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PROCESSO DE REVISÃO DO TC N° 14/2012; PROCESSO DE CONTRUÇÃO DO TC-PRAZERES; PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TC-BALSAS; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DA COMUNIDADE DOS PRAZERES; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DOS RESIDENTES DO RIO BALSAS PROCESSO DE REVISÃO DO TC N° 14/2012; PROCESSO DE CONTRUÇÃO DO TC-PRAZERES; PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TC-BALSAS; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DA COMUNIDADE DOS PRAZERES Guilherme Moura Fagundes 08/01/2016

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PROCESSO DE REVISÃO DO TC N° 14/2012; PROCESSO DE CONTRUÇÃO DO TC-PRAZERES;

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TC-BALSAS; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DA COMUNIDADE DOS PRAZERES; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DOS

RESIDENTES DO RIO BALSAS

PROCESSO DE REVISÃO DO TC N° 14/2012; PROCESSO DE CONTRUÇÃO DO TC-PRAZERES; PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TC-BALSAS; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL

CONSOLIDADO DA COMUNIDADE DOS PRAZERES

Guilherme Moura Fagundes

08/01/2016

PROCESSO DE REVISÃO DO TC N° 14/2012; PROCESSO DE CONTRUÇÃO DO TC-PRAZERES;

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TC-BALSAS; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DA COMUNIDADE DOS PRAZERES; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DOS

RESIDENTES DO RIO BALSAS

INDÍCE

PROCESSO DE REVISÃO DO TC N° 14/2012................................................................................. pg. 3

PROCESSO DE CONTRUÇÃO DO TC-PRAZERES......................................................................... pg. 11

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TC-BALSAS........................................................................... pg. 21

DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DA COMUNIDADE DOS PRAZERES..... pg. 26

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PROCESSO DE REVISÃO DO TERMO DE COMPROMISSO N° 14/2012 COM A COMUNIDADE ASCOLOMBOLAS-RIOS

II Oficina de Revisão do TC N° 14/2012

Data 10, 11 e 12/06

Local Mateiros (TO)

Atividade Oficina de apresentação do Plano de Trabalho e validação da Nota Técnica de revisão do TC

Metodologia A oficina foi se balizou na pauta partilhada previamente entre os participantes. A moderação da mesma foi exercida pela analista Carol Barradas, que propôs a organização do público em formato de círculo no sentido de fomentar a participação. Foi utilizado equipamento de projeção para a visualização e aprendizagem de leitura dos mapas de queima e dos mapas de combustível, por parte do analista Máximo Menezes. Já o presidente da associação, sr. Tocha, utilizou-se do Flip-Chart e folhas de cartolina para desenhar suas técnicas de feitura de aceiros em veredas.

Observações

A II Oficina foi a mais branda de todas, tendo em vista que o principal assunto discutido foi o manejo do fogo – um tema que, com a emergência do Manejo Integrado do Fogo (MIF), tem se mostrado apaziguador de conflitos e fomentador de alianças. Cumpre ainda ressaltar que esta primeira oficina não contou com a participação de membros externos, seja da parte quilombola (MPF, APATO, COETO), seja da parte da EESGT (DISAT/ICMBio).

Fotos

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III Oficina de Revisão do TC N° 14/2012

Data 04, 05 e 06/08

Local Mateiros (TO)

Atividade Oficina dedicada à discussão de temas ainda não pactuados para a construção do novo TC. Especificamente, debateu-se, e chegou a certo nível de encaminhamento, sobre os seguintes tópicos: arrendamento, ampliação das roças de pasto e limitação do número de cabeças de gado. Ademais, as questões em torno da diferenciação entre queimadas e incêndios, bem como a definição dos “signatários” foram aventadas embora não exauridas.

Metodologia Para a elaboração da metodologia empregada nesta terceira oficina foi realizada uma reunião preparatória, na sede do ICMBio em Brasília, que, além do consultor, contou com a participação de Cassiana Moreira (GIZ), Carol Barradas (EESGT/ICMBio), Marco Borges (EESGT/ICMBio) e João Madeira (DISAT/ICMBio). Nesta reunião foi definida a moderação da oficina (Cassiana Moreira), a pauta e a dinâmica de abertura do encontro (“dinâmica do fósforo).

Observações

Diferente da precedente, a terceira oficina contou com a participação de um representante do ICMBIo de Brasília (ICMBio)e de pesquisadores da UnB vinculados ao projeto Cerrado-Jalapão. Ademais, o Ministério Público Federal marcou participação na figura do analista Vinicius Rincon. Porém, da parte de acessória da Ascolombolas-Rios nenhuma instituição (como a COQETO e APATO) pode participar, o que acarretou em insegurança por parte da associação na tomada de decisão dos temas mais controversos.

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Fotos

Visita de assessoria à Ascolombolas-Rios

Data 04 a 09/08

Local Mateiros (TO)

Atividade Assessoria técnica à Ascolombolas-Rios na elaboração da proposta de revisão de TC por parte da associação.

Metodologia Tratou-se de fomentar a importância de que a comunidade

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confeccionasse sua própria proposta de revisão do TC. Para tal, o consultor teve que ficar durante seis dias na cidade de Mateiros até que os associados conseguissem se reunir no domingo, dia 09/08. A reunião foi realizada na sede da escola estadual, que forneceu equipamentos de projeção visual por meio do qual pode-se contribuir coletivamente o texto base da proposta da Ascolombolas-Rios.

Observações

Esta visita de assessoria técnica foi reconhecida por ambas as partes como sendo de fundamental importância no rendimento da IV oficina de revisão do TC. Afinal, diferente das oficinas precedentes, nesta última pode-se constatar um significativo amadurecimento no teor dos assuntos e nas tomadas de decisões. Ademais, foi de sua importância para o amadurecimento institucional da associação, tendo em vista que os associados puderam se sentir como promotores e não apenas expectadores dos temas debatidos.

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IV Oficina de Revisão do TC N° 14/2012

Data 10 e 11/11/2015

Local Mateiros (TO)

Atividade Oficina dedicada à discussão dos quesitos pactuados na III Oficina bem como avançar o debate sobre os temas ainda não abordados, a saber: a definição dos “signatários” do TC, questões associadas ao gado (limite do rebanho, arrendamento, abertura de novos pastos e plantio de gramíneas exóticas) e temas ainda sem propostas (mecanização, visitação/turismo, piscicultura e roça comunitária).

Metodologia Na segunda-feira, véspera da oficina, foi realizada uma reunião preparatória na sede do Parque Estadual do Jalapão, com a presença do consultor Guilherme Moura (GIZ), Cassiana Moreira (GIZ), Máximo Menezes (EESGT/ICMBio) e Carol Barradas (EESGT/ICMBio). Além de concretizar a programação, decidiu-se que, pela segunda vez, a moderação da oficina ficou a cabo de Cassiana Moreira (GIZ). A moderadora deu início à oficina com uma dinâmica de apresentação individual e os trabalhos foram levados a cabo seguindo o mesmo formato das oficinas precedentes: uso de painel de anotação, projeção de textos e imagens e incentivo à participação dos presentes.

Observações

Esta quarta oficina contou com a participação da APATO, pela figura de Paulo Rogério, e do procurador federal do Estado do Tocantins, Álvaro Manzano. Suas presenças contribuíram significativamente para o fortalecimento e segurança da Ascolombolas-Rios em suas tomadas de decisão. Ademais, cumpre ressaltar que o trabalho prévio de confecção da proposta da associação foi de suma importância tanto para o rendimento da oficina como também para o amadurecimento institucional dos associados.

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PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TERMO DE COMPROMISSO COM A COMUNIDADE DOS PRAZERES

I visita oficial à Comunidade dos Prazeres

Data 30 e 31/05/2015

Local Comunidade dos Prazeres, Formosa do Rio Preto (BA)

Atividade Estadia na residência de Sr. Ferreira, liderança local, apresentação da consultoria e visita na casa dos moradores no intuito de sensibilizar para os trabalhos de confecção do TC e pactuar o calendário de atividades futuras

Metodologia Por se tratar da primeira visita de apresentação do consultor e da consultoria, optou-se por uma aproximação despretensiosa, focada na construção de confiança entre as partes

Observações

Nesta primeira visita, eu e o analista Máximo Menezes conseguimos visitar as seguintes famílias: Antônio Puleiro, Tonho de Zezinho, Dudu, Nerci, Helton e Ney

Fotos

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Reunião do Conselho da EESGT

Data 25, 26 e 27/06

Local Vila de Panambi e Comunidade dos Prazeres, Formosa do Rio Preto (BA)

Atividade Apresentação do Plano de Trabalho da consultoria aos Conselheiros da EESGT e visita técnica à Comunidade dos Prazeres (vistoria da voçoroca da serra Geral e conversa com residentes)

Metodologia Após a finalização da reunião ordinário do Conselho, os conselheiros, dentre os quais dois representantes da Comunidade dos Prazeres, deliberaram por uma visita técnica à comunidade no

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intuito de estreitar a relação entre a EESGT e seus comunitários residentes.

Observações

Embora não tenha sido planejado previamente, o tema do TC acabou por entrar no escopo da visita técnica na conversa com alguns moradores. De início com certa desconfiança, mas aos poucos as conversas foram se mostrando de grande importância para a consolidação do calendário de atividades futurar para a elaboração do TC.

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Oficina de construção do TC-Prazeres

Data 04 e 05/07/2015

Local Comunidade dos Prazeres, Formosa do Rio Preto (BA)

Atividade Oficina de esclarecimentos sobre as definições, enquadramentos jurídicos, direitos, medos e expectativas que envolvem o TC.

Metodologia Pensada para ser um evento participativo à céu aberto, a oficina foi realizada em frente da escola da comunidade, onde todos se sentaram em cadeiras dispostas em círculos. Para o fomento da discussão, a oficina foi inspirada pelas abordagens de analise institucional, desenvolvida por Félix Guattari, em meio a qual parte-se da potencialização dos afetos mais eminentes na coletividade analisada. No caso de Prazeres, constatou-se que um dos afetos de maior relevância se tratava do medo. Com efeito, a oficina teve como objetivo principal permitir que os analisados elaborassem

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coletivamente seus medos conexos ao TC para então poder retrabalha-los com outras imagens passiveis de ocupar estes espaços imaginários.

Observações

A metodologia baseada na elaboração dos medos e suas esperanças complementares foi aderida de maneira satisfatória pela arena. Ao final, foi atingido um dos objetivos principais, qual seja: reatualizar o circuito de afetos que, historicamente, mobilizam a relação entre EESGT/ICMBio e Comunidade dos Prazeres.

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Pesquisa de campo

Data 18 a 23/08 e 27 a 31/08

Local Comunidade dos Prazeres, Formosa do Rio Preto (BA)

Atividade Levantamento de informações referentes às áreas de uso, histórico da comunidade, construções e demandas étnico-fundiárias, com vistas à elaboração de Diagnóstico socioambiental e cadastramento dos residentes da Comunidade dos Prazeres.

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Metodologia Os trabalhos foram divididos em duas frentes. Enquanto o consultor fazia entrevistas, percursos comentados e elaborava a genealogia do parentesco da comunidade, o analista do ICMBio aplicava o questionário de cadastramento. Estes procedimentos foram realizados de casa em casa, totalizando cerca de 20 visitas.

Observações

De início, o trabalho de cadastramento realizado pelo analista do ICMBio causou um certo desconforto e desconfiança entre os locais, o que acabou por se refletir no desenvolvimento da pesquisa que estava sendo realizada pelo consultor. Ao final, porém, este equivoco foi sanado e os trabalhos puderam ter continuidade.

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Oficina de validação do diagnóstico socioambiental

Data 15/11

Local Comunidade dos Prazeres, Formosa do Rio Preto (BA)

Atividade Reunião com o objetivo de validar as informações relatadas no documento de diagnóstico socioambiental da comunidade e levantar os encaminhamentos para a confecção do Termo de Compromisso

Metodologia Leitura do documento para os comunitários, debate a partir da imagem de satélite referente às áreas de uso da comunidade e apresentação da genealogia de parentesco

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Observações

Primeiramente foi realizada uma reunião particular com sr. Ferreira, liderança da comunidade, na qual o diagnóstico (que já havia sido entregue na semana anterior) foi lido na integra com vistas a possíveis alterações de conteúdo. Em seguida, foi realizada uma reunião aberta, com notável participação dos jovens da comunidade, onde novamente o relatório foi lido e debatido. Ao final do processo, o relatório foi aprovado pelos comunitários, acrescido de algumas pequenas alterações (segue em anexo).

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PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TERMO DE COMPROMISSO COM RESIDENTES DO RIO BALSAS

I visita oficial aos residentes do rio Balsas

Data 09/06/2015

Local Residência de sr. Adalton e sra. Isaura. Brejo da Onça, Almas-TO

Atividade Reunião de sensibilização e pactuação de calendário de atividades futuras

Metodologia Em razão da proximidade amistosa construída desde 2014 com o casal Adalton e Isaura, a primeira oficina foi estruturada de maneira cordial e descontraída. Para tal, fundamentou-se num almoço coletivo, preparado pelos brigadistas Manoel e Ubiratãn (este último sobrinho da sra. Isaura). Todavia, antes, durante e após o almoço a conversa foi atravessada pelo tema do TC (já debatido em outras ocasiões), mas também por outros temas de interesse dos interlocutores, tais como: suas criações, disputas fundiárias e “causos” da região.

Observações

Diferente das seguintes, nesta primeira Oficina eu não contei com o apoio do analista Máximo Menezes, que estava em reunião com os produtores rurais da Vila de Panambi. Por esta razão, fui acompanhado apenas pelo brigadista Manoel e o chefe de brigada Ubiratãn. Ademais, sr. Adalton também estava ausente, em busca de uma novilha parida, ainda que a visita tenha sido previamente agendada. De todo modo, a conversa com sra. Isaura foi muito proveitosa, permitindo-nos conhecer um pouco mais do universo do casal e agendar nossa próxima visita com vistas ao diagnóstico socioambiental e cadastramento. Ao fim da conversa, Ubiratãn e

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Manoel aproveitaram a viagem para fazer um aceiro na beira da estrada de acesso à residência do casal.

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Pesquisa de campo com residentes do rio Balsas

Data 10 a 12/08/2015

Local Residência de sr. Adalton e sra. Isaura. Brejo da Onça, Almas-TO

Atividade Levantamento de informações para fins de diagnóstico socioambiental

Metodologia O trabalho de campo para construção do diagnóstico socioambiental se fundamentou em duas metodologias basilares: a observação participante e os percursos comentados. Técnica de pesquisa fundante da antropologia moderna, a observação participante parte da premissa segundo a qual o conhecimento e assimilação de uma realidade exótica necessita, a princípio, da suspenção provisório das premissas e valores que orientam o olhar do analista. Com efeito, buscou-se observar ao invés de antecipar, ouvir ao invés de julgar, e assim dar vazão às categorias nativas que orientam as classificações e modos de uso do território do casal. Já os “percursos comentados” foram de grande serventia para uma melhor compressão dos movimentos bovinos. Para isso, eu, Máximo e Adalton percorremos pelas por três veredas (Matança, Brejo da Onça e Cavalo Queimado) em busca de seu pequeno plantel.

Observações

Cabe frisar que a pesquisa foi empreendida, em sua maior parte, com o sr. Adalton, tendo em vista que, em sintonia com as lógicas patriarcais do Brasil rural, sra. Isaura sentia-se constrangida em se expressar sobre temas relacionados ao gado, à roça e ao fogo que são, em sua maior parte, exercidos pelo homem.

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Reunião de validação do diagnóstico socioambiental

Data 16/11/2015

Local Rancho de sr. Adalton e sra. Isaura, Rio da Conceição (TO)

Atividade Reunião de validação do diagnóstico socioambiental

Metodologia A reunião de validação se consistiu em um almoço coletivo, preparado previamente no escritório da EESGT e servido no rancho que o casal possui próximo na entrada da cidade de Rio da Conceição (TO). Após o almoço e conversas iniciais, o relatório foi lido na integra para o casal, dando espaço para contestações ou esclarecimentos. Ao final da leitura o casal se sentido contemplado pelo texto, aprovando o relatório sem alterações.

Observações

O local da reunião teve que ser improvisado às pressas pois o casal não foi encontrado na sua residência como combinado. Porém, ao sabermos que eles estavam em Rio da Conceição no intuito de fazerem compras, não foi difícil localizá-los e a reunião/almoço ocorreu com sucesso.

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COMUNIDADE DOS PRAZERES

DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL PRELIMINAR

Guilherme Moura Fagundes

(Antropólogo UnB/Consultor GIZ)

1. Introdução

O presente diagnóstico preliminar é resultado de trabalho de campo de nove dias

realizado em duas etapas: de 19 a 23/08, e de 27 a 30/08. O planejamento das atividades

foi acordado com os comunitários em Oficina ocorrida nos dias 04 e 05/07, quando os

representantes agendaram as datas de visitas às suas casas. Formulado para ser

empreendido em uma única viagem, o campo teve que ser seccionado em razão da

desistência de algumas famílias, pertencentes ao mesmo tronco1, que alegaram sentirem

inseguros quanto à rumores de que o levantamento de informações estaria sendo

motivado pelo interesse institucional de coloca-los “em cabresto” ou até mesmo

“expulsá-los” de suas ocupações.

Além do pouco tempo de campo disponível para o emprego da abordagem

etnográfica, o que lhe impossibilita predicar de um estudo eminentemente

antropológico, a pesquisa foi inicialmente apresentada à comunidade sob a rubrica de

“cadastramento” – instrumento de gestão utilizado pelo ICMBio para sistematizar

informações sobre comunidades tradicionais residentes e/ou usuárias de Unidades de

Conservação de proteção integral. Este equívoco inicial gerou uma série de mal- 1 Trata-se da família estendida do Sr. Dudu, filho de Zezinho Moreira e neto de Pantaleão (Cf. Genealogia de Parentesco)

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entendidos e desconfortos entre os residentes, em especial no que toca à insegurança

fundiária vivida pelos mesmos. Em larga medida, o caráter “preliminar” deste

diagnóstico se justifica por estas dificuldades encontradas em campo para a realização

de um estudo de aderência local e participação plena de todos os residentes da

comunidade.

Apesar destas dificuldades apresentadas, parte da comunidade acolheu a pesquisa e

reconheceu sua importância, seja para o refinamento conceitual de um Termo de

Compromisso por vir, seja ainda no sentido de contribuir com o levantamento

etnohistórico da comunidade com vistas a futuras indenizações, desenhos fundiários

específicos e/ou reassentamentos. Com efeito, foram realizadas dezoito entrevistas

abertas (sendo onze na primeira etapa e sete na segunda) com enfoque em três grandes

temas, a saber: a história das famílias, dinâmicas de uso dos gerais para o gado

(incluindo o uso do fogo, o “mal de toque” e usos dos capins exóticos) e, em menor

profundidade, as demandas pela mecanização das roças. Ademais, as perguntas

referentes às relações de descendência e aliança tornou possível a elaboração inicial de

uma genealogia de parentesco da comunidade cujo diagrama se encontra inserido do

presente relatório.

2. História da ocupação

Muitas páginas ainda hão de ser escritas sobre a história pré-colonial do Jalapão, em

especial quanto à sua parte meridional. Afinal, a maioria das fontes documentais foram

elaboradas pelas (ou ao menos sobre) oligarquias regionais. No registro da Arqueologia,

referências asseguram o transito indígena pela região antes da chegada dos

colonizadores. Em apenas doze dias de trabalho de campo, Oliveira e Aguiar (2011)

conseguiram mapear a existência de dezoito sítios arqueológicos na região do rio Sono

que, em sua maioria, estão localizados em córregos e rios menores. De acordo com os

autores, “a opção pelos tributários sugere um padrão de assentamento que prioriza os

fluxos de água de menor bojo” (2011:22). Dentre suas descobertas, destacam-se um

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enfileiramento de seixos no município de Lizarda-TO e um sítio megalítico em São

Félix-TO, indicando o potencial da região para uma agenda de pesquisas arqueológicas.

Por outro lado, partindo de uma análise histórica das bases cartográficas do Cerrado

brasileiro, Santos (2013) apresenta a “Carta do Estado de Goiaz”, de 1902, na qual a

região do Jalapão é apontada como “região desconhecida e infestada pelos índios”

(2013: 249). Em sua análise, Santos afirma que “essa região deve ter sido “infestada”

por índios após as consecutivas investidas com eles no Piauí, no Maranhão, no oeste

baiano e no norte do Tocantins.”

No que se refere à ocupação atual da área que hoje corresponde à Comunidade dos

Prazeres, esta tem início ainda no final do século XIX, quando da chegada dos mais

antigos representantes das linhagens familiares, alguns vindo da Bahia e outros da parte

meridional do Piauí. Destes, um baiano chamado Pantaleão Alves Moreira merece

destaque. De acordo um dos nossos interlocutores locais, Sr. Antônio Puleiro, Pantaleão

teria chegado à área hoje pertencente à comunidade vindo da localidade chamada “Serra

do Couro”, próxima à cidade de Formosa do rio Preto (BA), em razão de uma forte

seca. À época recém-casado, tendo apenas seu filho mais velho (José Maria)2, Pantaleão

deixou sua esposa para se casar com “Coleta”, esta que seria indígena: “Já havia

indígenas aqui... era tudo índio mesmo, tipo selvagem, na época. O Panteleão pegou a

Coleta montado, como se pegava as indígenas à época. Pegou, criou e se casou com

ela” (Benjamin, 19/08/2015). Desta união resultaram quatro filhos, todos nascidos e

criados na Comunidade dos Prazeres, a saber: Vicente, Antônio, Ana Maria (Vermelha)

e José Alves – em ordem cronológica. Este último, conhecido como Zezinho Alves

Moreira, nasceu em 1905 e de seu casamento com Telvina Barbosa dos Santos (natural

de Mateiros-TO) tem início a família nuclear de maior representação na comunidade

atualmente. Seus filhos são: Conceição, Maura, Basílio, José Maria, Dudu, Ezequiel,

Tonho de Zezinho, Miminha e Miúda.

2 Cf. Genealogia de Parentesco da Comunidade dos Prazeres

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Figura 1 - José Alves Moreira (Zezinho), filho caçula de Pantaleão nascido em 1905

Figura 2 - Carteira de trabalho de José Alves Moreira (Zezinho Moreira)

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Há relatos de que Pantaleão fizera parte do “Bando de Abílio Wolney” – é o que

afirma um de seus descendentes, sr. Benjamin: “Abílio Wolney passou um bocado de

vez por aqui e o Pantaleão fazia parte do bando dele” (Benjamin, 19/08/2015). Outro

interlocutor da comunidade também comentou esta proximidade: “O Abílio Wolney

fazia caminhada com a turma e deve ter encontrado ele (Pantaleão) nestas cabeceiras

(...) fizeram amizade (Antônio Puleiro, 30/08/2015).”

Abílio Wolney foi um político de grande importância no então Estado do Goiás, que

à época englobava o atual Tocantins. Nasceu em 1876, em São José do Duro (atual

Dianópolis-TO), no seio de uma família abastada. Seu pai, conhecido como Coronel

Joaquim Wolney, possuía quatorze fazendas e milhares de cabeças de gado nos gerais

do norte do Goiás e oeste da Bahia. Abílio Woley iniciou sua carreira política como

deputado estadual aos 18 anos de idade. Já em 1903, aos 27 anos, foi nomeado Tenente-

Coronel da Guarda Nacional pelo então presidente da república, Campos Sales. Em

1926, comandou uma tropa de 450 homens para combater a Coluna Prestes pelos

sertões do Brasil, dentre os quais aqueles localizados na região do Jalapão, nas

fronteiras do Bahia, Piauí e Goiás, sendo condecorado pelo presidente Artur Bernardes.

Este fato é corroborado pelas pesquisas em arquivos históricos sobre a Coluna Prestes:

“De fevereiro a 3 de julho (de 1926) os revolucionários percorreram a Bahia, entraram em Minas Gerais e voltaram ao território baiano, sendo mal recebidos por parte da população e enfrentando, além das tropas do governo e da polícia estadual, os cangaceiros e jagunços que passaram a combatê-los sob a chefia de Horácio de Matos, Franklin de Albuquerque e Abílio Wolney” (Abreu, 2000).

As entrevistas realizadas na comunidade dos Prazeres sugerem a hipótese de que

Pantaleão Alves Moreira teria sido um destes jagunços de Abílio Woley. Não obstante,

esta informação careça de maiores detalhes, além de ter sido refutada por um dos

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entrevistados (Sr. Ferreira). Soma-se ainda os relatos sobre a da passagem dos

“revoltosos” pela comunidade dos Prazeres:

“Os revoltosos passaram muito por aqui, ficavam dias escondidos nestes pé-de-serra; na mesma época do Abílio Wolney (...) Meu pai contava que andou com esta turma ai (...) Campeando gado encontrou com a turma e passaram dois dias com o meu pai para ele ensinar as fronteiras; enquanto não ensinasse eles não liberavam o cara.” (Antônio Puleiro, 30/08/2015).

Outra linhagem de grande importância na formação dos grupos domésticos

descende de Mariano Barbosa Sampaio, proveniente da cidade de Remanso (BA) e

também casado na região com uma esposa de ascendência indígena – Maria Ferreira dos

Santos. De acordo com entrevista realizada com seu neto Geraldo Barbosa Sampaio,

Mariano (que “não era negro, mas também não era branco como o Pantaleão”) teria

chegado na comunidade entre os anos de 1875 e 1885, pouco tempo antes de Pantaleão.

Esta aproximação entre Pantaleão e Mariano também foi relatada pelo Sr. Ferreira:

“Mariano e Pantaleão eram da mesma idade. Os dois chegaram solteiros e

conseguiram esposa por aqui”. (Ferreira, 21/08/2015). Ademais, segundo o Sr. Antônio

Puleiro, a esposa de Pantaleão (Coleta) “era da família dos Mariano, um povo antigo

aqui”, o que indica uma aliança parental marcante entre os dois troncos familiares.

Na comunidade dos Prazeres, Mariano e Maria Ferreira tiveram três filhos:

Leonia, José Mariano e Amâncio; este último, o caçula, nasceu em 1905 (mesmo ano de

nascimento de Zezinho Moreira, último filho de Pantaleão). Amâncio se casou com a

Sra. Laudelina, natural de São Marcelo (BA) e também de ascendência indígena, e deste

casamento nasceram sete filhos, dentre os quais Geraldo Barbosa Sampaio (1951),

nosso interlocutor entrevistado. De acordo com Sr. Geraldo, Mariano teria sido um dos

primeiros a chegar à comunidade, numa época contemporânea ao Pantaleão, e logo em

sua chegada teria solicitado a um padre jesuíta que fincasse o cruzeiro que atualmente se

encontra estiado próximo à sua residência, hoje habitada pelo seu neto:

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“Aquele cruzeiro foi o finado Mariano que enviou (...) Ali eles tinham uma devoção: rezavam, faziam tipo uma procissão para pedir chuva. Pegavam pedra, botava na cabeça das crianças; garrafinha de água para molhar aquelas pedras ao redor para molhar, para chover – que era ruim de chuva nessa época. Era uma devoção. O santo devoto deles era aquele cruzeiro. Fazia as penitências: às doze horas do dia pegava aquelas crianças, botava cada uma a pedra na cabeça, ou outros uma garrafa de água. Aí botava aquela pedra ao redor e molhava. Aí Deus tinha dó e mandava aquela chuvinha. Ali era a devoção que eles tinha”. (Antônio Puleiro, 30/08/2015).

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Figura 3 - Cruzeiro de fundação da Comunidade dos Prazeres

Como nos afirma Antonio Puleiro, “a procedência do povo do Mariano é mais

velha que a do Pantaleão”. Entretanto, embora Mariano tenha sido o primeiro a chegar

à região, atualmente sua linhagem é menos representada do que a descendência do

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Pantaleão. Perguntado sobre as causas deste fato, Puleiro conjuga questões de ordem

econômica e racial como dimensões importantes:

“Sabe por que? Porque este Pantaleão era muito trabalhador, estudioso, inteligente. Como nessa época (a cidade de) Santa Rita tava em necessidade das coisas, ele supriu, arranjou um dinheirinho e teve como manter a família dele e os filhos com um gadinho, um porco (...). Trouxe uma civilidade melhor, neh? Era uma família mais... branca. Já a família dos Mariano era muito pobre, sem estudo, sem instrução, não desenvolveu. A família dos Moreira (Pantaleão) era mais estudiosa, inteligente. E os outros eram de uma família mais negra; menos desenvolvida, neh? Ai desenvolveu pouco... (Antônio Puleiro, 30/08/2015).

Antes de se fixarem na localidade hoje condizente à Comunidade dos Prazeres,

estes primeiros ocupantes se deslocavam continuamente em sintonia com os regimes de

cultivo das roças de toco. (“Eles andavam muito... nessas beiras de rio quase todas têm

essas taperas, que eles moravam um ano ou dois e mudava. De uns 50 anos para cá

que eles se firmaram mais no local”, Ferreira, 21/08/2015). Um dos primeiros

locais habitado de maneira contínua foi a “Cachoeira da Riqueza”, à margem do rio

Ribeirão. Consta-se que ainda hoje é possível encontrar no local “calos velhos de roça”

e “uma cerca antiga, feita de pedra” que não se sabe se são vestígios indígenas ou dos

primeiros moradores da comunidade. Como nos afirmou Sr. Ferreira, esta dinâmica de

deslocamento foi por muito tempo o modo de habitar a região:

“Este povo, quando eles chegaram aqui, eles moravam de temporada, tipo índio. Eles moravam pouco tempo ali e já mudavam para outro local, até mesmo pela necessidade de derrubar as roças. No início era assim: eles achavam um lugar bom para botar uma roça, moravam ali até colher, um ano ou dois, aí ia para outro lugar. Aqui era pouca gente que fazia os esgotos, era mais toco”. (Ferreira, 21/08/2015).

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É o que também afirmou Sr. Geraldo:

“Em 1936 passaram muitas pessoas aqui vindas da Bahia. Mas nessa época a área já era habitada. Este povo antigo andava muito e morava em vários lugares... Morou num lugar chamado “Cajarana”, outro “Jabuti” e a última morada dele foi aqui; quando eles chegaram aqui tinha muito índio, índio que não era doméstico, bravo, não misturado. Quando os índios apareciam perto de casa, o povo deixava fumo e eles trocavam”. (Geraldo, 20/08/2015).

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Figura 4 - Diagrama de parentesco da Comunidade dos Prazeres

3. Dinâmica de uso do gado

Além das perguntas referentes à história de ocupação da comunidade e

dos vínculos de parentesco, as entrevistas tiveram ainda como objetivo entender

as dinâmicas de uso do território a partir do manejo do gado e iniciar o

levantamento de argumentos entorno da mecanização das roças. Cumpre

ressaltar que a divisão da área de uso em cinco partes foi criada por fins

meramente didáticos. Afinal, para os moradores da comunidade a área é

contínua, sem subdivisões. A intenção desta divisão no presente relatório se

presta apenas como uma fotografia momentânea da maneira como o território

estava sendo utilizado no momento da pesquisa.

Áreas de uso

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Área 1 = Área à margem direita do rio Ermilson até o encontro com o rio Sapão. Usada por: Tonho de Zezinho, Ferreira e Geraldo Área 2 = Área à direita do rio Sapão (Malvilhas) até o rio Nove Galhos. Usada pelo Sr. Dudu e seu filho Pompilho. Área 3 = Área de uso geral circunscrita entre a margem esquerda do rio Ermilson e a margem esquerda do rio Sapão. Usada por: Abílio, Negão, Antônio Puleiro, Ferreira Área 4 = Área circunscrita entre a margem direita do rio Sassafraz e a margem esquerda do brejo do Prazeres. Esta área é englobada pela área 5 (uso geral), porém nela se encontra um lote de direito de posse particular do sr. Abílio. Área 5 = Área de uso geral circunscrita entre a margem direta do brejo dos Prazeres até o rio Ribeirão (cachoeira da Riqueza). Usada por: Ney, Geraldo, Tonho de Paula, Tonho de Zezinho, Mauro Roberto e Abilio.

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As áreas 1 e 2 não são de uso geral, pois há “o responsável”. Como me

disse Negão (filho de Sr. Antônio Puleiro): “algum de nós, se precisar, e ele

autorizar, pode colocar. Mas eu não vou colocar sem falar com ele”. Quem

“toma conta” destas áreas são as famílias do Sr. Tonho de Zezinho e Sr. Dudú,

respectivamente. Além de os dois serem irmãos (e netos de um dos fundadores

da comunidade, Sr. Pantaleão), suas famílias também são as que mais possuem

cabeças de gado na comunidade. Também a área 4 tem uso hegemônico de

apenas um criador, o Sr. Abílio. Esta dinâmica sugere uma possível

correspondência entre quantidade elevada de cabeças de gado e um regime

menos coletivista da área, embora não chegue a permitir qualificá-lo sob a

rubrica da “propriedade”.

Já as áreas 3, 4 e 5 são áreas de uso geral, isto é, não têm cerca e nem uso

restrito a apenas um dono. Ademais, os interlocutores relatam uma dinâmica de

uso de época intervalado segundo o qual, por exemplo, como diz Sr. Ferreira,

“se este ano o Tonho está usando a parte do Ermilson (área 1), no ano que vem

ele usará o Nove Galhos até o rio Ribeirão (áreas 4 e 5)”. Do mesmo modo,

aqueles que utilizam a área 5 (Ney, Tonho de Paula, Mauro Roberto, etc.)

poderão fazer uso de época da área 3.

Importante destacar que, embora as áreas de uso sejam delimitadas pelos

comunitários, o gado, como dizem “fica solto”, de maneira que “se ele quiser ir

para outra área, ele vai”. Ademais, os vaqueiros são unanimes em afirmar a

relevância da memória do gado, a saber: com o início das chuvas o gado “se

lembra” do pasto em que ele se alimentou no ano precedente e segue em direção

a ele de maneira autônoma. Como não há cercas nas áreas de uso geral, os

vaqueiros devem sempre estar atentos a este deslocamento bovino, sobretudo

para evitar que eles subam a serra e adentrem em alguma fazenda, quando em

geral são mortos. Isto indica que, ao contrário de “controlado”, o gado é antes

“manipulado” pelos vaqueiros.

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Roça de pasto, lugar terapêutico

Tida pela gestão da ESEC como uma das maiores ameaças à

conservação, as roças de gramíneas exóticas são parte constitutiva do sistema

agropastoril local. Para os criadores, a necessidade de roças de pasto em

Prazeres seria maior do que para os criadores na região de Mateiros, uma vez

que a porção baiana da ESEC possui uma quantidade menor de veredas do que

na margem do rio Novo. Ademais, enquanto na porção tocantinense a criação no

interior da Unidade é temporária (apenas para refrigério, segundo alguns

entrevistados), uma vez que os vaqueiros têm a possibilidade de alugar pastos

fora da ESEC, na porção baiana a criação é mais fixa. No entanto, esta fixação é

recente na história do sistema agropastoril da comunidade, tendo em vista que

em seus primórdios o gado permanecia nos gerais apenas até o início das

chuvas, quando então eram transferidos para pastagens do Piauí ou de Formosa

do Rio Preto. É o que afirma o Sr. Ferreira:

“Antigamente tirava, né? Só ficava aqui durante os seis meses da seca. Aí levava para Piauí ou Formosa. Quem criava o gado antigamente era assim: fica aqui na seca e nos períodos de chuva eles levavam para Piauí, Formosa.... Por isso queimava bem menos. Durante este período de inverno que levava o gado para lá não era preciso queimar. Agora como está criando definitivo é preciso sempre queimar as chapadas de outubro para frente. Porque de outubro para frente, mesmo se você queimar a vargem o gado não come. Ele quer comer a chapada. (Ferreira, 20/082015)

A importância das roças de pasto para a saúde do plantel se justifica pelo

“mal-de-toque”, entendido como uma doença provocada no gado pela ingestão

de terra no período das chuvas, causando emagrecimento e até mesmo a morte

do animal. Alguns dos sintomas do animal “entocado” são: soltar terra pelas

fezes, ficar com o cabelo rachado e arrepiado, andar de cabeça baixa, ficar cego,

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ficar variado, dentre outros3. Aqueles que possuem pouco pasto plantado

utilizam-no apenas nas ocasiões que em algum animar deve ser remediado. Já

aqueles que realmente não possuem nenhum pasto são obrigados a criar

totalmente solto, recorrendo, no caso do mal de toque, à aplicação de “cobalto”

na alimentação de seus rebanhos. Os gados criados sem roça de pasto,

entretanto, são mais fracos e magros.

Ocorre que o pasto manso ou exótico não provoca esta doença, uma vez

que o mesmo além de ser mais forte, não acumula terra na época das chuvas

como o capim agreste. De acordo com o Sr. Ferreira “tem que ter o pasto para

colocar o gado para destocar (retirar o toque) (...); tem um período em que o

pasto nativo é fraco e tem que ter o plantado para destocar”. Por destocar deve-

se entender não uma colocação fixa do plantel nas roças de pasto, mas sim uma

dinâmica de manejo na qual, na época das chuvas, é feito um rodízio entre o

pasto plantado e o capim da chapada, tendo em vista que nesta época do ano o

gado se recusa a comer nas veredas. Assim, por exemplo, me foi relatado pelo

Sr. Ferreira que sua roça de andropogon de 2 hectares permite destocar até 10

cabeças de gado em um período não maior que 20 dias. Já Negão afirmou que

sua roça de pasto de 7 hectares (também de capim andropogon) suporta suas 17

cabeças de gado por apenas 8 dias.

Após ser destocado, o gado é novamente conduzido à chapada até que o

capim exótico se renove – algo que, em geral, demora em torno de 1 mês. O

rodízio entre a roça de pasto e a chapada perdura por todo o período das chuvas.

Esta dinâmica de cura nos permite qualificar as roças de pasto como lugares de

cuidado e tratamento. Afinal, para além de um sentido estritamente produtivo

que caracteriza o uso de pastagens exóticas na pecuária extensiva Brasil a fora,

na Comunidade dos Prazeres há uma interdependência histórica que conjuga o

regime de solta, baseado em pastagens nativas, e o regime de preso, dependente

3 Além do mal-de-toque outra enfermidade de atinge os bovinos é o mal-de-ponta ou mal-de-chifre. Este, por sua vez, tem como sintomas “deixar o chifre oco a ponto de sair ar quando furado” e sair catarro ou pus da venta (nariz)

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de variedades exóticas. A relação necessária entre os dois regimes me foi

relatada por Negão. Perguntado se seria interessante manter o gado apenas

preso, ele me disse que nas condições locais4 o gado solto se reproduz melhor:

“Não, tem que ter os dois. Porque tanto é bom o pasto plantado como é o outro, o nativo. Porque se você ficar com o gado preso direto o gado não desenvolve (...) Lá fora (grandes criadores) desenvolve mais rápido; dá remédio, dá ração. Mas como nós somos mais fracos, o gado que está em fase de crescimento desenvolve mais rápido (quando fica) solto. A novilha quando solta nos Gerais fica mais fácil para pegar barriga (dar cria) (...) Gado preso fica igual ao preso na cadeia, com vontade de sair. Já o bicho solto anda mais, fica mais à vontade e aí o negócio vai...” (Negão, 22/08/2015)

Além desta dinâmica de interdependência, chama a atenção este aspecto

terapêutico que caracteriza as roças de pasto. Negão, por exemplo, é explícito

quando diz que:

“A gente coloca na roça para ficar de observação (...) O pasto é tipo um quarto de observação, um lugar que você pode sair e o bicho está ali, com você sempre vendo. Como a solta é grande, você coloca na roça de pasto e fica mais fácil para olhar”. (Negão, 22/08/2015)

Ademais, a roça de pasto é também um lugar de aprendizagem para os

bezerros:

“E também se você vai desmamar o bezerro da mãe, separar o bezerro da mãe, você põe a tampa no bezerro. Se você solta o bezerro com a tampa nos gerais ele vai ter

4 Na oportunidade em que este relatório foi validado junto à comunidade, o Sr. Ferreira apontou que por “condições locais” deve-se entender não uma característica cultural, mas sim as limitações de ordem econômica que os impedem de “modernizar” a criação mediante a adoção de pastagens exóticas de alto rendimento.

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dificuldade para comer, pois ele não sabe comer com a tampa. Aí, ele vai até chegar ao ponto de morrer. A queimada se estiver meio rapada já é meio ruim para o bicho comer; aí se você põe a tampa no bezerro e solta ele vai ficar meio perdidão. Até ele aprender a pôr a boca no chão para comer lá vai demorar um bom tempo, e ele fica bem magrinho. Já se você pegar a vaca e deixar ela com o bezerro preso na roça fica muito mais fácil”. (Negão, 22/08/2015)

Da necessidade de mecanização

A mecanização é apontada pelos comunitários como uma necessidade latente.

Atualmente, apenas duas pessoas da comunidade possuem trator próprio (Sr. Abílio e

Sr, Pompilho) e ambos emprestam e/ou alugam a hora de uso de suas máquinas para os

demais criadores da comunidade. Em geral, os argumentos que subsidiam esta demanda

giram em torno de três aspectos, quais sejam: a atual carência de mão-de-obra familiar

para a abertura e manutenção de roças de toco e roças de pasto, pelo aumento da

produtividade (tempo de trabalho/área produzida) e por um suposto aumento no vigor e

desenvolvimento do vegetal plantado em terra mecanizada. Nas palavras do Sr. Ferreira,

“a mecanização tanto diminui o esforço físico quanto aumenta o desenvolvimento do

capim. Se mecanizar ele vem com mais vigor e dura mais”. (Ferreira, 20/08/2015)

De acordo com nossos entrevistados, atualmente a mecanização é um requisito

fundamental para a perpetuação da comunidade em suas áreas, tendo em vista que a

maioria dos moradores são pessoas mais velhas que já não possuem a força física

necessária para os trabalhos braçais. Ademais, soma-se ainda o crescente êxodo da

juventude em direção à cidade ou às grandes fazendas monocultoras, deixando seus pais

sem a possibilidade de mobilização familiar para os trabalhos agrícolas. É o que afirma

Sr. Geraldo:

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“Se a gente tem os filhos da gente que mora no mesmo local e vive na mesma luta; se eu quero fazer uma picada minha eles me ajudam. Mas eu só não aguento mais. Eu só quero é permitir passar uma grade para fazer uma picada. Só isso” (Geraldo, 21/08/2015)

Os residentes também enfatizam as vantagens da mecanização em termos de

produtividade, apontando que “o que o trator faz em uma hora um homem faz em um

mês” (Ferreira, 20/08/2015). Não obstante, dizem ainda que nem todos têm o interesse

de utilizar as máquinas, uma vez que não visam aumentar a produção para além de suas

necessidades atuais: “nós queremos usar o trator dentro da necessidade para continuar

vivendo” (Geraldo, 21/08/2015). Com efeito, os criadores da comunidade lutam pelo

direito de poder utilizar tratores quando necessário, sem que esta ação seja tomada como

um ato ilícito.

4. Demandas étnico-fundiárias

Ao se sentirem inseguros com os possíveis desdobramentos advindos deste

diagnóstico preliminar, três lideranças locais (Ferreira, Ney e Geraldo) me convocaram

para uma reunião não agendada no intuito de deixar clara a maneira como gostariam que

os anseios da comunidade fossem retratados.

Segundo os mesmos, a prática do extrativismo não é uma dimensão sociológica

central para a comunidade, mas sim apenas um complemento. Em parte, tal afirmação

pode ser interpretada como uma forma de colocá-los aquém de categorias de direitos

coletivos como a de “comunidade extrativista”. Como afirmavam, “nós não somos

artesãos, extrativistas ou catadores de coco” (Ferreira, 28/08/2015). Ao contrário, me

disseram que: “Nós estamos nos auto definindo como lavradores e criadores de gado

(...) É importante que você coloque que somos pequenos agricultores tradicionais”.

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As lideranças têm uma opinião sólida de que os desenhos territoriais disponíveis

para os Povos e Comunidades Tradicionais presentes no aparato jurídico nacional não

contemplam o pleito de titulação fundiária individual. Por outro lado, a demanda por

liberdade que constitui suas falas implica em conquistarem o direito de vender suas

áreas de morada em busca de terras melhores – algo que não destoa do modo de vida

“tradicional” dos vaqueiros que ocuparam a região. Com efeito, frente ao que os

residentes alegam ser os problemas da ideia de “tradição” (a saber: uma interpretação

segundo a qual “os tradicionais não podem desenvolver” ou até mesmo que “são presos

dentro de seu próprio território”) os desejos fundiários apresentados são contrários a

territórios étnicos de titularidade coletiva.

Enfatizaram, ainda, que o interesse maior da comunidade seria pela desafetação da

UC, tendo em vista que a situação atual foi traduzida pela seguinte sentença: “É como

se nós estivéssemos presos dentro da nossa própria terra”. Por outro lado, também

reconhecem que sem a proteção fundiária ocasionada por estarem inseridos numa UC as

pressões por parte de grileiros seriam ainda maiores. Já quando indagados sobre a

possibilidade de alteração da UC para uma RESEX ou RDS, as lideranças locais foram

unânimes ao afirmar que a opção de futuro de menor prestígio pelos comunitários se

consiste na transformação da EESGT em uma categoria de uso sustentável: “a

comunidade não quer, em hipótese alguma, a mudança de categoria. É melhor

continuar sendo Estação mesmo, pois permite indenização”. Isto porque, como dizem,

tal procedimento deixaria ainda mais difícil o pleito fundiário de maior adesão local,

qual seja: o usucapião e posterior indenização individual das famílias. Em suas próprias

palavras:

“Os outros tipos de Unidades de Conservação (RESEX e RDS) não nos darão indenização. Por isso preferimos permanecer nessa categoria mais restritiva até que o problema fundiário seja resolvido.” (Ferreira, 28/08/2015).

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Frente a esta situação, as lideranças propuseram um conjunto de alternativas

hierarquicamente organizadas que deveria compor o presente relatório. Tratar-se-ia de

três alternativas:

1 – “A Estação recuar”: mesmo afirmando estarem cientes de que esta alternativa é a

menos plausível do ponto de vista jurídico, as lideranças afirmam que a desafetação da

área de direito de posse sobreposta à EESGT é a opção mais desejada pela comunidade.

Tal encaminhamento apenas seria completo se, concomitantemente à desafetação, a

comunidade adquirisse o usucapião de seu território no intuito de se protegerem dos

assédios de grileiros e, eventualmente, poderem vender ou trocar seus lotes.

2 – “Remanejar a comunidade para o lado direito do rio Sapão”: uma opção elencada

pela comunidade para a resolução do empasse fundiário se consiste em alocar aqueles

que têm suas casas na margem esquerda do rio Sapão para a margem direita do mesmo.

Deste modo, a comunidade teria seu território delimitado nas áreas 2, 4 e 5 do mapa

acima e, por sua vez, o limite da EESGT passaria a ser o leito do rio Sapão.

3 – “Reassentamento da comunidade”: a terceira opção elencada pela comunidade se

consiste no reassentamento, em local escolhido pelos residentes, que contemple a

demanda pela titulação individual dos lotes. Ocorre que os comunitários não se sentem

livres sem o direito de vender seus lotes em caso de eventualidades. Ademais, foi

frisado que este modelo não deve se espelhar no que eles chamaram de “modelo do

INCRA”, no qual haveria uma vila composta pelas habitações e um pequeno espaço

coletivo, longe das moradias, para uso agrícola.

PROCESSO DE REVISÃO DO TC N° 14/2012; PROCESSO DE CONTRUÇÃO DO TC-PRAZERES;

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TC-BALSAS; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DA COMUNIDADE DOS PRAZERES; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DOS

RESIDENTES DO RIO BALSAS

5. Considerações finais

As informações presentes neste diagnóstico preliminar apontam para uma série

de ações a serem empreendidas junto à comunidade condizentes tanto a uma agenda

de pesquisa participativa, quanto ações de fortalecimento identitário com vistas aos

encaminhados étnico-fundiários da comunidade.

No que diz respeito ao primeiro ponto, há uma lacuna de informações sobre a

dinâmica do sistema agropastoril local que deve ser sanada com o monitoramento

dos usos do território a partir de uma agenda de pesquisas etnoecológicas que

associem conhecimentos antropológicos, ecológicos e, o que é mais importante,

pesquisadores da própria comunidade. É urgente a necessidade de compreender

melhor a função das roças de pasto dentro do sistema agropastoril para que as

mesmas não sejam, de maneira equivocada, tratadas a partir de um referencial de

pecuária extensiva que não tem correspondência com o que afirmaram os

interlocutores locais. Também há que se ter cautela na assimilação apressada da

noção de áreas de usos dos criadores, pois os regimes de posse destas áreas não são

passíveis de serem enquadrados sob a lógica moderna da “propriedade”, na qual os

direitos partem de uma noção moderna de indivíduo também estranha às lógicas

locais. Por último, quanto à “mecanização”, sugere-se estudos específicos de cunho

ergológico que explicitem as especificidades da relação humano-máquina no que diz

respeito aos tipos de tratores passiveis de serem utilizados na comunidade com

menor impacto sobre o ambiente local. Especificamente, trata-se aqui de vislumbrar

as potencialidades de utilização do trator tobata, de pequeno porte, para suprir a

demanda de falta de mão-de-obra disponível na comunidade para a confecção das

roças de toco e roças de pasto.

Já no que se refere aos aspectos identitários, é de suma importância que a

Comunidade dos Prazeres usufrua de assessoramento jurídico e antropológico no

sentido de fortalecê-los quantos aos seus direitos (seja como agricultores familiares,

seja como comunidade tradicional) e possibilidades de pleitos fundiários

PROCESSO DE REVISÃO DO TC N° 14/2012; PROCESSO DE CONTRUÇÃO DO TC-PRAZERES;

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO TC-BALSAS; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DA COMUNIDADE DOS PRAZERES; DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL CONSOLIDADO DOS

RESIDENTES DO RIO BALSAS

específicos. Em grande medida, este papel vem sendo cumprido por organizações da

sociedade civil de grande prestígio local (como o Sindicato dos Trabalhadores

Rurais de Formosa do Rio Preto e a ONG 10envolvimento), porém estas instituições

carecem de um maior corpo humano e capilaridades logísticas para atuarem na

comunidade de maneira mais contínua. Faz-se oportuno, ou até mesmo

indispensável, que o ICMBio estabeleça parcerias mais concretas com estas

entidades regionais uma vez que a Associação representante da comunidade se

encontra num momento de desarticulação.

Projetos vinculados ao associativismo, geração de renda a partir da produção

agroecológica e intercâmbios para outras Unidades de Conservação de uso

sustentável são fundamentais para se criar relações de confiança entre o órgão gestor

e os residentes. Em especial, o estímulo a intercâmbios de lideranças locais com

outras realidades similares (nas quais há comunidades tradicionais no interior de UC

de proteção integral e/ou de uso sustentável) foi reconhecido por alguns

interlocutores como uma estratégia eficaz no processo de tomada de consciência

quanto à viabilidade jurídica e aos investimentos organizativos a serem enfrentados

a depender de qual seja o fundiário da comunidade. Estas ações se prestam para

fortalecer os vínculos de pertencimento da comunidade, sem os quais as tentativas

de acordos e construção coletiva se tornam muito mais desgastantes para ambas as

partes.