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PRINCÍPIOS DE

DIREITO AMBIENTAL

DO TRABALHO

4722.2 Princípios de direito.pmd 11/03/2013, 18:351

THAÍSA RODRIGUES LUSTOSA DE CAMARGO

Assessora jurídica do Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM). Doutoranda emCiências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas

(UFAM). Mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA).Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade para o Desenvolvimento do

Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP).

SANDRO NAHMIAS MELO

Princípios de Direito Ambiental do TrabalhoJuiz do Trabalho Titular — TRT da 11ª Região. Mestre e Doutor em Direito dasRelações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor

de Programas de Pós-Graduação em Direito Ambiental e Direito do Trabalho.

PRINCÍPIOS DE

DIREITO AMBIENTAL

DO TRABALHO


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R

Camargo, Thaísa Rodrigues Lustosa de

Princípios de direito ambiental do trabalho / Thaísa RodriguesLustosa de Camargo, Sandro Nahmias Melo. — São Paulo : LTr,2013.

Bibliografia

1. Ambiente de trabalho 2. Direito ambiental 3. Direito do trabalhoI. Melo, Sandro Nahmias. II. Título.

12-15288 CDU-34:331.042

1. Direito ambiental do trabalho 34:331.042

Versão impressa - LTr 4722.2 - ISBN 978-85-361-2465-0

Versão digital - LTr 7525.9 - ISBN 978-85-361-2502-2

4722.2 ficha Princípios de direito ambiental.pmd 18/3/2013, 11:321

A Samuel e Isaac Nahmias, herança do SENHOR.Sandro Nahmias Melo

À minha mãe Graça (in memoriam) e minha filha Beatriz, amoresda minha vida.

Ao meu querido marido, Serguei Camargo, pelocompanheirismo, amor e carinho ao longo dessa jornada.

Thaísa Rodrigues Lustosa de Camargo


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SUMÁRIO

PREFÁCIO — EDSON DAMAS DA SILVEIRA ............................................................... 11

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13

CAPÍTULO 1O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................... 17

1.2. ANTROPOCENTRISMO E CIÊNCIA JURÍDICA ............................................................. 19

1.3. O MEIO AMBIENTE ............................................................................................... 21

1.4. PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR ................................................................ 22

1.4.1. RELAÇÃO SAÚDE E TRABALHO ................................................................... 22

1.4.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA .............................................................................. 24

1.5. CONCEITO DE MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ....................................................... 26

1.6. O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO SAUDÁVEL COMO DIREITO FUNDAMENTAL .......... 28

CAPÍTULO 2PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO

2.1. PRINCÍPIOS DE DIREITO ........................................................................................ 31

2.2. PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO ................................................ 35

2.2.1. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO DIREITO AMBIENTAL .................................. 36

2.2.2. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................................ 36


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2.2.3. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR ........................................................... 43

2.2.4. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO ..................................................................... 51

2.2.5. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO ...................................................................... 56

2.2.6. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO ........................................................................ 63

CAPÍTULO 3PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

3.1. ORIGENS ............................................................................................................. 72

3.2. CONCEITO .......................................................................................................... 73

3.3. PRECAUÇÃO VERSUS PREVENÇÃO ......................................................................... 76

3.4. NO DIREITO INTERNACIONAL ............................................................................... 81

3.4.1. A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO — OIT ....................... 87

3.5. NO DIREITO BRASILEIRO....................................................................................... 91

3.6. ELEMENTOS DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO ........................................................... 94

3.6.1. A QUESTÃO DA CERTEZA E DA PESQUISA CIENTÍFICA ................................... 94

3.6.2. A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA ............................................................... 95

3.6.3. ELEMENTO CUSTO-BENEFÍCIO .................................................................... 96

3.6.4. DIREITO DAS GERAÇÕES FUTURAS .............................................................. 97

3.7. SIMILITUDES COM O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO ............. 101

CAPÍTULO 4CONCRETIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E DA PRECAUÇÃO

4.1. TEORIAS SOBRE A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO................................ 103

4.2. INSTRUMENTOS DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ............................. 107

4.2.1. GREVE AMBIENTAL.................................................................................. 108

4.2.1.1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS ................................................... 108

4.2.1.2. TUTELA JURÍDICA ....................................................................... 110

4.2.1.3. CASUÍSTICA ............................................................................... 112

4.2.1.4. DIREITO INDIVIDUAL DE EXERCÍCIO COLETIVO ............................. 116

4.2.2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................... 118


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4.2.3. INTERDIÇÃO E EMBARGO ......................................................................... 119

4.2.4. ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EPIA) .................................. 120

4.2.5. INQUÉRITO CIVIL (IC) E AÇÃO CIVIL PÚBLICA (ACP) ........................... 123

4.2.6. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC) ...................................... 124

4.2.7. COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES (CIPA) ................... 125

4.2.8. SERVIÇOS ESPECIALIZADOS EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA E MEDICINA

DO TRABALHO (SESMT) ...................................................................... 127

4.2.8.1. PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS (PPRA) ..... 130

4.2.8.2. PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DA SAÚDE OCUPACIONAL

(PCMSO)............................................................................... 131

4.3. JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................... 132

4.3.1. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E DA PRECAUÇÃO .......................................... 132

4.3.2. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E DA PRECAUÇÃO AO AMBIENTE

LABORAL ............................................................................................... 138

4.4. CASUÍSTICA ...................................................................................................... 149

4.4.1. O USO DO DICLORO-DIFENIL-TRICLOROETANO (DDT) ............................. 149

4.4.2. O TRABALHO NA LAVOURA DE CANA-DE-AÇÚCAR .................................... 156

CONCLUSÃO ............................................................................................................ 165

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 167


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PREFÁCIO

Os professores Sandro Nahmias e Thaísa Camargo muito me honraram com oconvite deste prefácio, até porque — inobstante colegas de docência — tive o primeirocomo referencial teórico da minha tese de doutoramento, quando pesquisava atensão de direitos fundamentais em aparente colisão no caso da demarcação daTerra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada no estado de Roraima.

Ainda pós-graduando Sandro Nahmias, logo no início deste século, foi umdos primeiros juristas brasileiros a defender a tese da intangibilidade do núcleoessencial da norma de direito fundamental como limite intransponível no processode ponderação, e fez isso com argumentos muito lúcidos e sólidos, tanto que,passados quase dez anos dos seus escritos, os argumentos permanecem indenesde qualquer reparo.

Quanto à Thaísa Camargo, em que pese por ora uma jovem doutoranda, vemse destacando com encômios no universo acadêmico da Amazônia. Contaatualmente com uma vasta produção científica, muito própria dos novos talentosque prometem zelosa doutrina e profícuo futuro de pesquisa.

O encontro de ambos nesta publicação apenas confirma parceria antiga,nascida da relação entre orientador e orientanda do Mestrado em Direito Ambientalda Universidade do Estado do Amazonas, cujo sucesso veio para brindar o públicocom o título Princípios de direito ambiental do trabalho.

Trata-se de uma obra de raríssima qualidade, inspirada pela experiência dotambém Magistrado do Trabalho Sandro Nahmias, aliada — por conseguinte — àdeterminação científica de Thaísa Camargo. O direito ambiental do trabalho, comprincípios próprios e como ramo autônomo do direito, vem sendo defendido peloprimeiro há muito tempo. Portanto, não é um despropósito nominar o ProfessorSandro Nahmias como um dos fundadores dessa disciplina no Brasil.

Bem sabemos que se escreve pouco sobre o tema, ainda mais quandocompreendido a partir de uma base cartográfica singular e muito significativa para


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o planeta, qual seja, a partir do meio ambiente Amazônico. A merecer destaqueainda o descortinar de uma profunda discussão: o meio ambiente do trabalho estariavinculado ao direito do trabalho ou ao direito ambiental?

A par dessa complexa questão, os autores também enveredaram por centraresforços em outra espinhosa tarefa, a de esclarecer em bases metodológicas maisclaras e racionais o liame distintivo entre os princípios da prevenção e da precaução,não muito nítido inclusive na doutrina internacional, em que alguns chegam até adesclassificar essa diferenciação.

Nada disso, porém, veio para desmerecer ou mesmo negligenciar asabordagens dadas pelos mesmos autores aos demais primados que norteiam omeio ambiente do trabalho, encarados com uma clareza de escrita singular e umasutileza de propósitos ímpar, tudo a me impressionar positivamente e assimrecomendar a leitura desta magnífica produção bibliográfica.

Boa Vista, 9 de julho de 2012.

Edson Damas da SilveiraProcurador de Justiça em Roraima

Professor do Mestrado em Direito Ambiental da UEA


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INTRODUÇÃO

O mundo real, na sua essência, é uno e complexo. O pensamento científicoinovou ao dividir o mundo em facetas ou níveis de organização diferentes e aotentar desenvolver instrumentos específicos. Foi este recorte arbitrário do real pelasdisciplinas, enquanto movimento histórico do pensamento humano, que viabilizouo surgimento e o desenvolvimento do pensamento científico.

Em razão disso, certos objetos e assuntos são cientificamente híbridos, poissua posição social obriga a considerar a realidade tal como se apresenta naexperiência comum. É o caso de operações técnicas que necessitam de vários conhe-cimentos para serem realizadas ou de problemas técnicos e sociais que estãoestreitamente ligados. Estes últimos tem como exemplo, em especial, as questõesligadas ao meio ambiente.

Dessa forma, a proteção ambiental deve ser observada em diversas áreas doconhecimento, bem como em cada um dos ramos do direito. As normas queprotegiam aspectos isolados da natureza e do meio ambiente devem ser observadase interpretadas sob a óptica do direito ambiental, ou seja, serem direcionadas pelosprincípios gerais de direito ambiental, solucionando, inclusive, possíveis conflitos deinteresses de forma a possibilitar a preponderância da proteção à sadia qualidadede vida do homem.

O direito ambiental não pode ser enquadrado dentro de um modelo que oreparte em diferentes departamentos estanques, e que, a partir de tal comparti-mentalização, define campos para a incidência desta ou daquela norma. Isso decorredo fato de ele ser um direito sistematizador, que articula legislação, doutrina ejurisprudência concernentes aos elementos que integram o meio ambiente. Assim,procura-se evitar o isolamento dos temas ambientais e sua abordagem antagônica.

A referência ao meio ambiente do trabalho está presente em todos os setoresdo direito do trabalho. No direito do trabalho público, tem-se, ainda que de formatímida, a questão dos acidentes típicos e das doenças decorrentes do meio ambientelaboral inadequado. No direito individual, a concessão de adicionais de remuneração


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para o exercício de atividades insalubres ou perigosas. No direito coletivo, aimportância dos sindicatos na luta pela melhoria do ambiente de trabalho.

Cabe, contudo, destacar que as tutelas pretendidas pelo direito ambiental dotrabalho e pelo direito do trabalho não se confundem, mas se intercedem na tutelado ambiente laboral e, consequentemente, da saúde, vida e segurança dotrabalhador. Apesar de o objeto do direito do trabalho ser, de forma preponderante,a natureza jurídica das relações entre as partes envolvidas no processo econômicode produção de bens e serviços, ele acaba englobando normas sobre o ambientede trabalho, como se pode verificar no próprio Consolidado de Leis Trabalhistas enas Normas Regulamentadoras.

Dessa maneira, o direito ambiental acaba absorvendo temas que até entãoeram estudados com exclusividade pelo direito do trabalho e pelo direito daseguridade social. Sob a óptica da Constituição Republicana de 1988, o meioambiente do trabalho engloba os direitos fundamentais dos trabalhadores, sendoa efetiva garantia desses direitos básicos.

Essa identificação do homem como centro das questões ambientais édecorrente da própria visão antropocêntrica do direito, que coloca o homem comoo centro de sua proteção e o destinatário final de toda e qualquer norma, de modoque a tutela dos bens ambientais se dá conforme as necessidades humanas.

Como todo dano causado ao ambiente laboral afeta de forma direta e imediatao trabalhador, sobreleva-se a importância de medidas protetoras ao ambiente detrabalho. Neste contexto, destaca-se a importância dos princípios de direito ambientaldo trabalho, especialmente dos princípios da prevenção e da precaução.

Frente ao exposto, a presente obra se propõe a estudar os princípios de direitoambiental do trabalho, desenvolvendo-se em quatro capítulos.

O capítulo 1 apresenta a base teórica para a compreensão do meio ambientedo trabalho. Para isso, discorre inicialmente sobre as características gerais do meioambiente, sua classificação, os destinatários das normas ambientais (antropocen-trismo e ciência jurídica), a proteção à saúde do trabalhador e, por fim, o conceitode meio ambiente laboral.

O capítulo 2 discorre sobre a estrutura principiológica do direito ambiental dotrabalho, destacando seus princípios estruturantes, como o da sustentabilidade, dopoluidor-pagador, da participação popular, da informação e da prevenção. É dadodestaque à relação deles com o princípio da precaução e as suas peculiaridades aoserem aplicados ao meio ambiente do trabalho, enquanto aspecto específico domeio ambiente.

O capítulo 3 trata de maneira minuciosa sobre o princípio da precaução,discorrendo sobre origem, conceito, autonomia principiológica, previsão no direitointernacional e no ordenamento jurídico interno, além de seus elementos (incerteza


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científica, inversão do ônus da prova, elemento custo-benefício e questão do direitodas gerações futuras) e suas similitudes com o princípio da proteção do direito dotrabalho. O objetivo é demonstrá-lo como um princípio autônomo e consolidado,cuja aplicação ao meio ambiente do trabalho não só é imperiosa, como já estáocorrendo.

Encerrando o trabalho, o capítulo 4 aborda a concretização dos princípios daprevenção e da precaução no meio ambiente do trabalho, de forma teórica ejurisprudencial, além de apresentar dois estudos de caso: “o trabalho na lavoura decana-de-açúcar” e “o uso do DDT”.


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CAPÍTULO 1

O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Apesar de superada a aridez inicial de trabalhos jurídicos que discorressemsobre o tema meio ambiente do trabalho e, em particular, sobre o que seconvencionou denominar direito ambiental do trabalho(1), o significativo númerode obras hoje existentes sobre o assunto(2), em sua maioria, não enfrenta umaquestão complexa: o meio ambiente do trabalho está vinculado, em sua essência,ao direito do trabalho ou ao direito ambiental? A tendência de algumas abordagensé limitar o tratamento da matéria como subtema do direito do trabalho. A questão,todavia, não me parece tão simples.

Paulo de Bessa Antunes(3), após suscitar o mesmo questionamento supra, afirmaque não se pode enquadrar o direito ambiental dentro de um modelo “quadrado”,

(1) Cf. FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. 2. ed. SãoPaulo: LTr, 2007 e ROCHA, Júlio César de Sá da Rocha. Direito ambiental do trabalho. São Paulo: LTr, 2002.(2) Ver obras de Sandro Nahmias Melo (Meio ambiente do trabalho: direito fundamental. São Paulo: LTr,2001); Julio Cesar de Sá da Rocha (Direito ambiental e meio ambiente do trabalho. São Paulo: LTr, 1997 eDireito ambiental do trabalho. São Paulo: LTr, 2002); Guilherme José Purvin de Figueiredo (Direito ambientale a saúde dos trabalhadores. São Paulo: LTr, 2007); João José Sady (Direito do meio ambiente do trabalho.São Paulo: LTr, 2000); Liliana Allodi Rossit (O meio ambiente de trabalho no direito ambiental brasileiro. SãoPaulo: LTr, 2001); Sidnei Machado (O direito à proteção ao meio ambiente de trabalho no Brasil. São Paulo:LTr, 2001); Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (Meio ambiente do trabalho. São Paulo: LTr,2002); Norma Sueli Padilha (Do meio ambiente do trabalho equilibrado. São Paulo: LTr, 2002); RaimundoSimão de Melo (Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. São Paulo: LTr, 2004).(3) Meio ambiente do trabalho. Revista de Direitos Difusos, p. 1977, set./out. 2002.


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que o reparte em departamentos estanques, definindo campos para a incidênciadesta ou daquela norma.

A relevância desta discussão sobreleva-se quando considerado que renomadosambientalistas sequer entendem como cientificamente adequado o estudo do meioambiente em “aspectos”, notadamente: meio ambiente natural, artificial, culturale do trabalho, conforme pontificado por José Afonso da Silva(4).

Aqui um registro se faz necessário. É inapropriada a apresentação do meioambiente em espécies, como fazem alguns(5), sob pena de esvaziar-se toda aprincipiologia de unidade e indivisibilidade do meio ambiente. O aspecto refere-se àparte exterior de alguma coisa, um ponto de vista, enquanto uma espécie remetea ideia de partes autônomas ligadas a um gênero. Ora, o meio ambiente, como sesabe, não possui elementos estanques, sendo a sua indivisibilidade pedra angulardo direito ambiental.

Neste sentido Cristiane Derani(6) observa que, “na medida em que o homemintegra a natureza e, dentro do seu meio social, transforma-a, não há como referir--se à atividade humana sem englobar a natureza, cultura, consequentementesociedade. Toda relação humana é uma relação natural, toda relação com a naturezaé uma relação social”.

Guilherme José Purvin de Figueiredo(7), por seu turno, defende que não fazsentido a dicotomia meio ambiente natural x artificial quando se trata de meioambiente do trabalho, afirmando que “é necessário realizar a conjunção do elementoespacial (local de trabalho) com o fator ato de trabalhar. Dentro dos estreitos limitesdaquela dicotomia, este novo elemento diferenciador não encontra exclusividadeem qualquer das duas áreas”.

Ressalta-se, uma vez mais, que o meio ambiente, em todas as suas nuanças, éuno e indivisível, não admitindo compartimentação. Não se sustenta, portanto, asua divisão em subespécies ou classes, sob pena de admitir-se que as ações humanas,

(4) “I — meio ambiente artificial, constituído pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjuntode edificações (espaço urbano fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espaçoslivres em geral: espaço urbano aberto); II — meio ambiente cultural, integrado pelo patrimônio histórico,artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, em regra, como obra do homem,difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial que adquiriu ou se impregnou;III — meio ambiente natural, ou físico, constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora, enfim, pelainteração dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recíproca entre as espécies e as relaçõesdestas com o ambiente físico que ocupam.” (SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7.ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 21.)(5) Cf. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Meio ambiente do trabalho e direitos fundamentais:responsabilidade civil do empregador por acidentes do trabalho, doenças ocupacionais e danos ambientais.In: Revista O Trabalho, n. 153, p. 5.285, nov. 2009.(6) Direito ambiental econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997. p. 149-50.(7) 2007, p. 42.


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de qualquer natureza, incidentes sobre determinado aspecto do meio ambiente,não tenham, necessariamente, qualquer repercussão sobre seus demais aspectos.

Cumpre evidenciar, por fim, que o estudo do meio ambiente em aspectostem finalidade meramente didática, como reconhecido por Guilherme José Purvinde Figueiredo(8) e Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues(9).

O estudo do meio ambiente em aspectos facilita a visualização do bemimediatamente tutelado, tal como acontece com uma parte do corpo humano(membros, ossos, órgãos etc.) sob um microscópio. O estudo daquela parteintegrante de um todo, como se faz na medicina, tornar-se-á mais claro e didático.Os problemas daquela área em estudo ficarão evidenciados, o que não quer dizerque ela deixou de ter ligação direta com as demais áreas do corpo, em umaverdadeira e contínua troca de energias.

Feitas estas considerações, entende-se que o direito do trabalho e o direitoambiental não só se interceptam, quando tratamos de meio ambiente do trabalho,como comportam, com relação ao seu destinatário final (o homem), objetivos símiles.Buscam ambos a melhoria do bem-estar do homem-trabalhador e a estabilidade doprocesso produtivo. O que os diferencia é a abordagem dos diferentes textosnormativos que os integram.

Assim, admitido o direito ambiental — sem excluir o direito do trabalho —como referência para análise de questões atinentes ao meio ambiente do trabalho,cabem aqui algumas indagações. A quem se destinam as normas ambientais? Atutela legal do meio ambiente destina-se a proteger o homem ou a natureza?

As respostas a essas indagações podem variar segundo a visão ou teoriaescolhida para estudar o tema, com destaque para as teorias antropocentrista eecocentrista.

1.2. ANTROPOCENTRISMO E CIÊNCIA JURÍDICA

Como adverte, com propriedade, Julio Cesar de Sá da Rocha(10), para melhorcompreender a gênese do direito ambiental, faz-se mister notar as concepções e osfundamentos filosóficos que fundam essa disciplina jurídica.

Se adotada a corrente filosófica denominada ecocentrismo como linha mestrado direito ambiental, torna-se insólito e infértil o estudo, ainda que meramentedidático, do meio ambiente do trabalho. Note-se que, no meio ambiente do trabalho,os interesses do homem (trabalhador) prevalecem sobre o ecológico e o econômico.

(8) Op. cit, p. 39.(9) Manual de direito ambiental e legislação aplicável. São Paulo: Max Limonad, 1999. p. 26.(10) 2002, p. 77.


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No ecocentrismo, os “partidários de um fundamentalismo ecológico”, naexpressão de Miguel Reale(11), entendem que “o homem deve ser encarado ‘comoum ser vivo como outro qualquer’ sendo o ecológico o ‘valor absoluto’”.

Julio Cesar de Sá da Rocha(12) esclarece que

o ecocentrismo consubstancia-se, dentre outros parâmetros filosóficos,pela ecologia profunda. Note-se que se entende que o ser humanoconstitui parte integrante do mundo natural. Os elementos da natureza(mundo não humano), como, por exemplo, animais, plantas, possuemigual importância e direitos.

Como já exposto, a adoção do ecocentrismo no direito ambiental não sedemonstra razoável. Note-se que os seres não humanos são incapazes de exercerdeveres ou de reivindicar direitos de forma direta, embora o ordenamento jurídicobrasileiro lhes atribua uma série de “direitos”. O ordenamento jurídico é fruto decriação humana tendo como destinatário principal o homem.

Como afirma Julio César de Sá da Rocha(13), a fauna, a flora, as florestas e osdemais recursos naturais são tutelados em benefício do próprio ser humano pordiversas razões e justificativas. Em síntese, o meio ambiente deve ser preservado namedida em que o ser humano depende dos recursos naturais. Quando o homempassa a ser prioridade na questão ambiental, tem-se em aplicação o antropocentrismo.

Miguel Reale(14) defende que o ecológico não é um valor absoluto, mas, sim,um valor-fonte de todos os valores (hierárquica de valores) que são exercidos emfunção da pessoa humana. A ecologia subordina-se, assim, à antropologia, o quenão raramente é esquecido.

Registre-se que o legislador constituinte, no caput do art. 225, ao usar aexpressão “sadia qualidade de vida”, optou por estabelecer dois sujeitos de tutelaambiental: “um imediato, que é a qualidade do meio ambiente, e outro mediato,que é a saúde, o bem-estar e a segurança da população, que se vêm sintetizandona expressão da qualidade de vida”(15). A saúde mencionada é a do ser humano.

Cristiane Derani(16), com fineza de pensamento, conclui que

[...] isto significa que o tratamento legal destinado ao meio ambientepermanece necessariamente numa visão antropocêntrica porque esta

(11) REALE, Miguel. Em defesa dos valores humanísticos. Disponível em: <http://www.miguelreale.com.br/artigos/primvant.htm> Acesso em: 1º.5.2009.(12) 2002, p. 79.(13) Direito ambiental do trabalho. São Paulo: LTr, 2002. p. 79.(14) Primado dos valores antropológicos. Disponível em: <http://www.miguelreale.com.br/artigos/primvant.htm> Acesso em: 1º.5.2009a.(15) FIORILLO; RODRIGUES, 1999, p. 54.(16) 1997, p. 71.


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visão está no cerne do conceito de meio ambiente” e arremataasseverando que “as normas ambientais são essencialmente voltadas auma relação social e não a uma “assistência” à natureza. (17)

Assim sendo, se o meio ambiente que a Constituição Federal quer verpreservado é aquele “[...] ecologicamente equilibrado, bem como de uso comumdo povo e essencial à sadia qualidade de vida” (art. 225, caput), então o homem, anatureza que o cerca, a localidade em que vive, o local onde trabalha, não podemser considerados como compartimentos fechados, senão como “átomos de vida”,integrados na grande molécula que se pode denominar de “existência digna”.

Rodolfo de Camargo Mancuso(18) esclarece que:

o “conceito holístico de meio ambiente” não se compadece com situaçõesem que os recursos naturais venham (muito justamente) preservados,mas sem que o ser humano ali radicado seja objeto de iguais cuidados,como quando se vê constrangido a trabalhar em condições subumanas,perigosas, insalubres, degradantes, excessivamente estressantes ou aindapercebendo remuneração irrisória, contrariando a sabedoria popular deque “o trabalho é meio de vida e não de morte...”.

Dessa forma, a manutenção da atual organização social, através do EstadoDemocrático de Direito, só é possível com a permanência da visão antropocêntrica,em que o homem é o destinatário final de toda e qualquer norma. A vida dosdemais seres só pode ser tutelada pelo direito ambiental, nos termos da normapositivada, à medida que sua existência implique a garantia da sadia qualidade devida humana. O homem tem por objetivo conservar a natureza, claramente, embenefício seu. É nesse contexto que devem ser visualizadas as normas ambientais.

1.3. O MEIO AMBIENTE

O direito ambiental tutela o meio ambiente, enquanto bem difuso querepresenta os interesses pertencentes ao mesmo tempo a cada um e a todos. Oart. 3º da PNMA define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis,influências e interação de ordem física, química e biológica, que permite, abriga erege a vida em todas as suas formas”. Para Figueiredo(19), esse conceito demonstraa ideia de meio ambiente como uma dinâmica complexa de fatores múltiplos, comocondições, leis, influências e interações.

(17) A ideia antropocêntrica, ressalte-se, não é defendida apenas por pesquisadores da ciência jurídica.(18) Ação civil pública trabalhista: análise de alguns pontos controvertidos. In: Revista do MinistérioPúblico do Trabalho, ano VI, São Paulo: LTr, p. 57, set. 1996.(19) Curso de direito ambiental: interesses difusos, natureza e propriedade. Rio de Janeiro: Portal Jurídico(Gazetajuris), 2006.


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