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Universidade Federal do ABC Curso: Políticas Públicas Disciplina: Avaliação e Monitoramento de Políticas Públicas Profa. Maria Luiza Levi Aula 07 – Dinâmica demográfica e políticas públicas

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Universidade Federal do ABC Curso: Políticas Públicas

Disciplina: Avaliação e Monitoramento de Políticas Públicas

Profa. Maria Luiza Levi

Aula 07 – Dinâmica demográfica e políticas públicas

Dinâmica demográfica

Dinâmica

demográfica

Processo social, ou seja, de reprodução da

sociedade

Determinantes:

Culturais Religiosos Políticos Históricos Econômicos

Processo de evolução quantitativa da população e

sua estrutura etária

Processo de desenvolvimento

econômico

Dinâmica

demográfica

forte interferência

cria condicionantes

conjunto da população de um país ou entre as várias camadas

da sociedade

Dinâmica demográfica

Dinâmica

demográfica

Processo social , ou seja, de reprodução da

sociedade

Determinantes:

Culturais Religiosos Políticos Históricos Econômicos

Processo de evolução quantitativa da população e sua

estrutura etária

conjunto da população de um país ou entre as várias camadas da sociedade

Processo de desenvolvimento

econômico

Dinâmica

demográfica

forte interferência

cria condicionantes

Smith (1723-1790): o crescimento populacional é bom porque pode impulsionar

a divisão do trabalho, que é fundamental para o aumento de produtividade

Malthus (1766-1834): a população cresce em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética. A guerra e a fome são os mecanismos naturais de controle populacional, na ausência de medidas governamentais de contenção do crescimento

Marx (1818-1883): as relações capitalistas de produção produzem pobreza

Keynes (1883-1946): uma situação de população em declínio tem sérias consequências sobre o desenvolvimento econômico de um país (ausência de investimentos, depressão econômica)

Demografia e desenvolvimento econômico

Demografia

Preocupação dos pensadores do campo

da economia

Qual sua relação com o comportamento do sistema econômico?

Período pré transição = elevadas taxas de: natalidade (proporção de nascidos por 1.000 habitantes) fecundidade (média de filhos por mulher em idade fértil) mortalidade (proporção de óbitos por 1.000 habitantes)

Taxa de crescimento populacional baixa e a estrutura etária relativamente jovem

1ª. Fase: queda da taxa de mortalidade e aumento da esperança de vida

Crescimento (acelerado) da taxa de crescimento populacional, estrutura etária se torna relativamente mais jovem

2ª. Fase: as taxas de natalidade e fecundidade começam a cair; o país alcança o nível de reposição (2,1 filhos por mulher em idade fértil)

A partir de determinado ponto, a taxa de crescimento populacional começa a cair porque a queda da taxa de natalidade supera a queda da taxa de mortalidade

3ª. Fase: as taxas de natalidade e mortalidade se estabilizam e se aproximam.

Taxa de crescimento populacional muito baixa ou até negativa

Fenômeno da transição demográfica

Uma periodização possível (variam muito de autor para autor)

Ilustração do processo de transição demográfica em 3 fases

Extraído de ÁVILA, RI; MACHADO, AMM (2015). Transição demográfica brasileira: desafios e oportunidades na educação, no mercado de trabalho e na produtividade

http://www.fee.rs.gov.br/tedes/transicao-demografica-brasileira-desafios-e-oportunidades-na-educacao-mercado-de-trabalho-e-na-produtividade/

Fonte: ZUANAZZI; STAMPE (2014)

Ilustração do processo de transição demográfica em 4 fases, em função do processo de desenvolvimento econômico

Adaptado de OLIVEIRA, ATR (2013). Os desafios ao desenvolvimento econômico e social colocados pela dinâmica demográfica http://www.fpabramo.org.br/forum2013/wp-content/uploads/2014/04/PoliticasSociais-Vol02.pdf

Etapas da transição demográfica no Brasil (Oliveira, 2013)

1ª. Fase: período primário-exportador (até os anos 30/40) Altas taxas e natalidade e mortalidade (especialmente doenças parasitárias e infecto-

contagiosas) Baixa esperança de vida ao nascer (anos de vida esperados)

Crescimento populacional moderado (crescimento natural x migrações)

2ª. Fase: décadas de 40-60 Redução das taxas de mortalidade (educação, medicamentos - antibióticos, saneamento) Aumento da esperança de vida ao nascer (anos de vida esperados)

Forte aceleração do crescimento populacional, especialmente no campo

Movimentos migratórios do campo para o meio urbano

3ª. Fase: décadas de 60-80 Os índices de fecundidade começam a cair, especialmente nos centros urbanos A queda da taxa de mortalidade se acelera

4ª. Fase: décadas de 90-2010

Taxa de crescimento populacional em queda A taxa de fecundidade vai abaixo do nível de reposição (2 filhos em média por mulher)

Taxa de fecundidade total

Taxa bruta de natalidade

Taxa de bruta de mortalidade

Taxa de mortalidade infantil

Esperança de vida ao nascer (anos)

Indicadores populacionais do Brasil

jovens

idosos

Início da transição demográfica (pico da fecundidade e natalidade e da proporção de crianças)

Conceitos

Índice de envelhecimento: número de pessoas de 60 e mais anos de idade, para cada 100 pessoas (ou seja, proporção de idosos sobre a população total)

Razão de dependência: número de pessoas economicamente dependentes (menores de 15 anos e de 60 anos ou mais) para cada 100 pessoas em idade ativa (15 a 59 anos). Ou seja, proporção de economicamente dependentes sobre economicamente ativos.

Taxa de fecundidade total: número médio de filhos nascidos por mulher em idade reprodutiva

Taxa de mortalidade infantil: óbitos de crianças até um 1 de idade por 1.000 nascidos vivos

Esperança de vida ao nascer: número médio de anos de vida esperados para um recém-nascido, mantido o padrão de mortalidade existente na população analisada em determinado ano

Taxa de natalidade: número nascidos vivos por 1.000 habitantes

Taxa de mortalidade: número de óbitos por 1.000 habitantes

Adaptado de VASCONCELOS, AMN; GOMES, MMF (2012). Transição demográfica: a experiência brasileira

http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v21n4/v21n4a03.pdf

Variação da taxa bruta de mortalidade (total)

Variação da taxa de mortalidade infantil

Taxa de mortalidade total x taxa de mortalidade infantil: variação em relação às taxas da década anterior

Redução crescente

Momentos da “Virada demográfica”

Evolução da taxa de crescimento anual por faixa etária: Brasil (1940-2015)

Meados dos anos 90

Meados dos anos 2000

Extraído de VASCONCELOS, AMN; GOMES, MMF (2012). Transição demográfica: a experiência brasileira http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v21n4/v21n4a03.pdf

Evolução da estrutura etária da população brasileira

Homens Mulheres

Evolução da população brasileira (projeção IBGE) em milhões de habitantes e taxas de crescimento anual: 1980-2050

Fonte: IBGE

Expectativa de que a população comece a diminuir

População em milhões Taxa média de crescimento ao ano

Dinâmica demográfica

Transição

demográfica

Processo de desenvolvimento

econômico

Dinâmica

demográfica

forte interferência

cria condicionantes

Oportunidade de o país dar um salto em termos

de desenvolvimento econômico e qualidade

de vida

Bônus (ou dividendo) demográfico

Ideia de que se trata não só de uma situação temporária mas também um período “único”, que não deverá se

repetir na história

População em idade ativa

15 a 64 anos

crianças e adolescentes idosos

Grupos que consomem mais do que produzem

Grupo que produz mais do que consome

Dependentes, população ativa e “bônus demográfico”

A ideia do “bônus demográfico”

Durante o bônus demográfico, a proporção da população em idade ativa sobre o total é superior à

população em situação de dependência

População em idade ativa (15 a 64 anos) crianças e

adolescentes idosos

Praticamente um indivíduo produz para si e mais uma pessoa (criança ou idoso)

Evolução da população total e da População Economicamente Ativa: Brasil (1950-2010)

População total População Economicamente Ativa

Extraído de ALVES, JED; O precoce fim do bônus demográfico brasileiro http://www.ecodebate.com.br/2015/03/27/o-precoce-fim-do-bonus-demografico-no-brasil-artigo-de-jose-eustaquio-diniz- alves/

PEA/Pop. total

Evolução da População em Idade Ativa: Brasil (1950-2050)

Parêntesis

População em Idade Ativa

Pessoas de 15 a 65 anos

População Economicamente Ativa

Pessoas de 15 a 65 anos classificadas como

ocupadas ou desocupadas na semana de referência da pesquisa (IBGE). A

classificação “desocupado” toma como referência uma declaração de que a pessoa procura ou procurou emprego nos últimos

meses, ou seja, não inclui quem não está ou não esteve em busca de trabalho

Por essa razão, estimativas de evolução da população levam em conta a PIA e não a PEA

Obs.: discussão metodologia de apuração da taxa de desemprego, que é calculada sobre a PEA (DIEESE e IBGE utilizam conceitos diferentes de PEA e ocupação, o que acaba fazendo com que a

taxa de desemprego pela metodologia do IBGE seja bastante superior à do DIEESE)

Evolução estimada da razão de dependência - Percentual de dependentes sobre pessoas em idade ativa

Idosos (+ de 65 anos) Crianças (0-14 anos)

“bônus demográfico”: início do fim

Razão de dependência - idosos

54% 51%

48% 45% 43% 42%

45% 46% 49%

54% 59%

1 idoso para 1 criança Entre 2000 e 2005: razão de dependência = 50% (1 pessoa em idade ativa para 1 dependente)

73%

75% razão de dependência - crianças

33%

13%

22%

31%

43%

22%

74%

63%

70%

61%

61%

30%

34%

42%

27%

54%

53%

43%

55%

Razão de dependência – vários países (2011) Nº de indivíduos dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa

Proporção de idosos no total de dependentes

Crianças (0 – 14 anos)

Idosos (acima de 60 anos)

Distribuição desigual das taxas de fecundidade entre as classes de renda

A manutenção de alta desigualdade das taxas de fecundidade entre as faixas de

renda torna mais provável que a maioria dos nascidos na primeira metade do século XXI seja pobre (BRITO, 2008)

Extraído de BRITO, F (2008). Transição demográfica e desigualdade social no Brasil http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982008000100002

Quociente entre a população de 0 a 4 anos e a população feminina de 15 a 39 anos, segundo a renda domiciliar per capita em SM

Fecundidade mais alta nas menores faixas de renda

Renda familiar

per capita1980 1991 2000

variação

1980-2000

menos de 0,5 SM 108,41 89,86 81,9 -24%

0,5 a 1 SM 62,42 56,23 57,56 -8%

1 a 2 SM 43,57 45,1 46,36 6%

2 a 3 SM 38,03 40,72 35,99 -5%

3 a 5 SM 38,95 39,34 34,37 -12%

5 a 10 SM 37,47 36,82 32,72 -13%

Mais de 10 SM 32,54 33,78 30,3 -7%

Total 74,59 66,33 55,19 -26%Diferença entre os

extremos de

renda3,33 2,66 2,70

Evolução da razão de dependência por faixa de renda no Brasil

Fonte: IBGE (CENSO – vários anos). Extraído de BRITO, F (2008). Transição demográfica e desigualdade social no Brasil http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982008000100002

Número de dependentes (crianças e idosos) para cada 100 indivíduos em idade ativa

Renda familiar

per capita

menos de 0,5 SM 1.939.910 42% 3.116.687 46% 1.189.290 12%

0,5 a 1 SM 1.212.300 26% 1.470.084 22% 2.341.862 24%

1 a 2 SM 712.550 15% 1.072.662 16% 3.236.355 33%

2 a 3 SM 272.240 6% 399.974 6% 997.202 10%

3 a 5 SM 235.685 5% 323.536 5% 857.467 9%

5 a 10 SM 159.145 3% 230.618 3% 689.668 7%

Mais de 10 SM 83.530 2% 128.438 2% 483.751 5%

Total 4.615.360 100% 6.741.999 100% 9.795.595 100%

1980 1991 2000

Fonte: IBGE (CENSO – vários anos). Extraído de BRITO, F (2008). Transição demográfica e desigualdade social no Brasil http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982008000100002

Evolução da distribuição da população idosa por faixa de renda no Brasil

População acima de 65 anos por faixa de renda (quantidade de indivíduos e % sobre a população total)

Questões relativas ao bônus demográfico

A “apropriação” do bônus (o “desfrute”) só ocorre se a população em idade ativa for efetivamente incorporada ao mercado de trabalho, ou seja, se o sistema econômico gerar novos empregos

Ou seja, tem que haver crescimento da economia para incorporar essa mão de obra que pode produzir mais sem tanto peso da população dependente

Mas o salto só ocorre se o crescimento vier acompanhado de desenvolvimento A população ingressante no mercado de trabalho for de qualificação superior

O sistema produtivo adotar inovações tecnológicas e de gestão

O país conseguir mudar sua inserção no mercado internacional (exportação de produtos de maior valor agregado)

Condições necessárias ao aumento da

produtividade (produto por hora trabalhada)

O “aproveitamento do bônus” pode permitir que as gerações futuras lidem com o peso da população idosa (com a alta razão de dependência) numa situação mais favorável

Tendências demográficas não devem ser tomadas como previsões inequívocas

de futuro, mas guias de médio prazo para orientar a discussão e o cenário de médio prazo de elaboração das políticas públicas:

• Mercado de trabalho, previdência: é possível manter a política de aumento

do salário mínimo e a indexação de benefícios (BPC e INSS)?

• Educação (progresso naturalmente lento!): foco especialmente ensino médio, marcado por baixa qualidade e alta evasão

• Saúde: modelo de atenção à saúde (baseado em incorporação muitas vezes “a-crítica” de tecnologias caras)

• Incentivo à inovação tecnológica

• Política macroeconômica, pacto social

Questões relativas ao bônus demográfico

Crescimento de cerca de 50%

Queda de cerca de 1,2%

Crescimento de cerca de

25%

Queda de cerca de 8%

Fonte: PNAD/IBGE. Extraído de MENEZES Fº, N, Valor Econômico, 2/02/15

Evolução da Renda média dos adultos e População Economicamente ativa de jovens

População jovem e mercado de trabalho

Resumindo, o salto (aumento da produtividade, que tende a elevar a renda per capita do país) pode permitir que a parcela em idade ativa gere uma riqueza que permita que, no futuro (quando se tornar inativa), não onere tanto a diminuta parcela da população em idade ativa

O desfrute do bônus equivale à criação de condições de compartilhamento da situação mais favorável no presente com as gerações futuras

Mas ... nas condições de enorme desigualdade de renda da sociedade brasileira, essa

discussão não pode ser feita sem levar em conta que o futuro ônus demográfico será compartilhado de forma também muito desigual (a transição demográfica não é socialmente neutra)

A incapacidade de garantir educação de melhor qualidade para as camadas mais pobres hoje, juntamente com a não oferta de postos de trabalho inseridos em cadeias produtivas mais agregadoras de valor no comércio mundial, tende a condena-las à imobilidade social a despeito do (seu) bônus demográfico.

Questões relativas ao bônus demográfico

Evolução das taxas de crescimento do PIB ao ano e por períodos