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Programa de Desenvolvimento Educacional – SEED IES: Universidade Federal do Paraná Elaboração de Material Didático. Orientadora: Drª. Maria Auxiliadora Schmidt Professor PDE: Jair Fernandes dos Santos Autores: Jair Fernandes dos Santos e Maria Auxiliadora Schmidt Fevereiro de 2008

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Programa de Desenvolvimento Educacional – SEED

IES: Universidade Federal do Paraná

Elaboração de Material Didático.

Orientadora: Drª. Maria Auxiliadora Schmidt

Professor PDE: Jair Fernandes dos Santos

Autores: Jair Fernandes dos Santos e Maria Auxiliadora Schmidt

Fevereiro de 2008

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A revolta dos posseiros, através do filme documentário “1957 – a conquista do Sudoeste”

I. Aprender história com os documentos

O estudo de História mantém ligados por laços fortes dois pontos

inseparáveis: conhecer o passado e o método de se chegar a ele. Ou seja, conhecer

e experienciar como se faz para desvendar os acontecimentos do passado é tão

importante para todo estudante, criança, adolescente ou jovem do Ensino

Fundamental e Médio, quanto conhecer o ponto de vista de um determinado

historiador, sobre os fatos considerados históricos pela tradição do ensino e da

pesquisa. Cada vez mais essa compreensão está sendo consolidada pela ciência

histórica e pela prática do ensino da disciplina.

Trata-se de compreender que a importância do estudo de História não é

conhecer todos os acontecimentos do mundo no passado, até porque isso é

impossível. A importância maior do conhecimento histórico é desenvolver no sujeito

uma orientação temporal, que pode ser traduzida na capacidade de “relacionar os

sentidos do passado com as suas próprias atitudes perante o presente e a projeção

do futuro” (BARCA, 2004, p. 134-135).

Essa perspectiva significa a transposição do processo de pesquisa em

História, para a aprendizagem. É reconhecer o aluno como sujeito que age sobre

seu aprendizado, não só recebe conhecimentos. O jovem estudante participa da

construção do mundo e do conhecimento. O ensino assim pensado requer entre

outros pressupostos o uso do documento histórico para o estudo da História.

Cabe ainda pontuar que nessa perspectiva de Educação Histórica, o

documento não é visto como prova do real (do passado), tão pouco é tomado como

mera ilustração do discurso do texto didático. O uso do documento histórico em aula

é visto na sua dimensão de evidência histórica, pela qual o estudante precisa

aprender a fazer perguntas.

O conteúdo histórico deste material didático “A Revolta dos Posseiros em

1957”, será estudado utilizando como documento básico o filme “1957 – A Conquista

do Sudoeste”. Os filmes históricos, documentários ou não, podem ser utilizados nas

aulas de História, mas, a exemplo de todas as demais formas de documentos

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históricos, eles não podem ser vistos como prova do passado, nem como uma

descrição fiel do que aconteceu. O estudante precisa lembrar que o filme é a forma

como os realizadores (profissionais que fazem um filme: direção, roteiro, montagem)

contaram aquela história. É necessário aprender a fazer perguntas sobre os filmes

também, principalmente sobre a época vivida pelos realizadores, mas não só isso.

Percebe-se assim, que os materiais a serem utilizados como documentos na

aprendizagem de História possuem conceito amplo. De acordo com as Diretrizes

Curriculares de História para a Educação Básica, da Educação Pública do Estado do

Paraná: “as imagens, livros, jornais, histórias em quadrinhos, fotografias, pinturas,

gravuras, museus, filmes, músicas são documentos que podem ser transformados

em materiais didáticos de grande valia na constituição do conhecimento histórico”

(PARANÁ, 2006, p. 52). Ressalte-se que a palavra documento ao abarcar uma

gama tão variada da produção cultural humana suscita, pelo menos, duas

interpretações: os materiais produzidos com a intenção didática ou com objetivo de

“comunicar conteúdos ou informações sobre determinadas disciplinas”; outro tipo é

constituído pelos “fragmentos ou indícios de situações já vividas” (SCHMIDT e

CAINELLI, 2004, p. 90).

A escolha de uma temática da História do Paraná para ser estudada a partir

de um filme documentário atende, antes de tudo, à preocupação do uso do

documento como método de estudo. O filme será tratado, então, como um tipo entre

as várias formas em que se apresentam os documentos históricos.

Nos filmes e em outros programas midiáticos há uma exposição tão intensa

de fatos ou acontecimentos, do presente e do passado, que parece compor a

“realidade” das pessoas. “Por isso se faz cada vez mais necessária uma educação

em torno do mundo da imagem que desenvolva a capacidade crítica do adolescente-

espectador. Ensinar/aprender a olhar uma imagem, decodificá-la, é tão importante

como saber ler e entender um texto escrito” (GAYA, 1997, p. 109-110).

A utilização do filme durante as aulas tem também a possibilidade de

promover empatia de quem estuda, com a temática estudada, além de favorecer

uma aprendizagem mais significativa.

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1. ATIVIDADES PARA O ALUNO

a) Registre sua opinião em seu caderno sobre:

o Meios através dos quais você acredita que se pode aprender História.

o O significado de documento histórico.

b) Após assistir um filme que trata de uma temática histórica qualquer, escreva o

que você faria se desejasse diferenciar conteúdos históricos dos ficcionais

(contidos no mesmo filme)?

II. Preparando-se para aprender com o filme documentário

O filme indicado neste material didático para estudo da temática da Revolta

dos Posseiros ocorrida em 1957, no Sudoeste do Paraná, é do gênero chamado

“documentário”.

“O termo documentário é geralmente usado para designar um filme com

caráter de documento” (PENAFRIA, 1999, p. 19), mas já foi visto anteriormente que

todos os materiais produtos da cultura humana, todos os indícios ou vestígios do

passado são considerados documentos históricos. Nesse sentido amplo, os filmes

de ficção podem servir de documento histórico também, porque são “vestígios de

alguém, algo, algum tempo e/ou algum lugar; contêm a marca da época em que

foram realizados” (PENAFRIA, 199, p. 21).

Com base em Manuela Penafria (1999, p. 19 a 34) documentário, neste material

didático, será chamado ao filme com as seguintes características:

a) É um filme de não-ficção;

b) As imagens são feitas em ambiente existente no mundo real, fora do filme,

não são criadas em estúdio;

c) As pessoas que aparecem no filme não representam outras, falam de si

mesmas ou de acontecimentos que viram, participaram ou tomaram

conhecimento;

d) É diferente de uma reportagem; não se restringe nem se prende aos assuntos

do momento de sua produção;

e) Não é efêmero.

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f) O objetivo do documentário não é mostrar o óbvio, mas fazer ver um ponto de

vista em relação ao tema;

g) Tem a qualidade de fazer o espectador ver algo do seu próprio mundo

cotidiano, mas que ele não percebe;

h) Não mostra tudo sobre um tema, mas algum/alguns aspecto/s dele.

III. Considerar os conhecimentos prévios do aluno

O professor reconhecer o aluno como sujeito capaz de participar da

construção do mundo e do conhecimento implica entender que ele já possui idéias

sobre os temas a serem estudados na escola, antes deles serem abordados em

aula. Essas idéias históricas prévias do aluno são mais ou menos fragmentadas, às

vezes confusas, mas é a partir delas e sobre elas que o aluno constrói novos

significados ao estudar um tema determinado (BARCA, 2006, p.31). Em vistas disso

o professor deve “levantar e trabalhar de forma diferenciada as idéias iniciais que os

alunos manifestam tacitamente, tendo em atenção que estas idéias prévias podem

ser mais vagas ou mais precisas mais alternativas à ciência ou mais consetâneas

com esta”. O professor deve ainda considerar que “os conceitos históricos são

compreendidos gradualmente, a partir da relação com os conceitos de senso comum

que o sujeito experiencia” (BARCA, 2004, p. 136 e 139). Muito do que os alunos

aprendem (ou pensam aprender) sobre história, fora da sala de aula, é através dos

filmes e de outros meios de comunicação de massa que ocorre esse aprendizado.

Tudo isso deve ser levado em conta quando o professor organiza suas aulas.

2. ATIVIDADES PARA O ALUNO

VERIFICAR OS CONHECIMENTOS PRÉVIOS

No DOCUMENTÁRIO* e nos outros documentos que serão analisados por

você neste material didático, aparecerão com freqüência as palavras posseiros e

colonos. Antes de analisar os conteúdos dos documentos complete as figuras

seguintes, apenas com palavras (ou frases curtas) que você supõe ter alguma

relação com os conceitos de posseiros e colonos, respectivamente:

* Deste ponto em diante toda vez que aparecer a palavra DOCUMENTÁRIO, escrita com maiúsculas, será uma referência ao filme/documentário “1957: A conquista do Sudoeste”.

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IV. Cruzando fontes, comparando documentos

3. ATIVIDADES PARA O ALUNO

Após ter a assistido ao DOCUMENTÁRIO:

a) O primeiro trabalho que você deve fazer sobre o filme é anotar em seu

caderno as seguintes informações:

o Quem são os realizadores:

. .

.

COLONOS

.

. .

.

POSSEIROS

.

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o Que acontecimentos ocorriam na época da produção do filme (2007) *, que

pode haver alguma relação com a temática abordada nele, ou influenciado

seus realizadores.

o Quem patrocinou o filme

b) Outras informações que você e seu/sua professor/a julgarem relevantes

(ainda sobre aspectos que não são do conteúdo – da narrativa – do filme)

O documentário “1957: A Conquista do Sudoeste” trata de uma série de

acontecimentos que ficaram conhecidos como “Revolta dos Posseiros” ou o

“Levante de 1957”. Esses acontecimentos ganharam destaque nos jornais.

As notícias de jornal são importantes fontes históricas, mas a exemplo dos

outros documentos, não podem ser adotadas como prova fiel do passado.

Desvendar os acontecimentos do passado é um trabalho de investigação que exige

comparar os vários tipos de indícios ou vestígios.

O estudo de história precisa cruzar as fontes, ou seja, comparar um

documento com outro. Comparar, por exemplo, depoimentos de pessoas que

viveram os acontecimentos, com as notícias de jornais (quando existem) e outras

fontes.

Deve-se considerar que os conteúdos dos jornais e da imprensa em geral não

são neutros, eles podem revelar influências como das opiniões do jornalista que

escreve, de quem decide quais reportagens publicar ou não, dos anunciantes e

outras influências possíveis. Em relação à Revolta dos Posseiros, por exemplo, na

época dos acontecimentos, jornais diferentes trataram do assunto de formas

divergentes ou até opostas. Quando algum jornal deixa de noticiar um assunto

relevante, isso também revela uma escolha motivada por interesses materiais e

ideológicos.

Os jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, no dia 14 de outubro de

1957, fizeram uma publicação extra e conjunta, exclusivamente sobre os

acontecimentos no Sudoeste. Uma das matérias dessa edição extra, na página 4,

trazia o seguinte título: “4 mil armas governam Francisco Beltrão”.

* Ao dizer 2007, não significa apenas o referido ano, mas a época. Isto significa pensar nas questões sociais de toda uma década e mesmo da década anterior.

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FRANCISCO BELTRÃO, 13. De Geraldo Russi e Oswaldo Jansen, enviados especiais de “O Estado” e “Tribuna”.

O município de Francisco Beltrão, passou a ser o novo centro das atenções que se voltam desde há muito para a região conflagrada do discutido sudoeste paranaense. Tal como aconteceu em outras cidades, onde o povo não se conformou com a privilegiada situação das companhias de terras, a população se organizou, arregimentando-se, para de armas em punho, fazer de suas próprias iniciativas, as providências que julgavam necessárias. (...) TOMADA A CIDADE A reportagem de “O Estado” e “Tribuna” alcançou esta cidade, às 16 horas de ontem. A esse tempo, exatamente, o movimento revolucionário popular atingia o seu ponto culminante pois Francisco Beltrão estava passando a ser comandada por seus próprios habitantes. O movimento, cujos preparativos vinham de dias, se iniciou efetivamente às 11 horas da manhã de ontem (sábado), quando grupos, armados de facas, revólveres, carabinas, facões, garruchas, espingardas, e inclusive armas improvisadas, deixavam os seus redutos e formavam o grande batalhão que se decidiu a lutar, pela posse de mando do município. RUMO A CIA DE TERRAS Em verdadeira marcha de guerra, 4 mil homens rumaram para as instalações onde vinham funcionando os escritórios da CITLA*, em pleno centro da cidade. Ali os revoltos destruíram tudo o que encontraram, rasgando documentos (...) As ruas da cidade ficaram entapetadas pelos papéis que os revoltosos, após rasgarem, jogavam para o ar. Em pouco tempo as instalações da CITLA estavam reduzidas a nada, como vítimas da fúria dos populares. (...) REFUGIADAS AS AUTORIDADES As primeiras horas da tarde, já nenhuma autoridade mais se encontrava na cidade. Desapareceram do município além do prefeito e do delegado, o promotor Ismael Stival e o Juiz de Direito, Dr. Miguel Pecuch. (...) NOVO PREFEITO Assumindo o comando do município, a população, reunida na rádio local e na praça principal onde a mesma está situada, indicou o novo prefeito. A nomeação recaiu na pessoa do Sr. Roberto Grande, elemento de confiança dos revoltosos. E às 15 horas a cidade já tinha novo prefeito. PRISÃO DE JAGUNÇOS No seu movimento revolucionário a população prendeu quatro jagunços. Seguindo o caminho de tantos outros, os mesmos tentavam fugir, quando tiveram seus passos cercados por populares. Embora não houvessem sido molestados, foram os quatro conduzidos à cadeia, ficando encarcerados. (...) EXPULSÕES Quando o movimento popular começou a se agigantar, mais de cem funcionários da companhia foram expulsos de Francisco Beltrão. (...)

4. ATIVIDADES PARA O ALUNO

Entre os dias 9 e 12 de outubro de 1957, os posseiros assumiram o controle

das cidades de Pato Branco, Francisco Beltrão, Santo Antônio, Capanema e

Barracão.

* Sigla de Clevelândia Industrial Territorial Ltda.

DOC.1

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O controle de Francisco Beltrão pelo movimento pode ter havido significado

especial, porque naquela cidade estava localizado o escritório central da CITLA.

Alguns episódios da tomada de Francisco Beltrão são narrados tanto no

DOCUMENTÁRIO, quanto no DOC.1. Destaque dois deles e explique como

aparecem num e noutro documento. Ou seja, copie na primeira coluna a parte do

texto do DOC.1 relativo ao episódio que você destacar, na segunda coluna descreva

como o mesmo episódio aparece no DOCUMENTÁRIO.

NO DOC.1 NO FILME/DOCUMENTÁRIO

1

2

Um dos depoimentos constantes no DOCUMENTÁRIO é do historiador Sittilo

Voltolini. No seu depoimento ele fala de como a CITLA (Clevelândia Industrial

Territorial Ltda) adquiriu as terras do Sudoeste do Paraná, nas quais viviam 32 mil

famílias de posseiros.

Essa área, já foi falado que tinha mais ou mentos 470 mil

hectares. E esses 470 mil hectares a CITLA os comprou do Governo Federal por 4 milhões e 720 mil cruzeiros. Por quê? Porque Mario Fontana que era gerente dessa

empresa, dessa CITLA, era portador de uma carta de crédito, junto ao Governo Federal, com essa quantia e quando chegou, ao governo Federal, para cobrar essa

DEPOIMENTO 1 DOCUMENTÁRIO

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quantia, Mario Fontana, que era gerente da CITLA, propôs essa permuta pela carta de crédito por essa Gleba Missões. Naturalmente era uma proposta indecorosa. E aí foi feito, então, o registro da escritura, e Mário Fontana, a CITLA, simplesmente se apossou dessa área que estava sendo disputada por tanta gente. E acontece que em cima desta área havia outro pretendente que era o legítimo, vamos dizer, dono quase da área, que era o posseiro. E não eram poucos não. Eram 32 mil famílias que existiam dentro dessa área já... assentados, alguns pelo próprio Governo Federal, através de um projeto que Getúlio Vargas tinha criado para poder desafogar, um pouquinho, a demografia intensa do Rio Grande do Sul, e ocupar as Regiões Sudoeste do Paraná e Oeste do Paraná, que foi o projeto conhecido como o projeto da CANGO, Colônia [Agrícola] Nacional General Ozório.

Durante o ano de 1957, quando as agressões aos posseiros do Sudoeste se

intensificaram, parlamentares fizeram discursos sobre o assunto na Assembléia

Legislativa do Paraná e no Congresso Nacional. É possível encontrar alguns desses

discursos transcristos nos jornais da época e nas pesquisas dos historiadores que

estudaram aquele período. Havia parlamentares que se declaravam em defesa dos

posseiros. Algumas autoridades do Poder Executivo e representantes da CITLA

acusavam os apoiadores dos posseiros de agitadores da ordem pública ou de

exploração política.

Veja trechos de um discurso do então Senador paranaense Othon Mader,

sobre a aquisição das terras do Sudoeste.

“(...) Segundo uma estimativa feita pelo “Grupo Lupion” nas terras de que se apossou fraudulentamente, e que tem a área de 198.000 alqueires, cerca de quatro vezes o Distrito Federal, a quantidade de

pinheiros ali existentes é de dez milhões (...). Esse patrimônio, que é constituído das glebas ‘Missões’ e ‘Chopim’ foi transferido da União para a CITLA, por escritura fraudulenta (...) O preço pago pela CITLA (Grupo Lupion) foi de 0,2% do valor das glebas. A lesão sofrida pela União em seu patrimônio foi enorme. Tão grande foi, que já não é uma lesão, mas um roubo”. (Citado em: LAZIER, Hermógenes. Análise histórica da posse de terra no sudoeste paranaense. Curitiba, SECE/BPP, 1986, p. 42-43).

5. ATIVIDADES PARA O ALUNO

a) Se você julgar necessário procure e anote os significados das palavras

indecorosa que aparece do DEPOIMENTO 1, e União no contexto do DOC.2.

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DOC. 2

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b) No DEPOIMENTO 1 aparece a frase “era uma proposta indecorosa”. Explique

a que proposta se refere e procure no DOC. 2 argumentos para concordar ou

discordar da afirmação.

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c) Identifique as semelhanças e diferenças entre os textos do DEPOIMENTO 1 e

do DOC. 2

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Depoimento constante no DOCUMENTÁRIO: José Fortunato Merlugo – Agricultor, 94 anos.

Volta e meia aparecia um, dois, lá na Pérola pra enterrar..., que matavam aí pelos matos. E não queriam saber, quem era colono ou pagava ou desocupava. E aí? Com o quê? Só com a vida! Outra coisa ninguém tinha. E a gente tinha família... Agora que foi sofrido foi, naquela época. E não é só um, e nem dois... Entrava mudanças de ... às vezes de 40, 50 por dia. Nesses matos tinham muito colono, e tudo trabalhador. O que vem de lá, do Sul, eles vem para derrubar mato e pra trabalhar. Esses não são gente que especula, ele quer serviço.

Trechos extraídos da obra “Análise histórica da posse de terra no sudoeste paranaense”, do historiador Hermógenes Lazier.

Pelo que foi visto anteriormente a CITLA conseguiu o título da gleba das Missões e parte da gleba Chopim de forma ilegal e imoral. Não resta dúvida que a CITLA organizou um Grilo, era uma grileira. Foi atuando como grileira que a CITLA, em 1950, apareceu na região do Sudoeste do Paraná e começou a tumultuar (...) (LAZIER, 1986, p. 68). Os homens da CITLA forçavam os posseiros a comprar as terras onde moravam. Exigiam do posseiro uma entrada e a assinatura de notas promissórias. (...) Sabedores da ilegalidade de sua ação, os homens da CITLA tinham pressa. Queriam arrecadar a maior quantidade possível de dinheiro no menor tempo. Para

DEPOIMENTO 2 DOCUMENTÁRIO

DOC.3

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isso implantaram o terror. Empregavam bandidos, jagunços para forçar os posseiros a lhes entregar o dinheiro. (LAZIER, 1986, p. 71)

6. ATIVIDADES PARA O ALUNO

a) Depois de ouvir e ler o depoimento do agricultor José Fortunato Merlugo, que

perguntas você ainda faria para ele se estivesse na sua presença?

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b) No depoimento do agricultor José Fortunato Merlugo e no texto de

Hermógenes Lazier, aparecem as palavras colono e posseiro,

respectivamente. Você acredita que nos dois casos referem-se ao mesmo

personagem ou a personagens diferentes? Justifique.

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c) Procure o significado de grileiro/a, e porque é dado esse nome para quem

pratica as ações descritas no DOC.3 (Sugestão de fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Grileiro).

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Edição extra/conjunta de O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná,

14/10/1957, primeira e quarta páginas, respectivamente. Os sinais

esbranquiçados na parte inferior das duas fotos são papéis (documentos) que os

revoltosos retiraram dos escritórios da CITLA, rasgaram e jogaram na rua, formando

um verdadeiro tapete.

DOC.4

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7. ATIVIDADES PARA O ALUNO

Que explicação você dá para os “revoltosos” terem rasgado e jogado os papéis

encontrados nos escritórios da CITLA.

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Edição extra, conjunta, de O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, 14

de outubro de 1957. Primeira página.

DOC. 5

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8. ATIVIDADES PARA O ALUNO

a) Produza uma narrativa histórica, descrevendo a foto do DOC. 5. Nessa

narrativa procure explicar os conceitos de posseiros, colonos, grileiros e

jagunços. Explique também como se deram as relações entre esses

personagens no Sudoeste do Paraná, na década de 1950. Para isso utilize

uma folha separada.

b) Pense em fazer um documentário sobre o mesmo tema, de modo a complementar esse que você assistiu.

o Que perguntas você faria aos mesmos personagens já entrevistados no documentário estudado?

o Que outros tipos de personagens você procuraria para entrevistar? o Quais perguntas você faria aos novos entrevistados. (escreva no caderno)

V. Relação presente passado

Em 30 de março de 2006, em Brasília, 112 religiosos (bispos das Igrejas

Anglicana, Católica e Metodista, pastores sinodais da Igreja Evangélica de

Confissão Luterana no Brasil e membros do conselho Nacional de Igrejas Cristãs –

CONIC) assinaram e divulgaram o documento intitulado “Os pobres possuirão a

Terra” *. Nesse documento expressaram suas preocupações com os problemas

enfrentados pelos trabalhadores do campo brasileiro, “muitos em condições mais

difíceis e precárias que antes e mais excluídos dos bens que a natureza e a

sociedade oferecem”.

OS POBRES POSSUIRÃO A TERRA (Sl 37,11) Pronunciamento de Bispos e Pastores Sinodais sobre a Terra

6 (...) o documento aprovado pela CNBB, em 1980, fez uma importante distinção entre terra de trabalho e terra de exploração. Terra de exploração ou de negócio é a propriedade destinada ao enriquecimento contínuo por meio da exploração dos trabalhadores ou por meio da especulação. Terra de trabalho, pelo contrário, é a terra de quem nela trabalha e vive. O documento ressalta que a responsabilidade pelos crescentes conflitos por causa da terra tem sua origem na expansão da propriedade capitalista da terra de exploração (...).

* Disponível em <http://www.cptnac.com.br/?system=news&action=read&id=1538&eid=3>. Acessado em 21/01/2008.

DOC. 6

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15 (...) Todos os esforços e campanhas feitos para que houvesse mudanças na estrutura fundiária brasileira foram infrutíferos. Às mobilizações da sociedade por reforma agrária os governos responderam com tímidas políticas compensatórias (...).

22 Além disso, a bancada ruralista no Congresso Nacional, formada por parlamentares de diversos partidos, tem servido de instrumento para barrar todo e qualquer avanço da reforma agrária e dos direitos dos trabalhadores do campo. Não se consegue, por exemplo, votar a proposta de emenda constitucional que estabelece a expropriação de propriedades onde se explora mão-de-obra em condições análogas à escravidão. Essa bancada, majoritária na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Terras, rejeitou o relatório final que denunciava a grilagem das terras públicas (...).

31 A ausência de um programa eficaz de reforma agrária mantém e mesmo agrava a estrutura fundiária esboçada desde a época colonial. A concentração de terras, ao invés de diminuir, cresce. Em 1980, ao ser elaborado o documento Igreja e problemas da terra, os dados do Censo Agropecuário de 1975 indicavam que os estabelecimentos rurais com menos de 10 hectares eram 52,3% do total e ocupavam 2,8% da área. Os estabelecimentos com mais de 1.000 hectares eram 0,8% do total e ocupavam 42,6% da área. Em 2003, segundo os dados cadastrais do Incra, o número de imóveis com menos de 10 hectares estava reduzido a 31,6% dos imóveis, ocupando somente 1,8% da área, enquanto o número de imóveis com mais de 1.000 hectares representava 1,6% dos imóveis, que ocupavam 43,8% da área.

(...).

9. ATIVIDADES PARA O ALUNO

a) Para uma melhor visualização da evolução do problema agrário brasileiro,

copie do DOC. 6 os valores necessários para preencher a tabela abaixo.

Evolução da concentração da propriedade

da terra no Brasil (de 1975 a 2003) 1975 2003

Com menos de 10 hectares

Com mais de 1000 hectares

Com menos de 10 hectares

Com mais de 1000 hectares

Percentual de estabelecimentos

Percentual da área ocupada

b) Descreva as permanências e as mudanças que você identifica na história

agrária brasileira, entre a década de 1950 e a década atual, levando em conta

algum ou alguns dos seguintes pontos:

o Dificuldades para os trabalhadores do campo (lavradores) possuir a terra em que trabalham;

o Responsabilidade pelos conflitos por causa da terra; o Empecilhos para a Reforma Agrária;

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o Causas da concentração fundiária o Outros aspectos.

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.................................................. c) Construa uma narrativa, imaginando a situação em que você é um cineasta:

Escreva um roteiro para um filme sobre os conflitos agrários no Brasil (em

uma folha separada ou no caderno).

REFERÊNCIAS

BARCA, Isabel. Aula Oficina: do projeto à avaliação. In: Para uma educação histórica de qualidade. Actas das IV Jornadas internacionais de Educação Histórica. Braga (PT): Ed. Universidade do Minho, 2004.

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FILME

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OBRAS CONSULTADAS

Cinqüenta anos Revolta dos Posseiros: 1957-2007. Publicação do Governo do Paraná, Secretaria de Estado da Cultura, Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná, 14ª Regional da Cultura e Prefeitura Municipal de Pato Branco. Resgate histórico: Sittilo Voltolini. Revista comemorativa do cinqüentenário da Revolta dos Posseiros.

COLNAGHI, Maria Cristina. Colonos e poder: a luta pela terra no Sudoeste do Paraná. Curitiba, 1984. Dissertação de mestrado em História do Brasil, História Social, Departamento de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPR.

GOMES, Iria Zanoni. 1957: A revolta dos posseiros. Curitiba : Criar Edições, 1987.

LAZIER, Hermógenes. A estrutura agrária no Sudoeste do Paraná. Curitiba, 1983. Dissertação de mestrado, Departamento de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPR.