princípio do primado- direito comunitário

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primado

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IntroduoOs tratados institutivos e as disposies comunitrias, dotadas de aplicabilidade no mbito dos Estados membros, constituem, com a adeso de Portugal s Comunidades Europeias, uma nova fonte de Direito na ordem jurdica portuguesa, tal como na de todos os Estados membros da Comunidade Europeia. Com efeito, um dos princpios a reter, no mbito do Direito Comunitrio, o da sua aplicabilidade Directa na ordem jurdica dos Estados Membros. Mas, para alm desse princpio, convm salientar o do Primado do Direito Comunitrio, que susceptvel de produzir efeitos directos nas ordens jurdicas internas dos Estados Membros. Assim, importa saber qual o posicionamento desse Direito na ordem interna dos vrios Estados membros, ou seja, reconhecer o lugar que ocupa no sistema das fontes de direito. assim que surge o princpio do primado do Direito Comunitrio, ou seja, a sua prevalncia sobre qualquer norma do Direito Interno. Sempre que uma norma de Direito Comunitrio entra em conflito com uma de Direito nacional, o Tribunal de Justia das Comunidades Europeias considera que a norma europeia prevalece sobre a nacional, pois, caso contrrio, o Direito Comunitrio teria pouca eficcia e relevncia.

A Relao entre o Direito Comunitrio e os Direitos NacionaisAs relaes entre o Direito Comunitrio e os Direitos Nacionais dos Estados Membros so uma questo essencial na elaborao das normas comunitrias, que contribuem em muito para a construo da Unio Europeia. Efectivamente, sob a forma de um poder federal, que assenta numa lgica entre o poder politico da Unio Europeia e a soberania dos Estados membros, tem de haver uma configurao articulada do Direito Comunitrio com o Direito dos Estados membros, para que no haja atropelamento entre as normas estaduais e as comunitrias. Dito de outro modo, necessrio haver coordenao entre as instncias europeias e as estaduais sempre que se legisle matria de interesse

comum. Desta forma, h que perceber e dividir as questes da relao do Direito Comunitrio com o dos Estados Membros em quatro pontos-chave: 1. O Primado do Direito da Unio sobre o Direito dos Estados Membros; 2. A aplicabilidade Directa do Direito Comunitrio; 3. O efeito directo do Direito Comunitrio 4. A harmonizao das Ordens Jurdicas Nacionais com o Direito da Unio. Dada a complexidade dos vrios pontos, neste trabalho, dar-se- nfase ao Primado do Direito da Unio sobre o Direito dos Estados Membros, com a anlise de 3 casos que foram alvo de Acrdos do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias Costa/ENEL; Synthel; INTERNATIONALE HANDELSGESELLSCHAFT.

O Primado do Direito da Unio sobre o Direito Estadual A elaborao de princpios e normas, que ditam a primazia do Direito Comunitrio e a determinao gradual das suas implicaes, o resultado de um empenho pretoriano que tem vindo a ser elaborado pelas instncias comunitrias como forma de reforar o poder da Unio Europeia e o modelo federalista. A primeira questo que suscitada pela relao entre o Direito Comunitrio e o Direito dos Estados membros, a de saber qual o acto que prevalece quando um acto comunitrio colide com um acto nacional?[1], ou seja, qual o direito que prevalece quando um e outro no vo no mesmo sentido. este tipo de problemas que nos leva ao chamado primado do Direito da Unio, isto , o Direito Comunitrio prevalece sempre sobre o Direito dos Estados Membros. O Direito Comunitrio encontra-se inserido nos Estados Membros, por isso se impe que os seus tribunais o respeitem e o apliquem na sua plenitude. Tudo isto faz com que o Direito Comunitrio seja um Direito Comum a todos os Estados membros, sem haver distino e regalias de Estado para Estado. Assim, o primado do Direito Comunitrio sobre o Direito Estadual no resulta de uma concesso do Direito dos Estados membros[2], mas constitui um atributo prprio do Direito da Unio. O Primado nunca constou explicitamente nos vrios tratados que decorreram ao longo dos anos na Unio Europeia. Mas podemos constat-lo implicitamente em dois artigos do Tratado que institui a Comunidade Europeia: no Art10/n2, quando impe aos Estados Membros, que nada faam no sentido de violar os objectivos do tratado; e no Art249, quando afirma que: Para o desempenho das suas atribuies e nos termos do presente Tratado, o Parlamento Europeu em conjunto com o Conselho, o Conselho e a Comisso adoptam regulamentos e directivas, tomam decises e formulam recomendaes. 1. O regulamento tem carcter Geral. obrigatrio em todos os seus elementos e directamente aplicveis em todos os Estados membros;

2. A Directiva vincula o Estado membro destinatrio quanto ao resultado a alcanar, deixando, no entanto, s instncias nacionais a competncia quanto forma e aos meios; 3. A Deciso obrigatria em todos os seus elementos para destinatrios que designar; 4. As recomendaes e os pareceres no so vinculativos.[3] Foi o Tribunal de Justia das Comunidades Europeias o principal impulsionador e criador do Primado do Direito Comunitrio, atravs de diversos Acrdos, de onde podemos destacar trs, que foram essenciais e tiveram um papel decisivo, para podermos verificar a primazia que dada por esse tribunal ao Direito Comunitrio.

O Primeiro foi o Ac. Costa/ENEL de 15 de Julho de 1964, onde est contida toda uma teoria das relaes entre o Direito Comunitrio e o Direito Interno: Na base deste acrdo encontra-se um caso, preparado em Milo, que pretendia abordar a lei Italiana sobre a nacionalizao da energia elctrica, e em que se denunciava que esta era antagnica com disposies do Tratado da CE. Tendo o Juiz de Milo submetido ao Tribunal de Justia das Comunidades Europeias, ao abrigo do Art 234 do TCE O tribunal de Justia competente para decidir, a ttulo prejudicial: a) b) c) Sempre que uma questo desta natureza seja suscitada perante qualquer rgo jurisdicional de um Estado-Membro, esse rgo pode, se considerar que uma deciso sobre essa questo necessria ao julgamento da causa, pedir ao Tribunal de Justia que sobre ela se pronuncie; Sempre que uma questo desta natureza seja suscitada em processo pendente perante um rgo jurisdicional nacional, cujas decises no sejam susceptveis de recurso judicial previsto no Direito interno, esse rgo obrigado a submeter a questo ao Tribunal de Justia.[4] O Governo Italiano contestou a posio do Juiz Italiano e a deciso do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias, sustentando, de um ponto de vista dualista, que a funo do Juiz italiano era a de aplicar a lei nacional[5]. Contudo, a deciso do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias no caso Costa/ENEL fundamental para reforar a primazia do Direito Comunitrio, porque bem claro no que toca a esta matria: O Tratado da CE institui uma ordem jurdica prpria, integrada na ordem jurdica dos Estados-membros e que se impe s suas jurisdies. Os Estados-membros, limitaram, embora em domnios restritos, os seus direitos soberanos e criaram, assim, um corpo de direito aplicvel aos seus sbditos e a eles prprios. E mais, () Esta integrao no direito de cada pas membro, de disposies provenientes de fonte comunitria, e, mais genericamente, os termos e o esprito do Tratado tm

por corolrio considera o Tribunal a impossibilidade para os Estados-membros de fazer prevalecer, contra uma ordem jurdica por eles aceite numa base de reciprocidade, uma medida unilateral ulterior () () Resulta do Conjunto destes elementos que, emanado de uma fonte autnoma, o direito resultado do Tratado no poderia, em razo da sua natureza originria especifica, ver-se judiciariamente confrontado com um texto de direito interno, qualquer que este fosse, sem perder o seu carcter comunitrio e sem que fossem postos em causa os fundamentos jurdicos da prpria Comunidade.[6] Por outro lado, esta deciso do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias dirigida directamente ordem jurdica Italiana, mas tambm, indirectamente, aos restantes Estados-membros. Foi uma forma que o TJCE encontrou para se afirmar perante a Comunidade Europeia e passar a mensagem de que prevalece sempre o Direito Comunitrio: () A fora executiva do Direito Comunitrio acrescenta o TJCE no poderia, com efeito, variar de Estado para Estado ao sabor das legislaes internas ulteriores, sem por em perigo a realizao das finalidades do Tratado ou provocar uma discriminao proibida pelo Art7. () As obrigaes contrrias em virtude do Tratado que instituiu a Comunidade no seriam incondicionais mas to-somente eventuais se pudessem ser postas em causa por actos legislativos ulteriores dos signatrios.[7] Em resposta a este Acrdo do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias, o Tribunal Italiano (Corte Costituzionale italiana) cumpriu o que lhe foi imposto, admitindo que, de facto, o Direito Comunitrio beneficia de uma primazia sobre as normas internas que se lhe opunham, mas, por outro lado, afirmou que o Direito Comunitrio () no beneficia de uma primazia absoluta sobre a ordem constitucional Italiana, pois h na constituio certos princpios essenciais e designadamente o principio dos Direitos Fundamentais que conferem Lei Fundamental a sua identidade prpria e que por isso no poderiam ser postos em causa pela legislao comunitria.[8]

O segundo foi o Ac. SIMMENTHAL de 9 de Maro de 1978, em que referido que dever do juiz nacional considerar inaplicvel qualquer acto nacional eventualmente contrrio a um acto comunitrio, seja anterior ou posterior, e que a entrada em vigor de um acto comunitrio impede a aprovao de novos actos legislativos nacionais que sejam incompatveis com ele (efeito bloqueador).

Um Terceiro Acrdo foi o Ac. INTERNATIONALE HANDELSGE-SELLSCHAFT de 17 de Dezembro de 1970, em que o Tribunal enfrentou directa e explicitamente a questo da primazia do Direito Comunitrio sobre a ordem constitucional interna, em relao ao tribunal alemo.

Este Acrdo do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias vem reafirmar o primado do Direito Comunitrio sobre a ordem interna, declarando que: o recurso a regras ou noes jurdicas do direito nacional para julgar a validade de actos emanados das instituies comunitrias teria por efeito atentar a unidade e eficcia do direito comunitrio.; a validade de tais actos no pode ser apreciada seno em funo do direito comunitrio.; na verdade, ao direito resultante do tratado, emanado de uma fonte autnoma, no poderiam, em virtude da sua natureza, ser opostas em juzo regras do direito nacional, quaisquer que elas fossem, sob pena de perder o seu carcter comunitrio e de ser posta em causa a base jurdica da prpria Comunidade..[9]

Resoluo do Parlamento Europeu Mais recentemente, numa carta de 28 de Janeiro de 1997, a Comisso dos Assuntos Jurdicos e dos Direitos dos Cidados requereu autorizao para elaborar um relatrio sobre as relaes entre o direito internacional pblico, o direito comunitrio e o direito constitucional dos Estados-Membros. Deste relatrio, surgiu uma resoluo sobre as relaes entre o direito internacional pblico, o direito comunitrio e o direito constitucional dos Estados-Membros, a qual vem reafirmar a primazia do Direito Comunitrio sobre o Direito dos Estados membros: 1. Salienta que o direito da Unio Europeia constitui uma ordem jurdica autnoma e recorda, a propsito, a jurisprudncia do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias relativa ao primado do direito comunitrio sobre o direito nacional; 3. Recorda, por conseguinte, que, em virtude dessa autonomia, nenhuma disposio nacional poder primar sobre o direito comunitrio, sob pena de o mesmo perder o seu carcter e de se colocar em causa os prprios fundamentos da Comunidade; 4. Recorda que "primado" do direito comunitrio significa, de acordo com a jurisprudncia do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias, a no aplicao do direito nacional contrrio; 5. Salienta que todo o juiz nacional tem o dever de no aplicar qualquer acto jurdico nacional incompatvel com o direito comunitrio; 6. Salienta que o procedimento de deciso prejudicial, previsto no artigo 177 do Tratado CE, assume uma importncia relevante para a efectiva aplicao do primado do direito comunitrio sobre o direito nacional e chama, em particular, a ateno para a jurisprudncia CILFIT, que estabelece os critrios relativos obrigatoriedade de consulta do TJCE por parte dos tribunais nacionais;[10]

ConclusoAs jurisdies nacionais acabaram (no obstante algumas reservas espordicas) por aceitar a superioridade das normas do direito comunitrio sobre o seu direito interno. No entanto, poderamos abordar mais algumas questes sobre o primado do direito comunitrio, o que requeria mais tempo de estudo e de trabalho. Destas questes, destacam-se a relao entre o direito comunitrio e a Constituio da Repblica Portuguesa ou as novas predisposies do Tratado de Lisboa e a sua abordagem da primazia do Direito Comunitrio. A verdade que caminhamos cada vez mais para uma Europa federada, o que vai acabar por levar a abdicar da nossa soberania, criando um governo europeu em que ser depositado todo o papel legislativo comunitrio. Alis, hoje em dia, so poucas as matrias que a Assembleia da Republica legisla sem obedecer a normas comunitrias. O que essencial, quer para a Unio Europeia, quer para os Estados membros, garantir o principio da subsidiariedade, fazendo com que os povos da Europa se sintam cmplices nesse grande projecto que a Unio Europeia.