produção brasileira

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O diretor-presidente da Ancine comenta os resultados da lei que fomenta e valoriza o conteúdo nacional nos canais da TV por assinatura Produção brasileira A chamada Nova Lei da TV Paga passa a valer integralmente, exigindo de canais pagos 3h30 por semana de produções nacionais no horário nobre a partir de setembro de 2013. Qual seu resultado mais palpável? Aumentou a programação de filmes, seriados, documentários e obras de animação brasileiras nos canais pagos, os assinantes receberam novos canais brasileiros sem custo adicional e aumentou também o investimento das programadoras na produção de novas obras brasileiras. A lei fortalece as empresas produtoras BRASILIENSE Manoel Rangel, de 41 anos, vai con- cluir em maio seu segundo mandato como diretor-pre- sidente da Agência Nacional de Cine- ma (Ancine) tendo consolidado uma nova direção para a televisão paga do Brasil. Agora é lei: canais e pacotes de TV por assinatura devem trazer mais produções locais nos melhores horários. Nesta entrevista à MONET, ele fala do combate à pirataria, que é um dos trabalhos da Ancine, e, na condição de presidente por duas vezes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), na década de 1980, diz por que defende a meia-entrada no cinema e shows para quem está estudando. filmes na íntegra na internet deve ser combatida: no caso do YouTube, já existem meios que garantem a exclusão dos vídeos, caso os detentores dos direitos se sintam lesados. Por outro lado, as aceleradas transformações tecnológicas estão criando novas práticas e comportamentos. Não é eficaz pensar no tema apenas pelo viés repressivo. É preciso refletir sobre formas mais eficazes de conscientizar os internautas sobre a importância de consumir só produtos originais. Distribuidoras de filmes e cadeias de cinema discutem já há anos o fim da meia-entrada para estudantes. Isso baratearia o preço do ingresso “inteiro” de cinema? Esta é uma tese questionável. Para o preço do ingresso baixar, o número de salas precisa aumentar. Por outro lado, é preciso moralizar o uso da carteira de estudante: na minha opinião, só devem valer as da UNE [União Nacional dos Estudantes] e da UBES, expedidas com certificação da Casa da Moeda, e o benefício poderia ser estendido a todos os jovens com até 18 anos. Pode-se estabelecer também um limite para os ingressos de meia-entrada vendidos, para não prejudicar pequenos exibidores. Mas vale lembrar que já tivemos no Brasil uma experiência de fim da meia- entrada, entre 1983 e 1992. Isso não resultou na diminuição do preço médio dos ingressos. A meia-entrada para estudantes ainda tem função estratégica na vida social do nosso país, ainda tão desigual. O mandato do senhor termina em maio deste ano. Já tem planos para o futuro? O que espera da gestão da nova diretora-presidenta, a advogada Rosana Alcântara? Ela já demonstrou extrema competência em seus sete anos como servidora da agência e à frente da superintendência executiva da Ancine. A agência tem muito a ganhar com seu conhecimento profundo do mercado e das questões regulatórias do audiovisual. Meu mandato só termina em maio, as solicitações do cargo ainda não me deixaram tempo para fazer planos. e programadoras e valoriza a nossa cultura. Os principais beneficiados são os assinantes, que já começaram a ter mais acesso a uma produção de qualidade e diversificada, que fala a nossa língua e reflete a nossa imagem. O fomento a produções audiovisuais nacionais é uma realidade em países desenvolvidos. Nesses mesmos países, porém, existem instituições de ensino muito reconhecidas para a qualificação dos profissionais. O que falta ao Brasil nesse sentido? Já se percebe um movimento espontâneo de instituições de ensino. No Rio de Janeiro, a Universidade Federal Fluminense criou em 2011 o curso de Licenciatura em Cinema, para a formação de professores de cinema para escolas públicas, e a Fundação Getulio Vargas oferece um curso de Formação Executiva em Cinema e TV. Nos últimos anos, foram criados cursos em universidades federais do Ceará, de Pernambuco e da Bahia. Mas é necessária uma ação mais articulada do poder público. Por isso mesmo, a capacitação do setor é uma das diretrizes do Plano de Diretrizes e Metas do Audiovisual [em consulta pública no site da Ancine até 13 de março]. No Ministério da Cultura, a nomeação de Marta Suplicy deve reabrir os debates sobre as leis de direitos autorais. Qual a posição do senhor sobre filmes disponíveis integralmente no YouTube, por exemplo? Uma das missões da Ancine é o combate à pirataria, e a disponibilização não-autorizada de OS PRINCIPAIS BENEFICIADOS SãO OS ASSINANTES, QUE Já COMEçARAM A TER MAIS ACESSO A UMA PRODUçãO DE QUALIDADE E DIVERSIFICADA, QUE FALA A NOSSA LíNGUA E REFLETE A NOSSA IMAGEM” por José Gabriel Navarro foto Stefano Martini [ MANOEL RANGEL ] O FEVEREIRO + Monet + 67 66 + Monet + FEVEREIRO

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O diretor-presidente da Ancine comenta os resultados da lei que fomenta e valoriza o conteúdo nacional nos canais da TV por assinatura

Produção brasileira

A chamada Nova Lei da TV Paga passa a valer integralmente, exigindo de canais pagos 3h30 por semana de produções nacionais no horário nobre a partir de setembro de 2013. Qual seu resultado mais palpável?Aumentou a programação de filmes, seriados, documentários e obras de animação brasileiras nos canais pagos, os assinantes receberam novos canais brasileiros sem custo adicional e aumentou também o investimento das programadoras na produção de novas obras brasileiras. A lei fortalece as empresas produtoras

brAsiliense Manoel rangel, de 41 anos, vai con-cluir em maio seu segundo mandato como diretor-pre-sidente da Agência nacional de Cine-

ma (Ancine) tendo consolidado uma nova direção para a televisão paga do brasil. Agora é lei: canais e pacotes de TV por assinatura devem trazer mais produções locais nos melhores horários. nesta entrevista à MOneT, ele fala do combate à pirataria, que é um dos trabalhos da Ancine, e, na condição de presidente por duas vezes da União brasileira dos estudantes secundaristas (Ubes), na década de 1980, diz por que defende a meia-entrada no cinema e shows para quem está estudando.

filmes na íntegra na internet deve ser combatida: no caso do YouTube, já existem meios que garantem a exclusão dos vídeos, caso os detentores dos direitos se sintam lesados. Por outro lado, as aceleradas transformações tecnológicas estão criando novas práticas e comportamentos. não é eficaz pensar no tema apenas pelo viés repressivo. É preciso refletir sobre formas mais eficazes de conscientizar os internautas sobre a importância de consumir só produtos originais. Distribuidoras de filmes e cadeias de cinema discutem já há anos o fim da meia-entrada para estudantes. Isso baratearia o preço do ingresso “inteiro” de cinema? esta é uma tese questionável. Para o preço do ingresso baixar, o número de salas precisa aumentar. Por outro lado, é preciso moralizar o uso da carteira de estudante: na minha opinião, só devem valer as da Une [União Nacional dos Estudantes] e da Ubes, expedidas com certificação da Casa da Moeda, e o benefício poderia ser estendido a todos os jovens com até 18 anos. Pode-se estabelecer também um limite para os ingressos de meia-entrada vendidos, para não prejudicar pequenos exibidores. Mas vale lembrar que já tivemos no brasil uma experiência de fim da meia-entrada, entre 1983 e 1992. isso não resultou na diminuição do preço médio dos ingressos. A meia-entrada para estudantes ainda tem função estratégica na vida social do nosso país, ainda tão desigual.O mandato do senhor termina em maio deste ano. Já tem planos para o futuro? O que espera da gestão da nova diretora-presidenta, a advogada Rosana Alcântara?ela já demonstrou extrema competência em seus sete anos como servidora da agência e à frente da superintendência executiva da Ancine. A agência tem muito a ganhar com seu conhecimento profundo do mercado e das questões regulatórias do audiovisual. Meu mandato só termina em maio, as solicitações do cargo ainda não me deixaram tempo para fazer planos.

e programadoras e valoriza a nossa cultura. Os principais beneficiados são os assinantes, que já começaram a ter mais acesso a uma produção de qualidade e diversificada, que fala a nossa língua e reflete a nossa imagem.O fomento a produções audiovisuais nacionais é uma realidade em países desenvolvidos. Nesses mesmos países, porém, existem instituições de ensino muito reconhecidas para a qualificação dos profissionais. O que falta ao Brasil nesse sentido? Já se percebe um movimento espontâneo de instituições de ensino. no rio de Janeiro, a Universidade Federal Fluminense criou em 2011 o curso de licenciatura em Cinema, para a formação de professores de cinema para escolas públicas, e a Fundação Getulio Vargas oferece um curso de Formação executiva em Cinema e TV. nos últimos anos, foram criados cursos em universidades federais do Ceará, de Pernambuco e da bahia. Mas é necessária uma ação mais articulada do poder público. Por isso mesmo, a capacitação do setor é uma das diretrizes do Plano de Diretrizes e Metas do Audiovisual [em consulta pública no site da Ancine até 13 de março].No Ministério da Cultura, a nomeação de Marta Suplicy deve reabrir os debates sobre as leis de direitos autorais. Qual a posição do senhor sobre filmes disponíveis integralmente no YouTube, por exemplo? Uma das missões da Ancine é o combate à pirataria, e a disponibilização não-autorizada de

OS PRINCIPAIS BeNefICIADOS SãO OS ASSINANTeS, Que Já COMeçARAM A TeR MAIS ACeSSO A uMA PRODuçãO De QuALIDADe e DIVeRSIfICADA, Que fALA A NOSSA LíNguA e RefLeTe A NOSSA IMAgeM”

por José gabriel Navarro foto Stefano Martini

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