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1 PROJEÇÃO DA DEMANDA ENERGÉTICA DO SETOR AGROPECUÁRIO DE MATO GROSSO UTILIZANDO O MODELO DE DECOMPOSIÇÃO ESTRUTURAL IVO LEANDRO DORILEO* SÉRGIO VALDIR BAJAY** *Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Planejamento Energético da UFMT e doutorando em Planejamento de Sistemas Energéticos na Unicamp **Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético e Departamento de Energia/FEM, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Resumo O setor agropecuário de Mato Grosso constitui-se, atualmente, no principal elemento motor no elevado crescimento da economia do Estado, com capacidade de interiorização da população e de industrialização. O setor responde por cerca de 30% do PIB estadual. Uma análise retrospectiva da evolução das grandezas econômicas e energéticas envolvidas no modelo de projeção da decomposição estrutural precede, neste trabalho, uma análise prospectiva, até 2012, usando este modelo, da matriz energética deste setor no Estado. As projeções da demanda energética setorial seguem uma estrutura de cenários macroeconômicos que correspondem a diversas possibilidades de crescimento do PIB estadual. Abstract Agriculture in Mato Grosso is, currently, the main responsible for the high economic growth of the state’s economy, sustaining population in rural areas and pushing industrialization. Around 30% of the state’s GDP is provided by this sector. A retrospective analysis of the evolution of the economic and energy consumption related parameters involved in the structural decomposition forecasting model precedes, in this paper, a prospective analysis, up to the year 2012, using this model, of energy consumption in this sector in the State. The energy demand forecasts follow a structure of macroeconomic scenarios which correspond to several possibilities of the local GDP growth. 1 Introdução Programas federais como o PoloAmazônia, PoloCentro, PoloNoroeste e Programa de Integração Nacional (PIN), a rodovia BR 163 e o dinamismo da iniciativa privada local fizeram com que o Estado de Mato Grosso se tornasse um importante produtor de commodities agropecuárias no País, a partir dos anos 1970. O Estado passou a vivenciar um fluxo econômico acelerado, quando a indústria madeireira, a construção civil, o comércio, a agricultura e a pecuária intensificaram suas atividades. No setor secundário, destacou-se o fortalecimento da indústria alimentícia, com a implantação de frigoríficos e agroindústrias, especialmente as de esmagamento de soja e produção do óleo. A partir de então, as bases do desenvolvimento da economia mato- grossense fundamentaram-se em dois aspectos: o primeiro é a migração de empresas e produtores rurais para o estado; o segundo, os eixos viários emergentes que modificaram as relações mercantis entre os mais importantes núcleos urbanos e dinâmicos do País. 2 Crescimento do setor agropecuário no Estado Nos últimos anos, a agropecuária tem tido um papel importante na geração de divisas externas. A soja é responsável por 84,84% das exportações do Estado, o algodão responde por 53% da produção nacional, e o rebanho bovino, da ordem de 25,0 milhões de cabeças (INDEA, 2005), possui uma alta competitividade. O setor agropecuário colocou Mato Grosso, em 2001, na décima posição entre os Estados que mais exportaram, com 2,65% do total exportado pelo Brasil (SEPLAN, 2003). O Valor Adicionado deste setor respondeu, naquele ano, por 30% da formação do PIB estadual, contra 7%

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PROJEÇÃO DA DEMANDA ENERGÉTICA DO SETOR AGROPECUÁRIO DE MATO GROSSO UTILIZANDO O MODELO

DE DECOMPOSIÇÃO ESTRUTURAL

IVO LEANDRO DORILEO* SÉRGIO VALDIR BAJAY**

*Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Planejamento Energético da UFMT e

doutorando em Planejamento de Sistemas Energéticos na Unicamp **Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético e Departamento de

Energia/FEM, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Resumo O setor agropecuário de Mato Grosso constitui-se, atualmente, no principal elemento motor no elevado crescimento da economia do Estado, com capacidade de interiorização da população e de industrialização. O setor responde por cerca de 30% do PIB estadual. Uma análise retrospectiva da evolução das grandezas econômicas e energéticas envolvidas no modelo de projeção da decomposição estrutural precede, neste trabalho, uma análise prospectiva, até 2012, usando este modelo, da matriz energética deste setor no Estado. As projeções da demanda energética setorial seguem uma estrutura de cenários macroeconômicos que correspondem a diversas possibilidades de crescimento do PIB estadual. Abstract Agriculture in Mato Grosso is, currently, the main responsible for the high economic growth of the state’s economy, sustaining population in rural areas and pushing industrialization. Around 30% of the state’s GDP is provided by this sector. A retrospective analysis of the evolution of the economic and energy consumption related parameters involved in the structural decomposition forecasting model precedes, in this paper, a prospective analysis, up to the year 2012, using this model, of energy consumption in this sector in the State. The energy demand forecasts follow a structure of macroeconomic scenarios which correspond to several possibilities of the local GDP growth.

1 Introdução

Programas federais como o PoloAmazônia, PoloCentro, PoloNoroeste e Programa de Integração Nacional (PIN), a rodovia BR 163 e o dinamismo da iniciativa privada local fizeram com que o Estado de Mato Grosso se tornasse um importante produtor de commodities agropecuárias no País, a partir dos anos 1970. O Estado passou a vivenciar um fluxo econômico acelerado, quando a indústria madeireira, a construção civil, o comércio, a agricultura e a pecuária intensificaram suas atividades. No setor secundário, destacou-se o fortalecimento da indústria alimentícia, com a implantação de frigoríficos e agroindústrias, especialmente as de esmagamento de soja e produção do óleo. A partir de então, as bases do desenvolvimento da economia mato-grossense fundamentaram-se em dois aspectos: o primeiro é a migração de empresas e produtores rurais para o estado; o segundo, os eixos viários emergentes que modificaram as relações mercantis entre os mais importantes núcleos urbanos e dinâmicos do País. 2 Crescimento do setor agropecuário no Estado

Nos últimos anos, a agropecuária tem tido um papel importante na geração de divisas externas. A soja é responsável por 84,84% das exportações do Estado, o algodão responde por 53% da produção nacional, e o rebanho bovino, da ordem de 25,0 milhões de cabeças (INDEA, 2005), possui uma alta competitividade. O setor agropecuário colocou Mato Grosso, em 2001, na décima posição entre os Estados que mais exportaram, com 2,65% do total exportado pelo Brasil (SEPLAN, 2003). O Valor Adicionado deste setor respondeu, naquele ano, por 30% da formação do PIB estadual, contra 7%

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na formação do PIB nacional (IBGE, 2005). Apesar da pujança agropecuária local, o PIB mato-grossense participou com apenas 1,02 % do PIB nacional (SEPLAN, 2003). A notável expansão agrícola e da pecuária mato-grossense deu-se graças a investimentos significativos no manejo adequado do solo, na qualidade das pastagens e em melhorias genéticas. Entre os principais produtos estão bovinos, suínos, aves, peixes, soja, algodão, arroz, milho, cana-de-açúcar, a atividade extrativa da madeira em tora, a produção de lenha e, em menor escala, uma cadeia da fruticultura. As Tabelas 1, 2, 3 e 4 mostram a evolução de alguns dos principais produtos agrícolas no Estado.

Tabela 1: Área e produção da cultura do algodão herbáceo (em caroço), em MT/1995-2001

Tabela 2: Área e produção da cultura de arroz (em casca), em MT/1995-2001

Ano/Safra Área(ha) Produção(t) Ano/Safra Área (ha) Produção(t)

1995 69.390 87.458 1995 417.074 762.327

1996 55.075 73.553 1996 429.086 721.793

1997 42.259 78.376 1997 355.231 694.904

1998 106.483 271.038 1998 364.148 776.502

1999 200.182 630.406 1999 726.682 1.727.339

2000 257.762 1.002.836 2000 698.518 1.851.517

2001 412.315 1.525.376 2001 450.413 1.151.816

Fonte: IBGE, 2005 Fonte: IBGE, 200

Tabela 3: Área e produção da cultura da soja (em grão), em MT/1995-2001

Ano/Safra Área (ha) Produção (t)

1995 2.322.825 5.491.426

1996 1.956.148 5.032.921

1997 2.192.514 6.060.882

1998 2.643.389 7.228.052

1999 2.635.010 7.473.028

2000 2.906.448 8.774.470

2001 3.121.353 9.533.286

Tabela 4: Área e produção da cultura de cana-de-açúcar, em MT/1995-2001

Ano/Safra Área (ha) Produção (t)

1995 98.906 6.944.989

1996 118.506 8.462.490

1997 133.950 9.988.027

1998 136.462 9.871.489

1999 142.747 10.378.088

2000 135.029 8.470.098

2001 166.510 11.117.894 Fonte: IBGE, 2005 Fonte: IBGE, 2005

Conforme indicado na Tabelas 5, este setor da economia mato-grossense apresentou um crescimento econômico (16,1% a.a.) muito acima da média nacional (1,8% a.a.) no período analisado (1995/2002).

Tabela 5: Evolução, de 1995 a 2002, dos valores adicionados brutos, a preços básicos constantes de 2002*, do setor agropecuário - Mato Grosso e Brasil – Un: milhão R$

Setor \ Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 T.M.C. % Agropecuário – MT 1.747,3 1.909,0 2.301,7 2.636,7 3.307,6 3.840,2 4.215,1 4.959,9 16,1 Agropecuário- Brasil 93.021,2 88.949,2 88.278,9 91.571,0 90.309,8 92.623,3 98.358,6 104.907,5 1,8

T.M.C. Taxa Média de Crescimento ao ano - 1995-2002 *Utilizou-se o deflator implícito do PIB Fonte: Elaboração própria mediante dados da SEPLAN/MT e IBGE

3 Consumo dos principais energéticos do setor agropecuário mato-

grossense Um forte crescimento no consumo de óleo diesel (10,1% a.a.) evidencia a expansão do setor agropecuário mato-grossense, envolvendo um maior grau de mecanização, inclusive com máquinas de grande porte para preparo da terra. Mato Grosso liderou as compras, em 2003, com 54% do total do Centro-Oeste, de cultivadores motorizados, tratores de rodas e de esteiras,

3

colheitadeiras e retroescavadeiras (ANFAVEA, 2005). A expansão setorial tem sido acompanhada, também, de um grande aumento do consumo de eletricidade (21,9% a.a.), possibilitado pela penetração das redes de distribuição no meio rural e impulsionado pelo uso crescente de processos elétricos (sobretudo para força motriz) no campo e pelo aumento de áreas irrigadas. O óleo combustível, para calor de processo, vem tendo uma participação média ínfima, de 0,03%, no período. A Tabela 6 mostra a evolução, de 1995 a 2003, do consumo das principais fontes de energia no setor agropecuário do Estado. Tabela 6: Consumo dos principais energéticos no setor agropecuário de Mato Grosso, de 1995 a

2003 – Unidades: tEP e %

Fontes 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

103 tEP 240,3 231,6 243,7 271,4 310,6 341,4 368,4 412,6 518,8 Óleo diesel

% 93,1 91,1 90,6 88,7 88,6 86,7 87,3 86,2 85,7 103 tEP - - - - - 0,1 0,4 0,2 0,2 Óleo

combustível % - - - - - 0,0 0,1 0,1 0,0 103 tEP 17,7 22,7 25,3 34,6 40,1 52,4 53,3 65,5 86,3

Eletricidade % 6,9 8,9 9,4 11,3 11,4 13,3 12,6 13,7 14,3

103 tEP 258,0 254,3 269,0 306,0 350,7 393,9 422,1 478,3 605,3 Total % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: SICME, 2004 4 Escolha do modelo de projeção da demanda energética e evolução

histórica das variáveis envolvidas 4.1 A escolha do modelo Os modelos mistos de projeção da demanda energética permitem a simulação de rupturas dos padrões históricos da demanda a ser projetada, por conta de mudanças estruturais na economia, novas políticas tecnológicas, energéticas ou ambientais, etc., ao mesmo tempo em que requerem que se analisem estes padrões históricos, detectando-se as tendências existentes e, eventualmente, ajustando regressões econométricas aos dados históricos disponíveis. As tendências detectadas, ou as regressões obtidas, servem, então, como referências, ou balizadores, para a simulação das eventuais rupturas acima mencionadas. Este tipo de modelo permite ter as principais vantagens dos modelos econométricos e dos modelos de simulação, sem carregar os ônus de suas desvantagens (BAJAY, 2005). O modelo de projeção baseado na decomposição estrutural da demanda energética, escolhido para realizar as projeções de demanda, pode ser usado como um modelo misto e ele foi usado como tal neste trabalho. Como se deseja, neste trabalho, que as projeções da demanda energética para o Estado de Mato Grosso tenham como balizadores cenários de desenvolvimento de âmbito nacional, é essencial que a metodologia adotada para projeção da demanda permita facilmente tal associação. O modelo de projeção baseado na decomposição estrutural da demanda energética é bastante flexível e atende perfeitamente a este requisito. O consumo total de energia do setor agropecuário pode ser determinado a partir da seguinte expressão básica:

PIBPIB

VA

VA

CECE agr

agr

agragr ..= (4.1)

onde: CEagr é o consumo energético total do setor agropecuário; VAagr é o valor agregado do setor agropecuário; e PIB é o Produto Interno Bruto.

4

Na expressão acima, a razão entre o consumo energético e o valor agregado do setor

agropecuário ( )agragr VACE / representa a intensidade energética deste setor. A razão entre o

valor agregado e o Produto Interno Bruto ( )PIBVAagr / representa a participação do setor

agropecuário na formação do PIB. O consumo de energéticos (CE) pode ser desagregado por fontes (eletricidade, GLP, gás canalizado e lenha) e/ou por usos finais (iluminação, cocção, conforto térmico, aquecimento de água, etc.). A participação relativa de cada energético em um determinado período é influenciada pela disponibilidade de cada energético, flexibilidade de utilização de diferentes energéticos para um determinado equipamento de uso final, incentivos fiscais ou creditícios para a substituição de equipamentos que utilizem tecnologias diferentes para um mesmo uso final, preços relativos entre os energéticos substitutos e renda da população. Políticas públicas, como a da busca de universalização da energia elétrica, também podem afetar de forma significativa a estrutura de consumo de uma dada região, na medida em que, a partir do momento que se disponibiliza um dado energético, estimula-se os consumidores a adquirirem diversos equipamentos que o utilizem. 4.2 Evolução do valor adicionado do setor agropecuário de Mato Grosso O setor agropecuário foi o mais dinâmico da economia no relativamente curto período de tempo analisado na Figura 1, quase duplicando, em apenas oito anos, a sua participação na formação do PIB estadual.

Figura 1: Participação do valor adicionado do setor agropecuário no PIB estadual, 1995-2002

4.3 Evolução das Intensidades Energéticas do Setor Agropecuário Mato-

grossense O forte crescimento do valor adicionado do setor agropecuário no Estado no período de 1995 a 2002 (dados disponíveis), bem maior do que o crescimento do consumo energético total deste setor, fez com que sua intensidade energética total decrescesse significativamente (50% no período), conforme indicado na Tabela 7. 4.4 Evolução da participação relativa dos principais energéticos no setor

agropecuário mato-grossense Os principais energéticos consumidos no setor agropecuário no Estado de Mato Grosso são o óleo diesel e a eletricidade; os demais energéticos consumidos neste setor têm uma participação insignificante. A Tabela 8 mostra a evolução histórica da participação destes energéticos no consumo total do setor. Pode-se observar uma queda suave, mas contínua, na participação relativa do óleo diesel, que, no entanto, ainda corresponde a 85,7% do consumo energético total

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Ano

%

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do setor em 2003, com um aumento simétrico na participação da energia elétrica. Programas de eletrificação rural no Estado e um uso mais intenso de irrigação com bombas elétricas e de equipamentos eletro-rurais explicam este comportamento.

Tabela 7: A evolução da intensidade energética do setor agropecuário de Mato Grosso, de 1995 a 2002

Ano/Setor Agropecuário

1995 0,15

1996 0,13

1997 0,12

1998 0,12

1999 0,11

2000 0,10

2001 0,10

2002 0,09 Fonte: Elaboração própria com dados da SICME, 2004 e SEPLAN/MT,2004

Tabela 8: Participação relativa dos principais energéticos no consumo energético total do setor agropecuário de Mato Grosso,

de 1995 a 2003 – Unidade: %

Energéticos Ano

Óleo Diesel Eletricidade

1995 93,1 6,9

1996 91,1 8,9

1997 90,6 9,4

1998 88,7 11,3

1999 88,6 11,4

2000 86,7 13,3

2001 87,3 12,7

2002 86,2 13,8

2003 85,7 14,3 Fonte: Elaboração própria, com dados da SICME, 2004

5 Cenários alternativos de evolução para a economia e para a matriz

energética do Estado, com destaque para o setor agropecuário, vis -à-vis cenários nacionais

Neste trabalho, a construção de cenários alternativos para o Estado de Mato Grosso está baseada em: • análises retrospectivas da evolução da estrutura socioeconômica de Mato Grosso e de sua

matriz energética; • análise das perspectivas de crescimento da economia e das oportunidades de avanços na

matriz energética mato-grossense, que envolveu uma consulta a especialistas (DORILEO, 2006), sobre o mercado de gás natural, energia oriunda da biomassa, geração distribuída e programas de eficiência energética e de redução de impactos ambientais;

• cenários e projeções da matriz energética nacional, utilizados nos últimos: (i) plano decenal do setor elétrico; (ii) plano estratégico da Petrobrás; (iii) cenários da matriz energética nacional; (iv) projeções de longo prazo do Department of Energy, do governo americano; e (v) projeções de longo prazo da International Energy Agency.

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Definiram-se três cenários alternativos para o crescimento do PIB estadual, associados a cenários nacionais correspondentes – cenários de baixo, médio e alto crescimento. As Tabelas 9 e 10 mostram as taxas de crescimento do PIB assumidas nestes cenários.

Tabela 9: Cenários de crescimento nacionais

Cenários PIB: Taxa média de crescimento nos próximos 10 anos

Baixo crescimento 3,0%

Médio crescimento 4,0%

Alto crescimento 5,0%

Tabela 10: Cenários de crescimento estaduais

Cenários PIB: Taxa média de crescimento nos próximos 10 anos

Baixo crescimento 3,6%

Médio crescimento 5,0%

Alto crescimento 6,0% 5.1 Projeções dos valores adicionados do setor agropecuário nos cenários de

baixo, médio e alto crescimento da economia O bom desempenho do setor agropecuário de Mato Grosso tem sido favorecido pela modernização e ampliação da área cultivada das lavouras de soja, algodão e arroz, cuja produção continuará, em sua maioria absoluta, sendo beneficiada ou processada fora de suas fronteiras, ou seja, a industrialização da agricultura mato-grossense ater-se-á, exclusivamente, ao consumo de insumos e maquinarias, ainda que já tenha sido delineada uma nova configuração do padrão tecnológico e do manejo científico de recursos biológicos na agricultura e na pecuária do Estado (PEREIRA, 1995). Assume-se, neste trabalho, que os outros setores da economia terão um desempenho muito melhor que o atual nos cenários de médio e alto crescimento do PIB do Estado, “ofuscando” o crescimento do setor agropecuário. A evolução, até 2012, das séries de valores adicionados deste último setor nos três cenários está indicada na Tabela 11. Tabela 11: Evolução assumida, até 2012, para os valores adicionados brutos do setor

agropecuário de Mato Grosso nos cenários de baixo, médio e alto crescimento do PIB – Unidade: Milhão R$

Ano Baixo crescimento do PIB Médio crescimento do PIB Alto crescimento do PIB

2003 5.422,5 5280,0 5302,5

2004 5760,4 5660,1 5678,3

2005 6392,7 6033,9 6080,7

2006 7005,7 6441,6 6503,6

2007 7595,0 6875,1 6973,1

2008 8.238,2 7325,1 7452,2

2009 8.832,7 7832,5 7996,4

2010 9.547,6 8346,9 8563,1

2011 10.279,7 8918,9 9169,9

2012 11.075,7 9504,3 9819,8

5.2 Projeção da intensidade energética A tendência da intensidade energética no setor agropecuário do Estado foi obtida, inicialmente, através de regressões lineares simples, com os dados da Tabela 7, resultantes da análise retrospectiva. Como a série histórica é curta e as transformações ocorridas neste setor recentemente foram muito fortes, decidiu-se buscar alguns subsídios adicionais através da analise das intensidades energéticas deste setor em outros Estados . Examinando as intensidades energéticas do setor agropecuário nos Estados da Bahia - 0,050 tEP/ mil R$ em 2003, ano-base 2003 (CARVALHO, 2005) e de São Paulo - 0,279 tEP/mil R$ em 2002, ano-base 2002 (NIPE, 2005), observa-se que são setores opostos em termos de mecanização intensiva. O setor agropecuário mato-grossense tem uma mecanização maior que o da Bahia e menor que a de São Paulo. Com base nesta análise e no comportamento da intensidade energética nos três últimos anos da série (2000 a 2002), que refletem o crescimento

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esperado para o período de projeção, assumiu-se o valor de 0,10 tEP/mil R$ para todo este período, conforme indicado na Figura 2.

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012Ano

tEP

/mil

R$

IE projetada IE observada

Figura 2: Projeção da intensidade energética total do setor agropecuário

5.3 Projeções das participações de energéticos no setor agropecuário Com base nas análises feitas nas seções 2 e 3 e nos resultados da consulta a especialistas, assumiu-se as evoluções futuras indicadas na Figura 3 para as participações do óleo diesel e da eletricidade no consumo total de energia do setor agropecuário.

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Ano

%

Projeção Óleo diesel Óleo diesel Projeção Eletricidade Eletricidade

Figura 3: Histórico disponível e evolução assumida para a participação dos energéticos

consumidos no setor agropecuário Embora a expansão do consumo de óleo diesel tenha sido acentuada no período 1995-2003, a participação relativa deste combustível tem apresentado queda, enquanto a da eletricidade tem aumentado, conforme ilustrado na Figura 3. Prevêem-se investimentos maiores, no futuro, na modernização do setor, com uma participação crescente da eletricidade e uma eficiência maior nos usos finais que utilizam o óleo diesel. 6 Projeções da demanda energética

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De acordo com a Tabela 6, o setor agropecuário do Mato Grosso tem apresentado, historicamente, uma forte elevação de seu consumo energético, quase que exclusivamente de óleo diesel e eletricidade. O cenário de baixo crescimento da economia preconiza, para o setor, uma manutenção dos seus parâmetros de crescimento, principalmente em função dos produtos de exportação (alto valor unitário do produto e crescente participação no produto total), com elevação do consumo de energia, que atingirá quase um milhão, cento e dez mil tEP em 2012. A Figura 4 mostra a evolução, histórica e projetada, do consumo dos energéticos no setor agropecuário.

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Ano

10³ t

EP

Óleo Diesel Eletricidade Óleo Diesel - Observado Eletricidade - Observado Figura 4: Evolução da demanda de óleo diesel e de eletricidade no setor agropecuário de Mato

Grosso – valores observados e projeções do cenário de baixo crescimento do PIB O cenário de médio crescimento da economia prevê uma pequena diminuição na participação do valor adicionado do setor agropecuário, com um comportamento mais uniforme, a exemplo dos desempenhos do mesmo setor em outros Estados mais desenvolvidos. Neste cenário, o consumo de energia será, no último ano da série, 14,2% menor do que no cenário anterior, conforme indicado na Figura 5.

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Ano

10³ t

EP

Óleo Diesel Eletricidade Óleo Diesel - Observado Eletricidade - Observado Figura 5: Evolução da demanda de óleo diesel e de eletricidade no setor agropecuário de Mato

Grosso – valores observados e projeções do cenário de médio crescimento do PIB O cenário de alto crescimento da economia guarda similaridade com o cenário de médio crescimento quanto à evolução do setor. Neste cenário atenta-se mais para os níveis de produtividade, para as técnicas agro-florestais empregadas e sobre como está ocorrendo a expansão da fronteira agrícola, envolvendo parcerias entre o governo e os empresários na busca

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de um modelo de desenvolvimento sustentável para o setor agropecuário (TOLMASQUIM e SZKLO, 2000). Deste modo, neste cenário, também, as projeções do consumo de energia são menores em comparação com o cenário de baixo crescimento do PIB, atingindo, no ano de 2012, o valor de quase um milhão de tEP, conforme mostrado na Figura 6. As projeções, no entanto, são mais elevadas do que as do cenário de médio crescimento da economia.

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Óleo Diesel Eletricidade Óleo Diesel - Observado Eletricidade - Observado Figura 6: Evolução da demanda de óleo diesel e de eletricidade no setor agropecuário de Mato

Grosso – valores observados e projeções do cenário de alto cresciment o do PIB A Figura 7 mostra as projeções da demanda energética total do setor agropecuário no Estado, nos três cenários considerados neste trabalho.

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Ano

10³ t

EP

Cenário de Baixo Crescimento Cenário de Médio CrescimentoCenário de Alto Crescimento Consumo Observado

Figura 7: Projeções da demanda energética total do setor agropecuário de Mato Grosso nos três

cenários

7 Conclusão

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Este trabalho analisa a matriz energética do setor agropecuário do Estado de Mato Grosso, através de seus principais determinantes socioeconômicos, valendo-se de um diagnóstico setorial e da simulação de cenários macroeconômicos. Aplicou-se um modelo flexível e eficaz de projeção da demanda energética para o setor, tomando como ano-base o ano de 2002 e, como horizonte de análise, o ano de 2012. Os resultados obtidos refletem não só a visão dos autores quanto às evoluções possíveis para a demanda energética setorial, função das hipóteses assumidas para as variáveis econômicas e energéticas do modelo de projeção adotado, como, também, eles refletem as valiosas informações obtidas na consulta a especialistas no Estado (DORILEO, 2006), sobre o mercado de gás natural, energia oriunda da biomassa, geração distribuída e programas de eficiência energética e de redução de impactos ambientais. Palavras-chave: Planejamento energético regional, projeção da demanda energética, consumo de energia no setor agropecuário 8 REFERÊNCIAS ANFAVEA, Estatísticas de vendas de veículos automotores. Disponível em <www.anfavea.com.br>. Acesso em 04 de Julho de 2005. BAJAY, Sérgio Valdir, Planejamento da expansão de sistemas energéticos: tipos de modelos, suas vantagens relativas e a atual competência para desenvolvê-los no Brasil. Relatório do Projeto BRA/01/039 – Apoio à Reestruturação do Setor Energético, Contrato 2003/000971, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Brasília, 2004. CARVALHO, Cláudio Bezerra de, Avaliação Crítica do Planejamento Energético de Longo Prazo no Brasil, com Ênfase no Tratamento das Incertezas e Descentralização do Processo, tese de doutorado em planejamento de sistemas energéticos, FEM / Unicamp, Campinas, 2005. DORILEO, Ivo Leandro. A Matriz Energética de Mato Grosso – Análise e Prospecção, dissertação de mestrado em planejamento de sistemas energéticos, FEM / Unicamp, Campinas, 2006. IBGE, Cadastro e Classificações Econômicas, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em <www.ibge.gov.br>. Acesso em 02 de Abril de 2005. NIPE, Novas Abordagens Metodológicas nos Estutos de Mercado a Curto, Médio e Longo Prazos, Relatório preliminar de Projeto de P&D para a CPFL, Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético, Unicamp, 2005.

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