processos cognitivos de aprendizado a partir da...
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PROCESSOS COGNITIVOS DE APRENDIZADO A PARTIR DA ANÁLISE PEDAGÓGICO-MUSICAL DOS FILMES ESCOLA DO ROCK
E ORQUESTRA DOS MENINOS
Pâmela de Bortoli Machado
Universidade Estadual de Campinas
Resumo: Este artigo apresenta uma fundamentação teórica analítica para a compreensão dos elementos que norteiam os processos cognitivos de aprendizado. Explorando os conceitos destes processos, e relacionando-os aos dados encontrados na análise dos filmes Escola do Rock (2003) e Orquestra dos Meninos (2008), foram gerados alguns princípios que conduzem para a atividade pedagógico-musical. Assim, uma vez estabelecendo os principais constituintes de processos de aprendizado, os elementos fílmicos foram pontuados possibilitando a contextualização destes processos dentro da prática pedagógico-musical.
Palavras-chave: Análise narrativa, aprendizado, pedagógico-musical, filmes.
Abstract: This paper presents a theoretical basis for the analytical understanding of the cognitive processes that guide the learning. Exploring the concepts of these processes and relating them to the data found in the analysis of the films School of Rock (2003) and Orquestra dos Meninos (2008), were generated some principles that are conducive to teaching and musical activity. So, once setting the main constituents of the learning process, the film elements were scored allowing the contextualization of these processes within the practice-teaching musical.
Keywords: narrative analysis, learning, teaching, music, movies.
Introdução
O cinema, assim como outras formas de expressão e comunicação, possibilita situar as artes de maneira diferente do sistema convencional escolar. A prática pedagógico-musical aqui explorada pela incorporação do audiovisual como recurso de processo de aprendizagem ilustra de que maneira o cinema possui importância qualitativa na educação. Reforçando tal ideia inicial, Gonçalves (2008) afirma que:
A mídia e seus produtos têm a capacidade de circular conhecimentos avaliados ou não pela área de educação musical, criando, instituindo e divulgando pensamento pedagógicos compartilhados ou não pela comunidade acadêmica. (GONÇALVES, 2008, p.169).
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Escola do Rock:
A partir do momento em que se descreve o fime Escola do Rock, se destaca os elementos relacionados aos processos de aprendizado. O propósito em tal ação vem em estipulá-los com os conceitos teóricos de processos de aprendizado, esclarecendo suas características pontuais.
Contextualização:
Comédia americana de 2003, com direção de Richard Linklater, Jack Black e Joan Cusack;
Um legítimo roqueiro é expulso de sua banda e, devido às diversas dívidas de aluguel, decide assumir o cargo de professor substituto de seu amigo Ned;
Ao descobrir o talento musical de seus alunos decide iniciar um projeto de banda de rock;
O filme apresenta, em sua essência, uma referência ao filme Sociedade dos Poetas Mortos. Mostra um professor revolucionário, com pensamentos modernos, em uma escola conservadora e rígida.
Com esse contraste delimitado pela personalidade de Dewey (Jack Black) e o sistema escolar, estabelecem-se os procedimentos pedagógico-musicais e suas funcionalidades dentro dos processos de aprendizado:
Construção de Expectativas: Visão geral e situação do personagem principal
Situação 1: Na introdução do filme, percebe-se pela música de rock a
predominância do estilo do personagem (fig.1); Situação 2: A caricatura de roqueiro é ampliada com a sua primeira
aparição no filme: um entusiasta guitarrista (fig.2).
Fig.1 Fig.2
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Ativação de Conhecimento Prévio: Fatores relevantes para pré-conceitualizar e compreender as mudanças ao longo da narrativa
Situação 3: A rigidez da educação das crianças por parte da diretora e do
sistema escolar (fig.3); Situação 4: A limitação colocada pelos pais quanto ao estudo da música em
primeiro plano em relação às outras matérias, além de sua adversidade contra o estilo do rock (fig.4);
Esses dois primeiros processos de aprendizado situam-se os elementos fílmicos que norteiam a análise pedagógico-musical e a inserção do audiovisual como um complemento que de aprendizado. Azevedo (2009) ainda acrescenta que:
O filme Escola de Rock representa um olhar sobre as concepções de aula de música, de professor e de práticas de ensino e aprendizagem musicais que norteiam as práticas musico-educativas na sociedade contemporânea. (AZEVEDO, 2009, p.97)
Os dados apresentados a seguir seguem a exemplificação dos principais processos de aprendizado, juntamente com a geração da análise pedagógico-musical:
Elementos que Chamam a Atenção: objetos contextualizados para compreensão do caráter da cena
Situação 5: Guitarras e bateria na van conotando o estilo do rock (fig.5); Situação 6: Personagem carregando guitarras remete à pretensão em trazer
o estilo do rock para dentro da sala de aula (fig.6).
Fig.3 Fig.4
Fig.5 Fig.6
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Codificação: Ideias apresentadas em diferentes situações para reforço de um contexto
Situação 7: Rigidez da diretora quando conhece Dewey e explica s normas da escola (fig.7);
Situação 8: O medo visível da aluno enquanto conversa com a adiretora; Situação 9: O aviso aos professores sobre a reunião com os pais e os
resultados que devem ser apresentados (fig.9).
Comparação: Identifica as diferenças de contexto ocorridas durante o desenvolvimento da narrativa
Situação 10: O estilo e caráter de Dewey no início do filme é colocado sob aspecto negativo, indicando relapso e descompromisso (fig.10);
Situação 11: Dewey se mostra comprometido não só com o concurso de bandas mas também com a turma Atitudes como o incentivo dos talentos musicais de cada um e a orientação àqueles que trazem problemas pessoais são alguns pontos de diferença em relação ao início do filme (fig.11).
Situação 12: Os alunos estão disciplinados e o repertório estudado é destinado à música erudita, assim como o instrumento ilustrado (fig.12);
Situação 13: O estilo visual dos alunos muda, assim como o estilo musical que estão apresentando no momento: performance de rock num ambiente de show (fig.13).
Fig.7 Fig.7 Fig.8 Fig.9
Fig.10 Fig.11
Fig.12 Fig.13
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Geração de Hipóteses: São elementos apresentados no filme que incentivam a formação de pré-conceitos, ou seja, hipóteses levantadas a respeito de algo ou alguém
Situação 14: A escola em que Dewey ingressa é conservadora com seguimento de um código de conduta severa, incluindo os docentes (fig.14);
Situação 15: A música ensinada é voltada ao erudito: inclinação à ordem, disciplina e organização (fig.15).
Repetição: São ideias apresentadas de diferentes formas e que enfatizam a mesma situação
Situação 16: Quando Zac diz que seu pai acha perda de tempo tocar guitarra elétrica;
Situação 17: O desânimo de Zac em sala de aula (fig.16); Situação 18: Na cena em que é vista a educação rígida de Zac, em que seu
pai o manda não ouvir nada de rock (fig.17).
Avaliação: Quando há revisão nos princípios iniciais apresentados e há tomada de uma postura diferente
Situação 19: A turma não recebe bem os “métodos de ensino” de Dewey, mas, depois da explicação a respeito do projeto de banda e seus referentes fins, acabam aceitando e realizam um juramento pela banda formada (fig.18);
Situação 20: Dewey passa a gostar de estar envolvido com a atividade docente ao ser elogiado pelos alunos, além de passar a interagir com os outros professores (fig.19 e 20).
Fig.14 Fig.15
Fig. 16 Fig.17
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Passando a relacionar tais processos de aprendizado com as questões pedagógico-musicais, podem-se levantar questões que norteiam a prática pedagógica com a utilização do audiovisual. Logo, a interação professor-alunos é destacada por Azevedo (2009) por sua contextualização sobre o ensino de música:
A interação professor-alunos nas cenas do filme permite contextualizar as discussões contemporâneas sobre o ensino da música e, ao mesmo tempo, revela uma relação dialética entre “mndos musicais” distintos com atitudes, práticas e aprendizagens divergentes. (AZEVEDO, 2009, p.95)
Alguns elementos são frisados como ponto de partida para a compreensão da postura da educação musical no sistema contemporâneo:
A prática de ensino da música erudita nas escolas tradicionais; O tradicionalismo na educação musical, sem utilização de novas
abordagens; O pré-conceito dos pais em relação ao estudo da música em detrimento das
outras matérias; A visão geral do estilo do rock como ausente de embasamento pedagógico.
Assim, o filme apresenta tais divergências como estímulo ao questionamento da prática musical tradicional. Tal afirmação é enfatizada por Smith (2005) em sua análise sobre os modelos de ensino e aprendizagem retratados em Escola do Rock (2003)
O filme apresenta uma forte crítica à cultura jovem americana, especialmente ao papel do sistema educacional na produção de sujeitos sociais. No início do filme Dewey observa um quadro com relações de recompensas e baixas e, horrorizado com tal sistema escolar, vem com o propósito de colocar a colaboração acima da competição. Em um momento no filme, ressalta a questão de avalar a criatividade musical e realização: “Se eu fosse te dar uma nota, eu te daria A. Mas esse é o problema. Rock não é sobre fazer as coisas perfeitas”.
A liberdade do Rock enfatizada por Dewey passa a influenciar não só a maneira de aprendizagem musical como também a própria libertação dos alunos do sistema escolar imposto pela direção. Com base nesta afirmação, os processos a seguir ilustram como a ideia da aprendizagem colocada por Dewey é incorporada pelos alunos e como o sistema tradicional é transformado com sua chegada na escola:
Fig.18 Fig.19 Fig.20
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Monitoração: Ideias Reforçadas
Situação 21: Quando as crianças aceitam participar do projeto de banda de Rock, passam a estudar a história do estilo, criam ideias para a banda, trabalham com Dewey na melhora da performance e discutem assuntos musicais (fig.21 e fig.22).
Aprendizado por Percepção: Situação 22: A rigidez da diretora se reflete no sistema educacional tido
como exemplar. A organização da turma e a ordem na avaliação são expostas por Sumer quando Dewey questiona o quadro com a produtividade de cada aluno (fig. 23 e fig.24).
Aprendizado Baseado em Impasse: Conflitos surgidos
Situação 23: Quando os alunos vão para a audição da Batalha das bandas e o responsável decide encerrar as inscrições (fig. 25).
Fig. 21 Fig.22
Fig.25
Fig.23 Fig.24
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A união da turma ressaltada nessa cena enfatiza os ideais de Dewey de cooperação ao invés de competição. A ideia realizada pelo conjunto possibilitou a resolução deste conflito e demonstrou a quebra de aceitação de posturas impostas.
Aprendizado Baseado em Explicação
Situação 24: A diretora explica que sua personalidade mudou em razão de seu posicionamento dentro da escola e à constante pressão dos pais em ter um exímio sistema escolar (fig.26)
Aprendizado por Indução:
Situação 25: O perfil da escola tradicional é apresentado de diferentes maneiras: o comportamento exemplar em sala de aula; a preocupação de Sumer em detalhar as matérias dadas pela antiga professora; disciplina na aula de música, sendo esta com repertório erudito.
A análise desse aprendizado é reforçada e complementada por Azevedo (2009) quando menciona as mudanças que Dewey provocou com seu propósito de instruir os alunos à formação de uma banda de rock:
Dewey acaba provocando uma transformação pedagógico-musical e cultural na vida dos alunos, uma vez que o rock, aparentemente, não fazia parte da cultura musical das crianças. Inicialmente, no filme os alunos são representados como crianças passivas, condicionadas pela disciplina escolar e preocupadas exclusivamente com o conteúdo curricular necessário para obter boas notas e premiações. (AZEVEDO, 2009, p.99)
Aprendizado por Revisão Conceitual: Os conceitos e ideias antes assimilados passam a ser revistos
Situação 26: Os pais dos alunos ficam surpresos e orgulhosos ao assistir a
apresentação de seus filhos na “Batalha das Bandas” (fig. 27) Situação 27: Dewey antes rotulado como fracassado, mostra seu potencial
como professor de música e é aclamado pelo público do show (fig.28).
Fig.26
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Nessa fase final do filme, é ressaltada a postura diferenciada dos pais e da personalidade de alguns alunos. Webb (2007) afirma que uma das grandes lições do filme é sua ênfase no processo da aprendizagem da música e não no produto musical em si, ou seja, o professor não é o centro do conhecimento, e sim o orientador e parte do processo de aprendizagem:
Os alunos aprendem a trabalhar em grupo; compreendem o papel de cada um no sucesso do projeto musical; desenvolvem suas habilidades individuais colocando-as a serviço do grupo; reconhecem sua capacidade criativa, tornando-se autoconfiantes e aumentam sua autoestima, além da experiência musical fora dos muros da escola.
A partir da exemplificação dos processos de aprendizado pelos elementos fílmicos, resumem-se as categoriais expostas em três principais: Cumulação, construção e auto-regulação:
Fig. 27 Fig.28
Cumulação Repetição em: Sistema rigoroso da escola; Estilo extravagante de Dewey; Disciplina dos alunos; Dedicação de Dewey à música juntamente
com seus alunos. Múltiplas exposições em diferentes contextos
Dedicação dos alunos
Juramento pela banda; Estudo da história do rock; Audição de diferentes bandas de rock; Estudo de diferentes performances ao
vivo; Discussão de assuntos musicais.
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Ao longo do filme a imagem de roqueiro em Dewey permanece. Entretanto, a característica de descompromissado é quebrada e Dewey prova ser um professor de música eficiente, com método peculiar e irreverente;
A imagem da diretora também não é concluída como rígida.
Uma vez baseando-se nos processos de aprendizado apresentados, elaboram-se questões a respeito do estilo de ensino adotado por Dewey e quais as possibilidades proporcionadas pelas inovações por ele adotadas:
Construção Dewey Caricatura de um roqueiro.
Demissão da banda e cobrança de aluguel
Reflexão da falta de compromisso e seriedade do personagem
Construção Sistema escolar rígido Postura inicial da diretora.
Disciplina dos alunos e preocupação com as notas.
Auto-regulação
Dewey As mudanças no comportamento provoca uma revisão de seu caráter frente a um compromisso profissional.
Pais dos alunos
Valorização dos talentos musicais de seus filhos, mesmo sendo um estilo diferente da escola com padrões tradicionais.
Diretora da escola
Postura positiva frente à atitude liberal das crianças e de Dewey; ideia de ser a favor da música mesmo em um ambiente radical e fora do estilo musical da escola.
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Análise Pedagógico-musical:
A partir do filme, há possibilidades de questionamentos como:
Concepções de aula de música e de professor – ressaltados em Construção e Auto-regulação.
Partindo das imagens do filme, percebe-se a surpresa de Dewey com as habilidades musicais dos alunos que, segundo Azevedo (2009), retrata o distanciamento muitas vezes presente em sala de aula entre professor e alunos:
É comum o professor ignorar o que os alunos já sabem ou até mesmo suas capacidades cognitivas e motoras. (AZEVEDO, 2009, p.104)
A figura abaixo ilustra o olhar surpreso de Dewey, mudando sua atitude passiva com relação aos alunos, passando a investir na ideia de formar uma banda de rock (exemplificado pela figura 6), e leva guitarras e teclados para dentro da escola.
Interação professor-alunos – exemplificado em Cumulação e Construção
Inicialmente marcada pelo descompromisso de Dewey e falta de atenção para com
a turma, a interação professor-alunos é colocada sob vários aspectos negativos, uma vez que Dewey não se mostrou interessado em realizar a prática docente exigida pela escola.
A real interação entre Dewey e os alunos vai ser pontuada a partir do projeto da banda de rock. Segundo Azevedo (2009), Dewey passa a “olhar” para as crianças e nesse “olhar” procura conhecer as habilidades de seus alunos procurando integrar todos no projeto musical como instrumentistas e cantores. Frisa-se ainda que mesmo aqueles que não possuem conhecimento musical, são inseridos de alguma forma na banda.
Nessa observação podem-se vincular os processos de aprendizado denominados comparação e revisão conceitual cujo relapso inicial de Dewey é substituído por sua preocupação em integrar todos os alunos num mesmo projeto. Smith (2005) ainda acrescenta que:
A relação professor-alunos e o projeto musical não funcionariam numa turma de alunos mais novos ou mais velhos. Percebe-se que os alunos são ainda crianças e ingênuos e não manifestam uma identidade musical, sendo influenciados pela
Fig. 29
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cultura musical da escola, pela mídia e pela preferência musical de seus pais. (SMITH, 2005, p.8)
Procedimentos de ensino e aprendizagem musical – ilustrado no processo
de construção e auto-regulação
A versatilidade de Dewey no ensino e prática musical é resultante da eficiência de um processo não convencional, substituindo o tradicional da escola. Os procedimentos adotados por Dewey aproximam os alunos do rock dos anos 60 e 70, ou seja, referência por parte do professor e não dos alunos.
Azevedo (2009) observa que Dewey não espera dos alunos a dominação de todos os materiais para a prática de criação, e sim que esta surja como parte do processo em que ele cria junto com os alunos, estimulando-os e incentivando-os, enquanto lhes dá confiança sobre o processo de criação musical. Na ilustração abaixo, há a cena e Zac apresentando a Dewey uma composição sua, tanto em melodia quanto em letra. Surpreendido pela postura de Dewey, Zac sente-se confiante ao mostrar para o resto da turma:
Partindo da ideia de que a apreciação musical e criação musical podem ser feita por qualquer aluno, Swanwick (2003) defende o professor como músico, ou seja, a música real na sala aula, contemporânea veiculada pela indústria fonográfica, disponível aos alunos. Azevedo (2009) ao argumentar que:
No caso de Escola de Rock, observamos que Dewey introduz os alunos no seu mundo musical. Isso foi possível porque os alunos ainda eram passivos com relação a suas preferências e gostos musicais. No entanto, é interessante como ele constrói com os alunos uma identidade e autonomia musical. Nesse sentido, Dewey desenvolve uma cultura musical., o rock and roll, que é sua cultura musical e que torna-se também a cultura musical dos alunos, que passam a integrar e se identificar com um grupo. (AZEVEDO, 2009, p.107)
Portanto, com embasamento nos teóricos mencionados, além dos processos de aprendizado desmistificados pela análise fílmica, o esquema abaixo sintetiza as possibilidades de correlacionar tais processos com os procedimentos pedagógico-musicais e seus referidos questionamentos:
Fig.30
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CUMULAÇÃO Sistema escolar Ensino musical tradicional
Reflexão sobre o processo pedagógico
Instigação de novos estilos por novas mídias
Criação de uma nova interação
professor-alunos.
Ressignificação da aula de música
CUMULAÇÃO E CONSTRUÇÃO
Disciplina das crianças e dedicação às matérias
Postura exemplar em sala de aula e dedicação ao novo repertório apresentado por Dewey.
Adequação da turma ao que é ensinado.
Responsabilidade mesmo perante de uma nova didática.
Representação da cultura dos alunos.
AUTO-REGULAÇÃO
Postura negativa dos pais sobre o ensino da música.
Reflexo de uma cultura em que a escola é apenas um meio de inserção profissional.
Mudança de postura dos pais perante o talento musical de seus filhos.
Admiração e aceitação dos novos saberes demonstrados pelos filhos.
Novo sistema de aprendizado: a escola como espaço de saber e cultura.
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Orquetra dos Meninos:
Tendo destacado os subgêneros dos processos de aprendizado no filme anterior, em Orquestra dos Meninos a análise deteve-se nos três principais elementos de procedimento: cumulação, construção e auto-regulação. Tal posicionamento analítico vem com o propósito de remeter tais processos com o tema foco do filme: a música como inserção social.
Contextualização:
O filme se baseia na história real do músico e maestro Mozart Vieira;
Dirigido por Paulo Thiago, conta como elenco: Murilo Rosa, Priscila Fantin e Othon Bastos;
Resume ficcionalmente os fatos envolvendo criação, fechamento e retomada das atividades da fundação Musica e Vida e do conjunto instrumental criado pelo maestro;
Vencedor de melhor filme pelo júri popular na primeira edição do Cine Fest Brazil-Londres, mostra de cinema que reúne produções nacionais na capital inglesa.
Embasamento na vida real de Mozart Vieira:
Mozart criou a Orquestra Sinfônica dos Meninos de São Caetano com crianças e jovens da região; Vieira encontrou na música a saída para sua ação artística social criando a Orquestra dos Meninos, mesmo com a problemática da seca que assola o nordeste;
A formação do grupo musical possibilitou a criação de uma Organização
Não-governamental denominda Musica e Vida; Uma leitura complementar do filme além do resgate social realizado com as
crianças, é a luta contra o coronelismo; Hoje a fundação conta com 200 jovens e crianças, baseando-se no estudo da
música como alternativa cultural e inserção social.
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Linguagem Cinematográfica Aliada à Educação Musical
Como já explanado na análise do filme Escola do Rock, métodos pedagógicos diversificados em abordagem podem gerar resultados gratificantes. O cinema, a partir da visão de um meio representativo do real, serve como aliado prático na compreensão de artifícios teóricos. Segundo Moraes (2004):
Pode-se buscar no cinema elementos para compreendermos melhor como o imaginário social representa a escola, seus agentes, prática e objetivos. (MORAES, 2004, p.54)
Partindo desse pressuposto, a análise do filme Orquestra dos Meninos, com base nos principais processos de aprendizado: cumulação, construção e auto-regulação, revela a relação da música como precursora da inserção social e a capacidade pedagógica do cinema enquanto objeto de conhecimento para a educação musical. Cipolini (2008):
Portanto, os processos de aprendizado a seguir explanados vão ao encontro à análise pedagógico-musical do filme Orquestra de Meninos e suas possibilidades didáticas, culturais e sociais:
Cumulação: Situação 1: Mozart criança diz a seu amigo que possui nome de músico
famoso – influência do seu avô, regente na época (fig. 31); Situação 2: Mozart se refere à natureza e seus respectivos sons como sua
primeira banda; Situação 3: 15 anos mais tarde, Mozart está reunido com crianças e canta
canção folclórica – prevalência do gene musical (fig.32); Situação 4: Humberto (amigo de Mozart), lembra a ele a ideia de ser
maestro desde criança, mencionando a possibilidade de montar uma orquestra (fig.33).
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Situação 5: A diretora da escola apresenta a Mozart um galinheiro como
possível local para os ensaios da orquestra – vincula-se à hipótese de falta de recursos (fig.34);
Situação 6: Mozart apresenta uma partita de Bach para flauta transversa aos alunos – ideia de estudo de música erudita e de uma cultura desconhecida (fig.35);
Situação 7: Os alunos tomam iniciativa na escolha de um instrumento que Mozart apresenta.
Nas situações 5, 6 e 7 ressaltam-se as estratégias de ensino e aprendizagem de Mozart, dentro das limitações colocadas pela falta de recursos:
Aula em conjunto: Adaptação do galinheiro para o uso das aulas de música;
Quadro-negro e alguns instrumentos de sopro: material a ser utilizado para a prática musical;
Liberdade aos alunos: incentivo na escolha dos instrumentos por sua sonoridade e adaptabilidade (fig.36).
Fig.34 Fig.35
Fig.36
Fig.31 Fig.32 Fig.33
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Além disso, conforme as últimas situações exemplificadas podem-se determinar fatores consideráveis sobre o papel docente, como:
O maestro passa a orientar o aluno sobre o instrumento e sua posição correta (fig.37);
Mesmo com a aula em grupo Mozart orienta individualmente, num curto espaço de tempo de acordo com a dificuldade (fig.38);
O professor passa a dar espaço para a busca individual do aluno em fazer som com o instrumento escolhido;
Desde o primeiro momento Mozart estimula nas primeiras dificuldades encontradas.
Construção:
Situação 8: O pai de Josenildo reclama sobre os resultados de seu trabalho no campo, ordenando que o refaça (fig.39);
Situação 9: A mãe de Laciete complementa a reclamação de seu marido (situação 8) e enfatiza a dispersão dos filhos devido a sua dedicação à música e não ao trabalho (fig. 40).
Nesse primeiro momento, o processo de construção viabiliza a natureza da educação dos pais e principalmente de sua cultura. O trabalho braçal possui prioridade nas atividades dos filhos, uma vez que a família depende disto para seu sustento. Além disso, os pais colocam o estudo da música como secundário e frívolo, considerando-o mais voltado ao lazer.
Fig.37 Fig.38
Fig.39 Fig.40
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Trabalho Braçal X Aprendizagem Musical
Na situação 9 fica claro que a música é inviável produtivamente. E, ao contrário desta posição, as crianças demonstram-se entusiasmadas com a educação cultural que estão vivenciando. Gomes (2006), em seu estudo sobre a aprendizagem musical em família a partir das imagens do filme Os Dois Filhos de Francisco (2005), argumenta que:
As opções e oportunidades de aprendizagem musical extrapolam os limites familiares envolvendo outras situações e outras pessoas além da família nuclear. (GOMES, 2006, p.2)
Tal afirmação reforça as situações apresentadas a seguir pelo processo de cumulação e construção:
Situação 10: Laciete, antes criticada pela negligência com seu trabalho no campo, foge pra o galinheiro para ensaiar tambor e fica satisfeita com o ensaio (fig.41);
Situação 11: A mãe de Ivanilson joga seu instrumento no chão, argumentando que não quer ele ensaie e sim, que trabalhe. Furioso com a situação, o menino agarra seu instrumento e foge para a rua;
Situação 12: As crianças falam sobre seus instrumentos, interagindo entre si e sobre o que estão aprendendo nas aulas de música (fig.42).
Processo de Auto-Regulação no Contexto Familiar: Diferente das situações apresentadas anteriormente, os pais passam a incentivar o
estudo musical dos filhos e, assim como foi enfatizado em Escola do Rock, reagem com posicionamento complacente aos talentos musicais demonstrados:
Situação 13: Durante um ensaio em que estão presentes Laciete e
Josenildo, seus pais chegam de repente e, para a surpresa dos filhos, incentivam a continuar tocando;
Fig.41 Fig.42
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Situação 14: Na apresentação do conjunto instrumental na igreja da cidade, os pais de Laciete e Josenildo estão presentes. A figura 43 ilustra como ambos estão orgulhosos com a performance dos filhos.
A aceitação da prática musical pela família ilustra que, mesmo em um ambiente cuja a música seja vista como entretenimento, influencia nas escolhas profissionais daqueles que a estejam estudando mesmo como complementação cultural. Gomes (2008) acrescenta ao dizer que a família também pode ser vista como uma instituição onde a identidade dos seus membros é formada e projetos são idealizados para seus membros.
A Inserção Musical como Prática Social
Na situação 12 observa-se que os jovens trocam informações entre si sobre seus instrumentos, o repertório, e a aprendizagem musical como um todo. Diferente da vivência paralela com suas famílias, em que o trabalho é colocado prioritário, nesse contexto eles obtém a possibilidade de um convívio cultural e social. De acordo com Barth (2009), a música não é apenas uma expressão estética, explicando que:
A música possibilita a formação de identidades coletivas e adquire dimensões éticas e políticas, ou seja, através das preferências por diversos gêneros musicais, as pessoas vivenciam processos de identificação emocionais, intelectuais e corpóreos. A multiplicidade de sentidos gerados pela música permite que cada experiência pessoal seja percebida como uma experiência coletiva. Assim, ocorre uma dupla identificação, por um lado com as formas sonoras e por outro com as pessoas que as compartilham. (BARTH, 2009, p.51)
Vinculando aos processos de aprendizado, destaca-se a construção presente nas seguintes situações:
Situação 15: Com as tensões políticas ocorrendo em meio ao sucesso de Mozart e sua orquestra, os coronéis de São Mariano mandam sequestrar um jovem do grupo e incriminam Mozart pelo crime;
Situação 16: A Fundação Musica e Vida é fechada e as crianças vão diante da fundação e entoam o Hino Nacional Brasileiro;
Situação 17: Músicos famosos, representados por eles mesmos, aderem à causa de Mozart e da reabertura da fundação.
Fig.43
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Conforme a análise realizada por Barth (2009) em sua contextualização da música como fator social, a situação 16 é vista como à evocação de uma identidade nacional, ao sentimento de “brasilidade”, ou seja, uma “nação” está sendo convocada para fazer justiça. Quanto à inserção social provocada, Barth (2009) ainda acrescenta a formação de uma identidade social, indo além de um simples grupo musical:
O fazer musical se transforma em um verdadeiro mapa de estratificações sociais e pode estar em grupos efêmeros ou permanentes. Professores de música, alunos, coordenadores e funcionários em geral envolvidos em projetos fomentam não apenas relações internas, no âmbito dos próprios projetos, mas também geram relações com outros atores e instituições sociais, ou seja, criam laços com governanças, igrejas, escolas, imprensas, empresas, amigos e simpatizantes. (BARTH, 2009, p. 52)
A Música como Forma de Luta e Inserção Social:
Apesar de ser um filme de ficção, Orquestra dos Meninos demonstra a capacidade dos projetos sociais como formas alternativas de haver desprendimento e superação de problemas sociais como o coronelismo, fome e seca, abordados no filme como fatores presentes na região de São Caetano.
De acordo com as informações do filme, como a formação profissional de cada integrante e suas conquistas profissionais, há ainda o site da Fundação Música e Vida que proporciona dados como seus principais objetivos e didáticas:
Instituição sem fins lucrativos e sem vínculo com órgãos governamentais ou empresas privadas;
Propõem-se a promover a educação e a profissionalização musical de crianças e jovens de baixa renda da rede pública de ensino de São Caetano e região, atendendo crianças de 7 a 18 anos;
Há integração dos participantes na escola junto à família através de prática musical preparatório para o mercado de trabalho;
Visa a educação musical, ensino de teoria e percepção musical, prática instrumental individual, música de câmara, canto coral, organização de atividades artísticas e cursos preparatórios para universidades e concursos públicos afins.
Finalizando os fatos que demonstram a música como fator de inserção social, colocam-se abaixo dados verídicos quanto aos integrantes da Orquestra dos Meninos, formados musicalmente pela Fundação Musica e Vida, de Mozart Vieira. Tais dados finalizam o filme Orquestra dos Meninos, como ápice da ilustração da vivência transformada dentro de um sertão conhecido apenas pela seca e fome:
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O tribunal superior do Estado arquivou o processo contra Mozart Vieira; O maestro faz mestrado de artes e continua a formar novas gerações de
músicos; A orquestra realizou nos últimos anos vários concertos na Europa; Creusa casou-se com Mozart, é diplomada pela faculdade para professores e
ensina música na prefeitura de São Caetano/PE; Laciete formou-se em oboé pela Universidade Federal da Paraíba; Íris, por concurso, é tubista da Orquestra Sinfônica do Recife/PE; Eliane fez cursos de canto lírico na Itália, Portugal e na Universidade West
Virginia/EUA; Edson é professor de música do SESC – Pernambuco; Carlos é clarinetista da banda sinfônica do Recife e atual presidente da
Fundação Musica e Vida; Erinaldo é professor de música em uma instituição de ensino em
Caruaru/PE; Ivanilson é bacharel em trompete e regente da banda marcial de São
Caetano/PE; Edivane leciona música em
Caruaru/PE; Cláudia estuda flauta na Universidade
Federal da Paraíba e Josenildo clarinete na Universidade Federal de Pernambuco;
Todos vivem de música nos dias atuais.
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Conclusão
Há quem goste de cinema. De ensinar. De cinema educativo. Ou de simplesmente ensinar através de estórias cinematográficas.
Os resultados obtidos nas análises dos filmes Escola do Rock e Orquestra dos Meninos provam como a prática pedagógico-musical é enriquecida com o vínculo do cinema. A partir dos principais processos de aprendizado: cumulação, construção e auto-regulação, pôde-se observar performances tanto de professores quanto de alunos que se dedicaram à música.
A escolha proposital de filmes diferenciados tanto em nacionalidade quanto em estilos dos personagens principais, possibilitou resultados como:
Conhecimento sobre as características pontuais dos três principais processos de aprendizado: cumulação, construção e auto-regulação;
Abordagem detalhada dos subgêneros dos processos de aprendizado e exemplificá-los em forma de trechos fílmicos;
Contextualização dos principais pontos que norteiam a análise fílmica e suas
possibilidades ao incorporar na prática pedagógico-musical;
Relação das questões abordadas pelos filmes Escola do Rock com a prática musical contemporânea;
Detalhamento dos conflitos existentes na relação Família x Educação
Musical, que mesmo em contextos diferentes dos dois filmes, obteve-se uma noção das dificuldades vivenciadas pelos estudantes de classes sociais distintas;
Revelação dos contrastes entre o estudo do estilo Rock dentro da classe média alta e o estudo da música erudita inserida na classe média baixa;
Provação da música como fator de interação social, confraternização e
formadora de identidades;
Ilustração da realidade que assola o sertão nordestino e a forma de luta encontrada por Mozart Vieira como alternativa de crescimento profissional, cultural e de inserção social;
Questionamento de possíveis métodos pedagógico-musicais que podem ser
incorporados na atividade docente, principalmente nos privilégios revelados quando há quebra de padrões estabelecidos.
Portanto, uma vez que o cinema é objeto de conhecimento e potencializador de questionamentos, pode-se incorporá-lo na atuação docente como fonte de estudo. Os contrastes explorados por ambos os filmes ilustram as realidades que se complementam no fator de educação musical. Assim, embora divergentes em estilos, as análises proporcionaram a visão de que o estudo da música, aliado a elementos cinematográficos, torna-se capacitor de
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melhoras na prática pedagógico-musical, tanto no quesito irreverência quanto em qualidade no resultado final.
Referências Bibliográficas:
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Filmografia:
Escola do Rock. Diretor: Richard Linklater. Elenco: Jack Black, Mike White, Joan Cusack, Sarah Silverman, Joey Gaydos Jr.. Produção: Scott Rudin. Trilha Sonora: Jack Black, Joe Strummer, Mick Jones, Mike White, Warren Fitzgerald. Ano: 2003. País: EUA. Gênero: Comédia. Estúdio: Paramount Pictures.
Orquestra dos Meninos. Diretor: Paulo Thiago. Preparador Musical da Orquestra: Prof. Antonio Silva. Diretor Musical e de Arranjos: Paulo Sérgio Santos. Elenco: Murilo Rosa, Priscila Fantin, Othon Bastos. Ano: 2008. País: Brasil. Gênero: Drama. Distribuidora: Paramount Pictures Brasil