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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS EM FACE DA LEI Nº 9.784/99 MARISA CRISTINA CLETO RIGHETTO Itajaí (SC), novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS EM FACE DA LEI Nº 9.784/99

MARISA CRISTINA CLETO RIGHETTO

Itajaí (SC), novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS EM FACE DA LEI Nº 9.784/99

MARISA CRISTINA CLETO RIGHETTO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito.

Orientador: Professor MSc. Emerson de Moraes Granado

Itajaí (SC), novembro de 2008

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ii

AGRADECIMENTO

A Deus, por ter me dado força e coragem para enfrentar todas as dificuldades de minha vida,

com muita garra, com muita perseverança, otimismo e toda a certeza de que nunca é tarde

para irmos ao encontro dos nossos ideais.

A o meu Professor Orientador Emerson de Moraes Granado, o qual contribuiu

sobremaneira com a conclusão deste sonho.

E, também à Professora Aparecida Correia da Silva, amiga e companheira de trabalho.

Aos meus pais Laurecy e José Júlio Cleto, sem os quais não teria condições de cursar esta tão

importante graduação.

Ao meu marido Carlos Henrique e filhos, Luiz Eduardo, Leandro e Elisa que sempre

acreditaram em mim.

Ao meu querido neto Luiz Eduardo Cleto Righetto Filho, na esperança de que sempre se

orgulhe de mim.

E aos meus amigos especiais que sempre compartilharam comigo, as alegrias, as etapas

vencidas e a vencer, que sempre ouviram as minhas histórias e por fim, nos divertimos muito

e, tenho certeza, vão ficar na saudade.

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iii

DEDICATÓRIA

Dedico aos meus sogros Eclea e Mourival por sempre acreditarem, vibrarem e se

emocionarem com as vitórias conquistadas por minha família.

Aos meus pais Laurecy e José Julio Cleto que têm a educação acima de tudo e transpõem

fronteiras para tal.

Sendo sabias as suas palavras quando me afirmaram que a única e mais rica herança que

se pode deixar a um filho, e que ninguém jamais vai tirá-la, é o Estudo.

Dos amigos especiais já mencionados, fica difícil nominá-los, pois cada um tem uma

parcela de participação em minha vida, mas vou tentar nominar, pelo menos, aqueles com

quem mais compartilhei meus dias acadêmicos: Dayane, Indionara, Jonathan,

Carol, Rafael, Ulisses, Valdir e Michele.

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iv

"A ousadia é, depois da prudência, uma condição especial da nossa felicidade."

(Arthur Schopenhauer)

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v

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho,

isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito,

a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí (SC), 21 de novembro de 2008.

Marisa Cristina Cleto Righetto Graduanda

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vi

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito

da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Marisa

Cristina Cleto Righetto, sob o título Princípio da Motivação dos Atos

Administrativos em face da LEI Nº 9.784/99, foi submetida em 21 de

novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: MSc. Emerson de Moraes Granado [orientador e presidente da

banca] e MSc. Aparecida Correia da Silva [examinadora], e _____________

com a nota _____ [_______________].

Itajaí (SC), 21 de novembro de 2008

Professor MSc Antônio Augusto Lapa Coordenador de Monografia

Professor MSc. Emerson de Moraes Granado Orientador e Presidente da Banca

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vii

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Administração:

Expressão que se formou do verbo latino administrare (administrar, governar,

gerir, executar), pela composição do substantivo administratio, dá a idéia da

reunião de atos praticados por uma pessoa a fim de cumprir a direção ou a

gerência de uma determinada soma de negócios ou afazeres, sejam

pertinentes aos interesses privados, próprios, ou de outras pessoas, sejam

pertinentes aos interesses da coletividade. Neste particular, então teremos a

administração privada ou a administração pública1.

Ato Administrativo:

No sentido do Direito Público, designa todo o ato praticado por delegado dos

poderes públicos no exercício de suas funções administrativas, seja dirigindo

os negócios públicos, que são atribuídos à sua realização2.

Legislação:

Derivado do latim legislatio (estabelecimento de lei), é tomada, em seu sentido

etimológico, para designar o conjunto de leis, dadas a um povo3.

Princípios:

No sentido, notadamente no plural, significa as normas elementares ou os

requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa4.

Processo Administrativo:

1 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 38. 2 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 94. 3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 479. 3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 639. 4 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 643.

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Denominação genérica dada ao processo que se opera perante a autoridade

administrativa, quando não é de natureza contenciosa e provocada por

iniciativa dela. Em regra, o processo administrativo é operado ex offício. E a

decisão que nele se pronuncia não tem caráter executivo nem gera a coisa

julgada5.

Regime:

Do latim regimen, de regere (reger, dirigir, governar), exprime a ação de

conduzir ou de governar. No sentido jurídico, regime importa no sistema ou no

modo regular, por que as coisas, instituições ou pessoas se devam conduzir. E

assim, é indicativo da própria forma por que a administração, o governo, a

gestão ou a direção se cumprem, ou da ordem, que se deve seguir6.

5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 690. 6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 690.

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................XI

INTRODUÇÃO ................................................................................ 1

CAPÍTULO 1 ................................................................................... 4

MOTIVAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS ............................. 4

1.1 A DOUTRINA QUE AFIRMA A NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO ............ 4

1.2 CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO .................................................... 6

1.2.1 Competência do Ato Administrativo...................................................... 7

1.2.2 Finalidade do Ato Administrativo .......................................................... 8

1.2.3 Forma do Ato Administrativo ................................................................. 8

1.2.4 Motivo do Ato Administrativo .............................................................. 10

1.2.5 Objeto do Ato Administrativo............................................................... 11

1.2.6 Requisitos do Ato Administrativo........................................................ 11

1.2.7 Atributos dos Atos Administrativos .................................................... 13

1.2.7.1 Legitimidade dos Atos Administrativos ........................................... 13

1.2.7.2 Auto-executoriedade dos Atos Administrativos ............................. 15

1.2.7.3 Imperatividade dos Atos Administrativos........................................ 16

1.2.8 Elementos dos Atos Administrativos .................................................. 17

1.3 FUNDAMENTO DO DEVER DE MOTIVAÇÃO DOS ATOS

ADMINISTRATIVOS ........................................................................................ 18

CAPÍTULO 2 ................................................................................. 26

PRINCÍPIOS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA........ 26

2.1 CONCEITO DE PRINCÍPIOS..................................................................... 26

2.2 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................ 27

2.2.1 Princípio da Legalidade ........................................................................ 27

2.2.2 Princípio da Finalidade ......................................................................... 29

2.2.3 Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade ........................ 30

2.2.4 Princípio da Moralidade........................................................................ 31

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2.2.5 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório......................................... 34

2.2.6 Princípio da Segurança Jurídica.......................................................... 35

2.2.7 Princípio do Interesse Público ............................................................. 36

2.2.8 Princípio da Eficiência .......................................................................... 37

CAPÍTULO 3 ................................................................................. 39

PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO NO

ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ................................. 39

3.1 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO ..................... 39

3.2 DISTINÇÃO ENTRE FATOS JURÍDICOS E ATOS JURÍDICOS .............. 42

3.3 PREVISÃO LEGAL DA MOTIVAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO.......... 44

3.3.1 Motivo e Motivação ............................................................................... 46

3.3.2 Exigência de Motivação........................................................................ 47

3.3.3 Fatos e Fundamentos Jurídicos .......................................................... 48

3.3.4 Ausência de Motivação......................................................................... 49

3.3.5 Hipóteses de Exigências da Motivação............................................... 49

3.3.6 Requisitos da Motivação ...................................................................... 51

3.3.7 Reiteração de Assuntos Idênticos....................................................... 52

3.3.8 Motivação em Atas ou Termos............................................................. 53

3.4 CONTROLE JUDICIÁRIO.......................................................................... 54

3.4.1 Atos Sujeitos a Controle Comum......................................................... 54

3.4.2 Atos Sujeitos a Controle Especial ....................................................... 55

3.4.3 Meios de Controle Judiciário ............................................................... 56

3.5 POSSIBILIDADE DE REVOGAR O ATO ADMINISTRATIVO .................. 58

3.6 DEVER DE INVALIDAR, DE SANAR, OU DE MANUTENÇÃO DO ATO

POR IMPEDIMENTOS DO PRÓPRIO ORDENAMENTO JURÍDICO.............. 59

3.6.1 Convalidação dos Atos Administrativos............................................. 60

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 64

ANEXO - A - LEI 9.784, DE 29 DE JANEIRO DE 1999 ................ 68

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RESUMO

Na presente pesquisa, demonstra-se, um estudo sobre o

Princípio da Motivação dos Atos da Administração Pública, em face da Lei

9.784/99 e demais legislações que regulam e disciplinam a matéria. Pesquisa

realizada por meio de consulta a algumas teorias, acerca do tema e

desenvolvida basicamente por meio da técnica de pesquisa bibliográfica. A

motivação deve ser prévia ou contemporânea à expedição do ato. A

administração tem o dever de justificar seus atos com o respectivo fundamento

jurídico. Não há como se assegurar a confiabilidade das decisões tomadas pela

Administração Pública sem que, as condutas administrativas sejam eficazes

com os Princípios que a regem: Princípio da Legalidade, Princípio da

Finalidade, Princípio da Razoabilidade e da Proporcionalidade, Princípio da

Moralidade, Princípio da Ampla Defesa e Contraditório, Princípio da Segurança

Jurídica, Princípio do Interesse Público e Princípio da Eficiência. Sua

obrigatoriedade exige que a Administração Pública se justifique em qualquer

tipo de ato, vez que, sua formalidade necessária, permite o controle dos atos

administrativos, praticados por ela, oportunizando as mesmas condições a

todos os cidadãos. Portanto, também está sendo discorrido sobre o Princípio

da Motivação do Ato Administrativo no Ordenamento Jurídico Brasileiro. A

expressão Regime Jurídico Administrativo é utilizada para designar, os regimes

de direito público e direito privado a que pode submeter-se a Administração

Pública. Já a expressão regime jurídico administrativo se restringe a um

conjunto de traços, conotações, que tipificam, colocando a Administração

Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa.

Enfim, a Administração Pública tem o dever de justificar seus atos com o

respectivo fundamento jurídico, no tocante aos seus objetivos primordiais, qual

sejam, o interesse público e a legalidade do ato. Assim, evitam-se certos

abusos praticados pelo agente público.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como finalidade fazer uma

abordagem teórica do Princípio da Motivação na Administração Pública, em

face da Lei 9.784/99, bem como seus requisitos e efeitos e, tem como

objetivos: institucional, produzir uma monografia jurídica para obtenção do grau

de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI;

investigatórias: geral, analisar o Princípio da Motivação, a exigência com

relação á motivação dos atos administrativos e em conseqüência, o

Ordenamento Jurídico Brasileiro referente à necessidade das empresas

públicas estarem submetidas aos princípios constitucionais da Administração

Pública.

Para encetar a investigação foi utilizado o método

indutivo7; a ser operacionalizado com as técnicas8 do referente9, das

categorias10, dos conceitos operacionais11 e da pesquisa de fontes

documentais e bibliográficas (realizada através da busca em livros, revistas,

jornais, documentos legais, artigos científicos e dados eletrônicos). Para a

7Método indutivo, segundo a explicação de LAKATOS e MARCONI, seria aquele “[...] cuja aproximação dos fenômenos caminha para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente)”. Somando as de LAKATOS e MARCONI, onde concluem que “[...], portanto o objetivo dos argumentos é levar a conclusões cujo conteúdo é mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam”. LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1991, p. 106 e 47. 8“Técnica é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 8.ed. Florianópolis: OAB/SC, 2003, p. 88. 9“Referente é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 56. 10Categoria “é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 29. 11Conceito operacional (=cop) é uma definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p.51.

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elaboração da Monografia adotou-se a metodologia proposta por PASOLD.12

A relevância da pesquisa se verifica na diferença entre

motivo e motivação e, em face da evidente necessidade de se fundamentar

todos os atos jurídicos – administrativos, para que os mesmos não sejam

aplicados de maneira arbitrária pelo administrador público. E esta

fundamentação está diretamente baseada no Princípio da motivação, seja o ato

discricionário ou vinculado.

No primeiro capítulo tratar-se-á da motivação dos atos

administrativos abordando-se posição dos doutrinadores quanto a necessidade

da motivação, o conceito, competência, finalidade, forma, motivo, objeto,

requisitos, atributos, legitimidade, auto-executoriedade, imperatividade,

elementos e fundamentos do dever de motivação dos atos administrativos.

Posteriormente, no segundo capítulo, far-se-á uma

conceituação e reflexão sobre os Princípios da Legalidade, Finalidade,

Razoabilidade e da Proporcionalidade, Moralidade, Ampla Defesa e

Contraditório, Segurança Jurídica, Interesse Público e da Eficiência.

Encerrando o trabalho monográfico, no terceiro capítulo

discorrer-se-á sobre o princípio da motivação do ato no ordenamento jurídico

brasileiro, distinção entre fato e ato jurídico, a previsão legal da motivação do

ato no direito brasileiro. A diferença entre motivo e motivação, os controles

judiciários e a convalidação dos atos administrativos.

Para a presente monografia foram levantados os

seguintes problemas: 1) Há diferença entre motivo e motivação? e 2) A

necessidade da motivação para os atos administrativos é respeitada e

utilizada?

Assim como, dispostas as respectivas hipóteses de

pesquisa: É a obrigação conferida ao administrador de motivar todos os atos

que edita, sejam gerais, sejam de efeitos concretos.

É considerado, entre os demais princípios, um dos mais

importantes, uma vez que sem a motivação não há o devido processo legal, 12 PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 51.

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pois a fundamentação surge como meio interpretativo da decisão que levou à

prática do ato impugnado, sendo verdadeiro meio de viabilização do controle

da legalidade dos atos da Administração.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos do estímulo à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o Ato administrativo motivado, bem como se as hipóteses da pesquisa

foram ou não confirmadas.

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CAPÍTULO 1

MOTIVAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

Com relação ao tema proposto se pretende apresentar, a

posição doutrinária que afirma a necessidade de motivação do ato

administrativo, o conceito de motivação dos atos administrativos, os requisitos

do ato administrativo e outros dispositivos que passa-se a explanar a seguir.

1.1 A DOUTRINA QUE AFIRMA A NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO

Os atos administrativos são os meios pelos quais a

Administração Pública exerce as suas funções e esses atos podem ser

chamados de Atos vinculados ou discricionários.

Os atos vinculados são os que estão dispostos em lei,

limitando assim as atuações dos administradores. Já os atos discricionários

são descritos como atos de livre escolha do administrador. Porém, caso esse

ato discricionário não obedeça a limites, essa discricionariedade pode se tornar

arbitrária. Portanto, essa limitação legal só ocorre se houver motivação do ato

administrativo discricionário.

O dever de motivar os atos administrativos não se

encontra assegurado de maneira expressa no texto da Constituição Federal de

1988, também não figurando nas Constituições anteriores. Por esse motivo, o

tema suscita discussões doutrinárias.

Nesse sentido, Cretella Júnior13 defende que:

(...) o ato administrativo discricionário é insuscetível de revisão pelo poder judiciário quanto aos motivos, não havendo o dever de motivar, mas, uma vez motivado, o ato submete-se à apreciação judicial: Em suma, tratando-se de ato discricionário, a motivação é dispensável. No entanto, se o administrador motiva o ato, o motivo deve conformar-se à lei, porque, do contrário, a motivação ilegal, eivada de abuso, excesso ou

13 CRETELLA JÚNIOR, José. Controle jurisdicional do ato administrativo. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.156.

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desvio de poder, torna o ato discricionário suscetível de revisão.

Outra corrente doutrinária, por sua vez, entende que os

atos discricionários devem ser sempre motivados, enquanto os vinculados em

regra também devem sê-lo, salvo alguns casos excepcionais. Tal é a posição

de Mello14:

A motivação deve ser prévia ou contemporânea à expedição do ato. Em algumas hipóteses de atos vinculados, isto é, naqueles em que há aplicação quase automática da lei, por não existir campo para interferência de juízos subjetivos do administrador, a simples menção do fato e da regra de Direito aplicada pode ser suficiente por estar implícita a motivação. Naqueloutros, todavia, em que existe discricionariedade administrativa ou em que a prática do ato vinculado depende de apurada apreciação e sopesamento dos fatos e das regras jurídicas em causa, é imprescindível motivação detalhada.

Outra corrente defende a necessidade de motivação de

todos os atos, quer discricionários quer vinculados. Nesse sentido, a doutrina

de Di Pietro15:

O princípio da motivação exige que a Administração Pública indique os fundamentos de fato e de direito de suas decisões. (...) A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato, porque se trata de formalidade necessária para permitir o controle da legalidade dos atos administrativos

A partir das posições expostas, observa-se o caráter

controvertido do tema, mas, ao mesmo tempo, pode-se verificar a nítida

tendência atual da doutrina no sentido de ampliar os casos de motivação

obrigatória dos atos administrativos. E essa direção na evolução do

pensamento doutrinário procura o embasamento constitucional da necessidade

de motivação dos atos administrativos.

14 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 82. 15 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 82.

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1.2 CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO

O conceito de ato administrativo é o mesmo do ato

jurídico do qual se diferencia como uma categoria informada pela finalidade

pública. Ato jurídico administrativo é toda manifestação de vontade do Estado,

por seus representantes, no exercício regular de suas funções, ou por qualquer

pessoa que detenha nas mãos fração de poder reconhecido pelo Estado, que

tem por finalidade imediata criar, reconhecer, modificar, resguardar ou extinguir

direitos e obrigações sob o regime jurídico-administrativo.16

Podemos definir o ato administrativo como todos os atos

praticados pela Administração Pública. É todo ato praticado, segundo a lei, pelo

agente administrativo, capaz de criar, modificar ou extinguir direitos na esfera

da administração pública. O Ato Administrativo – espécie do gênero Ato da

Administração dotado de efeitos jurídicos – conquanto produção de máxima

concretude Estatal constitui-se em instrumento de atuação do poder público

executor da função administrativa. Assim, dessa noção de instrumentalidade,

decorre a afirmativa de que nesse ramo do direito, a exemplo do que ocorre no

processo civil e penal, a forma, elemento vinculado de do ato, é mero

instrumento, corolário do princípio da instrumentalidade das formas. Sem ele, o

ato, o instrumento, nada pode materializar o Estado-Administração, tornando-

se inoperante no que concerne às produções de efeitos jurídicos.17

Trata-se de declaração jurídica, ou seja, de manifestação

que produz efeitos de direito, a saber: certificar, criar, extinguir, transferir,

declarar ou de qualquer modo modificar direitos ou obrigações. Provém do

Estado, ou de quem esteja investido em prerrogativas estatais. É exercida no

uso de prerrogativas públicas, portanto, de autoridade, sob regência do Direito

Público. Nisto se aparta dos atos de Direito Privado. Consiste em providências

jurídicas complementares da lei ou excepcionalmente da própria Constituição,

sendo aí estritamente vinculadas, a título de lhes dar cumprimento.18

16 HELY LOPES MEIRELES, Direito administrativo brasileiro, 1989, p. 126, apud LUIS HENRIQUE MARTINS DOS SANTOS, Manual de Direito Administrativo, p. 124. 17 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo, p. 181. 18 TÁCITO, Caio. O Abuso de Poder Administrativo no Brasil. Rio de Janeiro: DASP, 1959. p. 27.

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Em acepção estrita, pode-se conceituar ato administrativo

acrescendo as características: concreção e unilateralidade; declaração

unilateral do Estado no exercício de prerrogativas públicas, manifestada

mediante comandos concretos complementares da lei, expedidos a título de lhe

dar cumprimento e sujeitos a controle de legitimidade por órgão jurisdicional.19

1.2.1 Competência do Ato Administrativo

Para a prática do ato administrativo a competência é a

condição primeira de sua validade. Nenhum ato, discricionário ou vinculado,

pode ser realizado, validamente, sem que o agente disponha de poder legal

para praticá-lo.20

O poder atribuído ao agente da Administração para o

desempenho específico das suas funções é entendido por competência

administrativa, que resulta da lei e por ela é delimitada. Todo ato emanado de

agente incompetente, ou realizado além do limite de que dispõe a autoridade

incumbida de sua prática, é inválido, por lhe faltar um elemento básico de sua

perfeição, qual seja, o poder jurídico para manifestar a vontade da

Administração.21

Sendo um requisito de ordem pública, a competência

administrativa, é intransferível e improrrogável pela vontade dos interessados.

Pode, entretanto, ser delegada e avocada, desde que o permitam as normas

reguladoras da Administração.22 Sem que a lei faculte essa deslocação de

função não é possível a modificação discricionária da competência, porque ela

é elemento vinculado de todo ato administrativo, e, pois, insuscetível de ser

fixada ou alterada ao nuto do administrador e ao arrepio da lei.23

19 DIEZ, Manoel Maria. El Acto Administrativo. Buenos Aires, 1953, p. 128. 20 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 151. 21 TÁCITO, Caio. O Abuso de Poder Administrativo no Brasil, p. 34. 22 TÁCITO, Caio. Desvio de poder em matéria administrativa, p. 18. 23 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 152.

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1.2.2 Finalidade do Ato Administrativo

A finalidade do Ato Administrativo é outro requisito

necessário ao ato administrativo, ou seja, o objetivo de interesse público a

atingir. Não se compreende ato administrativo sem um fim público. A finalidade

é, assim, elemento vinculado de todo ato administrativo, discricionário ou

regrado, porque o Direito Positivo não admite ato administrativo sem finalidade

pública ou desviado de sua finalidade específica. Desde que a Administração

Pública só se justifique como fator de realização do interesse coletivo, seus

atos hão de se dirigir para um fim público, sendo nulos quando satisfizerem

pretensões descoincidentes do interesse coletivo.24

A finalidade é aquela que a lei indica explícita ou

implicitamente. Não cabe ao administrador escolher outra, ou substituir a

indicada na norma administrativa, ainda que ambas colimem fins públicos.

Assim, nada resta para escolha do administrador, que fica vinculado,

integralmente, à vontade legislativa, e a alteração da finalidade expressa na

norma legal ou implícita no ordenamento da Administração caracteriza o desvio

de poder, que rende ensejo à invalidação do ato, por lhe faltar um elemento

primacial em sua formação: o fim público desejado pelo legislador.25

1.2.3 Forma do Ato Administrativo

Meirelles26 cita que:

(...) o revestimento exteriorizador do ato administrativo constitui requisito vinculado e imprescindível à sua perfeição. Enquanto a vontade dos particulares pode se manifestar livremente, a da Administração exige procedimentos especiais e forma legal para que se expresse validamente. Pode-se afirmar que se no Direito Privado, a liberdade da forma do ato jurídico é regra, no Direito Público é exceção. Todo ato administrativo é, em princípio, formal. E se compreende essa exigência, pela necessidade que tem o ato administrativo de ser contrastado com a lei e aferido, pela Administração e até pelo Judiciário,

24 TÁCITO, Caio. Desvio de poder em matéria administrativa, p.18. 25 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p.152. 26 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p.154.

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para verificação de sua validade.

Para outros doutrinadores existem outras especificações

quanto a forma, que são válidas de serem apreciadas.

Para Gordillo27, outra peculiaridade, é a de que:

(...) no Direito Privado se distinguem as formas ad substantiam e ad probationem, ao passo que no Direito Administrativo não se faz essa distinção, visto que toda forma estabelecida para o ato é substancial. Não se confunda, entretanto, simples defeito material na forma com a relegação da própria forma: aquele é corrigível e não anula o ato, como, por exemplo, um erro material em um decreto expropriatório, esta é insuprível e nulificadora do ato, como, no mesmo exemplo, se a desapropriação for decretada por um ofício.

A inexistência da forma induz a inexistência do ato

administrativo. A forma normal do ato de administração é a escrita, embora

atos existam consubstanciados em ordens verbais e até mesmo em sinais

convencionais, como ocorre com as instruções momentâneas de superior a

inferior hierárquico, com as determinações de polícia em casos de urgência e

com a sinalização do trânsito. O que convém fixar é que só se admite o ato

administrativo não escrito em casos de urgência, de transitoriedade da

manifestação da vontade administrativa ou de irrelevância do assunto para a

Administração. Nas demais hipóteses, é de rigor o ato escrito em forma legal,

sem o quê se exporá à invalidade.28

A revogação ou a modificação do ato administrativo deve

obedecer a mesma forma do ato originário, uma vez que o elemento formal é

vinculado tanto para sua formação quanto para seu desfazimento ou alteração

e, impõe-se, neste caso, distinguir a forma do ato do procedimento

administrativo. A forma é o revestimento material do ato; o procedimento é o

conjunto de operações exigidas para sua perfeição. Assim, para uma

concorrência há um procedimento que se inicia com o edital e se finda com a

adjudicação da obra ou do serviço; e há um ato adjudicatório que se concretiza,

afinal, pela forma estabelecida em lei. O procedimento é dinâmico; a forma é 27 GORDILLO, Agustín A. El acto administrativo. Buenos Aires, 1969, p. 328. 28 MIRANDA, Sandra Julien. Do ato administrativo complexo. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 208.

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estática. A inobservância da forma vicia, substancialmente, o ato, tornando-o

passível de invalidação, desde que necessária à sua perfeição e eficácia.29

1.2.4 Motivo do Ato Administrativo

Segundo Meirelles30:

(...) é a situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a realização do ato administrativo. O motivo, como elemento integrante da perfeição do ato, pode vir expresso em lei como pode ser deixado ao critério do administrador. No primeiro caso será um elemento vinculado; no segundo, discricionário, quanto à sua existência e valoração.

Alguns administrativistas empregam, como sinônimas, as

palavras motivo e causa do ato administrativo. A Lei 9.784/99 alçou a

motivação à categoria de princípio. Denomina-se motivação a exposição ou a

indicação por escrito dos fatos e dos fundamentos jurídicos do ato. Deste

modo, motivo e motivação expressam conteúdos jurídicos diferentes.31

Hoje, em face da ampliação do princípio do acesso ao

Judiciário, conjugado com o da moralidade administrativa, a motivação é, em

regra, obrigatória. Só não o será quando a lei a dispensar ou se a natureza do

ato for com ela incompatível.

Assim, na atuação vinculada ou na discricionária, o

agente da Administração, ao praticar o ato, fica na obrigação de justificar a

existência do motivo, sem o quê o ato será inválido ou, pelo menos, invalidado,

por ausência da motivação.

Entretanto, quando o motivo não for exigido para a

perfeição do ato, fica o agente com a faculdade discricionária de praticá-lo sem

motivação, mas, se o fizer, vincula-se aos motivos aduzidos, sujeitando-se à

obrigação de demonstrar sua efetiva ocorrência. A referida Lei 9.784/99 aponta

atos cujas motivações são obrigatórias.

29 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, 2005, p. 162. 30 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, 2005, p. 168. 31 CINTA, Antônio Carlos de Araújo. Motivo e motivação do ato administrativo. São Paulo: Malheiros, 1978, p. 105.

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Portanto, para a dispensa de um servidor exonerável ad

nutum não há necessidade de motivação do ato exoneratório, mas, se forem

dados os motivos, ficará a autoridade que os deu sujeita à comprovação de sua

real existência.32

1.2.5 Objeto do Ato Administrativo

Todo o ato administrativo tem por objeto a criação,

modificação ou comprovação de situações jurídicas concernentes a pessoas,

coisas ou atividades sujeitas à ação do Poder Público. Nesse sentido, o objeto

identifica-se com o conteúdo do ato, através do qual a Administração manifesta

seu poder e sua vontade, ou atesta simplesmente situações preexistentes.

O objeto, nos atos discricionários, fica na dependência da

escolha do Poder Público, constituindo essa liberdade opcional o mérito

administrativo. Não se pode, pois, em tal elemento, substituir o critério da

Administração pelo pronunciamento do Judiciário, porque isto importaria

revisão do mérito administrativo, por uma simples mudança de juízo subjetivo,

do administrador pelo juiz, sem qualquer fundamento em lei.33

1.2.6 Requisitos do Ato Administrativo

Terminologia diversa é adotada pelo Mello34, que,

desdobra a análise destas figuras, nominando-as causas do ato administrativo.

Usa-se a expressão elementos do ato administrativo para indicar os requisitos

do ato.

Costuma-se dizer que o ato administrativo pode ser

decomposto em elementos, como abstração visando a facilitar-lhe o estudo.

Este procedimento de decomposição corresponderia à anatomia do ato, tendo

em vista exame de sua eventual patologia, isto é, dos vícios que, porventura,

possa apresentar. Poder-se-ia relacionar como elementos habitualmente 32 CRETELLA JÚNIOR, José. Controle jurisdicional do ato administrativo, p. 206. 33 MEIRELLES, Hely Lopes. , Direito administrativo brasileiro, p. 174. 34 MELLO, Oswaldo Aranha Bandeira de. Princípios Gerais de Direito Administrativo. v. I, Rio de Janeiro: Forense, 1969, p. 438.

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referidos os seguintes; sujeito, forma, objeto, motivo e finalidade. Não é

incomum encontrar-se, também, menção à vontade.35

Sujeito é o autor do ato; quem detém os poderes jurídico-

administrativos necessários para produzi-lo; forma é o revestimento externo do

ato; sua exteriorização; objeto é a disposição jurídica expressada pelo ato; o

que ele estabelece. Seria melhor denominá-la conteúdo. Motivo é a situação

objetiva que autoriza ou exige a prática do ato; finalidade é o bem jurídico a

que o ato deve atender. Vontade é a disposição anímica de produzir o ato, ou,

além disto, de atribuir-lhe um dado conteúdo. Pressupostos do ato. Estes

últimos, de seu turno, distinguem-se em pressupostos de existência, ou seja,

condicionantes de sua existência, e pressupostos de validade, ou seja,

condicionantes de sua lisura jurídica.36

São pressupostos de existência o objeto e a pertinência

do ato ao exercício da função administrativa. Os pressupostos de validade

são37:

1) pressuposto subjetivo (sujeito);

2) pressupostos objetivos (motivo e requisitos

procedimentais);

3) pressupostos teleológico (finalidade);

4) pressupostos lógico (causa); e

5) pressupostos formalísticos (formalização).

Quanto à vontade, não se inclui entre os elementos.

Sem os elementos não há ato algum, administrativo ou

não, ou seja, inexistirá o próprio ser que se designa pelo nome de ato jurídico.

Sem os pressupostos de existência faltará o indispensável

para a produção jurídica daquele objeto constituído pelos elementos, isto é,

para o surgimento de um ato jurídico qualquer, ou, então, faltará o requerido

para a qualificação dele como ato administrativo. 35 QUEIRÓ, Afonso Rodrigues. Reflexões sobre a teoria do desvio de poder em direito administrativo. Coimbra: Coimbra Editora, 1940, p. 19. 36 FRAGOLA, Umberto. Gli Atti Amministrativi. 2 ed. Nápoles: Casa Editrice Dott. Eugenio Jovene, 1964, p. 12. 37 MELLO, Oswaldo Aranha Bandeira de. Princípios gerais de direito administrativo, p. 438.

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Sem os pressupostos de validade não haverá ato

administrativo válido.

1.2.7 Atributos dos Atos Administrativos

Os atos administrativos, como emanação do Poder

Público, trazem em si certos atributos que os distinguem dos atos jurídicos

privados e lhes emprestam características próprias e condições peculiares de

atuação.

1.2.7.1 Legitimidade dos Atos Administrativos

Qualquer que seja sua categoria ou espécie, os atos

administrativos, nascem com a presunção de legitimidade, independentemente

de norma legal que a estabeleça. Essa presunção decorre do princípio da

legalidade da Administração, que, nos Estados de Direito, informa toda a

atuação governamental. Além disso, a presunção de legitimidade dos atos

administrativos responde a exigências de celeridade e segurança das

atividades do Poder Público, que não poderiam ficar na dependência da

solução de impugnação dos administrados, quanto à legitimidade de seus atos,

para só após dar-lhes execução.38

A presunção de legitimidade autoriza a imediata execução

ou operatividade dos atos administrativos, mesmo que argüidos de vícios ou

defeitos que os levem à invalidade. Enquanto não sobreviver o pronunciamento

de nulidade os atos administrativos são tidos por válidos e operantes, quer para

a Administração, quer para os particulares sujeitos ou beneficiários de seus

efeitos. Todavia, admite-se a sustação dos efeitos dos atos administrativos

através de recursos internos ou de ordem judicial, em que se conceda a

suspensão liminar, até o pronunciamento final de validade ou invalidade do ato

impugnado.39

38 NERY JR., Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, Brasil, 1995, p. 187. 39 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 191.

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Outra conseqüência da presunção de legitimidade é a

transferência do ônus da prova de invalidade do ato administrativo para quem a

invoca. Cuide-se de argüição de nulidade do ato, por vício formal ou ideológico,

a prova do defeito apontado ficará sempre a cargo do impugnante, e até sua

anulação o ato terá plena eficácia.

A eficácia é a idoneidade que se reconhece ao ato

administrativo para produzir seus efeitos específicos. Pressupõe, portanto, a

realização de todas as fases e operações necessárias à formação do ato final,

segundo o Direito Positivo vigente.40

A partir da conclusão do procedimento formativo a

Administração está diante de um ato eficaz, isto é, apto a produzir seus efeitos

finais, enquanto não for revogado. Mas, embora eficaz, pode o ato

administrativo não ser exeqüível, por lhe faltar a verificação de uma condição

suspensiva, ou a chegada de um termo ou, ainda, a prática de um ato

complementar, aprovação, visto, homologação, julgamento do recurso de ofício

etc., necessário ao início de sua execução ou operatividade.41

Portanto, distingue-se a eficácia da exeqüibilidade do ato

administrativo, embora possam ambas surgir no mesmo momento e coexistir

daí por diante, enquanto o ato tiver existência legal. Mas nem por isso se

identificam ou se confundem, porque a eficácia é, tão-somente, aptidão para

atuar, ao passo que a exeqüibilidade é a disponibilidade do ato para produzir

imediatamente seus efeitos finais. A eficácia é apenas um consectário da

existência do ato válido, enquanto a exeqüibilidade é uma condição de

operatividade do ato perfeito. A eficácia é um munus em relação à

exeqüibilidade do ato administrativo. O ato administrativo perfeito não é o que

está apenas acabado (eficaz), mas sim completo (exeqüível), pela ocorrência

de todas as condições de sua operatividade. A perfeição do ato só se verifica

pela soma da eficácia com a exeqüibilidade, como, aliás, ocorre no Direito

Processual em relação à sentença judicial, que, uma vez prolatada, é eficaz,

40 PERO, Maria Thereza Gonçalves. A motivação da sentença civil São Paulo: Saraiva, 2001, p. 71. 41 PERO, Maria Thereza Gonçalves. A motivação da sentença civil, p. 78.

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mas só se torna exeqüível depois de passada em julgado.42

Exeqüibilidade ou operatividade é a possibilidade

presente no ato administrativo de ser posto imediatamente em execução.

Como já foi visto tal atributo, é característico dos atos concluídos e perfeitos,

pois, enquanto não se cumprir a tramitação exigida para sua formação e não se

satisfizerem as condições impostas para sua operatividade (condições

suspensivas e termos para início de execução), ou não se realizarem os

requisitos complementares para sua perfeição, o ato não é exeqüível, embora

seja eficaz. Essa noção se afigura da maior importância prática em face do

Direito Positivo brasileiro, que impede a retroatividade da lei quanto ao ato

jurídico perfeito (Constituição Federal, artigo 5º, XXXVI, e Lei de Introdução ao

Código Civil, artigo 6º). Este ato jurídico perfeito outro não é senão o ato eficaz

e exeqüível, isto é, aquele que, além das condições legais de existência

(eficácia), se apresenta disponível para produzir seus efeitos (exeqüibilidade).43

Tanto isto é exato que a própria norma civil considera ato

jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se

efetuou. E ato consumado não é o que apenas completou seu ciclo de

formação, mas, sim, o que tem todos os requisitos para produzir seus efeitos

finais. Somente estes é que se reputam perfeitos, para fins de intangibilidade e

subsistência em face da lei nova que venha a extinguir ou modificar situações

jurídicas ainda não definitivas.

Constata-se, contrária aos textos constitucional e civil, de

que o ato simplesmente concluído (eficaz), mas ainda pendente de condição,

termo ou formalidade necessária à sua exeqüibilidade, perfeição, seria

inatingível por lei subseqüente à sua formação, quando nosso ordenamento

jurídico dispõe expressamente em sentido oposto.44

1.2.7.2 Auto-executoriedade dos Atos Administrativos

Se a Administração executa função, deve, 42 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 370. 43 NERY JR., Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal, p. 187. 44 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo, p. 194.

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obrigatoriamente, desempenhar suas competências: deveres-poderes e a

executoriedade quando desempenhada dentro das comportas augustas em

que se deve desenvolver, é elemento essencial à função administrativa.

Todavia, a executoriedade somente pode ser utilizada se

expressamente determinada na lei, ou se e na medida da estrita necessidade

administrativa. Se a Administração tem competências indisponíveis, deve poder

desfrutar da possibilidade de implementá-las sem ter de se socorrer

previamente do Judiciário.45

Entretanto, não se pense que a auto-executoriedade não

possa ser contestada em juízo, quer porque desnecessária, quer porque

exorbitante o que constituiria excesso de poder quer porque exercida em

descompasso com a finalidade do ato (novamente desvio de poder).

Dever-se-á verificar se a conduta administrativa justapõe-

se, encarta-se proporcionalmente à necessidade de desempenho da tutela do

bem jurídico ameaçado pela conduta do particular.

Destarte, a proporcionalidade e a razoabilidade serão o

metro de aferição. Imagine-se, por exemplo, durante uma greve pacífica, a

pretexto de assegurar a ordem pública, a polícia se utilizar de cães (e os atiçar

contra os grevistas), de bombas (e as acionar) etc.46

Em síntese, a auto-executoriedade pode ser permitida por

necessidade inarredável de desempenho da tutela de valor jurídico, de

interesse público albergado na norma, se necessária for, (no momento em que

haja necessidade e na justa medida proporcionalidade) desta necessidade.

1.2.7.3 Imperatividade dos Atos Administrativos

É o atributo do ato administrativo que impõe a

coercibilidade para seu cumprimento ou execução. Esse atributo não está

presente em todos os atos, visto que alguns deles o dispensam, por

desnecessário á sua operatividade, uma vez que os efeitos jurídicos do ato

45 ZANOBINI, Guido. Curso de administrativo. 3 ed., v. I, Pádua: CEDAM, 1944, p. 293. 46 ZANOBINI, Guido. Curso de administrativo, p. 298.

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dependem exclusivamente do interesse do particular na sua utilização.47

A imperatividade decorre da existência do ato

administrativo, não dependendo da sua declaração de validade ou invalidade.

Assim sendo, todo ato dotado de imperatividade deve ser cumprido ou atendido

enquanto não for retirado do mundo jurídico por revogação ou anulação,

mesmo porque as manifestações de vontade do Poder Público trazem em si a

presunção de legitimidade.48

1.2.8 Elementos dos Atos Administrativos

Conteúdo, normalmente designado objeto, por muitos

doutrinadores, é aquilo que o ato dispõe, isto é, o que o ato decide, enuncia,

certifica, opina ou modifica na ordem jurídica. É, em suma, a própria medida

que produz a alteração na ordem jurídica. Em última instância, é o próprio ato,

em sua essência.49

Ato cujo conteúdo seja ilícito, evidentemente, é inválido,

ensejando a decretação de nulidade. É que o princípio da legalidade no Direito

Administrativo, consoante já se viu ao tratar do regime jurídico administrativo e

dos princípios constitucionais que o informam no Direito brasileiro, exige não

apenas relação de não-contradição com a lei, mas demanda relação de

subsunção, isto é, de conformidade com a lei. Com efeito, quem decide, decide

algo a respeito de outra coisa. A expressão conteúdo à expressão objeto,

acolhendo o ensinamento de Zanobini50, segundo quem o conteúdo dispõe

sobre alguma coisa, que é, esta sim, o objeto do ato. Com efeito, quem decide,

decide alguma coisa a respeito de outra coisa. O conteúdo e o objeto seriam

duas realidades perfeitamente distintas.

Forma é o revestimento exterior do ato; portanto, o modo

pelo qual este aparece e revela sua existência. A forma pode, eventualmente,

47 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 370. 48 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 370. 49 TÁCITO, Caio. "Ato e Fato Administrativo", in: Temas de direito público (estudos e pareceres), 1º Vol., Rio de Janeiro, Renovar, 1997, p. 299. 50 ZANOBINI, Guido. Curso de direito administrativo, p. 299.

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não ser obrigatória, isto é, ocorrerá, por vezes, ausência de prescrição legal

sobre uma forma determinada, exigida para a prática do ato. Ora, como a

forma é o meio de exteriorização do ato, sem forma não pode haver ato.51

Não se deve confundir forma na acepção enunciada, com

formalização, que é um modo específico de apresentação da forma, ou seja,

uma dada solenização requerida para o ato. Esta última é um pressuposto

formalístico.

1.3 FUNDAMENTO DO DEVER DE MOTIVAÇÃO DOS ATOS

ADMINISTRATIVOS

O Princípio da Motivação leva a crer que a administração

pública tem a obrigação de justificar de fato e de direito o motivo de seus atos.

Esse princípio apesar de não estar expressamente previsto na Constituição

Federal, é um princípio infraconstitucional previsto na Lei 9.784/99, e já está

amplamente reconhecido na doutrina e na jurisprudência.

A motivação a que se refere tal princípio tem que ser

demonstrada previamente ou contemporaneamente a expedição do ato a ser

praticado pela administração pública. Não só os atos jurisdicionais, mas

também os administrativos são instrumentos de concretização da vontade

abstrata da lei. É possível extrair do estudo da fundamentação das decisões

judiciais, subsídios para a elaboração da teoria da motivação dos atos

administrativos.52

Sundfeld53 afirma, em Motivação do ato administrativo

como garantia dos administrados, que:

Saber se os atos administrativos exigem ou dispensam motivação, quais seus requisitos que aspectos do ato deverão ser expostos, reclamam o conhecimento dos princípios jurídicos que governam o tema, pena de o debate se enredar

51 ZANOBINI, Guido. Curso de direito administrativo, p. 302. 52 PIRES, Renato Barth. A motivação do ato administrativo na Constituição Brasileira de 1988. In: FIGUEIREDO, Lúcia Valle (coord.) Ato administrativo e devido processo legal. São Paulo: Max limonad, 2001, p. 65. 53 SUNDFELD, Carlos Ari. Motivação do Ato Administrativo como Garantia dos Administrados. Revista dos Tribunais, 1985, Revista de Direito Público, nº 75, p. 93.

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na malha de secundárias questões técnicas.

É inegável que o problema não surgiu com esta conformação, antes foram as vantagens técnicas que introduziram a motivação como exigência de muitos textos legais. A rigor, a questão se desenvolveu no direito processual, ligada a intenção de tornar mais racional a atividade dos juízes, de facilitar a interpretação dos julgados, a interposição e julgamento de recursos etc. No direito administrativo, foi semelhante o enfoque original.

Costuma-se invocar a analogia com o Direito Processual, vem que o Direito Público é um uno, para transladar a exigência de motivação das sentenças para os atos da Administração Pública, pois, tanto umas como outros, revelam as questões de aplicação das normas aos fatos, da imparcialidade e responsabilidade da autoridade, do convencimento do destinatário, da publicidade da atividade estatal, bem assim da interpretação, impugnação e controle, tudo a exigir a devida motivação das decisões.

Apesar da Constituição Federal estar em vigor há mais de

20 (vinte) anos, e da Lei 9.784/99, que trata do processo administrativo no

âmbito da Administração Pública Federal, ter sido editada há mais de 9 (nove)

anos, ainda é costumeira a falta de fundamentação para os atos

administrativos.

Tal procedimento afronta a disposição do artigo 2º, caput,

da referida Lei, em especial no que tange ao princípio da motivação que deve

ser obedecido pela Administração Pública.

Ao examinar o princípio da motivação, ensina Mello54:

Dito princípio implica para a Administração o dever de justificar seus atos, apontando-lhes os fundamentos de direito e de fato, assim como a correlação lógica entre os eventos e situações que deu por existentes e a providência tomada, nos casos em que este último aclaramento seja necessário para aferir-se a consonância da conduta administrativa com a lei que lhe serviu de arrimo.

A motivação há de ser prévia ou contemporânea à

expedição do ato. Em algumas hipóteses de atos vinculados, isto é, naqueles

54 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 69.

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em que há aplicação quase automática da lei, por não existir campo para

interferência de juízo subjetivo do administrador, a simples menção do fato e da

regra de Direito aplicada pode ser suficiente, por estar implícita a motivação.

Todavia, nos atos em que existe discricionariedade administrativa ou, naqueles

em que a prática do ato vinculado depende de acurada apreciação e

apresentação dos fatos e das regras jurídicas em causa, é imprescindível

motivação detalhada.55

O motivo, como esclarece Gasparini56, "é a circunstância

de fato ou de direito que autoriza ou impõe ao agente público a prática do ato

administrativo". A motivação pode ou não estar na lei, mas sempre deve ser

evidenciada no ato administrativo, também sob pena de nulidade.

A motivação da decisão denegatória permite ao

administrado não apenas avaliar se houve erro por parte do administrador, se o

mesmo não cumpriu determinado requisito, mas, sobretudo saber sobre qual

ponto irá recorrer administrativamente, ou mesmo sobre o quê irá propor ação

judicial.57

A explicitação da motivação do ato administrativo é

exigência que vem se firmando progressivamente, tendo-se em conta o

exercício do controle aplicável à atividade da Administração Pública, não

apenas na intimidade da sua própria organização e por sua própria,

autocontrole, mas também por meio da atividade jurisdicional, que lhe é

externa e superior.58

A explicitação dos motivos do ato administrativo permite

controlar o subjetivismo do agente e também atende à exigência da

demonstração de boa-fé que deve presidir as relações da Administração

Pública com os administrados. Além disto, a fundamentação explícita do ato

serve ainda de justificação de sua iniciativa máxima quanto aos atos que

veiculam restrição de direitos, os quais devem sempre trazer adequados e

55 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 4 ed. São Paulo, Saraiva, 1995, p. 57. 56 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo, p. 57. 57 MAIA FILHO, Napoleão Nunes. Temas de direito administrativo e tributário. UFC: Fortaleza 1998, p. 53/54. 58 MAIA FILHO, Napoleão Nunes. Temas de direito administrativo e tributário, p. 55/56.

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completos fundamentos, como leciona.59

Também em se tratando de decisão administrativa, é

inegável que a fundamentação está diretamente relacionada com o direito do

interessado de influir na formação do convencimento, seja da autoridade

administrativa superior, competente para apreciar o recurso cabível no caso,

seja do Juiz, ao qual for submetida a pretensão de controle de validade

daquela decisão administrativa.60

Não se considera fundamentada uma decisão que diz

apenas inexistir o direito pleiteado, ou que a pretensão do requerente não tem

amparo legal. Tais fundamentos são de tal generalidade que se prestam para

justificar qualquer indeferimento, e por isso mesmo, a rigor, não se prestam

para nada. A decisão que tenha fundamentação assim tão genérica não

permite o exercício do direito de defesa por parte daquele a quem prejudica,

que não tem como argumentar em sentido contrário. Tal decisão, portanto, é

nula.61

A motivação deve apontar o fundamento legal para o

indeferimento do pedido, ressaltando sempre que a Administração existe, única

e exclusivamente, para servir à população, ou seja, nada mais estará fazendo

que a sua função.

Para Figueiredo62:

A motivação, embora possa ser sucinta, deve demonstrar - de maneira cabal - o iter percorrido pelo administrador para chegar à prática do ato.

A motivação é elemento essencial para o controle, sobretudo para o controle judicial.

Não haverá possibilidade de aferir se o ato se conteve

dentro da competência administrativa, dentro da razoabilidade, que deve 59 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 20 ed. Atual por AZEVEDO, Eurico de Andrade, ALEIXO, Délcio Balestero e BURLE FILHO, José Emmanuel. São Paulo: Malheiros, 1990, p. 127. 60 MACHADO, Hugo de Brito. Mandado de Segurança em Matéria Tributária. 3.ed. São Paulo: Dialética,1998, p. 244/245. 61 MACHADO, Hugo de Brito. Mandado de Segurança em Matéria Tributária, p. 244/245. 62 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 3.ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 143.

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nortear toda competência, caso não sejam explicitadas as razões condutoras

do provimento emanado. Ressaltam os administrativistas que o dever de

fundamentar corresponde à Administração serviente, à Administração que se

pauta pela necessidade de servir à coletividade, a que explicita função.63

Tal direito à motivação das decisões administrativas não

pode ser vista apenas sob a ótica da Lei 9.784/99, que trata do processo

administrativo mas, sobretudo da própria Constituição Federal.

Acerca do dever de obediência ao princípio da motivação

das decisões administrativas, Mello64, apresenta o conteúdo constitucional que

de tal princípio:

O fundamento constitucional da obrigação de motivar – como se esclarece de seguida – implícito tanto no art. 1º, inciso II, que indica a cidadania como um dos fundamentos da República, quando no parágrafo único deste perceptivo, segundo o qual todo o poder emana do povo, como ainda no art. 5º, XXXV, que assegura o direito à apreciação judicial nos casos de ameaça ou lesão à direito. É que o princípio da motivação é reclamado quer como afirmação do direito político dos cidadãos ao esclarecimento do ‘porquê’ das ações de quem gere negócios que lhes digam respeito por serem titulares últimos do poder, quer como direito individual a não se assujeitarem a decisões arbitrárias, pois só têm que se conformar às que forem ajustadas as leis.

Em que pese alguma opinião de estudiosos de Direito

Administrativo acerca da desnecessidade da motivação, tal relevância deriva

da disposição constitucional que garante a todos os litigantes em processo

administrativo o contraditório e a ampla defesa, impedindo assim qualquer ato

de arbitrariedade do poder executivo frente ao administrado.65

A motivação dá ensejo a que o administrado participe do

procedimento administrativo, influenciando inclusive na própria decisão.

Figueiredo66 aponta a vinculação da motivação à regra estabelecida na

63 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo, p. 143. 64 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 70. 65 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 70. 66 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo, p. 143.

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Constituição Federal, expresso no artigo 93, X, menciona que "as decisões

administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as

disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros".

Portanto, outro fundamento da necessidade expressa de

motivação sedia-se no próprio inciso LV do artigo 5º.da Constituição Não seria

viável, de forma alguma, o contraditório e a possibilidade de ampla defesa se

motivação não houvesse.

A motivação é a explicitação das razões que levam o

administrador a decidir de uma maneira ou de outra, diante de determinada

situação, diante de determinados pressupostos, diante de determinados fatos.67

O administrador pode chegar à decisão "A", "B”, ou "C",

respaldando-se em parecer técnico, por exemplo. Todavia, é importante e

indispensável declinar as razões ensejadoras de tal decisão. Não é possível

que o administrador ou o juiz omitam a motivação.68

Apontando as razões que justificam o dever de motivar as

decisões administrativas, como corolário do Estado Democrático de Direito, e a

posição dos administrativistas, relata Machado69:

Ao estudioso do Direito não surpreende o fato de que alguns administrativistas ainda defendam teses autoritárias. Sabemos todos que as doutrinas nazistas e fascistas exerceram e ainda exercem forte influência no espírito de muitos juristas, que ainda não se convenceram de que o Direito há de ser tratado como um sistema de limitações ao poder, e não como forma de justificação deste.

Por outro lado, a doutrina dos autoritaristas foi elaborada

antes de entrar em vigor a Constituição de 1988, e com esta não é compatível,

pelo que deve ser descartada. Mesmo quando se trate de escrito atual, é

inegável a inspiração autoritária, de sorte que somente a herança do Estado

Totalitário pode explicar as manifestações no sentido da desnecessidade da

67 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo, p. 145. 68 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo, p. 146. 69 MACHADO, Hugo de Brito. Mandado de Segurança em Matéria Tributária. 3.ed. São Paulo: Dialética,1998, p. 252/253.

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motivação.70

Com tal ressalva, é possível, assevera que a doutrina dos

administrativistas é pacífica, afirmando a necessidade da motivação dos atos

administrativos. A motivação serve não apenas como prestação de contas da

administração frente ao administrado, mas, principalmente para que todos os

cidadãos saibam que tal decisão não foi oriunda de ato arbitrário, mas sim

derivado e embasado na lei.71

Meirelles72 ao discorrer sobre a obrigatoriedade de

embasamento legal na fundamentação das decisões administrativas menciona:

No Direito Público, o que há de menos relevante é a vontade do administrador. Seus desejos, suas ambições, seus programas, seus atos não têm eficácia administrativa, nem validade jurídica, se não estiverem alicerçados no Direito e na Lei. Não é a chancela da autoridade que valida o ato e o torna respeitável e obrigatório. É a legalidade a pedra de toque de todo ato administrativo.

Ora, se ninguém é obrigado a fazer ou a deixar de fazer

alguma coisa senão em virtude de lei, claro está que todo ato do Poder Público

deve trazer consigo a demonstração de sua base legal. Assim como todo

cidadão, para ser acolhido na sociedade, há de provar sua identidade, o ato

administrativo, para ser bem recebido pelos cidadãos, deve patentear sua

legalidade, vale dizer, sua identidade com a lei.73

Ante a ocorrência de ausência de fundamentação para as

decisões denegatórias de benefício pela Previdência Social, mister se faz a

propositura de mandado de segurança, vez que o segurado possui

constitucional e legalmente direito líquido e certo a fundamentação, ao motivo,

ou seja ao porquê, do indeferimento de seu benefício. Após a nova decisão

fundamentada, substituindo a anterior, iniciam-se os prazos para recursos,

70 MACHADO, Hugo de Brito. Mandado de Segurança em Matéria Tributária, p. 252/253. 71 MACHADO, Hugo de Brito. Mandado de Segurança em Matéria Tributária, p. 252/253. 72 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 573/574. 73 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 573/574.

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medidas judiciais para a implantação do benefício por parte do segurado.74

Wambier, citando Raselli75 menciona:

A circunstância de o Estado Moderno se submeter à observância de normas jurídicas, na relação com outras pessoas (outros sujeitos de direito) corresponde a uma exigência sentida cada vez mais agudamente, e que vem sendo correlatamente satisfeita de modo cada vez mais completo nas civilizações de nossos dias. Justamente esta circunstância é o que caracteriza o Estado de Direito.

Não interessa nem à população, nem tão pouco ao

próprio Instituto, ser dirigida de forma arbitrária, sem a obediência de padrões

mínimos de legalidade ou mesmo de credibilidade.76

A Previdência Social, como órgão da administração

pública, não pertence à nenhum governo ou partido político, mas ao próprio

povo brasileiro, realizando a arrecadação e administração dos recursos

provenientes destes e a conseqüente prestação de serviços à toda população

administrada.77

Assim, o direito do segurado à motivação não decorre,

unicamente, da obediência a princípios constitucionais e legais, mas num dever

do Instituto quanto à sua atividade gerenciadora de recursos, demonstrando à

sociedade seu aspecto democrático e sério, mantendo seu intuito de servir com

a mais total credibilidade.78

Os Atos da Administração devem ser editados e

interpretados com fundamentos nos princípios, tema abordado no capítulo

seguinte.

74 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 573/574. 75 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Limites à Chamada Discricionariedade Judicial. Revista da Associação dos Magistrados do Paraná, Curitiba, v. 50, jan./dez. 1991, p. 85/98. 76 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Limites à Chamada Discricionariedade Judicial, p. 85/98. 77 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Limites à Chamada Discricionariedade Judicial, p. 85/98. 78 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Limites à Chamada Discricionariedade Judicial, p. 85/98.

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CAPÍTULO 2

PRINCÍPIOS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Neste capítulo, pretende-se conceituar e fundamentar os

Princípios que regem a Administração Pública a saber: Princípio da Legalidade,

Finalidade, Razoabilidade e da Proporcionalidade, Moralidade, Ampla Defesa e

Contraditório, Segurança Jurídica, Interesse Público e da Eficiência dos Atos

Administrativos.

2.1 CONCEITO DE PRINCÍPIOS

São proposições que contêm as diretrizes estruturais de

uma determinada ciência. No caso das ciências humanas, os princípios

consubstanciam valores morais, éticos, religiosos e políticos.79

Em Direito, os princípios são os valores que ordenam o

sistema jurídico e variam conforme o momento histórico, social e político. Com

certeza os princípios hoje aceitos como válidos eram utópicos nos primórdios

do Direito. Vale ressaltar a importância do princípio da Legalidade, que deve

permear todos os atos administrativos. Este princípio e vários outros, são

comuns a qualquer atividade administrativa.80

Silva81 entende que os princípios "revelam o conjunto de

regras ou preceitos que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação

jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica"

[grifos do autor].

Para Carvalho82 os princípios apresentam-se como linhas

diretivas que visam facilitar a compreensão de setores normativos, de modo a

lhes atribuir caráter de unidade e servindo de fator de agregação em um grupo 79 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 103. 80 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno, p. 103. 81 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 609. 82 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 11. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 99.

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de normas.

No conceito de Espíndola83 princípio:

[...] designa a estruturação de um sistema de idéias, pensamentos ou normas por uma idéia mestra, por um pensamento chave, por uma baliza normativa, donde todas as demais idéias, pensamentos ou normas derivam, se reconduzem e/ou se subordinam.

Para tanto, serão abordados a seguir, os princípios que

regem a Administração Pública.

2.2 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.2.1 Princípio da Legalidade

Este princípio é um dos principais sustentáculos do

Estado de Direito e uma das principais garantias de que os direitos individuais

serão respeitados. Também é a base de todo o regime jurídico da

Administração Pública, pois demonstra a subordinação da atividade

administrativa à lei. Como diz Mello84:

O princípio da legalidade contrapõe-se, portanto, e visceralmente, a quaisquer tendências de exacerbação personalista dos governantes. Opõe-se a todas as formas de poder autoritário, desde o absolutista, contra o que irrompeu, até as manifestações caudilhescas ou messiânicas típicas dos países subdesenvolvidos. O princípio da legalidade é o antídoto natural do poder monocrático ou oligárquico, pois tem como raiz a idéia de soberania popular, de exaltação da cidadania. Nesta última se consagra a radical subversão do anterior esquema de poder assentado na relação soberano-súdito (submisso).

Nos dizeres de Furtado85, no âmbito da Administração

Pública, a legalidade deve ser entendida como a impossibilidade de se praticar

qualquer ato sem que haja expressa autorização legal Caso não haja lei 83 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 53. 84 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 71. 85 FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos administrativos: teoria, prática e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2003, p. 38/39.

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autorizando o administrador a praticar determinado ato, ele estará proibido de

praticá-lo, e, se ainda assim o fizer, o ato será nulo. Esse entendimento é

dominante na doutrina.

Os dizeres de Meirelles86:

Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa: pode fazer assim; para o administrador público significa: deve fazer assim.

Entendimento um pouco diferente, mas não divergente, é

manifestado por Niebuhr87, quando afirma ser a Administração Pública

vinculada à lei, mas que essa condição não pode ser entendida de forma

absoluta, sob pena de paralisia da atividade administrativa, com o conseqüente

impedimento de uma fluidez necessária ao atendimento do bem comum.

Lembra ainda que “o Estado de Direito vai muito além da legalidade, logrando

os valores sociais que informam a totalidade do sistema jurídico”

Motta88 observa que o princípio da legalidade é a pré-

condição indispensável do Estado de Direito e que, em última análise, todos os

artigos constitucionais velam por este princípio, destacando o artigo 5º, I, XXV,

LXIX, e o artigo 49, V.

Relativamente à Lei 8.666/93, esse autor destacou o

artigo 4º que estabelece o direito à fiel observância do procedimento e o artigo

41, que exige o cumprimento das normas e condições do edital, são

dispositivos que se destinam a concretizar o princípio da legalidade.

Niebuhr89 destaca que os princípios da legalidade e da

isonomia são essencialmente correlacionados:

O texto da lei ganha relevância nas licitações públicas. Afinal, a

86 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 86. 87 NIEBUHR, Joel de Menezes. Princípio da Isonomia na Licitação Pública. Florianópolis: Obra Jurídica, 2000, p. 93/95. 88 MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Eficácia nas Licitações e Contratos. 9.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 102/103. 89 NIEBUHR, Joel de Menezes. Princípio da Isonomia na Licitação Pública, p. 93/95.

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licitação pública se constitui num procedimento administrativo que pressupõe uma série encadeada de atos seqüentes, visando a alcançar determinado resultado. Este procedimento está previsto na lei, que contém os passos da licitação, e que deve ser tomado com o devido rigor, pois é neste plano que se desenvolve o certame.

Em seguida, o mesmo autor destaca que os princípios da

legalidade e da isonomia são essencialmente correlacionados90:

Vinculando o procedimento à lei, a sua observância passa a ser condição apriorística para a implementação dos demais princípios aplicáveis ao instituto. No que tange à isonomia, esta é vestibularmente assegurada em razão da obediência aos parâmetros fixados na lei. Todos são tratados na mesma forma, subordinando-se às mesmas regras e condições da contratação. Se, para alguns o procedimento for enrijecido e para outros for suavizado, não há isonomia. O procedimento legal pacifica todos os licitantes, constituindo-se elemento primário para a concreção da igualdade.

Se não houver atendimento ao princípio da legalidade, o

princípio da isonomia já estará comprometido.

2.2.2 Princípio da Finalidade

O princípio da finalidade é uma inerência do princípio da

legalidade, pois corresponde à aplicação da lei tal qual é. A finalidade legal é

um elemento da própria lei, é justamente o fator que proporciona compreendê-

la. Assim não se pode conceber o princípio da legalidade sem encarecer a

finalidade que de tal princípio em si mesmo, quer das distintas leis em que se

expressa.

Mello define91:

O princípio da finalidade impõe que o administrador, ao manejar as competências postas a seu encargo, atue com rigorosa obediência à finalidade de cada qual. Cumpre-lhe cingir-se não apenas à finalidade própria de todas as leis, que é o interesse público, mas também à finalidade específica

90 NIEBUHR, Joel de Menezes. Princípio da Isonomia na Licitação Pública, p. 93/95. 91 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, p. 63.

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abrigada na lei a que esteja dando execução. Assim, há desvio de poder e em conseqüência nulidade do ato, por violação da finalidade legal, tanto nos casos em que a atuação administrativa é estranha a qualquer finalidade pública, quanto naqueles em que o fim perseguido, se bem de interesse público, não é o fim preciso que a lei assinalava para tal ato.

Constante na lei de ação popular, todo ato que se afastar

do interesse público sujeitar-se-á a invalidação por desvio de finalidade,

conceituando-o como fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente,

na regra de competência do agente.92

Exige que o ato do princípio da finalidade seja praticado

sempre com finalidade pública, o administrador fica impedido de buscar outro

objetivo ou de praticá-lo no interesse próprio ou de terceiros. O que este

princípio veda é a prática do ato administrativo sem interesse público ou

conveniência para a administração, visando unicamente a satisfazer interesses

privados, por favoritismo ou perseguição dos agentes governamentais.93

Este desvio de conduta dos agentes públicos constitui

uma das mais insidiosas modalidades de abuso de poder.

2.2.3 Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade

O controle de legalidade evoluiu para verificar a existência

real dos motivos determinantes da decisão administrativa, a importar no acesso

à motivação expressa ou implícita do ato administrativo.

Nestes princípios, o processo administrativo deverá

obedecer aos critérios aceitáveis do ponto de vista racional, consoante a

decisão normal de pessoas equilibradas. As condutas diversas sujeitar-se-ão, à

ilegitimidade e, portanto, invalidáveis jurisdicionalmente, com fundamento nos

artigos 5°, II; 37; 84 e 5°, LXIX, da Constituição Federal.94

92 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, p. 63. 93 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, p. 63. 94 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 63.

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Assim, Figueiredo95 tratando do referido princípio, afirma

que o mesmo traduz o princípio da razoabilidade a relação de congruência

lógica entre o fato, o motivo e a atuação concreta da administração.

A lei confere ao administrador, certa margem de

discricionariedade, significando ante a diversidade de situações a serem

enfrentadas, tanto decisões como despachos, a providência a ser tomada

deverá ser a mais adequada ao interesse social e à racionalidade.96

O princípio da proporcionalidade, no mesmo sentido, vem

enunciando a idéia de que as competências administrativas só podem ser

validamente exercidas na extensão e intensidade proporcionais ao que seja

realmente demandado para o cumprimento da finalidade do interesse público a

que estão atreladas. Atos desproporcionais são ilegais e por si só fulmináveis

pelo Poder Judiciário.97

Mello98 faz a seguinte comparação: o princípio da

proporcionalidade não é senão faceta do princípio da razoabilidade, assiste nos

próprios dispositivos que consagram a submissão da Administração Pública ao

cânone da legalidade.

2.2.4 Princípio da Moralidade

Constitui pressuposto de validade de todo ato da

Administração Pública, não se trata, diz Hauriou99 o sistematizador de tal

conceito, da moral comum, mas sim de uma moral jurídica entendida como “o

conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração”.

Desenvolvendo sua doutrina, explica o mesmo autor que

o agente administrativo, como ser humano dotado da capacidade de atuar,

95 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina. Acesso em: 20 abr. 2007. 96 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina. Acesso em: 20 abr. 2007. 97 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina. Acesso em: 20 abr. 2007. 98 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 63. 99 HAURIOU, Maurice. Prècis Èlémentaires de Droit Administratif. Paris, 1926, p. 197.

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deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E,

ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não

terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o

conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também entre o

honesto e o desonesto.100

Por considerações de Direito e de Moral, o ato

administrativo não terá que obedecer, somente, à lei jurídica, mas também à lei

ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal é honesto.

A moral comum remata Hauriou101, é imposta ao homem

para sua conduta externa; a moral administrativa é imposta ao agente público

para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve e a

finalidade de sua ação: o bem comum.

Desenvolvendo o mesmo conceito, Welter102, insiste em

que:

A moralidade administrativa não se confunde com a moralidade comum; ela é composta por regras de boa administração, ou seja: pelo conjunto das regras finais e disciplinares suscitadas não só pela distinção entre o Bem e o Mal, mas também pela idéia geral de administração e pela idéia de função administrativa.

Tal conceito coincide com o de Lacharrière citado por

Mello103 segundo o qual a moral administrativa, “é o conjunto de regras que,

para disciplinar o exercício do poder discricionário da Administração, o superior

hierárquico impõe aos seus subordinados”

O certo é que a moralidade do ato administrativo

juntamente com a sua legalidade e finalidade, além da sua adequação aos

demais princípios, constituem pressupostos de validade sem os quais toda

atividade pública será ilegítima.

100 HAURIOU, Maurice. Prècis Èlémentaires de Droit Administratif. Paris, 1926, p. 197. 101 HAURIOU, Maurice. Prècis Èlémentaires de Droit Administratif. Paris, 1926, p. 197. 102 WELTER, Henri. Lê Controle Jurisdictionnel de la Moralité Administrative. Paris, 1929, p. 25. 103 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 65.

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Disse Brandão104, que:

A atividade dos administradores, além de traduzir a vontade de obter o máximo de eficiência administrativa, terá ainda de corresponder à vontade constante de viver honestamente, de não prejudicar outrem e de dar a cada um o que lhe pertence, princípio de Direito Natural já lapidarmente formulados pelos jurisconsultos romanos. À luz dessas idéias, tanto infringe a moralidade administrativa o administrador que, para atuar, foi determinado por fins imorais ou desonestos como aquele que desprezou a ordem institucional e, embora movido por zelo profissional, invade a esfera reservada a outras funções, ou procura obter mera vantagem para o patrimônio confiado à sua guarda. Em ambos os casos, os seus atos são infiéis à idéia que tinha de servir, pois violam o equilíbrio que deve existir entre todas as funções, ou, embora mantendo ou aumentando o patrimônio gerido, desviam-no do fim institucional, que é o de concorrer para a criação do bem comum.

A moralidade administrativa está, intimamente, ligada ao

conceito do bom administrador, que, no dizer de Franco Sobrinho105:

(...) é aquele que, usando de sua competência legal, se determina não só pelos preceitos vigentes, mas também pela moral comum”. As fronteiras do lícito e do ilícito, do justo e do injusto, nos seus efeitos. E explica o mesmo autor: “Quando usamos da expressão nos seus efeitos, é para admitir a lei como regra comum e medida ajustada. Contudo, falando, de boa administração, refere-se subjetivamente a critérios morais que, de uma maneira ou de outra, dão valor jurídico à vontade psicológica do administrador”. O inegável é que a moralidade administrativa integra o Direito como elemento indissociável na sua aplicação e na sua finalidade, erigindo-se em fator de legalidade

No âmbito da legislação infraconstitucional, o Decreto

1.171, de 22.6.1994, aprovando o Código de Ética Profissional do Servidor

Público civil Federal, reafirmou o princípio da moralidade administrativa,

dispondo textualmente que o servidor jamais poderá desprezar o elemento

ético de sua conduta, devendo decidir não somente:

104 BRANDÃO, Antonio José. Moralidade administrativa. RDA 25/454. 105 FRANCO SOBRINHO, Manoel de Oliveira. O controle da moralidade administrativa. São Paulo: Malheiros, 1974, p. 11.

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(...) entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no artigo 37, caput, e § 4º, da Constituição Federal.106

A Lei 9.784/99, também consagra o princípio da

moralidade administrativa, dizendo que ele significa “atuação segundo padrões

éticos de probidade, decoro e boa-fé”.

A moralidade, de certa forma, se compara à “boa-fé

objetiva” do Direito Privado, na qual é vista como uma norma de

comportamento leal, ou um modelo de conduta social.107

2.2.5 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

A Lei 9.784/99, no artigo 2º, prevê, expressamente, a

observância por parte da Administração Pública dos princípios da ampla defesa

e do contraditório. Na esfera infraconstitucional o cumprimento do disposto na

Constituição Federal, em especial no seu artigo 5º, LV, que assegura “aos

litigantes, em processo (...) administrativo”, “o contraditório e ampla defesa,

com os meios e recursos a ela inerentes”. Ao falar em litigantes, ao lado dos

acusados, a atual Carta Magna acabou por jurisdicionalizar o processo

administrativo. A garantia da ampla defesa e do contraditório há havia; porém,

quanto aos litigantes, não. Sem dúvida esta é uma das grandes novidades da

Constituição Federal de 1988.

Segundo Grinover108:

A Constituição não mais limita o contraditório e a ampla defesa aos processos administrativos, punitivos, em que haja acusados, mas estende as garantias a todos os processos administrativos, não-punitivos e punitivos, ainda que neles não haja acusados, mas simplesmente litigantes.

E arremata a autora:

106 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 90. 107 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 90. 108 GRINOVER, Ada Pellegrini. Do direito de Defesa em Inquérito Administrativo, RDA 183/13.

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(...) litigantes existem sempre que, num procedimento qualquer, surja um conflito de interesses. Não é preciso que o conflito seja qualificado pela pretensão resistida, pois neste caso surgirão a lide e o processo jurisdicional. Basta que os partícipes do processo administrativo se anteponham face a face, numa posição contraposta. Litígio equivale a controvérsia, a contenda, e não a lide. Pode haver litigantes, e os há, sem acusação alguma, em qualquer lide.

Assim, os incisos VII a XI do parágrafo único do artigo 2º

da Lei 9.784/99 determinam a motivação da decisão, essencial para o próprio

exercício do direito de defesa e do contraditório, a observância das

formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados, a adoção de

formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza,

segurança e respeito aos direitos dos administrados, e a garantia dos direitos à

comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à

interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas

situações de litígio.

2.2.6 Princípio da Segurança Jurídica

É considerado como uma das vigas mestras da ordem

jurídica, sendo, segundo Canotilho109, um dos sub princípios básicos do próprio

conceito do Estado de Direito e, um dos temas mais fascinantes do Direito

Público neste século é o crescimento da importância do princípio da segurança

jurídica, entendido como princípio da boa-fé dos administrados ou da proteção

da confiança. A ele está visceralmente ligada a exigência de maior estabilidade

das situações jurídicas, mesmo daquelas que na origem apresentam vícios de

ilegalidade, a Lei 9.784/99, determina a obediência ao princípio da segurança

jurídica, artigo 1º.

Como uma das conseqüências dessa determinação, ao

tratar da interpretação da norma administrativa, essa lei veda textualmente a

aplicação retroativa de nova interpretação, inciso XIII, parte final, do parágrafo

único do artigo 1º. Contudo, a aplicação retroativa da nova interpretação seria

contrária até mesmo ao princípio da moralidade administrativa. 109 CANOTILHO, J.J.Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Almedina, 1991, p. 384.

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Silva, apud Meirelles110, quando trata do ato nulo frente ao

princípio da segurança jurídica, ensina,

No Direito Público, não constitui uma excrescência ou uma aberração admitir-se a sanatória ou o convalescimento do nulo. Ao contrário, em muitas hipóteses o interesse público prevalecente estará precisamente na conservação do ato que nasceu viciado mas que, após, pela omissão do Poder Público em invalidá-lo, por prolongado período de tempo, consolidou nos destinatários a crença firme na legitimidade do ato. Alterar esse estado de coisas, sob o pretexto de restabelecer a legalidade, causará mal maior do que preservar o status quo. Ou seja, em tais circunstâncias, no cotejo dos dois subprincípios do Estado de Direito, o da legalidade e o da segurança jurídica, este último prevalece sobre o outro, como imposição da justiça material. Pode-se dizer que é esta a solução que tem sido dada em todo mundo, com pequenas modificações de país para país.

A moralidade é semelhante à boa-fé subjetiva, do Direito

Privado, denotando um estado de consciência ou convencimento individual de

obrar em conformidade ao Direito, ou a idéia de ignorância, de crença errônea,

ainda que escusável, acerca da existência de uma situação regular.

2.2.7 Princípio do Interesse Público

Também chamado de princípio da supremacia do

interesse público ou da finalidade pública, com o nome de interesse público a

Lei 9.784/99 coloca-o como um dos princípios de observância obrigatória pela

Administração Pública, correspondendo ao atendimento à fins de interesse

geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competência, salvo

autorização em lei, artigo 2º, parágrafo único, II da referida lei.

Está intimamente ligado ao da finalidade. A primazia do

interesse público sobre o privado é inerente à atuação estatal e domina-a, na

medida em que a existência do Estado justifica-se pela busca do interesse

geral. Deve ser observado mesmo quando as atividades ou serviços públicos

110 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 92.

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forem delegados aos particulares.111

Dele decorre o princípio da indisponibilidade do interesse

público, segundo o qual a Administração Pública não pode dispor desse

interesse geral nem renunciar a poderes que a lei lhe deu para tal tutela,

mesmo porque ela não é titular do interesse público, cujo titular é o Estado,

que, por isso mediante lei poderá autorizar a disponibilidade ou a renúncia.112

Ensina Bandeira113:

O princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado é princípio geral de Direito inerente a qualquer sociedade. É a própria condição de sua existência. Assim, não se radica em dispositivo específico algum da Constituição, ainda que inúmeros aludam ou impliquem manifestações concretas dele, por exemplo, os princípios da função social da propriedade, da defesa do consumidor ou do meio ambiente (artigo 170, III, V e VI), ou tantos outros. Afinal, o princípio em causa é um pressuposto lógico do convívio social.

Essa supremacia do interesse público é o motivo da

desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados, que no estudo

da interpretação do Direito Administrativo, aponta-se como um de seus

pressupostos. Bem por isso, a Lei 9.784/99, no inciso XIII do parágrafo único

do artigo 2º, diz que se deve interpretar a norma administrativa da forma que

melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige. Ali também indica-

se que, dada a prevalência do interesse geral sobre os individuais, inúmeros

privilégios e prerrogativas são reconhecidos ao Poder Público.

2.2.8 Princípio da Eficiência

Exige que a atividade administrativa seja exercida com

presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da

função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas

com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e

111 MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo, p. 87. 112 MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo, p. 87. 113 MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo, p. 87.

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satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus

membros.114

Com a Emenda Constitucional 45/2004 a eficiência

passou a ser um direito com sede constitucional, pois, no Título II, “Dos Direitos

e Garantias Fundamentais”, inseriu no artigo 5º o inciso LXXVIII, que assegura

“a todos, no âmbito judicial e administrativo”, a “razoável duração do processo

e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Logo, a duração do

processo que não se revelar razoável afronta esse direito constitucional,

ensejando a apuração da responsabilidade do servidor que lhe deu causa.

Sabe-se que interpretações divergentes ou colidentes

geram discussões e insegurança jurídica que atrasam a atividade

administrativa, prejudicando sua eficiência. Por isso, ao prever a edição de

súmula com efeito vinculante, para a Administração Pública direta e indireta,

nas esferas federal, estadual, distrital e municipal, no § 1º do artigo 103-A, da

Constituição Federal, diz que ela tem por objetivo a validade, a interpretação e

a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual

entre órgãos judiciários ou entre esses e a Administração Pública que acarrete

grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos.115

A Administração Pública não está adstrita, apenas, a

esses princípios, mas também ao da motivação do ato administrativo, que será

abordado no capítulo seguinte.

114 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, p. 96. 115 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, p. 96.

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CAPÍTULO 3

PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO NO

ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Neste capítulo, discorrer-se-á sobre o Princípio da

Motivação do Ato Administrativo no Ordenamento Jurídico Brasileiro, a opção

por um regime ou outro é feita, em regra, pela Constituição brasileira.

A expressão Regime Jurídico Administrativo é utilizada

para designar, em sentido amplo, os regimes de direito público e direito privado

a que pode submeter-se a Administração Pública. Já a expressão regime

jurídico administrativo é reservada tão-somente para abranger o conjunto de

traços, conotações, que tipificam, colocando a Administração Pública numa

posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa.

3.1 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO

É implícito no artigo 1º da Constituição Federal, como

também no seu artigo 93, IX e definido como princípio administrativo na Lei

9.784/99, artigo 2º. Por obediência a este princípio, deve a Administração

justificar seus atos quanto aos fundamentos de direito e de fato. Todos os atos

administrativos devem ser motivados, excetuando-se aqueles atos vinculados

em que há aplicação automática da lei.

Mello116 diz:

(...) que nos atos administrativos discricionários e também nos atos vinculados que dependem de avaliação é imprescindível motivação detalhada, sob pena de invalidade. A sociedade tem o direito de saber o porquê da ação da Administração. A motivação deve ser prévia ou contemporânea à expedição do ato.

116 MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo, p. 87.

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Na mesma linha, o pensamento de Furtado117, que

observa o seguinte:

Afirmar que o administrador deve motivar seus atos significa, em primeiro lugar, que deverá indicar os fundamentos de direito que legitimam sua atuação. Deve ainda fazer a correlação lógica entre os eventos, os fatos que justificam a prática de determinado ato e a solução por ele adotada.

A motivação deverá conter, assim, a indicação:

- dos motivos que o levaram a praticar o ato;

- da finalidade que se busca com a prática do ato; e

- da fundamental legal.

Vários doutrinadores correlacionam o princípio da

motivação à verificação de outros princípios assim como Mello118:

(...) não haveria como assegurar confiavelmente o contraste judicial eficaz das condutas administrativas com os princípios da legalidade, da finalidade, da razoabilidade e da proporcionalidade se não fossem contemporaneamente a elas conhecidos e explicados os motivos que permitiriam reconhecer seu afinamento ou desafinamento com aqueles mesmos princípios.

Além da judicialidade mencionada pelo administrativista,

há que se adiantar que obediência ao princípio da motivação é imprescindível

também à possibilidade de controle pelos órgãos competentes.

Relativamente às licitações públicas, todos os seus atos

devem ser motivados: as razões que levaram à abertura do processo licitatório,

a especificação do objeto, a análise de recursos administrativos, a adjudicação.

O maior interessado na obediência ao princípio da motivação é o próprio

administrador público, especialmente os encarregados de contratar e de

compor comissões de licitação.

Furtado119 leciona que:

117 FURTADO, Lucas Rocha. Curso de Licitações e Contratos Administrativos: teoria, prática e jurisprudência. São Paulo: Atlas. 2003, p. 43. 118 MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo, p. 83. 119 FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos administrativos: teoria, prática e jurisprudência, p. 44-45.

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(...) essa motivação demonstra-se, não poucas vezes, útil ao administrador. Diversas acusações de direcionamento ou favorecimento em licitações ou de irregularidades em contratações sem licitações são facilmente contestadas e perfeitamente explicadas pela motivação. Do contrário, se não tivesse o administrador justificado por que não realizou a licitação, ou por que impôs determinada exigência de qualificação técnica ou econômico-financeira, ou por que exigiu determinada especificação no produto ou serviço, seria sua atitude certamente considerada fraudulenta, e seria o responsável por sua realização punido administrativa e penalmente. Em matéria de motivação ou justificação de licitação, é melhor pecar por excesso do que por omissão. Até porque, excesso de motivação mal nenhum poderá causar a seu responsável.

Desse arrazoado, percebe-se que, além de facilitar os

trabalhos de controle, a motivação é a segurança do administrador. Sobre a

desclassificação de propostas, assim se posicionou Justen Filho120:

Em qualquer caso, a decisão de desclassificação exige plena, cumprida e satisfatória fundamentação. A Administração deve indicar, de modo explícito, os motivos pelos quais reputa inadmissível uma proposta. Não Basta a simples alusão ao dispositivo violado ou fundante da desclassificação. A fundamentação não necessita ser longa, mas deve indicar, de modo concreto, o vício encontrado pela autoridade julgadora. É nula a decisão de desclassificação que simplesmente invoque, por exemplo, ofensa ao item... do Edital’. O licitante não pode ser constrangido a adivinhar o vício encontrado pela Administração.

Especificamente nos casos de dispensa e de

inexigibilidade, o legislador reforçou a necessidade de motivação. O artigo 26

da Lei nº 8.666/93, com a redação dada pela Lei 9.648/98 diz o seguinte, in

verbis:

Artigo 26 As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e nos incisos III a XXIV do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo único do art. 8º, deverão ser comunicados dentro de três dias a autoridade

120 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à legislação do pregão comum e eletrônico. 2.ed. São Paulo: Dialética, 2003, p. 476.

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superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de cinco dias, como condição para eficácia dos atos.

Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de retardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os seguintes elementos:

I – caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa, quando for o caso;

II – razão da escolha do fornecedor ou executante;

III – justificativa do preço.

IV – documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serão alocados.

Esse dispositivo legal consubstancia o princípio da

motivação em situações em que há maior discricionariedade para o

administrador. Ressalta a necessidade de que determinada contratação não

licitada seja motivada, incluindo as razões da contratação, a escolha do

fornecedor e o preço contratado.

3.2 DISTINÇÃO ENTRE FATOS JURÍDICOS E ATOS JURÍDICOS

O ato administrativo é um ato jurídico, pois se trata de

uma declaração que produz efeitos jurídicos. Sendo ato jurídico, aloca-se

dentro do gênero fato jurídico. Este se define como: qualquer acontecimento a

que o Direito imputa e enquanto imputa efeitos jurídicos. O fato jurídico,

portanto, pode ser um evento material ou uma conduta humana, voluntária ou

involuntária, preordenada ou não a interferir na ordem jurídica. Basta que o

sistema normativo lhe atribua efeitos de direito para qualificar-se como um fato

jurídico.121

Há fatos jurídicos objetivos que não são eventos da

natureza, acontecimentos materiais. A prescrição, a decadência, são relações

entre o decurso do tempo e a inércia do titular do direito. Ambos têm sido

reconhecidos universal e pacificamente como fatos jurídicos, em sentido

121 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 841-842.

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estrito.122

Além disso, há atos jurídicos administrativos que não são

necessariamente comportamentos humanos voluntários. Podem surgir

casualmente, isto é, sem que seu produtor haja pretendido expedi-los e,

portanto, sem propósito algum de gerar-lhes os correspondentes efeitos. A

doutrina reconhece como válidos os atos totalmente vinculados produzidos por

funcionário em estado de loucura sempre que a decisão tomada haja sido

aquela mesma que a lei antecipadamente impunha como a única admissível.123

Atos vinculados são aqueles que a Administração pratica

sob a égide de disposição legal que predetermina antecipadamente e de modo

completo o comportamento único a ser obrigatoriamente adotado perante

situação descrita em termos de objetividade absoluta. O administrador não

dispõe de margem de liberdade alguma para interferir com qualquer espécie de

subjetivismo quando da prática do ato.124

Atos jurídicos são declarações, vale se dizer, são

enunciados; são falas prescritivas. O ato jurídico é uma pronúncia sobre certa

coisa ou situação, dizendo como ela deverá ser. Fatos jurídicos não são

declarações; portanto, não são prescrições. Não são falas, não pronunciam

coisa alguma. O fato não diz nada. Apenas ocorre. A lei é que fala sobre ele.

Onde, a distinção entre ato jurídico e fato jurídico é simplicíssima.125

Toda vez que se estiver perante uma dicção prescritiva de

direito, estar-se-á perante um ato jurídico; ou seja, perante um comando

jurídico. Quando, diversamente, se esteja ante um evento não prescritivo ao

qual o Direito atribua conseqüências jurídicas estar-se-á perante um fato

jurídico. A Administração não só produz atos jurídicos, mas também fatos

jurídicos, e é preciso, então, separar os atos administrativos dos fatos da

Administração, o que só é possível depois destes aclaramentos.126

122 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 841-842. 123 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 841/842. 124 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 842/843. 125 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 843/844. 126 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 845/846.

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Atos administrativos podem ser anulados e revogados,

dentro dos limites do Direito; fatos administrativos não são nem anuláveis, nem

revogáveis; atos administrativos são anuláveis e revogáveis. Atos

administrativos gozam de presunção de legitimidade; fatos administrativos não;

o tema da vontade interessa nos atos administrativos discricionários, isto é,

naqueles em cuja prática a Administração desfruta de certa margem de

liberdade; nos fatos administrativos nem se poderia propô-lo.127

3.3 PREVISÃO LEGAL DA MOTIVAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Constituição da

República Federativa do Brasil, inovou ao instituir, em seu Capítulo VII, um

conjunto sistematizado de normas atinentes à Administração Pública direta e

indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios. Estabeleceu, além do mais, precursoramente, os princípios a

serem cumpridos pelos entes que compõem o aparelho do Estado, em todas

as esferas governamentais.128

O que se observa é que alguns pensadores elegeram os

princípios da Administração Pública previstos no artigo 37, caput, da

Constituição Federal como sendo os princípios fundamentais do direito

administrativo brasileiro.

Já outros partiram de princípios gerais de Direito, de

direito público e de direito administrativo, de índole doutrinária, para

estabelecer essa principiologia; outros, ainda, utilizando um critério misto,

somaram os princípios da Constituição Federal aos princípios de natureza

doutrinária para formar a referida principiologia do direito administrativo

nacional e, por derradeiro, há aqueles que fazem a separação entre os

princípios do direito administrativo, enquanto disciplina jurídica autônoma, e os

princípios positivos que regem determinado regime jurídico-administrativo,

para, então, estabelecer o conjunto de princípios aplicáveis a uma

127 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 847-848. 128 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 20 ed. Atual por AZEVEDO, Eurico de Andrade, ALEIXO, Délcio Balestero e BURLE FILHO, José Emmanuel. São Paulo: Malheiros, 1990, p. 106.

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Administração Pública em especial e a um específico direito administrativo

positivo.129

A leitura dessas lições doutrinárias, especialmente, dos

autores nacionais, em face da profusão de critérios e de lições sobre a

principiologia que informa o direito administrativo brasileiro, produz

relativamente, ao operador jurídico certa perplexidade no manejo e aplicação

do Direito, o que gera dúvidas quanto a quais seriam esses princípios jurídicos

e a sua própria natureza (normativa ou não), interferindo negativamente nas

relevantes funções que desempenham, como a de iluminar o significado das

normas e presidir o sistema normativo, para lhe conferir unidade e

organicidade, dentre outros essenciais papéis.130

No Brasil, não há regulamentação Constitucional

expressa quanto a este princípio no campo da Administração Pública, no

entanto a lei federal 9.784/99 traz em seu artigo 2.º, in verbis:

A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Compreendido pelo artigo 50, junto a seus incisos e

parágrafos, que discorrem especificamente sobre esse princípio:

Artigo 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - Neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - Imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - Decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

IV - Dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

V - Decidam recursos administrativos;

129 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 20 ed. Atual por AZEVEDO, Eurico de Andrade, ALEIXO, Délcio Balestero e BURLE FILHO, José Emmanuel. São Paulo: Malheiros, 1990, p. 106. 130 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 20 ed. Atual por AZEVEDO, Eurico de Andrade, ALEIXO, Délcio Balestero e BURLE FILHO, José Emmanuel. São Paulo: Malheiros, 1990, p. 106.

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VI - Decorram de reexame de ofício;

VII - Deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - Importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

§ 1º - A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

§ 2º - Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.

§ 3º - A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.

E, a partir desse artigo percebe-se o quanto é importante

o motivo e a motivação dos Atos Administrativos

3.3.1 Motivo e Motivação

Motivo do ato é o conjunto de razões de fato ou de direito

que conduzem o agente à manifestação da vontade constitutiva do ato

administrativo. Trata-se de elemento irrelevante no campo do direito privado,

mas de suma importância quando se cuida de atos da Administração. Portanto,

não é difícil perceber que é no exame das razões do ato que os administrados

podem exercer controle sobre sua legalidade.131

A Lei nº 4.717 de 29 de junho 1965, que regula a ação

popular, referiu-se expressamente aos motivos do ato, considerando caso de

nulidade a inexistência dos motivos, quando a matéria de fato ou de direito em

que se ampara o ato é materialmente inexistente ou quando juridicamente

inadequada ao resultado obtido.132

131 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 366/367. 132 Artigo 2º, parágrafo único, “d”. da Lei n.º 4.717/65.

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Grande parte da doutrina administrativa distingue motivo e

motivação, o motivo revela as razões que impeliram o administrador à prática

do ato, ao passo que motivação é a explicitação dessas razões no seio do

próprio ato, ou seja, a menção expressa dos motivos dentro do ato. É a

justificativa expressa do ato.133

Como elemento de validade do ato, motivo é sempre

exigível e obrigatório. Sem ele, o ato é inválido e merece ser anulado. Todavia,

trava-se, uma grande polêmica a respeito da obrigatoriedade, ou não, da

motivação nos atos administrativos. A Lei 9.784/99 se mostra coerente com o

que parece mais razoável nesse assunto e resolve as dúvidas com bastante

clareza.

3.3.2 Exigência de Motivação

O artigo 50 da Lei 9.784/99 reside na constatação de que

o legislador distinguiu realmente o motivo e a motivação do ato. Estabelecendo

que alguns atos, enumerados nos incisos do dispositivo, deverão ter a

indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, a lei aludiu à motivação ou à

justificativa expressa, ou, ainda, à expressividade dos motivos.

Exigindo a motivação apenas para os atos que enumera,

tal pressuposto comporta a conclusão de que: a lei considera que outros atos

administrativos, praticados no processo, independem de menção expressa às

razões administrativas. O legislador adotou a teoria da obrigatoriedade

mitigada, segundo a qual não há como obrigar a que se mencione sempre as

razões do ato, como pensam alguns especialistas com pensamento mais

radical. Atos de maior relevância devem ter essa explicitação, mas se forem

atos de rotina administrativa, sem qualquer efeito significativo na esfera dos

administrados, não precisarão ter a justificativa expressa, embora, sempre seja

exigido que tenham tido motivo, este sim, requisito de validade substancial dos

133 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Motivo e Motivação do Ato Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1979, p. 105.

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atos administrativos.134

3.3.3 Fatos e Fundamentos Jurídicos

Segundo a lei, a motivação do ato, deve conter os fatos e

os fundamentos jurídicos, provém da lei processual civil, segundo a qual é

obrigatório que o autor da ação os indique na petição inicial, artigo 282, III,

Código Processo Civil. O código brasileiro adotou a teoria da substanciação,

que tem como dado marcante a necessidade de ser informada a causa remota

(o fato) e a causa próxima (o fundamento jurídico).135

Fatos são as situações materiais efetivas nas quais se

apóia o agente da Administração para emitir a vontade. Tais situações se

encontram no mundo dos fatos e, portanto, refletem verdadeiros

acontecimentos de sustentação da prática do ato. Embasando-se o ato em

determinado fato que se comprova não ter existido, a vontade emitida está

contaminada de vício de legalidade e o ato merece correção. O vício nesse

caso é no próprio motivo, requisito que é de validade dos atos administrativos

em geral.136

A autoridade, para exemplificar, indica que o ato tem

como fundamento o não atendimento de intimação pelo interessado, e depois

se constata que o administrado sequer foi intimado, o ato está inquinado de

vício de legalidade, eis que inverídica a situação fática invocada pelo agente

para manifestar a vontade.137

Fundamentos jurídicos são as razões de ordem jurídica

que resultam do processo de adequação dos fatos ao direito positivo,

impulsionadoras da manifestação da vontade por parte da autoridade

administrativa.

134 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal – Comentários à Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. 3.ed. Revista Ampliada e Atualizada. Rio de Janeiro: Lúmen Júris. 2007, p. 239. 135 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 239. 136 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 239. 137 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 239.

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O administrador deve mencionar, primeiramente, o

acontecimento que gerou a conclusão (o fato) e depois adequá-lo à norma

jurídica pertinente de forma a justificar a limitação que impôs ao direito do

administrado (o fundamento jurídico). Finalmente, o que a lei quer, é permitir ao

interessado o conhecimento de toda a situação fática e jurídica que provocou a

prática do ato.138

3.3.4 Ausência de Motivação

A ausência da justificativa expressa do ato nos casos em

que a lei a considera essencial e indispensável torna contaminado o ato por

vício de legalidade, impondo-se a sua anulação pela Administração ou pelo

Judiciário.

O vício do ato, no caso, situa-se na forma e não no

motivo, como se poderia pensar a princípio. Na verdade, o motivo terá existido,

porque a autoridade manifestou sua vontade com base em alguns elementos

fáticos ou jurídicos que afinal dão conformação ao elemento motivo. A

ilegalidade, porém, se aloja na ausência do motivo expresso, como a lei exige,

o que acarreta vício na forma. E qual a razão? A razão está em que o

administrador não seguiu o elemento formal que a lei impôs coercitivamente,

com isso comprometendo o ato que praticou.139

3.3.5 Hipóteses de Exigências da Motivação

O artigo 50 da Lei 9.784/99 apresenta relação de atos nos

quais se afigura indispensável a menção aos fatos e fundamentos jurídicos.

A relação é taxativa numerus clausus, o que significa

dizer que os atos não constantes da enumeração da lei dispensam a referência

expressa da justificativa. Nos casos da lei, nota-se o evidente intuito de exigir

essa justificativa em situações que digam respeito diretamente a direitos e

138 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 239. 139 PIRES, Renato Barth. A motivação do ato administrativo na Constituição Brasileira de 1988. In: FIGUEIREDO, Lúcia Valle (coord.) Ato administrativo e devido processo legal. São Paulo: Max limonad, 2001, p. 354.

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deveres dos administrados, mas não podem estender-se aos demais atos da

rotina administrativa, sob pena de a exigência causar grave dano à celeridade

que se deseja implantar na Administração. No processo judicial os Tribunais

também já se pacificaram no sentido de que dispensam de motivação

expressa, ou fundamentação, os atos de tramitação processual rotineira, que

não afetam diretamente direitos das partes.140

A seguir, segundo Carvalho Filho141 quais os casos da lei:

NEGAÇÃO, LIMITAÇÃO OU AFETAÇÃO DE DIREITOS (inc. I) – Quando a lei se refere a negar um direito, quer indicar que o direito pretendido pelo interessado não foi reconhecido no processo administrativo. Não se pode interpretar a negação de um direito como sendo a situação em que, mesmo reconhecendo o direito, a Administração não o reconheça. O sentido da lei é o de que a Administração tem que justificar o ato denegatório de direito que o interessado pretenda ver reconhecido na via administrativa.

A limitação do direito representa uma restrição a ser imposta ao titular no que toca ao exercício do direito. Se uma empresa pesqueira ficar proibida de exercer sua atividade em certo período do ano, há limitação ao direito, e a Administração deve explicitar os motivos, que podem ser variadíssimos, inclusive e principalmente para a preservação da espécie e a defesa do meio ambiente.

Quando a Administração pratica ato que afete direito, o fato ocorre porque os efeitos que dele provêm provocam alguma repercussão na esfera jurídica do titular. É menos que a limitação, mas de algum modo pode surgir interesse por parte do administrado.

IMPOSIÇÃO OU AGRAVAMENTO DE DEVERES, ENCARGOS OU SANÇÕES (inciso II) – Se o ato administrativo impõe ou agrava deveres, encargos ou sanções, exige a lei que nele conste a justificativa expressa.

Imposição é o ato de instituição do dever, encargo ou sanção, ao passo que agravamento constitui o elastecimento de um ônus já anteriormente instituído. Quando a autoridade determina a paralisação de atividade por certo prazo, impõe um

140 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 242. 141 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 242.

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dever, mas quando aumenta esse período agrava a situação do interessado.

Deveres são obrigações jurídicas impostas pelo administrador;encargos configuram ônus que o administrado deve suportar; e sanções são atos punitivos aplicados aos que infringem normas administrativas.

DECISÃO SOBRE CONCURSO OU SELEÇÃO PÚBLICA (inciso III) – Concurso público é o procedimento seletivo pelo qual a Administração recruta ou escolhe as pessoas físicas ou jurídicas que melhores resultados obtiveram no processo de competição. a seleção pública não deixa de ser uma modalidade de concurso, sendo caracterizada pelo fato de ser procedimento mais simplificado.

Para o ingresso do indivíduo no serviço público, com vistas à ocupação de cargo público permanente, a Administração realiza concurso público. Se pretende escolher indivíduos para executar tarefas especiais, como trabalho das regiões de seca, o recrutamento para esse regime temporário de trabalho pode dar-se através de processo de seleção pública. Ambos os casos reclamam a formalização através de processo administrativo. Ao término deste, a autoridade profere decisão e nela deve fazer constar as razões de fato e de direito que amparam o ato decisório. A motivação aqui é relevante, porque tais procedimentos envolvem interesses de múltipla natureza e pertencentes a inúmeros interessados.

Passa-se, então, a análise dos requisitos da motivação,

essenciais para o deslinde desta pesquisa.

3.3.6 Requisitos da Motivação

A motivação deve ser explícita, clara e congruente,

segundo o artigo 50, § 1º da Lei 9.784/99. Na verdade, o motivo é que pode ser

ou não explícito; a motivação, porém, sempre o é. Se o ato contém motivação é

porque foram explicitados os motivos ou fundamentos que conduziram à sua

prática. Clareza é a qualidade daquilo que é transparentes inteligíveis,

suscetíveis de ser interpretado ante padrões medianos de interpretação. A

congruência, a seu turno, é fator só compreensível se tomados em

consideração dois ou mais elementos de confronto. No caso, haverá

congruência quando a motivação exibida no ato for compatível, sob o aspecto

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lógico, com o objeto a que se destina. Se não há essa adequação, o ato está

inquinado de vício de legalidade e, em conseqüência, é passível de

correção.142

A explicitude, entretanto, pode ser direta ou indireta.

Direta é aquela em que todos os elementos da motivação estão expressos no

ato; indireta é a que faz remissão a elementos já constantes em outro ato.

É nesse sentido que a lei admite que a motivação se

traduza em declaração de concordância com fundamentos de pareceres,

informações, decisões ou propostas.

Se houver declaração de concordância, os fundamentos

do ato anterior passam a integrar os fundamentos do ato ulterior, como averba

o artigo 50, § 1º, da lei. Nesse caso, a explicitação será indireta, muito embora

sejam os elementos que a compõem aqueles a serem apreciados se surgir

algum questionamento. Por isso, consideram-se integrados no ato que os

endossou.143

3.3.7 Reiteração de Assuntos Idênticos

Na via administrativa, não é incomum que surjam,

situações que desfiam idêntica solução a ser firmada pelos órgãos

administrativos. Certas ocasiões, avolumam-se os processos, administrativos

ou judiciais, em que é idêntico ou assemelhado o cerne da questão que

constitui seu objeto.

Que caminho a seguir nesse caso? Por questão de

celeridade e eficiência, deve a Administração adotar a mesma motivação para

todos os atos que decidirem os processos. Para tanto, poderá o órgão valer-se

de meio mecânico que revele a fundamentação que dá suporte ao ato. É o que

autoriza o artigo 50, § 2º, da Lei 9.784/99.

A reprodução gráfica, por meio de cópias, é um dos meios

142 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 246. 143 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 248. 143 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 248.

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mais utilizados para esse fim. Os processos de informática, da mesma forma,

geram meios de reprodução de elementos de atos anteriores.144

A lei estabelece uma restrição, ressalvando que a adoção

desses meios mecânicos será vedada se prejudicar direito ou garantia dos

interessados. O ponto marcante dos interesses do administrado está

exatamente na possibilidade de identificar os fundamentos do ato. E estes vêm

no mesmo ato ou são juntados por cópia os fatos é irrelevante. O que importa é

que o interessado tenha acesso aos fundamentos. O Poder Judiciário, é usual

que juízes e membros do Ministério Público, no caso de repetição de processos

idênticos, reproduzam os fundamentos de sentenças ou pareceres anteriores

de sua autoria.145

3.3.8 Motivação em Atas ou Termos

As decisões administrativas podem emanar de órgãos

colegiados, definidos como aqueles cuja exteriorização da vontade do órgão

toma em consideração a manifestação de todos os seus integrantes. A lei

refere-se a órgãos colegiados e comissões, artigo 50, § 3º da Lei 9784/99, mas

estas se configuram como uma das categorias em que se subdividem aqueles.

A peculiaridade que envolve semelhantes órgãos se situa

na circunstância de que nem sempre haverá unanimidade dos integrantes

quanto à matéria sob discussão. Assim, a vontade do órgão, ou seja, aquela

que se exterioriza, resulta da unanimidade ou da maioria de seus integrantes.

De acordo com o citado dispositivo legal, a decisão emanada desses órgãos

colegiados deve conter os fundamentos, de votos vencedores e vencidos, na

ata ou termo exigível para a formalização do que ocorreu na sessão de

julgamento.146

O mesmo se passa com as decisões orais, que,

representam hipótese de exceção ao princípio da solenidade dos atos

144 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 251. 145 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 251. 146 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 251. 146 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 252.

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administrativos. Para garantia do interessado, se a decisão for proferida

verbalmente, é necessário que se explicite sua justificativa em documento de

formalização, seja qual for a denominação que se adote. A lei alude a atas ou

termos escritos, mas o sentido é realmente o de ser exigida formalização por

instrumento que permita a quem o desejar o controle dos fundamentos e do

objeto componentes do ato decisório.147

3.4 CONTROLE JUDICIÁRIO

É o exercido, privativamente, pelos órgãos do Poder

Judiciário sobre os atos administrativos do Executivo, do Legislativo e do

próprio Judiciário quando realiza atividade administrativa. É um controle a

posteriori, unicamente de legalidade, por restrito à verificação da conformidade

do ato com a norma legal que o rege. Mas, é sobretudo, um meio de

preservação de direitos individuais, porque visa a impor a observância da lei

em cada caso concreto, quando reclamada por seu beneficiário. Esses direitos

podem ser públicos ou privados – não importa, mas sempre subjetivos e

próprios de quem pede a correção judicial do ato administrativo, salvo na ação

popular e na ação civil pública, em que o autor defende o patrimônio da

comunidade lesado pela Administração.148

3.4.1 Atos Sujeitos a Controle Comum

São os atos administrativos em geral. No sistema de

jurisdição judicial brasileira, única, consagrada pelo preceito constitucional de

que não se pode excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou

ameaça a direito, individual ou coletivo, artigo 5º, XXXV, da Constituição

Federal a Justiça Ordinária tem a faculdade de julgar todo ato de administração

147 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo Administrativo Federal, p. 252. 148 ANDRADE, Ricardo Luís Sant´ Anna de. O Controle Jurisdicional da Administração Pública. Disponível em: http://www.pgj.ce.gov.br/artigos/artigo20.htm. Acesso em: 15 dez. 2006.

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praticado por qualquer dos órgãos ou Poderes de Estado.149

A legalidade do ato administrativo é a condição primeira

para sua validade e eficácia. Nos Estados de Direito, como o brasileiro, não há

lugar para o arbítrio, a prepotência, o abuso de poder. A Administração Pública

está tão sujeita ao império da lei como qualquer particular, porque o Direito é a

medida-padrão pela qual se aferem os poderes do Estado e os direitos do

cidadão.150

3.4.2 Atos Sujeitos a Controle Especial

Enquanto os atos administrativos em geral expõem-se à

revisão comum da Justiça, outros existem que, por sua origem, fundamento,

natureza ou objeto, ficam sujeitos a um controle especial do Poder Judiciário, e

tais são os chamados atos políticos, os atos legislativos e os interna corporis.

Essa peculiaridade tem conduzido a maioria dos autores a

considerá-los insuscetíveis de apreciação judicial, o que não é exato, porque,

na realidade, a Justiça os aprecia apenas com maiores restrições quanto aos

motivos ou à via processual adequada.151

Atos políticos são os que, praticados por agentes do

Governo, no uso de competência constitucional, se fundam na ampla liberdade

de apreciação da conveniência ou oportunidade de sua realização, sem se

aterem a critérios jurídicos preestabelecidos.152

Atos legislativos, ou seja, a lei propriamente dita (normas

em sentido formal e material), não ficam sujeitas às anulações judiciais pelos

meios processuais comuns, mas sim pela via especial da ação direta de

inconstitucionalidade e, agora, também pela ação declaratória normativos. E

assim é porque a lei em tese e os atos normativos, enquanto regras gerais e

abstratas, não atingem os direitos individuais e permanecem inatacáveis por

149 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1992, p. 194. 150 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 194. 151 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 196. 152 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 197.

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ações ordinárias ou, mesmo, por mandado de segurança.153

Interna corporis são aquelas questões ou assuntos que

entendem direta e imediatamente com a economia interna da corporação

legislativa, com seus privilégios e com a formação ideológica da lei, que, por

sua própria natureza, são reservados á exclusiva apreciação e deliberação do

Plenário da Câmara. São os atos de escolha da Mesa, eleições internas, os de

verificação de poderes e incompatibilidades de seus membros, e os utiliza de

suas prerrogativas institucionais, e a valoração das votações.154

3.4.3 Meios de Controle Judiciário

São meios dos atos administrativos de qualquer dos

Poderes, são as vias processuais de procedimento ordinário, sumário ou

especial de que dispõe o titular do direito lesado ou ameaçado de lesão para

obter a anulação do ato ilegal em ação contra a Administração Pública. Essa

regra está excepcionada pela ação popular e ação civil pública, em que o autor

não defende direito próprio mas, sim, interesses da coletividade ou interesses

difusos, e pela ação direta de inconstitucionalidade e pela declaratória de

constitucionalidade.155

Mandado de segurança individual é o meio constitucional,

artigo 5º, LXIX, da Constituição Federal, toda pessoa física ou jurídica, para

proteger direito individual, próprio, líquido e certo, não amparado por habeas

corpus, lesado ou ameaçado de lesão por ato de qualquer autoridade, seja de

que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.156

O mandado de segurança é ação civil de rito sumário

especial, sujeito a normas procedimentais próprias. Destina-se a coibir atos

ilegais de autoridade, que lesam direito subjetivo líquido e certo do impetrante.

Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência,

delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração.

153 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.p. 599. 154 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.p. 599. 155 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.p. 601. 156 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.p. 601.

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O prazo para impetração é de cento e vinte dias do

conhecimento oficial do ato a ser impugnado. Esse remédio heróico admite

suspensão liminar do ato, e, quando concedida, a ordem tem efeito

mandamental e imediato, não podendo ser impedida sua execução por nenhum

recurso comum, salvo pelo presidente do tribunal competente para apreciação

da decisão inferior.157

Mandado de segurança coletivo inovação da atual Carta

Magna, artigo 5º, LXX, é remédio posto à disposição de partido político com

representação no Congresso Nacional, ou de organização sindical, entidade de

classe ou associação legalmente constituída, e em funcionamento há pelo

menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados,

inclusive quanto ao direito líquido e certo, a liminar, nestes casos, só será

concedida após audiência da pessoa jurídica de Direito Público.158

Ação popular à disposição de qualquer cidadão, eleitor,

para obter a anulação de atos ou contratos administrativos ou a eles

equiparados lesivos ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado

participe, à moralidade administrativa e ao meio ambiente natural ou cultural.159

O beneficiário direto e imediato da ação não é o autor

popular, é o povo, titular do direito subjetivo ao Governo honesto. A própria lei

regulamentadora indica os sujeitos passivos da ação e aponta casos em que a

ilegalidade do ato já faz presumir a lesividade ao patrimônio público, além

daqueles em que a prova fica a cargo do autor popular. A norma constitucional

isenta o autor popular, salvo comprovada má-fé, de custas e de sucumbência.

Ação civil pública é o instrumento processual adequado

para reprimir ou impedir. A liminar, na ação civil pública, depende de audiência

da pessoa jurídica de Direito Público.160

Mandado de injunção é o meio constitucional posto à

disposição de quem se considerar prejudicado pela falta de norma

157 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 606. 158 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 607. 159 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 609. 160 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 610.

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regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades

constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à

cidadania.161

Outras ações especiais ou ordinárias podem ser

adequadamente utilizadas pelo particular contra a Administração.

3.5 POSSIBILIDADE DE REVOGAR O ATO ADMINISTRATIVO

Conceitua-se revogação como sendo a extinção de um

ato administrativo ou de seus efeitos, por outro ato administrativo. Ocorre

quando uma autoridade com competência administrativa conclui que

determinado ato ou relação jurídica não está indo de encontro com o interesse

público, por isso resolve eliminá-lo a intuito de prover de maneira mais

satisfatória às conveniências administrativa.162

O sujeito ativo para fazê-lo é uma autoridade que esteja

no exercício de funções administrativas, geralmente é o Poder Executivo. O

objeto é um ato é um ato administrativo ou relação jurídica válida. Possui

eficácia ex nunc, ou seja, desde agora, de modo que não desconstitui efeitos

passados, apenas ao atingir um ato ainda ineficaz, impede que este venha a

gerar efeitos.163

Portanto, verifica-se que há poder de revogação quando a

lei autoriza deferindo esta competência, ou quando a competência

administrativa para dispor sobre certa relação não se exauriu com relação a ela

ao ser anteriormente exercida. Assim sendo, cabe enfatizar que, se à

Administração cabe a tutela do interesse público, a competência revogatória

estará implícita como necessária para concretização de tal interesse.164

Ressalta-se ainda, o fato de que quando legítima, via de

regra, a revogação não dá margem à indenizações. Todavia, quando inexiste o

poder de revogar mas a administração necessita fazê-lo para atender a um 161 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 613. 162 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 613. 163 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 615. 164 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 616.

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interesse público, sobrevier situação que afete relação jurídica já constituída,

atingido direito de alguém, cabe ao Estado indenizá-lo.165

3.6 DEVER DE INVALIDAR, DE SANAR, OU DE MANUTENÇÃO DO ATO

POR IMPEDIMENTOS DO PRÓPRIO ORDENAMENTO JURÍDICO

Serão inválidos os atos administrativos que forem

praticados em desconformidade com as prescrições jurídicas, devendo os

mesmos serem eliminados devido sua ilegitimidade ou da relação jurídica por

ele gerada. Quando referida a atos ineficazes tem por objeto o próprio ato, já

quanto a atos eficazes abstratos tem por objeto o ato e seus efeitos e quando

referia a atos eficazes concretos, apenas os efeitos deles. A invalidação possui

efeitos ex tunc, ou seja, retroativos, pois consiste em fulminar o ato viciado e

seus efeitos.166

Fundamenta-se, para a administração, no fato de que o

ato invalidador é o dever de obediência à legalidade, o que alude obrigação de

restaurá-la quando violada, enquanto que para o Judiciário, implica no fato de

que é o exercício de sua função determinar o Direito aplicável no caso

concreto. O dever de invalidar é ínsito às competências revisora ou

controladora da Administração Pública. Sendo assim, diante de atos em

desconformidade com a lei e princípios, em regra, deve a Administração

proceder à invalidação.167

Só assim não agirá se estiver diante da possibilidade de

sanear dever de convalidar, ou impedida por outras normas ou princípios do

próprio ordenamento jurídico. Nesta última hipótese conservará os atos para

preservar o valor segurança jurídica.168

165 ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos. 2.ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 56. 166 ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos, p. 56. 167 ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos, p. 56. 168 ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos, p. 56.

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3.6.1 Convalidação dos Atos Administrativos

O ato válido é o que provém de autoridade competente

para praticá-lo e contém todos os requisitos necessários à sua eficácia. O ato

válido pode, porém, ainda não ser exeqüível, por pendente de condição

suspensiva ou termo não verificado. Diante do que foi analisado, pode-se

perceber que a convalidação dos atos administrativos é, na realidade, um

problema de colisão de princípios.169

Para tanto, deve-se trazer à tona o artigo 55 da Lei 9.784,

de 29 de Janeiro de 1999, Lei do Processo Administrativo Federal,

Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração.

Percebe-se que o legislador utilizou o verbo poder, ou

seja, a administração pode convalidar os atos e isso, na realidade, ocorre

devido a uma colisão de princípios, então, utiliza-se dos princípios

Constitucionais para convalidar, analisando-se o caso concreto naquele

momento. Verifica-se que a doutrina ainda não percebeu que a convalidação é

um problema de colisão de princípios. É a aplicação de princípios a casos

concretos.170

Na hipótese de um ato discricionário ter sido praticado por

autoridade incompetente, a Administração Pública pode optar entre invalidar e

convalidar tal ato, levando em conta um juízo subjetivo de valor.

O Judiciário só pode anular um ato administrativo, nunca

convalidar, como acrescenta Zancaner171:

O Poder Judiciário poderá invalidar os atos administrativos, no curso de uma lide, quando provocado ou de oficio, dependendo da reação do ordenamento jurídico com relação aos atos viciados. No entanto, o que o impede de utilizar os princípios Constitucionais e convalidá-lo? Não estariam assim protegendo os direitos dos cidadãos ou, ainda, ampliando a proteção aos

169 ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos, p. 59. 170 ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos, p. 60. 171 ZANCANER, Weida. Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos, p. 61.

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mesmos?

Quanto aos atos administrativos, que em tese deve ser

perfeito, ou seja, editado por agente capaz e competente, com objeto próprio,

forma adequada, motivo incensurável e fim público, para que atue no mundo

jurídico, deve existir e ter validade, dependendo, então, de uma série de

condições que precisam ser agrupadas em sua formação, pois, faltando uma

delas, o ato pode ser convalidado, ou até mesmo invalidado.172

Diante do ato relativamente ilegal, é inegável que, a

tendência da Administração é anular. Mas, em certos casos, é possível que o

interesse público determine meio diverso, nos atos que possam ser

convalidados, pois o poder-dever de tomar providências vincula-se ao interesse

público de restaurar a legalidade, e este pode ser atendido de duas formas:

anulação e convalidação.173

A invalidade do ato administrativo corresponde a um vício

que, afetando qualquer um de seus elementos e pressupostos de validade,

viola o ordenamento jurídico, sendo que a invalidação constitui uma forma de

recomposição da ordem jurídica violada com a produção do ato inválido,

mediante a supressão deste com a desconstituição de seus efeitos.174

A convalidação pressupõe procedimento administrativo

prévio, que assegure ao particular a possibilidade não apenas de se insurgir

contra uma medida final e acabada, mas de exercer influência em seu próprio

processo de formação. Portanto, o procedimento administrativo ajuda a compor

o equilíbrio entre as prerrogativas públicas e os direitos dos administrados.175

172 VALENTIM, Ilda. Atos administrativos e sua Convalidação Face aos Princípios Constitucionais. Jus Navigandi. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? id=8295. Acesso em: 24 abr.2007. 173 VALENTIM, Ilda. Atos administrativos e sua Convalidação Face aos Princípios Constitucionais. Jus Navigandi. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? id=8295. Acesso em: 24 abr.2007. 174 VALENTIM, Ilda. Atos administrativos e sua Convalidação Face aos Princípios Constitucionais. Jus Navigandi. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? id=8295. Acesso em: 24 abr.2007. 175 VALENTIM, Ilda. Atos administrativos e sua Convalidação Face aos Princípios Constitucionais. Jus Navigandi. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? id=8295. Acesso em: 24 abr.2007.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente estudo jurídico buscou-se demonstrar, de

forma clara e sucinta, o quanto é necessário o respeito ao Princípio

Constitucional da Motivação dos Atos Administrativos.

Diante do que se analisou, com certeza, não foi possível

esgotar o assunto, mas foram feitas algumas considerações a título de

constatação. Assim, de tudo o que foi exposto, pode-se extrair o seguinte

entendimento: qualquer ato administrativo deve ser motivado, porque somente

assim se pode fazer efetivo o controle jurisdicional da Administração Pública, o

que o legislador estabeleceu, na Lei nº 9.784/99, é mera explicitação do que se

há de entender em face dos princípios constitucionais vigentes, é referente

apenas ao que se denomina ato político, que nos termos da referida lei pode

ser entendido como o ato que não atinge direitos individuais subjetivos.

Mesmo à falta de expressa previsão legal, todos os atos

administrativos devem guardar motivação, não cabendo distinguir entre os atos

vinculados e discricionários. Até mesmo os atos de razões secretas, não

permeados de vícios na sua aplicação, decorrentes de sua própria natureza,

devem ser fundamentados, salvaguardando, deste modo, sua segurança.

O meio mais oportuno à obtenção da fidelidade dos atos

praticados pelos agentes administrativos à lei, é a convalidação estabelecida

por uma ordem universal, com efeito da possibilidade de comprovação de seu

reflexo, advindo de circunstâncias particulares, e não de ato discricionário de

vontade autoritária. O que despertou grande interesse foi o fato de ter de existir

princípios para tratar certos pontos que, apenas o senso ético e moral particular

de cada um poderiam por si só tomar conta. No entanto, foi necessário que a

lei e os doutrinadores ditassem tais regras. Mesmo assim, muitos princípios

continuam sendo deixados de lado.

Por fim, adquiriu-se o conhecimento de que os princípios

constitucionais arrogam-se na qualidade essencial do Estado de direito, único

no qual podem viver e desenvolver-se, efetiva e autenticamente, os meios de

proteção do administrado e da boa administração.

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Assim, constatou-se que a motivação, portanto, deve

apontar a causa e os elementos determinantes da prática do ato administrativo,

bem como o dispositivo legal em que se funda, de modo que, a prática de ato

administrativo sem a necessária motivação implica na possibilidade de

invalidação nas esferas Administrativa e Judicial.

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ANEXO - A - LEI 9.784, DE 29 DE JANEIRO DE 1999

Regula o processo administrativo no âmbito da

Administração Pública Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o

Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o

processo administrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta,

visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor

cumprimento dos fins da Administração.

§ 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos

órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho

de função administrativa.

§ 2o Para os fins desta Lei, consideram-se:

I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da

Administração direta e da estrutura da Administração indireta;

II - entidade - a unidade de atuação dotada de

personalidade jurídica;

III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de

poder de decisão.

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros,

aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,

proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,

interesse público e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão

observados, entre outros, os critérios de:

I - atuação conforme a lei e o Direito;

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II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a

renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei;

III - objetividade no atendimento do interesse público,

vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades;

IV - atuação segundo padrões éticos de probidade,

decoro e boa-fé;

V - divulgação oficial dos atos administrativos,

ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição;

VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de

obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente

necessárias ao atendimento do interesse público;

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que

determinarem a decisão;

VIII – observância das formalidades essenciais à garantia

dos direitos dos administrados;

IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar

adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos

administrados;

X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação

de alegações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos

processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio;

XI - proibição de cobrança de despesas processuais,

ressalvadas as previstas em lei;

XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem

prejuízo da atuação dos interessados;

XIII - interpretação da norma administrativa da forma que

melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação

retroativa de nova interpretação.

CAPÍTULO II

DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS

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Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos perante a

Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:

I - ser tratado com respeito pelas autoridades e

servidores, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento

de suas obrigações;

II - ter ciência da tramitação dos processos

administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos,

obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas;

III - formular alegações e apresentar documentos antes da

decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente;

IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado,

salvo quando obrigatória a representação, por força de lei.

CAPÍTULO III

DOS DEVERES DO ADMINISTRADO

Art. 4o São deveres do administrado perante a

Administração, sem prejuízo de outros previstos em ato normativo:

I - expor os fatos conforme a verdade;

II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;

III - não agir de modo temerário;

IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e

colaborar para o esclarecimento dos fatos.

CAPÍTULO IV

DO INÍCIO DO PROCESSO

Art. 5o O processo administrativo pode iniciar-se de ofício

ou a pedido de interessado.

Art. 6o O requerimento inicial do interessado, salvo casos

em que for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e conter os

seguintes dados:

I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige;

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II - identificação do interessado ou de quem o represente;

III - domicílio do requerente ou local para recebimento de

comunicações;

IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de

seus fundamentos;

V - data e assinatura do requerente ou de seu

representante.

Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa

imotivada de recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o

interessado quanto ao suprimento de eventuais falhas.

Art. 7o Os órgãos e entidades administrativas deverão

elaborar modelos ou formulários padronizados para assuntos que importem

pretensões equivalentes.

Art. 8o Quando os pedidos de uma pluralidade de

interessados tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser

formulados em um único requerimento, salvo preceito legal em contrário.

CAPÍTULO V

DOS INTERESSADOS

Art. 9o São legitimados como interessados no processo

administrativo:

I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como

titulares de direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de

representação;

II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm

direitos ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada;

III - as organizações e associações representativas, no

tocante a direitos e interesses coletivos;

IV - as pessoas ou as associações legalmente

constituídas quanto a direitos ou interesses difusos.

Art. 10. São capazes, para fins de processo

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administrativo, os maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em

ato normativo próprio.

CAPÍTULO VI

DA COMPETÊNCIA

Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos

órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de

delegação e avocação legalmente admitidos.

Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se

não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros

órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente

subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole

técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-

se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos

presidentes.

Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:

I - a edição de atos de caráter normativo;

II - a decisão de recursos administrativos;

III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou

autoridade.

Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser

publicados no meio oficial.

§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e

poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os

objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de

exercício da atribuição delegada.

§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo

pela autoridade delegante.

§ 3o As decisões adotadas por delegação devem

mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo

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delegado.

Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por

motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de

competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.

Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão

publicamente os locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a

unidade fundacional competente em matéria de interesse especial.

Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o

processo administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor

grau hierárquico para decidir.

CAPÍTULO VII

DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO

Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o

servidor ou autoridade que:

I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;

II - tenha participado ou venha a participar como perito,

testemunha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge,

companheiro ou parente e afins até o terceiro grau;

III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o

interessado ou respectivo cônjuge ou companheiro.

Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em

impedimento deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se de

atuar.

Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o

impedimento constitui falta grave, para efeitos disciplinares.

Art. 20. Pode ser argüida a suspeição de autoridade ou

servidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos

interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins

até o terceiro grau.

Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá

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ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo.

CAPÍTULO VIII

DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO

PROCESSO

Art. 22. Os atos do processo administrativo não

dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir.

§ 1o Os atos do processo devem ser produzidos por

escrito, em vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da

autoridade responsável.

§ 2o Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma

somente será exigido quando houver dúvida de autenticidade.

§ 3o A autenticação de documentos exigidos em cópia

poderá ser feita pelo órgão administrativo.

§ 4o O processo deverá ter suas páginas numeradas

seqüencialmente e rubricadas.

Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias

úteis, no horário normal de funcionamento da repartição na qual tramitar o

processo.

Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário

normal os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do

procedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração.

Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do

órgão ou autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele

participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo de força

maior.

Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser

dilatado até o dobro, mediante comprovada justificação.

Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se

preferencialmente na sede do órgão, cientificando-se o interessado se outro for

o local de realização.

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CAPÍTULO IX

DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS

Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o

processo administrativo determinará a intimação do interessado para ciência de

decisão ou a efetivação de diligências.

§ 1o A intimação deverá conter:

I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade

administrativa;

II - finalidade da intimação;

III - data, hora e local em que deve comparecer;

IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou

fazer-se representar;

V - informação da continuidade do processo

independentemente do seu comparecimento;

VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.

§ 2o A intimação observará a antecedência mínima de

três dias úteis quanto à data de comparecimento.

§ 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no

processo, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro

meio que assegure a certeza da ciência do interessado.

§ 4o No caso de interessados indeterminados,

desconhecidos ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por

meio de publicação oficial.

§ 5o As intimações serão nulas quando feitas sem

observância das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado

supre sua falta ou irregularidade.

Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o

reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo

administrado.

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Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será

garantido direito de ampla defesa ao interessado.

Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do

processo que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus,

sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos de outra

natureza, de seu interesse.

CAPÍTULO X

DA INSTRUÇÃO

Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar

e comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se de ofício

ou mediante impulsão do órgão responsável pelo processo, sem prejuízo do

direito dos interessados de propor atuações probatórias.

§ 1o O órgão competente para a instrução fará constar

dos autos os dados necessários à decisão do processo.

§ 2o Os atos de instrução que exijam a atuação dos

interessados devem realizar-se do modo menos oneroso para estes.

Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as

provas obtidas por meios ilícitos.

Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto

de interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho motivado,

abrir período de consulta pública para manifestação de terceiros, antes da

decisão do pedido, se não houver prejuízo para a parte interessada.

§ 1o A abertura da consulta pública será objeto de

divulgação pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas

possam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de alegações

escritas.

§ 2o O comparecimento à consulta pública não confere,

por si, a condição de interessado do processo, mas confere o direito de obter

da Administração resposta fundamentada, que poderá ser comum a todas as

alegações substancialmente iguais.

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Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da

autoridade, diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência

pública para debates sobre a matéria do processo.

Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em

matéria relevante, poderão estabelecer outros meios de participação de

administrados, diretamente ou por meio de organizações e associações

legalmente reconhecidas.

Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e

de outros meios de participação de administrados deverão ser apresentados

com a indicação do procedimento adotado.

Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a

audiência de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser realizada

em reunião conjunta, com a participação de titulares ou representantes dos

órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a ser juntada aos autos.

Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha

alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução

e do disposto no art. 37 desta Lei.

Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados

estão registrados em documentos existentes na própria Administração

responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o órgão

competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos documentos ou

das respectivas cópias.

Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes

da tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer diligências e

perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria objeto do processo.

§ 1o Os elementos probatórios deverão ser considerados

na motivação do relatório e da decisão.

§ 2o Somente poderão ser recusadas, mediante decisão

fundamentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam ilícitas,

impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.

Art. 39. Quando for necessária a prestação de

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informações ou a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros,

serão expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo, forma

e condições de atendimento.

Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá

o órgão competente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício a

omissão, não se eximindo de proferir a decisão.

Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos

solicitados ao interessado forem necessários à apreciação de pedido

formulado, o não atendimento no prazo fixado pela Administração para a

respectiva apresentação implicará arquivamento do processo.

Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou

diligência ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis,

mencionando-se data, hora e local de realização.

Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um

órgão consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quinze

dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior prazo.

§ 1o Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser

emitido no prazo fixado, o processo não terá seguimento até a respectiva

apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao atraso.

§ 2o Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de

ser emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e ser

decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade de quem se

omitiu no atendimento.

Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam

ser previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e estes não

cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão responsável pela instrução

deverá solicitar laudo técnico de outro órgão dotado de qualificação e

capacidade técnica equivalentes.

Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito

de manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for

legalmente fixado.

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Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração

Pública poderá motivadamente adotar providências acauteladoras sem a prévia

manifestação do interessado.

Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e

a obter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que o

integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros protegidos por sigilo

ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.

Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para

emitir a decisão final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o conteúdo

das fases do procedimento e formulará proposta de decisão, objetivamente

justificada, encaminhando o processo à autoridade competente.

CAPÍTULO XI

DO DEVER DE DECIDIR

Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente

emitir decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou

reclamações, em matéria de sua competência.

Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo,

a Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação

por igual período expressamente motivada.

CAPÍTULO XII

DA MOTIVAÇÃO

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados,

com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou

seleção pública;

IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo

licitatório;

V - decidam recursos administrativos;

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VI - decorram de reexame de ofício;

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a

questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou

convalidação de ato administrativo.

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente,

podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de

anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso,

serão parte integrante do ato.

§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza,

pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões,

desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.

§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e

comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.

CAPÍTULO XIII

DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO

DO PROCESSO

Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação

escrita, desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, renunciar

a direitos disponíveis.

§ 1o Havendo vários interessados, a desistência ou

renúncia atinge somente quem a tenha formulado.

§ 2o A desistência ou renúncia do interessado, conforme

o caso, não prejudica o prosseguimento do processo, se a Administração

considerar que o interesse público assim o exige.

Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o

processo quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar

impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.

CAPÍTULO XIV

DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO

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Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos,

quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de

conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos

administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai

em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada

má-fé.

§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo

de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.

§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer

medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do

ato.

Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem

lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem

defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração.

CAPÍTULO XV

DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO

Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em

face de razões de legalidade e de mérito.

§ 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a

decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará à

autoridade superior.

§ 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso

administrativo independe de caução.

Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por

três instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa.

Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso

administrativo:

I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no

processo;

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II - aqueles cujos direitos ou interesses forem

indiretamente afetados pela decisão recorrida;

III - as organizações e associações representativas, no

tocante a direitos e interesses coletivos;

IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou

interesses difusos.

Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o

prazo para interposição de recurso administrativo, contado a partir da ciência

ou divulgação oficial da decisão recorrida.

§ 1o Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso

administrativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir do

recebimento dos autos pelo órgão competente.

§ 2o O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá

ser prorrogado por igual período, ante justificativa explícita.

Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento

no qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de reexame,

podendo juntar os documentos que julgar convenientes.

Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não

tem efeito suspensivo.

Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de

difícil ou incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida ou a

imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao

recurso.

Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para

dele conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no prazo de

cinco dias úteis, apresentem alegações.

Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:

I - fora do prazo;

II - perante órgão incompetente;

III - por quem não seja legitimado;

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IV - após exaurida a esfera administrativa.

§ 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente

a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.

§ 2o O não conhecimento do recurso não impede a

Administração de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão

administrativa.

Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá

confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão

recorrida, se a matéria for de sua competência.

Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo

puder decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientificado

para que formule suas alegações antes da decisão.

Art. 65. Os processos administrativos de que resultem

sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando

surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a

inadequação da sanção aplicada.

Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá

resultar agravamento da sanção.

CAPÍTULO XVI

DOS PRAZOS

Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da

cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluindo-se

o do vencimento.

§ 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia

útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente ou

este for encerrado antes da hora normal.

§ 2o Os prazos expressos em dias contam-se de modo

contínuo.

§ 3o Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de

data a data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente àquele do

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início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês.

Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente

comprovado, os prazos processuais não se suspendem.

CAPÍTULO XVII

DAS SANÇÕES

Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade

competente, terão natureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fazer ou

de não fazer, assegurado sempre o direito de defesa.

CAPÍTULO XVIII

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 69. Os processos administrativos específicos

continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas

subsidiariamente os preceitos desta Lei.

Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua

publicação.

Brasília 29 de janeiro de 1999; 178o da Independência e

111o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Renan Calheiros

Paulo Paiva