projeto: adaptaÇÃo para a economia...

Download PROJETO: ADAPTAÇÃO PARA A ECONOMIA BRASILEIRAmediadrawer.gvces.com.br/publicacoes/original/gvces_relatorio... · Sustentabilidade da Escola de Administração ... possui como principal

If you can't read please download the document

Upload: vuongdieu

Post on 06-Feb-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • PROJETO: ADAPTAO PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

    Componente 3 Planejamento pblico em adaptao:

    integrao do tema adaptao mudana do clima em

    polticas de desenvolvimento industrial no Brasil

    Relatrio 3 Integrao do tema adaptao mudana do

    clima em polticas de desenvolvimento industrial no Brasil:

    Recomendaes para formuladores de polticas pblicas

  • 2

    RELATRIO Relatrio 3 Integrao do tema adaptao mudana do clima em polticas de desenvolvimento industrial no Brasil: Recomendaes para formuladores de polticas pblicas. APOIO Embaixada Britnica no Brasil e Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC). PROJETO Adaptao para a economia brasileira. Componente 3 Planejamento pblico em adaptao: Integrao do tema adaptao mudana do clima em polticas de desenvolvimento industrial no Brasil COORDENAO GERAL DO ESTUDO Mario Monzoni, GVces COORDENAO EXECUTIVA DO ESTUDO Guarany Osrio, GVces EQUIPE TCNICA DO ESTUDO Alexandre Gross, GVces Guilherme Borba Lefvre, GVces Gustavo Velloso Breviglieri, GVces Inai Takaes Santos, GVces AGRADECIMENTO Agradecemos a Embaixada Britnica que, por meio do Fundo Prosperity, financiou o projeto supracitado. Agradecemos tambm equipe da Secretaria do Desenvolvimento da Produo do MDIC, em especial Beatriz Martins Carneiro e Demtrio Florentino de Toledo Filho, pelas valiosas contribuies durante a elaborao deste estudo. AVISO O contedo apresentado neste estudo de responsabilidade da equipe do GVces e no representa a posio oficial do MDIC ou da Embaixada Britnica no Brasil. CITAR COMO GVces. Integrao do tema adaptao mudana do clima em polticas de desenvolvimento industrial no Brasil: Recomendaes para formuladores de polticas pblicas. Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administrao de Empresas de So Paulo da Fundao Getulio Vargas. So Paulo, p. 27. 2016.

    REALIZAO

  • 3

    SUMRIO

    Apresentao .......................................................................................................................................................... 4

    Introduo ............................................................................................................................................................... 4

    1. Principais produtos e resultados ......................................................................................................................... 5

    2. Aes para a integrao da adaptao em polticas de desenvolvimento industrial ....................................... 18

    3. Consideraes finais e prximos passos ........................................................................................................... 24

    4. Bibliografia ........................................................................................................................................................ 26

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Aes-meio e aes-fim que podem contribuir para a implementao da Estratgia de Indstria e

    Minerao do PNA ................................................................................................................................................ 19

    Figura 2 Principais riscos climticos para o setor industrial brasileiro, de acordo com entrevistas realizadas

    como atores do setor. ........................................................................................................................................... 21

    Figura 3 Identificao do sistema prioritrio para a implementao da estratgia de indstria e minerao por

    meio das aes sugeridas. .................................................................................................................................... 23

    file:///C:/Users/guilherme.lefevre/Google%20Drive/Embaixada%20UK%20(MDIC)/Output%203%20(MDIC)/Relatrio%203/Relatrio%203%20MDIC_11_03.docx%23_Toc445823624file:///C:/Users/guilherme.lefevre/Google%20Drive/Embaixada%20UK%20(MDIC)/Output%203%20(MDIC)/Relatrio%203/Relatrio%203%20MDIC_11_03.docx%23_Toc445823624

  • 4

    Apresentao

    O Projeto Adaptao para a Economia Brasileira, patrocinado pelo Fundo Prosperity do Reino Unido1, tem como principal objetivo fortalecer o planejamento nacional em adaptao mudana do clima por meio do desenvolvimento de estudos, ferramentas e atividades, para os setores pblico e privado. O Projeto possui 3 componentes:

    Os Componentes 1 e 2 objetivam a construo de uma ferramenta de planejamento e gesto para os setores empresariais e sociedade civil organizada, para auxiliar no desenvolvimento e implementao de uma estratgia de adaptao. As organizaes responsveis pela sua implementao so o Centro de Estudos em Sustentabilidade da EAESP-FGV (GVces), em parceria com o UKCIP2. O principal beneficirio desses dois componentes o Ministrio do Meio Ambiente (MMA).

    J o Componente 3 visa formulao de recomendaes sobre a integrao do tema adaptao na poltica de desenvolvimento industrial. O GVces responsvel pela execuo desse componente, que possui como principal beneficirio o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC). As principais entregas do terceiro componente so:

    Relatrio 1 - Principais conceitos e aprendizados a partir de experincias internacionais.

    Relatrio 2 - Contribuies para o planejamento pblico em adaptao: experincias e percepes de atores envolvidos (pblicos e privados) sobre o tema adaptao mudana do clima na indstria brasileira.

    Relatrio 3 - Integrao do tema adaptao mudana do clima em polticas de desenvolvimento industrial no Brasil: Recomendaes para formuladores de polticas pblicas.

    O presente documento corresponde ao terceiro relatrio do Componente 3 e, desse modo, consolida os principais resultados dos trabalhos em recomendaes para gestores pblicos envolvidos na agenda de adaptao na indstria.

    Introduo

    O estudo acerca dos principais conceitos e experincias internacionais em adaptao s mudanas climticas (Relatrio 1), em conjunto com as percepes dos atores consultados (Relatrio 2), representam uma base de informaes que pode fornecer importantes insumos para o planejamento pblico em adaptao para a indstria no Brasil. Nesse sentido, o presente relatrio utiliza o conjunto de informaes geradas para apresentar recomendaes, visando contribuir para a devida incorporao do tema nas polticas de desenvolvimento industrial e em processos associados.

    Em especial, considerando o contexto regulatrio atual, espera-se por meio desse relatrio poder contribuir para a implementao da Estratgia de Indstria e Minerao do Plano Nacional de Adaptao (Brasil, 2015). Buscou-se, sobretudo, identificar aes para a operacionalizao das diretrizes contidas na estratgia supracitada, capazes de criar condies e/ou proporcionar acesso aos recursos necessrios para a viabilizao dos objetivos da Estratgia.

    1 https://www.gov.uk/guidance/prosperity-fund-programme (acessado dia 01/02/2015). 2 UK Climate Impacts Programme: http://www.ukcip.org.uk (acessado dia 01/02/2015).

    https://www.gov.uk/guidance/prosperity-fund-programmehttp://www.ukcip.org.uk/

  • 5

    O relatrio est estruturado da seguinte forma: A Seo 1 traz uma recapitulao dos principais produtos e resultados do estudo, que juntos subsidiaram a elaborao desse relatrio final. Na sequncia, a Seo 2 apresenta o conjunto de aes sugeridas para a incorporao da adaptao em polticas industriais. Por fim, a Seo 3 faz algumas consideraes finais e discorre sobre prximos passos.

    1. Principais produtos e resultados

    Relatrio 1: Principais conceitos e aprendizados a partir de experincias

    internacionais

    Justificativa

    A adaptao s MC configura um campo de estudo multidisciplinar e, logo, recebe aportes tericos

    de diferentes reas do conhecimento. Essa caracterstica no somente desejvel como tambm

    necessria, j que se trata de um desafio de mltiplas dimenses que encontram correspondncia

    nas cincias exatas, humanas e biolgicas.

    O reconhecimento da diversidade de abordagens e (at certo ponto) o alinhamento conceitual

    constituem passos essenciais para assegurar coerncia nos estudos sobre adaptao, no desenho e

    na implementao de polticas pblicas que tenham interface com o tema. Desse modo, a partir da

    definio dos objetivos da pesquisa e assuntos a serem abordados, entendeu-se necessria a

    confeco de um relatrio no qual fossem trabalhados os principais conceitos pertencentes ao tema

    adaptao s MC, em especial aqueles que possuem relevncia para o planejamento pblico em

    adaptao. Buscou-se ainda explorar exemplos internacionais de polticas pblicas adotadas, sempre

    que relevante para um melhor entendimento dos conceitos estudados.

    Conceitos fundamentais em adaptao

    Os conceitos fundamentais em adaptao explorados no primeiro relatrio esto, de certa forma,

    conectados ao mesmo tema central: a gesto do risco climtico. Riscos relacionados ao clima

    demandam respostas da sociedade que contemplem no somente compromissos de mitigao das

    emisses de gases de efeito estufa (GEE), mas que tambm envolvam estratgias de adaptao dos

    sistemas naturais e humanos s MC.

    Entender e atuar sobre o risco climtico componente fundamental de qualquer estratgia de

    adaptao e, assim, o relatrio contextualiza e caracteriza o conceito de risco climtico, explorando

    primeiramente seus determinantes, sendo estes o perigo (ocorrncia de evento climtico), a

    exposio (ou presena de pessoas e ativos em lugares onde possam ser afetados adversamente) e

    vulnerabilidade (ou predisposio ao risco). A interao entre os determinantes do risco climtico

    define, em grande parte, a probabilidade de ocorrncia de um impacto sobre sistemas naturais ou

    humanos.

    Alm da compreenso do conceito de risco climtico, buscou-se caracterizar o prprio conceito de

    adaptao s MC e distinguir as estratgias de adaptao quanto a seu grau de planejamento,

    trazendo definies tericas e legais, em conjunto com exemplos de experincias internacionais

    sobre estratgias de adaptao.

  • 6

    Nesse sentido, uma questo que merece destaque a diferenciao entre a adaptao espontnea e

    planejada. A primeira ocorre de forma no deliberada ou inconsciente, o que pode resultar em

    deficincias e omisses. J a adaptao planejada feita a partir de anlises de dados e informaes

    relacionadas aos determinantes do risco climtico, contextos socioeconmicos e estressores no

    climticos, o que tende a tornar estratgias mais efetivas.

    Conceito-chave para o entendimento e implantao de estratgias de adaptao, a resilincia

    representa a capacidade de sistemas sociais, naturais ou econmicos em lidar com eventos

    perigosos, respondendo ou se reorganizando de forma a manter suas funes, identidades e

    estruturas essenciais, ao mesmo tempo em que mantm sua capacidade de adaptao, aprendizado

    e transformao (IPCC, 2014). A partir dessa definio, pode-se afirmar que o conceito engloba tanto

    a capacidade de resposta como a capacidade adaptativa. A primeira diz respeito capacidade de

    pessoas ou instituies de tratar, gerenciar e superar condies adversas aps a ocorrncia do

    evento impactante. J a segunda tem a ver com a capacidade desses mesmos agentes de se

    ajustarem a potenciais danos, aproveitar oportunidades ou se antecipar s consequncias no futuro.

    Aspectos relevantes para o planejamento em adaptao

    Enquanto os conceitos fundamentais em adaptao ajudam a entender aspectos e definies

    importantes para a compreenso do problema; o sucesso de estratgias de adaptao passa pelo

    reconhecimento de fatores que influenciam a tomada de deciso com respeito a impactos climticos,

    adaptao e vulnerabilidade.

    Primeiramente, considerando as escalas de tempo envolvidas, a natureza difusa dos impactos e

    riscos associados, alm do elevado grau de incerteza a respeito de riscos e projees, no s sobre o

    clima futuro, mas tambm em relao a trajetrias de desenvolvimento, estratgias de adaptao

    implicam uma tomada de deciso em contextos de incerteza. Aqui emergem os conceitos de

    medidas de adaptao do tipo no-regrets e low-regrets. O primeiro engloba medidas ou atividades

    sem arrependimento que se provaro vlidas ainda que nenhuma mudana climtica (adicional)

    ocorra. O segundo compreende opes de baixo arrependimento que requerem pequenos

    esforos/gastos adicionais para lidar com os impactos negativos das MC (PNUD, 2005).

    Algo intrinsicamente ligado aos desafios impostos pelas MC e que pode contribuir para a incerteza na

    tomada de deciso a necessidade do uso de cenrios3 para a confeco de projees climticas e

    socioeconmicas. O uso de cenrios representa uma ferramenta essencial em processos avaliativos e

    decisrios, e pode ser dividido entre os que exploram como o futuro ser influenciado pelos diversos

    fatores (foco no problema) e aqueles que testam como vrias intervenes impactaro o futuro (foco

    na soluo, no caso, as medidas de adaptao).

    Abordagens que utilizam cenrios para subsidiar a tomada de deciso em adaptao podem, de

    modo geral, seguir uma trajetria top-down baseada em projees sobre os efeitos da mudana

    global do clima sobre um determinado sistema ou localidade, ou bottom-up, abordagem que tem

    incio nas caractersticas de sistemas / localizaes (vulnerabilidades, capacidades, contextos

    socioeconmicos etc.) para ento testar a robustez e sensibilidade de possveis medidas de

    adaptao contra as projees climticas.

    3 De fato, o uso de cenrios sobre cenrios acaba criando uma cascata de incertezas.

  • 7

    Dimenses temporal, espacial e temtica da adaptao.

    Ao considerar as dimenses temporal, espacial e temtica da adaptao, estratgias adaptativas so

    formatadas a partir de importantes contextos e especificidades dos sistemas contemplados, o que

    permite o planejamento de medidas de adaptao mais robustas e condizentes com demandas e

    realidades dos atores envolvidos.

    A dimenso temporal apresenta um grande desafio para os tomadores de deciso, porque preciso

    compatibilizar os longos horizontes temporais inerentes cincia do clima com as necessidades de

    planejamento, implementao e monitoramento de aes em curto e mdio prazo. Nesse contexto,

    de extrema relevncia identificar o horizonte temporal que nortear as aes de adaptao, no s

    para a definio de momentos para a atualizao de critrios e parmetros adotados (j que so

    influenciados por alteraes em padres climticos), mas tambm para evitar que medidas tomadas

    no curto prazos sejam incompatveis com objetivos de longo prazo de polticas sobre MC.

    Ainda sobre a dimenso temporal da tomada de deciso, alguns autores classificam as aes de

    adaptao em dois tipos. A adaptao reativa (diretamente relacionada com a capacidade de

    resposta de um determinado sistema) consiste em responder a impactos adversos das MC aps sua

    manifestao. A adaptao antecipatria (associada a capacidade adaptativa), por outro lado,

    consiste em agir antes que esses impactos ocorram, a fim de reduzir a vulnerabilidade do sistema e

    limitar as consequncias adversas (Smit, Burton, Klein, & Wandel, 2000).

    A dimenso espacial da adaptao considera a manifestao diferenciada de impactos e

    vulnerabilidades de acordo com particularidades de cada localidade, sejam essas especificidades

    socioeconmicas ou climticas. Da mesma forma que preciso compatibilizar os horizontes

    temporais da cincia do clima com os instrumentos de planejamento, preciso tambm assegurar

    que os recortes espaciais considerados nos cenrios climticos, nas avaliaes de impactos e

    vulnerabilidades encontrem correspondncia com aqueles adotados na implementao e gesto de

    medidas adaptativas, isto , com a estrutura de governana do tema em questo.

    Desse modo, a dimenso espacial est relacionada a outro conceito de grande relevncia para a

    adaptao: o territrio. A abordagem territorial dialoga diretamente com as problemticas impostas

    pelas MC e ainda mais com as respostas adaptativas necessrias. Impactos e vulnerabilidades s MC

    se manifestam de maneira diversificada no territrio e so fruto de uma combinao complexa de

    fatores biofsicos e socioeconmicos, internos e externos ao sistema, os quais s podem ser

    analisados de forma combinada quando considerados para um sistema espacialmente definido.

    A dimenso temtica da adaptao est relacionada constatao de que as MC constituem um

    problema transversal para a sociedade, de modo que todos os sistemas esto potencialmente em

    risco, ainda que em diferentes escalas e magnitudes. Isso se reflete em diversos setores da

    economia, campos de polticas pblicas, esferas sociais, unidades geogrficas e assim por diante.

    Por esse motivo, pode-se afirmar que a adaptao possui tambm uma dimenso temtica. A partir

    de recortes temticos, as anlises de impactos e vulnerabilidades se tornam mais precisas e

    possvel se aproximar da resposta para a pergunta: Em quais agendas a adaptao est inserida? .

    Os principais recortes temticos so: recorte transversal (permeiam todo o sistema), setorial

    (possuem maior especificidade, estruturas de governana mais centralizadas e atores envolvidos

    mais facilmente identificados) e por meios (diretamente atrelados a localizao).

  • 8

    Justificativas para o planejamento pblico em adaptao

    Alm de noes bsicas sobre o tema adaptao, incluindo no s aspectos e definies importantes

    para o entendimento do problema, como tambm fatores que influenciam a tomada de deciso,

    explorou-se o planejamento pblico em adaptao propriamente dito. Primeiramente, buscou-se

    apresentar justificativas para a atuao pblica em adaptao, tanto no nvel nacional, como setorial.

    At certo ponto, a mudana global do clima pode (e deve) ser evitada por meio de medidas de

    mitigao. Entretanto, assumindo que efeitos adversos sobre o funcionamento de sistemas

    socioeconmicos e o bem-estar humano so inevitveis, riscos e impactos climticos devero ser

    gerenciados por meio de medidas de adaptao. Observando as caractersticas dos impactos

    esperados, torna-se imprescindvel que o poder pblico tenha um planejamento em adaptao,

    principalmente em pases e regies em desenvolvimento.

    Do ponto de vista da teoria econmica, a interveno pblica para adaptao se justifica por razes

    de equidade e eficincia (Hallegatte, Lecocq, & Perthuis, 2011). Assim, similarmente ao observado

    para outras falhas de mercado, justificativas podem ser encontradas nos seguintes contextos:

    informao imperfeita (informao sobre MC, seus impactos e medidas adaptativas, ou no existe

    em quantidade suficiente ou no est efetivamente disponvel), barreiras para a ao local coletiva

    (uma comunidade envolvida pode no chegar a um acordo comum sobre como a ao coletiva deve

    ocorrer), externalidades (a adaptao pode no ser (to) rentvel para o agente privado, mas pode

    ser (muito) benfica para a comunidade; ou o contrrio: a adaptao privada traz um benefcio ao

    agente privado, mas gera uma externalidade para a sociedade), proteo de sistemas de

    infraestrutura compartilhada (instalaes e redes estratgicas de comunicao, transporte, energia

    etc.), prestao de servios bsicos (saneamento, sade, transporte pblico etc.), escassez de

    recursos em comunidades pobres e regulaes inadequadas (alterao de leis, normas e padres

    que dificultam ou impedem a adaptao) (Hallegatte, Lecocq, & Perthuis, 2011) e (Lecocq & Shalizi,

    2007).

    Adicionalmente, foram levantadas justificativas para o planejamento setorial em adaptao,

    considerando o foco do presente estudo, que objetiva contribuir para a insero da adaptao em

    polticas setoriais da indstria. Desse modo, argumentou-se que o planejamento setorial em

    adaptao, formulado pelo gestor pblico setorial4, complementa e fortalece o planejamento

    nacional em adaptao. Alm de conseguir capturar mais precisamente as nuanas e particularidades

    inerentes sua esfera de atuao, o rgo setorial possui maior poder de articulao junto ao

    conjunto de stakeholders setoriais, capacidade necessria para uma efetiva implementao de

    medidas de adaptao.

    Do ponto de vista da indstria brasileira, riscos e vulnerabilidades (e medidas de adaptao) so

    especficos no s por subsetor industrial, mas pelo porte, localizao de instalaes, dependncia

    de outros setores e de infraestrutura, complexidade da cadeia de suprimentos etc. (CNI, 2014).

    Justifica-se, portanto, um planejamento em adaptao especfico para o setor industrial brasileiro,

    no s em funo da significativa heterogeneidade do segmento, mas tambm pelas dimenses

    sociais e territoriais do pas e complexidades associadas.

    4 Detentor da competncia constitucional para formular, executar e avaliar polticas pblicas especficas para um determinado setor da economia.

  • 9

    Tipos de atuao pblica em adaptao.

    A interveno pblica em adaptao, setorial ou transversal, pode adotar diferentes formatos e

    buscar diversos resultados. importante identificar quais so os diferentes tipos de ao pblica,

    para que o planejamento em adaptao possa ocorrer de forma mais sistmica, permitindo abarcar

    todos os aspectos que justificam a atuao por parte do Estado.

    Em termos gerais, a atuao pblica em adaptao pode ser classificada em quatro grupos: produo

    e disseminao de informao; aes relacionadas a normas, regulaes e polticas; aes

    relacionadas a instituies; e direcionamento de investimento pblico (Hallegatte, Lecocq, &

    Perthuis, 2011).

    A produo e disseminao de informao sobre MC, seus impactos e medidas de adaptao um

    dos mais importantes tipos de atuao em adaptao do Estado, j que seus resultados possuem

    propriedades de bens pblicos e, portanto, podem no ser gerados em nveis socialmente timos

    pelos agentes econmicos de forma espontnea (GVces, 2014).

    Mesmo que agentes privados se encarreguem da gerao de parte da informao necessria, esse

    conhecimento buscar respostas adaptativas que beneficiem principalmente o ator privado

    responsvel pela sua produo (Hallegatte, Lecocq, & Perthuis, 2011). Nesse sentido, cabe ao gestor

    pblico, por um lado, fomentar a gerao de informao de qualidade e atualizada pelo agente

    privado e, por outro lado, gerar conhecimento em reas prioritrias de interesse social para as quais

    a informao no ser gerada em nveis socialmente timos.

    Aes relacionadas a normas, regulaes e polticas so altamente importantes para a adaptao de

    mdio e longo prazo, principalmente em relao a normas (tcnicas) para obras de infraestrutura

    social, urbana, logstica e energtica. Alm disso, a interveno pblica em adaptao deve abranger

    uma avaliao mais ampla de normas, regulaes e polticas vigentes. Isto se aplica, sobretudo, se a

    matria regulada possuir dependncia de elementos meteorolgicos (temperatura, precipitao,

    ventos etc.) e/ou faa uso de sries climticas histricas.

    Aes relacionadas a instituies tm a ver com a capacidade do ator pblico de interagir com o

    sistema institucional vigente. Nesse contexto, destaca-se a necessidade de promover relaes

    harmoniosas entre instituies, algo fundamental, j que estas podero estar sujeitas a presses

    crescentes, considerando os impactos advindos da mudana do clima (Hallegatte, Lecocq, & Perthuis,

    2011). Alm de promover relaes equilibradas entre instituies, o gestor pblico tem um papel

    importante na promoo de ajustes em arranjos institucionais existentes, caso sejam necessrios

    para trazer maior eficincia aos diversos processos que permeiam o planejamento em adaptao.

    A ao pblica em adaptao envolve ainda uma atuao do Estado com relao ao seu papel como

    gestor de recursos pblicos. Em primeiro lugar, como proprietrio e operador de infraestrutura

    pblica, o Estado possui a incumbncia de garantir que empreendimentos possam exercer suas

    distintas funes durante suas respectivas vidas teis.

    Alm disso, para os demais tipos de ao pblica em adaptao (principalmente a produo de

    informao e construo/adequao de arranjos institucionais) investimentos pblicos tambm

    sero necessrios. Considerando que restries oramentrias sempre existiro, torna-se necessria

    a adoo de critrios de priorizao para a alocao de recursos. Em termos de planejamento em

  • 10

    adaptao, a priorizao engloba atribuir, a partir de critrios, maior importncia a determinadas

    regies, setores, sistemas ou grupos, assim como a aes de adaptao a eles associadas (GVces,

    2014).

    Princpios do planejamento pblico em adaptao

    Alm de apresentar as principais justificativas para o planejamento pblico em adaptao, bem como

    os tipos de interveno pblica que o planejamento pode abranger, o Relatrio discorre sobre os

    princpios que devem nortear a elaborao do planejamento pblico em adaptao, seja em nvel

    nacional, setorial ou local.

    Os princpios so: coerncia, no regrets, territorialidade e integrao. Juntos, os quatro elementos

    devem estar presentes nas etapas de identificao, avaliao, priorizao e implementao de

    medidas de adaptao, sobretudo quando conduzidas pelo setor pblico.

    De forma ampla, a coerncia poderia ser interpretada5 como coordenao e/ou consistncia.

    Coordenao diz respeito comunicao intragovernamental e significa fazer com que os diversos

    sistemas institucionais que formulam polticas trabalhem juntos. Consistncia significa assegurar que

    as polticas individuais no sejam internamente contraditrias e que as polticas que se opem ao

    alcance de um determinado objetivo sejam evitadas. A coerncia vai ainda alm, pois consiste na

    promoo sistemtica de aes que se reforcem mutuamente nos diferentes rgos do governo,

    assegurando a ausncia de contradies e criando sinergias para a realizao dos objetivos definidos

    (OCDE, 2003).

    A coerncia entre polticas pblicas pode ser promovida em trs diferentes dimenses: horizontal,

    vertical e temporal (OCDE, 2003). A coerncia horizontal visa assegurar que objetivos individuais e

    polticas desenvolvidas por diferentes atores se reforcem mutualmente. Fortalece a

    interconectividade de polticas, promovendo o alinhamento entre perspectivas governamentais. A

    coerncia vertical visa assegurar que as prticas das agncias, autoridades e rgos autnomos,

    incluindo aqueles de nveis subnacionais, se reforcem mutuamente com os compromissos polticos

    mais amplos. J a coerncia temporal visa garantir que polticas continuem efetivas no decorrer do

    tempo, e que medidas de curto prazo no sejam contraditrias com compromissos de longo prazo.

    Partindo do pressuposto de que a incerteza sempre ser um dos componentes que influenciar o

    planejamento em adaptao, medidas no regrets devem ser priorizadas. Essencialmente, elas geram

    benefcios independentemente da ocorrncia de cenrios climticos projetados.

    Pode-se afirmar que uma abordagem territorial considera a dimenso espacial do planejamento em

    adaptao, na qual o uso de recortes temticos por meios possui papel fundamental, j que

    permite um olhar mais sistmico sobre um determinado territrio. No setor industrial, por exemplo,

    avaliaes de riscos e vulnerabilidades esto tambm associadas ao territrio, compreendendo o

    espao fsico no qual o empreendimento est inserido, incluindo sua rea de influncia direta ou

    indireta, infraestrutura compartilhada, cadeia de suprimento etc.

    5 Com base em Art. 11 da PNMC, OCDE (2003), GVces (2013), GVces (2014) e Ministrio do Planejamento

    (2008).

  • 11

    Levando em conta a forte relao de dependncia entre o setor industrial e demais setores da

    sociedade, a identificao de riscos, vulnerabilidades e capacidades adaptativas considera tambm

    fatores socioeconmicos e ambientais associados ao territrio em que ele atua. Na prtica, isso

    significa que estratgias de adaptao ultrapassam as fronteiras de uma instalao, e consideram

    tambm riscos e vulnerabilidades dos atores com os quais o empreendedor se relaciona. Desse

    modo, solues adaptativas impem a necessidade de uma forte articulao entre os atores que

    interagem em um determinado sistema.

    A integrao do tema adaptao em processos e polticas existentes tambm configura importante

    componente de polticas e medidas de adaptao. Sabendo que as MC impactaro, de alguma forma,

    praticamente todos os setores da sociedade, a responsabilidade de reavaliar e remodelar sua forma

    de agir recai sobre um amplo grupo de atores pblicos, para que estes possam (continuar a) exercer

    suas diferentes funes e responsabilidades. Isto se aplica principalmente aos pases ou regies em

    desenvolvimento, uma vez que muitos dos determinantes do risco climtico esto intrinsecamente

    relacionados aos nveis de desenvolvimento de uma sociedade.

    A integrao de riscos e vulnerabilidades climticas em polticas pblicas de desenvolvimento

    (inclusive industrial) proporciona otimizao de esforos, alm de promover coerncia entre as

    distintas esferas de atuao do gestor pblico. Ela economiza recursos, pois faz uso de estruturas

    institucionais j estabelecidas, sem a criao de instituies e processos exclusivos adaptao

    (Banco Mundial, 2010); (Lebel, Li, & Krittasudthacheewa, 2012); (Klein, Lisa Schipper, & Dessai,

    2003).

    A desconexo entre polticas de desenvolvimento e de adaptao pode afetar os prprios objetivos

    de desenvolvimento e/ou resultar em m adaptao. M adaptao definida em OCDE (2009, p.

    53) como o desenvolvimento business-as-usual que, por negligenciar os impactos das MC,

    inadvertidamente aumenta a exposio e/ou vulnerabilidade mudana do clima. M adaptao

    pode ainda resultar de medidas de adaptao que aumentam a vulnerabilidade ao invs de reduzi-

    la.

    Ao identificar a m adaptao como um possvel impacto negativo do desenvolvimento que no

    considera as MC, a integrao deixa de ser somente uma oportunidade de otimizar esforos e

    promover a coerncia entre polticas e se converte em algo necessrio para evitar impactos

    negativos no desenvolvimento e/ou nas polticas de adaptao.

    Em linhas gerais, pode-se definir duas distintas modalidades de integrao da adaptao. Por um

    lado, a integrao da adaptao em polticas pblicas (de desenvolvimento) atua principalmente

    sobre processos, estruturas e instituies, buscando inserir preocupaes climticas e respostas

    adaptativas em polticas abrangentes. Por outro lado, a integrao do tipo climate proofing

    objetiva reduzir o risco climtico de aes especficas ou projetos, tornando-os mais resilientes s

    MC. D maior nfase ao gerenciamento de riscos climticos, com foco em questes de

    implementao, sem o intuito de interferir em polticas e processos (Olhoff & Schaer, 2010).

    Bases do planejamento em adaptao

    Os elementos que permitem ao Estado executar os diferentes tipos de ao pblica em adaptao

    constituem as bases para o planejamento em adaptao que, junto com os princpios j trazidos

    anteriormente, orientam escolhas e fortalecem as capacidades institucionais necessrias para a

  • 12

    implementao de estratgias de adaptao. O Estudo considera as seguintes seis bases do

    planejamento em adaptao: (1) base legal, (2) governana, (3) envolvimento de atores, (4)

    informao relevante e ferramentas, (5) monitoramento e avaliao e (6) recursos.

    A existncia de uma base legal que atribui ao Estado a responsabilidade de promover a reduo de

    vulnerabilidades dos sistemas naturais e humanos frente s MC um dos primeiros passos para o

    fortalecimento das capacidades institucionais necessrias para a implementao de medidas

    adaptativas.

    A respeito da governana, importa observar que tanto a elaborao quanto a execuo do

    planejamento em adaptao requerem uma liderana bem definida, que tenha poder de convocao

    e esteja apta a realizar articulaes com os diferentes atores, respeitando o arranjo institucional do

    tema. Porm, alm disso, preciso estabelecer os instrumentos / espaos que permitiro essa

    articulao, bem como os meios que visam participao social e cooperao com segmentos no

    governamentais.

    A construo da governana para elaborao e execuo do planejamento em adaptao

    necessariamente requer uma estratgia de envolvimento de atores, uma vez que o tema abordado

    apresenta grau elevado de complexidade, que permeia todo o processo de levantamento de riscos (e

    seus determinantes) at o monitoramento de resultados das aes de adaptao.

    Os atores envolvidos no planejamento e na implementao de estratgias de adaptao demandam

    informaes e ferramentas especficas para tomar decises, dependendo de seus estgios de

    adaptao. Alguns exemplos de estgios de adaptao so: identificao dos riscos e

    vulnerabilidades; definio dos nveis aceitveis de risco; priorizao de reas geogrficas, setores,

    grupos ou sistemas; identificao de opes de medidas de adaptao; seleo de medidas; e

    avaliao e monitoramento das polticas e medidas implementadas.

    Monitoramento e avaliao so atividades complementares, porm, possuem objetivos distintos.

    Enquanto o monitoramento envolve a coleta e anlise sistemtica de informaes no decorrer do

    tempo, a atividade de avaliao busca mensurar os resultados alcanados com a execuo do

    projeto, confrontando-os com metas e objetivos traados inicialmente.

    Recursos disponibilizados por fundos especificamente criados para lidar com os problemas de MC

    dificilmente sero suficientes para implementar todas as aes necessrias. Desse modo, essencial

    incorporar os riscos climticos nos processos de planejamento financeiro dos diversos setores

    envolvidos, procurando estabelecer dotaes oramentrias para as medidas de adaptao.

    Passos gerais do planejamento pblico em adaptao

    Com base em PNUD (2005) e UNFCCC (2012), agrupou-se os passos gerais de um planejamento em adaptao em trs fase amplas: elementos preparatrios, elaborao e implementao.

    Elementos preparatrios compreendem o primeiro passo para o desenvolvimento do planejamento

    em adaptao e de suma importncia prtica e operacional. nesse momento que definida a

    natureza do output desejado ou, em outras palavras, o produto ou resultado que se pretende obter.

    Isso pode ser uma determinada poltica pblica, uma medida mais especfica/pontual, ou qualquer

    outra estratgia em adaptao. Nesse estgio inicial, busca-se tambm a identificao e reviso de

    informaes existentes sobre MC.

  • 13

    J a elaborao do planejamento em adaptao engloba a compreenso de projees climticas,

    avaliaes sobre riscos e impactos potenciais, vulnerabilidades e condies socioeconmicas (atuais

    e futuras), exerccios de classificao e priorizao de riscos, avaliaes de experincias em

    adaptao, identificao de barreiras para a adaptao etc.

    Por fim, a implementao prev a formulao da estratgia de adaptao, incluindo a sintetizao

    dos resultados obtidos nos passos anteriores, identificao de opes de adaptao, priorizao e

    seleo de opes identificadas. Essa etapa contempla ainda a instituio de um processo contnuo

    de adaptao, que inclui a realizao das medidas e aes selecionadas e o monitoramento e

    avaliao dos resultados obtidos.

  • 14

    Relatrio 2: Experincias e percepes de atores envolvidos (pblicos e

    privados) sobre o tema adaptao mudana do clima na indstria brasileira

    Justificativa

    Ao concluir o primeiro relatrio, que oferece uma viso mais conceitual dos desafios impostos pelas

    MC e de respostas adaptativas correspondentes, entendeu-se necessrio o provimento de insumos

    para a atuao pblica em adaptao mais alinhados s perspectivas e experincias prticas de

    atores envolvidos com o tema. Para tanto, foram realizadas entrevistas com representantes de

    instituies pblicas, privadas e acadmicas, tanto no Brasil como no exterior. Os resultados das

    entrevistas auxiliam na compreenso dos fatores que influenciam as decises dos atores privados

    quanto adaptao, o que por sua vez ajuda o Estado a desenvolver polticas pblicas que, de fato,

    facilitem a adoo de medidas de adaptao pelo setor industrial.

    A pesquisa foi concebida a partir dos seguintes objetivos especficos: Coletar experincias e

    percepes de atores envolvidos (pblicos e privados) sobre o tema adaptao s MC, identificar as

    principais motivaes e barreiras para a adoo de medidas de adaptao pelo setor industrial e

    entender os diferentes papeis e responsabilidades do Estado e do setor empresarial, e como esses

    podem interagir.

    Metodologia

    As entrevistas buscaram levantar informaes a partir de experincias e percepes de atores

    envolvidos com o tema, tanto no Brasil como no Reino Unido. Para tanto, optou-se por uma

    pesquisa com enfoque qualitativo, por meio da realizao de entrevistas contendo perguntas

    abertas. Dessa forma, entrevistados tiveram a oportunidade de expor livremente suas opinies sobre

    o tema, permitindo, assim, revelar o conjunto de argumentos associados a essas opinies.

    As interaes com atores brasileiros ocorreram por meio de entrevistas estruturadas (gravadas e

    transcritas), j que permitem uma organizao e tratamento dos dados de forma a possibilitar

    anlises comparativas, tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo. Para organizao e

    tratamento dos dados foi feito uso da metodologia de pesquisa qualitativa Discurso do Sujeito

    Coletivo (DSC)67 (Lefvre & Lefvre, 2012). O DSC representa uma tcnica de tabulao e organizao

    de dados qualitativos provenientes de material verbal coletado em pesquisas que tm depoimentos

    como sua matria-prima.

    As entrevistas no Reino Unido foram realizadas de forma semiestruturada, ou seja, a partir de um

    planejamento aberto, contendo um roteiro com perguntas principais, que podem ser

    complementadas por outras questes inerentes s circunstncias momentneas da entrevista

    (Manzini, 2004). Assim, foi possvel explorar o conhecimento e experincia dos participantes ao

    mximo, pela flexibilidade do formato, que permitiu direcionar o foco para assuntos de maior

    interesse ou questes no previstas.

    Principais resultados

    6 Os resultados de quatro das nove perguntas foram tratados e analisados por meio da utilizao da metodologia DSC. 7 A metodologia do DSC vem sendo desenvolvida na Universidade de So Paulo (USP) desde o incio da dcada de 1990, e j foi empregado em mais de 1300 trabalhos cientficos (Fonte: https://scholar.google.com.br/ e www.ipdsc.com.br, acessados 09/12/2015).

    https://scholar.google.com.br/http://www.ipdsc.com.br/

  • 15

    Abaixo so apresentados somente os resultados de quatro das nove perguntas feitas a atores

    brasileiros (perguntas 3, 4, 6 e 7), que oferecem maior riqueza de opinies coletadas, e abordam

    justamente os temas visados nos objetivos especficos do Relatrio j mencionados anteriormente.

    So apresentados somente os resultados quantitativos das entrevistas, compreendendo as ideias

    centrais8 de cada categoria de resposta analisada, bem como a frequncia com que cada ideia

    central foi explicitada.

    Resultados qualitativos, sendo esses os discursos coletivos de cada categoria de ideia central, podem

    ser encontrados no prprio Relatrio 2. Esses formam o principal resultado das entrevistas com

    atores brasileiros e assim representaram uma fonte de informaes fundamental para a formatao

    de avaliaes e consideraes sobre os resultados das entrevistas.

    Pergunta 3: Em sua opinio, quais seriam as principais motivaes para o

    desenvolvimento de aes de adaptao pelo setor industrial?

    Tabela 1 Principais motivaes da indstria (resultado das entrevistas)

    Ideia central

    Enunciado Frequncia (% de respostas em que foi encontrada)

    A Aproveitar eventuais oportunidades de negcio 19,4%

    B Se antecipar a possveis regulaes 6,5%

    C Fazer a gesto de riscos de forma completa e adequada 25,8%

    D Garantir a continuidade das operaes, protegendo a estrutura fsica e assegurando o acesso a matrias-primas (core-business)

    19,4%

    E Promover a segurana de funcionrios e comunidades do entorno 6,5%

    F Prevenir ou limitar o aumento de custos no futuro (aquisio de bens e servios)

    22,6%

    Observao: total de 31 respostas encontradas.

    Nota-se, assim, um carter majoritariamente associado competitividade como sendo o grande

    motivador para a adoo de medidas de adaptao por parte das empresas, seja pelo vis do

    aproveitamento de oportunidades, seja pela gesto de riscos e minimizao de custos. Posto de

    outra forma, tais motivaes so majoritariamente intrnsecas (e centradas na) prpria empresa,

    sua gesto e suas operaes.

    Pergunta 4: Voc consegue identificar barreiras para o desenvolvimento de aes de

    adaptao pelo setor industrial? (Barreiras podem ser de natureza regulatria,

    institucional, financeira, tecnolgica e outras).

    Tabela 2 Principais barreiras para a indstria (resultado das entrevistas)

    Ideia central

    Enunciado Frequncia (% de respostas em que foi encontrada)

    A Falta de reconhecimento e conscientizao acerca do problema. 23,8 %

    B Falta de informao e dados disponveis, acessveis e em formato adequado. 16,7 %

    C Cenrio econmico atual desfavorvel. 9,5 %

    D Dificuldade de promover mudanas tecnolgicas e em processos administrativos no curto-prazo.

    11,9 %

    E Pouca viabilidade econmica; considerando tambm a ausncia de incentivos.

    21,4 %

    F Falta de planejamento e atuao governamental adequados. 16,7 %

    Observao: Total de 42 respostas encontradas.

    8 Ideias-centrais so descries (de maneira sinttica e precisa) do sentido dado a cada expresso-chave, feitas pelo pesquisador. Expresses-chave so trechos literais da resposta que revelam a essncia do contedo do depoimento.

  • 16

    Os resultados acima evidenciam a existncia de barreiras para a adaptao que giram em torno da

    falta de informao ou do reconhecimento do problema, questes financeiras/econmicas e

    culturais/organizacionais. Em uma primeira avaliao, possvel argumentar que o carter

    heterogneo das barreiras identificadas exige estratgias multifacetadas capazes de abordar seus

    diferentes aspectos e manifestaes.

    Pergunta 6: Em sua opinio, como o governo deve agir para promover a adaptao do setor industrial no Brasil? Por qu?

    Tabela 3 Principais responsabilidades associadas ao papel do governo em adaptao do setor industrial (resultado das entrevistas)

    Ideia central

    Enunciado Frequncia (% de respostas em que foi encontrada)

    A Buscar o dilogo e fomentar atuao conjunta com o setor empresarial 22,2%

    B Oferecer incentivos positivos 19,4%

    C Prover informao e conhecimento 22,2%

    D Incorporar a adaptao s prticas e processos do governo 11,1%

    E Fomentar discusses sobre o tema adaptao s mudanas climticas / Introduzir o tema nas diversas agendas empresariais / promover o desenvolvimento de estratgias empresariais

    11,1%

    F Elaborar e implementar planejamento pblico em adaptao, com base em decises informadas

    13,9%

    Observao: total de 36 respostas encontradas.

    Nota-se que as ideias associadas ao papel do governo mais frequentes dizem respeito

    disponibilizao de informao e conhecimento, bem como de incentivos positivos. A ideia

    relacionada categoria A (Buscar o dilogo e fomentar a atuao conjunta com o setor

    empresarial) pode ser interpretada mais como uma forma de atuao do que uma ao per se.

    Pergunta 7: Em sua opinio, como deveria atuar o setor empresarial quanto adaptao do setor industrial no Brasil? Por qu?

    Tabela 4 Principais aes associadas ao papel do setor empresarial em adaptao do setor industrial (resultado das entrevistas)

    Ideia central

    Enunciado Frequncia (% de respostas em que foi encontrada)

    A Incorporar o risco climtico dentro da sua gesto de riscos 36,4%

    B Atuar de forma conjunta, buscando parcerias tanto com o governo, como com o setor empresarial (outras empresas).

    31,8%

    C Produzir solues inovadoras para atender a novas demandas 27,3%

    D Demandar aes do setor pblico, principalmente em relao a infraestrutura compartilhada

    4,6%

    Observao: total de 22 respostas encontradas.

    Nota-se que as ideias mais frequentemente associadas ao papel do setor empresarial dizem respeito

    incorporao do risco climtico sua gesto de riscos, seguido de atuao conjunta e produo de

    solues inovadoras. Novamente, a ideia relacionada categoria B (Atuar de forma conjunta,

    buscando parcerias tanto com o governo, como com o setor empresarial) pode ser interpretada

    mais como uma forma de atuao do que uma ao per se, espelhando a categoria A referente aos

    papis do governo.

    Principais consideraes finais

  • 17

    A partir das anlises trazidas ao longo do Relatrio 2, algumas consideraes podem ser feitas. Em

    primeiro lugar, no que diz respeito ao papel a ser desempenhado pelo prprio setor industrial, nota-

    se que a insero da adaptao s MC em suas agendas e processos de gesto de risco de prprio

    interesse do setor, logo, cabe a ele liderar o processo de planejamento e a implementao das aes

    de adaptao, em especial aquelas que resultam majoritariamente em retornos privados.

    Entretanto, destaca-se a necessidade de articulao fomentada e/ou coordenada pelo setor pblico

    para que oportunidades sejam identificadas e para que as MC entrem definitivamente na agenda do

    setor privado, especialmente, mas no exclusivamente, no que diz respeito ao aumento da resilincia

    de suas instalaes, operaes e cadeias de suprimento. Nesse sentido, importante destacar a

    necessidade de tratamento do tema de forma palatvel e mais facilmente compreendida pelas

    empresas, buscando uma linguagem mais apropriada e reconhecida, particularmente, para as reas

    responsveis pela gesto de riscos.

    A proviso de informaes aparece tambm como um dos principais papeis a ser desempenhado

    pelo setor pblico, por exemplo, como desenvolvedor e/ou divulgador de guias, ferramentas, casos

    de sucesso e aprendizados de empresas que j tenham estudado, planejado ou implementado

    medidas de adaptao.

    O setor financeiro e de seguros surge como um ator relevante e que deve continuamente refletir os

    riscos das MC em seus critrios para concesso de crdito e estipulao de prmios. Considerando a

    participao dos bancos pblicos na oferta de crdito no pas, esse um dos casos em que o setor

    pblico pode liderar pelo exemplo, promovendo a integrao do risco climtico por meio da

    aplicao de lente climtica em seus processos e polticas e por meio do climate proofing de projetos

    e estruturas j existentes.

    Nesse sentido, e considerada a interao do setor industrial com diversos outros setores, em

    particular os de recursos hdricos, energia eltrica e agrcola, fundamental que esforos de

    articulao no fiquem limitados exclusivamente ao mbito da indstria. Assim, possvel identificar

    a CTPIn9 como um vlido ponto de partida para a discusso do tema, contudo sendo necessria uma

    ampliao de seu escopo para alm da mitigao e com a eventual incluso de outros atores no

    pertencentes indstria, mas intrinsicamente ligados a ela.

    9 Comisso Tcnica do Plano Indstria (Plano setorial de mitigao e adaptao mudana do clima para a consolidao de uma economia de baixa emisso de carbono na indstria de transformao).

  • 18

    2. Aes para a integrao da adaptao em polticas de

    desenvolvimento industrial

    Com base nos elementos conceituais e experincias internacionais estudados (Relatrio 1),

    juntamente com as percepes de atores nacionais e internacionais consultados (Relatrio 2),

    considerando ainda as diretrizes gerais contidas no Plano Nacional de Adaptao (PNA), foi possvel

    identificar alguns grandes blocos de aes que podem contribuir para a implementao da Estratgia

    de Indstria e Minerao do PNA (Figura 1).

    Em um primeiro recorte, aes identificadas podem ser classificadas como aes-meio ou aes-

    fim. Aes-meio contribuem para o atingimento dos objetivos de aes-fim, criando condies e/ou

    proporcionando acesso aos recursos necessrios. No contexto desse estudo, aes-fim tm como

    caracterstica a inteno de integrar aspectos de resilincia climtica nas decises de atores

    pblicos e privados, envolvidos em iniciativas que visam contribuir para o desenvolvimento

    industrial do Pas.

    A distino entre aes-meio e aes-fim pode auxiliar na operacionalizao da Estratgia de

    Indstria e Minerao do PNA, considerando que, mesmo quando objetivam igual resultado final,

    podem ter diferentes responsveis, atores envolvidos, prazos e produtos. Assim, a diferenciao

    facilita a definio de papeis e responsabilidades, cronogramas de implementao factveis,

    adequada distribuio de recursos, entre outros.

    Alm da diferenciao entre aes-meio e fim, as aes so apresentadas em quatro eixos

    estratgicos que definem categorias gerais de atuao pblica em adaptao: (1) produo e

    disseminao de informao, (2) aes relacionadas a normas, regulaes e polticas, (3) aes

    relacionadas a instituies e (4) gesto do investimento pblico. A definio dos eixos estratgicos

    baseia-se no contedo terico apresentado na Seo 2.2 do primeiro relatrio desse estudo, que

    inclusive possui forte similaridade com os resultados obtidos a partir das entrevistas com atores

    brasileiros (em especial a pergunta 6, que questionou sobre papeis e responsabilidades do governo).

    Buscou-se, ainda, alinhar aes sugeridas com os objetivos das diretrizes includas na prpria

    Estratgia de Indstria e Minerao do PNA, j que, conforme consta na Estratgia, as diretrizes

    serviro de base para a formulao de um Plano de Ao de Adaptao (Brasil, 2015, p. 184) que

    visar, entre outros, implementao da Estratgia. Esse alinhamento colabora para a identificao

    de aes baseadas em escolhas j explicitadas por meio do PNA, o que facilita a aceitao e possvel

    execuo de aes sugeridas.

  • 19

    Figura 1 Aes-meio e aes-fim que podem contribuir para a implementao da Estratgia de Indstria e Minerao do PNA

  • 20

    1Informao no s sobre riscos (climticos e socioeconmicos) e vulnerabilidades, mas tambm sobre

    oportunidades de negcios, medidas de adaptao e experincias / iniciativas em curso. Vide Figura 2 para

    uma priorizao de riscos (setores crticos em risco) a serem avaliados.

    2Visa integrao de consideraes sobre riscos climticos em polticas pblicas que (direta ou indiretamente)

    interferem no desenvolvimento industrial. A Figura 2 auxilia na identificao de setores crticos que, de forma

    indireta, interferem no desenvolvimento industrial.

    3Visa integrao de consideraes sobre riscos climticos em investimentos privados que (direta ou

    indiretamente) interferem no desenvolvimento industrial. A Figura 2 auxilia na identificao de setores crticos

    que, de forma indireta, interferem no desenvolvimento industrial.

    4Visa ampliar espaos de discusso para incluso de atores relevantes para a agenda de adaptao. Considera

    que, at o momento, discusses acerca das MC na indstria tm dado maior nfase a compromissos de

    mitigao.

    5Visa articulao / coerncia horizontal para fomentar a integrao da adaptao em processos ou

    instrumentos que ultrapassam as esferas de polticas industriais setoriais. Foco em recortes transversais

    estratgicos (Vide Figura 2). Visa ainda articulao / coerncia vertical, para fomentar o dilogo com unidades

    federativas, como o objetivo de levar o planejamento setorial para o nvel local.

    6Visa embasar a formatao de medidas para o fortalecimento de capacidades institucionais (incluindo

    recursos humanos, financeiros e tecnolgicos) dos atores pblicos e privados envolvidos na Estratgia.

    7Inclui a definio de instrumentos de M&A para o acompanhamento do desempenho institucional das

    organizaes envolvidas.

    8Considera que, em funo da constante escassez de recursos humanos e financeiros, medidas de adaptao

    devem ser priorizadas por meio de critrios previamente estabelecidos.

    9Visa, entre outros, fomentar discusses sobre a necessidade de aes de climate proofing de infraestrutura

    estratgica para a indstria durante avaliaes de investimentos, bem como na definio de prmios de

    seguros que reflitam os riscos climticos.

    10Visa apoiar o setor empresarial na tomada de deciso. Assim, produtos devem possuir formato e linguagem

    adequados para tais finalidades.

    11Ferramentas podem ser especficas para diferentes estgios de adaptao, setores, porte e/ou regio.

    Ferramentas que permitem avaliaes custo-benefcio auxiliam na valorao de impactos e medidas de

    adaptao / oportunidades. Assim auxiliam a traduzir o risco climtico para linguagem mais adequada para a

    tomada de deciso.

    12Resulta da aplicao da Lente Climtica sobre instrumentos de polticas industriais ou de outros setores que

    tm implicaes sobre a adaptao da indstria (ex. infraestrutura) merecedores de reviso.

    13 Aes relacionadas a instituies incluem somente aes-meio, que contribuem para o atingimento dos

    objetivos das diversas aes-fim.

    14Visa ao financiamento de medidas de adaptao na indstria que geram bens pblicos (ainda que

    localmente). Visam ainda ao financiamento de inovaes tecnolgicas ou de gesto em adaptao que

    contribuam para a resilincia do setor. Visam proviso dos sinais adequados para a tomada de deciso

    privada acerca da adaptao, incorporando as externalidades positivas (ou negativas).

    15Avaliaes de riscos de investimentos incluindo tambm riscos climticos, capacidades adaptativas e de

    resposta a eventos climticos extremos ou contnuos.

    Aes-meio identificadas visam, principalmente, oferecer recursos na forma de informao (sobre

    riscos climticos ou medidas adaptativas) ou para a identificao de lacunas regulatrias ou

  • 21

    institucionais. No mais, aes-meio propostas buscam fomentar a articulao e colaborao entre

    atores diversos, seja para promover o reconhecimento e conscientizao a respeito do problema,

    seja para coordenao, cooperao e alinhamento de estratgias, aspectos que fortalecem a

    coerncia entre polticas pblicas para adaptao.

    Importa comentar que aes-meio no antecedem necessariamente o desenvolvimento de aes-

    fim, j que, em alguns casos, so implementadas paralelamente. No so, portanto, sempre aes

    preparatrias, mas podem conter atividades desenvolvidas constantemente e/ou iterativamente.

    Ainda, aes-meio de um determinado eixo estratgico podem contribuir para o atingimento de

    objetivos-fim de mais de uma ao-fim, como o caso para aes-meio relacionadas a instituies.

    Em especial sobre o levantamento de informaes, para auxiliar na identificao de setores ou temas

    crticos para a indstria em contextos de MC, a Figura 2 traz um primeiro exerccio de priorizao,

    indicando quais setores / temas merecem maior ateno. A Figura foi elaborada a partir dos

    resultados obtidos por meio das entrevistas com atores brasileiros (Vide Relatrio 2).

    Figura 2 Principais riscos climticos para o setor industrial brasileiro, de acordo com entrevistas realizadas como atores do setor. Legenda: Os dois principais riscos mencionados pelos entrevistados esto relacionados gerao de energia (13x) e disponibilidade hdrica (12x). Foram ainda mencionados outros riscos, agrupados na figura em 3 categorias: Cadeia de suprimento (9x), infraestrutura compartilhada (9x) e exposio (9x). Foram excludos riscos mencionados somente uma vez e que no puderam ser includos nas categorias criadas (riscos regulatrios e servios ecossistmicos). O tamanho dos crculos indica a frequncia na qual o risco foi mencionado (1x, 2-4x, 5-7x, 8-10x e 11-13x). Sobreposies entre crculos e/ou categorias indicam algumas das principais relaes de dependncia. * Entrevistados no mencionaram uma localizao especfica.

    J as aes-fim listadas na Figura 1 quando implementadas adequadamente, inserem o tema adaptao s MC nos instrumentos e processos que norteiam o desenvolvimento industrial no Pas, sejam esses pblicos ou privados. Importa comentar que, conforme j trazido no Captulo 2 do primeiro relatrio desse estudo, o planejamento pblico em adaptao sucede de forma cclica e, assim, aes sugeridas devem fazer parte de uma estrutura de gesto iterativa. Essa deve ser monitorada e periodicamente ajustada, no s para a implantao de melhorias, mas tambm para

  • 22

    atualizaes do conhecimento sobre mudanas climticas (como projees sobre impactos e vulnerabilidades), e sobre experincias e demandas do setor.

    essencial ressaltar que a lista de aes sugeridas na Figura 1 no exaustiva e, dessa maneira,

    contm apenas as principais aes identificadas para contribuir para a integrao da adaptao nas

    decises de atores pblicos e privados do setor industrial.

    Em um momento posterior, devem ser definidos para cada ao os objetivos especficos, atores

    envolvidos (diferentes papeis e responsabilidades), atividades, cronogramas de implantao, outputs

    esperados, sistema de monitoramento e avaliao etc.

    Em relao definio de papeis e responsabilidades, para auxiliar na identificao de atores

    envolvidos em cada ao (e suas distintas responsabilidades), a Figura 3 traz um primeiro exerccio

    que visa caracterizar o sistema prioritrio em que a implementao da Estratgia de Indstria e

    Minerao ocorrer.

    A caracterizao do sistema prioritrio de suma relevncia, j que permite uma melhor

    compreenso dos aspectos inerentes ao sistema que facilitam ou dificultam o desenvolvimento de

    aes de adaptao. Auxilia tambm na identificao dos diferentes papeis e responsabilidades do

    conjunto de instituies (pblicas e privadas) que atuam e interagem no sistema.

    No centro da Figura 3 est o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC),

    ator-chave para o desenvolvimento industrial do Pas. importante observar que tanto aes-meio

    como aes-fim podero contar com algum tipo de atuao por parte desse Ministrio, seja como

    responsvel direto pela ao sugerida, seja em uma funo de articulador visando impulsionar atores

    e fomentar processos.

  • 23

    Sistema prioritrio

    Aes-meio Aes-fim

    Figura 3 Identificao do sistema prioritrio para a implementao da estratgia de indstria e minerao por meio das aes sugeridas.

    Legenda: Setas duplas indicam aes tanto em relao ao setor pblico como privado. Setas simples indicam aes direcionadas a atores especficos (pblicos ou privados).

  • 24

    3. Consideraes finais e prximos passos

    O Plano Nacional de Adaptao (PNA) representa um importante avano para a agenda de mudanas

    climticas no Pas, oferecendo diretrizes, recomendaes e estratgias, com o objetivo de promover

    a gesto e diminuio do risco climtico por meio de medidas de adaptao. A partir de onze

    estratgias setoriais, o Plano promove a integrao da gesto do risco climtico em planos e polticas

    de setores ou temas prioritrios, por meio da implementao de aes coordenadas entre os

    diferentes atores e instituies envolvidas.

    As diretrizes contidas na Estratgia de Indstria e Minerao do PNA, preparadas com o objetivo de

    incorporar a adaptao s MC nas polticas pblicas de indstria e minerao, alm de nortear a

    atuao do gestor pblico responsvel pelo desenvolvimento industrial do Pas, formaro a base para

    a formulao de um Plano de Ao de Adaptao, que complementar as iniciativas de mitigao dos

    atuais planos setoriais sobre mudanas climticas da indstria e minerao10 (Brasil, 2015, p. 184).

    Com base no contexto regulatrio descrito acima, o Estudo objetivou oferecer insumos tericos e

    prticos para contribuir para a implementao dos objetivos contidos nas diretrizes da Estratgia de

    Indstria e Minerao, que culminaram na elaborao de recomendaes na forma de aes

    sugeridas apresentadas nesse relatrio. Em especial, espera-se que as aes sugeridas possam servir

    de matria-prima para a elaborao do Plano de Ao supracitado, aps adequao ou priorizao

    de aes em funo de objetivos especficos do Plano.

    Fonte de informao essencial para a definio de aes sugeridas foram as entrevistas realizadas

    com representantes de instituies pblicas e privadas envolvidas com o tema estudado, o que

    proporcionou a elaborao de recomendaes alinhadas s perspectivas e experincias de atores-

    chave identificados. Adicionalmente, o estudo sobre conceitos em adaptao e as entrevistas com

    atores no Reino Unido representaram fontes complementares de informao.

    O conjunto de aes sugeridas, classificadas como aes-meio ou aes-fim, representa a viso

    do Estudo em relao aos esforos necessrios para a integrao da adaptao nos setores

    industriais e de minerao, que devem ser implementadas pelos diversos atores pblicos e privados

    que atuam e interagem no sistema prioritrio (Figura 3). Atores envolvidos tero diferentes parcelas

    de responsabilidade, dependendo de capacidades institucionais, competncias legais e objetivos

    perseguidos.

    Em relao ao papel do MDIC, ator central do sistema prioritrio, entende-se que cada ao sugerida

    poder contar com algum tipo de participao do Ministrio e instituies vinculadas. Ainda assim,

    sua atuao poder ser mais no sentido de articulao e coordenao de esforos, buscando

    promover aes ou estimular atores.

    Como j dito anteriormente, o gestor pblico setorial (nesse contexto o MDIC), tem um importante

    papel no sentido de complementar e fortalecer o planejamento nacional em adaptao, j que

    consegue captar mais precisamente as caractersticas particulares do sistema prioritrio no qual ele

    10 Plano Setorial de Mitigao da Mudana Climtica para a Consolidao de uma Economia de Baixa Emisso de Carbono na Indstria de Transformao (MDIC, 2013) e Plano de Minerao de Baixa Emisso de Carbono (MME, 2013).

  • 25

    atua. Possui, portanto, importante funo de articulador, engajando stakeholders (pblicos e

    privados) e fomentando iniciativas.

    Em um prximo momento, os diferentes papeis e responsabilidades, tanto do MDIC como dos

    demais atores, devem ser definidos para cada ao sugerida, junto com a definio de seus objetivos

    especficos, atividades, cronogramas de implantao, produtos esperados, estruturas de

    monitoramento e avaliao etc. Esses elementos podero ser delineados por meio do Plano de Ao

    de Adaptao, conforme previsto no prprio PNA.

  • 26

    4. Bibliografia

    Banco Mundial. (2010). Climate Governance and Development.

    Brasil. (2015). Plano Nacional de Adaptao Mudana do Clima. Volume II: Estratgias Setoriais e

    Temticas. Verso Consulta Pblica. Braslia.

    CNI. (2014). Plano Nacional de Adaptao Mudana do Clima: Contribuies Preliminares da

    Indstria. .

    GVces. (2013). Relatrio final sobre dimenses temporal, espacial e temtica no planejamento de

    adaptao s mudanas climticas. Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de

    Administrao de Empresas de So Pauo (EAESP/FGV), So Paulo.

    GVces. (2014). Relatrio final de recomendaes para uma estratgia nacional em adaptao (Parte

    I/III). Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces), EAESP-FGV, So Paulo.

    Hallegatte, S., Lecocq, F., & Perthuis, C. (Fevereiro de 2011). Designing Climate Change Adaptation

    Policies - An Economic Framework. The World Bank.

    IPCC. (2014). Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Contribution of Working

    Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change.

    Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA: Cambridge University Press.

    Klein, R., Lisa Schipper, E., & Dessai, S. (2003). Integrating mitigation and adaptation into climate and

    development policy: three research questions. Working Paper No. 40, Tyndall Centre for

    Climate Change Research.

    Lebel, L., Li, L., & Krittasudthacheewa, C. (2012). Mainstreaming climate change adaptation into

    development planning. Adaptation Knowledge Platform and Stockholm Environment

    Institute., Bangkok.

    Lecocq, F., & Shalizi, Z. (2007). Balancing expenditures on mitigation of and adaptation to climate

    change: an exploration of issues relevant to developing countries. World Bank Policy

    Research Working Paper n4299.

    Lefvre, F., & Lefvre, A. M. (2012). Pesquisa de representao social: um enfoque qualiquantitativo:

    a metodologia do Discuros do Sujeito Coletivo.

    Manzini, E. J. (2004). Entrevista semi-estruturada: anlise de objetivos e de roteiros. . Seminrio

    internacional sobre pesquisa e estudos qualitativos., v. 2, p. 58-59. .

    MDIC. (2013). Plano setorial de mitigao e adaptao mudana do clima para a consolidao de

    uma economia de baixa emisso de carbono na indstria de transformao. Ministrio do

    Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (coordenao), Braslia .

    Ministrio do Planejamento. (2008). Manual de orientao para arranjo institucional de rgos e

    entidades do poder executivo federal.

    MME. (2013). Plano Setorial de Mitigao e de Adaptao Mudana do Clima na Minerao Plano

    de Minerao de Baixa Emisso de Carbono (Plano MBC).

    OCDE. (2003). Coerncia nas Polticas: relatrio final de atividades. OCDE - Comit de Gesto Pblica.

  • 27

    OCDE. (2009). Integrating Climate Change Adaptation into Development Co-operation: Policy

    Guidance .

    Olhoff, A., & Schaer, C. (2010). Screening Tools and Guidelines to Support the Mainstreaming of

    Climate Change Adaptation into Development Assistance - A Stocktaking Report. PNUD, Nova

    Iorque.

    PNUD. (2005). Adaptation policy frameworks for climate change: developing strategies, policies and

    measures.

    Smit, B., Burton, I., Klein, R. J., & Wandel, J. (2000). An anatomy of adaptation to climate change and

    variability. Climatic change, 45, pp. 223-251.

    UNFCCC. (2012). The national adaptation plan process: a brief overview. UNFCCC LDC Expert Group.