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43/2007 1/26 Processo n.º 43/2007 (Recurso Contencioso) Date : 3 de Maio de 2007 Recorrente : Comissão de Revisão (Imposto do Selo) da DSF Recorrido : A ACORDAM OS JUÍZES NO TRIBUNAL DE SEGUNDA INSTÂNCIA DA R.A.E.M.: I - RELATÓRIO Tendo A interposto recurso contencioso de anulação da deliberação da Comissão de Revisão do Imposto do Selo, de 18 de Janeiro de 2006, foi ao mesmo dado provimento por sentença proferida pelo Tribunal Administrativo em 29 de Setembro de 2006. Decidindo, foi pelo Mmo Juiz daquele Tribunal anulada a identificada deliberação, que havia rejeitado a reclamação apresentada

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  • 43/2007 1/26

    Processo n. 43/2007

    (Recurso Contencioso)

    Date : 3 de Maio de 2007

    Recorrente: Comisso de Reviso (Imposto do Selo) da DSF

    Recorrido: A

    ACORDAM OS JUZES NO TRIBUNAL DE SEGUNDA

    INSTNCIA DA R.A.E.M.:

    I - RELATRIO

    Tendo A interposto recurso contencioso de anulao da

    deliberao da Comisso de Reviso do Imposto do Selo, de 18 de

    Janeiro de 2006, foi ao mesmo dado provimento por sentena proferida

    pelo Tribunal Administrativo em 29 de Setembro de 2006.

    Decidindo, foi pelo Mmo Juiz daquele Tribunal anulada a

    identificada deliberao, que havia rejeitado a reclamao apresentada

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    pela contribuinte "A" com fundamento na sua extemporaneidade.

    Deciso de anulao fundamentada no facto de tal deliberao

    se ter baseado em elementos errados, de facto e de direito.

    No se conformando com esta deciso foi, pelo ora recorrente,

    interposto o competente recurso por Carlos Fernando de Abreu vila, na

    qualidade de Presidente da Comisso de Reviso do Imposto do Selo,

    concluindo as suas alegaes da seguinte forma:

    A Sentena do Tribunal Administrativo proferida em 29 de Setembro de 2006,

    decidindo anular a deliberao da Comisso de Reviso do Imposto do Selo com fundamento

    na sua ilegalidade em virtude da suspenso do prazo para a reclamao apresentada pela

    contribuinte, por aplicao analgica do n. 2 do artigo 27. do CPAC, incorre em erro de

    interpretao e aplicao da lei.

    A Deciso recorrida padece de erro de julgamento, que se invoca, em virtude do

    fundamento em que assenta - a jurisprudncia dominante no Supremo Tribunal

    Administrativo de Portugal, que faz uma interpretao e aplicao ana1gica do disposto no

    artigo 31 da LPTA, cujo contedo semntico semelhante ao do artigo 27 do CPAC,

    aplicando o seu efeito interruptivo em sede de recurso administrativo, impulsionado pelo

    preceito constitucional do artigo 268.

    Erra a Deciso recorrida no ordenamento jurdico da Regio, o artigo 70 do CPA,

    que corresponde ao artigo 68 do CPA de Portugal, ressalva a previso da alnea a) que

    exige que da mesma conste o texto integral do acto, cumprindo-se assim o dever de

    fundamentao previsto no artigo 114 do CPA.

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    Porm, esta identidade aparente porque so diversas as solues apontadas pelo

    legislador em caso da notificao deficiente.

    Em Portugal, o interessado pode invocar o regime do artigo 31, n 2 da LPTA,

    idntico ao artigo 27, n 2 do CPAC, beneficiando da suspenso do prazo de impugnao

    administrativa a partir do momento em que requer Administrao a notificao dos

    elementos em falta, at notificao do requerido.

    A Deciso recorrida parte do pressuposto da aplicao do artigo 27, n 2 do CPA,

    com fundamento na existncia de uma lacuna no sistema jurdico da Regio.

    Porm, o legislador da Regio colmatou a lacuna existente na LPTA de Portugal

    atravs do artigo 108 do CPAC, que prev a aco para prestao de informao, consulta

    do processo ou passagem de certido, que pode ser interposta pelos interessados quando a

    notificao de actos administrativos omita as indicaes do artigo 70 do CPA conferindo a

    tal interposio o efeito suspensivo da contagem dos prazos de impugnao administrativa.

    Este o meio prprio e apto a efectivar as garantias da contribuinte no caso da

    Administrao no cumprir o seu dever legal imposto pelo artigo 114 do CPA de expedir

    uma notificao nos exactos termos do atrigo 70 do CPA.

    Inexiste qualquer lacuna pelo que o recurso aplicao analgica do artigo 27, n

    2 do CPAC aos prazos de impugnao administrativa, assim incorrendo a Sentena do

    Tribunal Administrativo numa errada interpretao e, consequentemente, errada aplicao

    da lei ao decidir pela ilegalidade da Deliberao da Comisso de Reviso do Imposto do Selo

    de 18 de Janeiro de 2006.

    In casu, a Administrao Fiscal fez uma correcta interpretao e aplicao da lei

  • 43/2007 4/26

    aos factos, no estrito respeito pelos princpios contidos no CPA concluindo-se, deste modo,

    que o acto da Comisso de Reviso do Imposto do Selo, cuja impugnao a contribuinte, ora

    recorrida requereu, legal e justo.

    Nestes termos, entende que deve ser concedido provimento ao

    presente recurso, revogando-se a sentena recorrida, mantendo-se a

    deciso Comisso de Reviso do Imposto do Selo de 18 de Janeiro de

    2006, que decidiu pela no apreciao da reclamao apresentada pela

    empresa A, por extemporaneidade da mesma, com as inerentes

    consequncias legais.

    A contra alega, em sntese:

    A Sentena do Tribunal Administrativo proferida em 29 de Setembro de 2006,

    decidiu anular a deliberao da Comisso de Reviso do Imposto do Selo com fundamento na

    sua ilegalidade em virtude de no ter respeitado a suspenso do prazo para a apresentao

    da reclamao por parte da contribuinte.

    A douta Sentena considerou que a Deliberao da Comisso de Reviso do

    Imposto de Selo ao deliberar rejeitar a "reclamao" apresentada pela ora recorrente por

    extemporaneidade, se baseou em elementos errados, quer de facto, quer de direito, o que

    gerou a sua anulabilidade.

    A douta sentena aplicou, por analogia, ao caso vertente o disposto no n 2 do art.

    27 do CPAC, urna vez que existe urna lacuna no sistema jurdico de Macau, no que diz

    respeito a esta matria.

    Tal deciso corresponde jurisprudncia uniforme do Supremo Tribunal

  • 43/2007 5/26

    Administrativo de Portugal, que faz urna interpretao e aplicao analgica do disposto no

    artigo 31 da LPTA, cujo contedo semntico semelhante ao do artigo 27 do CPAC,

    aplicando-se o seu efeito suspensivo em sede de recurso administrativo, de acordo com o

    preceito constitucional do art. 268.

    A entidade recorrente considera que no se deve aplicar o art. 27 da CPAC por

    analogia, mas sim o art. 108 e ss. do CPAC, considerando que no h lacuna na lei de

    Macau.

    Esta posio da recorrente totalmente incorrecta pois existe, efectivamente, uma

    lacuna na lei no sistema de Macau.

    A aco prevista no art. 108 e ss. do CPAC no co1matou qualquer lacuna na lei,

    pois a sua aplicao exige que no tenha sido dada satisfao a um pedido de informao

    anterior.

    O interessado no pode recorrer imediatamente "Aco para Prestao de

    Informao, Consulta de Processo ou Passagem de Certido", pois esta aco pressupe uma

    recusa prvia a um pedido de informao ou esclarecimento do interessado.

    A douta sentena recorrida no padece de qualquer erro quer seja de interpretao

    quer seja de aplicao da lei.

    Termos em que deve o presente recurso ser julgado

    improcedente, mantendo-se a sentena recorrida nos seus exactos termos,

    com todas as consequncias legais.

  • 43/2007 6/26

    O Digno Magistrado do MP emitiu o douto parecer seguinte:

    A douta sentena em crise colocou - e bem - as duas questes essenciais a que

    haveria que dar resposta no mbito do caso apresentado, ou seja,

    - se a certido requerida pela aqui recorrida, contendo os elementos do processo

    relativos fundamentao do acto da Comisso de Avaliao de Imveis era ou no

    essencial para a mesma exercer cabalmente o seu direito de impugnao e

    - em caso afirmativo, se com o requerimento de passagem dessa certido se

    suspende ou no o prazo de reclamao para a Comisso de Reviso.

    E contra a resposta afirmativa do Tribunal "a quo" a ambas as questes e a

    congruente concluso retirada que a recorrente se insurge nas suas alegaes, pese embora

    em sede de "concluses" das mesmas apenas ltima se reporte.

    Entende a recorrente que, por um lado, a notificao da deliberao da Comisso

    de Avaliao de Imveis enviada recorrida preenche todos os requisitos legais definidos no

    art. 70, CPA, dela constando o texto da acta da reunio daquela Comisso que decidiu sobre

    a liquidao adicional do Imposto de Selo sobre o terreno em questo, a identificao do

    procedimento, a data do acto, bem como o rgo competente para a apreciar a impugnao e

    respectivo prazo de interposio e, por outro, ainda que assim se no entendesse,

    justificando-se, pois, a certido requerida, o Mmo Juz "a quo", ao lanar mo, por analogia,

    ao disposto no n 2 do art. 27, CPAC, cometeu erro de julgamento, interpretao e

    aplicao da lei, j que, em seu critrio, no existe no ordenamento jurdico de Macau

    nenhuma lacuna a esse nvel, sendo de aplicar situao o contemplado no art. 108 do

    mesmo diploma legal, onde se prev a aco para prestao de informao, consulta de

  • 43/2007 7/26

    processo ou passagem de certido, meio idneo, que no foi utilizado pelo interessado.

    No que se revela essencial, cremos no assistir razo recorrente.

    Desde logo, da anlise da acta da Comisso de Avaliao de Imveis, constata-se

    que, apesar de a mesma conter valores de clculo do imvel para efeitos de liquidao, no

    apresenta a justificao dos valores alcanados, os quais apenas se podero encontrar nas

    respectivas "Notas Justificativas" que no haviam sido facultadas recorrida aquando da

    respectiva notificao.

    O conhecimento integral dessa justificao de valores apresenta-se como necessrio

    para boa apreenso dos motivos determinantes do acto, de molde a aceit-los ou, como foi o

    caso, impugn-los e, da, que o pedido de certido em causa se apresente como justificado e

    no como mero expediente dilatrio.

    Depois, , em nosso critrio, verdade o que sustenta a recorrente quando afirma

    inexistir no ordenamento jurdico de Macau qualquer lacuna relativa ao "beneficio" de

    suspenso do prazo de impugnao administrativa a partir do momento do requerimento

    Administrao para passagem de certido contendo os elementos em falta, pelo que se no

    justificaria, no caso, o recurso, por analogia, ao disposto no n 2 do art. 27, CPAC, fazendo

    apelo a tratamento similar na lei portuguesa: s que, a nosso ver, essa previso no a

    pretendida pela recorrente art. 108, CPAC - j que tal norma, reportando-se possibilidade

    de aco para prestao de informao, consulta de processo ou passagem de certido

    pressupe, claramente, situao em que a Administrao no d satisfao s pretenses

    formuladas o que, manifestamente, no o caso, j que a certido requerida foi passada e

    entregue voluntariamente, sem necessidade de recurso quele meio processual.

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    A situao encontra-se, pensamos, contemplada expressa e claramente no n 1 do

    art. 110 do diploma em questo que prev expressamente que "O pedido de prestao de

    informao, consulta de processo ou passagem de certido dirigido a rgo administrativo,

    quando se destine a permitir ao interessado o uso de meios procedimentais administrativos ou

    processuais contenciosos, determina, a partir da data da sua apresentao, a suspenso da

    contagem dos respectivos prazos." (sublinhado nosso).

    Sendo certo que, como j se viu, o pedido de certido em causa no constituiu,

    manifestamente, expediente meramente dilatrio (n. 3 do mesmo normativo), no se v onde

    o eventual bice aplicao de tal disciplina.

    Seja como for, a partir da mesma, no se questiona, antes se refora, o efeito

    suspensivo da contagem do prazo em questo, razo fundamental que conduziu tomada de

    posio agora em escrutnio.

    Da que, pese embora tendo sido efectuado indevido apelo a normativos por

    analogia, seja de manter a deciso recorrida, por persistir a razo ltima em que aquela se

    estribou, ou seja, que, em face da suspenso de prazo anunciada, a reclamao apresentada

    pela recorrida o foi em tempo, sendo que a deciso da Comisso de Reviso que a rejeitou

    precisamente com fundamento na sua intempestividade assentou em errados pressupostos de

    facto e de direito, justificando-se, pois, a respectiva anulao.

    Somos, pois, pelo no provimento do presente recurso.

    Foram colhidos os vistos legais.

  • 43/2007 9/26

    II - FACTOS

    Com pertinncia, tm-se por assentes os factos seguintes:

    Em 18 de Agosto de 2005, a ora recorrente apresentou a declarao modelo

    M/1 para pagamento de Imposto do Selo pela transmisso de bens, in casu, do prdio

    urbano sito na Estrada XXX, s/n, em Coloane, inscrito na matriz predial sob o n.

    XXX e descrito na Conservatria do Registo Predial sob o n. XXX, a fls XXX, do

    livro XXX, tendo, para o efeito, declarado como valor de aquisio do mesmo o

    montante de MOP$30,900,000.00 (trinta milhes e novecentas mil patacas).

    Na mesma data, a ora recorrente procedeu ao pagamento do respectivo

    Imposto do Selo no valor de MOP$973,350.00 (novecentas e setenta e trs mil,

    trezentas e cinquenta patacas), atravs da guia de pagamento n. XXX.

    Em 19 de Agosto de 2005, a ora recorrente adquiriu o prdio urbano acima

    identificado por escritura pblica.

    Em 5 de Setembro de 2005, por despacho do Senhor Director dos Servios

    de Finanas, sob proposta do chefe da Repartio de Finanas, foi autorizada a

    avaliao do prdio urbano acima identificado, tendo o processo sido remetido

    Comisso de Avaliao de Imveis.

    Em 6 de Outubro de 2005, a Comisso de Avaliao de Imveis deliberou,

    por unanimidade, fixar o valor da transmisso do imvel acima identificado em

    MOP$810,692,832.00 (oitocentos e dez milhes, seiscentas e noventa e duas mil,

  • 43/2007 10/26

    oitocentas e trinta e duas patacas), com base nos fundamentos constantes das notas

    justificativas a fls. 3 a 6 do PA, cujo teor aqui se d integralmente reproduzido.

    Em 7 de Novembro de 2005, foi enviada contribuinte, ora recorrente, a

    notificao da liquidao adicional no montante de MOP24,563,461.00 (vinte e quatro

    milhes, quinhentas e sessenta e trs mil, quatrocentas e sessenta e uma patacas),

    atravs do Ofcio n. 2623/RFM/DOI/NIS/2005, expedido sob registo postal, a fim de

    que procedesse ao seu pagamento no prazo de 30 (trinta) dias.

    Da notificao da liquidao adicional enviada contribuinte, ora recorrente,

    constavam, com excepo das notas justificativas que determinaram o valor do imvel

    para efeitos da liquidao, cpia da acta de reunio da Comisso de Avaliao de

    Imveis, a identificao do procedimento, a identificao do autor e a data do acto,

    bem como o rgo competente para apreciar a impugnao e o respectivo prazo de

    interposio, cujos teores aqui se do integralmente reproduzidos.

    Em 17 de Novembro de 2005, a contribuinte, ora recorrente, solicitou

    Direco dos Servios de Finanas (DSF) a emisso de uma certido sobre os

    elementos do processo relativo fundamentao do acto da Comisso de Avaliao de

    Imveis, invocando o estipulado no artigo 27, n. 2 do CPAC.

    Em 23 de Novembro de 2005, foi extrada a certido da acta da Comisso de

    Avaliao de Imveis que decidiu sobre a liquidao adicional do Imposto de Selo do

    terreno em causa, que foi levantada pela contribuinte, ora recorrente, no dia 2 de

    Dezembro de 2005, aps a notificao, por via telefnica, da Direco dos Servios de

    Finanas, no dia anterior.

  • 43/2007 11/26

    Em 7 de Dezembro de 2005, a contribuinte, ora recorrente, apresentou

    Comisso de Reviso do Imposto do Selo a reclamao do acto da Comisso de

    Avaliao de Imveis, que havia deliberado a liquidao adicional do Imposto do Selo

    sobre o imvel acima identificado.

    Em 18/01/2006, a Comisso de Reviso do Imposto de Selo deliberou em

    rejeitar a reclamao acima referida, por ser extempornea.

    A notificao da deliberao da Comisso de Avaliao de

    Imveis em referncia tem o seguinte teor:

    Fica V. Ex. notificado do teor da acta datada de 06/10/2005, cuja cpia segue

    em anexo ao presente ofcio e que aqui se d por reproduzida para todos os efeitos

    legais.

    Mais notifico, em sntese, que nos termos dos artigos 60, 61, 62 e 66 do

    Regulamento do Imposto do Selo, a Comisso de Avaliao atribuiu o valor de

    MOP$810,692,382 ao imvel, inscrito na matriz predial sob o n. XXX, sendo o

    valor do imposto devido resultante da liquidao adicional de $24,563,461, a pagar

    na Recebedoria da Repartio de Finanas destes Servios, no prazo de 30 (trinta)

    dias contado da data desta notificao.

    Do presente acto de liquidao cabe reclamao para a Comisso de Reviso,

    no prazo de 15 dias contado deste notificao, nos termos do artigo 92 do citado

    regulamento.

  • 43/2007 12/26

    Com os melhores cumprimentos

    Direco dos Servios de Finanas de Macau, aos 04 de Novembro de 2005.

    A acta que se anexa a dita notificao tem o seguinte contedo:

    44 93

    86/2004

    B C D

    E F

    Aos 6 de Outubro do ano 2005, pelas 17H50horas, reuniu, no Edifcio desta

    Direco dos Servios, a Comisso de Avaliao de Imveis a que se refere o artigo

    93 do Regulamento do Imposto do Selo, publicado no Boletim Oficial da RAEM N.

    44, I Srie, de 29 de Outubro de 2001 e o Despacho N. 86/2004 do Secretrio para

    a Economia e Finanas, estando presentes os seguintes membros, B, Presidente, C e

    D, vogais, E e F, representantes respectivamente do Sector imobilirio e do Sector

    de Construo Civil, procederam, aps recolha dos correspondentes dados,

    fixao do valor de avaliao inerente ao seguinte imvel:

    Processo n. XXX Matriz Predial XXX

    XXX

    Localizao Terreno situado na XXX Coloane

    XXX XXX XXX XXX

    Descrio na Conservatria do N. Folhas Livro XXX

    Registo Predial

  • 43/2007 13/26

    9044.8

    rea do terreno mq Situao jurdica do terreno Concesso por

    arrendamento

    A

    Adquirente(s)

    $22,000/mq

    Valor de venda

    9,044.80 mq

    rea bruta do terreno

    9,044.80 mq x 10 pisos = 90,448 mq

    rea til dos pisos

    $22,000 x 90,448 mq = $1,989,856,000

    Rendimento da venda

    30%

    Lucro do Construtor

    $1,989,856,000 1.3 = $1,530,658,462

    Custo total

    $1,530,658,462

    Custo total previsto

    a) $6,000 x 90,448 mq = $542,688,000

    Custo de construo

    b) ($6,000 x 8%) x 90,448 mq = $43,415,040

    Encargo dos consultores

  • 43/2007 14/26

    c) $600 x 90,448 mq = $54,268,800

    Juros previstos

    d) $880 x 90,448 mq = $79,594,240

    Prmio

    e) $810,692,382

    Valor do terreno

    Aps a discusso dos argumentos levantados, foi deliberado fixar a avaliao da

    transmisso efectuada pelo valor:

    Valor Total : Mop$810,692,382 por mq : Mop$89,631

    A, melhor identificada nos autos, interps oportunamente recurso

    contencioso fiscal da deliberao da Comisso de Reviso do Imposto de Selo, de

    18/01/2006, pedindo a declarao da sua nulidade, com fundamento na ilegalidade da

    mesma, bem como, sem prescindir e por mera cautela patrocnio, a anulao da

    deliberao da Comisso de Avaliao de Imveis, de 06/10/2005.

    Devidamente citada, a entidade recorrida sustentou a legalidade do acto

    recorrido, invocando ainda a excepo da irrecorribilidade da deliberao da

    Comisso de Avaliao de Imveis, de 06/10/2005, por entender que a recorrente

    impugnou simultaneamente dois actos..

    A acta da Comisso de Avaliao de Imveis apesar de conter valores de

  • 43/2007 15/26

    clculo do imvel para efeitos de liquidao, no tem a justificao dos valores

    encontrados.

    As razes justificativas subjacentes deliberao tomada constam das

    Notas Justificativas juntas a fls. 3 a 6 do PA, cujo teor seguidamente se transcreve:

    Relativamente ao terreno sito na XXX Coloane, com a rea de 9044,8 m2,

    foi fixado pela Comisso de Avaliao de Imveis o valor de $810.692.382, pelos

    seguintes motivos:

    1. A valorizao do prdio de $22.000/ m2 por ser de luxo. O referido valor

    foi calculado com base na rea til com uma reduo de 30%.

    2. Os custos de construo so de $6.000/ m2 por o prdio ser de luxo. Os

    materiais de construo so de maior exigncia, em termos de qualidade.

    Os estaleiros de obras esto situados num terreno rochoso inclinado havendo

    necessidade de nivel-lo previamente e por tal os custos de construo so

    mais elevados. Actualmente, os referidos custos variam normalmente entre

    $3.500 a $4.000/m2.

    3. Encargos financeiros:

    Normalmente referem-se ao pagamento de juros de financiamento

    resultantes de emprstimos obtidos para construo.

    Os referidos juros so geralmente calculados com base no perodo de

    construo (concluso em 2 anos), multiplicando o montante total do emprstimo

    (custos totais de construo) pela taxa bancria, cujo resultado representa cerca de

  • 43/2007 16/26

    10% do total dos custos de construo, conforme se indica:

    (90.448 m2 x $6.000) x 10% = $54.268.800

    $54.268.800 = $600/ m2 (juros de custos de construo)

    90.448 m2

    4. Honorrio de consultor:

    Segundo as estimativas para o sector de construo civil, esses honorrios

    atingem geralmente cerca de 8% do total dos custos de construo, que se

    discrimina:

    90.448 m2 x $6.000 x 8% = $43.415.040

    5. Mtodo do clculo de prmio de concesso:

    Foi utilizado o Mtodo de determinao do montante do prmio de concesso

    previsto no Regulamento Administrativo da RAEM N. 16/2004.

    O terreno em causa situa-se na XXX, Coloane;

    No se destina para a indstria. Antes da autorizao do plano de construo, o

    prmio tinha sido calculado com base na finalidade habitacional.

    Nos termos do Anexo III do Regulamento Administrativo N. 16/2004:

    XXX, Coloane Custo de construo de habitao/comrcio = Classe C;

    Nos termos da Tabela 1 do Regulamento Administrativo N. 16/2004:

  • 43/2007 17/26

    Custo de construo de habitao/comrcio de classe C (>7 pisos) - $2.500/m2.

    Valorizao para habitao de classe C - $4.700/ m2

    Frmula de clculo do prmio:

    (valorizao custos de construo) x 40%

    = ($4.700-$2.500) x 40%

    = $880/m2

    Pelo que, o valor do prmio de concesso do terreno em apreo foi avaliado em

    $880/m2 da rea bruta de construo.

    Nestes termos e atendendo situao actual do referido terreno, a Comisso fixou

    unanimamente o valor de $810.692.382, que serve de base para a liquidao do

    valor do imposto do selo por transmisso de bens.

    XXX 9045

    $810,692,382

    1. $22,000/ m2

    30%

    2. $6,000/ m2

    $3,500-$4,000.

    3.

    2 (2 )() x

  • 43/2007 18/26

    10%

    90,448 m2 x $6,000 m2 x 10% = $54,268,800

    $54,268,800/90,448 m2 = $600/ m2 ()

    4.

    8%

    90,448 m2 x $6,000 x 8% = $43,415,040

    5.

    16/2004

    XXX

    16/2004

    XXX / = C = C

    16/2004

    C /() -- $2,500 / 2

    C -- $4,700 / 2

    ( ) x 40%

    = (4,700-2,500) x 40%

    = $880 / 2

    $880

    $810,692,382

    IV FUNDAMENTOS

  • 43/2007 19/26

    1. H duas questes que importa apreciar, alis, bem

    identificadas na sentena recorrida:

    - A certido requerida pela ora recorrente ou no essencial para

    ela exercer cabalmente o seu direito de impugnao?

    - Em caso afirmativo, com o requerimento da passagem da

    certido se suspende ou no o prazo da reclamao para a

    Comisso de Reviso?

    2. Sobre a primeira daquelas questes duas situaes se podem

    observar: ou a certido no releva de todo para a impugnao ou se

    afigura relevante.

    Se no releva de todo, nesse caso, a pretenso no poder ser

    atendvel, na medida em que dessa feita se estaria a praticar um acto intil

    e dar-se-ia vantagem a quem pretenderia to s beneficiar de uma

    estratgia dilatria, com a qual o Direito no pode pactuar.

    Se, na segunda hiptese, a certido aparenta relevncia, das duas

    uma: ou essa relevncia essencial e imprescindvel para se poder

    desenvolver a argumentao em que se louvar a impugnao ou ser

    meramente adjuvante. Se essencial e imprescindvel, est bem de ver,

    sob pena de se negar a prpria via impugnatria, que a lei no pode deixar

    de tutelar a suspenso ou interrupo do prazo, pois que de outra forma o

    interessado estar impossibilitado de exercer o seu direito. No importar,

  • 43/2007 20/26

    neste caso, discutir aquilo que resulta como uma evidncia.

    Resta, ento, a hiptese de a certido pedida adjuvar

    fundamentao do recurso, situao em que se podero colocar as

    possibilidades, face aos diversos interesses em jogo, de admissibilidade

    ou no de suspenso da contagem do prazo.

    evidente que s esta ltima hiptese assume contornos que

    importa integrar, pois que nos casos de desnecessidade ou

    imprescindibilidade absoluta, a resposta no sentido da recusa ou da

    admissibilidade ser uma evidncia nos prprios termos. E no deixa de

    se afigurar, por vezes, algo difcil, estabelecer o que seja relevante ou

    essencial, ainda que no imprescindvel para fundamentar uma

    impugnao.

    Questo que no se deixa de prender com a perfeio e

    compleitude do prprio acto de notificao do acto e saber se este

    traduziu todos os elementos indispensveis a uma correcta impugnao.

    3. A lei parece indicar que todos os fundamentos devem constar

    da publicao - art. 70 e 113 do CPA, contrariamente ao que resultava

    do anterior n. 2 do art. 30 da LPTA que apenas exigia que a

    fundamentasse constasse da publicao, quando possvel, ainda que por

    extracto. Ora acontece que h muitas fundamentaes extensas e

    desenvolvidas que no se compadecem com a publicao integral, tendo,

  • 43/2007 21/26

    nesses casos, os destinatrios o direito de se inteirarem das partes

    omitidas.1

    Importa, ento, neste caso, dentro de uma ordem lgica do

    conhecimento das questes, apreciar da relevncia da certido pedida.

    4. A entidade recorrida sustenta que o acto de notificao da

    liquidao adicional da Comisso de Avaliao de Imveis se encontra

    devidamente fundamentado, no enfermando de quaisquer vcios. A

    destinatria ter tido, contrariamente ao que decidido foi, acesso aos

    elementos, bem como ao raciocnio argumentativo que esteve na base da

    deciso da Comisso de Avaliao de Imveis. A fundamentao do acto

    de liquidao adicional foi expressa de forma clara, suficiente e

    congruente, preenchendo, deste modo, o dever genrico de

    fundamentao dos actos administrativos previsto no artigo 114, n 1,

    alnea a) do CPA.

    Se assim fosse, como acima visto, intil seria a certido e intil,

    porque dilatria, intil se tornando a discusso sobre a suspenso do

    prazo de impugnao.

    No entanto, no se deixa de observar que a prpria entidade

    recorrida que no deixa de abrir a eventualidade da relevncia da certido,

    dizendo que, nesse caso, o interessado particular tinha ao seu dispor o 1 - Lino Ribeiro,Manual Elementar de DPA de Macau1997, 116

  • 43/2007 22/26

    mecanismo do artigo 108 do CPAC, que prev a aco para prestao de

    informao, consulta do processo ou passagem de certido, que pode ser

    interposta pelos interessados quando a notificao de actos

    administrativos omita as indicaes do artigo 70 do CPA, conferindo a

    tal interposio o efeito suspensivo da contagem dos prazos de

    impugnao administrativa.

    E esta ressalva bastaria para resolver esta questo, em face da

    admissibilidade de relevncia que no caso concreto no se deixa de

    evidenciar, no podendo ser mais elucidativas as razes aduzidas na

    sentena recorrida: entendemos que s com cpia da acta da Comisso

    da Avaliao, sem as Notas Justificativas, no permite ora

    recorrente exercer plenamente o seu direito de impugnao, visto que

    como acima j referimos, apesar a acta da Comisso conter valores de

    clculos, no tem a justificao dos valores encontrados, pelo que a

    recorrente no pode saber, em concreto, quais so os fundamentos dos

    valores fixados, conhecimento esse que indispensvel para a

    recorrente decidir se conformar ou recorrer da deliberao da fixao

    do valor do imvel para efeitos de liquidao adicional.

    5. Assim se entra ento na abordagem da questo da suspenso

    da contagem do prazo para a referida impugnao.

    Pretende a recorrente que o Mmo Juiz ter laborado em erro ao

    fundamentar a sua deciso com um acrdo do STA de Portugal numa

  • 43/2007 23/26

    situao diferente, no aplicvel ao caso, e num quadro legal diferente

    daquele que vigora na RAEM.

    E estende-se em douta e detalhada argumentao para explicar

    das suas razes que aqui se no vo escalpelizar, pela razo simples de

    que a citao do dito acrdo se deve entender como um reforo da

    argumentao que aquele Mmo Juiz usou para enfatizar a necessidade de

    no deixar sem resposta e enquadramento legal uma situao que urgia

    um tratamento similar para cabal, substancial e efectivo exerccio do

    direito de impugnao do acto.

    O fundamento escolhido pelo Mmo Juiz recorrido foi o da

    aplicao analgica ao presente caso do regime das situaes previstas n

    2 do art 27 do CPAC. No fundo, o que o Mmo Juiz visou foi garantir a

    substancialidade do exerccio do direito de impugnao. Por razes de

    justia e para, por essa via, no anular a prpria admissibilidade do

    direito.

    Mas diz a recorrente que essa perspectiva garantstica ficaria

    salvaguardada com o recurso ao mecanismo previsto no artigo 108 do

    CPAC, que prev a aco para prestao de informao, consulta do

    processo ou passagem de certido, que pode ser interposta pelos

    interessados quando a notificao de actos administrativos omita as

    indicaes do artigo 70 do CPA conferindo a tal interposio o efeito

    suspensivo da contagem dos prazos de impugnao administrativa.

    S que nesse caso passa-se a admitir aquilo que at a no se

  • 43/2007 24/26

    admitia, ou seja, que a notificao da deliberao da Comisso de

    Avaliao de Imveis no preenchia todos os requisitos legais definidos

    no art. 70 do CPA, tendo-se que admitir que houve algum vcio ou

    insuficincia, recusa da concesso ou passagem de elementos ou certido,

    incompleio ou imperfeio da notificao justificativa do recurso a tal

    expediente. Na tese da recorrente, se tal se verificar, isto se a notificao

    no contiver os requisitos legais, admissvel o recurso intimao

    prevista no art. 108, em especial ao seu n.2 que remete para o n. 2 do

    art. 27. Mas pergunta-se? Ento, a, j no h lacuna? que a situao,

    mesmo a do n. 1 do art. 108 do CPAC rege para as situaes de falta de

    resposta ou satisfao das pretenses formuladas ao abrigo dos art.s 63 a

    67 do CPA ou de lei especial, o que sempre pressupe alguma

    irregularidade ou recusa na resposta, o que no o caso; como o no ser

    a previso do n. 2 do art. 108 do CPAC, ao recepcionar as situaes do

    n.2 do art. 27, aplicvel aos casos de interposio de recurso

    contencioso.

    E se assim , onde reside a regulamentao directa e autnoma

    da situao de suspenso de contagem dos prazos para as impugnaes

    graciosas?

    Aqui chegados, parece que no h dvida, antes pelo contrrio,

    parece haver unanimidade, quanto necessidade de garantir o exerccio

    do direito de impugnao. S que o recorrente defende que o prazo

    expirou, porquanto no foi seguido o meio processual aplicvel situao

    em concreto. Como se viu, a sua proposta tambm no regulava a

  • 43/2007 25/26

    situao directamente, sendo ento prefervel ratificar o entendimento

    desenvolvido na sentena recorrida, porquanto meio e situao mais

    directos e mais prximos do que se pretende regular, ou, usando os

    termos da lei, procedendo em ambas as situaes as mesmas razes

    justificativas da regulamentao do caso (art. 9, n. 2 do CC).

    6. S que antes de recorrer analogia, parece descortinar-se

    norma expressa reguladora da situao, aqui se acompanhando o

    entendimento propugnado pelo Digno Magistrado do MP no seu douto

    parecer. Na verdade, ainda que no com inteira correco de insero

    sistemtica, o legislador sentiu necessidade de regular expressamente uma

    situao que a todos os ttulos se impunha, como acima se viu, e, da,

    aproveitando a regulao dos meios processuais, a propsito da intimao,

    mas ainda num mesmo domnio e que se prende exactamente sobre os

    procedimentos destinados integrao do direito informao, enquanto

    pressuposto para a reaco impugnatria dos actos, previu, no n. 1 do

    artigo 110 do CPAC, a suspenso da contagem dos prazos, no apenas

    para os casos do art. 27, n. 2 do mesmo Cdigo, mas de forma a permitir

    aos interessados o uso de meios procedimentais administrativos, para

    alm dos processuais contenciosos.

    Assim, com estes fundamentos, se chega ao mesmo resultado

    que imps a deciso tomada, que se impunha no caso concreto e a que

    sempre se teria de chegar, concluindo-se da necessidade relevante, como

  • 43/2007 26/26

    se concluiu, da obteno da peticionada certido para interpor a

    pretendida impugnao ou reclamao.

    Nestes termos o recurso no deixar de improceder.

    IV - DECISO

    Pelas apontadas razes, acordam em negar provimento ao

    presente recurso contencioso.

    Sem custas, vista a iseno da entidade recorrente.

    Macau, 3 de Maio de 2007

    Joo A. G. Gil de Oliveira

    Chan Kuong Seng

    Lai Kin Hong