projecto “ migrações e desenvolvimento · 3. 4 metodologias de implementação e instrumentos...

102
00 0 PROJECTO “ Migrações e Desenvolvimento“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural” Uma Prática Bem Sucedida (Produto revisto e actualizado – Out.07)

Upload: duonghuong

Post on 18-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

00 0

PROJECTO “ Migrações e Desenvolvimento”

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática Bem Sucedida

(Produto revisto e actualizado – Out.07)

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

ENTIDADES CONCEPTORAS

� CEFEM - Centro Europeu de Formação e Estudos sobre Migrações

� CIDM - Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres

� CMS - Câmara Municipal do Seixal

� DGACCP – Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades

Portuguesas (Entidade Interlocutora)

� IEFP – Instituto de Emprego e Formação Profissional

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

ÍNDICE Páginas

Acrónimos 1 – INTRODUÇÃO 2 – IDENTIFICAÇÃO DA PRÁTICA

2.1 Designação

2.2 Objectivos e Finalidade

2.3 Beneficiários/as e destinatários/as – público-a lvo

2.4 Entidades parceiras comprometidas

2.5 Para saber mais sobre a problemática da interve nção,

os princípios fundamentais e os aspectos metodológi cos a que obedeceu

3 – CONSTRUÇÃO DA PRÁTICA

3.1 Caracterização da Prática

3.1.1 Problemas a que a prática pretende responder

3.1.2 Soluções implementadas

3.1.2.1 Aspectos gerais

3.1.2.2 A sensibilização e a formação para a cidada nia

e a interculturalidade

3.1.2.3 Objectivos do “Espaço Cidadania” e do “Fóru m para a Cidadania”

3.1.2.4 Organização e Funcionamento do “Espaço Cida dania”

e “Fórum para a Cidadania”

3. 2 Competências necessárias à Construção da Práti ca

Contributos e complementaridades das diferen tes entidades parceiras

3. 3 Envolvimento dos/as beneficiários/as e dos/as destinatários/as

3. 4 Metodologias de implementação e instrumentos

3. 5 Dificuldades e obstáculos encontrados /formas de superação

3. 6 Factores críticos que desempenharam um papel i mportante na

emergência e na qualidade da prática

3. 7 Contributo da transnacionalidade para a constr ução da prática

3. 8 Legitimação / Validação da Prática

3.9 Para saber mais sobre o processo, os passos e o percurso

4. RESULTADOS E VALOR DA PRÁTICA ESPERADOS

4.1 Valor acrescentado para beneficiários/as e clie ntes

4 5

14

14 14

15

26 26 26 30

30

33

40 42

44

47 48

52

54

58 58

59

60 60

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

3

4. 2 Balanço dos adquiridos pelas entidades parceir as

4.3 Contributo para o reforço das competências dos actores,

agentes e organizações envolvidos na sua cons trução

4.4 O impacto em termos de igualdade de género

4. 5 A importância atribuída à prática para a conso lidação do

trabalho em parceria/auto-sustentação e viabi lidade

5. TRANSFERÊNCIA, INCORPORAÇÃO E DISSEMINAÇÃO

5. 1 Estratégia de transferência dos factores críti cos

5. 2 Destinatários e incorporadores

5.3 Metodologia de disseminação

5.4 Objectivos e resultados da disseminação

5. 5 Pré-avaliação dos resultados

5.5.1 Mais valias

5.5.2 Factores críticos de sucesso

5.5.3 Os “Espaços Cidadania” como instrumentos para o exercício

da Cidadania Global

5.5.4 Os “Espaços Cidadania” como contributo para a concretização

dos direitos económicos, sociais e culturai s

5.5.5 A aprendizagem intercultural como mais valia para um novo

modelo de socialização

5.5.6 Construção identitária

5.5.7 Investir no capital social

5.5.8 Investir na coesão social

5. 6 Contactos dos/as “Construtores/as” das prática s

Referências

72

73

74 75

79 79

80 81

83

87 87 88

89

90

92

94 95

97

98

99

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

4

ACRÓNIMOS ADAPT – Iniciativa comunitária de Adaptação da mão de obra às mutações industriais AML – Área Metropolitana de Lisboa CLAI – Centro Local de Apoio ao Imigrante CNAI – Centro Nacional de Apoio ao Imigrante CR – Comité das Regiões EC – Espaço Cidadania ECRI – European Commission against Racism and Intol erance OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvime nto Económico PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portugue sa PD – Parceria de Desenvolvimento PIC – Programa de Iniciativa Comunitária RVCC – Reconhecimento e Validação do Conhecimento e Competências SOPEMI – Système d’Observation Permanente des Migra tions Internationales SPE – Serviço Público de Emprego UE – União Europeia UNIVA – Unidade de Inserção na Vida Activa

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

5

1 – INTRODUÇÃO

Sendo as migrações internacionais um dado de facto do nosso quotidiano, a

diversidade cultural num mesmo espaço que delas resulta passou a constituir

característica das nossas sociedades. Ora as democracias exigem uma gestão

harmoniosa dessa diversidade porque se fundam no respeito pela igual

dignidade e pela igual liberdade de todo e qualquer ser humano, o que implica

respeito pela sua pessoa e pela sua cultura. Mas como a história e a nossa

própria experiência nos mostram, uma tal gestão não surge sem vontade

comum nesse sentido, sem reconhecimento coerente da sua necessidade a

nível individual e a nível institucional, nem sem instrumentos que a ponham em

prática.

Ou seja, o processo de construção democrática das n ossas sociedades

tem que aprofundar o entendimento e a prática da ci dadania como uma

dimensão fundamental do exercício dos direitos huma nos. Assim, só

poderemos falar de um Estado de direito democrático se, no território que

lhe corresponda, todas as pessoas se assumirem e fo rem reconhecidas

como sujeitos de cidadania, e todos os lugares, púb licos ou privados, que

o integram se constituírem espaços de cidadania.

Como é sabido, os indicadores sociais e a realidade empírica evidenciam, no

nosso País e em todos os outros, assimetrias diversas entre sujeitos de direito,

entre as quais avulta, pela sua natureza estrutural, a que decorre da atribuição

de papéis sociais desiguais a homens e mulheres. Assimetrias particularmente

flagrantes no desenvolvimento humano, na aceitação social, nas oportunidades

no mercado de trabalho quando comparamos situações de homens e mulheres

que se assumem ou são percebidos como pertencendo a culturas minoritárias

desvalorizadas. Assimetrias muitas vezes só explicáveis – embora disso

possamos não ter consciência plena - pela discriminação dita racial ou étnica

que subjaz a muitos dos nossos comportamentos.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

6

Portugal foi e é um País de emigração. Em Portugal sabemos o que ela exige e

o que ela oferece. Não gostamos de assumir que fomos e ainda somos objecto

de discriminação; ninguém gosta de se sentir diminuído, de ver beliscada a sua

auto-estima individual e nacional. Conhecemos discursos e práticas de Países

de origem e de acolhimento, vários conceitos sobre integração e muitos olhares

institucionais sobre imigrantes e sobre a adequação de respostas às suas

necessidades específicas. Conhecemos emigrantes portugueses e as suas

famílias por esse mundo. O que dizem e os orgulha, o que reivindicam, o que

os revolta, mas também o que ‘têm pudor de contar seja a quem for’.

Em Portugal, sabemos de custos e benefícios da mobi lidade humana. Um

saber de enorme utilidade, agora que também somos P aís de imigração

com fluxos significativos de nacionais de outros Es tados a contribuir

para a nossa economia e com comunidades estrangeira s de dimensões

relevantes.

É agora a nossa vez de tratar as outras pessoas como gostaríamos que nos

tivessem tratado. De aplicar na nossa terra o que defendemos para os nossos

em terra alheia, o que propusemos em negociações bilaterais e multilaterais, o

que procuramos demonstrar em projectos-piloto, visando dar conteúdo aos

preceitos constitucionais que garantem protecção a nacionais no estrangeiro e

suas famílias. É agora a nossa vez e temos que ser coerentes. Foi esta busca

de coerência, na prática, que o Projecto ‘Migrações Desenvolvimento’ se

propôs, insatisfeito com as soluções – parcelares, burocráticas, limitadas -

disponíveis no terreno aquando do início da sua actividade.

Assim – e na sequência do diagnóstico efectuado no decurso da Acção 1, que

identificou por um lado, necessidades múltiplas ao nível da inserção social e

profissional, nomeadamente da população migrante e da população cigana, e,

por outro, a possibilidade de rentabilizar diversos recursos disponíveis - um dos

objectivos do Projecto foi a implementação no terreno de uma intervenção

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

7

integrada, assente no estabelecimento e na consolidação de um “Pacto

Territorial para o Diálogo Intercultural” planeado e desenvolvido no concelho

do Seixal, como experiência-piloto capaz de evitar a discriminação de pessoas e

comunidades migrantes e ciganas e de promover a igualdade de género.

‘Pacto Territorial’ porque as intervenções integrad as exigem a

legitimidade, as competências e os saberes de vária s instituições que

actuam no território de que se trate na prossecução de objectivos

comuns; daí uma parceria alargada mas de proximidad e, constituída por

entidades públicas e privadas, a nível nacional e l ocal, actores da

sociedade civil e comunidades em presença.

‘Para o Diálogo Intercultural’ porque a prevenção d a discriminação exige

por parte de qualquer agente uma atitude consciente e sustentada de

respeito pela igual dignidade de todas as pessoas i ndependentemente da

sua nacionalidade ou das suas pertenças culturais.

Trabalhar ‘de igual para igual’, como é aliás preconizado pela EQUAL, com real

capacidade de escuta, de aprendizagem, de troca e de resposta cuidada e

solidária, sem a indiferença da distância construída como defesa, sem a

benevolência suficiente ou mesmo tolerante – e irritante - de quem se

considera superior porque faz parte da comunidade maioritária e dominante ou

porque está investido, ainda que circunstancialmente, em qualquer espécie de

pequeno ou grande poder.

Trabalhar com os públicos-alvo e não para esses públicos. E, na esteira dos

trabalhos do Conselho da Europa, foi desenvolvendo, na prática, o conceito de:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

8

Cidadania Global , ou seja, a que abrange todos os aspectos da vida numa

sociedade democrática 1, incluindo não apenas a solidariedade a nível

nacional e internacional - um mundo mais justo e de direitos humanos para

todas as pessoas2 – mas também a participação equilibrada de homens e

mulheres nos processos de decisão, na actividade profissional e na vida

familiar3, como pressupostos da igualdade de homens e mulheres4, entendida

como um critério fundamental da democracia5.

Daí que o Pacto Territorial se tenha articulado em torno de um “Espaço

Cidadania” , enquanto estrutura de apoio ao desenvolvimento das actividades a

promover com e para o público-alvo e o conjunto de actores públicos, privados e

voluntários, e de um “Fórum para a Cidadania” , vocacionado para a reflexão,

a partilha e o debate de ideias entre todos os intervenientes, aspectos

fundamentais a um melhor e maior conhecimento dos problemas e a uma maior

adequação das respostas.

Esta abordagem implicava acções de sensibilização e formação

expressamente concebidas para o efeito e cuja importância não é demais

realçar, uma vez que permitiu alargar formas de olhar e de interpretar a

diversidade, partilhar e trocar informação e conhecimentos, reflectir sobre as

práticas profissionais, conhecer novas parcerias, divulgar recursos disponíveis,

1 O Conselho da Europa, no Ano de 2005 encorajou à reflexão e à acção para a Cidadania pela Educação, considerando que a cidadania democrática não se limita ao estatuto legal do/a cidadão/ã nem ao direito de sufrágio que esse estatuto implica. Inclui todos os aspectos da vida numa sociedade democrática http://www.coe.int/T/E/Com/Files/Themes/ECD/. 2 http://www.coe.int/T/E/North-South_Centre/Programmes/3_Global_Education/a_Presentation/ 3 Como já se defendeu (Revista ex-aequo nº 10 http://www.apem.web.pt/apem.htm), a fim de tornar mais claro que não há direitos e deveres ‘inerentes’ a homens e ou mulheres - o que corresponderia à consagração legal da discriminação em função do sexo - importaria promover, no âmbito dos direitos humanos universais, o reconhecimento do direito fundamental ao cuidado e do dever fundamental de cuidar. 4 Resolução do Conselho e dos ministros do Emprego e da Política Social, reunidos no seio do Conselho (da União Europeia) de 29 de Junho de 2000 relativa à participação equilibrada das mulheres e dos homens na actividade profissional e na vida familiar (2000/C 218/02) nº 1 a) http://europa.eu.int/smartapi/cgi/sga_doc?smartapi!celexapi!prod!CELEXnumdoc&lg=PT&numdoc=32000Y0731(02)&model=guichett. 5 http://www.coe.int/T/E/Human_Rights/Equality/PDF_MEG-4%281997%2918_E.pdf

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

9

promover a aproximação e o conhecimento entre agentes das entidades

públicas e privadas e membros das comunidades culturais existentes ao nível

local e, especialmente, desafiar para a concretização de uma intervenção

inclusiva em parceria.

É esta intervenção - iniciada em 2003, antes assim da criação e

concretização dos Centros Nacionais de Apoio ao Imi grante (CNAI) e dos

Centros Locais de Apoio ao Imigrante (CLAI) e com u ma abordagem de

resposta, mais integrada e efectiva , como adiante se evidenciará – que se

passa a narrar, conforme a estrutura do ‘Guião para a Caracterização de

Práticas Bem Sucedidas’ proposto pelo Programa de Iniciativa Comunitária

EQUAL, tentando ilustrar o caminho percorrido, tantas vezes lento e com

vários desalentos, mas que, fruto da persistência e insistência em ultrapassar

dificuldades e constrangimentos, permitiu, não raras vezes, exceder

expectativas e vencer contrariedades.

Em todo o percurso de concepção e desenvolvimento do Pacto Territorial para o

Diálogo Intercultural é de realçar a importância das ligações e do “processo

sinergético” com os outros produtos do projecto “Migrações e Desenvolvimento”,

tendo designadamente em conta a tranversalidade subjacente do conceito de

“cidadania global” para o empoderamento individual e colectivo, para o

desenvolvimento sustentável e para a concretização do direito e das políticas

públicas a nível nacional e internacional.

Assim, para além do “Espaço Cidadania” e do “Fórum para a Cidadania”, que se

assumem como componentes directos do referido Pacto, há a assinalar a

vertente da sensibilização e da formação, verificando-se um efectivo

desenvolvimento cognitivo e de atitudes – competências - tão necessárias ao

desenvolvimento da Educação/Formação para a cidadania global, de que

resultou a concepção de um Referencial de Formação, que poderá ser

adoptado/adaptado em outros contextos.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

10

De realçar também, a elaboração de um “Guia de Recursos para a Cidadania”,

que apresenta a suficiente flexibilidade para ser adoptado em diversas

realidades e que se apresenta como um instrumento facilitador do trabalho e do

empoderamento dos/as técnicos/as de entidades públicas e privadas que se

pretende o venham a utilizar, designadamente no âmbito de outros Pactos

Territoriais para o Diálogo Intercultural.

Finalmente há assinalar a concepção de um Argumentário - “E se fosse

consigo? Benefícios da não discriminação e da diversidade nas empresas” – Um

Argumentário para a Cidadania Empresarial. Trata-se de um “produto de

especialidade”, dinamizador do “Fórum para a Cidadania” e instrumento

sensibilizador para as questões da igualdade de género, da diversidade cultural

e da responsabilidade social, especialmente dirigido às empresas, mas de

carácter transversal, pois o seu conteúdo é igualmente aplicável junto de

entidades públicas ou privadas.

Qualquer deste produtos obedece a uma linha comum no que respeita aos

sujeitos de cidadania. Com efeito:

Em primeiro lugar, acentua-se a ideia do valor igual das mulheres e dos

homens , promove-se o questionamento sobre os papéis sociais de género em

que se funda a desigualdade estrutural nos indicadores do desenvolvimento

humano dos homens e das mulheres, e encoraja-se a promoção da igualdade.

Esta dimensão está patente

• na utilização de linguagem equilibrada (nos vários produtos );

• no referencial de formação , com uma abordagem não só autonomizada

como transversal no módulo Direitos Humanos, Migrações Internacionais e

Igualdade de Género;

• no argumentário , com exemplos de problemas reais no domínio não só da

maternidade como da paternidade;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

11

• no atendimento personalizado no espaço, realizado por agentes que

fizeram a formação desenvolvida pelo projecto;

• no guia de recursos, com a inclusão do conceito de ‘cidadania global’ tal

como é proposto no referencial de formação (cidadania da esfera pública e

da esfera privada de e para todas as pessoas onde quer que se encontrem)

com ligações para vários sites que trabalham a igualdade de género.

Em segundo lugar, tratam-se as migrações internacionais na sua dimensão

de mobilidade humana, assumindo-se os homens e as mulheres migrantes

como sujeitos de direitos e obrigações quer face ao Estado de origem, quer

face ao Estado de acolhimento, partindo da posição de um País com cerca de

4 milhões e meio de nacionais e suas famílias no estrangeiro.

Esta dimensão está patente:

• na própria parceria de desenvolvimento 6 que concretizou os produtos;

• na busca de coerência, evidenciada pelo referencial de formação entre as

políticas públicas de apoio às pessoas e comunidades portuguesas no

estrangeiro e às pessoas estrangeiras e suas comunidades em Portugal;

• no argumentário para as empresas, em que se invoca o conhecimento

que Portugal tem do sofrimento que acarreta a exclusão por se ser

estrangeiro ou estrangeira na terra onde se está.

Em terceiro lugar, tratam-se as comunidades de nacionais e de estrangeiros

como comunidades culturais , numa lógica cosmopolita do igual valor das

culturas e da mobilidade das pessoas que as adoptam, sem prejuízo das

questões de soberania em matéria de direitos humanos, de democracia e do

Estado de direito.

6 Parceria de Desenvolvimento é a expressão utilizada pelo próprio PIC EQUAL para se referir ao conjunto de parceiros que compõem a parceria em cada uma das acções do projecto. De salientar que os parceiros podem variar em função das acções 1 a 3 do projecto.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

12

Esta dimensão está patente:

• no referencial de formação , quando o tratamento da legislação relativa a

nacionais no estrangeiro e a pessoas estrangeiras em Portugal integra o

mesmo módulo designado ‘comunidades culturais;

• na nota de apresentação do guia;

• no argumentário;

• na concepção do espaço de cidadania e dos/as seus/suas utentes.

Por último, rejeitam-se visões paternalistas sobre migrantes e assume-se que:

A interculturalidade é uma competência igualmente ind ispensável para

agentes sociais e para as mulheres e os homens que integram a

população, qualquer que seja a respectiva nacionalidade . Esta dimensão

está também presente nos 4 produtos do projecto.

O empenhamento por parte das entidades envolvidas na dinamização de

uma acção concertada de colaboração e com sustentabilidade ao nível

local, o envolvimento e participação pró-activa dos diversos actores sociais,

com destaque para representantes das comunidades imigrantes, ciganas e

outras em desvantagem social e cultural, na procura de soluções e na

formulação de respostas e a avaliação periódica das estratégias, são

componentes básicas na determinação da eficácia dos métodos e

processos utilizados.

Foi um percurso comum, em que a participação progressiva das organizações

e dos próprios públicos, enquanto actores e intervenientes, reforçou o sentido

colectivo da construção e tornou mais clara a necessidade de apostar

fortemente num trabalho que invista:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

13

� Na valorização e qualificação de agentes e de organizações para

enfrentarem os desafios de uma sociedade em mudança onde a

diversidade social e cultural deve ser encarada com o uma riqueza ;

� Na criação de serviços produzidos em cooperação com os

diversos actores, visando uma intervenção integrada e enraizada

nas comunidades locais, com respostas inclusivas assentes na

articulação entre as políticas de cidadania e as políticas sociais em

geral, com relevo para as políticas de emprego.

Este modelo de ‘Pacto Territorial para o Diálogo In tercultural’ constitui

uma resposta promissora de cordialidade e de empode ramento, e,

consequentemente, de pacificação social e de inclus ão cidadã. Uma

resposta que, a ser replicada com êxito e com a nec essária adequação à

realidade de que se trate, constituirá também uma f erramenta poderosa

para aprofundar o conhecimento e as competências in dividuais e sociais,

para renovar o olhar e as práticas das instituições que têm por missão

intervir em sociedades abertas e cosmopolitas, para atenuar tensões

fundadas na ignorância e no seu aproveitamento, par a prevenir

desilusões e desesperos, para melhorar as condições de

desenvolvimento e de segurança com reforço das libe rdades, à luz dos

equilíbrios que exige a prática dos direitos humano s num Estado de

direito democrático.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

14

2 - IDENTIFICAÇÃO DA PRÁTICA 2. 1 Designação

“PACTO TERRITORIAL PARA O DIÁLOGO INTERCULTURAL DO SEIXAL”

Prática realizada no âmbito do Projecto “Migrações e Desenvolvimento”, um

dos cinco projectos da 1ª fase do Programa de Iniciativa Comunitária EQUAL

que se integraram na Prioridade1- Empregabilidade e na Área de intervenção

1.2.1 Prevenção das Discriminações Raciais e Étnicas7.

2. 2 Objectivos e Finalidade

Esta prática promove uma cultura de convivência e d e diálogo

intercultural, através da consciencialização e resp onsabilidade partilhada

das pessoas e das organizações nos domínios da não discriminação, da

promoção de condições para uma cidadania plena, da capacidade de

organização, do poder de participação e da inclusão , à luz da igualdade

de homens e mulheres migrantes ou que integram grup os ditos “étnicos”

e culturais socialmente mais desfavorecidos.

Visa-se a construção de um dispositivo territorial para garantir respostas

institucionais mais eficientes e adequadas às necessidades reais do público-

alvo, através da articulação e potenciação de recursos locais e de uma maior

aproximação entre as comunidades em presença e os/as agentes que com

elas trabalham.

Para o efeito, foram definidos os seguintes objectivos :

♦ Criação de uma estrutura de mediação, amigável e de proximidade

às diversas situações, nas vertentes de informação, acolhimento,

atendimento e apoio à integração pessoal, social e profissional do

público-alvo;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

15

♦ Promoção de uma intervenção integrada, articulada e participada,

suportada pela rede de apoio constituída pelas entidades públicas e

privadas envolvidas e pelas associações representativas do

público-alvo;

♦ Dinamização de acções de sensibilização e de formação para

diferentes destinatários/as, nomeadamente agentes de entidades

públicas e privadas que directa ou indirectamente intervêm com o

público-alvo, bem como organização de eventos sociais, culturais e

recreativos;

♦ Fomento de espaços de participação da população, das

associações de imigrantes, dos/as técnicos/as e de outros/as

representantes das entidades e serviços, de maneira a fomentar

uma maior aproximação, facilitar um melhor conhecimento e

aprofundamento dos problemas com que estes públicos se

deparam;

♦ Criação de mecanismos facilitadores da inserção no mercado de

trabalho e na sociedade da população destinatária;

♦ Valorização das culturas de pertença das populações migrantes e

de outros grupos culturais.

2. 3 Beneficiários/as e destinatários/as – público- alvo

◊ Agentes de entidades públicas e privadas, a nível nacional e local,

bem como elementos de comunidades culturais diversas;

◊ Homens e mulheres migrantes ou que integram grupos ditos étnicos

e culturais socialmente mais desfavorecidos;

◊ Homens e mulheres em risco de exclusão por qualquer factor.

7 Os outros 4 projectos na mesma área de intervenção foram: “Semear para Acolher”; “InterculturaCidade”, “Sunrise” e “Sem Fronteiras”.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

16

2.4 Entidades parceiras comprometidas

Consideraram-se entidades parceiras comprometidas com a prática

implementada no Seixal, quer as que asseguraram a viabilidade e o

funcionamento do “Espaço Cidadania”, quer as que assinaram a Carta de

Compromisso do “Fórum para a Cidadania”, e que foram as seguintes:

Parceiros a nível nacional Parceiros a nível local

Direcção Geral dos Assuntos Consulares e

Comunidades Portuguesas - DGACCP

Câmara Municipal do Seixal - CMS

Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo

Intercultural - ACIDI8

Centro Europeu de Formação e Estudos

sobre as Migrações - CEFEM

Serviço de Estrangeiros e Fronteiras - SEF Associação Portuguesa para o

Desenvolvimento das Mulheres Ciganas

Portuguesas - AMUCIP

Instituto do Emprego e Formação Profissional

- IEFP

ADIME, ONG com sede no Município do

Seixal

Comissão para a Cidadania e Igualdade de

Género - CIG9

Associação dos Brasileiros em Portugal

Comissão para a Igualdade no Trabalho e no

Emprego - CITE

Associação dos Romenos e Moldavos -

FRÂTIA

Assim, no caso do Seixal, considerou-se fundamental implicar na parceria, a

nível nacional, os serviços competentes em matéria de apoio à emigração e à

imigração, incluindo a polícia de estrangeiros, a agência nacional de emprego e

formação profissional e os mecanismos nacionais para a igualdade de género;

a nível local foi determinante o envolvimento da autarquia e de organizações

privadas com intervenção social no apoio ao público-alvo.

8 Na altura designado por Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas – ACIME. 9 Na altura designada por Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres – CIDM.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

17

Porém, cada Pacto Territorial, de acordo com as suas especificidades,

resultantes das necessidades de cada concelho, deverá integrar os parceiros

que se considerarem fundamentais para a boa dinamização da iniciativa. Em

todo o caso, consideram-se as Câmaras Municipais como parceiros-chave

determinantes para a sustentabilidade dos Pactos e dos respectivos

Espaços Cidadania.

2.5 Para saber mais sobre a problemática da interve nção, os princípios

fundamentais e os aspectos metodológicos a que obed eceu

2.5.1 Sobre a Problemática de Intervenção

Na maioria dos países da OCDE e em todos os da UE (OCDE – SOPEMI,

2003), o número de pessoas estrangeiras ou imigrantes e sua

proporção na população total aumentou nos últimos a nos. Na

realidade trata-se de um fenómeno em rápido crescim ento: 75 milhões

em 1965, 105 milhões em 1985 , 120 milhões em 1990, 175 milhões em

2000 e 200 milhões em 2006, ou seja cerca de 3% da população

mundial. Também em Portugal, país tradicional e actualmente de

emigração, se tem vindo a assistir, na última década e especialmente nos

últimos anos, a um peso significativo da imigração, prevendo-se que

corresponda a 4% da população portuguesa e a 6% da população activa

(ano 2005).

Em 2001, os dados referentes aos processos entrados na Inspecção-Geral

do Trabalho para aprovação de contratos de trabalho e posterior atribuição

de autorização de permanência revelavam que, no universo de nacionais

dos cinco países com maior peso (Ucrânia, Roménia, Moldávia, Brasil e

Cabo Verde), as cinco profissões mais significativas eram as de ‘servente

da construção civil e obras públicas’, ‘pedreiro’, ‘operário não especializado

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

18

de limpeza’ e ‘empregada doméstica’. Ainda nos dados sobre os tipos de

contratação fornecidos pela Inspecção-Geral do Trabalho e reportados a 31

de Dezembro de 2001, foi possível observar que 85% dos contratos de

trabalho são a termo certo, contrapondo com 2,6% de contratos sem termo,

o que revela a grande precaridade de emprego. Este tipo de contratação,

por sua vez, reporta-se aos sectores mais carenciados em recursos

humanos e com mais baixas exigências de qualificação.

As fontes oficiais sugerem ainda que os/as trabalhadores/as não

qualificados/as são mais afectados/as por situações de precaridade,

auferindo baixas remunerações, nomeadamente associadas ao

desenvolvimento de actividades clandestinas.

Em Portugal, o facto de a inserção económica de imi grantes se

processar frequentemente no mercado de trabalho inf ormal, conduz a

situações de desemprego, nem sempre acompanhadas da protecção

social legalmente prevista. É ao nível dos nacionais de PALOP e de

pessoas ciganas que se verificam as situações de maior desfavorecimento,

com muito baixos níveis de qualificação escolar e profissional,

discriminação face ao emprego, pobreza associada a precárias condições

habitacionais e de marginalização sócio-cultural.

Os relatórios da Comissão Europeia relativos à eliminação do Racismo e

da Intolerância (ECRI) do Conselho da Europa10, indicam que imigrantes

com origem nos países da Europa Central e Oriental, geralmente

beneficiam de melhor acolhimento pela sociedade civil do que imigrantes

com origem nos países africanos. Assim, ainda que o nível de qualificação

escolar e profissional nos/as imigrantes possa ser relevante no modo como

são aceites no país, coloca-se também a questão da eventual relevância

10 Fonte Junho 2005

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

19

de outros factores como o do aspecto físico (cor de pele) para a sua

integração na sociedade civil.

É porém a comunidade cigana - que é considerada como ‘minoria étnica’

quer por parte da sociedade civil, quer por parte das autoridades locais e

administrativas - que é objecto de maiores preconceitos, cuja persistência

conduz a inúmeras discriminações na vida quotidiana. Segundo o Relatório

da ECRI é particularmente em matéria de acesso ao alojamento, ao

emprego e aos serviços sociais que as discriminações mais se observam,

mas também ao nível das relações com as forças da ordem, sendo as

pessoas e as comunidades ciganas objecto de frequentes controles

policiais, muitas vezes acompanhados de violência.

A necessidade de combater os preconceitos e erradicar a discriminação e a

exclusão social, em especial no âmbito do emprego e da educação, torna-

se, assim, premente.

Para erradicar a discriminação e viabilizar o respeito elementar pelos

direitos humanos fundamentais, vários esforços têm vindo a ser

conjugados pelos estados membros da União Europeia (UE).

Em 2000, duas Directivas europeias foram adoptadas, proibindo a

discriminação quer em função da raça ou da origem é tnica 11, quer em

função da religião ou das convicções, da deficiênci a, da idade ou da

orientação sexual 12 e, em consequência, novas leis têm vindo a entrar

em vigor em todos os países da UE.

11 A Directiva 2000/43/CE relativa à implementação do princípio da igualdade de tratamento entre pessoas sem distinção da raça ou origem étnica (29/06/00) cobre a maior parte dos domínios da vida quotidiana em que a desigualdade de tratamento se pode manifestar. 12 A Directiva 2000/78/CE relativa à criação de um quadro geral em favor da igualdade de tratamento em matéria do emprego e do trabalho (27/11/00) proíbe toda a discriminação sobre a religião, a deficiência, a idade ou a orientação sexual.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

20

Paralelamente ao quadro legal contra a discriminação para erradicar a

desigualdade de tratamento - que permite quer a protecção às vítimas,

quer a criação de um clima dissuasor da discriminação - também se tem

vindo a intervir a nível europeu para a mudança das atitudes e dos

comportamentos, nomeadamente através do lançamento de um programa

de acção de luta contra a discriminação (2001-2006), que apoia actividades

destinadas à sensibilização, à informação sobre os novos direitos e

obrigações que a lei confere e à sanção de atitudes e comportamentos

discriminatórios.

Acresce que, a União Europeia tem por objectivo eliminar as desigualdades

e promover a igualdade entre homens e mulheres, à luz da correcção das

desigualdades estruturais decorrentes dos papéis sociais de género, que

penalizam maioritariamente as mulheres, criando-lhes muitas vezes

situações de discriminação múltipla.

De modo a promover uma melhor qualidade de vida par a os cidadãos

e as cidadãs que residem e trabalham na União Europ eia, o pacote de

medidas de luta contra a discriminação insere-se nu ma estratégia

integrada que abrange nomeadamente a Estratégia Eur opeia para o

Emprego e Estratégias de Inclusão Social. Ao intervir para eliminar a

discriminação e promover a igualdade de género e de oportunidades, a UE

contribui activamente para a protecção dos direitos e liberdades

fundamentais e para minorar os custos humanos, sociais e financeiros da

exclusão. Também em Portugal estas preocupações estão present es,

pelo que é de realçar na Constituição da República Portuguesa a

cláusula geral de não discriminação consagrada no a rtigo 13.º, o

princípio geral da igualdade relativo a estrangeiro s e apátridas

previsto no artigo 15º nº 1, e a protecção contra t odas as formas de

discriminação, prevista no artigo 26º nº1:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

21

Artigo 13.º:

1- “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e s ão iguais perante a lei”;

2- “Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, pr ejudicado, privado de qualquer

direito ou isento de qualquer dever em razão de asc endência, sexo, raça, língua,

território de origem, religião, convicções política s ou ideológicas, instrução,

situação económica ou condição social”

Artigo 15.º:

1 – “Os estrangeiros e os apátridas que se encontre m ou residam em Portugal

gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão português”.

Artigo 26º:

1 – “A todos são reconhecidos os direitos à identid ade pessoal, ao desenvolvimento

da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à

imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção

legal contra quaisquer formas de discriminação.”

Importa ainda fazer referência ao Decreto-Lei n.º 111/2000, de 4 de

Julho , que regulamenta a lei que proíbe as discriminações no

exercício de direitos por motivos baseados na raça, cor, nacionalidade

ou origem “étnica”.

Artigo 2.º - Práticas discriminatórias

1- “Consideram-se práticas discriminatórias as acçõ es ou omissões que, em razão

de pertença de qualquer pessoa a determinada raça, cor, nacionalidade ou

origem étnica, violem o princípio da igualdade, des ignadamente:

a) A adopção de procedimento, medida ou critério, d irectamente pela entidade

empregadora ou através de instruções dadas aos seus trabalhadores ou a

agência;

b) de emprego, que subordine a factores de natureza racial a oferta de

emprego, a cessação de contrato de trabalho ou a re cusa de contratação”.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

22

Compreender as diferenças e saber viver com elas pr essupõe sem

dúvida novas competências e novas aprendizagens e, muito

especialmente, uma maior exigência a nível de direi tos humanos e da

construção da cidadania. Na verdade, embora nas soc iedades

democráticas a igualdade perante a lei não seja con testada, na

prática, muitas são as pessoas que quotidianamente sofrem

discriminações. Entre estas encontram-se principalm ente os grupos

mais sujeitos à pobreza e à exclusão social, pelo q ue a política de luta

contra a pobreza social se encontra intimamente ass ociada à luta

contra a exclusão social.

Assumindo este tipo de problemas formas geralmente complexas e

multidimensionais, uma especial atenção tem de ser dada à intervenção

neste domínio, muito particularmente em realidades como a portuguesa,

onde persistem as situações de pobreza e o grau de desigualdade na

distribuição dos rendimentos é o mais elevado da União Europeia13.

Identificada como um problema intimamente relaciona do com o

emprego, a exclusão social depende porém de uma int eracção

complexa de múltiplos factores, pelo que a promoção da inclusão tem

de ser perspectivada e implementada em termos de po líticas globais e

suportada por acções integradas e enraizadas nas co munidades

locais, devidamente enquadradas em termos políticos e legais.

Estamos, assim, perante um caminho que aposta numa intervenção

para a cidadania e para a inclusão, a percorrer e a construir com o

envolvimento dos diversos actores sociais e dos pró prios públicos,

num processo de “ empowerment ”, assente numa lógica de parceria e

de intervenção para a igualdade, em contexto local e organizacional,

potenciando uma combinação articulada de actuações e respostas

mais adequadas e ajustadas às diferentes situações.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

23

2.5.2 Princípios Fundamentais

“A coexistência numa mesma formação social de categorias, grupos ou

segmentos da população com bagagens étnicas, raciais, linguísticas e

religiosas sempre comporta a proposta de vias de gestão social destas

realidades, … subjacentes às quais encontramos uma série de

pressupostos políticos e representações ideológicas que reflectem

concepções diferentes sobre o modo de integrar a imigração, raça e etnia”

Sabariego (2002).

A convicção fundamental de que se partiu para o desenvolvimento desta

experiência assentou nos seguintes pressupostos:

o A diversidade social e cultural é uma riqueza e um factor

positivo de desenvolvimento , contribuindo para a construção de

um espaço de cidadania global, onde todas as comunidades se

sintam integradas e onde as desigualdades de género e as

diferenças de cor, proveniência, crença, … não signifiquem

distinções de natureza e dignidade humana, nem discriminações;

o O combate à discriminação e à exclusão requer uma

intervenção de carácter multidimensional , articulada e integrada,

de dimensão local, por forma a rentabilizar e a potenciar os múltiplos

recursos disponíveis, quer ao nível dos dispositivos de actuação,

quer ao nível das próprias instituições ou serviços;

o As organizações e os serviços e respectivos agentes que

intervêm no âmbito da inserção social e profissiona l, carecem

de reflectir sobre as suas práticas profissionais e de reforçar e

valorizar as suas qualificações e competências no d omínio da

cidadania e da interculturalidade , enfrentando os desafios de uma

sociedade em mudança e prevenindo atitudes de discriminação;

13 Fonte Eurostat 2005

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

24

o A participação activa das diferentes comunidades e públicos

que representam e o seu reconhecimento como actores sociais

competentes é imprescindível, para equacionar os pr oblemas e

procurar as respostas de que carecem, promovendo-se assim a

autonomia e atitudes pró-activas;

o O desenvolvimento de intervenções com sustentabilid ade

carece de um trabalho em rede de âmbito local, com o

envolvimento activo e a responsabilização dos diver sos

intervenientes , na realização de acções conjuntas;

o A eliminação dos obstáculos à integração sócio-prof issional,

implica novos modelos de intervenção assentes no

estabelecimento de parcerias público/privadas e a

implementação de novos serviços construídos em coop eração.

2.5.3 Aspectos Metodológicos

Apesar de a nível do Seixal se ter verificado a existência de um conjunto de

serviços em diferentes áreas de intervenção vocacionado para a inserção

social e profissional, na prática, a situação revelava uma percentagem

significativa de pessoas em situação de desfavorecimento e risco de

exclusão social e um quadro de respostas quase sempre sectorizadas e

pouco operantes. Em boa parte das vezes acresciam ainda problemas

resultantes de preconceitos de natureza racial e ‘étnica’ por parte dos/as

agentes e de dificuldades de compreensão dos valores e da diversidade

social e cultural das várias comunidades em presença. Também por parte

destas se verificava pouca credibilidade nas instituições para a resolução

dos seus problemas e a existência de barreiras na comunicação com as

entidades públicas.

A consciência de que o combate à discriminação pressupõe uma forte

aposta em várias vertentes, nomeadamente na da sensibilização e de que

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

25

os processos de exclusão são dinâmicos e multidimensionais, isto é, estão

ligados não só ao desemprego e baixos salários, mas também às

condições de habitação, níveis de qualificação escolar e profissional,

oportunidades de saúde, discriminação e dificuldades de inserção na

comunidade local, reforça a convicção de que:

A promoção da inclusão implica uma acção colectiva estruturada ao

nível local, assente em estratégias de articulação e co-

responsabilização das instituições e serviços e na gestão integrada

de recursos e encaminhamentos.

Neste contexto, em termos metodológicos foi desenhada uma actuação

com um enfoque simultâneo para:

• Públicos imigrantes e comunidades culturais no sentido de apoiar a

sua integração no mercado de trabalho e na sociedade, no respeito

pelas suas identidades culturais, com realce para a sua participação

activa na procura e na formulação das respostas de que carecem;

• Instituições e Serviços (entidades públicas e privadas) de modo a

promoverem uma intervenção mais ajustada e adequada à situação

e necessidades dos diferentes públicos, fomentando o trabalho em

rede, a reflexão sobre as práticas profissionais e a actuação contra a

discriminação;

• Comunidade Local, por forma a potenciar a gestão integrada de

recursos e o envolvimento, a participação e a responsabilização

activa dos diversos actores (públicos, instituições e serviços,

sociedade civil em geral) que contribuem para o desenvolvimento

social do Seixal, na construção colectiva de uma sociedade inclusiva

e de não discriminação.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

26

3.- CONSTRUÇÃO DA PRÁTICA

3.1 Caracterização da Prática

3. 1. 1 Problemas a que a prática pretende responde r

No início do Projecto “Migrações e Desenvolvimento” a Parceria definiu

como áreas de intervenção os concelhos de Odivelas e do Seixal. Em cada

um destes concelhos promoveria, a título experimental e de acordo com

metodologias diferentes, um Pacto Territorial para o Diálogo Intercultural

visando responder aos seguintes problemas:

� Em Odivelas

Necessidade de dinamização de relacionamentos e interacções

positivas entre população e técnicos/as que contribuíssem para a

reconstrução dos laços sociais, que rompessem com a segregação,

bem como para a mobilização e participação da população na

construção do quadro de vida da comunidade local em que se enquadra

socialmente, tendo resultado a abertura de um CLAI, de uma UNIVA e a

constituição de um grupo de trabalho “Imigração e Multiculturalidade”,

no âmbito da Rede Social do Concelho de Odivelas;

� No Seixal

Necessidade de construção e estabilização de uma rede social de apoio

que garantisse respostas multifacetadas em áreas de intervenção

complementares entre si, de suporte à inserção sócio-profissional dos

públicos-alvo. Na origem da opção por este território, como zona de

intervenção experimental, estiveram os seguintes factores:

o Concentração de comunidades estrangeiras - nomeadamente

da Europa de Leste e de PALOP - e dos seus descendentes,

bem como de comunidades ciganas, com manifestas

dificuldades de inserção social e profissional;

o Dificuldades relacionais sentidas entre aquelas comunidades

e instituições e serviços;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

27

o Reconhecimento da potencial parceria de desenvolvimento

assente na rede de recursos locais.

Com efeito, o diagnóstico efectuado no terreno no decurso da Acção 1

permitiu identificar no Seixal :

Constrangimentos Potencialidades

Dificuldades de integração da população

imigrante e cigana, motivadas quer por

razões de ordem objectiva como a falta de

informação, a não legalização, as baixas

qualificações escolares e profissionais, o

desemprego e problemas sociais associados,

quer por razões de ordem subjectiva como a

desmotivação, baixa auto-estima, perda de

laços de união com a sua cultura

Dificuldades em assegurar intervenções

integradas, assentes na articulação de

recursos, dando lugar a respostas

segmentadas e “avulsas”, não facilitadoras da

inserção

Dificuldades por parte de alguns/mas agentes

da administração pública no exercício das

suas práticas profissionais, designadamente

ao nível do atendimento de alguns públicos e

da resolução de problemas que lhes são

inerentes, muitas vezes não tendo em conta

as várias realidades, vivências e diversidades

culturais;

Pouca sensibilização face a determinadas

problemáticas e práticas profissionais por

vezes influenciadas por preconceitos e

estereótipos de natureza ‘racial’ ou cultural,

geradores de discriminação e desigualdade

de tratamento;

Concentração das comunidades imigrantes e

ciganas em zonas comuns, o que faz

ressaltar dificuldades de relacionamento e

barreiras institucionais;

Riqueza e diversidade cultural face à

presença de várias comunidades de pessoas

ciganas e de imigrantes e seus descendentes

(dos PALOP, da Europa de leste, do Brasil,

da Índia, da China);

Possibilidade de concretizar princípios

preconizados pelo Programa Equal,

designadamente o “empowerment”,

promovendo a participação quer das

pessoas, incluindo técnicos/as e agentes,

quer das comunidades e das organizações,

no sentido da apropriação sustentada dos

processos de mudança a desenvolver, com

base na gestão das suas necessidades,

recursos e aptidões;

Mais valias resultantes de processos de

intervenção assentes numa rede articulada

de respostas e de recursos.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

28

Recorda-se que o município do Seixal tem 94 Km2 de superfície e se situa

na Península de Setúbal, integrando a Área Metropolitana de Lisboa (AML).

É um concelho com características muito particulares no contexto da região

em que se insere. Registou nas últimas décadas acréscimos populacionais

muito superiores aos que se verificaram, quer na AML, quer na Península

de Setúbal, o que determinou profundas alterações na sua identidade

original.

Os mais recentes dados populacionais indicam haver actualmente no

Seixal 155 mil habitantes, quando há 30 anos não eram mais do que 36

mil. O concelho é muito heterógeneo e nele se encontram representadas

várias comunidades de imigrantes e de pessoas de etnia cigana, nas seis

freguesias que o compõem:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

29

Partindo da diferença e da diversidade social e cul tural como riquezas

e factores positivos de desenvolvimento, a interven ção a promover no

âmbito do “Pacto Territorial” pretendeu contribuir para a construção

de um espaço de cidadania global, onde todas as com unidades se

sentissem integradas e onde as diferenças de sexo, cor,

proveniências e/ou crenças, não significassem disti nções em

natureza e dignidade humanas, nem discriminações.

Intervir ao nível local neste contexto, promovendo a dignidade das culturas

em presença e a afirmação das mesmas no processo de enriquecimento

dos indivíduos e das comunidades locais, requereu uma intervenção de

carácter multidimensional, articulada e integrada, por forma a rentabilizar e

a potenciar os recursos disponíveis, quer ao nível dos dispositivos de

actuação nas múltiplas vertentes, quer ao nível das próprias instituições ou

serviços. Este quadro de reforço da dimensão territorial, veio sem dúvida

ao encontro das políticas de integração europeia, no que concerne ao

desenvolvimento local, nomeadamente à exigência:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

30

“de uma nova política para governar uma sociedade c omplexa

como a Europa do Séc. XXI baseada em pressupostos de

proximidade aos cidadãos e considerando que “os mod elos

tradicionais de governação já não satisfazem a comp lexa

realidade da sociedade de hoje e que a credibilidad e e

legitimidade políticas estão por toda a parte em pr ofunda

crise” 14.

De acordo com o Comité das Regiões da União Europeia (CR), importa

debater novas formas de governação, que assegurem níveis de

cooperação mais exigentes e processos de decisão mais eficazes, em

particular no que respeita aos grandes temas europeus como o emprego, a

inclusão e coesão social e o apoio às zonas mais débeis. A dimensão local

ganha assim identidade e relevância e, sobretudo, passa a ser

equacionada sob uma dupla vertente de potencialidades, ou seja, não só

em termos de possibilidades de emprego como também pelo contributo

indispensável para o desenvolvimento.

3.1.2 Soluções implementadas

3.1.2.1 Aspectos gerais

A concretização da Prática no Seixal centrou-se essencialmente na construção

de um Pacto Territorial, assente numa estrutura de mediação e de apoio ao

desenvolvimento das actividades a promover com o público-alvo e o conjunto

de actores públicos e privados, incluindo organizações da sociedade civil.

A referida estrutura - espaço físico agregador das diversas valências de apoio

aos/às destinatários/as e beneficiários/as identificados, bem como da

14 Parecer do Comité das Regiões (CR) sobre “Novas formas de governação: a Europa, quadro para a iniciativa dos cidadãos”.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

31

actividade dos/as técnicos/as das diversas instituições - designada “Espaço

Cidadania”, assumiu-se como um serviço “pivot” que responde de forma

integrada às necessidades identificadas, e é suportada numa rede de

entidades com quem estabelece articulação e onde têm assento as instituições

e serviços locais e os/as destinatários/as finais, através das suas associações

representativas, designado “Fórum para a Cidadania” .

Mas para além desta estrutura a implementação da Prática incluiu também a

promoção de “Acções de Sensibilização e Formação” destinadas a

contribuir, ao nível local, para uma cultura de convivência e para o diálogo

intercultural, bem como para enriquecer as práticas profissionais dos agentes

em diferentes contextos organizacionais, ao mesmo tempo que contribuía para

a construção do Pacto. Neste sentido foi desenvolvido um conjunto alargado

de acções, de entre as quais se destacam:

� Sessões de informação/divulgação sobre o Projecto “ Migrações e

Desenvolvimento ”, junto das instituições públicas e privadas, das

empresas, das associações e da comunidade local em geral, tendo por

objectivo promover o seu envolvimento e participação na intervenção a

desenvolver ao nível local;

� Sessões de informação/sensibilização , dirigidas aos agentes que

directa ou indirectamente intervêm com os/as destinatários/as do

projecto, sobre as seguintes temáticas:

◊ “Trajectórias migratórias, inclusão e direitos de cidadania”;

◊ Media e cidadania: porque é que as noticias são como são?”;

◊ “Igualdade e conciliação no trabalho e no emprego”;

◊ “Identidades étnicas e dinâmicas de escolaridade: das estatísticas aos sentidos”;

◊ “Poder local e integração social”;

◊ “Responsabilidade Social”.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

32

� Acções de formação e de reflexão sobre as práticas , destinadas

aos/às agentes de entidades públicas e privadas do Seixal que directa

ou indirectamente intervêm com os/as destinatários/as finais, incluindo

representantes de associações locais de imigrantes e de pessoas

ciganas. Essas acções de formação, sucessivamente aperfeiçoadas em

função da experimentação, vieram a dar origem ao Referencial de

Formação “Cidadania e Diversidade Cultural nas Práticas Profissionais”

– que também constitui produto do “Migrações e Desenvolvimento” – e

cuja estrutura programática obedece ao seguinte percurso formativo:

♦ “Direitos Humanos, Migrações Internacionais e Igualdade de

Género”;

♦ “Mobilidade Humana e Comunidades Culturais: Legislação

Portuguesa relativa a estrangeiros/as e a nacionais no

estrangeiro”;

♦ “Interculturalidade”;

♦ “Intervenção para a Cidadania: Inclusão nos Contextos

Profissional, Organizacional e Local”.

� Alargamento e consolidação da rede de parceiros

Reuniões e sessões de trabalho, com diversas entidades públicas e privadas,

da administração central, regional e local, no sentido da sensibilização e

adesão ao projecto, bem como da promoção de um trabalho integrado e em

parceria, facilitador dos objectivos do projecto. Destaque para a Câmara

Municipal do Seixal, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e algumas

IPSS e ONG a nível local;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

33

� Acções específicas de formação complementar destina das à

Equipa Técnica do “Espaço para a Cidadania”

Acções destinadas à equipa técnica do “Espaço Cidadania”, asseguradas pelas

entidades parceiras: IEFP, ACIME, SEF, DGACCP, nomeadamente nas

vertentes da Inserção Sócio-.Profissional (Animadora da UNIVA), do Apoio ao

Imigrante (Animadora do CLAI), da “Imigração/reagrupamento familiar e Artº

87º” (Técnico que articula com o SEF), da Emigração e do Sistema de

“Atendimento Electrónico”, que permite o atendimento dos utentes via

electrónica, relativo a alguns serviços públicos, como por exemplo os serviços

camarários, Segurança Social, etc.

3.1.2.2 A sensibilização e a formação para a cidada nia e a

interculturalidade

Pela importância de que se revestiram a sensibilização e a formação para a

cidadania e a interculturalidade, quer enquanto espaços de reflexão e de

reconstrução, quer enquanto experiência no Pacto Territorial do Seixal,

procede-se a um maior desenvolvimento acerca da implementação destas

acções.

A Sensibilização e a Formação para a Cidadania e a Interculturalidade

enquanto espaço de reflexão e reconstrução

Quando se abordam as questões da diversidade procurando prevenir

atitudes de discriminação, xenofobia ou até racismo, importa primeiramente

reflectir sobre os conceitos inerentes à estrutura e funcionamento da

sociedade moderna, nomeadamente sobre o conceito de integração, cujo

significado pode ser muito diversificado:

� Pode entender-se que o que permitirá aos grupos minoritários

viver na sociedade de acolhimento terá de ser a adopção

incondicional da cultura dominante, considerando-se assim

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

34

que “já que eles vivem nesta sociedade, terão de aceitar

reger-se pelas normas que nela vigoram”;

� Pode também pensar-se que o importante é preservar a todo

o custo as características culturais de cada grupo, tentando

uma coexistência entre todos;

� Pode ainda considerar-se que é necessário conseguir - para

além do respeito pelas culturas de origem - que os grupos

minoritários obtenham condições de vida digna na sociedade

em que vivem, o que abrange a liberdade cultural15.

Preparar profissionais para lidar com a diversidade, de modo a evitar que

contribuam para agravar a desigualdade e os fenómenos de exclusão

social, torna necessário estimular não só uma compreensão de como

esses fenómenos podem ocorrer, mas também uma consciência da relação

destes com problemas de daltonismo cultural, de etnocentrismo, xenofobia

e mesmo racismo.

Segundo Wallerstein16, os fenómenos de discriminação ou exclusão “do

outro diferente”, não são apenas resultado de posições pessoais. O autor

demonstra, por exemplo, que sexismo e racismo são fenómenos que

favorecem e legitimam funcionamentos do sistema mundial capitalista, na

medida em que contribuem para o aparecimento e/ou manutenção de

grupos que “justificadamente” poderão ser submetidos a condições de

trabalho menos onerosas, podendo auferir menores remunerações. É

possível assim relacionar os fenómenos da discriminação com possíveis

factores macro-estruturais que transcendem, de longe, as simples posições

individuais de menor tolerância relativamente ‘ao outro’.

15 PNUD – Relatório do Desenvolvimento Humano 2004 – Liberdade Cultural num Mundo Diversificado www.undp.org.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

35

Porém, os estudos também evidenciam que não se devem reduzir os

problemas de relacionamento com o “outro diferente” à relação entre

grupos dominantes e minoritários. O problema é bem mais complexo, como

procura evidenciar Wieviorka17 num dos seus trabalhos sobre várias formas

de racismo na sociedade moderna.

Poderá assim admitir-se facilmente que os problemas da intolerância e da

dificuldade de relacionamento entre diferentes podem decorrer de toda

uma complexa interacção de factores com origens bastante diversificadas,

desde os que se relacionam com a estruturação interna de cada indivíduo,

resultado do seu processo de socialização, até aos que decorrem da

estrutura e funcionamento de grupos e da sociedade em geral.

Ainda que seja inegável a necessidade de promover uma formação que

pretenda contribuir para que ocorram mudanças de atitudes e de

procedimentos, há que saber ultrapassar as múltiplas ambiguidades que

muitas vezes se deparam neste domínio e prestar particular atenção

nomeadamente, à necessidade de analisar e de desocultar significados das

diferentes práticas de formação que cada vez mais vêm sendo propostas e

praticadas e que, muitas vezes, produzem efeitos adversos sem que as

instituições e formadores/as tenham disso consciência.

16Citado por Cortesão, Luíza – “Nos bastidores da Formação”(2001),Celta. 17 Wieviorka identifica, para além deste tipo de relação, outras situações complexas que têm actualmente lugar no contexto social:

� “entre diferentes grupos que sofreram processos de degradação social e económica numa sociedade moderna. Esse será o caso da existência de situações conflituais entre grupos sociais, como por exemplo entre brancos pobres que vivem em “barracas” e migrantes, também com situações sociais muito precárias que coexistem com eles nos mesmos bairros;

� com grupos minoritários entre si, grupos esses que preservam as suas características identitárias e cuja aceitação mútua e convivência é por vezes muito difícil (ex. ciganos contra africanos);

� nas situações de dificuldade de relacionamento de grupos que mantêm fortes as suas características identitárias e que reagem contra a sociedade dominante. Esta situação tem uma expressão bem evidente, por exemplo, no caso dos conflitos que têm lugar entre o “poder negro” e a sociedade dominante branca americana”.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

36

Afirma Dominicé que “O adulto se constrói ao sabor de uma sequência

escalonada de momentos críticos” (Dominicé, 1984)18, isto é, resulta de

uma série de experiências de vida ocasionais e/ou institucionalmente

organizadas. É neste contexto que habitualmente se emprega o termo

“formação”. Porém, a formação pode ser encarada como “função social,

como se diz, de transmissão de saber, de saber fazer e saber ser, que se

exerce em benefício do sistema sócio-económico ou mais geralmente da

cultura dominante”, mas também, como “processo de desenvolvimento”

estruturação interna e de ocasiões, de aprendizagens, de encontros, de

experiências (Ferry, 1983)19. Assim, de forma maior ou menor, espontânea

ou com ajuda institucional, a formação acontece quando o adulto “com um

aprofundamento paciente, sempre inacabado, se decifra através de um

diálogo intimo entre o eu que age e o eu que se interroga, reduz o

desfasamento entre a imagem que faz de si próprio e a que os outros têm

dele, tirando partido dos seus recursos interiores para a convergência

fundamental” (Postic, 1977).

A formação surge assim como um processo que simulta neamente é

condicionado por factores vários decorrentes do enq uadramento

social em que se situa, mas representa também um es paço de

reflexão de crítica e reconstrução pessoal e de gru po. Daí poder

assumir funções conflituais de reprodução e mudança 20.

A Sensibilização e a Formação para a Interculturali dade enquanto

experiência no Pacto Territorial do Seixal

São cada vez mais vastos e complexos os problemas das discriminações e

as formas que elas assumem. À discriminação racial junta-se a discriminação

em razão do sexo, da origem social, do local de origem ou de residência, do

modo de vida, da religião ou das convicções, da deficiência, … conduzindo

19 Citado por Cortesão, Luíza”Nos bastidores da Formação”(2001),Celta

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

37

muitas vezes a situações de múltiplas discriminações. No que toca às

mulheres imigrantes, cuja taxa de desemprego é bastante mais elevada do

que a dos homens, a dupla discriminação é um problema muito comum. É

especialmente no acesso à formação e ao emprego que as maiores

dificuldades ocorrem, tanto mais que o acesso ao mercado de trabalho é

muitas vezes determinante na garantia de oportunidades de inserção social

ou, pelo contrário, na diminuição ou agravamento dessas mesmas

oportunidades, conduzindo a situações de pobreza e de exclusão social.

Estas situações são tanto mais agravadas quanto as vítimas, por sua vez se

auto-discriminam, diminuindo as suas oportunidades de sucesso.

Face a esta situação e à necessidade de sensibiliza r, apoiar na reflexão

sobre as práticas profissionais, reforçar as compet ências no domínio

da interculturalidade e cidadania e dotar de recurs os e métodos de

prevenção e combate à discriminação, os agentes púb licos e privados,

nomeadamente os que intervêm nos Serviços Públicos de Emprego,

foram realizadas, no âmbito do Projecto, dois tipos de acções no

domínio da Interculturalidade e Cidadania: Sessões de Sensibilização e

Acções de Formação.

Estas acções que pretendiam “contribuir para uma reflexão e para uma

intervenção pró-activa na área da cidadania e da interculturalidade, enquanto

factores determinantes para a construção de sociedades mais justas e

equitativas”, tiveram por objectivos:

• Aprofundar competências;

• Melhorar práticas profissionais;

• Conceber e experimentar propostas formativas

Com base em estratégias de aprendizagem activa e cooperativa, a

metodologia utilizada combinou discussão/reflexão temática e transmissão

20Adaptado de Cortesão (1988)

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

38

de informação com partilha de experiências profissionais dos/as

formandos/as. As competências visadas foram as seguintes:

� Conhecer os princípios, as políticas e práticas de

referência nos domínios da interculturalidade e da

cidadania;

� Comunicar e interagir em contextos culturalmente

diversificados;

� Reflectir criticamente sobre as nossas percepções e

representações;

� Integrar nas práticas profissionais padrões e

comportamentos que promovessem a interculturalidade e

igualdade.

A formação desenvolvida constituiu-se como um espaço de aprendizagem,

de troca e partilha de informação e de reflexão sobre as vivências e

experiências pessoais e profissionais de cada um/a, contribuindo para uma

intervenção mais cidadã e mais inclusiva, quer por parte dos membros das

diversas comunidades em presença, quer por parte dos diversos agentes

dos serviços públicos e outros actores sociais.

Reconhecida que foi a importância da formação promo vida no âmbito

da interculturalidade e cidadania para a eficácia d este projecto de

intervenção, contribuindo nomeadamente para o refor ço de

competências individuais e organizacionais indispen sáveis à

viabilidade e sustentabilidade do projecto, mencion am-se algumas

das razões que se entende concorreram para esse fim :

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

39

� Experiência formativa “ancorada “ no projecto, coincidente com a

sua fase de arranque e de constituição, “crescimento” e

consolidação da equipa, permitindo reforçar o trabalho em parceria;

� Diversidade e riqueza das competências dos parceiros envolvidos

(Interculturalidade, Imigração e Minorias Étnicas Emigração,

Emprego, Igualdade no Trabalho e no Emprego, Formação de

Formadores);

� Visão crítica e reflexiva que proporcionou aos/às intervenientes

locais a identificação de percepções e comportamentos dos técnicos

e profissionais e a desconstrução de preconceitos e estereótipos;

� Constituição de grupos mistos de formandos/as, compostos por

agentes de várias entidades e serviços e representantes de

associações de imigrantes das comunidades em presença no

território;

� Organização curricular, de base modular, permitindo realizar a

formação ou na íntegra ou por módulos isolados ou ainda agregados

e utilização de metodologias activas;

� Programação de temáticas-chave habitualmente pouco abordadas

mas reconhecidas no espaço formativo como fundamentais, de

extrema importância e utilidade, aliadas à simplicidade e dinâmica

no tratamento;

� Metodologia de reflexão/acção sobre as práticas profissionais;

� Persistência e muita convicção no caminho a percorrer e nos

objectivos a alcançar.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

40

3.1.2.3 Objectivos do “Espaço Cidadania” e do “Fóru m para a Cidadania”

Tendo em conta a centralidade de que se revestem o “Espaço Cidadania” e o

“Fórum para a Cidadania” no âmbito do “Pacto Territorial”, detalham-se os seus

objectivos e a sua organização e funcionamento.

Espaço Cidadania do Seixal

Objectivos específicos Valências Descrição

Promover a difusão de informação junto do público-alvo, relativa a direitos sociais e a recursos a que podem aceder no sentido da sua inserção na comunidade

Informação /Divulgação

Prestação de informação útil aos/às cidadãos/ãs do município sobre direitos sociais (saúde, segurança social, educação, formação, emprego, …) e recursos disponíveis na comunidade (públicos/privados, Associações de Imigrantes, Organizações de Solidariedade Social, …), quer directamente através do “Espaço Cidadania”, quer através de folhetos informativos, linha telefónica ou Internet

Garantir o acesso dos públicos-alvo a respostas adequadas e integradas facilitadoras da resolução dos problemas que os impedem de se integrarem social e profissionalmente, estabelecendo as articulações necessárias com os recursos disponíveis na comunidade

Avaliação/ Encaminhamento / Acompanhamento

Individual

Estudo e avaliação conjunta de situações que careçam de apoio em diferentes domínios (Segurança Social, Saúde, Educação, …), ponderando entre necessidades/ possibilidades de resposta) no sentido da resolução de problemas e/ou do seu encaminhamento para as estruturas adequadas;

Definição de Planos Integrados de Intervenção, apoio e acompanhamento à sua implementação;

Prestar informações gerais sobre o regime legal de pessoas estrangeiras;

Contribuir para agilizar a instrução de processos relacionados com renovação de autorizações de residência e com o reconhecimento do direito ao reagrupamento familiar

Documentação/ Regularização de Estrangeiros/as

Recepção de documentação;

Elaboração e organização de processos;

Articulação e encaminhamento para o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)

Promover o aconselhamento jurídico e facilitar a resolução de problemas de carácter

Apoio Jurídico

Estudo e análise de situações que carecem de tratamento legal;

Aconselhamento jurídico;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

41

legal

Reforçar os mecanismos de apoio à inserção dos públicos que carecem de acesso à formação profissional e ao emprego

Apoio à Inserção Social e

Profissional

Acolhimento e informação profissional;

Recolha e difusão de informações sobre oportunidades de emprego e formação profissional;

Estudo e análise de situações individuais ou de grupo e de hipóteses de solução dos respectivos problemas de inserção profissional;

Prestação de apoio na escolha de acções de formação profissional mais adequadas;

Prestação de apoio em técnicas e no processo de procura de emprego;

Motivação e apoio à criação do próprio emprego;

Promoção de contactos com o mercado de trabalho;

Apoio a imigrantes no processo de reconhecimento das suas habilitações e competências

Contribuir para a promoção da informação, sensibilização e formação no domínio da interculturalidade, da gestão da diversidade e da inclusão, dos agentes que de forma directa ou indirecta trabalham com as populações migrantes e os grupos étnicos e culturais, bem como da comunidade local e dos próprios públicos a que o projecto se dirige.

Informação, Sensibilização

Formação para a interculturalidade

e a cidadania

Promoção de sessões de informação e de sensibilização dirigidas a diferentes públicos, nomeadamente agentes de entidades públicas e privadas, empresas, grupos da população;

Promoção de sessões de formação e reflexão sobre as práticas, para agentes de entidades públicas e privadas (entidades empregadoras, profissionais de saúde, educação, acção social, serviços públicos de emprego, sindicatos....);

Promoção de outras iniciativas neste domínio a definir.

O “Fórum para a Cidadania” tem por objectivo:

Promover espaços de participação da população, dos/as técnicos/as e

de outros representantes das entidades e serviços, por forma a facilitar

um melhor conhecimento e aprofundamento dos problemas com que

estes públicos se deparam e consequente adequação da intervenção.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

42

3.1.2.4 Organização e Funcionamento dos “Espaço Cid adania” e do

“Fórum para a Cidadania”

Espaço Cidadania

� Grupo de Coordenação

Constituição Competências

Direcção Geral dos Assuntos Consulares e

Comunidades Portuguesas – DGACCP

(entidade interlocutora)

Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo

Intercultural - ACIDI

Comissão para a Cidadania e Igualdade

de Género - CIG

Instituto do Emprego e Formação Profissional

- IEFP

Câmara Municipal do Seixal - CMS

Garantir a prossecução dos objectivos do “EC”;

Emanar orientações relativas ao desenvolvimento

do mesmo;

Responder pela gestão dos recursos humanos e

financeiros;

Promover a elaboração de Planos e Relatórios de

Actividade, em estreita articulação com a Estrutura

Executiva

Promover e dinamizar o Fórum para a Cidadania

Serviços de Articulação Fórum cidadania

Coordenação

Informação e Divulgação

Acolhimento e Atendimento Documentação

de Cidadãos Estrangeiros

Apoio à Inserção Social e

Profissional

Interculturalidade e Cidadania

PACTO TERRITORIAL DO SEIXAL

ESPAÇO CIDADANIA Grupo de

Coordenação e Avaliação

Apoio Jurídico

Informação para Emigrantes

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

43

� Estrutura Executiva

Constituição Competências

A cargo das entidades intervenientes através de

Uma equipa técnica e uma coordenadora, para

assegurar as valências pré-definidas

Garantir a prossecução dos objectivos do Pacto

Territorial para o Diálogo Intercultural/“Espaço

Cidadania”;

Responder pela gestão dos recursos afectos ao

mesmo;

Elaborar os Planos e Relatórios de Actividades de

acordo com as orientações definidas pelo

Grupo de Coordenação;

Contribuir para a concretização das acções e

iniciativas decorrentes da actividade do Fórum

para a Cidadania.

Forum para a Cidadania

Constituição Competências

Encontra-se a cargo das entidades públicas e

privadas locais, vocacionadas para diversas

áreas de intervenção, Associações de

Imigrantes, Associações de Solidariedade

Social, Associações empresariais, Sindicatos e

outras, cujos elementos responsáveis

são os representantes técnicos ou institucionais

Colaborar na promoção de mecanismos

facilitadores da inserção no mercado de

trabalho e na sociedade dos destinatários do

projecto;

Promover e valorizar as culturas de

pertença das populações imigrantes outros

grupos culturais;

Promover espaços de reflexão conjunta,

discussão e debate, estimulando a

participação de todos/as (dos públicos-alvo

, da população, dos técnicos e de outros

representantes das entidades e serviços), por

forma a facilitar um melhor e maior

conhecimento dos problemas, a procura de

soluções e a formulação de respostas, reunindo

para o efeito as sinergias necessárias;

Promover o reforço da consciência

social e responsabilidade partilhada dos indivíduos

e das organizações.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

44

3.2 Competências necessárias à Construção da Prática. C ontributos e

complementaridades das diferentes entidades parceir as

Este projecto e todo o trabalho inerente à sua concepção, desenvolvimento e

concretização, é o resultado da conjugação de esforços e de sinergias não

apenas das entidades que lhe estão mais directamente afectas e dos

profissionais envolvidos, mas de uma parceria mais alargada, composta

também por elementos do público-alvo e suas associações, bem como pela

própria comunidade local, através das entidades públicas e privadas

estabelecidas no território.

Na construção da Prática, cada entidade parceira co locou à disposição do

projecto os seus “saber-saber”, “saber-fazer” e o “ saber-estar”, tendo

sido a construção do modelo de intervenção adoptado , sobretudo

decorrente de um trabalho em parceria, de “facilita ção” e de colaboração

entre as diversas entidades.

Na sua consecução assumiu especial relevância a complementaridade de

competências das entidades envolvidas, nomeadamente nos domínios da

interculturalidade, das migrações, da formação profissional e do emprego, da

igualdade de género, do desenvolvimento local e da promoção da inserção de

públicos desfavorecidos e da comunidade cigana, enriquecendo e reforçando

as competências individuais e organizacionais das entidades parceiras.

De salientar que o reforço de competências no que r espeita à

“interculturalidade”, concretizado especialmente at ravés das acções de

sensibilização e de formação, se revelou da maior i mportância e de

grande aplicabilidade pelos/as técnicos/as, sendo q ue a aquisição das

referidas competências, por ter decorrido em simult âneo com a

construção e implementação do “Espaço Cidadania”, p ermitiu conjugar

sinergias e maior partilha de conhecimentos e refle xão conjunta entre os

parceiros que intervinham no mesmo território e cuj os problemas e

recursos eram comuns.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

45

A complementaridade de competências e contributos das entidades parceiras

mais envolvidas na concretização da prática traduziu-se, nomeadamente no

seguinte:

► O Alto Comissariado Para a Imigração e Diálogo Interc ultural - ACIDI –

que integrou o Secretariado Entreculturas, partilhando as suas competências

na área da diversidade cultural e da interculturalidade nomeadamente no

âmbito do trabalho de sensibilização e de formação e que para além da

disponibilização de informação, colaborou na instalação de um CLAI – Centro

Local de Atendimento ao Imigrante, no “Espaço Cidadania”, contribuindo assim

para o pretendido atendimento integrado.

► A Câmara Municipal do Seixal – CMS - com competências no domínio do

desenvolvimento sócio-local e do trabalho em parceria, após a adesão formal

ao projecto, empenhou-se na sensibilização das diversas entidades locais;

apoiou a organização das acções de informação/sensibilização e de formação;

cedeu um terreno para a implantação da estrutura de funcionamento do

“Espaço Cidadania, numa fase inicial em que este funcionou num contentor

adaptado para o efeito e, posteriormente, transferiu o “Espaço Cidadania” para

as actuais instalações do Fogueteiro; colaborou na sua implementação e

organização e destacou uma funcionária para exercer funções no âmbito do

CLAI e outra para assegurar a coordenação deste serviço;

► A Comissão para a Cidadania Igualdade de Género - CIG - que garantiu a

promoção da igualdade de género e assegurou a articulação deste tipo de

questões, assim como toda a informação no que respeita a esta temática,

numa óptica de transversalidade ao projecto;

► O Centro Europeu de Formação e Estudos sobre as Migra ções –

CEFEM - enquanto Associação sedeada no Seixal e com um âmbito social

focado nas questões das pessoas e comunidades ciganas e da imigração,

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

46

garantiu a articulação com estes públicos e promoveu-a com outras entidades

locais, nomeadamente Associações. Enquanto entidade sem fins lucrativos,

apresentou e viu aprovada pelo IEFP uma candidatura ao Programa de

Formação Profissional Especial para formação de mulheres ciganas e outra

para implementação de uma UNIVA – Unidade de Inserção na Vida Activa que

integrou o “Espaço Cidadania” na vertente de apoio à inserção sócio-

profissional, durante algum tempo. Posteriormente, esta UNIVA deixou de

funcionar e a CMS apresentou e viu aprovada uma candidatura para uma

UNIVA que existe actualmente no próprio “Espaço Cidadania do Seixal”;

► A Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidade s

Portuguesas – DGACCP - centrou a sua participação em três domínios: na

área do saber técnico, designadamente partilhando “o olhar global” das

migrações como movimentos de partida e de chegada de que todos somos

protagonistas, permitindo, assim, aos parceiros “entender” a problemática das

migrações como um “todo”; no apoio à concepção, preparação, construção e

desenvolvimento do projecto, bem como das acções de sensibilização e de

formação, incluindo quanto a estas a participação na concepção e a monitoria

do Módulo 1 e na promoção da coordenação da intervenção ao nível dos

diferentes serviços, entidades e autarquia, desenvolvendo a função de

“facilitadora” das negociações e de apoio à execução e afinamento de todos os

produtos.

► O Instituto do Emprego e Formação Profissional – IEFP - cujas

competências se situam no domínio da formação profissional e do emprego e a

Direcção de Serviços mais envolvida no âmbito da inserção de públicos com

dificuldades acrescidas de inserção sócio-profissional, assegurou a articulação

entre os serviços (centrais-regionais-locais), nomeadamente com o

Departamento de Emprego, o Centro Nacional de Formação de Formadores, a

Delegação Regional de Lisboa e Vale do Tejo, o Centro de Emprego, o Centro

de Formação Profissional do Seixal e o Centro de Reconhecimento e Validação

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

47

de Competências; e entre estes e o resto da Parceria. A sua participação

situou-se, designadamente ao nível do apoio à concepção, preparação,

construção e desenvolvimento do projecto, bem como das acções de formação

e reflexão sobre as práticas profissionais na área da interculturalidade.

3.3 Envolvimento dos/as beneficiários/as e dos/as desti natários/as

Face aos princípios de intervenção inerentes ao projecto, foi desenvolvida uma

estratégia centrada essencialmente num processo contínuo, que contou com a

participação e envolvimento:

- da Comunidade Local, através dos diversos actores (beneficiários/as e

destinatários/as, instituições e serviços e sociedade civil em geral, por

forma a garantir a articulação de recursos;

- das Instituições e Serviços através das entidades públicas e privadas e

particularmente dos/as agentes que nelas trabalham, de modo a

promoverem uma intervenção adequada à situação e às necessidades

dos diferentes públicos, o trabalho em rede, a reflexão sobre as práticas

profissionais, a sensibilização e a formação para a cidadania e para a

inclusão, a valorização da riqueza da diversidade cultural no contexto

local e organizacional e a luta contra a discriminação.

- das comunidades em presença/públicos imigrantes e outro s

grupos culturais no sentido de apoiar a sua integração no mercado de

trabalho e na sociedade, no respeito pelas suas identidades culturais e

religiosas com realce para a sua participação activa na procura e na

formulação das respostas de que carecem.

Neste sentido, o envolvimento dos/as referidos/as beneficiários/as e

destinatários/as foi e continuará a ser concretizad o através da sua

participação nas diversas acções decorrentes da con strução e

manutenção do “Espaço Cidadania”.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

48

Destacam-se assim na primeira fase a participação nas sessões de

informação/divulgação sobre o Projecto “Migrações e Desenvolvimento”, das

sessões de informação/sensibilização sobre diversas temáticas relevantes

para a intervenção a desenvolver em contexto local e organizacional e muito

particularmente nas Acções de Formação e Reflexão sobre as práticas

Profissionais, apelando à partilha e troca de experiências dos agentes e das

várias instituições e serviços.

Na segunda fase o envolvimento passou a situar-se especialmente na

cooperação e colaboração do funcionamento do “Espaço Cidadania” que apela

a um trabalho em rede, à participação activa das entidades locais e à

responsabilidade partilhada, destacando-se neste domínio o “Fórum para a

Cidadania”, enquanto “espaço” de reflexão conjunta, de discussão e debate.

No âmbito do “Pacto Territorial” e decorrente das reuniões e encontros

realizados para a implementação do “Espaço Cidadania”, as entidades

envolvidas definiram um modelo de funcionamento, que para além de regular o

desenvolvimento das actividades, garante o efectivo envolvimento e

participação das diferentes instituições e dos públicos-alvo, através dos/as

representantes e/ou lideres associativos -“Fórum para a Cidadania”.

3. 4 Metodologias de implementação e instrumentos

Face aos princípios de intervenção inerentes ao projecto, a estratégia

utilizada centrou-se em torno da participação e do envolvimento :

- das entidades locais e particularmente da autarquia para aderir ao

projecto, enquanto parceira-chave e principal garante da

sustentabilidade do projecto;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

49

- das comunidades em presença , assegurando respostas,

dinamizadas com e para um leque diversificado de pessoas – “um

projecto de todos e para todos”;

- dos/as agentes no sentido de fomentar a reflexão sobre as práticas

profissionais, valorizar a importância da diversidade cultural no

contexto local e organizacional e promover a sensibilização e a

formação para a cidadania e para a inclusão.

Através deste projecto experimental e por forma a garantir a prossecução

dos objectivos que preconiza, pretendeu-se ensaiar uma metodologia que

sustentasse, de facto, uma ideologia afirmada de integração e de

promoção da cidadania global como vem sendo entendida e

fundamentada, assente na articulação e co-responsabilização das

instituições e serviços, na participação activa das comunidades e dos

grupos mais representativos da população-alvo e no reconhecimento e

compreensão da desigualdade de género e das diversas discriminações.

Para o efeito foram estabelecidos três níveis de intervenção: sócio-político, coordenação e executivo:

� A gestão política da experiência foi confiada ao “Fórum para a

Cidadania”, constituído pelas forças sociais e políticas da comunidade

local e das comunidades em presença implicadas no projecto;

� O nível da coordenação, a assegurar pelas entidades parceiras e

responsáveis das entidades com representatividade ao nível local,

teve entre outras, a tarefa de garantir a prossecução dos objectivos do

projecto;

� O nível executivo, a cargo da equipa técnica, teve como principais

funções assegurar as valências inerentes à actividade do “Espaço

Cidadania” e contribuir para a concretização das acções e iniciativas

decorrentes da actividade do “Fórum para a Cidadania”. A equipa

técnica teve um papel fundamental de mediação, dinamizando e

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

50

potenciando respostas e recursos com a participação efectiva dos

“destinatários” e a colaboração activa dos actores locais.

Concebida com um enfoque simultâneo nos públicos migrantes e outros grupos

culturais, bem como nas instituições e serviços e na comunidade local, a

metodologia assentou num percurso que foi sendo construído gradualmente,

dando assim “corpo” ao “Pacto Territorial”, quer através de momentos de

trabalho, reuniões, encontros, com as diversas organizações, quer através de

momentos de partilha e reflexão no âmbito das acções de sensibilização e

formação. O projecto foi sendo construído de uma forma participada,

integrando de forma articulada e contínua os seguintes momentos:

• Sensibilização e empowerment – sensibilização e envolvimento das

diferentes entidades locais, nomeadamente as representativas dos

destinatários da Prática, o que viria a revelar-se importante para o “emergir”

do “Fórum para a Cidadania”;

• Reforço da parceria formal e informal do projecto – envolvimento no

sentido da adesão ao projecto de entidades consideradas relevantes,

nomeadamente a Câmara Municipal Seixal (CMS) e o Serviço de

Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Este processo para além de moroso,

revestiu-se de algumas dificuldades, relacionados designadamente com

motivos de ordem financeira e de insuficiência de recursos humanos.

• Reforço de competências individuais e organizaciona is –

consubstanciado na reflexão e partilha contínua realizada no âmbito da

parceria alargada, do Comité de Pilotagem e dos “Grupos de Trabalho” e

muito particularmente como resultado das acções de formação e de

reflexão sobre as práticas profissionais no domínio da interculturalidade e

nas sessões de informação/sensibilização sobre temáticas do interesse das

diversas entidades envolvidas;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

51

• Construção e implementação do “Espaço Cidadania” – cuja concepção,

desenvolvimento e concretização, é o resultado da conjugação de esforços

e de sinergias desenvolvidas pelos diversos parceiros nos diferentes

domínios e níveis de actuação.

Os instrumentos utilizados - em muitos casos expressamente concebidos

para ao Projecto “Migrações e Desenvolvimento” - foram principalmente os

seguintes:

• folhetos, cartazes e convocatórias – quando a actividade implicava sessões

de trabalho com as entidades locais; sessões de informação/sensibilização

sobre temáticas do interesse das entidades;

• folhetos, transparências, vídeos formativos, livros e outra documentação de

apoio à formação – nas acções de formação e de reflexão sobre as

práticas;

• instrumentos de registo dos utentes, compilação de legislação e formulários

relativos às áreas de trabalho, segurança social, emprego e formação

profissional, regularização de estada de estrangeiros, documentos

informativos diversos, elaboração de uma base de dados com contactos

locais úteis e concepção de uma ficha electrónica de atendimento integrado

– nas situações de atendimento/avaliação/encaminhamento de utentes.

De salientar que a constituição do “Fórum para a Cidadania”, resultou como

uma metodologia e simultaneamente como um importante instrumento

promotor e dinamizador de participação e envolvimento activo quer das

entidades locais, quer dos/as próprios/as destinatários/as do projecto no “Pacto

Territorial” e muito em especial no funcionamento do “Espaço Cidadania”.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

52

3. 5 Dificuldades e obstáculos encontrados /formas de superação

Indicam-se as principais dificuldades e obstáculos bem como as respectivas

formas de superação:

� A natureza do próprio projecto - um projecto desta natureza que

passa pela constituição e consolidação de um pacto territorial, que apela

à sensibilização, envolvimento e dinamização das diferentes entidades

locais, à adesão formal de uma entidade que inicialmente não estava

prevista (autarquia), bem como a afectação de recursos físicos e

humanos, que garantam a continuidade e sustentabilidade do projecto,

nem sempre é exequível com uma duração pré-definida de 2 anos, com

foi o caso. A superação das dificuldades fez-se com recurso à

constituição de um Grupo de Trabalho, cujas competências foram

fundamentais (ACIME – ex-Entreculturas, CEFEM, CIG, DGACCP,

IEFP, ao qual se juntou mais tarde a CMS).

� Mas o próprio Grupo de Trabalho encontrou dificuldades, uma vez

que , à excepção do CEFEM, era constituído por representantes

maioritariamente afectos/as a organizações da admin istração

pública central, gerando por vezes uma difícil conc iliação da

actividade do projecto com a do seu exercício profi ssional na

organização, bem como distanciamento da realidade l ocal e

reduzida experiência de intervenção no terreno, em projectos desta

natureza.

Acresce, que a única entidade privada com intervenção no terreno e com

maior disponibilidade de tempo para afectação ao projecto, apresentava

várias condicionantes, quer ao nível da equipa técnica, reduzida e precária,

quer ao nível da experiência de intervenção, situada fundamentalmente no

âmbito do voluntariado. Ultrapassar esta questão pressupunha a garantia

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

53

por parte dos parceiros de constituir e assegurar uma equipa técnica a

afectar ao “Espaço Cidadania” capaz de promover o funcionamento de

serviços integrados e articulados a prestar aos públicos destinatários no

âmbito do Pacto Territorial, o que viria a acontecer próximo da abertura do

“Espaço Cidadania”. A equipa técnica iniciou a sua actividade em

instalações provisórias, cedidas pela CMS, de modo a assegurar no local as

acções necessárias ao lançamento e implementação do Pacto Territorial,

particularmente as inerentes ao “Espaço Cidadania”.

� Diferentes contextos e culturas organizacionais , práticas

institucionais, processos, procedimentos e formas de acolher e

acompanhar os destinatários finais, por parte dos membros da parceria,

o que se foi – com mais ou menos êxito - progressivamente superando

com a persistência ao longo de todo o processo na partici pação, no

envolvimento, na partilha, no debate e na reflexão colectiva ;

� Dificuldades em encontrar consensos dentro da parce ria , durante o

período de ”negociação” com a Câmara, devido quer à existência de

opiniões menos favoráveis, considerando difícil e inviável a sua

colaboração e apoio em termos das instalações necessárias, quer a

alguma morosidade da autarquia na definição do local a ceder para a

implementação do Espaço, atendendo à necessidade de avaliar a nível

interno os compromissos inerentes aos terrenos a ceder e ao facto do

projecto em causa requerer uma localização acessível; ultrapassou-se

esta dificuldade pela persistência na demonstração da importância

da participação da Câmara para a credibilidade e sustentabilidade do

“Espaço Cidadania”;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

54

� A morosidade no processo de adesão da Câmara, provocado por

questões nomeadamente de natureza financeira, o que veio no entanto

a ser ultrapassado através de empenho, persistência e criatividade

para encontrar, em função das circunstâncias e dos recursos, as

soluções que garantissem a sustentabilidade do “Pacto”, ao nível

designadamente do funcionamento do “Espaço Cidadania”;

� Os problemas de natureza burocratico-administrativa , relacionados

com as instalações para abertura do “Espaço Cidadania” - cedência de

espaços, obras de adaptação, falta de recursos financeiros, entre outros.

Para ultrapassar os obstáculos que sucessivamente se colocaram à

constituição e ao “arranque” do funcionamento do “Espaço Cidadania”,

foram porém sempre postas em marcha diversas estratégias de

oportunidade, conveniência e pragmatismo face a cada situação e a

cada contexto ;

� Os problemas de natureza financeira , que foram sendo ultrapassados

graças à capacidade de “adiantamento” e de execução da entid ade

interlocutora, a DGACCP ;

3. 6 Factores críticos que desempenharam um papel import ante na

emergência e na qualidade da prática

Do balanço efectuado no decurso desta experiência no terreno, consideraram-

se como mais relevantes para o sucesso desta prática, os seguintes factores

críticos:

� Adesão da Câmara Municipal do Seixal ao Projecto

A necessidade de fazer vingar um projecto coerente de base local e de

responsabilidades partilhadas, implicou o investimento no alargamento e

num maior envolvimento e adesão dos parceiros. Neste contexto a Câmara

Municipal do Seixal enquanto entidade privilegiada que melhor conhece as

necessidades da população e os recursos disponíveis e que detém uma

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

55

experiência e know-how relevante no quadro das políticas de promoção da

inclusão, revelou-se essencial no âmbito da estratégia para uma acção bem

sucedida.

O facto de esta entidade parceira não ter sido inicialmente prevista mas de

se ter revelado fundamental neste modelo de intervenção, veio a dar origem

a alguns contratempos e dificuldades. Embora moroso o saldo deste

processo foi reconhecidamente positivo, considerando-se porém de toda

a vantagem, em Práticas similares, prever atempadam ente a sua

adesão como entidade parceira e participante activa desde a fase de

concepção, já que carece obviamente de estar empenh ada e

mobilizada para o projecto 21.

� Características do espaço físico

As características da acção - de base territorial, assente no funcionamento

em rede de um conjunto de recursos locais e dirigida a vários tipos de

públicos - pressupunham para a sua viabilização que se assegurassem as

condições necessárias de organização e funcionamento, e muito

particularmente de garantia de um espaço físico “isento”, isto é um

espaço “de todos e para todos”, não identificado co m nenhuma

entidade nem com nenhum tipo de público em particul ar.

No caso desta experiência, este foi um dos factores que se revelou de

extrema importância e que, por não ter sido acautelado atempadamente,

deu azo a grandes contratempos e dificuldades de percurso, que viriam no

entanto a ser ultrapassados graças ao empenhamento das diversas

21 O exemplo de Odivelas - cujo Pacto não foi possível concretizar, embora os contactos estabelecidos pelo

‘Migrações e Desenvolvimento’ tenham vindo posteriormente a dar lugar a outro tipo de trabalho de articulação

com a Câmara - ilustra bem como entrar num projecto a meio do seu desenvolvimento reforça as dificuldades de

identificação com ele e pode impedir mesmo que se alcancem os objectivos inicialmente previstos.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

56

entidades parceiras e à capacidade de resolução da Entidade Interlocutora

e da CMS;

� Constituição da Parceria

Não obstante o reconhecimento das mais valias da partilha de

responsabilidades num projecto a desenvolver, a constituição de uma

parceria carece de ser cuidada, quer no que se refe re à quantidade de

entidades a envolver (muitos elementos não garantem operatividade),

quer no que respeita às características e competênc ias de parceiros/as

a afectar.

Relativamente a esta prática, e na sequência da experiência no terreno,

consideram-se como entidades especialmente privilegiadas para o

estabelecimento de uma parceria para projectos destinados a migrantes e a

minorias culturais, as seguintes:

o Câmara Municipal;

o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural;

o Instituto do Emprego e Formação Profissional;

o Comissão para a Cidadania Igualdade de Género;

o Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego;

o Entidade privada com experiência e know-how no âmbito da inserção sócio-

profissional de públicos com dificuldades acrescidas;

o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)

� Papel das Acções de Sensibilização e das Acções de Formação

Considerando a importância que assumem em projectos desta natureza as

acções capazes de contribuir para a alteração de representações sociais

negativas ou desvalorizantes dos públicos-alvo, promover a compreensão das

suas especificidades e mobilizar para atitudes e práticas facilitadoras da sua

inserção sócio-profissional sem discriminações constitui uma vertente de

intervenção a que deve ser dada especial atenção.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

57

No que se refere a esta prática, é de realçar o impacto positivo que

desempenharam as acções, fomentando o diálogo intercultural no contexto

local e organizacional e uma cultura de convivência entre agentes e os públicos

destinatários, contribuindo também para enriquecer as práticas profissionais

através da partilha e da reflexão entre pares.

Neste domínio são de salientar as seguintes mais-valias, resultantes destas

iniciativas:

- Maior aproximação e conhecimento entre as institu ições e

serviços locais e os destinatários finais;

- Promoção de uma maior articulação e conhecimento entre as

diferentes entidades que intervêm a nível local;

- Possibilidade por parte dos/as agentes envolvidos de aceder a

uma base comum de conhecimentos no domínio da

interculturalidade, das migrações internacionais e da igualdade de

género.

� Celebração do Protocolo e Constituição do “Fórum pa ra a

Cidadania”

Face à necessidade de fortalecer e intensificar a cooperação entre todos os

intervenientes, a fim de potenciar os recursos existentes, de fomentar um maior

envolvimento e participação e de se obterem os melhores resultados e efeitos

junto das populações, a experiência revelou que estes dois “instrumentos”

desempenham um importante papel de facilitadores dos objectivos a alcançar,

contribuindo para uma maior assunção de responsabilidades, para o

necessário empowerment e para garantir a sustentabilidade do projecto.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

58

3. 7 Contributo da transnacionalidade para a constr ução da prática

Os contributos da transnacionalidade fizeram-se sentir especialmente ao nível

das trocas no âmbito das acções de formação, que, no caso da parceria

francesa, foram realizadas em “cascata”, em seis zonas piloto, para os diversos

agentes e quadros superiores dos Serviços Públicos de Emprego (SPE), bem

como para as empresas, especialmente as de trabalho temporário.

Também o trabalho que as entidades francesas promovem no âmbito da

sensibilização para a gestão da riqueza intercultural e de luta contra a

discriminação se revelou de todo o interesse para o “Argumentário para as

Empresas”, outro produto do ’Migrações e Desenvolvimento’.

Por outro lado – e dado o interesse que lhes mereceu - promovem a tradução

para posterior adopção, do Referencial de Formação Pedagógica de

Formadores/as “Para uma Cidadania Activa: A igualdade de homens e

mulheres” editado pelo IEFP e construído na sequência do projecto Delfim, no

quadro de um Projecto ADAPT, em que a CITE promoveu a vertente da

formação de formadores em igualdade de homens e mulheres.

3. 8 Legitimação/Validação da Prática

A Prática foi legitimada pelos próprios parceiros e nvolvidos no “Pacto

Territorial” e muito concretamente pelos/as destina tários/as do projecto.

A validação verificou-se a nível logístico e de funcionamento:

� Logística:

Foi assegurado e testado pelos técnicos adstritos ao “Espaço Cidadania” e

pelos próprios utentes o funcionamento das instalações – água, luz, telefones -

e do equipamento - sistema de alarme, sistema informático, atendimento

electrónico, equipamento do CLAI e da UNIVA;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

59

� Funcionamento:

A inauguração do “Espaço Cidadania” ocorreu a 26/04/2005 e durante os

meses de Março e Abril, os/as técnicos/as afectos/as ao “Espaço” estiveram

em fase experimental a atender utentes, a receber formação para reforçar

competências e a preparar a bateria de instrumentos de suporte,

nomeadamente documentos e formulários necessários ao regular

funcionamento dos serviços, com os respectivos ajustamentos e sucessivas

correcções à Prática, o que permitiu à PD e às entidades locais envolvidas

validar o respectivo funcionamento.

A verificação da validação pode ser conseguida através da análise dos

resultados obtidos com a abertura do “Espaço Cidadania” e com as respostas

integradas que disponibiliza à comunidade. Por ex: um/a utente, apenas numa

deslocação, pode tratar dos documentos relacionados com o reagrupamento

familiar e simultaneamente ter acesso a ofertas de emprego e de formação

profissional, preparar-se para a entrevista, ser encaminhado/a para um

processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências

(RVCC), para além de dispor de um atendimento de proximidade,

personalizado, amigável e susceptível de criar condições de confiança para

outras respostas sociais não directamente suscitadas pelo problema que

motivara a deslocação ao “Espaço Cidadania” mas importantes para a

resolução do mesmo.

3. 9 Para saber mais sobre o processo, os passos e o percurso

Sobre este ponto remetemos para a versão do produto validado que consta do

histórico, no site do Projecto “Migrações e Desenvolvimento”:

www.mobilidadecidadania.com.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

60

4 - RESULTADOS E VALOR DA PRÁTICA ESPERADOS

4.1 Valor acrescentado para beneficiários/as e uten tes

O valor acrescentado da Prática, revelou-se muito positivo, particularmente:

No que respeita a destinatários/as , uma vez que num único local, sem

exigência de deslocação a um grande centro – “Espaço Cidadania” – com

atendimento e horários amigáveis – podem dispor do apoio de um conjunto

integrado de serviços, prestados por pessoas formadas para o efeito também

segundo o Referencial “Cidadania e Interculturalidade nas Práticas

Profissionais” desenvolvido pelo Projecto ‘Migrações e Desenvolvimento’, numa

lógica ‘de igual para igual’ que constitui ela própria intervenção social e que não

se esgota no Espaço, mas se alarga e reforça na rede de parceiros que

constituem o “Pacto Territorial”.

O apoio ao processo de inserção social e profissional realizado no “Espaço

Cidadania” pretende ser o mais integrado e completo possível visando a

pessoa e as suas necessidades como um todo indissociável. Assim, após a

triagem, é efectuada uma avaliação da situação no sentido da resolução

imediata dos diversos problemas, através das diferentes valências do “EC” e/ou

encaminhamento para as entidades competentes, integradas ou não na rede

de suporte ao funcionamento do Pacto, sempre que possível sem necessidade

de deslocação do/a utente aos locais de funcionamento dessas entidades.

No período de Julho de 2005 e Junho de 2007 o “Espa ço Cidadania” do

Seixal recebeu 2523 utentes, o que representa cerca de 7569

atendimentos 22, conforme gráficos 1 e 2.

22 Pressupondo que o/a utente procura o Espaço Cidadania mais do que uma vez. Sendo que, na primeira visita é

informado/a e na segunda regressa com os documentos necessários para a resolução do assunto pretendido. No

entanto, existem situações mais complexas que obrigam os/as utentes a voltar por diversas vezes.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

61

Gráfico 1

145 140285 366 394

760 836

642

14781347

1176

2523

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

2005 2006 2007 Total

Espaço Cidadania - Número de Utentes por Ano

F

M

Total

Gráfico 2

285855 760

2280

1478

4434

2523

7569

01000

20003000

40005000

600070008000

2005 2006 2007 Total

Espaço Cidadania - Número de Atendimentos - por Ano

Utentes

Atendimentos

Como se pode verificar, através da análise do gráfico 2, tem havido um

aumento gradual, de ano para ano, do número de atendimentos realizados no

“Espaço Cidadania do Seixal”, com a seguinte caracterização:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

62

Na sua maioria, os/as utentes são oriundos/as do Co ncelho do Seixal ,

representando 92,5% dos/as utentes, seguido do Concelho de Almada com

5%.

Gráfico 3

92,47%

5,07%0,40% 0,36% 0,28% 0,28% 0,24% 0,24% 0,20% 0,12% 0,08% 0,08% 0,08% 0,04% 0,04% 0,04%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

Espaço Cidadania - Percentagem de Utentes por Conce lho de Residência

Seixal Almada Amadora LisboaSesimbra Setúbal Barreiro SintraLoures Palmela Oeiras Torres VedrasMoita Mafra Caldas da Rainha Coimbra

Relativamente à distribuição dos/as utentes em função da freguesia de

origem (concelho do Seixal), a maioria dos/as utentes são provenientes

da Amora, representando 54,5% dos/as utentes, seguindo-se as

freguesias da Arrentela, com 21,8%, e da Aldeia de Paio Pires, com 9,9%.

Gráfico 4

54,5%

21,8%

9,9%6,8% 5,0%

2,0%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

Espaço Cidadania - Número de Utentes por Freguesia do Concelho do Seixal

Amora Arrentela Aldeia de Paio Pires Seixal Corroios Fernão Ferro

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

63

Durante o período em análise, o número de utentes do género feminino foi

superior ao do género masculino, com 53,4% e 46,6% respectivamente.

Gráfico 5

50,9%49,1% 48,2%

51,8%

56,6%

43,4%

53,4%

46,6%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

2005 2006 2007 Total

Espaço Cidadania - Distribuição dos Utentes por Género e Ano

F

M

No que concerne à distribuição dos/as utentes por nacionalidade, na sua

maioria são oriundos/as de Cabo Verde (26%), S. Tom é e Príncipe

(20,7%), Brasil (16,3%), Angola (14,4%) e Portugal (10,8%).

Gráfico 6

25,96%

20,69%

16,33%

14,43%

10,82%

5,55%

1,15%1,11%1,11%0,71%0,6% 0,6% 0,2%0,12%0,08%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%0,04%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

Espaço Cidadania - Distribuição dos/as Utentes por Nacionalidade

Cabo Verde S. Tomé e Príncipe Brasil AngolaPortugal Guiné Bissau Ucrânia MoldáviaRoménia Moçambique África do Sul RússiaBulgária Venezuela Georgia AlbâniaCongo EUA Guatemala HungriaÍndia Lituânia México NigériaPaquistão República do Gana Togo Tunísia

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

64

Relativamente ao Estado Civil, a maior parte dos/as utentes são

solteiros/as, representando 41,3% do total, seguido dos/as casados/as, com

34,2%.

Gráfico 7

41,3%

34,2%

20,4%

2,7% 1,3%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

Espaço Cidadania - Distribuição dos/as Utentes por Estado Civil

Solteiro

Casado

União de Facto

Divorciado

Viúvo

Os grupos etários que apresentam um maior número de utentes são: dos 31

aos 35 anos, representando 19,5%, seguido do grupo etário dos 26 aos 30

anos, com 17,4% e dos 36 aos 40 anos, com 17,1% .

Gráfico 8

2,7%

16,7%17,4%

19,5%

17,1%

11,8%

6,7%

4,6%

1,9%0,6% 0,5% 0,4%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

Espaço Cidadania - Distribuição dos/as Utentes por Grupos Etários

0-17 18-25 26-30 31-35 36-40 41-45

46-50 51-55 56-60 61-65 66-70 Mais de 70

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

65

No que concerne às habilitações literárias, o nível de escolaridade com mais

utentes é o 1.º Ciclo, representando 28,7%, seguido do 3.º Cicl o, com

28,1% e do secundário, com 19,9%.

Gráfico 9

3,96%

28,66%

15,62%

28,14%

19,86%

0,55%3,13%

0,08%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

Espaço Cidadania - Distribuição dos/as Utentes por Habilitações Literárias

Sem Habilitações 1.º Ciclo 2.º Ciclo3.º Ciclo Secundário BacharelatoLicenciatura Mestrado

No âmbito da distribuição dos/as utentes por assunto, a maioria dos/as

utentes solicitou apoio ao nível da regularização d a sua situação em

Portugal (1366 utentes), seguido do pedido de apoio ao nível do emprego

e formação profissional (615 utentes) .

Gráfico 10

1366

615485

30 27

0

500

1000

1500

Espaço Cidadania - Distribuição dos/as Utentes por Assunto

Regularização/Aquisição Emprego/Formação

Renovação de Documentos Outro

Provedoria Social

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

66

Na distribuição por situação profissional, a maioria dos/as utentes encontra-

se empregado/a (52%) , sendo que 38,5% dos/as utentes estão

desempregados/as, dividindo-se os/as restantes pelos seguintes grupos:

estudantes, procura 1.º emprego, trabalhador/a independente, a frequentar

formação profissional e reformado/a, representando 9,4% do total.

Gráfico 11

52%

38,5%

3,8% 2,1% 1,4% 1,1% 1%

0%

20%

40%

60%

Espaço Cidadania - Sistribuição dos/as Utentes por Situação Profissional

Empregado DesempregadoFrequentar Escola Trabalhador IndependenteReformado Frequentar Formação ProfissionalProcura 1.º Emprego

Dos/as utentes que se deslocaram ao Espaço Cidadania, 91,2% já

trabalharam em Portugal , tendo 83,6% efectuado descontos para a

Segurança Social.

Gráfico 12

91,2%

8,8%

0,0%

50,0%

100,0%

Espaço Cidadania - Utentes que Trabalharam em Portugal

Sim

Não

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

67

No que diz respeito à percentagem de utentes com descontos efectuados para

a Segurança social, esta é de 83,6%. Sendo que a percentagem de utentes

que trabalharam em Portugal é de 91,2%, isto significa que 7,6% dos/as

Gráfico 13

83,6%

16,4%

0,0%

50,0%

100,0%

Espaço Cidadania - Utentes que Efectuaram Descontos para a Segurança Social

Sim

Não

Relativamente aos/às beneficiários/as do subsídio de desemprego, apesar de

38,5% dos/as utentes se encontrarem desempregados/as, apenas 22,3%

recebe esta prestação social .

Gráfico 14

22,3%

77,7%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

Espaço Cidadania - Utentes Beneficiários Subsídio de Desemprego

Sim

Não

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

68

No que diz respeito à situação migratória dos/as utentes, 71% encontra-se

numa situação regular e apenas 24,5% estão numa situação irregular.

Gráfico 15

71%

24,5%

4,5%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

Espaço Cidadania - Distribuição dos/as Utentes por Situação Migratória

Regular

Irregular

Em regularização

Em relação ao tipo de apoio solicitado ao CLAI, na sua maioria dizem

respeito a pedidos de renovação de autorização de r esidência (505

utentes), pedidos de autorização de residência (452 utentes) e de

nacionalidade (420 utentes) .

Gráfico 16

39,3%

22,5%

8,5% 7,7%4,8% 4,3% 4,2% 3,0% 2,8% 1,8% 1,0%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

Espaço Cidadania - Distribuição dos/as Utentes por Tipo de Documento

A.R Nenhum BI V.P V.T A.R.C

V.C V.C.D V.E.T V.E V.A.R

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

69

Gráfico 17

505452

420

336

256

111 111 9463 58 33 33 30 21

0

200

400

600

Espaço Cidadania - Distribuição dos/as Utentes por Apoio Solicitado ao CLAI

Renovação de Autorização de Residência Autorização de ResidênciaNacionalidade OutroNenhum Visto de TrabalhoReagrupamento Familiar Renovação de VistoPré-Registo Renovação de Autorização de PermanênciaVisto de Curta Duração Visto de Estada TemporáriaReunião Familiar Visto de Estudo

Durante o período em análise, 989 utentes solicitaram apoio à UNIVA.

Verificando-se um aumento considerável de utentes que procuram a UNIVA,

desde que este serviço entrou em funcionamento. Sendo que, em 2005 a

UNIVA foi procurada por 96 utentes, em 2006, por 263 e, em 2007, por 630

utentes.

Gráfico 18

39,2%

60,8%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

Espaço Cidadania - Utentes que Solicitaram Apoio à UNIVA

Sim

Não

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

70

Gráfico 19

96

263

630

989

0

200

400

600

800

1000

Espaço Cidadania - Número de Utentes que Solicitaram Apoio à UNIVA - por Ano

2005

2006

2007

Total

No âmbito da Apresentação Quinzenal, na UNIVA – Unidade de Inserção na

Vida Activa, tendo em conta que apenas começaram a ser efectuados no início

de 2007, foram realizados 1422 atendimentos durante o 1.º Semestre de

200723.

Face aos resultados, somos levados/as a concluir qu e intervir junto de

públicos com dificuldades acrescidas de inserção im plica um trabalho

integrado em vários domínios, com especial destaque para as áreas da

regularização de estrangeiros/as e do emprego.

À guisa de conclusão, o “Espaço Cidadania” é entendido pelo/a utente como

uma resposta de maior proximidade, para resolver um problema que aquele/a

já havia, na maior parte dos casos, tentado resolver junto dos serviços públicos

‘clássicos’. A título de exemplo, a pessoa estrangeira que se encontra em

situação irregular, dirige-se ao “Espaço Cidadania” para tentar mais uma vez

resolver um problema criado involuntária ou voluntariamente (por ex: por falta

de informação, por informação transmitida de forma incorrecta e/ou duvidosa

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

71

ou por deixar caducar de títulos de residência devido a negligência). A atitude

dos/as utentes com que os/as técnicos/as deparam é a de uma descrença na

possibilidade de resolver a sua situação. A postura profissional no “Espaço

Cidadania” é a de que não custa nada tentar sempre que analisado o caso

possa haver alguma hipótese de solução.

Também se verifica que os/as utentes ficam agradados/as com a possibilidade

de, no mesmo local, tentarem a resolução de outros problemas de inserção

social e profissional.

No que diz respeito quer às Associações representativas dos diferentes grupos

(Associações de Imigrantes, Associações de Pessoas Ciganas, etc), quer a

outras entidades públicas e privadas, o facto de, através do Fórum para a

Cidadania, onde têm assento, poderem promover e dinamizar vários tipos de

iniciativas conjuntas, contribuindo para um melhor conhecimento dos

problemas e para a procura de soluções e de respostas, fazendo, assim, ouvir

a sua voz e os seus problemas, representa uma mais-valia, quer para o

empowerment dos próprios públicos, quer para a equipa do “Espaço

Cidadania” e para as instituições parceiras que, face a um melhor

conhecimento dos problemas, podem assegurar uma melhor qualidade de

respostas.

De realçar que algumas associações de imigrantes desenvolveram projectos

para, em articulação com o “Espaço Cidadania”, possibilitando a sua extensão

aos bairros onde desenvolvem actividade e abrangendo assim faixas de

populações mais específicas, como sejam as diferentes gerações de

imigrantes.

Hoje o “Espaço Cidadania do Seixal” é um exemplo de uma boa prática de

integração dos migrantes e dos grupos étnicos e culturais, reconhecida a vários

níveis, dos quais se registam aqui alguns exemplos:

23 A UNIVA até então afecta ao CEFEM deixou de funcionar, pelo que foi necessário apresentar candidatura ao IEFP, que depois de aprovada começou a funcionar em Janeiro de 2007.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

72

♦ No âmbito da 3ª Jornada do Roteiro para a Inclusão, Sua Excelência

o Senhor Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva,

visitou o “Espaço Cidadania do Seixal”, no dia 11/10/06,

reconhecendo a importância da iniciativa ao nível da integração das

comunidades migrantes na sociedade portuguesa.

♦ No Encontro sobre “O Papel das Autarquias na Integração dos

Imigrantes” o Pacto Territorial para o Diálogo Intercultural do Seixal

foi apresentado como instrumentos da política de integração a nível

local.

4. 2 Balanço dos adquiridos pelas entidades parceir as

O facto de as entidades públicas e privadas estarem envolvidas em rede

no “Pacto Territorial”, proporciona um maior conhec imento entre si e um

reforço das suas competências e das suas respostas individuais e

organizacionais, originando mesmo a possibilidade d e encontrar medidas

e respostas mais adequadas para a concretização dos seus objectivos e

da sua missão.

Disso mesmo são exemplo as actividades desenvolvidas em parceria com

algumas entidades locais e outras de âmbito mais alargado tais como:

◊ Comissão de Protecção de Crianças e Jovens – CPCJ ,

com vista ao apoio às situações concretas de famílias e jovens

com situação migratória por regularizar;

◊ UMAR, com vista à resolução dos processos de legalização

de mulheres vítimas de violência acompanhadas por aquela

instituição, sem que as utentes tenham que se deslocar ao

Espaço Cidadania;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

73

◊ CRIAR-T proporciona alojamento temporário aos/às utentes

em situação de vulnerabilidade social, facilitando a sua

reintegração na sociedade ou a promover o seu retorno ao

país de origem;

◊ Embaixada de Cabo Verde em Lisboa , em iniciativas, tais

como emissão gratuita de Bilhete de Identidade cabo-

verdiano, recenseamento e Comemorações da Independência

de Cabo Verde.

Actualmente o Espaço Cidadania do Seixal actua em a rticulação directa

com a Rede Social, agilizando assim uma intervenção que se pretende

próxima do cidadão, mas também das organizações de todo o território

concelhio.

4.3 Contributo para o reforço das competências dos actores, agentes e

organizações envolvidos na sua construção

Todo o processo de criação e concretização do Pacto Territorial para o Diálogo

Intercultural do Seixal reforçou as competências pessoais e profissionais

dos/as agentes da Parceria, pelas aprendizagens que sempre resultam do

confronto de várias culturas organizacionais muito diversas em dimensão e

poder real e simbólico, com conceitos e abordagens também diversificadas das

respectivas práticas profissionais, da necessidade de gestão negociada dos

conflitos mais ou menos explícitos e da obtenção de consensos. Mas também a

reflexão criativa a que se expuseram para a inovação que a Prática gerou, a

concepção e a realização de percursos formativos também novos – de cujas

acções de formação beneficiaram também agentes das entidades parceiras

não envolvidos/as directamente na realização da Prática - bem como a

construção de um argumentário, designado “E se fosse consigo? Benefícios da

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

74

não discriminação e da diversidade para as empresas – Um argumentário para

a cidadania empresarial” visando promover a igualdade de género e a

diversidade cultural e de um “Guia de Recursos para a Cidadania” para apoiar

os/as agentes que intervêm junto destes públicos vieram reforçar competências

cognitivas e comportamentais dos recursos humanos das entidades parceiras e

consequentemente melhorar os serviços que as mesmas prestam.

Acresce, que as entidades parceiras têm, a partir desta Prática, melhores

condições para participar noutros projectos susceptíveis de aprofundar o

trabalho realizado.

4. 4 O impacto em termos de igualdade de género

Não obstante o direito nacional, comunitário e internacional visar abolir a

desigualdade estrutural e promover a igualdade de género, designadamente no

mercado de trabalho, a realidade continua a evidenciar a manutenção e por

vezes o reforço de papéis sociais específicos e diferenciados para homens

mulheres. Daí decorrem muitas das assimetrias no desenvolvimento social,

económico, cultural e político das mulheres e dos homens, quase sempre com

maior com prejuízo para estas.

Assim, e tendo em conta que as diferenças biológicas de mulheres e homens

não podem nem devem traduzir-se em desigualdades de género a diversos

níveis reproduzidas pelas percepções e representações associadas ao

feminino e masculino, importa promover, na prática, a participação equilibrada

de mulheres e homens tanto na esfera pública como na esfera privada.

Para atingir este objectivo, a Comissão para a Cidadania e Igualdade Género

(CIG) e a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), duas

entidades públicas com competências no domínio da igualdade de género,

integraram desde o início a parceria e procuraram implementar boas práticas,

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

75

interna e externamente às entidades parceiras. Neste sentido e a fim de

promover a desconstrução dos argumentos e das práticas culturais e sociais, a

dimensão da igualdade de género esteve sempre presente, numa perspectiva

transversal, fosse nas acções de sensibilização e/ou de formação, o que teve

como consequência um maior envolvimento de mulheres imigrantes e de

minorias culturais, e consequentemente um maior conhecimento dos seus

direitos e situação, tendo contribuído igualmente nesta área o conhecimento de

outras experiências trazido pela transnacionalidade.

As entidades parceiras a nível nacional e respectivos/as técnicos/as também

foram envolvidas no debate e na compreensão da importância da incorporação

transversal da dimensão de género com vista à igualdade entre mulheres e

homens, reflectida não só nos próprios módulos da formação mas também na

sessão de apresentação e de sensibilização promovida pela CITE e pela CIG.

Acresce, que o “Espaço Cidadania” disponibiliza informação vária editada pela

CIG e pela CITE em diversas áreas da igualdade de género, está decorado

com cartazes sobre a matéria, é dinamizado por pessoas que fizeram formação

nesta área nos termos do Referencial de Formação: “Cidadania e Diversidade

Cultural nas Práticas Profissionais” e dispõem do “Guia de Recursos para a

Cidadania” onde o tema é tratado numa perspectiva quer transversal quer de

acção positiva, ambos produto deste projecto.

4. 5 A importância atribuída à prática para a conso lidação do trabalho

em parceria, auto-sustentação e viabilidade

Este projecto e todo o trabalho inerente à sua concepção, desenvolvimento

e concretização, é o resultado da conjugação de esforços e de sinergias

não apenas das entidades que lhe estão mais directamente afectas e dos

profissionais envolvidos, mas de uma parceria mais alargada, composta

também pelos públicos e suas associações e pela própria comunidade

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

76

local maioritária, através das entidades públicas e privadas que exercem

funções no território do Seixal e que, com maior ou menor envolvência,

nele colaboraram.

Na sua consecução assumiu especial relevância a complementaridade de

competências das entidades envolvidas, nomeadamente nos domínios da

interculturalidade, das migrações, da formação profissional e do emprego,

da igualdade de género, do desenvolvimento local e da promoção da

inserção de públicos desfavorecidos e da comunidade cigana,

enriquecendo e reforçando as competências individuais e organizacionais

dos parceiros. Porém, perante diferentes contextos e culturas

organizacionais, práticas institucionais e ideologias, processos e

procedimentos e formas de acolher e acompanhar os destinatários finais,

nem sempre a construção da parceria foi isenta de dificuldades e

constrangimentos, não obstante a aposta num processo de participação,

envolvimento, partilha, debate e reflexão colectiva.

Após um longo período de espera e expectativa sobre o desenrolar do

processo, coincidente com a fase de negociação com a autarquia, cuja

adesão à parceria se revelava fundamental para a viabilidade e

sustentabilidade do projecto, o desabrochar do “Espaço Cidadania”

enquanto espaço colectivo e estrutura de mediação promotora de uma

cultura de participação e equidade, veio reforçar os laços de confiança

entre parceiros e a comunidade, dando lugar a uma nova etapa e a um

novo estádio de “crescimento”.

Com a inauguração do “Espaço”, e o estabelecimento do “Protocolo para a

Construção e Consolidação do Pacto Territorial” e da “Carta de

Compromisso do Fórum para a Cidadania”, deu-se um novo passo, que

permitiu reforçar quer o desenvolvimento e consolidação do trabalho em

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

77

parceria quer, através do envolvimento e participação da comunidade e dos

utilizadores, a construção de um processo de empowerment.

Falar da sustentabilidade do “Pacto Territorial” é falar da capacidade das

entidades parceiras garantirem com eficácia a sua continuidade, o que

pressupõe, nomeadamente, manter:

� Os recursos necessários à prossecução do projecto;

� A qualidade e a ética da intervenção técnica e do apoio

prestado;

� A participação e o envolvimento dos públicos e seus

representantes no dispositivo territorial, reconhecendo-os

como pares privilegiados;

� A participação e envolvimento activo dos/as utilizadores/as

nos seus processos de inserção, reconhecendo-os/as

como pessoas autónomas e não como “utentes” ou

“beneficiários/os” passivos/as;

� A articulação entre entidades públicas e privadas e o

encorajamento à participação de novos parceiros,

nomeadamente as empresas;

� A dinamização do dispositivo enquanto espaço colectivo

para a eliminação de todo o tipo de discriminação.

Neste contexto e não obstante as várias dificuldades que se colocaram, como a

qualquer projecto cujos actores reflectem diferentes formas de olhar e de

interpretar a realidade e diferentes modos de intervir, estiveram reunidas as

condições para continuar a promover e a consolidar um trabalho conjunto

fundamentado designadamente:

- na adesão efectiva e especial envolvimento no projecto por parte da

autarquia, que assegura o encargo com as instalações, o funcionamento

e a coordenação do “Espaço Cidadania”;

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

78

- na organização e funcionamento que privilegia um “Fórum” para a

cidadania, destinado a promover a reflexão o envolvimento e a

participação dos próprios públicos, que poderão vir a desenvolver

iniciativas várias em cooperação;

- na experiência ao nível territorial do trabalho em parceria, de que é

exemplo a “Rede Social” no Seixal;

- na experiência de formação e reflexão sobre as práticas profissionais

que ocorreu no território e que para além do reforço de competências a

nível pessoal e profissional, foi potenciadora de várias sinergias entre as

instituições, técnicos/as e representantes das comunidades.

Os resultados demonstram que a auto-sustentação da Prática está hoje

garantida. A Câmara Municipal tem vindo a chamar a si grande parte das

responsabilidades de coordenação e continuam a manter-se as condições para

o funcionamento de alguns serviços que têm sido assegurados com o apoio

das entidades parceiras, como é o caso do Centro Local de Apoio ao Imigrante

(CLAI), da Unidade de Inserção na Vida Activa (UNIVA) e da articulação com o

SEF. Por outro lado, as entidades que integram o “Fórum para a Cidadania”

poderão, sempre que assim o entenderem e se afigurar necessário, candidatar-

se a programas financiados com projectos para intervenções complementares,

ou desenvolverem iniciativas que garantam sustentabilidade à Prática.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

79

5 - TRANSFERÊNCIA, INCORPORAÇÃO E DISSEMINAÇÃO

5. 1 Estratégia de transferência dos factores críti cos

O Projecto “Migrações e Desenvolvimento”, sem prejuízo de dificuldades

encontradas, provou que era possível concretizar no terreno o conceito que

subjaz a esta Prática e que inclui respeito pela igual dignidade de todo e

qualquer ser humano, abordagem holística, proximidade, horários de

funcionamento ajustados às necessidades dos/as utentes, formação para a

cidadania global, incluindo direitos humanos, igualdade de género, não

discriminação, banalização das migrações internacionais como inerentes à

mobilidade humana, interculturalidade para uma cultura de paz, tratamento ‘de

igual para igual’, avaliação constante para actualização permanente de

necessidades e processos com vista à melhoria das práticas através da

articulação entre o “Espaço Cidadania” e o “Fórum para a Cidadania”.

Entendeu-se assim, que não seria por terem existido dificuldades no

relacionamento institucional, no desinteresse de de cisores/as, na quebra

das inércias, no enfrentar de limitações pessoais e profissionais, na

atitude securitária de fechamento à experimentação, na fragilidade de

competências relacionais e no domínio da cidadania por parte de

gestores/as e agentes, na interpretação por vezes e goísta e incoerente da

missão de serviço público, na rigidez dos mecanismo s administrativos e

financeiros capazes de responder à vida real, que f icaria impedida ou

limitada a transferência, com êxito, desta prática a outros municípios, em

Portugal e na União Europeia.

A Prática evidenciou problemas mas demonstrou que se poderiam ultrapassar

desde que por um lado, houvesse segurança no exercício das respectivas

actividades, conhecimento das respectivas capacidades e limites, e por outro,

com uma metodologia que integrasse competências aos seguintes níveis:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

80

• Envolvimento firme dos/as dirigentes máximos das or ganizações;

• Vontade de atingir um objectivo em que se acreditav a

sustentadamente;

• Confiança na inteligência própria e alheia;

• Capacidade de escuta, de boa fé e atitude cidadã;

• Abertura a outros modos de fazer e à aprendizagem c ontínua;

• Respeito pela igual dignidade de toda e qualquer pe ssoa;

• Flexibilidade para os ajustamentos que o quotidiano s exige;

• Competências para a gestão criativa de conflitos;

• Sentido de serviço público, prestado por entidades públicas ou

privadas;

• Disponibilidade para acções de formação sobre “Cida dania e

Diversidade Cultural nas Práticas Profissionais”;

• Capacidade de constituição e animação de redes;

• Celebração de um Protocolo entre todas as entidades parceiras que

concretizasse e garantisse a sustentabilidade do “E spaço Cidadania”;

• Criação, animação, e avaliação permanente do “Fórum para a

Cidadania” e da sua articulação eficiente e eficaz com o “Espaço

Cidadania”.

5.2 Destinatários e incorporadores Destinatários Migrantes

Comunidades culturais minoritárias Vítimas de violência doméstica Populações desfavorecidas/vítimas de exclusão social

Potenciais Incorporadores

Câmaras Municipais Outras entidades públicas ou privadas que detenham uma visão abrangente relativamente às necessidades do concelho, forte dinâmica de intervenção a nível local, potencial de trabalho em parceria e capacidade de promoção da sustentabilidade do projecto

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

81

5.3 Metodologia de disseminação

Com a experiência realizada no concelho do Seixal, a Parceria propôs-se

assim o desafio de disseminar a prática noutros concelhos: Lisboa,

Montijo, Barreiro e Almada. A escolha relativamente a estes concelhos e não

outros , foi objecto de ponderação dentro da parceria. Em primeiro lugar pesou

o facto da Parceria dispor apenas de um ano para a disseminação (duração

imposta pelo PIC EQUAL), o que obrigou a delimitar a actuação junto de um

número restrito de concelhos. A escolha sobre Lisboa residiu no facto da

Câmara Municipal ter manifestado esse desejo no final da Acção 2, altura em

que visitou o “Espaço Cidadania do Seixal” e deu a conhecer a sua vontade de

se constituir como parceiro formal numa futura Acção 3 - à qual só podem

aceder os projectos cujos produtos tenham sido validados e cujas candidaturas

à disseminação sejam objecto de aprovação. Os restantes concelhos

resultaram da vontade da parceria em efectuar uma actuação mais profunda

no Distrito de Setúbal de maneira a que a prática servisse de exemplo a outros

distritos. Por outro lado, tratava-se de concelhos onde existiam CLAIS ou

estavam previstos.

De salientar que no caso do Projecto “Migrações e Desenvolvimento” a Acção

3 teve a duração de 19 meses e não 12 pois o prazo acabou por ser

prorrogado. Assim, a Acção 3 teve início a 15 de Maio de 2006 e Terminará a

31 de Dezembro de 2007.

O trabalho realizado no decurso da Acção 2 no concelho do seixal permitiu à

Parceria definir uma metodologia integradora de todos os recursos concebidos

no âmbito do Projecto, dando corpo a uma metodologia sustentada que integra

as seguintes fases:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

82

Metodologia de Disseminação

Fase 1

Sensibilização • Apresentação da Prática e recursos associados 24 • Diagnóstico do concelho • Concepção do organograma do Espaço Cidadania • Identificação dos parceiros-chave do “Pacto”

Fase 2 Formação • Qualificação dos representantes das entidades

que integrarão os “Pactos Territoriais” e das equipas responsáveis pela dinamização dos “Espaços de Cidadania” na área da “Cidadania e diversidade cultural nas práticas profissionais" 25

Fase 3

Estágio • Realização de estágios no “Espaço Cidadania do

Seixal”, destinados a todos os elementos que compõem as equipas responsáveis pela implementação e gestão dos “Espaços Cidadania” 26

Fase 4

Construção do “Pacto Territorial” • Sessão Pública 27

Fase 5

Inauguração e Implementação • Celebração do Protocolo

Fase 6

Rede28 • Ligação em rede de todos os “Espaços de

Cidadania”, através de uma Base de Dados • Ligação de todos os “Espaços de Cidadania” ao

site do Projecto

24 Recursos Técnico-Pedagógicos desenvolvidos no âmbito do projecto e que concorrem para a concretização das valências dos “Espaços Cidadania”. 25 Referencial de Formação na área da “Cidadania e diversidade nas práticas profissionais” que integra quatro módulos: Interculturalidade (18h); Direitos Humanos, Migrações Internacionais e Igualdade de Género (18h); Mobilidade Humana e Comunidades Culturais (6h) e Intervenção para a Cidadania – Inclusão nos contextos profissional, organizacional e local (6h). 26 Os estagiários são acolhidos pela equipa do “Espaço Cidadania do Seixal” que realiza cerca de 400 atendimentos/mês e que partilha toda a experiência quer em termos de organização, quer de procedimentos, permitindo às futuras equipas assistir a atendimentos e compreender os mecanismos de resposta e articulação entre as várias valências. 27 As sessões públicas são eventos promovidos pelas Câmaras Municipais, com o apoio da Parceria e formalizam o convite às entidades locais com competências nas diferentes valências, para integrarem os “Pactos”.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

83

5.4 Objectivos e resultados da disseminação

Com esta metodologia a Parceria atingiu, até ao momento29 quase todos os

objectivos inicialmente propostos: criação de mais quatro “Pactos Territoriais

para o Diálogo Intercultural”.

Inicialmente decidiu-se que os municípios a abranger seriam: Lisboa, Montijo,

Barreiro e Almada. Dez meses volvidos mantiveram-se os três primeiros e o

concelho de Almada foi substituído por Sesimbra, dado que Almada, aquando

do primeiro contacto, não reconheceu a necessidade deste tipo de intervenção,

alegando o facto da Câmara não ser solicitada por imigrantes.30 A estes quatro

acresceu o município da Moita ao qual a Parceria apresentou proposta.

Os Municípios de Sesimbra e Barreiro associaram-se ao Projecto na

decisão clara e inequívoca de adaptação do conceito de “Pacto Territorial

para o Diálogo Intercultural” e criação do respecti vo “Espaço Cidadania”,

inaugurado na Quinta do Conde, a 19/06/07 e cuja ca racterização e

resultados darão lugar a uma adenda a este produto.

Quanto ao Município do Barreiro a inauguração do “E spaço Cidadania” e

celebração do respectivo Protocolo de consolidação do “Pacto

Territorial”, terá lugar no dia 31 de Outubro.

28 A ligação dos “Espaços Cidadania” em rede pós-vigência do projecto é um dos objectivos da disseminação que tem em vista também a criação de sinergias entre eles. 29 A revisão deste produto foi concluída em Outubro de 2007 e a disseminação termina em Dezembro do mesmo ano. 30 Esta situação não deixou de ser contraditória com o facto de ao nível do Concelho Local de Acção Social se estar, na altura, a discutir a existência de um Centro de Apoio ao Imigrante, bem como o facto de 5% dos utentes do “Espaço Cidadania do Seixal” serem oriundos do concelho de Almada - freguesias de Almada e Laranjeiro.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

84

Até ao final da Acção de Disseminação, a Parceria do projecto “Migrações e

Desenvolvimento” continuará a envidar esforços para a concretização de

“Espaços de Cidadania” nos Municípios do Montijo, Lisboa e Moita, que se

encontram nas seguintes fases:

Município Fases da Disseminação (realizadas)

Montijo Fase 1 – Sensibilização

Fase 2 – Formação

Fase 4 – Sessão Pública

Lisboa Fase 1 – Sensibilização

Fase 2 – Formação

Fase 3 – Estágio

Moita Fase 1 – Sensibilização

Apresentação da Prática e recursos associados

Coordenação

Reconhecimento e Validação de competências; Centro de Novas Oportunidades

Acolhimento, informação e divulgação

CLAII; ACIME

Apoio à inserção Social e Profissional

UNIVA – Sesimbra; Quinta do Conde

Apoio à comunidade migrante

D.G.A.C.C.P

Apoio Jurídico CMS; ACIDI

Serviço Social Centro de Saúde; Segurança

Social; CMS

Documentos para Cidadãos Estrangeiros

SEF; CMS

Interculturalidade Educação/Formação;

Promoção do Associativismo; Actividades Culturais

CMS; Entidades Concelhias;

Pacto Territorial de Sesimbra

ESPAÇO CIDADANIA

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

85

Para uma disseminação mais alargada a Parceria divulgou os “Pactos

Territoriais para o Diálogo Intercultural”, através de reuniões/sinopses do

produto/artigos, junto de Entidades cujo âmbito de actuação é bastante

alargado e que poderão encorajar outras autarquias a participar neste

olhar novo sobre o exercício da cidadania no relacionamento entre

administradores/as e administrados/as. Referimo-nos à:

◊ Associação Nacional de Municípios;

◊ Associação Distrital dos Municípios de Setúbal;

◊ Área Metropolitana de Lisboa.

Para além destas entidades a Parceria desenvolveu também uma dimensão

transversal da disseminação levando o conceito de “Pactos Territoriais” junto

das seguintes iniciativas:

◊ Fórum Global das Migrações e Desenvolvimento;

◊ II Debate nacional sobre o futuro da Europa;

◊ Rede de Pontos Focais de Acompanhamento do Plano para a

Integração dos Imigrantes.

Resultados Indirectos

Ao nível dos resultados que não estavam directamente contemplados no Projectos, os “Pactos Territoriais” revelaram-se um contributo importante de carácter transversal. É o exemplo da Plataforma sobre Políticas de Integração e Acolhimento de Imigrantes, para cuja materialização dos princípios nela contidos acaba por concorrer. A Plataforma recentemente criada por um conjunto de fundações, instituições e organizações da sociedade civil que desenvolvem actividades e apoiam a investigação ou a reflexão em torno do tema da imigração, foi alargada às autarquias por se reconhecer a relevância da acção destes agentes ao nível local:

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

86

Princípios da Plataforma sobre Políticas de

Integração e Acolhimento de Imigrantes

Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural

/Espaço Cidadania

A interacção é um processo dinâmico e bidireccional de

adaptação mútua de todos os imigrantes e residentes em

Portugal.

O emprego é considerado um elemento essencial no

processo de integração, sendo fundamental para a

realização pessoal e a participação cívica dos imigrantes,

tendo em vista o contributo que prestam à sociedade de

acolhimento.

O conhecimento básico da língua, da história e das

instituições da sociedade de acolhimento é indispensável

para o sucesso da integração; assim como proporcionar

aos imigrantes a possibilidade de adquirir esse

conhecimento básico é essencial para lograr uma

integração bem sucedida.

Os esforços na educação são cruciais para preparar os

imigrantes, em especial os seus descendentes, para

serem participantes mais activos e com maior êxito na

sociedade.

Um fundamento essencial para uma melhor integração é

garantir aos imigrantes, numa base de igualdade face

aos cidadãos nacionais e de forma não discriminatória, o

acesso às instituições, aos bens e aos serviços públicos

e privados.

A interacção frequente entre imigrantes e cidadãos dos

países de acolhimento é um mecanismo fundamental

para a integração. Deste modo, os fóruns onde

participem uns e outros, o diálogo intercultural, a

formação sobre imigração e culturas imigrantes, assim

como o fomento das condições de vida em ambientes

urbanos incrementam as interacções entre imigrantes e

cidadãos dos Estados-Membros.

A prática de diversas culturas e religiões é uma garantia

da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia,

que deve ser salvaguardada, salvo em caso de

incompatibilidade com a legislação nacional.

A participação de imigrantes na elaboração de políticas e

medidas de integração, especialmente a nível local,

apoia a sua integração.

• Os Espaços Cidadania assumem-se

precisamente pontos de encontro de várias

culturas, que visam trabalhar com as

populações e não para elas, facilitando o

acesso aos serviços e uma relação mais

informal entre estes e os utentes.

• A inserção na vida activa é uma das valências

fundamentais dos Espaços Cidadania, por se

considerar, na lógica da hierarquia de

necessidades de Maslow que o emprego é

uma necessidade elementar e estruturante do

processo de integração dos indivíduos nas

sociedades e que só depois de satisfeita

permitirá um exercício da cidadania mais activo

e pleno. Neste sentido, os Espaços Cidadania

têm UNIVAS.

• Os Espaços Cidadania promovem, entre as

suas valências, a formação em várias áreas,

nomeadamente no domínio da língua

portuguesa, facilitando assim o acesso à

nacionalidade.

• A educação e formação nas áreas da

Interculturalidade e dos Direitos Humanos é

amplamente desenvolvida nos concelhos onde

existem estes Espaços.

• As instituições que integram os Pactos e

respectiva sociedade civil são sensibilizadas e

formadas para os benefícios da não

discriminação e da diversidade nas

organizações.

• Conscientes da participação e

representatividade de todos/as os/as

cidadãos/ãs residentes nos concelhos,

independentemente da sua origem, os Pactos

Territoriais para o Diálogo Intercultural,

integram na sua organização um Fórum

Cidadania, onde todas as pessoas colectivas e

singulares têm lugar.

• Toda a actividade dinamizada pelos Espaços

Cidadania é desenvolvida em estreita

articulação com as Redes Sociais.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

87

5.5 Pré-avaliação dos resultados

5.5.1 Mais valias

Tal como foi dito anteriormente, a fase de disseminação só estará concluída a

31/12/07. Contudo, a experiência obtida até ao momento permitiu constatar, no

terreno, as seguintes Mais Valias:

Os “Espaços Cidadania” são um excelente mecanismo de diagnóstico, factor que se reveste de particular importância quando se constata que as Câmaras Municipais têm muitas vezes um conhecimento escasso das necessidades ao nível das comunidades migrantes e dos grupos étnicos existentes nos concelhos. Os “Pactos Territoriais” assentes no funcionamento dos “Espaços Cidadania” traduzem a necessidade sentida por todas as Câmaras de que os CLAIS com a dimensão meramente informativa não respondem às necessidades dos utentes e à pressão que é criada junto dos serviços. As Câmaras veêm nos “Espaços Cidadania” um reforço face às novas competências que lhes foram adstritas ao nível do registo de cidadãos estrangeiros. Na maior parte dos casos as Câmaras têm já algumas das valências a funcionar mas de forma não integrada. Os “Pactos Territoriais” representam uma nova forma de reorganização dos serviços e das instituições entre si. As Câmaras têm sido muito receptivas à “transferência de conhecimentos e de competências” por parte dos organismos da Administração Pública central. Os “Espaços Cidadania” são um instrumento para o exercício da Cidadania Global. São mecanismos de concretização dos direitos dos migrantes e dos grupos étnicos, aos vários níveis das valências aí implementadas, com expressão máxima nos “Fóruns para a Cidadania”, abertos à participação de todos os cidadãos. Os “Espaços Cidadania” são um contributo para a concretização dos direitos económicos, sociais e culturais. No contexto da globalização, a noção de mercado de trabalho global não é uma realidade aplicável a todos os migrantes. De facto, o mercado de trabalho global funciona ao nível dos técnicos altamente qualificados, deixando de fora, milhares de pessoas que têm de se debater com as limitações próprias dos mercados de trabalho característicos dos países de acolhimento. Isto é, à liberdade de capitais, bens e serviços, não corresponde uma total liberdade das pessoas. A aprendizagem intercultural é uma mais valia para um novo modelo de socialização. Nunca como hoje foi tão importante formar e informar na área dos direitos humanos e da interculturalidade. Conhecer os direitos fundamentais que qualquer pessoa transporta consigo, independentemente da sua pertença, do seu lugar de origem e que são de carácter universal é crucial para um mais adequado e igualitário exercício da cidadania. Os “Espaços Cidadania” através da valência do Apoio à Interculturalidade desempenham um papel importante na construção/reabilitação das identidades dos migrantes. Os “Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural” representam um investimento no capital social. Entendendo-se por capital social a capacidade que as pessoas desenvolvem no relacionamento em sociedade para prosseguirem os seus interesses, constituindo assim um recurso para o próprio desenvolvimento social, facilmente se entende que o envolvimento das organizações locais em torno de um projecto comum – os “Pactos Territoriais”-, bem como da sociedade civil, através das associações no âmbito do “Fórum para a Cidadania”, tece uma “rede de interesses” que promove o crescimento do capital social nas cidades onde operam.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

88

5.5.2 Factores críticos de sucesso

E também os seguintes Factores Críticos de Sucesso:

• Apropriação do produto

Metodologicamente é importante que as organizações potenciais incorporadoras se

apropriem do produto recorrendo às várias fases previstas - sensibilização, formação e

estágio - para a adaptação do conceito às especificidades locais. Para esse efeito aconselha-

se o contacto junto de um dos “Pactos Territoriais”/”Espaços Cidadania” cuja experiência

possa ser partilhada e vivenciada.

• Envolvimento do poder político

O envolvimento directo das chefias com poder de decisão ao nível político.

• Sensibilização e experiências prévias

As Câmaras que dinamizam CLAIS são muito mais receptivas à incorporação da

prática e a sua sensibilidade é por isso mesmo diferente e potenciadora da transferência do

produto.

• Espírito e experiência de trabalho em parceria

Os concelhos onde existem Redes Sociais a funcionar têm mais facilidade na

incorporação da prática, pois estão mais sensibilizados para uma visão integrada das

necessidades dos municípios.

As Câmaras Municipais que estão habituadas ao trabalho em parceria têm uma

dinâmica facilitadora da construção dos “Pactos”.

A proximidade relativamente aos serviços centrais torna mais difícil a construção dos

“Pactos Territoriais” .

• As migrações como factor de desenvolvimento

As Câmaras Municipais perspectivam sempre o desafio da construção dos “Pactos

Territoriais” na óptica da Acção Social e não do desenvolvimento que os imigrantes

podem potenciar aos concelhos.

• Afectação de recursos materiais e humanos

As Câmaras sentem dificuldades imensas na afectação de recursos materiais e

humanos, mesmo reconhecendo a necessidade de incorporação da prática.

• Adaptação e não replica

Cada “Pacto Territorial” deve incorporar a prática de acordo com a especificidade

das suas necessidades e com base nos recursos existentes em cada município, respondendo

assim aos critérios da disseminação que passam pela necessidade de adaptação e não de

“réplica cega” dos produtos.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

89

5.5.3 Os “Espaços Cidadania” como instrumentos para o exercício da

Cidadania Global

Na concepção de cidadania moderna, os indivíduos são chamados à

participação na concretização dos seus direitos sociais e económicos. Isto

mesmo nos dizem Basok, Tanya & Ilcan, Suzan, a propósito dos direitos

humanos: “However today, programmes aimed to secure humain rights are

aligned with advanced liberal principles and programmes. New solutions to

poverty have underlined the responsability of individuals, private institutions,

and non-governamental organizations to secure social and economic rights to

citizens…individuals are expected to lift themselves out of poverty by becoming

entrepeneurs or by migrating to other countries where they can earn enough

income to feed themselves and support their households and home

communities.”31

A cidadania global enquanto conceito que implica se rmos cidadãos

responsáveis em todas as dimensões da nossa existên cia, é um conceito

adoptado pelo Conselho da Europa e do qual os cidad ãos empenhados

na participação e construção das sociedades de que são parte não se

escusam.

Ora os “Espaços Cidadania” são mecanismos de concre tização dos

direitos dos migrantes e das grupos étnicos, e cult urais aos vários níveis

das valências que implementam, com expressão máxima nos “Fóruns

para a Cidadania”, abertos à participação de todos os cidadãos.

31 Basok, Tanya & Ilcan, Suzan In the name of the human rights: global organisations and participating citizens, Citizenship Studies, 2006, Vol. 10, Nº 3, pp. 322.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

90

5.5.4 Os “Espaços Cidadania” como contributo para a concretização dos

direitos económicos, sociais e culturais

O emprego é um factor decisivo da integração dos imigrantes nas sociedades

de acolhimento. Fonte determinante de rendimentos, o trabalho confere

legitimação social aos indivíduos. Quando falamos de emprego estamos, do

ponto de vista jurídico, a falar do direito ao trabalho, condição essencial ao livre

desenvolvimento da personalidade. É de tal forma importante a perspectivação

do ser humano como trabalhador que nas sociedades ditas estados de direito

democráticos, “o direito ao trabalho está para os direitos económicos, sociais e

culturais, como o direito à vida está para os direitos, liberdades e garantias...o

direito ao trabalho é mesmo pressuposto do próprio direito à vida, enquanto

direito à sobrevivência.”32 Conscientes da importância do emprego na

integração dos indivíduos, os “Espaços Cidadania” incorporam UNIVAS que

apoiam ao nível da inserção sócio-profissional.

Esta valência é tanto mais justificável quanto sabemos que no contexto da

globalização, a noção de mercado de trabalho global não é uma realidade

aplicável a todos os migrantes. De facto, o mercado de trabalho global funciona

ao nível dos técnicos altamente qualificados, deixando de fora, milhares de

pessoas que têm de se debater com as limitações próprias dos mercados de

trabalho característicos dos países de acolhimento. Isto é, à liberdade de

capitais, bens e serviços, não corresponde uma total liberdade das pessoas.

No que se refere ao mercado de trabalho português, relativamente aos

imigrantes e que não é muito diferente daquilo que se passa um pouco no

mundo inteiro, é um mercado caracterizado por:

� Segmentação profissional e em função da origem

Os homens imigrantes trabalham essencialmente na construção civil

(africanos e de leste) e na restauração (brasileiros);

32 Canotilho, Gomes José, Direitos humanos, estrangeiros, comunidades migrantes e minorias, Lisboa, CELTA, 2000, p 143.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

91

As mulheres trabalham sobretudo como domésticas ou empregadas de

limpeza (africanas e de leste), e também na restauração (brasileiras).

� Subvalorização de competências e da diversidade cul tural

Não existe em Portugal um sistema de reconhecimento de competências

que funcione de forma eficaz. Aos aspectos burocráticos que muitas vezes

inviabilizam qualquer processo, acrescem despesas extremamente

onerosas para muitos imigrantes. A existência de um gabinete para estas

questões no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) e iniciativas

como a da Fundação Gulbenkian, relativamente aos médicos, estão longe

de capitalizar todo o potencial de mão de obra existente na população

imigrante em Portugal.

Por outro lado, o reconhecimento por parte das empresas de que a

diversidade cultural é um ganho de competências e que, como tal, deve ser

privilegiada e não discriminada, também está longe de ser uma realidade.

Nesta área, há muito a fazer ao nível da responsabilidade social.

� Exploração económica

O contexto de fragilidade provocado pelo sofrimento da distância,

relativamente à família e ao país de origem, assim como pelas exigências

resultantes da integração, é muitas vezes aproveitado como um meio para

explorar pessoas que pela condição em que se encontram não tem

conhecimentos, capacidade nem recursos para reagir. A necessidade de

sobrevivência associada, em muitos casos, ao imperativo de enviar dinheiro

para a família, conduz muitos imigrantes à aceitação de contextos de

trabalho profundamente discriminatórios e ilegais. Seja por falta de contrato,

ausência de descontos, vencimentos abaixo da média, exploração do

número de horas de trabalho, condições sub-humanas de exercício da

profissão, etc. A tudo isto, acrescem muitas vezes redes de

(sub)contratação que contribuem para uma exploração organizada que em

muitos casos pode assumir contornos de escravatura como nos fala Kevin

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

92

Bales no seu livro Gente Descartável, A nova escravatura na economia

global.

� Discriminação

À discriminação no mercado de trabalho acresce muitas vezes a dupla

discriminação de que são alvo as mulheres migrantes. É importante

continuar a sensibilizar as pessoas e as organizações para a mais valia

trazida pelos imigrantes. Neste sentido, assume particular relevância o

Argumentário: “E se fosse consigo? Benefícios da não discriminação e da

diversidade nas empresas”, concebido no âmbito do próprio Projecto e que

sensibiliza para a importância da mão de obra migrante na construção da

sociedade portuguesa, altecendo a valorização da diferença e do contributo

que a diversidade de competências traz em termos de competitividade.

Para isso, os “Espaços Cidadania” são também veículos de formação

nomeadamente nas áreas da Interculturalidade e dos Direitos Humanos.

5.5.5 A aprendizagem intercultural como mais valia para um novo modelo

de socialização

A necessidade da compreensão das diferenças e o saber viver com elas é

actualmente reforçada com a crescente mobilidade internacional das pessoas e

com o estabelecimento cada vez mais diversificado de nacionais de origens

também cada vez mais variadas que a globalização induz. Trata-se da

presença de outras vivências culturais nas localidades onde habitamos, de

estilos de vida trazidos por portugueses que viveram e trabalharam no

estrangeiro e regressaram a Portugal. Mas trata-se também de uma cada vez

maior exigência em matéria de direitos humanos e de concretização da

cidadania global, tanto na esfera pública, como na esfera privada.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

93

Como diz Perotti “O nosso modelo de socialização tinha como paradigma o

monoculturalismo; a prática da educação intercultural implica uma mudança de

paradigma que considera “ o outro e o diferente como ponto de partida”33.

Nunca como hoje foi tão importante formar e informa r na área dos direitos

humanos e da interculturalidade. Conhecer os direit os fundamentais que

qualquer pessoa transporta consigo, independentemen te da sua

pertença, do seu lugar de origem e que são de carác ter universal é crucial

para um mais adequado e igualitário exercício da ci dadania. Por outro

lado, valorizar as diferenças e compreender que iss o não nos faz

“desiguais”, é elementar em sociedades que se dizem globais.

Formar nestas áreas é importante ao nível dos agent es de organizações

públicas e privadas, mas também ao nível do público em geral, é

contribuir para aquilo a que Bales chama o “poder positivo do

consumidor” 34, com vista à pressão que públicos instruídos podem fazer

sobre governos e organizações globais. Diríamos tam bém que formar

nestas áreas é ajudar as pessoas em geral a selecci onar a informação a

que têm acesso. É preciso saber descodificar a info rmação que nos

chega, como diz Isabel Ferin “É preciso saber ler por detrás das notícias ”.

Formar é empoderar e por essa via conferir legitimi dade à partilha de

responsabilidade na concretização dos direitos fund amentais. Nos

últimos anos, a União Europeia tem-se preocupado mu ito com as

questões relativas ao empowerment ou empodaramento das populações.

Exemplo disso mesmo têm sido os inúmeros programas e iniciativas

comunitárias que durante este último Quadro Comunit ário de Apoio

financiaram projectos em áreas diversificadas.

33 Perotti, António, (1997), Apologia do intercultural, Secretariado Entreculturas, Presidência do

Concelho de Ministros, Ministério da Educação.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

94

O empoderamento traduz-se na possibilidade que é da da aos públicos

alvo de participarem na construção dos projectos, f azendo com que eles

se aproximem o mais possível das necessidades dos s eus destinatários

finais. É neste sentido que o “Fórum para a Cidadan ia” se apresenta

como um instrumentos poderoso de diagnóstico de nec essidades, mas

também como um veículo na construção de respostas.

5.5.6 Construção identitária

Os contextos migratórios são ricos na construção da identidade, mas também

muitas vezes angustiantes, para quem se sente suficientemente longe da sua

cultura de origem e demasiado carente de integração para não se deixar

“aculturar” por princípios e valores dos países de acolhimento.

A construção de identidades a partir de mundos muitas vezes imaginados é

uma temática que tem envolvido sociólogos e antropólogos em amplos

debates. O esquema que se segue ilustra bem, a influência dos fluxos culturais

agregados em diferentes paisagens na construção de “mundos imaginados”35:

34 Bales, Kevin (2001) Gente Descartável, A Nova Escravatura na Economia Global, Lisboa, Caminho, p.288. 35 O esquema representa o modo como, do nosso ponto de vista, se resumem alguns

conceitos-chave de Appadurai, A. (1996), “Disjuntura e Diferença na Economia Cultural Global,

in Dimensões Culturais da Globalização, Teorema, pp.43-70.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

95

Os “Espaços de Cidadania” através da valência do Apoio à Interculturalidade

desempenham um papel importante na construção/reabilitação das identidades

dos migrantes, mas também ao nível das identidades das cidades onde se

enquadram.

5.5.7 Investir no capital social

Desenvolver competências ao nível de todas as valências dos “Espaços

Cidadania” é também investir no capital social. Entendendo-se por capital

social a capacidade que as pessoas desenvolvem no relacionamento em

sociedade para prosseguirem os seus interesses, constituindo assim um

recurso para o próprio desenvolvimento social, facilmente se entende que o

envolvimento das organizações locais em torno de um projecto comum – os

“Pactos Territoriais”-, bem como da sociedade civil, através das associações no

âmbito do “Fórum para a Cidadania”, tece uma “rede de interesses” que

promove o crescimento do capital social nas cidades onde operam.

MMuunnddooss IImmaaggiinnaaddooss

Etnopaisagens (Grupos e indivíduos em movimento)

Financiopaisagens (Disposição do capital global)

Mediapaisagens (Distribuição da capacidade electrónica para disseminar informação

Tecnopaisagens (Tecnologias)

Ideopaisagens (Políticas e ideologias)

Estados -Nação

Multinacionais

Diásporas

Movimentos Sub nacionais

Aldeias

Famílias

Pessoa

Bairros

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

96

Apesar de se tratar de um conceito relativamente ao qual autores, como

Putnam, Coleman, Simmel, Fukuyama, Paxton, Portes, estabilizaram os

atributos (confiança interpessoal, apoio mútuo e normas partilhadas), mas não

a medida, têm sido levados a cabo estudos no sentido de aferir a relação entre

o capital social e a prosperidade das sociedades.

No caso americano, Putnam (2000) afirma que “o capital social está em

declínio, com consequências negativas de vária ordem para a sociedade

americana, como a ameaça de isolamento social e a dissolução da sociedade

civil.”

Num estudo levado a cabo para saber se o capital so cial também se

encontra em declínio na Europa Halman Loek concluiu que “as

sociedades com níveis mais elevados de capital soci al serem também

mais prósperas do que os países com níveis inferior es de capital social.”

Do mesmo estudo resulta que “Se excluirmos os países do Centro e Leste

europeu, Portugal é de longe o país com o nível mai s baixo de capital

social.” 36

Os dados deste estudo reportam ao período de 1981 a 1999. Oito anos depois,

os dados podem não ter melhorado substancialmente mas estamos em crer

que, no período correspondente ao último Quadro Comunitário de Apoio,

Programas como o EQUAL contribuíram, no caso português, para novas

formas de trabalho em parceria importantes para a construção de um novo

espírito daquilo que pode ser a construção de “sociedades mais igualitárias”,

para as quais os “Espaços Cidadania” pretendem contribuir.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

97

5.5.8 Investir na coesão social

Finalmente e na sequência das afirmações anteriores, os “Pactos Territoriais

para o Diálogo Intercultural” são um contributo importante ao nível do reforço

da coesão social. Nas sociedades multiculturais como é o caso da sociedade

portuguesa, os “Pactos Territoriais”, através dos respectivos “Espaços

Cidadania” e dos “Fóruns para a Cidadania” actuam como instrumentos de

exercício de uma cidadania efectiva, valorizando a diversidade cultural e

envolvendo todas as pessoas que vivem ou interagem num determinado

concelho a participar activamente, contribuindo assim para a paz e a ordem

socais.

Visando sociedades mais justas e equitativas, os “Pactos Territoriais”,

consolidados em parcerias locais dinâmicas que envolvem os sectores público

e privado, mas também a sociedade civil, são um apelo à participação activa

das comunidades, ao envolvimento criativo dos agentes e à responsabilidade

social das organizações.

Na sua filosofia de mais e melhor integração dos mi grantes, das

comunidades culturais e de grupos sociais desfavore cidos e vulneráveis,

os “Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultura l” actuam como

mecanismos facilitadores da igualdade de oportunida des, de reforço da

ordem social, de luta contra a exclusão e a discrim inação e de

fortalecimento da mobilidade social e da competitiv idade das economias

locais e regionais.

36 Halman Loek,, Capital social na Europa contemporânea, Imprensa de Ciências Sociais, pp. 287 e 289, in Vala, Jorge, Cabral, Villaverde Manuel, Ramos, Alice, Atitudes sociais dos portugueses-valores sociais: mudanças e contrastes em Portugal e na Europa.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

98

5. 6 Contactos dos/as “Construtores/as” da Prática

Os/As construtores/as da Prática foram técnicos/as superiores das entidades

que dentro da Parceria de Desenvolvimento estiveram directamente

relacionados/as com a concepção do Modelo e o respectivo desenvolvimento:

Entidades Contacto

Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural 21 8106100

Câmara Municipal do Seixal – Gabinete de Cooperação 21 2275612

21 2275652

Centro Europeu de Formação e Estudos sobre as Migrações 21 225 86 12

Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género 21 7983000

Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego 21 7803700

Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades

Portuguesas (Entidade Interlocutora)

21 7929700

Instituto do Emprego e Formação Profissional 21 8682967

De salientar que a Parceria de Desenvolvimento, na sua totalidade, contribuiu

para a concretização da Prática.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

99

REFERÊNCIAS

Appadurai, A. (1996), “Disjuntura e Diferença na Economia Cultural Global, in

Dimensões Culturais da Globalização, Teorema, pp.43-70.

Bales, Kevin (2001) Gente Descartável, A Nova Escravatura na Economia

Global, Lisboa, Caminho.

Basok, Tanya & Ilcan, Suzan In the name of the human rights: global

organisations and participating citizens, Citizenship Studies, 2006, Vol. 10, Nº

3, pp. 309-327.

Canotilho, Gomes José, Direitos humanos, estrangeiros, comunidades

migrantes e minorias, Lisboa, CELTA, 2000.

Constituição da República Portuguesa

Cortesão, Luíza – “Nos bastidores da Formação”(2001),Celta

Decreto-Lei nº 111/2000, de 4 de Julho que regulamenta a lei que proíbe as

discriminações no exercício de direitos por motivos baseados na raça, cor,

nacionalidade ou origem étnica.

Directiva 2000/43/CE relativa à implementação do princípio da igualdade de

tratamento entre pessoas sem distinção da raça ou origem étnica (29/06/00)

cobre a maior parte dos domínios da vida quotidiana em que a desigualdade de

tratamento se pode manifestar.

Directiva 2000/78/CE relativa à criação de um quadro geral em favor da

igualdade de tratamento em matéria do emprego e do trabalho (27/11/00)

proíbe toda a discriminação sobre a religião, a deficiência, a idade ou a

orientação sexual.

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural”

Uma Prática bem Sucedida

100

Gabinete de Gestão EQUAL (2001), EQUAL “de igual para igual”, Guia de

Apoio ao Utilizador.

Halman Loek,, Capital social na Europa contemporânea, Imprensa de Ciências

Sociais, pp. 287 e 289, in Vala, Jorge, Cabral, Villaverde Manuel, Ramos, Alice,

Atitudes sociais dos portugueses-valores sociais: mudanças e contrastes em

Portugal e na Europa.

Perotti, António, (1997), Apologia do intercultural, Secretariado Entreculturas,

Presidência do Concelho de Ministros, Ministério da Educação.

PNUD – Relatório do Desenvolvimento Humano 2004 – Liberdade Cultural num

Mundo Diversificado www.undp.org.

Relatório da Comissão Mundial (2005) sobre as Migrações Internacionais, as

Migrações num Mundo Interligado: Novas Linhas de Acção, Fundação Calouste

Gulbenkian.

Resolução do Conselho e dos ministros do Emprego e da Política Social,

reunidos no seio do Conselho (da União Europeia) de 29 de Junho de 2000

relativa à participação equilibrada das mulheres e dos homens na actividade

profissional e na vida familiar (2000/C 218/02).

Revista ex-aequo nº 10

“Pactos Territoriais para o Diálogo Intercultural” Uma Prática Bem Sucedida