projeto tainÁ na escola - para aplicação em sala de aulataina3.com.br/pdf/t2 - guia de educação...

16

Upload: trinhthuy

Post on 08-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

1

Prezados Professores,

Esperamos que tenha sido uma experiência estimulante e agradável assistir ao filme "Tainá 2 - A Aventura Continua", que conquistou, em outubro de 2004, seu primeiro prêmio internacional pelo júri infantil no CIFF (Chicago International Film Festival). Nosso desafio é mostrar que Tainá, divertimento para toda família, é também um filme brasileiro dedicado ao público infantil que traz um tema caro ao país: nosso futuro e o que queremos com o nosso meio ambiente. E também dar nossa modesta contribuição para que nossas crianças descubram isto com prazer e alegria. Poder contar com o apoio dos professores para dar visibilidade a este filme, é fundamental para que Tainá encontre e venha a ser encontrado por seu público. Será muito importante que V., professor(a), informe aos seus alunos que Tainá 2 estréia no dia 07 de janeiro, simultaneamente, em todo o Brasil. Atenciosamente,

Marco Aurélio Marcondes Produtor Delegado

TAINÁ 2 – A AVENTURA CONTINUA

Longa-metragem / Aventura / 78 min / Brasil / 2004 / Scope / Classificação Etária: Livre

ELENCO FICHA TÉCNICA

EUNICE BAÍA Tainá Direção MAURO LIMAVITOR MOROSINI Carlito Roteiro CLÁUDIA LEVAY

ARILENE RODRIGUES Catiti Produção PEDRO ROVAIDANIEL MUNDURUKU Pajé Tatu Pituna Desenho de Produção VIRGINIA LIMBERGER

RUI POLANAH Vô Tigê ERICA IOOTTYCHRIS COUTO Zuzu Produção Executiva IVAN TEIXEIRA

LEANDRO HASSUM Zé Grilo Fotografia ULI BURTINARAMIS TRINDADE Lacraia Som GEORGE SALDANHA

RONEY VILLELA Carcará Direção de Arte ÓSCAR RAMOSKADU MOLITERNO Professor Gaspar Montagem DIANA VASCONCELLOS

Música LUIZ AVELLARos animais Treinamento elenco infantil FÁTIMA TOLEDO

CACHORRO BÓRIS Maria, Happy e Sugar Assist. treinamento elenco infantil CLÁUDIO BARROSONCINHA PIPOCA Sheeva, Beca Treinamento de cães ALEXANDRE ROSSIPAPAGAIO LUDO Bia, Zezé e Xuxa Treinamento de animais silvestres MAURICIO NORONHA

Co-Produção: GLOBO FILMESDistribuição: COLUMBIA TRISTAR FILMES DO BRASIL

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

2

1. INTRODUÇÃO

Tainá, a menina índia que protege os animais da floresta e enfrenta a ganância dos exploradores das riquezas naturais da Amazônia, está de volta. Nesta nova aventura, ela vai se preocupar não só com as grandes questões ambientais – a luta contra a biopirataria, o corte ilegal das árvores da floresta – quanto com os problemas de seu cotidiano, zelando pelos amigos, os curumins da aldeia Arco-íris, onde vive a pequena Catiti. Mais uma vez, Tainá usa a sabedoria ancestral que lhe foi legada por seu avô Tigê. Ela conhece os segredos da floresta: as frutas que podem ser comidas, como pescar e preparar o alimento, como se proteger dos perigos usando o mais precioso dos talismãs: o muiraquitã. Tainá também sabe manejar os recursos naturais da região onde vive. Ela usa o látex extraído da seringueira, que se torna um importante – e divertido – aliado na defesa contra os traficantes. Seus saberes preciosos garantem a proteção dos curumins. E a comunicação entre eles é mesmo fantástica! As mensagens são transmitidas por meio de batidas na sapopema, grande raiz que cerca a base do tronco de muitas árvores da floresta pluvial. Esse som profundo e penetrante repercute por toda mata, levando os alertas de perigo. Desta vez, Tainá conta com uma aliada encantadora: a pequena Catiti, que tenta imitá-la na perigosa tarefa de desfazer as armadilhas e libertar os animais capturados pelos bandidos comandados pela ambiciosa Zuzu. O papagaio Ludo, com suas engraçadas falas e imitações, o simpático Boris, cãozinho de estimação de Carlito, as brincadeiras dos curumins e as trapalhadas do pajé Tatu Pituna, interpretado pelo premiado escritor indígena Daniel Munduruku, são outras atrações deste filme. A Tietê Produções reafirmou que é possível fazer um trabalho de qualidade para crianças e jovens, abordando temas brasileiros, num cenário grandioso e mágico: a floresta amazônica. E é importante ressaltar que a temática de Tainá 2 - A Aventura Continua ultrapassa as fronteiras de nosso país, pois a luta ambientalista é planetária. Destacamos aqui alguns aspectos que consideramos relevantes para desenvolver, a partir da exibição do filme para os professores brasileiros, em projetos de trabalho nas escolas, com os temas sociais e ambientais contemporâneos abordados em Tainá 2 - A Aventura Continua.

2. A HISTÓRIA DE TAINÁ Em "Tainá - Uma aventura na Amazônia" (Tainá 1), sucesso de público e de crítica, os espectadores conheceram uma inesquecível heroína: Tainá, uma menina índia que vivia com seu avô, Tigê, um ancião que guardava a sabedoria dos antepassados, os habitantes da floresta. Tendo o avô como mestre, Tainá fica conhecendo as lendas e mitos que fazem parte da tradição oral de seu povo. Com a morte de Tigê, ela se vê sozinha e precisa cuidar de sua própria sobrevivência. Para isso, conta com a companhia dos animais, com a proteção das árvores e, principalmente, com um precioso amuleto – o muiraquitã – pedra mágica que lhe foi legada por Tigê. A pequena Tainá vive cercada pelos laços invisíveis da imensa teia da vida. As plantas e os bichos constituem sua verdadeira família. O filme mostra com perfeição esse entrelaçamento entre a menina índia e os seres da floresta. Pois o que mantém unidos os habitantes daquele mundo fantástico é um segredo que os habitantes da cidade teimam em desprezar: tudo está entrelaçado e todos dependem uns dos outros para sobreviver. Tainá sabe que os animais da selva são seus companheiros. Ela convive intimamente com eles, imita os sons que produzem para se comunicar e conhece seus hábitos, seus movimentos, seus grupos familiares. Mas um perigo ameaça a continuidade desta harmonia, que é a base da teia da vida: são os caçadores de espécimes raros, que são pagos por compradores estrangeiros – e do nosso próprio país – a peso de ouro. Para salvar seus amigos das armadilhas de uma perversa quadrilha de traficantes de animais, Tainá enfrenta ameaças e perigos. No primeiro filme, o chefe do grupo de traficantes é Shoba, que serve a uma cliente americana, a ambiciosa Miss Meg. Shoba e seus ajudantes praticam um dos crimes ambientais mais assustadores pela crueldade. Para exibição em

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

3

zoológicos clandestinos ou utilização em pesquisas genéticas à margem da ética, os animais, encomendados por compradores distantes, são transportados em condições precárias e a maioria não sobrevive. Tainá encontra dois grandes aliados: Rudi, piloto de hidroavião, e a bióloga Isabel, mãe de Joninho, menino da cidade que odeia a vida naquela região, sem as comodidades urbanas. Apesar dos desentendimentos iniciais, Joninho e Tainá conseguem se unir e proteger os espécimes. Nesta luta, ambos se revelam verdadeiros “kirimbaus”, ou seja, guerreiros corajosos. O final do filme tem gosto de “quero mais”, pois a menina índia cativa os espectadores de maneira marcante. Ela desperta um sentimento de empatia na platéia, que passa a se identificar com sua missão de guardiã da floresta. No filme Tainá 2 - A Aventura Continua, a jovem heroína está de novo às voltas com os piratas da biodiversidade. Os bandidos Lacraia e Zé Grilo, liderados por Zuzu e Carcará, agem de maneira covarde e predatória. Nada os impede de atingir seus objetivos – a não ser, é claro, a persistência e a coragem de Tainá. Ela prossegue em sua difícil tarefa, desfazendo as armadilhas espalhadas no meio da mata e libertando os animais. Tainá é agora uma pré-adolescente e, além de defender as espécies nativas, zela pelos curumins da aldeia onde vive a pequena Catiti, que tem um grande sonho: encontrar um bichinho de estimação, um xerimbabo. Essa indiazinha de apenas seis anos não se conforma com o fato de que todos os seus amigos têm um companheiro para brincar. Quati, bicho-preguiça, tamanduá e macaco-prego são alguns dos bichos da fauna brasileira que vivem em liberdade, ao lado das crianças, numa parceria alegre e movimentada. Catiti deixa a aldeia para acompanhar Tainá, querendo ajudá-la a proteger os animais. Temendo pela segurança da menina, Tainá pede-lhe que volte, mas ela insiste em ficar. Enquanto isso, Carlito, garoto da cidade, está vindo passar as férias com o pai, o professor Gaspar, biólogo e também defensor da natureza. Numa asa-delta adaptada às condições da região, ele patrulha toda aquela área da floresta, denunciando as queimadas e as madeireiras clandestinas. Ao perseguir um besouro, Boris, o cachorrinho do menino, cai da barca em que ambos viajam, mas consegue sobreviver equilibrando-se nas folhas de uma vitória-régia, planta aquática da Amazônia. Depois, nada até a margem e se vira como pode naquele mundo para ele tão desconhecido, até ser capturado pela quadrilha de Zuzu. Ao desfazer uma das armadilhas dos bandidos, Tainá e Catiti encontram o cãozinho. Inconformado com a perda de Boris, Carlito embrenha-se na mata para procurá-lo e acaba encontrando-o em companhia de Catiti e Tainá. Catiti estava feliz por ter finalmente o seu xerimbabo. Mas Tainá consegue convencê-la a entregar Boris ao curumim branco, seu verdadeiro dono. Como no primeiro filme, mais uma vez é mostrado o choque cultural, envolvendo os conhecimentos urbanos, científicos, do jovem Carlito, e o saber natural, tradicional, de Tainá. São momentos marcantes da história, em que os espectadores podem se encantar com o poder das palavras e com a sabedoria de Tainá, em cenas ora líricas e humanas, ora divertidas e inusitadas. O pajé Tatu Pituna traz para história um toque especial de diversão e de magia. Apesar de suas primeiras divergências, Tainá, Carlito e Catiti vão unir forças para derrotar os perseguidores.

Implacáveis predadores ambientais, Lacraia e Carcará não hesitam em derrubar árvores centenárias para conseguir um ninho de pássaro ou para capturar Catiti, nem mesmo em matar uma bela onça que tenta proteger seu filhote. Eles também se apropriam, sem qualquer senso de ética e de justiça, dos animais de estimação das crianças da aldeia Arco-íris. Além de capturar os bichos, conseguem aprisionar Tainá e Carlito, quando estes tentam resgatar os queridos xerimbabos.

As forças da vida e da natureza, porém, estão do lado de Tainá, e a história, como não podia deixar de ser, tem um final feliz. Desta vez, Tainá e Catiti conquistam até mesmo uma nova aliada, pois a malvada Zuzu, depois de passar por uma metamorfose assustadora, muda radicalmente seu comportamento.

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

4

Graças ao poder do amuleto que Tainá recebeu de seu avô Tigê – o muiraquitã – o feitiço se vira contra a falsa feiticeira! Ao tentar transformar Tainá em macaca, imitando as artes mágicas do pajé Tatu Pituna, Zuzu acaba virando uma macaquinha. Na pele de um espécime perseguido e assustado, a traficante vai perceber a extensão das maldades que ela e seu bando faziam aos animais. A liderança, a coragem e a astúcia de Tainá triunfam novamente. E, para nossa alegria, ela vai prosseguir em sua saga de defensora da floresta, não só na ficção, mas também na realidade. A atriz Eunice Baía, protagonista do filme, foi convidada para fazer parte da Comissão de Honra da Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, promovida pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria como o Ministério da Educação, cuja etapa final aconteceu em Brasília, em 24 de abril de 2004.

3. DESENVOLVENDO PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DO FILME TAINÁ 2 Como no primeiro filme, Tainá 2 - A Aventura Continua oferece diversos encaminhamentos para um projeto de Educação Ambiental para alunos da 1a à 8a série do Ensino Fundamental. A obra cinematográfica permite uma análise da questão indígena no Brasil, apresenta a vida na floresta e os perigos que a ameaçam, mostra o problema da biopirataria, entre outros temas relevantes, oferecendo subsídios para que o professor possa abordar e discutir com os alunos temas sociais contemporâneos como ética e cidadania, meio ambiente, pluralidade cultural, saúde e orientação sexual (as relações de gênero). Esses temas, denominados temas transversais, fazem parte das propostas apresentadas pelo Ministério da Educação nos seus Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC/ SEF, 1997/1998), destinados às escolas de Ensino Fundamental de todo o país. Além disso, a narrativa fílmica, por seu caráter lúdico e mágico, pode ser muito significativa para o trabalho com Língua Portuguesa e Arte em sala de aula. O contexto da história mostra diversos encaminhamentos para projetos interdisciplinares, envolvendo as áreas já citadas e também Geografia, História, Ciências, Matemática, Educação Física. Além disso, devemos ressaltar que a linguagem cinematográfica tem sua própria especificidade, dirigindo-se muito mais à emoção, ao divertimento. Essa linguagem é pontuada por recursos técnicos, como os enquadramentos, a fotografia, a sonorização, a iluminação, os efeitos especiais, que devem também ser observados e analisados em sala de aula. As sugestões a seguir, dirigidas a professores dos quatro ciclos do Ensino Fundamental (da 1a à 8a série), visam tomar o filme como um ponto de partida para reflexões, debates, entrevistas, pesquisas e propostas diversificadas nas diversas áreas do conhecimento e, ainda, para desenvolver projetos de trabalho interdisciplinares.

Uma conversa com o professor:

Professor, antes de tudo, certamente você gostaria de definir os objetivos de um projeto de Educação Ambiental. Como estabelecer relações entre as aventuras de uma menina índia e os conteúdos curriculares que se propõe a trabalhar com sua turma nesse momento? É claro que ninguém melhor que você saberá decidir o que é mais adequado para seus alunos, portanto, as propostas que destacamos a seguir devem ser vistas como sugestões, que poderão ser adaptadas à sua realidade.

Propostas de trabalho por projetos

• Tainá 2 - A Aventura Continua pode, no ambiente da sala de aula, promover uma reflexão sobre as relações do homem com a natureza, da qual todos fazemos parte, mostrando a importância de que essa relação seja pautada pelos princípios do respeito, da preservação, da proteção, da utilização racional e responsável dos recursos naturais. Essas noções devem ser trabalhadas com as crianças a partir de seu ambiente mais próximo – o bairro, a escola, a comunidade – onde certamente haverá a possibilidade de detectar problemas ambientais que precisam ser pesquisados e discutidos.

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

5

• É importante que, na escola, seja feito um mapeamento dos problemas ambientais observados na escola e na comunidade. Para isso, os alunos poderão pesquisar sobre diferentes temas. Por exemplo: como está a qualidade de água que é usada em casa e na escola? Há problemas relacionados ao abastecimento de água na cidade? Que medidas são tomadas para a proteção dos mananciais? Além da água, os alunos devem estar atentos à qualidade do ar, à limpeza urbana, ao recolhimento e tratamento do lixo, à proteção e recuperação das áreas verdes, à limpeza de parques, jardins, praias... E muito mais.

• A partir dos problemas detectados, serão elaborados os projetos de trabalho, que devem partir sempre de uma

situação-problema e da busca por possíveis soluções ou encaminhamentos. • O filme pode proporcionar pesquisas e discussões a respeito de como a Floresta Amazônica está presente no dia-

a-dia das grandes cidades. Basta lembrar a utilização que fazemos dos produtos vegetais na culinária, como o saboroso guaraná com açaí, a castanha-do-pará, o cupuaçu, o maracujá, as pimentas, o cravo, a canela, o urucum; na flora medicinal (salsaparrilha, alfazema, andiroba, folha de goiabeira, camembeca, catuaba são plantas medicinais muito usadas); no paisagismo (com o uso de plantas ornamentais como orquídeas, bromélias, trepadeiras); na alimentação (peixes como o tucunaré, o tambaqui, o matrinxão, o pacu); na ornamentação de diversos ambientes (com os peixes de aquário: néon, acará-bandeira, peixe-folha, que vieram dos rios da Amazônia); em objetos utilitários e de decoração (como cestos, tapetes, chapéus de palha, alpercatas, sacos, persianas, cordas, redes e outros objetos feitos de fibras de juta, piaçava, malva, tucum; em produtos industrializados (sabonetes com óleos vegetais, cera para polir móveis, papel, filme fotográfico, tintas de escrever, madeira para os móveis, como o mogno, a sucupira, o jacarandá, a sumaumeira, o pau d´arco, a borracha dos pneus, o chiclete, feito com sorva, etc.).

O filme Tainá 2 - A Aventura Continua permite trazer para a sala de aula uma discussão sobre temáticas

que envolvem todas as áreas do conhecimento: Ø Língua Portuguesa – conhecimento de contos, mitos e lendas que os diversos povos indígenas, através da

oralidade, legaram às gerações atuais. A lenda do muiraquitã, por sua beleza e simbolismo, pode ser narrada e comentada em sala de aula (ver leitura complementar no livro Os Esqueletos das Amazonas, de Assis Brasil, editado pela José Olympio).

• Também pode se tornar tema de conversas e pesquisas a importância da comunicação entre pessoas que fazem parte dos mais diversos grupos étnicos e culturais, bem como a utilização de variados recursos tecnológicos, criados pela inteligência humana, possibilitando uma maior aproximação e entendimento entre os povos. No final do filme, Carlito faz uma interessante observação a respeito da sapopema, raiz das árvores da floresta, que permite que Tainá e seus amigos curumins possam transmitir mensagens a distância. Menino da cidade, acostumado com os computadores, Carlito comenta que a sapopema é mais rápida que a Internet! Por isso, para o irreverente papagaio Ludo, a “raiz mágica” passa a ser chamada de sapopema.com.

• Outro aspecto bem interessante da narrativa é o uso de provérbios e de expressões da tradição popular, que são recriados de forma bem divertida. Preparando-se para usar a temível motosserra para derrubar uma bela e gigantesca árvore da floresta, Carcará diz: “Eu vou cortar o bem pela raiz”, parodiando o dito popular “Deve-se cortar o mal pela raiz”. As gírias usadas por Carlito também são bem interessantes, como por exemplo: “Meu pai é sangue bom¨. Ao ouvir essa gíria urbana, Tainá pensa que ele está se referindo a uma tribo.

• No trabalho com a formação de palavras da língua portuguesa, pode-se destacar o fato de que muitas delas tiveram sua origem na língua tupi. Abacaxi (ibá-cachi, fruta cheirosa), capivara (caapi-uára, comedor de capim), carioca (carió-oca, casa do branco, residência do europeu), biboca (Yby-boca, terra rachada, casa de barro), ceará (cê-ará, canta o papagaio), Ipanema (y-panema, água ruim, imprestável), minhoca (mí-nhoga, extraído do chão, verme do chão), saúva (yçá-ub, o pai das fomigas, ou a formiga má), tororó (onomatopéia de enxurrada), urubu (uru-bû, a galinha preta, a ave negra), pipoca (py-poca, pele estalada), etc.

Ø Geografia – em cada uma das regiões brasileiras existem importantes ecossistemas que devem ser preservados, pois eles estão seriamente ameaçados pela desenfreada exploração econômica, dentro da visão capitalista, que só visa o lucro imediato. Além da preocupação com a Amazônia, que faz parte da Região Norte, pedir, por exemplo, que os alunos pesquisem em livros, revistas, jornais e na Internet sobre a Mata Atlântica, na Região Sudeste, que, segundo os ambientalistas, tem atualmente apenas 2% da sua cobertura vegetal original!

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

6

• Também podem ser trabalhados outros conteúdos da Geografia, como a bacia hidrográfica do Rio Amazonas; a

importância de um desenvolvimento sustentável para a Amazônia. • Comentar as formas de orientação espacial utilizadas pelos personagens (Carlito usa o seu conhecimento sobre

os pontos cardeais. Tainá usa o curso dos rios para se guiar, e também observa os animais: alguns vivem na floresta de terra firme, outros próximos às várzeas).

• Observar que os meios de transporte utilizados na Amazônia têm que estar de acordo com os aspectos

geográficos da região: canoa, gaiolão, flying-boat. Da mesma forma as moradias são adequadas às características do solo, como é o caso das palafitas.

Ø História – os alunos podem pesquisar sobre o fato de que os recursos naturais de nosso país, desde os tempos do Brasil Colônia, vêm sendo explorados de maneira desordenada e predatória, como se eles fossem inesgotáveis. No filme, é mostrada a ameaça das motosserras, que derrubam em poucos minutos árvores que levaram dezenas de anos para crescer. Como Tainá usa o látex extraído da seringueira, outro tema que pode ser abordado a partir do filme é a história da borracha, uma das riquezas da Amazônia, que teve seu apogeu no século XIX e seu declínio nas primeiras décadas do século XX. (ver Leitura complementar).

• Uma outra sugestão para o trabalho: a partir de consultas em livros e revistas e na Internet, conhecer a vida e a

obra dos grandes exploradores que realizaram pesquisas sobre a Amazônia, como o zoólogo e paleontólogo suíço Louis Agassiz, que escreveu obras sobre os peixes do Brasil. Em homenagem a este cientista, o nome do cão de Carlito, que é filho de um biólogo, se chama Bóris Agassiz. Outros aventureiros que estiveram na Floresta Amazônica: Vicente Pinzón, que batizou o gigantesco rio Amazonas de ¨Santa Maria de la Mar Dulce¨. Pizarro e Orellana, que vieram em busca de ouro e canela. Famosas expedições científicas foram feitas na Amazônia, como a grande e arriscada aventura de Alexander Von Humboldt e Bonpland. O alemão Von Martius viveu 4 anos na Amazônia e produziu a maior obra botânica de todo o mundo, em companhia de Von Spix (incentivado por D. Pedro de Portugal, que depois viria a se tornar D. Pedro I, Imperador do Brasil). Em 1848, vieram para a Amazônia os cientistas ingleses Alfred Wallace e Henry Bates. Wallace depois se tornou co-descobridor do princípio da seleção natural, apresentando-o ao mundo junto com Charles Darwin. E ainda o naturalista alemão Harald Sioli, que foi feito prisioneiro durante a Segunda Guerra Mundial, e mantido em campo de concentração em Tomé-Açu, no Pará, durante 3 anos.

• Outro aspecto que pode ser abordado a partir do filme: os colonizadores tomavam as terras e as coisas dos índios no passado. A pequena Catiti, ao contrário, numa atitude magnânima, devolve ao curumim branco o cachorro que sabia pertencer a ele.

Ø Ciências: a imensa biodiversidade da Amazônia é alvo da cobiça de grupos econômicos internacionais. Este segundo filme, como o primeiro, mostra um dos mais terríveis crimes ambientais – a biopirataria – que consiste no contrabando de espécimes da fauna e da flora brasileira para outros países. Como já comentamos na introdução, esses animais sofrem maus-tratos, pois são presos em mínimas gaiolas e transportados em péssimas condições. São comercializados ilegalmente, ora para serem usados em pesquisas genéticas desenvolvidas em laboratórios estrangeiros, ora para o comércio de peles e penas, ora para serem exibidos em zoológicos clandestinos. Conhecer a importância dessas espécies para a manutenção do equilíbrio ambiental é muito importante, pois dessa forma os alunos saberão defendê-los, lutando por leis que protejam a fauna e a flora de nosso país. Seguindo o exemplo de Tainá, meninos e meninas, ainda que vivam nas cidades, poderão se engajar nessa luta e serem também kirimbaus e “guardiães da floresta”. Dessa forma, eles estarão exercendo a cidadania.

• No filme, acontece uma espécie de duelo verbal entre Tainá e Carlito, quando eles nomeiam os animais da região.

Carlito, exibindo sua cultura escolar, diz o nome científico dos animais, enquanto Tainá diz o nome deles em tupi. E, nessa troca, ambos estão aprendendo, enriquecendo seu vocabulário e ampliando seu universo cultural. Na sala de aula, o professor pode dar continuidade a esse jogo, pedindo que as crianças pesquisem os nomes científicos das espécies animais e vegetais de sua região.

• Merece especial destaque a maneira como o filme aborda a relação entre as crianças e seus animais de

estimação, os xerimbabos. Nesse aspecto, as diferenças culturais se desvanecem, pois tanto Carlito como os

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

7

curumins revelam o mesmo apego, o mesmo amor pelos animais, seus companheiros de todas as brincadeiras. O filme mostra, assim, que existe uma identidade no “ser criança”, que vai permitir a aproximação entre diferentes culturas e estilos de vida. Também proporciona uma discussão sobre a importância de zelar não só pelas espécies de nossa fauna ameaçadas, mas também pelos animais domésticos, prevenindo as zoonoses com vacinas e mantendo limpos e bem alimentados esses amigos tão especiais.

Ø Matemática: “O saber matemático é fundamental para a compreensão da realidade e está, neste sentido, intimamente articulado às atividades cotidianas que cada sociedade desenvolve”. Nos Referenciais Curriculares para as escolas indígenas, destaca-se a maneira como os índios usam o conhecimento matemático nas formas de conceber o espaço onde vivem, nos padrões geométricos usados na cestaria, na tecelagem, na pintura corporal, nos seus distintos modos de medir a passagem do tempo. Observando o trabalho artesanal dos indígenas brasileiros (e de outras sociedades tradicionais), os estudiosos deduziram que a Matemática existe em toda a parte, mesmo que não se tenha consciência disso. Dessa forma, um trabalho interessante pode ser feito em sala de aula: o professor pode solicitar que os alunos reproduzam os padrões geométricos usados pelos indígenas em suas pinturas corporais e na confecção de objetos, procurando associar esses desenhos com os conteúdos de Geometria que ele estiver trabalhando.

Ø Educação Física, Artes Cênicas, Artes Plásticas e Música: • Os jogos e brincadeiras dos meninos e meninas da aldeia Arco-íris podem ser recriados em sala de aula,

principalmente nas turmas dos primeiros ciclos do Ensino Fundamental, nas aulas de Educação Física ou de Artes Cênicas. Assim como os curumins, os alunos poderiam dançar, expressar-se através do corpo, imitar os animais, cantar, e muito mais. Esses jogos dramáticos são muito importantes para desenvolver a consciência corporal e também para formar um espírito de grupo. Ao final das atividades, sempre é importante que as crianças possam fazer um relaxamento e, também, tenham a oportunidade de verbalizar as emoções vivenciadas durante o jogo.

• Ainda no campo da arte, o professor deve solicitar que os alunos observem as formas de expressão artística dos

indígenas: a pintura corporal, a confecção de objetos de cerâmica, de palha e de vime, os instrumentos musicais, etc. Na seqüência final do filme, Tainá e Carlito se pintam com urucum. Segundo as tradições indígenas, os maus espíritos não enxergam a cor vermelha, e os guerreiros que se pintam com urucum estarão protegidos. Seria interessante exibir para a turma vídeos que mostrem os rituais indígenas, suas danças, sua cestaria e seus costumes. A TV Escola, canal educativo do Ministério da Educação, produziu a série “Índios no Brasil”, que mostra a vida em diversas aldeias de nosso país. Também da TV Escola, o programa Salto para o Futuro, destinado à formação continuada e ao aperfeiçoamento de professores, já elaborou duas séries temáticas sobre a Educação Escolar Indígena. Nesses programas, são mostradas, em diversas aldeias, as escolas bilíngües, onde crianças, jovens e adultos têm um professor que é da própria comunidade e são alfabetizados tanto na língua materna como em Português. (Sobre Direitos dos povos indígenas, ver leitura complementar)

• A linguagem cinematográfica: uma integração de todas as linguagens: cênica, musical, plástica, oral,

corporal... Seria interessante que os alunos pudessem rever alguns trechos do filme em que observassem e comentassem sobre os recursos audiovisuais próprios da linguagem cinematográfica: Quais são os sons da floresta? Que imagens foram mais expressivas? Como foram retratados os diferentes ambientes? Quais as características mais marcantes de cada personagem?

• Uma forma de mostrar, por exemplo, a importância dos efeitos sonoros no filme é exibir um trecho sem a trilha

sonora, e propor que os alunos “recriem” essa sonorização usando outros recursos, como papel, folhas, instrumentos musicais, barulhos feitos com partes do corpo ou com diferentes objetos, etc.

ABORDANDO OS TEMAS TRANSVERSAIS Pluralidade Cultural

O filme traz para a sala de aula uma discussão sobre a formação étnica do povo brasileiro. O legado dos povos indígenas e africanos é muito maior e mais significativo do que consta na maioria dos livros didáticos.

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

8

Como analisa Leonardo Boff em seu livro O casamento entre o céu e terra – contos dos povos indígenas do Brasil (editora Salamandra, 2001): “Os colonizadores vinham de climas temperados do norte da Europa. Nada sabiam da vida dos trópicos, do cultivo de suas frutas, tubérculos e leguminosas, como prepará-los e consumi-los. Aprenderam com os habitantes da terra as formas de manejar os solos, a maneira de morar, de se vestir, de assumir hábitos higiênicos, como tomar banho diariamente”. O autor também comenta sobre a presença indígena no cotidiano da casa, na culinária, na medicina e no nosso imaginário. Dessa forma, o filme permite uma ampla discussão, visando valorizar a pluralidade cultural de nosso país, formada por diferentes etnias, destacando que é do entrelaçamento entre os diversos grupos componentes de nossa nacionalidade que surge esta mistura de sotaques, saberes, tradições, religiosidade e visões de mundo, tão característica do povo brasileiro. E, dentro dessa perspectiva, é essencial perceber o papel das populações indígenas da Amazônia e sua relação com a natureza, reconhecendo seus direitos como povos nativos, percebendo sua ampla diversidade. O filme Tainá 2 - A Aventura Continua revela a pujante riqueza cultural das sociedades indígenas, transmitida de geração a geração através da oralidade. Também deixa perceber como as populações indígenas estão integradas com o meio ambiente, sabendo manejar de maneira não destrutiva os recursos naturais da floresta. É importante que o professor proponha debates e diversas outras atividades que tenham como objetivo valorizar e respeitar as diferenças étnicas e culturais de nosso povo, combatendo qualquer forma de preconceito de raça, crença, valores e de classes sociais.

Ética A personagem Tainá oferece para crianças e jovens brasileiros um modelo de coragem e determinação bastante estimulantes. São tantos os exemplos negativos com que nos deparamos, na mídia e na própria vida, que muitas vezes nós, professores, percebemos em nossos alunos um certo ceticismo, ou mesmo uma descrença generalizada quando se trata de buscar soluções para os problemas que existem em nosso país. É comum vermos crianças e jovens dizerem que “nada vai dar certo”, que “não tem jeito” e que “tudo vai ser sempre assim”, quando pedimos que apontem caminhos para os problemas da escola e da comunidade. A falta de modelos positivos dá origem a essas atitudes de descrença, que podem levar a comportamentos agressivos, nascidos do medo, do desamor, da insegurança... Contar histórias ou assistir a filmes nos quais estão presentes atitudes emblemáticas de valorização da vida, de desejo de mudança, de luta pela construção de uma sociedade mais justa são formas de trazer para a sala de aula modelos autênticos de “heróis” do cotidiano: homens, mulheres, jovens ou crianças que não desanimam diante das dificuldades e enfrentam desafios para conquistar seus sonhos e ideais. Este é um dos aspectos marcantes de Tainá: a identificação dos espectadores com uma menina brasileira, com seu grupo, os curumins das aldeias da Amazônia, com um menino da cidade, o garoto Carlito, e com todos os que, como eles, acreditam na importância de preservar a maior reserva ambiental do planeta: a Floresta Amazônica.

Imbuídos deste clima, meninos e meninas de todo o Brasil vão se entusiasmar e desejar se mobilizar para as campanhas de proteção ao meio ambiente, começando por sua própria comunidade e, depois, ampliando sua visão de mundo, vão procurar entender e discutir os problemas ambientais que afligem não só o nosso país, mas também muitos outros, como a poluição do ar, a escassez de água, a desertificação, as carências alimentares, a perda da cobertura vegetal, a questão da terra e da moradia, e tantos outros mais.

Também no campo da ética, é fascinante como o filme mostra o respeito que os índios têm pela sabedoria de seus ancestrais, ao contrário de muitas crianças ditas civilizadas, que acham os mais velhos "caretas". Tainá ensina Carlito a entender melhor seu pai, ao lhe falar dos ensinamentos que aprendeu com seu avô Tigê: "O sol será nosso guia, quando não há lua".

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

9

Destacamos, ainda, no que se refere a essa discussão sobre as condutas humanas, que seria interessante comparar o papel dos malfeitores nos dois filmes. Em Tainá: Uma Aventura na Amazônia, vimos que os bandidos são punidos de maneira exemplar. Mas um novo enfoque foi dado em Tainá 2 - A Aventura Continua, apontando para a possibilidade de regeneração de dois traficantes. Esse fato pode possibilitar uma discussão com os alunos. Como sabemos, muitas vezes a destruição dos recursos naturais acontece devido à ignorância, ao total desconhecimento das relações que garantem a continuidade da teia da vida. Novamente reforça-se a necessidade da Educação Ambiental, que deve estar presente não só na sala de aula como também na mídia, nos projetos comunitários, nos filmes, em livros de literatura e nos mais diversos espaços culturais.

Meio Ambiente e Saúde Destacamos aqui este trecho do documento Meio Ambiente na escola, do programa Parâmetros em Ação, divulgado em 2001 para as escolas públicas brasileiras, que consideramos importante para explicitar o enfoque que adotamos aqui nesta proposta de trabalho com o filme Tainá 2 - A Aventura Continua: “Com freqüência as pessoas utilizam termos iguais com significados diferentes. O conceito de ‘meio ambiente’, por exemplo, tem sido usado desde sua origem como sinônimo de ‘natureza’, ou ‘recursos naturais’. No entanto, entende-se atualmente que reduzir esse conceito a aspectos exclusivamente naturais exclui as interdependências e interações com a sociedade, tanto quanto as contribuições das ciências sociais à compreensão e à melhoria do ambiente humano.(...) Ou seja, a idéia de meio ambiente tem duas determinações: natureza e sociedade.” O citado documento destaca, ainda, que a educação ambiental, na atualidade, deve ir além da perspectiva conservacionista e procurar abranger também a dimensão socioeconômica, política, cultural e histórica. O principal objetivo é “formar cidadãos para a construção de um desenvolvimento menos excludente e mais justo – a sustentabilidade sócio-ambiental”. O Conselho Federal de Educação aprovou o Parecer n. 226/1987, no qual se recomenda a inclusão da Educação Ambiental entre os conteúdos curriculares propostos para as escolas de 1o e 2o graus, hoje, Ensino Fundamental e Médio. Mas foi a partir da Rio 92, Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro, que as questões ligadas ao meio ambiente realmente se tornaram presentes nas salas de aula. E, atualmente, a Educação Ambiental já faz parte do cotidiano de professores e alunos brasileiros. Destacamos, porém, que é essencial que os projetos de Educação Ambiental não fiquem desarticulados da realidade de cada escola. É essencial que eles sejam parte do projeto político-pedagógico e que envolvam todos os atores da comunidade escolar: diretores, professores, alunos, pais, funcionários e a comunidade como um todo. Dentro desta perspectiva, em meados de setembro 2003, as escolas brasileiras foram solicitadas a participar da Agenda 21 – educação para um Brasil sustentável. Alunos e professores de todo o país se organizaram para debater a proposta “Vamos cuidar do Brasil”, em mini-conferências do Meio Ambiente realizadas nas escolas, nas quais os alunos elaboraram propostas, que foram enviadas ao Conselho Jovem de cada estado. A seguir, cada estado brasileiro selecionou 14 delegados para a Conferência Nacional em Brasília. Foram criadas comissões nos estados e no Distrito Federal, a partir da orientação do Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Ministério da Educação. Houve uma intensa mobilização, que atingiu estudantes e comunidades escolares de cerca de quatro mil municípios. Participaram 15.148 escolas, com quase 6 milhões de pessoas. Também participaram das discussões escolas indígenas, quilombolas, ribeirinhas, caiçaras, de assentamento, de pescadores e de portadores de necessidades especiais. Esse processo culminou na realização da Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, que aconteceu em Brasília, em 24 de abril, contando com a presença de delegados de todos os estados da União e de jovens observadores internacionais. Como já comentamos anteriormente, Eunice Baía, atriz que viveu a personagem Tainá nos dois filmes da Tietê Produções, foi convidada a participar do início e da conclusão deste evento.

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

10

Entre as Deliberações da Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, destacamos, para leitura complementar, a que fala sobre os Seres Vivos, pela pertinência com a temática abordada no filme Tainá 2 - A Aventura Continua. Destacamos, ainda, que um projeto de Educação Ambiental deve estar inter-relacionado com o tema transversal Saúde. Além das questões ecológicas abordadas no filme, os projetos escolares com Tainá 2 - A Aventura Continua precisam discutir a realidade dos alunos brasileiros, detectando e procurando soluções para os problemas que eles enfrentam em seu dia-a-dia: violência, desemprego, problemas com o atendimento hospitalar, dificuldades de moradia e de transporte, falta de saneamento básico, etc. Enfim, um projeto de Educação Ambiental, como já dissemos, tem como um dos seus principais objetivos a luta pela qualidade de vida.

Orientação sexual – as relações de gênero

Uma interessante competição se estabelece entre as crianças de idade escolar no que se refere às relações de gênero. Nas turmas dos primeiros ciclos, vemos que meninos tentam sempre ficar em grupos formados por meninos, e o mesmo acontece com as meninas. Dessa forma, as crianças estão procurando conhecer sua própria identidade. Cabe ao professor trazer para a discussão em sala de aula os estereótipos que existem em nossa sociedade com relação às relações de gênero, questionando certas afirmações carregadas de preconceito, como, por exemplo, “meninas não gostam de jogos competitivos”, ou “meninos não gostam de poesia”. A sala de aula é o espaço ideal para que os alunos exponham suas dúvidas, medos e ansiedades com relação à sexualidade. Leituras, filmes, conversas e palestras, sempre respeitando o interesse e a idade da criança e do adolescente, permitem que muitas idéias preconceituosas venham à tona, podendo ser debatidas e esclarecidas num clima de confiança e tranqüilidade. Destacamos que todas as atividades que girem em torno dessa temática, na escola, devem envolver os pais e responsáveis, pois é essencial respeitar os valores dos diferentes grupos familiares que compõem o universo escolar. No filme, podemos observar que existe, no início, uma dificuldade de aproximação entre os personagens. Carlito recusa a ajuda das duas meninas e se revolta por estar sendo “espiado” por elas quando está sem suas roupas. Essa cena reflete também um choque cultural, pois, devido à sua cultura, os índios têm maior liberdade com relação ao seu corpo, não sendo a nudez para eles motivo de vergonha. Hoje em dia, em muitas aldeias, homens e mulheres indígenas se vestem como nós, os chamados civilizados, e a personagem Tainá, agora adolescente, aparece vestida. Esse aspecto, que ressalta a atualidade do filme, deve ser analisado pelo professor. É importante que ele comente com os alunos que existem em nosso país, no século XXI, cerca de 200 nações indígenas. Com a demarcação de suas terras, o que se tornou um compromisso do Governo brasileiro desde a Constituição de 1988, a população indígena voltou a crescer. E a maioria dos índios de hoje se veste como os não-índios, além de ter adotado diversos outros costumes próprios de quem vive nas cidades. O filme se insere, portanto, num contexto bem atual, mostrando que Tainá, ainda que mantenha as suas tradições culturais, é uma jovem brasileira, com os todos os encantos próprios de uma menina de 13 anos. Em seu jeito de andar, em sua maneira de olhar e de sorrir, transbordam uma beleza e uma juventude que conquistam a admiração de Carlito. Pouco a pouco, o menino vai perdendo seu ar de superioridade e passa a aceitar a liderança da menina, respeitando seus saberes e sua visão de mundo. Entre os dois se estabelece uma cumplicidade que será essencial para que conquistem seus objetivos. Todos esses aspectos são muito relevantes para o trabalho com a Orientação Sexual, principalmente na temática “relação de gênero”. A leitura de livros de literatura infantil e juvenil e de livros informativos, a exibição de filmes e a realização de entrevistas com médicos e psicólogos que se disponham a vir à escola, bem como as reuniões de pais e muitos outros recursos devem ser aliados do professor no trabalho com a sexualidade.

Considerações finais:

“Catiti é guerreira! Catiti é kirimbau!” Portanto, a luta continua...

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

11

No final da história, a pequena Catiti consegue ter seu xerimbabo, a oncinha Pipoca. Além disso, ela recebe de Tainá um precioso legado – o muiraquitã. Com esse gesto, a guardiã da floresta mostra ter reconhecido a importância de sua nova aliada. Catiti, agora, já faz parte do “time”. Tainá também nos convida a todos, espectadores do filme e admiradores dessa heroína tão brasileira, a participar de sua luta em defesa da Floresta Amazônica, nosso maior patrimônio natural. Como Catiti, também recebemos, como se fosse um amuleto mágico, a força, a sensibilidade, a coragem, o idealismo e a esperança dessa personagem cativante. Enfim, o final do filme representa um recomeço, pois a luta continua!

4. TEXTOS PARA LEITURA COMPLEMENTAR 4. 1 - Deliberações da Conferência Infanto-Juvenil sobre Meio Ambiente (Texto extraído da publicação

referente às Deliberações 2003, da Conferência Nacional do Meio Ambiente e da Conferência Infanto-juvenil para o Meio Ambiente, em abril de 2004, MMA - Brasília.) Trecho para discussão: Seres vivos O maior problema entre os seres vivos é o desequilíbrio ecológico causado pela extinção de animais e pela caça predatória, dando prosseguimento ao prejuízo da biodiversidade. A falta de investimento dos órgãos de fiscalização ambiental gera então um regimento inadequado da lei, não havendo, assim, a aplicação correta das penas. Um exemplo disso é o pagamento obrigatório de multas aplicadas a empresas poluentes, que poderia ser retribuído com ações que reduzissem a destruição ambiental cometida por elas. O desenvolvimento de tecnologias que prejudicam o meio ambiente, a falta de conhecimento e de informações sobre educação ambiental e o desmatamento das matas ciliares e nativas de cada região do Brasil são fatores que mais afetam os seres vivos

Proposta 1 Vamos cuidar dos seres vivos – evitar as queimadas, reflorestar áreas desmatadas, criar parques de proteção ambiental, proteger espécies em extinção, cumprir a lei dos crimes ambientais, com penas mais rigorosas para a biopirataria, tráfico de animais silvestres, pesca predatória e indústrias que se beneficiam do contrabando de peles de animais silvestres e de madeira. Os elementos fundamentais para um meio ambiente melhor são os órgãos fiscalizadores, mas como eles não podem estar sempre em todos os lugares, necessitamos de grande união entre órgãos ambientais, ONGs ambientalistas, mídia, comunidade, secretarias e ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. É importante o patrocínio especial de pequenas e grandes empresas junto à segurança de órgãos florestais, assim como a criação de conselhos jovens nas escolas. Para assegurar proteção especial aos seres vivos, deve-se ampliar a segurança ambiental já existente para os animais silvestres, prendendo infratores que atuam na venda ilegal, ou seja, na biopirataria. A população também poderia se conscientizar por meio de cartilhas de braile, programas com tradução para libras (linguagem brasileira de sinais), etc. A comunidade e o município poderiam elaborar um projeto de coleta seletiva que se tornasse lei e fosse capaz de combater a poluição. Nós, jovens, podemos ajudar, sensibilizando as pessoas com informações sobre a forma de reciclar o lixo nas escolas e como fazer cooperativas de reciclagem. Podemos também adotar movimentos ambientalistas nas escolas, juntamente com ONGs, com a participação de portadores de necessidades especiais. Mas, para fazer tudo isso, temos primeiro que conhecer, amar e saber a falta que a natureza pode fazer aos seres vivos.

Mensagem aos jovens O meio ambiente tem que ser preservado para que nós, jovens, possamos ter um futuro saudável. Cabe-nos denunciar as agressões aos seres vivos e lutar pela sua proteção.

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

12

4. 2 - Sobre a borracha na Amazônia

A palavra portuguesa “borracha” significava recipiente para bebida. O uso desse termo ter-se estendido à goma elástica, o látex, extraído de certas árvores, pode ter sua origem no fato de os indígenas americanos fabricarem garrafas e bolas ocas de látex. A árvore mais importante para a extração da borracha é a Hevea Brasiliensis, conhecida como seringueira, natural da Amazônia. Também o caucho e a maniçoba podem ser utilizados. Exploradores europeus que vinham ao Brasil no século XIX tiveram sua atenção despertada por algumas bolas fabricadas artesanalmente pelos indígenas, que eram ocas e subiam a grande altura quando tocavam o solo. Várias dessas bolas foram levadas para experiências, mas durante muitos anos não se conseguiu uma liga bastante resistente que permitisse a utilização industrial da borracha. Apenas em 1839, Charles Goodyear, nos Estados Unidos, e logo depois Hancok, na Inglaterra, descobriram a forma de conseguir que a borracha tivesse flexibilidade e resistência ao calor, associando-a ao enxofre (processo conhecido como vulcanização). Em seguida, Dunlop conseguiu se utilizar do produto para a fabricação de pneus e câmaras-de-ar utilizados em automóveis. Com a indústria dos automóveis, a borracha passou a ser requisitada em larga escala pelo mercado mundial. O Brasil detinha o monopólio do produto bruto, extraído dos seringais da Floresta Amazônica por processos extremamente rudimentares. Nos fins do século XIX, época do “apogeu da borracha brasileira”, na Europa já se faziam as primeiras corridas de automóvel, enquanto o seringueiro do Amazonas abria lentamente a picada no mato, com seu facão, para extrair das árvores o precioso líquido. A intensa exploração da borracha na região Amazônica rendeu rios de dinheiro para muitos, mas o modesto trabalhador brasileiro foi o que menos participou dessa riqueza, quando não perdeu, além do pouco que tinha, sua própria vida. Na época do apogeu da exploração da borracha, foram exportadas mais de 42.000 toneladas do produto. Contudo, essa exploração era feita de maneira desordenada, sem o devido respeito pelas condições naturais do solo, pois só se visava o lucro imediato. Em breve, outros países, como a Malásia, passaram a cultivar a seringueira, a partir de mudas levadas de nosso país, alcançando níveis de produtividade bem maiores. Por volta de 1931, aconteceu o declínio de mais um produto econômico brasileiro, deixando áreas da floresta devastadas e milhares de trabalhadores desempregados.”

(Texto extraído e adaptado da obra Enciclopédia de Pesquisas Escolares, de Magda Frediani Martins e Maria Filomena Guimarães, volume IV, editoras Renovada e Livros do Brasil, 1997.)

4. 3 - Sobre os direitos dos povos indígenas na atualidade

O reconhecimento dos direitos dos povos indígenas no mundo contemporâneo avançou muito em relação a algumas décadas atrás, tanto por parte dos Estados Nacionais, quanto pela comunidade internacional. A presença cada vez mais visível e marcante de lideranças indígenas, tanto nos cenários políticos nacionais como internacionais, demonstra a vitalidade desses povos e seu desejo de fortalecer sua identidade e, onde possível, suas tradições e práticas culturais, em um mundo cada vez mais marcado pela globalização, mundialização do mercado e integração na comunicação. Paradoxalmente, a diversidade das culturas e a riqueza de conhecimentos, saberes e práticas, tantas vezes negadas pelo saber hegemônico e pelo poder autoritário, são hoje reconhecidas e valorizadas, abrindo espaço para a aceitação da diferença e do pluralismo.

A tendência presente em muitos Estados Nacionais, de tratar os modelos de vida dos povos indígenas como fatores limitantes da unidade nacional, postulando uma homogeneidade lingüística e cultural, tem sido superada através de novos ordenamentos constitucionais e legais. A afirmação da possibilidade de esses povos fortalecerem suas identidades e práticas é sinal de que estão se abrindo novos espaços jurídicos de aceitação da diversidade étnica e

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

13

cultural representada por eles. Isto pode ser verificado tanto âmbito internacional, através de novas declarações e convenções em elaboração por organismos internacionais, como no âmbito nacional, através da promulgação de novas cartas constitucionais e de legislações específicas, como vem ocorrendo em toda a América Latina nos últimos anos. O Brasil não é exceção a esse contexto. Ao contrário, o país é signatário de vários instrumentos internacionais que visam a garantir direitos fundamentais de todos os seres humanos e que coíbem discriminação e preconceito contra grupos específicos. Além disso, tem participado de fóruns de discussão que elaboram novos instrumentos de defesa e de reconhecimento de direitos específicos aos povos indígenas. Em sua atual Constituição, o Brasil reconhece o direito de os povos indígenas se manterem enquanto tais e se perpetuarem indefinidamente. É significativo, também, o avanço do reconhecimento da existência de direitos coletivos nos últimos anos, o que tem implicações imediatas sobre a situação jurídica dos povos indígenas. Tradicionalmente, considerava-se que direitos humanos e liberdades fundamentais eram direitos individuais, próprios a cada ser humano, mas não das coletividades. Atualmente, cresce o consenso de que alguns direitos humanos são direitos essencialmente coletivos, como o direito à paz e a um ambiente saudável. São direitos coletivos dos povos indígenas, entre outros, o direito ao seu território e aos recursos naturais que abriga, o direito a decidir sobre sua história, sua identidade, suas instituições políticas e sociais, e o direito ao desenvolvimento de suas concepções filosóficas e religiosas de forma autônoma. A elaboração de normas jurídicas internacionais para os povos indígenas vem obrigando países e organismos internacionais a repensar muitas das concepções tradicionais sobre os direitos humanos. Lideranças e organizações indígenas de todo o mundo têm se mobilizado para garantir aqueles direitos, denunciando e repudiando situações de discriminação, legais e de fato. Isso vale também para o Brasil. A Constituição Federal, além de perceber o índio como pessoa, com os direitos e deveres de qualquer outro cidadão brasileiro, percebe-o como membro de uma comunidade e de um grupo, isto é, como membro de uma coletividade que é titular de direitos coletivos e especiais. Texto extraído do Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas, publicado pelo Ministério da Educação – 1998 / 2004.

4. 4 - Trechos da entrevista com o escritor indígena Daniel Munduruku, para o jornal Notícias, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ O jornalista e escritor Márcio Vassallo, a convite da FNLIJ e com apoio da editora Global, entrevistou o escritor indígena Daniel Munduruku, que em 2003 recebeu a Menção Honrosa do Prêmio Tolerância, concedido pela Unesco, por seu livro Meu vô Apolinário – Um mergulho no rio da (minha) memória, editado pela Studio Nobel, em 2001, com ilustrações de Rogério Borges. Além desse prêmio, Daniel Munduruku também recebeu, em julho do ano passado, o Prêmio Érico Vannucci, concedido pelo CNPq, pelo Ministério da Cultura (MinC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que visa homenagear pessoas que tenham realizado estudos e pesquisas sobre a cultura brasileira, no sentido da preservação da memória cultural das minorias étnicas e sociais. Daniel Munduruku é originário de Belém, estudou Filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e sempre trabalhou contando histórias nas escolas não-indígenas, levando para as crianças e jovens da cidade um pouco do modo de vida de seu povo. As instigantes perguntas do jornalista Márcio Vassallo revelam a cativante personalidade deste escritor, que também é professor da Fundação Peirópolis e coordenador das publicações da editora Palavra de Índio. No filme Tainá 2 - A Aventura Continua, professores e alunos vão conhecer outra vertente do trabalho deste escritor: ele é o ator que interpreta o pajé Tatu Pituna.

Márcio Vassallo: No livro Coisas de Índio, publicado pela editora Callis, você escreve: “Para alguns índios, a palavra é como um pássaro que, quando é libertado, ninguém mais consegue prender”. O que mais dá asas à palavra?

Daniel Munduruku: O povo indígena é essencialmente de tradição oral. A palavra é utilizada no cotidiano para ensinar, admoestar, contar e cantar os feitos maravilhosos dos heróis ancestrais. O passado, o presente e o futuro estão centralizados numa única palavra. Mas palavra não é apenas o som que emitimos e que nos vangloriamos de sermos possuidores. Palavras também são os sons da natureza, são os sons do silêncio. Palavras são também o que

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

14

não dizemos, o que calamos. Eu acho que os silêncios que faço em meus textos são mais eloqüentes que as palavras que escrevo. Neles mora o encantamento, porque trazem ao universo do excesso de palavras da cidade aquilo que é vivo no coração da floresta. Essa palavra silenciosa dá outras asas às palavras.

M. V.: Outro pensamento seu: “As palavras sempre trazem um significado escondido dentro delas.” Acima de tudo, quando escreve, o que é fundamental para você achar esse significado? D. M.: Escrevo o que me é ditado pelos meus ancestrais. É, me sinto um pouco conduzido pelas palavras que eles vão me passando. Sei que parece estranho para as pessoas quando lhes confidencio isso, mas também não me importo muito, porque há um saber que vai além da compreensão delas. Nesse sentido, as crianças são muito mais sensíveis e normalmente chegam ao cerne do que desejo passar quando escrevo. Na tradição de minha gente, as crianças são ainda seres encantados, vivendo a passagem entre os mundos. A elas é dada a participação em todas as ações de nossa comunidade, para que se acostumem ao universo que viverão, sem que deixem de acreditar no mundo do qual saíram. Isso também vale para as crianças da cidade. Infelizmente, as pessoas adultas das cidades não conseguem compreender esse saber e acabam fazendo as crianças se enterrarem em atividades que não lhes servirão para nada. O que escrevo precisa ser lido com o coração. É aí que moram os significados e os sentidos ocultos das palavras. M. V.: O seu livro Meu Vô Apolinário recebeu Menção Honrosa no Prêmio de Literatura para Crianças e Jovens de 2003 da UNESCO. Para você, o que é mais significativo e mais emocionante nessa premiação? D.M.: O mais significativo é o fato de saber que a mensagem que o livro traz é universal. E o mais emocionante é ver que o Saber do meu povo é capaz de comover o espírito das pessoas de todo o mundo. E ainda mais comovente é saber que o mundo reconheceu isso. M.V.: Você diz que, quando menino, sentia raiva de ser índio por causa do preconceito dos outros garotos no colégio. Esse preconceito também existia em você? A literatura infantil vem mudando essa visão estereotipada em relação aos índios, nas escolas, nas famílias, nas próprias aldeias brasileiras? D. M.: A literatura é muito importante nessa tarefa de introjetar valores nas pessoas, sobretudo nas crianças. E do mesmo jeito que ela fez no passado – criando estereótipos e imagens equivocadas – pode fazer no presente, criando uma imagem positiva, verdadeira, real nas crianças e jovens. E isso ela tem feito, é preciso que se diga. Há 30 anos o que líamos era vexatório. Hoje – guardadas algumas raras exceções – os textos produzidos sobre os povos indígenas são muito melhores. E mais interessante ainda é o fato de alguns indígenas estarem escrevendo suas histórias, abrindo um novo horizonte e inaugurando uma recém-fundada literatura nativa brasileira. M.V.: De que modo a literatura infantil e juvenil tem entrado nas comunidades indígenas e mexido com o coração dos índios brasileiros?

D. M.: Não se pode dizer que a literatura infantil e juvenil realmente entrou nas aldeias. No entanto, o pouco que passou a fazer parte do cotidiano indígena está sendo muito emocionante, porque muitos jovens começam a desabrochar como leitores. Isso tem alimentado neles o desejo profundo de contarem as histórias de sua gente. Recordo um dia em que cheguei a uma aldeia Paresi no Mato Grosso, por exemplo, e toda a comunidade fez questão de ir conhecer o parente escritor do qual já haviam ouvido falar. Alguns traziam meus livros nas mãos e apontavam minha foto. Achei aquilo simplesmente maravilhoso. Foi um profundo empurrão para mim. M.V.: Meu Vô Apolinário é um livro em que você fala sobre a paixão de buscar histórias na fundura de cada um: “Histórias moram dentro da gente, lá no fundo do coração. Elas ficam quietinhas num canto. Parecem um pouco com areia no fundo do rio: estão lá, bem tranqüilas, e só deixam sua tranqüilidade quando alguém as revolve. Aí eles se mostram.” O que mais atrai você para o fundo de uma história, para o fundo de uma memória, para o fundo de uma personagem? D. M.: Gosto de histórias biográficas, porque trazem a memória à tona. Nelas, as personagens falam de si mesmas enquanto falam para quem as lê. Acho que, no fundo, todos os meus livros são biográficos. Eles traçam o perfil de uma memória coletiva contada por todo um povo. M.V.: Em As Serpentes que roubaram a noite (editora Peirópolis), você conta que os Mundurucus formavam um povo muito poderoso e guerreiro. “Sua fama de caçadores de cabeça corria por todo o estado do Pará e do Mato Grosso. O ruído que faziam com os pés quando saíam em grupo para expedições de caça e pesca, ou para a guerra, conferiu-

Projeto TAINÁ NA ESCOLA - para aplicação em sala de aula

Elaborado pela Profª Magda Frediani Martins com colaboração da Profª Rosa Helena Mendonça

15

lhes o apelido de ‘formigas gigantes’ (tradução da palavra mundurucu) que fazia tremer os inimigos (...).” Será que todo escritor é um caçador de cabeças? D. M.: Eu diria que o escritor é aquele que oferece a própria cabeça para ser cortada. Isso exige coragem. Ser escritor é ser confessor dos próprios sonhos. M.V.: O que realmente é mais apaixonante e mais provocante nos mitos indígenas? D.M.: O fato de serem histórias verdadeiras e não construções literárias. Muitas vezes, escritores famosos quiseram mudar os conteúdos dos mitos para fazerem um final feliz ou dar uma lição de moralidade aos leitores. Os mitos não costumam amenizar os seus próprios finais. Nesse sentido, eles são de difícil compreensão às pessoas não acostumadas a esse ritmo narrativo. Vale reafirmar que, para os povos indígenas, não existe folclore e as coisas realmente são reais e vivas.

M.V.: Para falar sobre o seu trabalho de escritor e também das causas indígenas, você vai muita a escolas. Até hoje muitas crianças e professores estranham a presença de um índio? D.M.: Há muitas histórias. Algumas já contei no primeiro livro Histórias de Índio, editado pela Cia. das Letrinhas. Antigamente aconteciam coisas mais pitorescas como alguém me confundir com japonês ou chileno. Havia crianças que se escondiam atrás da professora ao saber que o índio ia chegar à escola. Tinha criança cheia de medo porque a professora lhe disse que o índio era canibal. E assim por diante. Hoje em dia as escolas me convidam já sabendo quem eu sou, adotando os meus livros. (A entrevista completa pode ser conhecida no jornal Notícias, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, em sua edição n. 3, de 2004. Os sócios da FNLIJ podem acessar a entrevista no site: www.fnlij.org.br ) Para pesquisas complementares sobre a legislação a respeito dos direitos dos animais, consultar: Constituição Federal, o capítulo do meio ambiente, art. 225. A Lei n. 7.643, de 18 de dezembro de 1987 ( lei dos Cetáceos): proíbe a pesca dos cetáceos nas águas jurisdicionais brasileiras, e dá outras providências; A Lei n. 9. 605, de 12 de fevereiro de 1988 (Lei dos Crimes Ambientais); A Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999 ( Educação Ambiental).

www.tainá.com.br

CONTATO: TIETÊ PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS LTDA. Rua Paulino Fernandes, 14 – Botafogo – 22270-050 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil

Fone: (21) 2539-0597 - e-mail: [email protected]