projeto coral-sol - apostila complementar

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INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA PROJETO CORAL-SOL 1 As múltiplas facetas de um projeto socioambiental O Projeto Coral-Sol é uma iniciativa socioambiental do Instituto Biodiversidade Marinha e hoje conta com um patrocínio Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental. Seu principal objetivo é controlar um coral exótico invasor no litoral brasileiro, ao mesmo tempo gerando renda complementar para populações litorâneas da baía da Ilha Grande, que é o local mais afetado pela bioinvasão. Os primeiros registros do gênero Tubastraea, no litoral brasileiro, datam da década de 1990. As evidências sugerem que o vetor da introdução tenha sido as plataformas de petróleo em operação na Bacia de Campos (RJ). O risco de introdução é potencializado quando as plataformas se aproximam da região costeira para manutenção. Colônias de coral-sol maduras e reprodutivas já foram identificadas diversas vezes incrustradas nas estruturas submersas das plataformas de petróleo. A falta de protocolo de biosegurança permite que essas colônias liberem suas larvas na coluna d´água, em condições favoráveis para o assentamento das mesmas. Consequentemente, existe uma alta probabilidade de repetidas introduções, o que agrava o risco de invasão e dificulta medidas de controle e erradicação. Já existem duas espécies de coral-sol na costa brasileira: Tubastraea coccinea e Tubastraea tagusensis. Ambas originárias do Indo-Pacífico, elas apresentam uma historia evolutiva muito distinta das espécies de corais nativas do Sudoeste do Atlântico, o que acaba lhes conferindo uma série de vantagens competitivas. Desta forma, uma vez estabelecido, o coral-sol é capaz de deslocar organismos nativos do costão rochoso e ocupar primeiro os espaços vazios. Assim, ele reduz a biodiversidade e a complexidade estrutural do ecossistema. Os desdobramentos de tamanho impacto ambiental são difíceis de prever, mas podem alcançar esferas sociais e econômicas, principalmente em comunidades litorâneas dependentes do ambiente marinho e seus recursos. Diante dessa problemática, o Instituto Biodiversidade Marinha propõe diversas medidas para melhor gerenciar esses impactos e evitar uma maior escalonada da bioinvasão do coral-sol no Brasil. Monitoramento O monitoramento da distribuição das espécies de coral-sol é um ponto chave para o delineamento estratégico do seu controle. Sem uma avaliação precisa da abrangência geográfica do problema e da densidade de colônias em cada ponto de introdução (primária ou secundária), torna-se impossível planejar ações

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Material complementar à apostila geral do Projeto Coral-Sol, usado como base para a capacitação teórica dos voluntários do projeto.

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Page 1: Projeto Coral-Sol - Apostila Complementar

INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

1

As múltiplas facetas de um projeto socioambiental

O Projeto Coral-Sol é uma iniciativa socioambiental do Instituto

Biodiversidade Marinha e hoje conta com um patrocínio

Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental. Seu

principal objetivo é controlar um coral exótico invasor no litoral

brasileiro, ao mesmo tempo gerando renda complementar para

populações litorâneas da baía da Ilha Grande, que é o local mais

afetado pela bioinvasão.

Os primeiros registros do gênero Tubastraea, no litoral brasileiro,

datam da década de 1990. As evidências sugerem que o vetor da

introdução tenha sido as plataformas de petróleo em operação na Bacia de Campos

(RJ). O risco de introdução é potencializado quando as plataformas se aproximam da

região costeira para manutenção. Colônias de coral-sol maduras e reprodutivas já

foram identificadas diversas vezes incrustradas nas estruturas submersas das

plataformas de petróleo. A falta de protocolo de biosegurança permite que essas

colônias liberem suas larvas na coluna d´água, em condições favoráveis para o

assentamento das mesmas. Consequentemente, existe uma alta probabilidade de

repetidas introduções, o que agrava o risco de invasão e dificulta medidas de controle

e erradicação.

Já existem duas espécies de coral-sol na costa brasileira: Tubastraea coccinea e

Tubastraea tagusensis. Ambas originárias do Indo-Pacífico, elas apresentam uma

historia evolutiva muito distinta das espécies de corais nativas do Sudoeste do

Atlântico, o que acaba lhes conferindo uma série de vantagens competitivas. Desta

forma, uma vez estabelecido, o coral-sol é capaz de deslocar organismos nativos do

costão rochoso e ocupar primeiro os espaços vazios. Assim, ele reduz a biodiversidade

e a complexidade estrutural do ecossistema. Os desdobramentos de tamanho impacto

ambiental são difíceis de prever, mas podem alcançar esferas sociais e econômicas,

principalmente em comunidades litorâneas dependentes do ambiente marinho e seus

recursos.

Diante dessa problemática, o Instituto Biodiversidade Marinha propõe diversas

medidas para melhor gerenciar esses impactos e evitar uma maior escalonada da

bioinvasão do coral-sol no Brasil.

Monitoramento

O monitoramento da distribuição das espécies de coral-sol é um ponto chave

para o delineamento estratégico do seu controle. Sem uma avaliação precisa da

abrangência geográfica do problema e da densidade de colônias em cada ponto

de introdução (primária ou secundária), torna-se impossível planejar ações

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PROJETO CORAL-SOL

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eficazes de retirada. O método utilizado no Programa de Monitoramento do

Projeto Coral-Sol, sob coordenação da Dr. Beatriz Fleury, usa uma escala quali-

quantitativa (Escala DAFOR) para observações subaquáticas que permite

estimar a densidade do coral-sol em diversos pontos de mergulho (apnéia ou

SCUBA, dependendo da profundidade). Além disso, um monitoramento mais

intensivo dos efeitos do coral-sol sobre a comunidade do costão rochoso está

sendo implementado na baía da Ilha Grande e no litoral norte de São Paulo.

Pesquisa

A pesquisa científica, desenvolvida em parceria com o Laboratório de Ecologia

Marinha da UERJ e coordenada pelo Dr. Joel Creed, é a base de sustentação de

todo o Projeto Coral-Sol. Além dos dados de distribuição gerados ao longo do

monitoramento, diversos experimentos vêm sendo realizados a fim de elucidar

questões importantes sobre a biologia desses corais e as características que os

tornam invasores bem sucedidos no Brasil. Algumas dessas linhas de

investigação incluem aspectos da alimentação, reprodução, interação

competitiva com outros organismos do costão (nativos e exóticos) e efeitos de

parâmetros abióticos sobre a sobrevivência do coral-sol.

Recuperação ecossistêmica

Quando se trata de espécies exóticas invasoras, o tempo de reação é um fator

muito importante. Quanto maior a demora em agir contra essas pragas, menor

será a probabilidade de erradicação. Além disso, o custo para solucionar o

problema também aumenta com o tempo (assim como o preço dos impactos).

Na baía da Ilha Grande, por exemplo, já não se visa mais a erradicação dos

corais (estima-se que haja mais de 3 milhões de colônias) e sim um efeito

conhecido como “slow the spread” onde objetiva-se conter a expansão dos

corais-sol, idealmente reduzindo a sua dispersão e distribuição geográfica.

Pequenas populações mais constritas, no entanto, como aquelas identificadas

em Salvador (Ba), Ilhas Cagarras (RJ) e Ilhabela (SP) são ótimos candidatos para

a força tarefa do Projeto Coral-Sol e seu Programa de remoção intensiva.

Contudo, nossa equipe não tem meios para vigiar todos os 8.500 quilômetros

de costa do país. Por isso, foi criado um canal de denúncia através do qual

todos os brasileiros em contato com o mar (principalmente mergulhadores)

podem comunicar ocorrências do coral-sol no ambiente natural e desencadear

o processo para sua erradicação local.

Geração de renda

A remoção do coral-sol do ambiente não requer alta tecnologia, porém

apresenta um custo, principalmente relativo ao uso de embarcações. Em locais

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como a baía da Ilha Grande, é importante que o esforço de catação seja

constante e duradouro (cerca de 20 a 30 anos) para evitar que o próprio

invasor ocupe as áreas expostas no costão pela sua remoção. Portanto, a

sustentabilidade da atividade de remoção torna-se um quesito importante no

sucesso da proposta. Por isso, o PCS visa a criação de produtos que utilizem o

esqueleto do coral-sol e sua comercialização através de uma cooperativa de

catadores (devidamente capacitados pelo projeto). Hoje, existe um mercado

nacional e internacional de produtos a base de coral que é suprido

majoritariamente por corais retirados ilegalmente dos recifes. Muitos são

representantes de espécies endêmicas e algumas estão até ameaçadas de

extinção. A substituição desses produtos ilícitos pelos produtos Coral-Sol traria,

portanto, um benefício ecológico dobrado (retirada do invasor e

redirecionamento do esforço de catação) além do benefício econômico e social

da geração de renda adicional para os catadores de coral-sol.

Capacitação

(1) Catadores: os catadores de coral-sol são selecionados dentre os moradores

da região e passam por um processo de capacitação. Esse treinamento não

ensina apenas a técnica de remoção e processamento dos esqueletos, mas

também contextualiza a atividade dentro da problemática ambiental em

questão. Desta forma, o PCS não forma apenas mão de obra especializada,

mas ajuda na formação dos cidadãos da Ilha Grande.

(2) Voluntários: assim como todas as ONGs, o Instituto Biodiversidade Marinha

conta com a atuação de diversos voluntários para a realização dos seus

projetos. No caso do Projeto Coral-Sol, os voluntários são selecionados

entre estudantes universitários interessados na vida marinha e passam por

um longo período de capacitação teórico-prática. Desta forma, o

voluntariado passa a ser uma relação de troca onde o IBM contribui para a

formação acadêmica e pessoal do voluntário que investe o seu tempo nas

nossas ações.

(3) Parceiros: a expansão do trabalho de monitoramento e comunicação

requer o apoio ativo dos parceiros do PCS. Para garantir a padronização e a

qualidade de todas as ações do projeto, torna-se importante qualificar

esses parceiros através de sessões personalizadas de acordo com a atuação

de cada entidade.

(4) Gestores e lideranças locais: além dos nossos parceiros, o sucesso do

projeto depende da participação de diversos outros agentes

multiplicadores incluindo gestores ambientais locais, barqueiros e guias,

entre outros profissionais que atuam na Ilha Grande. Para essas pessoas,

idealizou-se uma capacitação não apenas virada para os objetivos do PCS,

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PROJETO CORAL-SOL

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mas também para incentivar a conduta consciente de moradores e turistas

no ambiente costeiro.

(5) Professores: os professores da rede pública de ensino (municipal e

estadual) foram identificados como importantes agentes multiplicadores

das informações e valores passados pelo PCS. Portanto, foi criado um

programa de capacitação desses agentes na região da baía da Ilha Grande,

incluindo uma aproximação do ambiente marinho, uma visita ao Centro de

Visitantes do PCS na Vila do Abraão (IG) e disponibilização de material

didático para uso na sala de aula.

Educação Ambiental

(1) Centro de Visitantes: estrategicamente localizado, o centro de visitantes do

PCS tem como finalidade principal a difusão do conhecimento sobre os

ecossistemas marinhos costeiros da Ilha Grande e a problemática da

bioinvasão do coral-sol na região. Visando atingir tanto moradores quanto

turistas, o centro dispõe de uma exposição permanente e organizará uma

série de eventos para promover as atividades do projeto para os

freqüentadores da Vila do Abraão. Além de se tornar mais uma atração do

Abraão, o centro também serve de base para as atividades técnicas do PCS.

Administrado pelo Alexandre “Dico” Cuellar, o centro é o principal foco de

atuação dos voluntários do projeto.

(2) Visitas guiadas: um dos mais importantes serviços oferecidos pelo centro de

visitantes são as visitas guiadas. Em poucas horas, o visitante é levado por

monitores do PCS para percorrer um caminho que passa por diversos

ambientes costeiros. Ele é estimulado a observar os ecossistemas de uma

forma mais crítica a fim de perceber seus componentes principais e a

interação entre eles. A visita passa por uma trilha na mata, um mergulho de

apnéia no costão e termina no centro de visitantes para visualização de

plâncton (coletado durante o mergulho) sob a lupa.

(3) Comunidades da Ilha Grande: apesar de estar baseado na Vila do Abraão, o

Projeto Coral-Sol visa atuar na Ilha Grande de forma mais abrangente. Por

isso, nossas ações de educação ambiental contam com a implementação de

pesquisa-ação em diversas comunidades da Ilha visando difundir a

mensagem do projeto, agregar parceiros, recrutar catadores e identificar

conflitos e impactos ambientais. Na intenção de contribuir para o bem-

estar das comunidades da Ilha Grande, o PCS se coloca sempre como uma

força agregadora para promover o diálogo entre as partes interessadas e a

difusão da informação através da comunicação.

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PROJETO CORAL-SOL

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Comunicação

As atividades de comunicação e divulgação do PCS visam informar, sensibilizar

e mobilizar o público em geral para tomar ações concretas para a conservação

do ambiente marinho. Tais ações incluem a replicação da informação, a

denúncia de impactos (como a introdução do coral-sol), a cobrança do poder

público por políticas mais eficazes e a colaboração direta com o projeto, entre

outras. A atuação do PCS inclui a internet e redes sociais, eventos científicos,

acadêmicos e culturais, mídia, reuniões com a sociedade civil, poder público e

iniciativa privada, além das atividades já citadas. A fim de atingir um público tão

amplo e firmar a identidade visual do PCS, contamos com prestação de serviços

da Comnic-Commédia Nacional, responsável pela criação de três

documentários sobre o PCS e da Logochef, encarregada da criação do logotipo

e identidade visual do projeto.

Parceiros

Um projeto do tamanho e complexidade do Projeto Coral-Sol não é, nem

poderia ser, executado exclusivamente pelo Instituto Biodiversidade Marinha.

Contamos com valiosas parcerias incluindo a Universidade do Estado do Rio de

Janeiro (UERJ), o Comitê de Defesa da Ilha Grande (CODIG), o INEA através do

Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG), o ICMBio através da Estação Ecológica

de Tamoios (ESEC Tamoios), a Associação Curupira de Guias e Condutores de

Visitantes da Ilha Grande, o Instituto Terra e Mar com base em São Paulo e o

Centro de Biologia Marinha da USP (CEBIMar). Em uma fase inicial, o projeto

contou com o apoio financeiro da UniSol/Banco Real, FAPERJ e CNPq. Hoje, as

atividades do PCS são realizadas graças a um patrocínio Petrobras através do

Programa Petrobras Ambiental. Estamos em constante busca de novos

parceiros e esperamos em breve adicionar outros nomes a essa lista.

A partir de agora, você faz parte da equipe do Projeto Coral-Sol. O voluntariado é uma

parte importante da realidade do terceiro setor no mundo inteiro. Através dele,

cidadãos têm a oportunidade de participar ativamente de projetos sociais, ambientais,

e culturais com os quais se identificam. Apesar de não constituir um vínculo

empregatício, a relação entre projeto e voluntário é uma relação de respeito e

responsabilidade. Esperamos poder contribuir com a sua formação, proporcionando-

lhe experiências inesquecíveis e contamos com o seu comprometimento. Seja bem-

vindo!

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PROJETO CORAL-SOL

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Contatos

Rio de Janeiro

1. Escritório Instituto Biodiversidade Marinha

Av. Ayrton Senna 250 sala 203

Barra da Tijuca

22793-000 Rio de Janeiro – RJ

(21) 2433-7311

(21) 2480-2158

Amanda de Andrade (gerente executiva): [email protected]

Camila Meireles (educadora ambiental): [email protected]

Lívia Corrêa (estagiária de educação ambiental) [email protected]

Marcelo Checoli Mantelatto (Oceanógrafo): [email protected]

Angela Bergallo (agente administrativa): [email protected]

2. Laboratório de Ecologia Marinha Bêntica (UERJ)

Rua São Francisco Xavier 524, PHLC sala 220

20550-900 Rio de Janeiro – RJ

(21) 2334-0260

(21) 2334-0546 (ramal 30)

Angra dos Reis

1. Centro de Visitantes do Projeto Coral-Sol

Rua Amâncio Felício de Souza (rua do Maneco) 53

Vila do Abraão, Ilha Grande

23968-970 Angra dos Reis – RJ

(24) 3361-9152

Daniel de Oliveira (administrador do C.V.): [email protected]

Paula Araújo (recepcionista do CV)

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PROJETO CORAL-SOL

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Biologia e Ecologia de Corais

Simone Siag Oigman Pszczol*

*Dr. Ecologia (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e Diretora do Instituto Biodiversidade Marinha.

O que é um coral? Há quanto tempo eles existem? Como eles são? O que eles

comem? Como eles vivem? Aonde podemos os encontrar?

Os corais, apesar de mundialmente famosos, não são organismos facilmente

reconhecidos pelo público em geral. Devido a sua morfologia e esqueleto, são

comumente confundidos com plantas ou pedras.

Os corais são animais marinhos do grupo dos cnidários que possuem esqueleto

calcário (carbonato de cálcio) ou córneo (flexíveis). Eles fazem parte de um grupo

variado de invertebrados que inclui organismos aquáticos tais como as águas vivas,

medusas, anêmonas, octocorais, corais pétreos e corais de fogo. Os cnidários possuem

várias características do reino animal, incluindo organização dos sistemas nervoso e

muscular, metabolismo respiratório e alimentação de substâncias orgânicas

complexas.

Para melhor compreender temos que conhecer o grupo que eles estão inseridos.

O filo Cnidaria é subdividido em 4 classes: Hydrozoa (hidras, hidróides, hidromedusas,

caravelas), Scyphozoa (águas-vivas), Cubozoa (medusas altas, cubiformes) e Anthozoa

(anêmonas-do-mar, corais, gorgônias).

Os cnidários apresentam um corpo cilíndrico com uma cavidade gástrica, uma

estrutura em forma de saco com uma boca circundada por um ou mais círculos de

tentáculos que é utilizada para a ingestão de partículas de alimento e eliminação de

resíduos. Estes organismos são diploblásticos, (epiderme e gastroderme), possuem

simetria radial e, uma característica que está presente em todos os cnidários e os

diferencia, estruturas denominadas cnidas (do grego= urtiga). As estruturas mais

comuns são chamadas nematocistos que podem ser disparados e assim injetar toxinas

capazes de paralisar sua presa e defender o animal de predadores ou competidores.

Estes animais possuem um ciclo de vida com dois estágios: pólipo (séssil) ou medusa

(livre). O ciclo de vida da maioria das espécies das classes Hydrozoa, Scyphozoa e

Cubozoa apresenta alternância entre uma fase de pólipo e uma fase de medusa. A fase

medusa predomina em Cubozoa e Scyphozoa, enquanto que em Hydrozoa predomina

o pólipo e, em alguns casos, não possui uma das duas fases. A classe Anthozoa é

representada apenas pela fase de pólipo.

Os antozoários são exclusivamente marinhos e estão divididos em 3 subclasses

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PROJETO CORAL-SOL

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(Octocorallia, Hexacorallia e Ceriantipatharia). A ordem Scleractinia, da subclasse

Hexacorallia, inclui os verdadeiros corais conhecidos popularmente como corais

pétreos ou escleractínios.

Estes organismos apareceram há 240 milhões de anos atrás. São animais

encontrados na forma de pólipo exclusivamente marinhos que secretam um esqueleto

calcário. Eles estão divididos ecologicamente em 2 grandes grupos: o grupo construtor

de recifes de coral, que são os mais conhecidos, sendo encontrados em águas rasas e

claras dos trópicos, e o grupo que não forma recifes de coral, encontrado em todas as

regiões dos oceanos, incluindo regiões temperadas, polares, desde águas rasas até

6000 metros. Exemplos de corais não formadores de recife são os corais-sol

Tubastraea coccinea e Tubastraea tagusensis.

A principal característica dos corais escleractínios construtores de recife é a

presença de microalgas, as zooxantelas, localizadas dentro do tecido do coral. A

relação entre esta alga e o coral é considerada uma simbiose, onde ambas as partes

obtêm benefícios. A alga fornece ao pólipo alimento através do processo de

fotossíntese e, em troca, recebe proteção e nutrientes.

Os corais escleractínios têm o esqueleto calcário, secretado por células da base

do pólipo e desta forma eles se encontram sobre um esqueleto externo. Eles

apresentam uma grande variedade de formas, cores e tamanhos, podem ser solitários

(apresentando apenas um pólipo) ou coloniais (formados por vários pólipos). São

animais tipicamente carnívoros, mas também podem se nutrir de matéria orgânica

particulada ou dissolvida, ou dos compostos derivados de microalgas simbiontes

(zooxantelas).

As colônias têm seu crescimento mais importante a partir de reprodução

assexuada, sendo mais rápido em espécies ramificadas ou foliáceas apesar do peso

final ser inferior ao das colônias maciças. Diversos fatores ambientais como,

temperatura da água, sedimentação, luminosidade, nutrientes e hidrodinamismo

influenciam o crescimento e a forma dos corais. Formas maciças ou ramificadas

espessas dominam as regiões superficiais mais batidas, enquanto que formas

ramificadas mais frágeis ou foliáceas dominam a parte mais inferior dos recifes. A

variação sazonal pode promover diferentes taxas de deposição criando bandas

distintas de crescimento onde se pode estimar a idade e a taxa de crescimento da

colônia.

Os corais se reproduzem tanto sexuadamente, quanto assexuadamente. A

reprodução assexuada acontece por brotamento, com divisão interna do pólipo ou

pelo brotamento de um novo pólipo entre dois pólipos pré-existentes. Em alguns casos

há liberação de propágulos livres. A fragmentação de ramos ou partes de uma colônia

também funciona como estratégia de reprodução. Esse tipo de reprodução pode ser

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PROJETO CORAL-SOL

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desvantajoso pela ausência de variabilidade genética (organismos ficam mais

susceptíveis às mudanças ambientais) e limitada capacidade de dispersão.

Já a reprodução sexuada envolve a produção meiótica de gametas. Os animais

podem ser gonocóricos (apresentam colônia macho e fêmea separadamente) ou

hermafroditas (a produção de gametas masculinos e femininos ocorre na mesma

colônia, ou até no mesmo pólipo). Os corais apresentam dois modos distintos de

reprodução que diferem quanto ao encontro dos gametas. Nas espécies incubadoras,

o ovo é fertilizado internamente, portanto o embrião se desenvolverá numa plânula

dentro do pólipo. Enquanto que as espécies desovadoras liberam os gametas na

coluna d’água. O sincronismo da desova é fundamental para o sucesso da fertilização.

Após a fecundação o ovo se transforma em uma larva plânula ciliada que pode nadar

de algumas horas a alguns dias antes de se fixar. Há seleção do local para fixação por

recepção de sinais químicos, sendo em alguns casos espécie-específico. Após o

assentamento, a larva sofre metamorfose, começa a secretar o esqueleto calcário que

irá fixá-la ao substrato, formando o recruta ou o pólipo fundador.

Em um ambiente dominado por corais, o espaço primário é ocupado pelas

espécies dominantes: os próprios corais ou tufos de algas. As algas são os maiores

competidores. Desta maneira espera-se que ocorra uma competição tanto entre

espaço, quanto por luz. Colônias de corais ramificados crescem mais rápido,

sombreando outros tipos mais maciços. No entanto, estas outras têm habilidade de

externar os filamentos dos mesentérios e agredir a colônia vizinha causando necrose

dos tecidos da mesma. A competição entre corais e algas pode ser reduzida pelos

peixes herbívoros e outros invertebrados que colocam os corais em vantagem. Muitas

vezes o que acontece é o deslocamento das espécies com a profundidade acarretando

numa zonação. Algas em profundidades mais rasas e corais em profundidades

maiores.

Pouco ainda se sabe sobre o papel da predação na determinação da estrutura e

composição das comunidades coralíneas. Os predadores mais comuns são

equinodermas (pepinos do mar, ouriços e estrelas) e grandes moluscos. Entretanto, os

dois maiores predadores de corais, a estrela do mar, Acanthaster planci, e vários

peixes são capazes de destruir as colônias de corais e modificar a estrutura dos recifes.

Normalmente esta estrela exerce uma forte influência na composição das

comunidades coralíneas a partir do momento que existe uma preferência alimentar

sobre espécies de coral dominantes de rápido crescimento. Através da seleção de suas

presas, ela promove uma maior diversidade de corais e ajuda na sobrevivência das

espécies de crescimento mais lento. Entretanto, desde 1950 ocorreram alguns surtos e

explosões nas densidades desta estrela no Oeste Pacífico. Ao passar da densidade de 1

a 3 indivíduos por 4 horas para 100 indivíduos em 20 minutos por recife. Nesses casos

os recifes foram severamente destruídos.

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PROJETO CORAL-SOL

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Existem dois grupos de peixes que afetam as colônias de coral, os coralívoros e o

omnívoros. Os peixes coralívoros consomem diretamente os pólipos e os omnívoros

removem os pólipos em busca de algas e invertebrados. Outros predadores, menores

e bem escondidos entre os corais, como os poliquetas, caranguejos, nudibrânquios,

parecem não ter um efeito significativo nas colônias de corais, nem na comunidade.

Os herbívoros são indiretamente responsáveis pelo sucesso dos corais, porque

eles regulam as algas. Peixes e ouriços são os herbívoros mais importantes no recife de

coral, a ponto de, uma vez excluídos, provocarem uma mudança substancial na

composição e na diversidade das espécies. Em recifes onde número de herbívoros foi

drasticamente reduzido, algas filamentosas e foliáceas começaram a crescer sobre as

colônias de coral, sufocando as mesmas. Todas essas interações biológicas e físicas

ajudam a promover uma maior diversidade, tanto de corais, quanto de outros animais

e algas.

Duas grandes províncias de recifes de coral são identificadas: Indo-Pacífica e

Atlântica. A primeira chega a ter 700 espécies, em 80 gêneros de coral, enquanto a

segunda tem cerca de 62 espécies, em 36 gêneros. No Brasil, estão localizadas as

únicas formações coralíneas do Atlântico Sul. Comparando a outras regiões do mundo,

o Brasil possui uma baixa diversidade de corais recifais de águas rasas. Na costa

brasileira há registros de ocorrência de 16 espécies de corais escleractínios recifais,

distribuídas em 10 gêneros e oito famílias. Apesar do pequeno número de espécies,

nossos corais-pétreos têm grande importância biológica. Cinco destas espécies são

endêmicas do Brasil, ou seja, só ocorrem em águas brasileiras.

Literatura Consultada:

Birkeland, C. 1997. Life and death of coral reefs. Chapman & Hall, New York. 536p. Brusca, R. C. & Brusca G. J. 2002. Invertebrates. Sunderland, MA: Sinauer Associates. 936p. Crespo, J.M. & Soares-Gomes, A. 2002. Biologia Marinha. Ed. Interciência. 382p. Hetzel, B. & C.B. Castro. 1994. Corais do Sul da Bahia. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 189p. Projeto Coral Vivo. http://www.coralvivo.org.br

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PROJETO CORAL-SOL

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Ecologia e Biologia dos Bentos de Costões Rochosos

Marcelo Checoli Mantelatto*

*Mestre em Ecologia e Evolução (Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ), Oceanógrafo

(Centro Universitário Monte Serrat - Unimonte) e Técnico Ambiental do Projeto Coral-Sol (Instituto

Biodiversidade Marinha – IBMar).

1. Introdução

As regiões costeiras constituem o limite entre os ambientes terrestres e

marinhos e o encontro destes produz uma variedade de ambientes, como praias,

costões rochosos, estuários, manguezais, dunas e marismas, os quais são

constantemente modificados basicamente pelas ondas, alterações do nível do mar e

pelo tempo geológico (BYATT et al., 2001).

Os costões rochosos são afloramentos de rochas cristalinas na linha do mar,

sujeitos a diferentes condições ambientais, podendo apresentar diferentes

configurações como falésias, matacões e costões amplos e contínuos (BYATT et al.,

2001).

Os habitats bentônicos costeiros são um dos mais produtivos ambientes

marinhos, recebendo grande quantidade de nutrientes de origem terrestre como

oceânica. Devido a esta abundância de nutrientes, estes ambientes abrigam grande

número de espécies de importância ecológica e econômica, possuindo também

elevada biomassa e produção primária. Desta forma, diversos organismos também

utilizam estas regiões para reprodução, proteção, alimentação e crescimento

(COUTINHO & ZALMON, 2009; LEVINTON, 2001).

Desta maneira, os costões possuem um importante valor ecológico no

equilíbrio dos ecossistemas costeiros, possuindo ambientes ricos em recursos

alimentares e de grande valor econômico devido à exploração de recursos pesqueiros,

além do seu valor turístico e recreacional (LAMPARELLI, et al., 1998). O turismo, a

pesca, a aqüicultura, a especulação imobiliária, as atividades extrativistas e portuárias,

são as principais atividades econômicas vinculadas a região de costões rochosos

(SANTOS & GOMES, 2006).

Contudo, a ocupação e o turismo desordenado, o lançamento de esgotos, o

desmatamento, a introdução de espécies exóticas provenientes da descarga de água

de lastro de navios, além dos vazamentos e acidentes de óleos e derivados, fazem com

que os costões rochosos sejam alvos de impactos e alterações antrópicas, colocando o

ecossistema em questão em risco.

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PROJETO CORAL-SOL

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2. Estudo ecológico das comunidades bentônicas de costões rochosos no Brasil e

distribuição dos mesmos no Litoral Brasileiro

São poucos os estudos dos organismos bentônicos que habitam os costões

rochosos (COUTINHO & ZALMON, 2009) e este número é ainda menor na região do

infralitoral (WITMAN & DAYTON, 2000), a qual vem sendo estudada com maior

intensidade apenas nos últimos anos devido à chegada do equipamento de mergulho

autônomo. O estudo da ecologia de comunidades marinhas bentônica de fundos

consolidados é complexa devido aos diversos fatores que estão relacionados a suas

estruturas e funcionamento.

Na costa brasileira, os costões rochosos estão presentes, quase que

exclusivamente, nas regiões sul e sudeste do país, devido à proximidade da Serra do

Mar (COUTINHO & ZALMON, 2009) e desta forma representam o maior esforço e

contribuição de estudos em costões rochosos no Brasil.

3. Distribuição vertical e zonação em costões rochosos

Os organismos bentônicos que estão distribuídos ao longo da costa brasileira

são resultados de diversos e complexos fatores históricos, biogeográficos e das

características hidrológicas de cada região (COUTINHO & ZALMON, 2009).

Um dos aspectos mais evidentes num costão rochoso é a distribuição dos

organismos em faixas dispostas horizontalmente ao longo do gradiente vertical do

costão, onde as condições bióticas e abióticas do ambiente são mais propícias para

cada espécie e esta possui adaptações especiais para viver nesta área. Este tipo de

distribuição é conhecido como zonação (COUTINHO & ZALMON, 2009; NYBAKKEN &

BERTNESS, 2005).

Nesta zonação, normalmente o limite superior é controlado por limites

fisiológicos, e o limite inferior determinado pela presença de predadores ou

competição entre as espécies (LEVINTON, 2001). A grande diversidade biológica

encontrada nos costões faz com que nestes ambientes ocorram fortes interações

biológicas conseqüentes da limitação do substrato rochoso (COUTINHO & ZALMON,

2009).

Um esquema geral de zonação foi proposto por Stephenson e Stephenson

(1949, apud COUTINHO & ZALMON, 2009) e mais tarde conceituada e modificada por

Lewis (1964, apud COUTINHO & ZALMON, 2009). Paula (1987, apud COUTINHO &

ZALMON, 2009) adaptou e traduziu o esquema para o Brasil (Figura 1). A zonação das

espécies nesses ambientes reconhece três zonas principais:

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Figura 01: Esquema de zonação de Lewis (1964, apud COUTINHO & ZALMON, 2009), adaptado por Paula (1987, apud COUTINHO & ZALMON, 2009). Fonte: COUTINHO & ZALMON, 2009

3.1. Zona do Supralitoral (orla litorânea)

Parte superior do costão, a qual estabelece a fronteira entre o ambiente

marinho e o terrestre. Seu limite superior é o local onde não há presença de respingo

de água salgada. É a zona mais exposta do costão

3.2. Zona do Médiolitoral (região eulitorânea)

Os organismos presentes nesta zona estão sujeitos a períodos alternados de

imersão e emersão, sob ação das marés enchentes e vazantes. Estas flutuações da

maré mudam constantemente a temperatura, umidade e salinidade desses ambientes,

influenciados principalmente pela insolação, chuva e pelo vento.

3.3. Zona do Infralitoral (região sublitorânea)

Área totalmente submersa, podendo ficar emersa apenas em ocasiões

excepcionais da maré. A região do infralitoral possui uma posição bem variada em

termos de profundidade, podendo estar ausente em regiões de alta turbidez e alta

atividade de deposição de sedimentos, e estender-se até 268 metros em locais de

águas claras (COUTINHO & ZALMON, 2009).

Diversos fatores, como a ação das ondas, intensidade de luz e a temperatura da

água, tendem a diminuir com a profundidade (NYBAKKEN & BERTNESS, 2005; SUMICH,

1992). Os organismos presentes nestas regiões são menos tolerantes aos estresses das

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outras camadas, a qual apresenta ambientes mais instáveis (COUTINHO & ZALMON,

2009; LEVINTON, 2001; SUMICH, 1992).

As algas e os organismos coloniais são dominantes nesses ambientes e devido

ao espaço limitado nesses costões, diversas relações inter e intra-especificais podem

ser visíveis, onde diversas espécies de morfologias e evoluções diferentes competem

pelo mesmo espaço (LEVINTON, 2001; NYBAKKEN & BERTNESS, 2005).

A presença de matacões nos costões propicia ambientes distintos devido a

diferentes condições de luminosidade e hidrodinâmica, e desta forma, aumenta a

diversidade do local.

A distribuição e a abundância de organismos no infralitoral de um costão

rochoso são influenciadas por diversos fatores bióticos (disponibilidade de alimento,

recrutamento, mortalidade, competição, predação e assentamento) e abióticos

(substrato, luminosidade, temperatura, salinidade, hidrodinâmica local, sedimentação

e turbidez da água) que interagem produzindo ambientes distintos (COUTINHO &

ZALMON, 2009; LEVINTON, 2001; NYBAKKEN & BERTNESS, 2005).

Desta forma, a comunidade bentônica em ambientes abrigados e/ou

protegidos é geralmente diferente das encontradas em ambientes abertos e/ou

desabrigados. Muitas espécies em áreas protegidas não são encontradas em áreas

abertas e vice-versa, ainda, nas espécies que podem ocorrer em ambos os habitats,

podem ocorrer diferenças morfológicas entre elas (LEVINTON, 2001).

4. Adaptações dos organismos bentônicos em costões rochosos

Os organismos presentes no costão rochoso podem ser sésseis, possuindo

estruturas de fixação permanente, ou de fixação temporária e vágeis, podendo

deslocar livremente, não possuindo nenhuma estrutura específica de fixação, mas

adaptações morfológicas ao ambiente (COUTINHO & ZALMON, 2009). Os organismos

vágeis possuem a vantagem da locomoção, podendo assim se mover e orientar para

atenuar seus limites (LEVINTON, 2001).

A forma e o tamanho do corpo de um organismo bentônico podem representar

uma adaptação por este ao ambiente. A relação entre superfície de fixação (SF) e

superfície total (ST) dos organismos representa a forma de fixação utilizada por estes.

Quando a razão SF/ST é próxima a 1, os organismos estão aderidos totalmente ao

substrato, como as esponjas, algas crostosas e briozoários incrustantes. Organismos

tais como os hidróides, briozoários, ascídias solitárias e inúmeras algas, que se fixam

por apenas um ponto ou por uma zona apresentam valores menores de SF/ST

(COUTINHO & ZALMON, 2009).

Organismos fixadores estão sujeitos e são influenciados pela força de arrasto

das ondas e das correntes, e desta forma, apresentam adaptações morfológicas para

combater ou minimizar estas variáveis. Organismos de forma cônica, por exemplo,

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apresentam boa resistência ao deslocamento das ondas e organismos ramificados já

oferecem pouca resistência ao fluxo de águas. Em condições de forte fluxo, onde a

pressão de arrasto pode ser máxima, torna-se difícil manter uma posição ereta e desta

forma, alguns organismos possuem corpo flexível reduzindo a força de arrasto

(COUTINHO & ZALMON, 2009; LEVINTON, 2001).

Em costões abrigados, devido ao reduzido estresse físico, há maior chance das

espécies mais frágeis e delicadas se instalarem (OLIVEIRA-FILHO & MAYAL, 1976). As

maiores diversidades tendem a ocorrer em locais com um grau intermediário de

hidrodinamismo, onde as condições extremas de estresse físico e as pressões

biológicas de predação e competição são atenuadas (COUTINHO & ZALMON, 2009).

A região do infralitoral é normalmente a mais diversificada (SUMICH, 1992) e

de maior importância econômica do meio marinho, mantendo as principais fontes de

pesca do mundo e possuindo um grande potencial mineralógico (RODRÍGUES, 1967).

Literatura consultada:

BYATT A, FOTHERGILL AA, HOLMES M (2001) The Blue Planet: a natural history of the

oceans. London: BBC Worldwide Limited 384p

COUTINHO R, ZALMON IR (2009) O Bentos de Costões Rochosos. In: PEREIRA RC,

SOARES-GOMES A. Biologia Marinha. 2ed Rio de Janeiro: Interciência Cap11, pp 281-

297

LAMPARELLI, CC, MOURA DO, RODRIGUES FO, LOPES CF, MILANELLI JCC, (1998)

Ecossistemas costeiros do Estado de São Paulo. São Paulo: CETESB – Secretaria de

Estado do Meio Ambiente – SP. Ed. Páginas e Letras 108p

LEVINTON JS (2001) Marine biology: function, biodiversity, ecology. 2ed Oxford

University press 515p

NYBAKKEN, JW, BERTNESS MD (2005) Marine biology: an ecological approach. New

York: Pearson Education 579p

OLIVEIRA-FILHO EC, MAYAL EM (1976) Seasonal distribution of Intertidal organisms at

Ubatuba, São Paulo (Brazil). Revista Brasileira de Biologia. 36:2:305–316

RODRÍGUES G (1967) Las comunidades bentonicas. In: MARGALEF R. Ecologia Marina.

Caracas: Fundación la Salle de Ciencias Naturales, Fondo de Cultura Científica, pp 563-

600

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PROJETO CORAL-SOL

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SANTOS WA dos, GOMES EA (2006) Importância econômica dos costões rochosos.

Saúde & Ambiente em Revista. Duque de Caxias, 1:2:51-59

SUMICH JL (1992) Intertidal Communities. In: SUMICH JL An Introduction to the

Biology of Marine Life. 5ed Wm. C. Brown Publishers pp 216-243

WITMAN JD, DAYTON PK (2000) Rocky subtidal communities. In: GALNES MD, HAY ME

Marine Community Ecology. Massachusetts: Sinauer Associates Inc. pp 339-366

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Ecossistemas Marinhos da Ilha Grande

Felipe de Vargas Ribeiro*

* Mestre e bacharel em Biologia Marinha (Universidade Federal Fluminense).

Antes de descrever os diversos ecossistemas marinhos existentes na Ilha

Grande, é preciso entender a condição singular da região na qual a ilha está inserida. A

região hidrográfica da Baía da Ilha Grande possui uma beleza cênica gerada por uma

grande diversidade de ambientes costeiros, como enseadas, reentrâncias e ilhas que

abrigam uma rica fauna e flora marinha. Além disso, é nessa região que a Serra do Mar

encontra o oceano e os cursos d’água afluem para o mesmo, gerando um aporte de

matéria orgânica. Isso, somado a variações sazonais entre estações secas e chuvosas, e

a fatores oceanográficos também variáveis, fazem da BIG um santuário para espécies

marinhas e terrestres. Sendo assim, foi considerada de alta prioridade para a

conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade.

A seguir são descritos brevemente os principais ecossistemas marinhos: praias

arenosas, costões e lajes rochosas, manguezais, estuários e lagoas, e fundos moles.

Costões e Lajes Rochosas

Substratos duros de composição rochosa maciça geralmente formando

paredões que adentram o oceano ou na forma de matacões que são pedaços de rocha

com diâmetro variável entre 10 cm e 10 m. Lajes diferem dos costões por serem

isoladas da orla costeira e são estruturas de mesolitoral. Costões e Lajes possuem

comunidades bióticas similares.

É comum observar um padrão de zonação nesse tipo de ecossistema gerado

por uma resposta adaptativa dos diferentes organismos aos gradientes dos fatores

abióticos como profundidade, nutrientes, temperatura, dessecação, sedimentação, luz

e batimento de ondas. Interações biológicas, padrões de recrutamento e pressão de

propágulos também influenciam a distribuição dos organismos.

A área compreendida entre a vegetação terrestre e o limite superior da

ocorrência de cracas do gênero Chthamalus e gastropodos do gênero Littorina é

conhecida como supralitoral. Trata-se de uma zona exposta constantemente ao ar,

recebendo apenas borrifos de água do mar, na qual é possível observar também o

isópodo Ligia exotica conhecido pelo nome comum de barata-de-pedra.

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Descendo um pouco mais o costão encontra-se o mesolitoral, zona com grande

influência do regime de maré. Nessa zona já é possível observar organismos com os

mais diferentes recursos para sobreviver tanto submersos, quanto expostos ao ar.

Cracas colonizam a faixa superior e macroalgas a inferior. Também são comuns

bivalves como Perna perna, Brachidontes solisianus, e moluscos como Colisella

subrugosa, Fissurella sp. e Stramonita haemastoma. Ainda são frequentes estruturas

arenosas formadas por Phragmatopoma lapidosa.

A porção do costão que fica submersa de forma permanente é o infralitoral.

Quanto maior a complexidade do substrato, maior é a variedade de micro-habitats

favorecendo a colonização por diferentes tipos de organismos. A competição por

espaço e outros recursos é intensa entre os organismos sésseis. Macroalgas como

Dictyota, Padina, Sargassum, Pterocladiella, Asparagopsis, Caulerpa e Laurencia,

competem com cnidários como Palythoa caribaeorum, Mussismilia hispida, Zoanthus

sociatus, Carijoa riisei e Bunodosoma caissarum; esponjas como Desmapsana

anchorata e Aplysina fulva, e ascídias como Phallusia nigra. Outras espécies se

deslocam ao longo do costão ou mesmo sobre os organismos sésseis, em busca de

alimento, abrigo ou parceiros sexuais. Como é o caso da estrela-do-mar Oreaster

reticulatus, o ouriço Lytechinus variegates, e a holotúria Isostichopus badionotus.

Diversas espécies de peixes recifais também vivem intimamente associadas ao costão

como é o caso do peixe donzela; Chromis flavicauda.

Manguezal

O manguezal é característico de regiões tropicais e subtropicais, sendo

considerado um ecossistema de transição entre os ambientes marinhos e terrestres,

sujeito ao regime de maré. Ocorre em locais protegidos das ondas, em áreas de

deposição de sedimentos terrígenos ou marinhos, nos estuários e deltas de rios.

A vegetação típica do manguezal, o mangue, atua como uma armadilha de

sedimento, resultando num substrato lodoso. Os principais componentes vegetais são

o mangue vermelho, Rhizophora mangle, o mangue seriba ou siriuba, Avicenia spp., e

o mangue branco Laguncularia racemosa. Raízes aéreas e um sistema de secreção de

sal são algumas das estratégias de sobrevivência desses organismos. Os propágulos

podem se fixar no substrato ao cair, ou flutuar até se estabelecerem em local

adequado.

Gramas marinhas, arbustos e samambaias conseguem se estabelecer em

clareiras e em zonas de transição entre o mangue e o mar, ou no estuário. Algas se

desenvolvem nos troncos e raízes fornecendo abrigo para pequenos invertebrados.

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As copas das árvores abrigam animais terrestres como insetos, aves e

mamíferos. Na base da vegetação ocorre um acúmulo de folhas que são degradadas

por bactérias e fungos. Caranguejos como o chama-marés; Uca spp., uçauna; Ucides

spp., e guaiamum; Cardisoma sp., são abundantes. Caramujos como Neritina e

Littorina, ostras, cracas e mexilhões são comuns nos troncos e raízes. Nos corpos de

água aprisionados entre as raízes, juvenis de peixes e siris se desenvolvem

aproveitando a oferta de alimento oriunda do aporte de matéria orgânica e da rica

fauna do mangue.

Praias Arenosas

As praias são formadas através de processos de erosão e deposição que geram

acumulações de areia, moldadas pelas ondas e granulometria do sedimento.

Diferentes zonas são estruturadas pelas marés e ondas: zona superior, zona

mediolitoral, e zona inferior. Na zona de arrebentação há maior instabilidade do

substrato.

Na zona superior é possível observar a planta de restinga Ipomoea pes-capre,

que avança entre as tocas da maria-farinha; Ocypode quadrata, detritívoro que

também partilha o nicho com gaivotões e pulgas da praia.

O interstício da areia no médio-litoral é rico em detritos e microalgas que

servem de alimento para o tatuí; Emerita brasiliensis, a tatuíra; Lepidopa richmond, o

siri-chita; Arenaeus cribarius, os moluscos Tellina sp., o sarnambi Donax hanleyanus e

poliquetas.

Já no infralitoral, são comuns gastrópodes, como Olivancillaria brasiliensis, o

octocoral de sedimento Renilla sp. e as bolachas-da-praia Encope emarginata.

Estuários e Lagoas

Estuários e lagoas são caracterizados por gradientes de salinidade formados

pelo encontro entre as águas continentais e a água do mar. Ocorre uma estratificação

vertical, na qual a água mais salgada, mais densa, fica no fundo. Outros fatores

também variam, como oxigênio, temperatura, e clorofila. Poucos organismos

conseguem sobreviver em tais ambientes transacionais.

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Nas lagoas da Reserva Biológica da Praia do Sul ocorrem algumas espécies de

peixes como tainhas, robalos e carpebas, além de ostras, caranguejos como guaiamum

e uçauna, e o siri azul; Callinectes exasperatus.

No estuário de Dois Rios, é possível observar cracas, ostras e o caramujo

Neritina virginea. Ocasionalmente, capivaras são encontradas pastando manchas da

grama marinha Ruppia maritima, além da lontra Lutra enudris. A garça-cinzenta e a

garça-branca-grande também são avistadas nos estuários.

Fundos Moles Infralitorais

A composição da biota que vive na superfície ou nos interstícios do sedimento

é diretamente influenciada pela granulometria, estabilidade, nutrientes e

profundidade. Moluscos, poliquetas e crustáceos são os componentes da macrofauna

que exibem a maior riqueza e densidade.

Quanto mais próximo dos costões rochosos, maior é a riqueza de espécies de

poliqueta na Baía da Ilha Grande. Os grupos mais abundantes dentre os Crustacea são

Amphipodas, Isopodas e Decapodas.

No Saco do Céu e na Praia do Abraãozinho ocorrem bancos da grama marinha

Halodule wrightii, e nas praias de Biscaia e Longa foi registrada a macroalga Caulerpa

scalpelliformis. Além disso, é comum encontrar tapetes de cianobactérias na superfície

dos sedimentos da região, as quais realizam fotossíntese e fornecem energia e

alimento para o zoobentos.

Literatura consultada:

CREED, J. C. (Org.) ; PIRES, Debora O (Org.) ; FIGUEIREDO, Marcia A de O (Org.) .

Biodiversidade Marinha da Baía da Ilha Grande. Brasília - DF: MMA / SBF, 2007. v. 1.

416 p.

CREED, J. C. Ecossistemas marinhos. In: Marcos Bastos; Catia Henriques Callado.

(Org.). O Ambiente da Ilha Grande. Rio de Janeiro: Centro de Estudos Ambientais e

Desenvolvimento Sustentável, 2009, v. 1, p. 247-298.

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Métodos de Amostragem em Costões Rochosos

Felipe de Vargas Ribeiro*

* Mestre e bacharel em Biologia Marinha (Universidade Federal Fluminense).

O oceano sempre foi uma fonte de inspiração, fascínio e até temor para a

humanidade. Desde as primeiras ocupações costeiras, o homem vence desafios para se

deslocar na superfície do mar e usufruir dos mais diversos recursos. Apesar do

desenvolvimento da navegação e das técnicas de pesca, não faz mais do que 300 anos

que se passou a ter acesso ao mundo submerso e suas riquezas. O primeiro registro de

um aparato de mergulho data de 1749 por John Lethbridge cujas descrições do fundo

do mar foram uma grande novidade para a época. Quase 100 anos depois, August

Siebe desenvolve o Scafandro, que rapidamente foi adotado pelas forças militares.

Somente em 1930, o pesquisador naturalista Jacques Yves Cousteau, apresenta o

S.C.U.B.A. (Self contained underwater breathing apparatus), e cria o mergulho

autônomo. A partir daí, o mergulho começa a ser difundido e o tempo de fundo

aumenta, o que possibilitou a aplicação de métodos da Ecologia terrestre para estudar

as comunidades e ecossistemas subaquáticos.

Alguns dos métodos mais utilizados nos estudos de comunidades de substrato

consolidado são listados abaixo, assim como suas vantagens e desvantagens.

Planejamento

Antes de iniciar o estudo propriamente dito, é necessário pensar em alguns

fatores. De acordo com o método científico, o pesquisador elabora questionamentos a

partir da observação de um fenômeno ou padrão na natureza. Em seguida são

definidas as hipóteses que serão confirmadas ou rejeitadas através dos dados obtidos

nos métodos de amostragem e experimentação. Dessa forma, o objetivo do trabalho

deve ser claro para poder definir quais variáveis serão amostradas, e o método com a

melhor relação custo/benefício a ser utilizado. Ainda, deve-se reunir o máximo de

informações possíveis acerca dos processos que regem as interações biológicas, suas

respectivas escalas e respostas a fatores ambientais. Os fatores custo e tempo devem

ser considerados cautelosamente para que os recursos disponíveis sejam otimizados. É

muito importante realizar um estudo piloto para definir o número de réplicas com

maior poder estatístico, momento da amostragem, além de testar e comparar

diferentes metodologias.

Page 22: Projeto Coral-Sol - Apostila Complementar

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Transecto de intercepção de linha

Utilizado para estimar a porcentagem de cobertura da comunidade bentônica.

A fita metrificada é esticada sobre o substrato e o mergulhador registra a distância que

cada espécie/forma de vida da camada primária ocupa ao longo da mesma. O processo

é repetido em diferentes profundidades e replicado 5 vezes. O comprimento

acumulado para cada espécie é dividido pelo comprimento total da fita e multiplicado

por 100. Simples, barato e pode ser feito por não especialistas. Porém não detecta

pequenas mudanças e as formas de vida são difíceis de serem padronizadas por não

especialistas.

Transecto de ponto de linha

Mesma configuração do transecto de intercepção, porém, ao invés de registrar

a distância de cada organismo, pontos aleatórios são sorteados e marcados ao longo

da fita. Somente o organismo diretamente abaixo do ponto é registrado. É mais rápido

que o transecto de intercepção e também pode ser executado por não especialistas,

como por exemplo, a metodologia Reef Check. Espécies pequenas e raras dificilmente

são registradas.

Transecto de corrente

Um transecto com marcações a cada metro é esticado no fundo, de preferência

elevado por meio de estacas. A partir de uma das extremidades, coloca-se uma

corrente de 1,5 a 2 m de comprimento sobre o substrato, acompanhando o perfil.

Através da relação entre o número de correntes e o comprimento da fita, é possível

obter um índice de rugosidade do substrato. Também é registrado o comprimento de

cada organismo através do número de elos por metro. Método indicado para detalhar

a composição do recife e a tridimensionalidade do mesmo. Mais apropriado para

formas incrustantes e massivas. Lento, trabalhoso, danifica os organismos,

principalmente quando utilizado sobre formas ramificadas.

Transecto de faixa (Belt transect, Ranqueamento)

O mergulhador registra dados de abundância de uma espécie alvo ou de várias,

por um período de tempo, ou pelo número de batidas de perna. A área amostrada

pode ser definida visualmente, ou fisicamente através de fitas, cordas e tubos. Permite

que muitos transectos sejam realizados em pouco tempo, sendo considerado um dos

métodos mais rápidos. Indicado quando uma grande quantidade de dados precisa ser

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PROJETO CORAL-SOL

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coletada em pouco tempo, ao invés de um alto grau de precisão para definir a área de

estudo. Está sujeito a um erro amostral do mergulhador, que poderá ser influenciado

pelo movimento das correntes, raio amostral diferente ou cobrir distâncias diferentes.

O método utilizado pelo Projeto Coral Sol para realizar o monitoramento

extensivo é a escala DAFOR (De Paula & Creed, 2005). Em cada local, paralelo ao

costão, dois mergulhadores em apnéia nadam cinco etapas de 1 minuto observando o

substrato, onde para cada espécie de Tubastraea é aplicado a escala: Dominante,

Abundante, Freqüente, Ocasional, Raro ou Ausente.

Quadrado

Com o objetivo de delimitar uma área específica para amostrar a comunidade,

esse método consiste no posicionamento de um quadrado feito de metal ou plástico

sobre o substrato. O quadrado é ainda subdividido em quadrados menores. Pode ser

posicionado de forma aleatória ao longo de um transecto ou através de rebatimento

sobre o substrato. No caso de locais com alta rugosidade, quadrados fixos são mais

indicados por selecionar áreas com menor ocorrência de fendas e buracos que

aumentam consideravelmente a superfície a ser amostrada e atrapalham o

posicionamento. Geralmente, são utilizados tamanhos menores que 50 X 50 cm de

lado devido às condições de visibilidade, tamanho e ocorrência críptica das espécies, e

posicionamento sobre a superfície desnivelada. É possível estimar a frequência dos

organismos por meio das intersecções dos subquadrados, registrando-se a espécie

diretamente abaixo do ponto. Também, pode-se estimar a porcentagem de cobertura,

registrando-se em cada subquadrado a espécie dominante e depois é calculada a

cobertura total.

Foto Quadrado

Esse método é uma adaptação do uso do quadrado, no qual uma câmera

fotográfica é posicionada perpendicularmente ao substrato a uma distância pré-

estabelecida. É comum o uso de um gabarito (frame) para garantir que a distância seja

a mesma em todas as réplicas. As fotos são analisadas após o mergulho com auxílio de

programas como CPCe 5.0, que permitem a plotagem de pontos aleatórios para

calcular frequência, além de estimar a porcentagem de cobertura. Através deste tipo

de programa também é possível calcular área total da colônia de corais e outros

organismos sésseis. É um método rápido e permite que as réplicas sejam mantidas em

arquivo de forma permanente, possibilitando a aplicação de diferentes análises, e

acesso por especialistas. Porém, observações mais detalhadas dos organismos não são

Page 24: Projeto Coral-Sol - Apostila Complementar

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PROJETO CORAL-SOL

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possíveis, pois se perde a tridimensionalidade e eventuais sombras não podem ser

removidas.

Vídeo

O registro de imagens através de câmeras de vídeo é muito utilizado para obter

imagens gerais da aparência do substrato. Ao longo de um transecto ou distância pré-

determinada são capturadas imagens do substrato em larga escala, com grande

similaridade à visão do mergulhador. Em um dos protocolos mais utilizados, a câmera

é suspensa a uma distância fixa de 25 cm do substrato enquanto o mergulhador se

desloca numa velocidade constante ao longo de 50 m. As imagens são analisadas

através de pontos aleatórios nos diferentes quadros separados por um programa

específico ou pausado manualmente em intervalos pré-definidos. Pode ser aplicado no

monitoramento quantitativo de espécies grandes e conspícuas. Também é possível

identificar mudanças súbitas ou qualitativas no habitat. É possível captar imagens de

qualidade em ambientes com menos luz do que a fotografia. Entretanto a resolução da

imagem é menor do que as câmeras fotográficas, o que gera problemas na hora de

analisar as imagens, impossibilitando a identificação de certos organismos. Distorção

da imagem é outro obstáculo no tratamento pós-mergulho.

RAP

Os protocolos de acesso rápido (do inglês, Rapid Assessment Protocol) foram

desenvolvidos no Golfo do México principalmente para estimar o grau de degradação

dos recifes. Consiste basicamente em uma amostragem rápida, geralmente feita por

especialistas, focando nas espécies mais conspícuas do recife como corais, algas,

esponjas, e espécies chave como o ouriço Diadema (no caso do Golfo do México). Ao

longo de um transecto de 10 m são registrados dados de porcentagem de cobertura de

corais vivos, mortos, branqueados e doentes. A cobertura algal é estimada por

quadrados de 25 X 25 cm de lado, a cada dois metros do transecto. Equinodermos são

contados numa faixa lateral de 2 m a partir da fita. Os peixes recifais são registrados

por espécie e abundância estimada. São feitas 6 réplicas por estação.

No Brasil, essa metodologia foi aplicada em Abrolhos e na Ilha Grande, ambos

disponíveis no Ministério do Meio Ambiente.

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INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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Literatura consultada:

DE PAULA, A.F., CREED, J.C. 2005. Spatial distribution and abundance of nonindigenous

coral genus Tubastraea (Cnidaria, Scleractinia) around Ilha Grande, Brazil. Brazilian

Journal of Biology, V. 65, N. 4, P. 661-673.

UNDERWOOD, A.J., CHAPMAN, M.G. 2005. Design and Analysis in Benthic Surveys. In:

Methods for the Study of Marine Benthos.(ed) Eleftherion, A., McIntyre, A. 3rd ed.

Blackwell Science, Oxford. 418p

Page 26: Projeto Coral-Sol - Apostila Complementar

INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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Métodos de Monitoramento do Projeto Coral-Sol

Amanda Guilherme da Silva*

*Bióloga (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ)

As consequências da introdução de espécies exóticas podem ser mais bem

avaliadas se antes forem realizadas predições de seus possíveis impactos (BAX, 2001).

Assim, é necessário monitorar essas espécies para quantificar mudanças temporais em

abundância através da comparação dos dados obtidos recentemente com dados

obtidos anteriormente, de modo a determinar a taxa de aumento em abundância nas

regiões de introdução e prever conseqüências possíveis.

A metodologia que visa a monitorar, em larga escala, a distribuição geográfica do

Coral-Sol, segue aquela utilizada por De Paula (2002), De Paula & Creed (2005), Creed

& Oliveira (2007). Em cada local dois mergulhadores em apnéia nadam cinco etapas de

1 minuto, paralelo aos costões rochosos (aproximadamente 25m de extensão por

minuto), observando o substrato para diagnosticar a presença dos corais Tubastraea

coccinea e Tubastraea tagusensis. Em cada etapa, os mergulhadores estimam se o

coral-sol é dominante, abundante, frequente, ocasional, raro ou ausente.

Posteriormente, é aplicada uma escala numérica de infestação sendo: dominante (10),

abundante (8), freqüente (6), ocasional (4), raro (2) e ausente (0). Ainda são anotadas a

localização dos pontos, através de GPS, e algumas variáveis ambientais. Os dados são

dispostos em mapa georeferenciado.

Para detectar mudanças em populações de coral-sol ao longo de tempo, em escala

pequena, uma segunda metodologia teve início em 2005 na Ilha Grande. Transectos

permanentes de 50m marcados com blocos de cimento no costão em 2-4 m de

profundidade. Em cada transecto são dispostos 15 quadrados fixos e 15 em posição

aleatória. Os quadrados são de 0,25m2 e em cada quadrado será estimada a

porcentagem de cobertura dos principais organismos sésseis, inclusive do coral-sol.

Ainda, é contado o número de indivíduos de cada espécie de T. tagusensis e T.

coccinea em cada quadrado. A localização dos transectos permanentes de

monitoramento é escolhida em função dos dados de monitoramento em relação à

distribuição geográfica em larga escala, sendo escolhidos locais com alta, media, baixa

e sem presença de coral-sol. Atualmente, estão implantados oito transectos na Baía da

Ilha Grande e há previsão de duplicar este número. A freqüência de amostragem inicial

deve ser a cada seis meses, sendo esta freqüência revisada conforme os dados obtidos.

Page 27: Projeto Coral-Sol - Apostila Complementar

INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

27

Literatura consultada:

BAX, N. J. (2001). Invasive species and biodiversity management J. Exp. Mar. Biol. Ecol.

257: 317-319

CREED J. C., OLIVEIRA A. E. S. (2007). Uma metodologia e análise de impactos

ambientais. In: Creed JC, Pires DO, Figueiredo MAO (eds) RAP Ilha Grande: Um

levantamento da biodiversidade 349-377.

DE PAULA A. F. (2002). Abundância e distribuição espacial do coral invasor Tubastraea

na Baía da Ilha Grande, RJ e o registro de T. tagusensis e T. coccinea para o Brasil.

Dissertação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro: 1-87.

DE PAULA A. F., CREED J. C. (2005). “Spatial distrubution and abundance of

nonondigenous coral genus Tubastraea (Cnidaria Scleractinia) ariund Ilha Grande,

Brazil.” Braz. J. Biol. 65: 661-663.

Page 28: Projeto Coral-Sol - Apostila Complementar

INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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Instrumentação Oceanográfica Básica

Marcelo Checoli Mantelatto*

*Mestre em Ecologia e Evolução (Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ), Oceanógrafo

(Centro Universitário Monte Serrat - Unimonte) e Técnico Ambiental do Projeto Coral-Sol (Instituto

Biodiversidade Marinha – IBMar).

Ambiente físico e importância de coleta de dados abióticos em estudos ecológicos

O habitat de um organismo é o lugar, ou estrutura física, no qual ele vive e este

é caracterizado por suas notáveis características físicas. O nicho de um organismo

representa os intervalos de condições que ele pode tolerar e os modos de vida que ele

possui, isto é, seu papel no sistema ecológico. Assim cada espécie possui um nicho e

atributos de forma e função distintos, os quais determinam as condições que este

pode tolerar. A variedade de habitats contém a chave para muito da diversidade dos

organismos vivos, onde cada organismo deve se especializar em relação tanto ao

intervalo de habitats, no qual pode viver, quanto ao nicho que ele pode ocupar.

A forma e as funções dos organismos evoluíram parcialmente em resposta às

condições prevalecentes no mundo físico. A estrutura e o funcionamento de um

organismo estão adaptados ao ambiente particular em que ele vive. Todos os

organismos são restringidos por seus ambientes físicos. Assim, as distribuições de

plantas e animais estão restritas a ambientes determinados.

Cada organismo geralmente tem um intervalo estreito de condições

ambientais, as quais ele está mais bem adaptado, o que define seu ótimo. Quando o

indivíduo esta sobre condições ótimas, seu sucesso reprodutivo é alto o bastante para

manter uma população. Sob condições marginais, o indivíduo poderia ser capaz de se

manter indefinidamente, mas não ser substituído em populações futuras. Condições

extremas são inadequadas para a manutenção individual, e o indivíduo pode se

aventurar em tais condições somente por curtos períodos ou podem migrar para outro

lugar, utilizar materiais armazenados durante períodos de abundância ou entrar em

estado de inatividade.

O ambiente físico varia largamente ao longo da superfície da Terra, os quais

moldaram as distribuições e adaptações dos organismos. Todos os fatores associados

aos ambientes criaram uma grande variedade de condições físicas que, por sua vez,

promoveram a diversificação dos ecossistemas e assim dos organismos.

Toda influência que os seres vivos podem receber em um ecossistema,

derivados de aspectos físicos, químicos ou físico-químicos é conhecido como fatores

abióticos. Como exemplo podemos citar: as variações de temperatura, salinidade,

umidade, luz, precipitação atmosférica, vento, oxigênio, clima, entre outros.

Page 29: Projeto Coral-Sol - Apostila Complementar

INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

29

Os organismos bentônicos distribuem-se em diferentes faixas ao longo de um

costão rochoso e diversos são os fatores abióticos que influenciam nesta distribuição.

A taxa de luminosidade, a hidrodinâmica local, a turbidez, a variação de temperatura,

de salinidade e o tipo de substrato são exemplos de fatores abióticos que regem sobre

a distribuição desses organismos. Desta maneira, para estudar essas adaptações, a

dinâmica dos ecossistemas e dos organismos é imprescindível também conhecer os

fatores ambientais associados a estes ambientes.

Análise de parâmetros Ambientais (Temperatura, Salinidade e Transparência da água)

Temperatura: A temperatura é sempre medida em avaliações de ambientes

aquáticos pois reflete bem as variações sazonais. É o principal fator físico que controla

a distribuição e a atividade dos organismos, agindo como fator limitante na

reprodução, crescimento e distribuição dos mesmos. A variação de temperatura tem

relação com a transferência de calor por radiação, condução e conveccão. A energia

radiante que alcança as diferentes regiões do globo sofre, ainda, variações sazonais e

diurnas causadas pelos movimentos de translação e rotação da Terra. A análise da

temperatura com ajuda de um termômetro é realizada no momento imediato após a

amostragem da água.

Salinidade: Os sais presentes na água do mar ocorrem na forma dissolvida e

vêm se acumulando desde o início da formação da Terra. Parte é proveniente de

erupções vulcânicas, enquanto outra parcela é adicionada pelos rios, que dissolvem os

sais presentes nas rochas continentais e os transportam para o mar. Sua quantidade e

composição parecem ter variado muito pouco nos últimos 1,5 milhões de anos. A

retirada de sais das bacias oceânicas ocorre na mesma taxa em que são repostos. A

formação de depósitos de sal, incorporação no esqueleto de organismos marinhos e as

reações químicas que causam a precipitação de íons são alguns exemplos dessa

“retirada” de sais dos oceanos.

A salinidade refere-se à quantidade de sais dissolvidos na água do mar, sendo

definida pelo peso total de sais dissolvidos em 1kg de água. A atual definição de

salinidade é baseada na condutividade elétrica da água do mar e, portanto, a

salinidade é definida com uma quantidade sem unidade. As grandes diferenças entre

os valores de salinidade nos ambientes aquáticos são resultados de vários fatores,

entre os quais destacam-se: precipitação atmosférica, balanço entre evaporação e a

precipitação, a intensidade diferenciada da intemperização e composição das rochas e

solos da bacia de drenagem, descarga fluvial e formação e derretimento de gelo.

A salinidade média dos oceanos = entorno de 35

Água doce = salinidade <1

Águas costeiras = salinidade que varia entre 1 e 25 e são chamadas de salobras

Água com salinidade acima de 40 são chamadas de hipersalinas.

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INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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Refratömetro usado para medições de salinidade.

Transparência da água:. O disco de Secchi é o instrumento mais usado para esta

estimativa. O disco, preso por um cabo graduado em centímetros, é posicionado no

ambiente e a avalição visual é realizada: anota-se a profundidade do desaparecimento

do disco, deixando afundar mais alguns centímetros; levanta-se o disco lentamente até

o ponto que se torne visível ao olho do observador e anota a pronfundidade do seu

aparecimento; a média das duas medidas das profundidades de desaparecimento e

aparecimento na coluna d´água será a medida utilizada. A quantidade de partículas em

suspensão e a presença de compostos químicos que conferem cor à água podem

alterar a transparência da mesma. O posterior cálculo da profundidade da zona

eufótica serve de apoio para a interpretação dos dados de fitoplâncton e nutrientes na

água do ambiente amostrado.

Medição da transparência da água com disco de Secchi.

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INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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Literatura consultada:

BAUMGARTEN, M. G. Z.; WALLNER-KERSANACH, M.; NIENCHESKI, L. F. H. 2010.

Manual de Análises em Oceanografia Química. 2 ed. Rio Grande: Editora da Furg,

174p.

CREED, J. C.; PIRES, D. O; FIGUEIREDO, M. A. de. 2007. Biodiversidade Marinha da

Baía da Ilha Grande. Brasília: MMA, 416p.

RICKLEFS, R.E. 2003. A economia da natureza. 5 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara

Koogan. Cap. 2, 3 e 4, pag. 22-90.

SILVA, C. A. R. 2011. Oceanografia química. Rio de Janeiro: Interciência, 218p.

SOARES-GOMES, A.; FIGUEIREDO, A. G. O ambiente Marinho. In: PEREIRA, R, C;

SOARES-GOMES, A. Biologia Marinha. Rio de Janeiro: Interciência. 2002, Cap. 1, pag. 1-

34.

Page 32: Projeto Coral-Sol - Apostila Complementar

INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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Navegação Básica

Marcelo Checoli Mantelatto*

*Mestre em Ecologia e Evolução (Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ), Oceanógrafo

(Centro Universitário Monte Serrat - Unimonte) e Técnico Ambiental do Projeto Coral-Sol (Instituto

Biodiversidade Marinha – IBMar).

Nomenclaturas da embarcação

GPS (Global Positioning System)

O GPS é um sistema de posicionamento geográfico por satélite que nos dá as

coordenadas de um lugar específico da Terra, desde que tenhamos um receptor de

sinais. O sistema foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa Americano para fins

civis e militares. Nossa posição sobre a Terra é referenciada em relação ao Equador e

ao Meridiano de Greenwith, traduzido em latitudes, longitudes e altitude. São ao todo

24 satélites que dão uma volta à Terra em cada 12 horas e que enviam continuamente

sinais. Em cada local da Terra sempre haverá quatro satélites e com os diferentes

sinais desses quatro satélites o receptor GPS calcula a latitude, longitude e altitude do

lugar onde o mesmo se encontra.

A latitude é a distância angular medida ao longo do meridiano e contada a

partir do Equador, tal distância é medida em graus, podendo variar entre 0° e 90° para

Norte ou para Sul. A longitude é o arco paralelo ou ângulo no polo medido entre o

Meridiano de Greenwich e o meridiano do ponto, sua distância pode variar entre 0° e

180° para Leste ou Oeste.

O GPS além de ser de suma importância para navegação marítima é usado

também especificamente em pesquisas e trabalhos científicos para marcar e saber

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INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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posições, encontrar e retornar num determinado local, marcar caminhos ou apenas

para orientação, além de ser muito utilizado em conjunto com mapas possibilitando

uma visão geral da área em estudo. O registro do local onde uma amostra foi

recolhida, por exemplo, é de grande interesse e importância para os trabalhos

científicos.

Cartas Náuticas

A Carta Náutica nada mais é que uma representação plana de um trecho da

superfície da Terra apresentando partes de água e de litoral. Nas laterais das cartas

náuticas estão representadas as latitudes e nas partes de cima e de baixo, as

longitudes.

Em alguns pontos da carta náutica encontramos rosas-dos-ventos, com as

orientações Norte, Sul, Leste e Oeste. Aparecem, em toda a extensão das áreas

cobertas por água, vários números que representam as profundidades locais em

metros.

A escala da carta náutica é uma informação mostrada logo abaixo do título da

carta, que significa a relação entre o representado e o real. As cartas náuticas são

fabricadas em diferentes escalas, atendendo às necessidades da navegação, sendo as

de menor escala utilizadas em navegação em mar aberto e em aproximação às barras

e as de maior escala, nos portos, baías e canais.

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PROJETO CORAL-SOL

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Formação Complementar em Educação Ambiental

Camila Pinto Meireles*

*Especialista em Ensino de Ciências e Biologia (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Bióloga Marinha (UFRJ) e Coordenadora de Capacitação e Educação Ambiental do Projeto Coral-Sol (Instituto Biodiversidade Marinha).

A Educação Ambiental em um contexto histórico

O fundador da Educação Ambiental (EA), segundo Dias (1998, p.31), é o escocês

Patrick Geddes, porque em 1889 já afirmava que uma criança em contato com a

realidade do seu ambiente, aprenderia melhor e desenvolveria atitudes criativas em

relação ao mundo em sua volta.

Em geral, os registros sobre EA surgem na década de 60, época marcada pelas

conseqüências das alterações ambientais antropogênicas. Algumas dessas foram

relatadas por Rachel Carson em 1962, no livro “Primavera Silenciosa” (DIAS, 1998;

TELLES et al., 2002; CASCINO, 2003). A expressão “Educação Ambiental” foi ouvida

pela primeira vez em 1965, durante uma Conferência de Educação na Grã-Bretanha, na

qual foi aceito que essa “deveria se tornar uma parte essencial da educação de todos

os cidadãos”, sendo vista “essencialmente como conservação, ou ecologia aplicada”

(DIAS, 1998, p.31).

Em 1968 surge o “Clube de Roma”, um grupo de 30 especialistas de várias áreas

que se reuniu para discutir a crise atual e futura da humanidade (DIAS, 1998; TELLES et

al., 2002; CASCINO, 2003). Ainda neste ano, Paris vive o “maio revolucionário”, uma

grande manifestação estudantil “por um planeta mais azul” (CASCINO, 2003, p.31). A

idéia de que o perigo é planetário e vai além do desaparecimento de espécies ou

poluição da água e do ar, se difunde (VASCONCELLOS, 2006).

Em 1972, o Clube de Roma publica o relatório “Os limites do crescimento”. Na

Suécia, 113 países participam da I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente Humano, que ficou conhecida como Conferência de Estocolmo. A

conferência gerou a Declaração sobre o Ambiente Humano, que estabeleceu o Plano

de Ação Mundial e, em particular, recomendou que deveria ser constituído um

Programa Internacional de Educação Ambiental. Como reflexo dessa Conferência, a

ONU cria o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (TELLES et

al., 2002) e a UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural

Organisation) promove, na Iugoslávia (1975), o Seminário Internacional sobre

Educação Ambiental, que culminou com a “Carta de Belgrado”, com princípios e

orientações para um programa internacional.

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INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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Realizada em 1977, também pela UNESCO, em colaboração com o PNUMA, a I

Conferência Intergovernamental Sobre Educação Ambiental é considerada um marco

de referência conceitual até hoje. A Conferência de Tbilisi (Geórgia, ex-URRS) como

ficou consagrada, gerou o documento “A Educação Ambiental: as Grandes Orientações

da Conferência de Tbilisi” (1980), no qual as finalidades, os objetivos, os princípios

básicos e as estratégias de desenvolvimento de EA são definidos, e essa é delimitada

como:

Uma dimensão dada ao conteúdo e a prática da educação, orientada para a

resolução de problemas concretos do meio ambiente, através de enfoques

interdisciplinares e de uma participação mais ativa e responsável de cada

indivíduo e da coletividade (DIAS, 1998, p. 26).

Na década de 80, época marcada pelo maior acidente nuclear da história (na

usina de Chernobyl, Ucrânia) e pelo derramamento de óleo no Alasca (pelo petroleiro

Exxon Valdez), diversos encontros sobre EA são realizados por todo o mundo. Em

1987, o relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(criada pela ONU); “Nosso Futuro Comum”, conclui que “eram necessárias grandes

mudanças, tanto de atitude, quanto na forma em que nossas sociedades são

organizadas” (CMMA, 1991, p.XV). Dez anos após a Conferência de Tbilisi, a

Conferência Intergovernamental sobre Educação e Formação Ambientais de Moscou

(CEI), promovida pela UNESCO-PNUMA, buscava redirecionamentos após uma

avaliação das conquistas e dificuldades (DIAS, 1998).

Os anos 90 são de extrema importância para o Brasil. Realiza-se de 3 a 14 de

junho de 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento (UNCED). A Rio-92, como ficou conhecida, corroborou as

recomendações de Tbilisi através da Agenda 21; um programa de ação de 800 páginas

onde “a EA está presente em quase todos os 39 capítulos do documento” (DIAS, 1998,

p.110). Outros documentos importantes também foram gerados, como a Declaração

do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Convenção sobre Mudança

Climática, a Convenção sobre Biodiversidade e a Declaração sobre os Princípios de

Florestas (PRIMACK; RODRIGUES, 2001; SÁNCHEZ; PEDRINI, 2007). A Declaração do Rio

ou, Carta do Rio, foi a precursora da “Carta da Terra”, “um código universal de conduta

para guiar os povos e as nações na direção de um futuro sustentável”, ratificada pela

UNESCO em 2000 (CDDH, 2004). Ainda em 1992, o Fórum Global ou Eco-92, precursor

do Fórum Social Mundial, aprova o “Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global”, documento que reforça “a importância da Educação

Ambiental como meio indispensável para elaborar e desenvolver, de fato, formas

menos prejudiciais de interação do homem com a natureza” (TELLES et al., 2002, p.31).

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INSTITUTO BIODIVERSIDADE MARINHA

PROJETO CORAL-SOL

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Em 1997 a UNESCO/PNUMA promove em Thessaloniki, Grécia, a Conferência

Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública

para a Sustentabilidade, avaliando a EA após 20 anos de Tbilisi. A Declaração de

Tessaloniki aponta para uma mudança importante nas práticas de EA, com a

interdisciplinaridade como eixo central. Isto poderia superar “concepções de EA

centradas em um tarefismo naturalista” de apenas “denunciar/contemplar e estudar

problemas ambientais estritos, relacionados com o meio natural” (CASCINO, 2003.

p.63).

Em 2002, a Rio+10, Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento

Sustentável, acontece na África do Sul, e limita-se a avaliar o que se implementou (ou

não) das convenções da Rio-92 e, principalmente, da Agenda 21 (MMA, 2009). O

resultado foi a Declaração de Johannesburgo, documento político, e o Plano de

Implementação, com novas propostas práticas para a promoção do Desenvolvimento

Sustentável, além da nítida frustração devido ao não cumprimento das medidas

propostas 10 anos antes. Em 2007, ocorre na Índia a IV Conferência Mundial de

Educação Ambiental para um Futuro Sustentável, a Tbilisi+30, organizada pela

UNESCO-PNUMA. É lançada a “Declaração de Ahmedabad 2007: uma chamada para

ação. Educação para a vida, a vida pela educação.” Para 2012 está prevista a Rio+20,

para avaliar os resultados obtidos e a necessidade de novas medidas.

Considerações sobre a realidade da Educação Ambiental brasileira

A EA, mesmo recomendada por Conferências Internacionais, exigida pela

Constituição Federal de 1988 e reafirmada pela lei 9.795/1999 e decreto 4.281/2002,

ainda não é desenvolvida plenamente no Brasil. Embora tenha evoluído no que se

refere ao aumento da produção científica na área e à popularização nos setores formal

e não-formal, ainda carece de continuidade e aprofundamento teórico-metodológico

para alcançar seus objetivos. Isso se deve, provavelmente porque “essa área ainda se

encontra em fase de construção, o que acarreta diversas confusões conceituais,

conseqüência esperada em um campo teórico recente” (CASTRO; BAETA, 2005, p.99).

Por parte do governo, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) se propõe, através do

Sistema Nacional de EA (SisNEA), estruturar elementos do Programa Nacional (ProNEA)

e da Política Nacional de EA (PNEA), para facilitar a gestão da EA (MMA, 2009). Dessa

forma, a difusão da EA pode fomentar pesquisas que apontem novas estratégias de

atuação e indicadores desse processo.

Ainda hoje, é comum ver esse termo reduzido ao ensino de ciências, associado

com os aspectos ecológicos ou naturais das questões ambientais. Ações isoladas de um

contexto social, político, cultural, histórico ou econômico, são facilmente encontradas

sob o título de EA. Sato (2001) cita a ênfase dada ao terceiro “R” (Reciclagem) das

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PROJETO CORAL-SOL

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campanhas dos resíduos sólidos, em detrimento da Redução e da Reutilização, chaves

nos programas de EA. Soares e colaboradores associam esses fatos, ao emprego

inadequado do tema transversal Meio Ambiente nos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs), pois:

(... ) a sua efetivação no cotidiano escolar ainda deixa muito a desejar e, em muitos casos, tem se limitado a ações isoladas e/ou a entendimentos parcializados sobre a questão ambiental, orientados por uma visão excessivamente biologizada, dentro de uma vertente ecológico-preservacionista, e/ou fica restrita a eventos comemorativos (dia da árvore, dia do meio ambiente), ou ainda limitada à realização de algumas atividades práticas, denominadas extra-curriculares, eventuais (campanha do lixo, coleta para reciclagem, caminhadas ecológicas, visitas, plantio de hortas, etc.), sem a contextualização necessária e sem a internalização sobre o real entendimento da problemática ambiental no cotidiano das comunidades escolares (2004, p.9).

Após a inserção do tema transversal Meio Ambiente nos PCNs, muitos

educadores não encontraram meios de desenvolver tal conceito adequadamente, seja

por falta de capacitação ou atualização profissional, seja por falta de espaço dentro de

um “ensino conteudista”. Sato (2001, p.26) aponta a impossibilidade da

transversalidade diante de “decretos e com negligência das esferas ideológicas do

elenco social envolvido no processo”, já que trabalhar de forma transversal significa:

Buscar a transformação dos conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes (PCN’s, 1998, p.193).

Embora seja criticado e encontre muitos obstáculos, esse tema transversal

pode ser empregado no desenvolvimento da EA na escola, visto que esta não deve ser

disciplina imposta:

Trata-se então de desenvolver o processo educativo, contemplando tanto o conhecimento científico, quanto os aspectos subjetivos da vida, que incluem as representações sociais, assim como o imaginário acerca da natureza e da relação do ser humano com ela. Isso significa trabalhar os vínculos de identidade com o entorno socioambiental. Só quando se inclui também a sensibilidade, a emoção, sentimentos e energias se obtêm mudanças significativas de comportamento (PCN, 1998, p.182).

Independente de a EA ser trabalhada de forma transversal, ela “constitui uma

área de conhecimento eminentemente interdisciplinar, em razão dos diversos fatores

interligados e necessários ao diagnóstico e à intervenção que pressupõe” (CASTRO;

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PROJETO CORAL-SOL

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BAETA, 2005, p.99), visando “superar a fragmentação do conhecimento” (COIMBRA,

2005, p.117).

Quanto aos aspectos pedagógicos da EA, Telles e colaboradores (2002, p.41)

citam as tendências existentes no Brasil em cinco categorias básicas:

“Conservacionista”, “Biológica”, “Comemorativa”, “Política” e “Crítica para Sociedades

Sustentáveis”. Sato (2003, p.8) aponta ainda três tendências caracterizadas pelas

vertentes “Positivista”, “Construtivista” e “Sócio-construtivista” e Tozoni-Reis (2005,

p.269) afirma que “há diferenças conceituais que resultam na construção de diferentes

práticas educativas ambientais” e as divide em três grandes grupos; a EA “de fundo

disciplinatório e moralista, como “adestramento ambiental””; a “centrada na

transmissão de conhecimentos” e a “transformadora e emancipatória”. Sem elucidar

tais tendências, já é possível compreender a diversidade conceitual que a EA

apresenta. Com relação à sua prática não é diferente.

No caso das Unidades de Conservação (UC's), a EA se mostra de extrema

importância nas suas várias finalidades e está prevista em quase todas elas. Programas

de Educação ou Interpretação Ambiental, previstos no planejamento das UC’s,

deveriam ser idealizados de forma a conectar os visitantes com o lugar, criar maior

consciência, compreensão e apreciação dos recursos naturais e culturais protegidos,

provocar mudanças de comportamento, atrair e envolver as pessoas nas tarefas de

conservação, aumentar a satisfação dos usuários, criar uma imagem positiva da UC e da

instituição responsável e tornar a visitação mais planejada e menos impactante

(PÁDUA, 1991, apud VASCONCELLOS, 2006).

As Unidades de Conservação também estão sujeitas às diversas visões de EA,

principalmente no que se refere às suas funções. Segundo Gouveia e Saisse (2006), nas

áreas protegidas, na maior parte das vezes, a visão conservacionista prevalece, com

proposta de conservação dos recursos naturais, com divulgação de informações sobre o

ecossistema representado e de restrições de uso, geralmente recorrendo-se às Trilhas

Interpretativas.

No entanto, os programas de EA não devem focar apenas a visitação. As trilhas

interpretativas e/ou caminhadas ecológicas devem ser mais uma ferramenta. Ainda que

a visão conservacionista seja válida, visto que a conservação é a principal função das

UC’s, Pimentel (2008, p.83) afirma que a EA “não pode restringir-se às fronteiras das

UC’s” e cita os parques como lócus das ações da Política Nacional de EA, pois:

(1) Representam um eixo de integração básico entre as ações do Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação; (2) têm como premissa básica o uso público qualificado pela aquisição de conhecimentos e habilidades, reaproximando as pessoas dos ambientes naturais pela afetividade e reflexão sobre como suas ações o afetam; (3) permitem uma visão prática e crítica das relações da sociedade com a natureza de uma maneira geral e

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especificamente confrontando as noções de desenvolvimento sustentável e ecoturismo; (4) abarcam os discursos dicotômicos das relações entre ambiente e cultura, no campo das ações construídas socialmente, bem como; (5) necessitam ganhar significado para a sociedade e a Educação Ambiental, enquanto uma prática social, pode contribuir para tal se fomentar a integração participativa e democrática nas decisões sobre a gestão dos parques (p.86).

Todas as vertentes de EA citadas anteriormente, em sua maioria, focam os

ambientes terrestres. No entanto, o ambiente marinho sofre impactos cada vez

maiores, o que torna urgentes projetos de EA específicos pra essa realidade. Segundo

Pedrini (2010), a Educação Ambiental Marinha e Costeira (EAMC) é restrita no Brasil,

sendo que os registros são mais comuns em trabalhos acadêmicos.

Pedrini (2010) apresenta 5 tipologias da prática da EAMC segundo as seguintes

abordagens: 1) espécies ícones; 2) ecossistemas; 3) atores sociais; 4) simulacros; 5)

aulas de biologia marinha. Na abordagem por espécies ícones ou bandeiras, é comum o

uso de animais com maior apelo público, em geral, vertebrados, ou do topo da cadeia

alimentar, como por exemplo, tartarugas e cetáceos. Os ecossistemas são mais

trabalhados pelas universidades, com por exemplo, restingas, recifes rochosos ou

biológicos e lagunas. A abordagem voltada para os setores sociais envolve pescadores,

banhistas, caiçaras, turistas, mergulhadores, entre outros. Neste caso, destaca-se a

campanha de Conduta Consciente em Ambientes Recifais promovida pela equipe do

Núcleo da Zona Costeira Marinha do MMA, em colaboração com a Universidade

Federal do Pernambuco (figs. 1 e 2). Recentemente a EAMC agrega mais duas

atividades no Brasil; os simulacros, que tentam simular a vida marinha através de

aquários ou exposições, e preservação desses ecossistemas.

Definir o método a ser empregado, também é importante para alcançar todas as

etapas do processo de EA. Como se trata de uma área socioambiental, a pesquisa

qualitativa é o método usual, mas existem diversas abordagens metodológicas nesse

universo. A Pesquisa-ação é um abordagem bastante adequada, quando o foco é a

resolução de problemas coletivamente identificados, tomada de consciência e

produção do conhecimento. Michel Thiollent (apud El Andaluce, 2004, p. 14) afirma que

a Pesquisa-ação é:

Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

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Figura 1: Cartaz da campanha de Conduta Consciente em Ambientes Recifais.

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Figura 2: Cartaz da campanha de Conduta Consciente em Ambientes Recifais com

algumas recomendações para os visitantes.

Afinal, o que é Educação Ambiental?

A Política Nacional de EA (BRASIL, 1999) a define, no seu artigo 1º como:

Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores

sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a

conservação do meio ambiente, bem do uso comum do povo, essencial à qualidade de

vida e sua sustentabilidade.

Antes de realizar EA de qualquer natureza, é preciso ter em mente que a palavra

“processos”, presente nessa definição, está relacionada à continuidade necessária para

se obter resultados eficazes. Para se desenvolver uma EA de acordo com os princípios e

diretrizes recomendados desde Tbilisi, é importante gerar:

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conhecimento/compreensão, sensibilização/conscientização, habilidades,

ação/participação e atitudes/valores/comportamentos. Reconhecer que o conceito de

meio ambiente é complexo e abrange não só o aspecto natural, mas também o social, o

cultural, entre outros, é necessário para a sua conservação.

O contexto atual exige uma EA política, emancipatória, transformadora, crítica,

interdisciplinar, contextualizadora, holística, permanente, abrangente e globalizadora,

de acordo com o Programa Nacional de Educação Ambiental. Buscar e desenvolver

esses aspectos garante a formação de cidadãos aptos a serem agentes multiplicadores.

Literatura consultada:

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental. Temas Transversais. Brasília: MEC/ Secretaria de Educação Fundamental - SEF, 1998. 436p.

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<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/raega/article/viewFile/3393/3770> Acesso em jun/2010.

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