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PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Título Inserção do Negro no Ensino Formal
Autor Sirlei Pereira Guimarães
Escola de atuação Colégio Estadual João XXIII – E M
Município da escola Janiópolis - Paraná
Núcleo Regional de
Educação
Goioerê
Orientador Sandra Carbonera Yokoo
Instituição de Ensino
Superior
Faculdade Estadual de Ciências e Letras de
Campo Mourão
Disciplina/Área Geografia
Produção Didático-
pedagógica
Unidade Didática
Público alvo Alunos do 2º Ano do Ensino Médio
Localização Colégio Estadual João XXIII – E M
Rua Geralda Moreira, 394
Apresentação O referido projeto tem por objetivo desenvolver
uma proposta de trabalho pedagógico para o
ensino de Geografia através de pesquisas sobre
a Inserção do Negro no Ensino Formal e sua
influência no Colégio Estadual João XXIII, na
forma de Unidade Didática. Faz-se necessário
desse modo, pesquisar sobre essa cultura, desde
o manuseio na agricultura, que é uma das
atividades básicas da humanidade, e,
provavelmente responsável pela primeira grande
transformação no espaço geográfico, até as
tecnologias aplicadas nos dias de hoje. Nessa
perspectiva, e ao investigar como se deu o
processo de formação territorial do Paraná
através da cultura africana, pretende-se fazer
também um estudo local integrado, para obter
maiores informações dos descendentes dos
negros no município de Janiópolis-Pr. Para a
referida intervenção pedagógica serão realizadas
pesquisas, textos historiográficos, fotografias,
vídeos, mapas, músicas e entrevistas realizadas
através de questionários com as famílias de
alunos afro-descendentes e não descendentes do
1º, 2º e 3º ano do ensino médio do Colégio João
XXlII. Utilizar-se-á também tecnologias como: TV
pendrive, gravador, filmes, dentre outras que
devem ser consideradas no processo de ensino-
aprendizagem. Nessa etapa serão realizadas
também entrevistas com professores do Colégio
João XXIII, afro-descendentes e não
descendentes com intenção de saber a opinião
dos mesmos relativo a obrigatoriedade dos
conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana nos currículos escolares. E para finalizar
esta proposta, os alunos farão em equipes
―painéis‖ para sintetizar a temática estudada.
Nesse momento verificar-se-á o aprendizado dos
mesmos, haja vista a demonstração a
comunidade escolar.
Palavras-chave: Povos Africanos; Ensino Formal; Cultura.
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ESTADO DO PARANÁ
SIRLEI PEREIRA GUIMARÃES
UNIDADE DIDÁTICA
INSERÇÃO DO NEGRO NO ENSINO FORMAL
JANIÓPOLIS 2011
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ESTADO DO PARANÁ
SIRLEI PEREIRA GUIMARÃES
UNIDADE DIDÁTICA
INSERÇÃO DO NEGRO NO ENSINO FORMAL
Material Didático apresentado à Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão e à Secretaria do Estado de Educação do Paraná (SEED) para o Programa de Formação Continuada intitulado Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) sob a orientação da Profª. Ms. Sandra Carbonera Yokoo.
JANIÓPOLIS 2011
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO ......................................................................................... 06
2- AVALIAÇÃO ............................................................................................. 07
3-COMO VOCÊ IDENTIFICA SUA CULTURA? ........................................... 09
3.1- Música: Nossa Pátria Mãe Gentil........................................................ 09
3.2- Interpretação da música...................................................................... 10
4 -LOCALIZAÇÃO DE JANIÓPOLIS NO ESTADO DO PARANÁ –
ASPECTO GEOAMBIENTAL
10
4.1-História do Município de Janiópolis-Pr................................................ 14
4.2-Imagem do Município.......................................................................... 16
4.3-Ocupação e Colonização do Município de Janiópolis-Pr................... 16
5- A ROTA ENTRE ÁFRICA E BRASIL........................................................ 18
6- A CONTRIBUIÇÃO NEGRA NA FORMAÇÃO CULTURAL
BRASILEIRA.................................................................................................. 21
6.1- Para Refletir: A África e o Mundo....................................................... 26
6.2- Será que existiu escravidão negra no Paraná?.................................. 27
7- PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS EDUCACIONAIS DO NEGRO NO
BRASIL..................
33
8- REFERÊNCIAS.......................................................................................... 39
9- APÊNDICE................................................................................................. 43
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1. INTRODUÇÃO
Esta Unidade Didática apresenta a Produção Didático-Pedagógica do
professor PDE-2010. Os textos acompanhados de suas atividades foram
elaborados com a finalidade de contribuir para que alunos e professores
tenham um conhecimento mais amplo sobre a historiografia da educação
formal negra no Brasil e também sobre a colonização negra no território
paranaense.
Segundo Végas (2003) sabe-se que muitos brasileiros de hoje
descendem de povos africanos, pois 45% da população brasileira são negras.
Desse modo, conhecer a história da África nos faz conhecer melhor nossa
própria história, pois através da inserção da cultura negra nas escolas do
Brasil, tem-se como objetivo, o reconhecimento da identidade dos afro-
brasileiros garantindo assim a igualdade entre as nações indígenas, européias
e asiáticas.
O objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico, e neste espaço
o homem atua como ser ativo, entende-se então que este estudo contribui para
a formação de alunos capazes de compreender o espaço geográfico nas mais
diversas escalas, e atuar de maneira crítica e consciente na sociedade.
Assim, o estudo sobre os aspectos culturais do espaço geográfico
permite aos alunos conhecimentos sobre a construção de hábitos, crenças,
religiões, leis, sistemas, comportamentos, invenções e todas as maneiras de
ser (sentir, pensar e agir), do povo africano. Desse modo, compreender a
escravidão é de certa forma uma tentativa de entendimento da cultura
brasileira.
Importante destacar também, que no sentido de garantir uma educação
de qualidade digna e precisa, onde a diversidade étnica dos alunos no Brasil
fosse respeitada, foi preciso sancionar uma legislação de nível nacional, a Lei
nº 10639/031, que vem resgatar a importância dos alunos afro-descendentes na
escola e o respeito pela cultura afro, sem discriminação ou qualquer tipo de
preconceito. É sabido que não podemos ser ingênuos e acreditar que isso vale
1 BRASIL, Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/10.639.htm. Acesso em 18/03/2010.
7
para todos, mas devemos mostrar para os nossos alunos a história real sobre a
presença negra neste território.
Nesse intuito, ao abordar o tema: Inserção do Negro no Ensino Formal
pretende-se contribuir para que os alunos e professores descubram um novo
olhar em relação à cultura do povo africano.
2. AVALIAÇÃO
A avaliação será contínua e diagnóstica, pois deve acompanhar a
aprendizagem dos alunos tanto quanto nortear o trabalho do professor através
de uma ação reflexiva, haja vista a avaliação ser uma busca incessante de
compreender as dificuldades do educando, buscando propiciar ao aluno novas
oportunidades de ensino-aprendizagem.
Como os alunos têm diferentes ritmos de aprendizagem, o professor
deverá mostrar caminhos para que todos aprendam e participem das aulas.
Para isso acontecer, o professor deverá motivá-lo, pois estamos vivendo num
período tecnológico em que os alunos não precisam ir à escola para obterem
informações necessárias para sua sobrevivência, mas o conhecimento
científico através da presença entre professor e aluno ele só vai encontrar na
escola.
Por isso devemos inovar, ou seja, criar situações confortantes,
demonstrar o êxito do processo de ensino aprendizagem através da
compreensão, questionamento, participação, e, esse método pedagógico
dialético, vai assim rompendo com a concepção pedagógica da Escola
Tradicional.
Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais de Geografia para a
Educação Básica (2008), deve-se valorizar a noção de que o aluno possa,
durante e ao final do percurso avaliar a realidade do espaço em que vive na
sociedade sob a perspectiva de transformá-la, atuando assim, como um agente
ativo dentro deste espaço geográfico.
Para a referida intervenção pedagógica serão realizadas pesquisas,
textos historiográficos, fotografias, vídeos, mapas, músicas e entrevistas feitas
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através de questionários com as famílias de alunos afro-descendentes e não
descendentes do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio do Colégio João XXlII.
Utilizar-se-á também meios tecnológicos disponíveis na escola como:
câmera fotográfica, gravador, TV pen drive, computadores, pesquisas
bibliográficas e pesquisa de campo com intuito de obter informações sobre o
processo sócio-cultural da população do município de Janiópolis-Pr. Nesse
sentido objetiva-se aproximar a cultura dos negros a dos alunos dando
continuidade na formação de noções de tempo, espaço, e mudanças.
A utilização das novas tecnologias deverá ser considerada no processo
ensino aprendizagem de Geografia, tendo em vista hoje que tais tecnologias
fazem parte do nosso dia-a-dia e que se empregada de forma crítica e
inovadora podem propiciar aulas mais dinâmicas e interessantes. Acredita-se
dessa forma melhorar o interesse do aluno nas aulas de Geografia,
especialmente no âmbito dessa temática.
Dentro deste mesmo trabalho, acontecerá também entrevistas com
professores do Colégio João XXIII, afro-descendentes e não descendentes
para saber sua opinião sobre a obrigatoriedade da inserção dos conteúdos de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos escolares.
Para tanto, se faz necessário buscar um aprofundamento teórico sobre
este estudo para que seja elaborada uma Unidade Didática, com o objetivo de
compreender melhor este processo histórico paranaense. Assim, as
informações coletadas serão trabalhadas em sala de aula, com os alunos
dispostos em grupos, para que possam estabelecer relações através das
atividades e leituras propostas para discussão produzindo um texto próprio
sobre os conteúdos abordados. E para finalizar será proposto aos alunos a
organização de ―painéis‖ de modo que sintetizem o assunto estudado, tanto
para verificar o aprendizado dos mesmos, bem como para demonstrar a
comunidade escolar.
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3. COMO VOCÊ IDENTIFICA SUA CULTURA?
Figura 01: Escravos e seus senhores - Jean Baptiste Debret Fonte: http://imagenshistoricas.blogspot.com/2009/08/escravos.html. Acesso em 09/082011
Nesta Unidade Didática vamos refletir sobre a história do município de
Janiópolis-Pr, desde a sua criação através de relatos de pioneiros até os
aspectos físicos geográficos, econômicos e culturais, a história do negro trazido
da África para o Brasil, a influência do negro na colonização do Paraná e a
educação escolar do negro desde a Lei 2040 de 1871 até a Lei 10639/03.
Iniciaremos esta aula com uma atividade musical de reflexão e
interpretação:
3.1 Música
Nossa Pátria Mãe Gentil
Beth Carvalho
O negro cuidou dessa terra Mas os homens não conseguem preservar [...]
O negro cuidou, o negro plantou, foi escravizado [...]
10
Não vamos nos acomodar Pois isso aqui é nossa terra Seu moço, a gente não aguenta mais, não 500 anos já foram em vão [...]
Disponível no site: http://www.vagalume.com.br/beth-carvalho/nossa-patria-mae-
gentil.html#ixzz1TcKCLBp3. Acesso em 30/07/2011
ATIVIDADE 01
a) Ouvir e interpretar a música, procurando entender o que a
letra nos revela sobre a cultura de um povo que mesmo sem
poder usar seus direitos enquanto ser humano, num período
que nos antecedeu, não deixou de demonstrar suas origens através da
música, dança, culinária, arte, religião desde a época passada, até os dias
de hoje.
4. LOCALIZAÇÃO DE JANIÓPOLIS NO ESTADO DO PARANÁ – ASPECTO
GEOAMBIENTAL
De acordo com Maack (1981, p.73) ―o território do Estado do Paraná
localiza-se na região Sul-brasileira, entre as latitudes de 22º 29´30‖ na
cachoeira Saran Grande no rio Paranapanema, e 26° 42´59´´ nas nascentes do
rio Jangada.
Quanto aos limites desse Estado, conforme o mesmo autor (1981) faz
divisa ao norte com o Estado se São Paulo ao longo do rio Paranapanema,
limita-se a Leste com a orla do Oceano Atlântico. Faz divisa com o Estado de
Santa Catarina ao Sul e a Oeste, com o talvegue do rio Paraná até a Usina de
Itaipu, daí percorrendo o limite com o Estado de Mato Grosso do Sul.
Segundo comunicação oficial do Departamento de Geografia, Terras e
Colonização e referente aos cálculos do Conselho Nacional de Geografia esse
Estado, abrange superfície de 199.554 km2 (MAACK, 1981, p.78). Superfície
esta bastante nítida em razão de seus rios limítrofes, lineamentos orográficos e
da própria formação geológica que ao longo do tempo fez com que essas
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paisagens naturais se tornassem também bastante diferenciadas e notadas,
em especial ao longo dos compartimentos ou planaltos.
Uma das diferenciações em se tratando das paisagens naturais, se
refere aos tipos e zonas climáticas desse estado, que podem ser classificadas
de acordo com Maack (1981) como: Tropicais Subtropicais e Temperadas,
sendo estas, distribuídas e distintas com maior ou menor percepção em todo o
território paranaense devido às características geográficas de cada região, bem
como no município de Janiópolis-Pr, que está situado a 24º 07‘30‘‘ Latitude Sul,
e Longitude de 52º 47‘, Oeste-GR.
Segundo Ferreira (2000) o município de Janiópolis-Pr está localizado
numa altitude de 630 metros. Possui extensão territorial de 321,8 Km². Limita-
se com Boa Esperança e Juranda ao Sul, Farol a Leste, Goioerê, Moreira Sales
e Rancho Alegre do Oeste a Oeste e Tuneiras do Oeste ao Norte, conforme
figura 02.
Figura 02: Limites do Município de Janiópolis-Pr http://www.ipardes.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=5 - Acesso em: 14/07/2011
No Estado do Paraná e também no referido município, Maack (1981)
acrescenta que as condições climáticas variam das demais regiões brasileiras,
consideravelmente de ano para ano, em função dos fatores climáticos e
dinâmicos. Quanto aos tipos climáticos, as Cartas Climáticas do Estado do
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Paraná (2000), e de acordo com a classificação de Köppen, determinam a
influência de três tipos de clima: Cfa, porção Central e Norte do Paraná, Cfb no
Sudeste em direção ao Leste e Af, no Litoral. No entanto, para a região de
Campo Mourão e também o município de Janiópolis-Pr, o tipo climático é o Cfa:
―O Cfa é um clima subtropical úmido mesotérmico com verões quentes e geadas pouco freqüentes, com tendência de concentração das chuvas nos meses de verão. Sem estação seca definida. A média das temperaturas dos meses mais quentes é superior a 22ºC, e a dos meses mais frios é inferior a 18ºC (FERREIRA, 1996, p. 214)‖.
Desse modo, o clima de uma localidade é uma síntese de todos os
elementos climáticos, determinado pela interação dos processos
meteorológicos. O clima também é um elemento fundamental para todos os
sistemas agrícolas, haja vista o município de Janiópolis-Pr se fundamentar
economicamente no setor agropecuário.
Em termos geológicos, Thomas (1984, p. 86) corrobora dizendo que a
área territorial do município localizada no Terceiro Planalto Paranaense. Desse
modo, teve sua origem na erupção vulcânica que em seus sucessivos
derrames de lavas formou a rocha designada: basalto, formando a
litoestratigrafia da chamada ―Formação Serra Geral‖, que compõe a parte
superior da Bacia Sedimentar do Paraná.
Desse modo, a região de Campo Mourão, a qual está inserida o
município de Janiópolis-Pr também apresenta expressiva profundidade desse
pacote rochoso que é denominado de basalto. Na região oriental do município
de Campo Mourão, encontra-se na superfície a rocha sedimentar chamada de
‗arenito da Formação Caiuá. Este também ocorre no município em questão.
A drenagem do município de Janiópolis-Pr, por sua vez, faz parte da
Bacia Hidrográfica do rio Piquiri, conforme dados da Prefeitura Municipal de
Janiópolis-Pr. Os cursos de água mais importantes desse município, são os
rios: Córrego Santo Antônio, Rio Papagaio, Rio Riozinho, Água Teixeira ou
Aimoré, Água da Limeira, Água da Saudade, Água Vermelho, Água Tamanduá,
Ribeirão Cinco Marcos, Ribeirão Arapuan, Água do 10, dentre outros que
atravessam as terras do município em sentido Sul e Norte.
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Figura 03: Vegetação do Estado do Paraná – Maack (1950) – Base Cartográfica:ITCG(2010) Fonte:>http://www.ipardes.gov.br/pdf/mapas/base_ambiental/cobertura_vegetal_nativa_PR.pdf Acesso em 10/08/2011
De acordo com Maack (1981), ―a vegetação é, em primeira linha, a
expressão do clima em relação á Latitude e Altitude (MAACK, 1981, p. 199)‖. O
Estado do Paraná por não possuir as mesmas formas de relevo, solos, rede
hidrográfica e clima na abrangência de seu território, também não apresentam
o mesmo revestimento vegetal. Contudo, ao se observar à figura 3, relacionada
à fitogeografia do Estado do Paraná, pode se notar as diferenças paisagísticas,
que vão desde as zonas de Floresta Tropical, Subtropical, Campo limpo,
Cerrado e Manguezal. Desses tipos paisagísticos, a que se sobressai é a
Floresta Subtropical.
No município de Janiópolis-Pr, de acordo com os dados da Prefeitura
Municipal de Janiópolis desenvolve-se o ―Bioma Mata Atlântica‖, e também a
Mata de Araucária (símbolo do Estado do Paraná), ―esta se desenvolve acima
da curva de altitude dos 500 metros e estende-se na terceira região climática
(MAACK, 1981)‖, conforme figura 4.
ESTADO DO PARANÁ
Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica) Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucárias) Floresta Estacional Semidecidual (Floresta Pluvial) Campos naturais
Cerrados Restinga Manguezais Rios e represas Bacias hidrográficas
14
Figura 04: Classificação climática do Paraná, segundo Köppen. IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná Fonte: http://www.iapar.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=597. Acesso em: 27/07/2011
4.1 HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS
De acordo com os dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE (2011) o município de Janiópolis-Pr teve sua origem na
formação de um patrimônio em plena floresta virgem, localizado no interior do
município de Campo Mourão.
Segundo Maack (1981) o referido município está localizado no Terceiro
Planalto Paranaense na Mesorregião Centro Ocidental do Paraná, e, inserido
na Microrregião de Goioerê, conforme figura 5.
15
Figura 05: Localização de Janiópolis no Estado do Paraná Fonte: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm. Acesso em: 29/07/2011
De acordo com Ferreira (2000, p. 308) ―Janiópolis-Pr, recebeu
inicialmente a denominação de Pinhalzinho pela Lei n.º 36, de 30 de dezembro
de 1960, foi criado o Distrito de Pinhalzinho‖. Nessa época esse distrito
pertencia ao município de Campo Mourão e foi elevada a condição de
município autônomo através da Lei Estadual n.º 4.450, no dia 20 de outubro de
1961, com denominação alterada para Janiópolis-Pr, numa homenagem ao
então Presidente da República, Jânio da Silva Quadros. A instalação se deu
em 18 de novembro de 1962 e o primeiro prefeito foi o Sr. Oscar de Paula
Pereira. Na figura 04, á imagem desse município.
Em 1975, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE (2011) o município chegou a ter cerca de 35 mil habitantes,
tendo no café uma grande fonte de renda. A partir daí, começou a migração,
reduzindo-se, drasticamente a sua população, haja vista o município contar
hoje com apenas 6.532 habitantes de acordo com os dados do IBGE (2010).
A migração ocorreu nesse período em função da modernização e
mecanização da agricultura que chegou ao Estado do Paraná. Desse modo,
16
ocorreu o êxodo rural também no município de Janiópolis-Pr em decorrência da
queda do café em função da monocultura da soja.
4.2 IMAGEM DO MUNICÍPIO
Figura 06: Imagem do município de Janiópolis-Pr http://www.ipardes.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=5 - Acesso em: 14/07/2011
4.3 OCUPAÇÃO E COLONIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS
Segundo Prefeitura Municipal de Janiópolis-Pr apud Dangui (2008) os
primeiros habitantes que constituíram o município de Janiópolis-Pr, eram de
procedências étnicas diferentes. As correntes imigratórias que favoreceram a
formação da cultura desse povo foram principalmente de portugueses,
italianos, alemães e espanhóis, bem como de migrantes das regiões de Minas
Gerais, Paraná (Norte Velho) São Paulo, Rio de Janeiro e a maioria da região
nordestina.
Nessa época (1960 a 1962), segundo informação obtida através de
Ficha de Orientação e Documentação e Pesquisa, dados coletados do
Município de Janiópolis-Pr, os títulos de posse de terra eram recebidos dos
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governos de época (entre eles o Governador Moisés Lupion, da Companhia
Breda de Londrina e Secretaria do Estado do Município de Pitanga), que eram
constituídos por lotes de 3.00 a 72,70 ha. Esses lotes eram explorados, em
média por duas a três famílias, onde era cultivado: ―café, feijão, arroz,
mandioca, algodão, hortelã, milho‖. E também safras de porcos e
principalmente, extração de madeira.
Segundo a Prefeitura Municipal de Janiópolis-Pr apud Dangui (2008),
esse município perdeu 31,11 mil hectares de sua área, em virtude da criação
do Município de Boa Esperança, pela Lei estadual Nº 4.844 de 06 de março de
1964, cuja instalação se deu a 14 de dezembro de 1964.
Os primeiros habitantes conforme Prefeitura Municipal de Janiópolis-Pr
apud Dangui (2008) migraram para o interior do município, com intuito de
realizar exploração agrícola e extração de madeira, surgindo assim diversas
comunidades, entre elas, destaca-se:
Água Grande - 21 km (1956), Bredápolis – 18 km (l950), São Domingos – 18 km (1958), Ouro Verde – 12 km (1951), Bragápolis – 9 km (1955), Graminha – 3 km (1935), São Roque – 16 km (1950), Água do Belém – 21 km (1955), Periferia de Janiópolis ―Takao – 2 km (1960), Amantino – 5 km (1945), Vera Cruz – 5 km (1946), Cinco Marcos – 12 km (1961), Comissário – 20 km (1950) e Distrito de Arapuan – 17 km (1947). (PREFEITURA MUNICIPAL DE JANIÓPOLIS apud DANGUI, 2008, s/p).
Estas comunidades que surgiram com a colonização, ainda hoje abrigam
diversas famílias, porém se caracterizam diferentemente da fase de ocupação.
Como exemplo, pode-se destacar somente um distrito, que é Arapuan, dentre
todas as comunidades existentes. Esse distrito hoje é o que possui menos
população. Esse fato pode ser explicado em função do número reduzido de
oferta de empregos, desse modo, as pessoas migraram para outras
localidades, como por exemplo, o Estado de São Paulo, a capital do Estado,
dentre outras, em busca de novas oportunidades.
18
ATIVIDADE 02
Reflexão, discussão e pesquisa:
a) Como posso identificar a cultura do povo janiopolense?
Será que a contribuição negra influenciou na cultura deste povo? Temos
afro-descendentes aqui?
b) Porque o negro não aparece como imigrante na história do
município de Janiópolis-Pr?
c) Será que ele vai aparecer só como migrante vindo da região
nordestina?
d) Você acredita na miscigenação?
e) O que significam as leis 2040 de 1871 e 10639/03?
f) Qual a contribuição destas leis para o desenvolvimento étnico -
cultural do nosso país?
5- A ROTA ENTRE ÁFRICA E BRASIL
ATIVIDADE 03
a) Observar a rota que foi feita entre África e Brasil.
b) Identificar quais são os países de onde o navio negreiro
partiu? E quais são os estados no Brasil em que eles foram deixados para
o trabalho escravo?
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Figura 07: O tráfico negreiro séculos XVI - XIX Fonte:http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/25476.pdf?PHPSESSID=2010012208174796. Acesso em: 14/07/2011
c) Interpretar o poema de Castro Alves, refletindo como era a vida dos
escravos e trazer a reflexão para sua realidade.
O Navio Negreiro – autoria Castro Alves
(Tragédia no mar)
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro [...].
Disponível no site: http://www.dominiopublico.go.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do19/07/2011
20
d) Entrevista sobre a influência negra na cultura brasileira dando ênfase
para a cultura local. Elaborada para ser respondida via autorização, pelos
alunos e professores do Colégio Estadual João XXIII - EM e também por
algumas famílias da comunidade de Janiópolis-Pr.
ATIVIDADE 04
Figura 08: Capoeira - Rugendas Fonte: http://imagenshistoricas.blogspot.com/2009/08/escravos.html. Acesso: em 28/07/2011
a) Na sua opinião, a cultura negra é importante? E para os
milhões de brasileiros? Por quê?
b) A cultura negra só se caracteriza pela dança? Quais são as
outras características que influenciaram na formação cultural brasileira?
21
6. A CONTRIBUIÇÃO NEGRA NA FORMAÇÃO CULTURAL BRASILEIRA
As manifestações sócio-culturais são repassadas de geração para
geração, desse modo, criam-se objetos geográficos que são registros muito
importantes tanto para a Geografia como ciências afins.
Nessa perspectiva não é possível falar em civilização sem antes buscar
na história o entendimento sobre o processo de colonização do Brasil através
da formação étnica bastante diferenciada existente na época, e, que hoje
somos descendentes desta miscigenação entre índios, africanos e europeus,
haja vista os escravos estarem presentes em quase todas as atividades
econômicas, pois escravizar era o único modo dos colonos conseguirem mão-
de-obra barata para o trabalho incessante nas lavouras da colônia.
Segundo Camargo (2004) o regime de escravidão já era uma instituição
praticada pelas civilizações mais desenvolvidas da antiguidade, após as
campanhas militares, imposta aos povos por elas dominados. Entretanto na
África, desde essa época já havia escravos. Esse sistema fora adotado por
Portugal por volta de 1436 á 1441. Daí em diante, iniciou-se o comércio regular
de escravos.
Conforme o mesmo autor (2004) a partir de 1442, os portugueses e
espanhóis passaram a freqüentar a África, aprisionando negros para escravizá-
los, utilizando-os em várias atividades onde havia a necessidade de mão-de-
obra.
Segundo o Professor Arnaldo Fazoli Filho apud Camargo (2004) em sua
obra intitulada História do Brasil, ao se referir á introdução do elemento africano
no Brasil, afirma: ―Estabeleceu-se uma grande polêmica em torno da época em
que os primeiros negros teriam chegado ao Brasil‖; e prossegue, ―enquanto
alguns podem ter vindo com Martim Afonso de Souza em 1532‖.
―No entanto, só se sabe de concreto que, em 29 de março de 1549, D. João III, a pedido dos donatários das capitanias de Pernambuco, Real da Paraíba, de Itamaracá e a Real da Baía de Todos os Santos, expediu um Alvará Régio, facultando a entrada de escravos em número de 120, para cada engenho montado e em condições de funcionamento, com o objetivo de incrementar a indústria açucareira, devido às freqüentes reclamações dos colonos contra o trabalho indígena, pois estes não se adaptavam ao trabalho metódico e sistemático na lavoura canavieira.‖ (CAMARGO 2004, p.179 e 180).
22
O padre Manoel da Nóbrega protestou contra a introdução de escravos
africanos no Brasil, mas nada adiantou, pois o desejo de lucro e a ambição de
riqueza dos portugueses foram maiores.
Segundo o Professor Pedro Calmon, apud Camargo (2004, p. 182)
―entraram no país durante esse período escravagista, nada menos que sete
milhões, estando nesse total os que ilegalmente foram introduzidos
clandestinamente pelos contrabandistas‖.
De acordo com Ramos (1940, 1942, 1946) e Rodrigues (1939, 1945)
apud Ribeiro (2005, p.113; 114), ―os negros do Brasil foram trazidos
principalmente da costa ocidental africana‖.
Não foi por menos que o jesuíta João Antônio Andreoni, apud Camargo
(2004, p. 182) na sua obra intitulada ―Cultura e opulência do Brasil‖, se
expressou da seguinte maneira, ao analisar a sociedade da nascente nação do
Novo Mundo: ―Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho;
porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar
fazendas, nem ter engenho corrente‖.
Desse modo, o povo africano representou naquela época a coluna
mestra da economia brasileira.
ATIVIDADE 05
Pesquisar na internet o resumo do livro: “O POVO
BRASILEIRO” de autoria do autor Darci Ribeiro.
Disponível em:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/darcy-ribeiro/o-
povo-brasileiro-4.php. Acesso em 05/08/2011
a) Segundo o autor nas páginas (113; 114), vieram para o Brasil três
grandes grupos com culturas diferentes. Identifique esses grupos,
destacando qual mereceu destaque no território brasileiro?
De acordo com Ribeiro (2005), o encontro de uma cultura com outra
decorre, de modo geral, a avaliação recíproca, ou seja, traz o julgamento do
valor da cultura do ―outro‖. E esse julgamento é feito a partir do ―eu‖. Assim a
23
tendência é considerar a sua própria cultura como ideal, a perfeita, a mais
avançada. Essa é a análise da outra cultura.
E PARA VOCÊ, O QUE É CULTURA?
Figura 09: Sábio trabalhando em seu gabinete no RJ, 1827 Jean-Baptiste Debret (França
1768-1848). Fonte: http://peregrinacultural.wordpress.com/tag/brasil/. Acesso em 09/08/2011
Continuando Ribeiro (2005), complementa que a cultura negra estava
naquele momento em desvantagem total, pois os colonizadores europeus
queriam somente utilizar à mão-de-obra daqueles negros, desprezando assim
os seus valores, o conhecimento, a arte, as formas de comunicação, as
técnicas, enfim a ―cultura do outro‖.
Como foram capturado meio ao acaso entre centenas de povos de tribos
diferentes que falavam dialetos e línguas não inteligíveis uns aos outros,
Ribeiro (2005) destaca que fez com que a uniformidade racial não
correspondesse quando os negros se encontraram submetidos à escravidão,
numa terra nova sem saber qual realmente seria seu destino longe das suas
origens, separados de suas famílias, sem entender a linguagem local e tendo
que obedecer aos capatazes que ali estavam, pois para os colonizadores
europeus o que importava naquele momento era a força física daqueles povos
recém chegados para desbravar a ―terra nova‖, que fora conquistada.
24
Ribeiro (2005) ainda destaca que os negros africanos se encontravam
disperso num lugar desconhecido, ao lado de outros escravos, diferentes na
linguagem, na identificação tribal, desse modo, tiveram que incorporar
passivamente no universo cultural da nova sociedade. Aprendendo assim o
―português‖, pois era a linguagem aos gritos que ouviam dos capatazes, que
mais tarde usaram para se comunicar entre si. Assim conseguiram
‗aportuguesar‘ o Brasil, influenciando de várias maneiras as áreas culturais
onde mais se concentraram: o nordeste e as zonas de mineração.
Continuando o mesmo autor (2005), corrobora dizendo que o negro
escravo iria constituindo suas virtualidades de ser cultural pelo convívio de
africanos de diversas procedências com a gente da terra. Concentrando-se em
grandes massas nas áreas de atividade mercantil mais intensa, onde o índio
escasseava cada vez mais, e o negro exerceria um papel decisivo na formação
da sociedade local. E para sobreviver nesta nova terra na condição de escravo
optou-se em acreditar nas práticas mágicas, crenças religiosas a que o negro
se apegava para consolar-se do seu destino e se proteger das ameaças do
mundo ‖azaroso‖ em que se encontrava.
Para Ribeiro (2005, p. 120) ―nenhum povo que passasse por isso como
rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado
indelevelmente. Todos nós brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos
e índios suplicados‖.
E após anos de conflitos, em 1822 o Brasil se tornou independente de
Portugal, e começou a serem discutidas entre alguns políticos, artistas e
intelectuais a idéia de abolir a escravidão no país. O processo de abolição do
trabalho escravo no Brasil estava acontecendo. E de modo geral entendemos
como um dos principais marcos da história política do país, quando se rompe
com um passado de atraso, e se inicia um processo de constituição de uma
sociedade moderna, onde o trabalho livre e a escolarização são
compreendidos como um dos principais elementos.
Desse modo Ribeiro (2002), esclarece que essas práticas constituem-se
nas primeiras experiências educacionais com características modernas que
foram dirigidas aos negros, pois antes do período em que as questões relativas
á abolição da escravidão entraram em debate, a educação dos negros
escravizados era realizada no espaço privado e em meio ao cotidiano da
25
sociedade escravista, tendo como objetivo formar trabalhadores adaptados à
escravidão. Diante o exposto, é importante esclarecer o sentido da questão
educacional no processo de abolição do trabalho escravo para que os negros
realmente sintam-se integrados á sociedade como homens livres, pois ainda
em 1835 os escravos não podiam freqüentar as escolas, quando estas eram
somente para uso de homens livres.
ATIVIDADE 06
Figura 10: Escravos voltando da plantação de café - Jean Baptiste Debret Fonte: http://imagenshistoricas.blogspot.com/2009/08/escravos.html. Acesso em: 14/07/2011
a) Observando a figura 10, comente sobre o trabalho e o
processo de abolição do trabalho escravo no Brasil?
b) Você concorda que a escolarização no Brasil seja para
todos, mesmo o ensino sendo obrigatório?
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Figura 11: Casa Grande, Mestres e Escravos Jean Baptiste Debret Fonte: http://imagenshistoricas.blogspot.com/2009/08/escravos.html. Acesso em: 14/07/2011
6.1 PARA REFLETIR: A ÁFRICA E O MUNDO
Para Schmidt (2002) hoje em dia, os países da África são pobres e a
população passa por grandes necessidades. Parece uma triste ironia da
História, porque no passado a África colaborou com o desenvolvimento das
civilizações na Europa, na América e na Ásia. Para começar, a brilhante
civilização do Egito. Os europeus aprenderam muito com os egípcios, inclusive
matemática e técnicas de engenharia. A fome de ouro dos comerciantes
europeus do século XV foi saciada com as minas da Guiné. O mesmo ouro
também atraiu árabes e chineses para a costa oriental africana. Não podemos
esquecer nunca que milhões de seres humanos foram arrancados de seus
países de origem para servir de escravos nas plantações e minas de ouro na
América. Para tanto, nosso continente deve muito ao trabalho, a cultura e aos
ensinamentos dos povos africanos.
27
6.2 SERÁ QUE EXISTIU ESCRAVIDÃO NEGRA NO PARANÁ?
Vamos refletir e discutir sobre esta questão através do texto abaixo.
Segundo Camargo (2004), mesmo antes da transferência do povoado de
Cotinga para o continente, o povo africano já se fazia presente na região
litorânea nas expedições de preamento dos indígenas carijós, e nas
explorações de minério (ouro).
―A porta de entrada foi a princípio Superagui, baía de Paranaguá, Ribeira-Açungui e depois Itararé e rio das Cinzas, daí espalhando pelo interior da planície costeira, pelos sertões de Serra-Acima, pelos Campos de Curitiba, pelos Campos Gerais e pelo Norte Pioneiro do Paraná. (CAMARGO, 2004, p.183)‖.
Continuando, o mesmo autor (2004) descreve que nas propriedades dos
senhores paranaenses, os escravos eram tratados com mais humanidade do
que no Nordeste, porém com uma forte vigilância.
O que nos mostra realmente a historiografia é que o povo africano que
aqui se encontravam durante o Brasil-Colônia e Império ficou a disposição dos
portugueses e espanhóis, que viam neles somente a possibilidade de lucro fácil
e prestígio.
Com o declínio da produção do ouro, Camargo (2004) comenta que
muitos garimpeiros juntamente com seus escravos, abandonaram suas minas,
e seguiram para Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, onde haviam sido
descobertas ricas jazidas. Contudo, muita coisa ainda estava ainda por fazer,
pois com a mão-de-obra escassa e dispersa no interior do Primeiro e Segundo
Planalto Paranaense, precisava ainda de muito investimento, trabalho e
sacrifício dos africanos.
ATIVIDADE 07
a) Pesquisar no livro: de autoria do autor João Borba de
Camargo (2004 p. 182 a 186). Como era a vida dos escravos
negros no Paraná? Será que era diferente de outros lugares
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mesmo dentro do próprio país, ou era somente fachada perante a Corte
na época?
Segundo Camargo (2004) no decorrer de mais de trezentos anos, entrou
no Paraná um contingente de elementos africanos, inexpressivo, mas que
muito contribuiu na formação étnica do povo paranaense, como também no
campo material e cultural.
Conforme atesta o mesmo autor (2004) na composição étnica através da
miscigenação entre branco e índio, resultou nos seguintes mestiços: o mulato
(negro e branco), o cafuzo ou caboré (negro e índio), e esse mestiço cruzado
com negro ou índio resultou em outro tipo de mestiço como xibaro (cafuzo x
negro), e, curiboca (índio x cafuzo). Na cultura usavam para expressar suas
idéias e sentimentos diversas línguas, pertencentes ao grupo Bantú e seus
dialetos.
ATIVIDADE 08
a) Pesquisar na internet, Biblioteca Escolar ou Municipal os
diversos tipos de linguagens dos povos africanos aqui no
Paraná.
―O idioma português no Brasil recebeu um elevado número de africanismo, que passou a fazer parte integrante de seu vocabulário, tais como: angu, banzo, cachaça, cachimbo, caçula, calombo, camundongo, carimbo, cochilar engabelar, marimbondo, moleque, senzala, tanga, vatapá, xingar, quilombo etc. Na música e na dança, revelaram seu gosto e aptidão no samba, no maxixe, no frevo e no maracatu, sendo que estas duas últimas tornaram-se típicas do Nordeste. (CAMARGO, 2004 p.194).‖
De acordo com Camargo (2004) a dança predileta dos africanos era o
―jongo‖, dançadas nos terreiros, onde por alguns instantes faziam esquecer-se
da tristeza que era a sua vida naquelas ―moradas ou senzalas‖.
Para acompanhar suas danças Camargo (2004), descreve que eram
utilizados instrumentos musicais como a cuíca, o tamborim, o berimbau e o
caxambu. No campo da arte não foram muito criativos em decorrência da falta
de tempo, ou materiais apropriados para a execução, mas mesmo assim ainda
29
se destacaram nas artes plásticas utilizando a argila (na cerâmica), a madeira,
ossos e pedras (na escultura).
A sua religião como afirma Camargo (2004) é resultado de um
sincretismo religioso. Há destaque também para a contribuição do negro na
arte da culinária, com o hábito de molhos condimentados e uma variedade de
pratos e quitutes, tais como: angu, tutu, mocotó, pé-de-moleque, cocada,
quindim, pamonha, feijão preto, feijoada, etc.
Percebem-se através da história que a civilização negra realmente nos
trouxe conhecimentos que foram importantes para a formação cultural da
nossa sociedade onde a interferência se deu até na própria personalidade de
seus habitantes.
De acordo com Junior e Silva (2008, p.19), ―em se tratando da
população paranaense, 24% dos afro-descendentes confirma que este é o
Estado da região Sul do país hoje que nos revela a comprovação da etnia
africana existente‖.
Desse modo, para Steca e Flores (2008) a escravidão negra no Paraná
foi tão significante quanto para o restante do Brasil, pois a economia do Paraná
estava integrada as outras regiões e até mesmo ao mercado externo. Temos
poucos registros através da literatura histórica do Paraná de que houve a
presença de escravo negro, mas sabemos que isso não se comprova, pois
segundo as mesmas autoras (2008, p.57): ―no Paraná, além da escravidão do
índio e do negro, tivemos, também, a do homem branco por dívidas".
―A literatura histórica sobre o Paraná sempre tendeu a minimizar a presença do escravo neste Estado. Alguns autores chegaram a descrever a condição do escravo neste território como não tão dura e cruel como em outras regiões do país, porém, o escravo paranaense não fugiu á regra geral e estava sujeito à compra e venda, penhor, aluguel, a todo tipo de transação comercial ―As atividades desempenhadas pelo escravo, na Província, não eram só o trabalho com a terra ou mineração, ele era habilidoso em outras atividades, mesmo porque não podemos deixar de ressaltar que o escravo foi necessário pela falta de mão-de-obra. Na Província do Paraná, o negro também colaborou com o seu trabalho na penetração para o interior, auxiliando os bandeirantes na exploração, transportando pesadas cargas abrindo caminhos, no apresamento dos índios e até mesmo auxiliando no aldeamento dos nativos (STECA e FLORES 2008, p. 58; 59)‖.
30
Segundo Steca e Flores (2008), através da presença do sertanista,
mineiro, Joaquim Francisco Lopes a participação do escravo negro teve
destaque na colonização e no aldeamento dos índios paranaenses, que a
serviço da nação, abriram uma picada e foi os primeiros a se estabelecerem na
região, á margem direita do Rio Tibagi, onde foi fundada a Colônia Militar do
Jataí, hoje atual cidade de Jataizinho. E, na margem esquerda do mesmo rio,
no lado oposto, foi organizado um aldeamento, chamado de São Pedro de
Alcântara, iniciado em março de 1854, composta por oito brancos, 32 escravos
e 300 índios aldeados. Outro aldeamento que contou com o trabalho escravo
negro, foi o de Nossa Senhora do Loreto (1855), ás margem do Rio
Paranapanema, e contavam com uma população além de índios, com 4
brancos e 18 negros.
Para as mesmas autoras (2008), mesmo com a proibição do tráfico
negreiro, os negros continuaram entrando através do contrabando no litoral
paranaense, e como a abolição estava muito longe de chegar, os escravos que
estavam nos aldeamentos receberam a liberdade um pouco mais cedo, através
do Decreto nº. 3310 de 24 de setembro de 1864.
ATIVIDADE 09
DISCUTIR, RELATAR E PESQUISAR SOBRE O ASSUNTO:
a) Porque ocultar a escravidão negra no Paraná?
b) Como explicar que não houve a participação do negro na
colonização se quem estava a serviço da nação para
desbravar as terras paranaenses, eram os escravos negros
trazidos da África.
Conforme Steca e Flores (2008) na Província do Paraná a libertação foi
muito peculiar, ocorrendo das mais diferentes formas, além daquelas
determinadas pela Lei do Ventre Livre de 28 de setembro de 1871, e a lei dos
sexagenários, de 28 de setembro de 1885, que libertava o escravo com idade
acima de 65 anos. No Paraná os escravos ainda quando libertos ficavam
31
obrigados á prestarem serviços aos seus ex-senhores durante três anos a título
de indenização. No Brasil, a escravidão terminava pela morte natural, pela
libertação legal, estatal, ou pela alforria.
Para Pinheiro e Machado (2002, apud TRINDADE E ANDREAZZA,
2001), além da população de origem européia, da nativa e de mestiços, ainda
incluía contingentes de escravos negros. Em l780, quando a população era de
17.685 habitantes, 5.336 eram negros escravos. Assim sendo, de cada três
pessoas, uma era negra ou mulata, escrava.
Merece observação conforme Balhana (apud TRINDADE E
ANDREAZZA, 2001) o fato da distribuição diferenciada dos cativos uma vez
que no ano de 1772, ocasião do primeiro censo completo da Capitania de São
Paulo, 28,8% da população do Paraná era escrava. No entanto, em
Paranaguá este índice alcançava proporções mais elevadas, sendo escravos
44,2% de seus habitantes. Assim, para Ferrarini:
―[...] em 1880, a Província do Paraná contava com 10.088 escravos negros, apesar das campanhas a favor do abolicionismo, desenvolvidas ao longo das últimas duas décadas. Três anos antes da abolição total, o número ainda era de mais de 4.000 escravos. É interessante observar que as baixas no número de escravos na Província não ocorreram pela liberdade, mas também pela transferência para outras províncias‖. FERRARINI (apud STECA E FLORES, 2008, p.62).
As mesmas autoras (2008) corroboram dizendo que a escravidão no
território paranaense não foi muito diferente das outras regiões do Brasil quanto
à libertação dos escravos, mas junto de outras, como o Ceará, saíram à frente.
As regiões como: Paranaguá, Iguape, Cananéia, Ribeira, (Apiaí), Sertões do
Açungui (Itambé), Furnas e Campos de Curitiba, onde havia a mineração do
ouro, foram as que mais colaboraram para o aumento dos escravos no Paraná.
Para Wachowicz (2002) o movimento pela abolição da escravatura no Brasil
desenvolveu-se principalmente após a Guerra do Paraguai (1864-1870). A
propaganda abolicionista atingiu também o Paraná, encontrando apoio em
inúmeros proprietários, que alforriavam seus escravos. Alguns presidentes de
Província, levados pelo seu humanitarismo, faziam também apelos neste
sentido. Com a finalidade de lutar contra a escravatura, foram criadas
sociedades civis em Paranaguá e em Curitiba, dentre elas: Sociedade
32
Redenção Paranagüense e a Sociedade Ultimatum. Dessa forma, aos poucos,
diminuía a porcentagem de escravos na Província do Paraná, até a abolição
definitiva.
ATIVIDADE 10
a) Pesquisar o que essas sociedades criadas em
Paranaguá e em Curitiba faziam para lutar contra a
escravatura. Para a referida atividade será utilizado
trechos do livro de autoria Wachowicz (2001) p.141.
Segundo relatos de experiências desenvolvidas em escolas do Paraná
através da série de Cadernos Temáticos (2005), que torna obrigatório a
inserção dos conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos
currículos escolares na disciplina de Geografia do Colégio Estadual Tânia
Varela Ferreira em Maringá, é de permitir que os alunos se apropriem de
conhecimentos onde terão a oportunidade de resgatar sua identidade
permitindo um avanço de muitos questionamentos, propondo um novo perfil do
papel da Cultura Afro-Brasileira na formação do país, e entendam o processo
de transformação do espaço geográfico.
Desse modo, vem recebendo desde o princípio até os dias atuais novas
perspectivas educacionais para uma compreensão do papel do tráfico, da
escravidão e da diáspora africana como elementos formadores da configuração
do mundo contemporâneo.
Assim, o estudo sobre a Inserção do Negro no Ensino Formal se torna
mais eficaz no âmbito escolar através da Lei nº 10.639/03.
33
7- PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS EDUCACIONAIS DO NEGRO NO BRASIL
ATIVIDADE 11
Nessa atividade ouviremos o poema Navio Negreiro de
Antônio de Castro Alves, escrito em 1869, e assistiremos a
um trailer do filme Amistad (1997), duração de 7’34”,
produzido por Steven Spielberg. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=gyuT-x6a6W8. Acesso em 30/07/2011.
E para maior compreensão veja a sinopse do filme Amistad no
site:http://www.megklopper.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=2
55005.
Em seguida faça uma análise crítica dos trechos assistidos e
elabore um relatório sobre a mensagem que você retirou do filme.
Em se tratando de educação Fonseca (2002) corrobora dizendo que os
negros aos quais nos referimos são homens, mulheres e crianças que no final
do século XIX, representavam grande parte da população brasileira que se
encontravam na condição de escravos, ou que foram libertados durante o
próprio processo de abolição do trabalho escravo.
Desse modo, o mesmo autor (2002) esclarece que essas práticas
constituem-se nas primeiras experiências educacionais com características
modernas que foram dirigidas aos negros, pois antes desse período em que as
questões relativas á abolição da escravidão entraram em debate, a educação
dos negros escravizados era realizada no espaço privado, e em meio ao
cotidiano da sociedade escravista, tendo como objetivo formar trabalhadores
adaptados à escravidão. Diante o exposto, é importante esclarecer o sentido da
questão educacional no processo de abolição do trabalho escravo para que os
negros realmente sintam-se integrados á sociedade como homens livres, pois
ainda em 1835 os escravos não podiam frequentar as escolas, haja vista estas
serem permitidas somente para uso de homens livres.
34
Essa mudança só veio acontecer em 1860, quando a escolarização
passou a ser apresentada como dimensão fundamental para a vida dos
escravos e libertos. Contudo, Fonseca (2002) ressalta que esta ocorreu
somente, em 1867:
―(...) quando pela primeira vez o Imperador D.Pedro II atribuiu á Assembléia Geral a responsabilidade de enfrentar a questão da emancipação dos escravos, gerando o processo de construção daquilo que, em 1871, tornou-se a lei 2040, ou Lei do Ventre Livre onde, de forma inédita, a educação de ex-escravos e seus descendentes foi definida como uma atribuição legal‖. FONSECA (2002, p.12).
No total, esta lei tinha dez artigos, que segundo o mesmo autor (2002)
seriam elementos necessários no processo de abolição do trabalho escravo,
mas a que se destacava como principal, pela importante dimensão, era a Lei
do Ventre Livre, também conhecida como ―Lei Rio Branco‖, que foi uma Lei
abolicionista. Esta Lei considerava livres todos os filhos de mulheres escravas
nascidas a partir da data da Lei. Como seus pais continuariam escravos, já que
a abolição total só ocorreria no ano de 1888, a referida Lei estabelecia duas
possibilidades para as crianças que nasciam livres. Poderiam ficar aos
cuidados dos senhores até os 21 anos de idade, ou entregues ao governo para
arriscar a sorte na vida. Como os senhores se beneficiariam, escolheram o
primeiro caso, pois poderiam usar a mão-de-obra destes ―livres‖ até os 21 anos
de idade.
A Lei do Ventre Livre permitia a liberdade para os filhos de escravos,
mas vários artifícios na Lei asseguravam que os senhores não perdessem seus
trabalhadores.
O objetivo principal desta lei era possibilitar a transição, lenta e gradual,
no Brasil do sistema de escravidão para o de mão-de-obra livre, já que o Brasil,
desde meados do século XIX, vinha sofrendo fortes pressões da Inglaterra para
abolir a escravidão. A pressão foi aumentando á medida que a Inglaterra
consolidava sua Revolução Industrial e estabelecia a mão-de-obra assalariada
como melhor para a nova ordem mundial. A Lei do Ventre Livre (1871) veio
também como uma resposta embora fraca, aos anseios do movimento
abolicionista. Segundo as idéias de Fonseca (2002):
35
‖[...] a educação é um elemento importante para que possamos compreender esse processo, sobretudo no que diz respeito á sua articulação com a sociedade que se pretendia estabelecer no período posterior a escravidão. Não se pode compreender o processo de abolição do trabalho escravo no Brasil sem associá-lo ao processo de construção de uma nova sociedade que emergiria da superação da escravidão. A educação foi um dos pontos de manifestação desse pensamento de reconstrução do País e, dentro dessa reconstrução os negros eram tidos como um dos elementos indispensáveis de serem adequado ás novas relações sociais que começavam a ser esboçadas. [...] No período que antecedeu a própria libertação dos escravos a Lei do Ventre Livre continuava a ocupar espaço nas discussões sobre a abolição da escravidão, mas os posicionamentos se inverteram: de um de lado, os abolicionistas acusavam sua ineficácia; do outro, os que queriam protelar a resolução definitiva sobre a escravidão, defendiam a lei como a forma adequada de se resolver a questão do elemento servil. O ponto central nos debate que ocorreram após 1871 passou a girar em torno da liberdade definitiva dos escravos. E essa contenda se arrastou até 1888, mas a educação dos negros não deixou de estar presente. Pelo contrário, ganhou mais espaço em meio ás propostas e as práticas educacionais levadas a cabo durante esse período.‖ (FONSECA, 2002, p. 62, 65 e 66).
A educação é algo inseparável da cultura de uma sociedade. Não é
possível pensar a educação separada dos ensinamentos trazidos pela cultura
de outros povos que migraram para o Brasil trazendo consigo diferentes formas
de agir e de pensar de um povo, principalmente quando se observa uma
sociedade miscigenada que temos hoje.
ATIVIDADE 12
a) Pesquisar na Constituição Federal sobre o que diz o capítulo I dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos Artigo 5º. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 09/08/2011
b) Identificar através de pesquisa feita no livro do autor: Marcos Vinicius
Fonseca, A Educação dos Negros: Uma Nova Face do Processo de
Abolição da Escravidão no Brasil (2002) p.30, quais são os dez artigos da
lei 2040 de 1871, que segundo o autor seria elementos necessários no
processo de abolição do trabalho escravo através da educação.
c) E como você entende a ”educação” dentro deste contexto histórico?
Analise criticamente.
36
Diante o contexto, o mesmo autor (2002), comenta que somente em
1873 foi fundado o primeiro estabelecimento agrícola para a educação das
crianças e libertos no Piauí, onde foi realizada uma parceria entre o governo e
o agrônomo Francisco Parentes onde este lhes entregou quatro fazendas
através de um contrato.
De acordo com Fonseca (2002) o contrato dizia que:
―Educará physica, moral e religiosamente os libertos das ditas fazendas, que forem menores, e os libertos nascidos depois da promulgação da Lei de 28 de setembro de 1871, não podendo, porém os menores serem separados da companhia de suas mães, nem entrar para o estabelecimento a que se refere à condição 1ª, antes de completarem cinco annos de idade, salvo os orphãos de pai e mãe. Proverá, outrossim, a educação moral e religiosa dos adultos‖. (FONSECA, 2002, p. 70).
Posteriormente foram criados outros estabelecimentos em Pernambuco
(1873), e Pará (1876). Nesse sentido, o que podemos afirmar segundo
Fonseca (2002, p. 98):
―[...] é que a maioria absoluta das crianças que nasceram livres de mãe escrava após 1871 foram educadas, ou criadas, pelos senhores de suas mães e não necessariamente a partir dos padrões educacionais que os debates em torno da Lei do Ventre Livre haviam sugerido como necessários á transição para a sociedade organizada a partir do trabalho livre‖. (FONSECA, 2002, p. 70).
Após 1879, o mesmo autor (2002) comenta que o número de crianças
que foram entregues ao Estado foi abaixo de qualquer expectativa,
demonstrando que, na prática, a Lei do Ventre Livre não se demonstrou eficaz
para diminuir o contingente de trabalhadores escravos do País. Neste período
foram ainda encontrados, registros de novas associações, mas elas não foram
apresentadas com a mesma preocupação que as anteriores, e nem tampouco
receberam os mesmos incentivos financeiros das que surgiram antes de 1879,
sendo que algumas provavelmente, sequer receberam algum auxílio, pois seus
nomes são simplesmente citados nos relatórios.
Para o autor já citado, dentre as instituições que surgiram neste período
de refluxo em relação á questão da educação dos ingênuos, (nome dado para
se referir as crianças negras) podemos citar as seguintes províncias: Goiás
37
(1881), Ceará (1880), Minas Gerais e Rio de Janeiro (1884). E na província do
Rio de Janeiro houve a criação de mais cinco asilos. Sobre isto, Fonseca
(2002) comenta:
―Dentre essas instituições não há qualquer informação nos relatórios dos Ministros da Agricultura sobre a questão da educação das crianças nascidas livres de mãe escrava como função prioritária. No Asylo Agrícola Isabel especificamente, mas recorrendo a outras fontes, percebe-se que essa era teoricamente uma das finalidades da instituição. (FONSECA, 2002, p. 102; 107)‖.
Durante este período Fonseca (2002), destaca que o primeiro asilo
agrícola da América do Sul fundado em 1869, vinculado ao Imperial Instituto
Fluminense de Agricultura, voltado para a educação de (órfãos desamparados),
e não para as crianças nascidas livre de mulher escrava, e tinha como função
educar os menores para a atuação como feitores, e agentes intermediários. No
processo de produção, no ano de 1872 passou, a reconhecer os limites de sua
atuação junto às crianças do Rio de Janeiro, onde no próprio relatório dessa
instituição, de 1887, os problemas passam a ser apresentados e o que mais
destaque recebe é o fato desta instituição encontrar-se próxima á zona urbana
do Rio de Janeiro, vista como fonte de vícios que eram capazes de corromper
as crianças em fase de formação, impedindo que efetivamente cumprisse sua
função de educação para os trabalhos na agricultura. Desse modo, o autor
(2002) ressalta:
―A conseqüência de tudo isso é que, no longo período de 18 anos, o asilo não preparou um regente agrícola, nem consta que um só dos seus discípulos tenha-se dedicado ao trabalho no campo. Em termos de uma efetiva vinculação entre o ensino e a agricultura, a instituição não obteve sucesso até o ano de 1888, e nesse ano sofreu uma reforma que procurava manter seu propósito de realizar o ensino agrícola para a formação de agente intermediários nos trabalhos agrícolas. Quanto aos primeiros, o asilo afirmava que eles ( os alunos ), mal aprendiam a ler e escrever e se retiravam da instituição e , segundo o seu diretor, o asilo não era uma escola de primeiras letras. Eles se recusavam a se formar para agentes intermediários nos trabalhos agrícolas, como diziam os documentos do asilo: feitores, uma palavra e uma função vinculada diretamente á escravidão. (FONSECA, 2002, p. 108; 109)‖.
O mesmo autor continua dizendo que se por um lado havia esse tipo de
comportamento, a reforma promovida no asilo do Imperial Instituto de
Agricultura Fluminense, levado a cabo em 1888, ataca duramente os asilados
38
maiores de 21 anos, que para se manterem na instituição, deveriam passar a
trabalhar nas fazendas, ou no Jardim Botânico. Essa mudança fez com que a
maioria dos asilados nessa faixa etária se retirasse, restando somente três que
aceitaram as novas condições. Nesse sentido, Fonseca (2002) comenta:
―Essa nova dimensão estabelecida pela reforma revela que, ao contrário dos que tiveram uma passagem rápida pela instituição, fazendo dela uma escola de primeiras letras, outros alunos retardavam ao máximo sua saída, adiando a concorrência por postos de trabalho e fazendo do asilo refúgio contra a conturbada situação que deveriam enfrentar no espaço social que, em decorrência do processo de abolição do trabalho escravo, encontrava-se sob profundas transformações. A valorização da educação dos escravos e as práticas educacionais que ocorreram durante esse período atestam que a educação pensada ao nível das esferas dos poderes Legislativo e Executivo do governo do Império como estratégia para a inserção dos ex-escravos na sociedade organizada mediante o trabalho livre encontrou resistência por parte dos senhores de escravos, que não se ocuparam tanto com a tarefa de projetar o futuro do País, mas trataram de defender seus lucros e explorar ao máximo a mão-de-obra disponível durante a transição para a sociedade livre. (FONSECA, 2002, p. 109 e 116).‖
Desse modo, o autor ainda destaca que a criança negra que foi exposta
às novas práticas educacionais começou a se diferenciar daqueles que ao
longo da escravidão, eram rapidamente ―adestrados‖ para o trabalho, pois
receberam uma educação mais complexa e com objetivos distintos daqueles
que permearam o período escravista. Sendo assim, podemos considerar que a
educação foi um dos instrumentos dessa mudança de sentido no plano das
relações sociais.
ATIVIDADE 13
PARA REFLETIR E COMPLEMENTAR
a) Como você vê a educação no nosso país hoje? É uma
educação voltada para o conhecimento científico? É uma
educação para todos? É uma continuidade da educação
comportamental que deveria ser ensinada pelos pais em
casa? Os pais estão se ausentando e confundindo suas
responsabilidades? Isso ocorre em todas as famílias hoje? Como era no
39
passado? O que está faltando nas famílias e nas escolas para incentivar
os alunos? Qual a verdadeira função do professor e dos pais? E qual é a
função do aluno? Será que há confusão nas funções? Dê sua opinião.
8- REFERÊNCIAS
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do Paraná.
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9- APÊNDICE
9.1 Entrevista com alunos, professores e comunidade do município de
Janiópolis-Pr.
1) Qual a importância da Lei nº10639/03 para você? Será que esta
Lei mudou o comportamento das pessoas em função do preconceito existente
quanto à etnia negra, mesmo sendo obrigatório nos currículos escolares?
2) Vivendo num país como o Brasil que se diz democrático, você
acredita que ainda hoje exista preconceito em nosso meio? Quais tipos de
preconceitos existentes que mais se destacam pra você?
3) Será que precisava existir uma Lei obrigatória, para ensinar
História - Afro nas escolas?
4) O que você percebe de mudanças na escola depois da referida
Lei?
5) Existe preconceito ―visível‖ na sua escola?
6) O tema sobre a história dos negros como colonizadores da nossa
terra é discutido em nosso meio escolar?
7) Os professores discutem o tema como conteúdo, ou só quando
surge o assunto em sala?
8) Você percebe rejeição por parte de alguns colegas na escola no
que diz respeito a preconceitos, independente de ser negro ou não? Explique.
9) Quais os tipos de desigualdades sociais existente em nosso país?
Porque existem essas desigualdades?
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10) Você professor, já sofreu discriminação no trabalho ou na sua
vida diária? Qual tipo?
11) Como você lida com essas afirmações por parte de pessoas que
dizem que não tem preconceito, mas na verdade não é bem assim?
12) Você concorda que uma pessoa negra que não aceita a sua
origem, tendo preconceito com a própria etnia, aproveitar da situação em que a
Lei lhe assegura para usufruir das cotas para negros em concursos e
vestibulares?
13) Você acredita que o negro se sente bem vivendo numa sociedade
onde aprendeu que a etnia negra foi inferior a branca em séculos passados?
E como a sociedade lida com isso hoje? Será que houve mudanças?
14) Será que era preciso existir cotas para negros? Ou é mais uma
forma de cobrar os direitos dos negros de viverem numa sociedade como
cidadãos iguais aos outros perante a Lei?
15) Como você vê hoje em pleno século XXI um negro assumir a
Presidência da Republica dos Estados Unidos? Será que mesmo sendo
Presidente ele sofre algum tipo de preconceito?
16) E você, por ser de origem negra se sente inferior a alguém de
outra etnia?
17) Vivemos num país onde as escolas, as igrejas, os templos, a Lei
prega que devemos ser iguais e que o preconceito seja ele qual for, não deva
existir. Como que a indiferença e a violência insistem em existir? Será que o
ser humano esta sendo corrompido até no seu mais íntimo sentimento por viver
num mundo onde impera o sistema capitalista? Explique.
18) Se você perceber, a mídia esta mostrando cada vez mais o que
não víamos no passado, o negro ocupando seu espaço em comerciais,
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novelas, filmes etc. Será que realmente estamos caminhando mesmo que
tardio, para uma vivência democrática em sociedade?
19) O que você acha de pessoas que estão se aproveitando da Lei de
cotas para negros mesmo não sendo Afro-descendentes, estar se inscrevendo
para vestibulares e concursos usando isso em benefício próprio uma vez que
não precisa provar? Como fica isso perante a Lei? Será que realmente está
acontecendo isso? Deixe seu comentário.