produção orgânica de cebola com agricultores fam...

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Produção orgânica de ce bol a com agricul tore s fam il iare s Organic onion product ion w it h sm all farm e rs GO NÇALVES, Paul o Antonio de Souz a1;W AM SER, Ge rs on H e nriq ue 2. 1 Epagri, Es tação Expe rim e ntal de Ituporanga, Ituporanga, SC, Bras il , pas g@ e pagri.s c.gov.br; 2 Epagri, Es critório Local de Aurora, Aurora, SC, Bras il , gw am s e r@ e pagri.s c.gov.br RESUMO Obje t ivou-se de se nvolve r de m ane ira part icipat iva um s is te m a de produção orgânica de ce bol a junto a agricul tore s famil iare s da re gião do Al to Val e do Itajaí, SC. Ins tal ou-s e duas unidade s de produção e m duas proprie dade s rurais , s e ndo um a unidade e m um a proprie dade no m unicípio de Aurora e outra e m Rio do Sul , SC. O trabal h o foi conduzido nos anos de 2004, 2005 e 2006. Os técnicos e nvolvidos atuavam com apoio técnico e as s e s s oria, de m odo q ue o s abe r do agricul tor e ra re spe itado para que o s is t e m a se de se nvolve sse num a form a de ge ração de conh e cim e nto h orizontal , onde h á int e ração e col aboração e ntre os s uje itos e nvolvidos . A produt ividade de ce bol a variou de 11 até 15 t/ h a, s im il are s a m édia re gional de agricul tor fam il iar até 2 ha (15 t/ h a), com baixo us o de ins um os e xt e rnos e m re l ação aos sist e m as com al to us o de agroq uím icos . O cus to da ce bol a orgânica foi m e nor com insum os e xt e rnos , m as de m anda m ais m ão-de -obra com capinas m anuais . Em bora a produt ividade não t e nh a sido m áxim a, a produção orgânica ut il iz a m e nos ins um os e xt e rnos à proprie dade , com re dução de im pactos na s aúde h um ana, m e io am bie nt e e custos f inance iros . Os agricul tore s com e rcial iz aram a ce bol a no m e rcado l ocal e e m São Paul o, e foram ce rt if icados pe l o m étodo de auditage m e e s tão e m proce s s o de ce rt if icação part icipat iva. Os agricul tore s apontam com o m aiore s e ntrave s do sist e m a a baixa dis ponibil idade de m ão-de -obra na proprie dade , a ne ce s s idade de ce rt if icação e a organiz ação da com e rcial ização e m grupos . O trabal ho facil itou a int e ração e ntre o s e rviço públ ico agrícol a, os agricul tore s famil iare s e nvolvidos nas unidade s e dos grupos de q ue part icipam . PALAVRAS-CH AVE: ce bol a orgânica, All ium ce pa, pe s q uis a part icipat iva, agroe col ogia, agricul tura orgânica. ABSTRACT Th e obj e ct ive was to de ve l op of part icipat ive m anne r an organic onion product ion s ys t em wit h sm all farm e rs of Al to Val e do Itajaí re gion, Santa Catarina Stat e , Braz il . Tw o pl ot s of t h e product ion w as carrie d out in two small farm e rs in t h e count ie s of Aurora and Rio do Sul . Th e re s e arch w as carrie d out during 2004, 2005 and 2006. Th e agronom ists of t h e agricul tural e xt e ns ion and re s e arch publ ic se rvice provide to te ch nical advice and s upport of manner t h at t he knowl e dge of farm e r was conside re d to ge ne rat e t he syst e m of m anne r h orizontal w it h int e ract ion and coll aborat ion be twe e n subje ct s . Th e yie l d al t e rnat e d be twe e n 11 t .h a-1 and 15 t .h a-1, s im il ar re gional val ue s to t h e small farm e rs by t h e 2 h a (15 t .h a-1), w it h l ow e xt e rnal input farm ing against s ys te m w it h h igh us e in agroch e m ical s . Th e cos t of organic onion w as l owe r in e xt e rnal input s , but de m and m ore farm l abor pow e r w it h h and w e e ding. Al t h ough t h e m axim um yie l d h as not ye t re ach e d, t h e organic product ion use l ow e xt e rnal input s and re duce im pact s to t h e h um an h e al t h , e nvironm e nt and e conom ic cost s. Th e farm e rs de al t h e onion in l ocal m ark e t and in São Paul o City wit h ce rt if icat ion by audit and in part icipat ive proce s s in de ve l oping. Th e farm e rs indicat e t he l ow farm fam il y’s l abor pow e r avail abil ity, t h e re q uire m e nt of ce rt if icat ion and organizat ion of t h e com m e rcial iz at ion in groups , t h e fe tte rs of t he syst e m . Th is work all ow e d t he int e ract ion be twe e n t h e agricul tural e xt e ns ion and re s e arch publ ic se rvice , t h e small farm e rs and yours groups . KEY W ORDS: organic onion, All ium ce pa, part icipat ive re s e arch , agroe col ogy, organic agricul ture .. Re vis ta Bras il e ira de Agroe col ogia Re v. Bras . de Agroe col ogia. 2(3):63-68 (2007) ISSN: 19 80-9 735 Corre s pondências para: Paul o Gonçalve s - Es trada Ge ral Lage ado/Àguas Ne gras , 453 - Ituporanga, SC, Bras il - Cx.P. 121 - CEP 88400-000 Ace ito para publ icação e m 16/10/2007

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Produção orgânica de ce bola com agricultore s fam iliare s

O rganic onion production w ith s m all farm e rs

GO NÇALVES, Paulo Antonio de Souz a1; W AM SER, Ge rs on H e nriq ue 2.

1

Epagri, Es tação Expe rim e ntal de Ituporanga, Ituporanga, SC, Bras il, pas g@ e pagri.s c.gov.br;

2

Epagri,

Es critório Local de Aurora, Aurora, SC, Bras il, gw am s e r@ e pagri.s c.gov.br

RESUMO

O bje tivou-s e de s e nvolve r de m ane ira participativa um s is te m a de produção orgânica de ce bola junto a

agricultore s fam iliare s da re gião do Alto Vale do Itajaí, SC. Ins talou-s e duas unidade s de produção e m

duas proprie dade s rurais , s e ndo um a unidade e m um a proprie dade no m unicípio de Aurora e outra e m

Rio do Sul, SC. O trabalh o foi conduz ido nos anos de 2004, 2005 e 2006. O s técnicos e nvolvidos

atuavam com apoio técnico e as s e s s oria, de m odo q ue o s abe r do agricultor e ra re s pe itado para q ue o

s is te m a s e de s e nvolve s s e num a form a de ge ração de conh e cim e nto h oriz ontal, onde h á inte ração e

colaboração e ntre os s uje itos e nvolvidos . A produtividade de ce bola variou de 11 até 15 t/h a, s im ilare s a

m édia re gional de agricultor fam iliar até 2 h a (15 t/h a), com baixo us o de ins um os e xte rnos e m re lação

aos s is te m as com alto us o de agroq uím icos . O cus to da ce bola orgânica foi m e nor com ins um os

e xte rnos , m as de m anda m ais m ão-de -obra com capinas m anuais . Em bora a produtividade não te nh a

s ido m áxim a, a produção orgânica utiliz a m e nos ins um os e xte rnos à proprie dade , com re dução de

im pactos na s aúde h um ana, m e io am bie nte e cus tos finance iros . O s agricultore s com e rcializ aram a

ce bola no m e rcado local e e m São Paulo, e foram ce rtificados pe lo m étodo de auditage m e e s tão e m

proce s s o de ce rtificação participativa. O s agricultore s apontam com o m aiore s e ntrave s do s is te m a a

baixa dis ponibilidade de m ão-de -obra na proprie dade , a ne ce s s idade de ce rtificação e a organiz ação da

com e rcializ ação e m grupos . O trabalh o facilitou a inte ração e ntre o s e rviço público agrícola, os

agricultore s fam iliare s e nvolvidos nas unidade s e dos grupos de q ue participam .

PALAVRAS-CH AVE: ce bola orgânica, Allium ce pa, pe s q uis a participativa, agroe cologia, agricultura

orgânica.

ABSTRACT

Th e obje ctive w as to de ve lop of participative m anne r an organic onion production s ys te m w ith s m all

farm e rs of Alto Vale do Itajaí re gion, Santa Catarina State , Braz il. Tw o plots of th e production w as

carrie d out in tw o s m all farm e rs in th e countie s of Aurora and Rio do Sul. Th e re s e arch w as carrie d out

during 2004, 2005 and 2006. Th e agronom is ts of th e agricultural e xte ns ion and re s e arch public s e rvice

provide to te ch nical advice and s upport of m anne r th at th e k now le dge of farm e r w as cons ide re d to

ge ne rate th e s ys te m of m anne r h oriz ontal w ith inte raction and collaboration be tw e e n s ubje cts . Th e yie ld

alte rnate d be tw e e n 11 t.h a-1 and 15 t.h a-1, s im ilar re gional value s to th e s m all farm e rs by th e 2 h a (15

t.h a-1), w ith low e xte rnal input farm ing agains t s ys te m w ith h igh us e in agroch e m icals . Th e cos t of

organic onion w as low e r in e xte rnal inputs , but de m and m ore farm labor pow e r w ith h and w e e ding.

Alth ough th e m axim um yie ld h as not ye t re ach e d, th e organic production us e low e xte rnal inputs and

re duce im pacts to th e h um an h e alth , e nvironm e nt and e conom ic cos ts . Th e farm e rs de al th e onion in

local m ark e t and in São Paulo City w ith ce rtification by audit and in participative proce s s in de ve loping.

Th e farm e rs indicate th e low farm fam ily’s labor pow e r availability, th e re q uire m e nt of ce rtification and

organiz ation of th e com m e rcializ ation in groups , th e fe tte rs of th e s ys te m . Th is w ork allow e d th e

inte raction be tw e e n th e agricultural e xte ns ion and re s e arch public s e rvice , th e s m all farm e rs and yours

groups .

KEY W ORDS: organic onion, Allium ce pa, participative re s e arch , agroe cology, organic agriculture ..

Re vis ta Bras ile ira de Agroe cologia

Re v. Bras . de Agroe cologia. 2(3):63-68 (2007)

ISSN: 19 80-9 735

Corre s pondências para: Paulo Gonçalve s - Es trada Ge ral Lage ado/Àguas Ne gras , 453 - Ituporanga,

SC, Bras il - Cx.P. 121 - CEP 88400-000

Ace ito para publicação e m 16/10/2007

Introdução

Santa Catarina é o principal produtor nacional

de ce bola com 18000 fam ílias e nvolvidas com a

atividade (BO EING, 2002). Na s afra 2006/2007 a

produção anual atingiu 436500 t, e m um a áre a

plantada de 21000 h a e produtividade m édia de

20,7 t/h a (BO EING, 2007a).

O m ane jo da cultura é tradicionalm e nte

re aliz ado no s is te m a conve ncional com o us o

inte ns ivo de agroq uím icos . No ano de 2001, o

núm e ro de produtore s catarine ns e s de ce bola

orgânica e ra de 19 8, com um volum e de

produção de 153,7 t e valor bruto de produção de

R$ 113.400,50 (O LTRAM ARI e t al., 2005). A

produção da ce bola conve ncional apre s e nta um

alto cus to de produção de vido ao us o de

agroq uím icos , e com os cons e q üe nte s ris cos à

s aúde dos agricultore s e contam inação am bie ntal.

Se gundo M UNIZ (2003) ape nas 1,22% dos

agricultore s q ue produz iam ce bola s e de dicavam

ao s is te m a de produção alte rnativo ou orgânico.

Portanto, o s is te m a orgânico de produção de

ce bola pos s ui um alto pote ncial de e xpans ão.

A im plantação do s is te m a de produção

orgânica de ce bola e m um a larga e s cala

pos s ibilitaria o aum e nto da inde pe ndência

finance ira dos agricultore s pe la não utiliz ação de

agroq uím icos , re duz iria o im pacto no m e io

am bie nte , os proble m as de s aúde dos

agricultore s e pos s ibilitaria um alim e nto m ais

s audáve l aos cons um idore s . A e xpans ão do

s is te m a orgânico é dificultada pe lo aum e nto de

m ão-de -obra no m ane jo de e rvas e s pontâne as ,

pe la ne ce s s idade do de s e nvolvim e nto do s is te m a

com agricultore s de m ane ira participativa e

m as s iva, aliado a ne ce s s idade de organiz ar a

com e rcializ ação. Pois , com o é um produto

dife re nciado, porq ue e xigi ce rtificação, apre s e nta

pre ço m ais e le vado pe la m ão-de -obra q ue

de m anda, e m proce s s o de e xpans ão de cons um o

pe las re de s dis tribuidoras , ainda não é abs orvido

de m ane ira m as s iva pe los com pradore s locais de

ce bola.

A Epagri/Es tação Expe rim e ntal de Ituporanga

iniciou e m 19 9 6 o trabalh o com produção

orgânica de ce bola e m parce ria com a

Unive rs idade Fe de ral de Santa Catarina (UFSC)

e agricultore s da re gião (DAL SO GLIO e t al.,

19 9 6). Porém , de vido a dificuldade s de

com e rcializ ação e m ão-de -obra de m andada,

aliado a ne ce s s idade de um am plo trabalh o de

pe s q uis a e e xte ns ão de m ane ira participativa ,

poucos agricultore s s e de dicam a produção

orgânica de ce bola. Se gundo M UNIZ (2003) o

s is te m a de produção de ce bola orgânica continua

não s e ndo m uito utiliz ado, principalm e nte por falta

de inform ação, de vido a fals a idéia de q ue o

s is te m a produz m e nos , por falta de tradição, e

pe la m e nor praticidade pe lo m aior volum e de m ão-

de -obra q ue de m anda.

A utiliz ação de dive rs os proce s s os de

cons trução de conh e cim e nto, tais com o pe s q uis a

participativa e m proprie dade s rurais ,

acom panh am e nto, apoio técnico e troca de

e xpe riência junto com agricultore s , é útil para

um a ciência m ultidis ciplinar e trans dis ciplinar

com o a agroe cologia. Ne s ta linh a a Epagri

de s e nvolve com com unidade s rurais o proje to

Sis te m a de Plantio Dire to de H ortaliças (EPAGRI,

2004). A pe s q uis a participativa no proje to

M icrobacias 2, q ue alia organiz ação com unitária e

de s e nvolvim e nto s us te ntáve l das com unidade s

rurais (PINH EIRO & DE BO EF, 2006). De ntro do

proje to De s e nvolvim e nto de Sis te m as

Agroe cológicos para a Agricultura Fam iliar do

Es tado de Santa Catarina, de s e nvolve -s e

tam bém de form a participativa, as unidade s

produtivas e cológicas com agricultore s . O de s afio

é trabalh ar “com” agricultore s , re s pe itando o

s abe r popular, re aliz ar a trans form ação

am bie ntal e s ócio-e conôm ica das com unidade s e

prom ove r s e re s autônom os e s uje itos de s ua

própria h is tória (FREIRE, 2005).

O obje tivo do pre s e nte trabalh o foi im plantar

unidade s de produção orgânica de ce bola de

form a participativa, com agricultore s fam iliare s do

P.Gonçalve s & G. W am s e r

Re v. Bras . de Agroe cologia. 2(3):63-68 (2007)

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Alto Vale do Itajaí, para am pliação de s te s is te m a.

Mate riais e m étodos

O trabalh o foi iniciado no ano de 2004 através

do contato e ntre profis s ionais do Es critório Local

da Epagri de Aurora e da Pre fe itura M unicipal de

Rio do Sul q ue acom panh avam agricultore s

praticante s do s is te m a orgânico nos s e us

m unicípios de atuação. O s agricultore s com

inte re s s e na produção de ce bola orgânica foram o

Sr. Re inaldo Roe m ig, e m Aurora, com unidade de

Fundos Aurora, m e m bro do grupo AESTA

(As s ociação de Agricultore s Ecológicos de Santa

Te re z a) e Sr. O rlando H e ibe r, e m Rio do Sul, no

Bairro Canta Galo, q ue participa do grupo Natural

da Te rra. As unidade s de produção de ce bola

orgânica foram ins taladas nas proprie dade s

de s te s agricultore s , com o um a atividade

incorporada no s e u cotidiano, para q ue juntos

com os técnicos dis cutis s e m a viabilidade de

im plantação do s is te m a. Não foi um a atividade de

técnicos na cas a do agricultor, m as um s is te m a

de s e nvolvido por am bos nas s e guinte s e tapas :

produção, ce rtificação, com e rcializ ação,

inte rcâm bio de produtos e inform açõe s . Portanto,

não h avia ve rticalidade na re lação e ntre os

atore s , m as coope ração, colaboração e re s pe ito

ao conh e cim e nto de todos .

As cultivare s utiliz adas foram a Epagri 362 -

Crioula Alto Vale , Epagri 352 - Bola Pre coce e

Epagri 363 - Supe rpre coce com s e m e nte

produz ida pe la Epagri/Es tação Expe rim e ntal de

Ituporanga (EEIt) e m conjunto com agricultore s . A

adubação no cante iro de s e m e adura foi re aliz ada

com e s te rcos be m curtidos de ave s (1 k g/m 2,

obtido e xte rno a proprie dade ) e de bovinos (5

k g/m 2). A de ns idade de s e m e adura foi de 2 g/m 2,

s e m e io m e nos de ns o obje tivando propiciar um

am bie nte m ais are jado e e vitar o de s e nvolvim e nto

de doe nças caus adas por fungos (BO FF &

DEBARBA, 19 9 9 ). Para o m ane jo de doe nças

foram s uge ridas calda bordale s a 0,3% e cinz as

na dos e de 50 g/m 2 (BO FF e t al., 19 9 9 ).

As áre as das unidade s foram e m torno de

2000 m 2, e m Aurora e 10000 m 2 e m Rio do Sul.

O e s paçam e nto no trans plante foi de 40 a 50 cm

e ntre linh as e de 10 a 18 cm e ntre plantas . O

e s paçam e nto m ais abe rto foi s uge rido para s e

e vitar doe nças (BO FF e t al., 19 9 8) e facilitar a

capina. O plantio foi re aliz ado durante três anos ,

2004, 2005 e 2006. No prim e iro ano, e m Rio do

Sul plantou-s e s obre s olo lavrado, e no s e gundo e

te rce iro anos , adotou-s e e m parte da áre a o

plantio s obre palh ada de nabo forrage iro. Em

Aurora plantou-s e nos dois prim e iros dire tam e nte

s obre palh ada de m ucuna e no te rce iro ano s obre

ave ia. Adubou-s e com fos fato natural, bas e ado

no te or s olúve l, de acordo com a CO M ISSÃO DE

FERTILIDADE DO SO LO RS/SC (19 9 4). Es ta

de te rm inava para ce bola níve is de adubação

fos fatada infe riore s a re com e ndação m ais re ce nte

(CO M ISSÃO DE QUÍM ICA E FERTILIDADE DO

SO LO RS/SC, 2004). O m ane jo fitos s anitário foi

re aliz ado com caldas através da indução de

re s is tência (aum e nto da tole rância da planta a

incidência de doe nças e pragas ) com e xtrato de

nabo forrage iro 10% (1 k g de plantas picadas

curtidas e m água por 24 h oras ) e te rra de

diatom áce as , pó oriundo de algas fós s e is

diatom áce as , obtido de m ine radora de Criciúm a,

SC, 0,5 a 1% . A pe s q uis a com e s tas alte rnativas

e s tá e m andam e nto na Epagri/EEIt no s e ntido de

s e le cionar dos e s m ais e ficie nte s e m ane iras m ais

e ficaz e s de pre paração das caldas . As capinas

foram m anuais , com e nxada, re aliz adas e m torno

de três a q uatro ve z e s , atividade q ue é

cons ide rada um a dificuldade para a e xpans ão do

s is te m a pe la alta m ão-de -obra de m andada.

Re s ultados e dis cus s ão

A produtividade variou e ntre 11 a 15 t/h a,

atingindo níve is do cultivo tradicional (baixo us o

de ins um os : agroq uím icos e irrigação), q ue é

re pre s e ntativo da re gião para áre a agricultáve l de

até 2 h a (BO EING, 2002). Por outro lado, é

infe rior aos s is te m as com alto níve l de ins um os ,

Re v. Bras . de Agroe cologia. 2(3):63-68 (2007)

Produção orgânica de ce bola com agricultore s fam iliare s

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q ue pode m atingir e m m édia até 35 t/h a

(BO EING, 2002). No início da trans ição do

s is te m a conve ncional para orgânico a re dução na

produtividade é norm al, porém h á re cupe ração a

m édio praz o a m e dida q ue a biodive rs idade s e

re s tabe le ce (ALTIERI & RO SSET, 19 9 6).

O pre ço de com e rcializ ação para o Sr.

O rlando H e ibe r variou nos dois anos de trabalh o

de R$ 1,00 a R$ 1,30 para a ce bola a grane l e e m

rés tia, re s pe ctivam e nte . A ce bola foi ve ndida para

um s upe rm e rcado e m Rio do Sul, e m

re s taurante s , para cons um idore s locais dire to na

proprie dade . Além de fe iras e lojas de

Florianópolis através de inte rcâm bio com o

agricultor Afons o K loppe l (AECIT, As s ociação dos

Agricultore s Ecologis tas de Ituporanga). O Sr.

Re inaldo Roe m ig tam bém re aliz ou inte rcâm bio

com o Sr. Afons o K loppe l. Na s afra 2005/06,

2006/2007 re aliz ou a e xpe riência da ve nda para

dis tribuidoras de São Paulo, re s pe ctivam e nte pe la

coope rativa Ecos s e rra e e m pre s a Cultivar,

obte ndo um pre ço e s tim ado re s pe ctivam e nte de

R$ 1,35 e R$ 1,30 de acordo com a clas s ificação

por tam anh o e de s carte de não com e rcializ áve is ,

com de s conto do cus to do fre te e da ce rtificação.

O pre ço obtido pe los agricultore s é s upe rior ao do

produto conve ncional, com e rcializ ado e ntre R$

0,25 a R$ 0,50 nas s afras agrícolas de 2005 a

2007 (BO EING, 2007a e 2007b). A ce bola

orgânica apre s e nta um a vantage m e conôm ica e m

re lação a conve ncional, pois h á e conom ia pe la

não utiliz ação de adubos m ine rais e agrotóxicos ,

q ue s e gundo M UNIZ (2003) re pre s e ntaram 68,8%

dos cus tos variáve is do s is te m a conve ncional de

produção e ntre 19 9 5 e 2001. Se gundo BO EING

(2002) os agrotóxicos e fe rtiliz ante s m ine rais s ão

um dos principais re s pons áve is pe lo

e ncare cim e nto do s is te m a de produção de ce bola

no s ul do Bras il e m re lação a país e s do M e rcos ul.

Em bora no s is te m a orgânico h aja o aum e nto da

m ão-de -obra com capinas , pois e m s is te m a

conve ncional s e us a h e rbicidas , o pe rfil do

agricultor fam iliar pe rm ite convive r com e s ta

re alidade , pois utiliz a re curs os h um anos próprios

e não h á contratação e xte rna à proprie dade .

Em bora, q uando o agricultor trabalh a s oz inh o,

com o apontado pe lo Sr. O rlando H e ibe r, é a

principal dificuldade para a e xpans ão do s is te m a

pe la pe q ue na dis ponibilidade de m ão-de -obra.

As s im s e ndo, m e s m o q uando ocorre , pe rda na

produtividade , e s ta é com pe ns ada pe la re dução

das de s pe s as com o us o de agroq uím icos e o

m aior pre ço alcançado pe lo produto orgânico,

de vido e m e s pe cial pe la de m anda do m e rcado

por alim e ntos s adios . Em bora o cus to de

produção s e ja infe rior, o aum e nto do us o de

re curs os h um anos dis poníve is na proprie dade ,

aliado ao cus to da ce rtificação por auditage m , e a

ofe rta e s cas s a de ce bola orgânica, favore ce o

aum e nto do pre ço do produto. O pre ço atrativo

te m s ido um dos fatore s q ue favore ce m a e ntrada

dos agricultore s na atividade , aliado a re dução da

de pe ndência e conôm ica de ins um os e xte rnos à

proprie dade . A de te rm inação de q ual de s te s

fatore s e conôm icos te m m aior influência s obre a

de cis ão do agricultor de adotar o s is te m a

de pe nde rá principalm e nte do plane jam e nto de

proprie dade adotado pe la fam ília. Convém

re s s altar, q ue além da q ue s tão e conôm ica, a

q ualidade de vida pe la re dução dos agrotóxicos , e

m e lh ora da auto-e s tim a por e s tar produz indo um

produto s adio para a fam ília e s ocie dade , a

participação de grupos de dis cus s ão e m

agroe cologia q ue favore ce a cidadania,

colaboram para a m anute nção dos agricultore s na

atividade . De s ta form a, não h á com o de s e nvolve r

o s is te m a pe lo paradigm a da m áxim a

produtividade , pois altas produtividade s

de m andam inve s tim e ntos e m ins um os q ue ne m

s e m pre ge ram s ignificativo re torno e conôm ico,

s e ndo m ais viáve l pe lo níve l ótim o de produção,

ou s e ja, com produção de bulbos

com e rcializ áve is e com s us te ntabilidade

e conôm ica para a pe q ue na proprie dade . A

q ualidade da ce bola obtida foi boa, apre s e ntando

cor, tam anh o e form ato de ntro das e xigências do

P.Gonçalve s & G. W am s e r

Re v. Bras . de Agroe cologia. 2(3):63-68 (2007)

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m e rcado cons um idor, com as pe cto s im ilar e até

s upe rior a ce bola conve ncional (Figuras 1 e 2). O

Sr. Re inaldo Roe m ig foi pre m iado no concurs o

para ce bola orgânica nas XIII (s e gundo lugar) e

XIV (te rce iro lugar) Fe s ta Nacional da Ce bola,

re aliz ada e m Ituporanga, SC.

A ce rtificação da produção do Sr. O rlando

H e ibe r foi re aliz ada pe la ECO CERT. O grupo e m

q ue o Sr. Re inaldo Roe m ig é ce rtificado pe lo IBD

e é m e m bro da Re de Ecovida e aguarda o

proce s s o de ce rtificação participativa. Re inaldo

Roe m ig participou junto com agricultore s da

re gião da com pos ição de um grupo para

com e rcializ ação via coope rativa Ecos s e rra,

Lage s , SC, com ce rtificação pe lo s e lo M ok iti

O k ada. O cus to da ce rtificação foi apontado pe los

agricultore s com o re lativam e nte alto pe lo volum e

de produção q ue pos s ue m , pois variou de R$

300,00 a R$ 430,00 por agricultor.

O Sr. Re inaldo Roe m ig cons ide ra a

ne ce s s idade da ce rtificação e e s truturação da

com e rcializ ação para abs orção de m aiore s

volum e s de ce bola os principais proble m as para a

e xpans ão da áre a cultivada. Ne s te cas o, o

proble m a é agravado porq ue a ve nda é re aliz ada

e m São Paulo, ocorre de m ora no pagam e nto, e

h á de s carte e le vado de produto.

Durante o proce s s o participativo de

de s e nvolvim e nto do s is te m a ocorre ram contatos

dos agricultore s q ue trabalh avam as unidade s

com outros grupos e cológicos para inte rcâm bio

de de m ais produtos e inform açõe s da produção.

O inte rcâm bio e ntre grupos de agricultore s s ão

ne ce s s ários para am pliar a produção de ce bola

na re gião, s obre tudo e ntre agricultore s q ue

pos s ue m até 2 h a. O s inte rcâm bios de ve m s e r

prom ovidos pe las ins tituiçõe s públicas e não

gove rnam e ntais do Alto Vale do Itajaí e Se rra

Catarine ns e . O s agricultore s adotaram a

Re v. Bras . de Agroe cologia. 2(3):63-68 (2007)

Produção orgânica de ce bola com agricultore s fam iliare s

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produção orgânica de ce bola e m s uas atividade s

na proprie dade , e m bora e m pe q ue nas áre as (até

2 h a). Porém , a ce bola não é o único produto

orgânico trabalh ado por e s te s agricultore s . Na

agroe cologia de ve -s e procurar a dive rs ificação da

produção, pois ge ra m aior s e gurança alim e ntar

para a fam ília, re duz o ris co e conôm ico e tam bém

porq ue o m e rcado de m anda dive rs idade de

alim e ntos .

Conclus õe s

As unidade s de produção de ce bola orgânica

de m ane ira participativa favore ce ram a

aproxim ação e ntre técnicos das ins tituiçõe s

públicas com os agricultore s e cológicos e s e us

grupos , favore ce ndo a troca de inform açõe s e o

proce s s o form ativo.

A produção de ce bola orgânica atinge níve is

de produtividade s im ilare s ao conve ncional com

baixo us o de ins um os , com m e nor cus to de

produção, porém com m aior de m anda de m ão-de -

obra com capinas , as s im re com e nda-s e

pe s q uis as q ue obje tive m re duz ir a ne ce s s idade

de m ão-de -obra com o m ane jo de ve ge tação

e s pontâne a.

Para re duz ir os cus tos com a ce rtificação por

auditoria e xte rna, de ve s e bus car de s e nvolve r e

articular re gionalm e nte a ce rtificação participativa,

o q ue além de re duz ir os cus tos de produção irá

tam bém fortale ce r as e ntidade s e nvolvidas .

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