princípios da biologia da conservação - diretrizes para o ensino da conservação recomendadas...

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Conservation Biology Volume 18, N. 05, Outubro 2004 1  Ensino da Con servação Princípios da Biologia da Conservação: Diretrizes para o Ensino da Conservação recomendadas pelo Comitê de Educação da Sociedade para a Biologia da Conservação Vivemos em um mundo onde a diversidade ecológica encontra-se em redução. Extraímos energia, materiais e organismos da natureza e modificamos as paisagens em proporções que não se sustentam. Essas atividades têm resultado em taxas crescentes de extinção, degradação e perda de sistemas naturais nos quais nossas culturas estão inseridas. A Sociedade para a Biologia da Conservação (SCB) acredita que o ensino da conservação é passo necessário para que tais problemas sejam corrigidos. Os objetivos e as metas afirmados pela Sociedade incluem “a educação, em todos os níveis, preparatória e contínua, do público, dos biólogos e dos administradores nos princípios da biologia da conservação”. Quais são estes princípios? Quais são os conceitos e valores centrais que fundamentam a interpretação profissional do campo da biologia da conservação, uma compreensão daquilo que representa o que se poderia chamar de “ensino da conservação”? Apesar do foco ocasional da literatura sobre biologia da conservação em educação (Jacobson & Hardesty 1988; Fleischner 1990; Orr 1992, 1994; Trombulak 1993), não surgiu nenhum consenso acerca de diretrizes essenciais nessa área. Tentamos aqui fornecer uma estrutura para essas diretrizes. Este documento é resultado de um projeto de longo prazo conduzido pelo Comitê de Educação da SCB. Os princípios aqui apresentados derivam do grande quadro de pesquisa em ecologia e em genética, da prática da conservação no século passado e da variedade de perspectivas interdisciplinares emergentes nas ciências sociais. Descrições detalhadas das bases teóricas e empíricas para estas diretrizes foram fornecidas por Meffe and Carroll (1997), Massa e Ingegnoli (1999), García (2002), Primack (2002), e Hunter (2002). Objetivamos aqui descrever o cerne do conhecimento que vemos como marca característica do ensino da conservação ao invés de apenas prescrever o que algum indivíduo em particular deve saber. Nossa expectativa é que esses princípios sirvam para propósitos e públicos diferentes. Organizações voltadas à conservação, por exemplo, podem usá-los para desenvolver programas educacionais para seus membros, nas quais a ênfase seja ajudar cidadãos a entender a base para políticas conservacionistas efetivas. Podem servir como um guia no desenvolvimento de cursos de biologia da conservação para estudantes universitários (seja como matéria principal ou não) ou em programas de formação permanente para profissionais na área de recursos naturais. Também podem servir como um guia para o desenvolvimento de programas de pós-graduação em biologia da conservação que enfatizem a aquisição de habilidades profissionais. O fato de ser delineada como uma ferramenta educacional para públicos diversos faz com que essa sistematização seja bastante diferente de uma simples lista de tópicos importantes, tais com o índice dos livros citados anteriormente. Em primeiro lugar, cada item ou tópico não é um título, mas um princípio, uma afirmativa de um conceito ou uma meta que por si só é uma idéia para direcionar professores e engajar estudantes. Cada princípio reflete descobertas de uma variedade de pesquisas disponíveis em livros, talvez nem sempre tão facilmente acessíveis para todos os grupos de estudantes. Em segundo lugar, a sistematização é uma hierarquia de princípios, que se explicam por si só, ao mesmo tempo em que contribuem para o conceito geral como um todo. Queremos encorajar pessoas a usar este material de todas as formas possíveis. Os leitores podem basear-se em princípios ou grupo de princípios que sejam apropriados para suas atividades, sem a necessidade de investigar ou compreender todos eles. Em terceiro lugar, os três níveis hierárquicos - princípios primários, princípios secundários e princípios de apoio – apresentam os princípios da biologia da conservação com crescente nível de detalhes. Alguns leitores ou usuários podem querer somente utilizar e entender o princípio primário associado a cada tema. Também seria correto e útil que o material correspondente aos princípios secundários fosse usado e estudado o mais profundamente possível. Um curso de estudo mais longo e mais detalhado seria baseado em princípios de apoio mais específicos. A sistematização pode ser igualmente utilizada em uma abordagem mesclada, de forma cientificamente correta e adequada às necessidades locais. Por exemplo, um gabinete legislativo interessado em proteção de espécies e restauração de hábitats pode examinar tanto os cinco princípios primários quanto os princípios secundários e os conceitos do Tema V (Ação). É tentador ver a biologia da conservação apenas como uma outra área especializada, relevante para poucos e sem importância para a vida cotidiana. Dada a magnitude do impacto da humanidade sobre a Terra, no entanto, o ensino da conservação deve ser considerado um dos pilares da boa cidadania em qualquer nação (Orr 1992,2004). O desenvolvimento das diretrizes para o ensino da conservação pela SCB acompanha a trajetória seguida por outras sociedades profissionais para o desenvolvimento das diretrizes em seus respectivos campos. (Giliard et al. 1988; Geological Society of America 1999; North American Association for

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Artigo com os princípios da biologia da conservação.

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 Ensino da Conservação

Princípios da Biologia da Conservação: Diretrizes para o Ensino da Conservaçãorecomendadas pelo Comitê de Educação da Sociedade para a Biologia daConservação

Vivemos em um mundo onde adiversidade ecológica encontra-seem redução. Extraímos energia,materiais e organismos da naturezae modificamos as paisagens emproporções que não se sustentam.Essas atividades têm resultado emtaxas crescentes de extinção,degradação e perda de sistemasnaturais nos quais nossas culturasestão inseridas. A Sociedade para aBiologia da Conservação (SCB)acredita que o ensino daconservação é passo necessário paraque tais problemas sejamcorrigidos. Os objetivos e as metasafirmados pela Sociedade incluem“a educação, em todos os níveis,preparatória e contínua, do público,dos biólogos e dos administradoresnos princípios da biologia daconservação”.

Quais são estes princípios? Quaissão os conceitos e valores centraisque fundamentam a interpretaçãoprofissional do campo da biologiada conservação, uma compreensãodaquilo que representa o que sepoderia chamar de “ensino daconservação”? Apesar do focoocasional da literatura sobrebiologia da conservação emeducação (Jacobson & Hardesty1988; Fleischner 1990; Orr 1992,1994; Trombulak 1993), não surgiunenhum consenso acerca dediretrizes essenciais nessa área.Tentamos aqui fornecer uma

estrutura para essas diretrizes. Estedocumento é resultado de umprojeto de longo prazo conduzidopelo Comitê de Educação da SCB.Os princípios aqui apresentadosderivam do grande quadro depesquisa em ecologia e em genética,da prática da conservação no séculopassado e da variedade deperspectivas interdisciplinaresemergentes nas ciências sociais.Descrições detalhadas das basesteóricas e empíricas para estas

diretrizes foram fornecidas porMeffe and Carroll (1997), Massa eIngegnoli (1999), García (2002),Primack (2002), e Hunter (2002).

Objetivamos aqui descrever o cernedo conhecimento que vemos comomarca característica do ensino daconservação ao invés de apenasprescrever o que algum indivíduoem particular deve saber. Nossaexpectativa é que esses princípiossirvam para propósitos e públicosdiferentes. Organizações voltadas àconservação, por exemplo, podemusá-los para desenvolver programaseducacionais para seus membros,nas quais a ênfase seja ajudarcidadãos a entender a base parapolíticas conservacionistas efetivas.Podem servir como um guia nodesenvolvimento de cursos debiologia da conservação paraestudantes universitários (seja comomatéria principal ou não) ou emprogramas de formação permanentepara profissionais na área derecursos naturais. Também podemservir como um guia para odesenvolvimento de programas depós-graduação em biologia daconservação que enfatizem aaquisição de habilidadesprofissionais.

O fato de ser delineada como umaferramenta educacional parapúblicos diversos faz com que essasistematização seja bastantediferente de uma simples lista detópicos importantes, tais com oíndice dos livros citadosanteriormente. Em primeiro lugar,cada item ou tópico não é um título,

mas um princípio, uma afirmativade um conceito ou uma meta quepor si só é uma idéia para direcionarprofessores e engajar estudantes.Cada princípio reflete descobertasde uma variedade de pesquisasdisponíveis em livros, talvez nemsempre tão facilmente acessíveispara todos os grupos de estudantes.

Em segundo lugar, a sistematizaçãoé uma hierarquia de princípios, quese explicam por si só, ao mesmo

tempo em que contribuem para oconceito geral como um todo.Queremos encorajar pessoas a usareste material de todas as formas

possíveis. Os leitores podembasear-se em princípios ou grupo deprincípios que sejam apropriadospara suas atividades, sem anecessidade de investigar oucompreender todos eles.

Em terceiro lugar, os três níveishierárquicos - princípios primários,princípios secundários e princípiosde apoio – apresentam os princípiosda biologia da conservação comcrescente nível de detalhes. Algunsleitores ou usuários podem querersomente utilizar e entender oprincípio primário associado a cadatema. Também seria correto e útilque o material correspondente aosprincípios secundários fosse usadoe estudado o mais profundamentepossível. Um curso de estudo maislongo e mais detalhado seriabaseado em princípios de apoiomais específicos. A sistematizaçãopode ser igualmente utilizada emuma abordagem mesclada, de formacientificamente correta e adequadaàs necessidades locais. Porexemplo, um gabinete legislativointeressado em proteção de espéciese restauração de hábitats podeexaminar tanto os cinco princípiosprimários quanto os princípiossecundários e os conceitos do TemaV (Ação).

É tentador ver a biologia daconservação apenas como umaoutra área especializada, relevante

para poucos e sem importância paraa vida cotidiana. Dada a magnitudedo impacto da humanidade sobre aTerra, no entanto, o ensino daconservação deve ser consideradoum dos pilares da boa cidadania emqualquer nação (Orr 1992,2004). Odesenvolvimento das diretrizes parao ensino da conservação pela SCBacompanha a trajetória seguida poroutras sociedades profissionais parao desenvolvimento das diretrizesem seus respectivos campos.

(Giliard et al. 1988; GeologicalSociety of America 1999; NorthAmerican Association for

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Environmental Education 1999;American Chemical Society 2003).

Na nossa visão, a profundidade noentendimento em qualquer assuntoenvolve conhecimento de princípiosbem como a habilidade de usar oconhecimento para resolverproblemas. Este artigo é sobre osprincípios da biologia daconservação. A habilidade pararesolver problemas énecessariamente desenvolvida paradiferentes graus, dependendo donível de educação e experiência doindivíduo. Não listamos aqui osassuntos complexos referentes àshabilidades para resolver problemasou outras habilidades intelectuais ecientíficas correlatas, por maisimportante que sejam. Estes são

temas para discussões futuras. Emtermos práticos, deixamos que osresponsáveis pelo desenvolvimentode currículos e pela implementaçãoem instituições individuaisforneçam exemplos detalhados dehabilidades associadas a cadaprincípio para diferentes níveis deeducação e experiência.

Além disso, cada professor devedesenvolver exemplos destesprincípios que sejam relevantes para

seus alunos, no contexto dodesenvolvimento do conhecimentode seu ambiente local e de umaapreciação para a condição dabiosfera como um todo. Assim, estedocumento cobre princípios que sãoaplicáveis em qualquer região domundo, e também reconhece que osutilizar com êxito em alguma regiãoespecífica depende da familiaridadecom as características e com asrealidades de conservação daquelaregião. Apesar de os princípios aqui

contidos representarem uma análisedetalhada da disciplina da biologiada conservação, não consideramoseste documento um delineamentofinal sobre o ensino da conservação.Ao contrário, esperamos que apublicação destas diretrizes marqueo início de um diálogo nacomunidade internacional sobreobjetivos, valores e conceitos dabiologia da conservação; sobreameaças à diversidade biológica, àintegridade ecológica e à saúde

ecológica; e sobre estratégias parasua proteção – um diálogo sobre oensino da conservação. Estes cincotópicos – objetivos, valores,

conceitos, ameaças e ações –formam a sistematização dos cincotemas dominantes dos princípios.Reconhecemos que um númerosignificante de princípios dabiologia da conservação aquiapresentados não são simplesmentefatos empíricos ou prediçõesteóricas, mas resultados desejadosbaseados em opiniões carregadas devalores. Não se trata de um desvioda norma para a biologia daconservação, trata-se, na verdade,de atributo chave para a disciplina(Barry & Oelschlaeger 1996; Meine& Meffe 1996).

Princípios da Biologia daConservação

Tema I. Objetivos da Biologia daConservação

Os biólogos da conservação buscammanter três importantes aspectos davida na Terra: a diversidade naturalencontrada nos sistemas vivos(biodiversidade); a composição, aestrutura e o funcionamento dessessistemas (integridade ecológica); esua resiliência e habilidade deresistir ao longo do tempo (saúdeecológica) (Callicott et al. 1999).

(A) Diversidade Biológica: abiodiversidade é a variedadede organismos vivos em todosos níveis de organização,incluindo genes, espécies,níveis mais altos de taxonomiae a variedade de hábitats e deecossistemas.

(1)  Há uma enorme efreqüentemente imensuradavariedade de organismos vivosna Terra.

(2)  A diversidade da natureza pode

ser medida de diversasmaneiras, inclusive pornúmeros absolutos, abundânciarelativa e peculiaridadesecológicas.

(3)  A diversidade biológica estáameaçada de extinção quandose observa um dos seguintespadrões: ou o elemento é raroou está em declínio.

(4)  A diversidade biológica,mesmo sob condições nãoalteradas pelas ações humanas,

não é fixa ao longo do tempo,mas é influenciada tanto porprocessos ecológicos quantoevolutivos.

(5)  Mudanças na diversidadebiológica, que são mais rápidasou mais extensas do quemudanças que ocorreriam semo impacto das ações humanas,têm maiores probabilidade deafetar negativamente aintegridade e a saúdeecológicas.

(6) 

Todos os aspectos dadiversidade biológicadesempenham potencialmenteum papel para manter a saúdeecológica, sendo então valiosospara a biologia da conservação.

(B) Integridade Ecológica: é o grauno qual um conjunto deorganismos mantém suacomposição, sua estrutura esua função ao longo do tempo,se comparado a um conjunto

que não tenha sido alteradopelas ações humanas.(1)  A integridade de um sistema

ecológico (e.g., população,ecossistema) pode ser medidade várias maneiras, inclusivepor medidas de sua estrutura(com o que um sistema separece no tempo e no espaço),de sua função (as relações entrecomponentes) e de suacomposição (quais são as peçasdo sistema) em relação ao

sistema não alterado por açõeshumanas.(2)  Proteger e restaurar a

integridade ecológica de umsistema ecológico exigeconservação em todos os níveisda hierarquia biológica e emtodos os aspectos ecológicos deestrutura, função e composição.

(C) Saúde Ecológica: é uma medidarelativa da condição de umsistema ecológico com relaçãoà sua resiliência ao stress e à

habilidade de manter suaorganização e autonomia aolongo do tempo.

(1)  A saúde ecológica é avaliadaatravés de uma combinação demedidas, sendo que nenhumadelas pode ser considerada umíndice de saúde quando isolada.Variáveis pertinentes incluemprodutividade (habilidade dosistema de produzir maisbiomassa), complexidade(número de elementos no

sistema, número de conexõesentre esses elementos e forçadas interações entres eles), eresiliência (a capacidade de

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retornar a um determinadoestado após uma perturbação) esão determinadas em funçãodos sistemas não alteradospelas ações humanas.

(2)  A saúde ecológica concentra-senos processos baseados nospadrões de biodiversidade eintegridade ecológica quepodem ser observados.

Tema II. Importância da DiversidadeBiológica, da Integridade Ecológica eda Saúde Ecológica

A conservação da natureza éconsiderada importante por trêsrazões: os valores intrínsecos danatureza; seus valores instrumentaisou econômicos; seus valoresemocionais, espirituais epsicológicos. Estes valores não são

excludentes, mas diferentes pessoaspodem ter diferentes valores, o quedeve ser levado em consideraçãoquando se objetiva a conservação(Norton 1987).(A) Sistemas de valores e

percepção da natureza: Ossistemas de valoresdeterminam como vemos anatureza e estes sistemaspodem variar tanto dentro dasculturas como entre asmesmas.

(1) 

Sistemas de valores humanosdeterminam como vemos anatureza, inclusive como

 julgamos o valor de aspectosindividuais da natureza, osefeitos humanos no meioambiente e as mudanças nadiversidade biológica e naintegridade e saúde ecológicas.

(2)  Há uma variedade de sistemasde valores humanos que vaidesde a visão de que tudo nanatureza tem seu direito próprioe absoluto de existir até à visãode que a natureza existesomente para o uso pelos sereshumanos, havendo muitasnuances entre estas duas visões.

(3)  Existe uma diversidade desistemas de valores tanto entreculturas humanas (algumastradicionalmente dão maisênfase a algum conjunto devalores que outros) comodentro dessas culturas (ondeindivíduos de uma mesmacultura podem avaliar anatureza de maneirasdiferentes).

(4)  Esforços para obter aconservação devem serconduzidos com consciência ecompreensão dos sistemas devalores existentes entre e dentrodas culturas.

(B)  Valores intrínsecos à natureza:são aqueles valores da naturezaem si, independente dequalquer utilidade para os sereshumanos.

(1)  Os humanos podem valorizar anatureza e as entidades naturais(e. g., plantas ou animaisindividuais, ecossistemas,montanhas) conforme seu valorintrínseco. A atribuição devalor intrínseco independe dequalquer valor de uso que aentidade tenha.

(2)  Destruir ou interferir em

entidades que têm valorintrínseco pode, em algumasvisões, ser consideradomoralmente aceitável apenaspara satisfazer necessidadesvitais.

(C)  Valores instrumentais danatureza: Valores instrumentaissão baseados na utilidade paraos seres humanos, comumentemedidos em termos de valoreconômico ou de serviço.

(1)  Alguns valores instrumentais

podem ser medidos em termoseconômicos, tanto que um valormonetário pode ser colocadoem um componente ou em umafunção da natureza.

(2)  Valores instrumentais podemser mantidos mesmo quandonão é possível atribuir um valorde mercado que não sejaambíguo caso um componenteou uma função da naturezatenha uso reconhecido oufunção para a sociedade. Tais

valores abrangem os serviçosecológicos fornecidos pelanatureza, incluindo amanutenção da fertilidade dosolo e o controle climático.

(D) Valores psicológicos danatureza: são aqueles quecontribuem para o bem-estarpsicológico (emocional,espiritual, estético) do serhumano.

(1)  Os valores psicológicos podemoriginar-se de uma

identificação pessoal e por umcuidado com os sistemasecológicos, o que podeexpandir o sentido do seu

próprio eu e aumentar o sentidoque um indivíduo tem deperceber seu potencial porcompleto (Naess & Rothenberg1989).

(2)  Os valores psicológicos podemoriginar-se de uma experiênciadireta com a natureza e,indiretamente, através doconhecimento de que a naturezaexiste, mesmo que certosaspectos disso não sejamdiretamente experimentados.

Tema III. Conceitos para aCompreensão da DiversidadeBiológica, da Integridade Ecológica eda Saúde Ecológica

Uma compreensão doscomponentes importantes danatureza que deveriam ser

conservados está baseada noentendimento de muitos conceitosbiológicos chaves, incluindoaqueles dentro da taxonomia,ecologia, genética, geografia ebiologia evolutiva.(A) Hierarquia taxonômica: todos

os organismos relacionam-seentre si em maior ou menorgrau e o padrão derelacionamento pode serdescrito como uma hierarquiade grupos correlatos.

(1) 

Os organismos devem seragrupados por seus graus deparentesco evolutivo.

(2)  Há uma hierarquia naorganização por parentescodesses grupos que parte deunidades evolutivamentesignificativas, ou unidadesdistintas, e vai até espécies eaos mais altos níveis deorganização taxonômica (e.g.gênero, família, ordem).

(B) 

Hierarquia ecológica: oscomponentes da natureza estãoagrupados em conjuntos deníveis de organizaçãointerligados e interativos,variando desde os muitopequenos (genes) até os muitograndes (ecossistemas epaisagens).

(1)  Há uma hierarquia naorganização da vida(hierarquia ecológica) desde osgenes, subpopulações (demes),populações, metapopulações,comunidades, ecossistemas atépaisagens.

(2)  Um elemento de certo nívelhierárquico pode ter influência

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tanto em níveis acima ouabaixo do qual se encontra.

(C)  Diversidade genética: ainformação necessária paraoriginar um organismo estácodificada nos genes doindivíduo. A informaçãogenética varia de indivíduo aindivíduo, fazendo com quetodos eles sejam potenciaisfontes de informação relevante.

(1)  A base biológica para muitasdas características que formamum indivíduo de um organismoé determinada pela informaçãocodificada contida no seuDNA.

(2)  A informação exata codificadano material genético podevariar de um indivíduo a outroe de um grupo de indivíduos a

outro.(3)  As diferenças entre indivíduose grupos contidas nainformação exata codificadano DNA são chamadas dediversidade genética.

(4)  A diversidade genética poderefletir em diferentes forçasseletivas operando empopulações de ambientesdiferentes e conseqüentementerepresentar um importantemecanismo pelo qual espécies

podem responder à mudançaambiental.(5)  A diversidade genética pode ser

reduzida através de eventosestocásticos associados àsobrevivência e à reproduçãode indivíduos na natureza. Taiseventos têm uma probabilidademuito maior de reduzir adiversidade genética quando onúmero de indivíduos em umapopulação é pequeno (i. e.,deriva genética ao acaso).

(6) 

A diversidade genética dentrodas espécies é influenciadapelo fluxo gênico entrepopulações causado pelomovimento de indivíduos e,em algumas espécies, pelatransferência de longadistância de célulasreprodutivas (gametas) taiscomo o pólen. Movimentosentre as subpopulações inibema fixação de alelos, que podemser alternativamente vistos

como manutenção dadiversidade (nenhum alelo seperde) ou homogeneização

(subpopulações não se tornamgeneticamente diferentes).

(D) Conceito de espécie: a unidadebásica de organização paraorganismos é a espécie; noentanto, há uma variaçãosubstancial dentro das espécies,tornando seus subgruposevolutivamente distintos.

(1) 

Há uma variedade de definiçõespara espécie, mas naperspectiva da conservação,espécie é considerada umgrupo de organismos que pode,de fato ou potencialmente,intercruzar, ou um grupo deorganismos que compartilhamtraços e origens.

(2)  As espécies não são entidadeshomogêneas nem uniformes.Elas podem conter grupos

diversos, cada umrepresentando um conjuntoúnico de informação genética euma única tendência evolutiva.

(3)  As espécies não são imutáveisao longo do tempo, pelocontrário, evoluem em respostaàs forças de seleção, ao fluxode genes e ao acaso.

(4)  A classificação de umorganismo individual emdeterminada espécie podevariar ao longo do tempo,

refletindo o desenvolvimentode nossa compreensão dasrelações ecológicas eevolutivas.

(E)  Crescimento populacional:populações tendem a crescerexponencialmente até quesejam limitadas por algo nomeio ambiente. Populaçõespequenas estão mais sujeitas aorisco de extinção e à perda deinformação genética do quepopulações maiores.

(1) 

O tamanho da populaçãodepende do resultado dobalanço entre a tendência deuma população crescerexponencialmente e aslimitações impostas por fatoresbióticos (por exemplo, denso-dependência, predação) efatores abióticos (por exemplo,clima) no meio ambiente.

(2)  Os padrões de crescimentoapresentados por populaçõespróximas ao limite imposto

pelos fatores ambientaispodem incluir umaaproximação sutil a algumlimite intrínseco, oscilação ao

redor de um limite, ou quedada população. O padrão que apopulação segue éinfluenciado por vários fatores,em especial a taxa derecuperação de fornecimentode alimentos e a respostacomportamental e demográficados predadores.

(3) 

Em geral, o tamanho dapopulação é inversamenteproporcional à probabilidadede endocruzamentos, à perdade informação genética devidoa eventos associados àsobrevivência e à reprodução,e à suscetibilidade de extinção.Conseqüentemente,populações pequenas, emgeral, estão mais sujeitas aorisco de extinção que

populações maiores.(4)  Metapopulações podem existirquando subpopulaçõesparcialmente isoladasconectam-se pela dispersãoocasional de indivíduos deuma subpopulação à outra.Metapopulações podem levar àredução do risco de extinçãode qualquer de suassubpopulações.

(F)  Distribuição de espécies:Espécies diferentes estão

distribuídas na Terra empadrões diferentes, baseadosem suas histórias individuais eem suas característicasbiológicas. Esses padrõespodem variar ao longo dotempo em resposta àscondições mutáveis e às açõeshumanas.

(1)  Cada espécie tem adistribuição determinada pelahistória evolutiva, pelos fatoresambientais (por exemplo,

temperatura, solo,precipitações pluviométricas) epelos eventos históricos (porexemplo, colonização,extinção).

(2)  A presença de qualquer espécieem determinada localizaçãoestá sujeita à mudança, caso osfatores acima citados tornem alocalização apropriada para aespécie.

(3)  As distribuições de muitasespécies têm sido afetadas

pelos seres humanos, tantodiretamente (através de suaextirpação local ou transporte esoltura) como indiretamente

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(através das alterações doshábitats pelos humanos,alterações essas que tornam amovimentação ou apersistência de espécies maisou menos prováveis).

(4)  Espécies com abundância localalta também tendem a terampla distribuição geográfica,o que pode reduzir aprobabilidade de extinção.

(G) Comunidades e ecossistemas:são coleções de indivíduos querepresentam várias espéciesinteragindo entre si em umaárea específica e comcomponentes abióticosnecessários para a vida.

(1)  A definição de umacomunidade ou umecossistema depende do

contexto no qual éconsiderado. Por exemplo,uma comunidade pode serdefinida como micro fauna nacamada de folhiço de umafloresta ou como todos osorganismos naquela floresta.

(2)  A composição de umacomunidade ou umecossistema depende doprocesso de crescimentopopulacional de suaspopulações constituintes e das

interações entre espécies (porexemplo, simbiose,competição, herbivoria,parasitismo e predação).

(3)  A composição de umacomunidade ou de umecossistema pode variar comoresultado das respostas de suasespécies constituintes amudanças nas condiçõesambientais. Assim, suacomposição não é estática esim dinâmica.

(4) 

Definir quais espécies sãomembros potenciais de umacomunidade ou de umecossistema dependerá doconjunto regional de espécies,das habilidades competitivas eda dispersão de cada espécieem particular.

(5)  As fronteiras entrecomunidades ou ecossistemaspodem ser relativamenteclaras, tais como as existentesentre sistemas terrestres e

aquáticos, ou podem serconfusas. A divisão não écompleta em nenhum caso poissempre há interações entre

espécies encontradaspredominantemente em umacomunidade com aquelasencontradaspredominantemente em outra.

(H)  Estocasticidade: refere-se àoperação do acaso na naturezade tempos em tempos – porexemplo, a possibilidade de umindivíduo sobreviver, a chancede gerar um ou doisdescendentes, ou apossibilidade de experimentaruma temporada ruim decrescimento.

(1)  Sistemas naturais variamconstantemente e sãoimprevisíveis durante longosperíodos. Isto se aplicaigualmente para populações,comunidades e ecossistemas.

A confiabilidade em previsõessobre a condição dos sistemasnaturais no futuro diminui àmedida que o período detempo sobre o qual sãorealizadas aumenta.

(2)  Mudanças estocásticascausadas por seres humanos(por exemplo, derramamentode petróleo, destruição de umfragmento de um hábitatespecífico) são fenômenosdistintos sobrepostos à

estocasticidade natural.(I)  Extinção: refere-se ao términode uma linha evolutiva. Podeocorrer como resultado deações humanas ou não-humanas. No entanto, a taxa deextinção devida à ação humanaé muito maior atualmente que ataxa geralmente encontrada nosregistros fósseis antes dainterferência humana.

(1)  Extinção é a expectativa delongo prazo para todas as

populações – 99,9% ou maisde todas as espécies queexistiram algum dia já seextinguiu.

(2)  Linhagens de um nível inferiorque o de espécie (exemplo,subespécie, raça) extinguem-semais frequentemente do queespécies, o que contribui para aerosão da diversidadebiológica.

(3)  As extinções independentes deações humanas resultam de

eventos estocásticos atuandopor longos períodos.(4)  Taxas de extinção podem variar

ao longo do tempo. Em

ocasiões raras durante ahistória da Terra, as taxas deextinção foram altas, secomparadas com as taxas maisbaixas de outras situações.Alguns desses períodos dealtas taxas de extinção –chamados de extinção emmassa – estão associados comeventos geológicos extremos,mas, em outros casos, ascausas são desconhecidas.

(5)  Taxas de extinção causadaspela ação humana são maisaltas que as taxas normais dosistema e são iguais ou atémaior que as taxasapresentadas durante asextinções em massa.

(6)  Um dado número de espéciespode ser mantido em um

sistema se a taxa de extinçãofor igual à taxa de especiaçãono tempo evolutivo, mas cairáse espécies perdidas porextinção excederem as ganhaspela especiação (caso daextinção em massa e dasextinções humanamenteinduzidas que ocorrematualmente).

Tema IV. Ameaças à DiversidadeBiológica, à Integridade Ecológica e àSaúde Ecológica

A natureza enfrentou, e continua aenfrentar, inúmeras ameaças dosseres humanos, incluindo a colheitadireta, a destruição do habitat e aintrodução de espécies exóticas. Apercepção das pessoas quanto àmagnitude das ameaças éfortemente influenciada pelaquantidade de mudanças que elasvêem ocorrer, sendo que cadageração desenvolve um padrãodiferente para o que é normal ounatural.(A) Economia ecológica:

desenvolvimentos recentes naeconomia ecológica corrigemantigas concepções errôneas dateoria econômica neoclássica,que contribuiu para a perda dediversidade biológica, adegradação da integridadeecológica e o declino da saúdeecológica (Costanza 1991;Daly & Farley 2003).

(1)  A atividade humana é umsubconjunto de processosnaturais e não o contrário.

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(2)  A atividade econômica humanaabrange serviços fornecidospelos ecossistemas naturais,embora a natureza não estejatotalmente disponível comorecurso para a atividadeeconômica humana.

(3)  Restrições econômicas e físicaslimitam a atividade econômicahumana e o crescimento dapopulação, e nem todas essasrestrições pode ser superadaspela tecnologia.

(B)  Impactos da colonizaçãohumana em tempos antigos: associedades humanasapresentam um longo históricode causas de extinção e grandesmudanças em ecossistemas.

(1)  No passado pré-histórico(Martin & Klein 1984) e

histórico (Crosby 1993), achegada de seres humanos anovas áreas levou à extinção deoutras espécies e à mudançasem larga escala nascomunidades naturais.

(2)  Os humanos têm causadoextinção e mudanças nascomunidades naturais de váriasmaneiras, incluindo osimpactos cumulativos deexploração direta para aobtenção de alimento, a

modificação da vegetaçãonatural e a introdução deespécies exóticas.

(3)  Mudanças causadas pelohomem em comunidadesnaturais, ainda que maldocumentadas, podem ser tãodifundidas que as culturashumanas contemporâneaspodem não estar tãoconscientes de como ascondições biológicasobservadas no presente foram

alteradas pelas ações humanasno passado.(4)  Algumas culturas humanas

podem ter desenvolvido umnível de conhecimento ouprática ecológica que apóia aproteção e a restauração dabiodiversidade, da integridadeecológica e da saúde ecológica.

(C)  Impactos humanoscontemporâneos: os sereshumanos podem afetar asespécies e os ecossistemas

tanto pela freqüência e pelaintensidade de suas ações comopela área onde tais ações forampraticadas. Mudar estas ações

pode modificar seu impacto nanatureza.

(1)  A forma como cadaecossistema é afetado variaconforme o tipo e a magnitudedo impacto humano. Essasdiferenças estão baseadas, aomenos em parte, em suaspróprias características, taiscomo taxa de produtividade.

(2)  Tendo em vista que asatividades humanas mudam umecossistema, o sistema alteradopode ser mais suscetível àsmudanças subseqüentes. Isto é,o sistema perderá resiliência.

(3)  Todos os impactos humanoscontemporâneos sãoexponencialmente ampliadospela atual taxa de crescimentoda população humana; nunca

houve tantas pessoas comoatualmente, e a populaçãoprovavelmente aumentará nospróximos 50 anos.

(D) Padrões de extinção:atualmente as espécies se estãoextinguindo a uma taxa nuncaantes vista na história humana,sendo que somente durante asgrandes extinções em massa foiobservado algo semelhante.

(1)  O padrão de extinções entreespécies observado hoje não

tem precedentes na históriahumana. Essas extinçõesdestroem a diversidadebiológica, a integridade e asaúde ecológicas comconseqüências no longo prazo.

(2)  Atualmente, a taxa de extinçãoé maior que a taxa deespeciação. Assim, espéciesestão sendo extintas de talmaneira que não há comoserem substituídas pelaevolução por milhões de anos.

(E) 

Causas iminentes de extinção:os seres humanos causam aextinção através de quatroações primárias: a destruiçãodo hábitat, a modificação dohábitat, a super-exploração(tais como a caça e a colheitaem excesso) e a introdução deespécies exóticas.

(1)  Os efeitos das atividadeshumanas sobre uma espécieameaçada de extinção sãoinfluenciados pela magnitude

das atividades no espaço e notempo.(2)  Diferentes espécies e grupos de

espécies podem ser extintos ou

estarem ameaçados de extinçãocomo resultado de umacombinação de diferentesatividades humanas.

(3)  Diferentes espécies e grupos deespécies podem ser maissuscetíveis à extinção pordeterminados tipos de atividadehumana do que por outras.

(4) 

A atividade humana podealterar interações entre asespécies, resultando emextinção de múltiplas espéciesem um sistema (por exemplo,cadeias tróficas).

(F)  Mudança climática global:atualmente a Terra experimentaum aumento na temperaturamédia causada pela adição degases que provocam o efeitoestufa na atmosfera. Essa

mudança na temperatura teráseveras conseqüências para avida na Terra através de rápidasmudanças no clima, deextensão geográfica e deprocessos ecológicos,aumentando o risco de extinção(McCarthy et al. 2001).

(1)  O uso de combustíveis fósseisdurante o século passadoresultou no aumento da emissãode gases, particularmentedióxido de carbono, na

atmosfera. A crescentepresença desses gases no meioambiente resultou em umaumento maior da temperaturamédia global no século passadodo que em qualquer século nosúltimos 1000 anos.

(2)  O consumo de carbono pelasplantas oferece uma soluçãoapenas temporária, porque amaioria desse carbono seránovamente liberada naatmosfera durante a

decomposição; as condiçõesatuais da Terra não permitem aacumulação de novos depósitosde combustíveis fósseis.

(3)  Os efeitos do aumento contínuona concentração de gasescausadores do efeito estufacontinuarão a afetar o climadurante séculos,inevitavelmente, resultando emmudanças regionais e sazonaisna temperatura e naprecipitação pluviométrica.

Mesmo supondo que nãohaverá aumento na emissão degases na atmosfera, nosso climacontinuará a mudar como

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resultado dos aumentos jáexistentes.

(4)  Mudanças regionais e sazonaisno clima terão muitos efeitosnas espécies, incluindomudanças nas distribuiçõesgeográficas, no risco deextinção, na composição dacomunidade e nofuncionamento do ecossistema.

(5)  Não é possível impedircompletamente os efeitosdessas mudanças climáticasinevitáveis nas espécies. Existea possibilidade, no entanto, dereduzir a magnitude dos efeitospela mudança nocomportamento de consumo derecursos pelos seres humanos enas políticas do uso da terra.

(G) Efeitos dominó: a extinção de

uma espécie pode causarextinção de outras espécies demaneira imprevisível comoresultado da interação entreelas na natureza; tais extinçõessubseqüentes podem, por suavez, afetar outras espécies,causando como que um efeitode ondas por todas as partes deum ecossistema.

(1)  A degradação da diversidadebiológica, da integridade e dasaúde ecológicas, em um

determinado nível deorganização biológica, podeacarretar impactossubseqüentes na diversidadebiológica, na integridade e nasaúde ecológicas em outrosníveis.

(2)  A extinção ou a degradação dohábitat pode, por sua vez,causar impactos extras, levandoa uma série de mudanças emcascata no ecossistema.

(3)  É difícil, se não impossível,

prever com antecedência asmaneiras como os efeitos emcascata ocorrerão, mas seusefeitos podem ser grandes e delonga duração.

(H) Condição histórica dosecossistemas: a condição atualda maioria dos ecossistemas édramaticamente diferentedaquelas encontradas nopassado em razão da ação dosseres humanos.

(1)  As ações das sociedades

humanas históricas e atuais têmresultado em modificaçõesdrásticas na maioria dos

ecossistemas terrestres eaquáticos atuais.

(2)  Os seres humanos, tantoindividualmente como emsociedade, têm feito escolhasbaseadas em valores sobre oquanto a condição de umecossistema pode ou deve sermodificada, sendo que essasescolhas determinaram, econtinuam a determinar, acondição e a composição domundo natural.

(I)  Padrões em mutação: as idéiasdas pessoas sobre o queconstitui a condição normal danatureza são fortementeinfluenciadas pelasexperiências ao longo de suasvidas, independente de essascondições já terem sido

alteradas pelos humanos nopassado.(1)  À medida que a diversidade

biológica, a integridade e asaúde ecológicas declinam,cada geração vê o novo nívelmais baixo como “normal”, eisso afeta o julgamento de valorque as pessoas fazem sobre omundo natural, influenciandoassim a tomada de decisõessobre o uso da terra.

(2)  À medida que a exposição das

pessoas aos sistemas naturaisdeclina, como um resultado dasmudanças culturais e da falta deacessibilidade, sua percepçãodas condições “normais” danatureza muda.

Tema V. Proteção e Restauração daDiversidade Biológica, da IntegridadeEcológica e da Saúde Ecológica

A conservação da natureza exigeuma combinação de estratégias,entre as quais se encontram aproteção de espécies ameaçadas, aexistência de reservas ecológicas, ocontrole das ações humanas queprejudicam ecossistemas, arestauração de ecossistemas, areprodução em cativeiro, o controlede espécies exóticas e o estudo dabiologia da conservação.(A) Proteção de espécies

ameaçadas: Exige-se queespécies ameaçadas de extinçãosejam protegidas da exploraçãoe da perda de hábitat.

(1) 

As atividades de proteção dasespécies individuais têm comofoco a identificação de fatores

que levam ao declínio notamanho da população e naremediação desses fatores.

(2)  Espécies individuais podem serauxiliadas tanto pelasatividades de proteção que têmcomo alvo uma só espéciecomo pelas atividades deproteção que incluem espéciesmúltiplas ou comunidadesinteiras.

(3)  Atividades de proteção deespécies ocorremnecessariamente em um climade incerteza devido aos efeitosestocásticos sobre o tamanhodas populações, tanto porcausas naturais quantohumanas.

(B)  Sistemas de reserva ecológica:é preciso estabelecer áreas

destinadas à conservação, demaneira que possam cobrircoletivamente a total extensãode tipos de ecossistemas e quepossam proteger da extinçãoprecoce as espécies lápresentes.

(1)  Sistemas de reservas ecológicassão conjuntos de áreasadministradas de forma que suafunção primária seja protegeruma espécie ou um grupo deespécies da extinção e

promover processos ecológicose evolutivos naturais.(2)  Tais sistemas de reservas estão

desenhados de forma a incluirárea suficiente para que aespécie alvo seja viável, comintervenção humana limitada epara que processos naturaispossam ocorrer.

(3)  A efetividade dos sistemas dereserva é influenciada pelo seucontexto, no qual se incluem ostress a eles imposto pelas

ações que ocorrem fora dosistema, as ações que ocorremdentro do sistema e o grau depercepção que os organismospresentes na reserva têm daconexão entre essas ações.

(4)  O desenho e a administraçãodas reservas ecológicas devemconsiderar os efeitos previsíveisda mudança climática global nosistema ou nas espécies que sepretende proteger.

(C)  Uso da natureza pelo ser

humano: o uso da natureza peloser humano pode sermodificado de forma a

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diminuir os impactos causadosnos sistemas ecológicos.

(1)  As iniciativas devem estarintegradas de forma maisharmoniosa dentro do contextode seus ambientes naturais, aoinvés de estar separado deles.

(2)  Mudar as maneiras como oshumanos usam a natureza deforma que imitem de modomais completo os processosecológicos naturais podediminuir o impacto desses usosna biodiversidade, naintegridade e na saúdeecológicas.

(3)  O impacto do uso da naturezapelos seres humanos nabiodiversidade, na integridadeecológica e na saúde ecológicapode diminuir através da

redução da magnitude dosimpactos humanos tanto noespaço quanto no tempo.

(4)  Apesar de as reservasbiológicas e de os parquesnacionais seremfrequentemente umcomponente da estratégia deconservação, o sucesso finaldesta depende da reformulaçãodas atividades humanas demodo que coexistam com abiodiversidade e com os

sistemas ecológicos.(D) Restauração de ecossistemas:ecossistemas que têm sidodegradados pela modificaçãoem seu funcionamento e nacomposição de espéciesprecisam ser restaurados aonível mais próximo possível desuas condições naturais(contrastados com osculturalmente modificados).

(1)  Ecossistemas que têm sidodegradados por modificações

humanas podem, em algunscasos, ser restaurados atravésda eliminação de perturbaçõesexternas, da re-introdução deespécies nativas, da remoção deespécies exóticas e darestauração de processosecológicos.

(2)  Para que um esforço derestauração seja consideradobem sucedido, as metasidentificadas devem serconsideradas. Nenhum esforço

é capaz de fazer o ecossistemanatural voltar exatamente à suacomposição, à sua estrutura eao seu funcionamento originais.

(3)  A habilidade de promover arestauração não deve ser vistacomo justificativa parapromover a destruição dehábitats em outros locais.

(E)  Aumento das populaçõesnaturais: espécies ameaçadasde extinção podem, em algunscasos, ser beneficiadas peloaumento de suas populaçõespor meio da introdução deanimais criados em cativeiro nanatureza.

(1)  Espécies e subespécies à beirada extinção na natureza podemser beneficiadas através dacriação em locais comozoológicos, aquários, jardinsbotânicos e cativeiros.

(2)  É preciso tomar cuidado paramanter a diversidade genética

de geração a geração e imitar aspressões seletivas que osorganismos encontrariam nanatureza. No caso dos animais,é melhor que não se habituemaos seres humanos.

(3)  Programas de criação emcativeiro destinados àconservação são caros econseqüentemente não sãopráticos para todas as espécies.No caso de algumas espécies,esta criação se torna

biologicamente impossível.Para espécies ameaçadas, noentanto, a criação em cativeiropode ser a única estratégiadisponível para impedir aextinção imediata.

(F)  Manejo de colheitas: O númerode indivíduos de espécies quesão coletados na naturezaprecisa ser controlado para quea probabilidade de extinção detal espécie não seja aumentadasignificativamente pela

colheita.(1)  Colheitas desordenadas podemacelerar ou causar extinção.

(2)  Pode-se promover apreservação das espécies dasseguintes formas: controle decolheitas, através de suaproibição total no caso deespécies raras, ameaçadas ouem perigo; controle de colheitapor classes, estágios ou idadesvulneráveis; limite no númerode indivíduos coletados; limite

na duração do tempo no qual acolheita pode ocorrer; eestabelecimento de reservasonde não há colheita.

(3)  Para impedir a extinção atravésda colheita em excesso deespécies, as sociedades devemcriar regras, levando emconsideração a compreensãobiológica da demografia dapopulação.

(G) Manejo de espécies exóticas:esforços devem serempreendidos com o intuito dediminuir a probabilidade deuma espécie exótica serintroduzida ou estabelecidacom sucesso e também deeliminar espécies exóticas jáestabelecidas, quando possível.

(1)  Espécies exóticas são uma dasmaiores ameaças a espéciesnativas e aos ecossistemas nomundo.

(2)  Espécies exóticas podem

espalhar-se tanto de formaacidental como intencional.(3)  A maioria das introduções de

espécies exóticas tem poucachance de sucesso, masalgumas podem terconseqüências devastadorastanto ecológica quantoeconomicamente.

(4)  Depois que uma espécie exóticaencontra-se estabelecida, édifícil, se não impossível,erradicá-la completamente.

(5) 

A habilidade de uma espécieexótica em se estabelecer por siprópria é influenciada tanto porsuas características (porexemplo, biologia reprodutiva)como pela condição dacomunidade natural na qual éintroduzida (por exemplo,comunidades ecologicamentesaudáveis tendem a ser menosvulneráveis a invasão).

(H) Participação política: entenda eparticipe dos domínios das

políticas humanas e doestabelecimento de políticas,certificando-se de colocar nodiscurso público a importânciade manter a biodiversidadenativa.

(1)  Entenda os processos e asestruturas pelas quais seestabelece a política pública –incluindo leis, regulaçõesadministrativas e canais delobby.

(2)  Esteja familiarizado com as

pessoas que desempenhampapéis-chave em uma gama deníveis geográficos, desde olocal até o internacional.

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(3)  Compartilhe conhecimento eexperiências sobre a biologia daconservação com formadoresde política sempre que houver,ou que se puder criar umaoportunidade.

(I)  Educação: O estudo daconservação precisa ocorrer emtodos os níveis e em todas associedades para que os sereshumanos possam aprender aconviver melhor com anatureza.

(1)  Programas educacionais sobreconservação buscamdesenvolver nas pessoas umacompreensão mais profunda daimportância e das ferramentasda biologia da conservação.

(2)  O estudo tem mais sucessoquando tem foco no

desenvolvimento doconhecimento, de habilidades ede atitudes, de maneira queproporcione às pessoasexperiências amplas e diretas.

(3)  Os biólogos da conservaçãotêm um conjunto único deconhecimento, habilidades einteresses para compartilhar.

Conclusões

Propusemo-nos a descrever de

forma hierárquica os princípioscentrais da biologia da conservação,resumidos na Tabela 1, parafacilitar o desenvolvimento deprogramas educacionais sobreconservação em vários níveis e aapreciação pelas pessoas em geraldaquilo que os biólogos daconservação consideram importantepara a disciplina. Lecionar osprincípios apropriados e ashabilidades necessárias para aplicá-los constitui o ensino da

conservação. Acreditamos quenossas sociedades serão capazes deconviver de forma mais harmoniosacom a natureza se os cidadãos,tomadores de decisão envolvidoscom conservação e praticantes daconservação se tornarem totalmenteinstruídos.A discussão das diretrizes aquiapresentadas é bem-vinda. O site daSCB conta com um endereçoeletrônico para que este diálogoaconteça

(http://conbio.net/scb/services/education/docs/conservation_literacy.cf m). Esperamos assimilar oconhecimento proveniente da mais

ampla comunidade internacional debiólogos da conservação baseadoem sua experiência com o ensino ea orientação de cidadãosconhecedores da conservação,decisores e praticantes daconservação.

Agradecimentos

Este documento é produto do grupode trabalho sobre as Diretrizes parao Ensino do Comitê de Educação daSCB. Todos os autorescontribuíram para odesenvolvimento e para a escrita dodocumento. Agradecemos todos osmembros do Comitê de Educaçãodesde 2000, Carol Brewer, doisrevisores anônimos responsáveispor conselhos editoriais e peloapoio moral, e todos os membros daSCB que contribuíram comcomentários sobre as versõesanteriores destas diretrizes.

Tradução

Este documento foi traduzido para oportuguês brasileiro por Danielle C.Mota e foi revisado por KarenSchmidt. 

Publicação Original

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Tabela 1. Resumo dos temas e dos princípios primários e secundários da biologia da conservação apresentadosneste artigo.*Temas Princípios Primários Princípios Secundários

Objetivos: os objetivos dabiologia da conservação Os biólogos da conservação buscammanter três importantes aspectos da vida naTerra: biodiversidade, integridadeecológica e saúde ecológica.

A diversidade biológica é uma medida dadiversidade de toda a vida em todos os níveis deorganização.A integridade ecológica é uma medida dacomposição, estrutura e funcionamento dos sistemasbiológicos.A saúde ecológica é uma medida da resiliência deum sistema biológico e sua habilidade de manter-seao longo do tempo.

Valores: por que abiodiversidade, a integridadeecológica e a saúde ecológicasão importantes

A conservação da natureza é importantepelos seus valores intrínsecos,instrumentais e psicológicos.

Os sistemas de valores determinam como vemos anatureza e estes sistemas podem variar tanto dentrodas culturas como entre as mesmas.Valores intrínsecos são aqueles valores da naturezaem si, independente da utilidade para os sereshumanos.Valores instrumentais baseiam-se na utilidade danatureza para o ser humano.Valores psicológicos são aqueles que contribuempara o bem-estar psicológico do ser humano.

Conceitos: conceitos para acompreensão da biodiversidade,da integridade ecológica e dasaúde ecológica

O entendimento da conservação baseia-seem conceitos-chave de taxonomia, deecologia, de genética, de geografia e deevolução.

Todos os organismos estão relacionados entre si.Os componentes da natureza estão agrupados emconjuntos de níveis de organização, desde pequenos(genes) até grandes (paisagens).Os genes contêm a informação para criar umorganismo e essa informação varia de organismo aorganismo.A unidade básica de organização para organismos é

a espécie.As populações crescem exponencialmente a não serque estejam limitadas pelo ambiente; populaçõespequenas estão mais sujeitas a risco que as maiores.As espécies são distribuídas de forma diferenciadapela Terra, com base nas histórias individuais, nascaracterísticas e nas respostas às ações humanas.Comunidades e ecossistemas são coleções deespécies que interagem e os componentes de seuambiente físico.A natureza pode comportar-se estocasticamente,com condições e resultados imprevisíveis.A extinção é o término de uma linha evolutiva epode ser acarretada tanto por ações humanas como

não-humanas.Ameaças: ameaças àbiodiversidade, à integridadeecológica e à saúde ecológica

A natureza enfrentou e continuaenfrentando numerosas ameaças dos sereshumanos, incluindo coleta direta,

Princípios de economia ecológica corrigem osenganos da teoria econômica neoclássica, quecontribuiu para as ameaças à conservação.

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destruição de habitat e introdução deespécies exóticas.

As sociedades humanas têm um longo históricocomo causadoras de extinção e agentes de grandesmudanças em ecossistemas.As ações humanas afetam a natureza através de suafreqüência, sua intensidade e sua extensão espacial.Atualmente, as espécies extinguem-se maisrapidamente do que em qualquer outro período nahistória humana e em níveis comparados a eventosde extinção de massa vistos apenas em registros

fósseis.Os seres humanos causam a extinção por meio dedestruição e modificação de hábitats, super-exploração e introdução de espécies exóticas.Os seres humanos estão causando o aquecimento daTerra, o que acarretará severas conseqüências paraos sistemas naturais.A extinção de uma espécie pode ser causada pelaextinção de outra espécie.A condição atual da maioria dos sistemas naturais,diferente da condição do passado, resulta das açõeshumanas.As idéias sobre as condições “normais” da naturezasão influenciadas pelas experiências que as pessoastêm durante suas vidas.

Ações: proteção e restauração dabiodiversidade, da integraçãoecológica e da saúde ecológica

A conservação exige uma combinação devárias estratégias diferentes.

Proteger espécies em risco de extinção.Desenhar reservas ecológicas.Diminuir a magnitude dos impactos causados pelosseres humanos nos sistemas naturais.Restaurar ecossistemas que têm sido degradados.Aumentar populações com indivíduos criados emcultivo ou cativeiro.Controlar o número de indivíduos coletados nanatureza.Impedir o estabelecimento de espécies exóticas eeliminar as já estabelecidas.Entender e participar da criação de políticaspúblicas.

Educar outras pessoas sobre a importância daconservação.

* a descrição completa dos princípios de apoio associados aos princípios secundários são apresentadas no texto.