produÇÃo do conhecimento histÓrico i · ser compreendidas como dimensões teóricas que refletem...

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LICENCIATURA EM HISTÓRIA MODALIDADE A DISTÂNCIA pró LICENCIATURA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO I ANDREA PAULA DOS SANTOS SUZANA LOPES SALGADO RIBEIRO PONTA GROSSA 2008

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LICENCIATURA EM HISTÓRIAMODALIDADE A DISTÂNCIA

próLICENCIATURA

PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO I

ANDREA PAULA DOS SANTOSSUZANA LOPES SALGADO RIBEIRO

PONTA GROSSA2008

CRÉDITOS

REITOR UEPGJoão Carlos Gomes

VICE-REITORCarlos Luciano Sant’Ana Vargas

PRÓ-REITORIA DE ASSUNTOS ADMINISTRATIVOSCandida Leonor Miranda – Pró-Reitor

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃOGraciete Tozetto Góes – Pró-Reitor

DIVISÃO DE PROGRAMAS ESPECIAISMaria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe

NÚCLEO DE TECNOLOGIA DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIALeide Mara Schmidt – Coordenadora Geral

Cleide Aparecida Faria Rodrigues – Coordenadora Pedagógica

PROGRAMA PRÓ-LICENCIATURAGina Maria Bachmann – Coordenadora Geral

Curso de Geografia – Modalidade a DistânciaPaulo Rogério Moro – Coordenador

Curso de História – Modalidade a DistânciaEdson Armando Silva – Coordenador

Curso de Letras – Língua Portuguesa e Espanhola – Modalidade a DistânciaMirian Martins Sozim – Coordenadora

COLABORADOR FINANCEIROLuiz Antonio Martins Wosiak

COLABORADORES DE PLANEJAMENTOCarlos Roberto Ferreira

Silviane Buss Tupich

COLABORADORES EM INFORMÁTICACarlos Alberto Volpi

Carmen Silvia Simão CarneiroAdilson de Oliveira Pimenta Júnior

Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior - EstagiárioOsvaldo Reis Júnior – EstagiárioKin Henrique Kurek - Estagiário

COLABORADORES EM EADDênia Falcão de Bittencourt

Jucimara Roesler

COLABORADORES DE PUBLICAÇÃOÁlvaro Franco da Fonseca - Ilustração

Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior - IlustraçãoCeslau Tomaczyk Neto – Ilustração

Eloise Guenther - DiagramaçãoGideão Silveira Cravo - Revisão

Márcia Zan Vieira - RevisãoRosecler Pistum Pasqualini – Revisão

Vera Marilha Florenzano - Revisão

COLABORADORES OPERACIONAISEdson Luis Marchinski

Joanice Küster de AzevedoJoão Márcio Duran Inglêz

Maria Clareth Siqueira

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39SEÇÃO 2

A construção do conhecimento histórico na teoria e na prática

Como você viu até agora, a história é um discurso construído pelos historiadores e em constante transformação. Ou seja, da existência do passado não se pode deduzir uma interpretação única, pois ao mudar o olhar e/ou deslocar a perspectiva, aparecem muitas novas interpretações. No entanto, mesmo isso não sendo nenhuma novidade para os historiadores, a maioria parece desconsiderá-la, de caso pensado, e se empenha em alcançar a objetividade e a verdade mesmo assim. E essa busca pela verdade transcende posições ideológicas e metodológicas.

O que pode ser considerado como verdadeiro é que a simples escolha e o domínio de uma metodologia não definem que um trabalho histórico pode chegar a uma verdade única e definitiva, posto que as escolhas são sempre ideológicas, em todas as áreas. Arma-se o discurso histórico à medida que se acionam determinados conceitos (também construídos por historiadores, em seus tempos e espaços) que não são universais, ao contrário, sofrem mudanças com o tempo. Assim é feita a produção do conhecimento.

Dicas para sala de aula

De acordo com Keith Jenkins, a história, na teoria, é composta por três dimensões: a das epistemologias, das metodologias e das ideologias.

Saiba o que significa cada um desses termos: Epistemologias – São reflexões gerais em torno da natureza,

etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito e o objeto. Podem ser compreendidas como dimensões teóricas que refletem sobre o próprio sentido do conhecimento, como estudos da história, princípios, práticas, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico. As epistemologias analisam seus paradigmas, ou seja, os modelos de interpretação que cada área de conhecimento constrói para legitimar suas explicações. Atualmente, muitos historiadores afirmam que as dimensões epistemológicas da história são bastante frágeis e problemáticas, pois é consenso que o passado, objeto de referência do historiador, nunca poderá ser conhecido

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plenamente, objetivamente, como estes pretenderam por muito tempo. Por outro lado, não caberia mais à história essa pretensão, propondo-se outros sentidos, por exemplo, garantir a democracia, a tolerância e a emancipação humana, com o favorecimento da pluralidade de visões sobre o passado e o presente. A mudança de uma perspectiva para outra, considerando as subjetividades para a produção do conhecimento histórico, configura-se como um exemplo das transformações da própria dimensão epistemológica da história.

Metodologias – Podem ser definidas como modos de fazer, procedimentos ou técnicas, estabelecidos para realizar pesquisas, conduzindo à construção de conhecimentos. Com o surgimento da ciência moderna, pressupunha-se que os métodos científicos utilizados garantiriam o sucesso de uma investigação, rumo ao estabelecimento de uma única verdade sobre cada assunto. Porém, essa visão foi questionada, pois os seres humanos criaram inúmeros métodos de estudo e de pesquisa que poderiam levar a uma enorme diversidade de resultados, mesmo quando o objeto investigado era o mesmo. Atualmente, graças às reflexões do filósofo Edgar Morin - em Ciência com consciência (2005), - considera-se que a utilização de qualquer metodologia precisa se conjugar com uma atitude intelectual que busque a integração das múltiplas ciências e de seus procedimentos de construção de conhecimentos diversificados e complexos. Assim como em outras áreas do saber, são inúmeras as metodologias que os historiadores podem escolher para realizar suas pesquisas e todos concordam que – ao contrário do que se defendia em épocas anteriores – nenhuma delas estabelecerá uma única e definitiva explicação sobre qualquer assunto que seja. A defesa da livre escolha e combinação de diferentes metodologias é o reconhecimento de que metodologias são instrumentos importantes para aceitar e ao mesmo tempo contribuir para a diversidade e a complexidade de interpretações possíveis da realidade. Assim, objetividade e subjetividade fazem parte da construção do conhecimento. Dessa forma, os pesquisadores ofereceram alternativas de compreensão para que as pessoas escolham democraticamente como e quais conhecimentos construídos podem vir a contribuir com a melhoria de suas vidas.

Ideologias – São conjuntos ordenados de idéias, crenças, representações, normas e regras interdependentes, sustentadas pelos grupos sociais de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos, econômicos ou culturais. Nenhum indivíduo ou grupo social é desprovido de crenças e valores, portanto, a ideologia é parte inerente da vida humana e das manifestações objetivas e subjetivas do pensamento e do conhecimento criados por nós para nos posicionarmos e

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entendermos o mundo. Dessa forma, mesmo que alguém não queira se posicionar ideologicamente e mesmo que não tenha consciência de qual é sua ideologia, ela não deixa de existir. Por muito tempo, para desmerecer alguns trabalhos de pesquisa, dizia-se destes que eram “ideológicos”, como se não fossem “objetivos”, “científicos”, como se a ciência pudesse ser neutra. Porém, atualmente, compreende-se que não cabe aos historiadores decidirem se terão ou não uma ideologia, mas sim se assumirão ou não quais são as suas, expondo suas subjetividades em seus trabalhos, para que aqueles que os leiam possam ter uma visão crítica do conhecimento ali produzido.

Dito isso, torna-se importante transformar a pergunta inicial desta unidade (o que é história) em: para quem é a história?

Assim, se ressalta que toda história produzida é destinada a alguém e foi feita por alguém (que partiu de pressupostos epistemológicos, escolhas metodológicas e posicionamentos ideológicos), mesmo que não tenha consciência do que significam todas as dimensões envolvidas na produção do conhecimento histórico.

Saiba mais

“... embora a esmagadora maioria dos historiadores de carreira se declare imparcial, e embora de certa maneira eles realmente consigam um ‘distanciamento’, é ainda assim esclarecedor ver que esses profissionais nem de longe estão fora do conflito ideológico e que eles até ocupam posições bem dominantes dentro de tal conflito – em outras palavras, é esclarecedor que as histórias ‘profissionais’ são expressões de como as ideologias dominantes formulam a história em termos ‘acadêmicos’.” (JENKINS, 2005, p. 44).

Agora que já foi problematizada a construção do conhecimento histórico na teoria, tente entender como ele se dá na prática do fazer do historiador.

Afinal, quem é o historiador? Pode-se dizer que o historiador é um trabalhador como outro qualquer que, quando vai trabalhar, leva consigo certas coisas identificáveis.

O que ele leva para realizar seu trabalho, consciente ou inconscientemente?

1 – leva a ele mesmo e suas ideologias: valores, posições, perspectivas políticas;2 – leva seus pressupostos epistemológicos: categorias, conceitos, pressuposições

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sobre qual conhecimento será produzido, mediante hipóteses, abstrações, vocabulário próprio de seu ofício, sem o qual não seria possível entender os trabalhos dos seus colegas de profissão;

3 – leva metodologias, ou seja, rotinas e procedimentos para (re)organizar seus materiais de modo a orientar suas escolhas e obter resultados de suas pesquisas.

Como ele realiza seu trabalho? 1 – transita entre obras publicadas de outros estudiosos e materiais não publicados,

normalmente chamados de fontes;2 – organiza todo esse material de forma nova e variada;3 – conclui, finalmente, seu trabalho quando elabora aulas, narrativas escritas ou

outros produtos históricos que transformam o “passado” em “história”. Mas, se ele é um trabalhador comum, tem-se que pensar também a que tipos de

práticas cotidianas e pressões está submetido.Quais as pressões que ele enfrenta para realizar seu trabalho?1 - pressões da família e dos amigos2 - pressões do local de trabalho3 - pressões relacionadas à edição, finalização e exposição de seu trabalho (Qual

extensão/tempo? Que formato terá? Para qual público/mercado? Quais prazos? Qual estilo literário/materiais didáticos? Que revisões críticas foram ou serão feitas? A partir delas, o que será reescrito/refeito?).

No entanto, como o historiador produz a história para alguém, seus textos ou produtos precisam ser lidos ou consumidos. E isso pode ser feito de forma totalmente diferentes das esperadas pelos historiadores. Pois, por um lado, não há como o historiador ter controle sobre as interpretações feitas de seu trabalho e, por outro, o leitor não tem como compreender exatamente o que o autor pretendia dizer. Como sabemos, contextos e leituras não se repetem. O que se pode dizer é que por conta do poder estabelecido, ocorrem interpretações e leituras em dados contextos mais ou menos previsíveis, produzindo alguns entendimentos comuns, consensos de caráter geral. Tal fato sucede porque as pessoas possuem afinidades que têm relação com suas necessidades de grupos e classes, porque vivem num sistema social e não isoladamente.

Síntese

Você viu nessa unidade que a história é um discurso problemático e em constante mudança, tendo como objeto um aspecto do mundo, o passado. Esse discurso é produzido por um grupo de trabalhadores cuja cabeça está no presente (e que, em nossa cultura são na imensa maioria, assalariados); que tocam seu ofício de maneira reconhecível uns para os outros (maneiras posicionadas em termos epistemológicos, metodológicos, ideológicos e práticos), e cujos produtos, uma vez colocados em circulação, vêem-se sujeitos a uma série de usos e abusos que são teoricamente infinitos; mas

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que, na realidade, correspondem a uma gama de bases de poder que existem naquele momento determinado e que estruturam e distribuem ao longo de um espectro do tipo dominantes/marginais os significados das histórias produzidas. O historiador Michel de Certeau, ao falar sobre como as pessoas reinventam seu cotidiano criando novas representações a partir das já existentes (inclusive as históricas), chamou esses usos e abusos de apropriações.

Mas veja: se, como o historiador Keith Jenkins, entende-se que a história é o que fazem os historiadores; que eles a fazem com base em frágeis comprovações; que a história é inevitavelmente interpretativa; que há pelo menos meia dúzia de lados em cada discussão e que, por isso, a história é relativa... se entende-se tudo isso, pode-se muito bem pensar: então para que estudá-la? Se tudo é relativo, para que fazer história? Em certo sentido, essa maneira de ver as coisas é positiva. É uma liberação, pois joga velhas certezas no lixo e possibilita desmascarar quem se beneficia delas. Então, em certo sentido, tudo é relativo mesmo! Porém, ao constatar essa característica, as pessoas se sentem num beco sem saída...

Mas não há necessidade disso: relativizar e desconstruir a história de outras pessoas é pré-requisito para construir a própria história, de maneira que se possa entender e saber o que se está fazendo. Constantemente é preciso lembrar que a história é sempre destinada a alguém, porque, embora, a lógica diga que todos os relatos são problemáticos e relativos, a questão é que alguns são dominantes e outros ficam à margem. Pode-se pensar que todos são a mesma coisa, mas não, pois estão hierarquizados. Por quê? O conhecimento está relacionado ao poder e os que têm mais poder distribuem e legitimam o que é considerado como conhecimento. A forma de escapar do relativismo na teoria é analisar o poder na prática. Portanto, uma perspectiva relativista pode conduzir a uma emancipação, pois você também poderá relativizar as histórias com as quais não concorda e produzir suas próprias .

Isso significa reconhecer que o ofício do historiador e a produção do conhecimento histórico são atravessados por relações de poder! Agora, ao invés de tentar ingenuamente responder apenas o que é a história, precisamos perguntar e responder: “O que significa história para mim ou para nós?” e “Para quem é a história?”.

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Seção 1

1) Sobre os autores citados que trataram da questão da produção do conhecimento histórico, é possível traçar linhas comuns entre suas idéias e explica ções?

2) Como foi dito nessa seção, a compreensão sobre “para

quê e como” se processa a produção do conhecimento histórico vem mudando e se avolumando. Quais os autores citados e quais as principais mudanças em seus modos de pensar?

3) A partir das reflexões presentes nessa seção, diferencie história e passado.

4) Classifique, de acordo com a numeração abaixo, os trechos de historiadores com histórias construídas sobre a produção de conhecimento em nossa área, em circulação na atualidade, a partir das caracterizações apresentadas na Caixinha de dicas:

1 – Os que trabalham diretamente a questão, os sentidos e significados da história, seus principais conceitos, noções, dilemas e debates.

2 – Os que apresentam histórias dos historiadores ou introduções à historiografia.

3 – Os que expõem a variedade de abordagens, domínios e especialidades da história.

4 – Além de dicionários, muito utilizados para auxiliar na compreensão de conceitos ou para ajudar a entender e contextualizar a leitura dos livros que acabamos de listar.

( ) “Desde o século 12 lançam-se as regras da erudição, mas a história só se torna uma paixão nacional nos séculos 14 e 15, quando ela encontra o público laico. Já na Idade Média, punha-se a questão do sentido da história e sua utilidade, a questão também da narração e do estilo na escritura da história. No entanto, durante os séculos, até o 17, a história foi preponderantemente considerada como uma disciplina menor ao lado da teologia, e o sentido da história permaneceu no âmbito dos desígnios da Providência. Os séculos 16 e 19 são os grandes séculos da escritura da história e da vontade de encontrar um equilíbrio entre erudição rigorosa cujas regras são lançadas, e preocupação de se construir um pensamento histórico.”

Fonte: CAIRE-JABINET, Marie-Paule. Introdução à Historiografia. Bauru, SP: Edusc, 2003, p. 9.

Atividades

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( ) “Seguir assim ‘à beira da falésia’ também permite formular mais seguramente a constatação de crise ou, no mínimo, de incerteza frequentemente enunciada hoje em dia acerca da história. (...) [Houve] a perda de confiança nas certezas da quantificação, o abandono dos recortes clássicos, primeiramente geográficos, dos objetos históricos, ou ainda, o questionamento das noções (‘mentalidades’, ‘cultura popular’, etc.), das categorias (classes sociais, classificações socioprofissionais, etc.), dos modelos de interpretação (estruturalista, marxista, demográfico, etc.) que eram os da historiografia triunfante. A crise de inteligibilidade histórica (...) fez a história perder sua posição de disciplina federalista no seio das ciências sociais.”

Fonte: CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002, pp. 7-8.

( ) “Ao publicarmos este Dicionário de conceitos históricos, acreditamos necessário,

antes de tudo, explicar os critérios que nortearam sua elaboração. Conceitos são

dinâmicos, têm historia. Não podem ser utilizados indiscriminadamente. Por

isso, tomamos o cuidado de especificar a natureza de cada conceito histórico. E

foram esses cuidados que nos serviram de critério para a escolha de, basicamente,

três tipos de conceitos: primeiro, os conceitos históricos, stritu senso, aquelas noções

que só podem ser utilizadas para períodos e sociedades particulares, como

Absolutismo, Candomblé, Comunismo. Em segundo lugar, conceitos mais abrangentes,

muitas vezes denominados categoria de análise, como Escravidão, Cultura, Gênero,

Imaginário, que podem ser empregados para diferentes períodos históricos. E por

último, conceitos que funcionam como ferramentas para o trabalho do historiador,

como Historiografia, Interdisciplinaridade, Teoria.” Fonte: SILVA, Maciel Henrique e SILVA, Kalina Vanderlei.

Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Ed. Contexto, 2005, p. 10.( ) “Ouve-se falar em História Cultural, em História das

Mentalidades, em História do Imaginário, em Micro-História, em História Serial, em História Quantitativa ... o que define esses e outros campos? É um dos objetivos deste texto contribuir precisamente para o esclarecimento relacionado a cada uma das várias modalidades em que, nos dias de hoje, freqüentemente, se divide o campo historiográfico. (...) a ampla maioria dos bons trabalhos historiográficos situa-se na verdade em uma interconexão de modalidades. Se são bons, são complexos. E se são complexos,

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hão de comportar algum tipo de ligação de saberes, seja os interiores ou exteriores ao saber historiográfico”.

Fonte: BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidade e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, pp. 7-8.

Atividades

1) Leia e analise os trechos de narrativas históricas abaixo,,versando sobre um mesmo tema, a situação dos trabalhadores brasileiros no início do século XX. Depois responda às questões a seguir: a) Cada autor/sujeito pode ter escrito suas reflexões em épocas diferentes ou na mesma época. Quais são elas?

b) Todos ressaltam aspectos comuns e diferenciados. Cite alguns deles.

c) Os autores utilizam conceitos variados, conforme sua área de conhecimento. Identifique essas características em sua resposta.

“A greve, segundo a polícia‘1917: greve geral dos operários da Companhia de Gás.

Reivindicam melhores salários (o eterno problema...). (...) 8 de julho de 1917: piquetes de mulheres grevistas, reforçados por milhares de operários (entre eles os da Companhia Antarctica), percorrem os estabelecimentos fabris (inclusive a Companhia de Gás), concitando os companheiros a aderirem ao movimento paredista. Um dos motivos alegados (motivo justo e humano) é o da elevação do custo de vida (...). Os trabalhadores, que no ano passado sofreram redução nos salários, pedem agora um aumento de 20% (os ‘patrões’ ofereceram 10%, que foi recusado). A essa altura dos acontecimentos, todo efetivo da Força Pública (...) encontrava-se

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Seção 2

1 – Para a realização do trabalho do historiador na teoria, estão presentes três dimensões, ao mesmo tempo objetivas e subjetivas, da produção do conhecimento em história.

a) Quais são elas?b) Explique como cada uma delas interfere no trabalho do

historiador. 2 – Como qualquer outro trabalhador, o historiador deve

desenvolver seu trabalho na prática.a) Para tanto, o que leva para realizá-lo? b) Como o realiza? c) Quais as pressões que enfrenta para realizá-lo?3 - Considere o último trabalho de faculdade que você teve

que fazer. Pense no esforço que empreendeu para fazê-lo. Faça uma reflexão/descrição por escrito desse processo.

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nas ruas – ocasião em que foi distribuído à tropa um boletim que finaliza nos seguintes termos:

‘Não vos presteis, soldados, a servir de instrumento de opressão dos Matarazzo, Crespi, Gamba, Hoffman etc. (sic), aos capitalistas que levam a fome ao lar dos pobres... Soldados! (...) os grevistas são vossos irmãos na miséria e no sofrimento, os grevistas morrem de fome, ao passo que os patrões morrem de indigestão! Soldados! Recusai-vos ao papel de carrascos. São Paulo, julho de 1917’.

[No dia 9 de julho], junto aos portões da fábrica Mariângela, no Brás, ocorreu sério choque entre a diminuta guarnição da F. P. e um piquete de grevistas (...) Durante a refrega perdeu a vida o operário José Ineguez Martinez (...). Foi responsabilizado por esse crime [um] soldado. (...) [O] crime iria tumultuar toda a capital (...) o movimento paredista (parcial) alastrou-se, arrastando demais operários para as ruas, num total de 70.000 (...), tomando forma de ‘guerra civil’ (...) bondes e outros veículos são incendiados... Armazéns e estabelecimentos fabris são saqueados e arrasados!”

Fonte: GANINI, Tenente Pedro. Fragmentos da História da Polícia de São Paulo, in Nosso Século, 1910-1930. São Paulo: Abril Cultural, 1981, p. 97.

“Os comunistas brasileirosOs anarquistas (...) Em 1917, o operariado nacional,

sentindo-se prejudicado, revoltou-se contra os baixos salários. Em São Paulo, os tecelões protestaram contra as condições de trabalho que lhes eram impostas pelos patrões e o movimento se alastrou com surpreendente rapidez. A polícia reprimiu a greve com truculência e matou um trabalhador, porém a mobilização se ampliou ainda mais e chegou a envolver cerca de 100 mil pessoas. Um comitê de jornalistas, com a aprovação do governo estadual, encaminhou negociações que levaram o empresariado a fazer algumas concessões.”

Fonte: KONDER, Leandro. História das Idéias Socialistas no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2003, pp. 41-42. (L. Konder é filósofo).

“O espaço industrial brasileiro – Concentração e desconcentração industrial

Os processos de industrialização promovem, sempre, a concentração espacial da riqueza e dos recursos financeiros e produtivos. Essa tendência de concentração espacial acompanhou a industrialização brasileira, desde o início do século XX. Em escala nacional, o seu resultado foi a configuração, no Sudeste, de uma região industrial central, dinâmica e integrada. O núcleo dessa região corresponde ao estado de São Paulo”.

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Fonte: MAGNOLI, Demétrio Paulo; ARAÚJO, Regina. Geografia, Paisagem e Território. São Paulo: Editora Moderna, 2001, p. 177. (D. Magnoli é jornalista e cientista social, Doutor em Geografia Humana; R. Araújo é geógrafa, Doutora em Geografia Humana).

“A Primeira República – Movimentos sociais urbanosO crescimento das cidades e a diversificação de suas atividades

foram os requisitos mínimos de constituição de um movimento da classe trabalhadora. As cidades concentraram fábricas e serviços, reunindo centenas de trabalhadores que participavam de uma condição comum. (...) Mesmo assim, não devemos exagerar. O movimento da classe trabalhadora urbana no curso da Primeira República foi limitado e só excepcionalmente alcançou êxitos. As principais razões desse fato se encontram no reduzido significado da indústria, sob o aspecto econômico, e da classe operária, sob o aspecto político. As greves só tinham repercussão quando eram gerais ou quando atingiam setores-chave do sistema agro-exportador, como as ferrovias e os portos. (...) Dentre as três greves gerais do período, a de junho/julho de 1917 em São Paulo permaneceu mais forte na memória histórica, a tal ponto que a atenção dos historiadores tende a se concentrar nela, esquecendo-se o quadro mais amplo das mobilizações. Apesar dessa ressalva, a greve de 1917 realmente merece uma referência especial por seu impacto e dramaticidade.

Começando por duas fábricas têxteis, ela abrangeu praticamente toda a classe trabalhadora da cidade, em um total de 50 mil pessoas. Durante alguns dias, os bairros operários do Brás, da Mooca e do Ipiranga estiveram em mãos grevistas. O governo mobilizou tropas, e a Marinha mandou dois navios de guerra para Santos. Afinal, chegou-se a um acordo com os industriais e o governo pela mediação de um Comitê de Jornalistas. Houve um aumento de salários, aliás logo corroído pela inflação, e vagas promessas de se atender às demais reivindicações. A onda grevista arrefeceu a partir de 1920 (...)”

Fonte: Fausto, Boris. História do Brasil. 6ª ed., São Paulo: Edusp/FDE, 1999, pp. 297-302.

“Perfil social de militante anarquista português expulso do Brasil em 1921

Português de Vila de Beira Alta, A. V. Coutinho era casado, alfabetizado e padeiro por profissão. Membro do Conselho Geral do Trabalho Operário na Federação dos Trabalhadores, tinha 24 anos quando foi expulso, após várias detenções, por sua participação no movimento grevista. Por ocasião de sua última prisão, foram apreendidos, em sua residência, um retrato de Kropoktin, evidenciando sua filiação ao comunismo-anárquico; um artigo datilografado intitulado ‘A Questão Social no Brasil’; um quadro

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O campo histórico

Fonte: BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidade e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p.19.

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denominado ‘Um Flagrante do Tormento’, de inspiração anarquista, e os 36 livros dirigidos à causa operária. Partidário da Propaganda pela Ação, como vários padeiros da mesma nacionalidade, Coutinho exercia, sem dúvida alguma, liderança destacada no conjunto do movimento, o que parece comprovado pelo registro de inúmeros protestos contra sua expulsão.”

Fonte: MENEZES, Lená M. de. Os indesejáveis: desclassificados da modernidade. Protesto, crime e expulsão na capital federal (1890-1930). Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1996, p. 110. In DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. O livro de ouro da História do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 286.

2) De acordo com o quadro abaixo, o que caracteriza o campo da história?

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50Anotações

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