projeto de pesquisa: processo legislativo e controle de ... · veremos adiante, não é suficiente...

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1 Ministério da Justiça Secretaria de Assuntos Legislativos – SAL Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD Projeto Pensando o Direito – SAL/PNUD PRODOC BRA/07/004 Convocação nº. 02/2009 Projeto de pesquisa: Processo Legislativo e Controle de Constitucionalidade: as fronteiras entre direito e política Instituição proponente: Núcleo Direito e Democracia do Centro Brasileiro de Análises e Planejamento (NDD/CEBRAP) RELATÓRIO FINAL Equipe de pesquisa Marcos Nobre (Coordenação) José Rodrigo Rodriguez (Coordenação) Luciana Gross Cunha (Consultoria) Geraldo Miniuci Nathalie Bressiani Fabiola Fanti Ana Carolina Alfinito Vieira Carolina Cutrupi Ferreira Luciana Silva Reis Mariana Giorgetti Valente São Paulo, 24 de março de 2010

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Ministério da Justiça Secretaria de Assuntos Legislativos – SAL

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD

Projeto Pensando o Direito – SAL/PNUD PRODOC BRA/07/004

Convocação nº. 02/2009

Projeto de pesquisa:

Processo Legislativo e Controle de Constitucionalidade: as fronteiras entre

direito e política

Instituição proponente: Núcleo Direito e Democracia do Centro Brasileiro de

Análises e Planejamento (NDD/CEBRAP)

RELATÓRIO FINAL

Equipe de pesquisa Marcos Nobre (Coordenação)

José Rodrigo Rodriguez (Coordenação) Luciana Gross Cunha (Consultoria)

Geraldo Miniuci Nathalie Bressiani

Fabiola Fanti Ana Carolina Alfinito Vieira

Carolina Cutrupi Ferreira Luciana Silva Reis

Mariana Giorgetti Valente

São Paulo, 24 de março de 2010

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Índice

I. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 5

II. METODOLOGIA ............................................................................................................................... 8

1. Consulta aos bancos de dados existentes ......................................................................................... 8

2. Construção de um novo banco de dados das CCJCs: proposições legislativas do banco SICON e

da Câmara dos Deputados ................................................................................................................ 15

3. Construção do banco de vetos do Poder Executivo ...................................................................... 17

4. Banco de julgados do Supremo Tribunal Federal .......................................................................... 17

III. ANÁLISE QUANTITATIVA ........................................................................................................ 20

1. Banco de proposições legislativas ................................................................................................. 20

1.1 Segurança pública ............................................................................................................... 20

1.2 Competição política ............................................................................................................ 26

1.3 Reforma do Judiciário e do processo .................................................................................. 31

2. Banco de acórdãos do STF ............................................................................................................ 34

2.1 Ações declaratórias de constitucionalidade ............................................................................. 35

2.2. Argüições de descumprimento de preceito fundamental ........................................................ 38

2.3. Ações diretas de inconstitucionalidade ................................................................................... 40

IV. ANÁLISE QUALITATIVA ........................................................................................................... 45

1. Introdução ................................................................................................................................... 45

2. Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania ...................................................................... 54

2.1. CCJ – Competição Política ..................................................................................................... 54

2.2 CCJ – Reforma do Processo ..................................................................................................... 65

2.3 CCJ – Segurança Pública ......................................................................................................... 72

3. Supremo Tribunal Federal .......................................................................................................... 89

3.1 Competição política ................................................................................................................. 89

3.2 Reforma do processo ................................................................................................................ 89

3.3 Segurança pública .................................................................................................................... 90

3.4 Crítica da argumentação .......................................................................................................... 90

4. Vetos........................................................................................................................................... 96

IV. ESTUDOS DE CASO – UMA PASSAGEM PELAS TRÊS INSTÂNCIAS ................................ 99

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 103

VI. REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 105

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SIGLAS

a) Partidos Políticos

DEM – Partido Democratas (antigo PFL)

PC do B – Partido Comunista do Brasil

PDT - Partido Democrático Trabalhista

PFL – Partido da Frente Liberal

PHS – Partido Humanista da Solidariedade

PL – Partido Liberal

PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PMN – Partido da Mobilização Nacional

PNA - Partido Nacional dos Aposentados

PP - Partido Progressista (antigo PPB)

PPB – Partido Progressista Brasileiro

PPS - Partido Popular Socialista

PRONA - Partido de Reedificação da Ordem Nacional

PRTB - Partido Renovador Trabalhista Brasileiro

PSB - Partido Socialista Brasileiro

PSC - Partido Social Cristão

PSD - Partido Social Democrata

PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira

PSL - Partido Social Liberal

PSOL - Partido Socialismo e Liberdade

PST – Partido Social Trabalhista

PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

PT – Partido dos Trabalhadores

PTB - Partido Trabalhista Brasileiro

PTC - Partido Trabalhista Cristão

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PTN - Partido Trabalhista Nacional

PTR - Partido Trabalhista Renovador

PV – Partido Verde

b) Outros

ADC – Ação Declaratória de Constitucionalidade

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

ADPF – Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental

CCJC – Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania

PL – Projeto de Lei

PLP – Projeto de Lei Complementar

PEC – Proposta de Emenda à Constituição

PL – Projeto de Lei

PLS – Projeto de Lei do Senado

RICD – Regimento Interno da Câmara dos Deputados

RISF – Regimento Interno do Senado Federal

STF – Supremo Tribunal Federal

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I. INTRODUÇÃO

O objetivo central desta pesquisa é comparar a atuação das instituições responsáveis

pelo controle preventivo e repressivo de constitucionalidade de atos do Poder Legislativo, no

âmbito do STF, das Comissões de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e do

Senado Federal, e do Executivo, via vetos presidenciais, para identificar:

a) o que cada uma delas entende, de fato, por controle de constitucionalidade,

para além (ou aquém) do texto normativo que define sua competência;

b) que argumentos são utilizados em cada uma dessas instâncias e qual seu

padrão argumentativo.

O primeiro esforço desta pesquisa, portanto, é sair da formalidade dos textos legais e

compreender, na prática, como os organismos de controle de constitucionalidade preventivo e

repressivo funcionam.

A pesquisa em sociologia do direito de matriz norte-americana costuma se referir a tal

abordagem como “law in action” para se contrapor ao formalismo de abordagens que se

preocupam apenas com o direito como está escrito, ou seja, “law in books” (o direito dos

livros).1

Uma pesquisa com este perfil pode alimentar, evidentemente, a reflexão sobre o

funcionamento real das instituições a partir de dados colhidos que podem vir a motivar

reformas ou reformulações globais dos organismos estudados. No caso desta pesquisa, nossa

motivação é compreender, de fato, o que ocorre nestes órgãos destinados a controlar a

constitucionalidade das leis.

Ademais, a atenção que dedicaremos à argumentação dos órgãos de poder, como

ficará claro no correr deste texto, tem de sua parte uma dupla motivação. Em primeiro lugar, a

atenção à argumentação está ligada ao nosso desejo de investigar a maneira pela qual o poder

se coloca diante da sociedade, ou seja, que tipo de justificativa invoca para tomar suas

decisões.

Os poderosos podem, por exemplo, decidir sem fundamentar ou argumentar via

estratégias retóricas ligadas a estratégias de legitimação simbólica ou carismática dos entes de

1 O termo foi utilizado pela primeira vez por Roscoe Pound, Law in Books and Law in Action, 44 AM. L. REV. 12, 15 (1910).

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poder. Outra postura, completamente diferente, é aquela centrada em justificativas,

argumentos que procuram convencer racionalmente os interlocutores. A postura do organismo

de poder, neste caso, está ligada ao objetivo de levar em conta todas as razões pertinentes à

sua decisão de modo a obter uma solução justa e legítima. Como se verá adiante, as categorias

utilizadas na análise incorporam esta preocupação.2

Em segundo lugar, aspecto ligado ao primeiro, se o padrão de legitimação é

argumentativo, é importante que os órgãos de poder levem em conta todos os aspectos

relevantes do problema que têm diante de si antes de tomar uma decisão. Neste registro, sua

legitimidade não decorre apenas do fato de que um texto legal lhe confira competência para

decidir determinada espécie de problemas ou casos. Sua decisão precisa ser também racional,

ou seja, argumentativa, para se mostrar legítima perante a sociedade.

Os dois temas que organizam esta pesquisa estão diretamente ligados ao tema da

democratização do Brasil. O fim da ditadura militar e a volta à normalidade constitucional

trouxeram consigo a possibilidade de debater publicamente todas as decisões do Estado,

inclusive as do Poder Judiciário. Por isso mesmo, este processo colocou nosso direito na

mesma rota do debate mundial sobre argumentação nas decisões judiciais e sobre democracia

deliberativa nos órgãos executivos e legislativos.3

Tal debate mostra como o debate político não está mais contido apenas no parlamento,

mas se estende, por exemplo, por conselhos (com ou sem poder decisório), organismos como

orçamentos participativos, conferências nacionais, audiências públicas em agências

reguladoras e junto ao STF, etc.4 A sociedade tem penetrado nas instituições formais por

outras vias, diferentes do voto e dos partidos políticos, e é importante mapear este processo.

Uma das hipóteses que esta pesquisa, infelizmente, não pode testar de forma

extensiva, é a seguinte: O Poder Judiciário tem sofrido os efeitos desse processo de

democratização ao abandonar um padrão autocrático e tecnocrático de legitimação de suas

decisões para argumentar e justificar seus pontos de vista?

A técnica jurídica, nesse registro, estaria sendo utilizada ela mesma como elemento de

legitimação ou como ambiente em que se incorporam preocupações sociais, econômicas e

políticas? Nessa última chave, a decisão judicial assume o caráter de um campo de disputa

pelo sentido das normas e não um espaço para decisões em nome de uma suposta “verdade

jurídica” inquestionável.

2 Para uma posição desencantada e cínica em relação ao direito, ver FERRAZ JR. (2003). Para uma posição oposta, ver HABERMAS (1991). 3 A bibliografia é imensa. Para os dois temas, ver HABERMAS (1991). 4 Para um panorama geral do problema, COELHO E NOBRE (2004).

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Não seremos capazes de verificar esta hipótese, pois o universo de decisões estudado,

veremos adiante, não é suficiente para comprovar a eventual mudança a que a hipótese faz

menção. A despeito disso, as categorias que construímos se pretendem capazes de identificar,

no que diz respeito a este problema, posturas argumentativas e posturas autoritárias dos

organismos de poder.

Em uma palavra, esta pesquisa foi concebida com os objetivos de:

a) compreender as instituições e o direito em ação e

b) identificar o padrão decisório dos órgãos de poder, ou seja, verificar como

eles argumentam para justificar suas decisões.

No pano de fundo do trabalho está o processo de democratização das instituições

brasileiras, que tem ampliado o acesso da sociedade civil sobre os organismos de estado,

redesenhando suas fronteiras no processo, e modificado seu padrão decisório, cada vez menos

autoritário e tecnocrático.

Claro, este não é um processo necessário, tampouco irreversível. A luta pela

democracia deve ser constante e retrocessos podem ocorrer. O que só ressalta a importância

de pesquisas que se coloquem deste ponto de vista, o da investigação sobre a relação entre

Estado e sociedade a partir do padrão decisório dos organismos de poder, ou seja, a

investigação da imagem que eles assumem perante a sociedade ao justificar publicamente

suas decisões.

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II. METODOLOGIA

Os documentos e informações referentes à atuação das Comissões de Constituição,

Justiça e Cidadania no controle de constitucionalidade de propostas normativas podem ser

encontrados em diversas bases de dados, localizadas muitas vezes em instituições distintas e

organizados de forma independente. Além disso, as bases de dados existentes são acessíveis

por meio de sistemas de informação distintos e, na grande parte das vezes, compartimentados,

fato que dificulta a integração das informações e documentos existentes nas diferentes

instituições.

Ao mesmo tempo em que tal situação traz o benefício de permitir que a pesquisa seja

feita em uma pluralidade de fontes, o que poderá contribuir para a quantidade e a qualidade

dos dados recolhidos, ela também traz a dificuldade de se compreender cada uma das fontes

existentes. Assim, foi necessário, antes de iniciar a busca por informações e documentos,

compreender qual é o objetivo, a abrangência e as limitações de cada um dos bancos de dados

e sistemas de informação disponíveis para consulta.

A seguir, são descritos os resultados da pesquisa preliminar realizada justamente para

descobrir as especificidades dessas bases e sistemas, bem como as suas formas de acesso.

Procurou-se, sobretudo, responder às seguintes questões:

• Quais materiais estão contemplados dentro das bases de dados?

• Desde quando o banco é sistematicamente alimentado?

• Existe um sistema de informação que dá acesso aos dados contidos no banco?

• Como os dados são classificados? Como é possível fazer buscas?

Essas perguntas foram respondidas por meio de conversas telefônicas e entrevistas

com os responsáveis pela organização dos arquivos no Ministério da Justiça e no Congresso

Nacional, além de consultas ao sítio eletrônico dessas instituições.

1. Consulta aos bancos de dados existentes

Banco de dados do Ministério da Justiça

O Setor de Arquivos da Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) é responsável pela

organização dos documentos referentes à tramitação e aprovação dos projetos de lei na

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Câmara dos Deputados e no Senado. O Banco de dados da SAL reúne documentos datados

desde a década de 1960, porém ele passou a ser alimentado sistematicamente apenas a partir

de 1988. Desde esse ano, todos os documentos publicados nos diários das Casas do Congresso

Nacional foram organizados e arquivados pela SAL. Ou seja, esse banco de dados pode ser

considerado completo desde que se desconsiderem os documentos que geraram efeitos sobre a

tramitação dos projetos de lei mas que não foram devidamente publicados.

Os arquivos estão organizados em ordem cronológica, considerando a data da

publicação da legislação (caso o PL já tenha virado lei) ou a data de propositura do PL (caso o

projeto ainda esteja em tramitação). Cada lei ou PL dá origem a um arquivo, dentro do qual

estão armazenados todos os documentos referentes ao processo de tramitação legislativa da

norma. Ou seja, junto a um PL ou lei se encontram os pareceres de todas as Comissões pelas

quais ele tramitou, bem como os votos em separado, as notas taquigráficas das discussões em

Comissões ou em Plenária (quando houver), a mensagem de veto presidencial e quaisquer

outros documentos pertinentes.

Essas compilações de documentos são chamadas de dossiers, e, como mencionado

acima, estão organizadas em ordem cronológica segundo o número do PL ou da lei. A SAL já

deu início a um processo de digitalização desses arquivos, mas, devido a problemas técnicos

com o sistema de informação, eles hoje existem somente na forma de arquivos físicos. Assim,

os dossiers da SAL não existem em forma digital e não podem ser acessados por meio de um

sistema de busca. Além disso, eles não estão catalogados por classificação temática, o que

impossibilita a realização de uma consulta por meio de palavras-chave.

Se solicitados em pequena escala, os dossiers podem ser digitalizados pela equipe do

Setor de Arquivos da SAL, porém, eles não contam com recursos humanos para dar conta de

uma pesquisa muito abrangente. Portanto, decidiu-se realizar a busca somente nos bancos já

digitalizados, de acordo com o disposto adiante.

Senado Federal

A Secretaria de Arquivo do Senado Federal está trabalhando num processo de

digitalização das informações referentes à tramitação de normas pela Casa. O site do Senado

comporta dois sistemas de busca: o Sistema de Informação do Congresso Nacional (SICON) e

o portal denominado “Atividades Legislativas”. Por ora, cada um desses bancos tem um

enfoque distinto, mas o objetivo da Secretaria de Arquivo é integrá-los de modo a possibilitar

que se acesse os dados do Portal de Atividades Legislativas por meio de buscas no SICON.

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A seguir, serão descritos tanto os bancos de dados e sistemas de informação

disponíveis na internet quanto os arquivos físicos que podem ser consultados na sede do

Senado.

O Sistema de Informação do Congresso Nacional acessa o conjunto de bases de dados

produzidas no Senado Federal, permitindo a busca e consulta de documentos da Rede Virtual

de Bibliotecas (RVBI). Essa rede inclui livros, artigos de revistas, recortes de jornais,

multimídias, obras raras, discursos de senadores, legislação federal e matérias em tramitação

no Senado.5

Portanto, a base de dados acessada pelo SICON é bastante abrangente e contém

informações e documentos que vão muito além daqueles referentes à tramitação de projetos

de lei. Dentre as bases de dados acessadas pelo SICON, encontra-se o portal da “Atividade

Legislativa”, esse sim referente exclusivamente à tramitação de normas no Congresso

Nacional. Na realidade, inicialmente o SICON não foi pensado como um sistema de

acompanhamento da tramitação de projetos, e só recentemente ele está passando a ser

alimentado pelo do portal “Atividade Legislativa”.

Como nem todos os dados e informações sobre a tramitação de PLs constantes do

portal “Atividade Legislativa” foram passados para o SICON, a responsável pelo Setor de

Arquivos recomendou que a qualquer pesquisa nesse banco de dados fosse feita da seguinte

forma: Primeiramente, nós devemos buscar os PLs que nos interessam no SICON, visto a sua

base de dados é mais completa e organizada em relação à classificação dos PLs e das leis

aprovadas. No entanto, pode ser que as etapas da tramitação desses PLs não estejam ainda

disponíveis no SICON e, nesse caso, nós devemos consultar o processo de tramitação do

projeto no portal da “Atividade Legislativa”.

O SICON está sendo consolidado por meio da digitalização das informações referentes

à tramitação de projetos normativos que constavam da base de dados física e digital do

Senado. No entanto, até o presente momento, apenas as informações referentes ao ano de

1972 em diante estão completas, sendo os dados anteriores a esta data apenas parciais.

Os Projetos de Lei que por qualquer motivo não chegaram ao Senado não são

acessíveis por meio deste sistema de busca, visto que os bancos de dados do Senado e da

Câmara dos Deputados ainda não estão integrados.6 Portanto, no que tange aos PL’s, o

5 Site: http://www.senado.gov.br/sf/biblioteca/Pesquisa/sicon.asp ; último acesso em 10/12/09. 6 O Setor de Arquivos do Senado informou que o sistema de busca da Câmara dos Deputados é muito semelhante ao sistema do Senado no que tange à base de dados, aos instrumentos de busca, etc. Contudo, os dois

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SICON acessa apenas aqueles que foram propostos no âmbito do Senado ou que, após a

aprovação pela Câmara dos Deputados, foram encaminhados àquela Casa.

Embora a base de dados do SICON contenha informações completas sobre a

tramitação de PLs desde 1972 (incluindo data de propositora, dados sobre a tramitação em

Comissões, aprovação em Plenária, etc.), os documentos elaborados referentes aos projetos

apenas começaram a ser digitalizados a partir de 1998. Ou seja, embora seja possível obter

todas as informações sobre a tramitação de um PL, os documentos publicados no Diário do

Senado (pareceres da Mesa Diretora, pareceres das Comissões, etc.), só estarão disponíveis

em versão eletrônica no SICON se tiverem sido publicados de 1998 em diante. Para

documentos publicados em anos anteriores, é necessário buscar as referências da publicação

no Diário do Senado e solicitar ao Setor de Arquivos que faça uma cópia do documento.

O SICON tem um sistema de busca avançada que permite realizar a pesquisa por meio

de palavra-chave, podendo-se optar por procurar determinado termo tanto na íntegra dos

documentos quanto apenas nos ementários. Neste último caso, utiliza-se o sistema de

indexação elaborado pelo Senado Federal.

Já o banco de dados acessível pelo Portal de Atividades Legislativas contém

informações e documentos referentes às proposições legislativas que passaram pelo Senado

(sejam elas oriundas do Senado ou da Câmara dos Deputados), bem como à tramitação dessas

proposições.7 A base de dados está completa desde o ano de 1972, ou seja, todas as

informações publicadas a partir dessa data podem ser acessadas por meio do portal. Dados

referentes a períodos anteriores estão sendo progressivamente alimentados ao banco.

O portal permite que sejam feitas pesquisas a partir de três classificações: o tipo de

propositura, ano de proposição e número atribuído à proposta. No entanto, essa ferramenta

não permite a efetuação de buscas temáticas por meio de palavras-chave.

De acordo com a responsável pelo Setor de Arquivo do Senado, a base de dados mais

completa da atividade legislativa da instituição é encontrada no âmbito dos “processados”, ou

seja, no âmbito dos arquivos referentes aos projetos normativos, que são catalogados segundo

a espécie de projeto (lei ordinária, lei complementar, resolução, emenda constitucional, etc.) e

o ano de propositura.

sistemas não conversam e eles não acessam a base de dados um do outro. Portanto, pesquisar a partir dos sistemas online das Casas do Congresso Nacional implica uma busca duplicada. 7 Site: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/default.asp; último acesso em 11/12/09.

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Dentro dos “processados”, estão arquivados todos os documentos e informações

referentes à tramitação e aprovação dos projetos, incluindo pareceres, notas taquigráficas,

ofícios, avisos, registros de votações, dentre outros. No entanto, estes arquivos não estão

classificados por tema, e eles não estão, e nem serão, digitalizados. Portanto, a única maneira

de consultá-los é por meio de uma busca por número e espécie de proposta legislativa.

Os arquivos referentes aos “processados” datam desde a origem do Senado, em 1826,

mas não foi possível descobrir desde quando a documentação está completa, ou seja, desde

quando ela passou a ser sistematicamente alimentada com os documentos publicados no

Diário do Senado. No entanto, foi afirmado que a partir do ano de 1988 não há dúvidas sobre

a sua completude.

São chamados de “avulsos” os livretos impressos que contêm os pareceres elaborados

pelas diferentes Comissões do Senado. Os “avulsos” estão armazenados no Setor de Arquivos

em grandes caixas organizadas em ordem cronológica, que comportam, cada uma, dezenas

desses livretos. Um cálculo estimado nos mostrou que, de 1998 a 2008, havia

aproximadamente 480 caixas de pareceres “avulsos”, cada uma das quais contendo algumas

dezenas de documentos.

Os “avulsos” constituem um banco de dados interessante para a nossa pesquisa, visto

que contemplam todos os pareceres elaborados por todas as Comissões do Senado, incluindo

a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC). No entanto, existem duas grandes

dificuldades em se realizar pesquisas nesse banco: primeiramente, o seu conteúdo não é

indexado ou classificado, fato que impossibilita a realização de uma busca temática, e, em

segundo lugar, os pareceres das diferentes Comissões não estão separados, e logo seria

necessário realizar um filtro preliminar, selecionando apenas os documentos emitidos pela

CCJC.

As notas taquigráficas registram todos os debates que ocorrem dentro das Comissões

e, portanto, poderiam ser um objeto de pesquisa muito rico e útil para se entender as formas

de argumentação e os processos de decisão que ocorrem dentro da CCJC. No entanto, as notas

taquigráficas só começaram a ser registradas muito recentemente, e, além disso, só são

elaboradas a pedido de um Congressista. Ou seja, além de serem muito recentes, as notas

taquigráficas são registradas muito eventualmente, quando é feita uma solicitação expressa

por um interessado.

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O banco de dados da TV Senado contém a coleção das sessões plenárias ocorridas a

partir de agosto de 1998, bem como a coleção das reuniões das comissões permanentes e

temporárias, transmitidas pela TV Senado, a partir de agosto de 1998. Essas gravações estão

armazenadas em ordem numérica e podem ser acessadas a partir do site

http://www.senado.gov.br/tv/.

Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados oferece uma busca por informações e documentos relativos

a proposições legislativas que nela tramitaram, no portal Projetos de Lei e Outras Proposições,

e outras informações que podem ser solicitadas ao Serviço de Integração Tecnológica da

Câmara dos Deputados (SIT-Câmara), além de outros documentos constantes da Biblioteca e

Arquivo.

O banco de dados disponível no Portal Projetos de Lei e Outras Proposições permite a

busca de todas as proposições que passaram pela Câmara desde 1967, bem como sua

tramitação.8 No entanto, informações a respeito de proposições anteriores a 2001 podem estar

incompletas.

O portal permite que sejam feitas pesquisas a partir de diversas classificações: tipo de

propositura, número atribuído à proposta, ano de proposição, assunto (palavras-chave), autor,

órgão de origem, órgão em que se encontra a proposição presentemente, situação e recorte

temporal de data de apresentação. No campo tipo, é possível selecionar os votos em separado

proferidos por deputados desta Casa, cruzando-os inclusive com palavras-chave ou com o

número da proposição a que se referem. E, por fim, é possível selecionar somente as

proposições que tenham sido convertidas em norma jurídica.

O SIT-Câmara foi desenvolvido para oferecer a entidades informações legislativas

atualizadas e seguras por meio de webservices (acesso a rotinas específicas). Ele permite que

as instituições façam com que seus sistemas de acompanhamento de informações sejam

automaticamente atualizados a partir das bases de dados da Câmara dos Deputados, incluindo

tramitação de proposições, pauta de sessões do plenário, pauta de reuniões de comissões,

informações dos deputados e composição de comissões e lideranças. A utilização do SIT-

Câmara está condicionada à solicitação de acesso ao serviço mediante envio de um ofício à

8Site: http://www2.camara.gov.br/proposicoes; último acesso em 15/12/2009.

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Diretoria-Geral da Câmara dos Deputados, juntamente com "Solicitação de Acesso às

Informações Legislativas (webservices)”.9

Além da busca por proposições, o sítio da Câmara dos Deputados oferece em sua

Biblioteca a produção intelectual da Casa, relacionada à informação legislativa. O catálogo

pode ser acessado a partir da página http://www2.camara.gov.br/biblarq.10 Além de um

catálogo de obras raras, a Biblioteca disponibiliza, também, os chamados Estudos e Notas

Técnicas, elaborados pelos consultores das Consultorias Legislativa e de Orçamento e

Fiscalização Financeira e do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica.

O Arquivo da Câmara dos Deputados, por sua vez, é composto de documentos

relativos à atuação da Câmara dos Deputados no processo legislativo desde a Assembléia

Geral Constituinte e Legislativa do Império (1823) até atualmente, incluindo as ações

administrativas relativas ao funcionamento da Casa. O Arquivo oferece um serviço de

pesquisa abrangente sobre proposições legislativas originais, documentos de CPIs, de

Comissões Externas, correspondência oficial e todos os outros documentos que tenham

caráter legislativo e administrativo (documentos relacionados ao Processo Legislativo,

documentos administrativos e documentos especiais).

São documentos relacionados ao Processo Legislativo as proposições, relatórios finais

das Comissões Parlamentares de Inquérito, Notas Taquigráficas de Audiências Públicas,

documentação das Assembléias Constituintes, entre outros. A página relativa ao Arquivo11

informa que tais documentos não estão disponíveis para empréstimo. Os documentos

administrativos são de acesso exclusivo aos funcionários da câmara. São documentos

especiais os fotográficos (fotos de parlamentares, sessões plenárias, sedes da Câmara, etc.,

entre 1900 e 1996), disponibilizados ao público mediante solicitação formal, os fílmicos

(Assembléia Nacional Constituinte de 1987 a 1988 e programa "Diário da Constituinte"),

também disponíveis para consulta e cópia, e sonoros, até abril de 1997, a partir de quando o

material pode ser consultado em http://imagem.camara.gov.br/internet/audio/ (Arquivo

Sonoro). Nesse caso, pode-se pesquisar por data, evento, local, código oficial, número do CD-

ROM, operador, tipo (plenário, comissão ou outro), subtipo, categoria, status da gravação e

nome do orador.

9 Site: http://www2.camara.gov.br/sitcamara; último acesso em 15/12/2009. 10 Último acesso em 16/12/2009. 11 Site: http://www2.camara.gov.br/internet/biblarq/arquivo/index.html; último acesso em 13/12/2009.

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2. Construção de um novo banco de dados das CCJCs: proposições legislativas do banco SICON e da Câmara dos Deputados 12

Após o mapeamento dos bancos existentes de projetos de lei, concluiu-se que a

nenhum deles, isoladamente, viabilizaria uma pesquisa completa das propostas apresentadas

no Congresso Nacional entre 1995 e 2009. Ao se considerar a limitação temporal para

execução da pesquisa, optou-se pelo levantamento de material por meio dos bancos

eletrônicos e pela utilização de diversas palavras-chave de busca, de forma a abranger o maior

número de resultados possíveis. 13

Em virtude do grande número de resultados na pesquisa preliminar, optou-se por

limitar o estudo aos projetos de lei ordinária (PL), projetos de lei complementar (PLP) e

propostas de emenda à Constituição (PEC), entre 1995 e outubro de 2009, que versassem

sobre os seguintes temas: segurança pública, competição política e reforma do Judiciário e do

Processo. 14 A seleção das proposições relacionadas aos temas em enfoque atendeu critérios

determinados. Quanto à segurança pública, foram cadastradas todas as propostas que tivessem

relação com o artigo 144 da Constituição Federal e seu conteúdo (polícias e suas respectivas

organizações e exercícios, assim como funcionamento de órgãos de segurança pública.

Também foram incluídos projetos que criavam normas penais e processuais penais

relacionadas à atuação da polícia). Os projetos relacionados à competição política têm

relação, com o processo eleitoral, normas para eleições ou aos direitos garantidos nos artigos

14 a 17 da Constituição. Por fim, em relação à reforma do Judiciário e do processo, optou-se

por um cadastramento mais restrito, relacionado à produção da Comissão de Reforma do

Judiciário, em especial as propostas com objetivo de regulamentar a Emenda Constitucional

nº. 45/2004 e outras mobilizações do Congresso Nacional por reformas dos diplomas

processuais brasileiros, quais sejam, penal, civil, trabalhista e admnistrativo. 15

12 Nosso especial agradecimento à pronta ajuda em acessar os documentos legislativos da Coordenação de Relacionamento, Pesquisa e Informação (CORPI) do Centro de Documentação e Informação (CEDI) da Câmara dos Deputados, Sr. Humberto, da Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) e ao sr. Leonardo de Paula e Silva, da secretaria da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. 13 Muitos documentos não estão disponíveis na íntegra no banco SICON. Nestes casos fizemos uma solicitação ao Setor de Arquivo do Senado e à própria SAL. Apesar de termos recebido a maior parte das solicitações, 33 proposições legislativas oriundas do Senado foram excluídas da análise qualitativa, dada a ausência de documentação disponível. 14Estes temas foram sugeridos em reunião realizada dia 30.11.2009, com a presença do Secretário Pedro Abramovay, por serem considerados de maior relevância para as atividades desenvolvidas pela SAL. 15As palavras-chave selecionadas para pesquisa foram: “art. 144”, “polícia”, “segurança pública”, “eleitoral”, “eleição”, “mandato”, “voto”, “partido político”, “verticalização”, “cláusula e desempenho”, “fidelidade e

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16

A utilização de diversas palavras-chave gerou muitas proposições repetidas, ou mesmo

sem pertinência em relação aos temas em estudo. Por tal motivo, a partir dessa busca inicial,

passaram a ser cadastradas apenas proposições legislativas inéditas de cada tema, excluindo-

se assim as proposições repetidas e as proposições alheias ao recorte temático. Ao final, o

banco de proposições legislativas compõe-se da seguinte forma:

Tabela 1. Distribuição do número de proposições legislativas por tema

Tema Segurança

Pública

Reforma do Judiciário e do

Processo

Competição política

Total de Proposições legislativas cadastradas 818 40 1161

Proposições legislativas com pareceres das

CCJCs 186 24 336

Proposições legislativas

transformadas em normas jurídicas com veto do Presidente da

República

4 2 6

A sistematização no banco de dados teve por objetivo o cadastro das seguintes

informações sobre o projeto de lei: (i) Tipo da proposição; (ii) Data de apresentação; (iii) Casa

de origem; (iv) Número da proposição na casa de origem; (v) Casa onde está atualmente; (vi)

Número da proposição na casa onde está atualmente; (vii) Ementa; (viii) Autor; (ix) Partido

do autor; (x) data de recebimento da proposição pelas CCJCs; (xi) existência de parecer das

CCJCs quanto à constitucionalidade da proposição; (xii) votos em separados e (xiii) estágio

da tramitação no momento do cadastro. Estes últimos campos permitiram identificar com

facilidade as propostas objeto de análise qualitativa. Em síntese, a sistematização das

proposições legislativas gerou dois estudos sobre o banco, um deles com a extração de dados

quantitativos (Item III do Relatório), e outro qualitativo, com o exame dos pareceres e votos

em separado proferidos no âmbito das CCJCs (item IV do relatório).

partidária”, “inelegibilidade”, “reeleição”, “alistamento”, “candidatura”, “reforma e judiciário”, “reforma e processo”. As mesmas palavras-chave foram utilizadas no Banco da Câmara e no SICON.

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3. Construção do banco de vetos do Poder Executivo16

O banco de vetos do Poder Executivo parte de duas fontes. A primeira tem origem no

banco de proposições legislativas da Câmara e do Senado acima descrito. Aqui, selecionaram-

se apenas os projetos de lei que se tornaram normas jurídicas. A partir do número da lei

promulgada, realizou-se uma busca no banco legislativo do sítio eletrônico do Planalto

(www.presidencia.gov.br), em busca das leis promulgadas que tiveram algum veto.

A segunda fonte é o banco de acórdãos do STF, descrito a seguir. A partir da lei

impugnada na decisão, procedeu-se ao mesmo levantamento de vetos no sítio eletrônico do

Planalto. Posteriormente, foram excluídos os vetos repetidos destas duas fontes.

Este procedimento também permitiu identificar os casos nos quais existe controle de

constitucionalidade em mais de uma instância. Assim, encontraram-se algumas situações nas

quais havia um controle preventivo feito pela CCJC, o controle presidencial e, posteriormente,

a impugnação pelo controle repressivo do STF. Contudo, na maior parte dos casos

identificados houve controle apenas de duas instâncias (CCJC e STF). A análise

argumentativa das instâncias no controle de constitucionalidade é detalhada no item IV deste

relatório.

4. Banco de julgados do Supremo Tribunal Federal

As decisões proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade foram

levantadas no sitio eletrônico do Supremo Tribunal Federal (www. stf.jus.br), na seção

“processos” e respectiva subseção “ADI, ADC, ADPF e ADO”, durante os meses de setembro

16 Uma estratégia inicial desta pesquisa para obtenção dos vetos proferidos pelo Presidente da República era a utilização do banco de dados fornecido pelo Grupo de Estudos Legislativos do CEBRAP. Este banco contém todas as propostas legislativas dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário que se transformaram em normas jurídicas. Contudo, no decorrer da pesquisa, percebeu-se que, em relação aos vetos, o banco trazia resultados idênticos aos colhidos via banco da CCJ. Assim sendo, optou-se pela exclusão deste banco para fins deste estudo. O Grupo de Estudos Legislativos do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) realiza desde 2001 uma pesquisa intitulada “Instituições Políticas, Padrões de Interação Executivo-Legislativo e Capacidade Governativa” que tem como finalidade mostrar a relevância de duas variáveis institucionais na determinação do padrão de relações entre os Poderes Executivo e Legislativo e no desempenho governamental. Tais variáveis são: (i) a extensão dos poderes de legislar do Executivo e (ii) a forma de organização interna do Poder Legislativo. O objetivo metodológico deste estudo é o de testar, de forma sistemática e empiricamente fundamentada, os efeitos dos poderes institucionais de agenda no funcionamento dos sistemas democráticos. Tal projeto prevê três linhas de investigação: (i) o desempenho do presidencialismo multipartidário no Brasil; (ii) um estudo do processo orçamentário brasileiro; e (iii) uma comparação dos sistemas presidencialistas e parlamentaristas em 134 países, de 1960 a 2000. Mais informações em: http://www.cebrap.org.br/pesquisa/areas-de-pesquisa/show-pesquisa.php?pesquisa=48.

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de outubro de 2009, de todas as ações distribuídas e/ou julgadas ao longo dos períodos de

1995-2002 (governos FHC) e 2003-out/2009 (governos Lula). A escolha das ações

distribuídas e das ações julgadas tem por intento abarcar o maior número possível de decisões

que foram distribuídas entre 1988 e 1994 e que foram julgadas dentro do período adotado.

Além do recorte temporal, foram selecionadas somente as ações cuja norma

impugnada tivesse origem no Congresso Nacional (leis ordinárias federais, emendas

constitucionais, leis complementares e a própria Constituição Federal), descartando-se normas

originárias do Poder Executivo, do Poder Judiciário, das Assembléias Legislativas estaduais

ou das Câmaras Municipais.

A seguir, elaborou-se uma tabela de análise destas decisões, composta pelos seguintes

critérios: (i) número da ação; (ii) requerente; (iii) norma impugnada; (iv) data de entrada; (v)

data de distribuição; (vi) decisão cautelar (deferida, indeferida ou negado seguimento); (vii)

data da decisão cautelar; (viii) decisão terminativa; (ix) data da decisão terminativa; (x)

decisão de mérito (improcedente, procedente ou procedente em parte); (xi) data de julgamento

do mérito; (xii) ementa. Este banco de dados é composto por 692 ADI, 35 ADPF e 15 ADC.

A partir deste mapeamento das decisões, foi possível levantar diversos elementos

quantitativos sobre as ações distribuídas e julgadas pelo Supremo Tribunal Federal durante os

governos FHC e Lula, assim como extrair dados comparativos entre ambos e entre os próprios

governos17, de forma a obter um panorama geral da Corte, como a relação entre a data de

distribuição e as datas das decisões cautelares e/ou de mérito, número de decisões distribuídas

por governo, atores que chegam à Corte, entre outros.

Além da extração dos dados quantitativos, iniciamos o levantamento das decisões de

mérito, objeto de análise qualitativa deste estudo. Para tanto, foram selecionadas, dentro do

universo inicial, todas as decisões de mérito que versassem sobre o tema ou relacionado à

segurança pública, reforma do Judiciário e do processo e competição política, no total de 40

acórdãos.

A análise qualitativa destes acórdãos compete à identificação de elementos

argumentativos presentes neste processo de controle de constitucionalidade. Neste sentido, foi

elaborada nova tabela na qual foi possível sistematizar as características identificadas nos

julgados e nas semelhanças e diferenças em relação à argumentação presente nos pareceres da

17Ainda que o segundo governo Lula se encerre somente em 2010, apresentaremos alguns dados comparativos entre o primeiro governo (2003-2006) e a maior parte do segundo (2007-out/2009).

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CCJC e vetos do Poder Executivo. Os resultados desta análise estão no item IV deste

relatório.

A tabela apresenta, em suas colunas, as categorias de análise por meio das quais as

informações sobre cada modalidade de controle de constitucionalidade devem ser

objetivamente extraídas. No total, foram elaboradas 34 categorias para tabelamento, sendo

que estas categorias estavam divididas em três grandes grupos. No primeiro grupo, foram

inseridas categorias referentes aos dados sobre o parecer da CCJ, o veto do Poder Executivo

ou do julgamento de mérito no STF; no segundo estão as categorias sobre os diferentes temas

ou problemas abordados; finalmente, o último grupo contém categorias atinentes à

argumentação jurídica desenvolvida. Estes três grupos – processo, tematização e

argumentação – compõem os critérios básicos de sistematização, sendo compostos da

seguinte forma:

Elementos processuais – contém informações objetivas sobre o três momentos de

controle de constitucionalidade, a saber:

Dados sobre a lei ou projeto de Lei impugnado: (i) tipo de proposição; (ii) ano; (iii)

número da proposição; (iv) Casa; (v) proposições apensadas; (vi) origem; (vii) autor do

projeto; (viii) partido;

Dados sobre a ação impugnada no STF: (i) impetrante; (ii) tipo de recurso; (iii)

número; (iv) Relator; (v) votação unânime; (vi) data do julgamento de mérito;

Dados sobre o veto do Poder Executivo: (i) mandato; (ii) data do veto; (iii) artigos

vetados; (iv) justificativa.

Temas abordados - trata dos tópicos discutidos nos acórdãos, a saber, a categoria

dogmática em disputa;

Argumentação - contém critérios de investigação de argumentos presentes nos

pareceres, justificativas e decisões. As quinze colunas subseqüentes informam qual a principal

abordagem da decisão, dispositivos legais citados, citação de princípios, a seguir, elementos

exteriores ao direito, e citação de casos. Para estes critérios, há um item que visa explicitar se

a citação é ou não usada como argumento de autoridade. Ao final, os últimos dois critérios, se

existe referência a argumentos externos ao direito e quais seriam.

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III. ANÁLISE QUANTITATIVA

A análise quantitativa desta pesquisa tem como objetivo apresentar os principais dados

que foram sistematizados nos bancos construídos, sobre os temas segurança pública,

competição política e reforma do Judiciário e do Processo. 18 Os bancos incluem proposições

legislativas de lei ordinária, lei complementar e de emenda à Constituição, entre os anos de

1995 e outubro de 2009. No total, foram cadastradas 2019 proposições legislativas, sendo 818

sobre segurança pública, 1161 sobre competição política e 40 sobre reforma do Judiciário e do

Processo.

O levantamento quantitativo buscou retratar a produção legislativa em cada matéria a

partir das informações cadastradas sobre número de proposições distribuídas por governo e

período, partido autor da proposição, estágio de tramitação das proposições e quais delas

foram transformadas em normas jurídicas.

1. Banco de proposições legislativas

1.1 Segurança pública

As propostas legislativas relacionadas à segurança pública são apresentadas, em sua

maioria, na forma de projetos de lei ordinária (81% das proposições cadastradas), sobre uma

grande variedade de temas, com destaque para alterações nas leis sobre registro, posse e

comercialização de armas de fogo e munição (Lei nº. 9.437/1997 e na atual Lei nº.

10.826/2003), disposições acerca do procedimento processual penal (alterando o Decreto-Lei

nº. 3689/1941), a instituição do Fundo Nacional de Segurança Pública (FUNSEG) e sobre

direitos e obrigações dos policiais, como obrigatoriedade de realizar exames toxicológicos

periodicamente e concessão de bolsas de estudos a policiais.

Já as propostas de emenda à Constituição (17% das proposições cadastradas), têm por

objeto principal alterar ou acrescentar incisos ao artigo 144 da Constituição Federal. Dentre

as mudanças sugeridas, estão a ampliação de competência da polícia federal e das guardas

municipais, a aplicação de receita resultante de impostos, para a organização e manutenção

dos órgãos de segurança pública e autorização para as Forças Armadas exercerem atividades

de segurança pública na faixa de fronteira.

Os escassos projetos de lei complementar (1,34% das proposições cadastradas)

objetivam, em sua maioria, alterar a Lei Complementar nº. 97/1999, que dispõe sobre as 18 Sobre a construção dos bancos de dados, ver item II.

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normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas, para

estabelecer novas atribuições subsidiárias

A partir da Tabela 2 e do Gráfico 1 é possível notar que a produção legislativa em

matéria de segurança pública é crescente ao longo dos governos FHC e Lula, embora o maior

número de propostas apresentadas tenha sido no primeiro governo Lula (235 proposições),

com ápice no ano de 2007 (91 proposições).

Tabela 2. Número de proposições legislativas por governo Tipo de proposição legislativa

I Governo FHC II Governo FHC I Governo Lula

II Governo Lula

PEC 24 44 32 42 PL 91 191 235 146 PLP 2 5 2 2 Total 117 240 269 190

Gráfico 1. Distribuição do número de propostas legislativas por período (1995-out/2009)

Tabela 3. Número de propostas apresentadas por cada partido

I Governo FHC II Governo FHC I Governo Lula II Governo Lula

(até out/09) DEM 13

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PC do B 1 3 2 PDT 7 15 6 7 PFL 13 42 28 5 PHS 1 PL 2 3 49 1

PMDB 24 67 58 23 PMN 1 PNA PP 10 15 PR 18

PPB 16 10 2 PPR 1 PPS 1 6 8 7

PRONA PRB 3

PRTB PSB 3 11 5 19 PSC 4 2 PSD

PSDB 17 18 40 24 PSL 6

PSOL PST 9

PSTU PT 12 22 21 12

PTB 2 13 23 6 PTC 4 PTN 2 PTR PV 9

Poder Executivo 19 8 4 14 Comissões19 7 8 4

Outros20 1 Total 117 240 269 190

19 Em matéria de segurança pública, as seguintes Comissões do Congresso Nacional apresentaram propostas legislativas: CPI – Pedofilia; Comissão de Legislação Participativa; CCJC; CPI destinada a investigar as organizações criminosas do tráfico de armas; Comissão Mista Temporária destinada a, “no prazo de 60 dias, levantar e diagnosticar as causas e efeitos da violência que assola o País, ouvindo-se, para tanto, Governadores de Estados, Secretários de Segurança Pública, Comandantes das Polícias Civis e Militares, Diretores de Presídios e outros especialistas e autoridades ligados à área e requisitando-se cópia de todas as proposições em tramitação em ambas as Casas, para consolidá-las em uma única proposta de emenda à Constituição ou em um único projeto de lei, conforme o caso, com vista a uma tramitação em ritmo acelerado tanto na Câmara como no Senado”; CPI destinada a “investigar a realidade do Sistema Carcerário brasileiro, com destaque para a superlotação dos presídios, custos sociais e econômicos desses estabelecimentos, a permanência de encarcerados que já cumpriram pena, a violência dentro das instituições do sistema carcerário, a corrupção, o crime organizado e suas ramificações nos presídios e buscar soluções para o efetivo cumprimento da Lei de Execuções Penais”; CPI destinada a “investigar a ação criminosa das milícias privadas e dos grupos de extermínio em toda a Região Nordeste“; Comissão Mista de Segurança Pública e CPI Mista dos Correios. 20 Na categoria “outros” encontra-se somente a Proposta de Emenda à Constituição nº 376/2001, cujo autor e partido não foram identificados.

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Da Tabela 3 nota-se que o PMDB é o partido que mais apresentou propostas

legislativas sobre segurança pública, totalizando 172 propostas cadastradas em nosso banco

de dados. Em relação ao primeiro governo FHC, o parlamentar que mais apresentou projetos

de lei é Silas Brasileiro (PMDB/MG), com três propostas. Entre 1999 e 2002, segundo

mandato de FHC, é visível uma inflação na produção legislativa em matéria de segurança

pública, com 241 projetos de lei. Deste total, o PMDB apresentou 67 propostas, das quais

Alberto Fraga (PMDB/DF) é autor de 38 projetos. Em relação ao primeiro governo Lula,

destacam-se entre os parlamentares Cabo Júlio (PMDB/MG), com 14 proposições e Alberto

Fraga, com 8.

Ao longo do segundo governo Lula o PSDB apresentou o maior número de

proposições até outubro de 2009. Do total de 24 propostas, 8 delas são de autoria de William

Woo (PSDB/SP).

Gráfico 2. Situação das proposições legislativas apresentadas nos governos FHC em matéria de segurança pública (1995-2002)21

Gráfico 3. Situação das proposições legislativas apresentadas nos governos Lula em matéria de segurança

pública (2003-out/2009)

21 Na categoria “outros” constam uma proposição prejudicada e duas como a situação de “remetida à Câmara dos Deputados”, sem mais detalhes, contudo.

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Os Gráficos 2 e 3, como os demais gráficos sobre a situação das proposições

legislativas mostra baixo número de projetos transformados em lei, alto número de

arquivamentos e projetos devolvidos ao autor, o que parece evidenciar a dificuldade em se

aprovar um projeto no Parlamento brasileiro. As razões desta dificuldade não ficam claras por

esta análise, seria necessário, como dissemos acima em relação a outras questões, analisar de

fato o processo político ocorrido em função de cada proposição, questão que foge de nosso

objeto de pesquisa.

Neste mesmo sentido, é interessante notar que as poucas proposições transformadas

em normas jurídicas foram apresentadas pelo Poder Executivo, especialmente durante os

governos FHC, 13 do total de 16 proposições, como se pode observar no Gráfico 4.

Gráfico 4. Proposições legislativas em matéria de segurança pública transformadas em normas jurídicas, distribuídas por autor (1995-out/2009)

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Das 25 proposições transformadas em norma jurídica, 6 delas sofreram veto

pelo Poder Executivo. Destas, duas propostas eram originárias do próprio Poder Executivo (

PL 7015/2002 e PL 5030/2005), uma proposta da Comissão Mista de Segurança Pública (PL

7134/2002), duas propostas do PFL (PLP 188/2004 e PL 115/1996) e uma única proposta

pelo PSDB (PLP 187/1997).

É importante ressaltar que estes dados abrem espaço para novas pautas de pesquisa

relacionadas não apenas a este tema, mas a todos os demais. A partir da identificação do

partido e dos deputados mais atuantes em cada tema, é possível fazer uma análise substantiva

dos diversos projetos e traçar a política defendida por tais agremiações perante o Parlamento.

Também é possível pesquisar o processo de construção desses projetos em função do partido

e dos representantes individuais. Quais grupos sociais foram ouvidos ou têm algum

relacionamento com o parlamentar específico ou com o partido, ou seja, como as instâncias

formais se relacionam com a sociedade civil.

Todos estes objetivos fogem de nosso objeto, mas a pesquisa realizada permite

orientar pesquisa futuras que estejam interessadas em explorar tais problemas, especialmente

em relação aos temas estudados. Considerando-se que as instituições formais não são

mecanismos que funcionem independentemente das pessoas, o pesquisador futuro tem aqui

um mapa que pode orientá-no na compreensão do processo político que envolve a produção

desses diplomas legislativos.

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Da mesma forma, os dados apresentados permitem traçar um mapa da importância dos

temas em cada governo estudado. De novo, não é nosso objetivo estudar, no detalhe, as

circunstâncias políticas do país e, mais especificamente, do Congresso, que levaram à

concentração de propostas legislativos sobre este ou aquele tema, a serem propostas ou

rejeitadas em cada período. No entanto, um analista interessado neste tema pode, de posse

desse mapa, realizar tais análises guiado por dados que flagram tais momentos da atividade

parlamentar.

1.2 Competição política

As proposições legislativas relacionadas à competição são apresentadas, por sua vez,

na forma de propostas de emenda à Constituição (37% das proposições cadastradas) ou de

projetos de lei ordinária (54% das proposições cadastradas).

Grande parte das propostas e emenda à Constituição visa alterar os dispositivos

relativos aos direitos políticos (CF, arts. 14 a 16) e organização dos partidos políticos (CF, art.

17). Também merecem destaque as propostas que visam reformar os arts. 45 e seguintes da

Constituição, alterando o sistema eleitoral para eleição de parlamentares e para disciplinar as

hipóteses de vacância de deputados e senadores.

Os projetos de lei ordinária abordam maior variedade de assuntos, em geral

relacionados à alterações aos principais diplomas legais sobre direitos políticos e eleitorais,

quais sejam,o Código Eleitoral (Lei nº. 4.737/1965), a Lei nº. 9.096/1995, que dispõe sobre

partidos políticos e a Lei 9.504/1997, com normas para as eleições.

As propostas de lei complementar, por sua vez, têm por objetivo principal alterar a lei

Complementar nº. 64/1990, que dispõe sobre as hipóteses de inelegibilidade.

Tabela 4. Número de proposições legislativas por governo Tipo de proposição legislativa

I Governo FHC II Governo FHC I Governo Lula

II Governo Lula

PEC 128 101 126 81 PL 92 186 183 167 PLP 19 18 21 23 Total 239 305 330 271

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Gráfico 5. Distribuição do número de propostas legislativas por período (1995-out/2009)

Como se pode ver pelo Gráfico 5 e pela Tabela 5, a distribuição de projetos de lei

sobre competição política é mais uniforme entre os dois governos, variando um pouco para

menos no segundo governo FHC e Lula. Os partidos que mais apresentaram propostas, em

todos os períodos, foram, na ordem, PSDB, PMDB e PFL. Também chama a atenção a

redução do número de proposições em anos eleitorais (1998, 2002 e 2006). Este dado reforça

o grande número de proposições que visam alterar o procedimento eleitoral, uma vez que as

modificações devem ser feitas até um ano da data das eleições seguintes (CF, art. 16).

Tabela 5. Número de propostas apresentadas por cada partido

I Governo FHC II Governo

FHC I Governo Lula II Governo Lula (até

out/09) DEM 21

PC do B 2 8 8 14

PDT 13 30 22 8

PFL 49 52 33 5

PHS 1

PL 4 9 21

PMDB 39 57 52 52

PMN

PNA

PP 3 17 11

PPB 23 11 2

PPR 8

PPS 1 13 12 4

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PRONA 1

PR 2 20

PRB 1

PRN 1

PRP 1

PRTB

PSB 12 21 15 21

PSC 1 2 7

PSD 2

PSDB 35 56 56 47

PSL 3

PSOL 4 12

PST 3

PSTU

PT 22 31 52 29

PTB 10 7 20 12

PTC 1

PTN

PTR

PV 2 4 5

Poder Executivo 8

Comissões22 17 1 7

Outros23 1 1 1

Total 247 305 328 279

No que diz respeito à tramitação, é possível observar mais da metade das proposições

apresentadas nos governos FHC foi arquivada (68%). Do total, 15% tramitam em conjunto

com outra proposições e apenas 1% foi transformado em norma jurídica. Em comparação com

os governos Lula, nota-se um número menor de proposições arquivadas (23% do total),

prevalecendo as proposições que tramitam conjuntamente com outras (32%). Deve-se

ressaltar, contudo, que parte das proposições arquivadas refere-se à Legislatura de 2003-2007,

e que os dados relativos à Legislatura 2007-2011 ainda são parciais. De acordo com os

Regimentos Internos das duas casas do Congresso Nacional, ao final de cada Legislatura

serão arquivadas todas as proposições que se encontram em tramitação, salvo as ressalvas

previstas em lei. 24 Assim, não é possível comparar os dados relativos ao segundo governo

22Em matéria de reforma política, as seguintes comissões apresentaram proposições legislativas: Comissão Especial de Reforma Político-Partidária, Comissão Especial “destinada ao estudo das reformas políticas”; Comissão de Legislação Participativa e Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. 23O autor destes projetos foi o Tribunal Superior Eleitoral. 24 Art. 105 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados: “Finda a legislatura, arquivar-se-ão todas as proposições que no seu decurso tenham sido submetidas à deliberação da Câmara e ainda se encontrem em tramitação, bem como as que abram crédito suplementar, com pareceres ou sem eles, salvo as:

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29

Lula, uma vez que o número de proposições arquivadas pode aumentar consideravelmente

após o fim da Legislatura.

Em ambos os governos, contudo, é visível o reduzido número de proposições

transformadas em normas jurídicas, de 1% nos governos FHC e menos de 1% até o atual

momento dos governos Lula. Dentre estas proposições que se tornaram normas, grande parte

delas é de autoria do PMDB, em ambos os governos (Gráfico 8).

Gráfico 6. Situação das proposições legislativas apresentadas nos governos FHC em matéria de competição política (1995-2002)

I - com pareceres favoráveis de todas as Comissões; II - já aprovadas em turno único, em primeiro ou segundo turno; III - que tenham tramitado pelo Senado, ou dele originárias; IV - de iniciativa popular; V - de iniciativa de outro Poder ou do Procurador-Geral da República. Parágrafo único. A proposição poderá ser desarquivada mediante requerimento do Autor, ou Autores, dentro dos primeiros cento e oitenta dias da primeira sessão legislativa ordinária da legislatura subseqüente, retomando a tramitação desde o estágio em que se encontrava.” Art. 332 do Regimento Interno do Senado Federal: “Ao final da legislatura serão arquivadas todas as proposições em tramitação no Senado, exceto: I – as originárias da Câmara ou por ela revisadas; II – as de autoria de Senadores que permaneçam no exercício de mandato ou que tenham sido reeleitos; III – as apresentadas por Senadores no último ano de mandato; IV – as com parecer favorável das comissões; V – as que tratem de matéria de competência exclusiva do Congresso Nacional (Const., art. 49); VI – as que tratem de matéria de competência privativa do Senado Federal (Const., art. 52); VII – pedido de sustação de processo contra Senador em andamento no Supremo Tribunal Federal (Const., art. 53, §§ 3º e 4º, EC nº. 35/2001). § 1º Em qualquer das hipóteses dos incisos do caput, será automaticamente arquivada a proposição que se encontre em tramitação há duas legislaturas, salvo se requerida a continuidade de sua tramitação por 1/3 (um terço) dos Senadores, até 60 (sessenta) dias após o início da primeira sessão legislativa da legislatura seguinte ao arquivamento, e aprovado o seu desarquivamento pelo Plenário do Senado. § 2º Na hipótese do § 1º, se a proposição desarquivada não tiver a sua tramitação concluída, nessa legislatura, será, ao final dela, arquivada definitivamente.”

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Gráfico 7. Situação das proposições legislativas apresentadas nos governos Lula em matéria de

competição política (2003-out/2009)25

25 Nos Gráficos 6 e 7, constam na categoria “outros” as ações de saneamento das proposições e despachos.

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Gráfico 8. Proposições legislativas em matéria de competição política transformadas em normas jurídicas, distribuídas por autor (1995-out/2009)

1.3 Reforma do Judiciário e do processo

Para a construção do banco de proposições sobre Reforma do Judiciário e do processo,

selecionou-se todas as proposições que buscavam regulamentar a Emenda Constitucional nº.

45/2004 (Reforma do Judiciário), e outras grandes mobilizações do Congresso Nacional por

reformas dos diplomas processuais brasileiros, quais sejam, penal, civil, trabalhista e

admnistrativo. Esta escolha metodológica tem por objetivo enxergar de forma mais precisa

atuação do Congresso Nacional em grandes processos de reforma, e não apenas em alterações

pontuais às leis vigentes. Por tal razão que o número de proposições relativas ao tema é maior

no segundo governo FHC, período em que foram apresentadas mais propostas acerca da

Reforma do Código de Processo Civil e Código de Processo Penal e no primeiro governo

Lula, com a edição e regulamentação da EC nº. 45/2004 (Tabela 6 e Gráfico 9).

Pelo mesmo motivo que a maioria das proposições apresentadas são do Poder

Executivo e da Comissão Mista Especial de Reforma do Judiciário, especialmente ao longo

do primeiro governo Lula (Tabela 7).

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Tabela 6. Número de proposições legislativas por governo Tipo de proposição legislativa

I Governo FHC II Governo FHC I Governo Lula

II Governo Lula

PEC 1 3 PL 2 7 14 7 PLP 5 1 Total 7 9 17 7

Gráfico 9. Distribuição do número de propostas legislativas por período (1995-out/2009)

Tabela 7. Número de propostas apresentadas por cada partido

I Governo FHC II Governo

FHC I Governo Lula II Governo Lula (até

out/09) DEM

PC do B

PDT 1

PFL

PHS

PL

PMDB 2 1

PMN

PNA

PP

PPB

PPR

PPS

PRONA

PR

PRB

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PRN

PRP

PRTB

PSB 1 1

PSC

PSD

PSDB 2 2 1

PSL

PSOL

PST

PSTU

PT 2 1 2 1

PTB

PTC

PTN

PTR

PV

Poder Executivo 2 3 11 1

Comissões26 6

Outros

Total 7 9 20 4

Diferentemente dos outros temas analisados, um número expressivo de proposições

sobre reforma do Judiciário e do Processo foram transformadas em normas jurídicas (total de

30% entre 1995 e outubro de 2009), 23% estarem na CCJC e outros 10% das proposições

estarem prontas para a pauta em plenário. Observa-se também o reduzido número de

proposições arquivadas (22% do total). Estes dados permitem formular a hipótese de que as

ações do Poder Executivo, que apresenta um grande número de proposições sobre o mesmo

tema, tendem a gerar maior número de leis, em detrimento das proposições apresentadas

isoladamente por cada parlamentar ou partido. É o que se observa no Gráfico 11.

Gráfico 10. Situação das proposições legislativas apresentadas (1995-out/2009)27

26 Em relação à matéria de reforma do Judiciário e do processo, a Comissão Mista Especial – Reforma do Judiciário e a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados e do Senado Federal apresentaram proposições. 27 No Gráfico 10, foram incluídas na categoria “outros” as proposições legislativas cuja situação constava como “encaminhado ao plenário” e “remetida à Câmara dos Deputados”.

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Gráfico 11. Proposições legislativas em matéria de reforma do judiciário e processo transformadas em

normas jurídicas, distribuídas por autor (1995-out/2009)

2. Banco de acórdãos do STF

Os resultados abaixo indicam os dados iniciais obtidos após a finalização do banco de

dados com as ações distribuídas no Supremo Tribunal Federal.

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2.1 Ações declaratórias de constitucionalidade

A interposição de ações declaratórias de constitucionalidade questionando leis federais

são poucas, se comparadas às ADPF os às próprias ADI. No total foram encontrados somente

15 decisões, sendo que a grande maioria delas distribuída durante o segundo governo Lula

(Gráfico 12). Questiona-se, com mais freqüência, a constitucionalidade de leis ordinárias

federais em detrimento de leis complementares ou até mesmo de dispositivos constitucionais

(Gráfico 13).

Gráfico 12. Número de ADCs interpostas no STF distribuídas por data de entrada

Gráfico 13. Número de ADCs interpostas no STF distribuídas por norma impugnada

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Um dado interessante para este estudo é identificar quais dos legitimados ativos do art.

103 da Constituição Federal interpõem ações no Supremo Tribunal Federal, pois esta

informação pode trazer algum indício de uso pelo sistema político de meios jurídicos,

inclusive questionando a constitucionalidade de normas de iniciativa do Congresso Nacional

ou do próprio Presidente da República.

A despeito de o art. 13 da Lei nº 9.868/1999 prever um número mais restrito de

legitimados ativos que o próprio art. 103 da Constituição Federal para interposição de ADC,

governadores, confederações sindicais, entidades de classe e pessoas físicas tentam acessar o

Tribunal por este caminho28.

No que diz respeito às ADCs, nota-se no Gráfico 14 que os legitimados mais

freqüentes são o próprio Presidente da República e Governadores de Estados da Federação.

Das ações questionadas pelo Presidente, 2 delas já tiveram o mérito julgado, de modo que a

ADC 1 e a ADC 4 tiveram decisão parcialmente procedente e procedente, respectivamente.

Nenhuma ação cujo requerente fosse um governador teve julgamento de mérito até novembro

de 2009.

28 Art. 13. Podem propor a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal: I - o Presidente da República; II - a Mesa da Câmara dos Deputados; III - a Mesa do Senado Federal; IV - o Procurador-Geral da República.

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Gráfico 14. Número de ADCs interpostas no STF distribuídas por requerente

A disciplina relativamente recente da ADC (Lei nº 9.868/1999) pode ser um fator para

explicar as poucas ações com algum julgamento, seja ele cautelar ou de mérito. Na maior

parte das ADCs constava o status de “aguardando julgamento”, e nas decisões de mérito

proferidas nota-se que prevalecem as decisões pela procedência da demanda (Gráfico 15).

Vale ressaltar que a categoria “sem julgamento de mérito” no Gráfico 15 inclui tanto as ações

que aguardam julgamento tanto as ações que já tiveram julgamento cautelar (deferido,

indeferido ou não-conhecido), mas sem decisão de mérito.

Gráfico 15. Número de ADC interpostas no STF distribuídas por decisão de mérito proferida

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2.2. Argüições de descumprimento de preceito fundamental

A argüição de descumprimento de preceito fundamental é o instrumento utilizado para

evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público, inclusive

àqueles anteriores à promulgação da Constituição de 1988. Sua criação foi uma tentativa de

suprir a lacuna jurídica originada com o entendimento de que ADIs não podem ter por objeto

normas anteriores à Constituição. Como foi disciplinada somente em 1999 (Lei nº 9.882),

todas as ações distribuídas restringem-se ao período do final do segundo governo FHC até

2009, com aumento significativo no segundo governo Lula (Gráfico 16). Grande parte das leis

questionadas são leis ordinárias federais (85% do total de APDF), assim como se pôde

constatar no universo de ADCs, além de uma minoria de ações cujo objeto não corresponde à

disciplina das ADPFs, como propostas de emenda à Constituição (3% do total de APDFs)

(Gráfico 17).

Gráfico 16. Número de ADPFs interpostas no STF distribuídas por data de entrada

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Gráfico 17. Número de ADPFs interpostas no STF distribuídas por norma impugnada

Quanto aos requerentes em ADPFs de normas federais, prevalecem as ações

interpostas por partidos políticos, seguidas por confederações sindicais (Gráfico 18). Dentre

os partidos políticos, 5 ADPFs foram propostas pelo Partido da Social Democracia Brasileira

(PSDB), 2 pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Verde (PV), Partido

Socialista Brasileiro (PSB), Partido da República (PR), Partido Social Cristão (PSC) e Partido

Popular Social (PPS) propuseram cada apenas 1 ADPF. Destas ações apenas uma delas,

proposta pelo PDT, teve julgamento de mérito pela procedência da demanda.

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Gráfico 18. Número de ADPFs interpostas no STF distribuídas por requerente

2.3. Ações diretas de inconstitucionalidade

As ações diretas de inconstitucionalidade são o instrumento mais utilizado para

questionamento de leis e atos normativos, se comparadas às ADCs e ADPFs levantadas neste

banco de dados. A partir de uma análise mais aprofundada das ADIs será possível entender

de forma mais clara o controle de constitucionalidade feito pelo STF, dado que o banco

construído contém 692 ações.

Além disso, é o instrumento com maior número de decisões de mérito dentre as ações

sistematizadas. Em relação ao total de ADIs deste banco, 17,46% tiveram julgamento de

mérito. Deste percentual, em 48% dos casos a demanda foi julgada improcedente, enquanto

em 52% a decisão foi pela procedência ou procedência em parte da ação (Gráfico 19).

Gráfico 19. Número de ADI interpostas no STF distribuídas por decisão de mérito proferida

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No que tange aos requerentes, nota-se maior heterogeneidade na propositura de ADI,

especialmente pelo fato de que os dois maiores grupos representados são partidos políticos e

confederações sindicais (27% cada um), o que indica a diversidade de atores e demandas

(Gráfico 20). Em número menor, mas com expressiva representatividade estão as associações

de classe (19%) seguida pelo Procurador Geral da República (15%). Na categoria ‘outros’

(2% do total), estão incluídas pessoas físicas e advogados atuantes em causa própria.

Gráfico 20. Número de ADI interpostas no STF distribuídas por requerente

O Gráfico 21 e a Tabela 8 indicam o número de ADIs interpostas no STF por partido

político. Enquanto que no Gráfico 21 é possível ver os números totais de ações distribuídas

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por cada partido, na Tabela 8 estas ações estão indicadas de acordo com a data da distribuição

dentro de cada governo Fernando Henrique Cardoso e Lula. Nota-se, em números totais, que

o PT e o PDT são os partidos que mais demandaram o tribunal. Contudo, da leitura da Tabela

8, vê-se que a atuação do PT restringiu-se ao período entre 1989-2003, cessando a partir do

início do governo Lula, enquanto que a atuação do PDT segue o mesmo declínio, embora sua

atividade não tenha cessado após 2003. Em síntese, pode-se dizer que tais partidos, assim

como o Pc do B e PSB foram mais atuantes no controle de constitucionalidade ao longo dos

dois governos FHC, e tiveram suas atividades diminuídas ou cessadas após o início do

mandato de Lula.

Por outro lado, ao se verificar os partidos políticos que mais demandaram após o início

do governo Lula e menos durante os governos FHC, observa-se que o fenômeno não se

repete. Em números totais, o número de ações distribuídas entre 2003 e outubro de 2009 é

muito inferior ao período 1995 a 2002. Embora o segundo mandato de Lula não tenha se

encerrado, até o momento apenas 52 foram interpostas durante seus governos, enquanto que

156 ações foram levadas ao STF nos governos FHC. Assim, pode-se constatar que a atuação

dos partidos políticos em geral diminuiu nos últimos 6 anos, dado que pode ser relevante

durante a análise do banco de dados da CCJ, considerando a composição da Comissão, os

relatores das propostas legislativas e seu desfecho. Além disso, será possível constatar se

partidos menores cessaram suas demandas no STF em razão da perda de representatividade no

Congresso Nacional.

Gráfico 21. Número de ADIs interpostas no STF distribuídas por partido político requerente

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Tabela 8. Número de ADIs interpostas no STF distribuídas por partido político requerente em cada governo FHC e Lula

Entre 1989-1994 I Governo FHC II Governo FHC I Governo Lula II Governo Lula

(até out/09)

DEM 3 PC do B 1 11 16

PDT 8 19 12 5 2 PFL 1 1 5 PHS 1 PL 3 6 2 2 2

PMDB 2 2 1 PMN 1 2 PNA 1 PP 2 1

PPB 3 PPS 3 1

PRONA 1 1 PRTB 1 PSB 5 5 10 1 1 PSC 3 1 3 PSD 1 1

PSDsB 1 3 2 PSL 11 4

PSOL 1 1 PST 3 1

PSTU 1 PT 9 21 15

PTB 4 3 3 PTC 2 PTN 2 PTR 1 PV 4 1

Total 44 81 75 28 24

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IV. ANÁLISE QUALITATIVA

1. Introdução

A análise qualitativa dos pareceres das Comissões de Constituição e Justiça e das

decisões de mérito do Supremo Tribunal Federal foi realizada por meio de tabelas de Excel,

nas quais se procurou categorizar e padronizar diferentes aspectos do raciocínio jurídico e

não-jurídico presente nas duas instâncias de controle de constitucionalidade.

Para a análise das decisões do STF, a tabela foi formada pelos seguintes campos:

(i) número da ação;

(ii) nome do Ministro;

(iii) relator (sim ou não)29;

(iv) voto (procedente ou improcedente);

(v) dispositivos legais citados;

(vi) princípios (sim ou não, quais);

(vii) doutrina (sim ou não, identificação dos autores e obras citados, identificação do

uso da doutrina como argumento de autoridade) ;

(viii) jurisprudência (sim ou não, identificação dos casos citados, identificação do uso

da jurisprudência como argumento de autoridade);

(ix) argumentos externos ao direito (sim ou não, classificação: sociológico, religioso,

antropológico etc.).

Nessa tabela, um acórdão poderia significar mais de uma linha de análise, pois esta foi

feita voto a voto. Os campos (i) a (iv) identificam a ação, o autor do voto e a decisão a que ele

chegou; o campo (v) destina-se a toda a legislação referenciada no voto; os demais campos

tratam dos tipos de argumentos utilizados para justificar a decisão final. Foram analisadas

decisões proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade, no período

compreendido entre 1995 e outubro de 2009. Dentro do recorte temático adotado na pesquisa,

encontraram-se 38 decisões de mérito, sendo 37 em ADIs e uma em ADC.

A tabela usada na análise das manifestações das Comissões de Constituição e

Justiça foi composta, na medida do possível, pelas mesmas categorias usadas na tabela de

29 A relação de deputados que compuseram a CCJC da Câmara dos Deputados entre 1995 e outubro de 2009 pode ser encontrada no Anexo 1 deste relatório.

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análise das decisões do STF, para que assim fosse viável uma comparação entre as duas

instâncias.

Algumas peculiaridades do processo de controle de constitucionalidade nas CCJs

exigiram que fossem feitas adaptações na tabela de análise. Expomos a seguir as principais

diferenças desta em relação à tabela do STF.

Como se sabe, todos os projetos de lei, ordinária e complementar, assim como as

propostas de emenda à Constituição, são submetidos à avaliação das Comissões de

Constituição e Justiça. Essa avaliação é feita por meio de parecer emitido pelo relator

designado, parecer este que pode ser aprovado ou rejeitado pelos membros da Comissão (caso

em que novo relator é designado para emitir parecer).

Eventualmente, alguns parlamentares manifestam-se por meio de votos em separado,

os quais levantam pontos diversos ou mesmo discordantes daqueles presentes no parecer do

relator. São estas manifestações – pareceres e votos em separado – que compuseram o objeto

da presente pesquisa no âmbito do controle de constitucionalidade preventivo realizado pelo

Congresso Nacional. As atribuições das Comissões de Constituição e Justiça não se esgotam

apenas nesse tipo de manifestação, havendo outros campos temáticos, inclusive

constitucionais, sobre os quais tais Comissões podem ou devem se manifestar30. Considera-se,

30 Segue abaixo a transcrição dos artigos do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (art. 32) e do Senado Federal (art. 101), respectivamente, que tratam das atribuições das Comissões de Constituição e Justiça de cada Casa. Como é possível perceber, nesta pesquisa não foram analisados, por exemplo, resultados de consultas feitas à CCJ (art. 32, IV, a e art. 101, V). Art. 32. São as seguintes as Comissões Permanentes e respectivos campos temáticos ou áreas de atividade: IV - Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania: a) aspectos constitucional, legal, jurídico, regimental e de técnica legislativa de projetos, emendas ou substitutivos sujeitos à apreciação da Câmara ou de suas Comissões; b) admissibilidade de proposta de emenda à Constituição; c) assunto de natureza jurídica ou constitucional que lhe seja submetido, em consulta, pelo Presidente da Câmara, pelo Plenário ou por outra Comissão, ou em razão de recurso previsto neste Regimento; d) assuntos atinentes aos direitos e garantias fundamentais, à organização do Estado, à organização dos Poderes e às funções essenciais da Justiça; e) matérias relativas a direito constitucional, eleitoral, civil, penal, penitenciário, processual, notarial; f) Partidos Políticos, mandato e representação política, sistemas eleitorais e eleições; g) registros públicos; h) desapropriações; i) nacionalidade, cidadania, naturalização, regime jurídico dos estrangeiros; emigração e imigração; j) intervenção federal; l) uso dos símbolos nacionais; m) criação de novos Estados e Territórios; incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Estados ou de Territórios; n) transferência temporária da sede do Governo; o) anistia; p) direitos e deveres do mandato; perda de mandato de Deputado, nas hipóteses dos incisos I, II e VI do art. 55 da Constituição Federal; pedidos de licença para incorporação de Deputados às Forças Armadas; q) redação do vencido em Plenário e redação final das proposições em geral;

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no entanto, que o controle preventivo de constitucionalidade, um dos temas primordiais desta

pesquisa, manifesta-se de maneira mais notável na análise das propostas legislativas. O estudo

especificamente de pareceres e votos – a partir daqui denominados genericamente de

manifestações – no âmbito do processo legislativo permite, ademais, que se possa analisar

comparativamente o controle de constitucionalidade repressivo e preventivo (ver item V). 31

Art. 101. À Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania compete: I – opinar sobre a constitucionalidade, juridicidade e regimentalidade das matérias que lhe forem submetidas por deliberação do Plenário, por despacho da Presidência, por consulta de qualquer comissão, ou quando em virtude desses aspectos houver recurso de decisão terminativa de comissão para o Plenário; II – ressalvadas as atribuições das demais comissões, emitir parecer, quanto ao mérito, sobre as matérias de competência da União, especialmente as seguintes: a) criação de Estado e Territórios, incorporação ou desmembramento de áreas a eles pertencentes; b) estado de defesa, estado de sítio e intervenção federal (Const., art. 49, IV), requisições civis e anistia; c) segurança pública, corpos de bombeiros militares, polícia, inclusive marítima, aérea de fronteiras, rodoviária e ferroviária; d) direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, aeronáutico, espacial, marítimo e penitenciário; e) uso dos símbolos nacionais, nacionalidade, cidadania e naturalização, extradição e expulsão de estrangeiros, emigração e imigração; f) órgãos do serviço público civil da União e servidores da administração direta e indireta do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Territórios; g) normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, da Constituição, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III, também da Constituição (Const., art. 22, XXVII); h) perda de mandato de Senador (Const., art. 55), pedido de licença de incorporação de Senador às Forças Armadas (Const., art. 53, § 7º); i) escolha de Ministro do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e de Governador de Território, escolha e destituição do Procurador-Geral da República (Const., art. 52, III, a, c e e); j) transferência temporária da sede do Governo Federal; l) registros públicos, organização administrativa e judiciária do Ministério Público e Defensoria Pública da União e dos Territórios, organização judiciária do Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal; m) limites dos Estados e bens do domínio da União; n) desapropriação e inquilinato; o) criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas, assistência jurídica e defensoria pública, custas dos serviços forenses; p) matéria a que se refere o art. 96, II, da Constituição Federal; III – propor, por projeto de resolução, a suspensão, no todo ou em parte, de leis declaradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (Const., art. 52, X); IV – opinar, em cumprimento a despacho da Presidência, sobre as emendas apresentadas como de redação, nas condições previstas no parágrafo único do art. 234; V – opinar sobre assunto de natureza jurídica ou constitucional que lhe seja submetido, em consulta, pelo Presidente, de ofício, ou por deliberação do Plenário, ou por outra comissão; VI – opinar sobre recursos interpostos às decisões da Presidência; VII – opinar sobre os requerimentos de voto de censura, aplauso ou semelhante, salvo quando o assunto possa interessar às relações exteriores do País. § 1º Quando a Comissão emitir parecer pela inconstitucionalidade e injuridicidade de qualquer proposição, será esta considerada rejeitada e arquivada definitivamente, por despacho do Presidente do Senado, salvo, não sendo unânime o parecer, recurso interposto nos termos do art. 254. § 2º Tratando-se de inconstitucionalidade parcial, a Comissão poderá oferecer emenda corrigindo o vício. 31 Foram selecionados para a análise qualitativa apenas pareceres e votos em separado, ainda que haja outros tipos de manifestações possíveis no âmbito do processo de controle de constitucionalidade, tais como a complementação de voto (geralmente feita pelo relator depois que outros deputados se manifestam na comissão). Essas manifestações são, no entanto, meramente complementares e não desenvolvem argumentos completos, motivo pelo qual não se considerou pertinente sua análise.

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Quanto ao tipo de análise presente nessas manifestações, é necessário considerar, em

primeiro lugar, a existência de certa fragmentação: os projetos de lei, complementar e

ordinária, devem ser avaliados pelas Comissões de Constituição e Justiça não apenas quanto à

constitucionalidade, mas também em relação à legalidade, juridicidade, regimentalidade e

técnica legislativa32. Além disso, algumas matérias – basicamente aquelas de competência da

União Federal, como direito constitucional, eleitoral, penal, penitenciário e processual –

também devem ser avaliadas no mérito pela CCJ (v. art. 32, IV, e, RICD e art. 101, II, d do

RISF). Como se nota, essa seleção de temas inclui matérias diretamente relacionadas ao

campo temático adotado nesta pesquisa. Isso significa que poderíamos nos deparar com

projetos que, mesmo considerados constitucionais, poderiam sofrer rejeição em razão de seu

mérito, por exemplo.

Do outro lado, encontra-se a análise de propostas de emenda à Constituição, as quais

devem ser avaliadas, na Câmara dos Deputados, apenas quanto à “admissibilidade” (v. art. 32,

IV, b do RICD), já que deve ser constituída Comissão Especial para dar parecer sobre as

PECs e também para elaborar sua redação final (art. 34, I e art. 197 do RICD). A avaliação da

admissibilidade é basicamente a verificação do respeito aos requisitos do art. 60 da

Constituição Federal na propositura da emenda. No Senado Federal, no entanto, não há essa

peculiaridade. O art. 101, I, de seu Regimento Interno determina de maneira genérica que as

matérias devem ser avaliadas quanto a “constitucionalidade, juridicidade e regimentalidade” e

não se prevê Comissão Especial para dicussão de PECs (cuja tramitação vem prevista nos art.

356 e ss. do RISF). É curioso que seja assim, já que as Propostas de Emenda à Constituição

somente em sentido muito específico podem ser avaliadas quanto à sua constitucionalidade.

Parece ser esse o sentido da previsão do RICD ao determinar que seja feito apenas um juízo

de admissibilidade, que, no fundo, parece ser um juízo de constitucionalidade formal (sobre

cumprimento dos requisitos do art. 60). Ainda que a interpretação das cláusulas pétreas

presentes nesse dispositivo traga importantes juízos materiais, isso não muda o fato de que, no

juízo de admissibilidade, a constitucionalidade é analisada a partir de um único dispositivo

constitucional. Tratando-se de Emenda à Constituição, o controle de constitucionalidade de

maneira ampla é sempre controverso, pois poderia ser considerado antidemocrático. 33

32 A análise de “legalidade” (que pode se confundir com a “juridicidade”) é peculiaridade trazida pela redação do Regimento Interno da Câmara dos Deputados e não se repete no Regimento Interno do Senado Federal, que menciona apenas a análise de juridicidade (v. art. 32, IV, a do RICD e art. 101, I do RISF). 33 Sobre essa polêmica, v. MENDES, Conrado Hübner. Democracia e controle de constitucionalidade. 2005. Dissertação (mestrado em Ciência Política). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. O trabalho não é uma discussão sobre o controle de constitucionalidade de Emendas Constitucionais, mas sobre a legitimidade democrática do controle de constitucionalidade de maneira geral. De

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Não há espaço para desenvolver aqui essas questões. A opção que se adota neste

relatório é de, em relação às PECs, analisar somente os pareceres proferidos na Câmara dos

Deputados. A ideia é entender como se dá o juízo de inadmisibilidade e se este se diferencia

de algum modo do juízo de constitucionalidade, pois nos parece que é no juízo de

inadmissibilidade que se manifesta de maneira mais clara a peculiaridade do controle de

constitucionalidade de PECs. Os pareceres do Senado sobre PECs são iguais aos demais

pareceres, sobre PLs e PLPs e, por isso, não se prestam a esse propósito. Além disso, o estudo

desses pareceres do Senado não traria efetivos ganhos teóricos ao trabalho, pois o que esse

material tem de potencialmente interessante – a problematização, acima descrita, da

legitimidade do controle de constitucionalidade – não poderia ser alcançado por meio do tipo

de análise qualitativa proposta, que se foca na qualidade e colocação dos argumentos. Em

outras palavras: sabe-se que o Senado Federal realiza controle de constitucionalidade

preventivo de PECs e esse fato traz questões teóricas importantes. A análise empírica de como

esse controle ocorre, no entanto, não traz resposta a essas questões34.

Considerando-se o exposto acima, as tabelas de análise das manifestações das

Comissões de Constituição e Justiça trazem categorias cujo objetivo é abarcar as

peculiaridades descritas. Considerou-se mais adequado construir duas tabelas distintas, sendo

uma para a análise de PLs e PLPs e outra para para os pareceres da Câmara dos Deputados

sobre PECs. A circunstância de não ser apenas a constitucionalidade o foco de análise nas

qualquer forma, é impossível deixar de perceber que o tema se manifesta com mais ênfase na análise de constitucionalidade de Emendas, já que estas integram a própria Constituição. O autor observa que o STF seria a única corte constitucional do mundo a ter declarado a inconstitucionalidade de uma emenda constitucional (p. 143). É importante notar que, ainda que a tensão entre controle de constitucionalidade e democracia seja muito discutida com foco nos problemas da revisão judicial, ela também se manifesta no controle preventivo de constitucionalidade feito pelas CCJCs, já que se trata de Comissão com poucos membros selecionados, cujo funcionamento se asemelha a uma corte (com a apresentação do “voto do relator” e discussão sobre este) e que não necessariamente consegue abarcar a opinião de todo o Parlamento. 34 Neste ponto, a referência ao trabalho citado na nota anterior é esclarecedora. Segundo o autor, não há pesquisas empíricas feitas para se sustentar a compatibilidade entre democracia e revisão judicial; portanto, a defesa da legitimidade da revisão judicial apenas no plano teórico-abstrato seria potencialmente contestável. No entanto, “Qualquer pesquisa empírica desta natureza terá séria limitação. Saber se um tribunal protege direitos nãoé uma questão passível de um juízo incontroverso. O máximo que se poderá descobrir é como determinado tribunal tem entendido tais e quais direitos. Uma análise empírica qualitativa de interpretações jurídicas terá que fazer juízos valorativos. Num contexto de desacordo moral, seus resultados serão naturalmente contestáveis. Dessa maneira, dificilmente conseguiriam atender à prova empírica de legitimidade. Este o nó. Esta pesquisa hipotética, portanto, não poderia responder peremptoriamente se (1) tem havido respeito a direitos, mas apenas descreveria (2) como se tem entendido cada um destes direitos. Não há pesquisa empírica que alcance resposta conclusiva e inequívoca sobre a primeira pergunta. Nos casos constitucionais difíceis (os que realmente importam quando se discute revisão judicial), não será possível demonstrar empiricamente que uma instituição respeita direitos ou não. Para responder à segunda pergunta, a pesquisa será apenas informativa, e não atenderá a demanda teórica que apontei. (MENDES, op. cit,, p. 125). Novamente, ainda que o autor centre sua análise na revisão judicial, é possível enxergar os mesmo problemas apontados também no controle de constitucionalidade realizado por CCJCs.

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Comissões de Constituição e Justiça levou à elaboração de categorias que abarcassem e

problematizassem essa peculiaridade, as quais serão expostas abaixo.

As tabelas para análise de PLs e PLPs e para a análise de PECs possuem exatamente

as mesmas categorias de identificação da manifestação analisada, quais sejam:

(i) tipo da proposição;

(ii) número da proposição;

(iii) tipo de documento: parecer ou voto em separado;

(iv) relator;

(v) partido do relator.

Elas se diferenciam, no entanto, nas categorias de análise de argumentação. A tabela

de PECs traz as seguintes categorias, muito semelhantes àquelas usadas para as decisões do

STF:

(vi) tema;

(vii) admissibilidade ou inadmissibilidade;

(viii) dispositivos legais citados;

(ix) princípios (sim ou não, quais);

(x) doutrina (sim ou não, identificação dos autores e obras citados, identificação do

uso da doutrina como argumento de autoridade);

(xi) jurisprudência (sim ou não, identificação dos casos citados, identificação do uso

da jurisprudência como argumento de autoridade);

(xii) argumentos externos ao direito (sim ou não, identificação e classificação:

sociológico, religioso, antropológico etc.).

Notem-se os itens comuns à tabela do STF, citados acima. Já a tabela de análise de

PLs e PLPs traz categorias um pouco diversas, que buscam problematizar o fato de os

projetos não serem analisados apenas em relação à constitucionalidade:

(vi) tema;

(vii) principal abordagem (frase-síntese da argumentação usada);

(viii) a principal abordagem refere-se à constitucionalidade (sim ou não);

(ix) projeto considerado constitucional ou inconstitucional;

(x) projeto rejeitado (sim ou não);

(xi) dispositivos legais citados;

(xii) princípios (sim ou não, quais);

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(xiii) doutrina (sim ou não, identificação dos autores e obras citados, identificação do

uso da doutrina como argumento de autoridade) ;

(xiv) jurisprudência (sim ou não, identificação dos casos citados, identificação do uso

da jurisprudência como argumento de autoridade);

(xv) argumentos externos ao direito (sim ou não, argumento é usado na análise de

constitucionalidade?, e classificação: sociológico, religioso, antropológico etc.).

Para se chegar às manifestações das Comissões de Constituição e Justiça da Câmara

dos Deputados e do Senado Federal que seriam qualitativamente analisadas, foram buscados

todos os pareceres e demais manifestações relativos às propostas legislativas cujo tabelamento

qualitativo mostrou a existência de algum tipo de atividade nas CCJs. Sempre que a

proposição havia passado pelas duas casas legislativas, procurou-se buscar o parecer proferido

na CCJ da casa de origem. Nos casos em que este não estava disponível para consulta no sítio

eletrônico da casa legislativa, foi usado o parecer proferido na casa revisora.

Para encerrar esta introdução à análise qualitativa, é importante um esclarecimento

final sobre as categorias usadas na análise dos argumentos, ou seja, aquelas que são comuns a

ambas as tabelas. O tema do julgado ou da apreciação do projeto de lei são itens auto-

explicativos. A idéia foi identificar quais destes objetos de análise podem ser classificados a

partir dos temas expostos acima. Além disso, buscamos identificar os tipos de argumento

utilizados pelas instâncias. Como nosso objetivo era descobrir, em primeiro lugar, o que cada

uma dessas instâncias compreende como controle de constitucionalidade e, em segundo lugar,

qual a relação entre sociedade civil e instituições formais do ponto de vista da argumentação,

optamos por adotar as seguintes categorias, já mencionadas acima, comuns a todas as tabelas:

(i) dispositivos legais citados;

(ii) princípios (sim ou não, quais);

(iii) doutrina (sim ou não, identificação dos autores e obras citados, identificação do

uso da doutrina como argumento de autoridade) ;

(iv) jurisprudência (sim ou não, identificação dos casos citados, identificação do uso

da jurisprudência como argumento de autoridade);

(v) argumentos externos ao direito (sim ou não, argumento é usado na análise de

constitucionalidade?, e classificação: sociológico, religioso, antropológico etc.).

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A organização das categorias, pode-se dizer, segue duas grandes dicotomias: o

argumento é interno ou externo ao direito? O argumento é de autoridade ou não? Esta escolha

se deu em função dos dois objetivos citamos acima. Consideramos argumentos internos ao

direito todos aqueles que se preocupam com a constitucionalidade, compreendida como tema

técnico jurídico, ou seja, aqueles que argumentam explicitamente com o direito posto para

identificar inconstitucionalidades formais ou materiais. Os argumentos externos ao direito são

aqueles que fazem menção à opinião de grupos sociais, movimentos, sociais, experts em

ciências exatas ou humanas, ou seja, que trazem, explicitamente, questões externas ao direito

para discutir a constitucionalidade.

Fica claro que analisar o perfil da argumentação em cada instância permite identificar

com clareza a maneira pela qual ela concebe o controle de constitucionalidade. Antecipando a

análise, ficará claro como a CCJ é caracterizada pela incidência de todo o tipo de argumento,

inclusive técnicos jurídicos, o que permite dizer que ela pode funcionar como um foro aberto

a diversos tipos de argumentos. Apesar desta atividade ter sido detectada em apenas alguns

casos, certamente aqueles mais polêmicos em que o debate político anterior à discussão na

comissão não resultou em acordo, percebe-se o potencial deste espaço para este tipo de

atuação. O mesmo tipo de análise será feita quanto ao STF e os vetos do executivo.

Mas há mais. A análise dos argumentos externos ao direito, de sua parte, permite-nos

identificar que tipo de agente, grupo, autoridade, enfim, que espécie de representante da

sociedade civil (ou de outras instâncias) aparecem na argumentação. Como mencionamos na

introdução, uma de nossas preocupações é verificar a permeabilidade das instituições formas à

sociedade civil, ou seja, sua capacidade de captar as vozes que vêm “de baixo”.

A análise destes argumentos permite uma visão deste fenômeno, a despeito de não

podermos saber, por esta pesquisa, se tais entidades participaram diretamente do processo ou

estão sendo apenas citadas pelos parlamentares, ministros do STF e Executivo. No caso do

STF, um reparo: a existência de uma audiência pública ou de um amicus curiae nos autos

seria uma evidência clara do que estamos dizendo (não encontramos nenhum dos dois nos

casos estudados). Mas, no que diz respeito aos demais documentos, verificamos apenas se

argumentos desse tipo foram citados. Seria preciso analisar o processo político real para obter

uma resposta sobre a real participação destes entes.

Algumas palavras sobre a citação de dispositivos legais, doutrina e jurisprudência. A

análise destes argumentos também está ligada ao objetivo mais geral de identificar o perfil

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argumentativo de cada instância. A utilização de legislação, doutrina e jurisprudência na

argumentação de votos e pareceres permite identificar qual é a fonte de direito que os

documentos privilegiam. Por exemplo, um voto (do STF ou da CCJ) pode citar muitas leis,

inclusive antigas, para fundar-se na história legislativa do país. De outra parte, a citação de

jurisprudência e doutrina também revela que espécie de material serve de fundamento para a

decisão dos representantes do povo e dos juízes. Uma observação aqui é importante: é

interessante observar como o STF, ao contrário de outras cortes supremas do mundo, cita

copiosamente variados doutrinadores. Nos Estados Unidos e na Alemanha, por exemplo, isto

nunca ocorre. Não há espaço aqui para analisar esta característica nacional, mas é importante

ao menos mencioná-la.

A outra dicotomia que orientou a construção de nossas categorias está relacionada ao

uso de todos os argumentos citados acima como argumentos de autoridade ou não. Como já

dissemos acima, este aspecto do padrão argumentativo dos órgãos de poder é central para

nossos objetivos. Trata-se de descobrir como as organismos de poder se colocam diante de

seus interlocutores, seja visando a convencê-los racionalmente do que dizem, seja confiando

em seu poder de legitimação carismática ou simbólica.

Esta análise considera argumento de autoridade aquele que "procura provar uma tese

qualquer, utilizando-se dos atos ou das opiniões de uma pessoa ou de um grupo que a apoiam.

O argumento de autoridade funda-se, sobretudo, no prestígio da pessoa ou do grupo

invocado" (FERRAZ Jr., 2003, p. 336-337). Sua estrutura lógica tem a seguinte forma: se Y

disse X; logo, X. Isso significa que, nesse argumento, não se discute a validade de X. Em

razão do prestígio de Y, ela será presumida. O argumento de autoridade não é, portanto,

válido ou inválido, e sim aceito ou recusado. Esta é a posição em que o emissor coloca o

receptor.

Nas manifestações de que tratamos, os argumentos de autoridade mais comuns são:

a) argumentos de autoridade fundados na doutrina: citações doutrinárias podem estar a

serviço da compreensão do problema jurídico em questão ou se configurar como a

citação de um autor famoso para fundar uma determinada decisão. Não é a citação

feita para analisar ou contestar uma idéia, dialogando, dessa forma, com o autor

citado. Trata-se, em vez disso, da citação que se faz para estabelecer pelo menos uma

das premissas da asserção que se fará ao final da argumentação.

b) argumentos de autoridade fundados na jurisprudência: O que dissemos acima aplica-se

aqui. Citações jurisprudenciais podem ser usadas não para reconstituir a jurisprudência

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de uma corte e evidenciar sua ligação com o problema examinado. Numa

argumentação de autoridade, não se lhes discutem os fundamentos ou a validade e não

se demonstra a ligação com o caso concreto.

c) argumentos de autoridade externos ao direito: Argumentos externos ao direito podem

também ser usados como argumentos de autoridade. Normalmente, eles são utilizados

para tentar por um fim num debate jurídico, apelando-se para asserções de

antropólogos, sociólogos, filósofos ou médicos. O emissor argumenta de forma a

colocar o interlocutor na posição de ou confiar nestes especialistas e aceitar o que

dizem ou recusar-lhes credibilidade.

2. Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania

2.1. CCJ – Competição Política

Neste campo temático, foram analisadas, no total, 301 manifestações. Destas, 193

manifestações são relativas a 165 Projetos de Lei e Projetos de Lei Complementar, e 108

manifestações, relativas a 89 Propostas de Emenda à Constituição. Foram excluídos 13

pareceres que repetiam quase na íntegra pareceres anteriormente proferidos na tramitação da

proposta legislativa. Isso geralmente ocorre quando o relator desliga-se da Comissão de

Constituição e Justiça depois que o processo é arquivado ou mesmo durante a tramitação, e,

no momento em que esta é retomada ou quando há desarquivamento, o novo relator opta por

manter o parecer anteriormente proferido. 35 Além disso, foram também excluídas da análise

aquelas propostas cuja manifestação na CCJ não pôde ser acessada por meio do site. 36

A seguinte classificação temática foi usada para PLs e PLPs:

• Sistemas Eleitorais: sobretudo proposições que se referem à instituição do

sistema majoritário ou proporcional nos diferentes níveis de eleições, mas

também foi usado para classificar disposições sobre lista fechada e voto em

legenda.

35 Quando a reprodução não era integral, isso se dava por haver referência a alguma proposta posteriormente apensada à proposta principal, por exemplo. Os pareceres excluídos são referentes às seguintes propostas legislativas: PL 675/2007, PL 7537/2006, PL 5410/2005, PL 4375/2004, PL 2314/2003, PL 299/2003, PL 5141/2001 (nesse caso, foram excluídos dois pareceres, ambos reprodução do primeiro parecer proferido), PL 3428/2000, PL 3307/2000, PL 3563/2008, PL 3798/2004, PL 358/2003. 36 Essas manifestações são relativas às seguintes proposições: PEC 6/2007, PEC 105/1999, PEC 3/1999, PEC 492/1997, PLP 35/2007, PEC 106/1999 e PEC 38/1999. Em relação a essas três últimas proposições, havia pareceres disponíveis, mas não o parecer do relator da matéria na CCJC. Nos quatro primeiros casos, o parecer constava como estando disponível para dowload, mas não foi possível fazê-lo.

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• Partidos Políticos: proposições referentes aos direitos e obrigações dos partidos

políticos (obrigatoriedade de realização de prévias, disposições sobre

distribuição do fundo partidário, sobre tempo no horário eleitoral etc.),

inclusive disposições sobre cláusula de barreira, quociente partidário e

verticalização; modificações em relação à organização do sist. partidário:

possibilidade de estabelecimento de sublegendas e federações partidárias.

• Participação da mulher: proposições que visam incentivar participação

feminina na política.

• Processo eleitoral: proposições que se referem às eleições em si (data das

eleições, da tomada de posse, procedimentos no dia das eleições etc.) e

também aqueles que regulamentam as campanhas eleitorais (pesquisas

eleitorais, prestação de contas, limite de gastos, condutas ilícitas etc).

• Processo eleitoral em sentido estrito: sobre procedimentos nos tribunais

eleitorais

• Filiação partidária: disposições sobre fidelidade e sobre outros direitos e

obrigações de filiados a partidos.

• Direitos políticos: restrições ao direito de votar e de ser votado; direito de

tomar posse. A categoria inclui disposições sobre inelegibilidade e sobre

suplentes, como aquelas que impedem o suplente de tomar posse se ele não

tiver tido nenhum voto.

• Propaganda eleitoral: regulamentações diversas (inclui disposições sobre

debates e comícios).

• Obrigações de candidatos e detentores de mandato: proposições que

regulamentam conduta de candidatos e eleitos. Alguns exemplos são: condutas

vedadas a candidatos à reeleição (inclusive propaganda institucional,

disposição de recursos etc.); vedação de transferência de domicílio de detentor

de mandato em curso; obrigatoriedade do registro do programa de governo em

cartório; normas sobre transição governamental etc.

• Reforma política: proposições que propõem amplas alterações na legislação

eleitoral, abarcando diversas duas ou mais categorias acima.

Gráfico 22. Competição política: temas

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0

5

10

15

20

25

30

35

40

Processoeleitoral

Propagandaeleitoral

Obrigações decandidatos e

detentores de

mandato

Direitospolíticos

Partidospolíticos

Reformapolítica

Processoeleitoral em

sentido estrito

Filiaçãopartidária

Sistemaspolíticos

Participaçãoda mulher

N�

mer

o de

man

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ta¨›

es

Da amostra analisada, 109 manifestações relativas a PLs e PLPs foram pela aprovação

e 77 pela rejeição. Quantos às PECs, 91 manifestações foram pela admissibilidade, 16 pela

inadmissibilidade e 1 pela prejudicialidade. 37

Tabela 9. Competição política: qualificação das manifestações

Manifestações 193 relativas a PLs e PLPs

108 relativas a PECs 100 %

Aprovação ou admissão 111 relativas PLs e PLPs

91 relativas a PECs

57,5%

84, 3%

Rejeição ou inadmissão 82 relativas a PLs e PLPs

16 relativas PECs

42,5%

14,8%

Prejudicialidade 1 relativa a PEC 0,9%

É interessante notar que algumas manifestações (24 em relação a PLs e PLPs e 2 em

relação a PECs, o que significa 8,6% do total de 301 manifestações) não citam nenhum

dispositivo legal. Dessas, uma é o parecer pela prejudicialidade acima mencionado, o que

justifica a ausência de citação de dispositivos legais. Nas demais manifestações, entretanto,

esse tipo de ausência merece uma análise mais detida. Em relação às PECs, a outra

manifestação que não traz nenhum dispositivo legal é um voto em separado do deputado

Roberto Magalhães que, votando pela inadmissibilidade da PEC 106/1999 (“Suprime o

37 As hipóteses de prejudicialidade estão nos artigos 163 e 164 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. No caso, foi considerado que a proposta havia perdido a oportunidade, conforme art. 164, I.

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dispositivo que torna inelegível, no território de jurisdição do titular, cônjuge e os parentes

consanguíneos ou afins, do Presidente da República, de Governador e de Prefeito”), invoca

princípios – mas nenhum dispositivo constitucional – para justificar sua posição. O deputado

invoca o “princípio republicano”, que “repugna a hereditariedade como fator de sucessão do

poder” e o “Princípio da Razoabilidade”, “que a cada dia ganha maior prestigio na

jurisprudência dos Tribunais Superiores” e seria comprometido pela aprovação da PEC em

questão. Nota-se que o voto carece de um bom desenvolvimento argumentativo, o que pode

ser explicado pela recorrência à argumentação principiológica em detrimento de uma

interpretação mais detida dos dispositivos constitucionais.

Já nas manifestações relativas a PLs e PLPs, a ausência de citação de dispositivos

legais está associada a um tipo de parecer ou voto em separado no qual não está claro o

assunto que o deputado analisa: se a constitucionalidade, o mérito, a técnica legislativa etc.

Essa falta de clareza ocorre em 9 casos38, sendo que, em 8, não há citação de dispositivos

legais39. Em 4 dessas manifestações40, é impossível até mesmo saber se o projeto foi

considerado constitucional ou inconstitucional, inexistindo qualquer manifestação em um

sentido ou outro. Isso é particularmente curioso em um dos votos em separado41, no qual,

mesmo inexistindo essa clareza sobre o aspecto da proposta que foi analisado, o deputado se

manifesta pela rejeição da mesma, baseando-se em argumentos sociológicos e históricos. Nos

outros 9 casos, por outro lado, a manifestação final é pela aprovação do projeto em exame.

38 PL 84/2007, Parecer de José Carlos Aleluia; PL 38/2007, Voto em separado de FLÁVIO DINO; PLS 60/2003, Parecer de Marcelo Crivella; PLS 249/2000, Parecer de Pedro Simon; PLS 544/1999, Parecer de José Fogaça; PL 5268/2001, Voto em separado de PAES LANDIM; PL 4983/2001, Parecer de MENDES RIBEIRO FILHO; PL743/1999, Parecer de CORIOLANO SALES; PL 4313/2001, Parecer de SIGMARINGA SEIXAS. 39 Exceto PLS 60/2003. 40 PL 38/2007, Voto em separado de FLÁVIO DINO; PLS 60/2003, Parecer de Marcelo Crivella; PLS 249/2000, Parecer de Pedro Simon; PL 5268/2001, Voto em separado de PAES LANDIM. 41 PL 5268/2001, Voto em separado de PAES LANDIM. Seguem alguns trechos exemplificativos do tipo de argumentação adotado pelo deputado (o projeto em questão propunha medidas de reforma política): “Têm sido historicamente frustrantes, em grande parte inócuas e quase sempre ineficientes, as tentativas de se promover reformas profundas de caráter institucional em nosso país. No que respeita às de natureza política, o problema se agrava pelo vezo histórico de serem o resultado de insatisfações que dificilmente transcendem o âmbito restrito do Congresso Nacional. (...) O que pretendemos com os projetos ora em exame nesta douta Comissão? A nada mais, Sr. Presidente, que alterar dispositivos dessas mesmas leis. Quem examinar no futuro esse passo que se pretende dar, modificando a redação de 8 artigos do Código Eleitoral, 13 da Lei dos Partidos e 31 da Lei de Eleições, muito provavelmente não deixará de registrar que, na verdade, nos cingimos a mais uma das muitas reforminhas de conveniência a que, com tanta ironia, se referiu esse grande brasileiro que foi o historiador José Honório Rodrigues. E o que é pior, de nossa própria e exclusiva conveniência, como se lê no art. 5o do substitutivo: ‘Aos detentores de mandato de deputado federal, estadual e distrital que, até a véspera da convenção para escolha de candidatos às eleições de 2006, fizerem comunicação por escrito, ao órgão de direção regional, de sua intenção de concorrer ao mesmo cargo, é assegurada a ocupação dos primeiros lugares da lista dos respectivos partidos ou federações, na ordem decrescente dos votos obtidos nas eleições de 2002, salvo deliberação em contrário do órgão competente do partido ou federação’”.

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Esse grupo de manifestações nas quais não é possível identificar o aspecto –

constitucionalidade, mérito ou outro – tratado pelo deputado caracteriza-se, portanto, por

apresentar opiniões simples em favor da aprovação do projeto, sem que haja qualquer tipo de

consideração sobre a constitucionalidade42. A análise indica que a ausência a dispositivos

legais está associada a um importante tipo de déficit argumentativo: a falta de clareza do

parecer ou voto. A possibilidade de se proferir manifestações sem referência à legislação

parece levar, portanto, à existência de manifestações por demais simplificadas, que parecem

exprimir tão-somente um acordo político prévio em favor da aprovação do projeto.

2.1.1. Fundamentos da argumentação: doutrina, jurisprudência, princípios e argumentos externos ao direito

Tabela 10. Competição política: citação de doutrina

Manifestações 193 relativas a PLs e PLPs

108 relativas a PECs 100 %

Com citação de doutrina 24 relativas PLs e PLPs

11 relativas a PECs

12,4%

10,2%

Sem citação de doutrina 169 relativas a PLs e PLPs

97 relativas PECs

87,6%

89,8%

Tabela 11. Competição política: citação de jurisprudência

Manifestações 193 relativas a PLs e PLPs

108 relativas a PECs 100 %

Com citação de

jurisprudência

29 relativas PLs e PLPs

9 relativas a PECs

15%

8,3%

Sem citação de

jurisprudência

164 relativas a PLs e PLPs

99 relativas PECs

85%

91,7%

Tabela 12. Competição política: citação de princípios

Manifestações 193relativas a PLs e PLPs

108 relativas a PECs 100 %

42 O esforço de identificação da principal abordagem tratada nesses pareceres ou votos resultou em frases-sínteses pouco elaboradas ou vagas. A frase-síntese não necessariamente é uma citação literal da manifestação em análise; trata-se, antes, do esforço de condensar em uma frase a principal ideia levantada pelo parlamentar. Exemplos paradigmáticos são “Proposição aperfeiçoa sistema eleitoral, pois tem mérito indiscutível e elevada significação ética e democrática” (PL 4313/2001, parecer do deputado Sigmaringa Seixas); “Projeto permite aos funcionários da Justiça Eleitoral a cidadania plena” (PL 743/1999, parecer do deputado Coriolano Sales).

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Com citação de princípios 47 relativas PLs e PLPs

37 relativas a PECs

24,4%

34,3%

Sem citação de princípios 146 relativas a PLs e PLPs

71 relativas PECs

74,6%

65,7%

Tabela 13. Competição política: citação de argumentos externos ao direito

Manifestações 193 relativas a PLs e PLPs

108 relativas a PECs 100 %

Com citação de argumentos

externos ao direito

68 relativas PLs e PLPs

9 relativas a PECs

35,2%

8,3%

Sem citação de argumentos

externos ao direito

123 relativas a PLs e PLPs

99 relativas PECs

64,8%

91,7%

Chama a atenção o baixo número de manifestações que citam doutrina e

jurisprudência. No caso de manifestações relativas a PECs, é também muito baixo o número

de manifestações que recorrem a argumentos externos ao direito, mas relativamente alto o

número de manifestações que se valem de princípios. Algumas peculiaridades adiante

analisadas sobre a apreciação de PECs podem fornecer uma explicação para isso. Em relação

a PLs e PLPs, entretanto, é notável o fato de que há muito mais manifestações que se valem

de argumentos externos ao direito do que aquelas que se valem de doutrina e jurisprudência.

O número de manifestações que se valem de princípios também é relativamente elevado se

comparado à pequena incidência de citação de doutrina e jurisprudência.

Quando analisamos as 69 manifestações relativas a PLs e PLPs que se valem de

argumentos externos ao direito, percebemos que apenas em uma pequena minoria, 6 casos43,

ou 8,7% do total, o argumento externo ao direito é usado na argumentação especificamente

sobre a constitucionalidade. Nos outros casos, ele aparece sempre na apreciação do mérito.

Tabela 14. Competição política: argumentos externos ao direito. PLs e PLPs

Argumentos políticos (exclusivamente) 21

Argumentos sociológicos (exclusivamente) 12

Argumentos políticos e sociológicos 11

43 PL 3458/2004 Parecer de Maria Lúcia Cardoso; PL 3453/2004, Parecer de INALDO LEITÃO e Parecer de Regis de Oliveira; PL 5268/2001, Voto em separado de VICENTE ARRUDA; PLP 203/2004, Parecer ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO; PL 4649/2001, Parecer de GEORGE HILTON.

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Argumentos ético-morais (exclusivamente) 6

Argumentos políticos, econômicos e sociológicos 4

Argumentos de adequação à realidade (exclusivamente) 3

Argumentos econômicos (exclusivamente) 2

Argumentos históricos (exclusivamente) 2

Argumentos políticos e de adequação à realidade 1

Argumentos políticos e de conveniência 1

Argumentos políticos e históricos 1

Argumentos políticos e morais 1

Argumentos sociológicos e históricos 1

Argumentos sociológicos e econômicos 1

Argumentos políticos, históricos e sociológicos 1

Argumentos políticos, morais e sociológicos 1

Observamos uma grande predominância dos argumentos políticos e sociológicos

(30,4% dos argumentos externos ao direito são exclusivamente políticos, 17,4% são

exclusivamente sociológicos e 16% são sociológicos). Além disso, observa-se a

predominância de argumentos simples, de tipo único: apenas 23 manifestações (33,3% do

total) usam mais de um tipo de argumento, enquanto o restante (46, ou 66,7% do total) vale-se

de apenas um tipo de argumento.

Em todos aqueles 6 casos nos quais o argumento externo ao direito é usado na

argumentação sobre a constitucionalidade, a manifestação em análise foi considerada

inconstitucional, o que indica que o uso do argumento externo na análise de

constitucionalidade é feito quando o manifestante quer emitir um juízo negativo sobre a

proposição em análise. Em 4 desses casos44, também são citados princípios constitucionais, e,

nos outros 2, há citação de doutrina45 ou jurisprudência46, o que indica o uso do argumento

externo como argumento subsidiário em favor da inconstitucionalidade.

Uma análise mais detida desse grupo de manifestações mostra que apenas o parecer do

deputado Antonio Carlos Magalhães Neto sobre o PLP 203/2004 contraria esse indício. O

projeto em questão trata da chamada “ficha suja”, estabelecendo a existência de processo em

44 PL 3453/2004, Parecer de INALDO LEITÃO e Parecer de Regis de Oliveira; PL 5268/2001, Voto em separado de VICENTE ARRUDA; PL 4649/2001, Parecer de GEORGE HILTON. 45 PL 3458/2004, Parecer de Maria Lúcia Cardoso. 46 PLP 203/2004, Parecer de ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO.

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trânsito contra o indivíduo como causa de inelegibilidade. Para afirmar a

inconstitucionalidade dessa proposição, o relator baseia seu parecer na ideia de que não é

possível a adoção do projeto em fase de redemocratização, pois isso seria resgatar uma

herança da ditadura. Vale-se, para tanto, de vários argumentos históricos (inclusive, é

interessante notar que a própria jurisprudência é citada como informação histórica), que

reconstroem a consolidação dos direitos políticos no país.

Trata-se de um tipo excepcional de parecer – aquele que baseia a inconstitucionalidade

da proposição em argumentação não propriamente jurídica – sendo que, nos demais casos de

inconstitucionalidade, predomina o esforço para elaborar a manifestação dentro de parâmetros

jurídicos, como será visto adiante. As próximas seções são dedicadas à análise daquelas

manifestações negativas, ou seja, as manifestações que concluem pela inadmissibilidade,

constitucionalidade ou rejeição. Tal análise é importante porque, nessas manifestações

negativas, faz-se presente um conflito político – a rejeição, por parte de um parlamentar, de

um projeto de lei elaborado por outro parlamentar – que se reveste de formas jurídicas – a

manifestação por meio de parecer sobre a constitucionalidade.

2.1.2. Propostas de Emenda à Constituição: verificação de inadmissibilidade

A análise das 16 manifestações pela inadmissibilidade de PECs47 mostra que todas

citam princípios. Destas, 7 citam doutrina48 e apenas 2, jurisprudência (sendo que estas

também citam doutrina, ou seja, se valem das três estratégias argumentativas)49. Esses

números indicam que os princípios ocupam papel central na verificação da inadmissibilidade

PECs. Conforme o exposto anteriormente, esse juízo de admissibilidade deve se centrar

basicamente na verificação dos requisitos do art. 60 da Constituição Federal. Todos esses

requisitos são formais, com exceção do disposto no § 4º desse artigo, que traz as chamadas

cláusulas pétreas. A verificação de inadmissibilidade de uma PEC foi, em todos os casos 47 PEC 338/2004, Parecer de ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO; PEC 303/2004, Parecer de Régis de Oliveira; PEC 499/2002, Parecer de Coriolano Sales, PEC 495/2002; Parecer de ASDRUBAL BENTES; PEC 129/1999, Parecer de VICENTE ARRUDA; PEC 231/2004, Parecer de Antonio Carlos Biscaia; PEC 106/1999, Voto em separado de Roberto Magalhães; PEC 528/1997, Parecer de RENATO VIANNA; PEC 197/199, Parecer de José Eduardo Cardozo; PEC180/2007, Parecer de José Genoino; PEC197/1995, Parecer de José Eduardo Cardozo; PEC 373/2009, Parecer de José Genoíno, Voto em separado de Régis de Oliveira e Voto em separado de Paulo Maluf; PEC 95/2003, Parecer de Carlos Willian; PEC 284/1995, Parecer de CARLOS WILLIAN. 48 PEC 338/2004, Parecer de ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO; PEC 499/2002, Parecer de Coriolano Sales; PEC 231/2004, Parecer de Antonio Carlos Biscaia; PEC 106/1999, Voto em separado de Roberto Magalhães; PEC 373/2009, Parecer de José Genoíno, Voto em separado de Régis de Oliveira; PEC 284/1995, Parecer CARLOS WILLIAN. 49 PEC 338/2004, Parecer de ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO; PEC 231/2004, Parecer de Antonio Carlos Biscaia.

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analisados, resultado da interpretação dessas cláusulas, interpretação esta que se expressa

invariavelmente por meio da invocação de princípios. Apenas em 2 casos houve citação de

argumentos externos ao direito, sendo que, em ambos, tais argumentos foram usados de forma

subsidiária. 50

Assim, a análise indica que as manifestações por inadmissibilidade usam do caráter

aberto dos princípios jurídicos, especialmente daqueles que tomam a forma de cláusulas

pétreas, para justificar a rejeição de determinada PEC. Isso torna difícil apontar o quanto

dessa rejeição é motivada por inclinações políticas ou por raciocínios estritamente jurídicos. É

claro que a confusão entre esses dois tipos de motivação é inevitável. Nas manifestações de

inadmissibilidade Propostas de Emenda à Constituição, no entanto, espera-se que haja um

maior esforço de argumentação jurídica, pois o juízo de admissibilidade localiza-se muito

mais no campo jurídico que no político, já que trata apenas da conformação geral da proposta

à Constituição. Isso é assim porque, sendo as PECs um instrumento de reforma constitucional,

a função da CCJC ao analisá-las, pronunciando o juízo de admissibilidade, não deve ser o

exercício do controle de constitucionalidade em sentido próprio nem a apreciação de seu

mérito.

A análise na CCJC (e nas comissões em geral) é uma análise feita por poucos

parlamentares designados que pode impedir a análise por todo o congresso. Isso significa que

esses parlamentares têm um ônus argumentativo muito grande. Nesse sentido, a análise de

PECs por comissões é especialmente complicada51 e a declaração de inadmissibilidade desse

tipo de proposição precisa ser muito bem fundamentada. O presente estudo mostra que,

50 PEC 303/2004, Parecer de Régis de Oliveira; PEC 373/2009, Parecer de José Genoíno. No primeiro caso, trata-se de proposta que “Constitui crime de responsabilidade do Presidente da República, Governador ou Prefeito o descumprimento de compromissos pragmáticos assumidos na campanha eleitoral”. O deputado relator fundamenta sua manifestação pela inadmissibilidade na ideia de que “as propostas afrontam cláusula pétrea, prevista no inciso IV, do § 4º, do art. 60, da Constituição Federal, uma vez que se observa nas proposições a tendência de violar direito e garantia individual conferido ao candidato de manifestar livremente suas idéias e propostas de governo” e, para reforçar tal ideia, vale-se de um argumento econômico: “Nos cargos do Poder Executivo, com mais razão, não se pode exigir o fiel cumprimento de um programa preestabelecido de governo, uma vez que se tem de levar em conta a conjuntura econômica e as possibilidades orçamentárias que se seguirem à eleição, tanto no plano local, como no nacional e também no internacional.” Já no segundo caso, PEC 373/2009, trata-se da PEC do “terceiro mandato”, como ficou conhecida. O deputado relator invoca o “princípio da razoabilidade” como forma de justificar que o constituinte derivado não tem legitimidade para propor o terceiro mandato. Num dos principais argumentos do voto, a conotação política confunde-se de maneira inseparável com o controle de constitucionalidade realizado: “Antes de qualquer outra coisa, a medida proposta agride o senso comum de justiça e razoabilidade ao pretender aplicar-se aos atuais detentores de mandato eletivo, alterando regras do jogo político em andamento no intuito de favorecer determinados resultados. A ilegitimidade da empreitada salta aos olhos: procura-se contemplar, por meio de emenda constitucional, interesses pertinentes à política ordinária, cotidiana, o que se mostra em completo descompasso com o papel institucional reservado ao poder reformador pelo Constituinte originário.” 51 Sobre isso, ver Introdução da análise qualitativa (item IV.1).

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muitas vezes, a maneira como se estrutura a argumentação dos pareceres pela

inadmissibilidade – com interpretações generalistas de princípios – inviabiliza a avaliação de

legitimidade da argumentação trazido em tais pareceres.

Tabela 15. Competição política: PECs consideradas inadmissíveis

PECs 89 100 %

Inconstitucionais ou

inadmissíveis 13 14,6%

Constitucionais ou

admissíveis 75 84,3%

Não há manifestação

expressa 1 1,1%

2.1.3. Projetos de Lei e Projetos de Lei Complementar: inconstitucionalidade e rejeição

Conforme anteriormente exposto, a análise das manifestações relativas a PLs e PLPs

deve levar em conta que, além da constitucionalidade, também deve haver pronunciamento

sobre o mérito do tema proposto. Apenas em 57 casos, ou 29,5% do total, a principal

abordagem da manifestação é referente à análise de constitucionalidade. Destes, a ampla

maioria, 42 casos, são de pronunciamentos pela inconstitucionalidade. Isso indica que apenas

quando é verificada uma contrariedade em relação à Constituição os relatores consideram ser

necessário se concentrar na análise de constitucionalidade.

Tabela 16. PLs e PLPs em competição política: manifestações pela constitucionalidade/inconstitucionalidade x aprovação/rejeição

Manifestações 193 100 %

Constitucionalidade

142 73,6% 74,6% (do total acima)

25,4% (do total acima)

Aprovação 106

Rejeição 36

Inconstitucionalidade

45 23,3%

2,2% (do total acima)

97,8% (do total acima)

Aprovação 1

Rejeição 44

Não há manifestação expressa 6 3,1%

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É interessante notar que a declaração de inconstitucionalidade não significa

necessariamente rejeição, enquanto que a declaração de constitucionalidade também não

significa aprovação. Há um caso, PL 3781/1997, em que, mesmo considerando o projeto

inconstitucional, o relator, deputado José Antonio Almeida, propõe a aprovação deste com a

adoção de substitutivo, pois considera que tal projeto (“Dispõe sobre a ação de impugnação de

mandato eletivo a que se refere o art. 14, §§ 10 e 11, da Constituição Federal, e dá outras

providências”), ainda que tenha sido elaborado de maneira incorreta, trazendo interferência do

Poder Legislativo no Poder Judiciário, visa suprir uma importante lacuna legislativa.

Por outro lado, 36 proposições consideradas constitucionais foram rejeitadas pela

comissão. Ao contrário do que foi verificado nas manifestações pela inadmissibilidade de

PECs, não há aqui um padrão claro nesse tipo de rejeição, sendo que 17 manifestações citam

argumentos externos ao direito, 3 citam casos julgados, 2, doutrina, 10, princípios e 10 não se

valem de nenhuma dessas estratégias argumentativas. Chama a atenção o número muito

pequeno de citações de doutrina e jurisprudência, sendo que a estratégia argumentativa

preferencial foi o uso de argumentos externos ao direito. Neste ponto, merece destaque o fato

de que o índice de rejeição de PLs e PLPs é consideravelmente maior que o de manifestação

declaração de inconstitucionalidade (v. tabelas 16 e 17). A análise desse grupo de proposições

constitucionais, mas rejeitadas, revela que o índice mais alto de rejeição que de

inconstitucionalidade pode ser explicado pela referência a argumentos extra-jurídicos, ou seja,

pela preferência da CCJC de exercer, no que se refere aos temas de competição política, mais

o seu poder de controle político (nas análises de mérito) que de controle jurídico.

As 44 manifestações pela rejeição e inconstitucionalidade também não trazem um

padrão de argumentação claro. 19 delas citam princípios, 13 citam argumentos externos ao

direito, 10, doutrina, 7, jurisprudência e 15 não se valem de nenhuma dessas estratégias

argumentativas. Novamente, é baixa a ocorrência de citação de doutrina e jurisprudência,

mas, neste caso, a estratégia argumentativa preferencial foi o uso de princípios e não de

argumentos externos ao direito. É também muito significativo o número de casos em que

nenhuma das estratégias argumentativas foi usada.

O uso de preferencial de argumentos externos ao direito nos casos de

constitucionalidade e rejeição e de argumentos de princípio nos casos de

inconstitucionalidade e rejeição indica que a atividade da CCJC na análise de proposições de

lei relativas ao tema “competição política” – proposições estas que devem merecer análise de

mérito na comissão – tem dois padrões diferenciados. O primeiro padrão é relativo àqueles

casos em que se constata a inconstitucionalidade, constatação que, de acordo com a

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argumentação usada, se dá principalmente por meio da interpretação de princípios. O segundo

padrão é relativo aos casos nos quais, ainda que não haja embasamento para se declarar a

inconstitucionalidade, decide-se pela rejeição. Nesses casos, percebe-se que a preferência é

pelo uso de argumentos externos ao direito, o que leva a crer que, na análise do mérito das

proposições, a argumentação jurídica é colocada de lado em favor de outras estratégias

argumentativas (como já apontado acima). Nos dois padrões argumentativos, é importante

notar o baixo índice de citação de doutrina e jurisprudência, o que mostra que o controle de

constitucionalidade das proposições (e de mérito, quando é o caso) ocorre principalmente por

meio da invocação de princípios – a citação de princípio é alta mesmo no segundo padrão

argumentativo (constitucionalidade e rejeição).

Tabela 17. Competição política: PLs e PLPs considerados inconstitucionais

PLs e PLPs 165 100 %

Inconstitucionais 40 24,2%

Constitucionais 123 74,6%

Não há manifestação

expressa 2 1,2%

Tabela 18. Competição política: PLs e PLPs rejeitados

PLs e PLPs 165 100 %

Rejeitados 68 41,2%

Aprovados 97 58,8%

2.2 CCJ – Reforma do Processo

A partir busca nos bancos de dados da Câmara dos Deputados e no Senado Federal

relativamente ao tema da reforma do Judiciário e do processo foram encontradas 40

proposições legislativas. Dessas, 30 eram projetos de lei ordinária (PL), 6 projetos de lei

complementar (PLP) e 4 propostas de emendas constitucional (PEC). Nesta seção são

analisadas qualitativamente apenas aquelas propostas legislativas em que houve manifestação

da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados e/ou do Senado

Federal, excetuando-se as manifestações referentes às propostas de emenda constitucional

proferidas pela CCJ do Senado Federal, como explicitado anteriormente. Estas se constituem

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em 29 manifestações52 relativas a 21 projetos de lei. Não foram encontrados projetos de lei

complementar referentes a este tema que tivessem sido analisadas pelas Comissões de

Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e/ou do Senado Federal. Dois dos projetos

de lei foram excluídos desta análise qualitativa pelo motivo de que as manifestações relativas

a eles estavam indisponíveis nos bancos de dados da Câmara dos Deputados e/ou do Senado

Federal53 assim como duas manifestações relativas a 354 propostas de emenda à constituição

analisadas pela CCJ do Senado Federal.

As manifestações aqui analisadas foram proferidas por 20 parlamentares pertencentes

à 12 diferentes partidos políticos. Abaixo segue a tabela que mostra a distribuição de tais

partidos políticos por número de manifestações proferidas.

Tabela 19. Reforma do Judiciário e do Processo: Composição dos partidos político na análise dos temas

Partido Político Número de Manifestações % do total

PT 5 17,24%

PFL 4 13,79%

PP 3 10,34%

PPB 3 10,34%

PSC 3 10,34%

PSDB 3 10,34%

PMDB 2 6,90%

PL 2 6,90%

PC do B 1 3,45%

PDT 1 3,45%

PPS 1 3,45%

PTB 1 3,45%

TOTAL 29 100.00%

52O número de manifestações é maior do que o número de proposições analisadas pois há a possibilidade de haver mais de um parecer, complementação de voto ou voto em separado. 53 São estes projetos de lei: PL 13/2006 e o PL 4723/2004. 54 São tais propostas de emenda constitucional: PEC 27/2004, PEC 26/2004 e PEC 11/2001.

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As proposições legislativas foram agrupadas em temas genéricos de acordo com o seu

conteúdo e tais grupos são apresentados a seguir. Contudo, cabe ressaltar, que diferentemente

das classificações apresentadas nos outros dois outros campos de estudo desta pesquisa

(competição política e segurança pública), a apresentação dos assuntos são apresentados de

forma mais detalhada, dado o baixo número de proposições legislativas encontradas. Segue a

classificação:

• Competência: há dois projetos de lei que tratam sobre a questão da

competência na área temática reforma do Judiciário e do processo. Um deles visa dispor sobre

a atribuição de competência penal para Justiça do Trabalho para “processar e julgar crimes

oriundos e decorrentes da relação de trabalho, do exercício do direito de greve e das relações

sindicais” (PL 2636/2007). O segundo projeto busca disciplinar “o o procedimento de

deslocamento de competência para a Justiça Federal dos crimes contra os direitos humanos

(hipóteses de grave violação de direitos humanos, como previsto no § 5º do art. 109 da

Constituição Federal, incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004), perante o

Superior Tribunal de Justiça” (PLS 14/2006).

• Execução: foram encontrados 3 projetos de lei referentes a este tema. Um deles

busca aumentar a efetividade do processo de execução na Justiça do Trabalho, tornando a

legislação mais severa para coibir ações fraudulentas de devedores (PL 4731/2004). Os outros

dois projetos de lei são de origem do Pode Executivo. O primeiro visa alterar a execução de

título extrajudicial, entre outros pontos específicos do Código de Processo Civil (tais como os

embargos à execução, preferência de alienação em hasta pública), como forma de tornar mais

rápida a prestação jurisdicional e a satisfação do crédito do exeqüente, permitindo

expressamente o uso de meios eletrônicos no processo de execução e penalizando devedor

que agir com propósito procrastinatório (PL 4497/2004). O outro projeto de lei tem como

objetivo alterar a execução de sentença condenatória a pagamento em dinheiro (execução de

título judicial por quantia certa) (PL 3253/2004).

• Fixação de honorários: foi encontrado um projeto de lei referente a este tema,

que propõe, mediante alteração do Código de Processo Civil, aplicar à Fazenda Pública os

mesmos critérios de mensuração de honorários advocatícios que são aplicados às outras

partes.

• Processamento de Recursos: foram encontrados 6 projetos de lei que propõe

alterações legislativas envolvendo o processamento de recursos, as quais, de maneira geral,

têm como objetivo torná-lo mais célere e eficaz. A primeira dessas proposições dispõe acerca

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de procedimentos relativos ao julgamento de recursos repetitivos (“com fundamento em

questões idênticas de direito”) interpostos perante o Superior Tribunal de Justiça (PL

1213/2007). Outra projeto de lei que se refere a este tema visa racionalizar o sistema recursal

na Justiça do Trabalho por meio da modificação do processamento de recurso de revista no

Tribunal Superior do Trabalho e da criação do incidente de uniformização de jurisprudência

na Justiça do Trabalho (PL 4732/2004). Há ainda o PL 4727/2204 que propõe modificações

no Código de Processo Civil acerca da disciplina do agravo de instrumento e do agravo

retido55, com o objetivo de tornar a sistemática processual mais eficaz e adequada à realidade.

Já o PL 4724/2004, que também intenciona alterar o Código de Processo Civil, propõe

mudanças no que diz respeito à forma de interposição de recursos, ao saneamento de

nulidades processuais, ao recebimento de recurso de apelação, entre outras questões, também

com a intenção de tornar mais célere e efetiva a tutela jurisdicional. O PL 1343/2002 também

altera o Código de Processo Civil e tem como objetivo estabelecer requisitos para o

conhecimento de recursos especiais, que somente deverão ser conhecidos quando o julgado

recorrido tiver repercussão geral, medida pela importância social ou econômica da causa.

Finalmente, o PLS 12/2006 visa disciplinar o procedimento para exame da repercussão geral

das questões constitucionais discutidas no recurso extraordinário no Supremo Tribunal

Federal.

• Reforma do processo: foram encontrados 7 projetos de lei referentes a este

tema. O PL 4728/2004 busca alterar o Código de Processo Civil com o objetivo de

racionalizar o julgamento de ações repetitivas, ou seja, nos casos em que a matéria

controvertida for unicamente de direito, e já houver sentença de total improcedência em caso

análogo, o juiz pode dispensar a citação e proferir sentença reproduzindo aquela já

anteriormente prolatada. Já o PL 4726/2004 busca modificar as regras referentes à

incompetência relativa, aos meios eletrônicos, à prescrição, à distribuição por dependência, à

revelia, às cartas precatórias e rogatórias, à ação rescisória, entre outros pontos, com o

objetivo de dar racionalidade e celeridade ao processo de tutela jusrisdicional. O PL

5635/2001 diz respeito ao processo de reforma agrária,, autorizando a União a desapropriar

imóveis objeto de litígio em que o poder público for parte, como intuito de evitar eclosão de

confrontos possessórios. O PL 4331/2001 revoga o dispositivo que concede à Fazenda

Pública e ao Ministério Público, quando estes forem parte no processo, prazo em quádruplo

55 “Dispõe que nas decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento o agravo será retido, tornando-se agravo de instrumento quando as decisões forem suscetíveis de causar à parte lesão grave e de difícil reparação”. Fonte: site da Câmara dos Deputados – www.camara.gov.br

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para contestar e em dobro para recorrer, igualando-os ao particular. Os PL 4208/2001,

4205/2001 e 4203/2001 fazem parte da chamada “reforma processual penal” e propõe

alterações no Código de Processo Penal. O primeiro deles traz mudanças no que se refere à

prisão (indica as espécies admitidas: em flagrante, temporária, preventiva e decorrente de

sentença condenatória transitada em julgado, revogando aquelas oriundas de decisão de

pronúncia ou condenatória), medidas cautelares (estabelece critérios e aumenta o rol) e

liberdade (liberdade provisória e concessão de fiança). O segundo PL define e proíbe a

produção de provas por meios ilícitos e traz esclarecimentos sobre provas antecipadas,

periciais e testemunhais. O terceiro PL traz alterações no Código de Processo Penal referentes

à instrução e julgamento de processos no tribunal do júri, estabelecendo critérios para sua

organização (função, convocação e sorteio dos jurados - com vista à formação de um

Conselho de Sentença) e dispõe sobre acusação, instrução e preparação do processo para

julgamento no Plenário.

Dada esta apresentação geral dos temas presentes nas propostas legislativas analisadas,

passamos a apresentação da distribuição manifestações da Comissão de Constituição e Justiça

da Câmara dos Deputados e do Senado Federal referentes aos projetos de lei e propostas de

emendas constitucionais por cada um dos temas expostos acima.

Tabela 20. Reforma do Judiciário e do Processo: manifestação acerca dos PLs distribuídos por tema

PL % do total Total 29 100,00%

Competência 3 10,34%0

Execução 5 17,24%0

Fixação de honorários 2 6,90%0

Processamento de recursos 9 31,03%0

Reforma do Processo 10 34,48%0

Do total das 29 manifestações analisadas 23 eram pareceres, 2 complementações de

parecer e 4 votos em separado. Destas manifestações, 24 foram pela constitucionalidade da

proposta legislativa e 5 pela inconstitucionalidade. No que diz respeito à rejeição ou

aprovação do projeto de lei, das 29 analisadas, 6 foram rejeitadas e 23 aprovadas.

Tabela 21. Reforma do Judiciário e do Processo: qualificação das manifestações

Manifestações 29 relativas a PLs 100,00%

Aprovação ou admissão 23 relativas PLs e PLPs 79,00%

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Rejeição 6 relativas a Pls 21,00%

Cabe aqui observar que três das 29 manifestações não citam nenhum dispositivo legal

em sua argumentação, o que significa 10,34% do total. A primeira delas é um parecer do

deputado Gerson Peres, relativo ao PL 4732/2004, que considera o projeto de lei

constitucional e o aprova. Em seu parecer, tal deputado não cita nenhum princípio, doutrina

ou caso julgado e tampouco se utiliza de argumentos externos ao direito. O relator afirma que

fará apenas uma avaliação da admissibilidade de referido projeto de lei56, e para tanto, analisa

muito brevemente a compatibilidade da proposição com a Constituição Federal e sua boa

técnica legislativa e jurídica. A segunda manifestação que não cita nenhum dispositivo

legislativo é o voto em separado do deputado Darci Coelho quando analisa o PL 4728/2004.

Em tal manifestação, o deputado considera o projeto de lei inconstitucional e injurídico e

opina por sua rejeição. Para fundamentar sua decisão o deputado se baseia em princípios do

direito, tais como princípio do duplo grau de jurisdição, o princípio da coisa julgada formal, o

princípio da garantia ampla defesa e do contraditório. Não são utilizados casos julgados,

doutrina ou argumentos externos ao direito para justificar o voto. A terceira manifestação que

não cita nenhum dispositivo legal em sua argumenção é o voto em separado do deputado José

Roberto Arruda em sede do PL 4497/2007. Em tal manifestação o deputado vota pela

constitucionalidade do PL e o aprova com as emendas que sugere. Em seu volto ele não se

utiliza de princípios do direito, doutrina ou jurisprudência para fundamentar seu voto, mas

sim de argumentos econômicos.

2.2.1. Fundamentos da argumentação: doutrina, jurisprudência, princípios e argumentos externos ao direito

Tabela 22. Reforma do Judiciário e do Processo: citação de doutrina

Manifestações 29 relativas a PLs 100,00%

Com citação de doutrina 10 relativas a PLs 34,48%

Sem citação de doutrina 19 relativas a PLs 65,52%

56

“Por iniciativa deste relator, mediante requerimento do Deputado Leonardo Picciani, digno Presidente desta Comissão, foi solicitada à Sua Excelência DD. Presidente da Câmara dos Deputados a revisão do despacho inicial dado às Emendas do Senado Federal ao Projeto proposto, tendo sido, no entanto, indeferido o requerido, pelo critério da especificidade, em razão de ser matéria prevista no campo temático da Comissão de Trabalho, de Administração e do Serviço Público, não cabendo a esta comissão opinar sobre o mérito. Incumbe-nos, portanto, nos manifestar, apenas, sobre o aspecto da admissibilidade, conforme preceitua a alínea “a” do inc. IV, do art. 32 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados”. PL 4732/2007, Parecer do Deputado Gerson Péres.

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Tabela 23. Reforma do Judiciário e do Processo: citação de jurisprudência

Manifestações 29 relativas a PLs 100 % Com citação de jurisprudência

4 relativas a PLs 13,79%

Sem citação de jurisprudência

25 relativas a PLs

86,21%

Tabela 24. Reforma do Judiciário e do Processo: citação de princípios

Manifestações 29 relativas a PLs 100 %

Com citação de princípios 17 relativas a PLs 58,62%

Sem citação de princípios 12 relativas a PLs 41,38%

Tabela 25. Reforma do Judiciário e do Processo: citação de argumentos externos ao direito

Manifestações 29 relativas a PLs 100 % Com citação de argumentos externos ao direito

4 relativas a PLs 13,79%

Sem citação de argumentos externos ao direito

25 relativas a PLs 86,21%

Observando-se os dados acima apresentados, pode-se dizer que em mais da metade

das manifestações (58,62% do total) são utilizados princípios nas argumentações. Como era

de se esperar tais princípios citados têm ligação direta com o tema que é tratado nos Pls, como

por exemplo: “segurança jurídica”, “duplo grau de jurisdição”, “denegação da jurisdição”,

“contraditório e ampla defesa”, “coisa julgada formal”, “juiz natural”, “isonomia”,

“igualdade”, “razoável duração do processo”, “inafastabilidade da tutela jurisdicional”,

“efetividade tutela jurisdicional”, “presunção de inocência”, “livre convição do juiz”,

“identidade física do juiz”, “economia processual” e “devido processo legal”.

Dos dados também se pode depreender que a doutrina é a segunda forma de

argumentação/justificação mais usada nos pareceres. Ela é utilizada em 34,48% das

manifestações aqui analisadas. A doutrina é usada como argumento de autoridade em 8 dos 10

casos em que é utilizada. Novamente, como era de se esperar dada a temática das proposições

analisadas pelas Comissões de Constituição e Justiça, a maior parte da doutrina citada refere-

se ao campo de estudo do Direito Processual, mais especificamente o Direito Processual Civil.

O autor mais citado nas manifestações é Cândido Rangel Dinamarco.

A jurisprudência é pouco citada nas manifestações analisadas, tendo sido encontrados

apenas quatro casos em que ela é utilizada (o que representa 13,79% do total). Em três, desses

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quatro casos, a jurisprudência é utilizadas como argumento de autoridade. Os casos julgados e

súmulas citados são oriundas do Superior Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal do

Trabalho e Supremo Tribunal Federal.

Finalmente, também são poucos os casos em que são citados argumentos externos ao

direito. Apenas quatro casos57 em um total de 29. Tais argumentos externos ao direito podem

ser classificados como sociológicos58, econômicos59 e históricos60. Contudo, em nenhum dos

casos eles são utilizados na análise de contitucionalidade dos projetos de lei. Outro dado que

se pode extrair é que nas quatro manifestações em que são utilizados argumentos externos ao

direito os projetos de lei são considerados constitucionais e aprovados, mesmo que com

emendas. Isso pode indicar que no caso dos projetos de lei referentes à reforma do Judiciário e

do processo, os argumentos externos ao direito foram utilizados para corroborar a proposta

contida nos projetos de lei analisados. Dentre esses quatro casos, em três também são citados

princípios de direito, em um é citada doutrina e em nenhum é citada jurisprudência.

2.3 CCJ – Segurança Pública

No campo de Segurança Pública, a análise inicial dos projetos a partir da definição das

palavras-chave havia, conforme especificado anteriormente, retornado 141 Projetos de

Emenda Constitucional, 665 Projetos de Lei e 12 Projetos de Lei Complementar, totalizando

818 proposições. Dessas proposições, já analisadas em seu aspecto quantitativo, foram

separadas aquelas que apresentavam parecer ou voto na CCJ em qualquer uma das casas,

totalizando 54 manifestações em PECs, relativas a 43 Projetos, das quais duas foram

excluídas, finalmente, uma por não pertinência temática (PEC 49/2003) e a outra por

indisponibilidade do parecer verificada durante a análise dos dados. Dos 674 Projetos de Lei e

Projetos de Lei Complementar inicialmente coletados, 151 foram selecionados para uma

57 São tais casos: PL 1213/2007, 4497/2004, 4108/2004 e 4205/2001. 58 “Com o volume de processos atualmente existentes nos tribunais, fica impossível julgar com rapidez e eficácia, o que tem produzido a morosidade da justiça e o descontentamento dos jurisdicionados". PL 1213/2007, Parecer - Deputado Maurício Rands. 59“Com algumas variações regionais, verifica-se que entre 70% e 80% dos documentos de dívidas apresentados para protesto, são pagos pelos devedores no cartório, evitando, assim, a efetivação do protesto. Isto significa, também, que entre 70% e 80% dos credores que apresentam seus documentos de dívidas aos Tabeliães de protesto recuperam seu crédito em até 3 dias após a intimação do devedor”. PL 4497/2004, Voto em separado – Deputado José Roberto Arruda. 60“Num estado democrático de direito, como o nosso se diz fundamentar, o privilégio estatal, no que concerne a ter critérios de condenação em honorários diferentes das partes, tem resquícios da época feudal ou ressumbra a estados totalitários, ou remonta à época em que as classes dominantes (no absolutismo) detinham indesculpáveis privilégios. E esses tratamentos desiguais, discriminadores, somente levam ao descrédito das instituições”. PL 4108/2004, Parecer – Deputado Bosco Costa.

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análise qualitativa, por apresentarem manifestações da CCJ em forma digital, resultando 169

manifestações. Como já salientado, o número de manifestações é maior que o número de

proposições analisadas pelo fato de algumas dessas proposições apresentarem mais que uma

manifestação, na forma de voto ou parecer, pelas razões já indicadas. Dessas 169

manifestações, 13 foram finalmente excluídas, por impertinência temática ou impossibilidade

de acesso ao parecer, de forma que o universo de manifestações relativas a Projetos de Lei e

Projetos de Lei Complementar trabalhadas foi de 156.61

As proposições analisadas foram, na matéria de segurança pública, divididas em temas

genéricos, que foram, ainda, divididos em sub-temas, pois o nível de generalidade dos

primeiros expressaria, por vezes, muito pouco a respeito do que estava efetivamente sendo

tratado nas manifestações. Por diversas vezes, na análise de segurança pública, esses temas

apareceram misturados nas proposições e, conseqüentemente, nas manifestações; nesses

casos, indicou-se o tema como “grande área”, e, nessa grande área, o assunto tratado.

Assim, classificaram-se como temas:

• Forças armadas: são as proposições e conseqüentes manifestações que visavam

estabelecer regras quaisquer para as Forças Armadas em qualquer de seus

âmbitos, e tratando de questões relativas às suas funções, à carreira, à

organização estrutural, entre outros. Assim, por exemplo, uma proposição que

regulamenta a proteção das fronteiras ou a intervenção das Forças Armadas em

reservas indígenas.

• Polícia Federal: tema auto-explicativo, criado para que se classifiquem em uma

grande área todas as manifestações relativas a proposições que regulamentem

de qualquer forma a Polícia Federal, com a possibilidade geral de

regulamentação de qualquer dos temas já mencionados acima, em Forças

Armadas.

• Polícia Militar: idem.

• Polícia Civil: idem.

• Polícia Municipal: idem.

61 Cabe lembrar, aqui, que analisamos conjuntamente as proposições do Senado e da Câmara e os pareceres de cada uma de suas CCJs, só analisando o parecer da CCJ da casa revisora quando faltante na casa de origem. Assim, muito embora as tabelas utilizadas na pesquisa façam a diferenciação entre o que vem do Senado e o que vem da Câmara, para os fins dessa pesquisa, ou seja, para conseguir analisar com clareza os argumentos utilizados em âmbito preventivo e repressivo no que toca aos atos do Legislativo, julgamos ser mais conveniente fazer a análise conjunta. Além disso, não foram identificadas diferenças substanciais entre a análise de cada uma das CCJs.

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• Polícia: quando não há especificação de qual polícia se está tratando, tratam-se

ou de regras gerais aplicáveis aos membros de mais de uma polícia, ou à

estrutura delas como um todo, ou, ainda, de normas relativas à relação das

polícias em termos de funções ou em termos estruturais.

• Criminalização: categoria compreendida de forma muito mais ampla que a

compreensão comum inspirada pela palavra. Em criminalização, foram

incluídas todas as proposições de segurança pública que de alguma forma se

valiam de criação de tipos penais, majoração de penas e instituição de novos

detalhes ou novas formas de persecução a crimes já existentes no ordenamento

(de forma a abranger, eventualmente, também questões processuais, em que

pese o tema Processo, que será delimitado depois), ou seja, qualquer

proposição que lidasse com o tema de segurança pública não a partir dos

órgãos criados para tanto, mas a partir de instituições de determinados

gravames ou detalhes a gravames já impostos ao cidadão, mesmo que esse

cidadão seja, por vezes, o próprio policial. Mereceram classificação especial os

temas Vítima e Prisão, que, por vezes, são parcialmente sobrepostos à

Criminalização.

• Vítima: foram identificadas, nas manifestações, diversas proposições em que o

tema era a proteção da vítima, compreendidas, aqui, proposições relativas a

regras para que as vítimas sejam adequadamente avisadas e possam participar

do processo penal, ou a proteção da vítima do ponto de vista da lesão sofrida,

ou providências para que o dano sofrido pela vítima fosse minimizado ou

avisado a entes próximos ou autoridades. Foi incluída, aqui, a proteção a

pessoas ou grupos considerados vulneráveis sob qualquer ponto de vista, como

medidas de proteção especial à criança e ao adolescente ou à mulher.

• Anistia: são as manifestações relativas a proposições que visavam extinguir a

punibilidade de determinados agentes, tendo sido, no caso dessas

manifestações relativas a segurança pública, todas elas dirigidas à anistia de

policiais.

• Armas de fogo: por ser tema recorrente, mereceu classificação própria.

Incluem-se aqui tanto a regulamentação do uso ou porte de armas de fogo por

particulares como pelas polícias ou pelas forças armadas.

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• Segurança privada: foram as proposições que regulamentavam total ou

preponderantemente a segurança patrimonial ou a relação da segurança

patrimonial com membros ou órgão da segurança pública.

• Fiscalização: foram consideradas pertinentes as proposições contendo regras de

fiscalização que não se reportam necessariamente a nenhum dos órgãos de

segurança pública já especificados como temas ou a temas recorrentes que

merecessem uma classificação específica.

• Processo: assim como Criminalização, o sentido dado a Processo, aqui, é lato, e

inclui a regulamentação de todo e qualquer procedimento envolvido na

segurança pública, na apuração de crimes e faltas, entre outros. Sempre que a

proposição dizia respeito a um especial procedimento pré-determinado ou

estabelecia um procedimento para determinada matéria, usou-se esta

classificação.

• Prisão: casos que, em sua maioria, poderiam ser classificados também nesse

uso lato que demos a Criminalização, especificou-se esse tema para agrupar as

proposições que diziam respeito à prisão como um todo, seja relativamente a

regras específicas de cumprimento, a regimes especiais como o RDD, à

possibilidade de prisão especial ou privilegiada, ao pessoal especializado, entre

outras questões envolvidas com o cárcere.

• Recursos: assim classificaram-se as manifestações relativas a proposições que

versavam sobre a destinação ou repartição de recursos para a Segurança

Pública, incluindo-se nesse tema a criação de fundos especiais.

• Estrangeiro: questões que versam sobre o estrangeiro no que tange a segurança

pública.

Como mencionado, algumas dessas classificações eram excessivamente genéricas para

lidar com uma série de temas diferentes que, por outro lado, podiam ser re-classificados e

agrupados, por conterem elementos em comum. Assim, os temas Forças Armadas e todos

relativos a Polícias foram subdivididos, quando pertinente, em:

• Membros: regras especiais destinadas aos membros de cada um desses órgãos,

à sua carreira ou à sua responsabilidade.

• Estrutura: regulamentação estrutural do órgão, para prever sua organização,

subdivisão ou qualquer outra questão que se compreenda de estrutura, não

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dirigida aos membros especificamente, muito embora questões de carreira

possam ser, em geral, classificadas como um ou outro.

• Função: refere-se ao papel que deve cumprir o órgão, aqui compreendidos

temas como a atividade policial e a atribuição de um ou outro órgão, ou, até

mesmo, de mais de um, reciprocamente. Inclui-se em Função o que é

compreendido como um serviço a ser desempenhado por um órgão aos

cidadãos.

• Educação: subdivisão criada para abarcar proposições que diziam respeito

especificamente à educação dada ou exigida para as funções relativas à

segurança pública.

• Empresas privadas: subdivisão que compreende proposições que, apesar de

sempre versarem sobre segurança pública, estabelecem deveres ou qualquer

outro tipo de relação entre a segurança e empresas privadas que não tenham a

segurança como fim precípuo (caso tivessem, as proposições foram

classificadas no grande tema Segurança Privada).

Cabe lembrar que, especificamente no que tange a essas sub-classificações, muitos dos

casos se referiam a mais de uma delas, de forma que uma análise do número de vezes que

cada uma das classificações apareciam levará a números que não terão como soma o total de

manifestações analisadas, mas um número maior que isso. E, por fim, que a pesquisa levou à

determinação de que, em segurança pública, as mesmas categorias eram aplicáveis aos PLs e

PLPs e também às PECs, em que pese a diferença na abordagem de cada um desses tipos nas

CCJs.

Essa divisão temática revelou que, das manifestações analisadas na CCJ relativas a

Projetos de Lei e Projetos de Lei Complementar, temos a seguinte distribuição:

Tabela 26. Segurança Pública: PLs, PLPs e PECs por temas e subtemas

PL e PLP % do total PEC % do total Total 156 100% 54 100%

Forças armadas 4 2,6% 3 5,6%

*Forças Armadas e Função 3 1,9% 3 5,6%

Polícia Federal 3 1,9% 6 11,1%

*Polícia Federal e Estrutura 2 1,3% 1 1,9%

*Polícia Federal e Função 1 0,6% 5 9,3%

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Polícia Militar 22 14,1% 7 13,0%

*Polícia Militar e Educação 3 1,9% 0 0,0%

*Polícia Militar e Estrutura 16 10,3% 1 1,9%

*Polícia Militar e Função 1 0,6% 5 9,3%

*Polícia Militar e Membros 8 5,1% 2 3,7%

*Polícia Militar e Estrutura e Função 1 0,6% 0 0,0%

*Polícia Militar e Estrutura e Membros 6 3,8% 1 1,9%

Polícia Civil 3 1,9% 2 3,7%

*Polícia Civil e Educação 2 1,3% 0 0,0%

*Polícia Civil e Estrutura 1 0,6% 0 0,0%

*Polícia Civil e Estrutura e Membros 0 0,0% 2 3,7%

Polícia Municipal 0 0,0% 2 3,7%

*Polícia Municipal e Função 0 0,0% 2 3,7%

Polícia 45 28,8% 25 46,3%

*Polícia e Educação 3 1,9% 0 0,0%

*Polícia e Estrutura 20 12,8% 14 25,9%

*Polícia e Função 22 14,1% 10 18,5%

*Polícia e Membros 9 5,8% 3 5,6%

*Polícia e Estrutura e Função 11 7,1% 1 1,9%

*Polícia e Estrutura e Membros 2 1,3% 0 0,0%

*Polícia e Função e Membros 0 0,0% 1 1,9%

*Polícia e Empresas Privadas 2 1,3% 0 0,0%

Criminalização 25 16,0% 1 1,9%

Descriminalização 1 0,6% 0 0,0%

Vítima 18 11,5% 0 0,0%

Anistia 3 1,9% 0 0,0%

Armas de fogo 4 2,6% 0 0,0%

Segurança privada 3 1,9% 1 1,9%

Fiscalização 1 0,6% 0 0,0%

Processo 12 7,7% 0 0,0%

Prisão 8 5,1% 0 0,0%

Recursos 3 1,9% 5 9,3%

Estrangeiro 1 0,6% 0 0,0%

Subtemas

Membros 17 10,9% 6 11,1%

Estrutura 39 25,0% 18 33,3%

Função 27 17,3% 25 46,3%

Educação 8 5,1% 0 0,0%

Empresas privadas 2 1,3% 0 0,0%

Gráfico 23. Segurança Pública: PLs e PLPs por temas

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Gráfico 24. Segurança Pública: PECs por temas

Da amostra analisada, 145 manifestações entre PLs e PLPs eram pareceres, contra 49

entre as PECs, entre os chamados Parecer, Parecer de Emenda, Parecer Reformulado e

Parecer Vencedor. Entre as manifestações relativas a PLs e PLPs havia uma Complementação

de Voto e 10 Votos em Separado; entre as manifestações de PECs, uma Complementação de

Voto e dois Votos em Separado.

Das manifestações de PLs e PLPs, 36 foram pela inconstitucionalidade da proposição

em questão, contra 119 manifestações pela constitucionalidade e uma manifestação em que o

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tema da constitucionalidade sequer foi abordado. Trata-se de parecer do deputado João

Magalhães, a respeito do PL 4966/2005, em que o parecerista argumenta que a proposição,

por não afetar o orçamento, não deveria sequer ter sido enviada à análise da CCJ, e, assim,

termina sua manifestação sem argumentar pela constitucionalidade ou não e sem citar

dispositivos legais, princípios ou quaisquer outras formas de convencimento.

Quanto às PECs, 44 do universo de 52 manifestações foram pela admissibilidade, com

emendas ou não, contra 8 pela inadmissibilidade, inclusos nesses dois casos de

prejudicabilidade. É bastante interessante que, dos 8 casos de inadmissibilidade, 5 deles

apresentam princípios em sua argumentação, o que é uma fração elevadíssima, tendo em

conta que, do total das 52 manifestações, apenas 8 se referiram a princípios. Trata-se de um

parecer relativo à PEC 81/2007, dois relativos à 48/2003, um relativo à 151/1995 e um

relativo à 202/2007. Em quatro deles (PEC 81/2007, os dois da PEC 48/2003 e PEC

202/2007), o princípio citado para levar à inadmissibilidade (nenhum dos casos refere-se à

prejudicabilidade) foi o princípio federativo. No primeiro caso, a PEC levaria à submissão de

órgãos estaduais a uma lei federal; no segundo e terceiro casos, referentes a policiamento

militar em escolas municipais e estaduais, argumentou-se igualmente pela intromissão de uma

esfera em outra, indevidamente. No terceiro caso, o princípio federativo é citado, sem, no

entanto, ser utilizado como ponto principal da argumentação. A manifestação relativa à PEC

151/1995, que previa ascensão funcional de 50% das vagas de policial civil para a lotação do

total dos cargos, evocou o princípio da igualdade, citando doutrina (Seabra Fagundes, "O

princípio constitucional da igualdade perante a lei e o Poder Legislativo”, in Revista de

Direito Administrativo, Volume 41, e Celso Antônio Bandeira de Mello, "Conteúdo Jurídico

do Princípio da Igualdade”, 2ª ed., São Paulo, 1984) para reforçar seu ponto.62

Das 36 manifestações pela inconstitucionalidade dos PLs e PLPs, somente 5 se

referiram a princípios, num universo de 32 no total, o que parece indicar que o fenômeno

discutido quanto às PECs não se repete neste âmbito.

62 "A propósito desse princípio, é oportuna a lição do saudoso Seabra Fagundes, segundo a qual, se ‘o legislador elabora uma lei que discrimina pessoas que estão, pelas suas atividades, posições, etc..., em pé de igualdade, afasta-se do principio de isonomia; fere-o’ (‘O Princípio Constitucional da Igualdade perante a Lei e o Poder Legislativo’, ‘Revista de Direito Administrativo’; vol. 41, pág. 5). O renomado Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez, ensina que o objetivo do principio é impossibilitar desequiparações ‘fortuitas ou injustificadas’. No seu entendimento, as discriminações só se compatibilizam com ‘a cláusula igualitária apenas e tão-somente quando existe um vinculo de correlação lógica entre a peculiaridade diferencial acolhida, por residente no objetivo, e a desigualdade de tratamento em função dela conferida, desde que tal correlação não esteja incompatível com interesses prestigiados na Constituição’ (‘Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade’; 2ª ed., São Paulo. 1984, pág. 24). Afirma ainda o autor que ‘o ponto nodular para exame da correção de uma regra em face do principio isonômico reside na existência ou não de correlação lógica entre o fator regido em critério de discrímen e a discriminação legal decidida em função dele’ (ob. cit., p. 47).”

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109 manifestações relativas a PLs e PLPs foram pela aprovação e 77 pela rejeição. Em

todos os casos de declaração de inconstitucionalidade da proposição, o projeto foi rejeitado,

com exceção de um caso, que se trata mais de uma diferença de argumentação que de uma

admissão: admite-se, mas com apresentação de texto substitutivo que sabe a

inconstitucionalidade (PL 2859/1997, em parecer de José Genoíno). Quantos às PECs, 91

manifestações foram pela admissibilidade, 16 pela inadmissibilidade e 1 pela

prejudicialidade.63 Em todos esses casos, foi também decidido pela inadmissibilidade no

mérito.

Tabela 27. Segurança Pública: qualificação das manifestações

Manifestações 156 relativas a PLs e PLPs

52 relativas a PECs 100 %

Aprovação ou admissão 119 relativas PLs e PLPs

44 relativas a PECs

76,3%

84,6%

Rejeição ou inadmissão

36 relativas a PLs e PLPs

6 relativas a PECs (excluída a

prejudicialidade)

23%

11,5%

Prejudicialidade 2 relativas a PECs 3,8%

É interessante notar que 13 manifestações entre os PLs e PLPs não citam nenhum

dispositivo legal. Dessas, apenas um opina pela inconstitucionalidade da proposição, e o faz

pela menção ao princípio da razoabilidade, sem que qualquer dispositivo seja invocado (PL

327/2007, com relatoria de Osmar Dias, do PDT/PR). Dentre os demais, as manifestações,

além de não mencionarem nenhum dispositivo, não mencionam princípios, doutrina ou

decisões judiciais, e duas delas fazem referência a argumentos externos ao direito: PL

4559/2004, relatoria de Iriny Lopes, que traz dados empíricos e argumentos sociológicos à

argumentação,64 e PL 2190/1996, p arecer de relatoria de Marcelo Barbieri, que argumenta

63 As hipóteses de prejudicialidade estão nos artigos 163 e 164 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. No caso, foi considerado que a proposta havia perdido a oportunidade, conforme art. 164, I. 64 “No Brasil, 1.172 mulheres foram ouvidas por universidades e ONGs, a pedido da OMS, que trac ̧ou um painel dessas modalidade de viole ̂ncia em dez países. Na cidade peruana de Cuzco, registrou-se o maior índice de mulheres que declararam ter sido agredidas, enquanto o Japão apresentou o menor percentual -13%. Entre as que se disseram vítimas de viole ̂ncias físicas, 40% das paulistanas e 37% das pernambucanas afirmaram ter sofrido ferimentos e uma em tre ̂s foi hospitalizada em consequ ̈e ̂ncia das agressões. Em São Paulo, 25% das entrevistadas afirmaram ter sofrido viole ̂ncia física ou sexual desde os 15 anos e 12% relataram abuso sexual por parte de algum parente antes dessa idade.”

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somente que o Ministério Público deve acompanhar processos contra policiais militares,

porque, na prática, verificam-se muitos abusos. Os demais pareceres simplesmente aceitam a

proposição em questão sem estabelecer qualquer tipo de argumentação, por meio de frases-

chave como “o projeto não fere a constituição, e é, portanto, admissível, e não há qualquer

defeito que faça com que deva ser rejeitado no mérito”, como já discutido quanto às

proposições de competição política. Este tipo de parecer leva à compreensão de que o

parecerista compreende que a CCJ não deve se manifestar caso não encontre um defeito

manifesto.

Aqui, cabe também referência a que diversos dos votos, muito embora façam

referência a dispositivos legais, fazem-no somente no que diz respeito à constitucionalidade

formal. É o caso das manifestações relativas aos PLs 1214/2007, 90/2007, 90/2007,

4966/2005, 4511/2004, 2800/2003, 2339/2003, 2017/2003, 1903/2003, 418/2003, 250/2003,

04/2003, 7304/2002, 6684/2002, 5937/2001, 5546/2001, 5405/2001, 4361/2001, 2748/2000

2683/2000, 2505/2000, 2103/1999, 1860/1999, 1820/1999, 1498/1999, 1344/1999,

1023/1995, 2981/2004, 2981/2004, 1525/2003, 7491/2001, 4500/2001 (PLS 104/1994),

4121/2001, 1298/1999, 225/2006, 65/2006, 285/2005, 88/2007, sendo somente as últimas 4

manifestações da CCJ do Senado. São citados incisos dos artigos 22 a 24 da Constituição

Federal, o art. 48, art. 61 e Lei Complementar 95/98, para justificar a constitucionalidade /

inconstitucionalidade de cada uma das proposições.

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2.3.1 Fundamentos da argumentação: doutrina, jurisprudência, princípios e argumentos externos ao direito

Tabela 28. Segurança pública: citação de doutrina

Manifestações 156 relativas a PLs e PLPs

52 relativas a PECs 100%

Com citação de doutrina 14 relativas PLs e PLPs

7 relativas a PECs

8,9%

13,5%

Sem citação de doutrina 142 relativas a PLs e PLPs

45 relativas PECs

91%

86,5%

Tabela 29. Segurança Pública: citação de jurisprudência

Manifestações 156 relativas a PLs e PLPs

52 relativas a PECs 100%

Com citação de

jurisprudência

12 relativas PLs e PLPs

2 relativas a PECs

7,6%

3,8%

Sem citação de

jurisprudência

144 relativas a PLs e PLPs

50 relativas a PECs

92,4%

94,2%

Tabela 30. Segurança Pública: citação de princípios

Manifestações 156 relativas a PLs e PLPs

52 relativas a PECs 100%

Com citação de princípios 14 relativas PLs e PLPs

10 relativas a PECs

8,9%

19,2%

Sem citação de princípios 142 relativas a PLs e PLPs

42 relativas PECs

91,1%

80,8%

Tabela 31. Segurança Pública: citação de argumentos externos ao direito

Manifestações 156 relativas a PLs e PLPs

52 relativas a PECs 100%

Com citação de argumentos

externos ao direito

34 relativas PLs e PLPs

4 relativas a PECs

21,8%

7,7%

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Sem citação de argumentos

externos ao direito

122 relativas a PLs e PLPs

48 relativas PECs

78,2%

92,3%

Chama a atenção o baixo número de manifestações que citam doutrina e,

principalmente jurisprudência. No caso de manifestações relativas a PECs, igualmente ao

observado anteriormente quanto a competição política, é também baixo o número de

manifestações que recorrem a argumentos externos ao direito, mas relativamente alto o

número de manifestações que se valem de princípios. Algumas peculiaridades adiante

analisadas sobre a apreciação de PECs podem fornecer uma explicação para isso. Em relação

a PLs e PLPs, entretanto, é notável o fato de que há muito mais manifestações que se valem

de argumentos externos ao direito do que aquelas que se valem de doutrina e jurisprudência.

Das manifestações de PLs e PLPs que se referem a argumentos externos ao direito, 11

o fazem quando tratando de questões relativas à constitucionalidade, ou seja, quase um terço

das manifestações, o que contrasta com o a fração muito menor de manifestações nessa

situação no caso de competição política. Nos demais casos, os argumentos externos ao direito

aparecem na apreciação do mérito. E, ao contrário do que se evidenciou na análise de

manifestações acerca de competição política, dessas 11 manifestações, apenas 3 opinaram

pela inconstitucionalidade da proposição,65 de forma que o uso do argumento externo ao

direito na análise de constitucionalidade ocorreu, nesse caso, para argumentar da

constitucionalidade. É possível que a diferença se justifique pelo âmbito de que estamos

tratando, com conseqüências cuja análise foge do escopo deste trabalho. Somente em um

desses casos não houve a citação de princípios na mesma argumentação (PL 3657/2000), o

que demonstra que o uso de argumentos externos ao direito, nos dois outros casos, não veio

como justificativa única para a rejeição por inconstitucionalidade. É curioso o caso desse

único PL, rejeitado por conta de argumentos sociológicos. O parecer, que diz respeito a um

projeto que determinaria a competência da Justiça Federal quanto a roubo de cargas, utiliza-se

do art. 109 da CF para argumentar pela inconstitucionalidade. Ou seja, apesar de se referir à

constitucionalidade, o argumento sociológico veio em corroboração, e não como argumento

único. No desenvolvimento do parecer, constava a seguinte frase:

No mérito, penso a matéria não deve mesmo prosperar. Ao invés de mudar a competência, sou de opinião de que o necessário é um sistema integrado de informações e maior entrosamento entre as polícias. Aí sim, o país estaria apto a lutar contra as várias espécies de crime que vem nos assolando.

65 PL 144/2007, Parecer de William Woo, PL 3657/2000, Parecer de Alceu Collares, e PL 134/1999, Parecer de Leo Alcântara.

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Há outros cinco casos em que, muito embora a proposição tenha sido considerada

constitucional, foram utilizados argumentos externos ao direito como único recurso para

justificar a constitucionalidade, sem citação de doutrina, jurisprudência ou princípios. O PLS

7228/2006, com parecer de Demóstenes Torres, relativo à delação premiada, não faz

referências a outros dispositivos legais que não a lei 9.807, que a proposição visava alterar, e

traz à discussão basicamente argumentos sociológicos para justificar a necessidade da revisão

do instituto, para sua aplicação no caso de condenados presos. Assim,

Trata-se de importante proposição legislativa no contexto da recente onda de violência perpetrada pelo Primeiro Comanda da Capital (PCC) contra instituições públicas e privadas na capital de São Paulo (...). Como muito bem lembra a Justificação do PLS, o estabelecimento penal é um locus de circulação de informações, em que vários presos compartilham fatos relacionados a autores de crimes, a vitimas e a produtos de crimes, e a nossa legislação não fornece meios para que a Justiça possa se utilizar desses dados a partir de um preso que deseja colaborar em troca de redução de pena. Trata-se de uma arma fundamental para o combate ao crime organizado.

A manifestação do mesmo Demóstenes Torres acerca do PLS 7226/2006, tratando da

determinação de indisponbilidade de bens do acusado ou indiciado, cita apenas o Código de

Processo Penal, de maneira genérica, como argumentação, e fundamenta a aprovação da

proposição com a frase: “Trata-se de importante proposição legislativa no contexto da recente

onda de violência perpetrada pelo Primeiro Comanda da Capital (PCC) contra instituições

públicas e privadas na capital de São Paulo”. E outro parecer do senador, PLS 7225/2006, que

prevê ser falta grave a utilização de celulares por presos, é justificado com exatamente a

mesma frase que acaba de ser transcrita. E, por fim, parecer relativo à proposição 7223/2006,

dessa vez de relatoria de Edson Lobão, a respeito de instituição de Regime Penitenciário de

Segurança Máxima, citam-se duas leis (Lei nº 7.210, de 11 de junho de 1984, e a Lei nº

10.792, de 1º de dezembro de 2003), mas o voto é dado com base no seguinte argumento

sociológico:

De fato, em alguns casos, o isolamento do preso por um período de 720 dias faz-se necessário para quebrar definitivamente os vínculos com a organização criminosa. Hoje sabemos perfeitamente que não basta prender, pois existem criminosos que comandam organizações do interior do presídio, muitas vezes com a complacência de autoridades. Assistimos, entre os dias 12 e 15 de maio deste ano, a uma onda de violência em São Paulo orquestrada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que vem liderando insurreições nos estabelecimentos penais do Estado, alcançando, dessa vez, o Paraná e o Mato Grosso. Um balanço tenebroso de rebeliões, assassinato de policiais e civis inocentes, incêndios a ônibus e automóveis, tiros contra as unidades policiais, enfim, um verdadeiro estado de guerrilha urbana. O crime organizado quer incutir medo na população e desestabilizar os órgãos de segurança pública. Nunca houve, no Brasil, uma ação criminosa com conseqüências

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tão nefastas para a autoridade do Estado nacional. Não podemos admitir que os interesses individuais de alguns presos sobreponham-se ao interesse da coletividade. Quando olhamos para a caótica realidade do sistema prisional brasileiro, com unidades sendo inteiramente controladas pelo crime organizado, vemos que o poder público não tem alternativa a não ser agir com a máxima energia.

É bastante curioso que, das 5 manifestações encontradas que trazem argumentos

externos ao direito como justificativa única ou altamente preponderante, 4 delas são projetos

de lei inspirados pelos ataques do PCC em São Paulo em 2006, e as justificativas baseiam-se

nesses mesmos acontecimentos. É interessante observar como o choque produzido pelos

eventos parece ter gerado o sentimento de desnecessidade de qualquer justificação sistemática

do ponto de vista do direito para a aprovação de determinadas medidas que, de uma forma ou

de outra, agravassem a forma de execução da pena ou trouxessem o que se acreditam ser

vantagens à persecução penal de crimes tidos como merecedores de penas especiais, devido à

sua gravidade.

O último dos 5 casos mencionados é o PLS 7220/2006, com parecer de Álvaro Dias,

relativo a aumento de prazos prescricionais, que cita determinados dispositivos legais

(Constituição Federal, art. 5º, XLII e XLIII, e Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984), mas tem

como argumentação principal que determinadas condições sociológicas e históricas

determinam a necessidade de se rever os prazos prescricionais. Assim:

É manifesto, pois, o anacronismo da lei vigente. Nesse período, a sociedade brasileira passou por inúmeras fransformações, inclusive no que diz respeito ao aparecimento de novas formas de criminalidade, e a prescrição penal manteve-se rigorosamente estática. É que as tradicionais modalidades delituosas (crimes de lesão a bens jurídicos individuais) foram, pouco a pouco, cedendo espaço a outras espécies delitivas (crimes de perigo a bens jurídicos coletivos ou supra-individuais), percebendo-se uma progressiva sofisticação dos meios e modos de execução e de ocultação dos crimes. Pense-se, por exemplo, no crime de lavagem de dinheiro, que é, por excelência, uma forma de encobrir e mascarar os ganhos obtidos com as atividades ilícitas.

Trata-se de um tipo excepcional de parecer – aquele que baseia a inconstitucionalidade

da proposição em argumentação não propriamente jurídica – sendo que, nos demais casos de

inconstitucionalidade, predomina o esforço para elaborar a manifestação dentro de parâmetros

jurídicos, como será visto adiante. As próximas seções são dedicadas à análise daquelas

manifestações negativas, ou seja, as manifestações que concluem pela inadmissibilidade,

constitucionalidade ou rejeição. Tal análise é importante porque, nessas manifestações

negativas, faz-se presente um conflito político – a rejeição, por parte de um parlamentar, de

um projeto de lei elaborado por outro parlamentar – que se reveste de formas jurídicas – a

manifestação por meio de parecer sobre a constitucionalidade.

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Das 34 manifestações que apresentaram argumentos externos ao direito, 18 delas

referiam-se a argumentos sociológicos, exclusivamente; uma delas, a argumentos

econômicos; duas delas, a argumentos históricos; 2 a argumentos sociológicos e históricos, 4

a argumentos políticos, uma a argumentos políticos e biológicos, uma a argumentos

sociológicos e políticos, uma a argumentos sociológicos e morais, uma a argumentos

sociológicos e de autoridade, e uma a argumentos sociológicos e de vitimologia.

Tabela 32. Segurança pública: argumentos externos ao direito. PLs e PLPs

Argumentos sociológicos (exclusivamente) 18

Argumentos políticos 4

Argumentos sociológicos e históricos 2

Argumentos políticos e biológicos 1

Argumentos sociológicos e políticos 1

Argumentos sociológicos e morais 1

Argumentos sociológicos e de autoridade 1

Argumentos sociológicos e de vitimologia 1

Importa ressaltar, aqui, que o sentido dado a autoridade na manifestação em que algo

como uma autoridade foi percebido na argumentação é muito diferente do sentido percebido

no resto da pesquisa, em que argumento de autoridade é aquele que exclui uma argumentação

mais profunda por ser a autoridade suficiente para determinar uma decisão. Nesse caso (PL

2787/1997, por Luiz Antonio Fleury), que dizia respeito à limitação do porte de arma, a

autoridade foi trazida para a argumentação sem que isso pudesse importar um valor

sociológico ou histórico à afirmação, e sem que isso dissesse respeito especificamente ao

direito, também. Tratou-se de invocação de frase de Mahatma Ghandi: “Entre os muitos erros

do domínio britânico na Índia, a história irá considerar o ato de privar uma nação inteira de

armas como o pior”.

Nas PECs, apenas 4 casos trouxeram argumentos externos ao direito, sendo 2 deles

políticos, um etimológico e um etimológico e histórico. Todas essas PECs foram consideradas

admissíveis, com exceção da 253/2004, inadmissível por vincular recursos à segurança

pública sem distribuição aos entes federados, e na qual Denisse Frossard determina, com

argumentos políticos:

Não se há de confundir ORDEM (segurança interna e externa) com PROGRESSO (desenvolvimento econômico e social), embora ambos sejam os pilares de

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sustentação do Estado de Direito, como reconhecidos na famosa tríade de Augusto Comte (o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim).

2.3.2 Propostas de Emenda à Constituição: verificação de inadmissibilidade

Sendo os casos de inadmissibilidade e inconstitucionalidade mais raros, eles são, em

geral, aqueles que contêm uma justificação mais profunda, razão pela qual merecerão análise

mais detida.

Dos 8 casos da inadmissibilidade das PECs66, 5 citam princípios, sendo, em quatro

deles, o princípio federativo, e, em um (151/1995), o princípio da igualdade. Duas delas citam

doutrina (PEC 151/1995 e 202/2007), e somente uma cita jurisprudência. A manifestação

relativa à PEC 202/2007, por exemplo, cita princípios (princípio federativo), cita o

doutrinador Alexandre de Moraes, sem especificar a obra, e como argumento de autoridade,

faz referência a casos julgados e não se utiliza de argumentos externos ao direito. Trata-se do

único caso, entre as inadmissibilidades, de uso das três estratégias argumentativas.

Há um número relativamente alto de manifestações quanto à admissibilidade das PECs

que se utilizam de princípios, principalmente em relação ao todo, pois, como já demonstrado,

a citação de princípios está em 10 manifestações de um universo de 52, e temos, quanto à

inadmissibilidade, 5 casos em um universo de apenas 8. Isso nos permite reforçar o que já foi

concluído quando da análise de manifestações de competição política: esses números indicam

que os princípios ocupam papel central na verificação da inadmissibilidade PECs. Conforme o

exposto anteriormente, esse juízo de admissibilidade deve se centrar basicamente na

verificação dos requisitos do art. 60 da Constituição Federal. Todos esses requisitos são

formais, com exceção do disposto no § 4º desse artigo, que traz as chamadas cláusulas

pétreas. A verificação de inadmissibilidade de uma PEC foi, em todos os casos analisados em

que houve a utilização de princípios como recurso argumentativo, resultado da interpretação

dessas cláusulas, interpretação esta que se expressa invariavelmente por meio da invocação de

princípios. Em nenhum desses casos houve citação de argumentos externos ao direito.

Assim, pode-se afirmar o mesmo que já dito anteriormente: “a análise indica que as

manifestações por inadmissibilidade usam do caráter aberto dos princípios jurídicos,

especialmente daqueles que tomam a forma de cláusulas pétreas, para justificar a rejeição de

determinada PEC. Isso torna difícil apontar o quanto dessa rejeição é motivada por

66 PEC 202/2007, Parecer de Marcelo Itagiba; PEC 81/2007, Parecer de Bonifácio de Andrada; os dois pareceres da PEC 48/2003, de Silvinho Peccioli e Nelson Trad, os dois da PEC 24/2003, de Roberto Magalhães, e um da PEC 151/1995, Parecer de Régis de Oliveira.

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inclinações políticas ou por raciocínios estritamente jurídicos. É claro que a confusão entre

esses dois tipos de motivação é inevitável. Nas manifestações de inadmissibilidade Propostas

de Emenda à Constituição, no entanto, espera-se que haja um maior esforço de argumentação

jurídica, pois o juízo de admissibilidade localiza-se muito mais no campo jurídico que no

político, já que trata apenas da conformação geral da proposta à Constituição. Isso é assim

porque, sendo as PECs um instrumento de reforma constitucional, a função da CCJ ao

analisá-las não deve ser o exercício do controle de constitucionalidade em sentido próprio

nem a apreciação de seu mérito, o que seria ilegítimo, pois delegaria a poucos parlamentares

uma função que é de todo o corpo legislativo. A presente análise mostra que, muitas vezes, a

maneira como se estrutura a argumentação dos pareceres – com interpretações generalistas de

princípios – inviabiliza essa avaliação de legitimidade.”

2.3.3 Projetos de Lei e Projetos de Lei Complementar: inconstitucionalidade e rejeição

Conforme anteriormente exposto, a análise das manifestações relativas a PLs e PLPs

deve levar em conta que, além da constitucionalidade, também deve haver pronunciamento

sobre o mérito do tema proposto. Em 93 casos, ou 59,6% do total, a principal abordagem da

manifestação foi referente à análise de constitucionalidade. Destes, 31 casos são de

pronunciamentos pela inconstitucionalidade. Este resultado foi substancialmente diferente do

encontrado no caso de competição política, em que poucas das análises referiam-se à

constitucionalidade, e, destas, a maioria era relativa à inconstitucionalidade.

Tabela 33. PLs e PLPs em segurança pública: manifestações pela constitucionalidade/inconstitucionalidade x aprovação/rejeição

Manifestações 156 100 %

Constitucionalidade

119 76,3%

69,9% (do total)

6,4% (do total) Aprovação 109

Rejeição 10

Inconstitucionalidade

36

23%

0,6% (do total)

22,4% (do total) Aprovação 1

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Rejeição 35

Não há manifestação

expressa 1 0,6%

Das 35 manifestações pela rejeição e inconstitucionalidade, 11 citam princípios

(isonomia, separação de poderes, separação de competências, intimidade, razoabilidade,

direito adquirido), 5 citam doutrina, 5 citam casos julgados e 5 fazem referência a argumentos

externos ao direito. Novamente, é baixa a ocorrência de citação de doutrina e jurisprudência,

mas, neste caso, a estratégia argumentativa preferencial foi o uso de princípios e não de

argumentos externos ao direito. É também muito significativo o número de casos em que

nenhuma das estratégias argumentativas foi usada.

3. Supremo Tribunal Federal

3.1 Competição política

Sobre competição política, houve 17 ADIs. Não foi possível verificar um padrão de

argumentos. Apenas em quatro ações67 foram encontrados, no voto de pelo menos um

ministro, argumentos que se fundavam, ao mesmo tempo, em princípios, na doutrina e na

jurisprudência. Em nenhum voto lançou-se mão de argumentos externos ao direito. Em seis

ações68, houve pelo menos um ministro cujo argumento se amparou exclusivamente em

princípios. Em duas ações69, pelo menos um ministro fez referências apenas à doutrina, e em

três70, apenas à jurisprudência; em cinco71, pelo menos um ministro amparou seus argumentos

na doutrina e na jurisprudência. Em oito ações72, houve pelo menos um ministro que não

lançou mão de nenhum desses argumentos.

3.2 Reforma do processo

Sobre reforma do processo, houve 20 ADIs e uma ADC. Tampouco aqui pôde

ser estabelecido um padrão de argumentos. Em nenhum voto lançou-se mão, ao mesmo

67 ADI 354; ADI 1351/1354; ADI 3865; ADI 3741 68 ADI 354; ADI 956; ADI 958/966; ADI 1231; ADI 1351/1354; ADI 3685 69 ADI 833; ADI 1371 70 ADI 997; ADI 829/830; ADI 1377 71 ADI 829/830; ADI 1231; ADI 2395; ADI 3592; ADI 3685 72 ADI 354; ADI 829/830; ADI 956; ADI 958/966; ADI 1363; ADI 1377; ADI 2395; ADI 3685

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tempo, de argumentos baseados em princípios, na doutrina, na jurisprudência ou de

argumentos externos ao direito para fundamentar uma decisão. Em duas ações73, houve pelo

menos um voto que não empregou nenhum desses argumentos. Em duas outras74, houve, em

cada uma, um voto em que se faz referência apenas a princípios. Em quatro ações75, houve

votos que se referiam apenas à doutrina; em seis76, votos que se ampararam apenas na

jurisprudência; em uma ação77, um voto que recorre primordialmente a argumentos externos

ao direito, e em quatro ações, votos que combinam argumentos externos ao direito com

princípios78, doutrina e jurisprudência. 79 Foram identificados apenas uma ação80 e um voto,

em que o argumento se ampara em princípios e na doutrina, ao mesmo tempo. A combinação

de princípios com jurisprudência aparece em duas oportunidades81, e a de doutrina e

jurisprudência, em onze. 82

3.3 Segurança pública

Dentro dos parâmetros que orientaram a pesquisa, não foram encontradas ações que,

em sede de controle constitucionalidade, tivessem como objeto a segurança pública.

3.4 Crítica da argumentação

Percebe-se, de saída, que predominam, independentemente do assunto, quatro tipos de

argumentos, todos com a forma de um silogismo, cuja premissa maior e a conclusão são

normativas, e a premissa menor ou premissa fática, descritiva: no primeiro tipo, a premissa

maior resulta da interpretação que cada Ministro, em seu respectivo voto, faz da norma

jurídica positivada. Na ADI 3.685, por exemplo, verificam-se duas interpretações para o art.

16 da CF: de um lado, há os ministros que o consideram garantia individual do eleitor (Ellen

Gracie) ou cláusula pétrea material implícita (Carlos Britto); de outro, em interpretação

oposta, aqueles para quem esse dispositivo constitucional não é cláusula pétrea de nenhuma

espécie, podendo, assim, ser alterado por emenda constitucional (Eros Grau; Sepúlveda 73 ADI 492-1; ADI 1852 74 ADI 3453-7; ADI 1105 (medida liminar) 75 ADI 14; ADI 492-1; ADI 789-1; ADI 3367-1 76 ADI 14; ADI 2555-4; ADI 2652-6; ADI 2797 e 2860, apenso; e ADI 3566-5 77 ADI 1539-7 78 ADI 3453-7 79 ADI 1127; ADI 1539-7; ADI 2797 e 2860 (em apenso); ADI 3453-7; ADC 5MC 80 ADI 1105-7 (medida liminar) 81 ADI 1863; ADC 5MC 82 ADI 492-1; ADI 789-1; ADI 1127; ADI 1719-9; ADI 2970-3; ADI 2797-2 e 2860-0 (em apenso); ADI 3168-6; ADI 3367-1; ADI 1105-7 (medida liminar); ADC 5MC.

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Pertence). Nesse exemplo, percebe-se que o desfecho da ação dependerá da premissa

construída com base numa determinada interpretação da norma positivada: quem a considera

como cláusula pétrea, julgará procedente ADIs que pretendam impugnar emendas

constitucionais que modifiquem os termos desse artigo; quem não as assim considera, votará

pela improcedência da ação.

Há, pelo menos, duas maneiras de aplicar uma regra de direito positivo: de um lado,

interpretá-la, mediante leitura sistematizada da norma, isto é, o relator ou qualquer outro

ministro que se tenha estendido no voto articulará entre si todas as normas pertinentes,

sopesando-as, procurando assegurar-lhes o equilíbrio que devem manter entre si, como partes

de uma ordem jurídica organicamente articulada e sem contradições. A força desse tipo de

argumento está na lógica do raciocínio. De outro lado, a segunda maneira de aplicar-se uma

regra de direito positivo consiste em lançar mão de interpretação já feita ou pela

jurisprudência ou pela doutrina e usá-la no caso concreto. Nessa hipótese, são utilizados

outros argumentos, que escapam à leitura sistematizada da lei. Sua força não virá da lógica,

mas da aceitação de uma autoridade.

Com isso, chegamos ao segundo tipo de argumento preponderante, no qual a premissa

maior é extraída da jurisprudência, normalmente do próprio STF. Invoca-se uma decisão do

passado para fundamentar uma interpretação do presente, assumindo apenas que há, entre os

dois casos, semelhanças suficientes que justifiquem dar a um a mesma solução dada ao outro.

As referências a precedentes ocorrem normalmente mediante reproduções totais ou parciais de

votos, cujo autor pode ser tanto o próprio Ministro que cita a si mesmo, como outros ministros

da própria Corte, em atividade ou não.

No terceiro tipo de argumento, a premissa maior é extraída das obras escritas por

teóricos do direito, os "doutrinadores". Nos casos analisados, vários foram os votos em que se

citaram artigos, livros, palestras ou, pelo menos, o nome de um autor, cujas palavras são

referidas menos pelo que elas expressam, do que pela autoridade que se atribui à pessoa que

as profere. As obras referenciadas variam conforme o objeto da ação e conforme eventuais

predileções doutrinárias de cada ministro, mas, no conjunto das decisões examinadas, a

citação de autores nada mais é do que um argumento de retórica, para sustentar teses que não

terão validade, mas aceitação.

No quarto tipo de argumento, a premissa maior é extraída de princípios jurídicos,

como, apenas para citar três exemplos, os princípios da isonomia, do devido processo legal e

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da liberdade de expressão. Aplicação desses e de outros tantos princípios pode ser feita nos

mesmos moldes da norma escrita: mediante interpretação sistematizada, em que princípios

são sopesados uns com os outros, ou senão, mediante o recurso a argumentos de autoridade.

Além desses quatro argumentos preponderantes, foram também identificados casos em

que, recorrendo a outras áreas do conhecimento, o Ministro amparou-se em argumentos

externos ao direito, como, por exemplo, no julgamento da medida cautelar na ADC 5, em que

o Relator lança mão das palavras de conhecido antropólogo para demonstrar a importância

dos documentos de identidade no exercício da cidadania. Sem dúvida, temos aqui também um

outro tipo de argumento ab auctoritate, cuja autoridade, no entanto, não é um jurisconsulto,

mas sim um especialista de outra área.

Não há muita diferença entre decisões que se fundam em precedentes e aquelas

amparadas em doutrinadores do direito ou em especialistas de outras áreas, exceto por isto, no

primeiro caso, a decisão do passado a que se recorre para fundamentar a decisão do presente

foi proferida por uma autoridade estatal, cuja função é, num processo, distribuir justiça e

encerrar a controvérsia. Essa autoridade foi constituída, segundo critérios previstos na lei.

Nos outros casos, o julgamento funda-se numa conclusão a que chegaram duas pessoas sem

nenhuma autoridade formal, o teórico do direito e teórico das outras ciências, mas com a

autoridade intelectual que lhes foi atribuída pelo intérprete da norma jurídica. Essa diferença,

contudo, é irrelevante, se considerarmos que há mais semelhanças entre as três formas de

argumentação: como a doutrina e os argumentos externos ao direito, os precedentes não são

vinculantes, mas podem ser aceitos pelo intérprete da norma; da mesma forma que não há,

num processo judicial, espaço para questionar-se a validade de uma doutrina jurídica ou de

uma teoria não-jurídica, tampouco há espaço para pôr-se em discussão, num processo do

presente, a validade de um julgamento proferido no passado, pois esse questionamento, se ele

alguma vez efetivamente ocorreu, aconteceu no curso da ação, cujos votos são usados como

precedente. Não faz sentido retomá-lo; cabe apenas aceitar ou não, como argumento de

autoridade, as conclusões de cada voto.

De todos os argumentos identificados na pesquisa sobre o STF, os únicos que não se

apresentam como argumentos de autoridade são aqueles cuja premissa maior se extrai da

interpretação sistematizada da norma jurídica ou do princípio. A força desse tipo de

argumento, repita-se, não está na autoridade de um precedente ou na autoridade da pessoa que

emitiu tal ou qual parecer, mas na lógica do raciocínio.

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Um exemplo de semelhante argumentação encontraremos no voto dado pelo Ministro

Marco Aurélio, na ADI 354, pela qual se impugnava cláusula de vigência imediata da Lei

8.037/90, que, a poucos meses antes das eleições de 1990, introduzia na legislação eleitoral

normas relativas à apuração de votos. O artigo 2º. estabelecia que aquele diploma legal

entraria em vigor, na data de sua publicação. O Partido dos Trabalhadores (PT) impugnou

esse dispositivo, alegando violação do art. 16, da Constituição Federal, em cujos termos "a lei

que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à

eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência".

No centro do debate, o significado de "processo eleitoral". Teria a Lei 8.037/90, ao

modificar os artigos 176 e 177 do Código Eleitoral, alterado o processo eleitoral e, portanto,

violado a Constituição? O artigo 176 estabelece os critérios pelos quais o voto será atribuído

apenas para a legenda, nas eleições proporcionais; e o artigo 177 dispõe sobre as normas a

serem observadas, na contagem dos votos para as eleições realizadas pelo sistema

proporcional. Ora, a apuração faz parte do processo eleitoral? Em seu voto, escreve o Ministro

Marco Aurélio que a "conclusão a respeito decorre do próprio Código Eleitoral, do fato de

termos os artigos 176 e 177 inseridos no Título que cogita da apuração. E se esses artigos, que

compõem a Seção 'Da Contagem dos Votos', estão inseridos nesse Título, pelo menos sob a

minha ótica, dúvidas não pesam quanto à repercussão no processo eleitoral".

Cada voto pode conter dois ou mais tipos de argumentos. Conforme o caso, um

mesmo acórdão contém uma grande variedade de argumentos apresentados sobre o mesmo

problema. Vistos em conjunto, esses acórdãos revelarão que, sobre o mesmo assunto, diversas

coisas podem ser ditas, sem que haja necessariamente um diálogo, mas um tipo de

comunicação, em que cada um utiliza o argumento que lhe for mais conveniente.

Na mesma ADI 354, para demonstrar a tese de que a Lei 8.037/90 não altera o

processo eleitoral, sendo, portanto, constitucional, o Ministro Moreira Alves desenvolve, em

seu voto, dois tipos de argumento. No primeiro, realizando interpretação sistematizada do

direito, ele afirma que o termo "processo eleitoral", não se confundindo com direito eleitoral,

não abrange todas "as normas que possam refletir-se direta ou indiretamente na série de atos

necessários ao funcionamento das eleições por meio do sufrágio universal ─ o que constitui o

conteúdo do direito eleitoral ─, mas, sim, das normas instrumentais diretamente ligadas às

eleições, desde a fase inicial (a da apresentação das candidaturas) até a final (a da diplomação

dos eleitos). Note-se, porém, que são apenas as normas instrumentais relativas às eleições, e

não às normas materiais que a elas de alguma forma se prendam".

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Ao estabelecer limites para o sentido da expressão "processo eleitoral", esse tipo de

argumento mantém-se no plano da interpretação sistematizada do direito, respondendo, de

certa forma, à interpretação daquele termo feita pelo Ministro Marco Aurélio. Mas a

argumentação se desenvolve, e o Ministro Moreira Alves, considerando a norma impugnada

uma "norma de interpretação", apoia-se na doutrina, para sustentar a tese de que normas de

interpretação da vontade do eleitor "não pertencem ao campo do direito formal, mas, sim, ao

terreno do direito material, embora inseridas no capítulo relativo à apuração dos votos. O voto

nada mais é do que declaração de vontade de escolha do eleitor, e as regras de interpretação

dessa vontade são, tanto no direito privado quanto no direito público, normas de direito

material, e não de direito formal". Em seguida reproduz trecho da obra A interpretação dos

negócios jurídicos, de Danz, em que se afirma que as regras interpretativas são "preceitos de

direito material, visto ser por meio deles que se determinam os efeitos jurídicos dos negócios

interpretados e se criam direitos materiais para as partes, precisamente como as demais

normas do direito privado, ainda que por intermédio do juiz" (grifo no original).

Após essa mescla de argumentos fundados na interpretação sistematizada do

ordenamento com argumentos de autoridade, baseado na reputação atribuída a um certo

doutrinador, conclui o Ministro que as normas interpretativas, sendo normas de direito

material, "não integram o processo eleitoral como complexo de normas de direito formal, não

se lhes aplicando, portanto, o disposto no artigo 16 da Constituição. [...] as normas dos artigos

176 e 177 do Código Eleitoral alteradas pela Lei nº. 8.037 de 25 de maio de 1990 são

meramente interpretativas da vontade do eleitor na declaração que faz mediante o voto" (grifo

no original).

O conjunto dos casos examinados pode não revelar uma tendência, mas mostra o que é

possível acontecer na argumentação desenvolvida pelo STF em suas decisões. Como

características gerais, temos que cada acórdão resulta de um somatório de votos, que poderão

ser unânimes ou majoritários. Observam-se dois extremos: de um lado, votos longos, repletos

de citações de obras doutrinárias ou de precedentes, com introduções históricas e argumentos

externos ao direito. De outro, decisões concisas, em que um Ministro acompanha o Ministro-

Relator, simplesmente votando com ele, sem desenvolver uma justificativa própria.

Os votos mais longos fundam-se seja numa determinada interpretação da norma

positivada ou de um princípio, seja na autoridade de um precedente ou na de um doutrinador,

sendo comum o entrelaçamento de vários tipos de argumentos. Não deixam de chamar a

atenção as abundantes referências à jurisprudência e à doutrina. Embora sendo uma prática do

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direito inglês, o uso do precedente, nos dias de hoje, não chega a ser uma característica

exclusiva da common law. Em outros sistemas jurídicos, decisões pretéritas, ainda que não

vinculantes, fundamentam decisões do presente, e isso pode ser feito em consonância com o

princípio da segurança jurídica, pois a existência de precedentes torna previsível o

comportamento da Corte em relação a determinadas questões.

Já as frequentes referências a especialistas do direito ou de outras áreas do

conhecimento revelam um lado bizarro da jurisprudência brasileira. Citam-se autores nas mais

variadas circunstâncias, e não apenas juristas, mas também filósofos, sociólogos e

antropólogos.

Na ADI 3741, afirma o Ministro-Relator que o processo eleitoral extrai sua

legitimidade "de um conjunto de procedimentos aperfeiçoados de tempos em tempos, que se

destinam a evitar, o tanto quanto possível, a ocorrência de deformações e desequilíbrios,

conferindo a mais ampla credibilidade ao seu resultado final." Em seguida refere-se a Niklas

Luhmann e Jürgen Habermas, ao primeiro, por haver desenvolvido a teoria da legitimação

pelo procedimento; ao segundo, por ele ter dito que o Estado de direito repousa sobre um

'consenso procedimental'. Em seguida, afirma o Ministro que "a legislação eleitoral, sob esse

prisma, para conferir legitimidade aos resultados dos embates políticos, deve ensejar aos

eleitores não só o acesso a informações livres de distorções, como também assegurar às

agremiações partidárias e respectivos candidatos uma participação igualitária na disputa pelo

voto, impedindo também que qualquer de seus protagonistas obtenha vantagens indevidas."

O que fazem Luhmann e Habermas nesse voto? Suas respectivas teorias são

complexas, se desenvolvem num nível de abstração elevado, no qual o direito cumpre a

função de assegurar expectativas (Luhmann) e de realizar a mediação entre o poder político, o

poder econômico e os grupos sociais (Habermas). Não são teses jurídicas. Quando citadas

numa decisão judicial, aparecerão, no argumento, inevitavelmente como um corpo estranho,

que somente do ponto de vista da retórica pode ter algum sentido. Sob outras perspectivas, a

referência a esses autores é irrelevante para a conclusão do raciocínio. Afinal, por que as

alterações normativas introduzidas pela lei impugnada devem ser compreendidas à luz das

teorias de Luhmann e Habermas? Por que procurar nesses autores, e não no ordenamento

jurídico, "o ideal de um processo eleitoral livre e democrático"?

Se a interpretação sistematizada da lei extrai sua validade da lógica jurídica, a

fundamentação mediante precedentes será um argumento de autoridade, que encontrará no

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princípio da segurança jurídica seu principal respaldo. A invocação da doutrina, por sua vez,

sustentando-se somente como argumento de autoridade, fia-se na reputação que o intérprete

da norma tem do doutrinador, e apenas nela, pois não há, num ordenamento jurídico racional,

princípio de direito que justifique ou dê respaldo para citações doutrinárias.

Em suma, nos casos analisados, os Ministros do STF podem servir-se de toda sorte de

argumentos para fundamentar suas respectivas decisões. Não há propriamente um padrão

decisório, pois um ou mais tipos de argumentos podem ser utilizados num mesmo voto,

indistintamente. Se algum padrão houver, ele não poderá ser descrito de outra forma, senão

como um mosaico de argumentos de tipos diversos, dos quais são exemplos aqueles

apontados na pesquisa: os argumentos que recorrem a uma interpretação sistematizada da lei e

dos princípios de direito e os que lançam mão da doutrina, da jurisprudência ou da opinião de

especialistas de áreas não-jurídicas.

Esse elenco de possibilidades admite tanto os votos que se fundam em somente um

argumento, como aqueles que lançam mão de mais de um, sendo mesmo possível que,

utilizando suas palavras como argumento de autoridade, Ministros citem a si próprios, seja

referindo-se aos textos acadêmicos que escreveram, seja aos votos que proferiram em

julgamentos anteriores, seja a ambos.

Nessas condições, a técnica jurídica pode ser utilizada como elemento de legitimação,

para dar à decisão arbitrária a aparência de decisão fundamentada. Sobretudo graças aos

argumentos de autoridade, a decisão judicial não assumiu, nos casos estudados, nem o caráter

de um campo de disputa pelo sentido das normas, nem o caráter de um espaço para decisões

em nome de uma verdade inquestionável, mas sim o caráter de algo que busca assegurar uma

determinada aparência, fazendo ter feição justa e legal aquilo que cada Ministro, em seu voto,

considera justo e legal.

4. Vetos

Os vetos do Poder Executivo são a manifestação discordante do Presidnte da

República que impede a transformação de uma proposição legislativa em lei. O veto é

irretratável e deve ser motivado, seja por via do controle de constitucionalidade (controle

preventivo) ou por contrariedade ao interesse público. O veto pode ser total (íntegra do texto

da lei) ou parcial, atingindo apenas dispositivos da lei. No caso de veto parcial, somente a

parte vetada é devolvida ao Congresso Nacional, e pode ser superado por votação em sessão

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conjunta no Congresso Nacional, por maioria absoluta de deputados e senadores, em

escrutínio secreto (CF, art. 57, IV).

Como já exposto no item II deste relatório, os vetos proferidos pelo Presidente da

República sobre os temas de segurança pública, competição política e reforma do Judiciário e

do Processo foram obtidos a partir de todas as proposições jurídicas cadastradas que se

tornaram normas jurídicas. Contudo, como foi possível constatar ao longo da análise

quantitativa dos bancos de proposições (item III), pouquíssimas proposições tornaram-se

normas jurídicas, o que implicou em um número ainda menor de vetos. Os vetos levantados

concentram-se nos temas de competição política (total de 6 vetos) e segurança pública (4

vetos), e apenas 2 sobre reforma do Judiciário e do Processo.

Os 12 vetos identificados e examinados (mensagens 421/ 1990, 898/1990, 275/1993,

977/1995, 1005/1995, 555/2004, 78/2006, 724/2006, 1.047/2006, 350/2008, 903/2009 e uma

não identificada sobre a Lei 10. 826/2003) argumentam sobre:

i. técnica legislativa:

ii. veto em razão de haver artigos iguais em outras leis – Mensagem 555,

iii. artigo que permaneceu na versão final por equívoco do congresso – Mensagem

sobre a Lei 10. 826/2003,

iv. problemas na data de promulgação da lei – Mensagem 1.047,

v. artigo não é coerente com o restante da lei ou regulação geral da matéria -

Mensagem 350, 724, 78, 903, 85;

vi. violação da constituição:

vii. prerrogativas do Ministério Público da União – Mensagem 275,

viii. competência da Justiça do Trabalho – Mensagem 808

ix. competência do Ministério Público – Mensagem 85

x. violação das regras federativas – Mensagens 903, 724, 1.223, 85;

xi. imunidade tributária a partidos – Mensagem 977,

xii. violação da separação de poderes – Mensagem 724

xiii. violação de princípio do direito (dogma da impenhorabilidade absoluta

das verbas de natureza alimentar – mensagem 1.047, isonomia em relação aos

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radialistas – mensagem 421, criação de privilégio para celetistas não concursados

– Mensagem 898)

xiv. desequilíbrio nas contas públicas, administração financeira (mensagem

78, 977, 1.223, 1005, 898).

Consideramos de técnica legislativa argumentos sobre má redação, incoerência do

artigo em relação à lei ou outros problemas que não sejam substanciais, violação à

constituição ou ao direito quando tal alegação é expressa no texto do veto; o mesmo vale para

desequilíbrio nas contas públicas ou problemas para a administração financeira. Interessante

notar que a jurisprudência do STF é citada três vezes (Mensagens 724, 898, 903) para

justificar as razões do veto, mas nunca como argumento central.

A análise deste mapa de argumentos se completaria apenas com um exame mais

detido de todos os problemas envolvidos nestes vetos, objetivo que foge aos limites deste

trabalho. A variedade de assuntos é imensa e as questões jurídicas muito variadas. Para o que

nos interessa, é interessante notar que os vetos, além de serem muito sucintos e diretos, tratam

de uma gama relativamente limitada de assuntos, concentrando seus argumentos em temas

relativamente limitados.

Sua feição é primordialmente técnica, seja ao falar da técnica legislativa, seja ao falar

de problemas constitucionais ou desequilíbrio nas contas públicas. Não há argumentos sobre

problemas sociais mais amplos, discussões morais, éticas ou econômicas de maior alcance e

sim questões mais precisas e pontuais ligadas aos interesses do executivo. Por isso mesmo, é

difícil identificar o impacto de qualquer força social ou agente na argumentação dos vetos.

Eles parecem ser presididos, de fato, por considerações mais restritas.

É claro que uma análise mais fina poderia revelar que, o que parece uma

argumentação estritamente técnica tem, na verdade, alto impacto político. Daí mencionarmos

a necessidade de, em pesquisas futuras, descer à minúcia dos problemas aqui tratados,

levando em conta os assuntos de que tratam os vetos. Mesmo assim, nossas conclusões são

adequadas para mostrar a maneira pela qual o texto dos vetos se apresenta diante da

sociedade, diante de seus leitores. O texto é sóbrio, não abre espaço para debates de largo

alcance, fixa-se em considerações pontuais, procura ser preciso e econômico, ou seja, não é

uma peça voltada para o debate na esfera pública, para uma audiência mais ampla.

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IV. ESTUDOS DE CASO – UMA PASSAGEM PELAS TRÊS INSTÂNCIAS

Para concluir esta análise, faremos algumas uma comparação direta entre vetos

presidenciais, pareceres da Comissão de Constituição e Justiça e Acórdãos do STF, possível

apenas em seis casos em que nossa pesquisa identificou documentos relativos à atuação das

três instituições:

1 – Projeto de lei 1555/2003, ADIN 3.112-1/2007 e veto;

2 – Projeto de lei 4.064/1990, ADIN 789-1/94 E Mensagem 274;

3 – Projeto de lei 515/1991, ADIN 1377-7/1998, Mensagem 85;

4 – Projeto de lei 1.480/1989, ADIN 1539-7/2003, Mensagem 1005;

5 – Projeto de lei 5.855/2005, ADIN 3741-2/2006, Mensagem 345;

6 – Projeto de lei 5.504/1990, ADIN 492-1/1992, Mensagem 898.

Novamente, é preciso reafirmar que não há espaço aqui para uma análise profunda de

cada um desses casos, pois eles envolvem problemas muito diferentes e se referem a

contextos políticos e sociais igualmente diversos. O que nos interessa neles é, por um lado,

verificar sua congruência com a análise feita a partir das tabelas, identificando eventuais

discrepâncias em seu perfil, o que pode revelar, de outro lado, possibilidades diferentes para a

utilização destas instâncias. Em suma, o caso individual pode revelar peculiaridades que

revelam potenciais não explorados destas instituições. A afirmação será aclarada adiante.

A análise feita a partir das tabelas revelou com certa clareza a presença de perfis bem

diversos entre as três instâncias de controle de constitucionalidade. Até onde pudermos ver,

predominam argumentos técnicos sobre discussões políticas, econômicas e sociais de mais

amplo alcance no STF e quanto aos vetos. Na CCJ, há incidência significativa de argumentos

exteriores ao direito, mas também de argumentos técnicos. Com efeito, a CCJ parece ser o

espaço em que há incidência de mais espécies de argumento: STF e vetos apresentam uma

argumentação menos variada.

Uma questão que chama a atenção nos dados é, justamente, a variação na maneira de

funcionar de cada instância em casos diferentes. Em alguns casos, a CCJ funciona como um

espaço de argumentação neutra e com pouca incidência de argumentos externos a direito e em

outros casos não. Da mesma forma, em alguns casos o STF argumenta de forma mais técnica,

sem a presença de muitos votos dissidentes e argumentos externos ao direito. Em outras, há

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controvérsias e dissidências entre os juízes, mesmo quanto à problemas técnico-jurídicos. Esta

variação, que será exemplificada adiante, demanda explicação.

Vamos exemplificar em seguida os dois casos com exemplos colhidos entre os seis

acima. Mas é importante enfatizar, insisto, que há casos em que o debate se torna mais aberto,

plural e incerto, em que a discussão deixa os termos estritos da técnica jurídica e legislativa e,

expressamente, toca em problemas sociais gerais, traz à colação afirmações de técnicos e

especialistas, professores e lideranças da sociedade civil. Claro, neste caso, a argumentação

tende a ser mais complexa, a levar em conta mais elementos, assumindo feições mais

democráticas e abertas e menos cerradas e fundadas na autoridade, seja por meio de

argumentos de autoridade (que, com efeito, não são nada freqüentes em nenhuma das

instâncias) ou argumentos técnico-jurídicos que se apresentam como a única solução correta,

sem votos dissidentes.

Para explicar essa variação, separemos os casos em três grupos. O primeiro, composto

do caso 1, o segundo pelos casos 2 e 3 e o terceiro pelos demais casos. Classificaremos o

primeiro grupo como composto por problemas de alta voltagem política, o segundo por

problemas de média densidade política e o terceiro por problemas de baixa densidade política.

No primeiro, mobiliza-se a esfera pública em geral em função da inexistência de um acordo

social prévio e estabilizado sobre qual rumo se deve tomar. É de se esperar que, neste caso, as

instituições sejam mobilizadas de forma mais intensa, que argumentos de diversa a natureza

surjam em todos os fóruns em que forem admitidos, com grande presença de argumentos

externos ao direito. O tema do caso 1, a saber, é a lei do desarmamento.

No segundo grupo, há controvérsia, mas a mobilização atinge, em primeiro lugar, a

esfera pública especializada, nos casos em questão, trata-se das características de uma

instituição chama MP junto ao tribunal de Contas (caso 4) e o problema dos juizados

especiais cíveis e penais (caso 3). As discussões referem-se, no primeiro caso, a problemas

que envolvem carreiras de estado e seus interesses mais diretos, e, no segundo, à forma de

organização do Poder Judiciário, problema que, historicamente, é preocupação mais direta dos

juristas e dos membros das profissões jurídicas e não do público em geral. Este caso pode,

certamente, levantar dúvidas quanto à sua classificação, pois o poder judiciário tem sido

objeto de atenção da grande imprensa e seus temas têm recebido atenção nacional. De

qualquer forma, o material analisado sugere que sua intensidade política é menor, afinal, no

caso há presença marcante de argumentação com fundamentos os mais variados e em termos

menos técnicos, especialmente na CCJ.

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No terceiro grupo estão reunidos casos de baixa intensidade política, em que a

discussão na CCJ soa como meramente formal, por exemplo, limitando-se a corrigir detalhes

dos projetos ou a dar redação conjunta a projetos semelhantes criando um substitutivo. O

mesmo perfil técnico e formal perpassa as demais instâncias.

Com essas três categorias podemos formular diversas hipóteses para explicar as

variações que encontramos nos dados apresentados. Como já dissemos acima, os casos de alta

voltagem política apresentam argumentos externos ao direito de forma mais significativa e um

perfil de argumentação mais aberto, variado e democrático. Os casos de baixa voltagem

limitam-se a discussões mais técnicas, sem atingir a esfera pública mais ampla, e os de média

voltagem ocupam uma posição intermediária entre os dois.

Neste ponto, algumas observações conclusivas. Primeiro, ao longo do texto excluímos

os vetos como espaço possível de debate político sobre os problemas de que estamos tratando

aqui. Ao contrário das duas outras instâncias, CCJ e STF, há menos espaço naquele âmbito

para argumentos políticos, sociológicos etc. e mais espaço para questões técnicas e jurídicas.

Em nosso caso paradigmático, o caso 1, o veto se limita a dizer que um parágrafo de artigo

que deveria ter sido eliminado na redação final restou por engano e por isso precisa ser

vetado. Tomando esta afirmação por seu valor de face, não estamos diante de uma discussão

política aberta, mas de uma mera correção de um erro. Não é nosso objetivo nesta pesquisa

averiguar, empiricamente, o desenrolar do processo político e suas relações com estas

instituições formais. Mas de qualquer forma, os vetos são menos abertos a argumentos

externos ao direito, provavelmente, porque a maioria dos projetos que se tornam lei sejam de

iniciativa do Executivo e, portanto, este poder influi no debate político de outra forma.

Segunda observação: os três grupos acima caracterizados resultam do exame do

material empírico apresentado e não correspondem, necessariamente, com a importância do

conflito para a esfera pública. Pode ocorrer, por exemplo, que um conflito que apareça como

de alta intensidade política na esfera pública, ao chegar às instituições formais seja figurado

como de baixa ou média intensidade. Por exemplo, os dados relativos ao caso 1 fossem

diferentes, ou seja, se os debates na CCJ fossem menos acirrados, sem tantos votos em

separado e variação de argumentos e não houvesse tantos votos dissidentes no STF em um

julgado de 256 páginas. Se fosse este o caso, as categorias que elaboramos aqui ajudariam a

pensar as razões pelas quais este fenômeno ocorreu. Utilizando-as, seria possível levantar

questões como: A sociedade está aproveitando o potencial apresentado pelas instituições

formais ou elas são cerradas demais para deixar a sociedade influir sobre elas? Porque, em

determinado caso, há alta controvérsia social e pouco debate no Parlamento e no STF? Talvez

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porque os representantes do povo e o STF não estejam levando em conta todos os interesses

em jogo e seus respectivos argumentos?

Terceira observação: como já dissemos acima, no que se refere ao debate estritamente

técnico jurídico, a análise do caso 1 traz dados interessantes. A mera existência, neste caso, de

opiniões divergentes, argumentos diversificados para fundamentar posições jurídicas

apresentadas sob a forma técnica deixa claro que a técnica jurídica, ela mesma, não funciona

em apartado dos argumentos externos ao direito. Em casos de baixa intensidade política, tudo

se passa como se a decisão decorresse de meras considerações sobre o sentido deste ou

daquele artigo de lei, deste ou daquele texto legal.

No entanto, os casos politicamente mais controversos, que levam os juízes a divergir

expressamente, a presença de soluções variadas, todas sustentadas com base no Direito posto,

como o caso 1, revela que há várias possibilidades de decidir tecnicamente sobre um mesmo

problema. Ou seja, há maneiras tecnicamente conflitantes de abordar um mesmo caso, o que

mostra que mesmo argumentos estritamente jurídicos estão ligados a considerações de outra

natureza. Neste caso, haverá alta incidência de citação de doutrina, jurisprudência a textos de

lei, pois cada juiz irá apresentar o problema de uma maneira diferente, apresentando soluções

de perfil diverso.

Para deixar este ponto mais claro, façamos uma analogia: coisa semelhante ocorre, por

exemplo, quando consultamos dois médicos e perguntamos, em casos mais complexos, qual é

o melhor tratamento a ser aplicado ao paciente. Um médico pode decidir operar, com base em

certas considerações e outro, prefere prosseguir com a posologia de um medicamento

qualquer. Duas soluções técnicas que diferem no modo de abordar o mesmo problema.

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V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo mapear a argumentação sobre controle de

constitucionalidade que tem lugar na CCJ, no STF e nos vetos do Executivo. Os dados

permitiram identificar os argumentos utilizados nos temas de segurança pública, reforma do

processo e competição política e traçar um perfil da argumentação em cada uma dessas

instâncias quanto à presença ou não de argumentos externos a direito e argumentos de

autoridade.

A possibilidade de traçar este perfil permite a pesquisas futuras, investigar, a partir do

processo político efetivo, como as instituições formais reagem a ele. Para tanto, a

identificação de casos de alta, média e baixa voltagem política a partir do exame dos

documentos de cada uma dessas instâncias permite que o analista se dirija à sociedade civil

para investigar como as instituições formais figuram os conflitos sociais. A identificação

destes casos passa, exatamente, pela análise do perfil dos argumentos presentes em cada uma

dessas instâncias, como dissemos na conclusão da parte qualitativa desta pesquisa.

Além disso, é importante ressaltar que a pesquisa descreveu em detalhes os bancos de

dados que contém documentos sobre controle de constitucionalidade o que, especialmente no

que se refere à CCJ, é um resultado importante. Trata-se de uma instituição pouco estudada,

cuja literatura posterior irá se beneficiar dos dados coletados aqui. O mesmo se pode dizer, em

certa medida, quanto aos vetos, que também carecem de estudos sobre seu funcionamento no

sistema de controle de constitucionalidade.

Ademais, a análise quantitativa apresentou os principais dados sistematizados nos

bancos construídos, sobre os temas segurança pública, competição política e reforma do

Judiciário e do Processo. Os bancos incluem proposições legislativas, vetos do Poder

Executivo e acórdãos do Supremo Tribunal Federal entre os anos de 1995 e outubro de 2009,

ou seja, os dois governos FHC e o primeiro e atual governos Lula. No total, foram cadastradas

e analisadas 2019 proposições legislativas, 12 vetos e 742 acórdãos do STF.

Em relação aos projetos de lei, os dados obtidos revelam que um a produção

legislativa em matéria de segurança pública é crescente ao longo dos anos, enquanto se

mantém constante quando se trata de competição política. Contudo, a maior parte das

proposições é arquivada, e apenas um número ínfimo é transformado em norma jurídica.

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Aqui, merece destaque a iniciativa do Poder Executivo na apresentação de propostas, dado

que, dos poucos projetos que viraram lei, a maior parte é de autoria deste Poder.

Os dados obtidos sobre o STF revelam que as ações diretas de inconstitucionalidade

são o principal instrumento de partidos políticos e confederações sindicais para acessarem à

Corte. Destes, têm relevância a atuação do PT, PDT e PC do B, especialmente ao longo dos

dois governos FHC. Do total de decisões analisadas, quase a metade das decisões de mérito é

pela improcedência da demanda, 28% pela procedência integral e o restante pela procedência

em parte.

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