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Editorial

PorPorPorPorPorttttta-voz dos delegados fa-voz dos delegados fa-voz dos delegados fa-voz dos delegados fa-voz dos delegados federederederederederaisaisaisaisais

É motivo de muito orgulho e responsabilidade para a Associação Naci-onal dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) vir consolidando o papel deporta-voz dos delegados de polícia federal junto à sociedade brasileira.Esse é tema da reportagem de capa desta edição da Revista Prisma.

Nossa atuação tem sido marcante especialmente junto ao PoderLegislativo. No âmbito do Congresso Nacional, projetos importantes paraa Polícia Federal não têm sido decididos pelos parlamentares antes de nosconvidar a opinar, juntamente com outras entidades representativas declasse reconhecidamente importantes.

Um exemplo dessa participação crescente da ADPF foi a nossa contri-buição para a Comissão de Juristas instituída pelo Senado Federal paraelaborar um anteprojeto de reforma do Código do Processo Penal (CPP),quando representamos a classe policial naquele importante grupo forma-do por juristas de renome. Na segunda etapa do processo de elaboração da

matéria, também fomos convidados a participar com sugestões para aprimorar a proposta.O inquérito policial é outro tema que tem recebido contribuições da nossa categoria no

Congresso Nacional. Assim como quando da discussão sobre o regime disciplinar da PolíciaFederal e da Polícia Civil do DF, da criação dos juizados de instrução, do adicional por tempo deserviço para os integrantes das Carreiras Típicas de Estado e do debate sobre a nova legislaçãosobre crime organizado, fomos convidados a dar voz aos delegados nas diversas audiênciaspúblicas ocorridas nas duas casas legislativas.

Fora do Legislativo também temos ocupado um espaço importante ao integrar a ComissãoOrganizadora Nacional (CON) da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg). AADPF garantiu a participação de delegados de polícia federal de todas as unidades da federaçãono processo de debate sobre o papel da PF na elaboração da nova política nacional de segurançapública.

Além disso, a ADPF tem também fortalecido sua condição de porta-voz dos delegados juntoà mídia. São crescentes as inserções das nossas declarações em veículos de imprensa, principal-mente na Grande Mídia. Somos procurados como fontes de profissionais de comunicação detodo o país para defender o ponto de vista dos delegados da PF sobre os mais diversos temas.

Todo o nosso esforço na defesa das prerrogativas dos delegados de polícia federal é conduzi-do de forma zelosa e responsável e tem como resultado a credibilidade e o respeito dos nossospares. Como representantes da entidade, tenho tido a honra e a oportunidade de participar deeventos de natureza diversa na condição de defensor das prerrogativas dos delegados.

Preocupados com a melhoria das condições de trabalho dos delegados de polícia federal ecom o objetivo de esclarecer questões internas de interesse da nossa categoria, bem como detodos os policiais federais, trazemos uma entrevista exclusiva com o atual diretor de gestão depessoal do DPF, Dr. Joaquim Mesquita.

Boa leitura.Sandro Avelar

Presidente da ADPF

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Nossa Capa

DISTRIBUIÇÃO GRATUITAADPF e órgãos internos da PF em todo o país; Presidência e Vice-Presidência da Repúbl ica; Casa Civil; Secretarias Geral, de Relações Institucionais, de Imprensa ePorta-Voz; Gabinete de Segurança Institucional; Núcleo de Assuntos Estratégicos; Advocacia-Geral da União; Controladoria-Geral da União; Secretarias Especiais deAqüicultura e Pesca, de Polít icas de Promoção da Igualdade Racial, de Polít icas para as Mulheres e dos Direitos Humanos; Comissão de Ética Públ ica; ConselhosNacionais de Segurança Al imentar e Nutricional, da Juventude, de Ciência e Tecnologia, de Defesa Civil, de Desenvolvimento Científ ico e Tecnológico, de Educação, deEsportes, de Metrologia, Normatização e Qual idade Industrial, de Política Energética, de Previdência Social, de Saúde e de Segurança Al imentar e Nutricional; ConselhosAdministrativo de Defesa Econômica, de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, de Desenvolvimento Econômico e Social; de Gestão da Previdência Complementar,de Recursos da Previdência Social, Del iberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador, Monetário Nacional; Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; dasCidades; de Ciência e Tecnologia; dos Comandos da Aeronáutica, da Marinha e do Exército; das Comunicações; da Cultura; da Defesa; do Desenvolvimento Agrário; doDesenvolvimen-to Social e Combate à Fome; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; da Educação; do Esporte; da Fazenda; da Integração Nacional; daJustiça; do Meio Ambiente; das Minas e Energia; do Planejamento, Orçamento e Gestão; da Previdência Social; das Relações Exteriores; da Saúde; do Trabalho eEmprego; dos Transportes; e do Turismo. Não oferecemos assinaturas. Para publ icidade, atenda somente agentes credenciados.

As opiniões contidas em artigos assinados são de responsabil idade de seus autores, não refletindo necessariamente o pensamento da ADPF.

ExpedienteREVISTA PRISMAAno XXI, nº 62 - 1º Semestre de 2009Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal – ADPF

DIRETORIA ADPFPresidente: Sandro Torres AvelarVice-Presidente: Bol ivar SteinmetzSecretário-Geral: Geraldo Jacyntho de Almeida Júnior1º Secretário: Reinaldo de Almeida Cesar Sobrinho2º Secretária: Telma Cavalcante LinoTesoureiro-Geral: Ênio Sibidal1º Tesoureiro: Valmir Lemos de Ol iveira

COMISSÃO DE PRERROGATIVASMarcos Leôncio Sousa Ribeiro; Arryanne Vieira Queiroz; Camilo Graziane Caetano Paes de Almeida; CarmenMariléia da Rocha; Fabiano Emíd io de Lucena Martins; Luciana do Amaral Alonso Martins; Luiz CarlosNóbrega Nelson; Marcos Antônio Maciel Saraiva; Sebastião José Lessa; e Tânia Maria Matos FerreiraFogaça.

CONSELHO FISCALAlciomar Goersch; Glorivan Bernardes de Ol iveira; Marcus Vinícius da Silva Dantas;João José Cury; Paulo Watanabe; Maria Lívia Fortaleza

CONSELHO DE ÉTICAJosé Carlos F. da S. Conceição; Sebastião José Lessa; Fernando Queiroz Segóvia;Antônio Barbosa Góis; Wald ir Silveira Zacarias; Hélbio Afonso d ias Leite

DIRETOR-GERAL DA REVISTA PRISMADiogo Alves de Abreu (DRT/DF 0370)

COORDENAÇÃO EDITORIALEnvelopel Gráfica, Ed itora e Publ icidade

JORNALISTA RESPONSÁVEL, EDIÇÃO E FECHAMENTOVanessa Negrini (DRT/DF 2700)

REPORTAGENSAndrea Viegas, Vanessa Negrini, Comunicação Social da ADPF, Agências Brasil, Câmara e Senado

FOTOGRAFIAS E IMAGENSAgência Brasil, Agência Câmara, Agência Senado, Arquivo ADPF, Marcela Ribeiro e SXC

REVISÃOAdão Ferreira Lopes

DIREÇÃO DE ARTE E EDITORAÇÃOCriacrioulo

COLABORAÇÃOAzimute Comunicação e Comunicação Social da Polícia Federal

PUBLICIDADE, IMPRESSÃO E ACABAMENTOEnvelopel Gráfica, Ed itora e Publ icidadeSIG Sul Quadra 4 Lote 25 Sala 116 Centro Empresarial Barão de MauáCEP.: 70.610-440(61) 3322-7615 / 3344-0377 / [email protected] • www.envelopel.com.br

DEPARTAMENTO JURÍDICOLucio Jaimes Acosta - (61) 3328-6960 / 3328-1302

RELAÇÕES PÚBLICASCésar do Vale; Francisco Mazzaro; Katya Biral; Nelson Pereira; Renato Conforti; Sebastião Paul ino da Silva ePaulo Sérgio da Silva

O ministro da Just iça, Tarso Genro, opresidente da ADPF, Sandro Avelar, e od iretor-geral da PF, Luiz FernandoCorrêa, durante a Conferência Livre daADPF. Preocupações em comum com aSegurança Públ ica do País e com o for-talecimento da Polícia Federal. Fotos:Marcela Ribeiro.

A Revista Prisma é uma publ icação da Asso-ciação Nacional dos Delegados de PolíciaFederal desde 1988, produzida e impressapela Envelopel Produtos Gráf icos Ltda., em-presa sed iada em Brasíl ia. Prisma tem d is-tribuição gratuita em todo o território nacio-nal, não vende assinaturas e não aceita maté-ria paga em seu espaço ed itorial. A comercia-l ização de espaço publ icitário só pode ser fei-ta por representantes credenciados daEnvelopel (Katya Biral; Nelson Pereira; Rena-to Conforti; Sebastião Paul ino da Silva e Pau-lo Sérgio da Silva) ou da ADPF. Não aceitamospráticas ilegais e desleais e recomendamosque, em caso de dúvida quanto a ofertas deanúncios por pessoa suspeita, denúncia sejafeita à polícia local e notif icação feita ao Se-tor de Comunicação Social da ADPF, pelos te-lefones (61) 3248 1289 / 3364 0107 ou pelo e-mail [email protected].

Seus comentários, crít icas e sugestões sãoimportantes para nós. Envie e-mail [email protected] ou carta para o endereçoSHIS QL 14, conjunto 5, casa 2 – Brasíl ia/DFC.E.P.: 71640-055. Contamos com suapart icipação.

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Do Leitor

Palavra Aberta

Opinião: Súmula vinculante 14 - nada a temer, por Alexandre Patury

Opinião: Contraditório formal e contraditório material, por Reis Friede

Opinião: A Polícia Judiciária não é parte do sistema penitenciário brasileiro,

por Wenderson Braz Gomes

Conferência Livre da ADPF

65 anos da Polícia Federal: faltou o presente

Lei Orgânica: entre o ideal e o possível

Terceira Classe: em luta, ainda

CAPA: ADPF linha de frente no Congresso Nacional

Carlos Nobre: coragem, destemor e abnegação

Boa Leitura!

Saúde: check-up na Polícia Federal

Fui e recomendo, por Franklin Medeiros

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Do Leitor

Escreveram ainda agradecendo pelo envio da revista PRISMA: Presidente da República Luiz Inácio Lulada Silva; Vice-Presidente da República José Alencar Gomes da Silva; Advogado-Geral da União JoséAntonio Dias Toffoli; Ministro do Esporte Orlando Silva; Ministro da Previdência Social José BarrosoPimentel; Secretária Especial de Políticas para as Mulheres Nilcéa Freire; Governador de Minas GeraisAécio Neves; Governador de Santa Catarina Luiz Henrique da Silveira; Ministros do STF: Celso de Melloe Gilmar Mendes (presidente); Ministros do STJ: Castro Meira, Jorge Mussi, Luis Felipe Salomão, MauroLuiz Campbell Marques e Souza Prudente; Desembargadores Federais do TRF Primeira Região: Cândi-do Ribeiro, Jirair Aram Meguerian e Tourinho Neto; Senadores: Cristovam Buarque, Eduardo Azeredo,Gerson Camata, Inácio Arruda, Jayme Campos e Sérgio Guerra; Deputados federais: Ciro Pedrosa, EduardoGomes, Marcos Montes e Michel Temer; Deputada Distrital Jaqueline Roriz; Entidades de Classe: JoséCarlos Cosenzo, presidente da Conamp (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público); LuizFlávio Borges D’Urso, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo.

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A classe jornalística emgeral está vivendo diasde auto descrédito mo-

tivada por decisão do STF que estádando direito a colaboradores nãoformados em jornalismo publicarseus artigos e reportagens em pu-blicações diversas.

O profissional de jornalismonão pode receber o menosprezo.Não é o caso, mesmo porque suaatividade intelectual envolve todoprocesso de planejamento na bus-ca de diálogo com sua equipe. Acontextualização de notícias e in-teressante de reportagens, análi-ses, artigos, críticas, fotos e busca

Sem fugir das regrasSem fugir das regrasSem fugir das regrasSem fugir das regrasSem fugir das regrasDo Editor

de informações exclusivas depen-dem de conhecimento de profissi-onais da área para uma redaçãocorreta e envolvente de textos.

Entretanto, já existe há muitosanos a figura do “colaborador es-pecial ou free lancer” sem vínculoempregatício em vários órgãos decomunicação do país e do mundo.

Em várias profissões existempessoas não profissionalizadascom grande capacidade de atuarem áreas diversas sem sair dosparâmetros sobre o que é relevan-te para o conhecimento de todos.

Sem fugir das regras, a revistaPrisma da ADPF tem proporciona-

DIOGO ALVES DE ABREUsócio honorário da ADPF ed iretor-da Revista Prisma

do aos seus associados e leitoresem todo o país informações sobreas atividades da entidade e da pró-pria Polícia Federal com a colabo-ração de todos, e com exclusivida-de dos ligados a jornalistas do qualnão abrimos mão de seus conheci-mentos acadêmicos.

Foto: Arquivo Prism

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Palavra Aberta

“O olhar policial deve estar atento aosparadoxos das megalópoles onde o médicoestá doente, o segurança se sente inseguro e ojuiz sabe que comete injustiças. Nestescenários, não são as pessoas que sãodesfavorecidas são suas condições”, RONILSONDE SOUZA LUIZ, tenente da Polícia Mil itar do Estadode São Paulo, doutor e mestre em Educação pela PUC/SP,em “O futuro das polícias”

“No momento em que começa a existir essa transformação política esocial, a compreensão da sociedade como um ambiente conflitivo, noqual os problemas da violência e da criminalidade são complexos, apolícia passa a ser demandada para garantir não mais uma ordempública determinada, mas sim os direitos, como está colocado naconstituição de 88. Nesse novo contexto, a ordem pública passa a serdefinida também no cotidiano, exigindo uma atuação estatalmediadora dos conflitos e interesses difusos e, muitas vezes, confusos.Por isso, a democracia exige justamente uma função policial protetorade direitos dos cidadãos em um ambiente conflitivo”, JORGE LUIZ PAZBENGOCHEA, em “A transição de uma polícia de controle para uma polícia cidadã”

“A questão da segurança pública éuma das condições existentes para opleno exercício da liberdade. Pois, semo direito de ir e vir, causado pelo medoda violência, não pode haverpossibilidade da democracia sedesenvolver”, CLÁUDIO BANDEL TUSCO,delegado de polícia federal, em “CONSEG:Anál ise de um modelo participativo”

“É bom saber que a sociedade reconhece eaplaude o nosso trabalho e que o país agradeceo nosso esforço! É incontida a nossa satisfaçãoquando percebemos que a mídia exalta a nossacapacidade profissional! É gratificante ter acerteza de que estamos ajudando a escreverbelas páginas da nossa história... história danossa cidadania... história do nosso povo!’,BOLIVAR STEINMETZ, nos 65 anos da Polícia Federal

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“Não é verdade que haja excesso deinterceptações telefônicas e de decretaçãode prisões, na medida em que, naJustiça Federal, as estatísticas revelamque essas determinações não atingem1% dos feitos criminais em curso. Épreciso reafirmar perante a sociedadebrasileira que todas as grandesoperações policiais no Brasil, nas quaisocorrem prisões, buscas e apreensões eoutras medidas, são decorrentes dedeterminações judiciais, não de simplesiniciativa da Polícia Federal. Repita-se: se é o PoderJudiciário que acaba determinando a soltura,também é o Poder Judiciário que determina aprisão”, trecho da CARTA DO I FÓRUM NACIONAL DOSJUÍZES FEDERAIS CRIMINAIS (Fonacrim)

“É importante ressaltar quesó usamos a interceptação

telefônica quando esta éo último recurso. Jácoordenei ainvestigação de 500casos e em apenas doisusamos esse recurso deinvestigação. Não temos

o interesse de beneficiarou de prejudicar alguém.

Ao usar essas ferramentas, sótemos o objetivo de preservare proteger a sociedade”,CARLOS EDUARDO MIGUELSOBRAL, d iretor regional da ADPF/DF, no I Fórum Nacional dos JuízesFederais Criminais (Fonacrim)

“A implementação de políticas preventivas– para o incremento da inteligência ecapacidade investigativa das polícias, demecanismos de controle da ação policial ede participação e ações de autogestão paraa resolução de conflitos em locais com altosíndices de criminalidade – deveria seconstituir como parte fundamental daagenda da maioria dos gestores dasegurança pública. A segurança doscidadãos é, em si mesma, uma questão queinclui os direitos e garantias fundamentaise não o limite delas. Portanto, ao tratarmosda segurança pública como direito docidadão defendemos a centralidade daspolíticas sociais e o aprimoramentoinstitucional das agências policiais ejudiciárias. É fundamental, portanto,repensar o lugar e as condições em que asforças de segurança se inserem na nossasociedade”, ROBSON SÁVIO REIS SOUZA,pesquisador do Centro de Estudos de Criminal idade eSegurança Públ ica da UFMG e do Núcleo de DireitosHumanos da PUC Minas, em “Direito à Segurança”

“Estamos criando umsistema penal de faz deconta”, JOAQUIM BARBOSA,ministro do STF.

“Isso aumenta a sensaçãode impunidade”, MARCOSLEÔNCIO, da Associação deDelegados da Polícia Federal,na Revista Época

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Entrevista

Joaquim Cláud io Figueiredo Mesquita é o atual Diretor de

Gestão de Pessoal da Polícia Federal. Ele recebeu a Prisma

para uma entrevista exclusiva. Falou com desenvoltura e

sem reservas sobre temas de grande impacto na vida dos

servidores da Inst ituição. Capacitação, reforma do

currículo da Academia Nacional de Polícia, ponto

eletrônico, compensação orgânica de horas extras,

remoção, concurso públ ico, aposentadoria especial, entre

outros temas foram abordados. Ele vê na gestão por

competência o futuro da gestão de pessoal na Polícia

Federal. Para isso, está em implantação o mapeamento do

perfil profissiográfico dos pol iciais.

Prisma – O senhor assume uma pasta estratégica e ao mesmo tempo difícil na PF.Como pretende encarar esse desafio e quais os seus planos à frente da DGP?DGP Mesquita – A gestão de pessoas na Polícia Federal tem um norte,assim como as demais áreas da Administração, que é o nosso Planeja-mento Estratégico, concluído no ano passado e que traz uma série deaspectos relacionados aos recursos humanos e aponta como principalfator crítico de sucesso para a Instituição a existência de recursos hu-manos adequados à missão da PF. Em função disso, uma série de inicia-tivas já vinha sendo desenvolvida na Diretoria de Pessoal e agora dare-

Joaquim MesquitJoaquim MesquitJoaquim MesquitJoaquim MesquitJoaquim MesquitaaaaaDiretor de Pessoal da PFDiretor de Pessoal da PFDiretor de Pessoal da PFDiretor de Pessoal da PFDiretor de Pessoal da PF

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to bem feito que vai nos subsidiarnão só para a realização dos con-cursos como também para a ges-tão da nossa força de trabalho,porque saberemos quais as com-petências serão exigidas para odesempenho de determinada ati-vidade, seja de caráter operacio-nal, seja de suporte, técnico ougerencial. A rigor a rigor, tudo issocaminha para a implantação deum modelo de gestão por compe-tências, que faz parte da PolíticaNacional de Desenvolvimento dePessoal do Governo Federal. A PF,por meio de iniciativas da Direto-ria de Pessoal e da Academia Na-cional de Polícia, já caminha nestesentido. Já foram capacitados emmapeamento de competências 120servidores da PF, fruto de um tra-balho com a Escola Nacional deAdministração Pública (ENAP).

Prisma – Problemas futuros de ges-tão de pessoal inevitavelmente come-çam no processo de seleção e de forma-ção dos futuros servidores. Nesse sen-tido, uma das queixas recorrentes é sejá não seria hora de pensar em proces-sos de seleção e de formação diferenci-ados na PF. Existem diversas carreirasdentro da PF, mas as provas para ad-missão cobram praticamente o mesmoconteúdo, com o mesmo peso.DGP Mesquita – Com relação aisso já temos um grupo de estudosque deve apresentar os novos re-quisitos exigidos para cada um doscargos. Esse trabalho ainda nãoestá concluído, pelo menos aindanão foi aprovado pela Direção-Ge-ral, mas certamente enfrenta essesproblemas e busca minimizar. Namedida em que você identifica efe-tivamente as competências neces-sárias para o desempenho de cada

redefinir, reprojetar esses projetospara que possam ser mais céleres.

Prisma – Seria desenvolver sistemas eautomatizar procedimentos?DGP Mesquita – Sim. Passa neces-sariamente pela melhoria dos sis-temas informatizados para usooperacional e gerencial. O desen-volvimento desses novos sistemastambém já foi objeto de um acordode cooperação celebrado entre aPolícia Federal e a UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte.Nossa expectativa é que neste anojá tenhamos um sistema em fasede implantação.

Então nós temos aí o mapea-mento de processos, as ações de ca-pacitação, os concursos, a melhoriados sistemas informatizados paragestão de pessoas e estamos tam-bém fazendo o levantamento deinformações para o desenvolvi-mento do Perfil Profissiográficodo Policial Federal, para o qual foicontratada a Universidade deBrasília. Estamos agora na fase depreenchimento dos questionáriospor todos os servidores da carrei-ra policial, já que o Perfil Profissi-ográfico atende apenas aos servi-dores policiais, pois tem por obje-tivo a realização dos próximos con-cursos, subsidiando o examepsicotécnico, que não é exigidopara os servidores da carreira ad-ministrativa. Por meio dessePerf il Profissiográfico tere-mos a apresentação de um re-latório que apontará as habi-l idades, as competências, asat itudes necessárias para odesenvolvimento e desempe-nho das atribuições de cadaum dos cargos da Polícia Fe-deral. É um trabalho técnico mui-

mos continuidade, além de incre-mentar. Essas ações estão relacio-nadas à capacitação e a qualifica-ção de nossos servidores. É muitoimportante que tenhamos os nos-sos servidores qualificados e capa-citados para o cumprimento dassuas atribuições. Não só os servi-dores policiais, mas todos os ser-vidores administrativos.

Estamos em articulações com oMinistério da Justiça e do Planeja-mento para a realização de novosconcursos públicos. Já existem va-gas autorizadas para os cargos dacarreira policial. Existem vagasabertas em decorrência de aposen-tadorias, vacâncias, exoneraçõesde servidores. Temos também opleito de criação de mais 3 mil va-gas de servidores administrativos.Estamos na expectativa de que asautoridades do Governo autori-zem esses concursos; elas aguar-dam melhores definições em rela-ção ao cenário macroeconômicopara que a Polícia Federal seja au-torizada, mas estamos bastanteotimistas de que isso ocorrerá ain-da neste ano.

Outro objetivo que temos rela-ciona-se a melhoria e a agilizaçãodos processos administrativos deinteresse dos nossos servidores. Aívão os processos de aposentadoria,pensões, requerimentos de benefí-cios e de mais direitos para os ser-vidores. Entendemos que devemosbuscar agilizar a tramitação des-ses processos para dar uma res-posta mais rápida aos nossos ser-vidores. Para isso, por meio dacontratação do Instituto Nacionalde Desenvolvimento Gerencial,vamos mapear alguns macro-pro-cessos da área de gestão de pesso-as na PF. Não só mapear como

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Entrevista

um dos cargos você pode, desde onascedouro, desde o processo derecrutamento, já fazer no edital aexigência daqueles conhecimentospara cada cargo.

Prisma – O senhor acha que os concur-sos regionais foram uma boa medida paraa Polícia Federal?DGP Mesquita – Não fosse a fixa-ção de um prazo mínimo no edital,certamente teríamos enormes di-ficuldades em manter o efetivo daPF na Região Norte do País, porexemplo, que é onde nós mais pre-cisamos. Entendo que existem al-gumas providências, alguns mo-vimentos que devemos e precisa-mos fazer para que tenhamos con-dições de corresponder, adequa-damente, às expectativas dos nos-sos servidores em relação às lota-ções. Primeiro acho que devemoster fixado de maneira clara, ex-pressa e objetiva o quantitativo deservidores de cada uma das uni-dades da PF. Para que isso aconte-ça tornamos público um estudoque está sendo feito por um Grupode Trabalho em que estamos ten-tando desenvolver uma metodolo-gia que nos permita fixar o efetivodas nossas unidades. A partir daí,a movimentação dos nossos ser-vidores vai se dar em função dosclaros efetivos de lotação.

Prisma – Uma das queixas com rela-ção aos concursos regionais é que se apessoa se inscreve para a Região Nor-te, por exemplo, obrigatoriamente fica-rá lá por pelo menos 5 anos. Já outrapessoa que faz o concurso nacional,passa nas últimas colocações e acabalotado na mesma unidade, a qualquermomento pode pedir remoção.DGP Mesquita – O edital é como

um contrato a que as pessoas sesujeitaram e se submeteram. Te-mos sempre dito que o servidor vo-luntariamente se inscreve numconcurso. Uma coisa é certa, issoos dados estatísticos demonstram,fiz questão de obter essas informa-ções: o número de candidatos porvaga nos concursos regionais foimenor do que o número de candi-datos por vaga nos concursos na-cionais. Significa dizer que as pes-soas que se submeteram ao con-curso regional tiveram uma con-corrência menor do que aquelasque se submeteram ao concursonacional. Ora, estava expresso noedital um prazo a que a pessoa sesujeitava. Ela tinha opção de fazerou o nacional ou o regional. Op-tou pelo regional. Então, a meu ver,não há por parte da Administra-ção nenhuma ilegalidade em exi-gir-se o cumprimento desse pra-zo. Agora, é preciso que se abra umparêntese: a princípio não meparece que, tendo a possibili-dade substituir, de lotar pes-soas que saem da Academia,que não possamos oferecer apossibil idade de part icipardos concursos de remoção edos concursos de recrutamen-to, a todos os servidores, sejado concurso nacional ou do re-gional. Isso ainda não é algo

que esteja consolidado, defi-nido, pois ainda temos queanalisar todas as implicaçõesjurídicas.

Prisma – Ponto eletrônico. Qual a suaopinião sobre o tema, atrelado a isso aquestão da compensação orgânica dehoras?DGP Mesquita – São duas coisas.A questão da compensação orgâ-nica já foi objeto de uma manifes-tação da Diretoria de Pessoal, emque se estabelecem ali as condiçõespara essa compensação orgânica.A rigor, as pessoas têm o direito aodescanso de maneira que elas pos-sam se recuperar do trabalho a queestiveram submetidas.

Em relação ao registro eletrô-nico de frequência, na realidade éum processo de informatização deum sistema de coleta de frequência,que vem sendo feito de maneiraextremamente arcaica. Todos osprocessos tendem à informatiza-ção. Percebo que, as vezes, por des-conhecerem a iniciativa ou desco-nhecerem os objetivos, as pessoasposicionam-se de maneira contrá-ria, mas, certamente, na medidaem que isso for efetivamente im-plantado, quando estiver funcio-nando – acreditamos esteja funci-onando rapidamente – as resistên-cias cairão. Ele vai permitir infor-mações gerenciais extremamenteimportantes para a gestão da nos-sa força de trabalho. Hoje, temosenorme dificuldade em saber aspessoas que estão em missão, asque estão de férias, as que se en-contram em nossas edificações.Quando tivermos esse sistemaatrelado a outras informações ge-renciais, como as capacitações, oscursos, as áreas de formações dos

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servidores, numa necessidadeoperacional, numa necessidade deplanejamento, teremos condiçõesde obter essas informações rapi-damente. E não se pretende, éimportante dizer, imaginarque teremos uma rigidez dehorários. Isso é contrário àatividade policial e as peculia-ridades da atividade policial.Ninguém imagina isso. É ób-vio que pela natureza das nos-sas atividades há uma malea-bilidade muito grande em re-lação aos horários em que seentra e que sai das nossas uni-dades.

Prisma – O senhor falou bastante decapacitação e formação continuada. Nãoseria hora de se repensar o papel da Aca-demia Nacional de Polícia nesse sentido.Por exemplo, hoje o servidor quando in-gressa na PF independentemente de serdelegado ou agente ele terá a mesma for-mação. Não seria o caso de se pensar emformação diferenciada, voltada para asrespectivas competências de cada cargo?O delegado, por exemplo, já vem de umaformação jurídica e o próprio conhecimen-to jurídico já foi cobrado nas etapas ini-ciais do concurso. Não é raro que, em salade aula, tenham alunos com conhecimen-to jurídico maior de determinada matériaque o próprio professor. A ANP não de-veria focar na formação técnica e se vol-tar para a capacitação gerencial?DGP Mesquita – A Academia játem iniciativas de revisão de cur-rículo e de disciplinas. Isso tam-bém passa pela alteração das exi-gências para os concursos e pas-sa, naturalmente, pela alteraçãodas disciplinas e dos currículosda Academia. Isso já vem sendofeito e a expectativa é que para ospróximos cursos de formação já

tenhamos isso pronto, que o co-nhecimento efetivamente a serministrado aos alunos seja aque-le de que ele não dispõe pela suaformação e de que será necessá-rio para o desenvolvimento dassuas atividades. Isso é uma ati-vidade muito dinâmica, constan-temente temos que atualizar nos-sas disciplinas, os currículos, oscadernos.

Prisma – Curso Superior e CursoEspecial da Polícia. Também não se-ria interessante haver uma formaçãodiferenciada?DGP Mesquita – Isso nada mais édo que implementar o modelo degestão por competências. Os cur-sos devem ser ministrados emfunção das competências exigidaspara os respectivos cargos. E, emcasos específicos, para os cargos dedireção, para os cargos operacio-nais e para os cargos de suportetécnico. A Academia está para pu-blicar a portaria que define os no-vos Cursos Superior e Especial dePolícia que serão ministrados nes-te ano. Já para estes novos cursoso modelo a ser adotado será o degestão por competências, num pro-cesso em que se busca melhorar acapacitação dos servidores.

Prisma – É possível perceber entre os

delegados, sobretudo naqueles que jávêm de uma formação jurídica sólida,uma fome muito grande de capacitação.São profissionais em busca de aprimora-mento, por meio de um mestrado ou umdoutorado. Qual a visão da DGP no sen-tido de apoiar esses servidores, inclusivecomo forma de estimular a produção ci-entífica na PF?DGP Mesquita – Já temos aprova-das várias ações de especializaçãoe de mestrado. Temos recursos or-çamentários e já temos atendidoalgumas solicitações. O que pre-tendemos é sair da reatividade epassar para a proatividade no ofe-recimento desses cursos. Na me-dida em que identificamos as com-petências necessárias, que temosum plano de capacitação, que esseplano de capacitação identificauma série de cursos ou de conheci-mentos que as pessoas precisamter. Vamos então, seja por meio daAcademia, seja por meio de con-tratos com outras instituições,ofertar e oferecer essas vagas parao desenvolvimento dos nossos ser-vidores. É evidente que sempre es-taremos limitados aos recursos or-çamentários disponíveis, mas quetêm crescido. Neste ano, temospara as ações de capacitação,fora as ações da Academia, ummilhão e meio de reais, paramestrados, doutorados, espe-cializações e outros cursos dequalificação.

Prisma – Terceira classe. A Polícia Ci-vil do DF, que historicamente sempre ca-minhou junto com a PF, entretanto, aque-la muito mais a reboque das conquistasdesta, já conseguiu corrigir a questão daterceira classe. Em outras carreiras jurí-dicas, como na AGU, por exemplo, se-quer existe a terceira classe. Como a ques-

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Entrevista

tão está sendo tratada na PF?DGP Mesquita – O diretor-geraljá encaminhou ao ministro da Jus-tiça um ofício em que manifesta suaposição favorável a que os servi-dores que estão na terceira classesejam posicionados na segunda esustenta os argumentos para queisso aconteça. Temos a esperançade que essa situação, a partir domomento em que foi encampadapela Administração, seja atendidapelo Governo.

Prisma – E com relação a extinção daterceira classe na Polícia Federal? Exis-te essa perspectiva real sendo discutida?DGP Mesquita – Na realidade te-mos que analisar, porque eu não seise a questão é da terceira classe emsi. Uma coisa é certa, temos umacarreira de 30 anos. O correto é quechegássemos ao topo da carreiraao final desses 30 anos, não no iní-cio. Não se pode, por exemplo, eu,delegado classe especial, que jácheguei à classe especial com 10anos de serviço e não ter mais pos-sibilidade de crescimento na car-reira. Vamos ter que resolver isso.Para mim a questão central, que éprecedente a esse aspecto, porquetodas essas questões de readequa-ções, de estrutura de carreira sãocomplexas porque exigem uma sé-rie de negociações e muitas vezeselas não estão apenas no âmbito deresponsabilidade da Administra-ção da Polícia Federal, é o seguin-te: duas pessoas não podem fazero mesmo trabalho recebendo dis-tintamente. Eu não concebo que umdelegado de terceira classe faça omesmo que um delegado de segun-da classe, ou que um agente de ter-ceira classe faça o mesmo que umagente de segunda classe. O de se-

gunda recebe “x” e o de terceirarecebe “y”. Então o erro está aí. Setivéssemos na nossa estrutura decarreira responsabilidades e atri-buições próprias de uma determi-nada classe e não de outras, pode-ríamos admitir uma remuneraçãodiferenciada. Como isso não acon-tece, acho que temos, de certa ma-neira, buscar minimizar. No casoda terceira classe, fazendo com queesses servidores passem para a se-gunda. Agora, uma coisa é certa,para ter carreira é preciso ter es-trutura e essa carreira não pode seencerrar ao cabo de 10 anos. Issotem que ser discutido e acho que aLei Orgânica é um bom fórum paraessa discussão.

Prisma – Uma carreira administrati-va bem estruturada para apoiar à ati-vidade policial é fundamental. O quetem sido feito para evitar a evasão des-ses servidores?DGP Mesquita – O que temos hojena Administração Pública é a pró-pria Administração concorrendocom ela mesma. Temos atividadesdesenvolvidas por servidores demesma qualificação cuja remune-ração num Poder é uma e noutroPoder é outra. Essa é uma questãode política de gestão de pessoas da

Administração Pública. Isso fazcom que em determinados instan-tes aquele órgão que paga uma re-muneração inferior perca algunsservidores. Isso acontece muitocom os servidores administrati-vos. Solução: melhoria de remune-ração é uma. Segunda solução: se amelhoria de remuneração não re-solver, que se realizem concursosconstantemente, para que na me-dida em que as pessoas passem emoutros concursos entrem novosservidores. Mas são soluções depolítica de pessoal que estão neces-sariamente sob a responsabilida-de do Ministério do Planejamento,da Secretaria de Recursos Huma-nos, que não desconhecem essesproblemas. O que podemos fazer,no âmbito da Polícia Federal, ébuscar articular com as autorida-des do Governo para que se me-lhore a remuneração, além de bus-car capacitar os servidores paraque se sintam mais motivados,melhorar as condições de trabalhoe realizar novos concursos.

Prisma – Aposentadoria. Volta e meia aquestão da aposentadoria especial do po-licial é atacada...DGP Mesquita – Temos vários es-tudos, vários pareceres muito bemfundamentados que sustentam alegalidade e a recepção da aposen-tadoria especial. O nosso papel, anossa responsabilidade é ter umembasamento teórico-jurídico for-te para que a possamos convencere sustentar a legalidade dessa apo-sentadoria. Até hoje isso tem sidosustentado.

Confira a íntegra da entrevista no siteda ADPF, www.adpf.org.br.

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Longe de ser extinto, a conclusão

unânime a qual chegou o Grupo de

Estudos da Polícia Federal para

d iscutir o tema, é que o inquérito

pol icial precisa ser revisto de modo

a oferecer à autoridade pol icial os

instrumentos necessários para um

trabalho eficiente e célere.

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N O Grupo de Estudo não se limi-tou a ouvir só as sugestões da Po-lícia Federal, mas levou em consi-deração o que foi discutido comoutros setores da sociedade comoparlamentares, professores uni-versitários, enfim pessoas que atu-am ou são estudiosas na área deinvestigação criminal.

Até um grupo virtual foi cria-do para ampliar o debate dos te-mas ligados ao aperfeiçoamento doinquérito policial. A PF promoveutambém nos dias 10 e 11 de dezem-bro de 2008 o I Seminário sobreInquérito Policial: Proposta de Re-forma, na Academia Nacional dePolícia, reunindo especialistas detodo o país.

O trabalho do GE foi encerradoem 16 de dezembro de 2008 e deleresultou proposta de Projeto de Leique prevê a alteração de dispositi-vos do Decreto-Lei 3.689, de 3 deoutubro de 1941 – Código de Pro-cesso Penal, relativos ao inquéritopolicial. O GE sugeriu alteraçõesnos artigos 1º ao 23º.

O Projeto envolve temas comosimplificação do inquérito, infor-matização, concentração de ativi-dades, nível de cognição, instru-mentos de atuação, titularidade,filtro, conciliação, indiciamento,responsabilidade civil, funda-mentação da requisição, interaçãoinstitucional, sigilo das investiga-ções, exposição do investigado eprazo.

Uma das principais mudan-ças, segundo o presidente doGE, é a criação de sistema deinformatização mais eficaz,até mesmo com a criação deum inquérito informatizado,virtual, que possa interagircom a justiça, com o Ministé-

rio Público, Receita Federal etodos os parceiros da PolíciaJudiciária na investigação po-licial.

A idéia é usar maciçamente to-das as tecnologias de informação econectar com outros órgãos. “Alémdisso, nós vislumbramos a neces-sidade urgente de se criar filtrosno inquérito policial, de maneiraque algumas notícias crime te-nham tratamento mais rápido epossam ser apreciadas pelo Judi-ciário mais brevemente e, conse-quentemente, tenham solução peloJudiciário mais rapidamente”,enfatiza Célio Jacinto.

Além dessas sugestões, o Gru-po de Estudo da Polícia Federalconsidera ser necessário fazer umajuste no relacionamento da polí-cia com o Ministério Público e daPolícia com a Justiça. “Nos depa-ramos com muitas requisições, asvezes desnecessárias. Outra ques-tão é que a Polícia Judiciária nãotem conhecimento dos desdobra-mentos da investigação que fez,porque não há conexão com o Po-der Judiciário. É importante quequem inicia a investigação tenhainformações do resultado final doseu trabalho”, argumenta o dele-gado.

A proposta de aperfeiçoamen-to do inquérito policial avança emoutros pontos como promoverconciliações. Segundo o GE, aPolícia Judiciária tem condições defazer conciliação em alguns crimes,como já é feito nos juizados espe-ciais criminais. O próprio delega-do pode presidir algumas concili-ações. Isso dentro daquela idéia deagilizar aqueles casos em que ofato apurado não vai sofrer umapena.

ão é de hoje que se falada necessidade de apri-moramento do inquéri-

to policial. Sugestões, desde asmais construtivas até as mais ra-dicais (como o fim do IPL), têm sidocolocadas. No ano passado, numaatitude pioneira a Polícia Federaldecidiu aprofundar a discussãodentro da instituição e colocar oque pensa e reivindica em docu-mento oficial para encaminhar aoMinistério da Justiça e CongressoNacional, no sentido de incorpo-rá-las nos projetos de lei em anda-mento e até mesmo para que a pró-pria Polícia Federal tenha umadoutrina sobre o assunto.

“Essa é uma iniciativa pionei-ra da Polícia Federal, já que a Polí-cia Judiciária de uma maneira ge-ral não é chamada e não costumaser proativa no oferecimento depropostas de modernização dosistema. Nós aplaudimos a visãoque teve o diretor-geral no sentidode proporcionar à Polícia Federale a toda a comunidade policial ju-rídica a possibilidade dela colabo-rar no melhoria de todo o sistemajurídico nacional”, explica o dele-gado federal Célio Jacinto dos San-tos, que presidiu o Grupo de Estu-do sobre Modernização do IPL, ins-tituído em abril de 2008.

A idéia de aprofundar a discus-são sobre o tema foi iniciativa daCoordenação de Altos Estudos emSegurança Pública, da AcademiaNacional de Polícia e depoisabraçada pela Direção-Geral da PF.O grupo trabalhou na identifica-ção dos problemas apresentadosnas investigações existentes noBrasil e, após este diagnóstico, tra-çou os objetivos e anseios da polí-cia judiciária.

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FIM DO INQUÉRITO?Quem atua no meio jurídico já

deve ter ouvido alguém falar que oinquérito é obsoleto, ultrapassadoe ineficaz. Mas, o fim do IPL é umapossibilidade pouco provável, se-gundo especialistas ouvidos pelaRevista Prisma. “O inquérito po-l icial é indispensável para osistema processual, tanto quetem assento na Constituição.Está previsto no artigo 129, inciso8º da Carta Magna”, lembra o re-presentante da Associação dosDelegados do Brasil (ADEPOL DOBRASIL), Wladimir Sérgio Reale.

Segundo ele, é impossível ques-tionar o valor de prova do inqué-rito policial. A reforma do CPP-Código de Processo Penal, já apro-

vada na Câmara, prevê a simplifi-cação de alguns procedimentosdesse instrumento. Por outro lado,mantém a possibilidade do juizpronunciar sentença, baseado noque foi apurado no inquérito.“Pode utilizar sem que seja o úni-co argumento”. Se não houver in-quérito, o que será no lugar dele ?questiona.

A proposta do Grupo de Estu-do Sobre Modernização do IPLafasta a sua “exclusão como for-ma de registro dos atos de PolíciaJudiciária, mas, conclui que suaforma atual não tem atendidoà esperada celeridade e efici-ência, especialmente porqueem algumas hipóteses em quepode ser dispensado é utiliza-

do indiscriminadamente e,em situações em que já pode-ria ter sido encerrado, persis-te por anos, sem acrescentarinformação útil ao acertamen-to do fato penal”.

O presidente do GE da PolíciaFederal não considera o IPL moro-so. O que causa morosidade, se-gundo o delegado Célio Jacinto,não é o aparelho normativo ofere-cido pelo CPP, “mas principalmen-te a estrutura humana e materialoferecida à Polícia para dar anda-mento as investigações. Mas, nãoadianta apenas a instituição seaperfeiçoar”. Ele defende a intro-dução de alguns institutos que aConstituição de 88 inovou e que oinquérito está atrasado nesse sen-tido. “Não só o inquérito, mas todaa fase processual apesar de algu-mas alterações que sofreu recente-mente”, acrescentou.

A celeridade das investigações,segundo identificou o Grupo de Es-tudo, é comprometida por conta danecessidade constante de remessados autos de inquérito policial

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para o Ministério Público e para oPoder Judiciário antes de sua con-clusão, normalmente para solici-tar prorrogação de prazo. Outracausa do atraso na conclusãodas investigações é a burocra-cia. Pesquisa desenvolvidajunto às Corregedorias Regio-nais de Polícia Federal e Dele-gacias de Polícia Federal reve-lou que mais de 70% das requi-sições ministeriais de instau-ração de inquérito policial oude real ização de novas dil i-gências são infundadas oudesnecessárias .

“O grupo chegou a conclusãounânime que o inquérito policialprecisa conferir a autoridade poli-cial o instrumento adequado paraque ele possa trabalhar. Delegadoprecisa de poder requisitório paraque possa solicitar informaçõesaos órgãos públicos e ser atendidona forma que a investigação preci-sa. Uma das grandes carências queobservamos e que nós estamos su-gerindo é que haja alguns disposi-tivos que possibilite ao delegadorequisitar algumas informações eos órgãos tenham obrigação deresponder dentro de um prazo ra-zoável, hoje é muito comum ofici-armos para estes órgãos e eles de-moram a nos responder. A inves-tigação fica parada durante algumtempo”.

Dentre os especialistas queparticiparam das discussões pro-movidas pela Polícia Federal estáa mestre em Direito ProcessualPenal pela Faculdade de Direito daUniversidade de São Paulo-USP,Marta Saad. Estudiosa do temaexercício do direito de defesa noinquérito policial, ela avalia sernecessário maior interesse políti-

co na questão. “As recentes refor-mas acenam para a realidade deque determinados atos, praticadosno curso do inquérito, são defini-tivos e podem definir o resultadode eventual ação penal. Falta, ago-ra, instrumentalizar melhor osmeios e capacitar cada vez maisos agentes responsáveis pelainvestigação”,enfatizou.

Segundo ela, a Constituiçãodeixa claro que a apuração das in-frações penais é função da PolíciaJudiciária e as críticas feitas ao in-quérito, como morosidade ou queé oneroso, não são exclusivas domodelo brasileiro, sendo tambémdirigidas aos outros modelos deinvestigação, adotados em outrospaíses.

“Diante da nossa realidade eaté mesmo em razão da frustra-ção das experiências estrangeirascom outros modelos de investiga-ção, que adotaram o juizado de ins-trução ou entregaram a direçãodesta fase procedimental ao Minis-tério Público, o inquérito polici-al é, ainda, a melhor forma deapuração prévia que se podeter no Brasil, apresentandovantagens em relação aojuizado de instrução ou à dire-ção da fase prel iminar peloMinistério Público. A divisão defunções, tal como hoje é feita, entreJuízes, Promotores ou Procurado-res, e Delegados de Polícia, parece-me a forma mais adequada. Trata-se de um modelo válido para nos-so país, em comparação aos mo-delos estrangeiros, e que necessitaapenas de melhor modelagem”,ressalta Marta Saad.

Para melhorar o que temos, asugestão da especialista é mais in-vestimentos e valorização da po-

lícia. Defende ainda que seja reco-nhecida e possibilitada de formaprática e efetiva o exercício e par-ticipação da defesa nesta fase pre-liminar da persecução penal.

A Ordem dos Advogados noBrasil (OAB) não tem uma discus-são sistematizada sobre o aprimo-ramento do inquérito policial.Eventualmente, são debatidos as-pectos ligados à investigação nafase policial. Na Comissão institu-ída no Senado para a discussão deum novo Código de Processo Pe-nal, tem um representante, o pro-fessor Jacinto Nelson MirandaCoutinho, titular da cadeira deprocesso penal da UniversidadeFederal do Paraná(UFPR).

“A despeito disso, um tema quenos chama a atenção atina com anecessidade de a vítima ter al-gum recurso contra a decisão quedetermina o arquivamento do in-quérito policial. Hoje não há e in-justiças acabam sendo perpetra-das. Outro ponto diz com a neces-sidade de o investigado poderacompanhar o trabalho pericialcom um assistente técnico. Embo-ra se saiba que na fase pré-proces-sual não vigore o contraditório, asprovas periciais são definitivas.Não vejo porque se deva diferir notempo a possibilidade de se ques-tionar o trabalho pericial. Há pe-rícias que são únicas e só se reali-zam uma vez. Portanto, a possibi-lidade de o investigado, querendo,acompanhar o trabalho pericialcontratando um expert para fazero papel de Assistente seria interes-sante e garantiria o direito de de-fesa”, justificou o Diretor do Con-selho OAB e Doutor em Direito Pe-nal pela USP, Alberto ZachariasToron.

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Segundo ele, o inquérito po-l icial não é imprescindível àpropositura da ação penal,mas se vê com muita frequên-cia denúncias serem anuladasou porque não descrevem deforma adequada a conduta decada participante do crime oupor falta de base material paraa própria imputação.

Tais vícios poderiam ser evita-dos com a prévia instauração deum IPL. Para Toron, o inquérito éimportante porque permite que oinvestigado ofereça sua versão dosfatos e, por outro lado, não se sub-meta desde logo ao titular da açãopenal que poderia dirigir a inves-tigação de modo mais tendenciosopara chegar à conclusão pretendi-da. “Penso que, no particular, a Po-lícia tem condições de ser mais isen-ta, pois não é parte processual”.

MUDANÇAS APROVADASA Câmara dos Deputados apro-

vou alterações no Código de Pro-cesso Penal (CPP - Decreto-Lei3.689/41) para aperfeiçoar e sim-plificar as regras da investigaçãopolicial. A proposta está sendoanalisada no Senado. O texto apro-vado é o substitutivo do relator,deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) ao Projeto de Lei 4209/01. A pro-posta foi originalmente elaboradapor uma comissão de juristas, cri-ada pelo Ministério da Justiça nogoverno FHC, e depois atualizadapor grupo de trabalho da Câmarasobre Direito Penal e Processo Pe-nal.

Segundo o delegado federalCélio Jacinto, o Projeto de Lei nãoatende totalmente as reivindica-ções da Polícia Judiciária, mas re-presenta um avanço significativo

na tendência de modernização dosistema de investigação policial,principalmente na agilização dasdiligências e da adoção do sistemainformatizado e de novas tecnolo-gias.

“Nós sugerimos adoção de al-guns sistemas para descentralizara investigação no sentido de agen-tes da autoridade policial podercoletar informações e entrevistarinvestigados e testemunhas e pro-duzir um relatório, de maneira quediminua a morosidade do inqué-rito. O que evitaria intimações,comparecimentos e muitos trans-tornos, isso de acordo com a natu-reza do caso”, ressalta.

O Grupo de Estudos apresen-tou sugestões a alguns deputados.“Alguns institutos que nós vislum-bramos podem até ser incorpora-dos. Mas, independente desse pro-

jeto, o fato é que a Polícia Federal, apartir desse trabalho que nós de-senvolvemos sobre a investigaçãopolicial, tem um indicativo daqui-lo que pretende para o inquéritopolicial”.

A delegada federal Tânia Ma-ria Matos Ferreira Fogaça, mem-bro da Comissão de Prerrogativasda ADPF e integrante do GE, contaque o trabalho foi desenvolvidoapós muita pesquisa e compilaçãodas principais dificuldades en-frentadas pela Polícia Judiciária noenfrentamento da criminalidade.

“O próximo passo é a divulga-ção do trabalho, para difusão dasprincipais idéias, como por exem-plo a necessidade de ser conferidaao delegado de polícia federal apossibilidade de requisitar dadoscadastrais no decorrer de investi-gação policial”, explica Tânia.

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DPF CÉLIO JACINTO, presidente do Grupo de Estudos da Polícia Federal paramodernização do inquérito pol icial.

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Investimento na produção de conhecimento científ ico promete ser, cada vez mais, a

tônica da instituição. Bem mais do que músculos e força, é a intel igência que fará a

d iferença na compreensão e no combate da criminal idade.

A pós se consolidar nocombate ao crime orga-nizado, a Polícia Federal

quer ampliar suas ações na áreade pesquisa e produção de conhe-cimento científico. Esta produçãojá existe e está materializada nãosomente nas monografias dos cur-sos de especialização promovidospela instituição, visando aprimo-ramento de seus servidores, masno sucesso das operações que acon-tecem regularmente. “A Polícia Fe-deral tem buscado insistentemen-te estabelecer métodos mais segu-ros e eficazes, sempre primandopela legalidade e respeito a digni-dade da pessoa humana”, explicao coordenador de Altos Estudos emSegurança Pública da AcademiaNacional de Polícia, delegado CélioJacinto dos Santos.

É exatamente na Academia Na-cional de Polícia, ou ANP como émais conhecida, que deve funcio-nar a incubadora de novos conhe-cimentos sobre a prática policial etemas ligados à segurança públi-ca. Para se ter uma idéia, atual-mente a CAESP (Coordenação deAltos Estudos) desenvolve pesqui-sa sobre modernização do inqué-rito policial, a criação de umametodologia científica da investi-gação criminal e o levantamentode homicídios na Polícia Federal.

A Polícia Federal possui comopolítica institucional o fomento apesquisa e ao ensino, e uma dasmetas é adequar a ANP como cen-

tro de pesquisa e produção cientí-fica, para tal será estruturado naAcademia a Escola Superior de Po-lícia. “Nossa Academia está pas-sando por uma série de transfor-mações, que vão justamente fo-mentar a pesquisa aplicada e a pes-quisa científica, sobretudo a pes-quisa aplicada as questões da se-gurança pública”, revela o diretorda Academia Nacional de Polícia,Anísio Soares Vieira.

Embora a razão de ser da ANPseja a formação profissional, écada vez crescente a preocu-pação em colaborar com abusca e difusão de conheci-mento em alto nível que pos-sa efetivamente subsidiar osgovernantes nas políticas pú-blicas de segurança. Para o di-retor da Academia, as questõesmacro sobre segurança pública, es-pecialmente a macro violência, agrande criminalidade, a transna-cionalidade do crime, sempre fo-ram vistas de uma formaincipiente, como sendo questõespuramente de polícia de repres-são.

Hoje, o cenário é outro, a Polí-cia Federal , assim como a comu-nidade acadêmica (as universida-des federais especialmente), sentea necessidade de produzir estudose pesquisas que

venham contribuir para a compre-ensão da conjuntura social e apre-sentar soluções para o problemada criminalidade.

“E a nossa Academia como sen-do a instituição de ensino respon-sável pela capacitação do policialfederal, não pode ficar vendo ascoisas acontecerem em seu entor-no, então esse realmente é o gran-de desafio”, ressalta Anísio Soares.

Para otimizar a produção deconhecimento científico a ANP játrabalha com uma alternativa queestá no papel, mas ainda falta serconcretizada: a Escola Superior dePolícia. Os primeiros passos paraque funcione já foram dados. Estáem andamento a licitação paraconstruir o prédio onde a Escolavai funcionar. Este ficará dentrodas próprias instalações da Aca-demia, em Brasília.

Com a criação da Escola Supe-rior de Polícia, a Academia foi ha-bilitada a ministrar curso de pós-gradução latu sensu em matéria desegurança pública. Em um segun-do momento, a ANP buscará acertificação para promover cursosde mestrado. Os cursos de pós-gra-duação deverão atender não so-mente os servidores da PF, mas acomunidade em geral. “Servirãoc o m o

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fórum de debates de questões liga-das a segurança pública. Será ogrande centro de discussão, de fo-mento a pesquisa”.

Enquanto a Escola Superior nãotem a sua sede, a direção da Aca-demia trabalha para formalizaçãodos cursos de pós-graduação. Aidéia, segundo Anísio Soares, é queainda este ano, tenha início cursode especialização, promovido emparceria com a Universidade deBrasília (UNB), na área de sociolo-gia criminal. A ANP também in-veste, para 2010 na criação do pri-meiro mestrado profissional emsegurança pública.

O QUE JÁ EXISTEA Coordenação de Altos Es-

tudos em Segurança Públicada ANP é considerada o em-brião da Escola Superior daPolícia Federal. As pesquisas

da ANP e de outros setores daPF estão voltadas para aplica-ção prática interna, destaca ocoordenador. Segundo o delegadoCélio Jacinto, existem estudos so-bre inquérito policial e ametodologia científica da investi-gação criminal além de pesquisasem andamento sobre saúde físicados policiais empreendida peloServiço de Educação Física/ANP, eestudos em fase de implementaçãosobre incidentes graves nas ope-rações policiais do Setor de EnsinoOperacional/ANP.

O trabalho do Grupo de Estu-do sobre Modernização do inqué-rito policial é um exemplo do co-nhecimento que está sendo produ-zido na Academia Nacional de Po-lícia. Surgiu da instituição, por in-termédio da Coordenação de Al-tos Estudos em Segurança Públi-ca, a necessidade de contribuir

para o aperfeiçoamento do IPL.Os delegados, que integram o

grupo, trabalharam na identifica-ção dos problemas apresentadosnas investigações existentes noBrasil e apresentaram propostasda Polícia Judiciária para moder-nizar o inquérito (ver matéria nes-ta edição).

Por outro lado, a ANP tem fo-mentado a divulgação do conheci-mento científico por meio da edi-ção da revista Segurança Públicae Cidadania, que está em seu se-gundo volume, além dos CadernosANP, os quais são distribuídos parao público interno e setores ligadosa segurança pública.

A Escola Superior, confor-me o coordenador da CAESP,será o ambiente adequadopara o desenvolvimento e di-fusão de conhecimentos cien-tíficos. “O local onde os pes-

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quisadores em Segurança Pú-blica e Segurança Humana re-fletirão sobre a violência, suascausas e efeitos, as políticasmais adequadas para área, as ex-periências de outros países entreoutros aspectos. Com a Escola Su-perior de Polícia, poder-se-á pen-sar na estruturação de área de co-nhecimento com concentração em“Ciências policiais, visandoabranger todo conhecimento teó-rico ou prático destinado aos pro-blemas e objetivos da polícia”,enfatizou.

O diretor da ANP cita, ainda, aimportância da cooperação inter-nacional na produção de conheci-mento científico. Intercâmbios têmsido realizados com países comoBolívia, Paraguai e países africa-nos de língua portuguesa, a exem-plo de Cabo Verde, São Tomé ePríncipe, Moçambique e GuinéBissal.

A Academia Nacional de Polí-cia iniciou parceria também comPortugal. O país tem um InstitutoSuperior de Ciências Policiais eSegurança Interna. Dois delegadosestão fazendo um curso de especi-alização desde o ano passado, queserá concluído em abril deste ano.

FUNPFA Polícia Federal já conta há

quase quatro anos com uma Fun-dação de Apoio ao Ensino e à Pes-quisa. É a FUNPF que foi instituídaem 13 de setembro de 2005, por trêsentidades de classe: a AssociaçãoNacional dos Delegados de PolíciaFederal – ADPF, Associação Naci-onal dos Peritos Criminais Fede-rais – APCF e o Sindicato Nacionaldos Servidores do Plano Especialde Cargos da Polícia Federal DPF ANÍSIO SOARES VIEIRA, d iretor da Academia Nacional de Polícia.

Foto: Arquivo A

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(SINPECPF), além de mais 65 pes-soas físicas, entre delegados fede-rais, peritos criminais, agentes eadministrativos.

A atuação da FUNPF está vol-tada especialmente para a Acade-mia Nacional de Polícia e os Insti-tutos Nacional de Criminalística(INC) e Nacional de Identificação(INI). Segundo o perito GeraldoBertolo, diretor-presidente daFundação, seu papel é apoiar e fo-mentar, técnica e financeiramenteprogramas e projetos de pesquisa,ensino e extensão, e, de desenvol-vimento institucional, científico etecnológico.

“Pretendemos tornar aFundação um centro de exce-lência para atender uma gamade servidores policiais fede-rais que há muito tempo care-cem de apoio para desenvol-ver atividades de pesquisa eprojetos, inclusive no que serefere a apoio financeiro, como,por exemplo, bolsas de estudo. Agrande meta da Fundação paraeste ano é iniciar sua atuação nocampo da pesquisa e na geração edisseminação de novas tecnologi-as, visando estimular, produzir edifundir estudos da realidade bra-sileira, principalmente no âmbitoda segurança pública, por meio doestímulo na produção deMonografias de Pós-GraduaçãoLato Sensu da ANP – AcademiaNacional de Polícia, de conclusãodos Cursos de Gestão e Execuçãode Políticas de Segurança Pública,por meio de premiação das trêsmelhores monografias da cadacurso”, enfatizou.

Nos três primeiros anos deexistência, a Fundação direcionousuas atividades para realização de

Formação

PCF GERALDO BERTOLO, d iretor-presidente da Fundação de Apoio aoEnsino e à Pesquisa (FUNPF)

cursos e seminários na área de se-gurança pública, junto aos tribu-nais superiores e, no caso da Polí-cia Federal, seminários, cursos eencontros científicos em parceriacom o Instituto Nacional deCriminalística. Bertolo explica quea FUNPF não avançou totalmenteem suas ações de incentivo à pes-quisa porque até dezembro de2008 não atendia aos requisitos daLei de Diretrizes Orçamentáriaspara atuar no campo da pesquisacom emprego de recursos públi-cos. A principal exigência é de pos-suir, no mínimo, três anos de exis-tência.

“A área de pesquisa ficou “con-gelada” até atingirmos a “maiori-dade” necessária para podermosparticipar com projetos junto aorganismos estatais como o casoda FINEP(Financiadora de Estudose Projetos)”, enfatiza. A FINEP éuma empresa estatal ligada aoMinistério da Ciência e Tecnologia.

Em 2007, quando acumulava apresidência da Fundação com ocargo de diretor Técnico-Científi-co do DPF, Geraldo Bertolo mos-trou à presidência da Financiadorade Estudos e Projetos do governofederal, as condições e linhas deatuação da FUNPF, do INC e do INI.Segundo ele, a direção da FINEP en-tendeu que estas instituições esta-vam aptas, pelas suas estruturas,a se candidatar a recursos públi-cos na área de pesquisa científica.

Desse encontro partiu convitepara participar, no Ministério daCiência e Tecnologia, de uma reu-nião onde seria decidido o volumede recursos públicos que seriamaplicados em pesquisa científicana área de segurança pública. Na-quela oportunidade, foram desti-

nados para pesquisa científica, naárea de segurança pública, para oano de 2008, mais de R$ 20 mi-lhões.

“Infelizmente, a Fundação, pornão atender aos requisitos legaisexigidos pela LDO, ficou à margemdesse processo. Entretanto, sabe-mos que o INC foi beneficiado eencontra-se hoje, com alguns pro-jetos em andamento. No entanto,a partir deste ano (2009) a Funda-ção encontra-se preparada paragerenciar recursos direcionados àpesquisa científica no âmbito daSegurança Pública”, ressaltou.

Ele disse, ainda, que a FUNPFtem todo o interesse em dar apoioà criação de mestrado e doutora-do voltado para a questão da se-gurança pública. Para isso, estápreparando o Regimento Internoda Fundação, que deverá sinalizare normatizar a forma, os temas, ocritério de seleção, o volume de re-cursos à empregar, bem como operfil dos candidatos. Esse docu-mento já está sendo elaborado edeverá estar disponível e publica-do no site da Fundação até mea-dos do mês de maio deste ano.

Foto: Arquivo FU

NPF

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Fortalecida em seu braço internacional e cada vez mais proativa, a Polícia Federal tem

“puxado” o trabalho de outros países. Como uma locomotiva. Hoje, a investigação

nasce aqui e as informações são repassadas para as nações envolvidas.

EfEfEfEfEfeiteiteiteiteito locomotivo locomotivo locomotivo locomotivo locomotivaaaaada Polícia Federalda Polícia Federalda Polícia Federalda Polícia Federalda Polícia Federal

PF no Mundo

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ano de 2009 ficará mar-cado na trajetória inter-nacional da Polícia Fede-

ral. Pela primeira vez, o Brasil terána Secretaria-Geral da Interpol,sediada em Lyon, na França, umoficial de delegação. Para ocupar ocargo, foi escolhida a delegada fe-deral Vanessa Gonçalves Leite deSouza, lotada há três anos e meiono Serviço de Difusões de Procu-rados Internacionais.

A nomeação do oficial de liga-ção brasileiro foi costurada peloministro da Justiça Tarso Genro epelo diretor da Polícia Federal,Luiz Fernando Corrêa, durantevisita que fizeram à organizaçãode polícia internacional em feve-reiro deste ano. Dos 187 países

membros da Interpol, 95 estão re-presentados na sede.

“Eu considero a maior vitóriado escritório da Interpol/Brasil nomomento. É um grande sonho quetínhamos, ou seja, o engajamentode um policial federal na sede daInterpol de forma permanente”,explica o coordenador-geral dePolícia Criminal Internacional,Jorge Barbosa Pontes.

Mas, a inserção do policial naSecretaria-Geral da Interpol é ape-nas uma das inúmeras ações que aPolícia Federal está planejandopara consolidar-se como referên-cia internacional em segurançapública. Uma meta para seralcançada até 2022. Os objetivos emotivos que a levaram a abraçareste desafio estão relatados no pro-jeto DPF no Mundo.

A Polícia Federal quer dei-xar de ser coadjuvante paratornar-se protagonista nocombate aos grandes crimesque hoje preocupam as políci-as de todo o mundo, como onarcortráfico, pirataria, pedo-filia, tráfico de pessoas huma-nas, entre outros.

“É o que convencionamos cha-mar efeito locomotiva. A PolíciaFederal hoje trabalha como umlocomotiva, puxa o trabalho dosoutros. No passado, a PF recebiainformações dos Estados Unidos,da Inglaterra, da Alemanha e ou-tros países, e trabalhava tão so-mente desenvolvendo uma pontada investigação. O que nósestamos fazendo agora é serproativos, a investigação nasceaqui, o carro chefe é aqui, e pas-samos aos outros países para quedesenvolvam uma ponta do quecomeçou aqui”, ressalta Jorge

Pontes.E a “locomotiva” da PF já colhe

os louros do seu esforço. O coorde-nador da CGPCI cita a repercus-são da Operação Carrossel II, quena Espanha resultou na prisão de121 pessoas por pedofilia. Foi con-siderada a maior ofensiva de Ma-dri contra a pornografia infantil nainternet e que começou com inves-tigação da polícia brasileira. Ementrevista à imprensa, o diretor dapolícia nacional espanhola confe-riu a Polícia Federal o crédito doinício da investigação, assim comojá aconteceu com outros trabalhosfeitos em parceira com as políciasaustraliana, grega, japonesa, suí-ça e outras.

Assim, aconteceu também naOperação Nautilus, deflagrada emabril de 2008, que desarticulouuma quadrilha de tráfico de coraisque atuava na região Nordeste.Além das prisões e apreensões em12 estados brasileiros, foramefetuadas também buscas na Ale-manha, Holanda e Dinamarca, einstauradas ações investigativasno Canadá, Estados Unidos, ReinoUnido, França e Argentina.

“As investigações da Polícia Fe-deral, as mais importantes, e atémesmo muitas não tão importan-tes, quase todas têm conotação in-ternacional, seja de lavagem de di-nheiro, tráfico de drogas, tráfico deanimais, tráfico de pessoas, porno-grafia infantil na internet, biopi-rataria, enfim os principais deli-tos tratados pela Polícia Federaltêm conotação internacional, temum suporte internacional. Então,a cooperação internacional torna-se importantíssima”, enfatizaPontes.

O fortalecimento institucional

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da área internacional da PF é umaorientação governamental. O mi-nistro das Relações Exteriores, Cel-so Amorim, por meio do aviso mi-nisterial nº 3 de 19 de março de2008 solicitou que medidas nessesentindo fossem adotadas.

O projeto DPF no Mundovem atender esta recomenda-ção, prevendo, além doprotagonismo de operaçõespoliciais internacionais, açõescomo o fortalecimento da par-ticipação em fóruns internaci-onais, globais ou regionais depolícia; inserção de policiaisfederais em organismos inter-nacionais (ONU, OEA e ou-tros); criação nas 27 superin-tendências regionais dos Nú-cleos de Polícia Criminal Inter-nacional (NPCI’s) e engaja-mento na constituição e forta-lecimento da Ameripol.

A Ameripol é uma entidade re-

cém formada de polícias das Amé-ricas, que visa fortalecer os laçosde cooperações entre os países in-tegrantes, num total de 18, inclu-indo o Brasil. “Estes países com-partilham uma história, geografia,muita coisa, é fundamental o for-talecimento de uma polícia dasAméricas para fortalecer e apro-ximar mais estas polícias. Não de-ver ser criado um bloco estanqueem relação a Interpol. As bases dedados e o canal da Interpol devemser mantidos e utilizados pelaAmeripol”, explica o coordenadorda CGPCI.

Já confirmaram adesão àAmeripol os seguintes países: Ar-gentina, Colômbia, Chile, Bolí-via, Costa Rica, Cuba, Equador, ElSalvador, Guatemala, Haiti,Honduras, Jamaica, México,Paraguai, Uruguai, Peru e Repú-blica Dominicana. Segundo Pontes,a Interpol ficará mais fortalecida e

em seu entendimento aorganização deve for-talecer também a enti-dade das Américas, aexemplo do que temocorrido com aEuropol( que reúne re-presentações policiaisde países da Europa).Em agosto deste ano, osrepresentantes das po-lícias dos países mem-bros devem se reunir noBrasil, pela primeiravez, para aprofundaras discussões sobre aatuação da entidade.

CONQUISTAOutro importante

reconhecimento do tra-balho internacional da

PF foi a Interpol ter ofertado à ins-tituição o banco de dados deno-minado Child Sexual Exploitati-on Image Database, uma inicia-tiva do G8 - grupo formado pelosEstados Unidos, Japão, Alema-nha, Reino Unido, França, Itália,Canadá e Rússia -, em conjuntocom a Noruega. O uso da ferra-menta, acessada por meio do Sis-tema Mundial de Comunicaçãoda Interpol, era restrito a essespaíses.

A inclusão do Brasil, explica acoordenação da Interpol no Brasil,deve-se ao trabalho de cooperaçãoda Polícia Federal brasileira, quetem repassado informações sobrepedófilos que atuam em diversospaíses. Policiais federais estão sen-do enviados à Lyon para ser trei-nados e a previsão é que o bancoesteja disponível para acessos ain-da em 2009.

O banco oferece o que há demais moderno em ferramentas detecnologia na investigação empornografia infantil, principal-mente no ponto de vista de res-gate de vítimas. É possível fazercomparação de imagens dospedófilos, das vítimas e dos am-bientes que saem nas fotografias.Está em funcionamento desde2001 e mais de 100 vítimas foramresgatadas dos seus algozes apartir dessa base de dados.

PRIMEIRO OFICIALDE LIGAÇÃO

A data da ida para Lyon aindanão está definida, porque dependede alguns acertos administrativos.Mas, a delegada Vanessa de Souzajá vive a expectativa de tornar-sea primeira oficial de ligação doBrasil na sede da Interpol. Ela está

PF no Mundo

DPF JORGE PONTES destaca o protagonismo daPolícia Federal em operações de vulto internacional.

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há cinco anos e meio na Polícia Fe-deral. Antes de chegar ao Serviçode Difusões de Procurados Inter-nacionais, esteve lotada em outrasunidades no Pará e Maranhão.

“Para mim é uma grande hon-ra. Acho que é o resultado de umtrabalho que tem sido desenvolvi-do na chefia do Serviço de Difusõesde Procurados Internacionais,onde estou lotada há três anos emeio. Acho que é uma grande opor-tunidade para o Departamento dePolícia Federal ter um oficial de li-gação na secretaria-geral daInterpol, porque é uma grande vi-trine do trabalho realizado aqui,enfatiza. Significa ainda, segundoela, uma ampliação dos trabalhosde cooperação internacional.

A lotação da delegada federalna Secretaria-Geral da Interpoltambém não está definida. Existemduas possibilidades: uma é atuarna Unidade das Américas, que tra-ta das questões relacionadas ao

funcionamento dos escritórios daorganização nas Américas, a ou-tra é a unidade de investigação defugitivos, que Vanessa Gonçalvesdiz ser sua preferida.

O escritório da Interpol no Bra-sil tem intensificado a investiga-ção de fugitivos. “O nosso traba-lho é uma função meio para outrasinvestigações, mas a função fimaqui é a localização de fugitivos in-ternacionais”, explica ela. O servi-ço busca tanto o fugitivo que saiude um outro país e pode estar noBrasil, quanto aquele foragido dajustiça brasileira que pode estarem qualquer lugar do mundo.

“Há uma rede de comunicação,há oficiais especializados nos va-riados países que tratam de fugiti-vos. A gente já sabe com quemcontactar. Outra parte de trabalhoaqui é a troca de informações a fimde viabilizar o desenvolvimentode uma investigação que está acon-tecendo no Brasil. A gente faz liga-

DPF VANESSA DE SOUZA: primeiraoficial de l igação na secretaria-geralda Interpol, em Lyon, França.

ção entre as redes de informaçãofora do país e o delegado que estáinvestigando numa determinadaunidade. Podemos conseguir in-formações lá fora sobre a identifi-cação de uma pessoa, checagem deendereço, para viabilizar o desen-volvimento do inquérito. E, se foro caso, encaminhamos pedido paraque se realize as diligências neces-sárias no exterior”.

Foto: Arquivo pessoal

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PF no Mundo

ADIDÂNCIASDesafiador e gratificante. É as-

sim que a delegada federal Vivianeda Rosa define o trabalho de adidoda PF. Segundo ela, que está naAdidância do Uruguai desde 3 dejulho de 2008, a atividade foge to-talmente de qualquer outra que jádesempenhou na instituição.Viviane já ocupou os cargos de di-retora da Academia Nacional dePolícia e coordenadora-geral dePlanejamento e Modernização.

As adidâncias são outro braçoda Coordenação de Polícia Crimi-nal Internacional. Representam apresença, fisicamente, da PolíciaFederal em alguns países. Hoje,existem adidos na Argentina, Co-lômbia, Paraguai, Suriname, Bolí-via, Uruguai, e na França, além de

oficial de ligação em Miami e umabase só para cuidar de tráfico dedrogas no Caribe. A PF pretendecolocar dois oficiais de ligação nasGuianas e um oficial de ligação nasub-regional de Buenos Aires.

Uma das metas do projetoDPF no Mundo é ampliar asadidâncias policiais, visandoalcançar todos os continentes.As cidades de Washington,Roma, Lima, Caracas, Pre-tória, Lisboa, Madri, Miami,Tóquio, Cidade do México,Santiago, Londres, Berlim eOttawa estão na meta da Po-lícia Federal.

As adidâncias estão comple-tando 10 anos de criação em 2009.Os três primeiros adidos tomaramposse em janeiro de 1999 para atu-

ar no Paraguai, Argentina e Co-lômbia. A missão do adido é de nomáximo dois anos. Para concorrera uma nova adidância, o ex-adidoprecisa esperar dois anos. Mas, aprocura é grande, o número de in-teressados é sempre maior que asvagas disponíveis.

O trabalho do adido consisteessencialmente em estabelecercontatos para troca de experiênci-as e informações na área de Segu-rança Pública, com as autoridadespoliciais do país em que estálotado. “Ao tempo em que apoia-mos as atividades da Embaixada edo Consulado em questões na áreade Polícia de Imigração e em mui-tas outras”, ressaltou Viviane daRosa.

Também é possível desenvolver

Ao centro, a DPF VIVIANE DA ROSA, ad ida da Polícia Federal no Uruguai.

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trabalhos de investigação conjun-ta entre as polícias. A delegada citacomo exemplo a Operação Hidra,desencadeada no ano passado nomesmo dia, pela Superintendênciada PF no Rio Grande do Sul e pelaDirección Nacional de Informaçõese Inteligência em Montevideo.

A ação culminou com a prisãono Uruguai de 15 empresários,apreensão de 214 Kg de prata, 16Kg de ouro e US$ 30.000,00. No Bra-sil, foram cumpridos quatro man-dados de prisão temporária, 12mandados de busca e apreensão,apreendidos 555 Kg de prata, 530g de ouro, pérolas e pedras precio-sas. “Esta operação teve granderepercussão aqui no Uruguai, poisalguns empresários eram propri-etários de casas de câmbio”, des-tacou a Adida.

Outro aspecto importante, queressalta, é o intercâmbio de ativi-dades de capacitação que podemser realizadas entre os países. NoUruguai, em 2008, foi realizado oprimeiro curso instituído pelaAcademia Nacional de Polícia noexterior: o Curso de Análise de In-teligência Policial, ministrado pelaequipe da DIP (Direção de Inteli-gência Policial), para 30 policiaisda área de Inteligência e daAntinarcóticos.

Em 2009, será realizado tam-bém o Curso de Entrevista e Inter-rogatório para magistrados, fis-cais (que é o Ministério Público doUruguai) e policiais. Também coma equipe e o apoio da DIP.

DESAFIOSO grande desafio, algumas ve-

zes, consiste na própria instalaçãoda adidância, como foi o caso doUruguai, Bolívia e Suriname, reve-

la a Adida. “Às vezes são necessá-rias obras e a chegada em um paísestranho é bastante complicada.Em geral, contamos com o apoioinestimável das Adidâncias Mili-tares, já instaladas e atuando hámuito mais tempo. Do lado pesso-al creio que é uma oportunidadeúnica para a família, a de morarno exterior: conhecer outros cos-tumes, outras culturas, outras pes-soas”, destaca.

Trabalho não falta e a equipe daadidância é formada por apenasduas pessoas: o Adido e o adjunto.Eles procuram atender com rapi-dez as solicitações feitas pelas au-toridades da Embaixada. “Essa é anossa marca, o nosso diferencial,fazendo com que o nosso trabalhoseja amplamente reconhecido. Oscontatos com as autoridades poli-ciais locais são de fundamentalimportância”, complementa.

Para quem pensa em serAdido, Viviane da Rosa ressal-ta as características que con-sidera serem fundamentais:conhecimento amplo das ati-vidades da PF (não ter ficadolotado em apenas um setor,por exemplo), ter versatilida-de, criatividade, muito jogode cintura e muita facilidadepara relacionar-se ( esse é con-siderado um requisito impor-tantíssimo), além claro da res-ponsabil idade, ter a confiançadas chefias superiores da institui-ção. “Ser-lhes leal sempre. Salien-to, pois que a confiança e o perfilpara o cargo devem sempre ser ob-servados na indicação”, conclui.

A Colômbia é o país que tem omaior de número de Adidos emtodo o mundo, num total de 40. Sãotantos que eles terminaram crian-

do uma associação. A Adidânciabrasileira naquele país está sendoocupada desde dezembro de 2007pelo ex-coordenador-geral daInterpol, delegado federal AlbertoLassere Kratzl Filho.

Ele credita o grande número deadidos naquele país à atuação donarcotráfico. “Eles vão estudar es-tas condições e adotar providên-cias para que o tráfico não atinjaos seus países”, ressalta. ParaLassere, a experiência está sendoextremamente positiva. Segundo odelegado, o Adido tem de ser umpolicial acostumado com as emo-ções e mudanças de localidades.

Durante sua carreira, atuou em14 cidades do Brasil. Além de co-ordenador-geral da Interpol,Alberto Lassere foi chefe da Uni-dade de Cooperação de Polícia In-ternacional (vinculada a Interpol),chefe de gabinete do diretor-geral, assessor parlamentar do DPF esuperintendente regional emRondônia.

Conforme ele, três aspectostêm que ser levados em contaquando se atua como Adido: pri-meiro- o delegado vai trabalharem uma representação diplomá-tica (a Adidância funciona noprédio da embaixada brasileira),que está sujeita a protocolos di-ferentes da polícia; segundo- es-tar em outro país significa outroscostumes, outra cultura, o querequer capacidade de adaptaçãoe terceiro- trabalhar longe dosamigos e dos familiares. As dife-renças vão desde as condiçõesclimáticas até a questão davestimenta. “Bogotá, por exem-plo, é uma cidade mais formal,mais fria e por isso as roupas sãomais sóbrias”, explica.

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código de processo pe-nal, no artigo 20,explicita que “a autori-

dade assegurará no inquérito o si-gilo necessário à elucidação dofato ou exigido pelo interesse dasociedade”. Entretanto, o quedeve ser resguardado é o chama-do “sigilo externo”, impedindoque esta fase administrativa setorne pública, sendo vedado o co-nhecimento e acesso de pessoasestranhas aos autos de inquéri-

Por Alexandre Patury*

Súmula Vinculante Súmula Vinculante Súmula Vinculante Súmula Vinculante Súmula Vinculante nº 1 1 1 1 144444

Além de não tratar de assunto inéd ito, a Súmula Vinculante nº 14, ed itada pelo

Supremo Tribunal Federal, com força de Lei, não retira o caráter sigiloso do inquérito

pol icial. Essa é a l inha da abordagem do tema que causou inquietação na comunidade

juríd ica feita pelo delegado federal Alexandre Patury.

O

Opinião

36 Prisma

to. Noutro giro, não se pode criarobstáculo ao acesso do investiga-do ou do advogado constituídopelo interessado ao inquérito.Não há, neste caso, o chamadosigilo interno. Não há como im-pedir o investigado (ou seu ad-vogado) de compulsar os autosformalizados (documentados nadicção da referida súmula) na se-ara policial, cabendo, inclusive,Habeas Corpus para sanar pos-sível ilegalidade.

NNNNNada a temerada a temerada a temerada a temerada a temerSúmula Vinculante nº 14: “É direito do defensor, no interesse dorepresentado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, jádocumentados em procedimento investigatório realizado por órgãocom competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício dodireito de defesa”.

Insta ressaltar que o inquéri-to é procedimento inquisitivo,não sendo resguardado nestafase preliminar o contraditório ea ampla defesa. Estas importan-tes premissas constitucionais es-tão previstas na fase processual,não sendo característica do pro-cedimento de inquérito.

Entretanto, em decisões preté-ritas da Suprema Corte, já se fir-mava a idéia de possibilitar o aces-so aos autos pelo investigado. Es-

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tas decisões se pautavamno direito de defesaprospectivo, vislum-brando-se o chama-do resquício dec o n t r a d i t ó r i oainda na faseinquisitiva, navertente di-reito de in-f o r m a ç ã o .Cabe infor-mar que ocontraditó-rio se divideem direito deinformação edireito de re-ação. Nestemomento, se-gundo os Tri-bunais Superio-res, estaria res-guardado no in-quérito apenas odireto de informa-ção, o que foi ratifica-do pela Súmula Vincu-lante nº 14.

Um questionamentointeressante seria quanto aeficácia da investigação soba égide da mencionada Súmula.Importante circunstanciar que oinvestigado pode compulsar o queestá FORMALIZADO nos autos de in-quérito e não as investigações em cursoque ainda não foram colacionadas ao proce-dimento. Nesta via, interceptações telefônicas edemais diligências sigilosas por natureza, enquan-to não inseridas nos autos (documentadas), estari-am resguardadas da publicidade interna e externa,não atrapalhando, por conseguinte, as investigações.Assim, mesmo o investigado e seu advogado não pode-

Foto

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riam acessar as investigações ain-da não inseridas nos autos de in-quérito.

A Edição da Súmula não deve-ria causar alarde na comunidadejurídica. Inúmeras decisões sobreo assunto já tem sido prolatadaspelos Tribunais Superiores. A mai-or prova da falta de ineditismo doassunto é a própria edição daSúmula Vinculante que, conformeartigo 103-A da Constituição Fe-

ministo da Justiça,Tarso Genro, classifi-cou de “um absurdo” a

decisão do Supremo Tribunal Fe-deral (STF) de permitir que advo-gados tenham acesso a inquéritossigilosos que envolvam seus clien-tes. Segundo ele, esse é mais umfator que contribui para o vaza-mento de informações sigilosas.

“A partir dessa decisão do STF,o inquérito em andamento e queainda não indiciou ninguém podeser aberto. Isso quer dizer que oadvogado pode interferir sobre ainvestigação. Não no momento emque seu cliente é indiciado, mas simquando ele ainda está sendo inves-tigado”, disse.

O ministro ainda pediu que o

*ALEXANDRE PATURY é delegadoda Polícia Federal.

Ministro da Justiça critica decisão do STF de permitir acesso de advogadosa inquéritos sigilosos. Já os delegados federais se preocupam com invasãodas competências do Legislativo pelo Judiciário.

Congresso derrube essa decisão doSTF. “ Temos que ter uma reação,essa Casa tem que se articular.”

Tarso criticou outra decisão doSTF: a de aprovar a súmulavinculante que proíbe o uso de al-gemas em operações policiais. Se-gundo o ministro, a Polícia Fede-ral vem obedecendo à determina-ção, mas as operações policiaispassaram a apresentar risco parao policial e para o preso.

“Essa decisão põe em risco, nãosó o agente, mas a pessoa que estásendo detida porque, se a pessoacomete um desatino, o agente nãovai ter como agir”, disse. “Temosde ter uma reação regulatória so-bre algumas coisas que estão acon-tecendo”, defendeu.

RRRRReação contreação contreação contreação contreação contra decisão do Sa decisão do Sa decisão do Sa decisão do Sa decisão do STFTFTFTFTF

Opinião

deral, somente ocorrerá após rei-teradas decisões sobre matériaconstitucional. Neste diapasão,apenas está sendo ratificada situ-ação já presente na searajurisprudencial.

O caráter sigiloso da investiga-ção está resguardado enquantonão formalizado (documentado)nos autos de inquérito. Investiga-ções preliminares continuarãocom o sigilo necessário à consecu-

ção dos resultados. Apenas quan-do finalizadas as diligências eapensadas ao procedimento é queestarão sujeitas a publicidade res-trita ao investigado e ao respecti-vo defensor, resguardando-se,sempre, o chamado SIGILO EXTER-NO, conforme premissa elencadano Código de Processo Penal.

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DPF SANDRO AVELAR, presidente daADPF, acred ita que algumas súmulasvinculantes do STF deveriam passarpelo Congresso Nacional, para o debateser mais democrático, em vez de f icarrestrito à um colegiado.

Foto: Arquivo da A

DPF

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Para o presidente da Associa-ção Nacional dos Delegados Fede-rais (ADPF), Sandro Torres Avelar,“o que mais nos preocupa é o em-prego sistemático de medidas quesão de competência do Legislativopor parte do Judiciário”.

Ele aponta que duas de catorzesúmulas vinculantes editadaspelo STF tratam de temas que fa-zem parte das atividades da Polí-cia Judiciária. A primeira foi aSúmula Vinculante nº 11, que res-tringiu o uso de algemas. Já aSúmula Vinculante nº 14 permiteaos advogados acesso aos autos deinquéritos que correm sob sigilo.“Temas como esses deveriam serdebatidos de forma mais demo-crática, no Congresso Nacional, enão decididos por um colegiadorestrito”, avalia o representantedos delegados federais.

“Mas estamos convictos de que,mais uma vez, os delegados de po-lícia federal encontrarão meios decontinuar realizando investiga-ções consistentes. O que não pode-mos permitir é que edição destasúmula sinalize para a sociedadeque há limitação do poder de in-vestigação do Estado em prol daimpunidade”, defende Avelar.

O presidente da ADPF afirmouainda que “essas medidas, ao con-trário de nos desanimar como po-liciais, nos motiva a seguir de acor-do com as regras estabelecidaspelo Estado Democrático de Direi-to. Nossa missão é atuar de formaindependente, republicana eisenta.Nossa principal preocupa-ção é com a qualidade da prova ecom a consistência e o rigor técni-co do inquérito policial. Por isso,entendemos que essas questõesdevem ser regulamentadas em lei”.

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princípio constitucional do contraditório, é impor-tante esclarecer, pode ser desdobrado, em essência,conforme salientam diversos autores a propósi-

to do tema, em duas diferentes vertentes: o chamado con-traditório material (ou contraditório efetivo) e o deno-minado contraditório formal.

O contraditório material, como o próprio nome su-gere, alude à plenitude da máxima jurídica de que so-mente é possível (e mesmo lícito) decidir uma lide meri-tória (resolver um conflito de interesses) após a prévia (e,portanto, anterior) oitiva das alegações, fundamentos eprovas das duas partes litigantes, constituindo-se, portan-to, em um contraditório de nítido conteúdo material e que seestabelece necessariamente a priori.

Como bem esclarece Arnaldo Camanho de Assis (Anteci-pação de Tutela e Citação do Réu, Brasília, 1997), o princípiodo contraditório, em sua vertente material (efetiva), - consa-grando-se como um dos pilares sobre que se sustenta aatividade processual -, “significa, em termos práticos,que em processo não pode haver surpresas, circuns-tância esta que impõe, sempre, e de forma insu-perável, seja, em qualquer hipótese, ouvida

Por Reis Friede*

O desembargador federal Reis Friede d iscorre sobre duas d iferentes vertentes do princípio

contitucional do contrad itório: o formal e o material.

O

Opinião

ContraditórioContraditórioContraditórioContraditórioContraditório

FormalFormalFormalFormalFormalContraditórioContraditórioContraditórioContraditórioContraditório

MaterialMaterialMaterialMaterialMaterial

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previamente a parte contrária antes do decisum(audiatur et altera pars). No plano teórico, o princípio docontraditório se materializa através do binômio in-formação / reação”, na precisa e atual lição doprocessualista italiano Sergio La China, verbis:

“(...) il principio Del contraddittorio si articola, nelle suemanifestazioni tecniche, il due aspetti o tempi essenziali:informazione, reazione; necessaria sempre la prima, eventuale

la seconda (ma necessario chi sia resapossibile!)” (L’esecuzione Forzata e leDisposizione Generali del Codice diProcedura Civile, Milano, 1970, p. 394.)

Corroborando e adaptando à rea-lidade brasileira, o conceito emepígrafe também foi, com méritapropriedade, elencado por NelsonNery Júnior, nos seguintes termos:

“Por contraditório (material)deve entender-se, de um lado, anecessidade de dar-se conhe-cimento da existência da açãoe de todos os atos do proces-so às partes, e, de outro, a

possibilidade de as par-tes reagirem aos atosque lhe sejam desfavo-ráveis”. (Princípios do

Processo Civil na Cons-tituição Federal, Ed. Revista

dos Tribunais, São Paulo, 1992, ps. 122/123.)O denominado contraditório formal, em sua ne-

cessária construção conceitual, em sentidodiametralmente oposto, por sua vez, traduz-se, emúltima análise, por uma inconteste ficção processual,considerando que somente possui aplicaçãorestritivamente às hipóteses em que o processoconcerne a uma jurisdição impropriamente conside-

rada (jurisdição extensiva), desprovida de cará-ter material (satisfatividade inerente ao di-

reito substantivo reclamado) e ausen-te de índole meritória (como nos

casos relativos à tutela se segu-rança cautelar), permitindo,

- ao reverso da regra cons-titucional -, que o

julgador decida umincidente nitida-

mente processual ou um aspecto não-meritório (a con-cessão de uma medida liminar de natureza cautelar,por exemplo) excepcionalmente inaudita altera pars, -,ou seja, sem a prévia e anterior oitiva de uma daspartes, ainda que condicionada a sua necessária e pos-terior manifestação -, constituindo-se, por conseqü-ência, em um contraditório de nítida feição processu-al (desprovida, pois, de conteúdo material e dotadoapenas de continente formalizante) e que, emboratambém deva se estabelecer a priori (observe que aconcessão de liminares inaudita altera pars é regra deexceção), pode, em situações excepcionais, se perfa-zer a posteriori.

Não é por outra razão que na hipótese de eventualconcessão da tutela antecipada (por se tratar de tute-la de mérito) há sempre o obstáculo maior (e, nessesentido, insuperável, salvo em situaçõesexcepcionalíssimas que, em certa medida,correspondem à tutela específica (art. 461, §3º, doCPC)) caracterizado pela efetiva presença do princí-pio constitucional do contraditório (na hipótese, con-traditório material) a impedir, de forma insuperável,o deferimento da antecipação sem a oitiva prévia daparte contrária, considerando, particularmente, quea própria referibilidade ao direito material, inerenteao processo de conhecimento (onde se encontra inse-rido o instituto da tutela antecipada), por si só inva-lida qualquer mecanismo desafiador do princípiomaior, segundo o qual qualquer decisão meritória(mesmo que antecipada e, neste especial, reversível (ede cognição sumária)) somente pode ser procedidapelo julgador após a necessária manifestação deambas as partes litigantes.

Tal obstáculo, - é importante mais uma vez reafir-mar -, inexiste, de modo sinérgico, na tutela cautelar,posto que, neste caso, de forma diversa da tutela an-tecipada, não há discussão sobre a questão de fundo(meritum causae), existindo tão-somente uma referibi-lidade processual (intrínseca) que, de nenhuma for-ma, concerne ao direito material controvertido, per-mitindo, em caráter excepcional, a caracterização dodenominado contraditório formal que, embora, aexemplo do contraditório material, deva ser sempreobservado a priori (ou seja, com a oitiva prévia deambas as partes), pode ser observado a posteriori, ouseja, após o eventual deferimento da medidaacautelatória, em face do próprio objetivo de preser-

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vação, que é, indiscutivelmente,inerente à tutela cautelar.

“A antecipação de tutela previs-ta no art. 273, do CPC, possuiinexorável natureza cognitiva. Oprovimento antecipatório, porisso, é de ordem satisfativa, e, pormeio dele, o que se obtém é a ante-cipação da tutela jurisdicional demérito. Ou seja, o ordenamentojurídico permite ao juiz que entre-gue ao autor aquilo que o mesmoobjetiva alcançar por intermédiodo processo antes do momentonormal de entrega da prestação dajurisdição – a sentença.

Por isso, e por não ostentar na-tureza cautelar, a antecipação detutela, prevista no art. 273 do CPC,não se presta a assegurar a eficá-cia do resultado útil de um pro-cesso principal. O provimentoantecipatório, assim, exercido emprocesso de conhecimento, nãosubstitui a tutela cautelar e nemse confunde com ela, que deve serbuscada por meio de processocautelar, por óbvio. É nossa posi-ção, desde quando começamos afalar sobre o quê, enfim, era possí-vel ao juiz deferir na via da anteci-pação da tutela.

Uma e outra providêncialiminar (antecedente) são, por isso,diferentes. Tutela cautelar liminar,como se viu, é diferente de tutelaantecipada no processo de conhe-cimento.

A tutela cautelar liminar podeser deferida sem citação do réu. É oque se lê, expressamente, no art.804, do CPC, que tem a seguinteredação: “é lícito ao juiz concederliminarmente, ou após justificação pré-via, a medida cautelar, sem ouvir o réu,quando verificar que este, sendo citado,poderá, torná-la ineficaz (...)”. Essa

possibilidade é da própria índoleda tutela cautelar de urgência, jáque, dependendo do direito discu-tido, o réu, caso venha a saber dapropositura da ação e da preten-são do autor, pode efetivamenteantecipar a prática do ato temido,em detrimento dos interesses emrisco. Então, o chamado ‘fator sur-presa’ é da própria essência da tu-tela cautelar, que, como se afirmou,objetiva assegurar o resultado deoutro processo; tenciona impedirque aconteça um gravame qual-quer ao direito que a parte autoraafirma ter.

Mas, indaga-se: como conciliaressa possibilidade de se admitir aexistência de providências deter-minadas pelo juiz sem ciência daparte contrária se a Constituiçãoda República garante, às partes, odireito ao contraditório (material)(art. 5º, inciso LV)? (...)

É sabido que qualquer interpre-tação de texto infraconstitucionalordinário – aí incluídos, portanto,os de natureza processual – deve,sempre e sempre, buscar harmo-nização com o texto constitucional,na advertência sempre precisa deCouture (Eduardo Couture, in In-terpretação das Leis Processuais,Ed. Forense, Rio de Janeiro, 3ª edi-ção, 1993, ps. 38/40). Até para quese realize a pretensão de eficáciada Constituição, garantindo a suaforça normativa (Konrad Hesse, inA Força Normativa da Constitui-

ção, tradução de Gilmar FerreiraMendes, Sergio Antonio FabrisEditor, Porto Alegre, 1991, pág. 16).Do contrário, isto é, se a interpre-tação se afasta das bases traçadaspelo Texto Maior, daí haverá dedecorrer evidente desarmonia como querer constitucional, o oposto,portanto, do pretendido pelo pre-ceito da interpretação conforme àConstituição, sugerido por Larenz(Karl Larenz, in Metodologia daCiência do Direito, tradução de JoséLamego, Ed. Fundação CalousteGulbenkian, Lisboa, 2ª edição,1989, ps. 410/414).

À luz desses princípios, tem-seque a única alternativa plausívelcapaz de justificar a possibilidadede deferimento liminar de tutelajurisdicional sem a audiência doréu – e, por isso, em aparente des-respeito ao princípio constitucio-nal do contraditório – é buscarapoio em outro princípio proces-sual constitucional: o princípio dodevido processo legal, constantedo art.5°, inciso LIV, da Constitui-ção da República. Ou seja, se a pro-vidência consta expressamente detexto de lei processual; se o juizobservou a lei para atingir os ob-jetivos do processo; se há, em re-sumo, previsão legal para aquelaprovidência; enfim, se foi observa-do o rigor processual previsto emlei, então é possível admitir a pos-sibilidade de eventual quebra dosrigores do princípio do contradi-tório (material). É como se umprincípio compensasse o outro,com um e outro equilibrando-sereciprocamente.

Assim, e desde que há expressaprevisão legal para a concessão detutela cautelar liminar sem préviacitação do réu – constante do

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art.804, do CPC -, é possível ao juizaparentemente ‘violar’, ‘desobe-decer’ o princípio do contraditó-rio (em sua vertente material) aoamparo do princípio do devidoprocesso legal, e deferir a medidapretendida pelo autor sem audi-ência da parte contrária (perfazen-do-se um oportuno contraditórioformal, a posteriori). Essa argumen-tação vale para todas as hipótesesem que há possibilidade de anteci-pação de provimento jurisdicionalsem citação do réu. Basta conferir,além do artigo 804, do CPC, os ar-tigos 461, §3°, 797, 928, 1.050 e1.051, todos do mesmo Código. Porisso, toda vez que houver possibi-lidade de antecipação de tutelajurisdicional sem citação do réu, épreciso que haja expressa previsãopara tanto em texto de lei. E, com

isso, estar-se-á prestigiando oprincípio do devido processo legal.

A contrario sensu, quando nãohouver previsão legal para ante-cipação, a mesma não será possí-vel, já que, em tal caso – inexistindodevido processo legal –, haverá dese garantir prevalência ao princí-pio constitucional do contraditó-rio (em sua vertente material), quepressupõe, obrigatoriamente, aaudiência da parte contrária. Eclaro está, como conseqüência, quea norma inserta no art. 804 do CPCtem seu limite de aplicação restri-to aos objetivos do processocautelar, não se prestando a servirao processo de conhecimento, porrazões óbvias, não sendo permiti-do ao intérprete, por isso, elastecero seu conteúdo normativo paraque o mesmo possa alcançar situ-

ação processual regulada por nor-ma específica do processo de co-nhecimento.

Atualmente, aliás, e cada vezmais, se chega à conclusão de queo ideal é considerar a existência detrês códigos de processo dentro doCódigo de Processo Civil: o códigodo processo de conhecimento, o deexecução e o cautelar, cada um comregras próprias, a serem interpre-tadas de acordo com a finalidadede cada um dos três tipos de pro-cesso. E não é desnecessáriorelembrar que as regras do Pro-cesso Cautelar se aplicam a essetipo de processo, não se estenden-do para as outras espécies proces-suais.

E é exatamente porque a deci-são que antecipa a tutela tem na-tureza cognitiva, e não cautelar,

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que o autor da ação, que pretendaobter provimento jurisdicionalantecipatório, não tem que se refe-rir aos pressupostos específicospara a concessão antecipada datutela jurisdicional cautelar (fumusboni iuris e periculum in mora). Essespressupostos seriam necessárioscaso a medida pretendida tivessenatureza cautelar. E já se viu que adecisão que antecipa a tutela temnatureza de conhecimento, sendoque os requisitos para a antecipa-ção haverão de ser os constantesdo art. 273, do CPC, sobre os quaisa mais abalizada doutrina tem te-cido brilhantes considerações.

À base de tais conceitos, e umavez fixada a natureza cognitiva(não-cautelar, portanto) do provi-mento jurisdicional por meio doqual se defere a antecipação da tu-tela com fundamento no art. 273,do CPC, é de se indagar: pode ha-ver antecipação de tutela sem ci-tação do réu? A resposta – ressal-te-se: a única resposta juridica-mente possível, tecnicamente cor-reta e processualmente viável – éa de que, dentro dos contornos doartigo referido, só tem cabimentoa antecipação de tutela desde quetenha havido citação do réu. E porque isso? Porque: a) a antecipação,nesse caso, tem natureza cognitivae não cautelar, quando, então, se-ria possível aplicar-se a ela, por ex-tensão lógica, a regra do art. 804,do CPC; e b) inexiste previsão le-gal expressa, em nenhum dosincisos e parágrafos do art. 273, doCPC, que permita ao juiz concederprovimento antecipatório sem ci-tação do réu.

Além do mais, e se a regra ge-ral, com assento constitucional, éa que determina a observância do

princípio do contraditório, entãoa exceção – isto é, o dispositivo delei que permite a violação ao prin-cípio do contraditório com a ado-ção de providências sem citaçãodo réu –, haverá de merecer, ne-cessariamente, interpretaçãorestritiva, como é elementar emHermenêutica (Miguel Reale, in Li-ções Preliminares de Direito, Ed.Saraiva, São Paulo, 9ª edição, 1981,pág. 315).

Por isso tudo, negando nature-za cautelar ao provimentojurisdicional de antecipação datutela (que tem naturezacognitiva); inexistindo previsãolegal para a antecipação sem pré-via citação do réu; e, finalmente,prestigiando a regra geral deter-minada pelo princípio do contra-ditório – não-excepcionada pordisposição expressa de lei, na hi-pótese –, é que ressai incabível aoautor pedir e ao juiz deferir provi-mento antecipatório, com base noart.273, do CPC, sem que tenhahavido citação do réu. A anteci-pação de tutela, em casos que tais,haverá de ser apreciada e decidi-da, como conseqüência, após aangularização da relação proces-sual, com a necessária citação doréu, em qualquer das duas hipóte-ses contempladas nos incisos I e IIdo art. 273, do CPC.” (ArnoldoCamanho de Assis, in Antecipaçãode Tutela e Citação do Réu, Brasília,1997) (grifos e acréscimos nossos)

Por efeito conseqüente, somen-te é lícita a concessão da tutelaantecipada inaudita altera pars emsituações excepcionalíssimas, emque a mesma, - não obstante a suainconteste vertente material origi-nária (jurisdição própria) -, aludir,ainda que tangencialmente, a umaforma derivada de jurisdição im-própria (extensiva), típica dos atosjurisdicionais de execução (ou as-semelhados), como os previstos (ouanálogos) para a hipótese da tute-la específica (essencialmente, espé-cie do gênero tutela antecipatória)que possui expressa previsãoautorizativa ínsita no art. 461, §3º,do CPC, verbis:

“Na ação que tenha por objetoo cumprimento de obrigação defazer ou não fazer, ou juiz conce-derá a tutela específica da obriga-ção ou, se procedente o pedido, de-terminará providências que asse-gurem o resultado prático equiva-lente ao do adimplemento.

(...)§3º Sendo relevante o funda-

mento da demanda e havendo jus-tificado receio de ineficácia do pro-vimento final, é lícito ao juiz con-ceder a tutela liminarmente oumediante justificação prévia, cita-do o réu. A medida liminar pode-rá ser revogada ou modificada, aqualquer tempo, em decisão fun-damentada.

(...)”

* REIS FRIEDE é desembargador fe-deral e professor adjunto da Faculda-de Nacional de Direito/UFRJ. Mestre edoutor em Direito e autor, dentre ou-tras, da obra “Aspectos Fundamentaisdas Med idas Liminares em Mandadode Segurança, Ação Cautelar, Tutela An-tecipada e Tutela Específica”, 5ª ed.,Ed. Forense Universitária, RJ (810 ps.)

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Por Wenderson Braz Gomes*

A Polícia JudiciáriaA Polícia JudiciáriaA Polícia JudiciáriaA Polícia JudiciáriaA Polícia Judiciária

A

não é parnão é parnão é parnão é parnão é parte do siste do siste do siste do siste do sistematematematematemapenitenciário brasileiropenitenciário brasileiropenitenciário brasileiropenitenciário brasileiropenitenciário brasileiro

Opinião

Policia Federal ao longo dos últimos anosvem crescendo de forma extraordinária pormeio de ações e tomadas de decisões im-

portantes por parte da sua diretoria. Um dos fatorescríticos de sucesso corporativo é manter a sua boaimagem perante a sociedade com a manutenção doselevados índices de aceitação perante a sociedade Bra-sileira. Em sua política corporativa está a conscienti-zação dos servidores acerca do respeito aos direitoshumanos, o fortalecimento da higidez orgânica, or-ganização dos recursos materiais, com o estabeleci-mento de normas de armazenamento e estocagem dematerial apreendido e medidas ativas de proteção àimagem e cooperação dos servidores à proteção daimagem do DPF.

No ano passado quando estava cursando o XXIICurso Superior de Polícia na Academia Nacional dePolícia fiquei em dúvida na hora de escolher temapara a apresentação do Trabalho de Conclusão deCurso, não sabia se discorreria sobre bens apreendi-dos ou sobre carceragem na Polícia Federal, que re-presentam dois problemas graves que a Polícia Fede-

ral tem a obrigação de solucionar o mais rápido pos-sível. Finalmente, após ter contato com o TCC elabo-rado pelo Delegado Ronaldo Carrer referente ao XXCurso Superior de Polícia, que retratava a situaçãoda carceragem no Estado do Paraná no ano de 2006,e, na seqüência ter tido a notícia que os Superinten-dentes de Minas Gerais e do Distrito Federal haviamdesativado as carceragens, as quais tivera oportuni-dade de conhecê-las fisicamente e também em razãodos danos causados à imagem da Polícia Federal, de-cidi discorrer sobre Carceragem na Polícia Federaldescrevendo a sua situação de cada unidade.

Os resultados alcançados no trabalho foram sur-preendentes, sendo possível afirmar e comprovar quevárias unidades da Polícia Federal já não dispõem decarceragem. As Superintendências da Polícia Federalmais afetadas pela existência de carceragem são asdos Estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo,Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pará, Alagoas, Bahia,Ceará e Rio Grande do Norte. A tendência natural éque todas as unidades desativem as custódias, rema-nescendo apenas pequenas áreas de contenção até o

O delegado federal Wenderson Braz Gomes defende que a Polícia Federal troque a

custód ia de preso pela custód ia da prova. Ele defende que segundo a doutrina já está

consagrado no Direito Internacional, focal izado nas Regras Mínimas para Tratamento

de Presos, que quem prende não pode cuidar.

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rápido encaminhamento do presopara o Sistema Penitenciário.

Logo no início deste ano a Su-perintendência da Polícia Federalem Mato Grosso do Sul desativouas suas carceragens em CampoGrande e em Dourados e, tambémdiminuiu a celas em Naviraí, res-tando solução para Três Lagoas eCorumbá.

Atualmente a Polícia Federalpossui carceragem nas seguintesunidades: 1)Toda Região Sul quecausa maior prejuízo financeiro aoórgão: Rio Grande do Sul, Paranáe Santa Catarina, que estuda a ocu-pação do espaço para outra finali-dade; 2) Região Sudeste: EspíritoSanto, que não gasta com alimen-tação de presos e São Paulo queconta com uma verdadeira minipenitenciária que desperdiça pre-cioso espaço físico para a unidade;3)Região Centro-Oeste: apenas oEstado de Goiás que já estuda aocupação do espaço para outra fi-nalidade; 4)Região Norte: Amazo-nas e Pará; Região Nordeste:Alagoas, Bahia, Ceará e Rio Gran-de do Norte.

Nota-se que das vinte e seteunidades descentralizadas,quatorze não praticam aatividade carcerária e astreze restantes vemcausando à PolíciaFederal um pre-juízo de apro-x i m a d a -m e n t e

quatro milhões de reais. Em rela-ção ao prejuízo causado no orça-mento da Polícia Federal, torna-senecessário estudo mais aprofunda-do, computando-se os gastos dosúltimos cinco anos, com a custó-dia indevida de presos (alimenta-ção, energia, água, transporte, des-locamento para audiência e de pes-soal e outros), abrangendo todasas unidades da Polícia Federal (su-perintendências e delegacias) parana posse dos valores apuradoscompelir o Fundo PenitenciárioNacional e os Estados a ressarci-rem a Polícia Federal, ou, a partirde já, receberem os presos sem cri-ar embaraços.

A pesquisa de campo revelou oseguinte: os policiais federais nãosão qualificados para o exercícioda atividade carcerária;a atividade

carcerária é prejudicial para à ima-gem da Polícia Federal; a ativida-de carcerária prejudica a ativida-de fim da Polícia Federal; a ativi-dade carcerária em um período de32 meses causou à Polícia Federalconsiderável prejuízo financeiro;há desconhecimento, por parte dealguns dirigentes da Polícia Fede-ral, da legislação sobre o recolhi-mento de presos extraditandos àdisposição do STF; as celas existen-tes na Polícia Federal são precári-as e insalubres; mortes e fugas depresos são constantes; a atividadecarcerária impede que a Polícia Fe-deral alcance a eficiência, eficáciae preserve os princípios dedireitos huma-

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Opinião

nos; no ano de 2008 três superin-tendências desativaram celas dadaa constatação da impropriedadeda atividade carcerária; aDireção-Geral da Polícia Federalreconheceu os efeitos deletérios daatividade carcerária pela práticade vários atos de gestão.Os Esta-dos recebem dinheiro do FundoPenitenciário Nacional (FUNPEN)para gerir o sistema.

O Sr. Diretor-Geral afirmou ementrevista à revista PRISMA,Julho/Agosto/Setembro 2008 o seguinte:Vamos trocar a custódia depreso pela custódia da prova.Cada prova tem um padrão in-ternacional de manuseio. Semdúvida a Polícia Federal não é a so-lução para os problemas enfren-tados pelo Sistema PenitenciárioBrasileiro e certamente o Diretor-Geral ao fazer tal afirmação deveter levado em consideração todosos efeitos nocivos que a atividadecarcerária causa à Polícia Federale o seu dever de gerir o órgão com

economia e eficiência.A Lei 5010/66 (Brasil,

1966), estabelece que:“enquanto a

União não possuir estabeleci-mentos penais, a custódia de pre-sos à disposição da Justiça Fede-ral e o cumprimento de penas porela impostas far-se-ão nos dosEstados, do Distrito Federal e dosTerritórios”.

Ora se algemar presos parao STF é ilegal, manter custó-dia na polícia é muito pior,exatamente porque quemprende não pode cuidar e taldoutrina já está consagradano direito internacional que éfocal izado nas Regras Míni-mas para Tratamento de Pre-sos (Standard Minimum Rules forthe Treatment of Prisoners),adotadas pelo 1.º Congresso dasNações Unidas sobre Prevenção doCrime e Tratamento de Delinqüen-tes, realizado em Genebra, em 30de agosto de 1955, que, de lá, ex-traiu que não é aconselhável o pre-so ser custodiado pela mesma po-lícia que o prendeu, que nos leva arefletir sobre a citação a seguir:

“O Brasil, a partir da democratiza-ção, passou a ratificar os principais tra-tados de direitos humanos. Recente-mente, mediante decreto

legislativo de dezembro de 1998, o Es-tado Brasileiro aceitou a competência daCorte Interamericana de Direitos Huma-nos, que tem jurisdição internacional parajulgar violações de direitos humanos,decorrentes de afronta à normatividadeinternacional. Também em 1998 o Bra-sil aderiu ao Estatuto do Tribunal Inter-nacional Criminal Permanente, compe-tente para julgar crimes contra a huma-nidade, genocídio, crimes contra a paz ecrimes de agressão. Em um momento emque se vive a ‘humanização do DireitoInternacional’ e ‘internacionalização dosdireitos humanos’, com a consolidaçãode garantias internacionais de proteção,amplia-se enormemente a responsabili-dade internacional do Estado”.(Povesan,2008).

Com tais considerações é pos-sível afirmar que a Polícia Federalinsistindo em realizar a atividadecarcerária em vez de ser reconhe-cida mundialmente pela eficiência,o será por meio de algum Tribu-nal Penal Internacionalpor desrespeito

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ao direitos humanos, pois, é preci-so romper paradigmas e cumpriras metas da Polícia Federal.

REFERÊNCIAS

BRAZ,Wenderson.Carceragem naPolícia Federal.

Brasíl ia, 2008.Monograf ia CursoSuperior de Polícia.Academia Nacionalde Polícia

CARRER, Ronaldo de Goés. Asatribuições da Polícia Federal e acustód ia de presos. Maringá, 2006.Monografia Curso Superior de Polícia.Academia Nacional de Polícia eFundação Universidade do Tocantins.

CYLE, Andrew. Administraçãopenitenciária: uma abordagem deDireitos Humanos. Trad. Paulo Liégio.Brasíl ia, DF: Ministério da Just iça,2004.

CPI–Comissão Parlamentar deInquérito. Relatório da CPI do SistemaCarcerário. Relator Deputado FederalDomingos Dutra. Brasíl ia, DF, 8 jul.2008.

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanosinternacionais e jurisd ição supra-nacional: a exigência da federal ização.Disponível em: <http://w w w . d h n e t . o r g . b r / d i r e i t o s /m i l i t a n t e s / f l a v i a p i o v e s a n /piovesan_federal izacao.html>. Acessoem: 14 out. 2008.

SANTIN, Valter Foleto. Controlejud icial da segurança públ ica. SãoPaulo: Revista dos Tribunais, 2004.

*WENDERSON BRAZ GOMES édelegado da Polícia Federal, lotadona SR/MS onde exerce a função deCorregedor Regional de PF.

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I ConfI ConfI ConfI ConfI Conferência Nerência Nerência Nerência Nerência Nacional deacional deacional deacional deacional de

Segurança PúblicaSegurança PúblicaSegurança PúblicaSegurança PúblicaSegurança Pública

A Associação Nacional dos Delegados de Po-lícia Federal (ADPF) está mobilizando osdelegados federais de todo o País para a

Conferência Nacional de Segurança Pública(CONSEG). Em diversas localidades já foram realiza-das as etapas municipais e estaduais, contando coma participação das diretorias regionais da ADPF. Es-ses encontros são preparatórios para o debate nacio-nal. Servem também para eleger os representantesda sociedade civil e indicar os representantes do go-verno que participarão da CONSEG, no período de 27a 30 de agosto, em Brasília.

Mais de dois mil representantes indicados oueleitos nas conferências municipais e estaduais, emtodo o Brasil, vão analisar as propostas e ajudar aconstruir uma política nacional de segurança pú-blica que minimize os problemas existentes na área.A idéia é definir as prioridades e as ações que con-tribuirão para superar os obstáculos que levam osbrasileiros a apontarem “segurança pública” comoa terceira maior preocupação, perdendo apenaspara saúde e educação.

I Conseg

A Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) está mobil izando os

delegados federais de todo o País para a Conferência Nacional de Segurança Públ ica

(CONSEG). O objetivo é eleger a maior quantidade possível de delegados federais

para a etapa nacional e, dessa forma, garantir que as idéias defend idas pela categoria

tenham voz e representatividade no maior e mais importante evento sobre Segurança

Públ ica do País dos últimos tempos.

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Para o delegado federal MarcosLeôncio Sousa, presidente da Co-missão de Prerrogativas e repre-sentante da ADPF na ComissãoOrganizadora Nacional da 1ªConseg, “os delegados de políciafederal desejam contribuir e, aci-ma de tudo, incorporar novas idéi-as para o aperfeiçoamento da ca-tegoria e da instituição Polícia Fe-deral”. Leôncio acredita que os de-bates resultarão em mudanças deparadigmas na área de SegurançaPública.

Em Alagoas, a instalação daCONSEG contou com a participa-ção do diretor regional da ADPF,Joacir Avelino Silva. Ele ficou en-tusiasmado com o nível derepresentatividade do encontro ea disposição das pessoas de seengajarem nos debates. Quatroparticipantes foram escolhidospara representarem Alagoas naetapa nacional.

Na Bahia, a ADPF foi represen-tada pelo diretor regional José No-gueira Elpídio. No total, 622 pes-soas participaram da primeira eta-pa de inscrições. Dos inscritos, 100serão convocados como observa-dores e 300 como participantes daetapa nacional.

O diretor regional da ADPF/ CE,delegado João César Bertosi, par-ticipou do lançamento na Confe-rência no Ceará e está integrandoa comissão organizadora estadu-al, representando a categoria naqualidade de gestor de segurançapública.

No Distrito Federal, o governa-dor assinou o decreto instituindoa Conferência Distrital de Segu-rança Pública durante solenidadede condecoração de 127 personali-dades civis e militares com a me-

dalha Mérito Segurança Pública,em março. O evento contou com aparticipação da ADPF, que integraa Comissão Organizadora Nacio-nal (CON) do evento, por meio dodelegado de polícia federal Cláu-dio Bandel Tusco e do secretáriode Segurança Pública do DF,Valmir Lemos, que também é de-legado de polícia federal e primei-ro tesoureiro da Associação.

O delegado Tusco, que é primei-ro suplente da Diretoria Executivae integrante da Comissão de Prer-rogativas da ADPF, foi oficialmen-te indicado como representante daetapa distrital da Conseg pelo di-retor regional da ADPF/DF, delega-do Carlos Eduardo Miguel Sobral.A meta é realizar debates nas regi-ões administrativas do Distrito Fe-deral e escolher, entre os meses dejunho e julho próximos, os repre-sentantes do DF para a etapa naci-onal, quando serão apresentadasas propostas locais para a PolíticaNacional de Segurança Pública.

“O tema segurança pública me-rece um tratamento diferenciado.E nós estamos prontos para apoi-ar a iniciativa do Ministério da Jus-tiça de realizar a 1ª ConferênciaNacional de Segurança Pública.Acreditamos que a partir daí con-seguiremos definir políticas públi-cas eficazes para o setor. Nossogrande desafio é integrar as políti-cas públicas, envolvendo questõescomo a educação da sociedade, aformação dos policiais, a preven-ção qualificada à violência, a inte-ligência, sistema penitenciário, en-volvimento da sociedade com osagentes públicos que participamdas políticas. A 1ª Conseg vai pos-sibilitar que tenhamos uma visãomacro dos problemas no Brasil na

ENTENDA...

A 1ª Conferência Nacio-nal de Segurança Pública éum marco histórico na po-lítica nacional, apresentan-do-se como um valioso ins-trumento de gestão demo-crática para o fortalecimen-to do Sistema Único de Se-gurança Pública. Importan-tes decisões serão tomadas,de forma compartilhada,entre a sociedade civil, po-der público e trabalhadoresda área.

O processo participativoda 1ª Conseg é amplo e en-volve uma série de etapas.Entre elas, as estaduais, asmunicipais eletivas e prepa-ratórias, as conferências li-vres, a conferência virtual,os seminários temáticos eoutras ações que possibili-tam qualquer cidadão e ci-dadã encaminhar propos-tas à etapa nacional emBrasília.

Reunidos à mesma mesapara conversar sobre essasquestões, representantesdos trabalhadores da área,sociedade civil e poder pú-blico vão definir, juntos, osprincípios para a políticanacional de segurança pú-blica e as diretrizes paracada um dos eixos temáticosda Conferência.

A 1ª Conseg é, portanto,uma grande oportunidadepara criar a ambiência ne-cessária, a fim de consolidarum novo paradigma, visan-do efetivar a segurança pú-blica como direito funda-mental.

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área de segurança. Com isso, po-deremos definir prioridades deação”, enfatizou o secretário de se-gurança do DF, delegado ValmirLemos.

Para o ministro da Justiça,Tarso Genro, um dos homenagea-dos durante a instalação daConferência no DistritoFederal, existe um dé-bito do estado bra-sileiro com a socie-dade na questão daSegurança Pública,indispensável paraa consolidação dasinstituições democrá-ticas. “Ela diz respeito aodireito das pessoas fluírem com li-berdade no espaço das cidades, àtranqüilidade da vida familiar e aodireito do exercício ao trabalho.Não existe questão pública maiscompleta, necessária e complexapara ser resolvida do que a segu-

rança pública”, analisou o minis-tro.

A diretora regional da ADPF naParaíba, Andréia Medeiros, parti-cipou da reunião para discutir asdiretrizes nacionais de segurançapública, que serão posteriormente

apresentadas na 1ªConseg. A delegada

afirmou que a Dire-toria Regional daADPF estará empe-nhada para o su-cesso da conferên-cia estadual e está

mobilizando os de-legados do Estado a se

engajarem nas discussões.Do sertão ao litoral, quatorze

eventos regionais vão ocorrer emPernambuco para colher informa-ções e experiências. A DiretoriaRegional da ADPF no Estado estámobilizando os delegados federaispara fóruns de debate sobre segu-

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rança pública. Um desses fórunsocorrerá no município de Caruaru,região agreste do Estado. Segundoo diretor regional, HumbertoFreire, representantes de todos osórgãos de segurança estão sendoconvidados para participar dosdebates. “Esse é um momento im-portante que a sociedade está vi-vendo de debater os problemas dasegurança pública e encaminharsuas propostas”, enfatizou.

O diretor regional da ADPF emRoraima, delegado Cláudio Limade Souza, que também é o secre-tário estadual de Segurança Públi-ca, foi o representante do gover-nador na solenidade de aberturada 1ª Conseg. Souza destacou a im-portância da realização do eventopara o Brasil. “O crescimento dacriminalidade urbana carrega emsi o aumento do medo e da sensa-ção de insegurança, transforman-do o cotidiano das cidades e apar-

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tando os grupos sociais”, afirmouo delegado.

Os trabalhos da etapa estadu-al da Conseg também já começa-ram para os delegados de Sergipe.A diretora regional da ADPF, dele-gada Maria Nelci Nogueira de Oli-veira Passos, representou a Asso-ciação na cerimônia. Também fo-ram indicados dois membros daADPF/ SE para atuar na Conferên-cia, os delegados Sidney de Olivei-ra Átis, na condição de represen-tante, e o delegado Yuri RamalhoDantas, como suplente. “Entendoser muito importante para a nos-sa categoria funcional estar pre-sente e atuante em evento tão rele-vante”, lembrou a delegada Nelci.

No Tocantins, a Comissão Or-ganizadora Estadual – instaladacom 52 membros da sociedade ci-vil e do poder público - conta coma participação da Diretoria Regio-nal da ADPF naquele estado. Se-gundo o secretário de segurança deTocantins, Hebert Barros, as dis-cussões têm contribuído para apopulação compreender os itensfundamentais de uma nova políti-ca para o setor: “o poder públicoteve a sensibilidade para perceberque esse modelo só poderá ser

construído com a participação dasociedade”.

Na assinatura do decreto queconvoca a etapa estadual e tam-bém da resolução que cria e desig-na os membros da Comissão Or-ganizadora Estadual no MatoGrosso do Sul, o secretário de Jus-tiça e Segurança Pública, WantuirJacini, que também é delegado daPolícia Federal, afirmou que “o Es-tado já vem trabalhando na cons-trução dos sete eixos que serão de-batidos durante a conferência, queirá mostrar o que a sociedade pen-sa da segurança”, avalia. Para o se-cretário, a iniciativa do governoFederal é importante para que se-jam desenvolvidas ações mais efi-cientes para a sociedade. “É umagrande iniciativa que vem de en-contro as ações do Estado no setorde segurança, que juntamente coma Educação e a Saúde são priorida-des do governo”, ressalta.

O Amapá foi mais um estado ainstalar a Conferência. A solenida-de de lançamento contou com apresença do governador do esta-do, Waldez Góes, e do diretor emexercício da ADPF no estado, dele-gado Carlos Eduardo de OliveiraAndrade.

Fotos: Arquivo A

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Conferência Livre da ADPFConferência Livre da ADPFConferência Livre da ADPFConferência Livre da ADPFConferência Livre da ADPFAssociação Nacionaldos Delegados de PolíciaFederal realizou no final

de abril, em Brasília, uma Confe-rência Livre para debater “o Papelda Polícia Federal na nova Política Na-cional de Segurança Pública”. O even-to integra a dinâmica da 1ª Confe-rência Nacional de Segurança, cujaetapa nacional será realizada de 27a 30 de agosto na Capital Federal.

A mesa da solenidade de aber-tura foi composta pelo presidenteda ADPF, delegado de polícia fede-ral Sandro Torres Avelar; pelo mi-nistro da Justiça, Tarso Genro;pelo diretor-geral do Departamen-to de Polícia Federal, delegado depolícia federal Luiz FernandoCorrêa; pelo secretário de Seguran-ça Pública do Distrito Federal, te-soureiro da ADPF e delegado de po-

lícia federal, Valmir Lemos de Oli-veira; e a secretária executiva da1ª Conseg, Fernanda Alves dosAnjos.

Na platéia, os diretores regio-nais da ADPF nos estados, repre-sentantes das entidades de classedas outras carreiras da PF (admi-nistrativos, peritos e agentes), daPolícia Civil do DF e de outros in-tegrantes da Comissão Organiza-dora Nacional da 1ª Conseg.

No discurso de abertura, Avelardestacou que a 1ª Conseg é ummarco histórico para o nosso paíse um passo importantíssimo paraconsolidar uma política nacionalde segurança pública que seja fru-to da contribuição de todos os se-tores da sociedade. “O momento éoportuno, pois a atividade inves-tigatória do país tem sido alvo de

críticas equivocadas, inoportunase oportunistas centradas em temascomo uso de algemas e intercepta-ções telefônicas”, destacou o diri-gente.

Ao falar no encontro, Luiz Fer-nando Corrêa afirmou que a PFcumpre sua obrigação alinhadacom as macro políticas do país.Segundo Corrêa, o país já vê resul-tados concretos do trabalho da PFem diversas áreas, dentro do queprevê o Programa Nacional de Se-gurança Pública e Cidadania(Pronasci). A Polícia Federal vemtrabalhando para reduzir o custeiosem prejuízo do seu trabalhooperacional. Afirmou ainda que aConferência Nacional de Seguran-ça Pública, que será realizada nosegundo semestre deste ano, seráum marco na construção da polí-

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tica de segurança pública do país.O dirigente da PF aproveitou a

presença dos diretores regionais daADPF para mandar um recado: épreciso cuidado com a cadeia deprodução da prova. “A qualidadeda prova é a única maneira de fre-ar as críticas à atuação da PF”, fri-sou o diretor-geral. Quando a pro-va é robusta, destacou ele, é menora probabilidade de repercussõesnegativas sobre o trabalho da PF.Corrêa também sugeriu celeridadena condução dos inquéritos. “Nãopodemos terminar o ano com aconclusão de poucos inquéritos”,finalizou.

O aperfeiçoamento dos traba-lhos de investigação é necessáriotendo em vista o avanço do Brasilem todas as áreas, assinalou o mi-nistro da Justiça, Tarso Genro, queelogiou o trabalho da Polícia Fede-ral e comentou a evolução da

corporação de uma Polícia de Go-verno, à época da ditadura, parauma Polícia de Estado, com a con-solidação da democracia. “A ausên-cia de barreiras social, racial, cul-tural e partidária na atuação daPolícia Federal deve ser a tônicadesse debate sobre a política naci-onal de segurança pública”, desta-cou.

De acordo com Tarso Genro, aPF não é uma “polícia política” einvestiga pessoas de todos os seg-mentos da sociedade. “Pessoas detodas as esferas são investigadas eé diminuto o percentual de inves-tigações sobre gente da classe po-lítica, que, no final, acaba ganhan-do maior divulgação”.

Para o ministro da Justiça as in-vestigações da Polícia Federal sãofeitas de forma neutra, sem barrei-ras, como deseja o governo: “é umapolícia de vanguarda que dá exem-

plos à América Latina e ao mun-do”.

O presidente da AssociaçãoNacional dos Delegados de PolíciaFederal, Sandro Torres Avelar, dis-se que apenas 3,5% das investiga-ções realizadas hoje pela PF resul-tam em pedido de quebra de sigilotelefônico à Justiça. Por isso, eleentende que as escutas são usadasde forma comedida. Segundo ele,o poder econômico e político dacriminalidade exigem medidas demaior realce durante as investiga-ções.

Avelar enfatizou ainda que ouso de algemas também vem sen-do feito dentro da técnica, cujo ob-jetivo é garantir a segurança dopreso, dos agentes e da sociedade.

Após a solenidade de abertura,a secretária-executiva, FernandaAlves dos Anjos, e a secretária exe-cutiva adjunta da 1ª Conseg,

Fotos: Arquivo A

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Mariana Siqueira de Carvalho Oli-veira, representando a coordena-dora-geral do evento, Regina Miki,apresentaram o Texto-Base e a di-nâmica da Conferência. O delega-do Marcos Leôncio Sousa Ribeirofoi o coordenador dos trabalhos.

Na segunda etapa da Conferên-cia Livre da ADPF, os participan-tes fizeram a leitura pontual doTexto-Base da 1ª Conseg. Em segui-da, foram formados sete grupos dediscussão para análise dos sete ei-xos temáticos da Conferência. Oresultado dessa avaliação foi apre-sentado ao coordenador da Confe-rência Livre e submetido à vota-ção entre os presentes, que deter-minaram quais os eixos deveriamter prioridade. Todas as sugestõesforam aceitas e colocadas por or-dem de relevância.

“Basicamente, as teses que de-fendemos são autonomia adminis-trativa, orçamentária e financeirapara a Polícia Federal, e isso passapor Lei Orgânica, passa por nãotermos nosso regramento feito poruma portaria do Ministério da Jus-tiça. Queremos uma lei que nos as-segure autonomia, prerrogati-vas. Autonomia tanto administra-

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tiva quanto funcional, para quepossamos cumprir nossas fun-ções”, pontua o delegado federalMarcos Leôncio.

Outro tema importante defen-dido durante a Conferência Livreda ADPF é a valorização do profis-sional. “Quando falamos em direi-tos humanos, costumamos ver osdireitos das outras partes, mas es-quecemos que o policial também éum ser humano e que precisa tersua atividade dignificada com re-conhecimento salarial, com capa-citação, com regulamentação desua jornada de trabalho, com in-centivo ao exercício da atividade,com a garantia de aposentadoriaespecial, já que é uma atividade derisco”, completa Marcos Leôncio.

Do ponto de vista institucional,autonomia e investimento para ainstituição se tornar forte. Do pon-to de vista funcional, valorizaçãodos seus quadros. São as grandesbandeiras que os delegados fede-ral defenderam na etapa nacionalda Conseg.

COM UM PÉ ATRÁSSegundo o delegado Marcos

Leôncio, que é o representante da

ADPF na Comissão OrganizadoraNacional da 1ª Conseg, há um cli-ma de desconfiança e desistímuloque tem contaminado a mobiliza-ção dos delegados para a Conseg.

O delegado explica que, infeliz-mente, algumas das pautas de rei-vindicações das categorias da Po-lícia Federal tem sido há muitotempo ignoradas pelo GovernoFederal. Como a Lei Orgânica, quehá mais de um ano está sendo ar-rastada; a questão da terceira clas-se, que segue sem solução para aPolícia Federal enquanto que a Po-lícia Civil do Distrito Federal já re-solveu; a problemática dos servi-dores administrativos, que nuncativeram sua reestruturação apro-vada.

“Hoje, na Polícia Federal, exis-te um clima de muito desconten-tamento, existe certa desconfian-ça em relação ao Governo Federal.Nos Estados, temos ouvido mui-tos colegas dizendo que não parti-ciparão, pois não somos ouvidos ehá pouco caso com o que defende-mos. Acreditam que a Conseg seráapenas mais um evento onde va-mos falar e ninguém vai ouvir”,constata o representante da ADPF.

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Com informações do Ministério daJustiça, da Agência Brasil e do site daADPF.

QUEM FOIEstiveram presentes na Confe-

rência Livre da ADPF, entre outros,os integrantes da Diretoria Execu-tiva da ADPF: Sandro TorresAvelar, presidente; BolivarSteinmetz, vice-presidente; Geral-do Jacyntho de Almeida Júnior, se-cretário-geral; Reinaldo deAlmeira César Sobrinho, primei-ro secretário; Telma CavalcanteLino, segunda secretária; EnioSibidal Camargo de Freitas, tesou-

reiro-geral; Valmir Lemos de Oli-veira, primeiro tesoureiro; CláudioBandel Tusco, primeiro suplente;Simone Silva dos Santos, segundasuplente; Paulo GustavoMaiurino, terceiro suplente ; doConselho de Ética: Sebastião JoséLessa, vice-presidente; do Conse-lho Fiscal: Alciomar Goersch, pre-sidente; e da Comissão de Prerro-gativas: Marco Leôncio Sousa Ri-beiro, presidente; Tânia Fogaça;Marcos Maciel e Luiz Carlos

Nóbrega Nelson.Também marcaram

presença os diretores re-gionais e representan-tes da ADPF nos esta-dos: Edgar PauloMarcon, Mato Grosso doSul; José Ribamar deMelo Bonfim, Maranhão;Carlos Marcelo Rodri-gues, Minas Gerais; Nel-son Estevam de Andra-de, Piauí; Joacir Avelino,Alagoas; HumbertoFreire de Barros, Per-nambuco; César Bertosie Antônio Barbosa Goes,Ceará; Rafael PotschAndreata, Rio de Janei-ro; Luciana Paiva Barbo-sa, Paraíba; AntônioGlautter, Tocantins; Ma-ria Nelci Passos e JoãoViany Xavier Filho, Ser-gipe; Leonardo RabelloFeyo, Espírito Santo; JoséNogueira Elpídio, Bahia;Leopoldo Soares Lacer-da, Rondônia; Nicio Bra-sil Lacorte, Rio Grandedo Sul; Fábio Maiurino,São Paulo; EdvardoHenrique Sousa Passos,Pará; Carlos Eduardo,

Amapá; JosafáBatista Reis,A m a z o n a s ;Eduardo Mauatda Silva, SantaCatarina; e MarcoAurélio Faveri, MatoGrosso.

Vale ainda registrar apresença de representante de ou-tras entidades e órgãos ligados àsegurança público: HélioBuchmüller, APCF; João Valderi deSouza, Fenapef; Luiz FernandoGallo, Fenadepol; João CarlosCouto, João Rodrigues, FlavianoMachado e Mauro César Lima, Po-lícia Civil do DF e Sindepo/DF;Wilmar Costa Braga, Polícia Civildo DF; Wanderley Baldez, JanineBarbosa, Tânia Mara S. M. A. Fon-seca, Nelson Werlang Garcia,André Luciano Salgado, TadashiRamoa Mae, Secretaria de Seguran-ça Pública do DF; Fernanda Alvesdos Anjos, Senasp/Ministério daJustiça; Paulo Ayran Bezerra,Abrapol; Aurélio Ricardo Greco,Abrapol/DF; Everardo de AguiarLopes, Rede Desarma Brasil; LuizBrum, Tribunal de Arbitragem;Lander de Miranda Bossois, INI;Juliana Pereira Coutinho, Eduar-do Assis da Sé, Laerte Maurício daSilva, DPRF; Fernando Mota, Di-mensão; Francisca Hélia LeiteCassemiro, Maria do SocorroNunes, Sebastião Netto de Costa eLaila Leite, SINPECPF/DF; e CleuzaMaria Silveira de Menezes,SINPECPF/RS.

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PRISMA - Como o senhor avalia aConferência Livre realizada emBrasília pela ADPF?SANDRO AVELAR - A realizaçãoda 1ª Conferência Nacional de Se-gurança Pública é um marco his-tórico para o nosso país e um pas-so importantíssimo para consoli-dar uma política nacional de se-gurança pública que seja fruto dacontribuição de todos os setores dasociedade. Já é hora de a seguran-ça pública – assim como ocorreucom outras áreas importantescomo a saúde e a educação – sertema de um evento dessa nature-za e passe a ser tratada como umaquestão de Estado, e não de gover-no.

Como uma das entidades queintegram a Comissão Organizado-ra Nacional (CON) da 1ª Conseg,aADPF tem participado ativamen-te de todas as atividades do even-to. Nos estados e no DF, nossos di-rigentes regionais também têmcontribuído com as etapas estadu-ais e municipais realizadas nas ca-pitais.

A Conferência Livre da ADPFfoi uma oportunidade de trocarideias com delegados da PF de todoo país sobre o papel da nossa cate-goria nesse processo de colabora-ção em busca de soluções para asegurança pública.

PRISMA - O que foi discutido nes-se evento que será levado para aConferência Nacional?SANDRO AVELAR - O principalcompromisso da ADPF é o de con-tribuir para a construção de um

Avaliação doAvaliação doAvaliação doAvaliação doAvaliação doPresidente da ADPF:Presidente da ADPF:Presidente da ADPF:Presidente da ADPF:Presidente da ADPF:

modelo de segurança pública cida-dã que valorize o profissional desegurança pública. Todas as suges-tões recebidas durante a Conferên-cia Livre da entidade serão leva-das para a etapa nacional, queacontece em agosto próximo, emBrasília.

Essas colaborações foram feitaspelos dirigentes regionais daADPF e já haviam sido discutidascom os associados nos estados. Porisso, as observações registradassão uma mostra qualificada dosinteresses dos delegados de polí-cia federal associados.

PRISMA - Como o senhor avalia otrabalho das Diretorias Regionaisnos Estados de mobilização dos de-legados federais para participaçãodas etapas municipais e estaduaisda Conseg? Qual a importânciadesse trabalho?SANDRO AVELAR - O trabalhodos nossos representantes nos es-tados e no DF é fundamental paraque a contribuição da ADPF seja oretrato mais fiel possível de comoa categoria avalia as questões queestão sendo discutidas. Tanto

quanto a diversidade cultural donosso país, os pensamentos sobretemas como segurança públicatambém são muito diversos deuma região para outra. Como en-tidade representativa de classe deuma corporação com atuação deabrangência nacional, é precisoque os colegas de todos os estadosparticipem para que tenhamos umpanorama mais realista possívelda opinião dos delegados.

PRISMA - A ADPF espera levarquantos delegados federais, eleitos/escolhidos nas etapas estaduais,para a Conferência Nacional? Quala importância dessa representati-vidade?SANDRO AVELAR - Como inte-grante da CON, a ADPF garantiu aparticipação de delegados de polí-cia federal representantes da enti-dade em todas as 27 unidades dafederação. Essa representativida-de é importante para que o com-promisso da ADPF de colaborarcoma construção de uma nova po-lítica nacional de segurança públi-ca seja refletida em todas as eta-pas do evento.

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O delegado federal Valmir Lemos, secretário de Segurança Públ ica do DF; oministro Tarso Genro, o presidente da ADPF, Sandro Avelar, e o d iretor-geral daPF, Luiz Fernando Corrêa.

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ão foi dessa vez que ospoliciais federais pude-ram comemorar a assi-

natura do anteprojeto de Lei Or-gânica da Polícia Federal.

A Polícia Federal tinha expec-tativas de que na comemoração dos65 anos, seria o dia da assinaturado anteprojeto de Lei Orgânica dainstituição. Com a confirmação dapresença do presidente da Repú-blica, Luiz Inácio Lula da Silva, edo ministro da Justiça, Tarso Gen-ro, subiram as apostas de que a so-lenidade realizada em comemora-ção aos 65 anos da Polícia Federaltraria novidades para a questão daLei Orgânica.

Após o discurso, o presidenteLula informou que o anteprojetohavia sido encaminhado ao Minis-tério do Planejamento Orçamentoe Gestão para análise, deixando ospresentes na certeza da espera demais um percurso a percorrer. Opróximo passo será o de encami-nhar a proposta para a Casa Civil.

“A expectativa era de que o an-teprojeto de lei orgânica da PF fos-se entregue ao presidente Lula du-rante a solenidade de comemora-ção do aniversário da PF. Mas nãofoi o que ocorreu. De fato, o textoda proposta seguiu do Ministérioda Justiça para o Ministério do

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Lei Orgânica

No aniversário de 65 anos da Polícia Federal, mais do que d iscursos e elogios, os

delegados federais aguardavam a assinatura do anteprojeto de Lei Orgânica da Polícia

Federal pelo presidente Lula. Mas não foi o que ocorreu.

Orçamento, Planejamento e Ges-tão. À época, a promessa era de quese seguiria com brevidade para aCasa Civil para,então, ser remeti-do ao Congresso Nacional. Aindaestamos aguardando alguma no-vidade”, afirmou Sandro Avelar,presidente da Associação Nacional

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O presidente Lula cumprimenta o d iretor-geral da Polícia Federal, Luiz FernandoCorrêa, durante solenidade de comemoração dos 65 anos da PF. Na mesa, oministro da Justiça, Tarso Genro, também participou do evento.

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dos Delegados de Polícia Federal.Enquanto isso, os delegados fe-

derais se preparam para novasbatalhas a serem travadas, prova-velmente no Congresso Nacional,para onde deve seguir o texto apósanálise da Casa Civil. Em jogo, osinteresses divergentes das diver-sas categorias da Polícia Federal.“Confiamos no processo de-mocrático e persistiremos nasolução das divergências queainda existem no campo polí-tico e do diálogo. Afinal, de-pois de concluir a tramitaçãono Executivo, a proposta deLO ainda tem um longo cami-nho a percorrer no âmbito doLegislativo“, analisa Avelar.

Apesar da não assinatura doanteprojeto pelo presidente, aADPF considera que foi uma con-quista para os servidores da PF ainiciativa anunciada no aniversá-rio da coorporação. Depois de tan-tas negociações, divergências, acer-tos, recuos e avanços para a elabo-ração do texto do anteprojeto, a no-vidade representa um brinde peloaniversário de 65 anos. Há arestasa serem aparadas, mas agora emoutro terreno. A ADPF reforça oposicionamento de continuar vigi-lante na defesa das prerrogativasdos delegados de polícia federal.

“O processo de construção des-sa proposta de lei orgânica para aPF envolveu representantes de to-das as entidades de classe da PF –delegados, peritos, agentes, escri-vães, papiloscopistas e servidoresadministrativos –, do Ministérioda Justiça e da direção-geral da Po-lícia Federal. Essa convergênciapara tornar realidade a LO já re-presenta um avanço significativoe serviu como exercício democrá-

tico para todos os envolvidos”,concluiu o representante dos dele-gados federais.

BATE E ASSOPRADurante a solenidade o presi-

dente Lula (foto acima)lembrou que

a Polícia Federal é uma das insti-tuições mais bem avaliadas pelaspesquisas de opinião e fez questãode ressaltar que, em seis anos degoverno, aumentou o orçamento eo efetivo da Polícia Federal. O pre-sidente disse ainda que está dan-

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O presidente Lula d iscursa nasolenidade em comemoraçãoos 65 anos de atividade daPolícia Federal.

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Com informações da Agência Bra-sil, O Estado de São Paulo, CartaCapital e site da ADPF

EXPOSIÇÃO E TORNEIO DE FUTEBOLEm comemoração aos 65 anos da Polícia Federal, foi realizada

uma exposição na Câmara dos Deputados retratando algumasdas atividades desenvolvidas pela corporação. Teve fotos e mate-riais utilizados pelo Comando de Operações Táticas (COT), pelaCoordenação de Aviação Operacional (CAOP), pelo Instituto Na-cional de Criminalísticas (INC), pelo Instituto Nacional de Identi-ficação (INI) e pela Academia Nacional de Polícia (ANP). A expo-sição foi dividida em duas partes: uma virtual, no corredor deacesso ao plenário, e outra física, no hall de acesso às comissões. Odiretor geral da PF, delegado de polícia federal Luiz FernandoCorrêa, visitou a mostra acompanhado pelo presidente da Câma-ra dos Deputados, Michel Temer (foto).

Já a ADPF em conjunto com a Adepol realizaram um torneiode futebol com churrasco para homenagear a data. A competiçãoteve times formados por delegados da Polícia Federal e da PolíciaCivil do Distrito Federal.

do atenção à aprovação da Lei Or-gânica da PF, que definirá direitose deveres de seus agentes.

Para mostrar empenho de seugoverno no combate ao crime or-ganizado ao tráfico de drogas e acorrupção, Lula disse que neste ano40 grandes operações foram feitaspela PF, com a prisão de 462 pesso-as. Em 2008, o total de grandesoperações, segundo o presidente,chegou a 235 e o número de pre-sos, 2.475. Ele também fez questãode ressaltar que, desde 2003, forampresos 92 delegados federais porcometerem irregularidades.

O presidente observou que otrabalho da PF deve ser fiscaliza-do pela corregedoria da institui-ção para evitar erros contra os ci-dadãos. “Nós lidamos com sereshumanos. Um erro pode serirrecuperável.”

Segundo Lula, o fato de maiscasos de corrupção estarem sendodivulgados só mostra maior em-penho do governo e da PF no com-bate às irregularidades. “Quantomais vocês trabalharem, maisaparecem denúncias. A corrupçãoé uma doença que só aparece quan-do é combatida”, disse aos presen-tes à cerimônia.

Alheio às inúmeras nuancesque envolvem a aprovação da LeiOrgânica, o presidente Lula aindabrincou com o assunto. “Vocês to-mem conta desse projeto lá (no Mi-nistério do Planejamento), senão eleacaba sumindo”, disse, diante deuma plateia aparentementedesconfortável.

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O presidente da Câmara, Michel Temer e o d iretor da PF, Luiz FernandoCorrêa, visitam exposição dos 65 anos da PF, na Câmara dos Deputados.

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Entre o ideal e o possívelEntre o ideal e o possívelEntre o ideal e o possívelEntre o ideal e o possívelEntre o ideal e o possível

O

Confira os pontos defend idos pela ADPF que foram contemplados no texto da Lei

Orgânica encaminhado pelo Ministério da Justiça. Saiba também o que ficou de fora.

Ainda não é o projeto perfeito, mas os delegados federais consideram que houve

avanços importantes. Preocupação agora é com mudanças que podem ser

processadas no Ministério do Planejamento. Ausência de notícias preocupa a categoria.

projeto de Lei Orgânicaque se encontra no Mi-nistério do Planejamen-

to para análise, embora não sejaperfeito, atende aos delegados fe-derais. A constatação é do presi-dente da ADPF, Sandro TorresAvelar.

“Não obstante alguns pontoscontrovertidos e também pelo fatode não termos conseguido empla-car itens importantes, que garan-tiriam autonomia à Polícia Fede-ral, por meio de institutos como odo mandato para o diretor-geral,o projeto merece nosso apoio”,avalia o representante dos delega-dos federais.

O mandato para o diretor-ge-ral foi defendido tanto pela co-missão instalada na Polícia Fede-ral, formada pelas entidades declasse, quanto no projeto original

encaminhado pela Direção-Geralda Polícia Federal ao Ministérioda Justiça. O objetivo era garan-tir ao dirigente máximo dacorporação um mandato, que po-deria ser de dois anos prorrogá-veis por mais dois. Entretanto, odispositivo não sobreviveu noMinistério da Justiça.

Dentre os artigos recepciona-dos, considerados fundamentais,está o que determina que a Dire-ção-Geral do órgão só poderá serocupada por um delegado fede-ral de carreira.

“Isso é algo que muda a nossarealidade, vez que hoje, apesar determos à frente da nossa institui-ção um delegado de polícia fede-ral, ficamos sujeitos as intempéri-es políticas e podemos, a qualquermomento, sermos novamente sur-preendidos com a indicação de al-

guém que não seja dos nossos qua-dros”, analisa Avelar. A preocupa-ção tem razão de ser. Ao longo dosanos, a PF já foi dirigida por dele-gados civis e até mesmo por coro-néis do Exército.

Outro ponto considerado posi-tivo pelos delegados, é o artigo quedefine as atribuições dos diversoscargos da instituição: delegado,agente, escrivão, papiloscopista eperito. O projeto trata também dasprerrogativas dos policiais e dosdelegados, para que todos possamexercer melhor suas funções.

Alguns tópicos contempladosno projeto são de interesse geral,como o que garante o auxíliofardamento para todos os polici-ais e um adicional em face de sualotação em local inóspito, o queatende os policiais lotados em re-gião de fronteira.

Lei Orgânica

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DADOS CADASTRAISA requisição de dados cadas-

trais pela autoridade policial é umdesejo antigo e uma necessidade daPF a fim de conferir mais celeridadeàs investigações. Entretanto, oacesso vem sendo negado combase em interpretação equivocadada Constituição Federal.

Na verdade, conforme explicao delegado Sandro Avelar, os da-dos cadastrais são dados objeti-vos, que não se confundem com osdados sigilosos garantidos na Car-ta Magna. O acesso aos dados ca-dastrais também foi normatizadono texto da Lei Orgânica e, alémdisso, tem sido defendido pelaADPF em outras esferas, como nadiscussão da Reforma do Códigode Processo Penal.

DIRETOR-GERALNão vingou a defesa da ADPF

de se instituir uma lista tríplicepara escolha do diretor-geral daPF. O dirigente máximo do órgãocontinuará sendo escolhido livre-mente pelo presidente da Repúbli-ca. Mesmo com as dificuldades dese implementar a lista tríplice deimediato, os delegados contavamao menos com o mandato para odiretor-geral.

“Entendemos que o diretor-geral até pode continuar sendoescolhido pelo presidente da Re-pública, desde que não possa serretirado durante determinadoperíodo, para que se dê estabili-dade ao órgão”, defende o presi-dente da ADPF.

Um dos argumentos contrári-os foi que, quando se dá mandatoao representante máximo de de-terminado órgão, essa estabilida-de pode prejudicar as políticas de

governo. Comumente, cita-secomo exemplo o caso da ANAC,onde em determinado momento foinecessária a substituição do seu di-rigente e o mandato impediu queisso fosse feito de imediato.

“Mas entendemos que a natu-reza da PF e das nossas atribui-ções faz com que seja necessário omandato para o diretor-geral dainstituição, de forma que possa-mos desempenhar melhor nossasfunções, com autonomia e estabi-lidade”, rebate o delegado federal.

INAMOVIBILIDADEO instituto da inamovibilidade

ainda é uma questão bastante con-trovertida dentro da própria PF.Muitos a defendem com fervor eoutros entendem que poderiaengessar e prejudicar não só a ins-tituição como o próprio delegado,que por ventura tenha interesseem ser removido.

Dessa forma, por hora, o que foiincluído no projeto da Lei Orgâni-ca, foi um artigo que garante aodelegado responsável por determi-nada investigação, que o caso nãoserá subtraído de suas mãos, sal-vo por motivos fundamentados.Inclusive a previsão original é quea avocação da investigação deveser confirmada por um órgão doConselho Superior de Polícia.

“Essa é uma forma de se dar àautoridade policial a segurança deque terá suas atribuições respei-tadas, mas sem engessar a PolíciaFederal”, explica Avelar.

CARREIRANo projeto, se mante-

ve a divisão em quatroclasses (terceira, segunda,primeira e especial) para

todas as categorias da PF. Ou seja,o servidor chegará ao topo da car-reira em 15 anos. Mas já há expec-tativa de mudança. A idéia é dimi-nuir o tempo de permanência naterceira classe, para se alcançar otopo da carreira mais rapidamen-te. Entretanto, o Governo entendeque a terceira classe deve ser de atétrês anos, durante o estágio pro-batório. Ultrapassada essa fase, opolicial já seria guindado à segun-da classe.

Para os delegados federais, a LeiOrgânica, nos termos do projetoencaminhado pelo Ministério daJustiça ao Ministério do Planeja-mento, de forma geral, é positiva.A preocupação é com o que podevir pela frente. Segundo o presi-dente da ADPF, desde que o proje-to foi encaminhado ao Ministériodo Planejamento, não se teve maisinformações a respeito de eventu-ais mudanças naquele órgão.

“Entendemos que mesmo quenão sendo perfeita a Lei Orgânicaencaminhada pelo Ministério daJustiça merece nosso apoio, masestamos ansiosos por notícias arespeito de mudanças, que acasoestejam sendo feitas no Ministériodo Planejamento”, pondera o de-legado Sandro Avelar.

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presidente da AssociaçãoNacional dos Delegadosda Polícia Federal

(ADPF), Sandro Torres Avelar, emencontro com o ministro da Justi-ça, Tarso Genro, entregou um do-cumento assinado pelas principaisentidades representativas de clas-se dos policiais federais – ADPF,APCF e Fenapef – com pedido desolução para a questão dos polici-ais federais de terceira classe. AAPCF e a Fenapef foram represen-tadas pelos respectivos vice-presi-dentes, Helio Buchmuller Lima eJoão Valderi de Souza. O diretor-geral do Departamento de PolíciaFederal, Luiz Fernando Corrêa,também participou do ato.

Trata-se de uma nota técnicaassinada pelos presidentes daADPF, da APCF, Octávio Brandão,e da Fenapef, Marcos Wink, que de-fende que os policiais federais, en-tre outros pontos, cheguem à cate-goria especial em 10 anos, e não em15 anos.

TTTTTerererererceirceirceirceirceira Classea Classea Classea Classea Classe

Em lutEm lutEm lutEm lutEm luta, aindaa, aindaa, aindaa, aindaa, ainda

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ADPF entrega nota técnica ao ministro Tarso Genro em defesa da retificação do ato

de nomeação do pessoal da terceira classe. Documento foi elaborado em conjunto

com os agentes e os peritos criminais.

“Em conjunto com as entidadesque representam os peritos e osagentes (APCF e Fenapef), elabora-mos uma Nota Técnica que descre-ve toda a situação dos policiais fe-derais que ingressaram no DPF naterceira classe. O documento foimuito bem recebido pelo ministro

da Justiça, Tarso Genro, que se mos-trou sensível em relação ao assun-to. A previsão é que a retificação doato se dê antes da nomeação da tur-ma que está em formação na Aca-demia Nacional de Polícia”, expli-ca Sandro Avelar.

A ADPF vem defendendo a reti-

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PF

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ficação do ato de nomeação não sódos delegados, mas de todos poli-ciais federais (peritos, agentes, es-crivães e papilocopistas) que in-gressaram na corporação por meiode concursos regidos pelos Editaisnº 24 e nº 25 de julho de 2004, paraconsiderá-los nomeados na 2ª e nãona 3ª classe.

A expectativa é que a solução daterceira classe seja anunciada den-tro em breve. O desfecho, que seespera favorável aos policiais fede-rais, encerra uma verdadeira cam-panha deflagrada pela ADPF e asoutras duas entidades para resol-ver a situação dos policiais fede-rais que ingressaram na PolíciaFederal e assumiram os cargos naterceira classe.

“A situação dos policiais fede-rais, tanto delegados quanto peri-tos e agentes, que ingressaram naterceira classe é uma das principaispreocupações da ADPF. Nós não te-mos medido esforços para buscarsolução imediata e definitiva paraa condição desses colegas. Já ingres-samos, inclusive, na Justiça. Mastemos, sobretudo, apostado no di-álogo e participado de diversasreuniões no Ministério da Justiça eno Departamento de Polícia Fede-ral para chegar a um bom termo”,avalia Avelar.

Ao longo de vários meses, umgrupo de delegados federais lide-rados por Cláudio Bandel Tusco ecolegas peritos e agentes participa-ram de vários encontros no Minis-tério da Justiça, inclusive com opróprio ministro Tarso Genro paratratar da questão.

Com informações do site da ADPF

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Linha de frente noLinha de frente noLinha de frente noLinha de frente noLinha de frente no

Congresso NacionalCongresso NacionalCongresso NacionalCongresso NacionalCongresso Nacional

Parlamentar

Cresce a participação da ADPF em aud iências públ icas na Câmara dos Deputados e

no Senado Federal. Parlamentares buscam ouvir a opinião dos delegados federais antes

de aprovarem projetos relacionados à categoria e à Segurança Públ ica em geral.

Foto: Arquivo Prism

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U ma nova forma de atua-ção tem se firmado cadavez mais na Associação

Nacional dos Delegados de PolíciaFederal (ADPF). Diz respeito inclu-sive a influência que a Associaçãopassou a exercer no âmbito doCongresso Nacional. Nesse senti-do, chama atenção a quantidade deaudiências públicas para as quaisos delegados federais são chama-dos a participar.

“No âmbito do Congresso Na-cional, projetos importantes paraa Polícia Federal não tem sido de-cididos pelos parlamentares antesde nos convidar a opinar, junta-mente com outras entidades reco-nhecidamente importantes, comoa AJUFE, que representa os magis-trados federais, a CONAMP, querepresenta os membros do Minis-tério Público de todo o país, e aprópria ADEPOL, da Polícia Civil”,constata Sandro Torres Avelar,presidente da ADPF.

Na Câmara dos Deputados, porexemplo, foi realizada uma Audi-ência Pública onde a ADPF, ao ladode representantes de outras car-reiras típicas de Estado, defendeua volta do pagamento dosanuênios. A Proposta de EmendaConstitucional (PEC) nº 210/2007propõe o restabelecimento do Adi-cional por Tempo de Serviço comocomponente da remuneração dascarreiras da Magistratura e do Mi-nistério Público. Entretanto, a ma-téria deixou de fora os delegadosfederais, defensores públicos,membros da Receita Federal e daAdvocacia-Geral da União, dentreoutros.

Na audiência pública, o presi-dente da ADPF deixou clara a po-sição da Entidade. “Abriria mão da

minha fala para ouvir as razõesque justifiquem conceder osanuênios a membros do Ministé-rio Público e da Magistratura enegá-los às demais carreiras típi-cas de Estado”.

Em 2008, com o advento dosubsídio, algumas carreiras típi-cas de Estado deixaram de recebero Adicional por Tempo de Serviço.A absorção dessa parcela pelo sub-sídio prejudicou os servidores fe-derais, especialmente os mais an-tigos, que dedicaram mais tempoao serviço público.

CRÍTICAS E SUGESTÕESNo Senado Federal, a ADPF tem

participado de importantes Audi-ências Públicas como as que dizemrespeito à Reforma do Código deProcesso Penal. Tecendo críticas eoferecendo sugestões, a Associaçãoprocura evidenciar e defender ospontos de interesse da categoria.

Na discussão do PLS-150/2006,que trata do combate ao crime or-ganizado, por exemplo, a ADPF fezquestão de demonstrar que a Polí-cia Federal deve ter a sua condiçãode responsável pela investigação

O presidente da ADPF, SANDRO AVELAR, na d iscussão da PEC-210/2007 naCâmara dos Deputados. ADPF defendeu o restabelecimento do Ad icional deTempo de Serviço para os delegados federais.

No Senado Federal, no debate sobre o PLS-15-/2006, SANDRO AVELARdefendeu a Polícia Federal como responsável pela investigação.

Fotos: Marcela R

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Parlamentar

Aud iência públ ica no Senado Federal para debater a violação dos d ireitos e dosadvogados, contou com a participação do delegado federal MARCOS LEÔNCIOSOUSA RIBEIRO (na mesa, o último da esquerda para direita).

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assegurada na legislação. “Que nãose confunda a nossa atribuição deinvestigação – que é exclusiva daPolícia – com a possibilidade de oMinistério Público participar des-sas investigações, requisitandodados e a instauração de procedi-mentos, mas não realizando inves-tigações diretamente”, sustentouAvelar.

Nesse mesmo projeto, a ADPFdefendeu que se criminalize a frau-de a concursos públicos. “Temosnotícias de que o crime organiza-do vem sistematicamente tentan-do infiltrar seus agentes dentre ascarreiras típicas de Estado, espe-cialmente naquelas que têm o con-dão de reprimir o crime”, explicaAvelar.

O Judiciário tem entendido quea fraude a concursos públicos éfato atípico, que não se configuracomo estelionato. Por isso, crimi-nosos são colocados em liberdade,já que não há nada na lei que tipifi-que o crime de fraudar concurso

público com o objetivo de infiltrarmembros do crime organizado nascarreiras típicas de Estado.

DADOS CADASTRAISUma vitória importante, no

debate do PLS-150/2006, foi a queassegurou, no texto do projeto, oacesso a dados cadastrais pela au-toridade policial. O presidente daADPF elogiou a atuação do sena-dor Aloízio Mercadante, relator damatéria, responsável pela atuali-zação do texto com algumas ques-tões trazidas pela Convenção dePalermo, como a inclusão da figu-ra do agente infiltrado e o acesso adados cadastrais. “Era necessáriodiferenciar os dados sigilosos doscadastrais, conforme previsto pelaConstituição Federal. O novo tex-to corrigiu essa distorção”, avaliouAvelar.

Embora a matéria deixe clara apossibilidade de as autoridades daPolícia Judiciária da União ter aces-so a dados cadastrais, ainda falta

definir qual a sanção para o des-cumprimento desse dispositivo, aexemplo do item que trata do aces-so a esses mesmos dados por inte-grantes de CPI. “Agora, estamosdefendendo que caso esse acessonão seja fornecido, que se crimina-lize a conduta daquele que se ne-gar a fornecer dados cadastraisrequisitados pela autoridade poli-cial”, explica Avelar, sinalizando ospróximos passos de atuação daADPF.

ADVOGADOSA OAB apresentou um projeto

de lei onde altera o Estatuto daOrdem estabelecendo que a viola-ção das prerrogativas dos advo-gados se torna crime. O projeto jáfoi aprovado na Câmara dos De-putados e está sendo discutido noSenado Federal, onde a ADPF, alémde outras entidades de operadoresdo Direito – como magistrados emembros do Ministério Público –tem se colocado contrária a apro-vação do PLC 83/2008.

No Senado Federal, o presiden-te da Comissão de Prerrogativasda ADPF, Marcos Leôncio SousaRibeiro, participou de audiênciapública na Comissão de Constitui-ção, Justiça e Cidadania sobre otema. Segundo o dirigente, os de-legados federais não têm nada aopor com relação à valorização dasprerrogativas dos advogados, “atéporque, de todos os operadores doDireito, entendemos que somos osmais carentes de prerrogativas le-gais; por isso achamos legítimoque toda categoria tenha suas prer-rogativas respeitadas e valoriza-das”. O que se questiona é a formaproposta, que é a utilização do Di-reito Penal: “não é salutar você

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criminalizar as relações dos pro-fissionais do sistema de persecuçãoprocessual penal”.

Para a ADPF, a solução propos-ta pela OAB, ao invés de trazer umingrediente pacificador, concilia-dor, será motivo de muito maisconflitos, litígios e de um climahostil entre aquelas categorias quedeveriam se respeitar e trabalharcoesas pela dinâmica do sistemade persecução processual penal.

“Não é penalizando que vamoster prerrogativas respeitadas. Oprofissional da advocacia tem simque ter suas prerrogativas respei-tadas, assim como o delegado, noexercício de sua atividade de in-vestigação. Então temos que fazeruma interseção onde todas essasprerrogativas – daquele que inves-tiga, daquele que defende, daqueleque acusa, daquele que julga – seharmonizem. Isso só vai ser feitopor meio do diálogo, da conversa-ção, do respeito”, defende Ribeiro.

REGIME DISCIPLINAR DA PFO vice-presidente da Comissão

de Ética e integrante da Comissãode Prerrogativas da ADPF, Sebas-tião José Lessa, representou os de-legados federais na audiência pú-blica da Comissão de Constituiçãoe Justiça da Câmara dos Deputa-dos sobre o PL 1952/2007, que ins-titui o regime disciplinar do De-partamento de Polícia Federal e daPolícia Civil do Distrito Federal.Para Lessa o projeto, em princípio,é bom, entretanto defendeu maissegurança jurídica para a catego-ria na discussão da matéria.

Lessa criticou a regra sobreprazo prescricional. Para ele, esseprazo deve correr a partir do co-nhecimento do fato, e não a partirda instauração do processo. Segun-do o Superior Tribunal de Justiça(STJ), a ação disciplinar prescreve-rá em até 5 anos. Do jeito que estáno projeto, esse prazo fica “adeternum”, o que é contrário ao di-

reito brasileiro, onde vigora o prin-cípio da prescritibilidade.

Outra falha apontada pelo re-presentante da ADPF está no arti-go 23, que prevê a substituição dapena de demissão por suspensão,em determinado casos. Lessa ex-plica que o artigo fere o princípioda igualdade. O servidor que ini-cialmente deveria ser demitido,poderá ser apenas suspenso, a de-pender de sua influência.

Lessa observa que nos atos pro-cessuais, segundo o projeto, o ser-vidor terá 3 dias corridos para fa-zer a defesa, e não 3 dias úteis, se-gundo já consta inclusive da Lei9784/99. O advogado também acharelevante especificar, no projeto,que o relatório da comissão disci-plinar deve ser fundamentado, se-guindo orientação do STJ.

Por fim, Sebastião Lessa suge-re que o termo “transação”, no ar-tigo 25, seja substituído por “ajus-tamento de conduta”. Para Lessa,

não é adequado usaruma titulação deconotação penal noprojeto em discussão.

Dentre outros parti-cipantes da audiência,a percepção de que oprojeto merece reparosporque trata apenas detransgressões e deve-res, e não de direitos. Aproposta deveria pre-ver maior proteção aopolicial no exercício desua atividade. Alémdisso, o agravamentode penas, previsto naproposta, seria motivode desmotivação e en-gessamento da ativida-de policial.

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Na Câmara dos Deputados, o delegado federal SEBASTIÃO JOSÉ LESSA (na mesa, o últimoda esquerda para direita) representou a ADPF em aud iência públ ica para debater o regimed iscipl inar da Polícia Federal.

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REFORMA DO CPPO delegado federal Luiz Carlos

Nóbrega Nelson, membro da Co-missão de Prerrogativas da ADPF,tem acompanhado de perto os de-bates sobre a reforma do Códigode Processo Penal (CPP). Ele foiouvido na primeira audiência pú-blica da Comissão de Reforma doCódigo de Processo Penal, do Se-nado Federal.

Segundo o delegado, a preocu-pação imediata da ADPF foi com ofato de que, com o projeto, a con-cepção de investigação mudaria,passando a ser um procedimentoaberto. Basicamente se retiraria osigilo da investigação, além deabrir a possibilidade de o investi-gado produzir provas e até mes-mo de interferir na produção dasprovas. “Isso é muito preocupante,porque a natureza do inquéritosempre foi inquisitorial e sigilosa.Esse sigilo cai por terra definitiva-mente”, afirma Luiz Carlos.

Entretanto, o que mais chamaatenção no projeto é que a políciaperderia a exclusividade na pro-dução das provas durante a fasede investigação. Qualquer insti-tuição poderia produzir provas denatureza criminal. “Isso é muitoperigoso porque você pode criar afigura dos dossiês; instituições cri-ando dossiês, utilizando de suainfra-estrutura para atingir fina-lidades não legítimas, não compa-tíveis com o Estado Democráticode Direito”, pondera Luiz Carlos.

O delegado federal lembra queo aparato policial tem toda umacultura de investigação, de sigilo ede preocupação com o cidadão, queé a parte mais fraca, quando emcomparação com o Ministério Pú-blico e o Poder Judiciário. Enquan-

to a cultura da investigação poli-cial é uma cultura de zelo e cuida-do, o delegado Luiz Carlos temeque possa haver muitos destem-peros e excessos, até que outra ins-tituição, que venha a produzir pro-vas, adquira essa cultura.

Outro ponto que desperta pre-ocupação é que a prova passaria aser produzida no interesse da acu-sação. Para Luiz Carlos, isso colo-ca o cidadão numa posição de ex-trema fragilidade: “se você criauma polícia com o foco na acusa-ção, você vicia toda a condução deprova daquela polícia”.

Para o delegado federal, o apa-rato policial sempre foi tido comoimparcial. A atuação do delegadonão é voltada para a acusação esim para a apuração da verdadereal dos fatos. Se essa verdade realvai culminar numa acusação ou noarquivamento, isso faz parte doEstado Democrático de Direito.

“É muito perigoso para qual-quer democracia ter uma políciavoltada para a acusação. Numavisão bem rápida me parece vio-lar uma meia dúzia de princípiosconstitucionais, e isso eu falo nãoenquanto delegado, mas enquantocidadão”, alerta Luiz Carlos.

Além disso, o delegado apon-ta que na reforma do CPP há al-gumas presunções negativas com

relação à própria autoridade po-licial que conduz o inquérito.Aparentemente, não se tem umapresunção de legitimidade e delegalidade dos atos: “é como se alei desconfiasse do Estado, dosagentes da lei”.

A ADPF está recebendo as su-gestões dos delegados federais, in-teressados em colaborar na pro-dução de fundamentação jurídicae sociológica de cada artigo do pro-jeto. Essa argumentação deve jus-tificar a necessidade das alteraçõespropostas para cada um dos dis-positivos.

As sugestões devem ser enca-minhadas para Comissão de Prer-rogativas da ADPF pelo [email protected].

Na próxima edição da Prisma,confira uma matéria especial coma análise, ponto-a-ponto, dosartigo da reforma do CPP.

Parlamentar

O delegado federal LUIZ CARLOSNÓBREGA NELSON na ComissãoEspecial de Reformado do CPP (PLS-156/2009), no Senado Federal.

Fotos: Marcela R

ibeiro/AD

PF

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História Viva

Carlos NobreCarlos NobreCarlos NobreCarlos NobreCarlos Nobre

Coragem, destemorCoragem, destemorCoragem, destemorCoragem, destemorCoragem, destemore abnegaçãoe abnegaçãoe abnegaçãoe abnegaçãoe abnegação

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ara falar da trajetória devida deste delegado fede-ral, que em seus aponta-

mentos funcionais é elogiado porsua coragem, destemor e abnega-ção, é preciso voltar lá atrás, no Riode Janeiro. Carlos Nobre deAlmeida e Castro Júnior foi com-batente, “o mais novo do Brasil”,como ele próprio faz questão deenfatizar.

Foi voluntário do Exér-cito no Rio de Janeiro. Pri-meiro soldado da Forta-leza de São João a se apre-sentar para a Força Expe-dicionária Brasileira.“Quando regressei da Itá-lia, em julho de 1945, nãotinha nem 20 anos”,relembra o delegado. Emjaneiro de 1946, ingressouno Departamento Federalde Segurança Pública, nafunção de investigador.Com seu trabalho dedica-do, logo foi promovido adetetive.

Com o fim do Depar-tamento Federal de Segu-rança Pública e o surgi-mento do Departamentode Polícia Federal, em1964, começa sua trajetó-ria na instituição da qualse enche de orgulho parafalar.

Junto com o nasci-mento da Polícia Federal,a missão de erguer as bases e ospilares da nova instituição. Eramtempos desafiadores. “Nós cria-mos o DPF. Foi com o pessoal doRio de Janeiro que começou o DPF.Na época o governador era oCarlos Lacerda. Ele nos chamavaa ‘Polícia de Juscelino

Kubitschek’”, conta Carlos Nobre.Nesses 35 anos dedicados à Po-

lícia Federal, muitas operações etrabalho duro, sem contabilizarnenhum único dia de falta. CarlosNobre destaca que, como policial,“você está sempre de serviço”. Des-sa forma, gosta de recordar de umaprisão, em especial, que realizouem Copacabana, onde morava.

“Estava na fila do banco quan-do observei um senhor muito alto,forte, todo suado, roupa preta e tal.Pensei com meus botões que deve-ria ser algum judeu, pelo modo dese vestir”, fala o experiente dele-gado, que percebeu o suspeitomuito nervoso, mostrando algo

que carregava na maleta.“Sai da fila e fiquei observan-

do. O homem saiu do banco e foi àRua República do Peru e subiunum edifício. Liguei para a Regio-nal pedindo reforços e fiquei espe-rando. O homem demorou mais oumenos uma hora pra descer. Nós oseguimos até o Rio Comprido, quenaquela época já tinha um viadu-

to que ficava na alturamais ou menos das casas.Ele entrou numa dessascasinhas. Quando voltou,nós o abordamos: PolíciaFederal, o que é que o se-nhor tem aí? Quandoabriu a maleta tinha jói-as, brilhantes, que eramnegociados clandestina-mente”, lembra CarlosNobre com um sorriso norosto.

Na época, o presiden-te Marechal Castelo Bran-co tinha retirado a cotaparte das apreensões re-alizadas pela Polícia Fe-deral. “O que nós apreen-díamos, quem ganhava acota parte eram os fiscaisde renda mercantis. Masnão levei isso em conside-ração não. Minha obriga-ção era levar o suspeitopara a delegacia. Ele ten-tou em vão me subornare ao grupo. Quando che-gou à delegacia foi confir-

mado que era realmente contra-bando. Essa foi uma das operaçõesque fiz espontaneamente, casual-mente, foi o destino. Orgulho-medisso”, fala o emocionado CarlosNobre.

Em sua ficha de trabalho, o re-gistro do comando de importan-

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História Viva

tes áreas na corporação. Em 1970,foi chefe do Serviço de OperaçõesEspeciais. Em 1974, chefiou o Ser-viço de Coordenação e Controle, daDivisão de Repressão e Entorpecen-tes da Coordenação Central Poli-cial. No mesmo ano, assumiu osencargos de Diretor da Divisão deMeios Auxiliares. Dois anos depois,foi diretor da Divisão de Recruta-mento e Seleção da Academia Na-cional de Polícia. Em 1978, assu-miu o Serviço de Correições Judi-ciárias.

No alto dos seus 81 anos, CarlosNobre não deixa de acompanhar a“sua Polícia Federal”, para quemserá sempre a mesma, embora es-teja tecnicamente mais equipadado que antes: “Hoje, a tecnologiaestá avançada, oferece muito maismeios para se trabalhar. No meutempo era mais artesanal, maisdedicação pessoal”.

Quando escuta críticas de quea Polícia Federal estaria extrapo-lando em suas tarefas, Carlos No-bre rebate logo: “Minha filha, todavez que você contraria interessesde pessoas de alto nível há semprecríticas. A verdade é esta”.

É BARRA!Quando chefiou a Divisão de

Recrutamento e Seleção da Acade-mia Nacional de Polícia inventouum negócio que deu o que falar naépoca: barra. Isso mesmo! Foi odelegado Carlos Nobre quem in-troduziu no Brasil os exercíciosde barra, nas provas de aptidãofísica, em concursos públicos: “Nãotinha isso no Brasil, ninguém fa-zia. Concurso nenhum cobravaisso”.

Ele conta que nesse ano, porcausa da nova exigência, só foram

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Carlos Nóbre ao lado de sua esposa e companheira de profissão: os dois seformaram em Direito.

Em seu escritório onde guarda as recordações do tempo de Polícia Federal.

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aprovadas duas mulheres no paísinteiro. “Nada contra as moças,porque a mulher é muito maisprendada, estudiosa. Mas na horado principal, das diligências queeram necessárias, as vezes nãopodíamos contar com elas, que fi-cavam mais no serviço interno”,justifica Carlos Nobre.

De uma coisa é certa. CarlosNobre sente saudades. Para a novageração, um recado que davaquando ainda era instrutor na

Academia Nacional de Polícia:“Não faça da Polícia Federal umaescada para ir para outro lugar. Sóvenha para cá se você realmentegostar. Eu sempre disse isso nasminhas aulas”.

Carlos Nobre ainda completa:“Seja digno, honrado e goste daprofissão. O importante é você gos-tar da profissão, que é sacrificante,não tem horário, não tem sábado,domingo, feriado. Precisou tem quetrabalhar. Ordem é ordem e é para

ser cumprida com disciplina. Amelhor coisa do mundo na PolíciaFederal é a disciplina. A disciplinaé fundamental”.

Aposentou-se em 1981 da Polí-cia Federal. Desde então, tem sededicando à advocacia e a família.Pai de Yonarê Mara e DanielleMara, avô de Gean Carlo e Yohane,Carlos Nobre vive até hoje emBrasília ao lado da esposa e com-panheira Maria Adyr Salasc No-bre de Almeida.

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Quadro de alunos do CursoSuperior de Polícia do qualfoi coordenador.

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O “Ilícito Administrativo Dis-ciplinar, da atipicidade ao devidoprocesso legal substantivo” este éo título do livro de autoria do de-legado de polícia federal SandroLúcio Dezan (foto ao lado), publi-cado pela Juruá Editora, deCuritiba.

A obra refere-se à dissertaçãoapresentada para a conclusão docurso de Mestrado em Direitos eGarantias Constitucionais Funda-mentais da Faculdade de Direito deVitória.

Composto de cinco capítulos, olivro faz uma necessária releiturade princípios de Direito Adminis-trativo Disciplinar à luz dos Direi-tos e Garantias ConstitucionaisFundamentais, abordando, em es-pecial, a teoria da atipicidade doilícito no serviço público sob oenfoque do devido processo legalsubstantivo, buscando, de formaclara e inovadora, trazer para odireito sancionador brasileiro osprincípios garantistas do direitopenal, em harmonia com a moder-na abordagem do princípio da Dig-nidade da Pessoa Humana. Comefeito, afere que qualquer faceta dedireito sancionador, quer seja elapenal, tributária, civil ou adminis-trativa, tem, por óbvio, que seamoldar ao atual Estado Democrá-tico de Direito, onde impera a Dig-nidade da Pessoa Humana e seusprincípios correlatos decorrentesde uma Constituição fruto de in-terpretação evolutiva.

O livro visa a concluir ao final– afora vasta produção legislativainconstitucional a positivar, nos

Ilícito Administrativo Disciplinar, da Atipicidade aoDevido Processo Legal Substantivo

estatutos disciplinares do serviçopúblico, comandos normativosabertos, flexíveis, indeterminados,ofensores de direitos e garantiasfundamentais - que, para uma jus-ta apuração disciplinar, há de seaceitar como válidos e norteadoresdo ordenamento jurídico afeto aotema, como corolário da aplicaçãodo princípio da tipicidade (decor-rente, por efeito, da aplicação dodevido processo legal substanti-vo), determinados institutos dedireito penal, verbi gratia o princí-pio da culpabilidade, referente àimputação pessoal, juízo dedesvalor, de censura, da condutado agente público ante a sua pos-sibilidade psíquica de autodeter-minação, e, por conseqüência, aimputação subjetiva, concernenteà análise do dolo e da culpa, comopressuposto (a) da subsunção doconceito do fato ao conceito do tipoilícito disciplinar e (b) da aplicaçãoda pena administrativa. Esta, aimputação subjetiva, afeta aocampo da tipicidade; aquela, a im-putação pessoal, afeta à culpabili-dade propriamente dita, refutan-do destarte a teoria complexa daculpabilidade.

Sandro Lucio Dezan é delega-do de polícia federal, corregedorregional da Polícia Federal no Es-tado do Espírito Santo; mestre emDireitos e Garantias Constitucio-nais Fundamentais; professor deFaculdades de Direito e Cursos Pre-paratórios para Concursos Públi-cos no Estado do Espírito Santo,Professor da Academia Nacionalde Polícia em Brasília.

Boa Leitura

Livro: Ilícito Administrativo Discipl inar,da Atipicidade ao Devido Processo LegalSubstantivoAutor: Sandro Lúcio DezanEditora: Juruá Ed itoraPáginas: 216Preço: R$ 49,90

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Boa Leitura

Leu, gostou? Envie sua sugestão de Boa Leitura para a gente: [email protected].

O livro do vice-presidente doConselho de Ética e integrande daComissão de Prerrogativas daADPF, delegado federal aposenta-do Sebastião José Lessa (foto aolado), foi lançado em dezembro pelaEditora Fórum, com noite de autó-grafos na sede da Associação.

Os temas tratados neste livro,em verdade, foram selecionados le-vando-se em conta não só a rele-vância de seus conteúdos, mas afreqüência de suas repercussõesnas relações entre Administração,servidores e administrados.

Em tal contexto, foram selecio-nados temas como responsabili-dade civil, penal e administrativado servidor, a responsabilidadepor ato de improbidade adminis-trativa, a instrução do processo, ocontraditório, a ampla defesa, arevelia, o devido processo legal, alicitude da prova, a segurança ju-rídica, o julgamento do processo,entre outros.

Os temas citados, para maiorobjetividade e segurança, foramtratados em consonância com adoutrina e a jurisprudência.

Sebastião José Lessa, bacharelem Ciências Jurídicas, como dele-gado de polícia federal exerceu in-terinamente a direção da Correge-doria-Geral da Polícia Federal –Brasília/DF, e as chefias das Divi-sões de Polícia Judiciária e de Dis-ciplina. No Rio de Janeiro, chefioua Corregedoria-Regional Judiciá-ria da Polícia Federal. Foi instru-tor da Academia Nacional de Polí-

Direito Administrativo DisciplinarInterpretado pelos Tribunais

cia em Brasília/DF. É professor doCEBRAD (Centro Ibero-Americanode Administração e Direito) e co-laborador da Revista Fórum Adminis-trativo, da Editora Fórum, de BeloHorizonte/MG, e já publicou ma-térias jurídicas na Revista do Tribu-nal Regional Federal da 1ª Região. Émembro do Instituto Internacio-nal de Direito Disciplinar, no graude Mestre, concedido pelo CentroIbero-Americano de Administra-ção e Direito. É membro do Sindi-cato e da Associação Nacional dosDelegados de Polícia Federal. Jáministrou cursos de Direito Admi-nistrativo Disciplinar para servi-dores do Conselho de Justiça Fede-ral, Legião Brasileira de Assistên-cia - Polícia Rodoviária Federal,Fundação Nacional do Índio, Em-presa Brasileira de Notícias, Esco-la Nacional de Administração Pú-blica, TribunalSuperior Eleitoral,Ministério Público do Distrito Fe-deral e Territórios, Tribunal deContas da União, Ministério daJustiça, Ministério do Trabalho eMinistério da Educação. Possui,entre outros cursos, o Curso Supe-rior de Polícia e também o de atu-alização e aperfeiçoamento nasáreas de processo penal e civil.Atualmente, é advogado emBrasília/DF. É autor dos livros: DoProcesso Administrativo Disciplinar e daSindicância, editado pela BrasíliaJurídica, já em 4ª edição, e TemasPráticos de Direito Administrativo Dis-ciplinar, editado pela Brasília Jurí-dica.

Livro: Direito Administrativo Discipl inarInterpretado pelos TribunaisAutor: Sebastião José LessaEditora: FórumPáginas: 212

Preço: R$ 54,00

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Para descobrir como anda a saúde do quadro pessoal da

Polícia Federal, a Prisma conversou com o Dr. André

Ricardo Pessoa Sousa, chefe do Serviço Méd ico do

Departamento de Polícia Federal (Simed).

CheckCheckCheckCheckCheck-up-up-up-up-upna Polícia Federalna Polícia Federalna Polícia Federalna Polícia Federalna Polícia Federal

médico André Ricardorevelou preocupaçãocom a necessidade de se

investir mais na saúde dos servi-dores da Polícia Federal. Para ele,a questão acaba tendo efeitos ad-ministrativos devido ao númerode afastamentos por problemas desaúde. “Isso onera os cofres públi-cos e sobrecarrega a grande de-manda de serviço dentro do De-partamento”, explica AndréRicardo.

Ainda não há um estudo oficialda estatística e dos motivos dosafastamentos. “Em determinadaslocalidades, há apenas um médicopara cuidar de todo o serviço, o queo impede de realizar esse levanta-mento”, informa o chefe do Simed.No momento, um sistema infor-matizado está em desenvolvimen-to para ajudar na apuração e inte-gração dos dados médicos em todo

o país. Mas alguns números apu-rados oferecem uma mostra decomo as coisas estão. No DistritoFederal, antes mesmo de encerraro ano de 2008, já foram computa-das 500 perícias médicas – reali-zadas em casos de afastamentoacima de 30 dias. No Rio de Janei-ro, 542.

No topo do ranking das doen-ças que mais acometem os servido-res da Polícia Federal está os dis-túrbios psiquiátricos, principal-mente a depressão. André Ricardoexplica que as doenças mentaisdecorrem da predisposição indivi-dual, do excesso de trabalho e doestresse inerente à atividade poli-cial. Em segundo lugar, vêm as en-fermidades ortopédicas: LER-DORT, problemas na coluna e trau-mas físicos, dentre outros.

Para corrigir um dos fatores,recentemente, o Simed, a pedido da

Administração, participou de umestudo ergométrico com o objeti-vo de se adequar os móveis usa-dos em toda a Polícia Federal. Olevantamento apontou o tipo decadeiras e mesas apropriadas paraa digitação e trabalho em geral, te-clados para computador, apoiopara braços e pernas e uma sériede itens que podem contribuirpara a saúde e bem-estar do servi-

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Saúde

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d o r ,proporcionan-

do, inclusive, mais quali-dade de vida.

Quanto aos trau-mas físicos, ao

contrário doque se possaimaginar, asocorrênciasem funçãodo desempe-nho da ativi-

dade policialsão minoria. “Te-

mos uma parcela deservidores, em geral os

mais jovem, que acaba ten-do problemas em função da práti-ca inadequada de exercícios físicose esportes”, explica o médicoAndré Ricardo.

Atividade física institucionalÉ norma do Departamento de

Polícia Federal a prática obriga-tória de quatro horas semanaisde atividade física institucional.O chefe do Simed defende que osexercícios devem ser orientadospor um profissional da área. Estáem estudo a criação de uma co-missão em cada Superintendên-cia para cuidar desse aspecto. Ogrupo deverá ser integrado porpelo menos um professor de edu-cação física. A partir daí, os ser-vidores seriam submetidos aexames específicos regularmentepara avaliar os resultados e o cor-reto desempenho dos exercícios.

André Ricardo faz um lembre-te e uma recomendação. “Ao par-ticipar da atividade física institu-cional obrigatória, é importante opolicial seguir as regras contidasem instrução normativa específi-ca. Dessa forma, se ocorrer algu-ma lesão, o servidor estará ampa-rado, pois será considerado comoacidente de trabalho”, informa omédico.

Plano de saúdeO Simed participou de reuni-

ões no sentido de buscar a amplia-ção das coberturas hospitalares edos procedimentos oferecidos peloplano médico-hospitalar dos ser-vidores. Hoje, é possível optar pelaGEAP (plano oficial do Ministérioda Justiça) ou pela Medial (empre-sa conveniada pelo DPF). O objeti-vo é que todo o atendimento médi-co seja realizado pela rede médi-ca-hospitalar desses planos.

Atualmente, a equipe de saúdedo DPF, formada por médicos, en-fermeiros, auxiliar de enfermagem,psicólogos, odontólogos e assis-tentes sociais, está defasada. Háprevisão de concurso para supriras vagas em todas as regionais.“Temos tido a evasão desses pro-fissionais, que ingressam em ou-tras instituições que oferecem me-lhor remuneração”, justifica AndréRicardo.

“O ideal no momento é que,dentro do DPF, cuidemos apenasda realização de perícias médicase de atividades de prevenção”, ex-plica André Ricardo. Nesse senti-do, em muitas regionais são pro-movidas as semanas da saúde. Du-rante esses eventos, que contamcom o apoio da ADPF (AssociaçãoNacional dos Delegados de PolíciaFederal), o serviço médico aplicaquestionários para avaliar a saú-de dos servidores e identificar osproblemas. Com os resultados emmãos serão feitos acompanhamen-to por meio de grupos específicos.Três áreas serão trabalhadas ini-cialmente: tabagismo, hipertensãoe obesidade.

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O TO TO TO TO Tesouresouresouresouresouro dos Alpeso dos Alpeso dos Alpeso dos Alpeso dos AlpesInnsbruckInnsbruckInnsbruckInnsbruckInnsbruck

Viajar

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Numa das cidades mais idíl icas da Europa, o passado e o futuro se

misturam: em Innsbruck, seus monumentos de fama mund ial são

testemunhas de uma grande história e convivem com sua notável e

internacional arquitetura pós-modernista.

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nnsbruck – cidade no oesteda Áustria, capital do Esta-do do Tirol – é um daqueles

lugares especiais que a gente só co-nhece de vez em quando. Tem to-dos os atrativos de uma antiga ci-dade imperial, repleta de cultura etesouros históricos em cada esqui-na, e, ao mesmo tempo, oferece amovimentação de uma animadaestação de inverno. Tudo isso numcenário privilegiado, formado porprédios de arquitetura típica, pe-las águas do Rio Inn, e, ao fundo, aneve das montanhas dos Alpes.

O Palácio Imperial deHofburg, o Castelo Ambras, a tor-re Ottoburg e a Basílica Wiltennarram a vibrante história deInnsbruck, ligada a nomes comoPhilippine Welser ou AndreasHofer. Mas, sem dúvida, foi o Im-perador Maximiliano I quem dei-xou uma herança de jóias cultu-rais na cidade, como o GondenesDachl, construído com 2600 telhasde ouro, que ainda hoje pode serapreciado.

Nos últimos tempos, arquite-tos contemporâneos comoDominique Perrault, com a Gale-ria da Prefeitura, e Zaha Hadid,com o trampolim de saltos de es-qui no Bergisel, contribuíramdecisivamente para dar umanova forma à cidade. Innsbrucké um impressionante cenário,onde atrativos eventos, como osVerões da Dança, as Semanas deMúsica e o Festival do Advento,surpreenderão o visitante.

Innsbruck também causa ad-miração pela impressionante pai-sagem montanhosa de seus arre-dores. Por isso o visitante não podeperder a subida ao topo doSeegrube, situado a aproximada-

Viajar

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St. Anna’s Column (Annasaule)

Swarovski Crystal Worlds

Bergisel Ski Jump

Fotos: Embaixada da Á

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mente 2.000 metros de altura, deonde é possível apreciar esplêndi-das vistas, tanto no verão quantono inverno.

Innsbruck é um renomado cen-tro de esportes de inverno, sendoque sediou as Jogos Olímpicos deInverno nos anos de 1964 e 1976.Desde então, a cidade adquiriu con-fiança em suas possibilidades es-portivas, já que é possível esquiar,fazer snowboard, tours com es-quis, passear com raquetes de nevee patinar sobre o gelo. No verãotambém é possível praticar ativi-dades como o ciclismo, mountainbike, parapente e também fazertrilhas em uma das inúmeras zo-nas destinadas a esta atividade,como o parque alpino Karwendelou a trilha Zirbenweg, na regiãodo Patscherkofel. A temperaturamédia anual é de 9°C. Os inver-nos são mais frios que a maioriadas cidades europeias, com umatemperatura mínima em janeirode -7ºC.

No ano de 1178, os senhoresfeudais do Tirol construíram ummercado em Hotting e foi este pos-to de trocas que fez surgir um po-voado na região. Assim surgiaInnsbruck. A história da cidadeestá intimamente ligada ao impé-rio dos Habsburg, imperadores daÁustria durante 640 anos. Sua pai-xão por esta cidade fez com que elafosse enriquecida por inúmerostesouros, mesmo que isto custasseo endividamento do país.

Innsbruck é uma cidade peque-na. Ao todo são pouco mais de 120mil habitantes e sua parte centralconcentra os pontos turísticosmais interessantes. Como toda estaregião pode facilmente ser percor-rida a pé comece a andar e visite o

Stadtturm Ottoburg

Tyrolean Provincial Museum

Hofburg

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Schwarze Mander (homens ne-gros), na igreja Hofkirche, um con-junto de vinte e oito impressionan-tes esculturas em bronze, erguidasem torno do monumento ao impe-rador Maximiliano. E depois vá atéo Palácio Imperial, outro notávelexemplo de como os Habsburg in-vestiram nesta cidade.

Alguns dos principais pontosturísticos de Innsbruck são suacatedral Dom zu St. Jakob,Leopoldsbrunnen (fonte deLeopoldo), Tiroler Landes-theater (teatro regional do Tirol),Hofgarten e MärchenhafteBeleuchtung an Sommer-abenden (Jardins Imperiais). Masmuita gente que vem a Innsbruckprefere mesmo arranjar uma mesanos bares ou restaurantes de rua esimplesmente ficar apreciando avida da cidade. Uma boa pedida éo famoso Kaiser Melange mitSchlagobers (café com creme), umtipo de café enriquecido muito sa-boroso. Para acompanhar, não dei-xe de experimentar alguns dos de-liciosos doces austríacos.

Outras sugestões de visitas aInnsbruck são o Museum imZeughaus (Museu do Arsenal),Rudolfsbrunnen (Fonte deRodolfo), Triumphpforte (Arco doTriunfo,construído em 1765),Basilika Wilten (mais bonitabasílica em estilo rococó do Tirol)e Glockenmuseum (museu dossinos). Todos estes locais estão naregião central da cidade ou a pou-ca distância do centro, portantovocê não vai precisar andar muitopara ver a todos.

O Rio Inn banha a cidade, ecomo é fácil de adivinhar, foi ele oresponsável pelo nome dado àInnsbruck. Praticamente toda a

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Cathedral Of St James

Schloss Ambras

Innsbruck: ladeada pelo Rio Inn e, ao fundo, pelos Alpes

Fotos: Embaixada da Á

ustria

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cidade está localizada na margemdireita do Inn, no entanto não dei-xe de ir mais além e explorar tam-bém as redondezas. Os campos emontanhas em volta são dignos deum cenário de filme e merecemuma tarde de caminhadas. Apesardo verde destas imagens duranteo inverno é comum tudo mudar decor e trocar o verde pelo branco,graças à neve. Na realidade, du-rante os meses de invernoInnsbruck é uma concorrida esta-ção de jogos de inverno.

Ao lado, uma imagem da mar-gem direita do rio Inn, feita a par-tir da base das montanha que fo-ram os Alpes. Visite o MuseuTirolês de Arte, a mais importan-te coleção do gênero em toda re-gião alpina, com roupas, mobíliase diversos utensílios que contamtudo sobre os costumes desta ter-ra. Visite ainda o Castelo Ambras,uma autêntica fortaleza em estilorenascentista, onde são destaquesua galeria de arte, com obras deRubens e Van Dyck.

Um dos programas imperdí-veis de Innsbruck é pegar o tren-zinho (Hungerburgbahn) e subira montanha Klettersteig. O cami-nho até lá é realizado em três eta-pas. Primeiro, o trem vai atéAusstieg Alpenzoo. A seguirpega-se um teleférico que nosleva até o ponto chamadoSeegrube, a 1.905 m, e depois atéo ponto final, Hafelekar, a 2.334metros de altitude. Não deixe delevar um casaco grosso, pois ofrio e o vento lá em cima costu-mam ser fortes, mesmo quandonão é inverno.

Innsbruck é cercada por mon-tanhas e há diversos teleféricos,conforme a direção que você dese-

je ir. A melhor vista da cidade éobtida do alto da montanhaHafelekar, mas ao sul existemtambém as subidas para Stubaitale Patscherkofel (2.250 metros dealtitude), sendo este último maisindicado para quem quer esquiar,pois tem descidas íngremes, desti-nadas a profissionais, bem comooutras suaves, ideais para quemnão tem muita experiência nos es-portes de neve. Outros montesmuito populares da região são oBrandjoch (2.580 m), Frau Hill(2.272 m), Kemmacher (2.482 m),

Hafelekargipfel (2.334 m) eGleirschspitze (2.326 m), só paracitar alguns.

De playground da família realdos Habsburg até nossos dias,Innsbruck percorreu um longo ca-minho. Hoje ela não é mais um pri-vilégio exclusivo dos imperadoresda Áustria, mas sim um dos locaismais conhecidos e procurados daEuropa. E se você quer um passeioque misture emoção e cultura, artee lazer, pode ter certeza que tudoisto e muito mais está bem aqui,no Tesouro dos Alpes.

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Fui e recomendo...Fui e recomendo...Fui e recomendo...Fui e recomendo...Fui e recomendo...

O delegado de polícia federalFRANKLIN MEDEIROS nos con-ta, a seguir, como foi suaemocionanete viagem aoInnsbruck:

“A Innsbruck é a capital doTirol Austríaco, famosa em todo omundo devido às filmagens do fil-me “A Noviça Rebelde”, estreladopor Julie Andrews, que foram fei-tas na região e mostraram a bele-za ímpar dos Alpes na Áustria.

É a única cidade histórica daEuropa que também é estação deesqui. Encravada no pé da Monta-nha Nordkette, a cidade parecerespirar esportes de inverno. Sãoao todo nove estações de esqui,para todo tipo de praticante, doiniciante ao iniciado. As Olimpía-das de Inverno já foram realiza-das duas vezes nessa charmosacidade, em 1964 e em 1976.

O melhor jeito de se chegar aInnsbruck é fazendo uso da malhaferroviária, partindo de cidades donorte da Itália, sul da Alemanhaou leste da Suíça. Os trens são no-vos e extremamente seguros. Ou-tra boa opção é utilizar a malharodoviária, já que a vista nas es-tradas que recortam as montanhasé de tirar o fôlego.

O Kaiserliche Hofburg (PalácioImperial), o Castelo Ambras, a Tor-re Ottoburg, o Goldenes Dach (Te-lhado de Ouro), o pequenoTriumphpforte (Arco de Triunfo) ea Basílica Wilten são algumas dasatrações históricas da cidade. Paraconhecê-las, o melhor é andar a pé,atentando a cada detalhe nas ruas

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(a completa inexis-tência de lixo nas cal-çadas, a educação dospedestres, o trânsitocivilizado, as casasconstruídas em estiloenxaimel, as paredessem pichações ou qual-quer tipo de poluição vi-sual, etc.).

A cidade é o lugar idealpara casais, oferecendo vá-rias opções de restauran-tes, casas de chocolate quen-te, bistrôs, etc. Mas não deixa deser uma boa opção também paraos solteiros, haja vista que, da po-pulação de 150 mil habitantes, 30mil são estudantes, oriundos detodos os continentes, que fazemfervilhar a cidade nos fins de se-mana.

A grande barbada para se apro-veitar as estações de esqui e asatrações históricas é o InnsbruckCard, cartão turístico que dá aces-so aos castelos e museus, bemcomo ao transporte público de for-ma ilimitada, proporcionando, in-

clusive, o deslocamento doadquirente até as estações no topoda montanha. O Innsbruck Cardcusta de € 23 (um dia) a € 33 (trêsdias). O aluguel das roupas e dosequipamentos de esqui fica em tor-no de € 35/dia, e deve ser feito emlojas especializadas nas própriasestações. Tudo sobre a cidade podeser consultado no site http://www.innsbruck.info/. A baixa es-tação (e preços indem) é no outo-no, bem como na primavera. Valelembrar que algumas estaçõesabrem o ano inteiro, inclusive noverão”.

Viajou, gostou? Conte sua história para a gente: [email protected]

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