Produzir a monografia final: um desafio ou uma obrigao? Por Irmgard Margarida Theobald

Resumo: Neste texto propomos aos acadmicos, para a elaborao de sua Monografia requisito de concluso do

curso, algumas reflexes sobre o significado desta tarefa a partir do pressuposto de que Pesquisar, Ler e Escrever

so trs competncias entendidas como inerentes funo do ser professor e ser professora, e para desempenh-las

com segurana fundamental que o concluinte dos cursos de licenciatura vivenciem a experincia da produo

cientfica de forma concreta atravs da construo de sua monografia.

Palavras-chave: trabalho cientfico, monografia, pesquisa, leitura, escrita, docncia.

Escrever trabalhos ou textos acadmicos - resumos, resenhas, memoriais, relatrios, projetos, artigos,

monografias e similares, obedecendo aos rigores das regras bsicas para a produo de textos cientficos deveria

ser uma atividade estudantil rotineira desde o ensino fundamental. No Brasil, no entanto, por razes histrico-

culturais explicadas em estudos que mostram a predominncia das razes do povo brasileiro nas culturas no-

letradas como as de origem africana, indgena e latina, sabendo-se que as pessoas originrias destes povos tem

tradicionalmente a oralidade como uma forma de transmisso de conhecimentos das geraes mais velhas para as

mais novas, refletindo-se estas no modo como as exigncias com trabalhos cientficos na graduao tem sido um

desafio para os universitrios.

Depois de acompanhar por mais de uma dcada a elaborao de trabalhos acadmicos e, em especial, as

monografias de final do curso de graduao e mesmo ps-graduao, fomos registrando as dificuldades e dvidas

apresentadas com mais freqncia, pelos orientandos e orientandas, e a partir delas sistematizamos algumas

orientaes, que sujeitas apreciao da comunidade acadmica doravante, resultam num referencial terico para a

monografia e, muitas destas por extenso podero ser aplicadas aos demais textos cientficos exigidos dos

universitrios e at mesmo dos egressos. Isto porque entendemos que o hbito de escrev-los no deve ser algo

restrito apenas uma exigncia acadmica na Universidade, mas tambm uma continuidade na vida profissional

ps-universitria, principalmente como professor ou professora refletida na prtica do graduado, seja na Educao

Bsica ou no Ensino Superior.

1.1. Por que escrever uma Monografia ?

Primeiro preciso entender que quem conclui um curso universitrio deve dominar o estudo e organizao

de um assunto de forma diferenciada daquele que escreve textos e no tem formao acadmica e, em segundo

lugar preciso dar um carter lgico-cientfico ao saber que resulta de quatro ou cinco anos de academia, isto exige

seriedade, rigor e disciplina s normas a ser refletido na construo de uma monografia. Por esta razo faz-se

necessrio que o acadmico elabore o saber de forma organizada travs de um estudo que apresentado ao final de

um curso numa verso monogrfica da qual uma cpia encaminhada biblioteca do Campus para integrar o

acervo de produo acadmica, servindo como fonte de pesquisa para as geraes de estudantes que o sucedero e

contribuindo para o acervo da produo acadmica local.

Soma-se a isto o fato de que diante das novas exigncias emergentes dos novos paradigmas da

globalizao, cobrando tantas competncias do professor e da professora sintetizadas por PERRENOUD (2000) do

qual trazemos uma contribuio que diz:

Formar para as novas tecnologias formar o julgamento, o senso crtico, o pensamento hipottico e dedutivo, as faculdades de observao e de pesquisa, a imaginao, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a anlise de textos e de imagens, a representao de redes, de procedimentos e de estratgias de comunicao (p.128)

Assim perguntamos: como o professor e a professora iro proporcionar aos seus aprendizes os saberes de

tais competncias se eles prprios no as dominarem? Habilidades como pensamento hipottico e dedutivo,

observao, representao de redes de saberes, procedimentos e estratgias de comunicao e tantas outras devem

ser exercitadas para sermos eficientes na sua adoo e incorporao em nossos hbitos profissionais cotidianos.

Uma das preocupaes que se busca tambm garantir com a elaborao da monografia sendo parte

obrigatria da Matriz Curricular, fazer o aluno e a aluna refletir sobre como organizar sua vida profissional para

alm da universidade, visto que uma das competncias mais exigidas no mundo contemporneo administrar a sua

prpria formao continuada e, para tanto o hbito de buscar os conhecimentos atravs da leitura em publicaes

atualizadas e a sistematizao do saber elaborado atravs do registro escrito, so procedimentos que subsidiam a

aprendizagem e a produo do conhecimento de forma autnoma, permanente e com inteligncia num mundo onde

somos diariamente bombardeados com uma enorme avalanche de informaes s quais se faz necessrio avaliar,

selecionar e reelaborar de forma crtica e inteligente para atingir com mais eficincia e melhorias a organizao do

cotidiano e do trabalho. Entretanto, para LIMA (2002, p.15) :

A monografia, de estudo prazeroso, tem sido vista no meio acadmico como o ltimo martrio antes da obteno do ttulo, tal a maneira que tratada nos diversos nveis de ensino ... nas universidades, a aplicao da expresso monografia tem sido generalizada, classificando-se assim desde trabalhos escolares, ou aqueles pedidos pelos professores nos cursos de graduao, at relatrios de estgios, muitas vezes apresentados sob forma de compilaes ou simples descrio de atividades malfeitas.

Confirmando isto, freqentemente alunos ou alunas ao ingressar na universidade e, mesmo durante as

atividades de orientao do que se convencionou denominar TCC (Trabalho de Concluso do Curso) questionam

porque h tantas regras e normas a serem obedecidas ao se escrever um texto na universidade? Pior ainda quando

perguntam professora: preciso fazer o trabalho seguindo a metodologia cientfica?

Ora, cabe aqui uma reflexo a partir de nova pergunta: Qual a diferena entre um texto universitrio

(cientfico, claro!) e outros textos? Ou se leva a produo de textos na universidade (e na escola em geral!) a srio

ou nada se construir alm do saber emprico que j revelam os tantos outros textos que conhecemos e que povoam

nosso dia a dia com a literatura do senso comum. A literatura cientfica tem uma personalidade (ou cara) prpria

que deve ser respeitada num trabalho acadmico, preciso entender como organizar as idias que se cria ou recria

apresentando-as graficamente de acordo com as orientaes da metodologia cientfica para diferenciar o saber

elaborado cientificamente daquele elaborado empiricamente pelo que se conhece como senso comum. Esta

exigncia mais expressiva para cursos de formao de professores, como neste caso.

Faamos uma analogia com um outro profissional, digamos um cabeleireiro ou cabeleireira. Quando

algum procura este profissional para solicitar dele algum servio espera, naturalmente, que o mesmo domine o

manuseio dos equipamentos bsicos inerentes ao exerccio da sua profisso como tesouras, pentes e outros, alm de

conhecimentos especficos necessrios ao desempenho de sua funo competentemente. Ora, o que se espera que

um professor e uma professora dominem, lidar com as ferramentas bsicas da ao pedaggica que so a leitura e

a escrita, pois esta a razo de existir de uma instituio escolar, do nvel mais elementar ao superior, uma vez que

obrigao da escola cuidar que seus alunos e alunas adquiram e se apropriem da leitura das diferentes linguagens

e tambm a sua escrita.

Portanto, espera-se que quem quer ser professor ou professora tenha em relao a leitura e a escrita a

mesma responsabilidade e competncia que o cabeleireiro e a cabeleireira tem ao cuidar do cabelo de seus clientes.

E, quantas vezes no passamos por uma experincia desagradvel ao procurar um servio de cabeleireiro, samos

desapontados com o resultado porque sentimos que o profissional que procuramos no tinha preparo suficiente

para o que se props realizar. E, a ttulo de auto-avaliao podemos nos perguntar: como nossos alunos percebem

nossa atitude diante da leitura e da escrita? Ser que no desapontamos nossos alunos como um referencial

negativo diante do ler e do escrever?

Promover a iniciao cientifica na escola brasileira, desde a pr-escola at a universidade, como defende

Pedro Demo, tendo na PESQUISA, aqui entendida como atividade de investigao sistemtica, a metodologia

bsica da ao pedaggica uma providncia imprescindvel a ser adotada para que o Sistema Educacional

Brasileiro seja valorizado e respeitado no cenrio mundial. Deduz-se da o quanto importante para os concluintes

dos cursos de licenciatura em particular, vivenciar a experincia da produo cientifica, mesmo que

compulsoriamente, ao trmino da graduao, pois antes de adotar a PESQUISA desde seu formato informal at o

grau mais elevado e formal como a produo de uma monografia, o professor e a professora devero ter muito

claro para si mesmo o que significa PESQUISAR.

Contribuindo com este enfoque, temos a explicao de BARBA (2002, p. 8) quando diz que

A monografia acha-se estreitamente ligada investigao cientfica e reflexo. Sem a marca da reflexo, a monografia transforma-se facilmente em mera cpia de pesquisa ou compilao de obras alheias. A reflexo a dominante na elaborao e comunicao da monografia, pois o autor deve justificar uma lgica do contexto da justificao dos a argumentos trabalhados no texto.

Vale ainda retomar a reflexo sobre duas habilidades (pr-requisitos) fundamentais para o xito do ato de

pesquisar: leitura e escrita. Ter uma atitude positiva frente leitura e a conscincia do quanto o ato de leitura

contribui para o autodesenvolvimento permitindo acesso construo de novos conhecimentos um

comportamento percebido pelo aluno mesmo sem que o professor ou a professora nada digam a respeito. Por outro

lado, o hbito de registrar (escrever) o conhecimento elaborado um dos critrios bsicos para que este

conhecimento seja cientifico. E, se a escola ou universidade permanecer na elaborao do conhecimento apenas de

forma verbal, no levando professores e alunos produo escrita como resultado da rede dos saberes construdos,

quase nada ter acrescentado ao saber elaborado pelo senso comum por qualquer cidado ou cidad que para tal

no precisa necessariamente freqentar bancos escolares.

De outro norte, preciso transcender o fenmeno utilitarista de fazer a monografia ao final de

uma graduao ou ps-graduao para obter a nota e aprovao no curso. Contentar-se simplesmente com o

cumprimento de um ritual que nada ir acrescentar na formao profissional deve ser superado pelo estudante com

atitudes como:

a) o que a monografia ir acrescentar na minha formao para ser um profissional mais competente?

b) qual a importncia de estudar este ou aquele tema para mim?

c) que mudanas posso obter, como professor ou professora, no conjunto da rede de saberes que constru at agora

fazendo esta monografia?

1.2. A adoo de idias alheias na Monografia

Faz-se necessrio entender que escrever uma monografia supera tambm a postura daquele indivduo que

um repetidor, copiador, plagiador, ou clonador de textos recortados aleatoriamente dos textos originais

selecionados, onde a tnica dominante no tenho nada a acrescentar, elaborar, comentar. Se a universidade est

voltada para a produo de conhecimentos novos, espera-se da comunidade acadmica a sua contribuio, claro!

Da, a razo pela qual respeitar as normas para a transcrio de citaes to importante num texto acadmico,

pois preciso discernir entre as partes do texto resultantes das reflexes elaboradas pessoalmente pelo(s) autor(es)

do texto acadmico, daquelas que se adotou e incorporou dos autores lidos e estudados para escrever sobre o tema

que iluminaram a anlise e interpretao dos dados coletados, sejam tericos ou prticos, inseridas no formato de

citaes formais ou informais.

Destacar a importncia de respeitar as idias alheias que utilizamos em qualquer tipo de produo

acadmica transcende em muito o fato de ser uma norma da ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas e

da produo cientifica internacional porque, antes de mais nada um princpio tico na redao de textos em geral

no roubar idias alheias e, se na escola pode ser feito alguma coisa para diminuir a prtica da desonestidade e da

corrupo neste pas, deve-se comear por abolir a prtica de plagiar (clonar) idias, fazendo-se isto da forma

adequada nos trabalhos acadmicos com as citaes sempre remetendo ao autor dos dados e informaes utilizados

e, sobretudo mostrando com nosso exemplo que a monografia apresentada ao final do curso NO UMA

CLONAGEM OU UM TEXTO COMPRADO COMO UM PRODUTO DE SHOPPING QUALQUER, pois

ousamos afirmar que aquele que no produzir sua monografia de forma honesta no digno de ser chamado

professor ou professora, muito menos de receber um diploma como licenciado pela universidade para ensinar as

novas geraes.

Vai ensinar o que? mais digno produzir uma monografia simples, errando vrias vezes, refazendo-a

tantas vezes quantas se fizer necessrio e apresentar o produto final como resultado do esforo prprio que ser

sempre um respaldo para o exerccio tico do magistrio onde se estiver atuando. Falando a respeito da redao de

trabalhos acadmicos, BARBA (2002, p. 9) afirma com muita propriedade que

... para conseguirmos explanar as idias de modo coerente, faz-se necessrio cortes e adies de palavras ou frases. A estrutura da redao assemelha-se um esqueleto, constituido de vrtebras

interligadas entre si. O pargrafo a unidade que desenvolve uma idia central que se encontra ligada s idias secundrias devido ao mesmo sentido. Assim, quando se muda de assunto, muda-se de pargrafo.

A ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas, nos ltimos anos tambm vem contribuindo para

que a polmica originada pelas divergncias entre os tantos autores de obras sobre o assunto seja superada, uma

vez que alm de normatizar a apresentao grfica das referncias bibliogrficas, notas de rodap e citaes como

sempre fez tambm normatizou detalhes como paginao, espaamento entrelinhas, tipo e tamanho da fonte (letras)

e tantos outros. E, neste manual estaremos adotando as normas definidas pela ABNT para a apresentao grfica de

trabalho cientficos facilitando o trabalho de alunos e professores na universidade e, em particular a produo da

monografia ou trabalho de concluso de curso na graduao, conforme orientaes que so detalhadas mais

adiante. Com isto, teremos um procedimento nico e padronizado para todas as produes acadmico-cientficas,

com a possibilidade de proporcionar aos acadmicos egressos a aplicao das normas que aprenderam em outras

instituies e na sua vida profissional, de acordo com o padro ABNT.

Este pequeno texto foi elaborado para contribuir de forma objetiva no desempenho desta fantstica

experincia que a produo da Monografia de concluso do curso de graduao, aqui particularmente em

Pedagogia, Matemtica ou Fsica com os objetivos de:

a) orientar os concluntes a respeito das decises a serem tomadas para escrever, com xito, a sua monografia.

b) simplificar o trabalho de produo monogrfica, sem com isso empobrecer ou comprometer sua boa qualidade.

c) apontar e sugerir alternativas que podero ajudar o acadmico e a acadmica a realizar esta tarefa.

A esse respeito, BARBA ( p. 10) entende-se que

Independente da forma (artigo, relatrio, monografia, dissertao, tese), a redao final envolve sempre aspectos lgicos (organizao lgica do texto), os aspectos formais (linguagem e estilo) e os aspectos estruturais do texto (formatao, diagramao, notas e citaes, referncias bibliogrficas). importante que o acadmico ou ps-graduando saiba que ele deve apresentar um procedimento lgico e uniforme do ncio ao fim do trabalho que possibilite um desenvolvimento dos argumentos para alcanar o conhecimento do tema investigado.

Finalizando, ao colocar disposio dos acadmicos estas idias salientamos que este documento

no seja entendido como algo pronto e acabado, ao contrrio, que sirva como uma alavanca a impulsionar

discusses e reflexes visando a sistematizao de dados e a elaborao de uma vasta rede de saberes.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

BARBA, Clarides H. de. A construo da Pesquisa Cientfica. Porto Velho: UNIR, 2002.

LEITE, Denise. (org.) Pedagogia Universitria; conhecimento, tica e poltica no ensino superior. Porto Alegre: UFRGS, 1999.

LIMA, Tefilo L. de Manual bsico para elaborao de Monografia. 3.ed. Canoas : EdULBRA, 2002.

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PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competncias para Ensinar. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 2000.

SEVERINO, Antonio J. Metodologia do Trabalho Cientfico. 21.ed. So Paulo: Cortez, 2000.

Prof de Metodologia da Pesquisa em Educao e Metodologia da Produo Acadmica e Cientfica nos Cursos de Pedagogia, Matemtica e Fsica do Campus da UNIR - Universidade Federal de Rondnia de Ji-Paran/RO. Texto elaborado para subsidiar a orientao terica de elaborao da Monografia na Graduao de Pedagogia do Plo de Ji-Paran/PROHACAP e nos cursos de licenciatura em Pedagogia, Matemtica e Fsica.