processo nº tst-airr-1194-10.2010.5.09.0325 7ª turma ... · danos materiais decorrentes da...

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Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325 Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006. A C Ó R D Ã O 7ª TURMA VMF/lvl/zh/drs AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS AJUIZADA PELO EMPREGADOR – APROPRIAÇÃO INDÉBITA - CRÉDITO TRABALHISTA – COMPENSAÇÃO DE DÍVIDAS – POSSIBILIDADE. Na presente ação de reparação de danos ajuizada pelo empregador, restou comprovado que os réus se aproveitaram do grau de fidúcia que detinham para se apropriarem de 576 cabeças de gado de propriedade do empregador e de folhas de cheque emitidas para o pagamento de despesas da fazenda. Conforme se extrai dos autos, os réus foram condenados na esfera penal, em que restou reconhecida a autoria e a materialidade do crime qualificado no art. 168, § 1º, III, do Código Penal, tendo a sentença penal transitado em julgado. O referido tipo penal em que os réus foram incursos considera ainda mais grave o ato de apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tenham a posse ou a detenção, quando praticado em razão de ofício, emprego ou profissão, sendo motivo de aumento da pena na razão de um terço. Desse modo, ainda que o salário (crédito trabalhista) goze de proteção constitucional, deve ser considerado o crime praticado pelos réus contra o patrimônio do autor e em decorrência da confiança depositada, fruto do contrato de trabalho, na análise da compensação determinada pelo Tribunal Regional, sob pena de enriquecimento ilícito do empregado, não tolerado pelo ordenamento jurídico. Nesse contexto, diante das peculiaridades do caso em exame, verifica-se que a compensação determinada é compatível com os valores de justiça social e equidade, tão almejados pelo ordenamento jurídico, que tem por escopo fundamental a pacificação das relações sociais. Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.

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Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325

Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior

do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

A C Ó R D Ã O

7ª TURMA

VMF/lvl/zh/drs

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE

REVISTA – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS

AJUIZADA PELO EMPREGADOR – APROPRIAÇÃO

INDÉBITA - CRÉDITO TRABALHISTA –

COMPENSAÇÃO DE DÍVIDAS – POSSIBILIDADE.

Na presente ação de reparação de danos

ajuizada pelo empregador, restou

comprovado que os réus se aproveitaram

do grau de fidúcia que detinham para se

apropriarem de 576 cabeças de gado de

propriedade do empregador e de folhas de

cheque emitidas para o pagamento de

despesas da fazenda. Conforme se extrai

dos autos, os réus foram condenados na

esfera penal, em que restou reconhecida

a autoria e a materialidade do crime

qualificado no art. 168, § 1º, III, do

Código Penal, tendo a sentença penal

transitado em julgado. O referido tipo

penal em que os réus foram incursos

considera ainda mais grave o ato de

apropriar-se de coisa alheia móvel, de

que tenham a posse ou a detenção, quando

praticado em razão de ofício, emprego ou

profissão, sendo motivo de aumento da

pena na razão de um terço. Desse modo,

ainda que o salário (crédito

trabalhista) goze de proteção

constitucional, deve ser considerado o

crime praticado pelos réus contra o

patrimônio do autor e em decorrência da

confiança depositada, fruto do contrato

de trabalho, na análise da compensação

determinada pelo Tribunal Regional, sob

pena de enriquecimento ilícito do

empregado, não tolerado pelo

ordenamento jurídico. Nesse contexto,

diante das peculiaridades do caso em

exame, verifica-se que a compensação

determinada é compatível com os valores

de justiça social e equidade, tão

almejados pelo ordenamento jurídico,

que tem por escopo fundamental a

pacificação das relações sociais.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.

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fls.2

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Agravo de instrumento desprovido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo

de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325,

em que são Agravantes ILDEMAR MARTINS DA SILVA E OUTROS e é Agravado

CONRADO ANDREA MOMMENSOHN.

O 9º Tribunal Regional do Trabalho, na decisão de

admissibilidade a fls. 783-788, negou seguimento ao recurso de revista

dos réus em virtude do óbice das Súmulas nºs 23, 126, 221, II, e 296 do

TST.

Inconformados, os réus interpõem o presente agravo de

instrumento, fls. 790-824, sustentando que o recurso de revista merecia

regular seguimento.

Não foram apresentadas contraminuta nem

contrarrazões, conforme certificado a fls. 828.

Processo não submetido a parecer do Ministério Público

do Trabalho, a teor do art. 83 do RITST.

É o relatório.

V O T O

1 - CONHECIMENTO

Conheço do agravo de instrumento, porque atendidos os

pressupostos legais de admissibilidade.

2 – MÉRITO

2.1 – NULIDADE – JULGAMENTO EXTRA PETITA – COISA

JULGADA

Infere-se da decisão regional a adoção do seguinte

posicionamento quanto ao tema epigrafado a fls. 708-715:

2. MÉRITO

COMPENSAÇÃO

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do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

Não se conformam os réus com a determinação de que os créditos

trabalhistas a eles deferidos nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,

TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8,

que se encontram arrestados por força de sentença proferida na ação cautelar

de autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, sejam compensados com os

créditos deferidos ao autor na presente ação indenizatória.

Sustentam que a r. sentença recorrida viola o disposto nos artigos 128

do CPC e 767 da CLT e, ainda, na Súmula 48 do c. TST, uma vez que o autor

não requereu tal compensação nos presentes autos, tampouco quando da

apresentação de contestação nas ações em que os créditos trabalhistas foram

deferidos (autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,

TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8).

Com fundamento nos artigos 100, §1º, da CF, 462 e 832, §3º, da CLT,

370, 373 do CC e 649, IV, do CPC, bem como na Súmula 18 do c. TST,

defendem a impossibilidade de compensação de créditos de natureza

trabalhista e, portanto, alimentar, com créditos de natureza

indenizatória. Requerem o afastamento da compensação determinada em

sentença.

Versam os presentes autos a respeito de ação de indenização por

danos materiais decorrentes da apropriação indébita pelos réus, na

condição de empregados do autor, de quinhentas e setenta e seis cabeças

de gado bovino criado na propriedade rural em que laboravam, bem

como de três cheques emitidos pelo empregador para pagamento de

despesas dessa propriedade rural.

Com a manutenção pelo e. Tribunal de Justiça do Paraná da

sentença condenatória proferida na ação penal movida em face dos

réus (autos 51/2004), que tramitou perante a Vara Criminal de

Icaraíma, na qual ficou reconhecida a autoria e a materialidade do

crime qualificado, tal como previsto no artigo 168, § 1º, III, do

CP (Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção

[...] A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: [...]

em razão de ofício, emprego ou profissão), o ilustre magistrado singular

acolheu a pretensão do autor, condenando os réus, solidariamente, ao

pagamento de indenização por danos materiais decorrentes da

apropriação de gados (no valor de R$ 162.303,00, já incluídos os lucros

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cessantes) e o réu Natalino Martins da Silva, exclusivamente, ao

pagamento de indenização por danos materiais decorrentes da

apropriação das importâncias descritas nos cheques (no valor de R$

1.800,90).

Antes de aforar esta ação principal, o autor moveu ação

cautelar preparatória em face dos réus, nos autos

TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, por intermédio da qual buscou o

arresto dos créditos trabalhistas a eles deferidos nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, com o intuito de garantir o

ressarcimento de, ao menos, uma parte dos mencionados danos

patrimoniais, providência essa alcançada em decisão liminar que,

posteriormente, veio a ser confirmada em sentença.

Por força do êxito obtido na cautelar de arresto, o d. Juízo a

quo determinou a compensação dos valores ora devidos pelos réus,

devidamente atualizados, com a totalidade das importâncias de seus

créditos trabalhistas deferidos nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, também devidamente atualizados.

Para tanto, considerou o ilustre juiz prolator da r. sentença recorrida

que tal compensação foi o objetivo visado pelo empregador ao ajuizar a

referida medida cautelar e que o princípio do impulso oficial, presente na

execução no processo do trabalho, nos termos do artigo 878 da CLT (A

execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex-officio, pelo

próprio juiz ou presidente ou tribunal competente [...]), autorizaria que fosse

determinada. Ponderou não se tratar de compensação como matéria de

defesa, capaz de atrair a aplicação da Súmula 48 do c. TST.

Nesse cenário, observa-se que, de modo diverso do alegado pelos

réus, a r. sentença recorrida não afronta os artigos 128 (O juiz decidirá a

lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões,

não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte) e

460, caput, (É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza

diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em

objeto diverso do que lhe foi demandado [...]) do CPC, o artigo 767 (A

compensação ou retenção só poderá ser argüida como matéria de defesa) da

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CLT nem a Súmula 48 do c. TST (A compensação só poderá ser argüida

com a contestação).

Isso porque amparada em decisão liminar proferida em ação

cautelar voltada a garantir a satisfação dos créditos perseguidos nos

presentes autos - ou seja, na ação principal -, decisão essa que autorizou

o arresto dos referidos créditos trabalhistas, sem que da sentença que a

tornou definitiva tenham se insurgido os réus, conforme se verifica da

consulta ao andamento processual dos autos

TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.

Desnecessário, portanto, o requerimento pelo autor nos presentes

autos ou quando da apresentação de contestação nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8 da compensação determinada na

r. sentença recorrida, bastando, para tanto, os esclarecimentos

prestados na petição inicial (fls. 07-08) quanto ao aforamento da medida

cautelar.

Importante lembrar, contudo, que, a despeito de não ter sido objeto de

insurgência dos réus, a sentença prolatada nos autos

TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1 não vincula a sentença exarada nos

presentes autos, já que, nos termos do artigo 817 do CPC, "ressalvado o

disposto no artigo 810 (O indeferimento da medida não obsta a que a parte

intente a ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no

procedimento cautelar, acolher a alegação de decadência ou de prescrição do

direito do autor), a sentença proferida no arresto não faz coisa julgada na

ação principal".

Por outro lado, em que pese a conduta inegavelmente reprovável

adotada pelos réus, bem como as ponderações muito bem lançadas nas

contrarrazões recursais apresentadas pelo autor - as quais, aliás, sensibilizam

esta Relatora -, não se vislumbra a possibilidade de manutenção da

compensação determinada em sentença, uma vez que, de fato, envolve

créditos com naturezas jurídicas diversas.

É que, não obstante a dívida contraída pelos réus em face do autor

decorra de ato ilícito praticado durante a vigência e em razão dos contratos

de trabalho com ele mantidos, ela possui natureza jurídica civil, de

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cunho indenizatório, e tem como pressuposto o ressarcimento dos danos

materiais causados ao empregador.

Em contrapartida, a dívida contraída pelo autor em face dos réus

decorre do inadimplemento de obrigações patronais resultantes do vínculo

laboral, tem como pressuposto a força de trabalho despendida pelos

empregados ao longo de anos e possui natureza jurídica trabalhista, de cunho

remuneratório, revestindo-se, portanto, de indiscutível caráter alimentar.

Por esse motivo, a compensação determinada em sentença encontra

óbice não apenas nos artigos 370 (Embora sejam do mesmo gênero as coisas

fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se

que diferem na qualidade, quando especificada no contrato) e 373, II e

III, (A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:

[...] II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma

for de coisa não suscetível de penhora) do CC, mas também na Súmula 18 do

c. TST (A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de

natureza trabalhista).

Não bastante, há de se levar em conta que a impenhorabilidade (Art.

649 do CPC. São absolutamente impenhoráveis: [...] IV - os vencimentos,

subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,

pensões, pecúlios e montepios) e o superprivilégio de que goza o crédito

trabalhista, haja vista a natureza alimentar que o imanta (Art. 100 da CF. [...]

§1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de

salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações,

benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez,

fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial

transitada em julgado), o distanciam ainda mais dos créditos que, com

justiça, foram deferidos ao autor na r. sentença.

Oportuno salientar que, definidas as naturezas jurídicas dos créditos

deferidos às partes, consoante o acima exposto, não há de se falar em

violação ao artigo 832, §3º, (As decisões cognitivas ou homologatórias

deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da

condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de

responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição

previdenciária, se for o caso) da CLT, tal como aduzem os réus nas razões

recursais.

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Entretanto, embora - data venia do douto julgador de 1º grau -

entenda-se sem amparo no ordenamento jurídico a compensação

determinada em sentença, não merece ser acolhido o afastamento pretendido

pelos réus, o qual deve ser substituído pelo desconto

do quantum indenizatório a que faz jus o autor dos valores devidos a título de

créditos trabalhistas, providência essa que tem fundamento no parágrafo

primeiro do artigo 462 da CLT (Ao empregador é vedado efetuar qualquer

desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de

adiantamentos, de dispositivos de lei ou convenção coletiva. §1º. Em caso de

dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta

possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado).

Ocorre que, uma vez reconhecida pelo Juízo competente a prática de

crime, evidente, data venia, é o dolo dos réus em causar ao autor os danos

patrimoniais em discussão, conclusão essa autorizada pela norma do artigo

935 do CC (A responsabilidade civil é independente da criminal, não se

podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu

autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal),

aplicável supletivamente ao direito do trabalho, nos termos parágrafo único

do artigo 8º da CLT (O direito comum será fonte subsidiária do direito do

trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios

fundamentais deste).

Nessa linha de raciocínio, lícita é retenção pelo ex-empregador do

montante referente aos danos patrimoniais que, mediante dolo, foram a

ele causados no curso do vínculo laboral, retenção essa que deve se

operar por intermédio do desconto do montante indenizatório ora

deferido ao autor dos créditos apurados em favor dos réus nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, os quais se encontram arrestados nos

autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.

Impende ressaltar que, para fins desse desconto, não há espaço para a

aplicação do limite trazido pelo artigo 477, §5º, da CLT ([...] §4º. O

pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado no ato da homologação

da rescisão do contrato de trabalho, em dinheiro ou em cheque visado,

conforme acordem as partes, salvo se o empregado for analfabeto, quando o

pagamento somente poderá ser feito em dinheiro. §5º. Qualquer

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do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não poderá

exceder o equivalente a um mês de remuneração do empregado [...]), visto

que, na medida do possível, deve haver a restituição integral dos danos

materiais suportados pela vítima, sobretudo quando decorrentes

de reprovável conduta dolosa praticada contra quem, de boa-fé, propiciava a

subsistência dos infratores e de suas famílias.

Em face do exposto, dá-se provimento parcial para substituir a

compensação de dívidas autorizada em sentença pela determinação de que

o quantum indenizatório devido ao autor seja descontado do montante

dos créditos trabalhistas deferidos aos réus nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8 e que se encontram arrestados nos

autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, a fim de reparar os danos sofridos

ilegal e indevidamente pelo empregador, com fundamento no artigo 462, §1º,

da CLT.

Em sede de embargos de declaração, o Tribunal Regional

assim se manifestou, fls. 737-741:

2. MÉRITO

COMPENSAÇÃO - PREQUESTIONAMENTOS E OMISSÕES

Questionam os réus se, ao determinar que o quantum indenizatório

devido ao autor seja descontado do montante dos créditos trabalhistas a eles

deferidos nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,

TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, o

v. acórdão embargado considerou a compensação prevista nos artigos 477,

§5º, e 767 da CLT e nas Súmulas 18 e 48 do c. TST como instituto diverso do

desconto legal previsto no artigo 462 da CLT, de forma a afastar a limitação

trazida no parágrafo 5º do artigo 477 da CLT.

Sustentam que o v. julgado embargado, ao impor tal desconto, foi

omisso quanto à ocorrência de coisa julgada alegada nas razões

recursais, afirmando que a impossibilidade de compensação de créditos

se trata de questão já decidida nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8. Defendem que também houve

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do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

omissão no que se refere à incidência, em sede de cumprimento de

sentença, das limitações impostas nas Súmulas 18 e 48 do c. TST.

Indagam se, ao determinar referido desconto sem que tenha

havido expresso pedido pelo autor nesse sentido, considerando

suficiente o ajuizamento de Medida Cautelar de Arresto, o v. acórdão

embargado afrontou o princípio do contraditório, o contido nas

Súmulas 18 e 48 do c. TST e os artigos 93, IX, da CF, 767 e 878 da CLT e

128 do CPC.

Com o intuito de prequestionamento da matéria, elucida-se que,

segundo o que constou no v. julgado embargado, esta e. Segunda Turma

considerou a compensação prevista nos artigos 477, §5º (Qualquer

compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não poderá

exceder o equivalente a um mês de remuneração do empregado), e 767 (A

compensação ou retenção só poderá ser argüida como matéria de defesa) da

CLT e nas Súmulas 18 (A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita

a dívidas de natureza trabalhista) e 48 (A compensação só poderá ser argüida

com a contestação) do c. TST como instituto diverso do desconto legal

previsto no artigo 462, §1º, da CLT (Ao empregador é vedado efetuar

qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de

adiantamentos, de dispositivos de lei ou convenção coletiva. §1º. Em caso de

dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta

possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado).

Por isso, foi expressamente afastada a limitação prevista no parágrafo 5º do

artigo 477 da CLT.

Para tanto, partiu-se das premissas de que "lícita é retenção pelo

ex-empregador do montante referente aos danos patrimoniais que, mediante

dolo, foram a ele causados no curso do vínculo laboral" e de que, "na medida

do possível, deve haver a restituição integral dos danos materiais suportados

pela vítima, sobretudo quando decorrentes de reprovável conduta dolosa

praticada contra quem, de boa-fé, propiciava a subsistência dos infratores e

de suas famílias" (fl. 731v).

No que concerne à coisa julgada alegada nas razões recursais,

cumpre elucidar que, ao ver desta e. Turma, a sua ocorrência não ficou

caracterizada no caso concreto, na medida em que a prática pelos réus

de ato ilícito (apropriação indébita de quinhentas e setenta e seis

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cabeças de gado bovino e de três cheques emitidos para pagamento de

despesas da propriedade rural) capaz de gerar danos materiais ao autor

se trata de questão debatida e decidida nos presentes autos, de modo

que não se poderia falar em desconto na forma do artigo 462, § 1º, da

CLT, antes da prolação da r. sentença que reconheceu o dever de

indenizar.

Já no que diz respeito às limitações impostas nas Súmulas 18 (A

compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de natureza

trabalhista) e 48 (A compensação só poderá ser argüida com a contestação)

do c. TST, por ocasião do cumprimento de sentença, não há o que

acrescentar, visto que o v. acórdão embargado considerou-as inaplicáveis no

caso em tela, em que se tem o desconto do quantum indenizatório devido ao

autor dos créditos trabalhistas deferidos aos réus, e não, propriamente, a

compensação de dívidas.

Por derradeiro, para fins de prequestionamento, cabe esclarecer que, a

nosso sentir, o desconto determinado no v. julgado embargado não afronta o

princípio do contraditório, nem o contido nas Súmulas 18 e 48 do c. TST e

nos artigos 93, IX (todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário

serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,

podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a

seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do

direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse

público à informação), da CF, 767 (A compensação ou retenção só poderá

ser argüida como matéria de defesa) e 878 (A execução poderá ser

promovida por qualquer interessado, ou ex-officio, pelo próprio juiz ou

presidente ou tribunal competente, nos termos do artigo anterior [...]) da CLT

e 128 (O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe

defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a

iniciativa da parte) do CPC.

Isso porque consideramos desnecessário, para tanto, expresso

pedido pelo autor nesse sentido nos presentes autos ou quando da

apresentação de contestação nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, sendo suficientes, a nosso ver, os

esclarecimentos prestados na petição inicial (fls. 07-08) quanto ao

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aforamento de medida cautelar voltada a garantir a satisfação dos

créditos perseguidos nos presentes autos, medida essa, aliás, em que

foram observados o devido processo legal, o contraditório e a ampla

defesa e houve decisão liminar autorizando o arresto dos créditos

trabalhistas deferidos aos réus, sem que tenham insurgido da sentença

que tornou definitiva.

Diante disso, dá-se provimento parcial a título de prequestionamento

das matérias suscitadas, bem como para prestar esclarecimentos.

Os réus, nas razões recursais, sustentaram que na

petição inicial não há pedido relacionado à “compensação de valores”,

porém, a sentença determinou a compensação dos valores da condenação

indenizatória reconhecida na presente ação com os créditos de natureza

alimentar dos recorrentes adquiridos nas reclamações trabalhistas que

ajuizaram e que tramitam nas Varas do Trabalho de Umuarama.

Alegaram que nas referidas reclamatórias trabalhistas

foi reconhecida a dispensa sem justa causa, de forma que a questão ligada

a apropriação de semoventes foi desde então afastada para todos os efeitos

legais, como causa que autorizasse compensação ou descontos.

Aduziram que caso o autor tivesse intenção de ver

compensados ou descontados os valores tidos como devidos teria feito o

pedido nas defesas apresentadas naquelas RTs, conforme dispõem o art.

767 da CLT e a Súmula nº 48 do TST.

Argumentaram que a matéria está preclusa, sendo

proibida a análise da compensação ou desconto, seja pela coisa julgada

seja porque a questão é de iniciativa da parte, não do juiz.

Pontuaram que, como a decisão de julgar a “compensação

ou desconto de valores” infringiu o contido no art. 128 do CPC e na Súmula

nº 48 do TST, deve ser declarada a nulidade do decisum por julgamento

extra petita, bem como pela ocorrência da coisa julgada, sob pena de

nascer uma situação mais grave, por ter sido retirada dos réus a

possibilidade de defesa, o que infringe o princípio do contraditório.

Apontaram violação dos arts. 128, 475-B e 475-J do CPC;

462, § 1º, 477, § 5º, e 767 da CLT; bem como contrariedade às Súmulas

nºs 18 e 48 do TST.

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Nos termos dos arts. 128 e 460 do CPC, a configuração

de decisão ultra ou extra petita ocorre quando o julgador se manifesta

sobre matéria que não foi objeto da demanda. Ao julgador cabe resolver

todas as questões postuladas pelas partes, abstendo-se daquelas que não

foram objeto de arguição pelos litigantes. A demanda deve ater-se ao

quanto postulado na petição inicial e na defesa, quando é formada a

litiscontestatio. Desobedecidos esses limites, haverá julgamento ultra

ou extra petita.

Com efeito, a decisão deve guardar coerência com os

elementos objetivos da demanda consistentes na causa de pedir e pedido,

bem como com os limites da resposta do demandado, em conformidade com

o princípio da congruência preceituado nos arts. 128 e 460 do CPC.

Sucede que, no caso dos autos, não se verifica o

alegado julgamento extra petita, na medida em que o juízo de origem

observou os estritos limites da lide.

Note-se, por primeiro, que a presente ação de

reparação de danos foi ajuizada na Justiça Comum e, posteriormente, em

face da mudança de competência prevista na Emenda Constitucional nº

45/2004, os autos foram enviados para a Justiça do Trabalho.

Como salientado no acórdão recorrido, “Versam os

presentes autos a respeito de ação de indenização por danos materiais

decorrentes da apropriação indébita pelos réus, na condição de empregados

do autor, de quinhentas e setenta e seis cabeças de gado bovino criado

na propriedade rural em que laboravam, bem como de três cheques emitidos

pelo empregador para pagamento de despesas dessa propriedade rural”, fls.

709.

O Tribunal Regional também registrou que antes mesmo

do ajuizamento da presente ação, o autor propôs uma ação cautelar

preparatória em face dos réus (processo TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1),

na qual postulava o arresto dos créditos trabalhistas a eles deferidos

nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7

e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, com o intuito de garantir o

ressarcimento de, ao menos, uma parte dos mencionados danos patrimoniais,

providência que foi alcançada por meio de decisão liminar, posteriormente

confirmada em sentença.

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do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

A referida sentença foi proferida em 25/2/2011, e

restou assim fundamentada, conforme publicação no site do 9º TRT:

SENTENÇA

Vistos etc.

RELATÓRIO

O requerente, no dia 26/07/2005, ajuizou, perante a Justiça Comum

Estadual, Medida Cautelar Inominada (incidental), com pedido liminar,

acompanhada de documentos em desfavor dos requeridos, e com base nos

argumentos de fato formulou os pedidos constantes do Rol da Petição de

Inicial, atribuiu à causa o valor de R$ 1.500,00.

Através da decisão de fls. 131/133 proferida pela Mma. Juíza da 1ª

Vara Cível de Umuarama, foi deferida liminarmente a medida requerida,

determinando-se o arresto dos créditos trabalhistas dos requeridos,

reconhecidos nas RTOrds 00026/2000-325, 00028/2000-325 e

00027/2000-025.

O arresto foi efetivado, conforme comprovam os autos de fls. 143/145.

Citados os requeridos, apenas José Nivaldo da Silva apresentou defesa,

alegando a incompetência da Justiça Comum Estadual para processamento

do feito.

Por intermédio da decisão de fls. 200/203 foi reconhecida a

incompetência da Justiça Comum Estadual, determinando-se o

encaminhamento dos autos a esta Justiça Especializada.

Da referida decisão agravou o requerente, tendo sido mantida pela

superior instância por seus próprios fundamentos.

Recebidos os autos neste Juízo, foram incluídos em pauta de audiência

de tentativa de conciliação, que restou infrutífera.

Inexistindo outras provas a produzir encerrou-se a instrução

processual.

Razões finais remissivas.

Infrutíferas as propostas conciliatórias.

Designou-se julgamento.

É o Relatório. Decido.

FUNDAMENTOS

DO MANDATO TÁCITO

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..............................................................................................................

DO ARRESTO

Pela presente medida cautelar, o requerente invocou a tutela

jurisdicional visando obter provimento favorável no sentido de

garantir, com o arresto dos créditos trabalhistas dos requeridos,

existentes nos autos RTOrds 00026/2000-325, 00028/2000-325 e

00027/2000-025, o ressarcimento de, ao menos, uma parte dos prejuízos

que lhe foram por eles causados.

A cautela foi deferida em caráter liminar às fls. 131, com a

determinação de arresto dos créditos trabalhistas dos requeridos

conforme postulado, medida que foi concretizada como demonstram os

autos de arresto juntados às fls. 143/145.

A decisão proferida nos autos principais (RTOrd 02557/2000-325),

cuja cópia foi juntada às fls. 293 e seguintes, condenou os requeridos ao

pagamento da importância dos prejuízos financeiros que causaram ao

requerente, no valor de R$.164.103,90 atualizado até dezembro/1998, que

deverá sofrer a incidência de juros e correção monetária até a data do efetivo

pagamento.

Além disso, em nenhum momento os reclamados afirmaram que

tivessem outros meios de saldar os danos causados ao requerente,

tornando incontroverso esse fato, confirmando a caracterização do

fumus boni iuris e o periculum in mora.

Assim, por concorrerem simultaneamente os requisitos necessários à

concessão da presente medida, acolho a pretensão cautelar, para manter e

confirmar a decisão que a concedeu liminarmente o arresto às fls. 131 destes

autos.

Via de consequência, determino que os créditos trabalhistas dos

requeridos, reconhecidos nos autos de RTOrd 00026/2000-325,

00028/2000-325 e 00027/2000-025, permaneçam arrestados, não

podendo ser objeto de qualquer liberação até o trânsito em julgado da

decisão proferida nos autos principais, (RTOrd 02557/2000-325) e

consequente execução com possível penhora.

DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

..............................................................................................................

DISPOSITIVO

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Ante o exposto, julgo PROCEDENTES os pedidos formulados na

Medida Cautelar ajuizada por em desfavor de Ildemar Martins da Silva,

Natalino Martins da Silva e José Nivaldo da Silva, para manter e confirmar a

medida concedida liminarmente às fls. 131, bem como para determinar

que os créditos trabalhistas dos requeridos, reconhecidos nos autos de

RTOrd 00026/2000-325, 00028/2000-325 e 00027/2000-025,

permaneçam arrestados, não podendo ser objeto de qualquer liberação

até o trânsito em julgado da decisão proferida nos autos principais,

(RTOrd 02557/2000-325) e consequente execução com possível penhora.

(...) (destaques acrescidos)

O autor da presente ação, por sua vez, informou na

inicial (fls. 9-10) que já havia intentando medida cautelar inominada

para garantir a indenização que pleiteava.

Ressalte-se que os autos da ação principal e da ação

cautelar tramitaram juntos e ambos os processos foram julgados pelo mesmo

juiz.

Nesse contexto específico, verifica-se que a decisão

recorrida não extrapolou os contornos da lide e a determinação do desconto

do quantum indenizatório devido ao autor nestes autos no montante dos

créditos trabalhistas deferidos aos réus nas reclamações trabalhistas

que ajuizaram é mera consequência da determinação contida na sentença

que julgou os pedidos insertos na medida cautelar inominada em que,

conforme consignado no acórdão recorrido, “foram observados o devido

processo legal, o contraditório e a ampla defesa e houve decisão liminar

autorizando o arresto dos créditos trabalhistas deferidos aos réus, sem

que tenham insurgido da sentença que tornou definitiva” (fls. 741).

Nesse passo, não se evidencia violação dos

dispositivos apontados, tampouco contrariedade às Súmulas nºs 18 e 48

do TST.

Por outro lado, em relação à alegada ofensa à coisa

julgada, verifica-se que nenhum dos artigos de lei apontados como

violados dizem respeito à coisa julgada.

Ademais, como ressaltado na decisão recorrida, “No que

concerne à coisa julgada alegada nas razões recursais, cumpre elucidar

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que, ao ver desta e. Turma, a sua ocorrência não ficou caracterizada no

caso concreto, na medida em que a prática pelos réus de ato ilícito

(apropriação indébita de quinhentas e setenta e seis cabeças de gado

bovino e de três cheques emitidos para pagamento de despesas da

propriedade rural) capaz de gerar danos materiais ao autor se trata de

questão debatida e decidida nos presentes autos, de modo que não se

poderia falar em desconto na forma do artigo 462, § 1º, da CLT, antes

da prolação da r. sentença que reconheceu o dever de indenizar” (fls.

739).

Ante o exposto, nego provimento ao agravo de

instrumento.

2.2 – COMPENSAÇÃO

Infere-se da decisão regional a adoção do seguinte

posicionamento quanto ao tema epigrafado, fls. 708-715:

2. MÉRITO

COMPENSAÇÃO

Não se conformam os réus com a determinação de que os créditos

trabalhistas a eles deferidos nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,

TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8,

que se encontram arrestados por força de sentença proferida na ação cautelar

de autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, sejam compensados com os

créditos deferidos ao autor na presente ação indenizatória.

Sustentam que a r. sentença recorrida viola o disposto nos artigos 128

do CPC e 767 da CLT e, ainda, na Súmula 48 do c. TST, uma vez que o autor

não requereu tal compensação nos presentes autos, tampouco quando da

apresentação de contestação nas ações em que os créditos trabalhistas foram

deferidos (autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,

TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8).

Com fundamento nos artigos 100, §1º, da CF, 462 e 832, §3º, da CLT,

370, 373 do CC e 649, IV, do CPC, bem como na Súmula 18 do c. TST,

defendem a impossibilidade de compensação de créditos de natureza

trabalhista e, portanto, alimentar, com créditos de natureza

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indenizatória. Requerem o afastamento da compensação determinada em

sentença.

Versam os presentes autos a respeito de ação de indenização por

danos materiais decorrentes da apropriação indébita pelos réus, na

condição de empregados do autor, de quinhentas e setenta e seis cabeças

de gado bovino criado na propriedade rural em que laboravam, bem

como de três cheques emitidos pelo empregador para pagamento de

despesas dessa propriedade rural.

Com a manutenção pelo e. Tribunal de Justiça do Paraná da

sentença condenatória proferida na ação penal movida em face dos

réus (autos 51/2004), que tramitou perante a Vara Criminal de

Icaraíma, na qual ficou reconhecida a autoria e a materialidade do

crime qualificado, tal como previsto no artigo 168, § 1º, III, do

CP (Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção

[...] A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: [...]

em razão de ofício, emprego ou profissão), o ilustre magistrado singular

acolheu a pretensão do autor, condenando os réus, solidariamente, ao

pagamento de indenização por danos materiais decorrentes da

apropriação de gados (no valor de R$ 162.303,00, já incluídos os lucros

cessantes) e o réu Natalino Martins da Silva, exclusivamente, ao

pagamento de indenização por danos materiais decorrentes da

apropriação das importâncias descritas nos cheques (no valor de R$

1.800,90).

Antes de aforar esta ação principal, o autor moveu ação

cautelar preparatória em face dos réus, nos autos

TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, por intermédio da qual buscou o

arresto dos créditos trabalhistas a eles deferidos nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, com o intuito de garantir o

ressarcimento de, ao menos, uma parte dos mencionados danos

patrimoniais, providência essa alcançada em decisão liminar que,

posteriormente, veio a ser confirmada em sentença.

Por força do êxito obtido na cautelar de arresto, o d. Juízo a

quo determinou a compensação dos valores ora devidos pelos réus,

devidamente atualizados, com a totalidade das importâncias de seus

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créditos trabalhistas deferidos nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, também devidamente atualizados.

Para tanto, considerou o ilustre juiz prolator da r. sentença recorrida

que tal compensação foi o objetivo visado pelo empregador ao ajuizar a

referida medida cautelar e que o princípio do impulso oficial, presente na

execução no processo do trabalho, nos termos do artigo 878 da CLT (A

execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex-officio, pelo

próprio juiz ou presidente ou tribunal competente [...]), autorizaria que fosse

determinada. Ponderou não se tratar de compensação como matéria de

defesa, capaz de atrair a aplicação da Súmula 48 do c. TST.

Nesse cenário, observa-se que, de modo diverso do alegado pelos

réus, a r. sentença recorrida não afronta os artigos 128 (O juiz decidirá a

lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões,

não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte) e

460, caput, (É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza

diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em

objeto diverso do que lhe foi demandado [...]) do CPC, o artigo 767 (A

compensação ou retenção só poderá ser argüida como matéria de defesa) da

CLT nem a Súmula 48 do c. TST (A compensação só poderá ser argüida

com a contestação).

Isso porque amparada em decisão liminar proferida em ação

cautelar voltada a garantir a satisfação dos créditos perseguidos nos

presentes autos - ou seja, na ação principal -, decisão essa que autorizou

o arresto dos referidos créditos trabalhistas, sem que da sentença que a

tornou definitiva tenham se insurgido os réus, conforme se verifica da

consulta ao andamento processual dos autos

TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.

Desnecessário, portanto, o requerimento pelo autor nos presentes

autos ou quando da apresentação de contestação nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8 da compensação determinada na

r. sentença recorrida, bastando, para tanto, os esclarecimentos

prestados na petição inicial (fls. 07-08) quanto ao aforamento da medida

cautelar.

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do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

Importante lembrar, contudo, que, a despeito de não ter sido objeto de

insurgência dos réus, a sentença prolatada nos autos

TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1 não vincula a sentença exarada nos

presentes autos, já que, nos termos do artigo 817 do CPC, "ressalvado o

disposto no artigo 810 (O indeferimento da medida não obsta a que a parte

intente a ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no

procedimento cautelar, acolher a alegação de decadência ou de prescrição do

direito do autor), a sentença proferida no arresto não faz coisa julgada na

ação principal".

Por outro lado, em que pese a conduta inegavelmente reprovável

adotada pelos réus, bem como as ponderações muito bem lançadas nas

contrarrazões recursais apresentadas pelo autor - as quais, aliás, sensibilizam

esta Relatora -, não se vislumbra a possibilidade de manutenção da

compensação determinada em sentença, uma vez que, de fato, envolve

créditos com naturezas jurídicas diversas.

É que, não obstante a dívida contraída pelos réus em face do autor

decorra de ato ilícito praticado durante a vigência e em razão dos contratos

de trabalho com ele mantidos, ela possui natureza jurídica civil, de

cunho indenizatório, e tem como pressuposto o ressarcimento dos danos

materiais causados ao empregador.

Em contrapartida, a dívida contraída pelo autor em face dos réus

decorre do inadimplemento de obrigações patronais resultantes do vínculo

laboral, tem como pressuposto a força de trabalho despendida pelos

empregados ao longo de anos e possui natureza jurídica trabalhista, de cunho

remuneratório, revestindo-se, portanto, de indiscutível caráter alimentar.

Por esse motivo, a compensação determinada em sentença encontra

óbice não apenas nos artigos 370 (Embora sejam do mesmo gênero as coisas

fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se

que diferem na qualidade, quando especificada no contrato) e 373, II e

III, (A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:

[...] II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma

for de coisa não suscetível de penhora) do CC, mas também na Súmula 18 do

c. TST (A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de

natureza trabalhista).

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do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

Não bastante, há de se levar em conta que a impenhorabilidade (Art.

649 do CPC. São absolutamente impenhoráveis: [...] IV - os vencimentos,

subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,

pensões, pecúlios e montepios) e o superprivilégio de que goza o crédito

trabalhista, haja vista a natureza alimentar que o imanta (Art. 100 da CF. [...]

§1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de

salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações,

benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez,

fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial

transitada em julgado), o distanciam ainda mais dos créditos que, com

justiça, foram deferidos ao autor na r. sentença.

Oportuno salientar que, definidas as naturezas jurídicas dos créditos

deferidos às partes, consoante o acima exposto, não há de se falar em

violação ao artigo 832, §3º, (As decisões cognitivas ou homologatórias

deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da

condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de

responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição

previdenciária, se for o caso) da CLT, tal como aduzem os réus nas razões

recursais.

Entretanto, embora - data venia do douto julgador de 1º grau -

entenda-se sem amparo no ordenamento jurídico a compensação

determinada em sentença, não merece ser acolhido o afastamento pretendido

pelos réus, o qual deve ser substituído pelo desconto

do quantum indenizatório a que faz jus o autor dos valores devidos a título de

créditos trabalhistas, providência essa que tem fundamento no parágrafo

primeiro do artigo 462 da CLT (Ao empregador é vedado efetuar qualquer

desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de

adiantamentos, de dispositivos de lei ou convenção coletiva. §1º. Em caso de

dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta

possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado).

Ocorre que, uma vez reconhecida pelo Juízo competente a prática

de crime, evidente, data venia, é o dolo dos réus em causar ao autor os

danos patrimoniais em discussão, conclusão essa autorizada pela norma

do artigo 935 do CC (A responsabilidade civil é independente da criminal,

não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem

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seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo

criminal), aplicável supletivamente ao direito do trabalho, nos termos

parágrafo único do artigo 8º da CLT (O direito comum será fonte subsidiária

do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os

princípios fundamentais deste).

Nessa linha de raciocínio, lícita é retenção pelo ex-empregador do

montante referente aos danos patrimoniais que, mediante dolo, foram a

ele causados no curso do vínculo laboral, retenção essa que deve se

operar por intermédio do desconto do montante indenizatório ora

deferido ao autor dos créditos apurados em favor dos réus nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, os quais se encontram arrestados nos

autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.

Impende ressaltar que, para fins desse desconto, não há espaço para a

aplicação do limite trazido pelo artigo 477, §5º, da CLT ([...] §4º. O

pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado no ato da homologação

da rescisão do contrato de trabalho, em dinheiro ou em cheque visado,

conforme acordem as partes, salvo se o empregado for analfabeto, quando o

pagamento somente poderá ser feito em dinheiro. §5º. Qualquer

compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não poderá

exceder o equivalente a um mês de remuneração do empregado [...]), visto

que, na medida do possível, deve haver a restituição integral dos danos

materiais suportados pela vítima, sobretudo quando decorrentes

de reprovável conduta dolosa praticada contra quem, de boa-fé, propiciava a

subsistência dos infratores e de suas famílias.

Em face do exposto, dá-se provimento parcial para substituir a

compensação de dívidas autorizada em sentença pela determinação de que

o quantum indenizatório devido ao autor seja descontado do montante

dos créditos trabalhistas deferidos aos réus nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8 e que se encontram arrestados nos

autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, a fim de reparar os danos sofridos

ilegal e indevidamente pelo empregador, com fundamento no artigo 462, §1º,

da CLT.

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Em sede de embargos de declaração, o Tribunal Regional

assim se manifestou, fls. 737-741:

2. MÉRITO

COMPENSAÇÃO - PREQUESTIONAMENTOS E OMISSÕES

Questionam os réus se, ao determinar que o quantum indenizatório

devido ao autor seja descontado do montante dos créditos trabalhistas a eles

deferidos nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,

TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, o

v. acórdão embargado considerou a compensação prevista nos artigos 477,

§5º, e 767 da CLT e nas Súmulas 18 e 48 do c. TST como instituto diverso do

desconto legal previsto no artigo 462 da CLT, de forma a afastar a limitação

trazida no parágrafo 5º do artigo 477 da CLT.

Sustentam que o v. julgado embargado, ao impor tal desconto, foi

omisso quanto à ocorrência de coisa julgada alegada nas razões

recursais, afirmando que a impossibilidade de compensação de créditos

se trata de questão já decidida nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8. Defendem que também houve

omissão no que se refere à incidência, em sede de cumprimento de

sentença, das limitações impostas nas Súmulas 18 e 48 do c. TST.

Indagam se, ao determinar referido desconto sem que tenha

havido expresso pedido pelo autor nesse sentido, considerando

suficiente o ajuizamento de Medida Cautelar de Arresto, o v. acórdão

embargado afrontou o princípio do contraditório, o contido nas

Súmulas 18 e 48 do c. TST e os artigos 93, IX, da CF, 767 e 878 da CLT e

128 do CPC.

Com o intuito de prequestionamento da matéria, elucida-se que,

segundo o que constou no v. julgado embargado, esta e. Segunda Turma

considerou a compensação prevista nos artigos 477, §5º (Qualquer

compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não poderá

exceder o equivalente a um mês de remuneração do empregado), e 767 (A

compensação ou retenção só poderá ser argüida como matéria de defesa) da

CLT e nas Súmulas 18 (A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita

a dívidas de natureza trabalhista) e 48 (A compensação só poderá ser argüida

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com a contestação) do c. TST como instituto diverso do desconto legal

previsto no artigo 462, §1º, da CLT (Ao empregador é vedado efetuar

qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de

adiantamentos, de dispositivos de lei ou convenção coletiva. §1º. Em caso de

dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta

possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado).

Por isso, foi expressamente afastada a limitação prevista no parágrafo 5º do

artigo 477 da CLT.

Para tanto, partiu-se das premissas de que "lícita é retenção pelo

ex-empregador do montante referente aos danos patrimoniais que, mediante

dolo, foram a ele causados no curso do vínculo laboral" e de que, "na medida

do possível, deve haver a restituição integral dos danos materiais suportados

pela vítima, sobretudo quando decorrentes de reprovável conduta dolosa

praticada contra quem, de boa-fé, propiciava a subsistência dos infratores e

de suas famílias" (fl. 731v).

No que concerne à coisa julgada alegada nas razões recursais,

cumpre elucidar que, ao ver desta e. Turma, a sua ocorrência não ficou

caracterizada no caso concreto, na medida em que a prática pelos réus

de ato ilícito (apropriação indébita de quinhentas e setenta e seis

cabeças de gado bovino e de três cheques emitidos para pagamento de

despesas da propriedade rural) capaz de gerar danos materiais ao autor

se trata de questão debatida e decidida nos presentes autos, de modo

que não se poderia falar em desconto na forma do artigo 462, § 1º, da

CLT, antes da prolação da r. sentença que reconheceu o dever de

indenizar.

Já no que diz respeito às limitações impostas nas Súmulas 18 (A

compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de natureza

trabalhista) e 48 (A compensação só poderá ser argüida com a contestação)

do c. TST, por ocasião do cumprimento de sentença, não há o que

acrescentar, visto que o v. acórdão embargado considerou-as inaplicáveis no

caso em tela, em que se tem o desconto do quantum indenizatório devido ao

autor dos créditos trabalhistas deferidos aos réus, e não, propriamente, a

compensação de dívidas.

Por derradeiro, para fins de prequestionamento, cabe esclarecer que, a

nosso sentir, o desconto determinado no v. julgado embargado não afronta o

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princípio do contraditório, nem o contido nas Súmulas 18 e 48 do c. TST e

nos artigos 93, IX (todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário

serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,

podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a

seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do

direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse

público à informação), da CF, 767 (A compensação ou retenção só poderá

ser argüida como matéria de defesa) e 878 (A execução poderá ser

promovida por qualquer interessado, ou ex-officio, pelo próprio juiz ou

presidente ou tribunal competente, nos termos do artigo anterior [...]) da CLT

e 128 (O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe

defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a

iniciativa da parte) do CPC.

Isso porque consideramos desnecessário, para tanto, expresso

pedido pelo autor nesse sentido nos presentes autos ou quando da

apresentação de contestação nos autos

TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, sendo suficientes, a nosso ver, os

esclarecimentos prestados na petição inicial (fls. 07-08) quanto ao

aforamento de medida cautelar voltada a garantir a satisfação dos

créditos perseguidos nos presentes autos, medida essa, aliás, em que

foram observados o devido processo legal, o contraditório e a ampla

defesa e houve decisão liminar autorizando o arresto dos créditos

trabalhistas deferidos aos réus, sem que tenham insurgido da sentença

que tornou definitiva.

Diante disso, dá-se provimento parcial a título de prequestionamento

das matérias suscitadas, bem como para prestar esclarecimentos.

Os réus, nas razões recursais, sustentaram que o

acórdão regional, mesmo reconhecendo que os créditos oriundos desta ação

e das reclamatórias trabalhistas que ajuizaram têm natureza distinta,

permitiu o “desconto” do crédito do autor no valor que deve ser recebido

por eles.

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Alegaram que o crédito trabalhista é impenhorável, não

podendo ser alvo de desconto, mormente por se tratar de verba alimentar

que é irrenunciável, irredutível e intangível.

Salientaram que o que “define ser lícita a compensação

é ter os créditos mesma natureza e os descontos é a autorização legal

para se descontar valores dos salários de verbas exclusivamente geradas

em decorrência do vínculo empregatício, em exceção ao princípio da

intangibilidade salarial, mas nunca contempla a possibilidade de

autorizar pagamento de verba de natureza indenizatória, sob pena de se

instalar a possibilidade de penhorabilidade do crédito trabalhista”

(fls. 763).

Argumentaram ser totalmente descabido o desconto do

crédito indenizatório no crédito trabalhista, uma vez que se trata de

verdadeira compensação entre verbas de natureza distinta, atentando

contra o princípio da irredutibilidade salarial.

Apontaram violação dos arts. 100, § 1º, da

Constituição Federal; 475-B, 475-J e 649 do CPC; 462, § 1º, 477, § 1º

e § 5º, e 767 da CLT; bem como contrariedade às Súmulas nºs 18 e 48 do

TST. Apresentam arestos ao confronto de teses.

Na presente hipótese verifica-se que “Versam os

presentes autos a respeito de ação de indenização por danos materiais

decorrentes da apropriação indébita pelos réus, na condição de empregados

do autor, de quinhentas e setenta e seis cabeças de gado bovino criado

na propriedade rural em que laboravam, bem como de três cheques emitidos

pelo empregador para pagamento de despesas dessa propriedade rural” (fls.

709).

O Tribunal Regional também registrou que, antes mesmo

do ajuizamento da presente ação, o autor propôs uma ação cautelar

preparatória (processo TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1), na qual

postulava o arresto dos créditos trabalhistas deferidos aos réus nos

autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e

TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, com o intuito de garantir o ressarcimento

de, ao menos, uma parte dos mencionados danos patrimoniais, providência

que foi alcançada por meio de decisão liminar, posteriormente confirmada

em sentença.

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Concluiu, então, a Corte regional que é lícita a

retenção pelo autor do montante referente aos danos patrimoniais, que,

mediante dolo, foram a ele causados pelos réus no curso do vínculo

laboral, por intermédio do desconto do montante indenizatório ora

deferido ao autor dos créditos apurados em favor dos réus nas

reclamatórias que ajuizaram e que se encontram arrestados nos autos

TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.

Saliente-se, por primeiro, que, ainda, que a Corte

regional tenha dado parcial provimento ao recurso ordinário dos réus

“para, substituindo a compensação de dívidas autorizada em sentença,

determinar que o quantum indenizatório devido ao autor seja descontado

do montante dos créditos trabalhistas deferidos aos réus”, verifica-se

que houve, na verdade, compensação do crédito do autor nesta ação com

o crédito dos réus na reclamação trabalhista que ajuizaram contra ele.

Em segundo lugar, verifica-se que a compensação

determinada pela sentença não é aquela de que trata a Súmula nº 18 do

TST, em que somente podem ser compensadas as dívidas de natureza

trabalhista. Isso porque a determinação consiste em compensar o crédito

do autor oriundo da condenação imposta aos réus em virtude da apropriação

de bens do autor com o crédito trabalhista decorrente da ação ajuizada

pelos réus. Desse modo, não há como reconhecer, no presente caso,

contrariedade ao referido verbete.

Ademais, o art. 368 do Código Civil no capítulo “Da

Compensação” dispõe que:

Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da

outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.

Dessa forma, a compensação pode ser definida como uma

das modalidades de extinção das obrigações incidente quando as partes

são, reciprocamente, credoras e devedoras uma da outra.

Na hipótese em análise, os réus foram condenados ao

pagamento de indenização no valor de R$ 162.303,00 em decorrência da

apropriação indébita de 576 cabeças de gado pertencentes ao autor, que

era o empregador dos réus, e que eram mantidas na propriedade rural em

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que trabalhavam; e o réu Natalino Martins da Silva também foi condenado

ao pagamento de indenização por danos materiais, no valor de R$ 1.800,90,

decorrentes da apropriação das importâncias descritas nos cheques que

foram emitidas pelo autor para o pagamento de despesas da propriedade

rural.

Conforme se extrai dos autos e do acórdão recorrido,

os réus foram condenados na esfera penal pelo Tribunal de Justiça do

Paraná, em que restou reconhecida a autoria e a materialidade do crime

qualificado no art. 168, § 1º, III, do Código Penal, cujo tipo penal é

“Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção”

e cuja pena é aumentada nos casos em que o agente recebeu a coisa “em

razão de ofício, emprego ou profissão”. A sentença penal condenatória,

conforme registrado na sentença a fls. 314, já transitou em julgado.

Por outro lado, é sabido que as verbas salariais

reconhecidas nas reclamatórias trabalhistas ajuizadas pelos réus possuem

caráter alimentar e são resguardadas pelos princípios da intangibilidade

salarial e da proteção ao salário, a teor do art. 7º, X, da Constituição

Federal.

Todavia, verifica-se também que o princípio da boa-fé

objetiva deve nortear os contratos de trabalho. Tal princípio encontra-se

estampado no art. 422 do CC, que assim estabelece:

Art. 422- Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do

contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Acerca da análise do dispositivo, Araken de Assis, em

“Comentários ao Código Civil Brasileiro”, coordenação de Arruda Alvin

e Theresa Alvin, Volume V, Arts. 421 a 578, 1ª ed., 2007, Editora Forense,

p. 150, dispõe da seguinte forma:

O art. 422 não reproduziu a cláusula do art. 1.337 do CC italiano que

impõe aos interessados se conduzirem de acordo com a boa-fé “nello

svolgimento delle trattative e nella formazione del contratto”, (no

desenvolvimento das tratativas e na formação do contrato). A boa-fé

mencionada no texto peninsular assume sentido objetivo, ou seja, portar

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com honestidade e lealdade para preservar a confiança alheia. Também

no direito brasileiro a boa-fé objetiva preside as negociações preliminares,

entre nós, consoante a opinião da doutrina brasileira, na qual se destacam

Judith Martins-Costa e Antonio Junqueira de Azevedo. É preciso que os

participantes das negociações preliminares se comportem de modo

socialmente aceitável.

A boa-fé objetiva se desdobra, no campo das negociações preliminares,

em alguns deveres concretos.

Em primeiro lugar, os participantes das negociações têm o dever de

informar todas as circunstâncias do negócio antevisto, evitando reticências e

o induzimento a uma contratação desvantajosa. Por existir o dever de

esclarecimento, exemplifica Pontes de Miranda, João precisa informar ao

colecionador Pedro de que a tela, objeto das discussões sofreu dano em

incêndio. (grifos acrescidos)

Sobre a aplicação da cláusula de boa-fé, Ruy Rosado

de Aguiar (A boa-fé na relação de consumo. Revista de Direito do

Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr./jun. 1995, n. 14, p.

20-27.), assim discorre:

Para aplicação da cláusula da boa-fé, o juiz parte do princípio de

que toda a inter-relação humana deve pautar-se por um padrão ético de

confiança e lealdade, indispensável para o próprio desenvolvimento

normal da convivência social. A expectativa de um comportamento

adequado por parte do outro é um comportamento indissociável da vida de

relação, sem o qual ela mesma seria inviável. Isso significa que as pessoas

devem adotar um comportamento leal em toda a fase prévia à constituição de

tais relações (diligência in contrahendo); e que devem também comportar-se

lealmente no desenvolvimento das relações jurídicas já constituídas entre

eles. Este dever de comportar-se segundo a boa-fé se projeta a sua vez nas

direções em que se diversificam todas as relações jurídicas: direitos e

deveres. Os direitos devem exercitar-se de boa-fé; as obrigações têm de

cumprir-se de boa-fé.

Nesse contexto, em que princípio da boa-fé objetiva

também deve nortear os contratos de trabalho, verifica-se que os atos

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praticados pelos réus são de natureza grave e evidenciam a quebra de

confiança, requisito ínsito ao contrato de trabalho. De fato, os réus

se aproveitaram do grau de fidúcia que detinham para se assenhorearem

de 576 reses de propriedade do empregador e de folhas de cheque que este

emitiu para o pagamento de despesas da fazenda.

Como se vê, até mesmo o tipo penal em que os réus foram

incursos (art. 168 do Código Penal) considera ainda mais grave o ato de

apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção,

quando praticado “em razão de ofício, emprego ou profissão”, sendo motivo

de aumento da pena na razão de um terço (art. 168, § 1º, III, do Código

Penal).

Não bastasse tanto, é de se destacar que, consoante

os arts. 935 do Código Civil e 63 do Código de Processo Penal, a sentença

penal condenatória é título executivo judicial. Tais artigos assim

dispõem:

Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se

podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu

autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão

promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano,

o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.

Desse modo, levando em conta os referidos dispositivos

e, ainda, o princípio da boa-fé objetiva, entender que não seria possível

a compensação ou desconto (conforme o Tribunal Regional) no presente caso

criaria a seguinte questão de iniquidade: por meio da indenidade da

utilização da máquina judiciária estar-se-ia protegendo o crédito dos

reclamantes em detrimento do crédito do empregador, que, por sua vez,

não haveria como executar os valores que lhe são devidos porque os

empregados não possuem patrimônio; porém, o empregador, que possui

patrimônio, além de ter sido ofendido em virtude da apropriação indébita

dos seus bens, ainda teria que pagar as verbas rescisórias fruto das

reclamações trabalhistas ajuizadas pelos autores dessa apropriação.

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do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.

Nesse contexto, como bem pontuado pelo Ministro

Cláudio Brandão na sessão de julgamento, a Justiça do Trabalho não pode

compactuar com o ilícito, mesmo que praticado pelo empregado.

Desse modo, não obstante o salário (crédito

trabalhista) goze de proteção constitucional, deve ser considerado o

crime praticado pelos réus contra o patrimônio do autor e em decorrência

da confiança depositada fruto do contrato de trabalho na análise da

compensação determinada pelo Tribunal Regional, sob pena de

enriquecimento ilícito do empregado, não tolerado pelo ordenamento

jurídico.

Assim, tendo em vista o confronto de princípios que

emerge da situação dos autos, verifica-se que deve ser levado em conta

o princípio da equidade, que na concepção de Mauricio Godinho Delgado

(Princípios da dignidade humana, da proporcionalidade e/ou razoabilidade

e da boa-fé no direito do trabalho - Diálogo do ramo juslaborativo

especializado com o universo jurídico geral - Revista de Direito do

Trabalho, vol. 102, p. 85 Abril/2001), é o poder conferido ao juiz de

adequar o comando genérico contido na norma jurídica às peculiaridades

diferenciadoras do caso concreto.

Pontua ainda o ilustre Ministro que:

A equidade, segundo a concepção dominante nos sistemas

romano-germânicos, traduz, pois, a ideia de suavização do rigor da

norma abstrata, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso

concreto posto a exame judicial. É que a lei, como se sabe, regula situações

‑ tipo, construindo dispositivos baseados nos elementos mais genéricos

dessa situação. As regras, por natureza, são gerais, abstratas e impessoais -

qualidades que, eventualmente, podem tornar seu comando excessivamente

rigoroso em vista das peculiaridades de uma situação particular sobre que ela

esteja incidindo. Assim, o intérprete e aplicador do direito (o juiz, intérprete

conclusivo do direito), através da equidade, mediatiza o comando abstrato,

ao torná‑ lo concreto.

Nesse contexto, diante das peculiaridades que

permeiam o presente caso, verifica-se que a compensação determinada é

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compatível com os valores de justiça social e equidade, tão almejados

pelo ordenamento jurídico, que têm por escopo fundamental a pacificação

das relações sociais.

No que tange à alegada violação do art. 373, II, do

Código Civil, que se segue no sentido de que “A diferença de causa nas

dívidas não impede a compensação, exceto se uma se originar de comodato,

depósito ou alimentos”, observa-se, por primeiro, que os alimentos a que

alude o referido artigo não dizem respeito ao salário (ainda que este

seja considerado verba alimentar), mas àqueles em que os parentes, os

cônjuges ou companheiros podem pedir uns aos outros os alimentos de que

necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,

inclusive para atender necessidades de educação (art. 1.694 do Código

Civil).

Ademais, mesmo nesses casos, excepcionalmente o STJ

tem mitigado a vedação do art. 373, II, do Código Civil, conforme se colhe

das seguintes decisões:

RECURSO ESPECIAL - EXECUÇÃO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA

SOB O RITO DO ART. 733 DO CPC - LIMITES DA MATÉRIA DE

DEFESA DO EXECUTADO E LIQÜIDEZ DOS CRÉDITOS DESTE -

PREQUESTIONAMENTO - AUSÊNCIA - COMPENSAÇÃO DE

DÍVIDA ALIMENTÍCIA - POSSIBILIDADE APENAS EM SITUAÇÕES

EXCEPCIONAIS, COMO IN CASU - RECURSO ESPECIAL NÃO

CONHECIDO.

1. É inviável, em sede de recurso especial, o exame de matéria não

prequestionada, conforme súmulas ns. 282 e 356 do STF.

2. Vigora, em nossa legislação civil, o princípio da não compensação dos

valores referentes à pensão alimentícia, como forma de evitar a frustração da

finalidade primordial desses créditos: a subsistência dos alimentários.

3. Todavia, em situações excepcionalíssimas, essa regra deve ser

flexibilizada, mormente em casos de flagrante enriquecimento sem causa dos

alimentandos, como na espécie.

4. Recurso especial não conhecido. (STJ-REsp 982.857-RJ, Rel. Min.

Massami Uyeda, 3ª Turma, DJe de 3/10/2008).

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É possível, em casos excepcionalíssimos, a compensação de pagamentos de

outras verbas com relação à pensão alimentícia. Os valores pagos pelo

agravado, in casu, referentes aos encargos de condomínio e IPTU, a fim de

evitar as perdas do imóvel de que é nu-proprietário, devem ser deduzidos do

total dos cálculos nos autos da execução, e planos de saúde, tratando-se pois

de um caso excepcional, onde entendimento contrário ensejaria

enriquecimento sem causa por parte do beneficiário. (STJ-AG-961271/SP,

Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe de 17.12.2007)

No tocante à alegada impenhorabilidade dos créditos

trabalhistas, verifica-se que neste processo foi determinada a

compensação de dívidas, de modo que eventual discussão acerca da

impossibilidade de arresto e/ou penhora dos créditos trabalhistas já foi

travada nos autos da medida cautelar de arresto intentada pelo autor,

cuja sentença já transitou em julgado, conforme consignado no acórdão

recorrido, que, inclusive, ressaltou que “foram observados o devido

processo legal, o contraditório e a ampla defesa e houve decisão liminar

autorizando o arresto dos créditos trabalhistas deferidos aos réus, sem

que tenham insurgido da sentença que tornou definitiva” (fls. 741).

Por fim, é de se destacar que os arestos trazidos a

confronto são imprestáveis ao fim colimado, porquanto nenhum deles

apresenta todas as peculiaridades que permeiam o presente caso. Incide

o óbice da Súmula nº 296 do TST.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo de

instrumento.

2.3 – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Infere-se da decisão regional a adoção do seguinte

posicionamento quanto ao tema epigrafado, fls. 715-716:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Discordam os réus da ausência de arbitramento de honorários

advocatícios em sentença, motivada no fato de que não se encontram

preenchidos os requisitos da Lei 5.584/1970, da Súmula 219 do c. TST e das

OJs 304 e 305 da SDI-1 do c. TST.

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Alegam que, por não se tratar de ação tipicamente trabalhista, deve ser

aplicado o disposto no artigo 20 do CPC, na forma da Instrução Normativa

27/2005, com a condenação do autor ao pagamento de honorários

advocatícios, por ter sido sucumbente em 80% dos pedidos formulados.

No entanto, ainda que se admitisse a aplicação no caso concreto do

artigo 5º da Instrução Normativa do C. TST 27/2005 (Exceto nas lides

decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são

devidos pela mera sucumbência), considera-se que a sucumbência do

autor foi mínima, pois todos os pedidos deduzidos na petição inicial

foram acolhidos em sentença, ainda que em montante inferior ao

pleiteado na exordial.

Assim, partindo-se de premissa de que a regra prevista no parágrafo

único do artigo 21 do CPC (Se um litigante decair de parte mínima do

pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários) somente

poderia beneficiar o autor, e não os réus, não há espaço para o arbitramento

de honorários advocatícios no presente recurso, por força da vedação legal

de reformatio in pejus.

Rejeita-se (destaques acrescidos)

Nas razões de recurso de revista, reiteradas no agravo

de instrumento, sustentaram os réus que o autor é o maior sucumbente,

pois foram julgados procedentes os pedidos e arbitrado o valor de

R$162.303,00 a título de reparação em virtude da apropriação indébita

de cabeças de gado, incluindo os lucros cessantes, “ficando implícito

o indeferimento do valor pedido de 5.996 arrobas, hoje no valor aproximado

de R$500.000,00, considerando o valor de R$97,00 por arroba - vide perícia

constante nos autos, definindo os valores bem acima da condenação”.

Apontaram violação dos arts. 114 da Magna Carta; 20,

caput e § 3º, 21, parágrafo único, e 23 do CPC; 5º da Instrução Normativa

nº 27 do TST. Apresentaram aresto ao confronto de teses.

Verifica-se que, in casu, não houve sucumbência

recíproca a ensejar a condenação em honorários advocatícios, porquanto,

consoante consignado na decisão recorrida, “considera-se que a

sucumbência do autor foi mínima, pois todos os pedidos deduzidos na

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petição inicial foram acolhidos em sentença, ainda que em montante

inferior ao pleiteado na exordial”.

Sendo assim, não atendido o pressuposto processual da

sucumbência, não se há de falar em condenação em honorários advocatícios,

permanecendo incólumes os artigos tidos por violados.

Por fim, registre-se que o recurso de revista não

alcança cognição pela alegada existência de divergência jurisprudencial,

tendo em vista que o único aresto colacionado é oriundo do Tribunal

Regional prolator do acórdão impugnado, o que desatende ao disposto na

Orientação Jurisprudencial nº 111 da SBDI-1 do TST.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo de

instrumento.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da 7ª Turma do Tribunal Superior

do Trabalho, por unanimidade, conhecer do agravo de instrumento e, no

mérito, negar-lhe provimento.

Brasília, 02 de dezembro de 2014.

Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº 11.419/2006)

MINISTRO VIEIRA DE MELLO FILHO Relator

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