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1 Projeto Diretrizes Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva Gestão 2009-2010 Presidente: Dr. Carlos Alberto Cappellanes Comissão de Diretrizes e Protocolos Presidente: Dr. Edivaldo Fraga Moreira HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA Celso Augusto Milani Cardoso Filho Cirurgião Geral e Coloproctologista do Hospital Sírio-Libanês Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia Membro Adjunto do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Membro Associado da Sociedade Brasileira de Coloproctologia Oswaldo Wiliam Marques Junior Especialista e Titular pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia Pedro Popoutchi Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia Membro Aspirante da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva Cirurgião e colonoscopista do Hospital Sírio Libanês Marcelo Averbach Doutor em Medicina, Área de Clínica Cirúrgica, pela Faculdade de Medicina da USP Cirurgião e colonoscopista do Hospital Sírio Libanês

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Projeto Diretrizes

Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva

Gestão 2009-2010

Presidente: Dr. Carlos Alberto Cappellanes

Comissão de Diretrizes e Protocolos

Presidente: Dr. Edivaldo Fraga Moreira

HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA

Celso Augusto Milani Cardoso Filho

Cirurgião Geral e Coloproctologista do Hospital Sírio-Libanês

Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia

Membro Adjunto do Colégio Brasileiro de Cirurgiões

Membro Associado da Sociedade Brasileira de Coloproctologia

Oswaldo Wiliam Marques Junior

Especialista e Titular pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva

Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia

Pedro Popoutchi

Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia

Membro Aspirante da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva

Cirurgião e colonoscopista do Hospital Sírio Libanês

Marcelo Averbach

Doutor em Medicina, Área de Clínica Cirúrgica, pela Faculdade de Medicina da USP

Cirurgião e colonoscopista do Hospital Sírio Libanês

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(Questões elaboradas pela AMB)

1. Na suspeita de hemorragia digestiva baixa, qual exame realizar antes –

RETOSCOPIA ou COLONOSCOPIA?

2. Preparo cólico na hemorragia digestiva. Anterógrodo, retrógrado ou

ambos?

3. Qual é o melhor momento para a realização da Colonoscopia?

4. Tratamento endoscópico na hemorragia digestiva baixa – colônica.

Método de injeção (adrenalina, etanolamina, álcool, cianoacrilato, selante de fibrina),

método mecânico (Ligadura elástica, Clip, endoloop), método térmico (heater probe,

Bicap, eletrocoagulação monopolar, etc)

5. Há lugar para a Arteriografia e Cintilografia?

6. Quais as indicações de enteroscopia de balão único, duplo-balão e cápsula

endoscópica?

7. Se indicado enteroscopia, qual a melhor via – anterógrada ou retrógrada?

8. Enteroscopia intra-operatória auxilia no diagnóstico e localização do local de

sangramento?

9. Qual o momento do tratamento cirúrgico?

10. Utilização do enema baritado na HDB?

11.Ileoscopia em pacientes com HDB e colonoscopia normal

12- Avaliar redução de morbi-mortalidade operatória de urgência por hemorragia

digestiva baixa na era da colonoscopia(diagnosticando o sitio hemorrágico propicia

cirurgias menos extensas, reduzindo morbi-mortalidade)

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1. Na suspeita de hemorragia digestiva baixa (HDB), qual exame realizar antes:

Retoscopia ou Colonoscopia?

Na suspeita de HDB, a avaliação do paciente tem início com uma anamnese

adequada e exame clínico completo, incluindo a realização de anuscopia associado

ao toque retal, possibilitando o diagnóstico de patologias anorretais (neoplásicas ou

orificiais) e também para confirmar o aspecto do sangramento relatado pelo

paciente1 (C). Hemorróidas podem ser responsáveis por até 9% das causas de

hematoquezia aguda grave2 (A).

A colonoscopia, quando disponível, é o exame inicial de escolha na

investigação e tratamento em pacientes com hemorragia digestiva baixa aguda2-6

(A). A acurácia diagnóstica varia de 72% a 86%3 (A), sendo possível atingir o ceco

em até 95% nos casos de HDB com morbidade de 0,3% em um estudo prospectivo

com 3196 pacientes4 (A).

A realização de retossigmoidoscopia está indicada em pacientes com quadros

estáveis e com menos de 40 anos2 (A), sendo que o exame somente deve ser

considerado diagnóstico se no local de origem puder ser identificado sangramento

ativo, vaso visível ou coágulo aderido. Portanto, pode não eliminar a necessidade de

complementação da investigação.

Bibliografia

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2. Preparo cólico na hemorragia digestiva. Anterógrado, retrógrado ou

ambos?

Não há consenso na literatura sobre qual o melhor preparo de cólon, tanto em

exames eletivos quanto em urgências (B, C)1-4 .

Para a realização de colonoscopias eletivas o preparo de cólon anterógrado é

o método de escolha pela maioria dos autores, pois um intestino limpo aumenta a

acurácia diagnóstica e influencia a terapêutica, contribuindo para melhores

resultados. O preparo ideal deve limpar a superfície mucosa cólica da melhor

maneira, sendo seguro, bem tolerado pelo paciente e a um custo acessível. Entre os

modos de preparo anterógrado disponíveis, ainda não há consenso sobre qual é o

melhor (A)5,6.

De fato, o preparo de cólon mostrou-se factível e útil nos casos de

hematoquezia aguda 5,9 (B), sendo o preparo anterógrado o método de eleição pela

maioria dos autores (A)2,4,5,7-12. O preparo retrógrado isolado ou em associação com

enemas está baseado na teoria de que o sangue na luz intestinal atua como

catártico, sendo necessária somente a limpeza do cólon distal, além da possibilidade

de realização mais precoce do exame (C, D)4,12.

Bibliografia

1. Opelka FG, Gathright JB, Beck D. Lower Gastrointestinal Hemorrhage. The

ASCRS Textbook of Colon and Rectal Surgery 2007. Springer, 299-307.

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(ASCRS), the American Society for Gastrointestinal Endoscopy (ASGE), and

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3. Qual é o melhor momento para a realização da colonoscopia?

Ainda não há um consenso na literatura com base em estudos com forte nível

de evidência, existindo sim, uma tendência atual recomendando a realização de um

exame precoce, em até 12 a 24 horas da admissão (B) 1-7.

Em ensaio clinico recente, Green1 e colaboradores randomizaram

consecutivamente 50 pacientes com quadro de HDB em dois grupos: tratamento

conservador versus colonoscopia de urgência, com a hipótese de que exames e

intervenções precoces melhorariam os resultados. Foram excluídos pacientes com

história de doença inflamatória intestinal, que não necessitaram de hemotransfusão,

com início dos sintomas há mais de 24 horas, com queda de hematócrito menor que

5%, idade menor que 18 anos, pacientes que não necessitaram de internação em

UTI, com história de cirurgia abdominal ou polipectomia há 10 dias, além de

gestantes, HIV, coagulopatia refratária, suspeita de IAM e choque hipovolêmcio

refratário. Os pacientes foram randomizados após exclusão de HDA por endoscopia

digestiva alta e admitidos em UTI. No grupo de exame de urgência, os pacientes

recebiam preparo de cólon anterógrado com a realização de colonoscopia em até 8

horas da admissão e no máximo até 2 horas após o término do preparo de cólon

com polietilenoglicol. O grupo controle, submetido a tratamento conservador, era

encaminhado para colonoscopia eletiva em até 4 dias da admissão ou submetido a

cintilografia com hemáceas marcadas com tecnécio na suspeita de sangramento,

com posterior encaminhamento para angiografia abdominal nos casos positivos.

Comparando os resultados, foram identificados o local de sangramento em 42% dos

pacientes submetidos a colonoscopia de urgência, comparado com 22% no grupo

controle, mas não houve diferença significativa em resultados importantes como

incidência de ressangramento, mortalidade, período de internação, necessidade de

hemotransfusão e de tratamento cirúrgico (A).

Por outro lado, vários estudos demonstraram que a colonoscopia em caráter

de urgência, caracterizada como aquela realizada dentro das 12 horas iniciais de

admissão é um exame seguro e eficiente (B)2-4, sendo que pode estar relacionada

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redução do tempo de internação do paciente e diminuição dos custos hospitalares

(B)5,7.

Nos casos específicos de HDB por doença diverticular, vários estudos

demonstraram que a realização de exame precoce pode aumentar as chances de

diagnóstico, melhorando os resultados e com diminuição da necessidade de

tratamento cirúrgico (B)2,5,6,7.

Bibliografia

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4. Tratamento endoscópico na hemorragia digestiva baixa – cólica.

Barnert e Messmann1 classificaram os métodos de tratamento endoscópico

das hemorragias digestivas com origem no íleo e cólon (A) basicamente em:

Termocoagulação (com ou sem contato tecidual): heater probe, laser

(Nd:YAG), coagulação com plasma de argônio, eletrocoagulação (bipolar,

monopolar com ou sem probe de irrigação – EHT).

Terapia com infiltração: adrenalina, etanolamina, álcool absoluto, polidocanol

ou cola de cianoacrilato.

Métodos mecânicos: endoclips metálicos.

Ressaltaram também a importância na determinação do local de origem do

sangramento, identificação dos estigmas de sangramento recente e condições

ótimas de visibilidade.

Farrell e Friedman2 em excelente artigo de revisão (A) também analisaram

algumas técnicas de hemostasia endoscópica. Em lesões com sangramento ativo ou

com coágulo aderido no cólon, com exceção de hemangiomas e hemorroidas

internas, está recomendada a injeção de adrenalina associada a termocoagulação

(bipolar ou heater probe). (C)2.

Nos casos de sangramento com origem diverticular estão indicadas a injeção

de adrenalina, isoladamente ou em associação com termocoagulação bipolar (A)2.

Outro método possível é a utilização de clipes metálicos (B, C)2.

O tratamento convencional de angiodisplasia do cólon é realizado através do

uso de probes térmicos de contato (B), tendo como opção a injeção de agentes

esclerosantes e mais recentemente e com resultados animadores o uso do plasma

de argônio (B)2.

O sangramento pós-polipectomia pode ser responsável por 2% a 8% dos

casos de HDB (B)2, divide-se em agudo e tardio, pois pode se manifestar em até 15

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dias após a realização do exame, após a queda do coágulo tamponante pode ser

controlado com sucesso por diversas técnicas: injeção de adrenalina,

eletrocoagulação, plasma de argônio, apreensão com clipes (B, C)2.

Bibliografia

1. Barnert J, Messmann H. Management of lower gastrointestinal tract bleeding.

Best Pract Res Clin Gastroenterol 2008; 22(2): 295–312.

2. Farrell JJ, Friedman LS. Review article: the management of lower

gastrointestinal bleeding. Aliment Pharmacol Ther 2005; 21(11): 1281–1298.

5. Há lugar para a Arteriografia e Cintilografia?

Sim. Os Guidelines atuais ainda incluem a cintilografia e a arteriografia no

arsenal diagnóstico e terapêutico da HDB1,2. A cintilografia detecta sangramentos

ativos de 0,1 a 0,5ml/min; é pouco invasivo, com sensibilidade de 91-97%,

especificidade de 76 a 95% mas com acurácia de 41 a 94% 3,4. A maior

desvantagem é a localização imprecisa do foco de sangramento. Estudos recentes

têm demonstrado diminuição dos falso-positivos com o emprego da cintilografia de

subtração de 9,6 para 3,6% 5, diminuindo o número de arteriografias e cirurgias

desnecessárias de 8,8 para 5,4% e 2,8 para 1,8% respectivamente6; assim como

melhora da localização do foco com associação do PET/CET7 (B). A maioria dos

autores recomenda a cintilografia como método inicial para identificar pacientes com

sangramento ativo e que se beneficiariam com a arteriografia1,2. (B,C)

A arteriografia é mais invasiva que a cintilografia como método de detecção

de sangramento e necessita de pelo menos 0,5 ml/min para detecção da

hemorragia8. Entretanto, quando um foco é identificado, uma localização precisa é

encontrada e há possibilidade terapêutica.

A angiografia localiza o sítio de sangramento em 40 a 86% dos pacientes com

HDB2,9. Alguns autores fazem uso de vasodilatadores, anticoagulantes e

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trombolíticos com intenção de aumentar a sensibilidade da arteriografia;

principalmente nos casos com sangramentos obscuros ou recorrentes, os resultados

indicam que podem ser realizados de forma segura, com aumento da positividade

em até 30% 10-12. (C)

O tratamento angiográfico da HDB inclui infusão de vasopressina ou

embolização transarterial. A eficácia da vasopressina intra-arterial foi demonstrada

em estudo de Browder e colaboradores com 50 pacientes com HDB inicialmente

avaliados com arteriografia. O local de sangramento foi identificado em 72%

(etiologias: doença diverticular 38%, angiodisplasia 30%). O tratamento com

vasopressina cessou o sangramento em 20 (91%) dos 22 tratados. Houve 50% de

ressangramento após término da infusão. No entanto, a intervenção angiográfica

permitiu colectomias subtotais eletivas em muitos casos resultando em menores

morbidades, 9% comparadas com 37% em pacientes com cirurgias de emergência.

Como a vasopressina causa vasocontrição periférica deve ser utilizada com cuidado

em pacientes com doença coronariana, cardiomiopatia congestiva, hipertensão e

doença vascular periférica severa13. (C)

A terapêutica com método de embolização está indicada nos pacientes com

falha na terapia com vasopressina e/ou com contra-indicação da mesma. Deve ser

preferencialmente executada por profissional experiente pelo risco de isquemia e

infarto relatados entre 0-20%. Há hoje uma tendência dos autores indicarem a

arteriografia super-seletiva como método primário para controle da HDB nos

sangramentos massivos ou contínuos. Kuo e colaboradores relataram 22 pacientes

com HDB tratados com embolização arterial com micro-molas trans-cateter com

controle inicial do sangramento em todos pacientes, houve recidiva do sangramento

em 14% dos casos, não ocorrendo complicações maiores. Eles revisaram outros

122 pacientes da literatura com taxa de complicações menores de 9% sem

complicações maiores14. (B)

Estudo retrospectivo de Tan e colaboradores avaliando a eficácia da

embolização trans-cateter como método inicial de tratamento da HDB observou 97%

(31 em 32 pacientes) de sucesso na parada da hemorragia imediatamente após o

procedimento. Em 20 pacientes (63%) houve sucesso completo do procedimento

com alta sem novas intervenções. Sete pacientes (22%) tiveram recorrência do

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sangramento. Nove pacientes necessitaram cirurgia: um por hemostasia incompleta,

quatro por recidiva do sangramento, um (3%) infarto do cólon após embolização.

Observaram também que a recidiva do sangramento é mais freqüente com local de

sangramento no delgado comparada com o cólon (OR: 8,33, 95% CI 1,03-66,67) e

com hematócritos ≤20,0% (OR: 12,66, 95% CI 1,36-62,5) e plaquetas ≤140.000 (Or:

9,35, 95% CI 1,36-62,5) antes do procedimento cirúrgico. Ressecções cirúrgicas são

mais freqüentes em pacientes com hematócrito ≤20% pré-embolização ( OR:12,66,

95% CI: 1,96-83,33) e aparentemente mais comum nas pacientes com doença

diverticular15. (C)

Meta-análise de Khanna e colaboradores. com objetivo de identificar qual

etiologia da HDB é melhor tratada com arteriografia com embolização

demonstraram, através de análises regressivas, uma tendência maior para recidiva

do sangramento em pacientes com angiodisplasia e outras quando comparada com

a doença diverticular (OR: 3,53, 95% CI 1,33-9,41; P<0,01). A embolização para

doença diverticular com HDB obteve sucesso em 85% dos pacientes em contraste

com 40% de sucesso com outras causas16. (B)

Não existem trabalhos prospectivos e randomizados no emprego da

arteriografia comparado com outras modalidades terapêuticas na abordagem da

HDB. Porém; conforme demonstrado, tanto a cintilografia quanto a arteriografia

super-seletiva com embolização são métodos úteis.

Bibliografia

1. Davila RE, Rajan E, Adler DG, Egan J, Hirota WK, Leighton JA, Qureshi W,

Zuckerman MJ, Fanelli R, Wheeler-Harbaugh J, Baron TH, Faigel DO. ASGE

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6. Quais as indicações de enteroscopia com balão único, duplo-balão e

cápsula endoscópica?

A cápsula endoscópica (CE) é melhor indicada no sangramento digestivo de

origem indeterminada, quando a endoscopia digestiva alta e a colonoscopia são

negativas. Metanálise de 14 estudos observacionais demonstrou que a CE é mais

efetiva em identificar os focos de sangramento (63%), que a enteroscopia (26%) e

estudos contrastados (8%) 1. (B)

A CE possui muitas vantagens comparadas com outros métodos de

visualização do intestino delgado. É exame menos invasivo e permite a visualização

de grande parte da mucosa intestinal. A principal desvantagem é a não possibilidade

de biópsia ou terapêutica. Outro fator negativo é que, em 20 a 30% dos casos, a CE

não atinge o ceco com tempo de gravação ativo2. (C)

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Baseada na extensa publicação referente à EDB, a hemorragia média

(definida como sangramento entre a papila duodenal e a válvula ileocecal)

representa a principal indicação para o exame3-9. (B,C)

O mesmo é aplicado a enteroscopia de balão único10-11. (B)

A enteroscopia com balão é um método que permite inserção endoscópica de

todo intestino delgado, ou grande parte deste, sendo possível realização de biópsia

e possibilidade terapêutica. Estudos com a enteroscopia com duplo balão

confirmaram sua eficácia diagnóstica e baixas taxas de complicação

(aproximadamente 1% para procedimento diagnóstico e 3-4% para o procedimento

terapêutico). Dois grandes estudos avaliaram a incidência de complicações da EDB.

O de Mensink e colaboradores avaliaram 2362 procedimentos em 10 diferentes

centros. Um total de 85 complicações foram relatadas (4%). A taxa de complicação

foi maior no grupo com procedimentos terapêuticos (4,3%) versus procedimento

diagnóstico (0,8%). Não houve mortes relacionadas com o procedimento. Houve

sete (0,3%) casos de pancreatite12 . (A) Estudo de alemão de Moschler e

colaboradores incluindo 85 centros de endoscopia e 3894 EDB obtiveram

complicações em 1%. Perfurações foram relatadas em 8 (3,4%) pacientes e

obtiveram a mesma taxa de pancreatite (0,3%)13. (A)

Enteroscopia com balão também deve ser preferida na suspeita de estenose

intestinal. A CE nestes pacientes está associada com risco de retenção.

A vantagem da EB comparada a CE é, principalmente a possibilidade de

intervenções diagnósticas (biópsia) e terapêuticas.

As principais indicações da EB são: pacientes com achados positivos de CE

ou exame radiológico de delgado que necessite de biópsia ou intervenção

terapêutica; aqueles com lesões suspeitas de delgado apesar de exame de CE

negativo; pacientes com sangramento ativo de intestino delgado que encontra-se

fora do alcance dos procedimentos endoscópicos padronizados; naqueles pacientes

onde há probabilidade de impactação da CE. A EB também é indicada nos casos de

acesso ao trato digestivo de pacientes com cirurgias gastrointestinais como cirurgias

bariátricas, gastrectomias com reconstrução em Y de Roux ou Billroth II14-16. (B)

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15

A interrupção da inserção do enteroscópico deve ser considerada ao se

encontrar lesões ou áreas friáveis no intestino delgado17. (C)

Bibliografia

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17

Ambas as vias podem ser utilizadas para o completo exame do intestino. A

via anterógrada parece ser mais efetiva quanto ao nível de intubação.

A via retrógrada apresenta taxa de insucesso de 21%, em pequeno estudo

retrospectivo, o que é significativamente maior que a por via anterógrada (2%). O

insucesso foi significativamente mais comum em pacientes com cirurgias abdominais

e pélvicas (P=0,001). O tempo para atingir uma intubação ileal estável também é

mais prolongado nesses pacientes (13,9 vs 38,1 minutos, P=0,0006)1. (C)

Yamamoto e colaboradores relataram enteroscopia total, usando ambas as

abordagens em 86% dos pacientes examinados2. (C) Estudo Europeu relatou exame

total em 45%, também com abordagem combinada, com média de inserção do EDB

de 230 cm3. (C)

Metanálise focada em estudos que prospectivamente compararam a CE e

EDB no diagnóstico de HDB de origem indeterminada identificou superioridade na

extensão dos segmentos examinados com combinação de inserção via oral e anal

da EDB (11/24 vs 21/24, OR 0,12 95% CI 0,03-0,52; p<0,01)4. (B)

A habilidade técnica para realização da EDB melhora com a experiência. A

curva de aprendizado da EDB foi avaliada em estudo envolvendo 6 centros terciários

norte americanos. Um total de 188 pacientes submeteram-se a 237 EDB (a maioria

por HD de causa obscura). Aproximadamente dois terços dos casos foram

realizados por via oral. A média de inserção via oral foi de 360 cm a partir do piloro.

Os procedimentos via anal com intubação com sucesso do intestino delgado

apresentou média de 181cm. O tempo médio de duração do procedimento foi de 109

minutos (±45 minutos) para os primeiros 10 casos reduzindo para 92 minutos (±38

minutos) nos casos seguintes. A melhora na eficiência foi observada somente nos

casos por via oral. Os exames por via retal falharam em atingir o íleo em 31% dos

casos5. (B)

A prática que se considera adequada é marcar com tinta da china a região

mais distal no acesso inicial por via alta ou baixa para obter certeza da exploração

completa6. (C)

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18

É sugerido que, se a razão entre o tempo de detecção da lesão (pela CE)

pelo tempo para atingir o ceco é <0,75, a via oral deve ser considerada como

escolha para EDB7. (C)

Estudo em 9 centros americanos com 1691(68%) exames via anterógrada e

722 (29%) por via retrógrada relatou perfurações em 0,2% nos exames via oral e

1,1% nos exames via anal (p=0,004). Detectaram maior índice de complicações com

exames em pacientes com cirurgias prévias; principalmente anastomoses ileoanal e

ileocolicas. 10% de perfurações foram relatadas em 60 exames com anastomoses

quando realizadas retrogradamente e 0,6% quando a via foi anterógrada8. (B)

Estudo de Khashab e colaboradores utilizando-se de análise multivariável

identificou que pacientes com ≥3 cirurgias apresentavam significativamente menor

extensão de inserção do que os com ≤1 cirurgia (137 vs 214 cm, P<0,001 para via

anterógrada e 114 vs 148 cm, P<0,001 para via retrógrada)9. (B)

Kuga e colaboradores, com experiência em 457 EDB obtiveram taxa de

inserção de 230 ±85 cm (variando de 30-500 cm) pela via anterógrada e 140 ±75cm

(variando 0-320 cm) pela via retrógrada. Enteroscopia total foi relatada em 41,6% 10.

(C)

Dependendo da experiência do endoscopista, pode existir grande variação na

visualização completa com a EDB. A taxa de sucesso completo está entre 40-80%

(máximo de 86%)11,12. (C)

Na enteroscopia de balão único, séries recentes relatam exames completos

variando entre 12,5-71% 13,14. (C)

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8 Enteroscopia intra-operatória auxilia no diagnóstico e localização do local do

sangramento?

A EIO já foi considerada propedêutica padrão no diagnóstico do sangramento

de origem obscura; entretanto suas indicações têm diminuído recentemente devido

ao desenvolvimento da CE e da EB no diagnóstico e tratamento da HD. Atualmente

a EIO é reservada aos casos de pacientes em situações de urgência por HD de trato

digestivo médio maciça, lesões não acessíveis à EB e lesões de difícil ou impossível

tratamento com EB. Independentemente do procedimento eleito, a exploração

cirúrgica deverá permitir a completa avaliação endoscópica, evitando o risco de não

se detectar lesões não palpáveis ou não evidenciadas com a trans-iluminação1-4.

Aproximadamente 5% dos sangramentos digestivos ocorrem entre o

ligamento de Treitz e a válvula ileocecal5,6.

A eficácia na localização do foco de sangramento já foi bem estudada e varia

de acordo com as séries entre 70 a 100% 7-17. (B)

Estudos realizados em 2 centros alemães, totalizando 123 pacientes, nos

quais foi possível o exame completo, a localização do foco de sangramento foi de

83%. Ocorreram complicações graves em 1,6% dos casos e taxa de mortalidade de

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21

0,8%(um óbito pós-ressecção cirúrgica). Foram obtidos resultados patológicos em

83% dos casos, 62,7% angiodisplasias, 13,7% de úlceras, 10,7% tumores ou pólipos

e 8,8% divertículos2,18,19. (B)

No estudo prospectivo de Hartmann e colaboradores com 47 pacientes que

se submeteram a EIO após investigação por CE, o diagnóstico do sangramento

variou com o tipo de sangramento. Nos pacientes com sangramento oculto ativo os

achados positivos foram de 100%, nos pacientes com sangramentos prévios inativos

70,8% 18. Houve ressangramento em 25,5%, destes 19,1% necessitaram de nova

terapêutica (4 transfusões e 5 intervenções endoscópicas) e 2 (6,9%) apresentaram

sangramento persistente18,20. (B)

Seguimentos mais longos (19 meses) relacionam-se com até 30% de

sangramento após EIO21. (C)

Os fatores limitantes da EIO são as comorbidades e a necessidade de

anestesia geral. Firmes aderências com mesentério curto e sangramento maciço

com coágulos obstruindo o lúmen intestinal podem limitar o uso da EIO7.

A utilização da via transoral ou transanal requer excessiva telescopagem das

alças intestinais podendo resultar em lacerações de mucosa e serosa com

incidência de até 52%. Complicações intra-operatórias significantes são relatadas

em até 3%. Complicações pós-operatórias ocorrem em até 26% e mortalidade em

30 dias em 6% 22. (C)

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9- Qual o momento do tratamento cirúrgico?

A incidência anual de HDB é de aproximadamente 0,03% da população

adulta, sendo responsável por 1 a 2 % das admissões hospitalares de urgência1,2.

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24

Em aproximadamente 80% dos casos, a hemorragia é autolimitada, cessando

espontaneamente. Porém, em até 25% dos casos, o sangramento é recorrente e

quando ocorre após a internação, aumenta a mortalidade de 5 para 23%. A

presença de enterorragia volumosa, hematócrito abaixo de 35% e instabilidade

hemodinâmica após 1 hora da admissão hospitalar são fatores de independentes de

mau prognóstico3. (C).

A cirurgia deve ser considerada nos pacientes instáveis hemodinamicamente

apesar da ressuscitação volêmica agressiva, naqueles que receberam acima de 6

unidades de concentrado de glóbulos nas primeiras 24 horas de admissão ou até

dez unidades no total, ou no sangramento recorrente e persistente1-4 (B). Nos

pacientes que necessitam transfusão de glóbulos durante a internação, uma cirurgia

de urgência pode ser indicada em 10 a 25% dos casos2,3. A mortalidade geral nos

pacientes que se apresentam com HDB é de 5%, mas pode aumentar para até 20%

naqueles submetidos a cirurgia de urgência. Os principais fatores de risco são idade,

co-morbidades e choque à admissão3,5.

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25

10- Utilização do enema baritado na HDB?

Trabalhos da década de 90 estudaram o papel do enema baritado no

diagnóstico de pacientes com sangramento digestivo baixo1,2. Rex1 conduziu um

estudo prospectivo, randomizado e controlado envolvendo 380 pacientes com HBD,

comparando o enema baritado e a retoscopia flexível à colonoscopia. A

colonoscopia foi mais efetiva no diagnóstico do sangramento quando a fonte era

proveniente de pólipos adenomatosos menores que 1 cm e malformações

vasculares, enquanto o enema foi mais efetivo na diverticulose. Não houve diferença

em relação aos dois métodos nos achados de câncer colorretal e adenomas maiores

que 1 cm. O autor conclui que a retoscopia e o enema tem boa relação custo-

benefício nos pacientes abaixo dos 55 anos; já a colonoscopia deve ser solicitada

nos pacientes que sangram acima desta idade. (A). Jaramillo2, estudando

retrospectivamente 288 pacientes que se apresentaram com sangramento baixo e

foram submetidos à colonoscopia e enema opaco, concluiu que o enema possui alta

eficácia no diagnóstico do câncer colorretal e pólipos maiores que 1 cm e baixa

positividade para as moléstias inflamatórias e alterações vasculares.(C)

A doença diverticular dos cólons é a causa mais comum de hemorragia

digestiva baixa3. Na grande maioria dos casos, o sangramento é autolimitado, porém

em até 20% dos pacientes algum procedimento é necessário4. Em alguns casos, a

fonte de sangramento não pode ser identificada ou existe mais de um sítio ativo,

tornando a colonoscopia e a arteriografia terapêutica ineficazes nestes pacientes3.

Embora o tratamento cirúrgico seja a conduta de escolha nestes casos, a maioria

destes pacientes tem idade avançada e apresentam elevado risco cirúrgico.

Algumas pequenas séries de caso mostram resultados favoráveis no tratamento do

sangramento na diverticulose com o enema baritado3 (C). As concentrações de bário

variavam de 20% a 200%. O mecanismo de ação do enema de bário no controle do

sangramento colônico é controverso. Adams5 aponta dois principais fatores. O

primeiro é a pressão produzida pela solução de bário, tamponando diretamente os

vasos dos óstios diverticulares, e o segundo fator é a própria ação hemostática do

sulfato de bário.

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26

A tabela abaixo descreve os principais relatos de caso do enema de bário

terapêutico na hemorragia por doença diverticular:

Tabela 1. Relatos de caso do enema baritado terapêutico no sangramento

diverticular3.

Autor, ano n Concentração

de bário (%)

Sucesso

n

Recorrência

n

Adams,

1970 28 20% 26 9

Chorost,

2000 1 20% 1 0

Koperna,

2001 63 - 53 10

Matsuhashi,

2003 1

200% + 1mg

epinefrina 1 0

Iwamoto,

2008 4 200% 4 0

O enema de bário mostrou-se efetivo no controle da hemorragia secundária à

doença diverticular num pequeno número de pacientes estudados de forma não

controlada3-5 (C). Apesar de ser considerada uma opção ao tratamento cirúrgico,

principalmente nos doentes de alto risco3, sua indicação terapêutica é controversa

na maioria dos estudos, além de apresentar taxas de recorrência do sangramento

elevadas. A presença do bário na luz do cólon impede a realização de um novo

exame endoscópico diagnóstico ou terapêutico e também interfere no preparo de

cólon numa eventual cirurgia. Os estudos recentes de melhor qualidade6-8, assim

como o Guideline da ASGE9 (American Society for Gastrointestinal Endoscopy) não

relatam a utilização terapêutica do enema baritado nos pacientes com sangramento

digestivo baixo.

Bibliografia:

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11- Ileoscopia em pacientes com HDB e colonoscopia normal

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Apesar de todos os avanços e exames disponíveis para a investigação do

trato digestivo, cerca de 10% dos casos de sangramento continuam sem causa

aparente1. Sabe-se que o intestino delgado é a fonte de 3 a 5% dos casos de

sangramento digestivo baixo. A angiodisplasia é a principal causa, que também

inclui o Divertículo de Meckel, Doença de Crohn, fístulas aortoentéricas e as

neoplasias2. Pacientes que se apresentam com sangramento digestivo e

endoscopias alta e baixa normais, devem ser submetidos a algum estudo do

intestino delgado1,3 (B).

A colonoscopia é considerada o exame de eleição para a investigação das

doenças do cólon e do íleo terminal4 (A). A ileoscopia terminal é parte integrante da

colonoscopia completa, sendo possível em aproximadamente 90% dos exames.

Diversos estudos4-6 apontam os benefícios da investigação do íleo terminal durante

a colonoscopia em pacientes com doenças inflamatórias intestinais, diarréia crônica,

linfoma, CMV e tuberculose intestinal (B). Apesar da recomendação, a ileoscopia

não é realizada de rotina em todos os serviços7.

Misra4 e colaboradores estudaram 39 pacientes com hematoquezia e

colonoscopia normal. A avaliação do íleo terminal, num segundo exame, foi possível

tecnicamente em 36 pacientes. Apenas 5 pacientes apresentavam alterações,

incluindo úlceras inespecíficas, uma angiodisplasia e uma lesão tipo Dieulafoy. Os

autores concluem que apesar da baixa positividade (13%), as alterações

encontradas foram valiosas e estimulam a realização da ileoscopia de forma

sistemática nos doentes com sangramento digestivo (C).

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12- Avaliar redução de morbi-mortalidade operatória de urgência por

hemorragia digestiva baixa na era da colonoscopia (diagnosticando o sitio

hemorrágico propicia cirurgias menos extensas, reduzindo morbi-mortalidade)

Existem evidências na literatura que sugerem que os pacientes com HDB,

devem ser submetidos à colonoscopia de urgência1 (C). Comparada com a

angiografia, a colonoscopia realizada após a admissão tem elevada acurácia no

diagnóstico (80-90%) da fonte de sangramento, com taxas de sucesso na

terapêutica de até 70% dos casos1,2 (C). A colonoscopia terapêutica de urgência

acarreta menor custo e menor estadia hospitalar quando comparados a grupos não

submetidos ao exame, diminuindo a taxa de re-sangramento e as indicações de

cirurgia3 (B). Os pacientes que se apresentam com sangramento maciço podem

beneficiar-se da angiografia, ao invés da colonoscopia, após avaliação de um

cirurgião1 (C).

A colonoscopia de urgência também tem outro importante papel na

localização da fonte de sangramento. Em trabalhos não controlados, a realização

prévia do exame com a identificação do sítio de sangramento proporcionou

ressecções segmentares e diminuiu a morbi-mortalidade cirúrgica, quando

comparada à colectomia subtotal2,4,5 (C). A colectomia segmentar é a cirurgia de

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escolha nos casos onde o sítio de sangramento pode ser identificado, seja pela

colonoscopia ou angiografia. A mortalidade deste procedimento é de

aproximadamente de 10%, com taxa de ressangramento de 5%. Ressecções

segmentares sem a adequada identificação do local de origem do sangramento

eram realizadas no passado. Entretanto, as taxas de re-sangramento eram de até

30%, além da mortalidade de até 20-40% dos casos6. Nos casos onde a

identificação da fonte não é possível, a colectomia subtotal deve ser a conduta de

escolha4,6 (B). A taxa de ressangramento é muito reduzida (até 2%), porém com

mortalidade ainda elevada (20%)4.

Czymek5 analisou retrospectivamente os dados de 63 pacientes com HDB. O

diagnóstico da fonte de sangramento foi possível em 61 dos casos (41 com

colonoscopia e 12 com angiografia). O diagnóstico de Doença Diverticular foi o mais

freqüente (50%). Entre os pacientes operados, a colectomia segmentar foi a

operação mais realizada. A colectomia subtotal foi realizada em 10 pacientes. A

morbidade global dos pacientes transfundidos e submetidos ao tratamento cirúrgico

foi de 60% e a mortalidade de 15%.

Trabalhos da década de 905,6 compararam os resultados pós-operatórios

entre a colectomia segmentar e a colectomia subtotal na hemorragia digestiva baixa.

Apesar de não haver randomização, não houve diferença estatística entre a

morbidade e a mortalidade entre os dois grupos. Entretanto as taxas de

ressangramento foram maiores no grupo da colectomia segmentar (18%). Nos

pacientes submetidos à colectomia subtotal, houve apenas 4% de ressangramento

(C).

Nos últimos anos houve um grande avanço tecnológico no diagnóstico e

principalmente na terapêutica endoscópica das lesões hemorrágicas do cólon,

conferindo maior fidelidade no diagnóstico do sítio de sangramento e maior eficácia

no seu tratamento. Assim, o tratamento cirúrgico tem sido menos freqüente e

considerado como a última opção no algoritmo destes pacientes. Apesar da

escassez de trabalhos randomizados e controlados, nos pacientes candidatos ao

tratamento cirúrgico, recomenda-se a ressecção segmentar após a identificação do

local de sangramento. A colectomia subtotal é o procedimento de escolha quando a

fonte de sangramento não for identificada7,8 (B).

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