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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
JULIAN STEMMLER
PROJETO DE INTERVENÇÃO: CENTRO SOLIDÁRIO DO TEJUCO / SÃO JOÃO DEL-REI
Polo Juiz de Fora / MG 2016
JULIAN STEMMLER
PROJETO DE INTERVENÇÃO: CENTRO SOLIDÁRIO DO TEJUCO / SÃO JOÃO DEL-REI
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso
de Especialização em Estratégia Saúde de Família, da
Universidade Federal de Minas Gerais, para obtenção do
Certificado de Especialista.
Orientadora: Prof.ª Ms. Helena Mara Dias Pedro
Polo Juiz de Fora / MG
2016
JULIAN STEMMLER
PROJETO DE INTERVENÇÃO: CENTRO SOLIDÁRIO DO TEJUCO / SÃO JOÃO DEL-REI
Banca examinadora Examinador 1: Profª Ms. Helena Mara Dias Pedro, UFMG
Examinador 2 – Profª. Polyana Oliveira Lima – UFAL Aprovado em Belo Horizonte, 09 de Maio de 2016.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos movimentos sociais do Brasil.
RESUMO
O presente estudo propõe uma intervenção direcionada para dois grupos
“vulneráveis” do bairro de Tejuco em São João Del-Rei, identificados no nosso
bairro: a população idosa por serem portadoras de síndromes de doenças crônicas,
e a população jovem por ser exposta a riscos de saúde como consequência da
prática de alimentação inadequada, violência, uso de drogas, gravidez na
adolescência, etc. Conforme o Censo IBGE/2010 vivem 15.699 habitantes nesta
área, sendo a localidade em tela também conhecida pelos seus graves problemas
sociais, tais como: alto índice de violência por assassinatos, forte presença de
dependentes químicos e significante número de casos de violência doméstica.
Apresentamos uma proposta de intervenção com enfoque na promoção da saúde
dos jovens e dos idosos através do projeto “CENTRO SOLIDÁRIO”, norteada pelo
Planejamento Estratégico Situacional segundo Campos, Faria, Santos (2010). O seu
eixo principal consiste na prática de dança em grupo, pelos jovens e no cultivo de
plantas medicinais na horta, pelos idosos. O trabalho com a medicina baseada em
fitoterapia, chás e pomadas naturais, é baseado em estratégias participativas e
metodologias inovadoras no processo educativo, como por exemplo, as propostas
do grande educador brasileiro Paulo Freire. Pretende-se oferecer aos participantes
uma oportunidade de se adotar um estilo de vida mais ativo, com vistas à promoção
da saúde, redução do risco de desenvolvimento de doenças e melhora da qualidade
de vida. Assim, podemos oferecer um ambiente saudável e interessante para
encontros e desenvolvimento de formas de expressão corporal.
PALAVRAS-CHAVE: projeto de intervenção, dança em grupo, fitoterapia.
ABSTRACT
This study is aimed to develop a proposal of health-intervention of preventive
medicine for two "vulnerable" groups identified in the neighborhood Tejuco, located in
São João Del-Rei: The elderly population of the area for dealing with chronic
diseases syndromes and young people for being exposed to health hazards as a
result of the practice of inadequate nutrition, violence, drug use, teen pregnancy etc.
According to the IBGE / 2010 Census 15,699 inhabitants live in this area, also known
for its serious social problems, such as high rate of violence, murders, drug addicion
and domestic violence.We are presenting an intervention project which has a focus
on promoting the health of young people and the elderly in the project "SOLIDARITY
CENTER", which is structured by the principles of Situational Strategic Planning
according to Campos, Faria, Santos (2010). There will be offered dancing lessons for
young people and a garden for the cultivation and procession of medical plants for
the elderly, supervised by health professionals and dance professionals. Our
strategies of working with medical plants and herbs, as natural teas and pomades,
are based on participatory strategies and innovative methodologies in the
educational process, such as the proposals of the great Brazilian educator Paulo
Freire. It is intended to provide for the participants an opportunity to adopt a more
active lifestyle, promoting health, by preventing diseases and improve quality of life.
Key words: preventive health-intervention, dancing lessons, medical plants.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 7 2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................... 9 3 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 10 4 METODOLOGIA .................................................................................................................. 11 5 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................. 12 6 PLANO DE AÇÃO ............................................................................................................... 15 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 33
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1 INTRODUÇÃO A proposta do projeto “CENTRO SOLIDÁRIO” é de proporcionar um caminho
para melhorar o nível de saúde, da qualidade de vida e dos relacionamentos,
incentivando a criatividade, o companheirismo e a valorização da própria cultura
para os moradores do bairro Tejuco, localizado na cidade de São João Del-Rei, no
estado de Minas Gerais.
Conforme o Censo IBGE/2010 vivem 15.699 habitantes nesta área, sendo a
localidade em tela também conhecida pelos seus graves problemas sociais, tais
como: alto índice de violência por assassinatos, forte presença de dependentes
químicos e significante número de casos de violência doméstica.
Muitos projetos e atividades já foram implementados visando transformar esses
condicionantes. Porém, ainda falta uma iniciativa prática que englobe as dificuldades
de maneira multidisciplinar e, ao mesmo tempo, identifique as possibilidades
existentes de enfrentamento.
Localizado numa sede com auditório, um salão e uma horta de plantas
medicinais, o projeto pretende articular algumas atividades multiplicadoras, de
caráter didático-pedagógico, nas escolas públicas do entorno. Essa iniciativa procura
estabelecer contato com os moradores, focando as ações junto à juventude local.
Esses representantes do futuro do bairro Tejuco conformam o segmento privilegiado
para as intervenções continuadas das propostas orientadoras de uma saúde
preventiva. Nesta lógica, o projeto consiste de diferenciadas frentes de atuação,
como: a horta de plantas medicinais e a oficina de dança contemporânea
terapêutica.
A horta das plantas medicinais tem os seguintes objetivos: Disponibilizar
formas de terapia para doenças crônicas ao alcance financeiro das pessoas com
baixa renda, aproveitando do conhecimento tradicional popular e da flora local ao
invés de investir em terapias propostas pela indústria farmacêutica multinacional;
melhorar a qualidade de vida e aumentar o prazer no dia a dia; estimular a
identificação interativa das pessoas com o bairro; promover a saúde mental e física
com trabalhos em grupos e atividades físicas; aprender o processo da preservação,
cultivo e utilização de vegetais com atuação farmacológica; disponibilizar formas de
terapia com baixo custo; gerar o desenvolvimento de uma vida mais saudável e
realizada; diminuir casos de problemas psicossomáticos dos usuários; adquirir
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hábitos alimentares saudáveis; proporcionar esclarecimentos na população sobre
preservação, cultivo e utilização de vegetais com atuação farmacológica; reduzir
dependência das terapias da indústria farmacêutica multinacional; identificar
problemas comuns em pessoas idosas com doença crônica; estimular a
identificação interativa das pessoas com o bairro; afirmar a autoconfiança de cada
indivíduo; fornecer possibilidade de conexão com a natureza.
A oficina/laboratório de dança contemporânea terapêutica tem os seguintes
objetivos: Estabelecer contato com os jovens, incentivando a criatividade dos
participantes; incentivar valores básicos como companheirismo, responsabilidade e
resiliência, por exemplo interagindo com o grupo na aula de dança contemporânea;
aumentar sintonia da alma com corpo através de dança expressiva e técnicas de
relaxamento em situações de estresse; visar propostas existentes de projetos na
ENSP - Escola Nacional da Saúde Publica e na FIOCRUZ - Fundação Oswaldo
Cruz.
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2 JUSTIFICATIVA Com o “CENTRO SOLIDÁRIO” buscaremos captar os principais problemas do
bairro de forma holística e, simultaneamente prática. Fundamentalmente, levando
em consideração as condições de vida das pessoas moradoras nessa localidade
(VASCONCELOS, GRILLO, SOARES, 2009). O foco interventivo parte do
pressuposto que para resolver problemas do dia-dia, resultantes dos
desdobramentos dos conflitos sociais anteriormente mencionados, é necessário
afirmar a autoconfiança nos individuos moradores em concomitância com o respeito
pelos outros sujeitos da coletividade e, consequentemente, gerar o desenvolvimento
de uma vida mais saudável e realizada (CORRÊA et al. In LEÃO, 2005).
Factualmente urge a necessidade de ações propositivas para auxiliar na
superação de uma desesperança instaurada. Desta maneira, investir no
empoderamento, a fim de que a própria comunidade empodere-se e, desta forma,
possibilitar a geração de novas perspectivas para aperfeiçoar a própria qualidade de
vida. Assim sendo, a fundamental ação estratégica do projeto “CENTRO
SOLIDÁRIO” consiste em valorizar cada pessoa com as suas características
específicas, seus talentos, sua história pessoal e cultura.
Foi elaborado um plano de intervenção com vistas à construção de um espaço
de encontro e de experimentação para todos os moradores da Comunidade do
Tejuco, onde possam interagir e desenvolver os seus talentos e contatos sociais.
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3 OBJETIVOS
Elaborar um Plano de Intervenção com vistas à construção de um espaço de
encontro e de experimentação para todos os moradores da Comunidade do Tejuco,
onde possam interagir e desenvolver os seus talentos e contatos sociais.
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4 METODOLOGIA
A elaboração do Plano de Intervenção está baseado no Método do
Planejamento Estratégico Situacional (PES) conforme orientação da disciplina de
Planejamento e Avaliação em Saúde (CAMPOS; FARIA; SANTOS, 2010).
O projeto proposto se insere no meio dos vários programas da educação em
saúde instalados no Brasil. Existem teorias educacionais que envolvem as
abordagens comportamentalistas e contemplam os aspectos cognitivos, sociais e
culturais na construção dos conhecimentos e habilidades. Nessas, destaca-se a
importância em identificar a realidade psicológica e social do usuário como ponto de
partida das ações (FREIRE, 2011).
O método do Planejamento Estratégico Situacional é composto por quatro
momentos: O momento explicativo, que procura conhecer a situação atual,
buscando identificar, priorizar e analisar seus problemas. No momento normativo
são formuladas soluções para o enfrentamento dos problemas identificados,
priorizados e analisados no momento explicativo, com elaboração de propostas de
solução. No momento estratégico ocorre uma análise que objetiva construir
viabilidade para as propostas das soluções elaboradas, formulando estratégias no
intuito de alcançarem os objetivos. O momento tático operacional é a execução do
plano. Aqui devem ser definidos e implementados o modelo de gestão e os
instrumentos para o acompanhamento e a avaliação do plano.
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5 REVISÃO DA LITERATURA
O Sistema Único de Saúde brasileiro é composto por diferentes níveis
assistenciais a fim de contemplar a complexidade do processo saúde-doença. É um
sistema com bases democráticas, preservando a cidadania, organizado por
princípios como: universalidade, integralidade, equidade. As ações de saúde no SUS
devem contemplar dessa maneira os indivíduos em seus aspectos biopsicossociais
(FARIA et al, 2010; MENDES, 2013).
Para levar em consideração esses conceitos do SUS, precisa ser
implementada a participação popular tanto na gestão das ações de saúde, como na
autonomia decisória dos processos de cuidado em saúde. Isso requer o
empoderamento dos grupos populacionais. A Atenção Básica à Saúde apresenta-se
como espaço privilégio ao desenvolvimento de atividades que propiciem a
participação popular (FARIA et al, 2010; MENDES, 2013). Frente a essa realidade, a
Estratégia Saúde da Família (ESF) do SUS, prevê que as equipes de saúde
elaborem diagnóstico da área de atuação, articulando ações intersetorialmente,
promovendo a organização e mobilização dos moradores, no desenvolvimento de
ações de saúde e cidadania (FARIA et al, 2009).
Para o Ministério da Saúde, o Programa Estratégia em Saúde da família (não é
mais PSF) visa atender indivíduo e a família de forma integral e contínua,
desenvolvendo ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Tem como
objetivo reorganizar a prática assistencial, antes centrada no hospital, passando a
ter o foco na família em seu ambiente físico e social. O PSF pode ser traduzido
como um modelo de atenção que pressupõe o reconhecimento de saúde como um
direito de cidadania, expresso na melhoria das condições de vida, ou seja, em
serviços mais resolutivos, integrais e principalmente humanizados (ROSA e
LABATE, 2005).
O tratamento de doenças crônicas, apresentando alta prevalência em
pacientes idosos, geralmente inclui o uso da farmacoterapia em longo prazo.
Embora estes medicamentos sejam eficazes no combate à doença, seus benefícios
muitas vezes não são alcançados porque aproximadamente 50% dos pacientes não
tomam os seus medicamentos como prescrito (BROWN e BUSSELL, 2011).
Seria interessante então uma proposta de ensinar o cuidado da saúde através
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do projeto da horta das plantas medicinais. Também os jovens foram identificados
como grupo chave para pensar em medicina preventiva, através do Laboratório de
dança expressiva, que permite entrar em contato com os jovens para discutir sobre
temas que os atingem no dia-dia, como, entre outros, a sexualidade.
Segundo o Ministério da Saúde (MINISTERIO DE SAÚDE, 2010), as
expectativas diferenciadas pelos adolescentes sobre suas vidas expõem diferenças
culturalmente instituídas entre os sexos influenciando com frequência, a vida de
adolescentes e jovens, nos campos da sexualidade, da saúde e da inserção social.
O uso da imagem da mulher pelos meios de comunicação social, como emblema
sexual coopera para fortalecer a desigualdade entre os sexos. Decorrente dos
problemas associados à gravidez precoce é admissível evidenciar que as mães
adolescentes tendem a se preocupar com sua imagem, inclusive corporal e não são
ainda psicologicamente preparadas para cuidarem de suas crias, levando ao índice
elevado de desmame precoce e patologias relacionadas pela deficiência da
amamentação pelo leite materno, principalmente diarreias, desnutrição, problemas
respiratórios, entre outras (SADOCK, 2007).
O trabalho no projeto proposto tem potencial para ampliar a qualidade de vida
das pessoas, famílias e comunidade. Para que esse ideal seja alcançado, práticas
assistenciais inovadoras necessitam ser implementadas. Neste contexto
evidenciam-se as práticas educativas, estruturadas por metodologias horizontais e
ativas, que valorizem o saber popular, e que se desenvolvam em espaços
diferenciados, como os grupos em saúde (FARIA et al, 2009; VASCONCELOS;
GRILLO; SOARES, 2009).
A fundamentação teórica para a proposta está na observação das dificuldades
enfrentadas pelas instituições públicas no Brasil e a realidade do seu povo,
especialmente nas classes sociais menos favorecidas, como relatado por Paulo
Freire no seu livro “Pedagogia da autonomia - saberes necessários à prática
educativa” (FREIRE, 2011).
A experimentação pedagógica freireana fundamentava-se na perspectiva de
que o educando assimilará o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética
na realidade vivenciada, em contraposição à por ele denominada “educação
bancária” conteudista, tecnicista e alienante: o educando torna-se sujeito da sua
própria educação, construindo dialeticamente o caminho do seu processo cognitivo,
evitando a formatação prévia da sua capacidade de pensar, libertando-se das
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concepções alienantes, o educando participa dialogicamente do rumo do processo
criativo para o seu aprendizado (OLIVEIRA, 2001).
Freire (2011) destacou-se por seu trabalho na área da educação popular,
voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência política.
Essa produção teórico-metodológica fundamenta a Pedagogia da Libertação,
intimamente relacionada com a teoria marxista elaborada pelos pensadores da
América Latina preocupados com a emancipação dos países desse continente das
amarras históricas da dependência promovida pela lógica expansionista do
capitalismo central.
A proposta político pedagógica de Paulo Freire (2011) está direcionada para a
classe trabalhadora empobrecida, na tentativa de elucidá-la e conscientizá-la como
sujeito político libertário. Por isso, suas maiores contribuições foram no campo da
educação popular para a alfabetização conscientizadora política de jovens e adultos
operários, chegando a influenciar diretamente na elaboração e organização das
práticas dos movimentos sociais na América Latina (CALDART, 2004).
O projeto proposto se insere nessa lógica, uma vez que não procura formas
verticais de ensinamento, evitando passar o conhecimento em palestres divididas
em professor e alunos. Pelo oposto, aproveita do conhecimento popular de uma
forma horizontal: os participantes interagem na horta de plantas medicinais e na
oficina de dança, podendo contribuir as suas próprias experiências, aprendendo das
experiências dos outros participantes, assim influenciando o conteúdo pedagógico
das atividades.
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6 PLANO DE AÇÃO 6.1 Primeiro Passo: Identificação priorização dos problemas
Levados em consideração os critérios de gravidade identificou-se, nas
observações in loco das experiências convividas pelos indivíduos da equipe de
saúde, como sendo o mais urgente uma proposta de educação em saúde voltada
para população do bairro. Sinalizou-se para a atuação em dois projetos
independentes, porém interligados. Foram identificados dois grupos “vulneráveis” na
análise de problemas associados ao conceito de saúde preventiva no nosso bairro,
que são os idosos e os jovens.
Muitos idosos apresentam doenças crônicas como doença reumática das
articulações. No tratamento dessas doenças, eles passam por uma experiência
frustrante com a medicina alopática, que somente trata o sintoma da dor, em vez de
apoiar o paciente como um todo e integrar ele no processo de cura. Muitas vezes
faltam informações básicas sobre doenças e as doenças físicas, muitas vezes, estão
disponibilizando a base de complicações de problemas emocionais.
Os jovens vivem num mundo regido pelo consumismo, seduzindo através de
uma lógica mercadológica, criando a ilusão de escolhas próprias e “vantagens e
desvantagens” associados- reduzindo a integridade do indivíduo. Existe uma alta
prevalência de um conceito de corpo de negação, com diminuição da condição
subjetiva, da vivencia, de seus instintos e paixões humanas, e da expressão de sua
identidade. Observamos uma obsessão pela beleza com sua supervalorização.
Existe um alto indicie de jovens com dependência química, de gravidez na
adolescência, assim como elevado índice de violência cometida, inclusive violência
doméstica.
6.2 Segundo Passo: Descrição do problema
O primeiro grupo vulnerável identificado então são os dos idosos, por serem
portadoras de síndromes de doenças crônicas, que não são tratadas com a devida
eficiência pelos métodos conservadores alopáticos. Para este grupo, a horta das
plantas medicinais representa uma possibilidade de conectar-se com os outros
moradores da mesma idade, alimentando a troca de ideias e o cuidado das plantas
que serão processadas em forma de fitoterápicos, chás e pomadas.
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Quanto ao grupo dos jovens do bairro, muito embora sendo estes mais
afastados da rotina da equipe de saúde por não apresentarem, na grande maioria,
doenças graves e agudas e por não possuir uma rotina de consultas médicas com
regularidade, estão expostos a riscos de saúde como consequência da prática de
violências, da falta de perspectivas para seus futuros e de um estilo de vida pouco
saudável com, por exemplo, uma alimentação extremamente inadequada. Por
vezes, associam-se ainda aos fatores de risco desse grupo: o uso de drogas e a
probabilidade aumentada de gravidez precoce na adolescência.
A intencionalidade dessa perspectiva interventiva aponta diretamente para
atividades que incidam no alto índice da probabilidade da frequência de
adoecimentos dos indivíduos dessa comunidade, o que incorrerá em maiores gastos
nos tratamentos terciários de alto custo, nem sempre disponíveis pelo sistema de
saúde. Além do sofrimento e outros tantos desdobramentos negativos e agravantes
que decorrem da instalação dos casos de doenças graves, principalmente nas
famílias das populações de baixa renda.
Nas observações in loco das experiências convividas, compreendemos que
muitas pessoas já não acreditam na possibilidade de assumirem uma função
importante na sociedade. Isto é, no nosso caso, cuidar da própria saúde, da saúde
dos outros e da saúde da coletividade de forma preventiva, sem que para isso
tenham, obrigatoriamente o acesso a vultosas quantias. E, deste formato
ideocultural da interdependência intrínseca entre saúde e alto custo monetário, a
grande maioria das pessoas usuárias do sistema de saúde, perversamente
apreendem que não há saídas para desconstruírem suas limitações. Nessa
“desesperança aprendida” as pessoas cessam suas pulsões por vitalidade digna e
com qualidade e se acostumam com o descaso, internalizando condições altamente
prejulgavas de: incapacidade e impotência.
A inserção laborativa que fundamenta este trabalho, agora apresentado, diz
respeito a minha atuação como médico. Pontualmente, dentro do Programa Mais
Médicos, e em conjunto com uma equipe multidisciplinar de saúde da família no PSF
Tejuco. A nossa equipe, constituída por médicos, enfermeiras, agentes comunitários
de saúde e assistentes técnicos, realizou reuniões para analisar e avaliar os
problemas dos moradores da nossa área de abrangência. Em resumo, podemos
considerar que os seguintes problemas foram elencados:
Baixo nível econômico das famílias: essa falta de recursos financeiros se torna
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diretamente um fundamental elemento dificultador para o investimento dos
moradores em remédios, consultas médicas, alimentação saudável, livros, cursos,
viagens, lazer e etc., gerando uma incisiva falta de perspectivas e doenças
relacionadas à precária condição socioeconômica da população;
Baixa infraestrutura básica: esse problema incorre vertiginosamente na
inferioridade dos níveis do padrão higiênico da comunidade. Observa-se pela
frequência do esgoto não tratado fluindo a céu-aberto com as insalubres “línguas-
negras”; do lixo produzido - não recolhido e jogado pelas ruas - proporcionando,
dentre outros efeitos nocivos, as fontes de propagação dos mosquitos de dengue, a
forte incidência dos ratos e pombos, e a frequência de animais peçonhentos;
O formato de política necessária deve preconizar melhorar casos de abandono,
marginalização e isolamento, principalmente no que se refere à população idosa -
assim quebrando a alimentação de um ciclo vicioso e perverso, onde coabitam
problemas de saúde com limitações físicas laborativas. Combinados tornam-se
impeditivos para um satisfatório exercício do emprego e acabam por conjuntamente
corroborar com o aumento dos casos de insônia e ansiedade.
É importante de aproveitar-se de espaços físicos coletivos, construídos
recentemente para organizar reuniões da comunidade local para discussões e
apresentações ou manifestações culturais na localidade. Faltam praças públicas
para o convívio sócio espacial coletivo, teatros e cinemas. Desta maneira, os jovens
- especialmente os da faixa entre 12 e 18 anos - estão passando todo o tempo
ociosamente perdido à mercê dos apelos da marginalidade e da chamada “vida
fácil”, principalmente enquanto os pais estão trabalhando. A inexistência de
referências socioeducativas orientadoras para esses jovens – heróis, carismáticos,
ídolos, idosos educadores e modelos - tende a perpetuar uma compreensão
internalizada da sua realidade como “sem alternativa”. Acrescenta-se a esse
imbróglio de desumanização perpetuada a qualidade duvidosa de uma pedagogia
demasiadamente mal estruturada praticada nos colégios do bairro. Professores mal
remunerados, sobrecarregados, estressados e sem tempo para suas devidas
reciclagens profissional completam o quadro da falta de atenção comprometida com
o futuro da juventude local. Assim sendo, resta a população, mais especificamente
a que constitui a faixa etária supracitada, a precoce inserção no mundo do uso
abusivo e tráfico de drogas.
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6.3 Terceiro Passo: Identificação dos “nós críticos”
Todos os aspectos mencionados estão interligados. E, por assim ser, torna-se
mais difícil classificá-los por ordenamento de prioridade interventiva. Certamente a
opção mais adequada seria a mudança conjuntural do modo de conviver. Por
exemplo, a falta de recursos financeiros faz como que os pais que são responsáveis
por uma criança tenham que trabalhar durante todo o dia e, praticamente, todos os
dias da semana. Principalmente se considerarmos que: mesmo o tempo do
descanso semanal será ocupado com as tarefas domésticas, com atividades
informais para aumentar a renda ou tentar minimamente organizar a administração
financeira da vida familiar. Nesta conjuntura, filhos e filhas são criados longe da
observância, cuidados educativos e orientações dos seus responsáveis e, além
disso, soltos e entregues à própria sorte pela falta de opções concretas promovidas
pelas instâncias públicas
Outras proposições não menos injustas também se apresentarão para esses
jovens. Uma delas será a educação pelo trabalho em detrimento da educação para o
trabalho. Dada a falta de políticas educacionais que garantam o acesso e a
permanências dessa população em um sistema de ensino público - com qualidade
pedagógica e atraente aos seus interesses de adolescentes do século XXI- restaria
somente o subemprego como elemento proporcionador de algum incentivo ao viver.
Nessa falta de opções, vislumbram uma vida talvez menos desesperançada dentro
dos limites da legalidade proposta. Logo, mais concretamente analisada a situação,
o direito a uma educação voltada para a formação e qualificação para o mundo do
emprego formal, como sendo efetiva possibilidade de reificar potencialmente a
humanização da pessoa para o trabalho digno, também será negado a esses jovens
filhos e filhas dessas famílias emprobrecidas. Esses jovens passam um grande
tempo de suas vidas - que deveria ser educativo e informativo para suas
construções de sujeitos coletivos preocupados com o bem-estar comunitário, e de
investimento em produções para seus futuros exercícios laborativos como seres
mais humanizados - aprendendo a lógica midiática individualista do “cada um por si”
e do “tenho que me dar bem sempre e a qualquer custo”, reproduzida
incessantemente na massificação alienada das ruas. Estes serão os valores
internalizados pelo frequente tempo de convívio desorientado pelo presente no
aparente valor pedagógico da realidade nas periferias pobres. Nestes espaços, a
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perversidade da pobreza faz com que os jovens internalizem percepções do não
valer a pena se esforçar na vida. Afinal, ouvem e veem que quem tem dinheiro
nesse ambiente não são os trabalhadores, seus pais, irmãos mais velhos e
professores. São os políticos corruptos, os traficantes, os desonestos, os
exploradores do trabalho alheio. Indivíduos que não necessariamente planejaram
suas vidas a partir de frequentarem uma universidade, mas “se deram bem na vida”.
No imediatismo, para saírem da situação de penúria, os jovens não têm como
perceberem, que a trajetória de vida dos traficantes acaba terminando em prisões,
vida na clandestinidade ou na ilegalidade e, quase sempre, com morte prematura.
Contudo, por que ainda são aqueles que “bancam festas regadas”, vestem as
roupas bonitas e de marca, tem várias belas namoradas e encarnam uma espécie
de hibridismo entre o anti-herói e o vilão, tornam-se sedutores referenciais de estilo
de vida para a juventude empobrecida. Ou seja, nesta percepção, aqueles
possuidores de poder aquisitivo agregam junto com o dinheiro: o poder, a
ostentação, o prestígio e o status social local. Assim, os jovens decidem por valer a
pena “viverem bem mesmo que por pouco tempo” do que fatalmente envelhecerem
pobres e doentes como seus pais.
A introspecção daquele romântico imaginário urbano contemporâneo, do viver
bem o mais rápido possível mesmo que por pouco tempo, possui também, mas não
somente, como causas possíveis os determinantes resultados das desigualdades
sociais reproduzidas, da concentração de renda e má distribuição da riqueza social.
Muito além disso, esses jovens apreendem a desesperança na possibilidade da
transformação pessoal vinculada a princípios de contribuição para uma sociedade
mais justa. Em uma realidade que não oportuniza lugares dignos aos pobres, por
sua inerente estrutura social de histórica desigualdade, de feudos com coronelismos
e escravismos - que na história brasileira ainda não foram efetivamente liberados –
encontra-se microcosmos da percepção ampliada da compleição social do país. Os
jovens acabam aprendendo maus hábitos e maus costumes, por estarem expostos e
vivenciando diariamente uma lógica pervertida por alguns setores do poder.
Outra variante a ser considerada é o formato da cultura religiosa. Tendo o
Brasil uma religiosidade muito presente no seu tecido social, esta singularidade se
entrelaça historicamente com a tradição de herança autoritária da colonização.
Assim, as presenças de vários segmentos de profissão de fé acabam reproduzindo
essas tendências ideológicas. Surgem Igrejas autoritárias e alienadoras que falam
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pelas pessoas, induzindo-as a compreensão de que são pecadoras. Pregam seus
sacerdotes que os fiéis devem rezar muito e pagar uma contribuição financeira para
a igreja por terem uma perspectiva moral. Termina que a criatividade é somente
procurada na ilegalidade. O caminho legal por empregos honestos e uma educação
de qualidade numa universidade está cheio de obstáculos, conflitos. E diferenças de
opinião, nesse ambiente, são geralmente resolvidos de forma violenta. Fica
estabelecido que os ganhadores nesses confrontos sejam aqueles de maior poder e
não de capacidade de argumentação. Resta aos não poderosos aprenderem
unicamente a calar a boca e aceitar a hierarquia imposta, numa evidenciada lógica
autoritária do “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Potencialmente,
evidencia-se a falta nesse ambiente da presença de bons exemplos. pessoas que
ofereçam perspectivas reais e mostrem com ações eficazes que vale a pena lutar
por ideais. Faltam incentivos culturais, possibilidades de interação onde cada um
possa desenvolver os seus talentos. Falta uma valorização do já existente em
termos de cultura: existe um conhecimento popular sobre uso de ervas e plantas
locais para fins de cura. Infelizmente, também nas escolas públicas, ensinam às
pessoas que devem se acostumar o mais rapidamente possível às regras e, dentre
essas, calar a boca é fundamental. Perpetua-se a desesperança ao invés de
oferecer um espaço de confiança, solidariedade, companheirismo e criatividade para
melhorar as condições gerais de mais vida com qualidade.
6.4 Quarto Passo: Desenho de Operações
Os dois módulos, a horta e a oficina de dança, estão sendo apresentados
separadamente, por serem baseados em conceitos próprios. Os quadros 1 e 2
apresentam a priorização de problemas com “nós críticos“ das operações propostas
(a horta e a oficina de danca, respectivamente), resultados esperados, produtos e
recursos necessários.
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Quadro 1–
Desenho das operações incluídas no projeto da horta das plantas medicinais
Priorização de problemas com “Nó” crítico
Operação e objetivos
Resultados Esperados
Produtos Recursos Necessários
Muitos idosos com doenças crônicas Experiência frustrante dos usuários com a medicina alopática Problemas emocionais dos pacientes portadores de doencas crônicas Baixo nível de informação de vários pacientes Alimentação inadequada
Horta das plantas medicinais Aprender o processo da preservação, cultivo e utilização de vegetais com atuação farmacológica Disponibilizar formas de terapia com baixo custo Gerar o desenvolvimento de uma vida mais saudável e realizada Diminuir casos de problemas psicossomáticos dos usuários Adquirir hábitos alimentares saudáveis
Proporcionar exclarecimentos na população sobre preservação, cultivo e utilização de vegetais com atuação farmacológica Reduzir dependência das terapias da indústria farmacêutica multinacional Identificar problemas comuns em pessoas idosas com doença crônica Estimular a identificação interativa das pessoas com o bairro Afirmar a autoconfiança de cada indivíduo Fornecer possibilidade de conexão com a natureza
Idosos mais esclarecidos com participação mais ativa no processo da doença-tratamento Plantas medicinais cultivadas para o tratamento das próprias doenças Produção de remédios, xarope ou essências fitoterapêuticas Uso da fitoterapia de maneira adequanda e mudanças no hábito de vida Manutenção de uma boa qulidade de vida Controle de doenças preexistentes Manutenção de uma boa qulidade de vida Redução de fatores de risco para doenças da idade Reeducação alimentar Criação de um espaço social agradável
Organizacional distribuir funcionalidades e responsabili-dades entre os participantes da horta, preparando-os e reunindo-os no formato da mobilização coletiva dos mutirões Cognitivo - informações sobre os cuidados para as plantas medicinais e o processo da produção de remédios, pomadas e chás Político –conquistar um espaço para implantar a horta Financeiro - para aquisição do equipamento básico necessário à implementação da horta e para a confecção de materiais informativos e folders
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Quadro 2– Desenho das operações incluídas no projeto do laboratório de dança contemporânea terapêutica Priorizacao de problemas com “Nó” crítico
Operação e objetivos
Resultados Esperados
Produtos Recursos Necessários
Os jovens vivem num mundo regido pelo consumismo, seduzindo através de uma lógica mercadológica, criando a ilusão de escolhas próprias e “vantagens e desvantagens” associados- reduzindo a integridade do indivíduo Prevalência de um conceito de corpo de negação, com diminuição da condição subjetiva, da vivencia, de seus instintos e paixões humanas, e da expressão de sua identidade Realidade de um corpo dicotomizado e secundarizado pelo pensamento racional Apropriação do corpo pela publicidade Obsessão pela beleza com sua supervalorização Alto indicie de jovens com dependência de drogas, cometendo crimes e indice de gravidez na adolescencia Consequentemente elevado índice de violência cometida, inclusive violência domestica
Oficina/laboratório de dança contemporánea terapêutica Aumentar sintonia da alma com corpo através de dança expressiva e técnicas de relaxamento em situações de estresse Estabelecer contato com os jovens, incentivando a criatividade dos participantes Incentivar valores básicos como companheirismo, responsabilidade e persistência Visar propostas existentes de projetos na ENSP - Escola Nacional da Saúde Publica e na FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz
Um trabalho de re-significação do corpo População adolescente mais comprometida com a comunidade, cooperativo e com iniciativa de escolher caminhos para um futuro com menos dificuldades e mais autonomia Melhor qualidade dos relacionamentos entre os jovens com aumento do companheirismo Melhor contato dos profissionais de saúde com os jovens Reduzir o consumo abusivo de drogas, alcool Diminuicao de indices de crime
Jovens que participam ativamente na comunidade, com maior nível de instrução e auto-confianca e melhor conhecimento sobre opcoes de planos de vida, riscos e efeitos gerados do abuso, e mais preparados para os desafios da vida Atividades didático-pedagógicas multiplicadoras nas escolas públicas Mudanca de habitos e estilo de vida dos jovens Etnoterapia e etnosaúde Colaboração com o colégio e as escolas do bairro, assim como a Faculdade de Música para acompanhar as apresentações
Financeiro- para o custeio de profissionais habilitados em palestras e tecnicas de dança Organizacional- para preparação de local adequado para aula de dança Cognitivo- para o planejamento das aulas, reunioes com os grupos que atuarão Político- articulação entre os setores assistenciais de saúde
Para realizar o objetivo de criar um espaço de interação para os moradores,
primeiramente teremos que identificar algum imóvel disponível para tais atividades,
espaço físico, onde as atividades propostas possam ser realizadas. No bairro do
Tejuco existem alguns espaços públicos, incluindo praças, salas, terrenos que
pertencem à igreja católica ou ao município de São João Del-Rei.
Na primeira etapa, será necessário comunicar-se com essas instituições para
compor parcerias e conseguir locação nas salas. Basicamente, nos tempos ociosos
dessas organizações, ou seja, quando os espaços pretendidos não estejam sendo
ocupados pelos responsáveis. Poder-se-ia montar um calendário com os horários
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disponíveis existentes para se construir uma grade horária do projeto, compatível
com as atividades organizacionais da instituição concedente. Assim, os
coordenadores do projeto poderiam exercer suas atividades sem causar embates
administrativos. Em um segundo momento, será necessário informar aos moradores
sobre o novo projeto. Essa ação poderá ser executada, por exemplos, nas reuniões
dos grupos existentes, em anúncios na igreja depois da missa, através de
comunicados na rádio local ou no jornal da cidade. A próxima etapa, quando os
primeiros participantes já estejam identificados, precisará integrá-los nos grupos
referentes, certamente considerando-se a necessidade e o perfil de interesse da
pessoa. As seguintes atividades farão parte do projeto “CENTRO SOLIDÁRIO”:
Horta de Plantas medicinais
Palavras chaves: Conceito de comportamento, etnoterapia e etnosaúde -
fitoterapia dentro da Medicina entrelaçada com a Antropologia. Aspectos culturais na
cura de doenças, propostas existentes na ENSP - Escola Nacional da Saúde Pública
- e na FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz.
O trabalho com a medicina baseada em fitoterapia, chás e pomades naturais
também inclui conhecimentos e atitudes referentes à doença e tratamento,
aprendidos por meio de estratégias participativas e metodologias inovadoras no
processo educativo. A educação em saúde tem grandes efeitos sobre os aspectos
cognitivos e psicológicos do indivíduo, contribuindo para mudança das atitudes com
relação às doenças crônicas, assim como a construção de estratégias para ações
educativas que busquem desenvolver conhecimentos e práticas relacionadas ao
autocuidado e autocontrole da doença (SANTOS, R.L., ET AL, 2011)
Na Horta, os moradores do bairro podem cultivar plantas medicinais para o
tratamento das próprias doenças. Especialmente, em casos de doenças crônicas.
Nossa vivência ambulatorial verifica que, para muitas pacientes, é um experimento
frustrante receber a prescrição por um comprimido que devem tomar cotidianamente
sem participar ativamente no processo de cura.
Pacientes com essas doenças podem ser integrados nas atividades na horta.
Cultivando as plantas pela própria terapia. No processo de se cuidar cuidando das
plantas, o morador internalizará os benefícios da terapia fitoterapêutica. Em
detrimento de investir dinheiro no mercado internacional farmacêutico, as pessoas
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podem se aproveitar dos efeitos benéficos da flora local, das plantas que crescem
naturalmente por serem endêmicas dessa região. Assim como aprender e organizar
todo o processo da preservação, cultivo e utilização desses vegetais. Ou seja,
reconhecer, semear, cultivar, recolher e preparar em forma de xarope ou essências
fitoterapêuticas, principalmente as plantas originárias da região, com suas partes
reconhecidas como medicinais pelo saber cultural diluído na coletividade.
A horta também representa um espaço social agradável, aonde os pacientes
podem encontrar a calma, a conexão com a natureza e a partilha que muitas vezes
não encontram no interior de suas casas. Poderia haver uma articulação com a
Faculdade de Biologia da Universidade Federal de São João Del-Rei, através da
colaboração do projeto de permacultura. Este projeto já está construindo hortas em
cada bairro da cidade, com a finalidade de auto sustentabilidade alimentar. O projeto
universitário já fornece a infraestrutura de hortas. Na articulação, poderia ser
complementado o projeto inicial da Biologia com o aspecto da cultura das plantas
medicinais locais. Nessa parceria, os estudantes universitários podem participar nas
atividades e, com isso, poder-se-á também apresentar, principalmente para os
jovens da comunidade do Tejuco, um encurtamento na distância do abismo que os
separa da possibilidade de pertencimento no mundo acadêmico.
No início do projeto, que já está sendo colocado em pratica, escolhemos
sintomas gerais com alta incidência no bairro como: ansiedade/depressão, tosse,
febre, pressão arterial, diabetes, feridas de pele etc. Depois procuramos plantas que
crescem na região para tratar esses sintomas. Cada um participante do projeto
escolhe uma planta. Assim, procura as mudas e sementes para plantar e as
informações sobre processo de fazer chá, pomada e extratos. As seguintes plantas
já foram escolhidas:
Banana da terra - Família: Musasseas. Indicação: controle nutricional, fonte de
vitamina, indicado em casos de anemia, mastite, diarreias, complicações
respiratórias, xarope para tosse, pneumonia, azia, insônia, ansiedade, câimbras
musculares.
Carqueja - Nome cientifico: Baccaris trimera. Família: Asteraceae. Indicação:
Diabetes Mellitus, Gastrites, Feridas, Amigdalite, Sinusite, Hepatoproteção,
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Boldo - Nome científico: Pneumus boldus molina. Família: Monimiáceas. Indicação:
distúrbios de digestão, dor de barriga, e úlcera.
Oficina /Laboratório de dança e corporeidade
O laboratório de dança e corporeidade tem como fundamento uma reflexão
sobre o corpo: sobre o que ele representa / significa para cada um de nos. O corpo
com as suas sensações pode ser visto como o primeiro contato do eu com o mundo
exterior. Dentro do laboratório de dança, procuramos refletir sobre o corpo para dar
uma ressignificação a ele. O relacionamento do ser humano com o seu corpo está
se tornando cada vez mais paradoxal, pois ao mesmo tempo em que o corpo é
dicotomizado e secundarizado pelo pensamento racional, representa, na atualidade,
um dos principais interesses da sociedade de consumo fundamentada no capital,
posto que o corpo seja o principal objeto de investimento da publicidade, por meio
das imagens oferecidas. Nas relações do ser humano com o seu corpo, percebemos
manifestações ambíguas de exaltação e negação utilitária. Ou seja, com os
interesses em voga de cada época, o corpo foi negado ou exaltado muitas vezes
para encobrir os reais significados dos fenômenos atuantes para controle da
sociedade. Tanto negado quanto exaltado, não foi concedido ao corpo a sua
condição subjetiva, a vivencia de seus instintos e paixões humanas, a expressão de
sua identidade (TRASFERETTI, 2002).
Ao refletir sobre a concepção de corpo historicamente construída na cultura
ocidental, percebemos que o corpo sofreu uma descorporalização, perdendo a sua
capacidade de percepção, de sensibilização, em função ao valor dado à razão e ao
lucro. Os pensamentos sobre o corpo, nas diferentes épocas da civilização humana,
sofreram várias influências, entre outros de doutrinas, pensadores importantes e
filósofos assim como de instituições como a igreja católica. O corpo tem diferentes
significados na história, cultura e nas áreas de conhecimento como a saúde, a
antropologia, a sociologia e a filosofia (TRASFERETTI, 2002).
Historicamente falando, no período cosmológico, denominado naturalista pré-
socrático, os pensadores conceberam o corpo como parte da natureza, em harmonia
com os elementos que o compõem como a água, o fogo, a terra e o ar. A natureza
era uma referência ao conhecimento e aos cuidados com o corpo. As doenças eram
tratadas com chás caseiros e a saúde dependia das relações harmoniosas
estabelecidas com a natureza e com os fatores externos como o clima e as estações
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do ano. Ou seja, a organização fisiológica estava ligada ao funcionamento da
natureza. Essa maneira de ver o corpo e a sua criação era em comum com o mundo
mitológico, sejam babilônicos, egípcios ou gregos.
Para Platão existiam dois mundos: o mundo das coisas sensíveis (os corpos e
os objetos), e o mundo das ideias que são eternas. Nessa dualidade inseriu-se o
corpo como physis, que tem qualidades de transformação constante, em
contraposição ao pensamento/espírito, que é dom do pensamento racional e assim
fica associado com o aspecto eterno das ideias (concepções puras). Assim, o
discurso cosmológico foi substituído pelo discurso moral e político, com ideias de
direitos de igualdade entre os homens perante as leis. No período sistemático de
Aristóteles, o corpo foi visto como matéria, como inferior. A physis tinha que ser
superada, educada pelo intelecto.
Na Idade Média, com a força da religiosidade, reforça-se a dualidade do ser
humano sob a influência da Igreja Católica. O corpo com seu aspecto carnal foram
associados ao pecado, à traição, e a superação do corpo foi praticada com muitas
repressões físicas e da sociedade. A moralidade imposta pelo cristianismo torna-se
universal ditando códigos de comportamento e verdades.
No período do Iluminismo, havia um aumento de conceitos filosóficos sobre o
corpo, muitas vezes influenciados pela proposta do empirismo formulado por
Descartes, que reivindicava uma filosofia sem mitos, baseado em teorias frutos de
observação objetiva. Para quem seguiu o pensamento desses filósofos, o corpo foi
perdendo os seus mitos e a sua subjetividade. Ainda na época da industrialização, o
copo ganhou um novo destaque com a necessidade de adaptação do copo do
operário ao ritmo e a forma da máquina industrial. Isso provoca uma visão utilitária
do corpo, interpretando ele em primeira linha como instrumento para conseguir os
objetivos orientados pelo lucro e o aumento da produção, ficando assim submisso à
economia.
Os avanços científicos na medicina propagavam um discurso do corpo como
organismo biológico, caraterizado por leis da física, fisiologia, da química e
observações anatômicas. Nessa linhagem de pensamento, o corpo é produto da
natureza, uma máquina sensível e sujeito a possíveis manipulações e intervenções
cirúrgicas.
Na modernidade, podemos observar influencias de vários conceitos
anteriormente mencionados. Sendo que nas condições do mundo cada vez mais
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dominado pelos meios de comunicação virtuais, influenciado pelas novas mídias de
massa e globalizados, surge uma expectativa do corpo fundamentada na aparência.
O foco central do discurso sobre corporeidade mudou-se das preocupações em
administrar o corpo (boa alimentação, ginástica, etc.) para a sexualidade.
Reorientando condições de repressão para experimentações pelo excesso, da
liberdade sem responsabilidade, da prática da libertinagem. A publicidade apropria-
se do corpo para convencer os indivíduos ao consumismo, seduzindo através de
uma lógica mercadológica ao culto do corpo perfeito padronizado, com obsessão
pela tipologia de beleza imposta com sua supervalorização e, concomitantemente,
uma perda de identidade do sujeito. A mídia influencia o telespectador, criando a
ilusão de que ele faz escolhas próprias, conforme afirmam Adorno e Horkheimer
(MELANI, 2012). Referindo-se a escolha como sendo opção por produtos
diferenciados oferecidos aos consumidores, produtos que acabam por se revelar
como mesma coisa. Incentivados pela criação artificial de “vantagens e
desvantagens” associado àquela escolha padronizada. O desenvolvimento
tecnológico, científico e o poder de consumo tornam-se indicadores do
desenvolvimento do ser humano, levando-o a uma excessiva valorização da razão
sumariamente orientada para os interesses dos produtores. Ciência e técnica são
concebidas fundamentalmente para o desenvolvimento e o esclarecimento da
sociedade ocidental, porém caminham para o domínio e destruição da originalidade
humana e da integridade do indivíduo.
A oficina de dança, oferecida aos moradores do bairro, funcionará em formato
de laboratório de expressão, assim englobando conceitos de encenação e
teatralização, os participantes poderão escolher situações ou temas do cotidiano do
bairro, de personagens importantes na história da localidade para colocar em cena.
Desta maneira, trarão ao palco uma representação da própria vida que servirá para
promover conversas reflexivas sobre como resolver problemas do bairro, criando
uma identidade de pertencimento local mais intenso. Na sequência, os participantes
podem expressar com criatividade e, no contexto da experimentação simbólica, e
aprender como se posicionar em determinadas situações. Conquistam
autoconfiança e ganham personagens enquanto descobrem os próprios talentos.
Nesse processo poderá ser pensada a articulação colaborativa com a Faculdade de
Música para acompanhar essas apresentações.
As aulas para aprender a “dança expressiva” podem ser vinculadas ao colégio
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e as escolas existentes na localidade. Podemos instruir técnicas de dança para
aumentar sintonia da alma com corpo, como técnica de relaxamento em situações
de estresse e fonte de espiritualização. A proposta é ensinar fundamentos da dança
expressiva para que os alunos possam praticar em qualquer lugar. Objetiva-se
melhorar problemas associadas com estresse, rancor e frustração.
O laboratório traz uma proposta baseada na técnica do “movimento genuino”.
O termo Movimento Genuíno origina-se da técnica norte-americana denominada
Authentic Movement (CALAIS-GERMAN, 1992). Esta técnica pode ser realizada
com fins artísticos ou terapêuticos, ou mesmo atuar exatamente neste limiar.
Auxiliando na criação de coreografias de pesquisa pessoal e estética, como será
demonstrado a seguir. Através do Movimento Genuíno, os dançarinos exploram
movimentos além do comando mental ou de hábitos técnicos e cotidianos,
expandindo suas possibilidades expressivas.
No primeiro encontro o grupo divide-se em duplas, nas quais os papéis de
“observador” e de “realizador” são revezados durante as duas horas de atividade. O
realizador move-se de olhos fechados, escutando e seguindo os impulsos de seu
corpo, muitas vezes imprevisíveis ou mesmo estranhos ao próprio realizador. O
observador acompanha e protege o colega, porém sem interrompê-lo nem julgá-lo.
Após mover-se, o realizador e seu observador trocam idéias, desenhos, poesias
etc., sobre a experiência. O processo então se repete com os papéis revezados. Ao
final da aula, as duplas se juntam em um grande grupo para trocarem ideias, ou
outras formas de expressão, sobre as experimentações vivenciadas.
O aquecimento pode incluir os exercícios preparatórios de Bartenieff
(BARTENIEFF, 1980), além de um trabalho em dupla para despertar o corpo e a
auto percepção, ativando a pré-expressividade e a forma fluida. Antes de mover-se,
o realizador deita-se em “X”, enquanto o observador toca, por algum tempo,
diferentes partes de seu corpo. O realizador responde ao toque respirando na área
tocada, trazendo todo seu foco de atenção para ela. Como o ar, no corpo, é
carregado por líquidos, pode-se imaginar que ambos, o aéreo e o aquoso, permeiam
as diferentes áreas do corpo, aguçando a auto percepção. Após despertar diferentes
áreas em todo o corpo do realizador - incluindo costas, as partes posteriores das
pernas e região plantar dos pés - o observador afasta-se lentamente e permanece
conectado ao colega através do olhar.
Pretende se, ao longo das atividades do laboratório, a encenação de
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coreografias de cada um intérprete num evento denominado “O Museu das
Esculturas Líquidas”. Neste, o espectador percorre um espaço cênico com os nichos
de cada intérprete. Os intérpretes apresentam uma coreografia representativa dos
elementos escolhidos para tematizar situações da própria corporeidade. Há
possibilidade da introdução de objetos cênicos, da escolha de uma música de fundo
e da elaboração de um título para cada trabalho corporal. Depois da apresentação
de cada trabalho individual, pode-se investir numa forma de interação cênica dos
caracteres apresentados individualmente.
Para facilitar o desenvolvimento deste modo de mudança de forma, sugere-se
o trabalho com técnicas como a de Improvisação de Contato (Contact
Improvisation), criada por Steve Paxton no final dos anos sessenta e influente nas
artes e na sociedade até hoje (CALAIS-GERMAN, 1992). Nesta técnica, os
dançarinos constantemente moldam seus corpos uns aos outros, a partir do contato
e do suporte do peso em variadas regiões corporais e do controle ou relaxamento do
fluxo de energia corporal em constante variação. É como se os corpos fossem
mesmo esculturas tridimensionais movendo-se no espaço.
A apresentação das intervenções artísticas realizadas nessa forma pode
acontecer em galerias de arte, espaços arquitetônicos, ou mesmo dançando
coreografias marcadas em espaços improvisados, circunstância que exigirá
prontidão para transformar o estruturado em segundos. Mesmo movimentos
selecionados e inseridos numa ordem coreográfica são realizados de maneira
flexível, aberta a variações constantes, conforme o momento pré-expressivo e fluido
- espontâneo - de cada dançarino. Permeado por este processo criativo / educativo
de auto percepção, o espetáculo de dança ganha a suavidade e a sutileza de uma
obra em permanente descoberta, gerando constantemente novas formas de vida.
Uma grande vantagem desta técnica no processo criativo é que o grupo fica
naturalmente conectado, um intérprete participando intensamente do processo do
outro desde o início. Aos poucos, uma atmosfera envolve a todos, com seus
movimentos e imagens diferenciadas compartilhadas. Instala-se então um processo
seletivo grupal, onde todos participam da composição gradual de cenas, com
sequências individuais, em dupla, trios, quartetos e etc. Imagens surgidas durante as
improvisações são selecionadas para compor vídeos, slides e poemas. Sugestões
de sons e de músicas são trazidas e experimentadas com os movimentos.
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6. 5 Quinto Passo: Identificação dos Recursos Críticos
Após o planejamento das atividades acima, buscou-se identificar os recursos
críticos, que são aqueles recursos indispensáveis para a execução da operação e
que não estão disponíveis, sendo importante conhecê-los e criar estratégias para
viabilizá-los. Foram identificados pela equipe os seguintes recursos críticos: Um
recurso é organizacional, no sentido de distribuir funcionalidades e
responsabilidades entre os participantes da horta, preparando-os e reunindo-os no
formato da mobilização coletiva dos mutirões. Como recurso cognitivo foram
consideradas as informações sobre os cuidados para as plantas medicinais e o
processo da produção de remédios, pomadas e chás. Um recurso político consiste
em conquistar um espaço para implantar a horta, assim como a articulação entre os
setores assistenciais de saúde e a viabilização de recursos. Financeiramente, a
aquisição do equipamento básico necessário à implementação da horta e para a
confecção de materiais informativos e folders representam um recurso, assim como
o custeio de profissionais habilitados em palestras e técnicas de dança. Um recurso
organizacional é a preparação de um local adequado para aula de dança.
6.6 Sexto Passo: Análise da Viabilidade
A viabilidade do projeto é muito boa, haja vista que ele identifica, com o
aspecto das plantas e da dança, duas vertentes importantes que falam sobre o ser
humano (corpo) dentro do seu ambiente (horta). Insere-se num contexto de críticas,
a atual pratica de medicina e pedagogia, articulado por vários pessoas. Ao invés do
comprimido industrial multinacionalfarmacocapitalista, engolido em horas marcadas:
o cuidado através da planta valoriza os recursos regionais, culturais, etc. E o corpo
na corporeidade sirve como base de uma resignificação porque, na essência, é
disso que se trata na pedagogia, de fazer uma reavaliação a partir do existente
confrontando com o realmente necessário. Além dessa, é viável a proposta de
aumentar quantidade de profissionais de danca e bolsistas, assim como da
participação dos agentes de saúde necessários à execução. O orçamento, no prazo
de 6 meses, sinaliza para o financiamento de tres profissionais: dois professores de
dança e um jardinheiro. Destacando-se aqui o fato de que na cidade existem cursos
universitários de biologia e de teatro. Ao propor um projeto, que sirve em princípio ao
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bairro Tejuco, aposta-se que, na sua efetividade, poderá servir como plano-piloto
para iniciativas similares em outros bairros da municipalidade em tela.
A proposta se contextualiza no discurso sobre o individuo que sofre na vida
cotidiana uma situação paradoxal entre o que é necessario e bom versus o que esta
realidade oferece. Na observância da coerência, a proposição do SUS para a Saúde
Preventiva Integral converge diretamente para a necessária integração entre
disciplinas. Assim sendo, a dança, a música, a medicina, a pedagogia precisam
dialogar para gerarem propostas interventivas inovadoras, sintonizadas e orientadas
pela lógica que fundamenta os princípios do próprio SUS. Desconstruindo
exatamente aqueles limites apresentados pelas propostas embasadas no
empirismo, etc. Ações que terminaram por deixar o individuo numa situação de
constrangimento, justamente pela ausência de propostas interventivas que levassem
em conta o diálogo respeitoso entre as diferentes habilidades humanas. Este
diálogo, o elemento essencial para a concepção do conceito ampliado de saúde,
está na integralidade como propiciador e impulsionador das ações melhor
qualificadas por compreender o homem como totalidade. Estabelecido, apresenta-se
como diametral contraposição à ultrapassada construção compartimentalizada dos
saberes, fragmentadora sectária do indivíduo percebido como um conjunto de partes
isoladas.
A viabilidade do projeto também torna-se consistente pelos já existentes
conhecimentos sobre plantas e espaços físicos na igreja e nos colégios. Todos
esses elementos realimentam a possibilidade de efetivação de um projeto integral. O
que, por sua vez, garantem a legitimidade social e a articulação intrínseca com a
própria proposta do Programa Mais Médicos. Esse programa convidou profissionais
do mundo inteiro para irem ao interior do Brasil e encontrarem muio potencial a ser
transformado. A viabilidade também se dá através so conceito de fitoterapia, base
da medicina em todas as culturas. Existe um vasto conhecimento civilizatório
monopolizado pela farmacoindustria multinacional. Retomado hoje como o caminho
mais convincente de reconquistar o equilibrio corpo-alma-sociedade-meio ambiente
natural.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As transformações no modelo de atenção em saúde da família priorizam
ações voltadas para inclusão social e autonomia dos usuários. Após a realização
deste trabalho ficou mais evidente que os jovens e os idosos do bairro representam
grupos vulneráveis no contexto de uma saúde preventiva. A dança e a horta das
plantas medicinais, diante desse contexto, vem a contribuir para estimular um
processo de melhoria da qualidade de vida e da cidadania, trabalhando o físico, o
mental e o social.
As ações aqui propostas buscaram uma mudança nos hábitos da população
local, deixando os indivíduos mais empoderados ao respeito da sua autonomia e das
próprias escolhas na vida - num contexto de maior colaboração. Em vez de ministrar
palestras para ensinar um conteudo sobre saúde preventiva de forma vertical e
teórico, a proposta apresentada busca o favorecimento do conhecimento horizontal,
dando oportunidade para os indivíduos de trocar experiências e compartilhar
conhecimento, contribuindo para a construção de ações coletivas coerentes com a
realidade vivenciada por estes sujeitos.
A pretensão ao elaborar este projeto é que este seja colocado como uma das
propostas de mudanças no Programa de Saúde da cidade de São João del Rei e,
que faça a diferença na vida cotidiana da população desta comunidade, respeitando
as tradições e a própria cultura local, aproveitando dos potenciais já presentes para
melhorar a saúde, assim encaixando-se no contexto de outros projetos já
desenvolvidos e ativos na região, como o Projeto de Permacultura da faculdade de
Biologia da UFSJ e o Projeto Pedagógico de Urbanismo do curso de Arquitetura da
UFSJ, que também visam humanizar as condições de vida da clásse mais
desfavorecida, colaborando com aumento da qualidade de vida, de saúde, do auto-
estimo, e da participação ativa no processo político.
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTENIEFF, IRMGARD. Body movement. Coping with the environment. Langhorne: Gordon & Breach Science Publishers, 1980 BROWN, M. T.; BUSSELL, J. K. Medication Adherence: WHO Cares? Mayo Clinic Proceedings. V. 86, n.4, p. 304-314 CALAIS-GERMAN, BANDINE. Anatomia para o movimento: Introdução à análise das técnicas corporais. São Paulo: Manole, vol. 1, 1992 CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do movimento sem-terra. Expressão popular, 2004 CAMPOS, F. C. C; FARIA, H. P.; SANTOS, M. A. Planejamento e avaliação das ações em saúde. 2ª ed. - Belo Horizonte: Nescon/UFMG, Coopmed, 2010. 114p CORRÊA, E. J. et al. O Atendimento pela Equipe de Saúde. In: LEÃO, E. et al. Pediatria Ambulatorial. 4º Ed. Belo Horizonte. Coopmed, 2005, p. 34-156 FARIA, H.P. et al. Processo de trabalho em saúde. NESCON/UFMG- Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. Belo Horizonte: Coopmed, 2009. 68p
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34
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