE/GTA, 1998).

Daí surge uma das possibilidades de uso da espécie estudada

Banisteriopsis caapi. Além do uso paisagístico, pode-se usar a espécie para

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recuperação de ambientes degradados e, em sua maior utilização, para

confeccionar a bebida de origem indígena Ayahuasca.

Hoehne (1939) refere ao emprego da bebida Ayahuasca no tratamento

da doença de Parkinson e na cura da malária. Santos (2004) cita vários outros

tratamentos possíveis como nos casos de doença de chagas (Trypanosoma

cruzii), terapia para adicção (abuso de álcool, tabaco, anfetamina, etc.),

depressão e ansiedade, câncer, entre outros.

No caso de plantas empregadas como misturas ao B. caapi para a

preparação da Ayahuasca, Ott (1994, citado por Santos, 2004) cita 97 espécies

de 39 famílias diferentes, e as divide em três categorias:

a) Não necessariamente psicoativas e presumidamente com valor terapêutico.

Como exemplos, temos as seguintes plantas com recentes propriedades anti-

reumáticas: Achornea castaneifolia; Brunfelsia grandiflora; Mansoa allicea.

b) Estimulantes. Como exemplos, temos: Illex guayusa que contém 7,6% de

cafeína; Paullinia voco, também possui cafeína; Erythroxylum coca var. ipadú

que contém cocaína.

c) Enteógenas, subdivididas em quatro grupos:

c.1 - Nicotiana (nicotina);

c.2 - Brugmansia (alcalóides tropanos);

c.3 - Brunfelsia (escopoletina);

c.4 - Psychotria viridis (mais detalhes no item sobre Ayahuasca)

Page 61: Propagação vegetativa e estabelecimento em cerrado de

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2.7.1 - PAISAGISMO

As plantas ornamentais distinguem-se pelo florescimento, pela forma ou

colorido das folhas e pela forma e aspecto geral da planta. Preenchem os

espaços livres e adaptam-se a recipientes de enfeite, estabelecendo no mundo

moderno o contato mínimo possível do homem com a natureza (Lorenzi &

Souza, 1995).

O emprego de plantas ornamentais com o intuito paisagístico vem, com

o passar dos anos, aliando-se a aspectos funcionais da utilização desta mesma

vegetação com múltiplos objetivos. À arte do belo, à estética e à forma, agrega-

se o aspecto funcional no qual o foco vem a ser a melhoria da qualidade de

vida (Neto & Angelis, 1999). As intervenções paisagísticas devem entre outros

efeitos, representar a possibilidade de conciliação entre os objetivos da

intervenção antrópica e os da preservação da biodiversidade (Chacel, 1992

citado por Rocha, 1995).

Paisagismo é um termo genérico no Brasil, e costuma ser utilizado para

designar as diversas escalas e formas de ação e estudo sobre a paisagem, que

podem variar do simples procedimento de plantio de um jardim até o processo

de concepção de projetos completos de arquitetura paisagística como parques

ou praças (Macedo, 1999).

O paisagismo é caracterizado pela importância que possuem os espaços

criados através da manipulação de elementos naturais, especialmente a

vegetação, e o processo de organização intencional do espaço é estabelecido

por diversos critérios, entre os quais se destacam os estéticos (Godinho, 1995).

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Devido ao crescimento desordenado dos grandes centros urbanos, os

habitantes carecem de uma reconciliação com a natureza e, para tal,

introduzem áreas verdes nos espaços disponíveis entre as construções, numa

tentativa de recomposição da paisagem. Deste modo a ação paisagística

destaca-se como fator imprescindível e fundamental para o conforto das

populações urbanas (Barbosa, 1989 citado por Godinho, 1995).

O objetivo principal do paisagismo é integrar o Homem à natureza,

facultando-lhe melhores condições de vida pela manutenção do equilíbrio com

o meio ambiente (Barbosa, 1989 citado por Godinho, 1995).

Marx (1987) conceitua o jardim como sendo uma adequação do meio

ecológico para atender às exigências naturais da civilização, o qual pode e

deve ser um meio de conscientização de uma existência na medida verdadeira

do homem, do que significa estar vivo. É um exemplo da coexistência pacífica

das várias espécies, lugar de respeito pela natureza e pelo outro, pelo

diferente: o jardim é, em suma, um instrumento de prazer e um meio de

educação.

A missão social do paisagista tem esse lado pedagógico de fazer

comunicar às multidões o sentimento de apreço e compreensão dos valores da

natureza através do contato com o jardim e o parque (Marx, 1987). Somente

através de uma prática paisagística consciente poder-se-á contar com um

ambiente urbano ao mesmo tempo agradável e eficiente, que respeite tanto o

Homem como a natureza (Bonametti, 2003).

As trepadeiras estão entre as plantas mais versáteis para uso

paisagístico, podendo ser associadas a árvores ou treliças. Podem ser

utilizadas para disfarçar vistas pouco apresentáveis, prover isolamento em

pátios, emprestar caráter a paredes de pedra, tijolo ou estuque, quebrar a

monotonia de cercas longas, acentuar ou suavizar detalhes arquitetônicos, ou

ainda como forração (Westerfield, 2000). O grupo das trepadeiras possibilita

uma grande variedade de usos em paisagismo como: cobertura de pérgulas e

caramanchões (Figura 8), cercas e alambrados (Figura 9), treliças,

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revestimento de paredes e muros (Figura 10), coroamento de muros (Figura

11) e até mesmo em vasos como plantas de interior (Ramalho, 2003).

Figura 8 - B. caapi no uso de cobertura de portal

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Figura 9 - Uso de liana para cobertura em alambrado

Figura 10 - B. caapi no uso de revestimento de muros

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Figura 11 - Uso de liana para coroamento de muros

Plantas trepadeiras podem ter um impacto significativo no clima dentro

de uma edificação. Por exemplo, a temperatura do ar de uma casa coberta por

trepadeiras é muito mais baixa que uma casa idêntica sem trepadeiras

(Kristifferson, 1996).

As trepadeiras poderiam ser mais utilizadas em paisagismo,

considerando-se sua habilidade para crescer em um espaço limitado, além de

seu crescimento acelerado proporcionar, de uma forma eficaz, resultados na

folhagem e na floração, produzindo sombra e flores onde esses dois fatores

são desejados e essenciais ao projeto paisagístico (Ramalho,2003).

Backes (1996) classifica a utilização paisagística das trepadeiras em

dois tipos básicos:

1) Uso ornamental urbano: em jardins, praças, parques e demais ambientes

urbanos passíveis de tratamento paisagístico;

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2) Em projetos de recuperação de ambiente degradados, como beiras de

estradas, áreas mineradas, urbanizações inadequadas, áreas agrícolas, aterros

sanitários, etc.

2.7.2 – RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Na recuperação de ecossistemas florestais degradados, a tendência

atual é a de criar desde o começo do processo de recuperação, um bosque rico

em espécies nativas, em geral escolhidas de acordo com suas aptidões

ecológicas e seu potencial em atrair a fauna de dispersores de sementes que,

vindo de áreas vizinhas, podem trazer novas sementes e acelerar o processo

de recuperação local (Rodrigues & Gandolfi, 1996). Os cipós são um

componente natural das florestas, e essa forma de vida pode representar, em

muitos casos, uma riqueza de espécies ainda maior do que aquela encontrada

para o componente arbustivo-arbóreo (Morellato, 1996 citado por Rodrigues &

Gandolfi, 1996).

A legislação ambiental brasileira determina a elaboração de projetos de

recuperação ambiental e paisagística para as ações antrópicas potencialmente

degradadoras da paisagem e do meio ambiente, utilizando-se espécies nativas

(Ramalho, 2003).

Backes (1996) ressalta características que tornam as trepadeiras

promissoras para a utilização em ambientes degradados como: crescimento

vigoroso; rusticidade suficiente para ocorrerem em ambientes pouco a muito

alterados; estruturas de fixação que se adere a vários tipos de substratos como

solos, pedras, troncos, paredes, etc.; e ainda pela capacidade de crescerem e

se desenvolverem satisfatoriamente em locais de solos profundamente

alterados ou em “nichos edáficos” bastante reduzidos, economizando custo de

recuperação de solos.

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2.7.3 – USO TERAPÊUTICO

O uso de psicodélicos11 ampliou o seu sentido a partir de Humphrey

Osmond, quem, segundo Leary (1989), cunhou a palavra a partir do uso do

LSD12 em trabalhos psicoterápicos na Universidade de Saskatchevan,

impressionado pelo seu poderoso efeito de fazer manifestar conteúdos

psíquicos reprimidos, realidades internas e insights profundos nos pacientes

(Medeiros, 1999).

A história dos psicodélicos é a história de sua adaptação aos interesses

humanos, tão variáveis através dos tempos. Quando a magia absorveu esses

interesses, a droga teve um uso ritual. Quando o interesse foi filosófico-místico,

pensou-se encontrar nos psicodélicos um benefício, uma conquista de

assombro e revelação (Fontana et al., 1969). Na atualidade, o interesse pelas

substâncias psicoativas centraliza-se principalmente na psicoterapia.

Com o emprego dos alucinógenos, Fontana (1964, citado por Fontana et

al., 1969) aprofundou as suas investigações sobre níveis de insight, fantasias

somáticas, intercâmbio de papéis e modificações na configuração física do

grupo em estudo.

Por se tratar de um psicodélico não sintetizado, o uso do cipó B. caapi,

por meio da bebida Ayahuasca, pode-se mostrar muito mais saudável e tão

eficiente quanto o uso do LSD na psicoterapia individual e de grupo. Entretanto,

não há referência sobre esse uso possível da espécie estudada.

Todavia, encontram-se várias referências sobre o uso terapêutico da

Ayahuasca de uma forma mais natural, sem o intermédio de um terapeuta.

Sendo a própria bebida capaz de promover a cura desejada pelo indivíduo que

11 Das raízes do grego psico + delos (visível, manifesto, evidente). 12 Dietilamida do Ácido Lisérgico.

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a ingere, pouca ou nenhuma interferência mostra-se necessária durante o ritual

de uso da Ayahuasca por parte de outras pessoas, como o Xamã ou o dirigente

responsável.

O uso da Ayahuasca na cura de doenças físicas e espirituais é típico da

cultura cabocla amazônica de certas regiões, e a bebida também é muito

conhecida por facilitar o processo de parto (Monteiro, 2004).

Mas é em plena selva da Amazônia peruana que se encontra um dos

modelos de trabalho com a Ayahuasca que parece ser uma de suas principais

missões nesta era: na cura de viciados em drogas pesadas. Trata-se do Centro

Takiwasi13 de reabilitação para toxicômanos, dirigido pelo médico Jaques

Mabit, que junta alopatia e medicina indígena (Ayahuasca) no tratamento de

dependentes de drogas como heroína, cocaína e outras, pioneiro nessa linha

de tratamento.

Mabit participa do Conselho Interamericano Sobre Espiritualidade

Indígena, uma entidade criada em 1996 no México, e mobilizada em defesa

dos valores espirituais e das medicinas nativas dos povos indígenas. Com o

centro Takiwasi, seu objetivo geral é revalorizar os recursos humanos e

naturais das medicinas tradicionais e elaborar uma verdadeira alternativa

terapêutica perante as toxicomanias.

Na Floresta Nacional do Purus, na divisa do Amazonas com o Acre,

funciona o Ideaa14 (Instituto de Etnopsicologia Amazônica Aplicada), há três

anos15. Nele, uma equipe formada por um psiquiatra, um antropólogo e cinco

psicólogos, entre outros colaboradores (quase todos estrangeiros), desenvolve

um projeto cuja proposta é usar as técnicas da “medicina da floresta” para

curar doenças.

O psiquiatra espanhol Jose Maria Fabregas é um dos idealizadores do

instituto. Em parceria com a Universidade de Madrid, ele realizou um estudo

13 Para maiores informações sobre o Centro Takiwasi, consultar: http://www.takiwasi.com/ 14 Para maiores informações sobre o Instituto Ideaa, consultar: http://www.ideaa.org/ 15 Idealizado em Belo Horizonte no ano de 2000, o Ideaa é transferido para a Amazônia em 2002.

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comparativo entre usuários regulares e não-usuários de Ayahuasca, publicado

na Europa em Dezembro de 2005.

O psiquiatra defende a utilização médica da substância, dizendo que "é

um expansor de consciência que incrementa a capacidade de olhar para si

mesmo e de seguir adiante, de rever a vida sob novas perspectivas. Dessa

forma, ajuda nos diagnósticos de estresse pós-traumático. Pode auxiliar, por

exemplo, a superar episódios de maus-tratos ou de abuso sexual, libertando a

vítima de bloqueios emocionais".

As instalações do instituto têm capacidade para receber doze hóspedes

por vez. Fabregas conta que o instituto recebe basicamente dois grupos de

pessoas. O primeiro deles está em busca de autoconhecimento. O segundo é

formado por dependentes de entorpecentes como cocaína e crack que querem

se livrar do vício. A estada mínima recomendada pela equipe é de um mês

para os que querem apenas se conhecer melhor, e de três meses para os que

vão com o objetivo de se desintoxicar.

Os internos são imersos numa miscelânea de técnicas que passa pelo

uso regular da ayahuasca e por aplicações da vacina do sapo16 combinados a

sessões de ioga, pilates e meditação. A medicina convencional não é

descartada. Se necessários remédios convencionais são utilizados.

Segundo Sangirardi (1983), a liana B. caapi é apontada como possuindo

virtudes terapêuticas. O autor fala de seu uso visando à cura de certas

paralisias, da epilepsia, do parkinsonismo, de moléstias nervosas em geral.

Ainda relata que, em Úmbria, várias pessoas de educação haviam tomado o

yajé preparado pelos selvagens para combater a malária. Essas pessoas

asseguraram que haviam ficado completamente curadas com três doses (cerca

de 150 ml cada) e que, durante vários anos, jamais tiveram malária.

Maiores explicações sobre os possíveis usos da Ayahuasca são

encontradas no próximo item do presente trabalho.

16 Também conhecida como Kambô.

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2.8 – AYAHUASCA

No século passado, com o ciclo da borracha na década de 1920, além

do consumo da mistura entre as populações indígenas, várias igrejas adotaram

o uso ritual da Ayahuasca, especialmente no Brasil, onde os efeitos psicoativos

são acoplados a conceitos das doutrinas Judaica, Cristã, Africana, entre outras.

Os principais grupos deste módulo atualmente incluem o Centro Espírita

Beneficente União do Vegetal (CEBUDV); o Centro Eclético da Fluente Luz

Universal Raimundo Irineu Serra (CEFLURIS); a Barquinha; o Centro de

Iluminação Cristão Luz Universal (CICLU); e o Centro de Cultura Cósmica

(CCC) 17.

O primeiro grupo a ser criado foi o CICLU, na década de 40, fundado

pelo maranhense Raimundo Irineu Serra, ou mestre Irineu. Devido ao

falecimento18 do mestre Irineu, surgiram algumas dissidências do CICLU, das

quais a principal é o CEFLURIS, cujo patrono é o padrinho Sebastião Mota de

Melo. A Barquinha foi fundada por volta de 1945 pelo Frei Daniel Pereira de

Matos e, juntamente com as igrejas/centros da linha do mestre Irineu chamam

sua bebida sacramental de Daime, ou Santo Daime.

O grupo com maior número de adeptos é o CEBUDV (mais conhecido

como UDV), fundado pelo mestre baiano José Gabriel da Costa por volta de

1960. Os seguidores dessa doutrina chamam sua bebida sacramental de

Vegetal. O grupo CCC foi fundado pelo mestre Francisco Souza de Almeida em

1990 e caracteriza-se por unificar as bases ritualísticas dos grupos CICLU e

UDV.

O grupo CCC originou outros dois grupos menores que seguem a

mesma linha de trabalho diferenciando em poucos detalhes, chamados

17 Para maiores informações sobre os principais grupos ayahuasqueiros, ver Lima, 2004 e Vieira, 2005.

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“Fraternidade Rosa da Vida, Luz, Paz e Amor” e “Centro de Harmonização

Interior Essência Divina”.

Cada igreja tem seu modo específico de conduzir seus rituais, incluindo

o modo de preparar a bebida. Entretanto, todas pregam a preservação da

natureza, já que o sacramento utilizado é produto direto da floresta amazônica.

Além disso, são comuns ensinamentos e o esforço para que sejam mantidos a

harmonia, a paz e o amor dentro do ambiente das igrejas. A proposta básica

destes e de diversos outros grupos é atingir o autoconhecimento através de

experiências de tipo místico-espiritual, onde por meio de visões e estados de

expansão da consciência chega-se a um estado de integração total com o

cosmos, com a natureza e com o Criador.

Nos rituais, são utilizadas músicas cantadas ao vivo com instrumentos,

chamadas de hinos nas igrejas/centros da linha do mestre Irineu e no CCC; ou

salmos na Barquinha. E, também, utilizam-se cânticos monótonos apenas com

a voz do mestre dirigente na UDV e no CCC, como se fossem espécies de

ícaros19 utilizados pelos xamãs, os quais são chamados de chamadas. Além

das chamadas, a UDV e o CCC utilizam músicas tocadas em aparelhagem de

som, sendo que o CCC utiliza durante metade do tempo do seu ritual, enquanto

a UDV dá preferência para ensinamentos através de perguntas dos discípulos

ao mestre dirigente.

As chamadas são cânticos que servem para “arregimentar as forças”,

podendo evocar o nome de Jesus, de Maria e de um ou outro santo católico

(Sangirardi, 1983).

Ambos os meios utilizados acredita-se, dentro de seus grupos, terem

sido recebidos do plano astral, e não formulados; e, tratam de alertar os

presentes no ritual para a necessidade de cuidar da natureza e de si mesmo,

“tirando os véus da ilusão” (Hino 1 – Anexo 6). Como um dos hinos do mestre

Irineu (Hino 2 – Anexo 6), onde se diz:

18 Os ayahuasqueiros chamam o falecimento de “passagem” (passagem do plano terrestre para o plano astral). Raimundo Irineu Serra fez a passagem no dia 06 de Julho de 1971. 19 Cânticos em castelhano, quéchua e outros idiomas indígenas, que auxiliam a guiar e a equilibrar o ritual.

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Sol, lua, estrela A terra, o vento e o mar É a luz do firmamento É só quem eu devo amar ...

A Virgem Mãe mandou Para mim esta lição Me lembrar de Jesus Cristo Me esquecer da ilusão

Outro exemplo de ensinamentos para a boa conduta é uma das

chamadas da UDV (Chamada 1 – Anexo 7) que diz:

Eu andei muito distante Metido em vaidade Vivi dentro das orgias Julguei ter felicidade Um anjo divino veio Com todo poder na mão Transformando o meu viver Mostrando minha retidão

É comum o erro gramatical em ambos os recursos utilizados, sendo

explicados devido à origem cabocla de suas criações e à crença por parte dos

adeptos atuais que a ordem ou gramática das palavras pode alterar o poder

que os hinos ou as chamadas têm.

Mesmo os xamãs têm recomendações para os rituais com Plantas de

Poder. E, também, assim é com os grupos religiosos usuários de Ayahuasca

em meio urbano. Como exemplo, nas normas de ritual do CEFLURIS, as

principais recomendações para iniciar a sessão espírita, ocasião que os

trabalhos espirituais e de comunhão com a bebida-sacramento é o ponto

máximo, são resumidas em três:

1) Conduta ética coerente com o que a doutrina prescreve em seus hinos;

2) Busca de uma reconciliação interna e com os irmãos, os quais se pode estar

desentendido;

3) Abstinência sexual de três dias antes e três dias depois de cada trabalho.

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2.8.1 – ORIGEM DA AYAHUASCA

A origem da Ayahuasca é cientificamente desconhecida, tendo cada

grupo a sua própria explicação para o surgimento da bebida. Não é possível

datar com exatidão o seu nascimento, entretanto, acredita-se que seu uso na

bacia amazônica acontece desde a Pré-história.

Spruce foi o primeiro a descrever a espécie Banisteriopsis caapi, mas a

primeira descrição da bebida Ayahuasca foi feita, segundo Mors & Zaltzman

(1954), por Villavicencio em 1858.

O objeto mais antigo relacionado ao uso da Ayahuasca, segundo Lima

(2004), é uma taça cerimonial feita de pedra, com ornamentações gravadas,

encontrada na cultura Pastaza da Amazônia equatorial datando de 500 a.C. a

50 a.C. (museu Etnológico da Universidade Central em Quito, Equador). Esta

taça cerimonial comprova que esta bebida psicoativa já era utilizada há pelo

menos 2.055 anos atrás.

Já Naranjo (1979, 1986, citado por Metzner, 2002) afirma que o registro

mais antigo é datado de aproximadamente 2.000 a.C. com aparições de

objetos arqueológicos. Segundo Varella (2005), há relatos esparsos desde o

fim do século XVII sobre a bebida no estudo clássico de Reichel-Dolmatoff, e

não antes.

O uso ritual da Ayahuasca, segundo alguns historiadores e

antropólogos, remonta à época dos Incas, sendo de conhecimento o seu uso

até os dias atuais (Lima, 2004). Existe uma lenda que Hauascar, rei Inca, irmão

de Athaualpa, filho de Inti, que leva o nome da bebida foi um dos grandes

difusores, logo após a conquista espanhola (Alverga, 1995).

Segundo Sá (2001), o uso da Ayahuasca foi condenado pela Santa

Inquisição em 1616, o cerimonial persistiu de forma escondida dos

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dominadores europeus. Os padres jesuítas descreveram o uso de “poções

diabólicas” pelos nativos do Peru no século XVII.

A história moderna da Ayahuasca começa em 1852 quando o botânico

inglês Richard Spruce noticia o uso de bebidas que intoxicam entre os índios

Tukanoan, no Brasil. Estes o convidaram a participar de uma cerimônia que

incluía a infusão que eles chamavam “caapi”.

O uso da Ayahuasca foi descrito por Spruce em 1908 no Brasil da

seguinte forma (Rios, 1972):

“No decorrer da noite, os jovens homens beberam o

Caapi cinco ou seis vezes nos intervalos entre as

danças, mas apenas poucos de cada vez, e muitos

poucos beberam duas vezes. Em dois minutos ou

menos depois de bebê-lo, seu efeito começou a

aparecer. Os índios ficaram muito pálidos, tremores

em cada membro e pavor estavam em seus

aspectos. Repentinamente, os sintomas contrários

se sucederam. Ele explodiu em transpiração e

parecia possuído com uma fúria precipitada, agarrou

qualquer arma que estava à mão, seu “muruou”, seu

arco e flecha... e correu em direção à porta onde ele

infligiu violentos murros no chão, gritando a todo o

tempo ‘isso eu faria em meus inimigos’”.

Calcula-se que o número de pessoas que fazem uso regular da

Ayahuasca, isto é, aproximadamente uma vez por mês, na América do Sul,

excluindo-se as populações indígenas, poderia chegar a 15 mil, isto em 1997

(Luna, 1997 citado por Callaway, 1999). Atualmente, segundo o site oficial do

Santo Daime, esse número chega a 50 mil ayahuasqueiros.

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2.8.2 – RITUAL DE PREPARO OU FEITIO DA AYAHUASCA

Como já descrito, cada igreja tem o seu próprio modo de preparar a

Ayahuasca, diferenciando das formas indígenas. Algumas tribos indígenas

preparam a bebida colocando as duas espécies necessárias juntas banhadas

com água fria. Outras incluem outras espécies vegetais, dependendo da

finalidade do preparo, Ayahuasca de cura, de guerra, de caça, ou de festa.

Apesar de tantas diferenças, existem muitas coisas comuns em todos os

feitios.

Segundo Sangirardi (1983), Spruce registrou o uso de Banisteriopsis

caapi como mastigatório:

“Quando eu estava nas cataratas do Orenoco, em

junho de 1854, encontrei de novo o caapi, com o

mesmo nome, num acampamento dos selvagens

guahíbos, nas savanas de Maypures. Esses índios

não só bebem a infusão, como fazem os do Uapés,

também mascavam pedaços de caule seco, como

algumas pessoas fazem com o tabaco. Soube por

eles que todos os nativos das margens dos rios

Meta, Vichada, Guaviare, Sipapo e de regiões entre

rios menores, têm caapi e usam exatamente da

mesma maneira”.

Do ponto de vista espiritual, o resultado do feitio, a bebida Ayahuasca, é

considerado um sacramento, um veículo para a manifestação do Ser Divino

responsável pela sua luz e efeito espiritual. Já do ponto de vista material, é um

produto florestal, um chá enteógeno sacramental de propriedades psicoativas,

produzido, engarrafado e distribuído sob responsabilidade da Igreja.

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O ritual de preparo da Oaska20 constitui um verdadeiro culto à Natureza

em sua forma mais pura. Todas as etapas do processo, desde a colheita dos

dois vegetais até o engarrafamento do chá, são realizadas com a maior

reverência por parte dos membros da Ordem (Millanez, 2001).

O Daime21 é um concentrado de três matérias naturais: jagube (B.caapi),

rainha (P. viridis) e água. Com essas essências se adquire o precioso líquido,

misterioso, que é o Santo Daime, o qual, uma vez ingerido, manifesta sintomas

nos cinco sentidos de um aparelho material qualquer, que faz a ligação com o

sexto sentido (Gregório, 2003).

Millanez (2001) relata que, no dia marcado para o ritual de preparo de

Ayahuasca, bem cedo pela manhã, inicia-se a colheita dos dois vegetais na

mata. Comungado o Vegetal por todos os participantes, os homens colhem o

mariri (B. caapi), e após raspá-lo, amassam-no e desfiam-no, em um esforçado

e minucioso manuseio. As mulheres colhem as folhas da chacrona (P. viridis) e

as lavam cuidadosamente. Em seguida, o mestre dirigente22 alterna no

caldeirão camadas das duas espécies e derrama sobre elas água límpida. O

fogo completa essa síntese mágica dos quatro elementos que, em uma nítida

relação de união, concederão aos homens o atributo da percepção superior.

Em uma cosmologia própria, a utilização dos quatro elementos na

preparação da Ayahuasca tem grande importância. O cipó representa o

elemento terra; a folha representa o elemento ar; mais a água e o fogo. Esses

elementos estão presentes em teorias esotéricas de diferentes linhas que

analisam o equilíbrio necessário para a obtenção de uma verdadeira harmonia

interior.

O controle do ponto de fervura e o momento de encerrar o cozimento da

bebida-sacramento são etapas que exigem muita concentração e uma certa

experiência do encarregado das panelas.

20 Um dos nomes pelo qual a bebida Ayahuasca é conhecida, principalmente na União do Vegetal. 21 Do verbo “dar”, nome pelo qual a bebida Ayahuasca é conhecida nas igrejas/centros da linha do mestre Irineu.

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Toneladas do cipó são utilizadas (tendo caso de ser usado até cinco

toneladas em um único feitio) (Queiroz, 2004). Segundo Queiroz (2004), o

custo para um feitio é geralmente muito alto, incluindo busca de material na

floresta, preparação de lenha a ser usada nas fornalhas, entre outros.

Para obtenção da bebida sagrada, os núcleos urbanos têm dificuldade

muito maior do que na selva, pois, para quarenta litros de infusão, são

necessários pelo menos 100 quilos de mariri e 50 quilos de rainha (Sangirardi,

1983).

Após a extração da essência das duas espécies, resultando na bebida

Ayahuasca, o material utilizado é devolvido para a natureza para que se

transforme em nutrientes para o solo. Antes disso, o material é utilizado tantas

vezes quantas forem possíveis para que se aproveite ao máximo a sua

essência. Quanto mais encorpado o cipó, maior é o número de vezes que ele

poderá ir ao fogo. Daí surge os graus da bebida, sendo a Ayahuasca de

primeiro grau aquela feita de um cipó que está indo pela primeira vez ao fogo,

de segundo grau, aquele que vai pela segunda vez, e, assim,

consecutivamente.

Cada igreja tem seu método de adicionar os conteúdos espirituais à

bebida durante o seu preparo. Nas igrejas/centros da linha do mestre Irineu, os

hinos são o método utilizado, tendo vários relacionados ao feitio que é

considerado a “universidade” do aprendizado da Ayahuasca. Essas canções

relatam a força dos elementos da natureza presentes nas panelas do feitio,

como no hino abaixo do mestre Irineu (Hino 3 – Anexo 6):

Chamo o cipó Chamo a folha E chamo a água Para unir e vir me amostrar

Ou no hino da madrinha Conceição (Hino 4 – Anexo 6):

Reunidos pro feitio Com respeito e disciplina O amor é o segredo

22 Mestre dirigente é o responsável pela direção do ritual em questão; tendo adquirido o título de mestre devido à grande experiência referente ao chá Ayahuasca e à doutrina da União do Vegetal.

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Que ensina a doutrina O jagube é macerado Pelos homens do Senhor São os soldados bravios Da força superior

Vale ressaltar que os cânticos não são exclusivos para o ritual de

preparação da Ayahuasca, podendo ser cantados durante outros rituais.

Também na UDV, quanto no CCC, existem chamadas que são utilizadas para

trazer força e equilíbrio para a sessão que tratam dos elementos presentes na

confecção da bebida sagrada, como, por exemplo, a chamada da União

(Chamada 2 – Anexo 7):

É o mariri com a chacrona Em união é quem nos conduz É o mariri com a chacrona Os dois unidos é quem nos conduz O mariri nos dá a Força E a chacrona nos dá a Luz

Segundo as NORMAS DE RITUAL DO CEFLURIS: o feitio do Santo

Daime é um dos principais trabalhos dessa Doutrina. Porque, além do feitio

material da bebida sacramental, ele é também uma verdadeira alquimia

espiritual. Por outro lado, deve representar sempre um ponto de encontro e

união de todos os seguimentos da Irmandade em prol da realização do Santo

Daime. A característica principal de um feitio é que o trabalho espiritual interior

e a miração se superponham ao intenso trabalho físico e mental. É necessário

o mais profundo silêncio e atenção no trabalho que está sendo realizado e uma

total disponibilidade às múltiplas tarefas que são exigidas de cada um.

Os trabalhos masculinos são: pesquisa23, corte e transporte do cipó,

coleta das folhas (que também pode ser feita pelas mulheres), raspação,

bateção (Figura 12) e fornalha (Figura 13), que consta de apurador, paneleiros,

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foguista, lenha, água e limpeza. Os trabalhos femininos são: cozinha, limpeza

das folhas, lavagem dos vasilhames. Durante a limpeza das folhas podem ser

apresentados hinários.

Vale ressaltar que a divisão de trabalho por gênero não existe em todas

as igrejas/centros, sendo isso mais evidente nas igrejas/centros seguidoras da

linha do mestre Irineu.

Com algumas diferenças, as igrejas/centros preparam a Ayahuasca

primeiramente cozinhando o cipó B. caapi apenas com água. Em uma nova

panela, coloca-se o líquido do cozimento do cipó; mais cipós macerados que

não foram ao fogo; e as folhas da P. viridis. Do resultado, obtem-se o

sacramento dessas igrejas.

Figura 92 - Bateção do B. caapi na preparação de Ayahuasca

23 Nesse caso, a palavra “pesquisa” refere-se à localização do cipó B. caapi e da folha P. viridis na mata.

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Figura 13 – Cocção de B. caapi na preparação de Ayahuasca

Durante a preparação da Ayahuasca, a bebida é servida. Cada trabalho

deve ser executado numa atitude de vibração mental positiva e dentro de uma

corrente harmoniosa. O despacho24 do Santo Daime é feito em horas

designadas pelo responsável do feitio, que também executa as chamadas e

autoriza a cantar os hinos.

Segundo às NORMAS DE RITUAL DO CEFLURIS, quando são

cantados hinários25 durante a bateção têm que ser puxados na sua cadência.

Durante os trabalhos da folha e nos hinários da boca da fornalha no interior da

casa do feitio as mulheres só podem ter acesso três dias após as suas regras.

É essencial o cuidado na limpeza, higiene e na esterilização de todos os

vasilhames e recipientes empregados no trabalho. O Santo Daime deve ser

enlitrado dentro dessas normas, anotado seu grau, data e lua na qual foi

produzido.

24 Ocasião onde é servido o Santo Daime. 25 Conjunto de hinos recebidos pela mesma pessoa.

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2.8.3 – EFEITOS FÍSICOS, PSÍQUICOS E QUÍMICOS DA

AYAHUASCA

O padre missionário Tastevin (1926, citado por Sangirardi, 1983)

escreveu que os índios crêem francamente em um efeito telepático do yajé.

Tomam o yajé para saber se um doente ficará bom, para ver o futuro, para

informar-se como vai um dos seus que está viajando, etc. Acreditam também

poderem reconhecer, por meio disso, os perigos que os ameaçam.

Em certas tribos, os narcóticos de Banisteriopsis são usados por seus

efeitos excitantes e agradáveis, frequentemente nas bebedeiras coletivas. Em

outros casos, o consumo se restringe aos xamãs ou em conexão com ritos

xamanísticos ou mágico-religiosos. Os xamãs os ingerem para entrar em

comunicação com os espíritos, a fim de descobrir as causas das doenças e

curá-las. E ainda para conhecer o paradeiro dos inimigos, o futuro, a justa

decisão nas disputas, etc. e para enfeitiçar inimigos (Steward, 1963 citado por

Couto, 1989).

Entre outros, incluem nos efeitos físicos e psíquicos da Ayahuasca

(Shultes & Hofmann, 1980):

• Alteração no processo de pensamento, concentração, atenção, memória e

julgamento;

• Alteração na percepção da passagem do tempo;

• Medo de perda do controle e do contato com a realidade;

• Alterações na expressão emocional, variando do êxtase ao desespero;

• Mudanças na percepção corporal;

• Alterações perceptuais atingindo vários sentidos, onde alucinações e

sinestesias são comuns;

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• Mudanças no significado de experiências anteriores (“insights”);

• Sentimentos de rejuvenescimento;

• Hiper sugestionabilidade;

• Sensação da “alma se desprendendo do corpo”;

• Sensação de contato com locais e seres sobrenaturais;

• Náuseas, vômitos e diarréia;

• Aumentos leves da pressão arterial e dos batimentos cardíacos;

• Alteração na coordenação motora.

Há referência, ainda, à audição de zumbidos, formigamento de

extremidades, sudorese e tremores (Shultes & Hofmann, 1980). A explicação

dos efeitos dessas plantas sobre a mente humana é ainda atribuída, entre os

usuários, ao transporte a regiões etéreas, autoconhecimento, aos contatos com

o mundo espiritual, divindades e outras forças (Luna, 1984). Nos rituais

indígenas, os usuários relatam que a bebida “libera a alma de seu

confinamento corporal” (Shultes & Hofmann, 1992).

Alverga (1995) descreve seu contato com a Ayahuasca da seguinte

forma:

“De repente, senti um zumbido progressivo vindo de

trás para frente. Sons de maracás26 vinham e se

confundiam com esse zumbido. Fui me sentindo

aprisionado dentro do som dos maracás. Cada

marcação fazia mexer círculos concentrados de

energia dentro da sala, igual a quando jogamos uma

pedrinha na superfície de um lago. Mal aquela

camada de energia se assentava outro golpe de uns

150 maracás, em uníssono, agitava de novo a

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superfície do lago... Pela primeira vez, Deus tornou-

se uma idéia aceitável e inquestionável para mim.”

É comum entre os ayahuasqueiros de todas as igrejas explicarem que o

cipó (B. caapi) fornece a “força” e a folha (P. viridis) fornece a “luz” (a miração).

Os tecidos do cipó são ricos em alcalóides de beta-carbolina, sendo os mais

importantes a harmina (Figura 14) e a harmalina (Figura 15) 27. Tais alcalóides

inibem uma enzima existente no corpo humano chamada de monoamina

oxidase (MAO), que destrói a n, n-dimetiltriptamina (DMT) (Figura 16).

É interessante notar que a análise de algumas amostras da coleção

original de B. caapi de Spruce indica que o material com antiguidade de 117

anos possui 0,45% dos alcalóides em comparação com os 0,50% de

espécimes recém coletados (Schultes, Holmstedt & Linggren, 1969 citados por

Couto, 1989).

Figura 14 – Harmina

26 Espécie de chocalhos metálicos usados para ritmar os hinos usados nos rituais do Santo Daime. 27 Os alcalóides presentes no B. caapi foram, em 1905, batizados pela cientista alemã Zerda Banom de telepatina (devido à crença de que a bebida teria a capacidade de transportar seres humanos para domínios da experiência onde a telepatia e a clarividência seriam lugares comuns). Verificou-se, em 1923, que os princípios ativos da planta eram a harmina e a harmalina, os mesmos alcalóides presentes nas sementes e raízes da zigofilácea Peganum harmala (Sangirardi, 1983).

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Figura 15 – Harmalina

Figura 16 - N, N–Dimetiltriptamina

A DMT é o princípio ativo da folha que provoca a miração. Se for tomada

sozinha via oral, mesmo em altas doses, ela ficará inativa pela ação da MAO.

Mas quando combinada com os alcalóides do cipó, a DMT fica livre para liberar

seus efeitos psicoativos. Portanto, o cipó mantém as condições à permanência

do princípio ativo da folha no corpo humano.

A miração é a expansão de consciência, o transe provocado pelo chá

enteógeno. São os estados especiais de percepção extra-sensorial,

caracterizados pela maior acuidade visual, por cores intensas, vidências,

contatos telepáticos, visões, pelo estabelecimento de uma relação mais

sensorial com o ambiente, pelo acesso a conteúdos que acentuam o

autoconhecimento e revelam outras dimensões de entendimento, e muito mais.

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Alverga (1996) descreve “miração” como sendo um termo que foi

cunhado na tradição do Santo Daime pelo Mestre Irineu para designar o estado

visionário que a bebida produz. O verbo "mirar" corresponde a olhar,

contemplar. Dele deriva-se o substantivo "mirante", que é um local alto e

isolado onde se pode descortinar uma vasta paisagem. A palavra "miração"

une contemplação mais ação (mira+ação), o que expressa de maneira clara

que o termo foi cunhado por pessoas que eram plenamente conscientes da

viagem do Eu no interior da experiência visionária, característica do êxtase

xamânico.

Existem vários hinos, como os O Daime é (Hino 5 - Anexo 6) e

Juramidam me mandou uma folha (Hino 6 – Anexo 6), que tratam da força e da

luz contidas nessa bebida:

O Daime é: Daime é a força Luz da revelação Que me faz buscar A transformação

Juramidam me mandou uma folha:

Juramidam me mandou o cipó Juramidam me mandou o cipó O cipó é da força A força do Rei Maior

Também chamadas, como a Mariri florando (Chamada 3 – Anexo 7),

traduzem esse sentimento comum dos Ayahuasqueiros:

O mariri florando Esblande burracheira E a chacrona clareando É uma luz verdadeira

No início da década de 90, dezenas de pesquisadores de várias partes

do mundo (EUA, Finlândia, Brasil) reuniram-se em Manaus para estudar,

cientificamente, a Ayahuasca e seus mais diversos aspectos. Deste estudo

(Hoasca Project) surgiram alguns artigos científicos, afirmando a inofensividade

para a saúde da referida bebida (Grob et al., 2004; Callaway et al., 1999;

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McKenna et al., 1998; Andrade et al., 2004, citados por Santos, 2004), os quais

valem ressaltar:

• Diagnósticos psiquiátricos: inexistência de distúrbios psiquiátricos, inclusive

os que caracterizam “vício” (abstinência, tolerância, comportamento de abuso e

perda social);

• Farmacodinâmica/farmacocinética: ensaios quantitativos dos alcalóides

(DMT, THH, harmalina e harmina) em plasma de seres humanos foram

realizados. Neste estudo, um indivíduo de 59 kg, que ingeriu 120 mL de

ayahuasca (o que corresponde, neste caso a um total de 204.0 mg de harmina,

24.0 mg de harmalina, 128.4 mg de THH e 28.8 mg de DMT) e, passadas 6

horas, os níveis de DMT não eram mais detectáveis, e após 8 horas, os demais

alcalóides também apresentaram tal comportamento. Vale a pena dizer que a

harmalina foi detectada em apenas 6 indivíduos dos 15 experimentais, talvez

devido tanto aos baixos níveis desta substância no chá, como das diferenças

individuais na absorção e metabolismo;

• Efeitos fisiológicos: não foram evidenciadas diferenças estatisticamente

significante na contagem de células vermelhas (eritrograma) e células brancas

(leucograma), e também nos níveis séricos de: creatinina, fosfatase alcalina,

colesterol total e fração HDL, transaminase glutâmico-oxalacéticos (TGO),

transaminase glutâmico-pirúvica (TGP), bilirrubina total e frações, sódio,

potássio e cálcio;

Sobre esse mesmo projeto, intitulado em português "Farmacologia

Humana da Hoasca", o Correio Braziliense (1996) escreveu que os testes de

DL50, que estabelecem a dose letal de uma substância e são feitos com

cobaias em laboratório (em geral camundongos), constataram que a DL 50 da

Hoasca é 7,8 litros. A da água é de cerca de 10 litros, a do maracujá é de

aproximadamente 8 litros e a do uísque é de apenas 1 litro.

Outro parâmetro para estabelecer o grau de toxidade de uma substância

é ministrá-la em cinco cobaias em doses de um grama por quilo. Se até os

cinco gramas não causar danos fisiopatológicos, a substância é considerada

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inócua. Com a Hoasca, essa marca foi ultrapassada: chegou a 5,8 gramas por

quilo, sem efeitos danosos (Correio Braziliense, 1996).

Os alcalóides como a harmalina, princípios ativos presentes no chá, são

substâncias endógenas. Isto é, produzidas pelo próprio corpo humano, e não

agridem o organismo. Dá-se o contrário, por exemplo, com os princípios ativos

da maconha (THC) e do LSD (Lisergamida), que são exógenos e exercem

efeito predatório no organismo.

É importante ressaltar que os efeitos provocados pela bebida em

contexto religioso não são exclusivamente em decorrência da ingestão da

bebida (de como ela é feita e/ou quantidade ingerida). Os fatores do ambiente

e do paciente que ingere a bebida (como cultura e intenções) são também de

extrema importância. Esses três fatores (chá, paciente e ambiente) formariam

os lados de um triângulo eqüilátero que corresponderia ao efeito da ingestão da

Ayahuasca. Se um dos lados não estiver adequado, os efeitos podem não ser

os esperados.

Furst (1976, citado por Couto, 1989) observa que muito à parte dos seus

meros efeitos bioquímicos, a disposição da mente e a cultura do usuário e de

seu grupo social, determinam em primeira instância a natureza e a intensidade

da experiência extática, assim como a maneira que essa experiência se

interpreta e se assimila.

Certamente, depois de tanto tempo de uso sem registros de prejuízos

reais para o usuário, já está mais que comprovado que esta bebida de “poder

inacreditável” (Hino 7 – Anexo 6) “só vicia no amor no coração e no amor pelo

irmão” (Hino 8 – Anexo 6). O maior efeito da bebida realmente é mostrar a si

mesmo a todos que a ingerem em um contexto religioso (Hino 7 – Anexo 6).

2.8.4 – ASPECTOS LEGAIS REFERENTES À AYAHUASCA

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Somente nos anos 80 que a Ayahuasca começou a ser oficialmente

citada na legislação brasileira. Paralelamente ao crescimento dos grupos e à

expansão do uso religioso e terapêutico da Ayahuasca, uma forte resistência

dos setores conservadores da sociedade brasileira se formou, pressionando o

Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN) para embargar o

funcionamento das instituições ayahuasqueiras nos grandes centros

metropolitanos (Lima, 2004).

Em 1985, o governo brasileiro acrescentou a Ayahuasca à sua lista de

substâncias controladas (lista da DIMED – Divisão Nacional de Vigilância

Sanitária de Medicamentos). A UDV prontamente solicitou a revisão deste

parecer ao CONFEN e criou-se uma comissão multidisciplinar para investigar o

assunto. Tal comissão não encontrou evidências de problemas sociais relativos

ao uso da Ayahuasca em contextos religiosos. Consequentemente, a

Ayahuasca foi retirada da lista em 1986 (Anexo 2).

Tal aprovação resultou na Resolução Número 6, de 04 de Fevereiro de

1986, publicada no Diário Oficial da União de 05 do mesmo mês, pela qual

ficou suspensa, provisoriamente, a inclusão do cipó B. caapi na Portaria

número 02/85, da DIMED, até o Grupo de Trabalho concluísse seus estudos,

para o que foi fixado o prazo de seis meses. O parecer final do Grupo de

Trabalho também foi favorável.

Nesse parecer do CONFEN (hoje SENAD – Secretaria Nacional Anti-

drogas), um aspecto notório é que a planta a ser citada deveria ser a

Psychotria viridis, uma vez que é dela que se extrai o DMT; entretanto, cita-se

apenas a liana B. caapi:

“... o Grupo de Trabalho sugere ao Egrégio Plenário do Conselho

Federal de Entorpecentes seja chamado à ordem o processo de inclusão do

“Banisteriopsis caapi”, na supracitada lista da DIMED, para ser,

provisoriamente, suspensa...”.

Um fato digno de ser ressaltado é o elemento contido na própria

Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988,

assegurando a liberdade religiosa (Vinha, 2005):

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Art. 5º, inciso VI: é inviolável a liberdade de consciência e de crença,

sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma

da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias.

São muitas as instituições religiosas que, no Brasil, fazem uso da

Ayahuasca. E há entre elas, como já citado, muita diversidade de rituais e

doutrinas. Mas, em comum, pode-se dizer que todas se empenham para evitar

o uso inadequado do chá e para esclarecer os objetivos construtivos de suas

respectivas instituições.

Com essa finalidade, foi assinada em 1991, em comum acordo entre as

maiores instituições usuárias da Ayahuasca, uma “Carta de Princípios” (Anexo

3), estabelecendo procedimentos éticos comuns em torno do uso da

Ayahuasca, e, sobretudo, buscando regular o relacionamento das instituições

com os veículos de comunicação, de modo a evitar a perpetuação de

equívocos, prejudiciais a todos

No dia 2 de junho de 1992, o conselho decidiu liberar definitivamente a

utilização da Ayahuasca para fins religiosos em todo o território nacional,

através de um Parecer (Anexo 4), publicado no Diário Oficial da União em 24

de Agosto de 1992. Segundo a então presidente do CONFEN, Ester Kosovsky,

"a investigação, desenvolvida desde 1985, baseou-se numa abordagem

interdisciplinar, levando em conta o lado antropológico, sociológico, cultural e

psicológico, além de análises fitoquímicas.”.

O relator do processo de investigação, Domingos Carneiro de Sá,

explicou que o fato fundamental para a liberação da bebida foi o

comportamento dos usuários e a seriedade dos centros que utilizam o chá em

seus rituais: “Não foram observadas atitudes anti-sociais dos participantes dos

cultos, ao contrário, constataram os efeitos integrados e reestruturantes com

indivíduos que antes de participarem dos rituais apresentavam desajustes

sociais ou psicológicos.”.

Outro ponto que recebeu destaque no processo é que a beberagem é

feita com espécies nativas. Esta observação é importante, posto que as formas

sintéticas ou concentradas mereçam, certamente, outro tratamento. Além

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90

disso, as reações comuns de vômitos e de diarréia levam a supor que a

Ayahuasca não se presta para o uso fácil, indiscriminado e recreativo pelo

público em geral.

O pronunciamento governamental mais recente é a Resolução Nº 4 do

Conselho Nacional Anti-Drogas (CONAD) de 04 de novembro de 2004 (Anexo

5). Esta resolução ganhou âmbito nacional quando foi noticiada em tele-jornal

brasileiro28, pois reconhece a legitimidade jurídica do uso da ayahuasca. O

novo documento ressalta o já decidido nas resoluções e decisões anteriores e

institui um Grupo Multidisciplinar de Trabalho que agora contará com seis

participantes das igrejas ayahuasqueiras. Um novo campo, sugerido pelo

presente trabalho como um dos possíveis usos da espécie B. caapi, será

explorado nesse Grupo de Trabalho em caráter experimental, que é o uso

terapêutico da ayahuasca.

Atualmente, a Ayahuasca tem respaldo legal para o uso em contexto

religioso em todo o Brasil, na Holanda, na Espanha e no estado Novo México

(Estados Unidos).

Quanto à extração das espécies que constituem a bebida Ayahuasca, há

procedimentos a serem tomados junto ao IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), já que se trata de produtos

florestais.

Existia uma portaria do IBAMA (no 117/98), regulamentando a extração e

exigindo plano de manejo e projetos de recomposição florestal das igrejas. Mas

ela não vinha sendo cumprida porque muitas destas igrejas não têm condições

de arcar com as despesas para elaboração dos planos e projetos; por isso, não

vigora mais.

Atualmente, por não haver legislação específica na gerência executiva

do estado do Acre29, o amparo legal para a extração do cipó (Banisteriopsis

caapi) e das folhas da Psychotria viridis, com fins religiosos, encontra respaldo

28 Esta informação foi noticiada no Jornal Nacional (Rede Globo) no dia 08 de novembro de 2004.

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91

no art. 56 da Instrução Normativa 004/2002 do IBAMA30. Ela não trata

diretamente do uso religioso, mas abrange este tipo de extrativismo (o de

produtos não madeireiros).

Para extração do cipó e das folhas do arbusto nativos, as igrejas podem

registrar um plantio de ambas as espécies, em área definida, perante o IBAMA,

provando assim que estão realizando a reposição florestal. Podem solicitar a

retirada do material em áreas florestais que serão derrubadas ou queimadas

(Vinha, 2005).

De acordo com Vinha (2005), o processo é o seguinte:

1. A igreja/centro pede que seja registrado um documento de reposição

florestal no IBAMA, onde aparecem a localidade e a quantidade de mudas

plantadas;

2. Após o IBAMA protocolar e processar o documento anterior, uma

autorização para a extração destas espécies é expedida, pois a reposição já foi

realizada;

3. Após a colheita do cipó e das folhas a igreja requerente recebe a ATPF.

No caso da extração de indivíduos nativos, a espécie a qual o futuro é

mais preocupante é a liana B. caapi. Isso porque da P. viridis, apenas se

utilizam as folhas, sendo extraídas apenas as folhas mais velhas de cada

galho. Com isso, em pouco tempo o arbusto já tem sua camada de folhas

recomposta.

Entretanto, é necessário que se corte a liana B. caapi para que seja

utilizada para confecção da Ayahuasca. Na maioria das vezes, as raízes não

são retiradas para que o indivíduo rebrote. Além disso, retirar as raízes na mata

é complicado porque a liana B. caapi possui raízes superficiais que se

29 O Acre é tido como exemplo por ser berço das religiões ayahuasqueiras. Cada estado pode ter sua legislação específica para extração do B. caapi e das folhas de P. viridis. 30 Art. 56 - A exploração de produtos não-madeireiros realizada por populações agro-extrativistas tradicionais fica isenta da apresentação de plano de manejo, até a expedição de normas específicas por parte do IBAMA.

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espalham ao longo do solo. Já no Cerrado, a extração dessas raízes é

facilitada por apresentar maior espaçamento entre os indivíduos vizinhos, o que

possibilita um maior aproveitamento de cada indivíduo.

Como todo e qualquer produto florestal, a preocupação com a

sustentabilidade das duas espécies mais utilizadas (B. caapi e P. viridis) pelas

principais religiões ayahuasqueiras para confecção de seu sacramento, o chá

Ayahuasca, tornou-se alarmante nos dias atuais. A consciência de que é

necessário plantar para poder colher é evidente em todas as igrejas sérias que

utilizam esse sacramento em seus rituais.

O IBAMA, em parceria com as comunidades daimistas, promoveu o "1º

Encontro sobre manejo das espécies Mariri e Chacrona" em 17 de Maio de

2002 no auditório do Ministério Público Estadual de Rio Branco (AC). Vinte e

três centros daimistas estavam cadastrados no Departamento Técnico do

IBAMA/AC em 2002. Mas poucas comunidades religiosas encaminham o

projeto de manejo florestal, conforme dados disponíveis no setor de estatística

da entidade ambiental31.

Na UDV, a maior destas igrejas fora do Acre, já se faz o plantio em

larga escala do arbusto de chacrona e do cipó mariri. A existência de culturas

capazes de suprir as próprias necessidades é, inclusive, uma das condições

para a abertura de novas unidades. No fim do ano de carência, acordado com

o IBAMA, boa parte das igrejas do Acre deverá também ter seus plantios,

substituindo o puro extrativismo.

Vale acrescentar que a UDV criou a Associação Novo Encanto de

Desenvolvimento Ecológico32 e o CEFLURIS criou o Instituto de

Desenvolvimento Ambiental Raimundo Irineu Serra (IDACEFLURIS) 33. Ambas

as instituições criadas a partir da preocupação das entidades religiosas com a

necessidade de preservação da natureza, principalmente, mas não

exclusivamente, da Amazônia.

31 Segundo artigo disponível em: http://www.amazonia.org.br/noticias/ 32 Para maiores informações, consultar: http://www.novoencanto.org.br/ 33 Para maiores informações, consultar: http://www.idacefluris.org.br/

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III - MATERIAL E MÉTODOS

3.1 – FASE 1

O cipó Banisteriopsis caapi conhecido por caupuri ou cabi caracteriza-se

por apresentarem grandes nós ao longo do ramo. Foram feitas estacas das

partes mais novas do cipó coletado (Figura 17) em um vilarejo chamado

Maracanã (município de Vista Alegre, a 700 km de Belém/PA) em Julho de

2004, com cerca de 25 a 45 cm, contendo gemas e folhas, e mantendo-se a

umidade das mesmas para o transporte e utilização em Brasília, DF.

No viveiro florestal da Universidade de Brasília, localizado na Fazenda

Água Limpa, em Vargem Bonita, DF, as estacas provenientes de Maracanã/PA

foram reduzidas a um comprimento que variou de 7,0 a 20,0 cm, deixando-se

duas gemas, por estaca, perfazendo 471 estacas, em agosto de 2004.

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Figura 17 - Planta-mãe de B. caapi de onde foram confeccionadas as estacas utilizadas.

As estacas foram, então, submetidas aos tratamentos:

(a) 86 estacas com 15-20 cm, plantadas em substrato composto por 20% de

esterco bovino e 80% de terra do subsolo do Cerrado (latossolo vermelho), em

saco plástico com 9,0 cm de diâmetro x 14 cm de altura, alocadas em casa

com 70% de sombreamento;

(b) 87 estacas com 15-20 cm, plantadas em substrato composto por 20% de

esterco bovino e 80% de terra do subsolo do Cerrado (latossolo vermelho), em

saco plástico com 12,0 cm de diâmetro x 20,0 cm de altura, alocadas em casa

com 70% de sombreamento;

(c) 86 estacas com 15-20 cm, plantadas em substrato composto por 20% de

esterco bovino e 80% de terra do subsolo do Cerrado (latossolo vermelho), em

saco plástico com 16,0 cm de diâmetro x 14,0 cm de altura, alocadas em casa

com 70% de sombreamento;

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(d) 150 estacas com 15-20 cm, plantadas em substrato composto por 20% de

esterco bovino e 80% de terra do subsolo do Cerrado (latossolo vermelho), em

saco plástico com 12,0 cm de diâmetro x 20,0 cm de altura, alocadas em casa

com 90% de sombreamento;

(e) 50 estacas com 7-12 cm, plantadas em substrato composto por 20% de

esterco bovino e 80% de terra do subsolo do Cerrado (latossolo vermelho), em

saco plástico com 9,0 cm de diâmetro x 14,0 cm de altura, alocadas em casa

de vegetação;

(f) 50 estacas com 15-20 cm, plantadas em substrato composto por 50% de

areia e 50% de terra do subsolo do Cerrado, em 12 bandejas plásticas (com 3

a 6 estacas por bandejas dispostas horizontalmente), alocadas em casa de

vegetação.

Foram efetuadas regas três vezes ao dia e monitoramento diário.

O delineamento estatístico adotado foi o inteiramente ao acaso. A

comparação das médias obtidas para os tratamentos testados foi realizada

através de Análise de Variância e do Teste de Tuckey, de acordo com Cruz

(2001). Para a Análise de Variância e para o Teste de Tuckey, o tratamento (e)

recebeu o nome de tratamento 0; os tratamentos (a), (b) e (c) foram agrupados

como tratamento 1; e o tratamento (d) foi chamado de tratamento 2.

Os parâmetros avaliados no viveiro florestal da Fazenda Água Limpa na

primeira fase deste trabalho foram: número de estacas enraizadas e evolução

da parte aérea (número de gemas que se desenvolveram e comprimento da

maior brotação por estaca), após 23, 30 e 53 dias.

3.2 – FASE 2

Em Outubro de 2004, iniciou-se a segunda fase deste trabalho

efetuando-se a retirada das mudas produzidas por estaquia do viveiro florestal

da Fazenda Água Limpa para as áreas de plantio definitivo. As áreas

escolhidas para o plantio foram: Área 1 (S 16º 04’ 45.2’’; W 047º 48’ 02.5’’) – a

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sede geral do Centro de Harmonização Interior Essência Divina34; e Área 2 (S

15º 52’ 16.4’’; W 047º 52’ 04.4’’) – propriedade localizada próximo à APA

Gama-Cabeça de Veado35.

Na Área 1, foram plantadas 97 mudas (sendo substituídas as mudas que

não se desenvolveram). Neste local foram realizados tratos culturais, como:

adição de NPK 04-14-08, remoção prévia de espécies invasoras e regas

constantes; além disso, ao redor das mudas plantadas foram colocados restos

vegetais (da própria espécie), com a finalidade de retenção de umidade e

redução da temperatura do solo. Foram testados três tamanhos de berços36

distintos nesta área: 30 cm x 30 cm, 40 cm x 40 cm e 50 cm x 50 cm (diâmetro

x profundidade). As análises de solo foram efetuadas a duas profundidades, 15

e 30 cm, conforme o método EMBRAPA (1978), em laboratório especializado;

cada amostra foi obtida a partir da mistura do solo de 10 pontos de coleta

abrangendo toda a área.

Na Área 2, considerada testemunha, foram plantadas 36 mudas. Nela

realizou-se apenas a calagem dos berços e regas nas duas primeiras semanas

de implantação, em dias alternados, uma vez por dia. O tamanho dos berços

foi de 40 cm x 40 cm; o controle de plantas daninhas foi feito por um incêndio

florestal que ocorrera recentemente na referida área. Testaram-se três

condições de sombreamento para as mudas nesta área: seis mudas em luz

plena pela manhã; uma muda em sombreamento de 90% (interior de mata de

galeria); e vinte e nove em pleno sol até o crescimento da regeneração de

espécies arbustivas, arbóreas pioneiras e gramíneas invasoras (Figura 18).

34 Centro de distribuição do chá Ayahuasca com sede geral no condomínio Quintas Itapuã, rua “P”, vila ABC/GO. 35 Casa particular no Setor de Mansões Dom Bosco (SMDB), Lago Sul, Brasília/DF. 36 Buracos onde foram plantadas as mudas, também conhecidos como “covas”.

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Figura 18 - Regeneração da Área 2

O substrato utilizado para preencher os berços nas duas áreas foi o

mesmo: 20% de esterco bovino e 80% de terra do subsolo do Cerrado

(latossolo vermelho).

Os parâmetros avaliados na segunda fase deste trabalho (implantação

das mudas no campo) foram: determinação da altura (cm), com auxílio de uma

trena, e diâmetro (mm), empregando-se um paquímetro, das mudas nas duas

áreas.

Praticamente todos os plantios foram de forma rasteira (sem suporte

para o cipó), sendo dez mudas plantadas perto de árvores e muros para que

servissem de suporte.

A comparação das médias obtidas para duas principais áreas testadas

foi realizada através de Análise de Variância e do Teste de Tuckey, de acordo

com Cruz (2001). Para a Análise de Variância e para o Teste de Tuckey, a

Área 1 foi considerada como tratamento 1; e a Área 2, como tratamento 2.

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3.3 – FASE 3

A terceira fase deste trabalho foi complementar a análise da propagação

vegetativa da espécie Banisteriopsis caapi, por verificar a capacidade de

propagação sexuada. Para tanto, efetuou-se o teste de viabilidade das

sementes da referida espécie através do Tetrazólio, 0,5% de concentração, no

Laboratório de Sementes Florestais do Departamento de Engenharia Florestal

da Universidade de Brasília.

As sementes recém-coletadas em um indivíduo plantado na sede do

Centro de Cultura Cósmica, Gama/DF, foram pré-acondicionadas em substrato

de papel-toalha umedecido e mantidas por 48 horas em câmara de germinação

a 250 C para estimulação da atividade metabólica. Após este período, foi feita a

punção nas sementes (furo no tegumento utilizando-se agulha específica) e

colocadas em contato com a solução de sal 2,3,5 trifeniltetrazólio, a 0,5%, em

recipientes cobertos com papel alumínio, por outras 24 horas. Em seguida, as

sementes foram lavadas, abertas e, em lupa, interpretaram-se as áreas nos

tecidos do embrião que efetivamente coloriram, apontando a viabilidade das

sementes.

Empregaram-se três repetições de 65 sementes cada. As sementes cujo

eixo embrionário coloriu de vermelho, principalmente a radícula e partes do

cotilédone e/ou do hipocótilo-epicótilo, foram consideradas viáveis; sementes

cujo embrião encontrava-se branco, sem coloração da radícula, embrião

ressequido, sem embrião ou com tecidos evidentemente deteriorados, foram

consideradas inviáveis.

As sementes submetidas ao teste de tetrazólio foram, após a avaliação

da viabilidade, fotografadas no Laboratório de Microscopia Eletrônica, do

Departamento de Biologia Celular, da Universidade de Brasília, através de lupa

com máquina fotográfica acoplada.

IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO

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4.1 – FASE 1

Os dados completos das medições no viveiro são apresentados no

Anexo 8 e os dados de campo, no Anexo 9. Os resultados do enraizamento

das estacas submetidas aos diversos tratamentos em condições de viveiro

florestal da Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília, são

apresentados nas Tabelas 2, 3 e 4:

Tabela 2 - Número de brotações produzidas e percentagem das estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi nas diversas condições testadas de viveiro florestal da Fazenda Água Limpa, DF, após 23 dias.

Tratamento Número de estacas Número de brotações

Percentagem de estacas enraizadas

(a), (b), (c) 259 78 30,116 (d) 150 14 9,333 (e) 50 30 60 (f) 12 12 100

Total 471 134 28,45

Tabela 3 - Número de brotações produzidas, comprimento da maior brotação e número estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi nas diversas condições testadas de viveiro florestal da Fazenda Água Limpa, DF, após 30 dias.

Tratamento

Número de

estacas

Número de

brotações

Comprimento da Maior Brotação (média, em cm)

Percentagem de Estacas Enraizadas

(a), (b), (c) 259 85 7,273 32,819 (d) 150 22 3,553 14,667 (e) 50 29 10,643 58 (f) 12 12 34,433 100

Total 471 148 13,976 31,423

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Tabela 4 - Número de brotações produzidas, comprimento da maior brotação e número estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi nas diversas condições testadas de viveiro florestal da Fazenda Água Limpa, DF, após 53 dias.

Tratamento

Número de

estacas

Número de

brotações

Comprimento da Maior Brotação (média, em cm)

Percentagem de Estacas

Enraizadas (a), (b), (c) 259 98 29,337 37,838

(d) 150 44 24,716 29,333 (e) 50 33 11,727 66 (f) 12 12 66,542 100

Total 471 231 33,08 49,045

Esses resultados deixaram evidente que a espécie tem uma brotação via

estaquia caulinar muito rápida, sendo que em menos de dois meses,

praticamente metade das estacas apresentavam brotações vigorosas. Esses

resultados foram obtidos com as mudas que apresentavam brotações

vigorosas em Outubro de 2004. Passados seis meses, em Abril de 2005, mais

45 mudas apresentavam brotações vigorosas no viveiro e foram levadas para o

local do plantio. Com isso, a taxa de brotação total foi de 49,0% para 58,6%.

Como esperado, o tratamento de 90% de sombreamento apresentou

maior tempo para brotação e crescimento em centímetro, sendo os tratamentos

da casa climatizada os que apresentaram os menores tempos. Entretanto, com

53 dias, o crescimento em centímetros das mudas do tratamento de 90% de

sombreamento se aproximou dos demais tratamentos, devido à busca pela luz

solar.

O tamanho das estacas influenciou no desenvolvimento das brotações.

Mesmo estando na casa climatizada, onde as condições são mais favoráveis,

as mudas do tratamento (e) não apresentaram bom crescimento em centímetro

das brotações. Mesmo assim, apresentaram taxa de brotação (%) superior aos

outros tratamentos.

O tamanho dos sacos plásticos usados para a produção das mudas não

influenciou no desenvolvimento das mesmas, pois os tratamentos (a), (b) e (c)

não apresentaram diferenças significativas. Portanto, sacos plásticos menores

devem ser utilizados para economia em espaço, transporte e preenchimento

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dos mesmos, com exceção para aquelas mudas que ficarão por tempo

excessivo em viveiro.

Os resultados da Análise de Variância para o comprimento da brotação

após 30 dias são apresentados na Tabela 5:

Tabela 5 - Resumo da Análise de Variância para o comprimento das brotações no viveiro após 30 dias (16/09/2004).

Fontes de Variação G.L. Quadrado Médio F Significância

TRATAMENTO 2 394,4094 6,319 0,00237 RESÍDUO 133 62,41743 MÉDIA 6,2463 cm

Observou-se que o valor de F é significativo (<0,01), portanto existem

diferenças significativas entre os tratamentos. Assim sendo, efetuou-se o teste

de Tuckey para comparação das médias e determinação do tratamento mais

adequado à espécie objeto deste estudo.

O resultado do Teste de Tuckey para os tratamentos, após 30 dias, é

apresentado na Tabela 6:

Tabela 6 - Resultados do Teste de Tuckey para os tratamentos: casa de vegetação (0); 70% de sombreamento (1); e 90% de sombreamento (2) após 30 dias (16/09/2004).

TRATAMENTO DADOS MÉDIAS COMPARAÇÕES 0 29 10,2931 A 1 85 5,8188 B 2 22 2,5636 B

Observa-se que o tratamento 0 diferencia do 1 e 2, enquanto os dois

últimos não diferem entre si. Assim, o comprimento das brotações é maior em

condições climatizadas onde se consegue um ambiente mais quente e úmido

do que em casa de sombreamento onde a umidade é relativamente baixa em

se tratando do bioma Cerrado.

Os resultados da Análise de Variância para o comprimento da brotação

após 53 dias são apresentados na Tabela 7:

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Tabela 7 - Resumo da Análise de Variância para o comprimento das brotações no viveiro após 53 dias (09/10/2004).

Fontes de Variação G.L. Quadrado Médio F Significância

TRATAMENTO 2 3828,202 4,523 0,01218 RESÍDUO 172 846,3671 MÉDIA 24,8543 cm

Também se observou que o valor de F é significativo; assim, existem

diferenças significativas entre os tratamentos. Observa-se que a significância

com 53 dias é menor do que a observada com 30 dias, indicando uma

diminuição da diferença entre os tratamentos com o passar do tempo de

permanência em viveiro. Para a determinação do melhor tratamento, efetuou-

se o teste de Tuckey, após 53 dias, para comparação das médias, apresentado

na Tabela 8:

Tabela 8 - Resultados do Teste de Tuckey para os tratamentos: casa de vegetação (0); 70% de sombreamento (1); e 90% de sombreamento (2) após 53 dias (09/10/2004).

TRATAMENTO DADOS MÉDIAS COMPARAÇÕES 1 98 29,3367 A 2 44 24,7159 A B 0 33 11,7273 B

Com 23 dias a mais do que a primeira medição, o tratamento 2 já não

difere consideravelmente do tratamento 0 e continua a ser semelhante ao

tratamento 1. Com isso, deduz-se que a diferença nos tratamentos é mais

acentuada nos primeiros dias de produção em viveiro, sendo essa diferença

amenizada com o passar do tempo.

Os resultados mostram que maior temperatura e maior umidade (casa

climatizada – tratamento 0) são favoráveis para o rápido enraizamento das

estacas de Banisteriopsis caapi no primeiro momento, em viveiro.

A propagação vegetativa por estaquia em viveiro comprovou ser uma

ótima alternativa para essa espécie. Além da rápida brotação e

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103

desenvolvimento das mudas, a taxa de enraizamento foi muito satisfatória. É

provável que as taxas de enraizamento e sobrevivência em campo poderiam

ser maiores se os tempos entre a coleta das estacas e produção das mudas,

assim como a retirada das mudas do viveiro e o plantio fossem menores.

O bom desenvolvimento da muda na fase de viveiro, antes do

estabelecimento em campo é essencial. Para isso, a irrigação constante é de

suma importância nessa fase.

4.2 – FASE 2

A fase em campo das mudas foi bastante satisfatória, tendo a grande

maioria apresentado boa adaptação ao local onde foram plantadas. A taxa de

mortalidade foi baixa, ficando restrita àquelas mudas que foram plantadas com

brotação pequena (no tamanho) e que, muitas vezes, não haviam desenvolvido

o sistema radicular.

As mudas plantadas com certo nível de sombreamento apresentaram

desenvolvimento em comprimento superior àquelas plantadas a pleno sol.

Todas essas se desenvolveram em direção à luz do sol deixando o

investimento em diâmetro em segundo plano. Já as mudas em pleno sol

apresentaram um desenvolvimento surpreendente em diâmetro, tendo, as

primeiras mudas plantadas, chegado até 61 mm de diâmetro no primeiro ano

(Anexo 9).

As mudas que receberam mais água apresentaram crescimento superior

àquelas plantadas no mesmo sítio com irrigação menos eficiente. O sítio em si

não foi considerado fator limitante; isso porque a espécie vem de um solo mais

pobre, o Amazônico, e a acidez dos solos do Cerrado, que poderia ser

prejudicial, foi amenizada com a calagem dos berços.

Um teste feito para comprovar essa afirmação foi a utilização de

tamanhos variados para os berços. Após a comprovação do bom

estabelecimento no local (Área 1) em berços de 50cmX50cm, foram plantadas

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104

mudas com berços de 40cmX40cm; e ainda de 30cmX30cm, tendo todas as

mudas uma boa adaptação ao local, sofrendo apenas com a falta ou redução

de água.

O solo e o tamanho do berço não influenciam o crescimento das mudas,

tendo a espécie uma ótima adaptação ao Cerrado. Por isso, para grandes

plantios, devem ser usados berços pequenos para um menor custo de mão-de-

obra e substrato para preenchimento. Adubações não são necessárias, mas

podem favorecer o crescimento das mudas.

A análise do solo na Área 1 constatou que amostras coletadas a 15 cm

de profundidade apresentavam textura franco-argilo-arenosa e a 30 cm

apresentavam textura argilo-arenosa; com praticamente a mesma composição,

variando em poucos fatores, como mostrado na Tabela 9:

Tabela 9 - Resultados da análise de solo da Área 1. Meq/100g Argila Silte Areia Al+++ H+Al Ca++ Mg++ pH ^ H2O N%

15 cm 38% 21% 11% 1,09 2,92 0,46 0,25 5,5 0,16 30 cm 36% 22% 11% 1,16 2,42 0,235 0,1 5,12 0,17

A estação seca presente em grande parte do ano no bioma Cerrado foi

enfrentada com queda das folhas (Figura 19), retardo no crescimento e

investimento em brotações novas (Figura 20). Apesar de sofrer bastante com a

falta de água, a espécie parece se adaptar bem ao Cerrado, já que nas

primeiras chuvas já foram observadas muitas brotações novas e coloração

mais viva nas folhas ainda remanescentes.

Considerando os resultados obtidos, fica claro que o maior fator limitante

para o desenvolvimento da espécie Banisteriopsis caapi, em condições de

Cerrado, é a água. Portanto, se disponível no local, deve ser feita a irrigação

das mudas, principalmente no primeiro período de seca. É mais aconselhável

que seja feito o plantio no início da época chuvosa para que os custos da

irrigação sejam minimizados. Após o primeiro período de seca, as mudas de B.

caapi são capazes de sobreviver aos períodos seguintes.

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Figura 19 - Queda das folhas

Figura 20 - Investimento em brotações novas

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A Área 2 apresentou um desenvolvimento mais lento em relação a Área

1. Entretanto, levando em consideração a forte competição que as mudas da

Área 2 tiveram que enfrentar, seu desenvolvimento também foi bastante

satisfatório. Retirando as mudas que sofreram ação antrópica na área, apenas

duas não resistiram, sendo que ambas já não apresentavam grande vigor na

época de plantio.

Devido às características apresentadas pela espécie (rápido

crescimento, fácil adaptação e atrativo para pássaros), seu uso para

recuperação de áreas degradadas é recomendável. Para áreas perturbadas37,

seu uso não apresenta risco de supressão das espécies nativas, pois, como

demonstrado no plantio na Área 2, as espécies nativas apresentam uma maior

adaptação ao meio, não sendo suprimidas pela liana B. caapi, sendo mais

preocupantes espécies invasoras. A espécie também pode ser introduzida em

matas alteradas para que, em médio e longo prazo, auxiliem, por exemplo, no

deslocamento de pequenos primatas.

A ação de predadores foi observada apenas para formigas, sendo seu

prejuízo muito pouco até o mês de Outubro de 2005, quando a seca provocou

um ataque intenso às folhas de muitas mudas na Área 1. Entretanto, mesmo

sem o uso de qualquer defensivo, essa predação não foi motivo de

preocupação para as mudas atacadas, pois apresentavam um bom

desenvolvimento e as formigas atacaram apenas as folhas mais velhas,

deixando as folhas das extremidades dos ramos. Predação por cupins, relatada

por Couto (2005) como muito freqüente em plantios de B. caapi no bioma

Cerrado, não foi observada.

Os resultados das Análises de Variância para o comprimento das

brotações (COMP) e diâmetro das brotações (DIAM), em nível de campo, são

apresentados na Tabela 10:

37 Entendem-se como áreas perturbadas aquelas que, diferentemente das áreas degradadas, apresentam condições de recuperação natural, sem ação antrópica.

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Tabela 10 - Resumo das Análises de Variância para o comprimento das brotações (COMP) e diâmetro das brotações (DIAM), em nível de campo.

COMP DIAM F. V. G.L. Q. M. F Significância Q. M. F Significância

TRATAMENTO 1 25105,97 4,272 0,041 2495,76 30,198 0,000 RESÍDUO 131 5876,448 82,648

MÉDIA 124,053

cm 13,722 mm

Observou-se que existem diferenças significativas entre os dois

tratamentos (Área 1 e Área 2) com relação ao comprimento das brotações, e

também com relação ao diâmetro das brotações; sendo a diferença dos

tratamentos em relação ao diâmetro das brotações altamente significativa.

Assim, efetuou-se o teste de Tuckey para comparação das médias,

apresentado na Tabela 11:

Tabela 11 - Comparações do Teste de Tuckey para o comprimento e o diâmetro das brotações em nível de campo.

MÉDIAS TRATAMENTO COMP DIAM COMPARAÇÕES

1 132,42 16,3608 A 2 101,5 6,6111 B

Isso mostra que as duas áreas testadas foram altamente divergentes. O

que se deve principalmente pela concorrência de outras espécies na Área 2,

como Melinis minutiflora (capim-gordura), Pilocarpus jaborandi (jaborandi) e

Ricinus communis (mamona), considerada como testemunha.

Uma característica interessante observada foi que todos os indivíduos

plantados a pleno sol se voltaram para o nascente; as mudas plantadas em

sentido oposto viraram-se e se desenvolveram de modo a crescer em direção

ao nascer do sol.

4.3 – FASE 3

Os resultados do Teste de Tetrazólio, a 1%, realizado nas sementes de

Banisteriopsis caapi são apresentados na Tabela 12:

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Tabela 12 - Resultados do Teste de Tetrazólio. Repetição A B C

Viável 5 1 3 Inviável 60 64 62

% 8,333 1,563 4,839 Total 65 65 65

Verifica-se, com base na Tabela 12, que o número de sementes de B.

caapi viáveis é extremamente baixo em relação às sementes inviáveis.

Um exemplo de uma semente considerada viável é apresentado na

Figura 21. Aparentemente, o embrião se desenvolveu na maioria das

sementes, mas o cotilédone secou. Em algumas sementes, o embrião estava

ressequido. O processo de deterioração avançado foi verificado através da

coloração vermelho intenso nos tecidos ressequidos dos cotilédones ou

embriões.

Figura 21 - Exemplo de semente viável

O Teste de Viabilidade (Teste de Tetrazólio) indica que as sementes

produzidas nas condições de Cerrado, embora numerosas, possuem

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provavelmente uma viabilidade natural bastante curta, sendo consideradas

microbióticas e recalcitrantes. Outra possibilidade é a de que a espécie investe

em muitas sementes, mas não tem a capacidade de preencher todas.

Aparentemente, essa tática é usada devido à grande quantidade de predadores

naturais das sementes, na maioria, pássaros.

Assim sendo, a forma mais eficaz de produção de mudas da espécie no

bioma Cerrado é a propagação vegetativa.

V – CONCLUSÕES

5.1 – FASE 1

O tratamento de 90% de sombreamento apresentou maior tempo para

brotação e crescimento em centímetro, sendo os tratamentos com utilização de

casa climatizada os que apresentaram os menores tempos. Entretanto, com 53

dias, o crescimento em altura das mudas ficou bem próximo em todos os

tratamentos, devido à busca pela luz solar.

O tamanho das estacas influenciou no desenvolvimento das brotações.

O tamanho dos sacos plásticos usados para a produção das mudas não

influenciou no desenvolvimento das mesmas.

A propagação vegetativa por estaquia em viveiro comprovou ser uma

ótima alternativa para essa espécie. Além da rápida brotação e

desenvolvimento das mudas, a taxa de enraizamento foi muito satisfatória.

5.2 – FASE 2

As mudas plantadas com certo nível de sombreamento apresentaram

desenvolvimento superior àquelas plantadas a pleno sol. Todas essas se

desenvolveram em direção à luz do sol, deixando o investimento em diâmetro

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em segundo plano. Já as mudas em pleno sol apresentaram um

desenvolvimento surpreendente em diâmetro.

As mudas que receberam mais água apresentaram crescimento superior

àquelas plantadas no mesmo sítio com irrigação menos eficiente.

5.3 – FASE 3

O número de sementes de Banisteriopsis caapi viáveis identificado

através do teste de Tetrazólio, a 1%, é extremamente baixo em relação às

sementes inviáveis.

A forma mais eficaz de produção de mudas da espécie no bioma

Cerrado é a propagação vegetativa.

VI – RECOMENDAÇÕES

A luz solar influencia diretamente no investimento da muda, em

comprimento ou diâmetro, mas não na sua sobrevivência ou vigor. Sendo que

o desenvolvimento em comprimento pode ser mais importante do que o

crescimento em diâmetro, dependendo do objetivo do plantio. Assim, a

intensidade de luz a ser recebida será de acordo com os objetivos de cada

plantio.

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O uso paisagístico também é um que deve ser tratado com maior

atenção, pois, além de belas inflorescências, a espécie cresce rápido podendo,

por exemplo, ser usada para cobrir pérgulas, cercas, alambrados, treliças ou

árvores; proporcionar sombra e beleza para projetos onde esses quesitos são

necessários. Certamente, qualquer ayahuasqueiro gostaria da espécie B. caapi

em seu projeto paisagístico, pois, além da beleza, acredita-se que a espécie

forneça certa força espiritual.

O possível uso terapêutico no contexto da psicoterapia ainda é

desconhecido. Entretanto, devido às muitas referências do uso de outros

psicodélicos para atingir insights desejados, a espécie Banisteriopsis caapi

pode apresentar um possível uso nesse campo (através da bebida Ayahuasca).

A grande vantagem será a origem natural da substância utilizada, sendo muito

mais saudável. Usos terapêuticos já são encontrados para tratamentos de

adicção, como em alcoolismo e outras dependências químicas.

Devido a fácil adaptação da liana Banisteriopsis caapi no bioma Cerrado,

o plantio da espécie ganha novos pontos incentivadores. Tendo plantado uma

quantidade suficiente para uso em cada região do país, a extração dos

indivíduos nativos terá uma diminuição considerável, ficando, assim, sua

preservação mais assegurada.

VII – SUGESTÕES

Ao longo do presente trabalho, foram observados certos procedimentos

que podem ser feitos para que um futuro trabalho apresente mais resultados a

serem discutidos. São eles:

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• Corte diferenciado no momento da produção das estacas. Recomenda-

se corte diagonal na parte superior da estaca (para evitar

apodrecimento) e corte no sentido horizontal na parte inferior. Isso para

que no momento de produção das mudas, o sentido da estaca seja

mantido da foram original. Assim, a taxa de enraizamento a ser obtida

poderá ser bem maior;

• Enumeração das mudas durante a fase de viveiro. Com isso, uma

análise do estabelecimento em campo pode ser associada ao

tratamento utilizado na produção das mudas; assim como qualquer

outra associação pertinente durante o desenvolvimento de cada muda;

• É desejável uma mesma quantidade para cada tratamento na produção

das mudas. O presente trabalho ficou limitado ao espaço disponível no

viveiro utilizado para a determinação da quantidade de mudas para

cada tratamento. Se possível, uma mesma quantidade para todos os

tratamentos deve ser utilizada para que as comparações pertinentes

fiquem mais adequadas;

• O tempo entre a obtenção das estacas e a produção de mudas deve ser

o mínimo possível (o tempo no presente trabalho foi de um mês).

Mesmo as estacas tendo sido regadas duas vezes por dia, todos os

dias, esse período de tempo pode ter influenciado na taxa de

enraizamento obtida;

• O tempo entre a retirada do viveiro e o plantio em campo propriamente

dito também deve ser o mínimo possível. No presente trabalho, esse

tempo foi excessivo para muitas mudas, sendo que algumas não

resistiram. Esse tempo excessivo ainda pode ter influenciado na

capacidade de estabelecimento em campo. Isso ficou limitado pela

disponibilidade de mão-de-obra, pois as principais áreas utilizadas

(Área 1 e Área 2) apresentam solos, apesar de férteis, com bastante

pedras, dificultando a abertura dos berços. Mutirões ou contratação de

auxiliares é desejável.

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Outras sugestões para trabalhos futuros são:

• Análise da produção em viveiro de mudas de Banisteriopsis caapi a

partir da semeadura direta (sementes), miniestaquia, e estaquia

radicular;

• Comparação do estabelecimento em campo a partir dos diferentes

tamanhos das estacas utilizadas para produção de mudas de

Banisteriopsis caapi;

• Observação e acompanhamento em campo dos possíveis predadores /

dispersores das sementes de Banisteriopsis caapi;

• Comparação da produção de mudas de Banisteriopsis caapi conforme a

quantidade de água recebida em viveiro;

• Estabelecimento de Banisteriopsis caapi em outros biomas brasileiros;

• Análise do uso de Banisteriopsis caapi para recuperação de ambientes

degradados.

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ANEXOS

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ANEXO 1 - NOMES ENCONTRADOS NA BIBLIOGRAFIA PARA A BEBIDA AYAHUASCA: 1. Amarrón Huasca; 2. Aso-Yajé; 3. Ayahuasca Amarillo; 4. Ayahuasca Blanco; 5. Ayahuasca Negro; 6. Ayahuasca Trueno; 7. Ayahuasca; 8. Ayawasca; 9. Beji-Yajé; 10. Bejuco Bravo; 11. Bejuco de Oro; 12. Bi'-ã-Yahé; 13. Caapi (Tupi, Brasil); 14. Cielo Ayahuasca; 15. Daime; 16. Dápa; 17. Datém; 18. Ga-Tokama-Yai-Yajé; 19. Hamo-Weko-Yajé (Sionas do Putomayo); 20. Hoasca; 21. Inde Huasca (Ingano); 22. Iona; 23. Ka-Hee' (Makuna); 24. Ka-Hee-Riama; 25. Kahí-Somoma' (Tucano); 26. Kahí-Vaibucuru-Rijoma; 27. Kaju'uri-Kahi-Ma; 28. Kamalampi (Piro); 29. Kamarampi; 30. Kido-Yajé; 31. Kuma-Basere; 32. Kwi-Ku-Yajé; 33. Mado Bidada (Culina); 34. Rami-Wetsem (Culina); 35. Mado; 36. Mene'-Kají-Ma; 37. Mene'-Kají-Ma; 38. Mi-Hi (Kubeo); 39. Mii; 40. Myoki-Buku-Guda-Hubea-Ma (Barasana); 41. Natema (Jivaro); 42. Nea-Yajé; 43. Népe;

44. Nepi (Colorado); 45. Nishi (Shipibo); 46. Oni (Shipibo); 47. Nixi Pae (Kaxinawá); 48. Noro-Yajé; 49. Nucnu Huasca (Quéchua); 50. Shimbaya Huasca (Quechua); 51. Oaska; 52. Oó-Fa; 53. Pindé (Cayapa); 54. Punga Huasca; 55. Rambi (Sharanahua); 56. Shuri (Sharanahua); 57. Runipan; 58. Santo Daime; 59. Sese-Yahé; 60. Shillinto (Peru); 61. Shuri-Fisopa; 62. Shuri-Oshinipa; 63. Shuri-Oshpa (Sharananahua); 64. Sia-Sewi-Yahé; 65. Sise-Yajé (Shushufindi Siona); 66. So'-Om-Wa-Wai-Yajé; 67. Tsipu-Makuni; 68. Tsiputsueni; 69. Tsipu-Wetseni; 70. Usebo-Yajé; 71. Vegetal; 72. Wai-Buhua-Guda-Hebea-Ma; 73. Wai-Bu-Ku-Kihoa-Ma; 74. Wai-Yajé; 75. Wati-Yajé; 76. Weki-Yajé; 77. Weko-Yajé; 78. Wenan-Duri-Guda-Hubea-Ma; 79. Xono; 80. Yagé; 81. Yahé (Kofan); 82. Yai-Yajé; 83. Yaiya-Suána-Kahi-Ma; 84. Yaiya-Suava-Kahi-Ma; 85. Yajé-Oco; 86. Zi-Simi-Yajé;

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ANEXO 2 – PARECER CONFEN SUBMETIDO À PLENÁRIA EM 31 DE JANEIRO DE 1986

PARECER CONFEN SUBMETIDO À PLENÁRIA EM 31 DE JANEIRO DE 1986 Segue-se o parecer do Grupo de trabalho, submetido à plenária em 31 de janeiro de 1986, que foi aprovado por unanimidade: “O Grupo de Trabalho instituído pela resolução Número 04/85 para examinar questão relacionada com a produção e consumo de substâncias derivadas de espécies vegetais; CONSIDERANDO o exame e o respectivo relatório, elaborados pelos Drs. ISAC GERMANO KARNIOL e SÉRGIO DARIO SEIBEL, relativamente às plantas conhecidas, popularmente, por “Mariri” e “Chacrona”, cujos nomes científicos são “Banisteriopsis caapi” e “Psychotria viridis”; CONSIDERANDO que o supracitado exame foi realizado em Rio Branco, Capital do Estado do Acre, junto a comunidades religiosas, que fazem o uso ritual do produto da decocção do “Mariri” e “Chacrona”, produto esse que corresponde ao chá, comumente chamado de “Daime”; CONSIDERANDO que o referido uso ritual do “Daime” há muitas décadas vem sendo feito, sem que tenha redundado em qualquer prejuízo social conhecido; CONSIDERANDO que, segundo o relatório antes referido, “padrões morais e éticos de comportamento em tudo semelhantes aos existente e recomendados na nossa sociedade, por vezes até de modo bastante rígido, são observados nas diversas seitas”; CONSIDERANDO que a Resolução Número 04/85, atenta aos múltiplos aspectos envolvidos no uso ritual de substâncias derivadas de espécies vegetais, por comunidades religiosas ou indígenas, tais como os sociológicos, antropológicos, químicos, médicos e da saúde, em geral, determina o exame de TODOS esses aspectos, que devem ser, assim, levados em conta em decisões sobre questões relativas ao uso daquelas espécies vegetais; CONSIDERANDO, entretanto, que pela Portaria 02/85 da DIMED, o “Banisteriopsis caapi” foi incluído entre as drogas constantes da lista de produtos proscritos, sem a observância, porém, do que dispõe o §1º, do artigo 3º, do Decreto Número 85110, de 02/09/1980, posto que, sem prévia audiência do CONFEN, a quem cabe a orientação normativa e compete a supervisão técnica das atividades disciplinadas pelo Sistema nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão de Entorpecentes; CONSIDERANDO, finalmente, a necessidade de implementar diversos outros estudos referidos na Resolução 04/85, além daqueles procedidos pelos Drs. ISAC GERMANO KARNIOL e SÉRGIO DARIO SEIBEL, o Grupo de Trabalho sugere ao Egrégio Plenário do Conselho Federal de Entorpecentes seja chamado à ordem o processo de inclusão do “Banisteriopsis caapi”, na supracitada lista da DIMED, para ser, provisoriamente, suspensa aquela inclusão, até que sejam completados os estudos de todos os aspectos referidos na Resolução 04/85 mantido, até lá, rigorosamente, o estado anterior (“status quo ante”) à indigitada Portaria 02/85 – DIMED, oficiadas as seitas usuárias do “Daime” ou outro nome que tenha a beberagem resultante da decocção das espécies supracitadas, sendo certo que o CONFEN poderá, a todo tempo, reformar a decisão de suspensão provisória, ora sugerida, caso sejam apurados fatos supervenientes que indiquem, por qualquer forma, o mau uso do chá, inclusive traduzido no aumento de usuários. É o parecer – S.M.J.”

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ANEXO 3 - CARTA DE PRINCÍPIOS PARA O USO DA AYAHUASCA (assinada em Novembro de 1991 com apoio do CONFEN) As entidades religiosas que utilizam o Vegetal Ayahuasca (Hoasca) decidiram adotar procedimentos éticos comuns em torno do chá, sem prejuízo à identidade e às convicções de cada uma. O objetivo é preservar a imagem e assegurar os direitos de seus membros, conforme acordo entre os representantes das sociedades religiosas que, em novembro de 1991, com o apoio do CONFEN, assinaram a seguinte carta de princípios. 1. Do preparo e do uso da Ayahuasca: A Ayahuasca é um produto da união do Banisteriopsis caapi (mariri ou jagube) e da Psychotria viridis (chacrona ou rainha), fervidos em água. Seu uso, que é tradicional entre os povos da Amazônia, deve ser restrito, nos centros urbanos, aos rituais religiosos autorizados pelas direções das entidades usuárias, em locais apropriados sendo vedada a sua associação a substâncias proscritas (consideradas alucinógenas). 2. Dos rituais religiosos: respeitada a liturgia de cada uma e tendo em vista as peculiaridades do uso da Ayahuasca, as entidades se comprometem a zelar pela permanência dos usuários nos locais dos templos enquanto estiverem sob o efeito do chá. 3. Do plantio e cultivo: As entidades têm direito ao plantio e cultivo dos vegetais necessários à obtenção da bebida, em fase à depredação do habitat natural onde eles se encontram mais acessíveis. 4. Dos cuidados e restrições: 4.1. Comercialização: As entidades comprometem-se a não comercializar a Ayahuasca, mesmo a seus adeptos, sendo seus custos de produção, transporte, estocagem e distribuição às filiais de responsabilidade do Centro. 4.2. Curandeirismo: A prática do curandeirismo, proibida pela legislação brasileira, deve ser evitada pelas entidades signatárias. As propriedades curativas e medicinais da Ayahuasca – que estas entidades conhecem e atestam – requerem uso adequado e devem ser compreendidas do ponto de vista espiritual, evitando-se todo e qualquer alarde publicitário que possa induzir a opinião pública e as autoridades a equívocos. 4.3. Pessoas incapacitadas: Será vedada terminantemente a participação nos rituais religiosos bem como o uso da Ayahuasca, às pessoas em estado de embriagues ou sob efeito de substâncias proscritas (alucinógenas). A participação de menor de idade só será permitida com a autorização dos pais ou responsáveis. 5. Da difusão de informações: Grande parte das controvérsias e contratempos em torno do uso da Ayahuasca – inclusive junto às autoridades constituídas – decorre dos equívocos difundidos pelos veículos de comunicação. Isso impõe da parte das entidades usuárias, especial zelo no trato das informações em torno da Ayahuasca, sendo indispensável: 5.1. Que cada instituição, ao falar aos veículos de comunicação, esclareça obrigatoriamente sua entidade, ressaltando que não fala pelas demais entidades usuárias. 5.2. Que cada instituição restrinja a pessoas experientes de sua hierarquia o direito de falar aos veículos de comunicação tendo em vista os riscos decorrentes da difusão inconseqüente do tema, por parte de pessoas com ele pouco familiarizadas. 5.3. Quando estiver em pauta tema comum às instituições usuárias, deve-se buscar entendimento prévio em torno do que será difundido, de modo a resguardar o interesse geral e a correta compreensão dos objetivos de cada uma.

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6. Da regulamentação legal: A regulamentação do uso da Ayahuasca é objetivo prioritário das entidades signatárias desta carta de Princípios, a fim de superarem-se os obstáculos e controvérsias quanto ao uso adequado da Ayahuasca. 6.1. Cada uma das instituições signatárias por seu dirigente ou por um representante especialmente designado responderá, nos termos desta carta de Princípios, perante as demais. 7. Esta Carta de Princípios está aberta a adesão por parte de outras entidades usuárias da Ayahuasca cujo ingresso seja aprovado em reunião plenária, por maioria absoluta. 7.1. Os casos omissos serão também deliberados por maioria absoluta dos signatários da Carta de Princípios.

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ANEXO 4 - RESOLUÇÃO DO CONFEN SOBRE A AYAHUASCA DE 24 DE AGOSTO DE 1992

ATA DE REUNIÃO DO CONSELHO FEDERAL DE ENTORPECENTES – CONFEN Publicado no Diário Oficial, Seção 1, N.º: 11467 Em 24 de AGO 1992. (Of. n.º: 157/92) CONSELHO FEDERAL DE ENTORPECENTES - ATA DE 5ª REUNIÃO ORDINÁRIA (Realizada em 2 de Junho de 1992) Às nove e trinta horas (09h30min), do dia dois (02) de junho de mil novecentos e noventa e dois (1992), reuniu-se, na Sala de Reuniões do Edifício Anexo II do Ministério da Justiça, Brasília – DF, o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), em sua Quinta (5ª) Reunião Ordinária do ano de em curso, sob a Presidência da Dr.ª Ester Kosovski, representante titular do Ministério da Justiça. Presentes os seguintes membros: CÂNDIDA ROSILDA DE MELO, Representante Titular do Ministério da Educação; DITA PAULA SNEL DE OLIVEIRA, Representante do Suplente do Ministério da Educação; ARNALDO MADRUGA FERNANDES, Representante Titular da Associação Médica Brasileira; ALOÍSIO ANDRADE FREITAS, Representante Suplente da Associação Médica Brasileira; UBYRATAN GUIMARÃES CAVALCANTI, Representante Suplente do Ministério da Justiça; FRANCISCO DA COSTA BAPTISTA NETO, Representante Titular do Ministério da Justiça; CARLOS CÉSAR CASTELLAR PINTO, Representante Suplente do Ministério da Justiça; DOMINGOS SÁVIO DO NASCIMENTO ALVES, Representante Suplente do Ministério da Saúde; WILSON ROBERTO GONZAGA DA COSTA, Representante Titular do Ministério do Trabalho; MARIA DULCE SILVA BARROS, Representante Titular do Ministério das Relações Exteriores; ÁLVARO NUNES DE OLIVEIRA, Representante do Ministério da Economia Fazenda e Planejamento; CECÍLIA ISABEL PETRI, Representante Suplente do Ministério da Economia Fazenda e Planejamento; SÉRGIO SAKON, Representante Suplente da Secretaria de Polícia Federal, DOMINGOS BERNADO GIALLUISI DA SILVA SÁ, Representante Titular Jurista e NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO, Representante Suplente Jurista. Contou ainda com a presença da Dr.ª ANA LÚCIA ROCHA STUDART, Coordenadora Geral de Articulação Setorial e de ADÉLIO CLAUDIO BASILÉ MARTINS, Assessor daquela Coordenação. A Dr.ª ESTER KOSOVSKI, deu por aberta a Reunião,... TRECHO DA ATA PERTINENTE A AYAHUASCA: d – O Conselheiro Domingos Bernardo Gialluisi da Silva Sá proferiu Parecer sobre o “CHÁ AYAHUASCA", cujo teor foi aprovado por unanimidade e na conclusão diz: "29 – A conclusão proposta, em 1987, no Relatório final, resultante dos estudos desenvolvidos pelo Grupo de Trabalho; constituído pela resolução do CONFEN, n.º 04, de 30.07.1985, tem sido mantida pelo CONFEN, ao longo de suas várias gestões. Não vejo porque mudá-la. Muito ao contrário, há hoje um sério argumento, que se soma aos demais, para confirmá-la – o tempo transcorrido, desde 1986, quando se deu a suspensão provisória da interdição. São seis anos de acompanhamento, pelo poder público, do uso da ayahuasca no Brasil, após sua proibição em 1985, época em que foi interrompida a utilização que dela se fazia, havia décadas. 30 – O tempo contribuiu para mostrar que o CONFEN agiu e vem agindo com acerto. A comunidade soube exercer os seus controles de forma plenamente adequada, sem qualquer interferência do Estado que, de outra forma, apenas criaria problemas com desnecessária e indébita intervenção. ISTO POSTO, submeto à soberana decisão do Plenário, agora as seguintes recomendações: a – a ayahuasca, cujos principais nomes brasileiros são "Santo Daime" e "Vegetal", e as espécies vegetais que a integram o "Banisteriopsis Caapi", vulgarmente chamado de cipó , jagube ou mariri e a "Psychotria Viridis", conhecida como folha, rainha ou chacrona, devem permanecer excluídos das listas da DIMED ou do órgão que tenha responsabilidade de cumprir

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o que determina o art.36 da Lei n.º 6.368, de 21.10.1976, atendida, assim, a análise multidisciplinar constante do Relatório Final, de setembro de 1987 e do presente parecer; b – poderá ser objeto de reexame o uso legítimo da ayahuasca, aqui reconhecido, bem como, aliás, de qualquer outra substância com atuação no Sistema Nervoso Central, desde que com base em fatos novos, cujos aspectos substantivos ou essenciais não tenham sido, ainda, apreciados pelo CONFEN, tendo em vista que o acatamento a decisões relativas a matérias sobre as quais já se haja pronunciado o Colegiado, é fator de estabilidade das relações no âmbito da própria Administração Pública e perante os interesses individuais envolvidos; c – deve ser organizada comissão mista integrada pelo CONFEN que poderá convidar assessores, e por representantes de entidades que observam o uso da ayahuasca em seus ritos com o objetivo de consolidar os princípios e regras básicas, comuns ás diversas entidades referidas, para fins entre outros, de acompanhamento da Administração Pública; d – fazem parte integrante e complementar do presente parecer, o relatório final e os documentos que os instruíram, apreciados pelo CONFEN em sua reunião plenária e setembro de 1997 e que ora são reapresentados, por cópia, para os arquivos do CONFEN e atendimento aos eventuais pedidos de esclarecimento formulados pelos interessados em geral ".

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ANEXO 5 – RESOLUÇÃO Nº. 4 - CONAD, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2004

CONSELHO NACIONAL ANTIDROGAS <!ID372532-0> RESOLUÇÃO Nº. 4 - CONAD, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2004 Dispõe sobre o uso religioso e sobre a pesquisa da ayahuasca O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL ANTI-DROGAS - CONAD, no uso de suas atribuições legais, observando, especialmente, o que prevê o art. 6° do Regimento Interno do CONAD; e CONSIDERANDO que o plenário do CONAD aprovou, em reunião realizada no dia 17 de agosto de 2004, o parecer da Câmara de Assessoramento Técnico-Científico que, por seu turno, reconhece a legitimidade, juridicamente, do uso religioso da ayahuasca, e que o processo de legitimação iniciou-se, há mais de dezoito anos, com a suspensão provisória das espécies vegetais que a compõem, das listas da Divisão de Medicamentos - DIMED, por Resolução do Conselho Federal de Entorpecentes - CONFEN, n° 06, de 04 de fevereiro de 1986, suspensão essa que se tornou definitiva, com base em pareceres de 1987 e 1992, indicados em ata do CONFEN, publicada no D.O. de 24 de agosto de 1992, sendo os subseqüentes considerandos baseados na já referida decisão do CONAD; CONSIDERANDO que a decisão adequada, da Administração Pública, sobre o uso religioso da ayahuasca, foi proferida com base em análise multidisciplinar; CONSIDERANDO a importância de garantir o direito constitucional ao exercício do culto e à decisão individual, no uso religioso da ayahuasca, mas que tal decisão deve ser devidamente alicerçada na mais ampla gama de informações, prestadas por profissionais das diversas áreas do conhecimento humano, pelos órgãos públicos e pela experiência comum, recolhida nos diversos segmentos da sociedade civil; CONSIDERANDO que a participação no uso religioso da ayahuasca, de crianças e mulheres grávidas, deve permanecer como objeto de recomendação aos pais, no adequado exercício do poder familiar (art. 1.634 do Código Civil), e às grávidas, de que serão sempre responsáveis pela medida de tal participação, atendendo, permanentemente, à preservação do desenvolvimento e da estruturação da personalidade do menor e do nascituro; CONSIDERANDO que qualquer prática religiosa adotada pela família abrange os deveres e direitos dos pais “de orientar a criança com relação ao exercício de seus direitos de maneira acorde com a evolução de sua capacidade” , aí incluída a liberdade de professar a própria religião e as próprias crenças, observadas as limitações legais ditadas pelos interesses públicos gerais (cf. Convenção Sobre os Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil, promulgada pelo Decreto nº. 99.710, de 21/11/1990, art. 14); CONSIDERANDO a conveniência da implementação de estudo e pesquisa sobre o uso terapêutico da ayahuasca, em caráter experimental; CONSIDERANDO que o controle administrativo e social do uso religioso da ayahuasca somente poderá se estruturar, adequadamente, com o concurso do saber detido pelos grupos de usuários; RESOLVE: Art. 1º Fica instituído GRUPO MULTIDISCIPLINAR DE TRABALHO para levantamento e acompanhamento do uso religioso da ayahuasca, bem como para a pesquisa de sua utilização terapêutica, em caráter experimental. Art. 2º O GRUPO MULTIDISCIPLINAR DE TRABALHO será composto por seis membros, indicados pelo CONAD, das áreas que atendam, entre outros, aos seguintes aspectos: antropológico, farmacológico/ bioquímico, social, psicológico, psiquiátrico e jurídico. Além disso, o grupo será integrado por mais seis membros, convidados pelo CONAD, representantes dos grupos religiosos, usuários da ayahuasca. Art. 3º O GRUPO MULTIDISCIPLINAR DE TRABALHO escolherá seu presidente e vice-presidente e deverá, como primeira tarefa, promover o cadastro nacional de todas as instituições que, em suas práticas religiosas, adotam o uso da ayahuasca, devendo essas instituições manter registro permanente de menores integrantes da comunidade religiosa, com

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a indicação de seus respectivos responsáveis legais, entre outros dados indicados pelo GRUPO MULTIDISCIPLINAR DE TRABALHO. Art. 4º O GRUPO MULTIDISCIPLINAR DE TRABALHO estruturará seu plano de ação e o submeterá ao CONAD, em até 180 dias, com vistas à implementação das metas referidas na presente resolução, tendo como objetivo final, a elaboração de documento que traduza a deontologia do uso da ayahuasca, como forma de prevenir o seu uso inadequado. Art. 5º O CONAD, por seus serviços administrativos, deverá consolidar, em separata, todas as decisões do CONFEN e do CONAD sobre o uso religioso da ayahuasca, para acesso e utilização dos interessados que poderão, às suas próprias expensas, extrair cópias, observadas as respectivas regras administrativas para tanto. Art. 6º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação. JORGE ARMANDO FELIX Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional e Presidente do Conselho Nacional Antidrogas

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ANEXO 6 – HINOS CITADOS 1 – Essência Divina Marco Bulamarque Vou tirar todos os véus Que nebulam a visão Vou olhar para o interior Vamos juntos meus irmãos É tempo de despertar Encontrar o coração Que cintila como estrela A essência verdadeira No peito de Salomão É tempo de harmonizar Coração, corpo e mente Divino Espírito Santo Nos religue para sempre Ao divino criador Nossa essência é divina Jesus Cristo, Mãe Maria Abençoem eternamente Nossa busca interior Jesus Cristo, Mãe Maria São a nossa estrela guia Nessa estrada do amor Divino Pai eterno Virgem Mãe da Conceição Abençoem este Centro de união Divino Pai eterno Virgem Mãe da Conceição Ilumina Centro de Harmonização Essência Divina 2 – Sol, Lua, Estrela Raimundo Irineu Serra Sol, lua estrela A terra, o vento e o mar É a luz do firmamento É só quem eu devo amar É só quem eu devo amar Trago sempre na lembrança É Deus que está no céu Aonde está minha esperança A Virgem Mãe mandou Para mim esta lição Me lembrar de Jesus Cristo Me esquecer da ilusão

Trilhar este caminho Toda hora e todo dia O divino está no céu Jesus filho de Maria 3- Eu Balanço Raimundo Irineu Serra E eu balanço, e eu balanço E eu balanço tudo enquanto há Eu chamo o Sol, eu chamo a Lua, eu chamo estrela Para todos vir me acompanhar E eu balanço, e eu balanço E eu balanço tudo enquanto há Eu chamo o vento, chamo a terra e chamo o mar Para todos vir me acompanhar E eu balanço, e eu balanço E eu balanço tudo enquanto há Eu chamo o cipó, chamo a folha e chamo a água Para unir e vir me amostrar E eu balanço, e eu balanço E eu balanço tudo enquanto há Tenho prazer, tenho força e tenho tudo Porque Deus Eterno é quem me dá 4 – Feitio Conceição Carvalho Todos estão reunidos Para o Daime preparar Os soldados e as guerreiras Vão unidos trabalhar Reunidos pro feitio Com respeito e disciplina O amor é o segredo Que ensina a doutrina O jagube é macerado Pelos homens do Senhor São os soldados bravios Da força superior As mulheres limpam as folhas Numa sagrada rodinha São guerreiras trabalhando No comando da Rainha Na panela da fornalha

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Logo é feita a união Do jagube e da folhinha Para a consagração E depois de preparado Todos bebem com amor O manancial divino E cantam hinos de louvor Salve o Divino Santo Daime E a Virgem da Conceição Salve o nosso Mestre Irineu E o padrinho Sebastião 5 – O Daime É

Conceição Carvalho Daime é o amor Divina inspiração Que faz encantar O meu coração Daime é a estrada Que mostra a verdade E me faz viajar Para a Felicidade Daime é a força Luz da revelação Que me faz buscar A transformação 6 - Juramidam me Mandou uma Folha

Cleilton (Luciana) 27/12/04 Juramidam me mandou uma folha Juramidam me mandou uma folha Esta folha é a missão Que veio da Amazônia Juramidam me mandou uma folha Juramidam me mandou uma folha Esta folha é a floresta Que vive numa nação Juramidam mandou eu cantar Juramidam mandou eu cantar No reinado do Amor Da Rainha Iemanjá Juramidam me mandou o cipó Juramidam me mandou o cipó O cipó é da força A força do Rei Maior Juramidam me mandou o amor Juramidam me mandou o amor

E uniu folha e cipó No jardim do Beija-Flor Juramidam é o Rei do Universo Juramidam é o Rei do Universo Junto com o Divino Pai E a Rainha da Floresta 7 – Eu Tomo Esta Bebida Raimundo Irineu Serra Eu tomo esta bebida Que tem poder inacreditável Ela mostra a todos nós Aqui dentro desta verdade Subi, subi, subi Subi com alegria Quando eu cheguei nas alturas Encontrei com a Virgem Maria Subi, subi, subi Subi foi com amor Encontrei com o Pai Eterno E Jesus Cristo Redentor Subi, subi, subi Conforme os meus ensinos Viva o Pai Eterno E viva a todo ser divino 8 – Que Só Vicia no Amor

Conceição Carvalho Mestre Irineu veio ao mundo nos trazer Essa grande Doutrina de valor superior Quem desconhece faz errado julgamento Acha que é mais um vício de valor inferior Que só vicia no amor O amor no coração Que só vivia no amor O amor pelo irmão O nosso Mestre atendeu pelo chamado Da Virgem Santa rainha da Conceição Na alquimia do cipó com a rainha Produz o vinho da alma que abre a percepção Que só vicia no amor O amor no coração Que só vicia no amor O amor pelo irmão Quem desconhece se arma de preconceito Acha que alucina essa fonte de saber Não percebendo a nave da nova era

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Onde muitos viajam para sempre renascer Que só vicia no amor O amor no coração Que só vicia no amor O amor pelo irmão O Santo Daime é a arca de Juramidam Comandada pelo Mestre e o Padrinho Sebastião

Caindo a tempestade ou mesmo vindo um dilúvio Quem vela a Santa Arca é a Virgem da Conceição Que só vicia no amor O amor no coração Que só vicia no amor O amor pelo irmão

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ANEXO 7 – CHAMADAS CITADAS (Da forma como são cantadas no CCC) 1 – Correção da vaidade Eu andei muito distante Metido em vaidade Vivi dentro das orgias Julguei ter felicidade Um anjo divino veio Com todo poder na mão Transformando o meu viver Mostrando minha retidão Gravou no meu coração As três letras UDV Sejam elas as minhas guardas Minha guia oriental Gravou no meu pensamento Que a luz e o conhecimento É a União do Vegetal 2 – Chamada da União É o mariri com a chacrona Em união é quem nos conduz É o mariri com a chacrona Os dois unidos é quem nos conduz O mariri nos dá a Força E a chacrona nos dá a Luz É o mariri com a chacrona Em união é quem nos conduz É o mariri com a chacrona Os dois unidos é quem nos conduz O mariri esblande Força E a chacrona esblandecendo Luz Ao mariri eu peço Força E a chacrona eu peço Luz Do mariri recebemos Força E da chacrona recebemos Luz É o mariri com a chacrona Em união é quem nos conduz É o mariri com a chacrona Os dois unidos é quem nos conduz O mariri é o rei da Força E a chacrona rainha da Luz O mariri transmite Força E a chacrona clareando Luz Caia, caia sereno

Sereno de Luz Caia, caia sereno Sereno é a Luz Caia, caia sereno Sobre toda Luz Caia, caia sereno O Mestre quer todos na Luz A União quem nos conduz Luz, luz Divina Luz 3 – Mariri Florando O mariri florando Esblande burracheira E a chacrona clareando É uma luz verdadeira O mariri florando Esblande burracheira E a chacrona clareando É uma luz verdadeira O mariri florescendo Esblande burracheira E a chacrona clareando É uma luz verdadeira Esblande burracheira E a chacrona clareando É uma luz verdadeira

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ANEXO 8 – MEDIÇÕES NA FASE DE VIVEIRO

Dia 16 de Setembro de 2004

Casa 70% Casa 90% Mudas com 0,1 a 0,5 cm=18 Mudas com 0,1 a 0,5 cm = 7

N.ºda muda Tamanho

(cm) N.ºda muda Tamanho

(cm) N.ºda muda Tamanho

(cm) 1 4,8 35 1,3 1 1,5 2 6,5 36 32,5 2 1,5 3 7,8 37 2 3 0,7 4 4,7 38 2,5 4 1,8 5 21,5 39 11 5 6,7 6 13 40 2 6 1,8 7 15,3 41 12,5 7 1,5 8 4 42 29 8 0,7 9 3,8 43 11,5 9 20 10 0,7 44 8,5 10 2,8 11 2 45 9 11 5 12 1 46 4 12 1,5 13 1,5 47 5 13 2 14 30 48 1,5 14 3,5 15 9 49 13 15 2,3 16 3,8 50 1 Média 3,553 17 8,5 51 1 18 1,2 52 2 19 34,2 53 1,5 20 8,5 54 5 21 1 55 1,5 22 4,5 56 11,5 23 8 57 1,2 24 5 58 1,7 25 4,5 59 7 26 9 60 8 27 6 61 9,5 28 2 62 9,5 29 0,8 63 2 30 1,2 64 1,5 31 4 65 9 32 2 66 12 33 1 67 0,8 34 25,5 Média 7,273

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Casa de vegetação climatizada Mudas com 0,1 a 0,5 cm = 1(saco)

N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda bandeja Tamanho (cm) 1 10 1 19 2 4,7 2 32,5 3 7,5 3 36,5 4 11,5 4 7 5 11 5 6 6 41 6 37 7 9 7 60,2 8 10,5 8 34 9 7,5 9 52,5 10 5 10 73,5 11 9,3 11 39 12 12,5 12 16 13 5,5 Média 34,433 14 18 15 6,5 16 2,5 17 12 18 12,5 19 12,5 20 4,5 21 6,2 22 7 23 1,8 24 4 25 50 26 4,5 27 3,5 28 7,5

Média 10,643

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Dia 09 de Outubro de 2004

Casa 70%

N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) 1 16 34 14 67 55,5 2 6 35 8 68 8,5 3 10 36 10,5 69 140 4 7,5 37 11 70 14,5 5 79 38 64,5 71 2,5 6 71 39 7,5 72 9 7 18 40 1,5 73 68,5 8 12 41 9,5 74 4 9 4,5 42 10,5 75 34,5 10 63,5 43 1 76 71,5 11 68 44 8,5 77 15 12 19 45 12,5 78 1,5 13 32 46 8,5 79 104 14 6 47 14 80 16 15 3 48 9,5 81 26 16 12,5 49 8 82 108,5 17 5,5 50 58 83 3 18 63 51 22,5 84 20,5 19 32 52 67 85 0,5 20 57 53 4 86 36,5 21 5 54 15 87 13 22 14 55 44 88 95,5 23 26,5 56 80,5 89 6,5 24 74,5 57 63 90 11,5 25 64 58 80 91 68 26 35 59 10 92 11,5 27 14 60 65 93 9,5 28 58 61 67,5 94 86,5 29 10,5 62 3 95 18,5 30 8,5 63 8 96 12 31 8 64 71 97 6,5 32 6 65 3 98 7 33 12,5 66 6,5 Média 29,337

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Casa 90%

N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) 1 2 16 4 31 52 2 1,5 17 4,5 32 119 3 112,5 18 3,5 33 4 4 1,5 19 1 34 3 5 0,5 20 2 35 14 6 0,5 21 1,5 36 9 7 112,5 22 0,5 37 14 8 16 23 8 38 9 9 2,5 24 92 39 8,5 10 7,5 25 54 40 57,5 11 47,5 26 8 41 3,5 12 24,5 27 54,5 42 4,5 13 66,5 28 24,5 43 9 14 5,5 29 105 44 13,5 15 1 30 2 Média 24,716

Casa de vegetação

N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda

bandeja Tamanho (cm) 1 8 18 17 1 20 2 20 19 6,5 2 88 3 9 20 9,5 3 68 4 7,5 21 7,5 4 69 5 11,5 22 1 5 13 6 11,5 23 8 6 99,5 7 7,5 24 13 7 77 8 24 25 13 8 119,5 9 14 26 21,5 9 130 10 10,5 27 12 10 13,5 11 5 28 12,5 11 72,5 12 24 29 15,5 12 28,5 13 18,5 30 14 Média 66,542 14 7,5 31 18 15 4,5 32 1 16 7 33 13 17 14 Média 11,727

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ANEXO 9 – DADOS DE CAMPO ÁREA 1:

07 DE NOVEMBRO DE 2004 N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm)

1 56 15 31 29 8 2 15 16 104 30 25,5 3 112 17 73 31 23 4 69 18 16 32 1 5 4 19 6 33 19,95 6 57 20 130 34 6 7 17 21 73 35 10 8 23 22 70 36 3 9 20,5 23 20 37 7 10 58 24 10,5 38 7 11 0 25 12 39 10 12 0 26 32,5 40 15,5 13 12 27 14,95 41 8,5 14 30 28 7 Média 29,705

31 DE JANEIRO DE 2005 N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm)

1 0 27 10 53 47 2 58 28 51 54 20 3 100 29 118 55 39 4 44 30 27 56 27 5 0 31 110 57 26 6 67 32 50 58 66 7 79 33 45 59 59 8 80 34 57 60 38 9 75 35 48 61 54 10 92 36 47 62 56 11 30 37 38 63 35 12 75 38 74 64 70 13 74 39 23 65 49 14 80 40 28 66 96 15 103 41 90 67 47 16 37 42 63 68 68 17 94 43 70 69 66 18 20 44 110 70 39 19 91 45 107 71 29 20 12 46 60 72 12 21 78 47 20 73 14 22 26 48 23 74 46 23 76 49 22 75 78 24 70 50 39 76 20 25 23 51 38 77 5 26 28 52 53 78 12

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Média 51,936

06 DE MARÇO DE 2005 N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm)

1 25 27 85 53 35 2 78 28 170 54 64 3 103 29 47 55 109 4 0 30 113 56 68 5 0 31 74 57 81 6 62 32 102 58 66 7 137 33 78 59 47 8 95 34 54 60 55 9 146 35 89 61 68 10 133 36 91 62 77 11 77 37 141 63 93,5 12 206 38 38 64 9 13 115 39 40 65 67 14 111 40 123 66 50 15 91 41 73 67 98 16 150 42 73 68 0 17 86 43 130 69 41 18 96 44 116 70 0 19 13 45 61 71 0 20 130 46 41 72 54 21 15,5 47 42 73 103 22 113 48 33 74 58 23 106 49 45 75 5 24 70 50 60 76 12 25 13 51 52 77 0 26 36 52 66 78 0 Média 70,577

27 DE ABRIL DE 2005 N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm)

1 36 17 200 33 130 2 170 18 160 34 97 3 110 19 160 35 84 4 47 20 29 36 106 5 25 21 215 37 130 6 115 22 80 38 160 7 170 23 130 39 70 8 174 24 37 40 63 9 225 25 100 41 110 10 215 26 36 42 120 11 120 27 85 43 100 12 280 28 106 44 180 13 215 29 115 45 100 14 285 30 80 46 170 15 170 31 110 47 60

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144

16 155 32 135 48 60

49 60 59 83 69 27 50 78 60 56 70 110 51 83 61 84 71 25 52 103 62 85 72 110 53 74 63 140 73 135 54 61 64 130 74 160 55 87 65 43 75 40 56 100 66 115 76 18 57 100 67 50 Média 110,579 58 87 68 130

22 DE SETEMBRO DE 2005

N.ºda muda Tamanho

(cm) Diâmetro (mm) N.ºda muda

Tamanho (cm)

Diâmetro (mm)

1 74 9 38 141 19 2 0 0 39 131 13 3 64 14 40 113 7 4 87 11 41 134 7 5 49 6 42 74 7 6 53 8 43 145 19 7 144 17 44 153 21 8 205 61 45 142 26 9 340 42 46 227 15 10 180 20 47 112 25 11 280 34 48 167 27 12 310 28 49 67 7 13 270 30 50 197 19 14 200 19 51 121 12 15 320 34 52 165 19 16 245 44 53 190 33 17 229 27 54 221 24 18 160 25 55 150 13 19 221 11 56 223 15 20 153 17 57 112 17 21 56 9 58 91 10 22 45 8 59 250 25 23 290 35 60 150 10 24 212 12 61 0 0 25 277 18 62 69 9 26 77 6 63 133 12 27 146 33 64 106 12 28 101 8 65 163 30 29 78 9 66 181 9 30 198 17 67 195 31 31 143 31 68 96 16 32 109 9 69 117 15 33 125 19 70 83 15 34 193 22 71 96 12 35 103 16 72 92 10 36 143 13 73 80 10

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37 97 16 74 145 13

75 87 8 87 37 8 76 0 0 88 73 14 77 180 20 89 47 12 78 31 5 90 63 8 79 50 7 91 65 11 80 82 14 92 70 8 81 73 12 93 74 9 82 137 19 94 14 7 83 97 17 95 49 5 84 53 13 96 48 6 85 250 34 97 100 11 86 156 17 Média 132,423 16,361

ÁREA 2:

22 DE NOVEMBRO DE 2004 N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm)

1 102 12 18 23 36 2 133 13 104 24 66 3 54 14 73 25 128 4 102 15 51 26 75 5 57 16 87 27 76 6 74 17 24 28 38 7 61 18 20 29 93 8 67 19 112 30 28 9 40 20 57 31 37 10 102 21 90 32 106 11 152 22 60 MÉDIA 72,594

25 DE MARÇO DE 2005 N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm) N.ºda muda Tamanho (cm)

1 250 13 105 25 150 2 130 14 71 26 70 3 0 15 90 27 80 4 0 16 100 28 10 5 60 17 155 29 120 6 102 18 124 30 150 7 70 19 130 31 100 8 72 20 132 32 47 9 130 21 100 33 134 10 155 22 210 34 210 11 90 23 160 35 134 12 140 24 193 36 315

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MÉDIA 119,139

24 DE AGOSTO DE 2005

N.ºda muda Tamanho

(cm) Diâmetro (mm) N.ºda muda

Tamanho (cm)

Diâmetro (mm)

1 194 12 19 132 9 2 0 0 20 91 7 3 0 0 21 18 2 4 0 0 22 7 1 5 0 0 23 170 6 6 0 0 24 76 7 7 60 5 25 220 4 8 98 9 26 20 2 9 126 9 27 140 12 10 83 10 28 165 15 11 145 11 29 181 12 12 59 6 30 175 11 13 51 6 31 0 0 14 114 8 32 198 8 15 66 4 33 190 11 16 63 6 34 130 10 17 120 7 35 153 10 18 74 8 36 335 10 MÉDIA 101,5 6,611

Referência para citar este texto: SILVA, T.M. Propagação vegetativa e estabelecimento em cerrado de Banisteriopsis caapi. Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP), 2010. Disponível em: www.neip.info.