prêmio jovem gastrofiles.bvs.br/upload/s/0101-7772/2012/v31n4/a3933.pdf · 2015. 3. 12. · dl e...

6
GED gastroenterol. endosc. dig. 2012: 31(4):158-163 Neurofibroma plexiforme cecal em paciente com neurofibromatose tipo 1 DANIELLA DE ARAÚJO CAVALCANTI, 1 RAFAEL ESPINDULA-COUTO, 2 RUBENS BASILE, 3 MARTA LUCIA CARVALHO GALVÃO-ALVES, 4 JOSÉ GALVÃO-ALVES 5 Prêmio Jovem Gastro Resumo Resumo A Neurofibromatose Tipo I (NF-1) ou doença de Von Recklinghausen é uma doença genética autossômica dominante com uma incidência de 1 em 2600-3000 indiví- duos. As características mais típicas são as manchas café- com-leite e os neurofibromas da pele. Outros sistemas também podem ser afetados, incluindo o aparelho cardio- vascular, olhos, ossos e o trato gastrointestinal. O envol- vimento gastrointestinal tem sido documentado em 25% dos pacientes com NF-1, principalmente o estômago e o intestino delgado. O envolvimento do esôfago e do cólon é raro. Nosso objetivo é relatar um caso raro de neurofi- broma plexiforme do cólon, em paciente com NF-1 até então não diagnosticada. Unitermos: Doença de Von Recklinghausen, Neurofi- broma Plexiforme do Cólon, Doença Autossômica Domi- nante. Summary Summary The Neurofibromatosis type I (NF-1) or Von Recklinghausen’s disease is an autosomal dominant disorder with an incidence of 1 in 2600-3000 individuals. The most characteristic features are the stains coffee with milk and skin neurofibromas. Other systems may also be affected, including the cardiovascular system, eyes, bone and gastrointestinal tract. The gastrointestinal involvement has been documented in 25% of patients with NF-1, primarily the stomach and small intestine. The involvement of the esophagus and the colon is rare. Our goal is to report a rare case of plexiform neurofibroma of the colon in a patient with NF-1 hitherto undiagnosed. Keywords: Von Recklinghausen’s Disease, Plexiform Neurofibroma Colon, Autosomal Dominant. Relato de Caso Identificação: Paciente B.L.D, masculino, 44 anos, branco, solteiro, comerciante, natural e procedente do Rio de Janeiro. Queixa Principal: Diarreia e dor abdominal. História da Doença Atual: Há oito meses, cólica abdominal intensa, que aliviava após defecação asso- ciada à diarreia com frequência aproximada de quatro episódios por dia, com fezes de predomínio líquido, não alterada pela ingestão alimentar ou pelo jejum, ausência de muco, pús, sangue ou restos alimentares. Evoluiu com perda ponderal de, pelo menos, 20 kg 1. Médica Residente do 2º ano de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 2. Médico Residente do 2º ano de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 3. Médica Residente do 1º ano de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 4. Médica Residente do 1º ano de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 5. Médica assistente do Serviço de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 6. Médica Assistente do Serviço de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 7. Professora titular do Serviço de Patologia da Universidade Federal de Uberlândia. 8. Professor Titular do Serviço de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. Endereço para correspondência: Daniella de Araújo Cavalcanti - Rua Farani, 42 - apto. 805 - Botafogo - Rio de Janeiro – RJ - CEP: 22231-020. Recebido em: 24/08/2012. Aprovado em: 21/11/2012. Cecal plexiform neurofibroma in a patient with neurofibromatosis type 1 18 ª ENFERMARIA - SERVIÇO DO PROF. JOSÉ GALVÃO - ALVES DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO RIO DE JANEIRO 158 31(3):158-163

Upload: others

Post on 04-Nov-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Prêmio Jovem Gastrofiles.bvs.br/upload/S/0101-7772/2012/v31n4/a3933.pdf · 2015. 3. 12. · dl e albumina 3,8g/dl. Elementos anormais nas fezes: leucócitos (+++), hemácias (+++)

42

GED gastroenterol. endosc. dig. 2012: 31(4):158-163

Neurofi broma plexiforme cecal em paciente com neurofi bromatose tipo 1

DANIELLA DE ARAÚJO CAVALCANTI,1 RAFAEL ESPINDULA-COUTO,2 RUBENS BASILE,3 MARTA LUCIA CARVALHO GALVÃO-ALVES,4 JOSÉ

GALVÃO-ALVES5

Prêmio Jovem Gastro

ResumoResumo

A Neurofi bromatose Tipo I (NF-1) ou doença de Von

Recklinghausen é uma doença genética autossômica

dominante com uma incidência de 1 em 2600-3000 indiví-

duos. As características mais típicas são as manchas café-

com-leite e os neurofi bromas da pele. Outros sistemas

também podem ser afetados, incluindo o aparelho cardio-

vascular, olhos, ossos e o trato gastrointestinal. O envol-

vimento gastrointestinal tem sido documentado em 25%

dos pacientes com NF-1, principalmente o estômago e o

intestino delgado. O envolvimento do esôfago e do cólon

é raro. Nosso objetivo é relatar um caso raro de neurofi -

broma plexiforme do cólon, em paciente com NF-1 até

então não diagnosticada.

Unitermos: Doença de Von Recklinghausen, Neurofi -

broma Plexiforme do Cólon, Doença Autossômica Domi-

nante.

SummarySummary

The Neurofi bromatosis type I (NF-1) or Von

Recklinghausen’s disease is an autosomal dominant

disorder with an incidence of 1 in 2600-3000 individuals.

The most characteristic features are the stains coffee with

milk and skin neurofi bromas. Other systems may also be

affected, including the cardiovascular system, eyes, bone

and gastrointestinal tract. The gastrointestinal involvement

has been documented in 25% of patients with NF-1,

primarily the stomach and small intestine. The involvement

of the esophagus and the colon is rare. Our goal is to

report a rare case of plexiform neurofi broma of the colon

in a patient with NF-1 hitherto undiagnosed.

Keywords: Von Recklinghausen’s Disease, Plexiform

Neurofi broma Colon, Autosomal Dominant.

Relato de Caso

Identificação: Paciente B.L.D, masculino, 44 anos,

branco, solteiro, comerciante, natural e procedente

do Rio de Janeiro.

Queixa Principal: Diarreia e dor abdominal.

História da Doença Atual: Há oito meses, cólica

abdominal intensa, que aliviava após defecação asso-

ciada à diarreia com frequência aproximada de quatro

episódios por dia, com fezes de predomínio líquido,

não alterada pela ingestão alimentar ou pelo jejum,

ausência de muco, pús, sangue ou restos alimentares.

Evoluiu com perda ponderal de, pelo menos, 20 kg

1. Médica Residente do 2º ano de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 2. Médico Residente do 2º ano de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 3. Médica Residente do 1º ano de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 4. Médica Residente do 1º ano de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 5. Médica assistente do Serviço de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 6. Médica Assistente do Serviço de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. 7. Professora titular do Serviço de Patologia da Universidade Federal de Uberlândia. 8. Professor Titular do Serviço de Gastroenterologia da Universidade Federal de Uberlândia. Endereço para correspondência: Daniella de Araújo Cavalcanti - Rua Farani, 42 - apto. 805 - Botafogo - Rio de Janeiro – RJ - CEP: 22231-020. Recebido em: 24/08/2012. Aprovado em:21/11/2012.

Cecal plexiform neurofibroma in a patient withneurofibromatosis type 1

18 ª ENFERMARIA - SERVIÇO DO PROF. JOSÉ GALVÃO - ALVES DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO RIO DE JANEIRO

158

31

(3):

15

8-1

63

0124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 420124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 42 24.01.13 12:08:1824.01.13 12:08:18

Page 2: Prêmio Jovem Gastrofiles.bvs.br/upload/S/0101-7772/2012/v31n4/a3933.pdf · 2015. 3. 12. · dl e albumina 3,8g/dl. Elementos anormais nas fezes: leucócitos (+++), hemácias (+++)

43

GED gastroenterol. endosc. dig. 2012: 31(4):158-163

D. A. CAVALCANTI, R. E. COUTO, R. BASILE, M. L. C. G. ALVES, J. G. ALVES

neste período. Uso de medicações sintomáticas sem

melhora.

História Patológica Pregressa: Foi submetido a

procedimento cirúrgico em 1978 em região axilar direita

para ressecção de tumoração de etiologia não especifi-

cada. Em 1985 evoluiu com hemorragia digestiva volu-

mosa caracterizada por melena e hematêmese decorrente

de úlcera péptica, sendo necessário hemotransfusão.

Nega hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus.

História Psicossocial: Nega antecedentes de etilismo

e tabagismo.

História Familiar: Pai apresentando manchas do tipo

café-com-leite, tendo falecido por acidente automobilís-

tico.

Exame Físico: Emagrecimento importante (escavamento

moderado de fossa temporal e região bucal), hipocorado

(+/4+), baqueteamento digital, nove manchas café-com-

leite com mais de 1,5 cm em seu maior diâmetro, efélide

axilar, pequenas tumorações móveis, indolores e elás-

ticas distribuídas pelos membros e troncos (Figuras 1,

2, 3 e 4). O exame oftalmológico evidencia nódulos de

Lisch (Figura 5).

159

31

(3):

15

8-1

63

Figura 1: Antes do início dos sintomas.

Figura 3: Efélide

Figura 4: Baqueteamento digital.

Figura 5: Nódulos de Lisch.

Figura 2: Emagrecimento, Manchas café-com-leite eTumorações cutâneas

0124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 430124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 43 24.01.13 12:08:1924.01.13 12:08:19

Page 3: Prêmio Jovem Gastrofiles.bvs.br/upload/S/0101-7772/2012/v31n4/a3933.pdf · 2015. 3. 12. · dl e albumina 3,8g/dl. Elementos anormais nas fezes: leucócitos (+++), hemácias (+++)

44

Neurofibroma Plexiforme Cecal em Paciente com Neurofibromatose Tipo 1

Aparelho cardiovascular: ritmo cardíaco regular em dois

tempos, bulhas normofonéticas, sem sopros.

Aparelho respiratório: murmúrio vesicular audível em

ambos hemitórax, sem ruídos adventícios.

Abdome: escavado, tenso em quadrante inferior direito

sem sinais de irritação peritoneal e com massa palpável

de consistência elástica, móvel e dolorosa à palpação

profunda, estando associada a abaulamento em região

lombar externa homolateral.

Evolução Internado para avaliação diagnóstica. Análise sérica inicial:

hemoglobina 9,7g/dL, hematócrito 32,2%, VGM 72,1fL,

HGM 21,7pg, CHGM 30,1%, 580mil/mm³ plaquetas e

sem outras alterações no leucograma, glicemia de 83mg/

dl e albumina 3,8g/dl. Elementos anormais nas fezes:

leucócitos (+++), hemácias (+++) com muco presente.

MIF, sorologia para hepatite B e C, e anti-HIV normais.

TSH, T4 livre sem alterações.

Solicitado USG abdominal total que evidenciou hepato-

megalia de contorno e textura regular sem lesões focais,

discreta ectasia do sistema pielocalicial bilateral com

nefrolitíase à direita, relação córtico-medular preser-

vada e adjacente ao fígado e rim ipsilateral. É visualizada

imagem nodular sólida e heterogênea com áreas císticas

de permeio, medindo cerca de 62x41mm. Imagem expan-

siva em flanco/fossa ilíaca direita de difícil mensuração

com cerca de 113x87mm junto às alças intestinais, com

líquido livre entre as alças e no espaço de Morrison.

Seguiu-se a investigação com análise urinária de 24 horas

do ácido vanil-mandélico, tendo resultado negativo.

Realizada colonoscopia (Figura 6), sendo relatado diverti-

culose colônica com lesão vegetante e infiltrante de ceco

estenosando a válvula íleo-cecal. A análise histopatoló-

gica da biópsia tumoral foi inespecífica, demonstrando

ausência de neoplasia e reação inflamatória.

Tomografia computadorizada abdominal com contraste

de abdome (Figura 7) revelou mínimo derrame pleural

bilateral, ascite moderada, fígado sem alterações e lesão

expansiva em ceco e cólon ascendente.

Foi encaminhado à ressecção cirúrgica colônica e mate-

rial enviado para análise anatomopatológica (Figura 8),

sendo relatado pela macroscopia: tumoração em mucosa

de ceco a 2 cm da válvula íleo-cecal, vegetante, acinzen-

tada, pediculada medindo cerca de 5 cm de diâmetro,

sendo aos cortes (acinzentada e elástica com algumas

estruturas císticas de permeio). Na microscopia notam-se

células alongadas e fusiformes, comprometendo a

mucosa e submucosa, com proliferação de numerosos

vasos sanguíneos, nervos e algumas glândulas dilatadas.

Tumor com ulceração em mucosa. Na área da tumoração,

a serosa une o íleo ao ceco, envolvendo linfonodos, vasos

e nervos.

160

31

(3):

15

8-1

63

GED gastroenterol. endosc. dig. 2012: 31(4):158-163

Figura 6: Diverticulose colônica; lesão vegetante e infi ltrante de ceco estenosando válvula íleo-cecal.

Figura 7: Mínimo derrame pleural bilateral, ascite moderada massa em ceco e cólon ascendente.

Figura 8: Tumoração em mucosa de ceco a 2 cm da válvula íleo-cecal e cerca de 5 cm de diâmetro.

Neurofibroma Plexiforme Cecal em Pacientecom Neurofibromatose Tipo 1

0124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 440124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 44 24.01.13 12:08:2724.01.13 12:08:27

Page 4: Prêmio Jovem Gastrofiles.bvs.br/upload/S/0101-7772/2012/v31n4/a3933.pdf · 2015. 3. 12. · dl e albumina 3,8g/dl. Elementos anormais nas fezes: leucócitos (+++), hemácias (+++)

45

D. A. CAVALCANTI, R. E. COUTO, R. BASILE, M. L. C. G. ALVES, J. G. ALVES

Foi realizado imunohistoquímica, que concluiu tratar-se

de neurofibroma confirmado pela positividade da proteína

S100 (Figuras 9 e 10).

Evoluiu no pós-operatório imediato e tardio com: término

da diarreia e da dor abdominal, reabsorção de coleções

líquidas (confirmada por USG abdominal total somente

com imagem de nefrolitíase bilateral), ganho ponderal

importante (superior a 20 kg) e retorno às funções labo-

rativas.

Discussão

Paciente com síndrome consumptiva associada à diar-

reia crônica deve ser investigado para SIDA, alterações

tireoidianas, glicêmicas e prosseguir com investigação

para causa neoplásica. Com relato de hemotransfusão

em 1985, impõe-se o teste sorológico para o vírus da

hepatite C considerando que este foi descrito somente

em por Cho et. al. em 1989.

O primeiro diagnóstico que fica evidente ao exame físico

é de facomatose, no caso neurofibromatose tipo I (ou

doença de von Recklinghausen). Facomatose é defi-

nido como grupo de doenças de caráter hereditário ou

congênito que afetam as estruturas originárias do ecto-

derma, tendo a pele e derivados do sistema nervoso

como exemplos.

Os critérios diagnósticos de NF-1 são: seis ou mais

manchas café-com-leite com seu maior diâmetro supe-

rior a 0,5 cm, em indivíduos pré-púberes e superior a

1,5 cm em indivíduos pós-púberes, dois ou mais neuro-

fibromas de qualquer tipo ou um ou mais plexiforme

(le tumeur royale), efélides na região axilar ou inguinal,

glioma óptico, dois ou mais nódulos de Lisch, uma pecu-

liar lesão óssea, como displasia da asa do esfenoide ou

adelgaçamento do córtex de ossos longos (com ou sem

pseudoartrose) e parente de primeiro grau com o critério

diagnóstico citado. A presença de dois ou mais desses

critérios faz o diagnóstico de NF1.

A NF-1 é morbidade autossômica dominante com alte-

ração no lócus do gene 17 q 11.2, estando as manchas

café-com-leite presentes em 100% e as alterações oftal-

mológicas (os nódulos de Lisch) correspondem com

presença superior a 90%.

Estes nódulos são praticamente patognomômicos da

doença, sendo considerados um hamartoma melanocí-

tico de íris, sem repercussão clínica para o paciente e

sem relação de gravidade ou evolução da doença.

Cinco categorias de tumores abdominais em associação

com NF-1 foram recentemente descritas. A primeira cate-

goria é de tumores neurogênicos benigno ou maligno,

com neurofibromas como a neoplasia mais comum e

muitas vezes assintomática (65%), provenientes do plexo

mesentérico. Vários casos de neurofibroma abdominal

têm sido descritas. Outros tumores neurogênicos são os

neurofibromas plexiformes, tumores malignos da bainha

periférica e ganglioneuromas.

A segunda categoria é de tumores neuroendócrinos

como carcinoides, feocromocitomas e paragangliomas.

Em particular, os carcinoides da ampola de Vater são

associados com NF-1. A terceira categoria é de GIST, que

foram relatados em até um terço de todos os pacientes

com NF-1.

161

31

(3):

15

8-1

63

GED gastroenterol. endosc. dig. 2012: 31(4):158-163

Figura 9: Imunohistoquímica com proteína S100 corrobora neurofi broma.

Figura 10: Lâmina corada pela hematoxilina eosina. Obser-vam-se vasos, células fusiformes e estreladas.

0124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 450124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 45 24.01.13 12:08:3824.01.13 12:08:38

Page 5: Prêmio Jovem Gastrofiles.bvs.br/upload/S/0101-7772/2012/v31n4/a3933.pdf · 2015. 3. 12. · dl e albumina 3,8g/dl. Elementos anormais nas fezes: leucócitos (+++), hemácias (+++)

46

Neurofibroma Plexiforme Cecal em Paciente com Neurofibromatose Tipo 1

A quarta categoria é de tumores embrionários, tais como

tumor de Wilms, neuroblastoma e rabdomiossarcoma.

Finalmente, os adenocarcinomas do trato gastrointestinal

têm sido detectados em doentes com NF1. Wood et al.

(2005) relataram um paciente com NF-1 e carcinoma do

cólon, apresentando relatórios mais do que antigos que

sugerem uma associação entre NF-1 e câncer de cólon.

Feocromocitoma é dez vezes mais comum em indivíduos

portadores de neurofibromatose quando comparados

com a população geral, tendo incidência inferior a 1%

no grupo de pacientes portadores desta morbidade. A

HAS está ausente em 10% dos casos. Neste caso, a USG

abdominal total evidenciou massa em região compatível

com suprarrenal direita (o envolvimento bilateral adrenal

ocorre em 10% dos casos), mas a análise urinária de 24

horas do ácido vanil-mandélico foi negativa.

Neurofibromas viscerais isolados ocorrem mais comu-

mente no trato gastrointestinal, estando comprome-

tido em 25% dos pacientes neurofibromatosos. Sendo

um neurofibroma plexiforme visceral, há maior risco de

sangramento digestivo já que esses tumores apresentam

a análise histopatológica com proliferação vascular comu-

mente com áreas de necrose e células fusiformes, que se

assemelham a um fibrossarcoma.

Os neurofibromas, que não os plexiformes, são constitu-

ídos por células de Schwann, fibroblastos, mastócitos e

células perineurais.

O diagnóstico definitivo foi firmado pela imunohistoquí-

mica com a análise de vários anticorpos, obtendo os

seguintes resultados do bloco anatomopatológico:

• Vimentina negativo (quando positivo indica células

mesenquimais e células neoplásicas de tumores

GIST).

• CD68 negativo (é positivo para macrófagos).

• CD117 ou c-Kit negativo (se positivo indica células

tumorais estromais do trato gastrointestinal).

• Actina Músculo-Específica (HHF35) negativo, estando

positivo somente para musculatura de vasos (é posi-

tivo para alfa-actina de músculo liso, gama-actina de

músculo liso bem como tumores de músculo liso, leio-

miomas e leiomiossarcomas, de tumores estromais do

trato gastrointestinal e fibromatose).

• CD34 negativo, sendo positivo somente para endotélio

vascular (é positivo para células endoteliais maduras,

células neoplásicas de tumores GIST, musculares lisas

e schwanomas).

• Proteína S100 positiva para algumas células alon-

gadas (é positiva para melanócitos, subpopulações

de histiócitos, adipócitos e células de Schwann).

• EMA negativo (sendo positivo para vários tipos de

células normais epiteliais, notocordais, fibroblastos

perineurais e plasmócitos além de várias células

neoplásicas em sarcomas, perineurinomas, neurote-

comas, cordomas, paracordomas e plasmocitomas).

• Melan-A negativo (sendo positivo para melanócitos

normais e neoplásicos).

A negatividade para EMA e para MELAN-A afasta hipó-

teses de origem da neoplasia a partir de células perineu-

rais. Ao término da análise imunohistoquímica, conclui-se

tratar de neurofibroma confirmado pela positividade da

proteína S100. A localização apresentada no caso clínico

de tumoração cecal com estenose de válvula íleo-cecal é

topografia rara de neurofibroma plexiforme, sendo este o

diagnóstico final.

Os principais diagnósticos diferenciais a serem colocados

são os adenocarcinomas de cólon e os tumores carci-

noides. Em estudo realizado por Griffiths et al. (1987) em

nove casos de tumor carcinoide em neurofibromatosos,

todos se localizavam no duodeno.

Conclusão

Indicamos ressecção cirúrgica de lesão cecal que, inde-

pendentemente de sua etiologia, deve ser realizada pela

característica estenosante da válvula íleo-cecal e risco

crescente evolutivo de franca obstrução intestinal.

No que se refere à terapêutica de neurofibromas, a prin-

cipal é a cirúrgica, sendo indicação absoluta os neurofi-

bromas em regiões expostas ao trauma, em mucosa de

laringe, lesões malignas e em áreas do trato digestório,

já que conferem risco de obstrução intestinal ou hemor-

ragia.

O presente caso clínico mostra uma condição incomum

que é a NF-1 e o rico diagnóstico diferencial que envolve

as neoplasias gastrointestinais, quando presentes nestes

pacientes. Finaliza-se com a identificação de um neurofi-

broma plexiforme do colón que, de forma isolada, consistiu

em uma verdadeira raridade na literatura internacional.

REFERÊNCIAS

Pierre Hindy, Russell Parvin, Kayane Hanna, Sherif 1. Andrawes, Frank Gress, and Adam Goodman . An

Isolated Neurofi bromal Polyp of the Colon. Case Rep

Gastroenterol. 2012 Jan-Apr; 6(1): 58-62.

Ahmet Mesrur Halefoglu. Neurofi bromatosis Type 1 2.

162

31

(3):

15

8-1

63

GED gastroenterol. endosc. dig. 2012: 31(4):158-163

Neurofibroma Plexiforme Cecal em Pacientecom Neurofibromatose Tipo 1

0124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 460124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 46 24.01.13 12:08:4624.01.13 12:08:46

Page 6: Prêmio Jovem Gastrofiles.bvs.br/upload/S/0101-7772/2012/v31n4/a3933.pdf · 2015. 3. 12. · dl e albumina 3,8g/dl. Elementos anormais nas fezes: leucócitos (+++), hemácias (+++)

47

D. A. CAVALCANTI, R. E. COUTO, R. BASILE, M. L. C. G. ALVES, J. G. ALVES

Presenting with Plexiform Neurofi bromas in Two Patients:

MRI Features. Case Reports in Medicine Volume 2012

(2012).

Willem Donk, Paul Poyck, Pieter Westenend, Wilco 3. Lesterhuis, and Fried Hesp. Recurrent abdominal

complaints caused by a cecal neurofi broma: A case

report. World J Gastroenterol. 2011 September 14;

17(34): 3953-3956.

4. Lawrence M.Tierney,Jr., Stephen J.McPhee, Maxine 4. A.Papadakis, Current - Medical Diagnosis e treatment,

46ª Edição, Langue Medical Books/McGraw-Hill, 2007.

Luiz de Paula Castro, Luiz Gonzaga Vaz Coelho, Gastro-5. enterologia, Rio de Janeiro, Medsi Editora Médica e

científi ca LTDA, 2004.

Mauro Geller, Aguinaldo Bonalumi Filho, Neurofi broma-6. tose – Clínica, genética e terapêutica, Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan S.A, 2004.

Matsumoto e cols: Gastrointestinal autonomic nerve 7. tumors: immunohistochemical and ultrastructural

studies in cases of gastrointestinal stromal Pathol. Int,

47: 308-314, 1997.

Weiss, Arber e Chang: CD68. A review. Appl.8. Immunohistochem.2:2-8, 1994.

Lasota e cols: Mutations in exon 11 of c-kit occur 9. preferentially in malignant versus begin gastrointestinal

stromal tumors and do not occur in leiomyomas or leio-

myosarcomas. Am.J. Pathol.,154:53-60, 1999).

Tsukada e cols: HHH35 a muscle-actin-specifi c mono-10. clonal antibody: II.Reactivity in normal, reactive and

neoplastic human tissues. Am.J. Pathol, 127:389,

1987).

Wallace e Smoller: Immunohistochemistry in diagnostic 11. dermatopathology, J.Acad. Dermatol, 34:163, 1996).

Schmitt e Bachi: S100 preotein: is it useful as a tumour 12. marker in diagnostic immunohistochemistry?, Histopa-

thology, 15: 281-8, 1989.

Strickland e cols: Gastrointestinal stromal tumors, JMCC, 13. 8(3): 252-261,2.

Nance e Silverman: Immunocytochemical panel for the 14. identifi cation of malignant cells in serous effusions. Am.

J. Clin Pathol, 95: 867-874, 1993.

Singh ecols: Signifi cance of epithelial membrane antigen 15. in the work-up of problematic serous effusions. Diagn.

Cytopathol, 13: 3-7, 1995.

Orosz: Melan-A/Mart-1 expression in various mela-16. nocytic lesions and in non-melanocytic soft tissue

tumours. Histopathology, 34: 517-525, 1999.

Fuller e Williams: Gastrointestinal manifestations of type I 17. neurofi bromatosis (von Recklinghausen disease, Histo-

pathology, 19: 1-11, 1991).

Thearker e Fletcher: epithelial membrane antigen expres-18. sion by the perineurial cell. Further studies of peripheral

nerve lesions. Histopathology, 14: 581-592, 1989.

163

31

(3):

15

8-1

63

GED gastroenterol. endosc. dig. 2012: 31(4):158-163

0124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 470124-Revista GED04 OUT-DEZEMBRO-5.indd 47 24.01.13 12:08:4624.01.13 12:08:46