prisão de inocente erro não demonstrado

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  • Apelao cvel n. 2007.038483-5, de MafraRelator: juiz Jnio Machado

    APELAO CVEL. AO DE INDENIZAO POR DANOSMORAIS E MATERIAIS. PRISO TEMPORRIA EINTERNAO PROVISRIA DECRETADAS COM AOBSERVNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. EXPEDIO DEDECRETO FUNDAMENTADO. INDCIOS FORTES DAPARTICIPAO DO AUTOR NO CRIME, QUE S FOIAFASTADA EM MOMENTO POSTERIOR, QUANDO SEOBTEVE NOVAS INFORMAES. REPRESENTAOCONTRA O AUTOR JULGADA IMPROCEDENTE. GARANTIADA LIBERDADE, DA HONRA, DA IMAGEM E DO PRINCPIO DAINOCNCIA QUE NO PODE INVIABILIZAR O DEVER DE OESTADO REPRIMIR E APURAR A RESPONSABILIDADECRIMINAL POR FATOS MARCANTES E QUE COMOVERAMTODA UMA REGIO. CONJUNTO PROBATRIO QUERECOMENDAVA, NA POCA, A PROVIDNCIA ADOTADAPELO MAGISTRADO. ERRO JUDICIRIO NODEMONSTRADO. INDENIZAO QUE SE MOSTRA INDEVIDA.ALEGAO DE QUE HOUVE PRTICA DE TORTURA. PROVAINEXISTENTE. NUS QUE COMPETIA AO AUTOR. ART. 333,INCISO I, DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL. OMISSO DOESTADO NO DEVER DE ZELAR PELA BOA INVESTIGAO.RESPONSABILIDADE SUBJETIVA QUE SURGE A PARTIR DAPROVA DE CULPA, NO CASO AUSENTE. SENTENAMANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.

    1. O fato de algum ser privado ocasionalmente da sualiberdade, desde que presentes os requisitos legais, no justificao reconhecimento do erro judicirio e, por consequncia, o direitode indenizao.

    2. do autor o nus da prova quanto ao fato constitutivo deseu direito.

    3. Por omisso, o ente pblico responde mediante ademonstrao de culpa.

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelao cvel n.2007.038483-5, da comarca de Mafra (1 Vara Cvel/Criminal), em que apelante

  • Oscar Pedroso, e apelado Estado de Santa Catarina:

    ACORDAM, em Quarta Cmara de Direito Pblico, unanimidade, negar provimento ao recurso. Custas legais.

    RELATRIOOscar Pedroso ajuizou ao indenizatria contra o Estado de

    Santa Catarina sob o fundamento de que, quando menor de idade, teve seu direitoconstitucional de ir e vir cerceado, j que provisoriamente internado sob a imputaoda prtica dos crimes capitulados nos arts. 213, 214 e 223 do Cdigo Penal, conformeo procedimento jurdico de apurao de infrao autuado sob o n. 18/96 na Vara daInfncia e da Juventude da comarca de Mafra. Alegou que, no mesmo perodo, iguaisinfraes penais foram-lhe imputadas na comarca de Itaipolis, sendopreventivamente preso, nos termos do procedimento autuado sob o n. 96.000090-0.Relatou ter sofrido diversas humilhaes e, no interior da Diretoria de InvestigaoCriminal - DEIC, veio a ser vtima de tortura para que confessasse a autoria de atoque no praticou. Afirmou que, aps os trmites legais, foi absolvido em ambos osprocessos mencionados. Diante da omisso do ente estatal no dever de zelar pelaboa investigao, o que gerou o indevido procedimento inquisitrio e jurisdicional,bem ainda o cerceamento do direito de liberdade, requereu a indenizao pelosdanos morais e materiais.

    O pedido de justia gratuita foi deferido (fl. 58) e, citado, orequerido apresentou contestao (fls. 61/158) sustentando que: 1) as prisestemporria e preventiva ocorreram na estrita legalidade, j que havia prova damaterialidade do crime e indcios da participao do autor, que, inclusive, tinhaconfessado a prtica delituosa; 2) as diligncias realizadas posteriormente afastaramas suspeitas sobre o autor; 3) a representao formalizada contra o autor no crimeocorrido na comarca de Itaipolis foi julgada improcedente, mas a afirmao de que"houve absolvio por negativa de autoria" inverdica, j que o delito permanecesem esclarecimento; 4) o autor, posteriormente, praticou o crime de latrocnio, sendocondenado pena de 23 (vinte e trs) anos de recluso, conforme o processo crimen. 041.97.000962-4; 5) o autor no comprovou ter sido torturado; 6) a prisoprovisria no ofende o princpio da presuno de inocncia; 7) a ao deve serjulgada improcedente, pois no h como responsabilizar civilmente o ente estatal nocaso concreto; 8) o montante indenizatrio pleiteado excessivo e causaenriquecimento ilcito, devendo ser arbitrado com prudncia e moderao pelomagistrado e 9) o pedido de penso mensal vitalcia indevida, pois o autor nosofreu qualquer dano que o impea de exercer atividade laborativa.

    Aps a contestao ter sido impugnada (fls. 160/164), o MinistrioPblico apresentou manifestao (fl. 166) e o digno magistrado designou a audincia

    Gabinete juiz Jnio Machado

  • preliminar (fl. 167), nela sendo rejeitada a proposta de conciliao (fl. 175). Naaudincia de instruo e julgamento (fl. 194), constatou-se que o autor no arroloutestemunhas, sendo inquiridas, por carta precatria, apenas as testemunhasindicadas pelo representante do Ministrio Pblico (fls. 188/191, fls. 207/209 e fls.211/212).

    Com as alegaes finais das partes (requerido s fls. 224/225 eautor s fls. 227/240), os autos foram ao Ministrio Pblico, que disse da ausncia deinteresse pblico a tutelar (fls. 243/244).

    O ilustre magistrado Flvio Borges Filho julgou improcedente opedido inicial e condenou o autor no pagamento das custas processuais e doshonorrios advocatcios, estes arbitrados em 15% (quinze por cento) sobre o valor dacausa, observando-se, contudo, o disposto no art. 12 da Lei. 1.060/50 (fls. 246/259).

    Irresignado, o autor interps recurso de apelao cvel (fls.264/279) com reiterao dos argumentos expostos na inicial, salientando aresponsabilidade objetiva do ente estatal em virtude de erro judicirio.

    O recurso foi recebido (fl. 282) e, com a resposta do apelado (fls.286/320), os autos ascenderam a esta Corte, aqui sendo colhida a manifestao dadouta Procuradoria-Geral de Justia, que foi pela desnecessidade de sua intervenono feito (fls. 327/331).

    VOTO

    O autor ajuizou a presente ao buscando a condenao doEstado de Santa Catarina no pagamento de indenizao por danos morais e materiaissofridos em razo de erro judicirio. Alegou, em sntese, que o seu direitoconstitucional de ir e vir foi cerceado por procedimento inquisitrio e jurisdicionalindevido.

    O ente estatal, na contestao, narrou com suficincia os fatosconstantes do processo, sendo importante transcrev-los:

    Tudo comeou com os estupros seguidos de morte de duas jovens. Oprimeiro, ocorrido em dezembro de 1994, na cidade de Mafra, quevitimou a jovem M A B, e o segundo, em maro de 1995, na cidade deItaipolis, e que teve como vtima a adolescente V J. Ambos os casosforam brbaros e extremamente violentos, e causaram uma enormerepercusso em ambos os municpios.A princpio foram presos preventivamente trs pessoas suspeitas deterem cometido os hediondos crimes: Claudionor Barbosa, WilsonRiola e Nilson Martins. Estes dois ltimos negaram sua participao nocrime e foram soltos. Mas Claudionor Barbosa confessou a suaparticipao nos fatos, tanto perante a autoridade policial, comoperante o Juzo de Mafra, onde admitiu a culpa em ambos os crimes,tendo ficado mantido sob custdia.

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  • Desde o incio dos fatos dizia-se que outros elementos haviamparticipado dos crimes, mas no se conseguia apurar quem eram.Ento, no comeo do ano de 1996 foi criada a Coordenadoria deInvestigaes Criminais do Ministrio Pblico de Santa Catarina, ecomo os hediondos crimes ainda no haviam sido resolvidos ataquele momento, os Promotores de Justia das comarcas de Mafra eItaipolis solicitaram o auxlio da recm criada coordenadoria. Esta,juntamente como a DEIC encaminharam um pedido aos Promotoresdaquelas comarcas para que obtivessem autorizao judicial para oru Claudionor Barbosa fosse recambiado DEIC de Florianpolis afim de prestar maiores esclarecimentos sobre os delitos.O pleito foi atendido, e Claudionor foi trazido DEIC, onde, napresena do ento Promotor de Justia Francisco de Assis Felipe(hoje Procurador de Justia) (doc. 01), poca Coordenador da novaCoordenadoria do Ministrio Pblico, foi interrogado trs dias seguidos(dias 19, 20 e 21 de abril de 1996) (doc. 01), e ento forneceu osnomes dos outros partcipes.Claudionor, nestas condies, confirmou o nome de Nilson CsarPacheco, que era um dos primeiros suspeitos, que tambm foi trazidopara a DEIC a fim de prestar esclarecimentos. Na DEIC, em 26 deabril de 1996, ele confessou sua participao nos crimes e envolveuoutros nomes.Entre estes partcipes mencionados por Claudionor e Nilson figurava onome do ora autor.Em vista desses depoimentos que descreviam minuciosamente crimesbrbaros e extremamente violentos, na comarca de Mafra, foi pedidopelo Promotor, a priso temporria de quatro pessoas, ente elas o oraautor Oscar Pedroso (doc. 02).O Magistrado daquela comarca tendo constatado a presena dosrequisitos para a decretao da priso temporria determinou, no dia27 de maro de 1996, que os novos envolvidos fossem presos (doc.02).Tendo sido preso, o autor da presente demanda, no dia 29 de marode 1996, na presena do Promotor de Justia Francisco de AssisFelipe, foi interrogado na Delegacia de Polcia de Mafra (doc. 02).Neste primeiro interrogatrio (que no ocorreu na DEIC) o autordescreveu os fatos de maneira coerente e detalhada e confessou terparticipado dos estupros. Disse, inclusive, que no crime de Mafra,manteve relaes sexuais com a vtima antes e depois da mesmaestar morta.No mesmo dia, foram, ainda, interrogados Adriano Fernandes Rocha eJos Silvano Fernandes (doc. 02). Tudo isso na presena do mesmoPromotor de Justia. Em ambos depoimentos, novamente o nome doautor foi envolvido.

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  • Aps os interrogatrios, foi constatada a menoridade do autor pocados fatos, e o representante do Ministrio Pblico requereu arevogao da sua priso temporria. Diante desse requerimento, oMagistrado da comarca de Mafra revogou a priso temporria deOscar Pedroso (doc. 02).Foi ento requerida a internao provisria de todos os menoresenvolvidos nos fatos delituosos, incluindo neste ato, o autor OscarPedroso (doc. 03).No termo de apresentao do adolescente, confeccionado naPromotoria da comarca de Mafra, no dia 03 de abril de 1996, napresena de trs Promotores de Justia, os Drs. Pedro RobertoDecomain, Abel Antunes de Melo e Cid Luiz Ribeiro Schmitz (doc. 03),o autor novamente descreveu os crimes e sua participao nosmesmos.

    No documento 02 pode-se, ainda, constatar que, no dia 9 de abril de1996, na Promotoria de Mafra, na presena daqueles mesmos trsPromotores, foram tomados os depoimentos dos seguintes envolvidos:Claudionor Barbosa, que novamente descreveu os atos e deu osnomes dos envolvidos; Wilson Riola, que negou sua participao noscrimes e disse que foi torturado na DEIC para confessar; Jos SilvanoFernandes, que negou sua participao nos crimes e disse ter sidotorturado na DEIC; Nilson Csar Pacheco, que disse no terparticipado dos crimes, e ter sido ameaado de apanhar na DEIC;Adriano Fernandes Rocha, que confirmou sua participao nos crimes;Nilson Martins, que tambm negou sua participao nos crimes, eafirmou ter sido ameaado de ser afogado na DEIC; Oscar Pedroso,ora autor, que, novamente, no negou os fatos e nem alegou ter sidotorturado.Diante das alegaes de terem sofrido tortura, foi realizado exame decorpo-delito em Jos Silvano Fernandes, Nilson Martins, Wilson Riolae Nilson Csar Pacheco (doc. 02). Em nenhum deles foramconstatados sinais de tortura. Apenas Jos Silvano Fernandes tinhamarcas de algemas em seus punhos.Ainda no ms de abril, na comarca de Itaipolis, onde o outro estuproseguido de morte havia acontecido, o Promotor pediu a prisopreventiva de cinco acusados e aditou a denncia (doc. 04).No dia 10 de julho de 1996, aps diversas investigaes, comeou-sea chegar aos verdadeiros culpados pelo crime ocorrido na cidade deMafra. Diante disso, o Ministrio Pblico pediu a revogao da prisopreventiva de Claudionor Barbosa, Wilson Riola, Nilson Martins, JosSilvano Fernandes, Oscar Pedroso, Nilson Csar Pacheco e EmersonAdriano Wagner.Por fim, o crime de Mafra foi solucionado e descobriu-se que osculpados eram pessoas totalmente distintas das que primeiro haviamsido acusadas. O crime de Itaipolis nunca foi solucionado. Mas todos

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  • aqueles que foram os primeiros suspeitos dos crimes foram absolvidosem ambas as comarcas. (Fls. 62/65).

    Consta dos autos que, no dia 27.3.1996, o digno magistradoFrancisco Jos Rodrigues de Oliveira Neto decretou a priso temporria do autor comfundamento no art. 1, inciso III, alnea "f", da Lei n. 7.960, de 21.12.1989, j que osdepoimentos colhidos foram unnimes e contundentes em apontar a sua participaono crime de estupro seguido de morte ocorrido na comarca de Mafra (fls. 96/97).Posteriormente, verificou-se que o autor era menor na poca dos fatos, sendorevogada a priso temporria (fl. 107) e decretada, na data de 2.4.1996, a suainternao provisria com base no art. 108 do Estatuto da Criana e do Adolescente(fls. 29/30). No dia 3.4.1997, a representao que imputava ao autor a prtica doscrimes capitulados nos arts. 213, "caput"; 214, "caput"; 69, "caput"; 223, pargrafonico; 29 e 288, todos do Cdigo Penal, foi julgada improcedente (fls. 132/135).Nota-se que crime idntico ocorreu na comarca de Itaipolis, sendo que a prisopreventiva decretada contra o autor foi revogada em 24.6.1996 (fls. 145/146).

    Durante a instruo processual, colheu-se o depoimento dospromotores de justia Pedro Roberto Decomain (fls. 188/189), Abel Antunes de Mello(fl. 208), Cid Luiz Ribeiro Schmitz (fl. 209) e Francisco de Assis Felipe (fl. 212), queatuaram no caso concreto. Da prova testemunhal, extrai-se que a segregaocautelar do autor foi embasada em indcios fortes de sua participao no crime,havendo inclusive confisso da prtica delituosa, o que s foi afastado em momentoposterior, quando se obteve novas informaes. Depreende-se, tambm, que aprtica de tortura foi negada pelas testemunhas e o autor no obteve xito emcomprov-la, nus esse que lhe competia (art. 333, inciso I, do Cdigo de ProcessoCivil).

    O exame atento dos autos revela que a segregao provisria doautor deu-se mediante o preenchimento dos requisitos legais e a expedio dedecreto fundamentado. Assim, ausente qualquer ilegalidade na conduta dos agentespblicos, a indenizao pleiteada mostra-se indevida.

    Convm ressaltar que caso semelhante ao presente - prisopreventiva revogada pela supervenincia de deciso absolutria - foi apreciado pelaCmara, cujo resultado conforta o decidido em primeiro grau:

    RESPONSABILIDADE CIVIL PRISO PREVENTIVA ABSOLVIO POR INSUFICINCIA DE PROVAS RU PRESO EPOSTERIORMENTE ABSOLVIDO DESCABIMENTO DEINDENIZAO - PRISO PREVENTIVA REGULARMENTEDECRETADA RECURSO DESPROVIDO.A jurisprudncia deste Tribunal de Justia vem entendendo que apriso provisria, quando preenchidos seus pressupostos legais, nod ensejo indenizao, ainda que o detido posteriormente sejadeclarado inocente. (Apelao cvel n. 2007.061010-1, de Sombrio,Quarta Cmara de Direito Pblico, relator o desembargador AnselmoCerello, j. em 15.1.2008. Disponvel em: .

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  • Acesso em: 17 jun. 2009).Confira-se, a respeito do que foi tratado, precedentes desta

    Corte:CIVIL - INDENIZAO - DANOS MORAIS - ESTADO -RESPONSABILIDADE CIVIL - PRISO TEMPORRIA -ILEGALIDADE OU ABUSO - INOCORRNCIAO decreto judicial de priso temporria, quando suficientementefundamentado e obediente aos pressupostos que o autorizam, no seconfunde com o erro judicirio a que alude o inc. LXXV do art. 5 daConstituio da Repblica, mesmo que o ru ao final do processovenha a ser absolvido ou tenha sua sentena condenatria reformadana instncia superior.Interpretao diferente implicaria a total quebra do princpio do livreconvencimento do juiz e afetaria irremediavelmente sua seguranapara avaliar e valorar as provas, bem assim para adotar ainterpretao da lei que entendesse mais adequada ao caso concreto.(Apelao cvel n. 2006.048061-5, da Capital, Terceira Cmara deDireito Pblico, relator o desembargador Luiz Czar Medeiros, j. em15.5.2007. Disponvel em: . Acesso em: 17jun. 2009).

    Some-se:APELAO CVEL. AO DE REPARAO DE DANOS.RESPONSABILIDADE DO ESTADO. PRISO PREVENTIVA.POSTERIOR ABSOLVIO PELO TRIBUNAL DO JRI. PRIVAODE LIBERDADE EFETUADA EM CONFORMIDADE COM OSDITAMES LEGAIS. INDCIOS DE AUTORIA E PROVA DAMATERIALIDADE DELITIVA. FATOS QUE EXIGIAM APURAO.ERRO JUDICIRIO NO EVIDENCIADO. INDENIZAODESCABIDA. SENTENA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.Uma vez suficientemente fundamentado e consoante aospressupostos que o autorizam, o decreto judicial de priso preventivano se confunde com o erro judicirio a que alude o inc. LXXV do art.5 da Constituio da Repblica, no obstante o ru venha a serabsolvido ou tenha sua sentena condenatria reformada na instnciasuperior.Consistindo as prises cautelares (flagrante e preventiva) em merosindcios de autoria e materialidade do delito, no h que se falar emilegalidade nos procedimentos, uma vez que, nessa fase, h que selevar em conta o princpio do in dubio pro societate, ou seja, a dvida resolvida em favor do interesse da sociedade, no se exigindo, paratanto, prova exauriente de autoria.Desse modo, preenchidos os requisitos legais para o encarceramentodo demandante, no h que se falar em indenizao de prejuzosextrapatrimoniais. (Apelao cvel n. 2006.000059-6, da Capital,

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  • Segunda Cmara de Direito Pblico, relator o juiz Ricardo Roesler, j.em 6.5.2008. Disponvel em: . Acesso em: 17jun. 2009).

    E tambm:Apelao cvel. Responsabilidade civil do Estado. Ao deindenizao por danos morais. Priso Temporria. Posteriorrevogao. Priso processual efetuada dentro dos limites legais. Errojudicirio. Inocorrncia. Recurso desprovido.O decreto judicial de priso temporria, quando fundamentado eobediente aos pressupostos autorizadores do crcere provisrio, noenseja a indenizao prevista no art. 5, LXXV da Carta Magna, aindaque o re venha a ser absolvido, uma vez que nesse caso no h falarem erro judicirio. (Apelao cvel n. 2004.005331-2, de Tubaro,Terceira Cmara de Direito Pblico, relator desembargador PedroManoel Abreu, j. em 19.8.2008. Disponvel em:. Acesso em: 17 jun. 2009).

    Ainda:INDENIZAO. PRISO TEMPORRIA. AUSNCIA DEDEMONSTRAO DA ILEGALIDADE DO ATO. AUSNCIA DEOBRIGAO DE INDENIZAR EM FACE DO EXERCCIO REGULARDA PERSECUO CRIMINAL. MANUTENO DA SENTENA.RECURSO DESPROVIDO.A priso temporria, assim como as outras modalidades de prisocautelar, provisria. Por isso, se o ato de decretao foifundamentado, no gera para o Estado obrigao alguma deindenizar, por dano moral, a posterior revogao por ausncia deprovas da materialidade do delito, tendo em vista ser ato depersecuo penal, em face do poder punitivo do estatal (Ap. Cv. n.2003.017458-3, de Ararangu, rel. Des. Nicanor da Silveira,31-3-2005). (Apelao cvel n. 2007.038482-8, da Capital, PrimeiraCmara de Direito Pblico, relator o Vanderlei Romer, j. em10.10.2007. Disponvel em: . Acesso em: 17jun. 2009).

    Mais:RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO PRISESCAUTELARES FLAGRANTE E PREVENTIVA SENTENACRIMINAL ABSOLUTRIA INDENIZAO POR DANOSMATERIAIS E MORAIS PRIVAO DE LIBERDADE EFETIVADADENTRO DOS REQUISITOS LEGAIS INDCIOS DE AUTORIA EPROVA DA MATERIALIDADE DELITIVA IN DUBIO PROSOCIETATE REPARAO INDEVIDA.Tendo as prises cautelares (flagrante e preventiva) se baseado emmeros indcios de autoria e materialidade do delito, no h que se falarem ilegalidade nos procedimentos, mesmo porque, nessa fase, milita o

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  • princpio do in dubio pro societate, ou seja, a dvida resolvida emfavor do interesse da sociedade, no se exigindo, para tanto, provaexauriente de autoria.Logo, preenchidas as formalidades legais para a privao da liberdadeda demandante indevida a composio dos alegados prejuzosextrapatrimoniais. (Apelao cvel n. 2006.032986-7, da Capital,Primeira Cmara de Direito Pblico, relator o desembargador VolneiCarlin, j. em 5.7.2007. Disponvel em: .Acesso em: 17 jun. 2009).

    Essa a orientao que vem do Superior Tribunal de Justia:PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - PRISO PREVENTIVAE POSTERIOR ABSOLVIO POR FALTA DE PROVAS -RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - NECESSIDADE DECONSTATAO DA ILEGALIDADE DO DECRETO PRISIONAL -REEXAME DE PROVAS - DISSDIO JURISPRUDENCIAL NODEMONSTRADO - INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL.1. Esta Corte tem firmado o entendimento de que a priso preventiva,devidamente fundamentada e nos limites legais, inclusive temporal,no gera o direito indenizao em face da posterior absolvio porausncia de provas. Precedentes.2. Na mesma linha, tem decidido que avaliar se a priso preventivacaracterizou erro judicirio enseja reexame de provas, sendo invivelem recurso especial (Smula 7/STJ). Precedentes.3. Ausente o cotejo analtico e no demonstrada similitude ftica entreos acrdos recorrido e paradigma, no se conhece do recursoespecial pela alnea "c".4. Recurso especial no conhecido. (Recurso especial n. 911641, doMato Grosso do Sul, Segunda Turma, relatora a ministra ElianaCalmon, j. em 7.5.2009. Disponvel em: .Acesso em: 17 jun. 2009).

    No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal j decidiu:CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CIVIL.RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO: ATOS DOS JUZES. C.F.,ART. 37, 6. I. - A responsabilidade objetiva do Estado no se aplicaaos atos dos juzes, a no ser nos casos expressamente declaradosem lei. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. II. - Decreto judicialde priso preventiva no se confunde com o erro judicirio C.F., art.5, LXXV mesmo que o ru, ao final da ao penal, venha a serabsolvido. III. - Negativa de trnsito ao RE. Agravo no provido.(Agravo regimental no recurso extraordinrio n. 429518, de SantaCatarina, Segunda Turma, relator o ministro Carlos Velloso, j. em5.10.2004. Disponvel em: . Acesso em: 17 jun.2009).

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  • Esta Cmara, em sesso de 7.5.2009, apreciou os fatosenvolvendo a internao provisria de Marcelo Hasselmann Bednarzuk, includo namesma deciso judicial de fls. 29/30, em face do pedido indenizatrio formulado porele e seus pais. E a concluso a que se chegou naquela oportunidade foi a mesmaque ora se oferta para debate e reflexo (apelao cvel n. 2007.030967-9, da Capital,de minha relatoria).

    O autor afirmou, tambm, que houve omisso do Estado no deverde zelar pela boa investigao, o que teria gerado o indevido procedimentoinquisitrio e jurisdicional, bem ainda o cerceamento do seu direito de liberdade.Contudo, deve-se afastar tal alegao, pois, como j dito anteriormente, no hqualquer ilegalidade na conduta dos agentes pblicos.

    Sabe-se que a responsabilidade civil objetiva, a partir da regrainserida no art. 37, 6, da Constituio Federal, surge no instante em que o Estado,por seus agentes, causa dano a algum, no se cuidando de indagar se agiu comculpa, sendo suficiente a demonstrao do fato danoso e da relao de causalidade.Mas, se a responsabilidade civil buscada do Estado tem por suporte a omisso, outraser a soluo a adotar, prevalecendo a compreenso de que, em tais circunstncias,faz-se necessria a prova do elemento culpa:

    53. Quando o dano foi possvel em decorrncia de uma omisso doEstado (o servio no funcionou, funcionou tardia ou ineficientemente) de aplicar-se a teoria da responsabilidade subjetiva. Com efeito, se oEstado no agiu, no pode, logicamente, ser ele o autor do dano. E,se no foi o autor, s cabe responsabiliz-lo caso esteja obrigado aimpedir o dano. Isto : s faz sentido responsabiliz-lo se descumpriudever legal que lhe impunha obstar ao evento lesivo.Deveras, caso o Poder Pblico no estivesse obrigado a impedir oacontecimento danoso, faltaria razo para impor-lhe o encargo desuportar patrimonialmente as conseqncias da leso. Logo, aresponsabilidade estatal por ato omissivo sempre responsabilidadepor comportamento ilcito. E, sendo responsabilidade por ilcito, necessariamente responsabilidade subjetiva, pois no h condutailcita do Estado (embora do particular possa haver) que no sejaproveniente de negligncia, imprudncia ou impercia (culpa) ou,ento, deliberado propsito de violar a norma que o constitua emdada obrigao (dolo). Culpa e dolo so justamente as modalidadesde responsabilidade subjetiva.54. No bastar, ento, para configurar-se responsabilidade estatal, asimples relao entre ausncia do servio (omisso estatal) e o danosofrido. Com efeito: inexistindo obrigao legal de impedir um certoevento danoso (obrigao, de resto, s cogitvel quando hajapossibilidade de impedi-lo mediante atuao diligente), seria umverdadeiro absurdo imputar ao Estado responsabilidade por um danoque no causou, pois isto equivaleria a extra-la do nada; significariapretender instaur-la prescindindo de qualquer fundamento racional ou

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  • jurdico. Cumpre que haja algo mais: a culpa por negligncia,imprudncia ou impercia no servio, ensejadoras do dano, ou ento odolo, inteno de omitir-se, quando era obrigatrio para o Estado atuare faz-lo segundo um certo padro de eficincia capaz de obstar aoevento lesivo. Em uma palavra: necessrio que o Estado hajaincorrido em ilicitude, por no ter acorrido para impedir o dano ou porhaver sido insuficiente neste mister, em razo de comportamentoinferior ao padro legal exigvel. (Grifo no original). (MELLO, CelsoAntnio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 25. ed. rev. eatual. So Paulo: Malheiros, 2008, p. 996-997).

    Em igual sentido a lio de Lcia Valle Figueiredo:No tocante aos atos ilcitos decorrentes de omisso devemos admitirque a responsabilidade s poder ser inculcada ao Estado se houverprova de culpa ou dolo do funcionrio. Esta a posio do Prof. CelsoAntnio Bandeira de Mello e do ilustre, querido e saudoso mestreOswaldo Aranha Bandeira de Mello.Deveras, ainda que consagre o texto constitucional a responsabilidadeobjetiva, no h como se verificar a adequabilidade da imputao aoEstado na hiptese de omisso, a no ser pela teoria subjetiva.Assim porque, para se configurar a responsabilidade estatal pelosdanos causados, h de se verificar (na hiptese de omisso) se era dese esperar a atuao do Estado.Em outro falar: se o Estado omitiu-se, h de se perquirir se havia odever de agir. Ou, ento, se a ao estatal teria sido defeituosa aponto de se caracterizar insuficincia da prestao de servio.No h como provar a omisso do Estado sem antes provar quehouve faute de service. dizer, no ter funcionado o servio, terfuncionado mal ou tardiamente. (Curso de direito administrativo. 8. ed.rev., ampl. e atual. So Paulo: Malheiros, 2006, p. 281).

    A responsabilizao do ente estatal por omisso genrica, semmaiores cuidados, levaria concluso de que todo e qualquer evento danoso, emresumo, seria levado sua conta, o que se mostra desarrazoado:

    O Estado no tem, por cento, o dever de tudo prover e de tudo cuidar.Apesar de ter muito poder, tambm no pode tudo. No pode, porexemplo, impedir que fatos externos, inevitveis e irresistveis, causemprejuzos aos particulares, ou que terceiros matem, roubem ou lesempor qualquer modo seus semelhantes. Seria, assim, claramenteimpensvel estender a responsabilidade do Estado a todos os eventosdanosos, dando-lhe o carter de responsabilidade objetiva. S na ilhada Utopia seria talvez concebvel um sistema assim. Compreende-se,pois, que a responsabilidade do Estado, quando o dano resulta deuma ao de terceiro ou de fora maior, s surgir quando sedemonstre que o Estado cooperou, por culpa de seus agentes ou porculpa annima ou por falha do servio, para que o dano se produzisse.

    Gabinete juiz Jnio Machado

  • Em tais circunstncias a conduta do Estado s se qualificar comoconcausa do evento, se existir violao, por parte do Poder Pblico, deum dever jurdico preexistente, porquanto os deveres que tem comrelao aos particulares so limitados, como j se deixou entrever.(...).Nos casos em que h concausa e em que a ao ou omisso doEstado est relacionada com atividades perigosas por eledesempenhadas (p.ex., exerccios militares) ou com mtodosperigosos por ele adotados (p.ex., tratamento de insanos mentais emregime de liberdade) ou com coisas e pessoas perigosas de que tem aguarda (p.ex., explosivos, material radioativo, presidirios),suscitam-se algumas questes interessantes. Assim, na maior partedessas hipteses, se o dano estiver diretamente relacionado com orisco assumido pelo Estado, a responsabilidade deste ser objetiva.Em caso contrrio, s poder ser ele responsabilizado se ficarcomprovada a culpa do agente ou a falha do servio e existir,obviamente, nexo de causalidade. Desse modo, os prejuzos sofridospor pessoas que se encontravam nas proximidades deestabelecimento correcional e que foram assaltadas por presidiriosdeve evadidos do origem responsabilidade objetiva do Estado.Diversa ser a soluo, quando o evento danoso ocorrer em lugardistanciado do abrangido pelo risco ou tendo o evento danoso ocorridomuito tempo depois da fuga. (SILVA, Almiro do Couto e. Aresponsabilidade extracontratual do Estado no direito brasileiro.Revista de direito administrativo, Rio de Janeiro, v. 202, out./dez.1995, p. 32).

    Em sendo assim, a sentena proferida pelo digno magistradoFlvio Borges Filho deve ser mantida inclume para o fim de rejeitar o pleitoindenizatrio por erro judicirio.

    DECISOAnte o exposto, a Quarta Cmara de Direito Pblico,

    unanimidade, nega provimento ao recurso.O julgamento, realizado no dia 2 de julho de 2009, foi presidido

    pelo desembargador Jos Volpato de Souza, com voto, e dele participou odesembargador Jaime Ramos.

    Funcionou como representante do Ministrio Pblico o procuradorAntenor Chinato Ribeiro.

    Florianpolis, 7 de julho de 2009.Jnio Machado

    RELATOR

    Gabinete juiz Jnio Machado