projeto a vida das coisas [e se as coisas lá de casa ... · o ‘copo’ ajusta-se e muda ao longo...

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Para este projeto decidimos tratar o objeto copo atribuindo-lhe o caráter camaleónico, onde o primordial objetivo deste binómio seria conseguir ter uma visão do objeto que vai para além da sua função normativa. No livro de Marta Vilar Rosales “Para Além do Económico: Apropriações Expressivas da Cultura Ma- terial Contemporânea”, a autora refere o antropólogo Appadurai que vê os «(...) objetos (...) como “entidades vivas” que ao longo das suas “vidas sociais”, vão ad- quirindo (ou perdendo) valor e mudando de significado (...)». E no fundo é esta a ideia que queremos transmitir com o facto de o ‘copo’ ser ‘camaleónico’. O ‘copo’ acompanha o sujeito ao longo da vida, e a sua diversidade formal é maioritariamente acompanha- da por um conteúdo. Tanto a parte formal como o con- teúdo permitem ao ‘copo’ ser inserido num determinado contexto, daí a imagem mental que se tem deste objeto variar de pessoa para pessoa. O ‘copo’ é adaptado e escolhido para a ocasião onde será usado, e esta escol- ha não partindo do livre arbitrio do individuo, recai nas convenções sociais associadas a este objeto. Concord- aríamos que não seria correto servir um copo com leite a uma criança num copo de champanhe. E a intenção do projeto é esta, a de que o copo adquire diferentes interpretações consoante o seu conteúdo e o contexto onde se encontra. Numa narrativa existem vários tipos de personagens, o ‘copo’ acaba por ser a personagem determinada por ‘redonda’ ou ‘modelada’, aquela que muda de comporta- mento ao longo da ação, por isso é dinâmica e não line- ar. Por conseguinte, como já foi referido anteriormente, o ‘copo’ ajusta-se e muda ao longo da vida social do sujeito. O copo é portanto camaleónico! Este projeto aborda o copo como objeto camaleónico e como tal, tem a capacidade de se adaptar a diferentes contextos e situações. Assim, decidimos optar por realizar uma publicação e uma parte prática ou instalação, que a irá complementar. A publicação vai conter seis artigos, dois de cada elemento do grupo e pretende apresentar o conteúdo de forma legível e criativa, com recurso a papel vegetal e a papel opaco normal, pretendendo evidenciar a transparência do copo, como elemento que se serve do seu conteúdo para se inserir em variadas situações e transformar a sua aparência e significado. As medidas previstas para cada spread do projeto editorial são 40 cm por 28 cm, aproximando-se de um A3. Quando se descontextualiza o copo, através do seu conteúdo e da sua forma conseguimos apreender de que situação poderia ser retirado, ou seja, quem seria passível de o ter e qual o contexto. Fazemo-lo quase por instinto através de conceções em relação ao que seria expectável e previsível. Pode dizer-se que existe um copo para cada tipo de bebida e uma bebida para cada tipo de copo e estes acompanham o ciclo de vida do sujeito. Este será o ponto de partida para a realização da nossa instalação que explora a evolução do comportamento do indivíduo através da apresentação de diferentes copos. BAUDRLLARD, Jean. The System of Objects, Verso, Londres, 1996. ROSALES, M. Cultura Material e Consumo. Oeiras: Celta, 2009 ROSALES, M. Para além do económico: apropriações expressivas da cultura material contemporânea. Lisboa: Escola Superior de Comunicação Social; PEREC, Georges. As coisas: Uma historia dos anos 60 (Primeira Parte). Companhia das letras, 2012 THACKARA, J. (2005): I n The Bubble: Designing in a complex world. APPADURAI, A(2004). Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema. Logo pelo nome que Baudrillard decidiu dar à fotografia, percebe-se que esta está ligada à Bastilha, bem como à ‘tomada da Bastilha’. Em termos contextuais, Baudrillard “(...) ‘teve o azar de viver numa altura em que a França estava dominada por paradigmas teóricos quase imperi- ais.’”. [...] Baudrillard consegue espelhar o descontenta- mento que sente em relação à política francesa. Mas, na perspetiva do nosso projeto, o mais importante foi o facto de Baudrillard ter utilizado o ‘copo’ como meio de expres- sar esse seu descontentamento, utilizando-o para além da sua função imediata – a de ser um meio para se poder beber. Em ‘Bastille’ o reflexo da Bastilha no copo conduz o espetador para uma ilusão, um outro mundo. Ao retirar toda esta significância que Baudrillard quis fazer transparecer com ‘Bastille’, e vendo a fotografia pela primeira vez, primeiro que tudo vemos um copo, depois a água e as pessoas. E para tratar do objeto ‘copo’, tivemos que concluir que para além da evidente necessidade da interação com o sujeito, é de extrema importância referir tanto a sua forma como o seu conteúdo. Retirado do Artigo #1, Ana Laura Rocha Nº10225 Em “As Tentações do Dr. António”, o primeiro filme a cores de Fellini, o personagem central é Peppino de Filippo (ou o Sr. Mazzuollo), um falso moralista que vê malicia em tudo o que o rodeia. Quando um outdoor de grandes dimensões, onde Anita Ekberg se encontra numa posição sensual provocadora, convi- dativa ao consumo de leite se começa a montar, peça a peça, vai-se revelando um cenário trágico para este homem, que vê na colocação da última peça a sua desgraça. Com uma expressão insinuante, a oferta deste produto parte do erotismo associado à presença da mulher e o seu forte caráter apelativo perante a pop- ulação italiana destrói o Sr. Mazzuollo. Nesta obra, Fellini dá vida ao copo através de uma finalidade pouco usual, mas determinante para o de- senvolvimento de toda a narrativa. Uma publicidade a um produto tão puro é aqui feita com recurso ao peca- do e à sensualidade e se estas caraterística podem ser atribuídas ao copo de leite, este parece ser um excelente ponto de partida para exploração de toda a potencialidade do objeto. Retirado do Artigo #1, de Madalena Silva Carlos Nº10220 “A Bebedora de Absinto” retrata uma mulher sentada à mesa, no canto de um café. Sozinha e perante um copo de absinto, a mulher alcoólica, encontra-se “encolhida” sobre si própria, numa ten- tativa de proteção. Neste quadro, o copo com absinto assume uma função simbólica, representando a bebida, o vício e a perdição da mulher. É através do copo e no- meadamente do conhecimento do seu conteúdo que o observador atribui ao quadro um determina- do significado. Se a mesma cena fosse retratada com um copo sem pé, de dimensões normais, se- ria menos provável associar o copo em questão, ao álcool. Por outro lado, esta diferença de sig- nificado, era ainda mais acentuada se o líquido contido pelo copo, fosse por exemplo, sumo ou chá, ou até mesmo leite. Nestes casos, a cena já simbolizaria um cenário e realidades completamente diferentes, e não se pensaria no vício, nem na vida boémia, de uma for- ma tão direta. Retirado do Artigo #1, de Ana Margarida Matos Nº10248 Copo Camaleónico Introdução Projeto Editorial Complemento Instalacão Bibliografia O copo na arte Presença do copo de leite no filme Bastárdios Inglórios, 2009. Diretor Quentin Tarantino “As Tentações de António”, Federico Felinni “As Tentações de António”, Federico Felinni WOW Visual Design, published by WOW inc. 2012 Everything about a Fortnight, Rosie Percival DIA Art Foundation: Invitation for the organization’s annual gala. 2011 “A Bebedora de Absinto”, Pablo Picasso Grupo 06 - Ana Laura Rocha Nº 10225, Ana Margarida Matos Nº 10248, Madalena Silva Carlos Nº 10220 Projeto A VIDA DAS COISAS [e se as coisas lá de casa sentissem?] Cultura Material 2017/18- Faculdade de Belas Artes Referências Para editorial

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Page 1: Projeto A VIDA DAS COISAS [e se as coisas lá de casa ... · o ‘copo’ ajusta-se e muda ao longo da vida social do ... APPADURAI, A (2004). Dimensões ... Projeto A VIDA DAS COISAS

Para este projeto decidimos tratar o objeto copo atribuindo-lhe o caráter camaleónico, onde o primordial objetivo deste binómio seria conseguir ter uma visão do objeto que vai para além da sua função normativa.

No livro de Marta Vilar Rosales “Para Além do Económico: Apropriações Expressivas da Cultura Ma-terial Contemporânea”, a autora refere o antropólogo Appadurai que vê os «(...) objetos (...) como “entidades vivas” que ao longo das suas “vidas sociais”, vão ad-quirindo (ou perdendo) valor e mudando de significado (...)». E no fundo é esta a ideia que queremos transmitir com o facto de o ‘copo’ ser ‘camaleónico’.

O ‘copo’ acompanha o sujeito ao longo da vida, e a sua diversidade formal é maioritariamente acompanha-da por um conteúdo. Tanto a parte formal como o con-teúdo permitem ao ‘copo’ ser inserido num determinado contexto, daí a imagem mental que se tem deste objeto variar de pessoa para pessoa. O ‘copo’ é adaptado e escolhido para a ocasião onde será usado, e esta escol-ha não partindo do livre arbitrio do individuo, recai nas convenções sociais associadas a este objeto. Concord-aríamos que não seria correto servir um copo com leite a uma criança num copo de champanhe. E a intenção do projeto é esta, a de que o copo adquire diferentes interpretações consoante o seu conteúdo e o contexto onde se encontra.

Numa narrativa existem vários tipos de personagens, o ‘copo’ acaba por ser a personagem determinada por ‘redonda’ ou ‘modelada’, aquela que muda de comporta-mento ao longo da ação, por isso é dinâmica e não line-ar. Por conseguinte, como já foi referido anteriormente, o ‘copo’ ajusta-se e muda ao longo da vida social do sujeito. O copo é portanto camaleónico!

Este projeto aborda o copo como objeto camaleónico e como tal, tem a capacidade de se adaptar a diferentes contextos e situações. Assim, decidimos optar por realizar uma publicação e uma parte prática ou instalação, que a irá complementar.

A publicação vai conter seis artigos, dois de cada elemento do grupo e pretende apresentar o conteúdo de forma legível e criativa, com recurso a papel vegetal e a papel opaco normal, pretendendo evidenciar a transparência do copo, como elemento que se serve do seu conteúdo para se inserir em variadas situações e transformar a sua aparência e significado.

As medidas previstas para cada spread do projeto editorial são 40 cm por 28 cm, aproximando-se de um A3.

Quando se descontextualiza o copo, através do seu conteúdo e da sua forma conseguimos apreender de que situação poderia ser retirado, ou seja, quem seria passível de o ter e qual o contexto. Fazemo-lo quase por instinto através de conceções em relação ao que seria expectável e previsível.

Pode dizer-se que existe um copo para cada tipo de bebida e uma bebida para cada tipo de copo e estes acompanham o ciclo de vida do sujeito. Este será o ponto de partida para a realização da nossa instalação que explora a evolução do comportamento do indivíduo através da apresentação de diferentes copos.

BAUDRLLARD, Jean. The System of Objects, Verso, Londres, 1996. ROSALES, M. Cultura Material e Consumo. Oeiras: Celta, 2009

ROSALES, M. Para além do económico: apropriações expressivas da cultura material contemporânea. Lisboa: Escola Superior de Comunicação Social;

PEREC, Georges. As coisas: Uma historia dos anos 60 (Primeira Parte). Companhia das letras, 2012

THACKARA, J. (2005): In The Bubble: Designing in a complex world.

APPADURAI, A (2004). Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema.

Logo pelo nome que Baudrillard decidiu dar à fotografia, percebe-se que esta está ligada à Bastilha, bem como à ‘tomada da Bastilha’. Em termos contextuais, Baudrillard “(...) ‘teve o azar de viver numa altura em que a França estava dominada por paradigmas teóricos quase imperi-ais.’”. [...] Baudrillard consegue espelhar o descontenta-mento que sente em relação à política francesa. Mas, na perspetiva do nosso projeto, o mais importante foi o facto de Baudrillard ter utilizado o ‘copo’ como meio de expres-sar esse seu descontentamento, utilizando-o para além da sua função imediata – a de ser um meio para se poder beber. Em ‘Bastille’ o reflexo da Bastilha no copo conduz o espetador para uma ilusão, um outro mundo.

Ao retirar toda esta significância que Baudrillard quis fazer transparecer com ‘Bastille’, e vendo a fotografia pela primeira vez, primeiro que tudo vemos um copo, depois a água e as pessoas. E para tratar do objeto ‘copo’, tivemos que concluir que para além da evidente necessidade da interação com o sujeito, é de extrema importância referir tanto a sua forma como o seu conteúdo.Retirado do Artigo #1, Ana Laura Rocha Nº10225

Em “As Tentações do Dr. António”, o primeiro filme a cores de Fellini, o personagem central é Peppino de Filippo (ou o Sr. Mazzuollo), um falso moralista que vê malicia em tudo o que o rodeia. Quando um outdoor de grandes dimensões, onde Anita Ekberg se encontra numa posição sensual provocadora, convi-dativa ao consumo de leite se começa a montar, peça a peça, vai-se revelando um cenário trágico para este homem, que vê na colocação da última peça a sua desgraça. Com uma expressão insinuante, a oferta deste produto parte do erotismo associado à presença da mulher e o seu forte caráter apelativo perante a pop-ulação italiana destrói o Sr. Mazzuollo.

Nesta obra, Fellini dá vida ao copo através de uma finalidade pouco usual, mas determinante para o de-senvolvimento de toda a narrativa. Uma publicidade a um produto tão puro é aqui feita com recurso ao peca-do e à sensualidade e se estas caraterística podem ser atribuídas ao copo de leite, este parece ser um excelente ponto de partida para exploração de toda a potencialidade do objeto. Retirado do Artigo #1, de Madalena Silva Carlos Nº10220

“A Bebedora de Absinto” retrata uma mulher sentada à mesa, no canto de um café. Sozinha e perante um copo de absinto, a mulher alcoólica, encontra-se “encolhida” sobre si própria, numa ten-tativa de proteção.

Neste quadro, o copo com absinto assume uma função simbólica, representando a bebida, o vício e a perdição da mulher. É através do copo e no-meadamente do conhecimento do seu conteúdo que o observador atribui ao quadro um determina-do significado. Se a mesma cena fosse retratada com um copo sem pé, de dimensões normais, se-ria menos provável associar o copo em questão, ao álcool. Por outro lado, esta diferença de sig-nificado, era ainda mais acentuada se o líquido contido pelo copo, fosse por exemplo, sumo ou chá, ou até mesmo leite.

Nestes casos, a cena já simbolizaria um cenário e realidades completamente diferentes, e não se pensaria no vício, nem na vida boémia, de uma for-ma tão direta.Retirado do Artigo #1, de Ana Margarida Matos Nº10248

Copo Camaleónico

Introdução

Projeto Editorial

ComplementoInstalacão

Bibliografia

O copo na arte

Presença do copo de leite no filme Bastárdios Inglórios, 2009. Diretor Quentin Tarantino

“As Tentações de António”, Federico Felinni

“As Tentações de António”, Federico Felinni

WOW Visual Design, published by WOW inc. 2012

Everything about a Fortnight, Rosie Percival

DIA Art Foundation: Invitation for the organization’s annual gala. 2011

“A Bebedora de Absinto”, Pablo Picasso

Grupo 06 - Ana Laura Rocha Nº 10225, Ana Margarida Matos Nº 10248, Madalena Silva Carlos Nº 10220

Projeto A VIDA DAS COISAS [e se as coisas lá de casa sentissem?]

Cultura Material 2017/18- Faculdade de Belas Artes

Referências Para editorial