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III ENECS – ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS PROJETO E CONSTRUÇÃO DE EDIFICAÇÃO EM MADEIRA CERTIFICADA: A NOVA SEDE DO IMAFLORA Lúcia Zanin Shimbo ([email protected] ) Mestranda do Programa de Pós Graduação em Tecnologia do Ambiente Construído/ Departamento de Arquitetura e Urbanismo/ Escola de Engenharia de São Carlos / USP. Fernando Machado G. da Silva ([email protected] ). Engenheiro Civil. RESUMO Na perspectiva de diminuir os impactos socioambientais negativos causados pela atividade da construção civil, a discussão a respeito de tecnologias e materiais de construção adequados ambientalmente vem se ampliando, tendo em vista a dimensão ambiental da sustentabilidade. Considerando essa dimensão, o presente trabalho tem por objetivo principal analisar o processo de produção (projeto e construção) de uma edificação para uso institucional (a nova sede do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora, Piracicaba-SP), utilizando sistema construtivo em madeira certificada. A certificação consiste em ceder o uso de um selo a empresas e organizações comunitárias que manejem corretamente produções agrícolas, florestas nativas e plantadas, sob critérios ambientais, sociais e econômicos. Como estratégia de trabalho adotamos o estudo de caso sobre essa experiência desenvolvida em parceria com o HABIS (Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade – EESC-USP) e com o GEsQE (Grupo de Estudos da Gestão da Qualidade nas Edificações – UFSCar), procurando sistematizar e analisar os seguintes aspectos: alterações dos projetos (arquitetônico, estrutural, cobertura), cadeia de produção da madeira nativa e do eucalipto certificados, processo de pré- fabricação e montagem em canteiro dos componentes construtivos. Palavras-chave: edificação em madeira certificada, projeto arquitetônico, cadeia de produção. DESIGN AND CONSTRUCTION OF CERTIFIED WOOD BUILDING: THE NEW HOME OFFICE OF IMAFLORA ABSTRACT Trying to reduce the negative social and environmental impacts caused by building construction activities, the discussion about appropriate technologies and building materials has been enlarged, considering the environmental dimension of sustainability. Focalizing this dimension, the present work aims to analyze the production process (design and construction) of a building to institutional use (the new home office of Agricultural and Forest Certification Institute – Imaflora, Piracicaba-SP), utilizing certified wood constructive system. The certification consists of an attestation to companies and community organizations that manage correctly agricultural productions, native and planted forests, under environmental, social and economic criteria. Our strategy of work is the case study about this experience developed in an association between HABIS (Housing and Sustainability Research Group – EESC/USP) and GEsQE (Building Control of Quality Studies Group – UFSCar), aiming to systematize and analyze the following aspects: changes in the projects, production of the certified native and eucalyptus wood, pre-fabrication process and constructive components assemblage. Keywords: certified wood building, design, production process.

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III ENECS – ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS PROJETO E CONSTRUÇÃO DE EDIFICAÇÃO EM MADEIRA CERTIFICADA: A

NOVA SEDE DO IMAFLORA Lúcia Zanin Shimbo ([email protected]) Mestranda do Programa de Pós Graduação em Tecnologia do Ambiente Construído/ Departamento de Arquitetura e Urbanismo/ Escola de Engenharia de São Carlos / USP. Fernando Machado G. da Silva ([email protected]). Engenheiro Civil. RESUMO Na perspectiva de diminuir os impactos socioambientais negativos causados pela atividade da construção civil, a discussão a respeito de tecnologias e materiais de construção adequados ambientalmente vem se ampliando, tendo em vista a dimensão ambiental da sustentabilidade. Considerando essa dimensão, o presente trabalho tem por objetivo principal analisar o processo de produção (projeto e construção) de uma edificação para uso institucional (a nova sede do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora, Piracicaba-SP), utilizando sistema construtivo em madeira certificada. A certificação consiste em ceder o uso de um selo a empresas e organizações comunitárias que manejem corretamente produções agrícolas, florestas nativas e plantadas, sob critérios ambientais, sociais e econômicos. Como estratégia de trabalho adotamos o estudo de caso sobre essa experiência desenvolvida em parceria com o HABIS (Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade – EESC-USP) e com o GEsQE (Grupo de Estudos da Gestão da Qualidade nas Edificações – UFSCar), procurando sistematizar e analisar os seguintes aspectos: alterações dos projetos (arquitetônico, estrutural, cobertura), cadeia de produção da madeira nativa e do eucalipto certificados, processo de pré-fabricação e montagem em canteiro dos componentes construtivos. Palavras-chave: edificação em madeira certificada, projeto arquitetônico, cadeia de produção.

DESIGN AND CONSTRUCTION OF CERTIFIED WOOD BUILDING: THE NEW HOME OFFICE OF IMAFLORA

ABSTRACT Trying to reduce the negative social and environmental impacts caused by building construction activities, the discussion about appropriate technologies and building materials has been enlarged, considering the environmental dimension of sustainability. Focalizing this dimension, the present work aims to analyze the production process (design and construction) of a building to institutional use (the new home office of Agricultural and Forest Certification Institute – Imaflora, Piracicaba-SP), utilizing certified wood constructive system. The certification consists of an attestation to companies and community organizations that manage correctly agricultural productions, native and planted forests, under environmental, social and economic criteria. Our strategy of work is the case study about this experience developed in an association between HABIS (Housing and Sustainability Research Group – EESC/USP) and GEsQE (Building Control of Quality Studies Group – UFSCar), aiming to systematize and analyze the following aspects: changes in the projects, production of the certified native and eucalyptus wood, pre-fabrication process and constructive components assemblage. Keywords: certified wood building, design, production process.

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho insere-se no debate sobre a necessidade de se integrar as várias dimensões (econômica, social, política e ambiental) inerentes ao conceito de sustentabilidade, considerado em diferentes escalas temporais e espaciais. Nos estudos realizados sobre a produção do ambiente construído, essas várias dimensões ganharam relevância, principalmente, na análise de alternativas tecnológicas que contemplem, de acordo com COSTA FILHO et al (2000), aspectos funcionais (melhoria das condições da edificação, otimização de sua capacidade funcional), ambientais (balanço energético, consumo de materiais, geração de resíduos, reciclagem), econômicos (compatibilização com a capacidade financeira dos futuros moradores) e socioculturais (incorporação dos valores sociais e culturais dos usuários). Enfocando-se a dimensão ambiental, tendo em vista a diminuição dos impactos negativos gerados pela atividade da construção civil ao ambiente, a análise pode ser realizada por meio dos indicadores de sustentabilidade no processo produtivo, entre os quais podemos destacar: “consumo de energia, produção de resíduos, emissão de substâncias nocivas ao meio ambiente, consumo de recursos renováveis, uso de combustíveis fósseis, uso de recursos escassos, grau de reciclagem e reutilização dos materiais, durabilidade dos materiais ou da própria edificação, aproveitamento de recursos locais...” (BARBOSA et al, 2000, p. 4). Nessa direção, ainda segundo BARBOSA et al (2000), considerando os indicadores referentes ao consumo energético, à emissão de CO² e à produção de resíduos, podemos enfatizar a madeira como um material que possui um potencial altamente favorável ao ambiente por ser de fonte de recursos renováveis, não fóssil, baixa demanda energética em sua produção, grande possibilidade de ser reutilizado na produção de energia (aproveitando-se o poder calorífico dos resíduos produzidos) e ter um importante papel na diminuição da concentração de CO² na camada atmosférica. Além desses aspectos específicos do material, ARRUDA (2000) indica que, se utilizada como opção construtiva, a madeira apresenta possibilidades de maior padronização e de processos de pré-fabricação de componentes construtivos, que agilizam o canteiro de obras e podem diminuir a geração de resíduos. No entanto, apesar dessas vantagens, como ressalta ANINK et al (2000) precisamos levar em consideração algumas restrições colocadas ao material, escolhendo-se o tipo de madeira a ser utilizada a partir dos seguintes aspectos: manejo florestal (preferencialmente aquele adequado ambientalmente), necessidade de aplicação de preservativos químicos e a distância do transporte desde a floresta de origem até o local do consumo final. Superadas essas restrições, acreditamos que a madeira pode resultar em uma opção construtiva adequada e viável, mas que ainda é pouco utilizada na construção de edificações em muitas regiões no Brasil. Apesar de existir uma tradição construtiva utilizando madeira, não há uma tradição em incentivar o desenvolvimento tecnológico de utilização da madeira como opção construtiva completa. Grande parte da construção civil a enquadra ora como um material para execução de serviços (formas para concreto, escoramento), ora como parte de um subsistema construtivo (estrutura de cobertura, esquadrias). Além disso, mesmo quando há o emprego da madeira, na maioria das vezes, sua origem não é valorizada: deparamo-nos tanto com a extração predatória de madeira nativa como grandes monoculturas de florestas plantadas, causando impacto ambiental negativo. Para que esse impacto seja reduzido, a certificação vem sendo implementada para garantir um manejo florestal ambientalmente responsável e socialmente justo.

A certificação consiste em ceder o uso de um selo (do Forest Stewardship Council – FSC) a empresas e organizações comunitárias que manejem corretamente plantações e florestas nativas, sob critérios ambientais, sociais e econômicos. O processo da certificação requer uma avaliação formal multidisciplinar e um monitoramento contínuo para garantir a credibilidade do produto certificado. Uma das instituições que vem promovendo a certificação é o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), com sede em Piracicaba, “uma entidade não governamental, sem fins lucrativos, que tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento sustentável incentivando e promovendo o manejo florestal e agrícola, ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável, utilizando como ferramenta, o treinamento e capacitação e o apoio ao desenvolvimento de políticas públicas” (www.imaflora.org, consultado em agosto de 2001). O presente artigo insere-se nesse debate sobre as dimensões da sustentabilidade relacionadas ao projeto arquitetônico e à construção civil, especificamente com a utilização de madeira certificada na construção de uma edificação, a nova sede do Imaflora, proporcionada a partir da parceria estabelecida entre dois grupos de pesquisa, respectivamente, o HABIS (Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade – EESC-USP / DECiv-UFSCar) e o GEsQE (Grupo de Estudos sobre a Qualidade nas Edificações – DECiv-UFSCar). 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Analisar o processo de elaboração do projeto arquitetônico e de construção de uma edificação em madeira certificada para uso institucional, a nova sede do Imaflora, a partir da dimensão ambiental do conceito de sustentabilidade. 2.2. Objetivos específicos Analisar as transformações ocorridas no projeto arquitetônico em suas várias etapas. Analisar as etapas de pré-fabricação dos componentes em madeira e de execução dos serviços em canteiro. Compreender a cadeia de produção da madeira certificada, tanto a nativa como a proveniente de florestas plantadas. Discutir a aplicação de diretrizes presentes nas várias dimensões do conceito de sustentabilidade na execução de uma edificação não convencional, levando em conta os recursos financeiros existentes e a disponibilidade de fornecedores de materiais, de fabricantes de componentes de madeira e de pessoal para execução em canteiro. 3. ESTRATÉGIAS GERAIS A estratégia geral adotada para se alcançar os objetivos enunciados foi o estudo de caso, pois, de acordo com YIN (2001), busca esclarecer um conjunto de decisões, processos, programas, ou melhor, o motivo pelo qual foram implantados, como foram implementados e com quais resultados. A unidade de análise desse trabalho foi o projeto e a construção da sede do Imaflora, especialmente, os dados coletados em todas as suas etapas que podem possibilitar a

análise da proposição teórica inicial, baseada nas múltiplas dimensões do conceito de sustentabilidade aplicadas à construção de edificações. Este artigo apresenta duas frentes de abordagem que caracterizam de modo distinto as etapas de análise: uma se refere à pesquisa sobre a cadeia de madeira certificada e ao sistema construtivo em madeira, e a outra, à sistematização dos dados coletados ao longo do desenvolvimento do projeto e obra da nova sede. Para analisar a cadeia de madeira certificada, utilizamos, de um lado, a literatura específica - as publicações do Imaflora, livros e informações de sites especializados - e de outro, as informações obtidas nas empresas e organizações que possuem o selo de certificação em madeira. Para sistematizar o desenvolvimento do projeto, foram agrupados todos os desenhos de cada etapa (estudo preliminar, anteprojeto e projeto executivo) e dentre eles foram escolhidos os mais significativos para subsidiarem uma possível análise. Em relação ao processo de construção do edifício, distinguimos as fases de aquisição de materiais, de pré-fabricação de componentes e de canteiro. Em cada uma dessas, foram descritas suas etapas, analisando-se alguns problemas enfrentados e os dados obtidos no decorrer da obra. 4. ETAPAS DO PROJETO ARQUITETÔNICO O projeto da nova sede do Imaflora compreendeu diversas etapas, desde o contexto no qual surgiu a demanda, passando pelas diretrizes de projeto, até o projeto executivo. O presente item procura descrever e analisar esse processo, envolvendo todas as suas etapas e questões. 4.1. Diretrizes de projeto e programa de necessidades Em reuniões com os técnicos e coordenadores do Imaflora, foram estabelecidas as diretrizes gerais do projeto arquitetônico e foi discutido o processo de trabalho mais adequado para desenvolvê-lo. A principal diretriz de projeto da nova sede do Imaflora era incentivar o uso da madeira certificada, apresentando-a em suas várias possibilidades como elementos construtivos, dentro da dimensão ambiental da sustentabilidade, na qual se aponta a necessidade de se utilizar materiais ambientalmente adequados. Além disso, apontava-se a possibilidade de experimentação de tecnologias construtivas alternativas. Era necessário também apresentar soluções arquitetônicas que permitissem futura ampliação e resultassem num baixo custo de construção, devido aos recursos financeiros limitados. O projeto arquitetônico da sede do Imaflora, além de utilizar a madeira como material construtivo, abrangeu o planejamento da pré-fabricação de componentes construtivos, reduzindo a quantidade de resíduos; buscou utilizar, ao máximo, materiais não danosos ao meio ambiente, preferencialmente reutilizado (como por exemplo, o tijolo de demolição) ou recicláveis; aplicou diretrizes de projeto que minimizam o uso de energia (facilitar a ventilação e a iluminação naturais); e, finalmente, desenvolveu-se num processo que levou em conta a participação dos futuros usuários. Outras diretrizes eram referentes aos princípios e às recomendações técnicas que garantem a durabilidade de edificações em madeira, dentre os quais, de acordo com INO (1997), destacamos: evitar o acúmulo de água ao redor da edificação (nivelamento do terreno ou drenagem superficial); propiciar o rápido escoamento da água, para evitar acúmulo em juntas e rachaduras; proteger os componentes empregados no envoltório exterior ou em áreas molhadas com pintura impermeabilizante; evitar a ascensão de água e de umidade por capilaridade, mantendo-se uma distância (mínimo: 30 cm) entre as paredes externas e o nível

do solo; proteger qualquer extremidade (topo) e saliência; manter a madeira sempre em condição ventilada, garantindo a possibilidade de perder a umidade caso seja molhada; utilizar a madeira em condição seca; possibilitar um sistema eficiente de escoamento das águas pluviais da cobertura; dimensionar e instalar adequadamente as canalizações de água e esgoto, de maneira a evitar vazamentos. No que diz respeito ao método de desenvolvimento do projeto, desde sua versão inicial até o projeto executivo, procuramos, sempre que possível, envolver toda a equipe do Imaflora, que participava diretamente na definição de conceitos, de ambientes e de materiais. Uma das características da instituição, a autonomia na gestão de cada projeto, foi estendida ao projeto da nova sede. Num processo participativo, havia maior liberdade para elaborar propostas, discuti-las e, finalmente, estabelecer acordos coletivos sobre questões mais gerais e, por vezes, até bastante específicas. Este processo não deixa de ser uma das dimensões da sustentabilidade, apontada na literatura, que enfoca o aspecto político por meio de uma maior participação dos usuários, no caso - ou sociedade, numa visão mais abrangente - nas tomadas de decisão (SILVA, 2000). Para dar início ao processo, o Imaflora apresentou seu programa de necessidades e algumas recomendações de projeto, tais sejam: salas para administração, secretaria executiva, técnicos, estagiários e informática; sala de reuniões; recepção; biblioteca; almoxarifado, cozinha, copa, banheiros e varanda. Além dessas diretrizes, havia ainda o Código de Obras do Município de Piracicaba que apresentava um item especial sobre edificações em madeira. Apontava-se que era necessário um recuo mínimo de três metros da edificação em madeira até o limite do terreno, em todos os seus lados. Isso significou uma limitação na largura da edificação, pois se eram necessários recuos de três metros em ambos os lados, totalizando seis metros, e o terreno possuía dezesseis metros de frente, restavam-nos no máximo dez metros para o edifício. 4.2. Estudo preliminar A partir dessas diretrizes, recomendações e limitações técnicas foram se desenvolvendo as etapas do projeto. Na primeira etapa, o estudo preliminar, já se configurou o partido arquitetônico adotado, permanecendo até o projeto executivo, qual seja: as áreas com acesso de visitantes (recepção, espaço cultural e sala de reuniões) foram situadas à frente, as áreas de trabalho localizadas ao fundo e no mezanino (espaços integrados), um eixo de circulação central, jardim interno, concentração das áreas úmidas, varandas nas extremidades do edifício em ambos os pavimentos. Como diretriz técnica, colocada pelo material utilizado, a madeira, foi adotada uma modulação estrutural de 4x4m e 4x5m.

4.3. Anteprojeto O estudo preliminar apresentava alguns descuidos de projeto em relação à garantia de durabilidade de edificações em madeira. Por isso, na etapa de anteprojeto, o edifício foi levantado do solo, para evitar o contato direto, e eliminado o desnível na cobertura e do pátio aberto do mezanino, para não existir encontro entre cobertura e vedação (considerado um ponto crítico), formando-se dois únicos plano inclinados. Além disso, nessa fase, contou com a contribuição de um engenheiro especialista em estruturas de madeira, que desenvolveu o estudo preliminar do projeto estrutural, composto de pilar, viga dupla, barrote e pilar inclinado (para apoio do beiral e do brise), conforme pode ser visto na Figura 1.

Figura 1 – Planta de estrutura de piso (anteprojeto, sem escala). Fonte: SHIMBO, 2001.

4.4. Projeto executivo O projeto executivo final foi revisto diversas vezes de acordo com as possibilidades de aquisição de materiais, principalmente madeira, e com as interfaces com os projetos complementares (instalações elétrica e hidráulica, telefonia e outros). A principal mudança ocorreu no projeto estrutural (ver Figura 2). Não conseguimos o volume de madeira necessário para executar o estudo preliminar com o nosso fornecedor de madeira nativa certificada e, como não tínhamos outro fornecedor naquele momento, resolvemos adaptar o projeto estrutural às seções e quantidades obtidas. Isso resultou no emprego de peças estruturais compostas (vigas principais e vigas de cobertura) e a adoção de eucalipto nos barrotes (estrutura de piso). Como o comprimento máximo do eucalipto certificado era de 2,70m tivemos que elaborar uma estrutura de piso baseada em forma triangular, buscando diminuir o comprimento dos barrotes, significando um aumento no número de pontos de apoio da fundação e uma maior complexidade nos conectores metálicos entre pilares, vigas e barrotes. Além disso, resultou num processo de pré-fabricação mais elaborado, exigindo um período maior. Em termos de concepção espacial, pouco se alterou da versão anterior. A versão final do projeto arquitetônico pode ser vista nas Figuras 3, 4 e 5.

Figura 2 – Planta de estrutura de piso – térreo (projeto final, sem escala).

Fonte: SHIMBO, 2001.

Figura 3 – Planta – térreo (projeto final, sem escala). Fonte: SHIMBO, 2001.

Figura 4 – Planta – mezanino (projeto final, sem escala). Fonte: SHIMBO, 2001.

Figura 5 - Corte AA e Elevação frontal (projeto final, sem escala). Fonte: SHIMBO, 2001.

5. SISTEMA CONSTRUTIVO Depois de ocorridas várias transformações no projeto executivo, sua versão final resultou na adoção de um sistema construtivo utilizando a madeira e seus produtos derivados de diversas formas dentro de cada sub-sistema, como pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1 – Caracterização do sistema construtivo sub-sistema componente especificação desenhos

Pilares Seção simples (jatobá)

Vigas principais Seção composta “I” (jatobá) Estrutura

principal

Conector Metálico (aço galvanizado)

Vigas de piso

Seção simples (jatobá e garapeira)

Barrotes (térreo)

Seção simples (eucalipto serrado)

Estrutura secundária

Barrotes (2° pav.)

Seção simples (eucalipto colado)

Painel externo

Ossatura (eucalipto serrado) Chapas de compensado interna e externa (eucalipto) Espaçador externo (eucalipto serrado) Manta (durafoil) Réguas externas (eucalipto colado)

Painel interno

Ossatura (eucalipto serrado) Chapas de compensado internas (eucalipto)

Vedação

Painel áreas úmidas

Ossatura (eucalipto serrado) Placas de gesso acartonado Revestimento cerâmico

Vigas de cobertura

Seção composta “I” (jatobá e compensado)

Terças, caibros, ripas

Seção simples (jatobá, itaúba e massaranduba)

Telhas Telha cerâmica Cobertura

Forro Manta (durafoil) Peça beneficiada (eucalipto serrado)

Térreo Assoalho beneficiado (eucalipto colado)

2° pav. Chapa de compensado (eucalipto) Assoalho tipo Parquet (eucalipto)

Áreas úmidas

Chapa de compensado naval Resina impermeabilizante (base vegetal) Piso cerâmico

Pisos

Área externa Deck: estrutura em roliço e piso em peças serradas (eucalipto tratado)

Esquadrias Janelas Portas

Batente (garapeira) Folha (eucalipto serrado) Vidro

Fonte: autores

6. ETAPAS DA CONSTRUÇÃO Antes de se iniciar a execução da obra, houve a etapa fundamental de aquisição da madeira certificada, que foi realizada paralelamente ao desenvolvimento do projeto executivo – tendo esse sofrido diversas modificações de acordo com a disponibilidade de oferta do material, conforme tratado no item anterior. Apresentando a particularidade de ser certificada, as cadeias de produção tanto das espécies nativas como do eucalipto apresentaram diferenças entre si. A primeira envolve grandes distâncias de transporte e apresenta um menor grau de industrialização em seu processo de desdobro na serraria próxima à floresta, resultando num menor aproveitamento de toras, como será detalhado a seguir. Já a cadeia de produção do eucalipto, apresentou uma maior garantia do fornecimento da madeira de acordo com o romaneio especificado, além de contar com um pólo industrial de beneficiamento próximo à floresta. Após a definição dos fornecedores de madeira, foi iniciada a etapa de fundação no canteiro e a pré-fabricação dos componentes em madeira em oficinas, seguindo-se as etapas de montagem dos componentes em canteiro e de execução dos projetos complementares. O acompanhamento da obra foi realizado pela equipe de alunos do GEsQE e do HABIS, sob coordenação da equipe técnica de projeto. Procuramos aplicar o método de controle de qualidade baseado em planilhas de monitoramento para cada etapa da obra: recebimento e armazenagem de materiais e verificação da execução de serviços. O canteiro teve início em julho de 2001 e terminou em fevereiro de 2002, totalizando-se aproximadamente dezoito meses. 6.1. Aquisição da madeira nativa certificada Encontramos muitas dificuldades na aquisição de madeira nativa certificada, pois eram poucos os fornecedores naquele momento, em dezembro de 2000. Dentre as possibilidades foram escolhidos como fornecedores principais os projetos de manejo comunitário, o “Projeto de Manejo Sustentável Xicrins do Cateté” (Pará) e o “Projeto de Manejo Sustentável da Associação dos Seringueiros do Vale do Guaporé” (região norte do Pantanal Mato-grossense), desenvolvidos com comunidades ribeirinhas e indígenas apoiados por organizações não governamentais e órgãos públicos. Como eles se encontravam no início de suas atividades e estavam em processo de certificação florestal, a aquisição de madeira proveniente desses projetos poderia resultar num incentivo financeiro ao pequeno produtor comunitário. O processo de aquisição de madeira nativa foi longo e complicado pois necessitava de uma articulação permanente entre equipe técnica do projeto, coordenadores do Imaflora e os representantes dos projetos de manejo comunitário e seus intermediários. Num primeiro momento, o volume fornecido pelo primeiro projeto não foi suficiente para atender a versão preliminar do projeto estrutural, sendo necessário modificar o projeto e procurar outro volume complementar, fornecido pelo segundo. Além dessa articulação, outro fator que complicou o processo de aquisição da madeira nativa certificada foi sua cadeia de produção, que inclui várias etapas, em diferentes locais e responsáveis, tais sejam:

a) Derrubada das toras na floresta (local: sul do Pará); b) 1° corte das toras na floresta: grandes seções quadrangulares; c) Transporte da floresta (sul do Pará) à serraria (Marabá – PA); d) Desdobro na serraria;

e) Transporte da serraria (Marabá – PA) à unidade de beneficiamento e pré-fabricação (Itu – SP);

f) Beneficiamento dos componentes; g) Pré-fabricação dos componentes; h) Transporte dos componentes acabados, da unidade de pré-fabricação (Itu – SP) ao

canteiro de obras (Piracicaba – SP). 6.2. Processo de aquisição do eucalipto Em relação ao eucalipto, o processo de aquisição foi menos complicado do que o da madeira nativa. Isto porque há muitas empresas que oferecem produtos certificados, principalmente, de pinus e eucalipto, localizadas na região Sul do país. Além disso, há a concentração de muitas dessas empresas na cidade de Telêmaco Borba-PR devido à extensa área de florestas plantadas certificadas pertencentes a Klabin do Paraná, cuja produção destina-se tanto à celulose como à madeira bruta (em toras). Em torno dessa grande indústria, distribuem-se várias empresas que utilizam a madeira bruta da Klabin para beneficiar outros produtos. Dessa forma, foi possível formar uma rede de fornecedores de madeira serrada de eucalipto para a construção da nova sede. Como as empresas de beneficiamento da região de Telêmaco Borba-PR contam com uma melhor infra-estrutura, se comparadas com as serrarias de madeira nativa, a cadeia de produção é mais agilizada, apresentando capacidade de produzir um número maior de peças num tempo menor. A cadeia de produção do eucalipto certificado utilizada na construção da nova sede do Imaflora apresenta algumas etapas iniciais comuns a todo o processo e outras que se diferenciam conforme o tipo de componente construtivo final. Por exemplo, no caso das peças coladas de eucalipto utilizadas como barrotes, não há necessidade de beneficiamento em oficinas, destinando-se diretamente ao canteiro, enquanto que as peças de eucalipto serrado, utilizadas em esquadrias, ossatura e outros, precisam ser beneficiadas em oficinas. As etapas dessa cadeia são:

a) Plantação de eucalipto (Telêmaco Borba–PR); b) Derrubada das toras na plantação; c) Transporte das toras até a unidade de beneficiamento (Telêmaco Borba–PR); d) Desdobro das peças de eucalipto na unidade; e) Secagem em estufa das peças na unidade; f) Beneficiamento das peças de eucalipto na unidade; g) Armazenagem das peças acabadas na unidade; h) Peças serradas: transporte da unidade de beneficiamento (Telêmaco Borba–PR) à

unidade de pré-fabricação (Dourado–SP), pré-fabricação dos componentes, transporte dos componentes semi-prontos ou prontos da unidade de pré-fabricação ao canteiro de obras (Piracicaba-SP);

i) Peças coladas: colagem das peças, transporte das peças da unidade de beneficiamento ao canteiro de obras (Piracicaba-SP).

6.3. Romaneio das peças de madeira utilizadas Foram utilizados aproximadamente 85m3 de madeira (nativa e eucalipto), para uma área construída total de 366m2, chegando-se num índice de 0,23m3/m2, aproximando-se do índice médio de consumo de volume de madeira por m2 de construção em madeira que é de 0,25m3/m2 . A seguir, são especificadas todas as peças de madeira utilizadas na construção.

Tabela 2 - Romaneio das peças de madeira utilizadas Espécie / origem Componente Seção (cm) Comprim. (m) Vol. (m3)

Pilar 13,00 x 13,00 7,00 2,248 7,00 x 24,50 7,00 2,041 7,00 x 21,00 4,50 / 5,00 / 5,50 2,154 7,00 x 17,00 4,50 / 5,50 0,821

Vigas (bitolas especiais)

7,00 x 29,00 5,50 0,112 6,00 x 12,00 2,50 a 5,70 2,452 7,00 x 10,00 2,06 a 5,00 0,605 Vigas (bitolas

comerciais) 6,0 x 10,00 2,50 a 4,70 0,142

Caibros 5,00 x 6,00 3,00 a 3,80 0,064

Jatobá (Proj. Xicrins do Catete - PA)

Tábuas 2,80 x variado 3,10 a 4,30 2,083 6,00 x 16,00 2,50 a 5,25 4,421 Batente 6,00 x 12,00 2,25 a 5,50 0,814

Terças 6,00 x 16,00 4,50 / 5,75 2,702 Caibros 5,00 x 6,00 2,30 a 6,60 2,269 Ripas 2,00 x 5,00 Variado 1,487 Tabeira 2,50 x 20,00 Variado 0,710

Massaranduba, itaúba e garapeira (Proj. Vale do Guaporé - MS)

Sub-total madeira nativa 25,125 Barrotes 4,00 x 14,00 0,40 a 2,70 4,357

3,81 x 15,24 1,30 / 0,75 0,118 3,81 x 12,70 0,92 / 1,60 / 2,15 0,935 Réguas (folhas de

esquadrias) 3,81 x 10,17 0,75 a 2,50 2,123

Guarnição 1,50 x 7,00 0,45 a 2,65 0,612 Rodapé 2,54 x 10,17 3,00 0,519 Forro 1,27 x 10,16 2,70 3,848 Meia cana 2,20 x 2,20 3,00 0,102

Eucalipto serrado (Klabin – PR) classif.: primeira

Assoalho 1,90 x 7,62 variado 2,006 Ossatura 2,40 x 7,00 0,40 a 3,00 5,849 Sarrafo 1,27 x 6,35 3,00 0,155

Eucalipto serrado (Klabin – PR) classif.: segunda Sub-total (eucalipto serrado) 20,624

Réguas ext. 2,70 x 10,00 1,30 a 3,90 9,382 Barrotes 4,00 x 14,00 1,00 / 3,00 1,210 Assoalho 2,54 x 12,70 1,00 a 2,60 4,470

Eucalipto colado (Klabin – PR) classif.: primeira

Sub-total (eucalipto colado) 15,062 1,8 x 122,0 2,44 3,643 Chapa 18mm

(painel) 1,8 x 122,0 2,50 5,270 0,9 x 122,0 2,44 1,795

Compensado – pinus e eucalipto (Klabin – PR) Chapa 9mm

(painel) 0,9 x 122,0 2,50 0,796 Chapa 22mm (piso) 2,2 x 122,0 2,50 0,671 Compensado naval

(Gethal – AM) Sub-total (chapa de compensado) 12,175 d = 20,00 3,00 / 4,00 / 6,00 5,401 Roliço d = 15,00 1,50 / 4,00 4,027

Deck externo 1,90 x 7,62 variado 2,911 Eucalipto tratado (Flosul – RS)

Sub-total (eucalipto tratado) 12,339 TOTAL GERAL 85,325

Fonte: autores.

6.4. Pré-fabricação de componentes construtivos em madeira: estrutura, vedação, batentes, esquadrias

A pré-fabricação dos componentes foi realizada em oficinas (serrarias e ou marcenarias), localizadas em Itu-SP e Dourado-SP, sendo cada uma delas responsável pela produção de determinados componentes. Em Itu foram beneficiados pilares, terças, caibros e pré-fabricadas as vigas compostas, totalizando-se doze dias de trabalho com uma equipe de dois marceneiros e dois ajudantes. O processo de beneficiamento dos componentes estruturais seguiu as etapas descritas na Tabela 3, na qual também constam os demais componentes (viga de cobertura, esquadrias, painéis de vedação) que foram beneficiados e pré-fabricados em Dourado-SP.

Tabela 3 – Etapas de beneficiamento e pré-fabricação dos componentes construtivos Componente Etapas Fotos

Pilar 1. Corte da peça no comprimento determinado no projeto; 2. Aplainamento e desengrosso da peça; 3. Corte do canal no eixo da face do pilar (na tupia);

Vigas compostas

1. Etapas 1 e 2 anteriores. 2. Peças da viga unidas com sargentos, posicionamento do

gabarito de pré-furação, execução dos furos (broca) e fixação dos pregos; repetição do procedimento com a outra face.

Painel de vedação

1. Corte e montagem das ossaturas; 2. Corte das chapas de compensado; 3. Fixação dessas na ossatura com parafuso; 4. Corte dos sarrafos, pré-furação para fixar os painéis

entre si.

Vigas de cobertura

1. União das vigas maciças (5,5x11cm) com a chapa de compensado (pré-cortado no ângulo de projeto) com sargentos;

2. Posicionamento do gabarito de pré-furação; execução dos furos e fixação dos parafusos.

Janelas

1. Corte e montagem das folhas; 2. Corte e montagem dos batentes; 3. Assentamento das ferragens; 4. Assentamento das folhas nos batentes.

Fonte: autores.

6.5. Fundação �

A fundação adotada foi do tipo sapata isolada com pilaretes, que ligavam os pilares de madeira até a face superior da sapata. Este tipo de solução é considerado adequado para edificações com estrutura de madeira pois um possível recalque (pequeno) na fundação pode ser absorvido pela estrutura e vedação em madeira. Para tanto, a ligação do pilar de madeira com o pilarete precisa ser do tipo articulada. Foi contratada uma empresa de serviços de engenharia de Piracicaba para execução da fundação, que se estendeu por 45 dias.

6.6. Montagem da estrutura, dos painéis de vedação e demais componentes A estrutura principal (vigas e pilares) e a estrutura de piso (vigas e barrotes) foram montadas por um carpinteiro e um ajudante, que já tinham experiência em montagem de casas de madeira pré-fabricadas. Para a estrutura da cobertura e posicionamento de telhas, foi preciso mais um ajudante. Esta equipe montou essas estruturas, dos primeiros conectores dos pilares até a última telha, em 38 dias. O processo de montagem pode ser dividido em etapas de acordo com cada componente (ver Tabela 4). A montagem dos painéis de vedação e dos demais componentes iniciou-se logo após o término da montagem da estrutura e compreende as etapas também descritas na Tabela 4.

Tabela 4 – Etapas de montagem dos componentes construtivos em canteiro Componente Etapas Fotos

Pilar

1. Colocação de borracha de interface pilar-conector; 2. Posicionamento do conector metálico pilar-pilarete; 3. Elevação do pilar até a face superior do conector; 4. Escoramento dos pilares, posicionados

corretamente;

Vigas compostas

1. Definição do nível da face superior da viga; 2. Posicionamento dos conectores pilar-viga; 3. Posicionamento da viga sobre os conectores; 4. Perfuração da viga para colocação dos parafusos de

ligação pilar-viga e de posicionamento.

Estrutura de piso

1. Definição dos eixos de posicionamento dos barrotes;

2. Fixação dos conectores viga-barrote; 3. Posicionamento do barrote sobre os conectores; 4. Perfuração do barrote para colocação do parafuso

de posicionamento.

Cobertura

1. Fixação dos conectores pilar-viga de cobertura; 2. Fixação de uma face da viga no conector; 3. Fixação das duas vigas entre si (espelhadas) com

parafusos passante e de posicionamento; 4. Colocação de terças, caibros, manta, ripas, telhas e

forro.

Painel de vedação

1. Posicionamento dos painéis nos vãos, conforme numeração estabelecida na etapa de pré-fabricação;

2. Fixação entre painéis-estrutura e painéis-painéis; 3. Fixação de manta impermeabilizante e réguas

externas; 4. Fixação do compensado interno nos painéis.

Esquadrias e outros

1. Fixação das janelas, já montadas com batentes; 2. Montagem dos batentes de porta e fixação das folhas; 3. Montagem da escada principal; 4. Fixação do assoalho; 5. Fixação dos acabamentos; 6. Montagem do deck lateral e das escadas externas.

Fonte: autores.

Paralelamente a essas etapas, foram executados os seguintes serviços: execução do muro de entrada (estrutura de pilares de concreto e vedação de tijolos de demolição); execução da cerca lateral (estrutura em eucalipto roliço); instalações de esgoto; instalações de água fria; instalações elétricas, rede e telefonia; pintura .

Fotos da edificação finalizada

7. COMENTÁRIOS FINAIS O desenvolvimento do projeto arquitetônico e da execução da obra da nova sede do Imaflora foi uma experiência que contribuiu para aumentar a aprendizagem de diferentes pessoas em várias situações. Desde o início, discutimos o caráter experimental e de aprendizado que o seu projeto e sua construção apresentavam devido à sua singularidade - foi a primeira sede de uma organização não governamental construída em madeira certificada na América Latina. Cada um dos envolvidos, desde a equipe de projeto até a mão de obra de montagem em canteiro, pôde aprender diferentes soluções técnicas, procedimentos de execução, modos de gestão da obra e outras questões colocadas pelo projeto como um todo. Esse processo de aprendizagem pode ser considerado como o maior resultado alcançado e podemos identificar algumas dessas aquisições de conhecimento e de habilidades. Em relação à equipe de projeto, pudemos adquirir conhecimento sobre tecnologia do sistema construtivo em madeira, certificação florestal e conceitos de sustentabilidade aplicados à edificação. Foram desenvolvidas também algumas habilidades em relação à gestão de todo o processo, desde o trabalho em equipe, passando pela articulação e negociação com diferentes atores, até os procedimentos de projeto, pré-fabricação e montagem em canteiro de edificações em madeira. Para os futuros usuários, houve uma maior compreensão sobre o processo de projeto e de construção de uma edificação em madeira, que colaborou para a aceitação de seu sistema construtivo. Já o marceneiro da oficina de pré-fabricação e seu ajudante, que produziram a maioria dos componentes construtivos, puderam perceber suas capacidades e potencialidades em produzir uma diversidade de componentes, não se restringindo a móveis e esquadrias – atividades que faziam anteriormente. Para o carpinteiro e seu ajudante, que montaram a estrutura, a vedação e demais componentes, houve a aquisição de habilidades em um novo sistema construtivo – estavam habituados a montar edificações em madeira de sistemas construtivos pré-fabricados para habitação. Justamente por ser um processo de aprendizagem, surgiram várias dificuldades durante o processo de produção da nova sede do Imaflora e também o levantamento de novas questões. A primeira dificuldade colocada era cumprir o programa funcional e as diretrizes de projeto iniciais traçadas em conjunto com a equipe do Imaflora frente às restrições do Código de Obras de Piracicaba, dos recursos financeiros limitados e da disponibilidade de oferta de madeira certificada. Essa dificuldade foi sendo superada na medida em que se desenvolvia o projeto e a obra com o apoio do Imaflora e das parcerias estabelecidas.

Outra dificuldade enfrentada era aplicar os conceitos e princípios da sustentabilidade na prática: utilizar, ao máximo, materiais ambientalmente adequados; conservar energia; reutilizar a água; promover um processo participativo nas tomadas de decisão. No caso dos materiais, muitas vezes, não encontramos oferta no mercado e quando encontramos, com custo acima dos materiais convencionais. Na maioria dos casos, o produto considerado “alternativo” ainda está em fase de experimentação ou não apresenta garantias de durabilidade, conforto e desempenho. Para a conservação de energia na edificação, um dos meios empregados foi a ventilação natural, resolvida a partir do projeto arquitetônico. Em relação ao processo participativo, procuramos sempre o diálogo entre a equipe de projeto e os usuários da edificação, mesmo que isso resultasse num tempo mais longo na tomada de decisão sobre determinado aspecto. Em relação ao sistema construtivo adotado, o principal problema encontrado foi a interface entre os vários componentes construtivos que exigiu uma maior complexidade na execução dos acabamentos. Isso porque, devido ao uso de uma grande diversidade de espécies de madeira – e que, portanto, retraem-se e expandem-se diferentemente – o projeto deveria ter considerado uma maior tolerância na interface, além de prever peças de acabamento mais adequadas e padronizadas. Esse fato reforça a importância da etapa de detalhamento do projeto bem como a necessidade de se controlar a execução de montagem dos componentes de modo a garantir as dimensões e vãos especificados no projeto. A aquisição de madeira certificada também foi um processo complexo - mesmo estando dentro de uma organização que trabalha com a certificação e conhece os fornecedores. Esse fato pode ser devido à existência de muitos intermediários no processo e também ao ainda restrito consumo da madeira certificada no mercado interno brasileiro. Em relação a esse último ponto, existem algumas iniciativas que buscam divulgar e promover o consumo de madeira certificada. A certificação florestal é um fato recente no Brasil com menos de sete anos de existência. Como enfatiza mudanças tanto na conduta dos produtores, sua forma de produzir, como dos consumidores, seus parâmetros na escolha de produtos – ou melhor, de exigências – a demanda por madeira certificada necessita de um longo tempo para se ampliar e também para consolidar sua oferta. Nessa perspectiva, a nova sede do Imaflora procurou colaborar na divulgação da madeira certificada. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANINK, D., BOONSTRA, C., MAK, J. (1996) Handbook of sustainable building: as

environmental preference method for selection of materials for use in construction and refurbishment. s.l: James.

ARRUDA, M. P. (2000) Diretrizes para projeto arquitetônico de habitação social em pinus produzida por mutirão. Dissertação de mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Escola de Engenharia de S.Carlos – USP. São Carlos.

BARBOSA, Juliana C, et al. (2002). “Indicadores de sustentabilidade na cadeia produtiva de habitação em madeira de reflorestamento”. In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, n. VIII, 2000, Salvador. Primeira coletânea de Anais dos Encontros Nacionais de Tecnologia do Ambiente Construído (cd rom).

COSTA FILHO, A. et al. (2002). “Tecnologias sustentáveis em habitações destinadas à população de baixa renda”. In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, n. VIII, 2000, Salvador. Primeira coletânea de Anais dos Encontros Nacionais de Tecnologia do Ambiente Construído (cd rom).

INO, A. (1997) “Princípios básicos para garantir a durabilidade de uma construção em madeira”. In: Workshop Durabilidade das construções. Anais. São Leopoldo.

SHIMBO, L. Z. (2001) Edificação em madeira certificada: o processo de aprendizagem no projeto e construção da sede do Imaflora. Trabalho Final de Graduação, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP. São Paulo,

SILVA, S. M. (2000) Indicadores de sustentabilidade urbana: as perspectivas e as limitações da operacionalização de um referencial sustentável. Dissertação de mestrado em Engenharia Urbana, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos.

YIN, Robert K. (2001) Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman. Site consultado: www.imaflora.org, acesso em agosto de 2001.