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DIREITO PREVIDENCIÁRIO – AULA 3 Prof. Fernando Aprato www. concursovirtual .com.br

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO – AULA 3

Prof. Fernando Aprato

INSS

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Direito Previdenciário

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Direito Previdenciário

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

No entendimento de José Afonso da Silva, competência “é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, ou a um órgão, ou ainda a um agente do poder público para emitir decisões”.

Competências “são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções”.

A competência se divide em legislativa e administrativa.

A competência legislativa se expressa no poder de estabelecer a entidade normas gerais, leis em sentido estrito (art. 22 e 24 da CF/88).

Já a competência administrativa, ou material, cuida da atuação concreta do ente, que tem o poder de editar normas individuais, ou seja, atos administrativos (art. 21 e 23 da CF/88).

COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR – SEGURIDADE SOCIAL

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

[...]

XXIII – seguridade social;

[...]

Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

Lembrando que a Seguridade Social é composta por 3 (três) susbsistemas: Saúde, Previdência Social e Assistência Social.

Pela leitura acima constatamos, que a competência para legislar sobre Seguridade Social é privativa da União. Porém, de acordo com as características da competência privativa, verificamos que o parágrafo único do art. 22 da CF/88 nos revela que : “lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões especificas em relação à seguridade social”.

A União é a responsável pelas normas básicas e regras gerais do sistema de Seguridade Social em seus 3 (três) subsistemas, bem como pela organização e estruturação da mesma no Brasil.

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!! SE LIGA !!

A União através de Lei Complementar poderá autorizar os Estados a legislar apenas sobre questões específicas do sistema de Seguridade Social.

COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR – PREVIDÊNCIA SOCIAL

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

[...]

XII – previdência social, proteção e defesa da saúde;

[...]

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Trata-se de competência legislativa concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal.

A competência legislativa concorrente trata da possibilidade de legislar sobre o mesmo assunto ou matéria por mais de uma entidade federativa, mas obedecendo a primazia da União quanto às normas gerais. Assim, podemos afirmar que, de um modo geral, as ações de seguridade social são regulamentadas pela União, dado o interesse nacional nessa área, que tem por objetivo a construção de uma rede de proteção social para toda a população, sobretudo a mais necessitada. Assim, a competência concorrente para legislar sobre previdência e saúde deve obedecer às normas gerais da União.

E OS MUNICÍPIOS?

Art. 30. Compete aos Municípios:

I – legislar sobre assuntos de interesse local

Os Municípios apesar de não serem mencionados no art. 24 da CF/88, que trata da competência concorrente da União e dos Estados, eles são dotados de competência pela constituição para tratar de previdência e saúde, assim como os Estados, considerando que o art. 30 da CF/88 prevê

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a possibilidade de Municípios legislarem sobre assuntos de interesse local e complementarem a legislação federal e estadual no que couber.

O aspecto relevante que explica essa competência concorrente dos estados para legislar sobre matéria previdenciária é a necessidade de regulamentar e gerir os regimes próprios de previdência aos quais estão vinculados os servidores públicos estaduais (estatutários).

Assim, os Estados e Municípios, observando as normas gerais fixadas pela União, irão estabelecer as regras previdenciárias para seus servidores, quando da instituição de seus regimes próprios.

Outro aspecto relevante que justifica a competência concorrente em matéria previdenciária é a possibilidade de os Entes Federados criarem, por meio de lei própria, as entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública, para seus servidores (art. 40, §§ 14 e 15).

!! ATENÇÃO !!

O Regime Geral de Previdência Social será regulamentado por meio de competência privativa da União, sendo esse ente responsável pela elaboração de disposições relativas ao RGPS.

Questões

1. (DPE – CE – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2007)

Considerando a legislação previdenciária e a orientação dos tribunais superiores a ela relacionada, julgue o seguinte item.

No regime de distribuição de competências legislativas promovido pela Constituição Federal, a seguridade social e, especificamente, a previdência social incluem-se entre as competências privativas da União.

( ) Certo   ( ) Errado

2. (INSS – TÉCNICO DO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016)

Lei complementar editada pela União poderá autorizar os estados e o DF a legislar sobre questões específicas relacionadas à seguridade social.

( ) Certo   ( ) Errado

3. (TCE – PA – ACE – ESPECIALIDADE DIREITO – CESPE – 2016)

É competência privativa da União legislar sobre previdência social, sendo, portanto, vedado aos estados e ao Distrito Federal legislar sobre essa matéria.

( ) Certo   ( ) Errado

Gabarito: 1. Errado 2. Certo 3. Errado

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REGIMES PREVIDENCIÁRIOS

O sistema previdenciário brasileiro é dotado de dois regimes básicos (Regime Geral de Previdência Social – RGPS e Regimes Próprios de Previdência de Servidores Públicos e Militares – RPPS) e dois Regimes Complementares de Previdência privado aberto ou fechado no RGPS e público fechado no RPPS.

Entende-se por regime previdenciário aquele que abarca, mediante normas disciplinadoras da relação jurídica previdenciária, uma coletividade de indivíduos que têm vinculação entre si em virtude da relação de trabalho ou categoria a que está submetida, garantindo a esta coletividade, no mínimo, os benefícios essencialmente observados em todo sistema de seguro social – aposentadoria e pensão por falecimento do segurado (Manual de Direito Previdenciário – Lazzari, João Batista e de Castro, Carlos Alberto Pereira – 16ª edição – Editora Forense Ltda.

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O regime financeiro de Repartição Simples – também conhecido como “regime orçamentário” – tem uma lógica elementar: faz-se a divisão entre os contribuintes das despesas com o pagamento dos benefícios em manutenção. Trata-se de calcular as contribuições, necessárias e suficientes, que serão arrecadadas para atender, apenas e tão somente, ao pagamento das parcelas dos benefícios nesse mesmo período. Portanto, esse regime não prevê a formação de reservas.

O RGPS é regime de repartição simples.

O Regime de Capitalização tem como característica principal o pré-financiamento do benefício, ou seja, o próprio trabalhador, durante a sua fase laborativa, produzirá um montante de recursos necessários para sustentar o seu benefício previdenciário. Dessa forma, não existe o pacto direto entre as gerações, pois é a geração atual (o próprio beneficiado) que financia os seus benefícios previdenciários.

Classificação dos Regimes Previdenciários em Relação ao Custeio

Os sistemas previdenciários em relação ao seu custeio são classificados em:

CONTRIBUTIVOSe

NÃO CONTRIBUTIVOS

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Contributivos

A arrecadação dos recursos financeiros para a ação na esfera do seguro social dar-se-á por meio de aportes diferenciados dos tributos em geral, de modo que as pessoas especificadas na legislação própria ficam obrigadas a contribuir para o regime. Entre as pessoas legalmente obrigadas a contribuir estão aqueles que serão os potenciais beneficiários do sistema – os segurados -, bem como outras pessoas – naturais ou jurídicas – pertencentes a sociedade a que a lei cometa o ônus de também participar no custeio do regime.

É o sistema contributivo, embasado nas contribuições sociais.

No sistema contributivo, os recursos orçamentários do Estado para o custeio do regime previdenciário também concorrem para este, mas não com a importância que os mesmos possuem no modelo não contributivo.

O RGPS é do tipo sistema contributivo.

Não Contributivos

Neste tipo de sistema, a arrecadação provém não de um tributo específico, mas sim da destinação de parcela da arrecadação tributária geral, de modo que os contribuintes do regime não são identificáveis, já que qualquer pessoa que tenha pago tributo ao Estado estará, indiretamente, contribuinte para o custeio da Previdência.

!!ATENÇÃO !!

O INSS não é responsável pela administração do RGPS.

O INSS é a Autarquia Federal que tem por finalidade promover o reconhecimento, pela Previdência Social, de direito ao recebimento de benefícios por ela administrados, assegurando agilidade, comodidade aos seus usuários e ampliação do controle social.

!!ATENÇÃO !!

Decreto nº 3.048/1999

Art. 7º A administração do Regime Geral de Previdência Social é atribuída ao Ministério da Previdência e Assistência Social, sendo exercida pelos órgãos e entidades a ele vinculados.

!!ATENÇÃO !!

Decreto nº 9.104/2017

Art. 1º O Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, autarquia federal com sede em Brasília, Distrito Federal, instituída com fundamento no disposto nº art. 17 da Lei nº 8.029, de 12 de abril de 1990, é vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social.

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Questões

(TCE-RN – INSPETOR DE CONTROLE EXTERNO – ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE, DIREITO OU ECONOMIA – CESPE – 2009)

• Com base nos regimes de previdência social e nos princípios aplicáveis aos regimes próprios previdenciários, julgue os itens a seguir.

1. A CF prevê, como forma de garantir o direito social à previdência, o regime geral da previdência social (RGPS), de caráter contributivo e filiação obrigatória; os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos; e o regime de previdência privada, de caráter complementar, organizado de forma autônoma em relação ao RGPS.

( ) Certo   ( ) Errado

(TRT-RN – ANALISTA JUDICIÁRIO ADMINISTRATIVO – 2010 – CESPE)

• Julgue os itens a seguir, no que se refere ao regime geral de previdência social (RGPS) e ao regime do servidor público.

2. Apesar de serem pessoas jurídicas de direito público, os estados que não tiverem regime próprio de previdência social devem contribuir para o RGPS.

( ) Certo   ( ) Errado

(EBC – ANALISTA – SERVIÇO SOCIAL – CESPE – 2011)

3. O RGPS visa assegurar benefícios e serviços às pessoas beneficiárias desse regime, ou seja, aos funcionários vinculados à administração pública federal.

( ) Certo   ( ) Errado

(MTE – AFT – CESPE – 2013)

4. A previdência social brasileira, além dos regimes geral e próprios, é formada pelo regime de previdência complementar, de caráter facultativo, organizado de forma autônoma e baseado na constituição de reservas que garantam o pagamento dos benefícios contratados.

( ) Certo   ( ) Errado

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(CÂMARA DOS DEPUTADOS – CONSULTOR LEGISLATIVO – ÁREA XXI – CESPE – 2014)

5. Os regimes de previdência oficiais (RGPS e RPPS) e o RPC fazem parte da seguridade social e estão vinculados, sendo esse último complementar dos dois primeiros, o que se traduz por não haver segregação jurídica e patrimonial entre os regimes previdenciários.

( ) Certo   ( ) Errado

(TCE-PA – ACE – DIREITO – CARGO 24 – CESPE – 2016)

• Julgue os itens seguintes, relativos à seguridade social e ao regime geral de previdência social.

6. O regime geral de previdência social constitui um gênero do regime previdenciário, o qual inclui o sistema de previdência que se estende a todos os trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público.

( ) Certo   ( ) Errado

Gabarito: 1. Certo 2. Certo 3. Errado 4. Certo 5. Errado 6. Errado

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

Conceito de Princípio

A seguridade social rege-se por vários princípios – que são preceitos, valores, proposições de base para qualquer outro enunciado, sendo tomados como verdades que não podem ser questionadas, para que assim não haja comprometimento da lógica do sistema. São fundações necessárias para a edificação do entendimento de todo e qualquer sistema jurídico.

É o alicerce das normas jurídicas de certo ramo do Direito; é fundamento da construção escalonada da ordem jurídico-positiva em certa matéria.

Princípio Específico Implícito

SOLIDARIEDADE

A solidariedade pode ser considerada um postulado fundamental do Direito da Seguridade Social, previsto implicitamente na Constituição.

De acordo com o art. 3° da C.F/88, um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é construir um sociedade livre, justa e solidária.

A solidariedade reflete um dos objetivos da República Federativa do Brasil, sendo também uma das formas de se buscar a redução das desigualdades sociais, quando alguns, os que podem, se solidarizam, contribuindo para que os outros, sem condições financeiras, também estejam cobertos pela seguridade social.

Sem dúvida, é o princípio securitário de maior importância, pois traduz o verdadeiro espírito da previdência social: a proteção coletiva, na qual as pequenas contribuições individuais geram recursos suficientes para a criação de um manto protetor sobre todos, viabilizando a concessão de prestações previdenciárias em decorrência de eventos preestabelecidos.

A solidariedade impede a adoção de um sistema de capitalização pura em todos os segmentos da previdência social, em especial no que diz respeito aos benefícios não programados, pois o mais afortunado deve contribuir com mais, tendo em vista a escassez de recursos e contribuições de outros.

Compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas pelas outras.

Daniel Machado da Rocha ressalta que “a solidariedade previdenciária legitima-se na ideia de que, além de direitos e liberdades, os indivíduos também têm deveres para com a comunidade

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na qual estão inseridos”, como o dever de recolher tributos, ainda que não haja qualquer possibilidade de contrapartida em prestações.

De acordo com Alfredo Ruprecht, envolve, pelo esforço individual, o movimento global de uma comunidade em favor de uma minoria – os necessitados de proteção – de forma anônima.

É este princípio que permite e justifica uma pessoa ser aposentada por invalidez em seu primeiro dia de trabalho, sem ter qualquer contribuição recolhida para o sistema. Também é a solidariedade que justifica a cobrança de contribuições do aposentado que volta a trabalhar. Este deverá adimplir seus recolhimentos mensais, como qualquer trabalhador, mesmo sabendo que não poderá obter nova aposentadoria. A razão é a solidariedade: a contribuição de um não é exclusiva deste, mas sim para a manutenção de toda rede protetiva.

A solidariedade é a justificativa elementar para a compulsoriedade do sistema previdenciário, pois os trabalhadores são coagidos a contribuir em razão do cotização individual ser necessária para manutenção de toda rede protetiva, e não para a manutenção do indivíduo isoladamente considerado. (Ibrahim, Fábio Zambitte, Curso de Direito Previdenciário, 16ª edição, Editora Impetus).

Os arts. 194 e 195 da C.F/88, referem-se a solidariedade quando chamam toda a sociedade para participar do sistema

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

Princípios Específicos Explicitos

UCA Universalidade da Cobertura e do Atendimento

UEBSPUR

Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e Rurais

SDPBS Seletividade e Distributividade na Prestação de Benefícios e Serviços

IVB Irredutibilidade do Valor do Benefícios

EFPC Equidade na Forma de Participação no Custeio

DBF Diversidade da Base de Financiamento

CDDAGQ/GATE

Caráter Democrático e Descentralizado da Administração – Gestão Quadripartite (G A T E – Governo, Aposentados, Trabalhadores e Empregadores)

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UCA Universalidade da Cobertura e do Atendimento

A meta da seguridade social é garantir a proteção universal.

Por universalidade da cobertura (universalidade objetiva) entende-se que a proteção social deve contemplar todos os riscos sociais que possam gerar necessidade de proteção social das pessoas (maternidade, velhice, doenças, acidentes, invalidez e morte), cuja reparação seja premente, a fim de manter a subsistência de quem dela necessite.

Por universalidade do atendimento (universalidade subjetiva) significa, por seu turno, a entrega das ações, prestações e serviços de seguridade social a todos os que necessitem, tanto em termos de previdência social – obedecido o princípio contributivo – como no caso da saúde e da assistência social.

Para a melhor doutrina, o sistema deve proteger todas as pessoas residentes, inclusive estrangeiras, no território nacional, sem discriminação.

Na saúde Esse princípio tem ampla aplicação, pois os serviços de saúde alcançam realmente a todos os indivíduos, independentemente de pagamento ou contribuição.

Na Assistência Social Ele atinge somente os indivíduos que dela necessitam também independentemente de pagamento ou contribuição.

Na Previdência Social

A “universalidade” deve ser entendida como entre aqueles que pagam à previdência, ou seja, aqueles filiados ao regime geral de previdência social. Para atender a esse princípio constitucional, foi criada, no regime geral de previdência social, a figura do segurado facultativo (princípio da universalidade de participação nos planos previdenciárias – Lei nº 8.213, art. 2, Inciso I). Assim, todos, mesmo que não exerçam atividade remunerada, têm a cobertura previdenciária. Para tanto, é necessário contribuir para o sistema previdenciário.

UEBSPURUniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e Rurais

Em obediência ao principio da igualdade (art. 5º, I, da Constituição Federal), o constituinte positivou o princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços ás populações rurais e urbanas. A C.F./1988, no seu artigo 7º, dispõe que não há diferenças entre os direitos sociais dos trabalhadores urbanos e rurais.

No que se refere à Seguridade Social, equivale dizer que as mesmas contingências que recebam garantia no meio urbano deverão também receber garantia no meio rural. Além disso, deverão ter o mesmo valor econômico, “as mesmas prestações, bem como serviços de mesma qualidade, em cumprimento ao princípio da igualdade”.

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A uniformidade refere-se ao objeto, diz respeito às contingências que serão cobertas (morte, velhice, maternidade, etc.). Significa igual rol de prestações, ou seja, os benefícios e serviços garantidos aos trabalhadores urbanos devem ser também aos rurais.

Equivalência refere-se ao aspecto pecuniário dos benefícios ou à qualidade dos serviços, que não serão necessariamente iguais, mas equivalentes. Impõe a aplicação da mesma sistemática de cálculo dos benefícios previdenciários devidos aos trabalhadores urbanos e rurais.

Tal princípio não significa, contudo, que haverá idêntico valor para os benefícios (urbanos e rurais), já que equivalência não significa igualdade.

Os critérios para concessão das prestações de seguridade social serão os mesmos; porém, tratando-se de previdência social, o valor de um benefício pode ser diferenciado (caso do salário-maternidade da trabalhadora rural enquadrada como segurada especial).

Como exemplo de aplicação deste princípio temos o 201, § 2º da Constituição Federal. O referido diploma legal, dispõe que nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou rendimento do trabalho do segurado (urbano ou rural) terá valor mensal inferior ao salário mínimo.

SDPBSSeletividade e Distributividade na Prestação de Benefícios e Serviços

Um dos objetivos constitucionais da Seguridade Social é a Universalização da proteção (proteger todas as pessoas em face de qualquer contingência social). Entretanto, partindo da premissa que todo direito tem seu custo, o Estado está limitado. Como os recursos são finitos e as necessidades da população são “infinitas”, o sistema tem de estabelecer preferência de acordo com as possibilidades econômico-financeiras. Vale dizer, o Estado não dispõe de recursos orçamentários para garantir a proteção universal. Trata-se da reserva do possível.

Melhor dizendo, deve tratar desigualmente os desiguais, favorecendo, portanto, os indivíduos que se encontram em situação inferior.

Diante da limitação financeira, é imprescindível selecionar as prioridades e estabelecer os critérios de escolha.

Trata-se de princípio dirigido ao legislador.

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A seletividade atua na delimitação do rol de prestações, ou seja, na escolha dos benefícios e serviços a serem mantidos pela seguridade, poderá eleger os riscos e contingências sociais a serem cobertos.

De acordo com Frederico Amado (Direito e Processo Previdenciário Sistematizado, 4 ª edição, 2013, Editora JusPodivm): “A seletividade deverá lastrear a escolha feita pelo legislador dos benefícios e serviços integrantes da seguridade social, bem como os requisitos para a sua concessão, conforme as necessidades sociais e a disponibilidade de recursos orçamentários, de acordo com o interesse público.”

Já a distributividade implica a criação de critérios/requisitos para o acesso ao objeto de proteção, de forma a atingir o maior número de pessoas e a proporcionar uma cobertura mais ampla.

Direciona a atuação do sistema protetivo para as pessoas com maior necessidade, definindo o grau de proteção.

É uma consequência da Seletividade, pois ao se selecionar os mais necessitados para receberem os benefícios da Seguridade Social, automaticamente estará ocorrendo uma redistribuição de renda aos mais pobres.

Algumas prestações serão extensíveis somente a algumas parcelas da população, como, por exemplo, salário família (seletividade) e, além disto, os benefícios e serviços devem buscar a otimização da distribuição de renda no país, favorecendo pessoas e regiões mais pobres (distributividade).

Esse princípio permite que se restrinja o recebimento do auxílio reclusão aos dependentes dos segurados de baixa renda e do salário família exclusivamente aos segurados de baixa renda, configuradas em valor relacionado com o salário de contribuição.

IVBIrredutibilidade do Valor do Benefícios

De acordo com esse princípio, entende-se que o benefício que tenha sido concedido de acordo com a lei não poderá ter o seu valor reduzido.

A finalidade do princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios é impedir a diminuição dos valores nominais das prestações previdenciárias, para que seus beneficiários não sofram redução de seu poder aquisitivo, devendo este se manter uma vez que os benefícios possuem caráter alimentar.

Diz respeito à correção do benefício. O qual deve ter seu valor atualizado, de acordo com a inflação do período.

Na doutrina, não há consenso a respeito do significado do princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios, aplicado à Seguridade Social. Parte da doutrina entende que seu objetivo é preservar o valor real do benefício. Outra parte entende que a sua finalidade é, simplesmente, impedir a diminuição do valor nominal do benefício.

A interpretação que o Regulamento da Previdência Social (art. 1°, parágrafo único, IV) dá a esse princípio da Seguridade Social é a de que seu objetivo é a preservação do poder aquisitivo do benefício, ou seja, a preservação do valor real.

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Vale ressaltar que, em relação aos benefícios previdenciários o § 4º do art. 201 da Constituição Federal, assegura “o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei”.

Assim, em relação aos benefícios previdenciários, o princípio da irredutibilidade (CF, art. 194, parágrafo único, IV) é garantia contra a redução do valor nominal, e o § 4º do art. 201 da Constituição Federal assegura o reajustamento para preservar o valor real. Mas esses dois dispositivos constitucionais têm significados distintos, não devendo ser confundidos.

O primeiro é princípio da irredutibilidade, aplicado à seguridade social (engloba benefícios da previdência e assistência social).

O segundo é o princípio da preservação real dos benefícios, aplicado somente à previdência social.

O STF tem o seguinte entendimento: não havendo diminuição do valor nominal, não procede a alegação de ofensa ao princípio da irredutibilidade.

RESUMINDO

RPS – art. 4º, parágrafo único, inciso V – Previdência Social

Preservação do VALOR REAL

C.F/88, art. 201, § 4º – aplica-se a somente á Previdência Social

Preservação do VALOR REAL

C.F/88, art. 194, parágrafo único, IV – aplica-se à seguridade social

Preservação do VALOR NOMINAL

Posição do STF Preservação do VALOR NOMINAL

Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991

Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

1. (AGU – ADVOGADO – CESPE – 2012)

Em face do princípio constitucional da irredutibilidade do valor dos benefícios previdenciários, a aplicação de novos critérios de cálculo mais benéficos estabelecidos em lei deve ser automaticamente estendida a todos os benefícios cuja concessão tenha corrido sob regime legal anterior.

( ) Certo   ( ) Errado

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2. (AGU – ADVOGADO – CESPE – 2015)

Conforme a jurisprudência do STF, a irredutibilidade do valor dos benefícios é garantida constitucionalmente, seja para assegurar o valor nominal, seja para assegurar o valor real dos benefícios, independentemente dos critérios de reajuste fixados pelo legislador ordinário.

( ) Certo   ( ) Errado

3. (TRF 1 – JUIZ – CESPE – 2013)

Com relação à seguridade social e seus princípios, assinale a opção correta.

e) Segundo a jurisprudência majoritária do STF, o princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios refere-se apenas ao valor nominal desses benefícios, não resultando na garantia da concessão de reajustes periódicos, característica relativa à preservação do valor real.

Esta alternativa na questão está correta, visto que irredutibilidade, efetivamente, para o STF, não é garantia de preservação do valor real.

EFPCEquidade na Forma de Participação no Custeio

Esse princípio é um desdobramento do princípio da igualdade (CF/88 art. 5°) que consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Ele encontra intimamente ligado à isonomia e á capacidade contributiva, podendo ser entendido como justiça e igualdade na forma de custeio: alíquotas desiguais para contribuintes em situação desigual.

Com a adoção deste princípio, busca-se garantir que aos hipossuficientes seja garantida a proteção social, exigindo-se dos mesmos, quando possível, contribuição equivalente a seu poder aquisitivo, enquanto a contribuição empresarial tende a ter maior importância em termos de valores e percentuais na receita da seguridade social, por ter a classe empregadora maior capacidade contributiva.

O que este princípio garante é que as pessoas que estejam na mesma situação deverão contribuir da mesma forma; ou seja, os que ganham mais darão maior contribuição e os que estejam em situação econômica desfavorável contribuirão com menos. Não se confunde com igualdade, pois a equidade procura tratar desigualmente os desiguais. Então, agindo por meio do tratamento desigual, procura-se alcançar a justiça.

Em relação ao custeio da seguridade social, significa dizer que quem tem maior capacidade econômica irá contribuir com mais; quem tem menor capacidade contribuirá com menos.

Tal princípio permite uma tributação maior da empresa/empregador em relação ao segurado, haja vista que são aqueles os de maior poder aquisitivo.

Gabarito: 1. Errado 2. Errado

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CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

Quanto maior a capacidade econômica do contribuinte, maior deve ser a sua contribuição.

Empresa x Segurados

A maioria das contribuições (art. 195 da CF/88) recai sobre as empresas, e não sobre os segurados.

A contribuição dos segurados possui um teto. A contribuição da empresa não sofre limitador.

Segurados x SeguradosA contribuição dos segurados empregados, empregados domésticos e trabalhadores avulsos, incide de forma progressiva. Trata-se da progressividade: quanto maior a base de cálculo do tributo, maior é a alíquota.

Empresas X Empresas

No texto constitucional há forma de se tributar as pessoas jurídicas de forma diferenciada.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

[...]

IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

RISCO SOCIAL

Quanto maior o risco, maior a contribuição (SAT).

1% (um por cento) Para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalhado seja LEVE

2% (dois por cento) Para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalhado seja MÉDIO

3% (três por cento) Para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalhado seja GRAVE

TRIBUTAÇÃO DIFERENCIADA

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

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[...]

§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

DBFDiversidade da Base de Financiamento

O princípio significa que o legislador ordinário poderá buscar múltiplas fontes de custeio, obviamente diferenciadas, compromissadas tão somente com a técnica protetiva desejada.

A seguridade social tem diversas fontes de custeio. Assim, há maior segurança para o sistema, em caso de dificuldade na arrecadação de determinadas contribuições, haverá outras para lhes suprir a falta.

De acordo com o caput do art. 195 da Constituição Federal, a seguridade social será financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou faturamento;

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c) o lucro

II – do trabalhador e demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social;

III – sobre a receita de concursos de prognósticos; e

IV – do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

Por meio deste princípio busca-se garantir que a seguridade social não seja financiada por apenas um grupo de contribuintes, mas que possua uma base ampla, implicando em segurança do próprio sistema.

A ideia da diversidade da base de financiamento é apontar um custeio da Seguridade Social o mais variado possível, de modo que as oscilações setoriais não venham comprometer a arrecadação de contribuições. Da mesma forma, com amplo leque de contribuições, a Seguridade Social tem maior possibilidade de atingir sua principal meta, que é a universalidade da cobertura e do atendimento.

CDDAGQCaráter Democrático e Descentralizado da Administração – Gestão Quadripartite

No Estado Democrático de Direito, a participação da comunidade é elemento da maior importância. Sem ela, o Poder Público, notadamente o Executivo, fica insensível aos problemas da população.

Nos termos do art. 10 da Constituição Federal “é assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação. Em harmonia com esse dispositivo constitucional, a CF, art. 194, parágrafo único, VII, assegura para a seguridade social, “caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com a

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participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e Governo nos órgãos colegiados”.

De acordo com esse princípio, a gestão dos recursos, programas, planos, serviços e ações, nas três áreas da seguridade social, em todas as esferas de poder, deve ser realizada mediante discussão com a sociedade.

Exemplos de materialização desse princípio: criação do Conselho Nacional de Previdência Social (Lei nº 8.213/91, art. 3º), do Conselho de Nacional de Assistência Social (Lei nº 8.742/93, art. 7º) e do Conselho Nacional de Saúde (Lei nº 8.080/90).

Outros Princípios consitucionais

OUTROS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

C.F /88, art. 195, §1º Do orçamento diferenciado

C.F /88, art. 195, §3º Contratação com o poder público

C.F /88, art. 195, §4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social – Competência Residual da União

C.F /88, art. 195, §5º Preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço ou regra da contrapartida

C.F /88, art. 195, §6º Anterioridade nonagesimal, noventena ou anterioridade mitigada

C.F /88, art. 195, §9º Progressividade das contribuições sociais

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Do orçamento diferenciado

De acordo com o art. 195, § 1º, as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União.

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:

I – o plano plurianual;

II – as diretrizes orçamentárias;

III – os orçamentos anuais.

§ 5º A lei orçamentária anual compreenderá:

I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;

II – o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto;

III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.

Da contratação com o poder público

De acordo com o art. 195, § 3º, da C.F/88, a pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social –

Competência Residual da União

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

[...]

§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.

Art. 154. A União poderá instituir:

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I – mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;

Este princípio está inserido no artigo 195,parágrafo 4º é a chamada competência residual e é exclusiva da União. Para exercer esta competência e instituir contribuições sociais incidentes sobre fonte diversa das constantes no artigo 195 da CONSTITUIÇÃO FEDERAL., a União deve observar os três requisitos constantes do artigo 154, inciso I, da CONSTITUIÇÃO FEDERAL:

1º) lei complementar;

2º) não cumulatividade;

3º) fato gerador e base de cálculo distintos dos determinados para os impostos previstos no texto constitucional.

Preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço ou regra da contrapartida

Esse princípio visa o equilíbrio atuarial e financeiro do sistema securitário. A criação do benefício, ou mesmo a mera extensão de prestação já existente, somente será feita com a previsão da receita necessária.

Nos termos do §5º do art. 195 da Constituição federal, “nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total”.

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Este princípio prega que sem a devida receita não pode haver despesa. Observa-se que o custeio do benefício ou serviço criado deve ser total (integral) e não apenas cobrir parte das despesas. Com isso, assegura-se o próprio sistema de seguridade social, pois há a garantia que nenhuma legislação oportunista crie ou conceda benefícios sem que haja a correspondente fonte de custeio total deste benefício.

Esse princípio se aplica não somente a previdência social, mas à seguridade social como um todo, portanto, será inconstitucional a lei que criar um benefício, previdenciário ou assistencial, sem também criar a fonte de custeio total.

Este princípio tem íntima ligação com o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial, de modo que somente possa ocorrer aumento de despesa para o fundo previdenciário quando exista também, em proporção adequada, receita que venha a cobrir os gastos decorrentes da alteração legislativa, a fim de evitar o colapso das contas do regime.

O STF possui entendimento de que o art. 195, § 5º, da CF, diz respeito somente à Seguridade Social financiada por toda a sociedade sendo alheio às entidades de previdência privada (RE 583687 AgR/RS).

!! ATENÇÃO !!

Quando o benefício da seguridade social for previsto na própria Constituição Federal, não terá aplicação o Princípio da Precedência da Fonte de Custeio.

Anterioridade nonagesimal, noventena ou anterioridade mitigada

De acordo com o artigo 195, parágrafo 6º, da CF: “As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b (princípio da anterioridade genérico)”.

O princípio da anterioridade genérico veda a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os houver instituído ou aumentado.

O princípio da anterioridade nonagesimal, de que aqui estamos tratando, é mais amplo quanto ao seu alcance, pois exige o interstício de noventa dias para se efetuar alguma modificação quanto à exigibilidade das contribuições sociais, não apenas para seu aumento ou criação.

O mesmo aplica-se a qualquer uma das contribuições sociais previstas no artigo 195 da Constituição Federal, portanto, só poderão ser exigidas após 90 (noventa) dias decorridos da data de publicação da lei que as houver instituído ou modificado. É um princípio que visa proteger o contribuinte, pois não será surpreendido por alguma legislação que altere a contribuição devida, acarretando um gasto extra não previsto em seu orçamento.

As modificações que estão sujeitas à anterioridade nonagesimal são as que representam uma efetiva onerosidade para o contribuinte. As modificações menos onerosas ao contribuinte podem ser aplicadas desde a entrada em vigor da lei.

O princípio da anterioridade nonagesimal tem como objetivo proteger o contribuinte contra o fator surpresa, quando gere aumento em sua carga tributária.

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Para as contribuições de seguridade social não se aplica o princípio da anterioridade anual ou genérica (CF, art. 150, III, “b”).

O STF entende que a lei que se limita simplesmente a mudar o prazo de recolhimento da contribuição social (ou de qualquer outro tributo) não se submete ao princípio da anterioridade anual nem ao princípio da anterioridade nonagesimal. Para firmar esse entendimento, o STF editou a súmula nº 669: “norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade”.

E quanto uma contribuição de seguridade social for majorada por Medida Provisória, quanto se inicia o prazo da contagem dos 90 dias?

O STF entende que “o prazo nonagesimal (CF, art. 195, § 6º) é contado a partir da publicação da Medida Provisória que houver instituído ou modificado a contribuição” (STF, RE-Agr 453490/SP).

Progressividade das contribuições sociais

O artigo 195, parágrafo 9º, da CF, acrescentado pela emenda 20/1998 e pela emenda 47/2005, traz a possibilidade de que as alíquotas e as bases de cálculo das contribuições a cargo do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada, possam ser calculadas de forma diferenciada, em função da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

Estatui ele, portanto, a possibilidade de progressividade das alíquotas e da base de cálculo das referidas contribuições.

É dispositivo direcionado ao legislador. Visa materializar o princípio da equidade no custeio.

TRIBUTAÇÃO DIFERENCIADA

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

[...]

§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

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Questões

(INSS – TÉCNICO DO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2008 – CADERNO_AZUL)

• Acerca dos princípios da seguridade social, julgue os itens a seguir.

1. Um dos objetivos da seguridade social é a universalidade da cobertura e do atendimento, meta cumprida em relação à assistência social e à saúde, mas não à previdência.

( ) Certo   ( ) Errado

2. A seguridade social, em respeito ao princípio da solidariedade, permite a incidência de contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social.

( ) Certo   ( ) Errado

• Acerca da seguridade social no Brasil, de suas características, contribuições e atuação, julgue os itens a seguir.

3. A instituição de alíquotas ou bases de cálculos diferentes, em razão da atividade econômica ou do porte da empresa, entre outras situações, apesar de, aparentemente, infringir o princípio tributário da isonomia, de fato atende ao comando constitucional da equidade na forma de participação no custeio da seguridade social.

( ) Certo   ( ) Errado

(INSS – TÉCNICO DO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2008 – CADERNO AZUL)

• Acerca de princípios da seguridade social, julgue os itens a seguir.

4. De acordo com recentes alterações constitucionais, as contribuições sociais que financiam a seguridade social somente poderão ser exigidas depois de decorridos noventa dias da publicação da lei que as houver instituído ou modificado. Essas alterações também acrescentaram, no que concerne a esse assunto, a exigência da anterioridade do exercício financeiro.

( ) Certo   ( ) Errado

5. Pelo fato de serem concedidos independentemente de contribuição, os benefícios e serviços prestados na área de assistência social prescindem da respectiva fonte de custeio prévio.

( ) Certo   ( ) Errado

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(DPU – DEFENSOR PÚBLICO DE 2ª CATEGORIA – CESPE – 2010)

• Com base no direito previdenciário, julgue o item a seguir.

6. Caso a CF previsse que determinado benefício previdenciário deveria abranger somente os empregados urbanos, rurais e trabalhadores avulsos, norma infraconstitucional posterior que fosse editada estendendo o benefício aos contribuintes individuais, com a precedente fonte de custeio, deveria ser considerada constitucional.

( ) Certo   ( ) Errado

(MPS – TÉCNICO DE NÍVEL SUPERIOR – CONTRATAÇÃO – 2010 – CESPE)

7. Entre os objetivos traçados pela CF para a organização da seguridade social, consta o caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite.

( ) Certo   ( ) Errado

(DEFENSORIA PÚBLICA DO DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2013)

• Julgue os itens a seguir, relativos a seguridade social e a acidente do trabalho.

8. Entre os objetivos em que se baseia a organização da seguridade social no Brasil inclui-se o caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão tripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores e do governo nos órgãos colegiados.

( ) Certo   ( ) Errado

9. (AGU – ADVOGADO DA UNIÃO – CESPE – 2015)

De acordo com entendimento do STF, o princípio da preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço aplica-se à seguridade social financiada por toda sociedade, estendendo-se às entidades de previdência privada.

( ) Certo   ( ) Errado

(DPU – ANALISTA ADMINISTRATIVO – CEBRASPE – 2016)

• A respeito da conceituação, dos princípios e das disposições constitucionais acerca da seguridade social, julgue os seguintes itens.

10. O princípio constitucional da universalidade da cobertura e do atendimento implica no entendimento de que o Estado deve prover, por meio da seguridade social, gratuitamente e independentemente de contribuição, assistência social, saúde e previdência a todos que necessitam desses benefícios e serviços.

( ) Certo   ( ) Errado

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(TCE -RN – AUDITOR – CESPE – 2015)

• Com fundamento nas disposições constitucionais acerca da ordem econômica e financeira e da ordem social, julgue o item que se segue.

11. Os objetivos da seguridade social incluem a universalidade da cobertura e do atendimento, a equidade na forma de participação no custeio e a diversidade da base de financiamento.

( ) Certo   ( ) Errado

• Com relação à seguridade social e seu custeio, julgue o item a seguir.

12. De acordo com o princípio da seletividade, os objetivos constitucionais de bem-estar e justiça social devem orientar a escolha dos benefícios e dos serviços a serem mantidos pela seguridade social, bem como a concessão e a manutenção das prestações sociais de maior relevância.

( ) Certo   ( ) Errado

(INSS – TÉCNICO DO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016 – CADERNO ALGA)

13. A seguridade social é organizada mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do governo nos órgãos colegiados.

( ) Certo   ( ) Errado

14. De acordo com o princípio da universalidade da seguridade social, os estrangeiros no Brasil poderão receber atendimento da seguridade social.

( ) Certo   ( ) Errado

(DPU – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2017)

• Acerca da seguridade social no Brasil, de sua evolução histórica e de seus princípios, julgue o item a seguir.

15. Dado o princípio da universalidade de cobertura, a seguridade social tem abrangência limitada àqueles segurados que contribuem para o sistema.

( ) Certo   ( ) Errado

• A respeito da condição de segurados e dependentes no RGPS e da fonte de custeio desse regime, julgue o item subsequente.

16. O princípio da equidade na forma de participação no custeio do RGPS não veda a existência de alíquotas de contribuições diferenciadas entre empregadores nem entre empregados.

( ) Certo   ( ) Errado

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(STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – SERVIÇO SOCIAL – CESPE – 2018)

• Acerca da Lei n.º 8.212/1991, que dispõe sobre a seguridade social, julgue os itens a seguir.

17. Constitui princípio e diretriz da seguridade social o caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação de membros da comunidade, entre os quais, os empresários.

( ) Certo   ( ) Errado

18. Os princípios e diretrizes da seguridade social incluem a participação da iniciativa privada na assistência à área da saúde, desde que obedecidos os preceitos constitucionais.

( ) Certo   ( ) Errado

Gabarito: 1. Errado 2. Errado 3. Certo 4. Errado 5. Errado 6. Certo 7. Certo 8. Errado 9. Errado 10. Errado 11. Certo 12. Certo 13. Certo 14. Certo 15. Errado 16. Certo 17. Certo 18. Certo

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O princípio da isonomia (também conhecido como princípio da igualdade tributária), em Direito tributário, prescreve que não poderá haver instituição e cobrança de tributos de forma desigual entre contribuintes que se encontram em condições de igualdade jurídica.

É corolário do princípio constitucional de igualdade jurídica, encontrado no art. 5º, caput, da CF. O princípio da isonomia, do mesmo modo, é encontrado na Carta Magna, em seu art. 150, II, in verbis:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:(...)

II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos

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PRINCÍPIOS BÁSICOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Art. 1º A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

Art. 2º A Previdência Social rege-se pelos seguintes princípios e objetivos:

I – universalidade de participação nos planos previdenciários;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios;

IV – cálculo dos benefícios considerando-se os salários de contribuição corrigidos monetariamente;

V – irredutibilidade do valor dos benefícios de forma a preservar-lhes o poder aquisitivo;

VI – valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário de contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado não inferior ao do salário mínimo;

VII – previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional;

VIII – caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação do governo e da comunidade, em especial de trabalhadores em atividade, empregadores e aposentados.

Parágrafo único. A participação referida no inciso VIII deste artigo será efetivada a nível federal, estadual e municipal.

Caráter Contributivo e Filiação Obrigatória

O subsistema previdenciário é contributivo. Devido ao caráter contributivo a previdência social, apenas concederá os benefícios e serviços aos segurados (e seus dependentes) que se filiarem previamente ao regime previdenciário, sendo exigido o pagamento de tributos classificados como contribuições previdenciárias, haja vista se tratar do único subsistema da seguridade social com natureza contributiva direta.

Além da necessidade do recolhimento das contribuições previdenciárias, a Constituição da República de 1988 impõe a obrigatoriedade de filiação ao RGPS.

O RGPS é de caráter compulsório para os trabalhadores em geral, conforme determinado pelo caput do art. 201, da CRFB, exceto no que concerne aos servidores públicos efetivos e militares vinculados a algum RPPS.

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Equilíbrio Financeiro e Atuarial

Este princípio está previsto no art. 201 da CRFB, determinando que a previdência social observe critérios que preservem o seu equilíbrio financeiro e atuarial, a fim de assegurar a incolumidade das contas previdenciárias para as presentes e futuras gerações.

INCOLUMIDADE: É a condição de estar livre de perigo ou dano, ileso, incólume.

Significa que o Poder Público deverá, na execução da política previdenciária, atentar sempre para a relação entre o custeio e o pagamento dos benefícios, a fim manter o sistema equilibrado, e observar as oscilações da média etária da população, bem como da expectativa de vida, para adequação dos benefícios a essas variáveis.

Equilíbrio Financeiro: deve ser entendido como a capacidade financeira do sistema de fazer frente às despesas com o pagamento dos benefícios previdenciários de forma imediata.

Equilíbrio Atuarial: por sua vez, impõe o conhecimento da ciência atuaria, que é a área do conhecimento humano que tem por finalidade analisar os riscos e as expectativas financeiras e econômicas relacionadas, sobretudo, na gestão de seguros e pensões.

Universalidade de Participação nos Planos Previdenciários

Esta norma previdenciária está consignada expressa no art. 2, inciso I, da Lei nº 8.213/91, sendo corolário do Princípio da Universalidade da Cobertura e do Atendimento da Seguridade Social.

O RGPS deverá buscar sempre a sua expansão a fim de filiar cada vez mais segurados, inclusive facultando a adesão ao plano das pessoas que não exercem atividade laboral remunerada, na condição de segurados facultativos.

Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e Rurais

Trata-se de princípio constitucional da Seguridade Social que foi repetido pela artigo 2, inciso II, da Lei nº 8.213/91.

Depois da promulgação da CRFB/88, garantiu-se a isonomia entre os trabalhadores, independente do local onde eles exercem atividade.

Uniformidade: significa igual rol de prestações, ou seja, os benefícios e serviços garantidos aos trabalhadores urbanos devem também ser garantidos aos rurícolas.

Equivalência: impõe a aplicação da mesma sistemática de cálculo dos benefícios previdenciários devido aos trabalhadores urbanos e rurais.

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Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios

Trata-se da reprodução parcial do Princípio Constitucional da Seletividade e Distributividade na Prestação de Benefícios e Serviços promovida pelo artigo 2, inciso III, da Lei nº 8.213/91.

Seletividade: obriga o legislador a escolher os riscos sociais a serem cobertos pelo RGPS, respeitando o conteúdo mínimo constitucional que determina a cobertura de inúmeros eventos nos cinco incisos do artigo 201.

Distributividade: torna a previdência social relevante instrumento de repartição de riquezas no Brasil.

Dos Salários de Contribuição Corrigidos Monetariamente

Conforme determina o artigo 2, inciso IV, da Lei nº 8.213/91, o cálculo dos benefícios previdenciários deverá considerar os salários de contribuição corrigidos monetariamente, direito dos segurados reconhecido no § 3º do artigo 201, da CRFB.

De acordo com o artigo 29-B, da Lei nº 8.213/91, os salários de contribuição considerados no cálculo do valor do benefício serão corrigidos mês a mês de acordo com a variação integral do INPC, calculado pelo IBGE.

Irredutibilidade do Valor dos Benefícios

Na forma do artigo 2, inciso V, da Lei nº 8.213/91, é direito dos segurados e dependentes que o valor do seu benefício previdenciário não seja reduzido nominalmente, bem como sofra os reajustes anuais a fim de preservar o seu poder aquisitivo.

Logo, não se cuida apenas de uma irredutibilidade nominal ou formal, e sim material, sendo direito subjetivo dos beneficiários do RGPS o reajuste pelo índice legal para manutenção do seu valor real, conforme determinado pelo artigo 201, § 4º, da CRFB.

Da Garantia do Benefício não Inferior ao Salário Mínimo

É assegurado constitucionalmente que nenhum benefício do RGPS que substitua o rendimento do trabalho ou o salário de contribuição tenha valor inferior a um salário mínimo.

Na trilha, o artigo 2, inciso VI, da Lei nº 8.213/91, elevou esta norma à categoria de princípio da previdência social, fazendo com que apenas os benefícios que não venham substituir a remuneração do trabalhador (salário família e auxílio acidente) possam ser inferiores a um salário mínimo.

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Previdência Complementar Facultativa

Apesar de o RGPS ser compulsório e universal, admite-se a participação da iniciativa privada na atividade securitária, em complemento ao regime oficial (RGPS – de natureza estatal), em caráter de facultatividade para os segurados dos regimes básicos (RGPS e RPPS).

A Previdência Social (RGPS) visa assegurar a sobrevivência digna do beneficiário, e não o mesmo padrão financeiro da atividade. Prova disso é a previsão de um teto máximo para a maioria dos benefícios previdenciários.

Para garantir a manutenção do padrão de vida, o indivíduo precisará recorrer à previdência complementar privada. De acordo com o art. 202, da CRFB, o regime de previdência complementar privada, de caráter complementar e organizada de forma autônoma em relação ao RGPS, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar LC nº 108, de 29 de maio 2001).

Gestão Quadripartite da Previdência Social

Este princípio é decorrência natural do Princípio da Gestão Quadripartite da Seguridade Social, na forma do art. 2º, inciso VIII, da Lei nº 8.213/91, pois a previdência social deverá contar com uma gestão democrática e descentralizada, com a participação de representantes do Poder Público, empregadores, trabalhadores e aposentados nos órgãos colegiados.

Princípio da Indisponibilidade dos Benefícios Previdenciários

Em regra os benefícios da Previdência Social objetivam substituir a renda do trabalho dos segurados quando verificado em concreto um risco social previsto em lei como sua hipótese de concessão, tendo nítida natureza alimentar.

Através deste princípio é que se garante uma maior segurança jurídica aos benefícios (garantindo efetivamente os direitos adquiridos pelo trabalhador), uma vez que o entendimento é que os benefícios previdenciários devem ser preservados sem que sofram sanções tais como penhora ou sequestro, impedindo também que haja qualquer desconto indevido.

Há algumas exceções constantes do art. 115 da Lei nº 8.213/91.

Princípio da Automaticidade das Prestações

O Princípio da Automaticidade da Prestações, estatui serem devidas as prestações previdenciárias mesmo na hipótese de não pagamento das contribuições previdenciárias, quando a responsabilidade pelo recolhimento for das empresas tomadores de serviços, entidades a elas equiparadas e empregador doméstico. Tal sistemática ocorre em relação

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aos segurados empregados, trabalhadores avulsos, empregados domésticos e contribuintes individuais.

Princípio da Vedação ao Retrocesso Social

O conteúdo do princípio da proibição de retrocesso social está centrado na possibilidade de reconhecimento do grau de vinculação do legislador aos ditames constitucionais relativos aos direitos sociais, significando que, uma vez alcançado determinado grau de concretização de uma norma constitucional definidora de direito social – aquela que descreve uma conduta, omissiva ou comissiva, a ser seguida pelo Estado e por particulares – , fica o legislador proibido de suprimir ou reduzir essa concretização sem a criação de mecanismo equivalente ou substituto.

Parcela da doutrina aponta o Princípio da Vedação ao Retrocesso Social como norma que lastreia a Previdência Social no Brasil, que veda a redução da proteção previdenciária para que se preserve o mínimo existencial dos segurados.

Princípio do Tempus Regit Actum

Trata-se de um princípio geral do Direito que pontifica que os atos jurídicos deverão ser regulados pela lei vigente no momento da sua realização, normalmente não se aplicando os novos regramentos que lhe são posteriores, salvo previsão expressa em sentido contrário.

É possível afirmar que tem berço constitucional por derivar do direito fundamentalmente que proíbe a nova lei prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (artigo 5º, inciso XXXVI, da CRFB).

Logo a CRFB adotou o Princípio da Irretroatividade Restrita.

Conquanto não esteja explicitamente previsto na legislação previdenciária como princípio informador, entende-se que ele integra o seu rol, sendo muitas vezes usado para definir o regime jurídico dos benefícios previdenciários, pois deverá ser aplicada a lei vigente na data do nascimento do direito à prestação previdenciária.

Princípio do In Dubio pro Misero

O objetivo do princípio é: favorecer o hipossuficiente.

Ainda é apontado o Princípio do In Dubio Pro Misero a fim de se privilegiar o segurado nas hipóteses de non liqued, ou seja, após a instrução administrativa ou judicial exauriente, o decisor deveria beneficiar a parte supostamente mais fraca em caso de persistente dúvida.

Entretanto, nem sempre, o beneficiário da seguridade social será um indivíduo hipossuficiente, ao tempo em que a relação jurídica previdenciária é diversa da trabalhista ou consumeirista, que visam tutelar a parte mais fraca.

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Deverás, a entidade previdenciária, conquanto verifique em um caso concreto que o beneficiário é hipossuficiente, não deve abusar dessa condição, pois a Administração Pública deverá pautar-se pelos princípios constitucionais administrativos.

Assim, entende-se que a adoção desse princípio não deve ser aceita na relação previdenciária. Da mesma forma, poderia se adotar a fórmula in dubio pro societatis, pois os recursos para o pagamento dos benefícios previdenciários são de origem pública e das demais fontes de custeio, inclusive dos trabalhadores vinculados ao sistema.