processo: 1003389-81.2018.4.01.3200 - procedimento …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores,...

12
05/08/2019 Número: 1003389-81.2018.4.01.3200 Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL Órgão julgador: 3ª Vara Federal Cível da SJAM Última distribuição : 20/08/2018 Valor da causa: R$ 1.000,00 Assuntos: Direitos Indígenas Segredo de justiça? NÃO Justiça gratuita? NÃO Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM Justiça Federal da 1ª Região PJe - Processo Judicial Eletrônico Partes Procurador/Terceiro vinculado J R S PESCA ESPORTIVA LTDA ME - ME (AUTOR) LUCAS DE ALENCAR OLIVEIRA (ADVOGADO) FUNDACAO NACIONAL DO INDIO FUNAI (ASSISTENTE) FEDERACAO DAS ORGANIZACOES INDIGENAS DO RIO NEGRO (RÉU) ALESSANDRA JACOBOVSKI (ADVOGADO) ASSOCIACAO DAS COMUNIDADES INDIGENAS DO MEDIO RIO NEGRO (RÉU) ALESSANDRA JACOBOVSKI (ADVOGADO) Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI) Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 68531 104 10/07/2019 17:33 Sentença Tipo A Sentença Tipo A

Upload: others

Post on 28-Mar-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

05/08/2019

Número: 1003389-81.2018.4.01.3200

Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL

Órgão julgador: 3ª Vara Federal Cível da SJAM

Última distribuição : 20/08/2018

Valor da causa: R$ 1.000,00

Assuntos: Direitos Indígenas

Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? NÃO

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM

Justiça Federal da 1ª RegiãoPJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

J R S PESCA ESPORTIVA LTDA ME - ME (AUTOR) LUCAS DE ALENCAR OLIVEIRA (ADVOGADO)

FUNDACAO NACIONAL DO INDIO FUNAI (ASSISTENTE)

FEDERACAO DAS ORGANIZACOES INDIGENAS DO RIO

NEGRO (RÉU)

ALESSANDRA JACOBOVSKI (ADVOGADO)

ASSOCIACAO DAS COMUNIDADES INDIGENAS DO MEDIO

RIO NEGRO (RÉU)

ALESSANDRA JACOBOVSKI (ADVOGADO)

Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)

Documentos

Id. Data daAssinatura

Documento Tipo

68531104

10/07/2019 17:33 Sentença Tipo A Sentença Tipo A

Page 2: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)

AUTOR: J R S PESCA ESPORTIVA LTDA ME - ME Advogado do(a) AUTOR: LUCAS DE ALENCAR OLIVEIRA - DF33363

  RÉU: FEDERACAO DAS ORGANIZACOES INDIGENAS DO RIO NEGRO, ASSOCIACAO DAS COMUNIDADES

INDIGENAS DO MEDIO RIO NEGRO Advogado do(a) RÉU: ALESSANDRA JACOBOVSKI - PR94548

Advogado do(a) RÉU: ALESSANDRA JACOBOVSKI - PR94548 SENTENÇA

 

Trata-se de ação de procedimento comum proposta por JRS PESCA ESPORTIVALTDA ME contra a FEDERAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DO RIO NEGRO –FOIRN e ASSOCIAÇÃO DAS COMUNIDADES INDÍGENAS DO MÉDIO RIO NEGRO, objetivando em sede de tutela de urgência a determinação de obrigação de não fazer,determinando que as requeridas se abstenham de interromper a passagem da requerente, paraalcançar o trecho do Rio Uneiuxi não inserido nas Terras Indígenas Uneiuxi e Jurubaxi-Téa,conforme certidão e licença de trânsito 001/2018 da Secretaria Municipal de Meio Ambiente deSanta Isabel do Rio Negro.

Narra a autora que é uma empresa especializada em expedições de pesca esportivasediada em Santa Isabel do Rio Negro/AM, com licença e certidão de trânsito turístico,observando o Decreto nº 075, de 14 de julho de 2017, que estabelece os critérios para a pescaesportiva na área de Proteção Ambiental Tapuruquara, unidade de conservação que engloba todaa área do município de Santa Isabel do Rio Negro/AM.

Expõe que o segmento do turismo de pesca no Estado do Amazonas atrai cerca de 10mil turistas e profissionais e movimenta mais de R$ 70 milhões por ano, e que a operação depesca esportiva na temporada 2018/2019 terá início no mês de setembro, com previsão de duraro período da estiagem, até o mês de março do ano seguinte, envolvendo semanalmente aparticipação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 diasefetivos de pesca esportiva, incluindo ocasiões pescando no Rio Uneuixi, sempre na área externaàs Terras Indígenas Uneiuxi e Jurubaxi-Téa.

Alega que no dia 29 de maio de 2018, as requeridas, organizações de defesa dosdireitos dos povos indígenas da região, que contribuem com o processo de construção coletiva dodesenvolvimento sustentável do Médio Rio Negro, deram início ao processo de seleção dasempresas interessadas em estabelecer parceria para operar o turismo de pesca esportiva nasTerras Indígenas Uneiuxi e Jurubaxi-Téa, de Santa Isabel do Rio Negro.

Aduz que participou especificamente para a região da terra Indígena Uneuixi, mas quenão foi selecionada, e que a operação de pesca esportiva da requerente, certificada e licenciadapela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que se iniciará no começo de setembro, incluindoinserções para a pesca no Rio Uneuixi, sempre na área externa às Terras Indígenas Uneiuxi eJurubaxi-Téa.

  Assevera que no trecho onde incidirá a operação de pesca esportiva da requerente,que está licenciada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santa Isabel do Rio Negronão atinge as terras indígenas e está sujeita, tão somente, à disciplina do Decreto 075/2017, quetrata da pesca esportiva da Área de Proteção Ambiental Tapuruquara.                    Diz que notícias que circulam na região, apontam para uma organização por partedas comunidades indígenas para impedir, desde a foz, o acesso e quaisquer pessoas para pescaesportiva que não sejam aquelas selecionadas através do chamamento público, e que irão dispor

Seção Judiciária do Estado do Amazonas 3ª Vara Federal Cível da SJAM

Num. 68531104 - Pág. 1Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 3: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

de uso de força para vigilância, monitoramento e controle de acesso ao Rio Uneuixi.A inicial veio acompanhada de documentos.Despacho que determinou a intimação do MPF e da FUNAI para manifestação (id

8994482).A parte autora apresentou manifestação (id 10730960).Proferida decisão (id 11104960), em que este Juízo entendeu que, por medida de

cautela e considerando que não restou esclarecida a natureza do território da comunidadeindígena envolvida, foi indeferido, por ora, o pedido da requerente, resguardando nova análiseapós manifestação da FUNAI e do MPF, sendo determinada a renovação da intimação dessesentes para se manifestarem nos autos, no prazo de 05 (cinco) dias.

Parecer do MPF (id 11419451), aduzindo entender ser incabível o deferimento datutela pleiteada, juntando aos autos documento (id 11424952).

Pedido de reconsideração realizado pela requerente (id 12758460), com a juntada dedocumentos às fls. 142/177, tendo este Juízo se manifestado no sentido de ser imprescindível aocorreto deslinde do feito a manifestação da FUNAI, conforme despacho proferido (id 14208011).

A requerente pugnou pela análise do pedido de tutela de urgência (id 14891457).Pedido de dilação de prazo realizado pela FUNAI (id 14931516).Reiteração do pedido de análise da tutela de urgência pela parte autora (id 16040977).Decisão que indeferiu o pedido de tutela de urgência no id 16280451.Contestação cumulada com pedido de reconvenção dos requeridos (id 34081067), com

documentos juntados (id 34076489 a 34079472 e 34081070 a 34082484).Certificado o decurso de prazo sem manifestação da FUNAI no id 36397965.Despacho exarado (id 39852494).Réplica e manifestação quanto ao pedido reconvencional apresentadas no id

50610524.No id 55299182, houve manifestação das requeridas, colacionando ainda documentos

(id 55299184 a 55284105).O Município de Santa Isabel do Rio Negro pleiteou pela realização de audiência de

conciliação no id 56491607, colacionando documentos (id 56491607 a 56491617).A FUNAI requereu o ingresso no feito, na condição de assistente simples dos réus (id

59961085).Conclusos. Decido.Considerando que não há mais necessidade de produzir outras provas além das já

constantes nos autos, procedo ao julgamento antecipado do mérito, com fulcro no art. 355, I,do CPC/2015.

Inicialmente, nada a prover quanto ao pedido de Município de Santa Isabel do RioNegro para que seja pautada audiência de conciliação (id 56491607), visto que não faz parte darelação processual.

Em sua contestação, os requeridos aduziram questões preliminares pelas quais passoa analisar.

Arguiram a ausência de condições da ação, quais sejam, legitimidade e interesseprocessual.

No entanto, tais preliminares não merecem ser acatadas, vez que a legitimidade einteresse processual se verificam a partir do momento em que a requerente possui a intenção deadentrar na área discutida nos autos, a fim de realizar suas atividades comerciais, tendo inclusiverealizado pedido administrativo para tanto.

Da mesma forma, não há que se falar em incorreção no valor indicado à causa, umavez que, embora os pedidos da inicial ostentem nítido caráter condenatório, consistente emobrigação de não fazer, não há como se presumir possível proveito econômico perseguido napresente ação, razão pela qual deve ser mantido o valor indicado na inicial.

Passo, então, à análise do mérito.É de se ressaltar que o presente processo tem, além do pedido constante da

inicial, pedido reconvencional apresentado pela requerida, de forma que passo ao

Num. 68531104 - Pág. 2Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 4: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

julgamento dos pedidos da inicial e da reconvenção.Consoante restou evidenciado nas decisões proferidas nos autos, o presente feito tem

por pedido de mérito, a obrigação de não fazer, consistente em provimento jurisdicional para queos requeridos que se abstenham de interromper a passagem da requerente para alcançar otrecho do Rio Uneiuxi, argumentando, em síntese, que não estão inseridos nas Terras IndígemasUneiuxi e Jurubaxi-Teá, pelas qual se pretende realizar as atividades de pesca esportiva.

Inicialmente, por ocasião da análise do pedido de tutela de urgência, proferi a seguintedecisão (id 16280451):

“ Inicialmente, embora até o presente momento ainda não se tenha nos autosmanifestação da FUNAI acerca do pedido de tutela provisória pleiteado, e diante daurgência alegada pela parte autora, inclusive reiterada nos autos, passo, neste momento, àanálise da medida de urgência vindicada na inicial.

A antecipação citada, como tutela de urgência, consiste em medida excepcional,não em regra, e, para seu deferimento, constituem condições indispensáveis a existência daprobabilidade do direito da parte e o perigo de dano.

Neste momento de exame urgente e superficial, característicos das tutelas deurgência, entendo que não se encontram presentes, em conjunto, os requisitos dispostosno art. 300 do Código de Processo Civil de 2015.

Requer a parte autora seja determinado às requeridas que se abstenham deinterromper a passagem da requerente, para alcançar o trecho do Rio Uneiuxi não inseridonas Terras Indígenas Uneiuxi e Jurubaxi-Téa, conforme certidão e licença de trânsito001/2018 da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santa Isabel do Rio Negro.

Informa, ainda, que no dia 29 de maio de 2018, as requeridas deram início aoprocesso de seleção de empresas interessadas em estabelecer parceria para operar oturismo de pesca esportiva nas Terras Indígenas (TIs) Uneuixi e JurubaxiTeá, no Municípiode Santa Isabel do Rio Negro.

No parecer do MPF (id 11422030), constou a informação de que, no ano de 2013,foi realizada atividade de fiscalização da FUNAI em conjunto com o Exército Brasileiro eICMbio, para abordar empresários e turistas que estavam praticando pesca esportiva ilegalna Terra Indígena Médio Rio Negro I e II e Parque Nacional do Pico da Neblina, e que noano seguinte, a FUNAI Rio Negro verificou que nenhuma das comunidades desejavarealizar a atividade de pesca esportiva.

Aponta, ainda, que naquela época, a Prefeitura de Santa Isabel do Rio Negrohavia autorizado a temporada de pesca sem anuência das comunidades e sem estudos daatividade pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, e que a Coordenação Regional daFUNAI, em 2014, informou ao MPF que a pesca esportiva ilegal acontecia no período deagosto a dezembro, naquele município.

Por conseguinte, o MPF relatou que foi realizada a “OPERAÇÃO RIO NEGRO II”em conjunto com a Polícia Militar do Amazonas, para combater e coibir a prática de pescacomercial e esportiva sem autorização dos órgãos ambientais competentes, e que, conforme“Ofício nº 260/2016/FOIRN, as empresas Amazon Sport Fishing, Marreco Pesca Esportiva,Pesca Esportiva (Barco Tayaçu), Kalua Barco Hotel, DoniPesca, Demini Sport Fishing, entreoutros, têm explorado os lagos e afluentes nas Terras Indígenas de Santa Isabel do RioNegro, entre elas Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II, Tea, Uneuixi e Yanomami semqualquer análise prévia dos impactos socioambientais e culturais da atividade, tampoucosem aquiescência dos indígenas.”

Alegou o órgão ministerial que, após a apuração das informações repassadaspelos órgãos e pelas comunidades, resolveu expedir Recomendação nº 13/2016-5º OFÍCIOCÍVEL – PR/AM, nos seguintes termos:

“[…] I – RECOMENDAR à FUNAI CR Alto Rio Negro, à Prefeitura de Santa Isabeldo Rio Negro/AM e aos órgãos da administração pública local a ampla divulgação dapresente Recomendação, com a afixação da notificação anexa em seus estabelecimentospúblicos, em especial nos portos e aeroporto da cidade de Santa Isabel do Rio Negro, de

Num. 68531104 - Pág. 3Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 5: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

maneira permanente, encaminhando-se relação e fotografia dos locais em que afixadas aoMPF para fins de comprovação; II- RECOMENDAR às rádios locais a ampla divulgação doteor da notificação anexa; III- RECOMENDAR às empresas Amazon Sport Fishing, MarrecoPesca Esportiva, Pesca Esportiva (Barco Tayaçu), Kalua Barco Hotel, DoniPesca e DeminiSporihhhht Fishing e eventualmente outras com atividades afins, que NÃO ENTREM e NÃOREALIZEM qualquer atividade de exploração turística / pesca esportiva ou comercial emTerras Indígenas, em especial nas Terras Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II, Tea,Uneuixi e Yanomami, sem a devida autorização pelos povos indígenas envolvidos, medianteconsulta livre, prévia e informada, e pelos órgãos públicos responsáveis pela proteção epromoção dos direitos indígenas e do meio ambiente, nos termos da Instrução NormativaFUNAI nº 03/2015; DEIXEM de realizar a venda de pacotes turísticos relacionados à pescaesportiva em qualquer das Terras indígenas mencionadas, bem como cancelem os jánegociados; ABSTENHAM-SE de firmar novos acordos envolvendo exploração turística emterras indígenas sem o devido consentimento das comunidades indígenas e oacompanhamento dos seus órgãos representativos e estatais, em todas as fases doprocedimento, nos termos da Instrução Normativa FUNAI Nº 03/2015;[...]”

 Além do mais, nas informações carreadas pelo MPF, consta ainda que foi

realizada a 1ª temporada experimental de turismo de pesca esportiva em 2017, mas quealgumas empresas não seguiram todas as recomendações, e por essa razão, seriamnecessários vários ajustes de proteção e monitoramento para ser realizada a segundatemporada de 2018.

 Colha-se ainda o seguinte trecho da manifestação do MPF (fl. 117):(...)Considerando a reunião de pactuação e revisão dos contratos de parceria

realizadas nos dias 7 e 8 de Agosto de 2018 na comunidade Roçado (TI Uneuixi) 10 e 11 deAgosto de 2018 na comunidade Acariquara (TI Jurubaxi-Téa), bem como reunião realizadano dia 14 de Agosto de 2018 na comunidade Tabocal do rio Uneuixi (TI Jurubaxi-Téa), coma participação das comunidades e lideranças da ACIMRN, FOIRN, FUNAI e do ISA,decidiram em relação à empresa JRS PESCA e demais empresas que operam em SantaIsabel do Rio Negro, informar, por meio do OFÍCIO nº 224/FOIRN/2018 (ANEXO) que:

 “[…] a) As áreas de pesca que foram regulamentadas nas Tls JurubaxiTéa e

Uneuixi, bem como o território das Tls Rio Téa, MédioRio Negro l e Médio Rio Negro II, onde a atividade não está autorizada, nãa

podem ser acessadas. As empresas que adentrarem estas áreas estarão, portanto,incorrendo em crime ambiental e demais sanções aos direitos indigenistas;

 b) Não deverão ser emitidas autorizações de trânsito nas áreas indígenas com a

"intenção" de operar o turismo de pesca esportiva nos diminutos trechos 'da APATapuruquara, uma vez que estas colocariam em risco a segurança das Terras Indígenas,assim como a sustentabilidade dos projetos de turismo de base comunitária;”

 De acordo com as informações trazidas ao feito pelo MPF, observa-se que, em

que pese ter a requerente alegado que obteve licenciamentos e certidão de trânsito turísticona APA Tapuruquara, observa-se que a certidão de trânsito turístico naquela região eeventuais licenças junto à Secretaria de Meio Ambiente de Santa Isabel do Rio Negro nãosão suficientes à liberação das atividades de pesca esportiva na região vindicada, sendoainda necessário o consenso junto às organizações indígenas, sendo eles povos afetadoscom a pesca esportiva na região, que, segundo o Parecer, tal consulta e consenso não foirespeitado pela empresa autora, baseando-se nas informações trazidas pelo movimentoindígena (FOIRN) e pelas lideranças da região, conforme consta à fl. 117.

Num. 68531104 - Pág. 4Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 6: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

 De acordo com o Ofício da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro

(FOIRN) nº 224/2018, cumpre colacionar o seguinte trecho apresentado pelo MPF (fls.120/121):

 “Desta forma, e em consonância com a legislação pertinente, as comunidades

indígenas construíram projetos e regulamentos específicos para cada área, prevendo:quatros postos de vigilância em locais estratégicos (na foz dos rios Uneuixi e Jurubaxi e noslimites das Tls), com equipes de vigilantes indígenas capacitadas pela FUNAI e comestrutura para manter a vigilância. monitoramento e proteção do território (voadeiras,radiofonia e combustível, custeados pelo projeto de turismo de pesca). Além disso osprojetos em parceria com as empresas escolhidas custeiam: capacitações e contratações deindígenas para atuar diretamente nas operações de pesca (guias de pesca. garçons,assistente de cozinha. serviços gerais e demais ocupações). expedições de monitoramentoe estudos ambientais com acompanhamento do IBAMA e FUNAI, ajuda de custo para ostrabalhos das associações e vigilantes indígenas e a repartição dos benefícios da atividade.buscando a equivalência de ganhos entre empresas e comunidades.

 Entretanto, o que pode colocar em risco este processo de ordenamento

pesqueiro, proteção e gestão territorial é a tentativa de Invasão de outras empresas deturismo de pesca que atuam em Santa lsabel do Rio Negro, as quais têm divulgado epromovido em grupos de pescadores esportivos via whatsapp e nas redes sociaisespecíficas do setor que atuarão nessas áreas de qualquer maneira. Aproveitamos aoportunidade para encaminhar, como exemplo dos riscos aos quais estão expostas asTerras Indígenas, suas comunidades e os proletos de base comunitária de turismo depesca. o documento submetido pela empresa JRS PESCA ESPORTtVA LTDA -- ME, napessoa de seu representante legal, Joelson Rogerio das Santos. intitulado "RecursoAdministrativo". datado de 14 de agosto de 2018.

 O requerimento apresentado pela empresa do senhor Joelson, demonstra a

forma de atuação dessas empresas e como estas colocam em risco não apenas todo oprocesso de ordenamento das atividades de turismo de pesca esportiva a serem iniciadasnesta temporada (2018/2019), bem como a segurança das comunidades e o direitoconstitucional ao usufruto exclusivo das terras indígenas. A argumentação apresentadasugere que a empresa pretende apenas transitar pelas Terras Indígenas para acessar eexplorar os trechos da Área de Proteção Ambiental (APA) Tapuruquara, e/ou outras semregularização fundiária específica, portanto. com o entendimento de que estas áreasestariam liberadas" para a pesca esportiva.

 Contudo, no atual cenário municipal de Santa lsabel do Rio Negro, os dispostos

de regularização da APA Tapuruquara não estão sendo implementados desde o início de2018. Segundo o Decreto Municipal no 75 de 14 de Julho de 2017 (Anexo 2). o qual prevê odevido cadastramento, licenciamento e controle da entrada das empresas de pesca e dospescadores comerciais, bem como o pagamento de taxas administrativas. com o objetivo degarantir a gestão da APA (monitoramento ambiental fiscalização) e reverter benefíciosfinanceiros para as comunidades ribeirinhas e indígenas, no caso de sobreposição.Considerando a desestruturação do sistema de gestão da própria APA Tapuruquara, bemcomo a inviabilidade econômica de uma operação semanal de pesca esportiva ocorrerapenas nessas áreas às quais o documento se refere. Demonstra-se que a entrada deempresas de pesca esportiva no rio Uneuixi certamente implicará na pesca ilegal na TerraIndígena.

 Conforme as propostas de operações de pesca em parceria com as comunidades

Num. 68531104 - Pág. 5Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 7: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

indígenas que foram enviadas na ocasião do TR publicado pela FOIRN, as empresas depesca esportiva selecionadas apresentaram planos de negócio e de operação quedemonstram claramente a necessidade de áreas maiores do que as da APA Tapuruquarapara viabilizar uma semana de pescaria, uma vez que esta prevê o rodizio e turistasconforme as áreas de pesca disponíveis e nível da água do rio Ainda, segundo os estudosambientais do IBAMA (Anexo 3), foram definidos limites seguros para o esforço de pesca(relação do número de turistas por semana/temporada considerando as áreas de pescadisponíveis), desde que ocorra o devido manejo. rodízio e descanso de lagos e áreas depesca. Portanto, propor uma operação de pesca esportiva nos diminutos trechos da APATapuruquara, nas cabeceiras dos rios Téa e Ayuanã e no trecho médio do rioUneuixi(conforme mapa Anexo 4), além de economicamente inviável, torna a Iniciativa umaatividade de alto risco e impacto ambiental.”

 De acordo com os excertos acima destacados, tem-se que a empresa requerente

não foi selecionada para participar da pesca esportiva relativa à temporada 2018/2019,tendo ali sido especificado que viabilizar a operação de pesca esportiva nos diminutostrechos da APA Tapuruquara, nas cabeceiras dos rios Téa e Ayuanã e no trecho médio dorio Uneuixi, da forma como pretende a parte autora, seria economicamente inviável, além detornar a “atividade de alto risco e impacto ambiental”, conforme anteriormente destacado.

 Desse modo, em que pese a requerente ter aduzido em todo âmbito desta ação

que as atividades de pesca esportiva não incidirão em terras indígenas e não atingirão áreasde lagos e preservação e manutenção previstas nos planos de manejo das comunidadesindígenas, entendo que se trata de atividades onde já foi especificado pelo órgãoresponsável pela liberação das atividades pesqueiras, que a viabilidade das pesca nasregiões seriam atividades de alto risco e impacto ambiental, razão pela qual entendo quenão cabe a este Juízo ultrapassar tal análise, já realizada por quem possui melhorconhecimento das condições da região, sobretudo em razão das ponderações efetuadaspela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), de que, reitero,vislumbrou ser “atividade de alto risco e impacto ambiental”. Além do mais, embora não serealize tais atividades em terras propriamente indígenas, segundo alegou a requerente,nítido é o seu impacto sobre territórios tradicionais e sobre as comunidades indígenasafetadas.

 Verificou-se, ainda, que nas áreas pelas quais a requerente vindicou a realização

das atividades de pesca esportiva, não há autorização para tanto, tendo sido destacado à fl.128 que tais áreas “não podem ser acessadas”, e que as empresas que adentrarem nessasáreas estarão, portanto, incorrendo em crime ambiental e demais sanções aos direitosindígenas. Ressaltou-se, ainda, que “Não deverão ser emitidas autorizações de trânsito nasáreas indígenas com a “intenção” de operar o turismo de pesca esportiva nos diminutostrechos da APA Tapuruquara, uma vez que estas colocariam em risco a segurança dasTerras Indígenas, assim como a sustentabilidade dos projetos de turismo de basecomunitária”.

 Destaca-se, inclusive, os termos da Recomendação nº 13/2016 do MPF, onde há

orientação para que empresas de atividades de pesca esportiva, como é o caso dademandante, não entrem e não realizem qualquer atividade de exploração turística/ pescaesportiva ou comercial nas Terras Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II, Tea, Uneuixi eYanomami, sem a devida autorização pelos povos indígenas envolvidos, mediante consultalivre, prévia e informada, e pelos órgãos públicos responsáveis pela proteção e promoçãodos direitos indígenas e do meio ambiente, nos termos da Instrução Normativa FUNAI nº03/2015, bem como deixem de realizar a venda de pacotes turísticos relacionados à pescaesportiva em qualquer das áreas mencionadas e, ainda, que se abstenham de firmar novos

Num. 68531104 - Pág. 6Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 8: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

acordos envolvendo exploração turística em terras indígenas sem o devido consentimentodas comunidades indígenas e o acompanhamento de seus órgãos representativos e estatais(fls. 115/116).

 Conforme relatou a requerente em recurso administrativo interposto em 14 de

agosto de 2018, colacionado ao feito às fls. 166/168, a mesma apontou que o seu objetivo étão somente transpor por águas fluviais indígenas, para então se chegar em áreapertencente à União e ai sim praticar a atividade de pesca esportiva, tendo frisado que “ouseja, há necessidade de se trafegar por parte do rio que pertence às terras indígenas, parase chegar na parte do rio que se encontra fora de área indígena e que pertence a União”. Detoda sorte, observa-se que, embora se leve a crer que as atividades não serão realizadasem áreas demarcadas como indígenas, há nítida informação nos autos de que, para seacessar a área pela qual a requerente deseja a realização de suas atividades, haverá anecessidade de se acessar áreas indígenas, o que nos termos da Recomendação do MPFdestacada anteriormente, haveria a necessidade de autorização para tal fim.

 Outrossim, bem ressaltou o MPF quando aduziu entender ser incabível o

deferimento do pedido da autora, considerando ainda os impactos sobre territóriostradicionais, somente com a realização plena e diálogo e consenso com as comunidadesafetadas, bem como os estudos socioambientais devidos, é que seria possível a realizaçãoda pesca esportiva (ou qualquer outra atividade impactante sobre o modo de vida dos povosda região), o que, a meu sentir, seria um contrassenso e totalmente temerário se permitirtais atividades na região, da forma como requerido pela parte autora, diante dasinformações já carreadas aos autos, o que seria inclusive ir de encontro aos termos daprópria Recomendação do MPF nº 13/2016, sobretudo a fim de se garantir a própriasegurança dos turistas, que eventualmente adentrariam em área pela qual não houveliberação dos povos indígenas para tal fim.

 Mercê do exposto, por não vislumbrar a probabilidade do direito da parte autora,

indefiro o pedido de tutela de urgência pleiteado.” 

Em sua defesa, a requerente, empresa atuante no ramo de pesca esportiva, relata quea área pela qual seria realizada a pesca esportiva compreende o trecho entre as “TIs Uneiuxi eJurubaxi-Teá”, argumentando que não incidirão sobre as terras indígenas, assim como nãoatingem áreas de lagos de preservação e manutenção previstas nos planos de manejo dascomunidades indígenas, estando sujeita tão somente à disciplina legal do Decreto nº 075/2017,que trata de pesca esportiva na Área de Proteção Ambiental Tapuruquara.

 Trouxe aos autos o mapa que evidencia o local das operações de pesca. Veja-se:  

Num. 68531104 - Pág. 7Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 9: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

Do que se colhe dos autos, para se alcançar o trecho entre as TIs Uneiuxi e Jurubaxi-Teá, onde se pretende desenvolver as atividades esportivas pesqueiras, necessariamente há dese adentrar no Rio Uneiuxi, tendo inclusive sido salientado pela requerente que “a área objeto dopedido dessa ação atinge quase 100 km de trecho do Rio Uneiuxi, entre as TIS Uneiuxi eJurubaxi-Téa”, e que tal área ainda não foi demarcada como terra indígena, razão pela qual háresistência da comunidade indígena para que a autora alcance tal trecho.

  Afirmou em seu recurso administrativo que “o objetivo da requerente não é operar nas

áreas descritas nas TRs, mas sim e tão somente transpor por águas fluviais indígenas, paraentão se chegar em área pertencente à União e ai sim praticar a atividade de pesca esportiva. Ouseja, há necessidade  de se trafegar por parte do rio que pertence às terras indígenas, para sechegar na parte do rio que se encontra fora da área indígena e que pertence a União.”

 No entanto, embora as evidências dos autos demonstrem que a requerente não

pretende realizar as atividades pesqueiras necessariamente nas regiões indígenas, para seadentrar nas áreas objetivadas, ou seja, para se alcançar o trecho entre as TIs Uneiuxi eJurubaxi-Teá (onde se pretende desenvolver as atividades esportivas pesqueiras),necessariamente há de se adentrar no Rio Uneiuxi.

 Acerca disso, foi informado aos autos que a área denominada Juribaxi-Teá teve os

trabalhos de identificação e delimitação concluídos com a publicação do Relatório circunstanciadono Diário Oficial da União em 19 de abril de 2016, expedindo-se pelo Ministro da Justiça aPortaria Declaratória nº 783/2017, declarando-a de posse permanente dos povos, estandoatualmente no aguardo tão somente da homologação pelo Presidente da República.

  Desse modo, as áreas pelas quais a requerente pretende a passagem se tratam de

terras declaradas como “terras indígenas”, e como tal, já foram objeto de expedição de PortariaDeclaratória do Ministro da Justiça e com autorização para serem demarcadas fisicamente,apenas no aguardo de homologação para que, eventualmente, sejam registradas como tal.

 Há que se dizer, portanto, que às comunidades indígenas estão assegurados os

direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, consoante estatui o art. 231 daCRFB/88, razão pela qual, independente de ausência de homologação da área, há de se garantir

Num. 68531104 - Pág. 8Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 10: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

a efetivação dos direitos territoriais dos povos indígenas instalados em tal área, máxime quandose visa a garantia do usufruto exclusivo que as populações indígenas  exercem sobre as terraspor elas ocupadas, destinadas a lhes garantir a ocupação efetiva e indispensável à subsistênciadas comunidades.

 A requerida em sua contestação aduziu ainda que o ingresso, trânsito e permanência

de não índios em terras indígenas estão regulamentados pela FUNAI e condicionados àautorização da Presidência do órgão, mediante instrução de processo administrativo, elucidandoque a IN nº 3/2015 da FUNAI assegura que o ingresso, trânsito e a permanência de terceiros emterras indígenas condicionam-se, primeiramente, ao consentimento dos próprios povos indígenase, em segundo lugar, às determinações existentes nos regulamentos da FUNAI.

 Destaco ainda o trecho da contestação: “A Instrução Normativa nº 3/2015 da FUNAI é a norma referência para a questão da

visitação turística para pesca esportiva em terras indígenas. Importante explicitar, que deforma geral, a pesca esportiva requer vários tipos de licenças, emitidas por diferentesórgãos competentes, e seguindo procedimentos e regulamentos específicos, conforme ocaso. Em toda a situação, o regular exercício da atividade dependerá de autorização emitidapelo órgão ambiental federal, além dos órgãos, nas diferentes esferas da federação, ligadosa outras áreas, como o turismo por exemplo. Há uma vasta legislação federal regulando aatividade.”

(...) A partir da análise da IN n.º 3/2015, verifica-se cabalmente a legalidade e regularidade

do processo de ordenamento pesqueiro que vem sendo construído nas Terras Indígenas domédio Rio Negro, sobretudo na TI Jurubaxi-Téa, objeto da discussão dos presentes autos.De início é preciso salientar que o exercício da pesca esportiva nos territóriostradicionais requer o desenvolvimento de projetos experimentais, a fim de levantarinformações e requisitos mínimos para a elaboração de planos de visitação, tais comoestudos ambientais, plano de negócios, anuência das comunidades, termos deresponsabilidade de parceiros, repartição de benefícios, entre outras exigências,fixadas no art. 11 da norma.”

 Nesse contexto, observo que a parte autora não apresentou documentos que

comprovem possuir medida de autorização ou qualquer outro permissivo por parte do entecompetente, autorizando-se a prática de tais atividades nas áreas pleiteadas, de modo que nãologrou êxito em demonstrar a regular anuência por parte do Ente Federal para assim proceder àexploração das áreas em discussão nos autos.

 Por oportuno, registra-se que, consoante já restou assentado na decisão de

indeferimento da tutela provisória, em que pese ter a requerente alegado que obtevelicenciamentos e certidão de trânsito turístico na APA Tapuruquara, observa-se que a certidão detrânsito turístico naquela região e eventuais licenças junto à Secretaria de Meio Ambiente deSanta Isabel do Rio Negro não são suficientes à liberação das atividades de pesca esportiva naregião vindicada, até porque, consoante foi destacado pelas requeridas em contestação, oexercício da pesca esportiva na APA de Tapuruquara deve ainda observar o regramento contidono Decreto Municipal nº 75/2017, o qual estabelece em seu art. 2º que:

  “A atividade poderá ocorrer em áreas incidentes em territórios indígenas, desde

que autorizadas pelas Comunidades Indígenas e mediante o plano de trabalho por elaselaborado em acordo com a IN 03/2015- FUNAI e demais legislação vigente.”

 

Num. 68531104 - Pág. 9Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 11: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

Por fim, não é demais relembrar os termos da Recomendação nº 13/2016 do MPF,onde há orientação específica e direcionada às empresas que praticam as operações de pescaesportiva na região, como é o caso da demandante, para que não entrem e não realizemqualquer atividade de exploração turística/pesca esportiva ou comercial nas Terras MédioRio Negro I, Médio Rio Negro II, Tea, Uneuixi e Yanomami, sem a devida autorização pelospovos indígenas envolvidos, mediante consulta livre, prévia e informada, e pelos órgãospúblicos responsáveis pela proteção e promoção dos direitos indígenas e do meioambiente, nos termos da Instrução Normativa FUNAI nº 03/2015, bem como deixem derealizar a venda de pacotes turísticos relacionados à pesca esportiva em qualquer das áreasmencionadas e, ainda, que se abstenham de firmar novos acordos envolvendo exploraçãoturística em terras indígenas sem o devido consentimento das comunidades indígenas e oacompanhamento de seus órgãos representativos e estatais.

 Por essas mesmas razões acima expostas, e com esteio da própria recomendação do

Ministério Público Federal, entendo haver plausibilidade quanto ao pedido efetuado pelasrequeridas em reconvenção, para que seja determinado à requerente que se abstenha detransitar nas terras declaradas como indígenas que participam da construção do ordenamentopesqueiro na bacia do Rio Negro, sobretudo Jurubaxi-Teá, enquanto não cumprir com osprocedimentos necessários para tanto, sobretudo a fim de se evitar qualquer tipo de exploraçãoda área sem a devida autorização.

 Assim, com base nas razões acima invocadas: a)       Ratifico a decisão que indeferiu o pedido de tutela de urgência e julgo

improcedentes os pedidos delineados pela requerente, resolvendo o mérito da lide,com fulcro no art. 487, I, do CPC/2015;

 b)      Julgo procedentes os pedidos efetuados pelas requeridas/reconvintes,

determinando à requerente que se abstenha de transitar nas terras declaradascomo indígenas discutidas nos autos e que participam da construção doordenamento pesqueiro na bacia do Rio Negro, sobretudo Jurubaxi-Téa, sem adevida autorização da FUNAI e sem a consulta e consentimento das comunidades,devendo ainda observar os critérios estabelecidos pela legislação específica aocaso, isto é, a Instrução Normativa n.º 3/2015 da FUNAI e o Decreto municipal nº075/2017;

 c)       Ainda, determino que a requerente se abstenha de exercer a prática da pesca

esportiva na APA de Tapuruquara enquanto não realizar a consulta e obter oconsentimento a que se refere o Decreto municipal nº 75/2017, das comunidadesindígenas afetadas direta e indiretamente pelas atividades.

  Defiro o pedido de ingresso na lide da FUNAI, consoante requerido no id 59961085.Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários

advocatícios, estes fixados equitativamente em R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), combase no art. 85, §8º, do CPC/2015.

Havendo recurso, determino, desde logo, a intimação da parte recorrida paracontrarrazoar, nos termos do art. 1.010, §1º, do CPC/2015, após o que deverá a Secretaria daVara proceder nos termos em que determinado na Resolução Presi – 5679096, de 08/03/2018(TRF1), e em seguida remeter os autos ao eg. Tribunal Regional Federal da 1ª Região, se nãohouver pedido pendente de análise.

Publique-se. Intimem-se.Manaus, 10 de julho de 2019.

Num. 68531104 - Pág. 10Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152

Page 12: PROCESSO: 1003389-81.2018.4.01.3200 - PROCEDIMENTO …€¦ · participação de 8 a 10 pescadores, sendo no máximo 5 voadeiras, mais o barco hotel, com 6 dias efetivos de pesca

RAFFAELA CÁSSIA DE SOUSA

Juíza Federal Substituta da 3ª Vara/AM   

   

Num. 68531104 - Pág. 11Assinado eletronicamente por: RAFFAELA CASSIA DE SOUSA - 10/07/2019 17:33:55http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19071017335587100000067894152Número do documento: 19071017335587100000067894152