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Conforme novo acordo ortográfcio da língua portuguesa ratificado em 2008.

Os direitos autorais desta obra foram cedidos pelo médium Wanderley Oliveira à Sociedade Espírita Ermance Dufaux (SEED). Todos os direitos reservados à Editora Dufaux. É proibida a sua reprodução parcial ou total através de qual-quer forma, meio ou processo eletrônico, digital, fotocópia, microfilme, inter-net, cd-rom, dvd, dentre outros, sem prévia e expressa autorização da editora, nos termos da Lei 9.610/98 que regulamenta os direitos de autor e conexos.

O LADO OCULTO DA TRANSIÇÃO PLANETÁRIA

Copyright © 2014 by Wanderley Oliveira

1ª Edição | novembro de 2014 | 1º ao 10º milheiro

Dados Internacionais de Catalogação Pública

CRAVO, Maria Modesto (Espírito)

O Lado Oculto da Transição Planetária

Maria Modesto Cravo (Espírito): psicografado por Wanderley Oliveira.

EDITORA DUFAUX: Belo Horizonte, MG. 2014

288p. 16 x 23 cm

ISBN: 978-85-63365-57-6

1. Espiritismo 2. Psicografia

I. OLIVEIRA, Wanderley II. Título

CDU 133.3

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

Presita en Brazilo

Editora DufauxR. Oscar Trompowski, 810 - Bairro Gutierrez30441-123 - Belo Horizonte - MG - BrasilTelefone: (31) [email protected]

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Prefácio | 08A luz raiou nos abismos – Bezerra de Menezes

Introdução | 14 O lado oculto da transição planetária –

Maria Modesto Cravo

1 | 24Tratando um caso de magia

2 | 42Tratamentos espirituais e antigoécia

3 | 64Desdobramento pelo sono – alertas

4 | 80O muro que separa as pessoas

5 | 104Mediunidade e homossexualidade

6 | 134A alma dos grupos espíritas

7 | 160Dirigentes também precisam de ajuda

8 | 186Parceria nos serviços mediúnicos

9 | 208Irmão Ferreira e a semicivilização

10 | 238Defesas nos serviços com o submundo astral

Entrevista com dona Modesta | 258

Ponderações sobre experiências mediúnicas com o submundo astral | 270

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PrefácioA luz raiou nos abismos

“O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte

a luz raiou.”

Mateus 4:16.

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Jesus, o benfeitor amorável, convoca cooperadores para o saneamento das esferas sombrias do mundo espiritual.

O Espiritismo inaugurou a era em que se abrem as por-tas para que o homem encarnado enxergue a extensão de sua família espiritual pelos sagrados laços da alma.

Bem-aventurado o servidor do bem que acende uma tocha de luz nas furnas da escuridão.

Bem-aventuradas as caravanas da bondade que se des-prendem do corpo material durante a noite para secar as lágrimas dos atormentados pela solidão.

Padecimentos mentais e dores da alma são aliviados nos espíritos sofridos quando os raios da oração alcan-çam os tenebrosos vales do desespero.

Velhos grilhões da obsessão são rompidos ao propiciar aos vingadores enlouquecidos um momento de sossego.

Que o manto luminoso de Maria de Nazaré recaia so-bre os umbrais e transforme a dor em renascimento no berço carnal.

Nossos laços afetivos têm raízes concretas com os abismos astrais, arquivados em nossa vida mental. Ampliemos nossos conceitos arraigados para enten-dermos as realidades que se desenrolam nas furnas da maldade organizada. Lá, onde reside nossa família es-piritual, também é a casa de Deus.

A regeneração planetária tão desejada é uma estrada luminosa que passa pelos desfiladeiros expiatórios. Um mundo melhor depende da canalização da mise-ricórdia celestial para esses lugares de tanta carência e desorientação.

Nesse momento, em que os tutores celestes lançam seus olhares e suas ações para que as trevas sejam ilumi-nadas pela força do amor, os aprendizes do Evangelho são chamados para se alistarem nas frentes destemidas de trabalho e socorro.

A inclusão espiritual dos umbrais é insubstituível me-dida de amor para os tempos novos da Terra.

A luz raiou nas mais insensíveis organizações da malda-de, anunciando os tempos novos até para aqueles que têm o coração voltado para a tirania e o ódio. “O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz;”.

A mediunidade cristã, orientada pela caridade e pela abnegação, constitui-se numa ponte entre o céu e o in-ferno, unindo planos distintos da vida numa dinâmica de apoio e redenção.

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Que a coragem dos trabalhadores espíritas transponha o muro dos conceitos endurecidos e permita que mui-tas frentes de serviço e socorro estendam generosas oferendas de consolo, alívio, esperança e luz aos queri-dos irmãos paralisados nesses lugares sombrios.

Se Jesus Se encontra nessa tarefa de purificar os pân-tanos astrais, na base da atual transição planetária, nós, que dizemos amá-Lo, devemos seguir Seus passos. Apressemo-nos em oferecer nossa humilde colaboração.

Que o Mestre nos permita depositar sobre a mesa espi-ritual de muitos grupos mediúnicos, em sintonia com essa proposta de amor, o pergaminho que celebre a parceria na ampliação das frentes de serviço pela rege-neração de nossa casa terrena.

Muita paz aos meus filhos amados e que o Senhor da vinha lhes cubra de alegrias no esforço de cada dia.

Bezerra de Menezes.Belo Horizonte, agosto de 2014.

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IntroduçãoO lado oculto da

transição planetária

“A Humanidade tem realizado, até ao presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a

resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes

ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que

lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui--lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições

antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo

dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para

isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho.”

Allan Kardec.A gênese, capítulo 18, item 5.

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Bilhões de almas no planeta, seja no corpo físico ou fora dele, clamam por esperança e paz.

Esperança para que suas vidas tenham sentido e rumo. Paz para que consigam avançar na direção do progres-so necessário e possam se libertar dos sítios de dor nos quais se encontram há milênios.

No plano astral das grandes megalópoles ou mesmo em lugarejos desconhecidos e menos povoados ao re-dor do planeta Terra, encontram-se colônias de um submundo formado por esses espíritos desencarnados. Nelas existe penúria e injustiça, dor e doença, fome e loucura, submetendo-os a sofrimentos inenarráveis. E eles aguardam a nossa colaboração.

Por conta dessa carga vibratória ignorada pelo homem mentalmente dominado pelo materialismo, pesa sobre a economia das nações em desenvolvimento um ônus que não é apresentado nos tribunais do mundo nem nos projetos de assistência social dos órgãos públicos que, hoje em dia, é capaz de gerar reflexos substanciais

na sociedade dos encarnados. A vida astral padece de nutrição, orientação, socorro, acolhimento e alívio.

Comunidades inteiras se deslocaram, no século 20, por causa das inúmeras mutações sociais e das alterações ecológicas, em ambos os planos da vida. Muitas mudan-ças aconteceram na vida espiritual da Terra mesclando a sombra e a luz, o plano físico e o espiri tual, criando cenários jamais vistos em todos os tempos da história.

Vemos hoje o desejo incontrolável dos jovens encar-nados de permanecerem horas nos shoppings centers das grandes cidades, sendo sustentados por espíritos ociosos do plano espiritual, padecendo todos da terrí-vel doença da sensação de inutilidade.

Nos lugares de diversão, onde os encarnados se em-bebedam de prazer e fuga, vamos encontrar formas de vida astralina, estranhas e perigosas, infestando os ambientes de vírus e bactérias, incentivando, no pla-no físico, a mutação de doenças desconhecidas e de difícil diagnóstico.

Nos templos de qualquer religião, a luz da oração cos-tuma enlaçar, abruptamente, almas em completa de-mência ou desespero, para que se envolvam no calor das vibrações e das palavras que lhes acalmam e lhes agasalham do frio das intempéries mentais.

Um simples restaurante de portas abertas para a rua pode tornar-se pasto de usufruto coletivo de desen-carnados atordoados pela fome e pela ganância, supli-cando um pedaço de carne. A mendicância física que é

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vista na porta de uma padaria, de uma loja de gulosei-mas ou de um ambiente comercial não é nada compa-rado com a espiritual.

Quem vê as cracolândias1 nas grandes capitais do país nem imagina os grupos de viciados que se formam no astral dos grandes centros urbanos, onde a vida acon-tece com os mais variados interesses escusos e onde se movimentam as ações de ganho das empresas e orga-nizações do plano físico.

O submundo já não se comporta nas regiões subcrostais da Terra e se transpôs para as avenidas e escolas, prisões e templos, barracos e mansões, instituições e centros de la-zer. O inferno literalmente se deslocou para o solo terreno.

Quem vê a situação dos países subdesenvolvidos, com as pessoas comendo barro2, pode ter uma noção dos quadros cruéis de dor espiritual em decorrência do fato de que na vida física avançam os casos de desperdício dos que têm em abundância.

O superpovoamento é também astral, causando uma sensação de sufoco e de perda generalizada que a

1 Cracolândia (por derivação de crack) é uma denominação popular para uma região, normalmente situada nos centros das capitais, onde se desenvolve intenso tráfico de drogas.

2 No Haiti, mulheres preparam biscoito de barro para alimentar seus filhos famintos e desnutridos. A receita desse biscoito é simples: ar-gila, água e sal. Forma-se uma pasta amarela, moldada em peque-nos círculos. O cozimento fica por conta do sol infernal: em pouco mais de uma hora, o biscoito estará pronto para ser consumido.

maioria dos homens reencarnados não identifica cla-ramente, mas que os faz padecer todos os dias em seus pensamentos e sentimentos. Todos já são capazes de sentir o peso psíquico do planeta.

O lado oculto da transição planetária é um movimento que marcha acelerado e intensamente repleto de efeitos no mundo físico. Os dois planos da vida estão tão inti-mamente entrelaçados que, em certos episódios, como o “11 de Setembro”, fica difícil conceber se os aviões foram atirados nas Torres Gêmeas3 por homens ou por espí-ritos, tamanha identidade de propósitos e de condutas.

O fundamentalismo e a política, a educação e a reli-gião, a cultura e arte, a guerra e a corrupção, a ganância e o desejo de domínio estão estreitamente conectados com as mais surpreendentes manifestações de falanges trevosas no mundo dos espíritos.

Quaisquer frentes de serviço no bem que se abram para os serviços no submundo são como uma caravana co-rajosa que corta os desertos e as sombras da noite para levar água e comida, alívio e acolhimento aos padeci-mentos e necessidades de quantos se encontrem nessa esfera astral da Terra.

Aqui, no plano espiritual, a matéria que os médiuns no corpo físico podem oferecer a tais iniciativas é

3 As Torres Gêmeas do complexo empresarial do World Trade Center, na cidade de Nova York, USA, foram destruídas por ataques terro-ristas em 11 de setembro de 2001.

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1.Tratando um caso de magia

“Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante

do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta.”

Mateus 5:23-24.

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A nossa equipe do Hospital Esperança1 chegou ao Grupo Espírita Fraternidade (GEF) pontualmente às dezenove horas e trinta minutos. O local estava lotado. Estavam presentes, naquela noite, José Mário2, nosso coordenador de serviços mediúnicos, Inácio Ferreira3

1 O Hospital Esperança é uma obra de amor erguida por Eurípedes Barsanulfo no mundo espiritual. Seu objetivo é amparar os seguidores de Jesus que se deparam com aflições e culpas conscienciais após o desencarne. Informações mais detalhadas sobre o hospital podem ser encontradas no livro Lírios de esperança, obra de autoria espiritual de Ermance Dufaux e psicografia de Wanderley Oliveira, Editora Dufaux.

2 José Mário é o autor espiritual da trilogia composta pelos livros Quem sabe pode muito. Quem ama pode mais, Quem perdoa liber-ta e Servidores da luz na transição planetária, psicografada por Wanderley Oliveira, Editora Dufaux.

3 Inácio Ferreira de Oliveira (Uberaba, 15 de abril de 1904 – idem, 27 de setembro de 1988). Foi um médico psiquiatra espírita brasi-leiro. Observou, sem ideias preconcebidas, os diferentes fatos neu-ropsíquicos relacionados com os enfermos internados no Sanatório Espírita de Uberaba, do qual seria diretor clínico por mais de cinco décadas, tendo verificado a eficácia da terapia espírita para a cura de distúrbios mentais e/ou obsessivos. Nesse trabalho, a médium

e a equipe de defesa do irmão Ferreira4, com mais de quarenta colaboradores.

Irmão Ferreira, também conhecido entre nós como o cangaceiro5 do Cristo, distribuiu sua equipe de defesa às

dona Maria Modesto Cravo (mais conhecida como dona Modesta), o enfermeiro-chefe, Manoel Roberto da Silva, além de outros coope-radores, lhe foram de inestimável valia.

4 Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo ape-lido de “Rei do Cangaço”. Irmão Ferreira é excelente trabalhador das regiões abismais. Graças à sua índole corajosa e ao seu incom-parável poder mental, tornou-se o que se pode chamar, segundo dona Modesta, um cangaceiro do Cristo. Tendo vivido as lides do cangaço brasileiro, pernoitou longos anos de sofrimento em psicos-feras pestilenciais, adquirindo vasta experiência sobre a maneira de atuação das trevas. Após essa etapa, resgatado a pedido de Jesus e destinado a Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo, passou a compor o esquadrão de servidores da defesa no Hospital Esperança. Reforma íntima sem martírio, capítulo 27, Editora Dufaux.

5 No final do século 19, surgiram no Nordeste brasileiro grupos de ho-mens armados conhecidos como cangaceiros. Esses grupos aparece-ram em função, principalmente, das péssimas condições sociais da região nordestina. O latifúndio, que concentrava terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava às margens da sociedade a maioria da população. Os cangaceiros, que andavam em bandos armados, espa-lhavam o medo pelo sertão nordestino. Promoviam saques a fazen-das, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção de resgates. Aqueles que respeitavam e acatavam as ordens dos cangaceiros não sofriam; pelo contrário, eram muitas vezes aju-dados. O grupo mais conhecido e temido da época foi o comandado por Lampião. Seu bando atuou pelo sertão nordestino durante as dé-cadas de 1920 e 1930. Depois do fim do bando de Lampião, os outros grupos de cangaceiros, já enfraquecidos, foram se desarticulando até o cangaço se extinguir, no final da década de 1930.

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portas da casa, agregando seu contingente a quase du-zentos outros colaboradores que se destacavam pelos cuidados de segurança espiritual naquela agremiação.

Informações atualizadas dos censos espirituais nos dão notícias de que o planeta Terra tem aproximadamen-te 35 bilhões de espíritos. Sete bilhões deles estão na vida física e 28 bilhões nas diversas faixas espirituais próximas ao planeta, divididos em vários estágios de evolução e aprimoramento.

Fazendo as contas, são quatro espíritos para cada pes-soa reencarnada. Em uma casa como o GEF, com apro-ximadamente 180 pessoas envolvidas nas atividades, vamos ter como resultado mais de setecentos espíritos compondo a família astral daquele lugar.

As contas nem sempre são assim tão exatas, porém, com essa pequena projeção, é possível se ter uma no-ção do movimento intenso que existe no chamado mundo invisível em torno de uma aglomeração de for-ças espirituais.

A busca por tratamentos espirituais é uma das ativida-des que mais movimentam os trabalhos daquela casa de amor. A dor e a aflição da sociedade têm levado muitas pessoas ao encontro de Deus. A busca pela cura, pelo alívio e pela orientação é uma necessidade inquie-tante na humanidade. Nessas noites, com frequência, podemos contar mais de mil desencarnados envolvidos com o trabalho, entre colaboradores e necessitados de auxílio imediato.

Um centro espírita erguido em nome do Cristo é um polo de serviços e, por mais que nossas casas de amor necessitem avançar no aprimoramento de suas inicia-tivas, precisamos destacar sua função de condensador de forças superiores para o bem.

Nossos irmãos no GEF apresentam disposições afeti-vas muito ricas. O desejo de servir e de amenizar as dores humanas é um ideal de todo o grupo. São com-panheiros muito preparados nos estudos da doutrina e da prática mediúnica.

A equipe mediúnica do GEF, composta por dezoito membros (ou médiuns), encontrava-se em oração e concentração na sala apropriada, buscando a sintonia com nosso plano, suplicando aos benfeitores as condi-ções necessárias para se entregarem ao trabalho com amor e devoção.

Os médiuns Paolo e Suzana eram portadores de facul-dades mediúnicas extraordinárias: psicofonia, psico-grafia, desdobramento, magnetismo curador e outras mais. Eles representavam de alguma forma o alvo das maiores esperanças em favor do próximo. Como mé-diuns de incorporação, facilitavam muito nossa relação de parceria com o grupo.

Eles eram procedentes dos quadros de trabalho da Federação Espírita de seu estado, muito bem formados e com o ideal de servir no coração.

Com o tempo, não se adequando à trava das imposições rígidas dos ambientes mais formais, desligaram-se das

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Ana Cristina Vargas

Informar profissão, local de nascimento, e todas essas coisas que usamos para nos apresentar, na verdade nada diz de quem somos. Você não es-colheu esta obra por esses motivos e viu na capa, junto ao meu nome, o de um autor espiritual, o real idealizador, o escritor por trás de cada linha. Eu sou a médium que dá vida material à sua cria-ção, sou coautora por ter responsabilidade com ele. Mas não penso, não construo os romances. Aliás, com frequência, eles tomam rumos com-pletamente diferentes da minha vontade. Sou uma secretária com habilidades específicas.

A busca por conhecimentos dessa realida-de extrafísica é o que une eu e você e, embora jamais tenha pensado em escrever, ou dar à mi-nha percepção mediúnica qualquer forma de di-vulgação, a vida apontou-me outros caminhos e

é o elo entre nós. Essa faculdade acompanha--me desde menina sob a forma de vidência e, com o passar dos anos, com o estudo do espiritismo e a expe-

riência do trabalho, ma-nifestaram-se a psicografia e a psicofonia.

Dos transtornos iniciais, das dificuldades várias que a mediunidade trouxe à minha vida, hoje restam vagas lembranças indolores. Foram apagadas, superadas pelo muito que apren-di, pela companhia dos mentores espirituais e por tudo de bom que ela me trouxe e traz. Hoje, agradeço a Deus por possuí-la e por crescer e servir por meio dela.

“A busca por conhecimentos dessa realidade extrafísica é o que une eu e você...”

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© 2013 por Ana Cristina Vargas

© Paper Boat Creative/gettyimages

Coordenação de comunicação: Marcio LipariCoordenação de criação: Priscila NobertoCapa e Projeto gráfico: Regiane Stella GuzzonDiagramação: Priscilla AndradePreparação: Mônica d’AlmeidaRevisão: Cristina Peres

1ª edição — 1ª impressão5.000 exemplares — julho 2013Tiragem total: 5.000 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

José Antonio (Espírito).Intensa como o mar / pelo espírito de José Antonio ; [psicografado por] Ana Cristina Vargas. — São Paulo : Centro de Estudos Vida & Consciência Editora, 2013.

ISBN 978-85-7722-235-3

1. Espiritismo 2. Psicografia 3. Romance espírita I. Vargas, Ana Cristina. II. Título.

13-00757 CDD-133.9

Índices para catálogo sistemático:1. Romance espírita : Espiritismo 133.9

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, por qualquer forma ou meio, seja ele mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc., tampouco apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da editora (Lei nº 5.988, de 14/12/1973).

Este livro adota as regras do novo acordo ortográfico (2009).

Editora Vida & ConsciênciaRua Agostinho Gomes, 2.312 – São Paulo – SP – BrasilCEP 04206-001editora@vidaeconsciencia.com.brwww.vidaeconsciencia.com.br

ana cristina vargaspelo espírito José Antônio

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Sumário

Apresentação 10

Nos idos das primeiras décadas do século 20 13

I. O encontro 16

II. Encantos e desencantos 21

III. Bailes e festas 31

IV. Proximidade do sonho 39

V. Escolhas 48

VI. A demora 56

VII. A carta 66

VIII. Caminhos, escolhas e consequências 75

IX. Instituições necessárias 86

X. Liberdade 94

XI. Construindo o amanhã 103

XII. Lourdes e Bernardina 112

XIII. Enfrentando a realidade 121

XIV. Novas experiências 129

XV. Pares e casais 136

XVI. Construtores da nossa sina 152

XVII. Amizade e insegurança 166

XVIII. Descobertas 178

XIX. Mudanças 189

XX. Revelações 200

XXI. A face oculta 213

XXII. Desafios 222

XXIII. Ver a luz 236

XXIV. Reforçando causas 249

XXV. Desespero 259

XXVI. Caminhos cruzados 275

XXVII. Devassidão? 283

XXVIII. Entre vielas e esquinas 296

XXIX. Fora de controle 306

XXX. Saturação 317

XXXI. À espreita 329

XXXII. Vingança 339

XXXIII. Tragédia 345

XXXIV. Novo início 354

XXXV. Dois Rios 369

XXXVI. A vida continua 380

XXXVII. Pamela 389

XXXVIII. Buscando ajuda 399

XXXIX. Nada está perdido 409

XL. Caindo máscaras 416

Epílogo 430

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Nos idos das primeiras décadas do século 20

Marieta atravessou as salas amplas e bem deco-radas, ignorando, ostensivamente, a mãe e suas amigas, a governanta e as criadas. Sonhadora, subiu às pressas as escadas. Chegando aos seus aposentos, entrou afoita e jogou-se de costas na cama. Fitava o teto decorado sem dar nenhuma atenção ao preciosismo dos detalhes do belo trabalho. Sonhava acordada.

Era uma característica que seu pai, José Theodoro, abominava. Culpava a esposa, Maria da Glória, pelos modos irreverentes e até malcriados da filha. Dizia que ela mimara demais a caçula, única menina entre três irmãos, nascida quando os pais já não imaginavam conceber outro filho. Fora a criança em uma família de jovens e adultos. Todos a cercaram de atenção, fazendo-lhe as vontades, divertindo--se com suas crises emocionais infantis e suas chantagens para conseguir a realização de seus desejos. Não viam nes-sas atitudes o caráter semiencoberto pela infância, credita-vam à conta de “coisas de menina” as manifestações da sua

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I. O encontro

O homem pode gozar na Terra uma felicidade completa?— Não, pois a vida lhe foi dada como prova ou expiação, mas dele depende abrandar os seus males e ser tão feliz quanto se pode ser na Terra.

Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. DF: Edicel. q. 920.

a seu destino e, à primeira vista, apaixonara-se pela beleza exuberante das paisagens cariocas. Estranhava a população mestiça e aquela sensua lidade à flor da pele, mas começava a acostumar-se. Atribuíra-a ao calor dos trópicos. Além dis-so, estava vivendo em uma zona portuária e, mesmo sem conhecer muitas cidades, sabia que pobreza e prostituição eram características dos arredores de cais de porto, inde-pendentemente do país.

Porém os dias estavam passando, e começava a afligi--lo a demora em ir para o Sul. Lá pretendia se estabelecer como senhor de uma fração de terras. Era um agricultor ex-periente, conhecia os segredos das videiras e, em seus so-nhos de imigrante, comparava-se ao dono da vinícola onde nascera e crescera no Vêneto, ao norte da Itália.

Como todo entusiasta, não considerava as dificulda-des. Viu algumas fotografias, em preto e branco, mostrando imigrantes instalados, suas casas de madeira, grandes, com muitas janelas, a mesa farta e todos muito sorridentes, trans-bordando realização. Outras mostravam terras preparadas para o cultivo e, por fim, apresentavam toda sorte de incentivo aos imigrantes.

Isso fizera brilhar os olhos de Giacomo, meses atrás. Já estava cansado do ambiente da vinícola e não vislumbrava melhores perspectivas profissionais. Também não possuía vín-culos afetivos fortes, pois, após a morte da mãe, alguns anos antes, seu pai se casara novamente e tinha filhos pequenos que requeriam atenção. Ele era o filho mais velho do primeiro matrimônio. As duas irmãs casaram-se e partiram, assim não via nenhum entrave para entregar-se ao desejo da fortuna.

Era ambicioso, tinha consciência disso, mas era tam-bém trabalhador e corajoso, queria tornar-se um homem rico com o suor do próprio rosto. Davam preferência às famílias, e ele declarara em todos os documentos que tinha mulher e filhos que viriam a seu encontro tão logo estivesse esta-belecido. “Uma mentira por uma causa justa não renderia

Giacomo Baccagini caminhava com as mãos nos bolsos, cabisbaixo, chutando uma pedra. Estava visivelmen-te preocupado. A beleza do mar, fonte de euforia e encan-tamento em seus primeiros dias no Rio de Janeiro, não o atraía mais. O som das ondas, a brisa suave e refrescante chegavam-lhe aos sentidos, mas o encontravam indiferente. A apreensão com o futuro tirava-lhe o sabor de tudo, ou me-lhor, de quase tudo, desde sua impulsiva decisão de aban-donar a pátria — a Itália — para aventurar-se em busca de fortuna no Brasil.

Em sua memória, revivia a empolgação com que os propagandistas da imigração falavam das magníficas opor-tunidades na distante América do Sul. Trabalho fácil, boas acomodações, bons salários e até a possibilidade de receber terras, tornar-se proprietário. Na péssima situação econômica italiana e europeia daquele início de século, a cantilena soava como música sagrada nos ouvidos de um jovem ambicioso.

Para a viagem, recebera todas as facilidades, embora o conforto tivesse deixado a desejar. Chegara são e salvo

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pecados”, pensava. Além do mais, a Itália estava cheia de noivas desejosas de embarcar na aventura da travessia do Atlântico para enriquecer. Bastaria uma carta.

Antes, porém, de pensar em ter família, precisava das terras. Quanto antes fosse para o Sul, mais rapidamente sua vida entraria nos trilhos. Diziam-lhe que o Sul era distante e ouvira zombarias aos seus projetos de alguns moradores do bairro. Soubera que eram ex-escravos negros.

— Mais um gringo delirante. Não sabe da missa a me-tade. Mas... fazer o quê? Agora já está aqui, tem mais é que se virar para viver.

— Logo, logo, ele cansa de esperar a fortuna. Bate a fome e ele vai para os cafezais em São Paulo. É o que a grande maioria faz. Daí acabou-se o sonho da riqueza.

— Hum! Que decepção deve ser! Quando era moço, antes da libertação, trabalhei naquilo lá. O nego trabalha fei-to bicho só por cama e comida. O serviço é tanto que não dá nem para pensar. De manhã à noite a mesma coisa, sem folga. Entra semana, sai semana, sempre embaixo do mau tempo, já nem sabia que dia era. Só enxergava a plantação. Até dormindo sonhava que estava trabalhando, coqueando saco. O gringo vai achar o rumo.

— É, aqui no porto é bem bom. Quando chega navio de carga, a gente trabalha pra valer, mas depois dele va-zio... se pode descansar. O gringo é forte, mas não parece disposto a forcejar. Quer enriquecer. É o que todos querem. Deviam saber que bem poucos conseguem. Será que dizem para eles, lá na terra deles, que estão vindo para cá substi-tuir os escravos? Acho que não.

Nos primeiros dias, não dera importância àqueles co-mentários. A bem da verdade, porque não os compreendia tão bem quanto agora. O português dos mestiços era dife-rente. Havia muitas expressões que ele não fazia ideia do sig-nificado. Mas, passados tantos dias, estava se familiarizando

com a língua. Entendia o bastante para compreender a gran-de divergência entre a propaganda migratória e a realidade.

Encontrar imigrantes italianos no Rio de Janeiro era muito fácil, todos os navios vindos da Itália desembarca-vam seus passageiros no porto da cidade. E chegavam aos milhares. Nas ruas, os dialetos da pátria longínqua mistura-vam-se. Eles pareciam ondas, chegavam às centenas, inva-diam a zona portuária e, em poucos dias, desapareciam no interior do Brasil.

Se nos próximos dias não conseguisse embarcar para o Sul com a garantia de suas terras, precisaria arrumar tra-balho. Tinha pouco dinheiro, cada dia menos. Não poderia esperar terminar suas economias, tinha urgência em encon-trar ocupação, nem que fosse carregando sacos no cais, como vira muitos negros.

Conversara com outros imigrantes e constatara que o seu caso não era exclusividade, ao contrário, era comum, até se poderia considerar como sendo a regra, não a exce-ção. Havia muitos Guidos, Marcelos, Beneditos e Giacomos. Sonhavam enriquecer e acabavam trabalhando nas indús-trias, um mercado novo, ou nos imensos cafezais e cana-viais em São Paulo.

Abatido, com os pensamentos em torvelinho, Giacomo não percebeu estar sendo seguido, de perto, por um carro. Prosseguiu com as mãos nos bolsos da calça, caminhando displicentemente e chutando uma pedra. Sem rumo nem pro-pósito, quando viu, estava em frente à Igreja de São Cristóvão.

— Ajuda dos santos! É disto que preciso — falou Giacomo, baixinho, em italiano.

Observou a construção: um belo templo à beira-mar. Sorriu notando o ancoradouro, as canoas atracadas em frente à igreja e a pequena distância entre os degraus de acesso à porta de entrada e a praia. Deduziu que, quando houvesse tempestade, as ondas deviam alcançar facilmente os primeiros degraus. Mas a manhã estava calma, apenas

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Sérgio ChimattiNascido na cidade de São Paulo, Sérgio

Chimatti Martins obteve as primeiras experiências

mediúnicas ainda na infância, porém dedicou-se

à religião não espírita até o final da adolescência.

Na busca de informações que justificassem

os fenômenos mediúnicos, pesquisou diversas

religiões, e acabou por encontrar no espiritismo

as argumentações que julgou necessárias para

educar-se mediunicamente, que satisfizessem os

seus íntimos questionamentos.

Participou como voluntário em trabalhos

assistenciais no Centro Espírita Evangelho em

Ação e nas Casas André Luiz por alguns anos.

Trabalhou como funcionário no setor de di-

vulgação da Fundação Espírita André Luiz por

três anos, onde se relacionou com diversas ins-

tituições espíritas e espiritualistas, oportunida-

de em que lançou seu

primeiro livro, Uma vida

excepcional — Casa três,

e durante quatro anos

foi expositor no Grupo

Espírita Manoel Bento.

Acabou por encontrar

no espiritismo as

argumentações que

julgou necessárias.

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© 2013 por Sérgio Chimatti Martins

©iStockphoto.com/PelageyaKlubnikina

Coordenação de criação: Priscila NobertoCapa e Projeto Gráfico: Regiane Stella GuzzonDiagramação: Priscilla AndradePreparação: Mônica Gomes d’AlmeidaRevisão: Cristina Peres

1ª edição — 1ª impressão5.000 exemplares — julho 2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Anele (Espírito).Lado a lado / pelo espírito Anele ; [psicografado por] Sérgio Chimatti. — São Paulo : Centro de Estudos Vida & Consciência Editora, 2013.

ISBN 978-85-7722-246-9

1. Espiritismo 2. Psicografia 3. Romance espírita I. Martins, Sérgio Chimatti. II. Título.

13-02197 CDD-133.9

Índices para catálogo sistemático:1. Romance espírita : Espiritismo 133.9

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, por qualquer forma ou meio, seja ele mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc., tampouco apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da editora (Lei nº 5.988, de 14/12/1973).

Este livro adota as regras do novo acordo ortográfico (2009).

Editora Vida & ConsciênciaRua Agostinho Gomes, 2.312 – São Paulo – SP – BrasilCEP 04206-001editora@vidaeconsciencia.com.brwww.vidaeconsciencia.com.br

Sérgio Chimattipelo espírito Anele

a vidasabe a melhor

resposta

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PrefácioAlgumas pessoas me olham como se eu fosse

diferente, mas será difícil entender que, observando

o outro, na realidade, é a própria alma que se vê?

Somos espelhos esperando alguém olhar

para nós, refletindo a imagem na forma de atitudes.

Nossas ações correspondem às nossas expressões,

que variam entre o riso e o pranto proporcionados

na geração de alegria ou tristeza que partilhamos.

Dançamos no embalo da música do tempo para

acompanhar o passo na cadência da vida, pedindo

e perguntando para aquele de nossa preferência se

concede o prazer dessa dança... E quem não dançar

conforme a música tropeça no pé do parceiro.

Sou como todo mundo, uma mariposa que, de

tanto se sentir atraída pela luz, se atira ao fogo por

não conseguir resistir aos encantos do brilho para

sair da escuridão.

Mas, enquanto puder voar, viverei para fazer

por merecer a nova espera da metamorfose.

[Trecho extraído do diário de Salete]

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Parte 1. SaletePor que as coisas têm

de ser assim?

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— Primeiro terá de conversar com Juninho, que é o coautor dessa façanha. Só depois de avaliar o que ele tem a dizer, saberemos o próximo passo a tomar.

Depois de seguir a recomendação da amiga, Dóris es-tava novamente na presença dela:

— Então, o que Juninho lhe sugeriu?— Juninho ficou mais perdido que eu... Ele disse que

não tem como assumir e achou melhor que eu conte aos meus pais.

— Olhe este papel — Salete entregou uma folha a Dóris, onde estava escrito: “Juninho não vai querer assumir a criança e vai empurrar a responsabilidade para os pais de Dóris”.

— Por que você escreveu isso, Salete?— Para você começar a acreditar em mim! Sabia que

isso ia acontecer. Já lhe falei: os homens são todos canalhas. Quando a porca torce o rabo, fingem que não é com eles...

— Meus pais me matarão...— Engana-se. Assumirão a criança e terão a vida in-

teira para lembrarem que você desgraçou a sua vida e a de-les, que não terá futuro e que, por sua causa, terão um neto órfão de pai. Inevitavelmente terá de se submeter a casar-se com o primeiro que aparecer e se sujeitar à chacota dos amigos por ele ter assumido um filho que não é dele.

— Tem mais alguma desgraça esquecida para rela-tar? Parece estar gostando do que me aconteceu!

Com o rosto quase colado ao da amiga, Salete disse olhando em seus olhos:

— Uma das coisas que ainda não percebeu é que, se você se fere, dói em mim... Por isso não gosto que se machuque.

Dóris se afastou contrariada, antes que o lábio de Salete tocasse o dela:

— Lá vem você de novo com suas tentativas! Já lhe falei que não aceito esse negócio de mulher se relacionar com mulher.

— Salete, acho que estou grávida! Minha menstrua-ção está atrasada mais de dois meses.

— Não seja dramática, Dóris! Já vi casos de meninas que ficaram assim durante três meses. Pode ser psicológico.

Secretamente Dóris fez o teste de gravidez, em con-sulta paga por Salete. Mostrou-lhe o resultado e exclamou:

— Estou perdida! Olhe, Salete...— Não se apavore, pois existe um jeito para tudo.— Jeito para quê? Para casar com dezenove anos de

idade, tão cedo quanto meus avós e pais?— Eu avisei que ia dar nisso... Era para você se preve-

nir, mas você não me escuta!— O que farei agora?— Assuma a gravidez para seus pais, case-se com

Juninho e fique em casa de avental e chinelo cuidando de criança... Quem sabe assim você não se arrepende por não ter me ouvido!

— Salete, não é certo o que está fazendo. Estou pedin-do sua ajuda e fica de gozação comigo! Isto não é brincadeira!

— Está bem. Como você nunca acredita nas coisas que lhe falo... Irá me ouvir desta vez?

— Depende. Se não ficar de zombaria com minha cara e motejando da minha desgraça, ouvirei.

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— Tudo bem. Então terá que se submeter aos homens o resto da vida.

— O que faço, Salete?— Tire o feto.— Enlouqueceu? Fazer aborto está fora de cogitação.— Faça o seguinte: vá para casa, pense bem e depois

decida o que acha melhor, mas vislumbre o futuro, leve em consideração todos os obstáculos que virão, a discrimina-ção que sofrerá por ser mãe solteira...

— Estou desesperada... Você acha que o aborto é a única solução?

— Tenho certeza! Talvez mais certeza que você, por-que a amo mais do que você mesma.

— Por quê?— Porque, se você acreditasse que merece mais aten-

ção do que o Juninho lhe dispensa, seríamos mais felizes.— Não sei mais o que pensar... O pior é que no fundo

você tem razão... Esperava outra atitude do Juninho. Você conhece alguma clínica de aborto?

— Minha querida, estamos em pleno século vinte! Tenho amigas que já fizeram e poderão indicar. Encontrar clínica de aborto é fácil! O problema é pagar. Vou ver quanto custa e lhe aviso. Daí você vai até o Juninho e pede o dinhei-ro a ele; afinal, pelo menos isso ele deve fazer.

— É mesmo. Nada mais justo.Depois que Salete pesquisou o valor, Dóris esteve com

o namorado. Quando retornou, a amiga, observando a sua expressão de tristeza, não a deixou falar:

— Não diga nada. Leia — passou-lhe uma folha de papel onde estava escrito: “Juninho não aceitou que Dóris fizesse o aborto porque não é ele que está grávido”.

— Poxa vida, Salete... Você parece que tem mesmo prazer de me colocar para baixo...

— Um crime dizer isso, Dóris! Só porque sou menos burra que você, não significa que a ame menos.

— E agora?— Olhe — Salete passou o dinheiro às mãos de Dóris,

que ficou comovida.— Tem certeza, Salete? Não tem nem para você e está

dando para mim?— Faço qualquer coisa para fazer você feliz...Novamente Salete aproximou seu rosto do da amiga,

mas desta vez Dóris cedeu, acontecendo entre elas o pri-meiro beijo.

Salete escreveu em seu diário:

Deus me perdoe. Sinto que aborto não é um proce-dimento correto, mas o Senhor sabe que estou ajudando o amor de minha vida e faço qualquer coisa por ela.

Sei, por experiência de outras amigas que praticaram aborto, que meu amor precisará muito de mim, se arrepende-rá, mas peço que, se alguém tiver que ser castigado por isso, que seja eu mesma, depois que me for desta vida, porque nes-ta vida quero me dedicar totalmente a Dóris, que amo tanto.

Dizem alguns que, quando existe o feto, este já tem alma. Não sei se acredito nisso, mas me comprometo de al-guma forma a ressarcir esse débito com minha própria vida se me for permitido. Poderei adotar uma criança, com Dóris, é claro, ajudar outras crianças, embora até goste delas, mas não tenha paciência alguma.

Se um dia eu adotar uma criança, não serei ausente como meu pai é comigo. O pior é ter de admitir a falta que meu pai faz, mas, se ele acha que apenas mandar o dinheiro da pensão já é suficiente, para mim tudo bem. Agora me sinto fortalecida nos braços de minha Dóris e daqui para a frente poderei dar inclusi-ve o amor que daria para ele, isto é, se me amasse de verdade.

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C om mais de quarenta livros publicados, entre crônicas, romances e livros de pen-samentos, Zibia Gasparetto cativa leitores

todos os dias, contribuindo para o fortalecimento da literatura espiritualista no mercado editorial e para a difusão da espiritualidade.

Zibia, que é natural de Campinas, interior de São Paulo, começou a psicografar quando ela e o marido, Aldo Luiz Gasparetto, estudavam os livros de Allan Kardec, em especial O Livro dos Espíritos. Colocados papéis e lápis à sua frente, começou a escrever, receber contos, mensagens de orientação, histórias e, assim, os romances co-meçaram a fluir.

O amor venceu, sua pri-meira publicação, foi ditado pelo espírito Lucius em 1958. Esse amigo espi-ritual continua a ditar--lhe histórias, em uma parce ria que ultrapas-sa sessenta anos. Aos 87 anos de idade, com incrível disposição, Zibia Gasparetto escre-ve três romances ao mesmo tempo, todos ditados por Lucius.

A vida é criativa e sábia. Tem por objetivo nos conscientizar de que

fomos criados para a alegria, o amor, a felicidade. Cultivar esses sentimentos é ligar-se ao espiritual e viver melhor.

ZibiaGasparetto

A AUTORA

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Nova Edição

Z I B I A G A S P A R E T T Op e l o e s p í r i t o L u c i u s

© 1985, 2013 por Zibia Gasparetto© iStockphoto.com/VikaValter

Coordenação de criação: Priscila NobertoCoordenação de comunicação: Marcio LipariCapa e projeto gráfico: Priscila Noberto e Marcela BadolattoDiagramação: Priscilla AndradePreparação do texto: Melina Marin

1a edição — 36 impressões2a edição — 1ª impressão20.000 exemplares — julho 2013Tiragem total: 425.000 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Lucius (Espírito).Esmeralda / pelo espírito Lucius ; [psicografado por] Zibia Gasparetto. — 2. ed. — São Paulo :Centro de Estudos Vida & Consciência Editora, 2011.

ISBN 978-85-7722-189-9

1. Espiritismo 2. Psicografia 3. Romance espírita I. Gasparetto, Zibia. II. Título.

11-08357 CDD-133.93

Índices para catálogo sistemático:1. Romances espíritas psicografados: Espiritismo 133.93

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, por qualquer forma ou meio, seja ele mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc., tampouco apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da editora (Lei nº 5.988, de 14/12/1973).

Este livro adota as regras do novo acordo ortográfico (2009).

Editora Vida & ConsciênciaRua Agostinho Gomes, 2.312 – São Paulo – SP – Brasil CEP 04206 [email protected]

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PrólogoT odos nós escolhemos livremente nossos caminhos.

Pressionados pelas emoções, baseados em nos-sos sentimentos, envolvidos em nossas ilusões.

Escolhemos ao preferir esta ou aquela oportunidade, ao fa-zer este ou aquele conceito, ao colocar em nossos próprios olhos as lentes com as quais preferimos enxergar a vida, as pessoas, as coisas.

Tudo é escolha nossa. Apesar disso, muitas vezes, re-voltamo-nos quando, ao toque da realidade — que sempre toma o nome de desilusão —, o reflexo de nossas escolhas nos atinge o coração, com resposta diferente da que esperá-vamos, porém a única possível como reação de nossos atos.

Enganar-se na escolha é fato tão comum a nós todos quanto a presença do sofrimento e da dor, instrumentos de reajuste a que, por isso, fizemos jus. Revoltar-se diante das consequências de nossos próprios atos é tão ingênuo e ina-dequado quanto nossa teimosia em conduzir a vida como se ela pudesse obedecer-nos, servindo às nossas fantasias e infantilidades.

A vida é perfeita, porquanto é criação de Deus. Assim sendo, suas respostas guardam a sabedoria divina. Nenhum homem poderá controlá-la. Ao contrário, há necessidade de compreender-lhe a essência e procurar harmonizar-se a seu movimento, que é a garantia de nossa felicidade, pois sua

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meta única e objetiva é a de nos tornar espíritos mais cons-cientes das verdades eternas que guarda em seu seio, e fe-lizes participantes da alegria divina que tudo movimenta e harmoniza no belíssimo concerto universal.

Ao trazermos, neste livro, pedaços de nossa memória, relembrando acontecimentos de outros tempos, temos o ob-jetivo de mostrar, por meio dos fatos reais, onde cada um dos protagonistas escolheu seu rumo, as respostas que tiveram da vida.

É claro que, tanto eles quanto nós próprios continua-mos em nossa trajetória, escolhendo novos rumos e receben-do as respostas e estímulos da vida, porém, neste flash que relatamos de suas vidas, podemos, quem sabe, encontrar em suas emoções e lutas reflexos de nossos anseios mais ín-timos e, desta forma, perceber por antecipação as respostas que a vida nos daria neste ou naquele roteiro, e poder assim nortear nossas escolhas para colocar em nossos caminhos mais alegria, mais felicidade e mais paz.

Esses são meus votos.

LuciusSão Paulo, 13 de julho de 1983.

Capítulo 1

E spanha! Terra do sonho! Sol, flores, músicas, colorido. Valença! Cidade do sol, das mulheres, dos amo-res e da música. Suas ruas estão cobertas pelas

lembranças dos tempos e pela poeira dos séculos.Agosto, 1812. A cidade em festa e o ruído alegre dos

romeiros que demandavam à Praça para o Dia de Graças.Carlos caminhava alegre, tinha asas nos pés, música

nos lábios, flores no chapéu e alegria no coração.Mocidade: tudo muda a seu toque mágico, todas as

coisas se embelezam!Agosto, 1812. Festa em Valença, vinte anos, juventude,

força e beleza. Como não sorrir? Como não brincar com o amor das mulheres ardentes da Andaluzia, como não tanger a guitarra em ritmos loucos? Como?

Agosto, 1812. Espanha. Valença. Festa. Luz. Praça regurgitando. Cheiro gostoso das castanhas na brasa, dos biscoitos rosqueados e das brincadeiras ingênuas. O moço galgou a praça sentindo na boca o gosto de viver. O mundo era seu. Ele era o dono de tudo. No meio, as barracas colo-ridas de San Agustin, no pregão dos leilões o alarido alegre e a fumaça das fogueiras, onde as carnes eram assadas. No centro, as pipas de vinho e os bebedores inveterados con-tando suas chasqueadas e mitos.

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Carlos queria dançar. O som da guitarra e da música cigana o animava. Vestira a roupa colorida dos moços da rua, longe do palácio escuro dos seus e da disciplina dos pa-rentes. Seus muros pesavam, sua severidade o esmagava. Era verão e havia festa entre o povo. Ele queria estar entre eles. Vestira roupa plebeia. Ninguém o vira sair. Caminhou contente. Dançar! Era isso.

De passagem, pegou uma caneca de vinho e bebeu deliciado. Até o vinho comum pareceu-lhe infinitamente me-lhor do que o de sua adega.

Uma cigana rodopiava entre os pares que dançavam na rua. Mergulhou na música e nos braços dela. Seu corpo jovem e belo parecia ter asas e em seu rosto corado havia satisfação e êxtase. Parecia irreal e distante.

Carlos a enlaçou, dançaram juntos. Quanto tempo? Uma, duas, três, quatro horas? Até que a noite desceu e se atiraram rindo, exaustos e felizes, ao chão.

A festa prosseguia, e os lábios da cigana tinham a cor e a frescura dos botões de rosa. A certa altura ele não se con-teve, levou-a para um local deserto e, no campo ermo, à luz das estrelas, amaram-se loucamente.

Depois, olhando-a nos olhos, Carlos indagou:— Como se chama?— Esmeralda.— Esmeralda! Joia preciosa.— E você, como se chama?— Ricardo — mentiu ele, por força do hábito.Ela alisou o rosto dele com suavidade.— Não é cigano. Quem é?— Ninguém. Um pobre-diabo. Mas eu a amo.Ela riu deliciada.— Não nos deixaremos mais — sentenciou decidida.

— Virá conosco. Se não é ninguém, pode ser cigano.Ele sorriu enlevado. Se ele pudesse! Por que não? Talvez

fosse possível ficar uns tempos com eles. Seria fascinante.

Afagou a cabeça morena da cigana, cujos cabelos sedosos e ondulados levantavam delicados caracóis que a dança liberara.

— Posso ir com você?— Claro. Miro não vai se importar. Quanto ao resto, dei-

xe comigo. Ficaremos juntos para sempre. Amanhã, depois da festa, seguiremos para Madri. Você vem comigo?

— Vou. Mas antes preciso pegar minhas roupas e al-gum dinheiro. Tenho pouco, não me demoro.

— Não se vá ainda — pediu ela.Abraçaram-se de novo. Só de madrugada, o dia ama-

nhecendo, ele pôde deixá-la com a promessa de que voltaria quando o sol saísse e juntos partiriam para sempre.

Cansado e feliz, Carlos regressou. A abertura secre-ta por onde ele entrava e saía do castelo cheirava a mofo e provocou-lhe náuseas. Não bebera muito vinho, mas estava embriagado pelo amor de Esmeralda. Entrou no quarto onde seu valete dormia largado. Pobre-diabo. Uma caneca de vi-nho e pronto, não incomodava mais.

Abriu as cortinas, pegou umas roupas e colocou-as num saco. Seu pai já se levantara, por certo. Tinha que lhe falar. O sol já ia alto quando entrou no salão e o viu ocupado no exame de uma caixa com armas de caça que estava aber-ta a sua frente.

— Carlos!— Deus o salve, meu pai.— Deus o abençoe, meu filho.— Pai, preciso de sua ajuda.O rico senhor, alto, moreno, caprichosa barba descen-

do-lhe sobre o peito e alcançando o elegante gibão de ve-ludo, um olhar frio e meticuloso examinando as armas com atenção, respondeu:

— Fale.— Preciso dos seus préstimos.— Para quê?

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DOUTRINA DASCORES

J . W . G O E T H E

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Título original: Farbenlehre, in Goethes Sämtliche Werke, 1940, Stuttgart, Gebruder Kröner

© Copyright da tradução: 1993 Marco Geraude Giannotti 2011 - Em conformidade com a nova ortografi a

Todos os direitos reservados.Editora Nova Alexandria

Av. Dom Pedro I, 84001552-000 - São Paulo - SP

Fone: 11 2215-6252Site: www.novaalexandria.com.br

e-mail: [email protected]

Preparação de originais: Ivete Batista dos SantosRevisões: Simone Luíza Costa Silberschimitd e Vivian do Amaral Nunes

Revisão 2ª Edição: Lucas de Sena LimaCapa: Marco Geraude Giannotti e Marcos Ribeiro

Editoração Eletrônica: Priscilla Andrade

ISBN 978-85-7492-314-7

Dados para Catalogação

Goethe, Johann Wolfang von, 1749 - 1832

Doutrina das cores/ J. W. Goethe; apresen-tação, tradução, seleção e notas Marco Giannot-ti – São Paulo: Nova Alexandria, 2011

1. Cores 2. Cores na literatura 3. Literatura AlemãT. Giannotti, Marco. Il. Título. 93-2536

CDD 838.6

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Sumário

Apresentação ................................................................. 11Notas da Apresentação ................................................... 31

Prefácio .......................................................................... 35Introdução ..................................................................... 43Primeira Seção: Cores Fisiológicas ................................. 51 Apêndice: Cores Patológicas ................. 79 Segunda Seção: Cores Físicas ......................................... 85 Terceira Seção: Cores Químicas ..................................... 99Quarta Seção: Perspectiva Geral das Relações Internas .. 119Quinta Seção: Afi nidades com Outras Disciplinas .......... 127Sexta Seção: Efeito Sensível-Moral da Cor ..................... 137Notas da Tradução ......................................................... 169

Apêndice ........................................................................ 172Notas do Apêndice ......................................................... 182

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Apresentação

Am farbigen Abglanzhaben wir das Leben

Faust 11, 4727*

Doutrina das Cores: uma Experiência Poética

A Doutrina das Cores provoca incessantemente surpresas e indagações no leitor. Semelhante a um hie ró glifo, esta

obra parece se revelar somente por meio de fragmentos dis-persos no texto. Talvez a principal difi culdade de interpretação decorra do próprio estilo, camufl ado ora em rigoroso discurso científi co, ora em refi nada poética. Tal ambivalência do texto é tão acentuada que Argan, na introdução à edição italiana, chega a dizer que “A Farbenlehre é o diário de um estudo prolongado e metódico, sendo tanto obra científi ca quanto literária, ou talvez ainda, segundo sua intenção, o modelo de um novo gênero literário, a literatura científi ca”.1

É possível, assim, destacar duas atitudes muito diferentes do autor: por um lado, a riqueza literária do texto deixa trans-parecer um escritor extremamente versátil, poeta reconhecido, hábil investigador da natureza, ilustre herdeiro do Iluminismo; por outro, um relato tortuoso, fruto de uma investigação de

*“Nos refl exos coloridos temos a vida.”

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mais de vinte anos e que, no entanto, jamais parece estar concluída, a ponto de chamar a Doutrina das Cores apenas um esboço (Entwurf) e não uma teoria acabada. Veremos como esse embate mostra na verdade uma busca infi ndável para des-crever, segundo um método adequado, o fenômeno cromático. Caso o leitor ignore esse aspecto, deixando-se infl uenciar pela parte polêmica da obra, na qual Goethe insiste numa disputa com a teoria física da cor em Newton, a Doutrina das Cores estará inevitavelmente fadada ao esquecimento. Cabe, por isso, uma análise das páginas iniciais da obra, que constituem um dos momentos privilegiados do texto.

I. O Olhar Luminoso

Faust (erblindet):Die Nacht scheint tiefer tief hereinzudringen,

Allein, im Innern leuchtet helles Licht... Faust II, 11500*

O Prefácio e a Introdução formam provavelmente a parte mais instigante da Doutrina das Cores, visto que contêm quase todas as questões discutidas posteriormente. Mas, apesar de extremamente sintéticos e de apresentarem argumentos que pare cem de uma certeza inabalável, o autor acaba por con-fessar que o trabalho efetivo ainda nem começou. O texto se assemelha à Doutrina da Ciência de Fichte, que, a fi m de ser compreendida no seu espírito, e não apenas na letra, pressupõe uma visão única: “Ela absolutamente não é objeto do saber, mas apenas forma do saber de todos os objetos possíveis.

*“Fausto (ofuscado):A noite parece adentrar-se profundamente, Somente no interior resplandece clara luz.”

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Goethe estava convencido de que a totalidade da natu-reza se revela, como que através de um espelho, ao sentido da visão.3 Se tanto luz quanto cor pertencem à natureza, que por sua vez se mostra particularmente na visão, é esta última, portanto, que contém a solução do enigma. De modo análogo à revolução copernicana de Kant, Goethe transfere o olhar divino de Plotino, até então simbolizado pela luz, para o interior da nossa visão. O olho se torna luminoso:

Se o olho não tivesse sol,Como veríamos a luz?Sem a força de Deus vivendo em nósComo o divino nos seduz?.4

Assim como, para Goethe, a sensibilidade não é somente receptividade, mas também impulsividade,5 assim também as cores devem ser interpretadas tanto como “paixão” (Leiden), quanto como “ação” (Tat) da luz. É através de sua ação ou efeitos que podemos ter uma imagem ou uma história dos seus efeitos, que por sua vez nos aproxima da essência da própria cor.6 Por outro lado, torna-se fundamental traçar em que con-dições e limites ocorre a experiência do fenômeno cromático, a fi m de garantir também legitimidade científi ca à análise. Nesse ponto, Goethe parece se aproximar da obra de Kant.

Nos ensaios sobre a ciência da natureza, nas conversas com Eckermann, assim como na correspondência, Goethe vá-rias vezes ressalta o impacto da terceira crítica sobre sua forma de pensar, chegando a dizer que a descoberta dessa fi losofi a foi motivo de grande felicidade durante um período de sua vida.7. Segundo ele, a Crítica do Juízo teve o grande mérito de libertar a investigação sobre a natureza das “absurdas causas fi nais”.8 Nessa nova ótica, os seres vivos são interpretados como organismos independentes, deixando de ser produto da criação divina. A natureza é algo que parece ser construído

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..........................O Jovem Lennon

1

Jordi Sierra i Fabratradução de Cláudia Schilling

O J o v e m

Lennon.........

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Título Original: El Joven Lennon© Copyright, 1988, by Jordi Sierra i Fabra - Ediciones SM© Copyright, 1995, by Editora Nova AlexandriaTodos os direitos reservadosEditora Nova AlexandriaAv. Dom Pedro I, 840 01552-000 - São Paulo - SPFone/Fax: 11 2215-6252 Email - [email protected]: www.novaalexandria.com.br

Capa: Antonio KehlRevisão: Márcia Regina ChoueriProjeto Gráfico: GAPP design - Antonio KehlEditoração Eletrônica: Priscilla Andrade

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Sierra i Fabra, Jordi O Jovem Lennon / Jordi Sierra i Fabra; traduçãode Claudia Schilling — São Paulo : Editora Nova Alexandria,1995 — (Jovens sem fronteiras)

Título original: El Joven Lennon

1. Ficção espanhola I. Título. II. Série.

95-2747 CDD-863.6

ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO 1. Ficção : Século 20 : Literatura espanhola 863.6 2. Século 20 : Ficção : Literatura espanhola 863.6

ISBN 85-86075-10-8

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Para você

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Sumário

Prólogo • 1940 7

Liverpool • 1955 11

Quarrymen • 1956 49

Julia • 1957 89

Beatles • 1958 123

Os Anos Beatles • 1959-1980 163

E um pequeno comentário... 171

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Liverpool

1955

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1barco, chamado Quijote del Mar, de bandeira espanhola, estava deixando para trás o Albert Dock, também conhe-cido como cais do Túnel porque o trem atravessava o rio Mersey quase no seu subsolo. Sua imagem tinha a aparên-

cia do cotidiano e a profundidade do que não se acaba. Era um barco que ia ou vinha — como é que um leigo poderia saber isso? —, que afundava até o limite do seu calado, mostrando que seus comparti-mentos de carga estavam bem cheios, e que iniciava sua viagem com a comedida quietude de quem vai embora sem fazer ruído, como se quisesse não incomodar. Dentro de alguns minutos viraria para o norte, Mersey acima, até chegar à baía de Liverpool e daí penetrar no mar da Irlanda e na imensidão do oceano Atlântico; e depois...

Hong Kong, Barcelona, Nova York. Ou nenhum desses nomes, ou talvez todos.

Nova Zelândia.John suspirou ao evocar esta palavra. Há pouco tempo tivera

de pesquisar sua localização exata. O mundo era grande demais. E a Nova Zelândia parecia encontrar-se num de seus confins.

Deu de ombros sem perceber. Afinal de contas, fazia quase dez anos que ele lhe perguntara se queria ir junto. E todo mundo sabe que dez anos é muito tempo.

— Aposto que você nem mesmo está na Nova Zelândia — disse para o barco, cuja quilha singrava solene e silenciosamente as águas escuras do rio. — Pode ser que você esteja aqui, em alguma parte da Inglaterra, há muito tempo.

O barco afastou-se, com sua silhueta branca e preta recortan -do-se contra as docas do oeste, do outro lado do Mersey. Atrás de John, o trânsito da rua Strand rugia anunciando a hora do almoço.

..........................O Jovem Lennon

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O

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O rapaz não se mexeu.Nos últimos meses, a dúvida o assaltava constantemente,

especialmente nas docas, que frequentava durante o dia ou ao anoitecer, observando os marinheiros nas tabernas de Wapping, Chaloner, Sefton ou Bath. Era muito estranho: nunca tinha dado importância à sua decisão. Afinal de contas, só tinha cinco anos. Mas agora...

Teria deixado a mãe sozinha? Que teria feito ele na Nova Zelândia? Seria feliz vivendo uma existência aventureira, em con-traste com a monotonia que imperava agora, ou, pelo contrário, teria acabado abandonado num orfanato, ou com uma mulher esquecida pelo pai?

Ouviu nitidamente o sino da catedral anglicana. Levantou-se a contragosto, sacudindo a poeira das calças. Como faltavam dez dias para o seu aniversário, era melhor não forçar a situação, aparentar cooperação e bom ânimo. Pois, na verdade, a quem interessava isso?

Olhou pela última vez em direção ao barco. No norte, a concentração de nuvens era alarmantemente compacta, mostrando uma linha negra, que parecia um mau presságio. Por sua imagi-nação passaram algumas cenas emocionantes: o Quijote del Mar encurralado pela tempestade, lutando bravamente contra a tor-menta, cujas ondas de vinte metros varriam o convés. Os homens, sem preocupar-se com ela, prendiam mais fortemente a carga, desafiando os elementos. Todos eles tinham a pele curtida, e sua coragem transpirava por todos os poros. Todos tinham mulheres e filhos, esperando-os em alguma parte.

E voltariam.Uma coisa que seu pai não fizera.Deu as costas para o Mersey. Frente a ele estava Liverpool,

apenas uma entre outras grandes cidades, repleta de presente e de passado e revelando um pouco do seu futuro. Liverpool. Porto, palpitar, porta atlântica, conexão americana da Inglaterra do pós--guerra, operários, esperanças...

Atravessou a rua Strand rumo à Canning Place e viu o jornal na banca da esquina. A manchete era sensacionalista: “James Dean morre destroçado em seu próprio carro”.

James Dean. O último rebelde.Passou quase um minuto contemplando a manchete, a notí-

cia, as frases referentes à rápida carreira do novo menino dourado

..........................Liverpool • 1950

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..........................O Jovem Lennon

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foi mais ou menos em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. Qual o mo-tivo dessas perguntas?

Agora foi a vez do rapaz ficar surpreso.

— Não, não foi nada. Foi uma idéia na minha cabeça.

Tia Mimi pegou a sopeira. Esperou que o sobrinho abrisse a porta e saiu rapidamente da cozinha. John a seguiu com passos largos. Depois de sentar-se à mesa, ficou olhando fixamente para o minúsculo lago de sopa em seu prato. Esperou até tia Mimi fazer a mesma coisa. E antes de começar a oração, perguntou:

— Você sabia que James Dean perdeu a mãe aos nove anos, e que o pai o deixou com uns tios porque não podia tomar conta dele?

..............

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Capítulo 7ObstáculOs à

cOmunicaçãO Humana

“Se existisse correspondência exata, ponto por ponto, entre símbolos físicos e conceitos men tais, não existiriam falhas na Comunicação hu mana. Os homens

poder-se-iam compreender uns aos outros como se lessem as respectivas mentes.”(“Syntopicon” – Great Books)

Toda a precariedade da Comunicação humana reside em dois obstá culos fun-damentais: a Personalidade e a Linguagem. A Comunicação humana é essencial-mente individual e, sendo individual, é afetada pela personalidade, o que torna problemático o significado.

A Linguagem sempre foi imperfeita. Bacon refere-se ao caráter diabólico da Linguagem, afirmando que as palavras “atiram tudo à confusão, e afundam a humanidade em vãs e falazes controvérsias sem fim”!1 Hobbes acreditava que a Linguagem “embaraça a mente em uma rede de palavras”;2 Locke tem dúvidas sobre a Ciência, devido a suas “palavras difíceis ou mal aplicadas, com pouco ou ne nhum significado, confundidas com profundos conhecimentos e altas especulações”.3

O ideal do Esperanto e de todas as linguagens universais origina-se da ina-dequação da Linguagem como instrumento de Comunicação entre os homens. Os teólogos consideram a Comunicação direta atri buto dos anjos, por isso a Comunicação humana continuará a depender da personalidade individual, como fonte, e da linguagem, como ins trumento.

Com o objetivo de estabelecer uma sistemática no estudo dos obs táculos à Comunicação humana, vamos dividi-los em dois grandes grupos:

1. Obstáculos devidos à personalidade.2. Obstáculos devidos à linguagem.

1 BACON, F. Advancement of learning. Chicago: William Benton, Publisher — Encyclopaedia Britanni-ca, Inc., 1952.

2 HobBes, T. Leviathan. Chicago: William Benton, Publisher — Encyclopaedia Britannica, Inc., 1952. 3 Locke, J. Ensayo sobre el entendimiento humano. México: Fondo de Cultura Económica, 1956.

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capítulO 7 ObstáculOs à cOmunicaçãO Humana

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1. AutossuficiênciA

“Declaram-se os únicos sábios... nada sabem com certeza... Mas, como nada sabem, pre tendem tudo saber”.

(Erasmo de Rotterdam, “Elogio da loucura”)

“Autossuficiência” é má tradução do que Haney (1960) chama em inglês: “Allness”. Deriva de dois princípios falsos:

1. É possível saber-se tudo sobre alguma coisa.2. O que eu sei, inclui tudo quanto existe sobre o assunto.

Os cursos do Prof. Irving Lee, na Universidade de Columbia, iniciavam-se com a demonstração da falácia do “saber-tudo”, da autossuficiência em qualquer assun-to. Convidava seus alunos a discorrerem sobre um pedaço de giz. Provocavam-se debates, e o professor orientava os alunos a focalizarem os mais diversos aspectos do tema esco lhido. Horas depois, os alunos estafados, restava uma infinidade de coisas a serem ditas ainda a respeito do simples pedaço de giz...

Qualquer pessoa tem fórmulas perfeitas para resolver os proble mas nacionais, e é capaz de emitir opiniões sobre tudo quanto existe no mundo, da criação de ostras no Japão ao sistema de governo dos esquimós. Vemos a convicção com que o articulista do jornal expõe a maneira de resolver o problema da inflação brasileira, e a certeza do ministro em saber como o país encontrará mais petróleo. A pátria é salva, todos os dias, em todas as barbearias, em todos os “bares”, “restaurantes”, praças e esquinas do Brasil, por um sem-número de pes soas convencidas de terem encontrado a pedra filosofal na Política, nas Finanças, na Administração, em todos os setores da atividade humana.

Agassiz costumava entregar a seus novos assistentes um peque nino peixe e dava-lhes duas semanas para que lhe apresentassem mono grafias a respeito. Findo o prazo, não se dignava a ler sequer os tra balhos apresentados: — Em duas semanas não é possível saber-se coisa alguma a sério sobre este peixe! Dou-lhes mais um mês!

Vivemos afirmando nossa sabedoria, e estamos satisfeitos com nossos conhe-cimentos, esquecendo o aforismo de que o sábio é aquele que quanto mais sabe, sabe do quanto mais lhe resta a saber.

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14 Introdução

As manifestações clínicas e diagnósticas das doenças estomatológicas aqui citadas estão em outros capítu-los. Neste capítulo, mencionaremos, sem a pretensão de esgotar o assunto, as possibilidades terapêuticas das alterações mais comuns com que o profissional de saú-de (PS) se depara no seu dia a dia. Entendemos que o clínico deve ter a consciência ética de conhecer em pro-fundidade a natureza química e indicações terapêuticas; biodisponibilidade e farmacocinética, biotransformação e farmacodinâmica; absorção e excreção; interações me-dicamentosas, posologia, apresentação, efeitos colate-rais, uso adequado em adultos, grávidas e crianças; e até o preço do que esteja receitando.

O assunto é vastíssimo e requer uma dedicação diária aos estudos para que, aos poucos, essas informações sejam assi-miladas pelo clínico. Este deve dispor de livros de terapêutica e farmacologia atualizados ou saber acessar dados confiáveis na internet para poder consultá-los quando for necessário.

O chamado Dicionário de Especialidades Farmacêu-ticas atualizado é um manual absolutamente imprescin-dível. Nada é mais desagradável que, ao consultarmos um PS, ele fazer uso de guias que, de tão antigos, não contenham nenhuma informação sobre o que estamos nos referindo. Desagradável também será o clínico re-ceitar fármacos que há muito tempo foram retirados do mercado e, além de desconhecer as novas aquisições, não saber se uma alteração física do paciente em tratamento pode ou não decorrer dos tratamentos receitados.

Todas as apresentações e suas posologias aqui mos-tradas poderão sofrer alterações que variam de acordo

com o interesse dos fabricantes. Não foram detalhados todos os medicamentos existentes no mercado, pois esse não é nosso objetivo.

Alguns efeitos adversos de medicamentos novos ou antigos tanto podem ser detectados pelas agências de controle brasileiras como também ser julgados por agências estrangeiras. Cabe ao PS ficar atento a essas notícias, advertências e/ou proibições.

Na história médica obtida, especialmente entre os pa-cientes geriátricos em uso de polifármacos, muitos tratamen-tos atuais são relatados, e o estomatologista deve consultar esses guias terapêuticos para entender o que está se passando e como, com seu eventual receituário, evitar interações me-dicamentosas nocivas ao estado clínico geral dos pacientes.

No Brasil, existem vários remédios genéricos, nor-malmente com preços mais baixos que os de marca. Uma lista atualizada desse elenco de medicamentos que não param de se desenvolver se torna obrigatória.

O PS deve conhecer a burocracia exigida pelos siste-mas de distribuição de medicamentos populares e gra-tuitos para poder receitar dentro das normas exigidas. Às vezes, a falta de um carimbo pode ser o impeditivo maior.

Neste capítulo, daremos ênfase ao tratamento de doenças infecciosas, inclusive a alguns medicamentos antimicrobianos, pois essas doenças são as mais frequen-tes na prática estomatológica.

AntIBIÓtICoS

Os antibióticos (ATB) são classificados, de acordo com sua atividade antimicrobiana, em bactericidas e bac-teriostáticos, conforme destruam os microrganismos (MO) ou apenas impeçam o seu crescimento.

Terapêutica Medicamentosa de Algumas Doenças Estomatológicas (como Prescrever e Atestar)Jayro Guimarães Júnior

Capítulo

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268 Fundamentos de Odontologia | Estomatologia

Principalmente nas infecções agudas, os bactericidas são preferíveis aos bacteriostáticos, pois além de impe-direm seu desenvolvimento, também são responsáveis pela diminuição na contagem de MO.

Embora tenhamos sempre que contar com as defesas imunitárias do hospedeiro, a dependência desses me-canismos é menor quando se opta pelos bactericidas. Uma das razões é porque os bactericidas, mesmo nas dosagens letais mínimas, causam danos, geralmente na parede celular do MO, resultando em lise bacteriana.

Contrariamente, os bacteriostáticos necessitam da manutenção de níveis séricos constantes, acima das con-centrações inibitórias mínimas (CIM).

uso racional de antibióticos

O conceito de uso racional de ATB tem a seguinte base: utilizar os ATB necessários, com espectro de ação e efei-tos adversos adequados para o paciente e sua infecção, com a posologia e a duração efetivas e com adequadas farmacocinética e farmacodinâmica.

A necessidade imperiosa de se adotar esse conceito se deve à crescente resistência bacteriana e ao despropor-cional advento de novos ATB capazes de contornar o problema. Como as infecções são doenças tratadas, ge-ralmente, em curto prazo, os laboratórios parecem estar mais interessados em desenvolver medicamentos usados em alongado prazo (ou definitivamente) e, por esse moti-vo, os MO estão ganhando o jogo (Quadro 14.1). Alguns deles aparecem cada vez mais resistentes a todos os ATB existentes: são os chamados multirresistentes (multi-R).

Uma pesquisa canadense demonstrou outra irracionali-dade no uso de ATB em 66.901 idosos residentes em 630 instalações de cuidados de longa duração (Quadro 14.2).

Os ATB são comumente usados na prática odontológi-ca. Estima-se que 10% de todas suas prescrições estão rela-cionadas a infecções dentárias (Poveda Roda et al., 2007).

A penicilina e outros betalactâmicos, bem como a asso-ciação amoxicilina-clavulanato, são os medicamentos mais prescritos pelos cirurgiões-dentistas. Prescritos em peque-na quantidade e utilizados por curtos períodos de tempo, os ATB na prática odontológica são caracterizados pelo

Quadro 14.1 Uso irracional de medicamentos.

y Mais de 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos inadequadamente, e metade dos doentes não os toma corretamente

y O uso excessivo, a subutilização ou o mau uso de medicamentos prejudica as pessoas e desperdiça recursos y Mais de 50% de todos os países não adotam políticas básicas para promover o uso racional de medicamentos y Nos países em desenvolvimento, menos de 40% dos pacientes no setor público e 30% no setor privado são tratados

de acordo com as diretrizes clínicas. Por exemplo: – Menos de 60% das crianças com diarreia aguda recebem terapia de reidratação oral adequada e mais de 40% re-

cebem ATB desnecessários – Apenas 50% das pessoas com malária recebem o antimalárico de primeira linha recomendado – Apenas 50 a 70% das pessoas com pneumonia são tratados com ATB apropriados, e até 60% das pessoas com in-

fecção viral do trato respiratório superior recebem ATB indevidamente

y Possíveis intervenções: uma combinação de cuidados de saúde – Educação dos provedores e sua supervisão – Educação do consumidor – Oferta adequada de medicamentos: eficaz em melhorar o uso de medicamentos

y Aplicadas isoladamente, essas intervenções têm impacto limitadoATB = antibióticosFonte: WHO, 2010.

Quadro 14.2 Uso irracional de antibióticos obersevado em pesquisas com 66.901 idosos canadenses, durante 1 ano.

y 50.061 (77,8%) receberam um ciclo de tratamento ATB (com 51.540 cursos de ATB prescritos) y O período de tratamento com ATB mais selecionado foi de 7 dias, mas, em 23.124 (44,9%), esse tempo foi ultrapassado y 21% dos prescritores superaram o limiar de 7 dias y Conclusões

– Os ATB frequentemente são prescritos por longos períodos, nos quais são influenciados mais pela preferência do prescritor do que pelas características do paciente

– Estudos futuros devem avaliar as intervenções de prescrição de ATB visando sistematicamente encurtar as durações médias de tratamento para reduzir complicações, custos e resistência associada ao uso excessivo de ATB

ATB = antibióticos.Adaptado de Daneman et al., 2013.

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270 Fundamentos de Odontologia | Estomatologia

Os ATB bactericidas atuam unicamente sobre os MO que se encontram em fase de crescimento, provo-cando sua morte, inibindo de maneira irreversível rea-ções bioquímicas essenciais ou destruindo estruturas celulares vitais.

Os ATB bacteriostáticos bloqueiam de maneira re-versível a síntese dos ácidos nucleicos ou das proteínas e, uma vez interrompida a administração, a síntese dessas substâncias é reiniciada e os MO voltam a proliferar.

O caráter bactericida ou bacteriostático é relativo e depende da concentração alcançada pela droga no meio onde se posiciona o MO e da sensibilidade deste. Quan-do se conceitua um ATB como bactericida ou bacterios-tático refere-se à concentração terapêutica média a ser utilizada e a média de germes sobre os quais ela atua.

Qualquer ATB pode ter um efeito bactericida ou bacteriostático sobre um determinado germe in vitro, dependendo da sua concentração no meio.

A prescrição de associações de ATB reflete o conhe-cimento do PS. Sempre que possível, deve-se evitar a associação de ATB, principalmente entre os bactericidas com bacteriostáticos. As consequências dessas associa-ções podem ser as relatadas no Quadro 14.5.

O Quadro 14.6 mostra alguns exemplos de ATB bactericidas e bacteriostáticos.

Antibioticoprofilaxia dos procedimentos odontológicos

Superfícies mucosas são povoadas por uma densa mi-crobiota endógena. Traumatismos nas superfícies mu-cosas, particularmente no sulco gengival ao redor dos dentes, orofaringe, trato gastrintestinal, uretra e vagina liberam, transitoriamente, diferentes espécies micro-bianas na corrente sanguínea. Bacteremia transitória causada por estreptococos viridantes e outros MO da

Quadro 14.4 Quando usar ou não usar os antibióticos: regras gerais.

usar quando y A doença foi diagnosticada e tem sua etiologia conhecida e identificada y O paciente está febril por infecção bacteriana y A infecção persiste após drenagem ou desbridamento dos tecidos y A infecção está se ampliando sem uma localização precisa y Considerar que se justifica pela:

– Alta probabilidade de ocorrer infecções sistêmicas, como endocardite bacteriana e febre reumática – Imunodeficiência do paciente, por exemplo, AIDS, doença autoimune controlada por corticosteroides, neoplasias etc. – Comorbidade que levou a transplante, implante ou enxertia – Comorbidades como diabetes descompensada ou outras doenças sistêmicas com risco elevado

y Houver trismo com sinais infecciosos vizinhos y Houver celulite y Executar cirurgia de processos agudos y Houver abscessos dentoalveolares não resolvidos pela simples drenagem y Existirem periodontopatias claramente refratárias ao tratamento local y Colocação de implantes (frequentemente uma única tomada) y Relação custo/benefício1

não usar quando y O conhecimento do prescritor foi obtido somente por meio de

– Testemunho de colegas – Extrapolação indevida de estudos específicos em dada população para outra na qual a eficácia não foi estudada

y Estiver dando crédito excessivo a propagandistas e publicações comerciais ou leigas y Houver falta de conhecimento sobre os custos envolvidos no tratamento y Existir avidez e afoiteza no uso da novidade y Existir atraso no conhecimento de dados sobre tratamentos já consagrados y Não ser o primeiro (novidadeiro), mas também não ser o último (superado) y Houver falta de confiança ou compreensão do valor das defesas imunológicas levando ao uso de “um míssil para ma-

tar um pernilongo” y Permanecer a deficiência do conhecimento dos efeitos colaterais e das interações medicamentosas, inclusive no uso

concomitante de medicamentos antagônicos y Faltar disponibilidade de um guia terapêutico atualizado e frequência em cursos de educação continuada, ou, pelo

menos, falta de autodidatismo1 É inútil, inclusive, receitar antibióticos mais custosos do que o paciente pode pagar. O profissional de sáude deve sempre saber quanto vale o que está receitando.