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ISSN: 2175-8875 www.enanpege.ggf.br/2017 2040 PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E OS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA EM CIDADES MÉDIAS 1 GABRIEL BORASCHI RIBEIRO 2 Resumo: O presente texto tem como objetivo fornecer elementos que possam ser capazes de contribuir para a chamada ‘atualização’ da Teoria dos Circuitos da Economia Urbana, principalmente no que se refere ao circuito inferior e sua articulação com o circuito superior, pois as bases empíricas de nossa pesquisa são os Camelódromos das cidades de Presidente Prudente, no Estado de São Paulo, e Londrina no Estado do Paraná. . Palavras-chave: Produção do Espaço Urbano; Circuitos da Economia Urbana; Cidades Médias. Abstract: The purpose of this paper is to provide elements that may be able to contribute to the so- called 'updating' of Urban Economy Circuits Theory, especially in relation to the lower circuit and its articulation with the upper circuit, since the empirical bases of our Research are the Camelódromos of the cities of Presidente Prudente, in the State of São Paulo, and Londrina in the State of Paraná. . Key-words: Production of Urban Space; Circuits of the Urban Economy; Cities and Towns. 1 Introdução O interesse maior da pesquisa foi o da compreensão da reestruturação do espaço urbano em cidades médias a partir de três planos: - a análise das lógicas espaciais que orientam a localização desses espaços; - os deslocamentos realizados pelas pessoas que o frequentam e a análise das práticas espaciais do consumo, buscando, assim, contribuir para a compreensão do espaço urbano destas cidades. Os resultados obtidos tomam como referência o funcionamento dos circuitos na atualidade, através da teoria elaborada por SANTOS (2004) na obra: O Espaço 1 Este trabalho faz parte de nossa pesquisa de Monografia defendida em fevereiro de 2016 na FCT/UNESP, Campus de Presidente Prudente, sob orientação da Prof. Dra. Maria Encarnação Beltrão Sposito. 2 - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente. E-mail de contato: [email protected]

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ISSN: 2175-8875 www.enanpege.ggf.br/2017

2040

PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E OS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA EM CIDADES MÉDIAS1

GABRIEL BORASCHI RIBEIRO2

Resumo: O presente texto tem como objetivo fornecer elementos que possam ser capazes de

contribuir para a chamada ‘atualização’ da Teoria dos Circuitos da Economia Urbana, principalmente

no que se refere ao circuito inferior e sua articulação com o circuito superior, pois as bases empíricas

de nossa pesquisa são os Camelódromos das cidades de Presidente Prudente, no Estado de São

Paulo, e Londrina no Estado do Paraná.

.

Palavras-chave: Produção do Espaço Urbano; Circuitos da Economia Urbana; Cidades Médias.

Abstract: The purpose of this paper is to provide elements that may be able to contribute to the so-

called 'updating' of Urban Economy Circuits Theory, especially in relation to the lower circuit and its

articulation with the upper circuit, since the empirical bases of our Research are the Camelódromos of

the cities of Presidente Prudente, in the State of São Paulo, and Londrina in the State of Paraná.

.

Key-words: Production of Urban Space; Circuits of the Urban Economy; Cities and Towns.

1 – Introdução

O interesse maior da pesquisa foi o da compreensão da reestruturação do

espaço urbano em cidades médias a partir de três planos: - a análise das lógicas

espaciais que orientam a localização desses espaços; - os deslocamentos realizados

pelas pessoas que o frequentam e – a análise das práticas espaciais do consumo,

buscando, assim, contribuir para a compreensão do espaço urbano destas cidades.

Os resultados obtidos tomam como referência o funcionamento dos circuitos na

atualidade, através da teoria elaborada por SANTOS (2004) na obra: O Espaço

1 Este trabalho faz parte de nossa pesquisa de Monografia defendida em fevereiro de 2016 na FCT/UNESP, Campus de Presidente Prudente, sob orientação da Prof. Dra. Maria Encarnação Beltrão Sposito. 2 - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista – Campus de Presidente Prudente. E-mail de contato: [email protected]

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Dividido e de sua atualização com base em Maria Laura Silveira, que define as

variáveis determinantes/dominantes da atual divisão territorial do trabalho

hegemônica de uma nação: Tecnificação, Informação, Financeirização (2009) e o

Consumo (2015).

Nas cidades médias, em que os estudos sobre os circuitos não são frequentes,

tendo em vista que as metrópoles são alvo destes estudos, esse processo se refere,

principalmente, ao circuito inferior, no qual se insere nosso objeto de estudo que são

os camelódromos localizados nas áreas centrais das cidades médias, próximos a

áreas de grande circulação, como por exemplo, o calçadão e os terminais urbanos.

Portanto, o foco recai sobre as áreas de comércio, que denominamos como popular,

que se organizam espacialmente, na forma de camelódromo e que têm localização

nos centros principais das cidades em análise.

Deste modo, dois pontos, entre vários elementos, são de suma importância

para a compreensão dos circuitos da economia urbana. Primeiramente a noção de

escala, que abrange desde o espaço do mundo em desenvolvimento até as atividades

que se referem às periferias, às cidades menores e às maiores. As metrópoles

serviram de estudo empírico para Silveira (2009, 2008) e Montenegro (2012, 2013),

na qual essa noção é representada pelo Estado, no que tange à dimensão

econômica, por se tratar de uma teoria sobre a economia urbana. Um segundo ponto

levantado é sobre as dimensões de tempo e de espaço, visto que o espaço social não

pode ser explicado sem o tempo, e a formação de um clico ou de uma sucessão de

fenômenos requer a noção de tempo para a conformação de um verdadeiro sistema,

sendo que a acumulação de tempos se expressa como espaço, o que acaba

refletindo na escala do lugar, ou seja, Milton Santos introduz a noção da escala

tempo-espaço em movimento.

Assim, constatamos em nossa pesquisa, a centralidade que os dois

camelódromos exercem na escala da cidade e no âmbito da escala regional, sendo

que muitas pessoas das cidades do entorno vão para consumir nesses espaços. Eles

são importantes para as economias de suas respectivas cidades, além de

contribuírem na geração de empregos, propiciando o consumo e alterando os papéis

na movimentação da economia.

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2 – Desenvolvimento

Apresentaremos os dados obtidos durante a pesquisa através dos relatos de

campos, entrevistas e enquetes aplicadas e realizadas junto aos consumidores e

comerciantes, à medida que a sistematização é feita e as análises são efetuadas

através de gráficos, tabelas e mapas.

Em Londrina, a aplicação das enquetes foi feita em meses mais calmos, sem

datas comemorativas próximas, ao contrário de Presidente Prudente, em que a

primeira etapa ocorreu na semana que antecedeu ao Natal e a circulação de pessoas

era maior, além de conter outras duas etapas de aplicação de enquetes.

Além disso, em Presidente Prudente, o número de pessoas que responderam

as enquetes (150) foi maior e, também, devido à disponibilidade de dias e

proximidade com o local, diferentemente de Londrina, no qual temos despesas com

hotel, transporte, entre outros, por isso o número de pessoas que responderam foi

menor (75).

Quando comparados os trabalhos de campo realizados em semanas

‘normais’ para o comércio, a diferença de circulação de pessoas no camelódromo

Londrina e de Presidente Prudente ficou evidente. Desde a primeira observação de

campo, é visível a maior quantidade de pessoas circulando no camelódromo de

Londrina, Passamos a mostrar os resultados, sempre tentando comparar com os

obtidos em Presidente Prudente e que será pormenorizado abaixo. As informações

tabuladas correspondem a todas as etapas de levantamento de dados efetuadas nas

duas cidades.

No que concerne à quantidade de pessoas por idade, procuramos manter

proporcionalidade nas faixas etárias segundo a classificação do IBGE, porém com

uma adaptação, pois na classificação deste instituto, a pirâmide etária está

estruturada de cinco em cinco anos, enquanto nós optamos por classificar de dez em

dez anos, pelo fato de a quantidade de pessoas ser menor. (Gráficos 1 e 2)

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2043

Gráfico 1 – Londrina. Número de entrevistados segundo a faixa de idade. 2016.

Gráfico 2 – Pres. Prudente. Número de entrevistados segundo a faixa de idade. 2016.

Assim, identificamos como letra “A”, pessoas entre 10 a 19 anos, que

corresponderam a 10 pessoas no total dos 75 entrevistados. Geralmente eram

adolescentes que estavam acompanhados das mães, ou estavam comprando jogos e

principalmente bonés. Alguns estavam até com os uniformes das escolas da cidade.

A letra “B”, com pessoas entre 20 a 29 anos, correspondeu à faixa com maior

número de pessoas entrevistada em Presidente Prudente (43) e em Londrina (25). As

duas cidades têm a característica de serem ‘universitárias’, com muitos alunos

estudando em uma das faculdades que possuí, sendo, assim, um polo regional para

23

43

34

24

13

13

0 50 100 150

A

B

C

D

E

F

Número de entrevistados

Quantidade de respostas

.

F - 60 emaisE - 50 a 59

D - 40 a 49

C - 30 a 39

B - 20 a 29

A - 10 a 19

10

25

19

11

05

05

0 50 100 150

A

B

C

D

E

F

Número de entrevistados

Quantidade de respostas

.

F - 60 emaisE - 50 a 59

D - 40 a 49

C - 30 a 39

B - 20 a 29

A - 10 a 19

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2044

as outras cidades do entorno, no que concerne também ao oferecimento deste

serviço. A letra “C”, com pessoas entre 30 a 39 anos, corresponde a um número

expressivo de respondentes - 19 pessoas -, faixa menor apenas do público da letra B.

A letra “D”, com pessoas de 40 a 49 anos, correspondeu a 11 entrevistados,

com destaque para o público masculino. Diferentemente do camelódromo de

Presidente Prudente, entre os quais muitas eram mulheres que circulavam com os

filhos e outros membros da família, sempre estavam com sacolas nas mãos de lojas

do centro e consumindo, também, no camelódromo.

As letras “E” e “F”, correspondem a 50 a 59 anos e 60 anos e foram

pesquisadas 5 pessoas em cada faixa. No camelódromo de Presidente Prudente, era

notável a presença de pessoas com mais idade caminhando pela praça, paradas

perto da banca de jornal, outros conversavam com alguns donos das barracas, como

por exemplo, os que vendem artigos para pesca. No camelódromo de Londrina, isso

não era comum. As pessoas estavam sempre com pressa, o movimento era contínuo,

em suma, o camelódromo é mais frequentado por um público mais jovem.

No que se refere às profissões, assim como em Presidente Prudente, as

respostas foram bastante variadas em Londrina também, obtendo-se um leque

significativo de ramos profissionais entre os que consumiam naquele espaço. O que

ficou claro é que o camelódromo não é um local frequentado apenas por pessoas de

segmentos socioeconômicos mais baixos, pois envolve todas as camadas da

sociedade, como se pode depreender das filiações profissionais informadas. Um

aspecto que nos chamou atenção nas duas cidades foi o número de estudantes.

Assim, seguem todas as profissões que obtivemos durante a pesquisa e a frequência

de respostas em Presidente Prudente (quadro 1) e Londrina (quadro 2) com as

profissões mais encontradas durante a pesquisa:

Quadro 1– Pres. Prudente. Profissões dos frequentadores do camelódromo. 2016.

Profissões Quantidade de pessoas

Estudante 28

Vendedor (a) 10

Aposentado (a) 09

Escritório/Auxiliar 09

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2045

Professor (a) 08

Comerciante 07

Dona de Casa 07

Quadro 2 - Londrina. Profissões dos frequentadores do camelódromo. 2016.

Profissões Quantidade de

pessoas

Estudante 16

Aposentado (a) 06

Comerciante 05

Vendedor (a) 05

Desempregado (a) 04

Escritório/Auxiliar 04

A seguir, apresentamos os Gráficos 3 e 4, com o fluxo de pessoas oriundas

das cidades próximas a Londrina e de Presidente Prudente, que se deslocam para

consumir nestas cidades médias, mostrando como elas são importantes para suas

respectivas regiões, pois, Londrina, correspondeu a 22% dos frequentadores deste

espaço. Em Presidente Prudente, a porcentagem foi de 20%, deixando claros os

papéis importantes que as duas cidades exercem na região e na escala da rede

urbana, no que se refere ao consumo e à concentração espacial do comércio e de

serviços, com uma forte polarização no potencial de consumo.

Pres. Prudente e região. Bairros de residência dos que consomem no camelódromo.

2016.

80%

8%

5%

2%3% 2%

PresidentePrudenteRegente Feijó

Indiana

Martinópolis

Pirapózinho

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Londrina e região. Bairros de residência dos que consomem no camelódromo. 2016.

Sobre as formas de deslocamento dos consumidores, nas primeiras enquetes

aplicadas em Presidente Prudente, destacou-se, nos resultados obtidos, o uso do

automóvel particular e do transporte coletivo. Mas, o que chamou atenção,

principalmente, foi o uso do automóvel particular, o carro, que registrou 51% dos

deslocamentos das pessoas até o centro da cidade, deixando o transporte público em

seguida, com 28%. Os deslocamentos feitos de moto e a pé, foram os menos citados,

tendo totalizado com 16% e 5%, respectivamente.

De outro lado, na cidade de Londrina, o transporte público é o principal meio de

deslocamento das pessoas que consomem no Camelódromo, com 48% das

respostas obtidas, deixando o uso do automóvel particular em segundo plano com

34%, em seguida vieram os descolamentos de moto e a pé, 15% e 3%,

respectivamente.

Segue, nos Gráficos 5 e 6, uma representação gráfica destas porcentagens:

78%

7%

5%

4%3%

3%

Londrina

Cambé

Ibiporã

Rolândia

Arapongas

Warta

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Pres. Prudente. Meios de transporte dos frequentadores. 2016.

Londrina. Meios de transporte dos frequentadores. 2016.

34%

15%

48%

3%

Carro

Moto

Ônibus

A pé

51%

16%

28%

5%

Carro

Moto

Ônibus

A pé

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Quando perguntamos o tipo de produto que as pessoas compram no

camelódromo, a maioria das respostas ofereceu as mesmas justificativas. Em

Presidente Prudente, dentre os 150 entrevistados, 102 foram adquirir tais produtos

(68%). Em seguida, vieram as pessoas que consumiam outros tipos de produtos, que

classificamos como "outros", em que se enquadram produtos como, por exemplo,

artigos de pesca, brinquedos, presentes, bijuterias, entre outros, com um total de 41

pessoas. Por outro lado, as menores procuras dos consumidores foram do ramo

alimentício e de vestuário, pois nas etapas de enquetes, o total de pessoas que

encontramos, que foram atrás destes tipos de produto, foi de 03 e 04 pessoas,

respectivamente, mostrando que as vendas nesse ramo não são tão significativas. No

caso de Londrina, o destaque foi também para a aquisição de aparelhos eletrônicos,

principalmente aparelhos celulares e acessórios, cuja procura é alta, segundo os

comerciantes. Dentre os 75 entrevistados, 35 foram adquirir tais produtos (47%). As

pessoas que consomem no ramo do vestuário vieram em segundo plano, com 37%

das respostas, principalmente no que concerne à vendas de bonés. Mas, a

quantidade de boxes que vendem produtos desse ramo é visível ao circularmos neste

espaço. Diferentemente em Presidente Prudente, as menores procuras dos

consumidores foram relativas aos ramos alimentício e de vestuário. (Gráficos 7 e 8)

Sintetizando, podemos afirmar que o setor de produtos eletrônicos é o mais

procurado, é o que tem o maior potencial de consumo, e é um mercado que se renova

constantemente, principalmente no que concerne aos aparelhos celulares.

0 50 100 150

V

A

O

E

3

4

41

102

Quantidade de respostas

Pres. Prudente. Tipos de produtos mais consumidos no camelódromo, segundo os consumidores. 2014.

Eletrônicos

Outros

Alimentício

Vestuário

Legenda:

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2049

No caso de Presidente Prudente, comparando-se os resultados das enquetes

número de pessoas que responderam que preferem e pagam à vista foi bem maior,

quando comparados com as pessoas que usaram o cartão de crédito/débito em

Londrina. Incluso, o número de pessoas que passaram utilizar o cartão como forma

de pagamento, foi crescendo ao longo das etapas das enquetes.

Não são todos os comerciantes que possuem a máquina em Presidente

Prudente, diferentemente de Londrina, em que todos os comerciantes do

Camelódromo possuem máquina de cartão de crédito. Em Presidente Prudente, ainda

que as pessoas prefiram pagar à vista (76% dos consumidores entrevistados), o uso

dos cartões está virando algo mais frequente (24%). Já em Londrina, há um equilíbrio,

por mais que os consumidores preferem pagarem à vista (55% dos consumidores

entrevistados), o número de pessoas que pagam com o cartão é maior (45%), e

segundo um dos comerciantes, daqui alguns anos não vai existir mais dinheiro em

forma de papel, somente uso de cartões, por causa da segurança, como ele relatou.

Também em ambos os casos, cheques e outras formas de pagamento, praticamente,

não existem mais, sendo que, somente as barracas do ramo alimentício aceitam os

‘vales-refeições’ como forma de pagamento. (Gráfico 9):

3- Conclusão Por meio da pesquisa realizada, pudemos constatar que o espaço urbano,

visto como objeto geográfico de estudo da cidade, apresenta características

0 50 100 150

A

O

V

E

8

8

28

35Quantidade de respostas

Londrina. Tipos de produtos mais consumidos no camelódromo, segundo os consumidores. 2015.

Eletrônicos

Vestuário2

Outros

Alimentício

Legenda:

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2050

importantes à apreensão do geógrafo. Optamos por ler uma das dimensões deste

espaço por meio dos dois circuitos da economia urbana, de modo a contribui para a

compreensão da reprodução e reestruturação do espaço urbano nas cidades, a

partir das práticas espaciais do consumo, buscando, assim, contribuir para a análise

do espaço urbano.

Os dois circuitos não podem ser mais compreendidos como nos anos 1970,

período em que Milton Santos produziu a teoria. Segundo o mesmo autor, o espaço

muda na medida em que o tempo e a sociedade mudam, portanto, esse processo de

mudança é marcado por transformações em variáveis determinantes/dominantes,

pertencente aos dois circuitos da economia urbana, o que exige a atualização das

variáveis que compõem a teoria, à luz das alterações observadas na sociedade e no

modo como ela produz e se apropria do espaço.

Nossa pesquisa trouxe contribuições para o estudo da produção do espaço

urbano, mais especificamente nas cidades médias, por meio do estudo dos

Camelódromos, que representam o circuito inferior da economia urbana. Buscamos

valorizar o que Silveira (2009, 2015) define como as variáveis

determinantes/dominantes da atual divisão territorial do trabalho hegemônica de

uma nação: Tecnificação, Informação, Financeirização (2009) e o Consumo (2015).

Assim, constatamos em nossa pesquisa, a centralidade que os dois

camelódromos exercem na escala da cidade e no âmbito da escala regional, sendo

que muitas pessoas das cidades do entorno vão para consumir nesse espaço.

Portanto, são importantes para as economias de suas respectivas cidades, além de

contribuírem na geração de empregos, propiciando o consumo e alterando os papéis

na movimentação da economia e da financeirização.

Vivemos em uma economia na qual o circuito superior se renova

constantemente, com a criação de produtos e a inserção destes no mercado, sob a

ótica da técnica da informação, combinado com alto poder das finanças, que permite

o alto grau de investimento sem correr riscos e, principalmente, favorecendo a

propagação do crédito. Por outro lado, o circuito inferior utiliza-se das técnicas mais

modernas presentes no mundo globalizado que consiste nos novos usos e

finalidades para os objetos e técnicas, que são utilizadas pelas atividades com baixo

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grau de capital, se tornando uma característica comum do circuito inferior e nítida

dentro do camelódromo.

Através das respostas das enquetes, no que se refere às profissões, obteve-

se um leque variado de respostas, o que nos possibilitou conseguimos comprovar a

hipótese de que os camelódromos não são um local frequentado apenas por

pessoas de segmentos de poder aquisitivo menor, e sim envolve todas as camadas

da sociedade. Assim, concluímos que crédito e consumo são variáveis

determinantes/dominantes comuns aos dois circuitos da economia urbana, porém o

crédito é mais presente no circuito superior. E no que se refere ao circuito inferior, o

consumo é um paradoxo, um conflito no que concerne à lógica e contraria os

princípios básicos, de modo que, de um lado, a ideologia de consumismo reforça o

endividamento e a pobreza, de outro, a vontade de consumir é a razão da produção

e da respectiva sobrevivência por grande parcela da população.

4- Referências MONTENEGRO, Marina Regitz. Globalização, trabalho e pobreza no Brasil

metropolitano. O circuito inferior da economia urbana em São Paulo, Brasília,

Fortaleza e Belém. São Paulo: FFLCH. Originalmente apresentada como tese de

doutorado, Universidade de São Paulo, 2012.

SANTOS, Milton. O Espaço Dividido. São Paulo: Edusp: 2004.

__________. Manual da Geografia Urbana. São Paulo: Edusp: 2008.

SILVEIRA, M. L. Finanças, consumo e circuitos da economia urbana na cidade

de São Paulo.Caderno CRH (UFBA), v. 22, p. 65-76, 2009

__________. Modernização contemporânea e nova constituição dos circuitos da

economia urbana. Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires – Argentina. Revista

Geousp, Espaço e Tempo, V. 19, nº2, p. 245-261, 2015.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. O centro e as forma de centralidade urbana.

Revista Geografia. São Paulo: v.10, p. 1-18, 1991.

__________. A produção do espaço urbano – Agentes e Processos, Escalas e

Desafios. SPOSITO, Maria Encarnação; CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA,

Marcelo Lopes de (orgs). São Paulo: Contexto, 2013.