produção mais limpa - integrando meio ambiente e produtividade

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SÍLVIO ROBERTO IGNÁCIO PIRES Pós-Doutorado pelo International Institute For Management Development, IMD, Suiça. Mestre e Doutor em Engenharia de Produção pela USP. Graduado em Engenharia de Produção pela UFSCAR. Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - FEAU - UNIMEP E-mail: [email protected] Produção Mais Limpa: Integrando Meio Ambiente e Produtividade CARLOS ALBERTO PALOMARES DIAZ Doutorando e Mestre em Engenharia de Produção peloPrograma de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - FEAU UNIMEP. Graduado em Engenharia Mecânica pela FEI - Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo dos Campos. E-mail: [email protected] m dos maiores desafios das organizações é manter a competitividade no mercado global de uma Umaneira sustentável. Afim de cumprir a nova legislação sócio-ambiental e as novas regras e padrões ambientais e, ao mesmo tempo aumentar sua eficiência de produção, as organizações adotaram práticas de tratamento e controle da poluição (fim da tecnologia de tubos). Estas práticas não evitam a emissão de poluentes, são caras e não melhoram a produtividade dos processos de manufatura além de não adicionarem valores às organizações. Este artigo sugere que, com a adoção de uma prática de produção mais limpa é possível melhorar a performance dos processos de manufatura e produtividade das organizações através de novas tecnologias mais limpa, inovação de processos e práticas de gerenciamento apropriadas. Palavras chave: Produção mais limpa; produtividade; assuntos ambientais. RESUMO ne of the bigger challenges of organization is keep competitiveness in global market in a sustainable way. In order to achieve the new social and environmental legislation and environmental standards O rules and, at the same time increase their production efficiency, organizations have adopted control and pollution treatment practices (end of pipe technology). These practices, don´t avoid pollutants emissions, are expensive and don´t improve manufacturing process productivity besides don´t add value for the organizations. This paper suggests that adopting cleaner production practices is possible to improve manufacturing process performance and organizations productivity by means of new cleaner technologies, process innovation and appropriate management practices. Words key: Cleaner production; productivity; environmental issues ABSTRACT 51 RACRE - Rev. Adm. CREUPI, Esp. Sto. do Pinhal - SP, v. 05, n. 09, jan./dez.2005

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Page 1: Produção Mais Limpa - Integrando Meio Ambiente e Produtividade

SÍLVIO ROBERTO IGNÁCIO PIRES Pós-Doutorado pelo International Institute For Management

Development, IMD, Suiça. Mestre e Doutor em Engenharia de Produção pela USP. Graduado em Engenharia de Produção

pela UFSCAR. Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - FEAU - UNIMEP

E-mail: [email protected]

Produção Mais Limpa: Integrando Meio Ambiente e Produtividade

CARLOS ALBERTO PALOMARES DIAZ Doutorando e Mestre em Engenharia de Produção peloPrograma

de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - FEAU UNIMEP. Graduado em Engenharia Mecânica pela

FEI - Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo dos Campos.

E-mail: [email protected]

m dos maiores desafios das organizações é manter a competitividade no mercado global de uma Umaneira sustentável. Afim de cumprir a nova legislação sócio-ambiental e as novas regras e padrões

ambientais e, ao mesmo tempo aumentar sua eficiência de produção, as organizações adotaram práticas de

tratamento e controle da poluição (fim da tecnologia de tubos). Estas práticas não evitam a emissão de poluentes, são

caras e não melhoram a produtividade dos processos de manufatura além de não adicionarem valores às

organizações. Este artigo sugere que, com a adoção de uma prática de produção mais limpa é possível melhorar a

performance dos processos de manufatura e produtividade das organizações através de novas tecnologias mais

limpa, inovação de processos e práticas de gerenciamento apropriadas.

Palavras chave: Produção mais limpa; produtividade; assuntos ambientais.

RESUMO

ne of the bigger challenges of organization is keep competitiveness in global market in a sustainable

way. In order to achieve the new social and environmental legislation and environmental standards Orules and, at the same time increase their production efficiency, organizations have adopted control and pollution

treatment practices (end of pipe technology). These practices, don´t avoid pollutants emissions, are expensive and

don´t improve manufacturing process productivity besides don´t add value for the organizations. This paper

suggests that adopting cleaner production practices is possible to improve manufacturing process performance and

organizations productivity by means of new cleaner technologies, process innovation and appropriate management

practices.

Words key: Cleaner production; productivity; environmental issues

ABSTRACT

51RACRE - Rev. Adm. CREUPI, Esp. Sto. do Pinhal - SP, v. 05, n. 09, jan./dez.2005

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INTRODUÇÃO

Atualmente a globalização da economia está em um estágio bastante avançado. Porém, o termo globalização é normalmente utilizado e entendido apenas como sinônimo de “globalização econômica” (WEF, 2003).

Esta abordagem tem feito com que as

organizações adotem diferentes estratégias de

manufatura e serviços (produção enxuta,

gerenciamento da cadeia de suprimentos, sistemas da qualidade, etc.) para tornar suas operações mais eficientes e portanto, mais competitivas globalmente.

Esta visão meramente econômica, provoca a busca incessante pela competitividade a qualquer custo o que gera, inúmeros riscos para o meio ambiente, a sociedade e também, para a própria economia. Conciliar a pressão do mercado por produtos e serviços inovadores e competitivos com a demanda da comunidade por melhor qualidade de vida é o grande desafio com que se defrontam as

empresas atualmente.

Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, órgão criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1983, aprofundou o debate sobre a integração entre as questões ambientais e o desenvolvimento, de onde surgiu o termo Desenvolvimento Sustentável (ELIAS e MAGALHÃES, 2003).

Desenvolvimento sustentável é uma

abordagem que usa os recursos naturais de tal

maneira que as necessidades futuras das

o rg a n i z a ç õ e s e s o c i e d a d e n ã o s e j a m

comprometidas. Em outras palavras, o

desenvolvimento sustentável procura encontrar o

equilíbrio entre o crescimento econômico e a

proteção ambiental (KHOO e t a l , 2001; KAZMIERCZYK, 2002). Portanto, a fim de garantir o desenvolvimento sustentável da economia, a globalização econômica deve ser combinada com a globalização ambiental. (WEF, 2003).

Em 1989, a U n i t e d N a t i o n E n v i r o n m e n t a l

P r o g r a m (UNEP), conceitualiza o termo Produção

mais Limpa (C l e a n e r P r o d u c t i o n ) e inicia um trabalho de divulgação do conceito de Produção mais Limpa (P+L) mundialmente. Especificamente, a UNEP concentrou-se no intercambio de informações, capacitação e assistência às organizações e difusão da estratégia de Produção mais Limpa (KAZMIERCZYK, 2002).

A Produção mais Limpa (P+L) está

relacionada com a melhoria do desempenho

econômico das empresas ao mesmo tempo em que

busca reduzir impactos negativos sobre o meio

ambiente. (KAZMIERCZYK, 2002; ELIAS &

MAGALHÃES, 2003; HAMED e MAHGARY,

2004; GRUTTER e EGLER, 2004)

Este trabalho busca através da revisão bibliográfica, mostrar que a aplicação da prática de Produção mais Limpa permite às organizações reestruturarem suas atividades, respeitando o meio ambiente sem, contudo, comprometer sua competitividade.

2- PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L)

A partir da metade do século XX, a preocupação da sociedade com os impactos gerados sobre o meio ambiente pelas empresas, têm crescido e se difundido continuamente, como pode ser evidenciado pelo aumento da severidade da legislação ambiental em todo o mundo (APO, 2002; KAZMIERCZYK, 2002; ELIAS e MAGALHÃES, 2003).

Nos anos 50 a postura das empresas e da

comunidade consistia em simplesmente ignorar os

problemas do meio ambiente. Isto era possível, pois

os problemas eram relativamente de pequena

importância e não havia consciência dos impactos

da poluição sobre a saúde e o meio ambiente.

Nos anos 60, a abordagem mais comum passou a ser diluir e dispersar a concentração dos poluentes, por exemplo, construindo grandes chaminés para emissão dos poluentes industriais ou emissários submarinos para despejar os esgotos em alto mar.

Rapidamente percebeu-se a fragilidade desta

abordagem. Reconhecendo-se que a capacidade de

absorção de poluentes pela natureza é limitada,

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iniciou-se na década de 1970, esforços para estabelecer normas e leis ambientais para regulamentar a emissão de substâncias tóxicas. Em paralelo, sistemas de tratamento dos poluentes

foram sendo introduzidos para atender a legislação

e os critérios normativos.

Inicialmente, as empresas passaram a adotar sistemas e tecnologias para o controle e tratamento dos resíduos, efluentes e emissões gerados nos processos produtivos. Estas tecnologias, normalmente bastante caras, são conhecidas como técnicas de fim de tubo (e n d o f p i p e ), ou seja, lidam com os resíduos no final dos processos produtivos.

Nesta abordagem, as técnicas de controle

dos poluentes incluem o tratamento dos resíduos

gerados, reciclagem, modificação dos processos

para reduzir o volume de resíduos, diluição para

reduzir a toxidade dos produtos, etc. A lógica por

trás desta estratégia consiste em modificar o resíduo

gerado de modo a atender a legislação vigente e

transformar certas formas de poluição em

diferentes formas que causem menores impactos (por exemplo, filtros podem limpar a água ou ar contaminado mas por outro lado, geram resíduos sólidos igualmente tóxicos) (KAZMIERCZYK, 2002; ELIAS e MAGALHÃES, 2003; TRIANTIS e OTIS, 2004).

O problema por trás desta estratégia é que o

tratamento dos poluentes no final do processo (fim

de tubo) não agrega nenhum valor ao negócio e,

portanto, tem sido associada a manufaturas pouco

eficientes (ROTHENBERG et al, 2001, KING e

LENOX, 2001).

Desde o início da década de 1990, estas técnicas de fim de tubo, vêm sendo substituídas pelo conceito de prevenção da poluição através da utilização eficiente dos recursos. Conceitos como desenvolvimento sustentável, projeto para o ambiente (eco-design), eco-eficiência entre outros surgiram como interfaces para possibilitar a integração entre o desempenho econômico e ambiental.

Assim, a seqüência histórica de “ignorar,

diluir, controlar, melhorar os processo e prevenir a

geração de poluição” culminou com a adoção de

técnicas que maximizam os efeitos positivos sobre o meio ambiente com ganhos de eficiência tanto para a industria em termos econômicos e produtivos, como para a sociedade, em termos de bem estar (KAZMIERCZYK, 2002).

A prática de Produção mais Limpa surgiu

para contribuir para o fim das práticas das técnicas

de fim de tubo e construir a estratégia necessária

para integrar os conceitos de desempenho

econômico e ambiental (ELIAS e MAGALHÃES,

2003).

O conceito de Produção mais Limpa foi lançado em 1989 pela United Nation Envir onmental Pr ogram (UNEP) como sendo a aplicação contínua de uma estratégia de prevenção ambiental aplicada aos processos, produtos e serviços de modo a permitir o crescimento econômico sem prejuízo ao meio ambiente.

A United National Industrial Development

Or ganization - UNIDO (2004) define a Produção

mais Limpa como sendo uma estratégia preventiva e

integrada que é utilizada em todas as fases do

processo produtivo para:

- Aumentar a produtividade através do uso mais eficiente dos materiais, energia e água;

- Promover a melhora da performance

ambiental através da redução de resíduos e

emissões;

- Reduzir o impacto ambiental dos produtos

em todo seu ciclo de vida através de um projeto

ecológico e economicamente eficiente.

A Produção mais Limpa apresenta várias vantagens quando comparada as práticas de fim de t u b o , e n t r e a s q u a i s p o d e - s e c i t a r ( K A Z M I E R C Z Y K , 2 0 0 2 ; E L I A S e MAGALHÃES, 2003):

- Redução da quantidade de materiais e

energia utilizados, tornando assim os processos

mais econômicos de maneira sustentável;

- Prevenção da poluição, gerando menos resíduos, efluentes e emissões;

- A busca pela redução dos poluentes leva a

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criação de uma cultura que busca inovação dos p r o c e s s o s c o n t i n u a m e n t e , a u m e n t a d a conseqüentemente, a produtividade das empresas;

- Maior grau de comunicação e participação das empresas com os organismos locais (governamentais ou não governamentais), com as universidades e a comunidade.

A Produção mais Limpa objetiva preservar o meio ambiente, o consumidor e a comunidade, ao mesmo tempo em que busca o crescimento sustentável das organizações através da melhoria de sua eficiência, lucratividade e competitividade.

Para isto, a P+L lança mão de uma abordagem que inclui tanto os aspectos materiais (matéria prima, equipamentos, serviços, etc.) como os aspectos tecno-gerenciais (tecnologia, gerenciamento, desenvolvimento humano, etc.) ao longo de toda a cadeia produtiva e de serviços. A figura 1 sumariza esta abordagem holística da Produção mais Limpa.

A premissa básica da P+L é que os poluentes e os desperdícios devem ser eliminados onde eles são gerados. Durante o processo de produção, a P+L considera a utilização racional das matérias primas, água e energia, prevenindo a utilização de materiais perigosos e tóxicos e reduzindo a quantidade e toxidade de todas as emissões e resíduos na fonte.

A P+L objetiva reduzir os impactos ambientais, de saúde e segurança dos produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida, desde a extração da matéria prima, seu projeto, manufatura, embalagem, uso e descarte do produto. Finalmente a P+L atua na definição dos serviços, através do desenvolvimento e execução dos serviços de modo racional, econômico e ambientalmente correto.

Figura 1 Abordagem da Produção mais Limpa (adaptado de Kazmierczyk, 2002)

A P+L pode ser conquistada através da combinação de diferentes práticas: housekeeping , modificação dos processos operacionais, substituição de matérias primas, modificações tecnológicas, reciclagem dos resíduos e emissões, redesenho dos produtos e serviços, etc..

Assim para alcançar os objetivos da P+L é necessário aplicar simultaneamente além de estratégias de gestão ambiental, diferentes práticas tais como, técnicas de Manutenção Produtiva Total (T P M T o t a l P r o d u c t i v e M a i n t e n a n c e ); 5S, para garantir de maneira estruturada e sistemática a organização da empresa (h o u s e k e e p i n g ); inovação tecnológica, mudança dos processos produtivos e mudanças nos processos de gestão da produção (JIT, L e a n M a n u f a c t u r i n g , K a i z e n , e t c . ) e Gerenciamento da Qualidade Total (TQM - T o t a l Q u a l i t y M a n a g e m e n t ) (ANDRADE et al., 2001; APO, 2002; GRUTTER e EGLER, 2004).

O uso de maneira integrada destas práticas gerenciais, faz com que a P+L seja considerada uma ferramenta de gestão, pois leva as empresas a repensarem e reorganizarem as maneiras como as atividades são conduzidas dentro da organização. A P+L exige uma mudança de paradigma de seus usuários, de uma postura reativa (atender a legislação, técnicas de fim de tubo, etc.) para um pensamento pró-ativo (eliminar os poluentes na sua origem). Portanto, para que a P+L seja implementada com sucesso e de modo sustentável, seus conceitos devem ser difundidos pela alta administração a todos os níveis organizacionais (KAZMIERCZYK, 2002; HAMED e MAHGARY, 2004).

A P+L também é uma prática para a gestão econômica porque os resíduos são considerados produtos com valor econômico negativo. Kürzinger (2004) menciona que o valor da matéria prima, energia e água utilizadas no processo produtivos e que não são transformados em produto final varia de 10 a 30% do custo total de produção, dependendo do tipo de produto, eficiência e o nível de tecnologia aplicada.

Cada ação para reduzir o consumo de matéria prima e energia previne ou reduz a geração de resíduos, resultando em aumento da produtividade e benefícios financeiros para a organização. Como o objetivo da P+L é minimizar ou eliminar a geração de poluentes na sua origem, esta prática também ajuda a reduzir os custos com a

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SERVIÇOS- gerenciamento ambientalno projeto, execução e entrega dos serviços

SERVIÇOS- gerenciamento ambientalno projeto, execução e entrega dos serviços

PROCESSOS:- preservação da matéria primaenergia e água;- redução de emissões na fonte;- inocação tecnológica;- redução dos custos e riscos

P+LEstratégia Integrada

de Prevenção Ambiental

Impactos:- melhoria da eficiência- melhor performance ambiental- melhoria da competitividade

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implantação de equipamentos para o tratamento dos poluentes no final do processo (fim de tubo), g e r a n d o e c o n o m i a n o s p r o c e s s o s (KAZMIERCZYK, 2002; TRIANTIS e OTIS, 2004).

Como prática de gerenciamento ambiental, a P+L é uma opção pró-ativa para o meio ambiente uma vez que, ela previne a geração de poluição e busca maneiras mais eficientes de usar os recursos ao mesmo tempo em garantem o bem estar e a saúde dos indivíduos e a integridade ambiental da comunidade. O diferencial da P+L é a sua estratégia de buscar equacionar os problemas dos resíduos na sua origem, enquanto que a abordagem tradicional de prevenção através do uso de equipamentos de controle no final do processo (fim de tubo) muitas vezes simplesmente alteram a forma do poluente, deixando pouco espaço para a inovação e p e r p e t u a n d o p r á t i c a s e c o n c e i t o s institucionalizados e ultrapassados (ANDRADE et al., 2001; KAZMIERCZYK, 2002; HAMED e MAHGARY, 2004).

Enfim, é o uso integrado e simultâneo destas práticas que permitem a P+L

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possam acreditar, os padrões ambientais poderão ser fator de constante estímulo à inovação e competitividade, e não uma barreira e/ou ameaça às empresas. A imposição de padrões ambientais, move as empresas a adotarem novas práticas que reduzem os custos totais de um produto ou aumentam seu valor, desenvolvendo a competitividade das empresas (PORTER e LINDE, 1995; SOUSA, et al., 2004).

A Produção mais Limpa é uma prática completa em termos de opção para a otimização dos processos produtivos e melhoria contínua dos mesmos, pois englobam os pontos que levam a esse fim, como: qualidade, planejamento, segurança, meio ambiente, design, saúde ocupacional e eficiência (ELIAS e MAGALHÃES, 2003).

Assim, a aplicação do conceito de P+L leva as organizações a aumentar a sua produtividade através da reorganização e melhoria dos processos produtivos, da análise do ciclo de vida e do projeto dos produtos, da escolha e uso mais eficiente dos recursos (matérias primas, energia, etc.).

O aumento da produtividade através da aplicação dos conceitos da P+L é possível porque a poluição é, muitas vezes, um desperdício econômico, que de alguma maneira esconde problemas de planejamento, projeto, má utilização dos recursos, etc.

Por exemplo, a fase do projeto é o maior determinante do impacto ambiental de um produto. Isto porque, num produto típico, 70% dos custos de desenvolvimento, manufatura e uso são determinados na fase do projeto. Através da inclusão de considerações ambientais durante a fase de projeto, pode-se aumentar a eficiência, reduzir gastos de materiais e energia e reduzir resíduos e os custos. Da mesma forma, resíduos industriais, sejam eles sólidos, líquidos ou gasosos, podem ser reaproveitados na co-geração de energia, através de sua reciclagem, etc. (SOUSA, et al ., 2004).

D i v e r s o s e x e m p l o s d e c o m o o gerenciamento eficiente das questões relativas ao meio ambiente levam ao aumento da produtividade das empresas e países, estão descritas na literatura. Hamed e Mahgary (2004) apresentam um estudo de como a prática da P+L está sendo implementada no Egito. O artigo descreve a política governamental adotada e os benefícios em termos econômicos, de aumento de produtividade, melhoria da tecnologia e competitividade global esperados. Grutter e Egler (2004) descrevem a implantação de centros de P+L

em países da África, Ásia e América Latina, cujo objetivo é tornar a industrias destes países mais competitivas de uma forma ambientalmente sustentável. Hur e t a l . (2004) e Triantis e Otis (2004) apresentam em seus artigos estudos de casos onde foram aplicadas metodologias específicas para mensurar a produtividade e sua relação com o meio ambiente. Evans e Hamner (2003) descrevem como o Banco Asiático de Desenvolvimento (A s i a n D e v e l o p m e n t B a n k ) utiliza a prática de P+L para avaliar a performance ambiental de novos projetos industriais na Ásia. Rothenberg e t a l . (2001) descrevem como sistemas de gerenciamento baseados nos conceitos de produção enxuta juntamente com sistemas de gerenciamento ambiental melhoram a performance das industrias automobilística dos Estados Unidos e Japão.

4 - CONLCLUSÃO

O acelerado crescimento econômico e demográfico e a busca incessante pela competitividade têm trazido como conseqüência sérios problemas ambientais tanto para os países desenvolvidos como para os em desenvolvimento. Para tentar controlar esta situação, os países têm adotado severas leis ambientais com o intuito de preservar os recursos naturais e proteger a sociedade.

Para atender a legislação, as empresas têm adotado técnicas de controle e tratamento dos efluentes no final de seus processos produtivos. Estas técnicas normalmente exigem a instalação de equipamentos caros e que, na sua maioria, apenas alteram os poluentes de uma forma para outra.

Este artigo procura mostrar que através de programas de melhoria contínua integrados com o meio ambiente, como por exemplo, a prática de P+L, é possível atender a legislação ambiental através da aplicação de conceitos gerenciais com eco-design, uso de recursos alternativos, reciclagem dos resíduos, sem necessariamente implicar em grande investimentos em equipamentos ou mudanças de processos. A P+L é uma atitude estratégica que incentiva antes de tudo a mudança de comportamento na busca de novos métodos e atitudes antes de promover a mudança de tecnologia.

Conforme evidenciado na literatura, fica claro que a P+L pode e é utilizada em diferentes setores de manufatura e serviços uma vez que suas diretrizes são abrangentes e seus objetivos, estreitamente alinhados com a visão integrada de

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produtividade de criar valor às empresas e aos clientes de maneira socialmente e ecologicamente sustentável.

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