probióticos e prébióticos
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Probióticos e prebióticos: o seu papel na saúde e na eficiência da utilização dos
alimentos.
José Luís Mourão(1) (a)
, Victor Pinheiro(1)
, Maria J. Gomes(1)
, Cristina M. Guedes(1)
, Maria J. Saavedra(2)
,Anabela A. Alves
(2), Miguel A. Rodrigues
(1), Arnaldo Dias-da-Silva
(1).
(1)CECAV/Departamento de Zootecnia (UTAD),
(2)CECAV/Departamento de Ciências Veterinárias (UTAD).
(a)email: [email protected]
Introdução
O tudo digestivo é colonizado por microrganismos, que são particularmente abundantes no rúmen, cego e
cólon. A população microbiana do rúmen desempenha um papel importante através da sua actividade sobre
os componentes da dieta dos animais ruminantes transformando-os em ácidos orgânicos, aminoácidos,
amoníaco e vitaminas que poderão ser utilizados pela população microbiana e/ou pelo animal. A estabilida-
de do ambiente ruminal é essencial para o equilíbrio da flora microbiana e para a optimização da sua activi-
dade fermentativa. Em animais saudáveis, os microrganismos benéficos impedem por exclusão competitiva,
a proliferação dos microrganismos patogénicos. A manutenção deste equilíbrio da microflora gastrointestinal
é essencial para garantir o bom estado sanitário do hospedeiro. Todavia, condições de stress podem alterareste equilíbrio, permitindo o crescimento da população de microrganismos prejudiciais e/ou patogénicos,
provocando distúrbios digestivos e afectando negativamente o desempenho produtivo dos animais. Os ani-
mais jovens são particularmente susceptíveis, principalmente após o nascimento e o desmame, bem como
animais adultos alimentados com dietas de elevada densidade energética (teores elevados de amido) de
modo a atingirem níveis de produção elevados. Até 2005 utilizaram-se antibióticos em níveis subterapêuti-
cos como promotores de produção (APP). Contudo, o receio que o uso de APP possa ser responsável pelo
aparecimento no homem de bactérias resistentes aos antibióticos levou à sua proibição na União Europeia.
Neste contexto, os prebióticos e os probióticos, como produtos naturais capazes de manter o equilíbrio
da microflora gastrointestinal, têm sido objecto de numerosos estudos com o objectivo de conhecer os seus
modos de acção e os efeitos na saúde dos animais e na eficiência da utilização das suas dietas. Os
prebióticos são compostos (geralmente oligossacáridos) que não são degradados pelas enzimas digesti-
vas produzidas pelos animais. A sua principal acção é estimular os microrganismos benéficos e/ou inibir os
patogénicos. Alguns prebióticos, como os fructoligossacáridos (FOS) escapam à digestão por acção de
enzimas endógenas mas servem de substrato aos microrganismos de espécies benéficas dos géneros Lac-
tobacillus e Bifidobacterium que colonizam predominantemente o cólon e cego. Outros prebióticos, como os
mananoligossacáridos (MOS), geralmente obtidos da parede celular de leveduras, têm propriedades recep-
toras das fimbriae de bactérias patogénicas o que leva à sua eliminação com o fluxo da digesta, em vez de
se ligarem a receptores da mucosa intestinal. Os probióticos são aditivos alimentares constituídos por bac-
térias e/ou leveduras. Quando incorporados na dieta competem com a flora intestinal prejudicial e/ou pato-
génica e mantêm o equilíbrio entre as populações microbianas do rúmen ou do intestino, beneficiando
assim a produtividade dos animais. Existem vários probióticos disponíveis para monogástricos que contêm
bactérias, que podem pertencer ao género Bacillus (Bacilllus toyoi e subtilis). Os probióticos à base de leve-
duras como Saccharomyces cerevisiae ou o Aspergillus oryzae tem sido muito utilizados como suplementos
alimentares para vacas leiteiras ou animais em engorda intensiva como moduladores da actividade ruminal,
promovendo um maior equilíbrio da flora e diminuindo os riscos de acidose ruminal.
Apesar do grande volume de informação disponível sobre os efeitos dos prebióticos e dos probióticos na
produção animal, os indícios científicos de que estes aditivos contribuem significativamente para a melhoria
da eficiência da produção animal são ainda um desafio para os investigadores que trabalham em ciência
animal. Este estado da arte motivou o nosso grupo de trabalho a desenvolver estudos no âmbito da utiliza-
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ção de probióticos e prebióticos em várias espécies. Até agora, foram efectuados ensaios envolvendo
aves, coelhos e vacas.
Trabalhos desenvolvidos
Prebióticos
Aves: Nos frangos para produção de carne as primeiras semanas de vida são cruciais para a sua sobrevi-
vência, sendo nesta fase da vida das aves que o papel dos prebióticos poderá ser mais importante. Os tra-
balhos desenvolvidos em aves envolveram o uso de MOS no desempenho produtivo, na actividade fermen-
tativa no intestino e na morfometria ileal: Aves 1 - Neste ensaio foi estudada a influência do MOS nas per-
formances de 624 frangos em 39 parques com cama submetidos aos seguintes tratamentos: controlo (sem
aditivos), ACP (0,01% de avilamicina dos 1 aos 35 dias e sem aditivos dos 35 aos 42 dias) e 2 níveis de
MOS de acordo com a fase de crescimento das aves (0,1% de MOS de 1 aos 21 dias e 0,05% de MOS dos
22 aos 41 dias). Todos os alimentos continham coccidiostático Aves 2 - Foi estudado o efeito do MOS em
288 frangos alojados em 36 jaulas com cama submetidos aos seguintes tratamentos: dieta com ACP
(0,01% de avilamicina) e dieta com 2 níveis de MOS de acordo com a fase de crescimento das aves (0,1%
de MOS de 1 aos 21 dias e 0,05% de MOS dos 22 aos 41 dias). Estudou-se o efeito na nas digestibilidades
ileal e total dos 18 aos 21 dias e dos 38 aos 41 dias, no desenvolvimento do tubo digestivo, na morfometrial
ileal e na actividade microbiana no cego das aves nos dias 21 e 42.
Coelhos: No coelho o período após o desmame é particularmente crítico. Neste período, o coelho necessita
de dietas com teor adequado em fibra de modo a manter um trânsito digestivo apropriado e evitar actividade
microbiana indesejável. Todavia, para o animal exprimir o seu potencial de crescimento utilizam-se dietas
com elevados teores em energia (amido) e baixos teores em fibra, o que acarreta um risco sanitário eleva-
do. Os estudos com coelhos envolveram a utilização de MOS e de FOS em animais em crescimento medin-
do-se o desempenho, a actividade fermentativa no cego e a morfometria ileal. Coelhos 1 - Estudaram-se os
efeitos dos FOS na morbilidade, na mortalidade, no desempenho de crescimento, na fermentação cecal e
na morfometria intestinal em 144 coelhos dos 35 (desmame) aos 70 dias. Foram utilizados 2 tratamentos, o
controlo e o FOS (0,036%). Coelhos 2 - Foi estudado o efeito do MOS no desempenho, na morfologia
intestinal e na fermentação cecal de coelhos em crescimento em 2 ensaios, comparando 3 níveis de MOS
(0,1, 0,15 e 0,2%) com um controlo negativo (sem aditivos) e um APP (0,01% de Bacitracina de zinco). Um
ensaio foi realizado numa exploração comercial, utilizando 400 coelhos, e o outro ensaio foi realizado nas
instalações experimentais da UTAD com 220 coelhos. Ambos os ensaios decorreram no período entre os
32 dias (desmame) e os 67 dias.
Probióticos
Coelhos: As coelhas reprodutoras, durante o período de aleitamento são alimentadas com dietas de eleva-
da densidade energética. Estas dietas constituem um risco sanitário para os láparos a partir do momento
em que começam a ingerir alimentos sólidos. Neste âmbito foi delineado um trabalho em coelhas reproduto-
ras com o objectivo de estudar o efeito de um probiótico com Bacillus cereus toyoi na fertilidade das coelhas
e no desempenho dos láparos. Coelhos 3 - Utilizaram-se 102 coelhas alimentadas com 3 dietas: controlo
sem aditivos e 2 níveis de TOYO (0,2 ×109
e 1 ×109
CFU/kg alimento). Fora avaliados os seguintes parâme-
tros produtivos: a fertilidade das coelhas, o crescimento e a viabilidade dos láparos e das coelhas reproduto-
ras.Ruminantes: Foi estudado do efeito do nível de leveduras – Saccharomyces cerevisiae - nos indicadores
de fermentação ruminal e na degradação da parede celular de silagens de milho em 3 vacas fistuladas não
lactantes alimentadas com uma dieta de silagem de milho, feno de prado natural e concentrado (48:10:42).
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Indicadores de fermentação medidos foram: pH, amónia, ácidos gordos voláteis (AGV) e lactato. A degra-
dação da parede celular (NDF) das silagens de milho (n=40) foi determinada pela técnica dos sacos de
nylon.
Resultados e aplicações práticas
Prebióticos
Nos coelhos os FOS mostraram a capacidade para melhorar a eficiência da utilização dos alimentos sem
afectar a morbilidade a mortalidade. Os resultados obtidos foram pouco evidentes, possivelmente por terem
sido utilizadas doses baixas de FOS. O MOS parece ser uma boa alternativa à utilização de APP em coe-
lhos, permitindo desempenho semelhante aos obtidos com bacitracina de zinco, melhorando a integridade
da mucosa intestinal, em resultado de um efeito protector contra os microrganismos patogénicos. O efeito
mostrou-se dependente da dose, sendo os resultados mais evidentes com 0,1% de MOS, não havendo
assim vantagem na utilização de teores mais elevados.
Nas aves o MOS mostrou alguns efeitos positivos no desempenho das aves. No entanto o efeito na modu-
lação da flora intestinal foi menos evidente do que nos coelhos.
Probióticos
A utilização do Bacillus cereus toyoi em coelhas reprodutoras afectou positivamente a fertilidade das coe-
lhas e o crescimento e a viabilidade dos láparos no período em que ingeriram simultaneamente leite e o
alimento sólido da coelha reprodutora (18 dias ao desmame). Os efeitos obtidos com 0,2×109
e 1×109
CFU
Bacillus cereus toyoi por kg de alimento foram semelhantes aos obtidos efeitos com 109
CFU.
Em vacas, a adição de leveduras no rúmen, provocou uma redução nas flutuações diárias dos indicadores
de fermentação ruminal e alterações dos seus valores, um aumento do pH e da produção de AGV e uma
redução da produção de lactato e da relação acetato:propionato. Isto reflectiu-se no aumento da degrada-
ção in sacco da fracção NDF das silagens de milho após 36 h de incubação. No entanto, o aumento de
degradação desta fracção variou de 5 a 25% dependendo da sua degradação inicial; o efeito na degradação
da parede celular foi tanto maior quanto menor a degradação inicial e mais elevado o nível de incorporação
de leveduras. De um modo geral, verificamos que a levedura Saccharomyces cerevisiae modifica a activi-
dade fermentativa no rumen, conduzindo a uma maior estabilidade do processo digestivo no rúmen. Isto
indica que, em termos práticos, a levedura modifica o ambiente de rúmen de modo a reduzir o efeito negati-
vo de níveis elevados do concentrado na dieta (acidose) na degradação da fibra. Por outro lado, o aumento
da degradação da fibra conduz a um aumento da disponibilidade de nutrientes para a absorção e, por con-
seguinte, uma melhor eficiência da utilização dos alimentos fibrosos e a um previsível aumento de ingestão
de alimento.
Orientações futuras
Prebióticos: Estudar FOS e MOS produzidos a partir de subprodutos de indústria da alimentação humana
e misturas de FOS que diferem no tamanho molecular dos oligossacáridos. Serão investigados os efeitos
deste prebióticos no desempenho de crescimento, digestibilidade dos alimentos, microflora intestinal, morfo-
logia e resposta imune em porcos, coelhos e aves. Também serão investigados efeitos de sinergismo entre
FOS e MOS. Procurar-se-á utilizar metodologia mais exacta no estudo das populações microbianas no
ileum e no cego, estudar com maior profundidade alterações do tubo digestivo induzidas pelas diferentespopulações de microrganismos e pelos aditivos, os efeitos da população microbiana ileal na utilização dos
nutrientes e adesão de microrganismos (salmonelas , E. coli ) à superfície intestinal. A relação entre os resul-
tados obtidos, a natureza da dieta e a idade de desmame (coelhos e porcos) será investigada.
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Probióticos: Aprofundar estudos sobre utilização de probióticos à base de bactérias no coelho em cresci-
mento, nomeadamente nos períodos antes e após desmame, investigando os efeitos na microflora intesti-
nal, índices de fermentação cecal, desenvolvimento do tubo digestivo e na morfometrial ileal. Alargar o
estudo do efeito das leveduras a dietas tendo como forragem base a silagem de erva e a utilização em
ovinos (borregos em crescimento) e equinos (cavalos).
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