problema 3 lesÕes tipo ulcera introduÇÃo€¦ · 3) tratamento da doença de base causadora....

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1 PROBLEMA 3 1. Descrever as lesões do tipo ulcerado. 2. Descrever a epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, diagnóstico diferencial e tratamento da leishmaniose tegumentar. 3. Descrever as principais neoplasias de pele (carcinoma basocelular, espinocelular e melanoma) e tratamento. LESÕES TIPO ULCERA INTRODUÇÃO o Considerar: número, forma, profundidade, bordas, configuração, cor, secreção, sensibilidade e localização. o Podem ser agudas, subagudas e crônicas. o Progressão rápida em relação à superfície: fagedênicas. o Progressão rápida em relação à profundidade: terebrantes. o Causas: traumas mecânicos, físicos e químicos; infecções agudas diversas como piodermites, cancro mole e septicemias; ou infecções crônicas granulomatosas como sífilis, blastomicose, esporotricose, actinomicose, leishmaniose, tuberculose; tumores malignos, isto é, epiteliomas, melanomas, sarcomas e linfomas; alterações neurotróficas observadas no diabetes, hanseníase, siringomielia, tabes dorsalis e lesões de nervos periféricos; afecções vasculares como arteriosclerose, tromboflebites e vasculites ou quadros de alterações sanguíneas como anemia falciforme, agranulocitose e disproteinemias. ÚLCERAS DE PERNA o São comuns. o Fatores predisponentes: ortostatismo, vulnerabilidade da perna a traumas e infecções, efeitos do aumento da pressão venosa, diminuição do fluxo vascular. Úlcera de estase o É a causa mais comum de úlcera na perna. o Patogenia: Insuficiência venosa crônica hipertensão venosa crônica transmite essa pressão para o leito arteriocapilar gera alterações teciduais de pele, e subcutâneo trauma leve infecção diminuição da defesa tissular + isquemia pode ocorrer edema e púrpuras por extravasamento de hemácias e fluidos por meio dessas veias dilatadas. Eczema é causado pela resposta inflamatória aos depósitos de hemoglobina extravasada além da ação exógena de substâncias irritantes e/ou sensibilizantes usadas em profusão pelos doentes na tentativa de tratar essas úlceras crônicas.

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Page 1: PROBLEMA 3 LESÕES TIPO ULCERA INTRODUÇÃO€¦ · 3) Tratamento da doença de base causadora. ÚLCERA DE DECÚBITO o Lesões ulceradas que ocorrem na região lombossacral, nos tornozelos,

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PROBLEMA 3

1. Descrever as lesões do tipo ulcerado.

2. Descrever a epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, diagnóstico

diferencial e tratamento da leishmaniose tegumentar.

3. Descrever as principais neoplasias de pele (carcinoma basocelular, espinocelular e

melanoma) e tratamento.

LESÕES TIPO ULCERA

❖ INTRODUÇÃO

o Considerar: número, forma, profundidade, bordas, configuração, cor, secreção,

sensibilidade e localização.

o Podem ser agudas, subagudas e crônicas.

o Progressão rápida em relação à superfície: fagedênicas.

o Progressão rápida em relação à profundidade: terebrantes.

o Causas: traumas mecânicos, físicos e químicos; infecções agudas diversas como

piodermites, cancro mole e septicemias; ou infecções crônicas granulomatosas como

sífilis, blastomicose, esporotricose, actinomicose, leishmaniose, tuberculose; tumores

malignos, isto é, epiteliomas, melanomas, sarcomas e linfomas; alterações neurotróficas

observadas no diabetes, hanseníase, siringomielia, tabes dorsalis e lesões de nervos

periféricos; afecções vasculares como arteriosclerose, tromboflebites e vasculites ou

quadros de alterações sanguíneas como anemia falciforme, agranulocitose e

disproteinemias.

❖ ÚLCERAS DE PERNA

o São comuns.

o Fatores predisponentes: ortostatismo, vulnerabilidade da perna a traumas e infecções,

efeitos do aumento da pressão venosa, diminuição do fluxo vascular.

• Úlcera de estase

o É a causa mais comum de úlcera na perna.

o Patogenia:

▪ Insuficiência venosa crônica → hipertensão venosa crônica → transmite essa pressão

para o leito arteriocapilar → gera alterações teciduais de pele, e subcutâneo → trauma

leve → infecção → diminuição da defesa tissular + isquemia → pode ocorrer edema e

púrpuras por extravasamento de hemácias e fluidos por meio dessas veias dilatadas.

▪ Eczema é causado pela resposta inflamatória aos depósitos de hemoglobina extravasada

além da ação exógena de substâncias irritantes e/ou sensibilizantes usadas em profusão

pelos doentes na tentativa de tratar essas úlceras crônicas.

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▪ A pigmentação ocre ocorre pela transformação da

hemoglobina extravasada em hemossiderina.

▪ A dermatoesclerose resulta da fibrose que sucede os

fenômenos inflamatórios endógenos ou as infecções

secundárias.

o Clínica:

▪ Pródromos: edema vespertino nos tornozelos e a dermatite

ocre (manchas vermelho-castanhas decorrentes da

pigmentação hemossiderótica), eczema, celulite, erisipela.

▪ Local: terço inferior da perna, face medial, região

supramaleolar.

▪ Ulcera única de tamanho variável.

▪ No início, apresenta bordas irregulares, fundo hemorrágico ou purulento, porém, com a

evolução, as bordas se tornam calosas e aderentes aos tecidos subjacentes.

▪ Associação com eczema e/ou erisipela produz dermatofibrose da área circunjacente,

agravando o quadro. Os surtos de erisipela aumentam a estase e a fibrose, o que

predispõe novos surtos de infecção.

▪ Pode ocorrer cicatrização de aspecto atrófico-esbranquiçado de tonalidade marfim

(atrofia branca).

o Diagnóstico:

▪ Diagnóstico diferencial: leishmaniose, esporotricose, neoplasia, sífilis, TB.

o Tratamento:

▪ 1) Prevenção do edema ortostático (levantar os membros, uso de meias elásticas),

principalmente na gestação e puerpério.

▪ Quando está relacionado ao eczema hipoestático, esse deve ser tratado primeiramente.

▪ 2) limpeza da úlcera com solução levemente antisséptica como permanganato de

potássio a 1:20.000.

▪ 3) Se necessário: pomada de neomicina ou ATB sistêmico.

▪ 4) O recurso mais eficiente para a cicatrização das úlceras de estase, em tratamento de

ambulatório, é a bota de Unna, consistente no uso de cola de Unna, que se liquefaz

quando aquecida e se solidifica em temperatura ambiente, e é aplicada com gaze.

▪ 5) Curativo com hidrocoloide, ou curativo absorvente se ulcera muito secretiva.

▪ A cirurgia das varizes, quando indicada, deve ser feita somente após cicatrização da

úlcera e cura do eczema ou de infecção porventura associados.

• Úlcera de perna de origem não venosa

o Causas: neoplasias cutâneas ulceradas, as úlceras infectoparasitárias (leishmaniose,

esporotricose, cromomicose, blastomicose), arteriais (ocorrem por isquemia cutânea,

como a micrangiopatia hipertensiva, a microangiopatia diabética e as diferentes vasculites

dependentes de processos infecciosos imunoalérgicos ou autoagressivos) e neurotróficas.

o Casos em que o sistema arterial e arteriocapilar é normal ou doente, mas a deficiência da

irrigação surge em virtude de processos de coagulação intravascular primários ou mesmo

por microembolizações periféricas. Podem ser observados em: neoplasias, infecções

graves, doenças imunológicas, doenças hematológicas como as policitemias,

crioglobulinemias, anemias hemolíticas ou cardiopatias e aneurismas arteriais.

• Úlcera anêmica

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o Pode ocorrer em vários tipos de anemias hemolíticas esferocítica, não

esferocítica, de Cooley e, particularmente, falciforme, associando-se à

esplenomegalia, icterícia, hepatomegalia.

o A úlcera, que é bastante dolorosa, localiza-se no terço inferior da perna, sem

características específicas. A ausência de sinais de estase, particularmente

em mulheres jovens, e a cor da pele são elementos para o diagnóstico.

o Correção da anemia por transfusão sanguínea ou outros recursos são

indicados no tratamento da úlcera.

• Ulceras microangiopática

o Microangiopatia na vigência de hipertensão arterial diastólica, microangiopatia diabética

e outras vasculites localizadas no tecido dérmico.

• Ulcera hipertensiva (Martorell)

o Pacientes com HAS diastólica. Mais frequente em mulheres de 40-60 anos.

o Clínica:

▪ Ulceras rasas, extremamente dolorosas, base necrótica, bilateral em face externa

das pernas, acima dos tornozelos.

o Diagnóstico:

▪ Diferenciar de: estase venosa, arteriosclerose e diabetes, e das lesões ulceradas

de vasculites.

o Tratamento:

▪ Combate à hipertensão e controle da dor com AINEs, vasodilatadores.

Localmente, utilizam-se as medidas habituais no tratamento das úlceras crônicas,

porém, nesses casos, são absolutamente contraindicados tratamentos

compressivos.

• Úlcera arteriosclerótica

o Úlcera de perna ou pé, encontrada em indivíduos idosos, às vezes diabéticos e/ou

hipertensos, mas desencadeada fundamentalmente por isquemia cutânea dependente de

lesões arteriais tronculares. Geralmente, aparece após traumas.

o Clínica:

▪ Bordas cortadas a pique, irregulares e dolorosas, em tornozelo, maléolo ou extremidades

digitais.

▪ Palidez, ausência de estase, retardo do retorno da cor após elevação do membro,

diminuição ou ausência do pulso no pé.

o Histopatológico:

▪ Artérias com placas de ateroma com depósitos lipídicos e fibrose, com destruição da

membrana elástica interna e calcificação da camada média.

o Tratamento:

▪ Medicações antissépticas locais, antibióticos, quando necessários, sedativos e

analgésicos.

▪ Os vasodilatadores têm valor questionável.

▪ Repouso é útil, todavia, por motivos óbvios, a elevação dos membros e a aplicação da

bota de Unna são absolutamente contraindicados.

▪ Solicitar avaliação do angiologista.

❖ ÚLCERA NEUROTRÓFICA (MAL PERFURANTE)

o O mal perfurante é ulceração crônica em área anestésica, por trauma ou pressão.

o Ocorre na hanseníase, tabes, siringomielia, injúrias ou afecções de nervos periféricos,

como no etilismo crônico, e em outros quadros neurológicos, como na ausência congênita

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de dor e na síndrome de Thévenard. Diabetes, causando neuropatia periférica, é causa

frequente de mal perfurante.

o Clínica:

▪ Área de trauma ou pressão: região calcânea, metatarso.

▪ Inicia com um calosidade → fissura → ulceração.

▪ Indolor, bordas hiperqueratósicas, pode haver sinais flogisticos se

infectada.

o Diagnóstico:

▪ Elucidar a causa do mal perfurante.

o Tratamento:

▪ 1) Controle da infecção, se presente.

▪ 2) Cirurgia se ostiomielite e infecções profundas.

▪ 3) Tratamento da doença de base causadora.

❖ ÚLCERA DE DECÚBITO

o Lesões ulceradas que ocorrem na região lombossacral, nos tornozelos, nos

calcanhares e em outras regiões de doentes acamados por longos períodos,

debilitados ou paraplégicos.

o Pressão contínua sobre determinada área cutânea → primeiro há região de

lividez → progride com aparecimento de escara enegrecida → escara

caduca → é eliminada então → úlcera.

o É fundamental a prevenção com cuidados adequados de enfermagem,

como mudança frequente de posição do enfermo e uso de colchões e almofadas

apropriados.

o Lesões de difícil cicatrização.

❖ ÚLCERA DE MARJOLIN

o Desenvolvimento de carcinoma espinocelular em úlcera crônica ou

cicatriz antiga.

o Rara.

o Clinicamente, caracteriza-se pela progressão da úlcera, que assume

aspecto vegetante e/ou verrucoso, particularmente na borda.

o Metástases nos linfonodos ocorrem em 30 a 40% dos casos, quando

não é feito tratamento precoce.

o É imprescindível a biópsia em todo caso de úlcera que se torna

vegetante ou verrucosa.

o O tratamento é a exérese.

LEISHMANIOSE TEGUMENTAR

❖ INTRODUÇÃO

o Leishmaniose: infecção crônica, não contagiosa, causada por diversas espécies de

protozoários do gênero Leishmania e transmitidas de animais infectados para o homem

por fêmeas de flebotomíneos. Constituem problema de saúde pública global em expansão

na maioria dos países atingidos, inclusive no Brasil.

o Duas formas:

▪ Visceral.

▪ Tegumentar: tegumentar oriental; tegumentar americana; e tegumentar difusa.

o No BR: tegumentar americana, tegumentar difusa e visceral neotropical ou americana.

o Possuem duas formas em seu desenvolvimento, uma no homem (organismos ovoides, sem

flagelo - amastigota – com núcleo, cinetoplasto, encontrado nos infiltrados inflamatórios

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no interior dos macrófagos) e outra no vetor (forma flagelada – promastigotas – móveis,

com tamanhos variáveis, com núcleo, cinetoplasto, blefaroplasto e flagelo).

o Transmissão pelo mosquitos flebotomíneos classificados em dois gêneros – Lutzomya e

Psychodopygus, conhecidos no Brasil por birigui, mosquito-palha ou tatuquira.

o Reservatórios: roedores, marsupiais, preguiça, quati e tatu, cães cavalos, muares.

o Espécies de leishmania no BR: L. (V) braziliensis, L. (V) guuyanensis, L. (V) lainsoni, L. (V)

shawi, L. (V ) naiffi e L. (L) amazonensis.

o As formas amastigotas são ingeridas pelos flebótomos de animais infectados → evoluem

no tubo digestivo para formas promastigotas → ao se nutrir de sangue, a fêmea do

flebotomíneo inocula, no homem, as formas promastigotas infectantes → essas formas

promastigotas são interiorizadas pelos macrófagos da pele e transformam-se rapidamente

em amastigotas.

❖ LEISHMANIOSES TEGUMENTARES

• Leishmaniose tegumentar americana

o Causada pela L. brasilienses.

o Produz lesões cutâneas e mucosas, sendo ela leishmaniose cutâneo-mucosa, conhecida

como úlcera de Bauru, ou “ferida brava”.

o Ocorre em surtos epidêmicos em regiões que estão sendo povoadas, quando, pela

derrubada de matas, o homem penetra na biocenose do meio ambiente, e a infecção se

origina de animais silvestres.

o As formas clínicas da leishmaniose tegumentar americana constituem espectro no qual,

em um polo, estão as formas cutânea ulcerada e a mucosa, grupo com forte resposta

imunecelular; e, no outro, está a leishmaniose cutânea difusa, com ausência da imunidade

celular, múltiplas lesões e grande número de parasitas.

o Os fatores que determinam a posição no espectro dependem

do perfil genético, da resposta imune do hospedeiro e da

espécie e cepa da leishmânia.

o Clínica:

▪ Incubação de 1-4 semanas.

▪ Lesão inicial: pápulas eritematosas única ou múltipla, em

região exposta na pele (ponto de inoculação) → adenopatia

regional e linfangite.

▪ Evoluindo com aspecto papulovesiculoso, papulopustuloso e

papulocrostoso → evoluem para úlceras.

▪ Características das úlceras: contornos circulares, bordas altas

e infiltradas, em moldura de quadro, fundo com granulações

grosseiras, cor vermelho-vivo, podendo estar recobertas por

exsudato seroso ou seropurulento.

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▪ Podem ocorrer lesões em várias fases evolutivas, eventualmente surgindo lesões-satélite

(satelitose).

▪ A lesão pode evoluir para cicatrização espontânea ou dar origem a placas vegetantes-

verrucosas, sarcóideas, infiltradas.

▪ Lesões mucosas surgem após um ou dois anos após o inicio da infecção. Primeiro surge

um eritema, discreta infiltração no septo nasal → segue processo ulcerativo → acomete

faces laterais das asas do nariz e elementos contíguos + destruição do nariz (nariz de

anta).

▪ Na área adjacente, há edema e eritema e, pela inflamação secundária, hipertrofia nasal

lembrando rinofima. O quadro, frequentemente, envolve o lábio superior e inferior, o

palato, as gengivas, a língua, a faringe e a laringe. Na cavidade oral, especialmente no

palato, as lesões são ulcerovegetantes com granulações grosseiras, às vezes separadas

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por sulcos, que podem se entrecruzar formando a chamada “cruz da espundia” ou cruz

de Escomel.

▪ A leishmaniose disseminada caracteriza-se por múltiplas lesões acneoides, em

pelo menos duas regiões corporais, podendo surgir sintomas gerais, como

calafrios, febre e mialgia durante o período de disseminação → surge semanas

após a lesão inicial ulcerada → lesões aumentam em número, evoluindo para

pápulas, nódulos e ulcerações.

o Diagnóstico diferencial:

▪ Em sua forma ulcerada inclui: ulceras de estase, tropical e da anemia falciforme; sífilis

cutânea tardia e a fase tardia de acidente com aranhas do gênero Loxoceles.

▪ Lesões mucosas: granulosa mediofacial, rinoscleroma, sífilis cutânea tardia, carcinomas

e perfuração septal dos usuários de cocaína.

▪ Quando as lesões cutâneas são vegetantes verrucosas, constituem uma das etiologias da

síndrome LECT (Leishmaniose, Esporotricose, Cromomicose e Tuberculose) → exames

para diferenciar.

o Diagnóstico laboratorial:

▪ Exame do esfregaço: corado pelo Leishman ou Giemsa, sendo quase sempre positivo em

lesões recentes e raramente positivo em lesões tardias.

▪ Exame histopatológico: exibe um granuloma linfo-histioplasmocitário, com áreas ou

faixas de células epitelioides, que são os centros claros ou clareiras. Há, em geral, grande

número de plasmócitos que constituem pista para a diagnose histológica. Em formas

recentes, leishmânias podem ser encontradas pela HE (não é necessária a coloração pelo

Giemsa); em lesões tardias, são raras, porém pesquisa cuidadosa e demorada possibilita

o achado da leishmânia.

▪ Reação de Montenegro: aplicação intradérmica, de 0,1 a 0,3 mL de uma solução fenolada

de leptomonas (formas promastigotas) na concentração de 2 a 3 milhões por mL. A

leitura é feita após 48 a 72 horas, e a reação deve ser considerada positiva com pápula

maior do que 5 mm de diâmetro. A reação pode ser negativa até um ou dois meses após

o início da doença, em imunodeprimidos e na leishmaniose tegumentar difusa e visceral.

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Eventualmente, é fracamente positiva em casos de tuberculose cutânea. Continua

positiva após a cura da doença.

▪ Sorologias: é reagente em 75%. Não é específico.

o Tratamento:

▪ Antimoniais: uso do glucantime, na dose de 15mg de Sb/kg/dia (forma cutânea), 20mg

de Sb/kg/dia (forma cutâneo-mucosa). Pode ser IM profunda (bastante dolorosa), ou IV

(preferencialmente paciente internado), gota a gota ou diluída em 10ml de SG25%. Total

de aplicações: 20-30, uma vez ao dia, podendo haver uma interrupção de acordo com as

reações adversas. EA: náuseas, vômitos, tosse, artralgias, mialgias, elevação das

transaminases, ureia e creatinina e alterações eletrocardiográficas. Os controles

laboratoriais e o eletrocardiograma devem ser realizados antes e durante o tratamento,

particularmente em doentes idosos.

▪ Anfotericina B: indicada para formas resistentes à terapia antimonial. Administração IV,

diluída em SG5%, com 25-50mg de hidrocortisona solúvel e administrada gota a gota em

um período de 6-8h. aplicações diárias ou em dias alternados. Em adultos, iniciar com 15

mg, seguindo-se 25 e 50 mg de anfotericina B. Dosagem total entre 1.200 e 2.000 mg do

antibiótico. CI: idosos, nefropatas, cardiopatas e gestantes. Monitorização de ureia,

creatinina e ECG.

▪ Anfotericina B lipossomal: custo elevado limita o uso. É eficaz e tem menor toxicidade do

que a anfotericina B, indicada para formas graves ou resistentes.

▪ Pentamidina – isotionato de pentamidina: alternativa entre a glucamina e a anfotericina

B. É administrada na dose de 4 mg/kg de peso, total de três aplicações, IM, com intervalo

de dois dias. Quando for necessária dosagem maior, superior a 1,5 g, deve ser feita

avaliação hepática, cardiológica e renal. A pentamidina é hipoglicemiante, sendo

necessário fazer glicemia pré-tratamento e administrá-la após alimentação. Pode ser

usada para a terapia de lesões mucosas.

▪ Imunoterapia: utilização de citoquinas ou o seu bloqueio tem sido feita com sucesso em

algumas formas de leishmaniose. O GM-CSF (granulocyte--macrophage colony-

stimulating factor) em associação com antimônio na leishmaniose cutânea pode acelerar

a cicatrização.

▪ Miltefosine – via oral, foi introduzida na Índia para o tratamento da leishmaniose visceral

com excelentes resultados. Atualmente, é testada no Brasil.

▪ ATB – se houver infecção associada.

▪ Eletrocirurgia e criocirurgia – em lesões verrucosas, pode-se associar curetagem e

eletrocoagulação ou aplicação de nitrogênio líquido à terapia medicamentosa.

▪ Cirurgia dermatológica corretiva – indicada nas sequelas cicatriciais pós-tratamento.

o Profilaxia:

▪ Uso de inseticidas antiflebótomos, bem como outras medidas de proteção como telas e

eliminação de reservatórios.

▪ Na leishmaniose selvática, deve-se usar repelentes, proteger-se com roupas e evitar

entrar na selva no final do dia ou à noite.

▪ Diversas vacinas foram empregadas, inclusive uma associação com BCG, com relatos

favoráveis, necessitando comprovação.

• Leishmaniose tegumentar difusa

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o Nas américas o responsável é o L. amazonenses.

o O vetor principal é a L. flaviscutellata.

o Clínica:

▪ Lesões queloidianas múltiplas, infiltração e ulceração na mucosa nasal,

não havendo em geral destruição do septo.

▪ Ocasionalmente, lesão laringofaringiana.

▪ Não há comprometimento visceral.

o O exame do esfregaço ou histológico revela riqueza de formas

amastigotas de leishmanias.

o O quadro clínico da LTD ocorre em virtude de defeito imunológico

genético. A reação de Montenegro e o teste de transformação blástica

são negativos.

o Não tem terapia efetiva → apenas regressão parcial de lesões, com

recidiva após suspensão.

o Foi reportado um resultado favorável com a associação de antimônio e

interferon-gama e outro com a miltefosina.

TUMORES EPITELIAIS MALIGNOS

❖ CARCINOMA BASOCELULAR (CBC)

o Também chamado de epitelioma basocelular ou basalioma → é o mais benigno,

constituído de células que se assemelham às células basais da epiderme. Representa 65%

das neoplasias epiteliais

o Incapaz de originar metástases, possuindo malignidade local e capacidade de invadir e

destruir tecidos adjacentes.

o Fatores predisponentes: exposição a luz solar, pele clara, raro em negros, radioterapia

prévia, exposição ao arsênico

o Manifestações clínicas:

▪ Localização nos 2/3 superiores da face, sendo menos comum em outras áreas do rosto,

tronco e extremidades. Não ocorre em palmas, plantas e mucosas

▪ Epitelioma basocelular nódulo-ulcerativo: início com pápula rósea perlada → evolui

para nódulo com posterior ulceração central, recoberta por crosta que quando retirada

determina sangramento. Lesão típica, cilíndrica, translúcida, mostrando formações

perláceas e, às vezes, finas telangiectasias arboriformes. Com a progressão do quadro,

pode haver extensão em superfície, às vezes, com cicatrização central (forma plano-

cicatricial), ou em profundidade, com invasão e destruição de músculo, cartilagem, osso

ou outras estrutras (forma terebrante) ou há proliferação central (forma vegetante)

▪ Tipo esclerosante: placa branco amarelada, escleroatrófica, dura, lisa, pode ou não

apresentar telangectasias, bordas mal definidas, lembra esclerodermia. Evolução lenta e

raramente se ulcera.

▪ Epitelioma basocelular superficial ou pagetoide: leões múltipls, eritematoescamosas,

discretamente infiltradas, emolduradas por bordas irregulares e ligeiramente elevadas.

Diferencial com psoríase, eczema seborreico, lúpus eritematoso, doença de Bowen ou

de Paget, e a localização é geralmente no tronco

▪ CBC pigmentado: forma nódulo-ulcerativa com variável pigmentação melânica e

assemelha-se ao melanoma maligno, do qual deve ser diferenciado

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Forma vegetante. Ao lado da área vegetante, pode-se observar placa papulosa de aspecto perláceo.

Carcinoma basocelular esclerodermiforme. Aspecto amarelado esclerodermi-forme e áreas ulceradas na porção superior do tumor.

Carcinoma basocelular superficial. Placa Erite-matosa com bordas ligeiramente infiltradas, no tronco.

Carcinoma basocelular pigmentado. Lesão nodular centralmente ulcerada, de coloração negra

o Histopatologia: presença de massas de células basaloides que se dispõem

perifericamente, em paliçada.

o Diagnóstico: clínico + histopatológico

o Diagnóstico diferencial:

▪ Epiteliomas basocelulares nódulo-ulcerados: queratoacantoma e o carcinoma

espinocelular

▪ Formas superficiais: queratoses actínicas e da disqueratose de Bowen

▪ Forma esclerosante: esclerodermia em placas

▪ Forma pigmentar: queratose seborreica e do melanoma maligno

▪ Formas nodulares: tumores benignos de anexos, de tricoepitelioma, de cilindroma e de

cistos epidérmicos

o Tratamento

▪ Depende da localização, tamanho e profundidade do tumor

Nódulo eritematoso de aspecto perláceo com telangiectasias na superfície. Simultaneamente, há

lesões de melanose e de queratose solares.

Nódulo ulcerado centralmente, com bordas

perláceas, com telangiectasias.

Extensa ulceração. Observa-se, em alguns pontos, borda perlácea

típica.

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▪ Até 1,5 cm, na face e no tronco: o método eletivo é a curetagem e eletrocoagulação

▪ Em lesões dos membros, particularmente do dorso das mãos e em lesões maiores

que1,5cm: excisão e sutura → margem de segurança de 0,5cm

▪ Tratamento eletivo de CBC superficial ou em áreas de cartilagem: criocirurgia com

nitrogênio líquido Em CBC nódulo-ulcerativo, o nitrogênio líquido deve ser aplicado após

curetagem

▪ Formas recidivantes, CBC esclerofermiforme, tumores em fendas naturais (como

pregas pré-auriculares, sulcos nasolabiais e regiões oculares): cirurgia micrográfica

(Mohs) → controle microscópico completo do tecido removido; consta da remoção

cirúrgica de camadas sucessivas do tecido e exame microscópico de congelação da

superfície inferior de cada fragmento retirado → reaplicam-se etapas sucessivas da

técnica, até remoção completa do tecido neoplásico

▪ Formas extensas, idoses, impossibilidade cirúrgica: radioterapia; O imiquimode é

aquisição recente, com excelentes resultados; usa-se em creme a 5%, em aplicações

diárias ou cinco dias por semana, com melhor tolerância (Ocorre uma reação local com

eritema, prurido e ulceração; quando a reação for intensa, a aplicação é suspensa por

alguns dias e, após melhora, reiniciada. A duração do tratamento é de 6 a 12 semanas e

a indicação mais precisa é para CBCs superficiais)

❖ CARCINOMA ESPINOCELULAR

o Também chamado de carcinoma epidermóide, é um tumor maligno com proliferação

atípica de células espinhosas, de caráter invasor, com capacidade de originar metástase.

o Representa 15% das neoplasias epiteliais malignas → maiores de 50 anos, mais frequente

no sexo masculino

o Fatores de risco: queratose solar, na leucoplasia, na radiodermite crônica, na queratose

arsenical, no em úlceras crônicas, em cicatrizes de queimadura, tabagismo (irritações

crônicas pele fumo), dentes defeituosos, aparelhos e préteses, exposição a derivados de

alcatrão e hidrocarbonetos; fatores imunológicos (inflamação crônica, imunossuprimidos,

transplantados renais), Vírus HPV 6,11,16,18; Sindriomes genéticas (xeroderma

pigmentoso (defeito na reparação do DNA), albinisco oculocutâneo e epidermodisplasia

verruciforme)

o Manifestações clínicas

▪ Localização: lábio inferior, orelha, face, dorso das mãos, mucosa bucal e genitália externa

▪ Pele: Inicialmente há uma área queratósica infiltrada e dura ou nódulo → aumento da

lesão e gradualmente ulceração → ulceração com infiltração na borda, pode se tornar

vegetante ou córnea

▪ Mucosa: placa de leucodisplasia por áreas de infiltração ou lesão vegetante

▪ Lábio inferior: área de leucoplasia que se infiltra ou é lesão nodular

▪ Genitais: surge sobre área de eritroplasia

▪ Carcinoma verrucoso: variante com evolução lenta, relativamente benigno, difícil de se

diferenciar das hiperplasias pseudoepiteliais (várias biópsias para elucidação), menos

agressivo e com raras metástases. Na região plantar corresponde ao epitelioma

cuniculatum, na região genital (Buschke-Löwenstein; e, na cavidade bucal, é

representado pela chamada papilomatose oral florida.

Carcinoma espinocelular.

Lesão

Carcinoma espinocelular. Nódulo queratósico ao

Carcinoma espinocelular de

lábio inferior.

Carcinoma verrucoso oral. Papilomatose

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ulcerovegetante sobre cicatriz de

queimadura.

lado de melanoses e queratoses solares

Extensa área de infiltração

centralmente ulcerada

florida. Lesão vegetante no lábio.

o Mecanismo: O carcinoma espinocelular se desenvolve frequentemente a partir de lesões

pré cancerosas → queratoses actínicas, as queilites actínicas, as leucoplasias, as

radiodermites crônicas, as queratoses arsenicais, o xeroderma pigmentoso, as úlceras

crônicas, as cicatrizes de queimaduras, e o líquen erosivo da mucosa oral. Outras formas

que podem sofrer malignização são o lúpus vulgar, liquen escleroso atrófico e sífilis tardia.

o Metástases: após meses/anos são mais frequentes e precoces nos carcinomas das

mucosas, do dorso das mãos e das cicatrizes das queimaduras. Raro nos de face começam

com queratose solar

o Diagnóstico: clínico + confirmação histopatológica

o Diagnóstico diferencial: queratoses actínicas, queratoacantoma, epitelioma basocelular,

disqueratose de Bowen, queratoses seborreicas, melanoma amelanótico e tumores de

células de Merkel, além de tumores malignos de anexos

o Tratamento

▪ Lesões recentes e menores que 1 cm na pele podem ser tratadas com eletrocoagulação

e curetagem, as maiores devem ser excisadas com suficiente margem de garantia em

superfície e profundidade (0,5 cm).

▪ Criocirurgia por nitrogênio líquido.

▪ Exérese ampla: lesões extensas e de longa duração

▪ Cirurgia micrográfica: tumores recidivantes pré-tratados, ou tumores de limites mal

definidos, ou ainda naqueles que invadem osso ou cartilagem,

▪ Linfadenectomia e a radioterapia complementar: em casos de metástases em linfonodos

▪ Quimioterapia: carcinomas muito avançados, não passíveis de tratamento cirúrgico ou

radioterápico (cisplatina, metotrexato, ciclofosfamida, 5-fluorouracila e bleomicina)

❖ MELANOMA MALÍGNO

o É a forma mais maligna dos tumores cutâneos, 30-60 anos, ligeiramente mais frequente

no sexo masculino (aumentos de incidência superiores aos observados no sexo feminino),

raça branca

o Pode se originar do nevo melanocítico

o Manifestações clínicas: melanoma extensivo superficial, melanoma Nodular, Melanoma

lentiginoso acral, Melanoma de mucosa, Melanoma amelanótico e Melanoma de origem

desconhecida

o Melanoma extensivo superficial

▪ Forma mais frequente (70% dos melanomas), se associa com lesões névicas precursoras.

4ª e 5ª década de vida, localizada em tronco, dorso nos homens e em MMII nas mulheres

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▪ Característica: lesão leve ou francamente elevada, arciforme, margens são denteadas e

irregulares e cuja coloração varia muito, desde acastanhada a negra, com áreas azuladas,

esbranquiçadas, acinzentadas e até vermelhas

▪ Histopatológico: melanócitos atípicos intraepidérmicos, isolados ou em ninhos, até

acúmulos nitidamente intradérmicos das células neoplásicas.

o Melanoma nodular

▪ Segunda forma mais frequente (15-30%), ocorre na 5ª década de vida

▪ Em 5% pode ser amelanótico

▪ Características: lesão nodular, em placa ou polipoide, de coloração negro-azulada com

laivos acasanhados. Possui evolução rápida, localizado em tronco nos homens e perna

nas mulheres.

▪ Histopatológico: crescimento vertical, com agressão de predompínio dérmico a partir

da junção dermoepidérmica, atingindo apenas secundariamente a epiderme

o Melanoma lentiginoso acral

▪ Mais comum em negros e asiáticos (35-60%), raro em caucasianos (2-8%), mais comum

na 6ª década de vida

▪ Regiões palmoplantares e falanges terminais, podendo ser periungueais e subungueais

▪ Apresenta crescimento horizontal → crescimento

vertical → metastatização. As vezes o tumor é

amelanótico o que pode retardar o diagnóstico

▪ Na imagem: Melanoma acral com Extensa mancha de

coloração irregular e pigmentação variável do

castanho ao negro em cuja porção central há nódulo

ulcerado

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o Melanoma de mucosa

▪ Representa 5% dos melanomas → mucosa bucal, nasal, genital ou retal, e em mulheres

de idade avançada pode ocorrer na vulva

▪ Crescimento lentiginoso ou nodular

o Melanoma amelanótico

▪ Baixa concentração de melanina

▪ Lesão rósea ou vermelha, podendo simular um

granuloma piogênico ou carcinoma espinocelular. Na

região plantar pode simular o mal perfurante

o Melanoma desmoplástico

▪ Pouco frequente, se desenvolve em áreas fotoexpostas em indivíduos de pele clara de

idade intermediária ou avançada. A localização habitual é cabeça e pescoço

▪ Apresenta-se como placa endurada ou nódulo. O prognóstico depende da espessura do

tumor.

o Melanoma de origem desconhecida

▪ Melanoma cutâneo, linfonodal ou visceral, aparentemente primário, provavelmente

decorrente de melanoma cutâneo não diagnosticado, de melanoma regredido

expontaneamente ou de melanoma de mucosa não diagnosticado.

o Melanoma maligno familiar

▪ transmitido por herança autossômica dominante com reduzida penetrância

▪ ocorre mais precocemente, as formas primárias múltiplas são frequentes e o prognóstico

é ligeiramente melhor.

▪ Tendência de poupar a face.

▪ Em algumas famílias, paralelamente aos melanomas, ocorre grande número de lesões

névicas adquiridas atípicas e de nevos displásticos, que podem evoluir a melanomas.

o Diagnóstico:

▪ Em relação aos nevos pigmentares que se alteram, é importante considerar alguns sinais,

mnemonicamente ABCDE:

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▪ Outros critérios: alteração no sensório; diâmetro maior do que 1 cm; crescimento;

pigmentação irregular; inflamação; secreção crosta; Sangramento

▪ Avaliação dermatoscópica

▪ Biópsia: Quando surgem pápulas ou nódulos irregularmente pigmentados, deve ser feita

a biópsia (invasão da derme). A exérese total da lesão suspeita (geralmente com

margens de 1 a 2 mm), incluindo tecido celular subcutâneo, é mais adequada do que uma

simples biópsia parcial, que só deve ser feita em casos em que a lesão é muito extensa e

a se tirada se constitui como uma intervenção cirúrgica de porte significativo (colher a

área mais representativa ou mais espessa)

▪ Laudo histológico deve informar: espessura máxima em milímetros, conforme o método

de Breslow; o nível de invasão de Clark; a presença ou ausência de ulceração; a presença

ou ausência de regressão; e o estado das margens da exérese, tipo histológico e suas

formas particulares; a existência de lesão preexistente; invasão angiolinfática;

neurotropismo; satelitose; as fase de crescimento radial e vertical; a reação do estroma;

o infiltrado linfocitário tumoral; o tipo celular e a atividade mitótica.

o Diagnóstico diferencial: queratose seborreica, carcinoma basocelular, dermatofibroma,

angioma capilar trombosado e tumores vasculares trombosados. Nas formas amelanóticas

de melanoma maligno, em que a pigmentação é discreta ou ausente, a lesão assemelha-

se ao granuloma piogênico ou a uma lesão sarcomatosa.

o Evolução:

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▪ Além dos níveis de Breslow e Clark, há outros fatores que podem ser avaliados: presença

de infiltrado inflamatório (melhor prognóstico), grande número de mitoses, invasão de

estruturas e ulceração (pior prognóstico)

o Metástases: A incidência de metástases diminuirá em função da precocidade da diagnose

e da terapêutica. O aparecimento da primeira metástase será tanto mais precoce quanto

mais espesso o tumor. Podem ser locais, regionais ou sistêmicas (disseminação

hematogênica e atingem a própria pele, subcutâneo ou vísceras como pulmão (33 a 44%),

cérebro ou sistema nervoso central (17 a 22%), fígado (7 a 14%) e ossos (7 a 8%)

o Exame clínico e complementar:

▪ Exame clínico completo

▪ Em obesos e nos casos duvidosos realixar USG de áreas linfonodais superficiais

▪ RX tórax e USG abdominal

▪ TC, RM, e PET → dúvidas diagnósticas.

o Tratamento

▪ Tumor primário Cirurgia com margem de segurança adequada. Nos melanomas ingueais

pode haver a necessidade de amputação parcial incluindo a última falange do dedo

afetado e a articulação interfalangiana adjacente

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▪ Melanoma maligno com metástases nos linfonodos: Nos melanomas de 1,5 a 4 mm,

quando comprovada a existência de metástases nos linfonodos, deve ser realizada

linfadenectomia regional. A linfadenectomia profilática eletiva regional não é indicada.

Quando a lesão é em tronco e a área primária possibilira drenagem linfática para várias

áreas, a linfadenectomia regional está indicada.

▪ Pesquisa e remoção do linfonodo sentinela: (primeiro linfonodo de drenagem da região

acometida pelo melanoma) A condição ideal para execução desse procedimento é o

momento da excisão ampla do melanoma cutâneo. Com a incisão na área linfonodal

regional, identificam-se, pela presença do corante e conjuntamente à detecção de

radiação por meio de contador manual de raios-gama, o(s) linfonodo(s) satélite(s), que

são, então, retirados e submetidos a exame histopatológico para verificar-se a presença

ou não de melanoma. Se positivo → realiza-se a linfadenectomia regional completa

▪ Tratamentos adjuvantes: não há comprovação eficaz de terapia adjuvante. Nos casos de

esvaziamento linfonodal incompleto, pode estar indicado o uso de radioterapia

adjuvante.

▪ Radioterapia: Regressões efetivas são obtidas quando utilizadas doses altas de radiação,

raramente indicada nos tumores primários, reservada para casos em que não há

possibilidade cirúrgica, ou com margens limitdas, após acometimento de múltiplos

linfonodos, em metástases vicerais (paliativo)

▪ Quimioterapia: tratamento do melanoma metastático e pode ser realizada

sistemicamente ou, conforme a localização do tumor

▪ Imunoterapia: Atualmente, existe droga para uso em melanoma metástico irressecável

que é o vemurafenibe, inibidor da enzima BRAF, que, por sua vez, inibe o gene BRAF

responsável por mutações no melanoma. Inúmeros efeitos colaterais

o Prognóstico:

o Seguimento: orientação do paciente para busca de novas lesões/recidivas, avaliação

clínica a cada 4 meses nos 2 primeiros anos, a casa 6 meses nos 3 anos seguintes e

anualmente por tempo indefinido. RX, USG abd, dosagem sérica de DHL e FA a cada 6

meses nos 2 primeiros anos.

REFERÊNCIA

Rivitti, Evandro A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti [recurso eletrônico] /

Evandro A. Rivitti. – Dados eletrônicos. – São Paulo : Artes Médicas, 2014.